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PUBLICAÇÃO DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – ANO IX – Nº 71 – ABRIL 2015
Proteção à cultura indígena
Confira nesta edição como a UFG tem colaborado na formação de professores capazes de conduzir novas perspectivas para a manutenção da diversidade cultural dos povos indígenas por meio da educação p. 4 e 5
Especialistas discutem Reforma Política e o que pode mudar no Brasil caso essa medida seja aprovada p. 6 e 7 Rede coordenada pela UFG estuda estratégias para preservação da biodiversidade do Cerrado p. 8 e 9 Tese premiada investigou o papel do homem e das mudanças climáticas na extinção dos grandes mamíferos na Era do Gelo p. 10 e 11
IImagem: Paulo César Xerente
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EDITORIAL
O espaço da informação de interesse público Michele Martins*
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Jornal UFG aproveita esse mês em que é comemorado o Dia do Índio, 19 de abril, para abordar um exemplo de como a diversidade de culturas tem sido trabalhada na Universidade. Como bem destacado na matéria “Novas trajetórias para resgatar as tradições” , o incentivo à manutenção do patrimônio cultural indígena é uma das premissas do curso de graduação Educação Intercultural Indígena. Implantado na UFG em 2007, esse curso está aberto à construção de uma proposta educacional diferenciada para as escolas indígenas das aldeias. Trata-se de uma reportagem importante para informar à comunidade sobre o compromisso que uma instituição pública de ensino superior tem com grupos minoritários. Repercutimos ainda no âmbito da interação com a sociedade, o modo como a UFG está colaborando na busca por soluções para um grave problema social: o uso de drogas na infância e adolescência. Trazemos nessa edição uma reportagem sobre o curso a distância que auxilia na capacitação de educadores para lidar com dependentes químicos. O curso oferecido pela UFG é realizado em parceria com o governo do Estado de Goiás e com outros seis Institutos de Educação Superior (IES), promovido pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Saúde (Senad). A equipe do Jornal UFG espera, também, chamar a atenção dos nossos leitores para o debate sobre um assunto que tem sido recorrente na mídia e em rodas de conversas: O que seria a reforma política e como ela poderia ser feita? Prevista desde a Constituinte de 1988, a necessidade dessa reforma tem sido muito lembrada, especialmente depois da divulgação de escândalos de corrupção denunciados e investigados em várias esferas do governo. Outro destaque desta edição é a integração da UFG em uma grande rede de pesquisa que aproxima instituições do Centro-Oeste. Confiram como, por meio do conhecimento científico, cientistas goianos avaliam a dinâmica ambiental e tentam propor novos direcionamentos para as políticas públicas de conservação das espécies animais e vegetais do Cerrado brasileiro. Enfim, esperamos que os nossos leitores apreciem o conteúdo desta edição e possam levar adiante, em diferentes rodas de conversas, as informações aqui apresentadas.
* Coordenadora de imprensa da Ascom/UFG
Jornal
UFG
Publicação da Assessoria de Comunicação Universidade Federal de Goiás ANO IX – Nº 71 – ABRIL DE 2015 www.jornalufgonline.ufg.br ASCOM – Reitoria da UFG – Câmpus Samambaia C.P.: 131 – CEP 74001-970 – Goiânia – GO Tel.: (62) 3521-1310 /3521-1311 www.ufg.br – jornalismo.ascom@ufg.br – www.ascom.ufg.br
OPINIÃO
Goiânia, abril 2015
CAMINHOS DA PESQUISA Desafios para a produção científica no Brasil Angélica Queiroz
O Programa de Formação em Pesquisa, promovido pelas Pró-reitorias de Pesquisa e Inovação (PRPI) e de Pós-Graduação (PRPG), recebeu no mês de março a pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Sônia Vasconcelos, que ministrou palestra sobre integridade em pesquisa e produção científica no Brasil. Confira a entrevista concedida pela professora Sônia Vasconcelos ao Jornal UFG. Qual é o principal desafio para a pesquisa e produção científica no Brasil hoje? Sabemos que os desafios são vários, que incluem maior investimento em pesquisa e desenvolvimento, no número de pesquisadores ativos, na qualidade da produção e na internacionalização da ciência brasileira. Entretanto, talvez um dos maiores desafios seja estabelecer uma política de governança da pesquisa que, juntamente com esse investimento, possa fomentar uma cultura de integridade científica nas instituições. Creio que fomentar essa cultura pode contribuir objetivamente para a formação de pesquisadores mais críticos e comprometidos com a qualidade de suas contribuições, além de estimular a conduta responsável no processo de geração de conhecimento acadêmico. Há muita desinformação? Há um conjunto de fatores que podem estimular práticas de má conduta científica e outros desvios éticos nas atividades de pesquisa. A desinformação é apenas um deles, mas não podemos assumir que esse é o fator principal nos casos documentados. Que tipo de políticas públicas poderiam ser criadas para minimizar os problemas de má conduta na pesquisa? Pensando em políticas institucionais, por exemplo, creio que estimular reflexões sobre a ética e integridade em pesquisa num ambiente de produção científica cada vez mais colaborativo, mas também plural e competitivo, também pode provocar um wake-up call para muitos nesse ambiente. Como membro do comitê organizador, quais as suas expectativas para a realização da 4ª Conferência Mundial em Integridade de Pesquisa no Brasil? As expectativas são as melhores possíveis. Temos visto o interesse sobre o tema e sobre o evento aumentar consideravelmente desde que ele foi divulgado, em 2013. O incentivo e a divulgação dos
nossos principais apoiadores, incluindo FAPESP, CAPES e SBPC, vem sendo decisivo. Esse evento pode contribuir para mudar a forma como a pesquisa científica brasileira é vista lá fora? Sim, acredito que essa realização impacta positivamente a percepção internacional sobre nosso sistema de pesquisa. Na verdade, o fato do Brasil sediar um evento mundial sobre esse tema, apoiado por seus principais órgãos de financiamento à pesquisa, sinaliza, minimamente, que o tema é relevante para sua comunidade. O apoio e as representações, no evento, de importantes instituições de países responsáveis por uma fração considerável da produção científica mundial, também fortalece essa visão. Entretanto, o comitê local de organização acredita que a participação brasileira e as ações que decorrerão a partir dessa conferência é que serão decisivas para consolidar o papel da integridade científica nas políticas de governança da pesquisa no Brasil. O sucesso dessas políticas pode potencializar os esforços que já vêm sendo feitos no país para fortalecer as contribuições da ciência brasileira no cenário internacional. Carlos Siqueira
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Professora abriu programação do Programa de Formação em Pesquisa
Universidade – Reitor: Orlando Afonso Valle do Amaral; Vice-reitor: Manuel Rodrigues Chaves; Próreitor de Graduação: Luiz Mello de Almeida Neto; Pró-reitor de Pós-Graduação: José Alexandre Felizola Diniz Filho; Pró-reitora de Pesquisa e Inovação: Maria Clorinda Soares Fioravanti; Pró-reitora de Extensão e Cultura: Giselle Ferreira Ottoni Cândido; Pró-reitor de Administração e Finanças: Carlito Lariucci; Pró-reitor de Desenvolvimento Institucional e Recursos Humanos: Geci José Pereira da Silva; Pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária: Elson Ferreira de Morais. Jornal UFG – Coordenadora de Imprensa e editora-geral: Michele Martins; Editora: Angélica Queiroz; Conselho editorial: Angelita Pereira de Lima, Cleomar Rocha, Luís Maurício Bini, Pablo Fabião Lisboa, Reinaldo Gonçalves Nogueira e Silvana Coleta Santos Pereira; Suplente: Mariana Pires de Campos Telles; Projeto gráfico e editoração eletrônica: Reuben Lago; Fotografia: Carlos Siqueira e Júlia Mariano; Reportagem: Angélica Queiroz, Serena Veloso e Silvânia de Cássia Lima; Revisão: Letícia Braz, Fabiene Batista e Bruna Tavares; Estagiários: Thaíssa Veiga; Bolsistas: Alex Maia, Caroline Almeida (Jornalismo) e Laís Brito (Fotografia); Impressão: Centro Editorial e Gráfico (Cegraf) da UFG; Tiragem: 7.000 exemplares
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ENTREVISTA Regina Pekelmann Markus
Goiânia, abril de 2015
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Michele Martins
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m 2015, as atividades do primeiro semestre da UFG foram abertas com a aula magna da professora Regina Pekelmann Markus, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP). A aula ocorreu em seis de março e foi acompanhada por professores e estudantes da graduação e pós-graduação. Ela apresentou dados sobre a Estratégia para Pesquisa e Inovação no País e apontou importantes conquistas, problemas e desafios. Regina Markus destacou pontos importantes para a consolidação das pesquisas dentro das universidades, considerando impactos econômicos, sociais e intelectuais, além de outros fatores que são relevantes para o incentivo da produção científica na graduação e na pós-graduação, como a liberdade acadêmica. Em entrevista ao Jornal UFG a professora também abordou o tema. Confira:
Como tem conciliando as atividades acadêmicas e de pesquisa?
Na USP, eu tenho um grupo de pesquisa que é um grupo de crono farmacologia, então eu também atuo na International Union of Pharmacology (IUPHA), aonde eu sou presidente de um dos comitês. Eu gosto de duas coisas: do laboratório e dos alunos. Eu não
Laís Brito
Profissionalismo da mulher na ciência e na inovação deixo de dar aula. Hoje eu dou aula na graduação para alunos de licenciatura da Biologia. Eu montei o curso super legal, que é o curso de fisiologia do Ensino Médio que é para entender o corpo humano independente de laboratório.
A senhora tem ministrado palestras sobre inovação. Como podemos entender esse conceito?
Na minha opinião, a inovação é uma consequência. Se observarmos os locais onde há mais inovação no mundo, veremos que o que eles mais preservam é a ciência básica. Precisamos da base para inovar e o Brasil não pode perder isso. Transferir isso para o público e alcançar um produto final, chamamos isso de inovação. Levamos muitos anos para poder conseguir um pouquinho de inovação. Existe inovação em humanidades? Bom, eu não sou das humanidades, nem da inovação. Eu sou do ensino e da pesquisa, mas estudei bastante para poder estar aqui, hoje, fazendo uma palestra sobre inovação. Eu acredito que as artes são o que há de mais inovador no mundo. Os artistas inovam antes que qualquer cientista. É esse conceito que precisamos ter. Inovamos a cada dia ao construirmos novidades em cima do nosso passado. Então é isso que o Brasil precisa... o Brasil precisa se orgulhar do passado. Eu não tenho dúvida nenhuma que os países que se orgulham do seu passado são realmente inovadores.
“Eu não sou melhor nem pior por ser mulher. Ser mulher é uma situação que independe de eu ser uma profissional.”
Como podemos analisar o cenário da pesquisa científica no Brasil atualmente?
Em outubro de 2014, antes das eleições a realidade me parecia muito menos problemática. Mas tem muita gente trabalhando para conseguir novas oportunidades. As universidades federais acabaram de passar por um momento de expansão. Houve contratação de gente muito boa e isso é a coisa mais importante. Outro dia fui a uma defesa de tese de um dos grupos de pesquisa mais produtivos do Brasil. Quando cheguei no laboratório, vi que era de chão batido... Eu fiquei um pouco constrangida e me perguntei: Como esses caras produzem o que produzem e publicam em revistas de altíssima qualidade? Participei primeiro de um seminário e, depois, fiquei respondendo a perguntas por mais de quarenta minutos. Mesmo depois da defesa da tese alguém falou “dá pra senhora vir aqui me ajudar?” eu disse “claro que dá”. Havia muito interesse daquelas pessoas.
Alguns estudos revelam que a participação da mulher no ensino e na educação costuma ser maior que a dos homens, mas em relação à liderança de grandes grupos de pesquisas, essa participação feminina deixa de ser tão grande. A senhora acha que o sistema acadêmico deveria mudar de alguma forma?
De forma alguma. Eu casei com 20 anos de idade, tive filho com 21 e trabalhei a vida inteira. Mas o processo é diferente para os
“... o Brasil precisa se orgulhar do passado. Eu não tenho dúvida nenhuma que os países que se orgulham do seu passado são realmente inovadores”
dois lados. É questão de ter mais oportunidade? Na minha opinião todo mundo que ganhou oportunidade e não foi atrás nunca fez um bom serviço. Eu não sou melhor nem pior por ser mulher. Ser mulher é uma situação que independe de eu ser uma profissional. E se não houver mulheres para o mercado de trabalho e não souber equacionar a vida como mãe, então teremos problemas pela frente. Temos de dar para as mulheres possibilidades de poder chegar adiante. A mulher pode ser qualquer coisa dentro de suas capacidades físicas. Temos que nos respeitar. Eu acho que nossos jovens precisam aprender a respeitar as diferenças e gostar de ser diferente.
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VIDA ACADÊMICA
Fortalecer as tradições e valorizar a diversidade Educação Intercultural Indígena propõe formação diferenciada para professores de escolas indígenas por meio do incentivo à manutenção do patrimônio cultural das comunidades
Discussões em sala de aula interligam as diversas áreas do conhecimento com os saberes culturais indígenas Serena Veloso
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impacto das transformações culturais vivenciadas pelas comunidades indígenas com o passar dos anos pode ser sentido, cada vez mais, nas salas de aula das escolas de aldeias. Na aldeia Canoanã, localizada no Estado do Tocantins, onde habitam os Javaé, as tradicionais brincadeiras infantis estão sendo substituídas rapidamente pelo uso das tecnologias. A televisão, o rádio, o celular e outros eletrônicos, passaram a fazer parte da rotina de crianças e adolescentes, que em sua maioria não conhecem algumas das importantes manifestações culturais de sua etnia. Romildo Ixariri Javaé Araújo, 29 anos, professor de ensino fundamental na aldeia, presencia o esquecimento ao longo do tempo dessas tradições. Foi aos nove anos de idade que viu sendo praticado pela última vez o Weriri Irasó, cujo significado em português é Aruanã Mirim. Trata-se de um conjunto de manifestações que incluem cantos, danças, brincadeiras e comidas típicas, realizado apenas com meninos de cinco a nove anos como preparação para o processo de transição para a vida
adulta, quando começam a participar dos rituais na Hetohoky (Casa Grande), local somente acessado pelos adultos.“Antigamente nós não tínhamos o impacto dos não-indígenas dentro das comunidades. Hoje em dia temos que conviver com todos os lados: o lado do branco e o lado do índio”, declarou o professor. Quando Romildo Ixariri Javaé Araújo ingressou no curso de Educação Intercultural Indígena da UFG, viu a oportunidade de fortalecer a prática em sua comunidade, levando seus conhecimentos para as crianças nas escolas. Durante a pesquisa para o estágio escolar, em contato com os anciões, procurou investigar a fundo a manifestação e a razão de seu esquecimento por tantos anos. As descobertas de Romildo Javaé renderam mais aulas que o esperado e ele aproveitou não só para ensinar os alunos sobre o que era o Weriri Irasó, como também para realizar aulas práticas. “Nunca pensei que haveria tanto envolvimento das crianças”, comentou o professor. O incentivo à manutenção do patrimônio cultural indígena é uma das premissas do curso de graduação, implantado na UFG em 2007 e vinculado à Faculda-
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de de Letras (FL), sendo a primeira universidade no Estado de Goiás a abrir as portas para essa modalidade de educação, voltada especificamente às questões culturais, políticas e sociais dos povos indígenas. O curso foi reconhecido com nota máxima na avaliação realizada pelo MEC em 2014. Atualmente, a licenciatura funciona dentro do Núcleo Takinahaky e atende cerca de 300 alunos de 20 povos, oriundos de comunidades dos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Maranhão e Pará. Durante os cinco anos de curso, os estudantes desenvolvem ações que contribuem com os interesses das comunidades. Com diretrizes curriculares diferenciadas das graduações regulares, a Educação Intercultural Indígena é constituída sob dois princípios pedagógicos: o da interculturalidade e o da transdisciplinaridade. Por isso, o corpo docente é formado por professores de diversas áreas do conhecimento, cada um deles responsável por um comitê nos quais os alunos estão divididos segundo cada povo. Além de cursar os temas contextuais, os graduandos têm a possibilidade de colocar em prática o aprendizado construído ao longo das aulas e adquirido em suas pesquisas durante os estágios nas escolas. O trabalho de conclusão do curso é o projeto extraescolar, no qual os alunos aprofundam o conhecimento sobre algum tema relacionado a uma das seguintes grandes áreas: Ciências da Natureza, Ciências da Cultura ou Ciências da Linguagem. “Nós orientamos que eles conversem com os mais velhos e com o pessoal da sua comunidade e vejam temas que sejam interessantes para serem abordados”, explica o vice-coordenador do curso, Carlos Abs da Cruz Bianchi. A apresentação do trabalho final, escrito na língua materna, é realizada na UFG e nas aldeias.
Conhecimento em prática A sede pelo conhecimento e o interesse em reavivar suas tradições, levam os alunos a quererem se infiltrar no universo do sagrado. Falar sobre os ritos, muitas vezes envolve desvendar segredos guardados apenas pelos anciãos. Wajumani Karajá, da aldeia Macaúba, resolveu assumir a difícil tarefa de pesquisar as músicas específicas de cada povo Karajá, cantadas durante a festa do Aruanã. Para isso, visitará cada aldeia e conversará com os caciques para fazer um levantamento de todas as canções e, ainda, investigar o motivo de muitas delas não integrarem mais os rituais. Espírito sagrado da água, o Aruanã é geralmente trazido pelo pajé, que escolhe o dia e as músicas a serem cantadas nos festejos. “Depois de realizar a pesquisa, vou transmitir esses saberes para minha comunidade e colocá-los em prática”, relatou Wajumani Karajá, que observou o esquecimento dos cânticos não só entre jovens, como também entre os adultos. “Na pesquisa, nós buscamos uma atualização da nossa cultura para inseri-la no dia a dia da nossa aldeia, assim como no estágio”, explica Bidjawari Karajá, da etnia Karajá, egresso no curso em 2012. Para ele, o estágio propicia uma abertura para trabalhar nas escolas a valorização da língua e da cultura de seu povo. “Nossa brincadeira está sendo ocupada pela brincadeira do branco”, lamentou. Em sala de aula, Bidjawari Karajá aproveitou para ensinar algumas brincadeiras tradicionais esquecidas com o tempo e discutir a razão de não serem mais praticadas. É justamente essa interação entre formação acadêmica e os saberes culturais indígenas que confere ao curso certa especificidade, diferenciando-o das outras modalidades de graduação. “Quando falamos da educação intercultural, nos
Fotos: Carlos Siqueira
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Professores do curso organizaram uma coletânea de livros com as pesquisas dos alunos sobre as manifestações culturais das comunidades indígenas
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VIDA ACADÊMICA
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referimos a uma educação que rompe fronteiras”, explicou a professora Maria do Socorro Pimentel da Silva, orientadora do comitê Karajá do Araguaia e primeira coordenadora do curso. Professora em aldeias durante 10 anos, Maria do Socorro Pimentel da Silva foi uma das idealizadoras do projeto político pedagógico da licenciatura, que objetivava atender uma antiga demanda das comunidades nas proximidades da Região Centro-Oeste. “A universidade tem uma tradição de pesquisa na área indígena, principalmente na história, antropologia e linguística”, comentou.
Inaugurado em julho de 2014, o Núcleo Intercultural de Educação Indígena Takinahaky possui uma arquitetura inspirada nos elementos da cultura indígena
Educação concebida pelos indígenas e para os indígenas Há muito o ensino nas escolas indígenas tem sido foco de discussões sobre a necessidade de uma educação que lide com as especificidades culturais de cada povo. A relação com os povos indígenas no Brasil foi sempre delicada, marcada pelo desgastante processo civilizatório. No entanto, os movimentos organizados indígenas passaram a atuar de forma mais expressiva a partir da década de 1960 na luta por diversos direitos, incluindo à educação. Foi somente a partir do período de redemocratização do país que houve uma abertura para inserir a pauta da formação básica específica nas escolas das aldeias. A Constituição Federal de 1988 passou a assegurar o direito das sociedades indígenas a um currículo diferenciado para a formação escolar, com autonomia no processo de aprendizagem. “A escola indígena não é voltada para o mercado, mas para a comunidade. É uma escola contextualizada, ela tem que valorizar a língua indígena e pensar na sustentabilidade do território”, destacou o professor Alexandre Ferraz Herbetta. Antes vinculado à Fundação Nacional do Índio (FUNAI), o ensino nas escolas indígenas passou a ser de responsabilidade do Ministério da Educação (MEC) em 1991, que estabeleceu na Lei de Diretrizes e Bases da Educação princípios para uma educação pautada nos saberes e domínios culturais dos diferentes povos. Esse movimento atingiu também as universidades com a implantação dos primeiros cursos de Licenciatura Intercultural Indígena no final da década de 1990, atendendo às orientações da própria legislação que prevê a necessidade de formação de professores indígenas para atuarem na educação fundamental e ensino médio nas aldeias. A graduação surge com a proposta de capacitá-los a dialogar sobre os conhecimentos acadêmicos, as práticas culturais e a realidade de suas comunidades. Atualmente, existem mais de 20 cursos de Licenciatura Intercultural Indígena em todo o país.
O desafio da permanência Em julho de 2014, foi inaugurada na UFG uma estrutura para comportar as atividades desenvolvidas pelo curso. O Núcleo Takinahaky possui salas de aula, laboratório de informática, laboratório de etnobiologia e está sendo estruturada uma biblioteca setorial. Apesar de todas as instalações montadas para atender confortavelmente os estudantes, um dos grandes desafios enfrentados é o da permanência dos indígenas até o final do curso. As dificuldades de deslocamento e a falta de um local para abrigá-los durante o período das aulas presenciais na universidade, se interpõem à motivação para dar continuidade aos estudos. O Governo Federal oferece um auxílio a estudantes indígenas cadastrados no Programa Nacional de Bolsa Permanência. A iniciativa contribui na ampliação do acesso ao ensino superior, permanência e diplomação dos graduandos, com a concessão de bolsas no valor de R$900,00. Para os ingressantes no primeiro ano da licenciatura, ainda não cadastrados no Bolsa Permanência, a UFG dispõe de recursos do Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Interculturais Indígenas (Prolind) para custear a alimentação e hospedagem na
primeira etapa presencial do curso. O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) também oferece bolsas aos estudantes, destinadas a cobrir gastos com pesquisas e o desenvolvimento das atividades de docência. Mesmo com o auxílio, o valor é insuficiente para cobrir todas as despesas dos alunos, principalmente em relação à moradia, pois grande parte dos locadores de imóveis nas proximidades do Câmpus Samambaia exige contratos para aluguel de casa de no mínimo seis meses, sendo que as etapas presenciais são realizadas nos meses de janeiro, fevereiro, julho e agosto. “A bolsa não dá para nos manter, por isso muitos índios não ficam até o final do período das aulas. Fiquei com dificuldade para terminar o curso, mas o cacique falou para eu continuar esse trabalho que é muito importante para a nova geração”, declarou Samuel Saburua Javaé, que entrou no curso em 2010. Uma das reivindicações dos estudantes é a disponibilização de alojamentos para se instalarem nos meses em que estão na universidade. Para suprir esta demanda, a reitoria está estudando alternativas para melhorar as condições de permanência dos graduandos.
Além do curso de graduação, o Núcleo Takinahaky criou em 2013 a especialização em Educação Intercultural Indígena. A ideia é oferecer uma formação complementar, que permita aos alunos a construção de uma proposta educacional diferenciada para as escolas indígenas de suas comunidades, com a elaboração de Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) que respeitem o contexto cultural, político e social dos diferentes povos. Trata-se de um documento que organiza as diretrizes pedagógicas, as atividades necessárias para o processo de ensino e aprendizagem e, principalmente,
os princípios norteadores da gestão de uma escola. De acordo com o vice-coordenador da especialização, Alexandre Herbetta, a iniciativa veio ao encontro das necessidades dos próprios estudantes, interessados em concretizar a formação adquirida durante a graduação com ações práticas. “De certa forma, fazer o Projeto Político Pedagógico de uma escola é colocar em prática toda essa discussão sobre as pedagogias para indígenas. A partir de então, eles podem fazer com que as escolas funcionem com seus modos próprios de aprendizagem”, analisou o professor.
Divulgação
Novas diretrizes para as escolas indígenas
Alunos Xavante debatem e escrevem, na própria língua, os conceitos de interculturalidade e transdiciplinaridade para apresentação de seminário na aldeia
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MESA-REDONDA
Reforma Política no Brasil: possibilidades e perspectivas
Fotos: Carlos Siqueira
Muito temos ouvido falar sobre Reforma Política. Nas ruas e nas redes sociais há gente pedindo por ela. Mas você sabe o que significa esse conceito e o que pode mudar na política brasileira caso essa medida seja aprovada? Para responder a esta e a outras questões, o Jornal UFG e o Programa Conexões da TV UFG convidaram Tales Pinto, professor do Instituto Federal Goiano (IFG) e mestre em História; José Elias Domingos, mestre em Ciências Sociais e professor do IFG; e o professor Robinson Almeida, da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás.
O que significa, exatamente, Reforma Política? Robinson Almeida – Reforma Política é um conceito genérico, que diz respeito às possíveis mudanças das regras que regulamentam as relações políticas no Brasil, principalmente quanto ao sistema representativo e a forma como escolhemos os nossos representantes nos âmbitos: federal, estadual e municipal. Refere-se, também, sobre como as relações entre os partidos políticos podem se organizar, influenciando a relação entre o poder legislativo e o executivo. José Elias Domingos – É importante entendermos
que com a Reforma Política não haverá uma mudança radical na estrutura de representação. Hoje a discussão sobre o tema está muito aprofundada. Alguns pontos colocados em pauta no debate sobre essa reforma política estão adaptados ao contexto da democracia representativa brasileira. Isso vai na contramão do que muitos políticos alegam quando dizem da dificuldade de implementar uma Reforma Política profunda. Tales Pinto – Esta discussão vem desde a década de 1990 e tomou força ano passado. Em um primeiro momento, apesar de haver um diálogo institucio-
nal em relação às questões das tarifas do transporte coletivo, foram grupos organizados que deram o pontapé inicial para as manifestações. A população organizada nas manifestações, tomou nas mãos a ação política sem esperar que houvesse uma institucionalização dessas mudanças. Em um segundo momento, percebemos a tentativa de canalizar essa ação direta, política e não-institucional para dentro das instituições. Agora podemos entender a Reforma Política como uma resposta por parte das instituições de tentar sanar ou responder às reivindicações que surgiram com as manifestações do ano passado.
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De que maneira a Reforma Política pode melhorar a participação da sociedade no nosso processo eleitoral e político? Robinson Almeida – Ainda não há um consenso sobre que pontos e em que direção mudar. O nosso sistema tem inúmeras deficiências, porém existem diferentes agendas de mudanças. Dessa forma, precisamos saber que tipo de objetivo pretendemos atingir. Uma possível meta é a de fortalecer o poder executivo para que os governos consigam implementar suas políticas públicas. Avalio, por exemplo, que é difícil para a presidente governar, na medida em que tem que negociar com um congresso muito fragmentado em partidos políticos, em termos de interesse dos estados e em termos da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Então, sob esta ótica, seria necessário reduzir o número de partidos, implementar outras medidas que diminuíssem a dificuldade do Executivo para governar e para negociar com o Congresso. Outra agenda diferente desta pensaria em não reduzir o número de partidos, por exemplo, mas deixar mais livre a organização dos partidos políticos, pensando que a nossa sociedade é diversificada e as diferentes posições precisam estar igualmente representadas no Congresso Nacional. Tem sido historicamente difícil avançar em reformas mais profundas, como disse o colega. Primeiro de tudo porque não há um consenso sobre o que queremos e o que devemos fazer para atingir este objetivo. Qual aperfeiçoamento pode haver na Reforma Política? Depende de qual Reforma Política estamos falando. Tales Pinto – Existem movimentos sociais organizados tentando trazer esta discussão da participação popular, que pode ser pensada na ação da própria Presidência da República de criar instâncias consultivas nas quais a população possa participar ativamente, apresentando propostas, mas não chegando a decidir. A questão é que isso é uma alteração
um pouco mais profunda que só a questão eleitoral, o que tem causado um grande desgaste frente ao Governo Federal, porque a maior parte dos partidos que estão no Congresso Nacional não aceitam este tipo de proposta por acreditar que significaria perda de poder representativo. José Elias Domingos – Esse é um debate que não pode ser restrito ao Congresso Nacional e ao Senado Federal, não pode ser restrito sem que haja uma ampliação do que concerne à participação em relação a plebiscito ou referendo, porque existem pontos polêmicos, visíveis, concretos e passíveis de serem realizados, mesmo a mercê de ir contra, por exemplo, a cultura do voto no Brasil, que é uma cultura de voto personalista. Uma das propostas da Reforma Política, por exemplo, é um sistema de voto em lista aberta. Existem propostas de dar mais poder para os partidos selecionarem os candidatos, que seriam aqueles que fariam parte da lista de pessoas a serem eleitas. Assim, as pessoas estariam mais motivadas a votar no partido e não necessariamente no indivíduo, fortalecendo justamente essa organização que é o intermediador entre o cidadão e a vida política. Outra proposta de Reforma Política é a de um sistema de lista fechada, onde você vota na legenda. E a partir do momento que você deposita o voto na legenda, você confia no seu programa e nas suas propostas. Isso faz com que o partido tenha mais possibilidades de mexer no tabuleiro de quem vai entrar e quem não vai. São propostas interessantes, mas, ao mesmo tempo, são propostas que carecem de um debate junto à população, seja ele por plebiscito ou referendo. Esse debate já está sendo chamado, mas precisa cada vez mais ser fomentado, seja nos movimentos sociais, nos meios midiáticos ou nas universidades. É um debate que precisa ferver. Como avaliam a questão da possibilidade do fortalecimento dos partidos nas eleições?
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pega na questão de favores pessoais. O individual, na maioria das vezes, está ligado a esse poder pessoal que alguns políticos têm em determinada região. Portanto, a proposta de votos em lista fechada também seria uma forma de coibir esse tipo de prática. Robinson Almeida Robinson Almeida – Esse tem sido um clamor por parte de certos setores da sociedade brasileira. Porém, nós temos uma cultura de preferir votar em pessoas e há um grande desgaste dos partidos políticos perante a opinião pública. A proposta de lista fechada é uma tentativa de fortalecer os partidos políticos, fazendo com que o eleitorado tenha que olhar para os programas dos partidos na hora de escolher. Ou seja, os eleitores não vão mais escolher um candidato individual, mas sim um partido. Certamente, há e haverá resistências por parte de uma boa parte do eleitorado que acredita que votar num partido é votar numa coisa virtual. Os partidos são mecanismos de agregação de votos, de manifestações da vontade de setores da população e são indispensáveis nesse papel, portanto, não podemos abrir mão dos partidos políticos. A democracia representativa é, necessariamente, uma democracia em que os partidos exercem um papel fundamental e, em certa medida, eles têm que ser fortalecidos. No entanto, eles são mecanismos insuficientes de agregação de interesses da sociedade civil, porque a sociedade é complexa e é impossível reproduzir opções partidárias tão diversificadas para satisfazer as demandas de setores tão diversificados. E isso nem seria desejável, porque seria um sistema partidário extremamente fragmentado. Tales Pinto – Se há uma fragmentação dos interesses, eles dizem respeito a todo o conjunto da sociedade. A prática eleitoral brasileira é, de certa forma, ligada a uma estrutura coronelista que ainda se
José Elias Domingos Talvez possa fortalecer o interesse na participação. Vemos nas campanhas e nos programas eleitorais, programas personalistas. São raros os partidos que apresentam de fato um programa partidário. Normalmente, vemos apenas partidos de esquerda fazendo isso. Essa cultura política do eleitor de escolher a pessoa é um resultado claro desse nosso fisiologismo partidário histórico. Um dos maiores partidos que representa esse jogo de barganha dentro do presidencialismo de coalizão é o PMDB, que se caracteriza pela heterogeneidade dos seus componentes. Então, não basta fomentarmos a discussão de Reforma Política com o sistema de lista fechada, incentivando essa educação política para além da pessoa, é preciso desenvolver uma política que vai além de simplesmente delegar o poder de deliberação política para alguém, fortalecendo essas instâncias de deliberação política. Os políticos esquecem que o mandato é do partido e que eles foram eleitos para nos representar. Neste momento entram novamente os interesses de grandes corporações que, por trás desses partidos, orquestram a dinâmica que vai desde a campanha eleitoral até a forma como eles votam no Congresso. Como mudanças no financiamento de campanhas podem alterar o jogo político no Brasil? José Elias Domingos – Esse é um ponto que parece estar mais claro, em termos de avanço em sua aprovação, para uma reforma política imediata. Quando um candidato é financiado por grandes corporações, ele passa a servir essencialmente, em tese, a essas corporações. Qual é o interesse de um grande grupo em financiar um
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político? Se pensarmos que é porque querer ajudá-lo a fazer uma transformação social bonita, vivemos num conto de fadas. Tales Pinto – Devemos questionar também, por exemplo, os interesses do financiamento público. Temos que pensar a serviço de quem a política está hoje em dia. A política, se pensarmos na estrutura atual, está no interesse das grandes corporações, que são as financiadoras das campanhas e quem consegue colocar seus representantes lá dentro. A questão é: as mudanças propostas vão alterar esse tipo de situação ou só vão mudar a forma pela qual essas empresas conseguem influenciar a política de acordo com os seus interesses?
Tales Pinto Robinson Almeida – O tema financiamento de campanha, diz respeito diretamente a um dos problemas centrais do nosso sistema político, a corrupção. Nosso problema central não é aquele político corrupto que quer pegar dinheiro para viajar, para ter um iate, mas, sim, o desvio de verbas públicas para financiar campanhas. No entanto, gostaria de colocar essa preocupação com o dinheiro sob outra luz que é a seguinte: não há solução mágica, nenhuma alternativa vai acabar com o caixa dois, com a corrupção e com a influência do poder econômico. Não há mar de rosas na vida, nem nas relações políticas. Porém, o que podemos fazer é pensar em mudanças no nosso sistema eleitoral, para reduzir a necessidade de gastos de campanhas e para torná-las mais baratas e, assim, reduzir o drama do financiamento e eventuais expedientes de corrupção
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para financiar as campanhas eleitorais. Também acho que a propaganda eleitoral é um show de horrores e que é importante reduzirmos o número de partidos políticos competindo. Tales Pinto – Mas isso não seria uma concentração de poder muito forte em alguns candidatos ou em alguns partidos? Centralizar em partidos ou em alguns poucos partidos daria um poder muito grande a determinadas instituições políticas, que podem não representar todos os anseios da população. Na verdade, podemos criar outro problema que vai explodir um pouco mais à frente. Robinson Almeida – Acredito que o que é apresentado como Reforma Política são os anseios de alguns setores organizados da sociedade, que geralmente tendem a pensar que eles estão do lado da sociedade inteira. Mas não são todos que pensam assim, outros setores da sociedade têm outras agendas. Eu entendo a sua preocupação, realmente restringe mais. Então, teríamos que fazer com que esses partidos políticos se abrissem mais a interesses da sociedade. A minha preocupação com a lista fechada é que os partidos políticos fiquem apenas na sua pauta. Na minha opinião, deveríamos manter a lista aberta e permitir a institucionalização de facções que já existem de forma mais ou menos formalizada nos partidos, grupos e sublegendas, de forma que o eleitor possa escolher o partido e, dentro do partido, uma sublinha. Assim, os poucos partidos existentes se tornariam mais porosos para os interesses que a sociedade manifestar, sendo capazes de abranger essa pluralidade representando a sociedade.
biscito, que estão previstos na Constituição e tem a regulamentação na própria lei eleitoral. Há setores, inclusive partidários, que defendem o plebiscito e há setores que defendem o referendo. É importante ficar clara a distinção entre os dois, que é uma distinção muito simples. No plebiscito, a população vai aprovar os pontos de pauta a serem debatidos, então a população aprova a agenda. No referendo, a população simplesmente ratifica aquilo que foi debatido e colocado em pauta no Congresso. Então, eu acho que esse ainda é um debate morno, justamente porque a população nem sabe a diferença entre um e outro. Temos um problema claro de cultura institucional, de falta desses pontos serem de fato colocados para discussão em diversas instituições, principalmente nos meios hegemônicos midiáticos. A Reforma Política tem que entrar urgentemente na agenda de discussão em diferentes instituições, para que nós possamos, de fato, legitimar um debate que envolva um plebiscito ou um referendo. Porque corremos o risco, eu digo de antemão e é nítido, de fazer tal como foi na questão do porte de armas. Foi um debate muito mal feito, que beira o ridículo, e temos que reconhecer isso. As pessoas não conseguiram nem entender o que estavam deliberando ali. Então, esse ponto da Reforma Política deve entrar na agenda para além do que os partidos desejam. E eu faço a seguinte provocação: as pessoas não se sentem realmente representadas pelos partidos. Então como eles podem achar que incorporar uma demanda social para eles próprios debaterem significa Reforma Política?
Pode ser conclamado um referendo ou um plebiscito para convidar a população a pensar mais sobre como ela quer essa Reforma Política? José Elias Domingos – Veja bem, há uma distinção entre referendo e ple-
José Elias Domingos
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Novas perspectivas para o futuro das espécies do Cerrado Serena Veloso
A
conservação dos recursos naturais e da biodiversidade das espécies do Cerrado é uma das atuais preocupações de pesquisadores do Centro-Oeste, diante das rápidas transformações climáticas e da intensa ocupação humana nessa região nos últimos anos. A afirmação de que as modificações no clima não afetariam a região dos trópicos perdeu credibilidade quando estudos recentes em países como o Brasil passaram a demonstrar a necessidade de se pensar estratégias para preservar a biodiversidade em biomas que sofreram grandes impactos, como é o caso do Cerrado. Universidades e institutos de pesquisa da região Centro-Oeste têm desenvolvido, de forma integrada, pesquisas com o objetivo de investigar padrões e processos de biodiversidade do Cerrado e compreender as implicações na conservação e no manejo de populações da fauna e flora. A iniciativa faz parte da Rede de Genética Geográfica e Planejamento Regional para Conservação de Recursos Naturais do Cerrado (Genpac), formada no
contexto da Rede Centro-Oeste de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação (Rede Pró-Centro-Oeste). A rede Genpac é coordenada pela UFG e integra 16 projetos de instituições participantes. A partir de estudos da variabilidade genética de espécies representativas do Cerrado, pesquisadores se propõem a investigar a dinâmica evolutiva ao longo de milhares de anos para compreender a atual configuração e distribuição geográfica das espécies. A utilização de ferramentas da matemática computacional e da biologia molecular para integração de análises genéticas populacionais com padrões macroecológicos – características ecológicas padrão das espécies, analisadas em grandes escalas geográficas e evolutivas –, constitui uma das novidades nas abordagens para a construção de estratégias para compreensão da biodiversidade e conservação das espécies do Cerrado. Alguns fatores são observados para explicar a perturbação na variabilidade genética, como o tipo de solo, no caso das plantas, mudanças climáticas e efeitos antrópicos, como a expansão da produção agrícola e a ocupação urbana.
Fotos: Carlos Siqueira
Pesquisadores de instituições do Centro-Oeste estudam a biodiversidade do segundo maior bioma brasileiro e propõem estratégias para conservação das espécies
Recursos captados pelo Genpac possibilitaram a aquisição de novo sequenciador genético
Novas perspectivas para a conservação “Uma coisa que nós já percebemos é que muitas das variações genéticas atuais são explicadas pelo modo como as espécies estavam distribuídas há 20 mil anos”, explicou o coordenador da rede Genpac e pró-reitor de Pós-Graduação da UFG, José Alexandre Felizola Diniz Filho. O coordenador ressaltou que as mudanças climáticas daquele período, que coincide com a glaciação da Terra, interferiram na configuração das espécies, que assumiram na atualidade uma nova distribuição no Cerrado. Um dos projetos da rede Genpac, coordenado pela professora do Departamento de Ciências Biológicas da Regional Jataí, Levi Carina Terribile, tem por objetivo o desenvolvimento de modelos de nicho ecológico para entender a distribuição geográfica de diferentes animais e plantas do Cerrado, estudados nos diversos projetos da rede. Os modelos
são pensados em relação às mudanças climáticas ocorridas no período glacial e na atualidade, com projeção ainda para cenários futuros. Com essas informações, os pesquisadores pretendem identificar áreas mais adequadas à ocorrência das espécies na atualidade e prever a distribuição futura em locais mais propensos à sobrevivência diante das novas configurações climáticas. Além disso, serão avaliados os efeitos do clima nos padrões de diversidade das espécies. Os resultados subsidiarão estratégias focadas na preservação de populações ameaçadas, como o planejamento de unidades de conservação. “As unidades de conservação que existem atualmente no Brasil não são totalmente eficientes para assegurar no futuro a preservação de áreas de estabilidade climática para as espécies do Cerrado em extinção”, avaliou a professora.
Mudanças do clima ameaçam espécies
Na Escola de Agronomia, o banco de germoplasma possui uma área de 5 hectares com espécies nativas do Cerrado
Uma das conclusões prévias do projeto executado na Regional Jataí está relacionada à interferência climática na sobrevivência das espécies. “A maioria das espécies analisadas poderá sofrer perda de área de distribuição, aumentando o risco de extinção diante das mudanças climáticas previstas”, alertou Levi Carina Terribile. Segundo José Alexandre Diniz Filho, grande parte das espécies do Cerrado não tem conseguido se
adaptar às rápidas transformações do clima ocorridas nos últimos anos, o que tem provocado um deslocamento das populações para a região Sudeste. “O problema disso é que as espécies estão indo para a região onde o meio ambiente é mais perturbado devido à ocupação humana”, afirmou. A mudança na distribuição também acarreta na redução da variabilidade genética, como revela uma das pesquisas da rede relacionada ao pequizeiro.
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Mapeamento da diversidade genética Entre as prioridades da rede está a disponibilização de informações genéticas, obtidas no sequenciamento de DNA e RNA das espécies, para estudos focados na biodiversidade do Cerrado. Para isso, um dos projetos da rede tem se dedicado ao desenvolvimento de marcadores moleculares específicos para animais, plantas e microrganismos aquáticos do Cerrado, ferramentas utilizadas para isolar determinadas sequências do DNA e estudar o comportamento genético das espécies em grande escala geográfica. Coordenado pela professora e pesquisadora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Mariana Pires de Campos Telles, o projeto Desenvolvimento de marcadores, genotipagem e caracterização genômica de espécies do Cerrado desenvolve um dos aspectos centrais das pesquisas ligadas à rede: a análise genética. Os marcadores moleculares são utilizados para mapear a variabilidade genética e, com isso, compreender aspectos relacionados com os processos microevolutivos, tais como o fluxo gênico, a deriva genética e a seleção natural, atu-
ando nas espécies. “Essas informações microevolutivas nos ajudam a direcionar políticas públicas ou estratégias de conservação mais eficientes na área de ocorrência natural das espécies, bem como podem direcionar coletas de material biológico para a criação de uma coleção de germoplasma”, destacou a pesquisadora. Com os recursos do edital da rede Pró-Centro-Oeste, foi possível a aquisição de dois equipamentos para sequenciamento de DNA, um deles de segunda geração, com tecnologia capaz de gerar informações milhares de vezes maiores que o modelo clássico. Por meio da nanotecnologia, a plataforma permite fazer o sequenciamento do DNA de cada espécie coletada. O material também é utilizado para estudar e caracterizar a estrutura do genoma dessas espécies. Segundo Mariana Telles, a caracterização dessas estruturas pode ser utilizada na identificação de moléculas do DNA de plantas nativas do Cerrado com potencial para o desenvolvimento de fármacos ou outras aplicações na biotecnologia.
Rede Genpac integra pesquisas de instituições do Centro-Oeste Ao total, 70 pesquisadores, entre professores bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pesquisadores da graduação, pós-graduação e pós-doutorado de instituições de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal, participam da rede Genpac. Os projetos desenvolvidos são nas áreas de macroecologia, filogeografia e genética das populações. Participam da rede a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e as Universidades de Brasília (UnB), Católica de Brasília (UCB), Estadual de Goiás (UEG), Estadual do Mato Grosso (UNEMAT), Federal de Goiás (UFG), Federal do Mato Grosso (UFMT), Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e a Pontifícia Católica de Goiás (PUC-GO). A UFG integra o quadro na coordenação de sete projetos. Cerca de R$ 4 milhões foram destinados para o desenvolvimento de todas as pesquisas, recursos oriundos do CNPq e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), por meio do edital da Rede Pró-Centro-Oeste.
Levi Carina Terribile
“Representação dos efeitos das mudanças climáticas na distribuição de uma espécie do Cerrado. As mudanças climáticas resultantes das atividades do homem poderão acarretar consequências importantes para muitas espécies, como por exemplo, a redução das áreas de adequabilidade climática. No caso do pequizeiro Caryocar brasiliense (foto), os modelos de nicho indicam uma redução da adequabilidade climática na sua área de distribuição, bem como a mudança espacial das áreas mais importantes para a sua ocorrência no final do século XXI”. * Modelo CCSM. Fonte: CMIP5 < http://cmippcmdi.llnl.gov/cmip5/ > Variáveis Bioclimáticas: Bio1 - Temperatura média anual, Bio12 - Precipitação total anual, Bio14 - Precipitação no mês mais seco. Foto: Detalhe flor do pequi. Autoria: Frederico A. G.
O que é a coleção germoplasma? Ferramenta importante na conservação das espécies vegetais, a coleção de germoplasma é uma unidade conservadora do material genético representativo da variabilidade genética de espécies que possam dar origem a novos exemplares dessa população. Desde 1996, a UFG possui, na Escola de Agronomia (EA), um banco de germoplasma de espécies frutíferas nativas do Cerrado, que apresentam potencial de utilização econômica. As pesquisas da rede Genpac têm atuado na complementação dessa coleção e pensa ainda na utilização dessa diversidade para o pré-melhoramento das espécies de plantas, visando o cultivo para a produção agrícola.
Divulgação das informações O compartilhamento com outros pesquisadores das informações levantadas pelos projetos também integra as perspectivas da rede Genpac. Para isso, está prevista a disponibilização, em bancos de dados públicos, dos modelos de nicho ecológico e mapas de distribuição das espécies na atualidade e em cenários futuros e, ainda, dos marcadores moleculares das espécies estudadas. Outra proposta é a produção de manuais e cartilhas com recomendações sobre a conservação e a utilização dos recursos naturais.
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De volta à Era do Gelo Relação entre mudanças climáticas e ação do homem na extinção dos grandes mamíferos do período interglacial foi investigada em tese premiada do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução Serena Veloso
H
á 50 mil anos, no período Quaternário Tardio, o planeta passou por diversas transformações que resultaram na extinção de espécies de grande porte, a chamada megafauna, em todos os continentes. As mudanças climáticas drásticas provocadas pela última glaciação, intercalada a períodos mais quentes e, por uma nova dispersão do homem do continente africano para diversos territórios, teriam sido algumas das causas do impacto sobre as espécies. O pesquisador Matheus Ribeiro, professor do curso de Ciências Biológicas da Regional Jataí da UFG, propôs-se a investigar o papel relativo do homem e das mudanças climáticas na extinção da megafauna da América do Sul. A pesquisa resultou em uma tese desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, orientada pelo professor e pró-reitor de Pós-Graduação, José Alexandre Felizo-
la Diniz Filho. A condução teórica e metodológica do estudo se deu em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), da University of Copenhagen, na Dinamarca, da Charles University, na República Tcheca, e do Museo Nacional de Ciencias Naturales, na Espanha. As áreas da Ecologia e da Paleoecologia foram integradas, tendência recente nos estudos internacionais que, segundo o pesquisador, tem conferido importantes avanços teóricos. Apesar dos debates científicos sobre o assunto, focarem na América do Norte, Europa e Austrália, Matheus Ribeiro destacou que o maior número de espécies extintas em todo o planeta, no período Quaternário Tardio, concentrou-se na América do Sul, o que o motivou a estudar o continente. “Durante esse período, estima-se que mais de 100 espécies de animais de grande porte foram extintas em todos os continentes, desaparecendo cerca de 80% da megafauna sul-americana”, explicou o pesquisador.
Extinção da megafauna no Pleistoceno O mapa exemplifica, de maneira representativa, a relação entre efeito climático e a redução na área de distribuição das espécies da megafauna entre o Último Máximo Glacial, há 21 mil anos (área sombreada maior) e a transição da época do Pleistoceno para o Holoceno, há 11 mil anos (área sombreada menor), período que a maior parte da megafauna foi extinta.
Clima e humanos x megafauna
Romam Uchytel
Para investigar os impactos climáticos e antrópicos no processo de extinção, Matheus Ribeiro modelou o nicho ecológico das espécies, ou seja, o conjunto de condições ambientais nas quais uma espécie é capaz de se manter viável. Em seguida, ele estimou a área do habitat dessas espécies e simulou, por meio de um softwa-
re livre, os impactos da interação com os humanos (predadores) no processo de crescimento das populações extintas (presas). Depois disso, foram quantificados os efeitos relativos das mudanças climáticas e do homem sobre cada uma das espécies extintas na América do Sul. A lista de animais pesqui-
sada envolve todos os mamíferos de grande porte – com peso maior que 44 quilos, extintos no período – para os quais existem registros fósseis, o que compreende um total de 29 espécies. Estão incluídos animais como preguiças e tatus gigantes, mamutes, tigres-dente-de-sabre, proboscídeo (semelhantes aos elefantes), cavalos,
toxodontes (semelhantes aos hipopótamos) e ursos. A análise, inclui ainda, parâmetros básicos sobre as populações das presas e do predador, como tamanho populacional, taxa de crescimento e consumo do predador, utilizados em equações que interagem o crescimento de ambas as populações: humana e animal.
Tigre-dente-de-sabre: Smilodon populator foi a única espécie de tigre-dente-de-sabre a sobreviver na América do Sul até o final do Pleistoceno, sendo considerado um dos maiores felinos que já existiu. A espécie era conhecida por seus longos caninos e chegava a pesar cerca de 300 quilogramas. Predava outros grandes animais como tatus, preguiças-gigantes e proboscídeos. O mamífero era encontrado em todo o continente sulamericano, da Patagônia à Amazônia, dos Andes à Mata Atlântica.
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Holoceno, há 11 mil anos, quando teve início o período interglacial, com o aquecimento da Terra e recuo das geleiras. A partir dos dados levantados, o pesquisador concluiu que as extinções ocorreram nos locais onde o clima era mais adequado para a sobrevivência das espécies, pouco tempo após os humanos chegarem à América do Sul e caçá-las. No entanto, a influência dos efeitos climáticos nos riscos de extinção foi menor se comparada aos resultados da interação humana. A ação do homem em populações reduzidas, devido às questões climáticas, tornou menos propensa à sobrevivência da megafauna na América do Sul.
Carl D. Buell
Evidências científicas apontam que a espécie humana teria surgido no Pleistoceno, uma das épocas do período Quaternário, convivendo com outros hominídeos que desapareceram na mesma época. “Uma vez que os humanos pré-históricos são considerados exímios caçadores da megafauna, o efeito antrópico foi quantificado a partir do tempo necessário de interação entre predador e presa para que cada espécie da megafauna fosse extinta”, comentou Matheus Ribeiro. Em relação ao clima, foi observada a redução da área do habitat dessas espécies no período entre a última glaciação, há 21 mil anos, e a transição do Pleistoceno para o
www.dinopedia.wikia.com/wiki/soldicurus
Impactos sobre a sobrevivência das espécies
Tatus-Gigantes: Os tatus-gigantes também foram um grupo de mamíferos bastante diverso. O maior e mais comum deles pertenceu ao gênero Doedicurus, que tinha como características a carapaça dura para defesa de seus predadores e uma bola de espinhos na ponta do rabo. Chegava a medir quatro metros de comprimento e pesava mais de uma tonelada. Habitavam toda a América do Sul e tinham preferência tanto por ambientes fechados (florestas) como abertos (Cerrado e Pampa).
Tese é premiada pela Capes
Sandro de la Rosa
Preguiça-gigante: Existiram várias espécies de preguiças-gigantes na América do Sul. Eremotherium e Megatherium foram dois gêneros comuns e são bem representados no registro fóssil. Eremotherium vivia ao norte da América do Sul, na região tropical e pesava cerca de três toneladas. Já Megatherium era maior, chegava a pesar quatro toneladas e se distribuía ao sul do continente, da Patagônia até Bolívia, Perú e região centro-sul do Brasil. Atualmente, outras espécies de preguiças ainda habitam a América do Sul, mas não possuem o tamanho corporal das extintas.
Concluído em 2013, o trabalho de Matheus Ribeiro ganhou reconhecimento na comunidade científica com a conquista do Prêmio Capes de Teses 2014, na área de Biodiversidade. A premiação é concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) às melhores teses de doutorado dos cursos de pós-graduação que integram o Sistema Nacional de Pós-Graduação. Para os vencedores são concedidas bolsas de pós-doutorado por até três anos para desenvolvimento de pesquisa científica em instituições de renome.
Proboscídeos: Os proboscídeos foram animais semelhantes aos elefantes modernos, reconhecidos por possuírem apêndice nasal em forma de tromba. Cuvieronius e Notiomastodon são considerados, atualmente, os gêneros mais comuns que habitaram o continente sulamericano no Pleistoceno. Cuvieronius pesava cerca de quatro toneladas e tinha preferência por ambientes mais frios, como as cordilheiras. Mas o maior animal já existente na América do Sul foi Notiomastodon. Habitante de biomas mais quentes (Amazônia, Cerrado), a espécie pesava cerca de seis toneladas.
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UFG desenvolve software que monitora qualidade do leite Aplicativo desenvolvido em parceria com o Instituto de Informática, a Escola de Veterinária e Zootecnia e empresa privada, já está sendo comercializado Angélica Queiroz
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Gerente do LQL, Rodrigo Balduino, acredita que produtores apostarão na qualidade de seus produtos Segundo Rodrigo Balduino, a Escola de Veterinária e Zootecnia entrou com o conhecimento e o banco de dados, o Instituto de Informática ficou responsável pela parte do desenvolvimento do sistema de segurança e a empresa Implanta participa extraindo
Aplicativo fornece informações estratégicas, em tempo real esses dados e transformando-os em informação. Os pesquisadores conversaram, ainda, com as indústrias para entender suas necessidades. Diálogo este que está sempre aberto, de acordo com Balduino. “O software está em constante aperfeiçoamento de acordo com as demandas dos clientes”, ressalta. Simplicidade e planejamento – Rodrigo Balduino destaca que o aplicativo é de fácil uso. “Mesmo o usuário que não entende muito de informática pode acompanhar com facilidade a evolução na qualidade do leite produzido”, garante o gerente do LQL. Ele também lembra que o software segue um padrão de segurança da informação e cada usuário só terá acesso às suas próprias análises, não sendo possível um gestor de um laticínio ter acesso a informações de produtores de outros laticínios. O PQL disponibiliza aos gestores de laticínios, em tempo real, informações já tabuladas e indicadores estratégicos sobre a qualidade do leite de um produtor, uma rota (roteiro) ou uma região (cluster), permitindo uma avaliação precisa sobre seu relacionamento com os produtores. Munidos desse tipo de informação, os laticínios podem, entre outras ações, reduzir custos operacionais, aumentar a lucratividade e abrir novos mercados, além de melhorar o rendimento na produção.
“As empresas perdem tempo tabulando dados. O software já transforma esses dados na informação que o cliente precisa”
Fotos: Laís Brito
stimular o aprendizado contínuo e a consequente melhoria da qualidade final do leite, oferecendo informação estratégica, em tempo real, para os laticínios e produtores de leite. Essa é a ideia central do software Painel da Qualidade do Leite (PQL), idealizado e desenvolvido por pesquisadores do Laboratório da Qualidade do Leite (LQL) pertencente ao Centro de Pesquisa de Alimentos (CPA) da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ) da Universidade Federal de Goiás (UFG), em parceria com a empresa Implanta IT Solutions. O aplicativo disponibiliza aos usuários um conjunto de informações estratégicas a respeito do leite analisado no LQL, acrescido de uma base de conhecimento produzida por pesquisadores da UFG. O gerente do LQL, Rodrigo Balduino, explica que a ideia surgiu em 2011, quando a empresa Implanta procurou a UFG para desenvolver o projeto. “Tínhamos um banco de dados riquíssimo que precisava ser explorado dinamicamente”, relata.
Apesar de inovador, a procura pelo aplicativo ainda é pequena, mas a expectativa do LQL é de que ela cresça à medida que os empresários forem conscientizando-se sobre os benefícios da ferramenta que é interativa e faz os cálculos automaticamente. “As empresas perdem tempo tabulando dados. O software já transforma esses dados na informação que o cliente precisa para trabalhar e transformar em melhorias”, observa Rodrigo Balduino. O gerente do LQL lembra que as empresas não começaram a avaliar a qualidade do leite voluntariamente. “Só o fizeram porque a lei exigiu. Mesmo assim, algumas ainda pegam os nossos laudos e guardam na gaveta, tornando muito difícil encontrar e organizar a informação quando ela é necessária”, conta. Para ele, somente agora é que alguns laticínios estão entendendo como a qualidade é importante. “Dependemos dessa evolução da classe produtiva para o sucesso da implementação dessa ferramenta, mas acredito que essa evolução já começou”, afirma, otimista.
Laboratório da UFG atende laticínios de vários estados do país
Como adquirir Após período de testes, o software já está sendo comercializado para clientes do LQL, mediante pagamento de anuidade ou mensalidade. Além de Goiás, o laboratório da UFG atende laticínios de Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Maranhão, Pará, Rondônia e Amazonas. Para o futuro, a intenção dos gestores do projeto é conseguir disponibilizar o software para todo o país. Rodrigo Balduino explica que o valor da aquisição depende de cada caso e que são disponibilizadas quatro versões do aplicativo, permitindo que as indústrias de laticínios possam escolher a versão mais adequada ao seu porte ou sua disposição de investimento. O contrato é feito pela UFG e os interessados devem procurar o LQL.
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EDUCAÇÃO
Curso a distância capacita educadores para lidar com dependentes químicos Divulgação
Iniciativa quer envolver professores, conselheiros tutelares, agentes de saúde e agentes do Ministério Público na luta contra o uso de drogas na infância e adolescência
Professores participantes do curso a distância confeccionam, em parceria com os alunos, cartazes de conscientização Alex Maia
A
Estado de Goiás, a UFG se juntou há outros seis Institutos de Educação Superior (IES) que já desenvolvem o curso em seus respectivos Estados. Os 70 mil profissionais que se inscrevem anualmente, garantem certificado de 180 horas como benefício. Além disso, Marilúcia Lago também destacou a compreensão que pode ser obtida por meio das aulas. “O educador que faz o curso obtém uma compreensão contextualizada da vulnerabilidade, dos riscos, dos fatores políticos e sociais que levam ao uso dessas substâncias”, relatou. Opinião dos cursistas – A professora Sônia Costa atua na alfabetização de crianças no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae) da UFG. Ela fez o curso e relatou que as aulas provaram que ela estava errada sobre EaD. “Esse curso cobra o acompanhamento da apostila e exige que o aluno dedique tempo para as aulas”, res-
saltou. A professora de Matemática, Hélida Ferreira, também se surpreendeu com a forma abrangente que as aulas virtuais abordam a prevenção do uso de drogas. “Eu imaginava que ia aprender sobre a parte química, sobre maconha e cocaína, mas não foi nada disso, foi muito além do que eu esperava”, concluiu. O sucesso do curso repercutiu entre os professores do Cepae e muitos outros já estão acompanhando o curso que iniciou em janeiro deste ano. A professora de História, Cinthia Bernardes, que trabalha com famílias de dependentes químicos, espera que as aulas contribuam para o trabalho que ela executa. “Eu já tenho uma visão do que deve ser feito com relação ao uso de drogas e espero que o curso confirme ou descontrua o meu conceito”, relatou a professora. Estruturado em cinco módulos, o curso “Prevenção do Uso de Drogas para Educadores de Escolas Públicas” oferece uma etapa obrigatória teórico-metodológica de 120 horas, nos quatro primeiros módulos, e uma etapa opcional prática de 60 horas. Esse último módulo é feito de forma coletiva em parceria com outros educadores que atuem na mesma escola e que estejam frequentando as aulas de EaD. “Essa parte prática foi muito interessante. Discutimos juntos e é na dinâmica que traçamos os caminhos a serem percorridos”, destacou a professora de alfabetização do Cepae, Sônia Costa. A coordenadora, Marilúcia Lago, acredita que o método de dinâmica coletiva pode ser adotado em outras esferas educacio-
Quem pode se inscrever? Estudantes de graduação e pós-graduação, Professores e profissionais da rede pública de ensino (municipal, estadual ou federal), Conselheiros Tutelares Profissionais do Sistema Único de Saúde, Profissionais que desenvolvem projetos de prevenção, Profissionais que trabalham com crianças e adolescentes.
Duração do curso: 6 meses Carga horária: 180 horas Certificação: Todos os alunos recebem um certificado de conclusão ao final do curso. Serviço: Faculdade de Direito da UFG. Piso Superior, Sala 03, Praça Universitária, Goiânia Telefones: (62) 3209-6517 / 3209-6518 nais. “Os agentes do Ministério Público, por exemplo, também desenvolvem projetos coletivos. Essas ações de prevenção desenvolvidas devem ser aplicadas na sociedade”. O curso é oferecido por meio do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) na Plataforma Moodle, com apoio de apostila e DVD. As atividades de aprendizagem contribuem para o desenvolvimento gradativo de prevenção do uso de drogas, por meio da interação e da colaboração entre cursistas de uma mesma escola e turma. O acompanhamento é garantido em todo o percurso e realizado por educadorestutores. Cada tutor acompanha uma turma com cem educadores-cursistas, em geral, de um mesmo local.
Letícia Antoniosi
dependência de drogas lícitas e ilícitas é um desafio cada vez maior para as autoridades de saúde do Brasil. Uma pesquisa feita em 2013 pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apontou que mais de oito milhões de pessoas são dependentes de algum tipo de droga. A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Saúde (Senad), visando diminuir este dado, lançou o curso a distância de “Prevenção do Uso de Drogas para Educadores de Escolas Públicas”. Originalmente desenvolvido pela Universidade de Brasília (UnB), o curso foi encampado pela Senad com o intuito de que outras universidades organizassem e divulgassem-no em seus respectivos estados. A Universidade Federal de Goiás (UFG) foi contemplada e, desde o início de 2014, oferece dez mil vagas para este curso. Oferecido gratuita-
mente na modalidade ensino a distânica (EaD), o curso tem a missão de auxiliar as políticas públicas para o enfrentamento do uso de drogas por crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. As aulas capacitam professores, orientadores educacionais, assistentes sociais, agentes do conselho tutelar e do Ministério Público, envolvendo-os em ações voltadas para a prevenção, promovendo e ampliando a participação comunitária. A coordenadora do projeto na UFG e professora da Faculdade de Educação (FE) da instituição, Marilúcia Lago, revela a importância dessa iniciativa no cenário atual das periferias das grandes cidades. “O que se percebe é que as escolas com maior índice de ocorrências policiais, devido ao uso de drogas, estão nas periferias. A escola se sente impotente e apela para força policial. É preciso direcionar essa e outras políticas públicas para essas áreas”, destacou. Em parceria com o
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Coordenadora do Programa na UFG, professora Marilúcia Lago apresenta a apostila do curso
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VIDA ACADÊMICA
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Núcleo de Línguas incrementa ensino de idiomas Com atuação mais ampla, o Nucli/ UFG visa contribuir com o ensino de idiomas estrangeiros nas escolas públicas e com as políticas públicas de internacionalização da educação superior
Divulgação
Bolsa de Estudos na Itália O Centro de Línguas da Faculdade de Letras da UFG informa que estão abertas as inscrições para concorrer a uma bolsa de estudos em Língua e Cultura Italiana. A bolsa de estudo é de € 899 e o curso terá quatro semanas de duração. A seleção será realizada por meio de sorteio no dia 30 de abril, às 10 horas, no miniauditório da Faculdade de Letras. Para se inscrever é necessário preencher o formulário de participação e enviá-lo, assinado, para o e-mail: bolsadeitalianoclufg@gmail.com. Os candidatos não necessitam ter domínio da língua italiana, mas a passagem de ida e volta da Itália deverá ser custeada pelo estudante.
Equipe do NucLi participa de 1º Encontro Nacional do Programa Idiomas sem Fronteiras
Silvânia Lima
O Bolsas Luso-Brasileiras Santander Universidades Estão abertas, até o dia 10 de maio, as inscrições para a pré-seleção de estudantes de graduação da UFG para realização de intercâmbio acadêmico em universidades portuguesas no segundo semestre de 2015. São oferecidas quatro bolsas no valor de R$ 10.587,06. O processo de seleção será realizado por uma comissão indicada pela Coordenadoria de Assuntos Internacionais (CAI) da UFG, sendo que fica a critério da universidade de destino a aceitação dos candidatos pré-selecionados.
Bolsas Ibero-Americanas Santander Universidades Graduandos da UFG podem se inscrever até o dia 10 de maio para a préseleção de estudantes com interesse em realizar intercâmbio acadêmico em universidades da Argentina, Colômbia, Espanha, México, Portugal e Uruguai. O Programa de Bolsas Ibero-Americanas Santander Universidades oferece cinco oportunidades para intercâmbio no segundo semestre de 2015, com bolsas de R$ 9.624,60. Entre outros requisitos, os candidatos a intercâmbio em instituições que não sejam portuguesas, devem ter conhecimento da língua espanhola em nível intermediário (Espanhol B1), comprovado por meio do certificado Diploma de Español como Lengua Extranjera(Dele), ou Certificado de Español: Lengua y Uso (Celu), ou ainda declaração de aprovação em teste de proficiência promovido pela UFG nos dias 23 e 24 de abril, que avalie a compreensão e expressão escritas e orais em nível intermediário.
Núcleo de Línguas (NucLi) do Programa Idiomas sem Fronteiras na UFG, além de oferecer cursos presenciais de língua inglesa, é credenciado como centro aplicador do exame Test of English as a Foreign Language (TOEFLiTP) e oferece aplicações gratuitas do exame ao longo do ano. Nos últimos dois anos foram aplicados mais de quatro mil testes na comunidade universitária. Sob a coordenação geral da professora Maria Cristina Faria Dalacorte Ferreira e a coordenação pedagógica de Eliane Carolina de Oliveira, ambas da Faculdade de Letras, os cursos presenciais ofertados no NucLi/UFG abordam áreas específicas, como o desenvolvimento de habilidades orais (compreensão oral e conversação), habilidades escritas (inglês acadêmico) e turmas de preparação para o TOEFL. Com cargas horárias diversas (16h, 32h, 48h ou 64h), os cursos são ofertados ao longo dos semestres letivos e nos períodos de férias. Para ingressar nos cursos presenciais é necessário realizar o TOEFL, inclusive como forma de registro e avaliação do nível do candidato. Várias datas são oferecidas para o teste neste primeiro semestre de 2015. O endereço para efetuar inscrição pela internet é o seguinte: http://isfaluno.mec.gov.br Além da possibilidade de ofertar outros idiomas, o Programa Idiomas sem Fronteiras, instituído pela Portaria nº. 973, de 14 de novembro/2014, traz outra novidade: a extensão dos serviços de formação e capacitação em idiomas para servidores docentes e técnico-administrativos das Instituições de Educação Superior (IES), bem como para professores de idiomas da rede pública de educação básica, além da capacitação de estrangeiros em língua portuguesa. O Nucli/UFG aguarda edital específico para lançar turmas de Espanhol e Francês. Com o apoio dos Núcleos de Línguas, o Programa Idiomas sem Fronteiras incentiva o aprendizado de línguas e proporciona oportunidades de acesso, por meio do Ciências sem Fronteiras e outros programas de mobilidade estudantil, a universidades de outros países. Serviço O Nucli/UFG funciona nas dependências da Faculdade de Letras, na sala 83 do Bloco Bernardo Élis, no Câmpus Samambaia. Para mais informações: Site: https://inglessemfronteiras.letras.ufg.br Email: ufgnucliisf@gmail.com
Jornal UFG
UNIVERSIDADE
ARTIGO
COMUNIDADE PERGUNTA Por que há poucas vagas para graduação em Música?
Lana de Araújo Gomides* Marina Roriz Rizzo Lousa da Cunha **
Pergunta feita pelo vestibulando Eudine Ramalho, de Goiânia.
Carlos Siqueira
T
aos estudantes de Museologia e intelectuais. Cabe, portanto, a publicidade promover o contato entre o museu e o público. Já as Relações Públicas contribuem ao fazer parcerias e conseguir patrocínios, além de conquistar uma aproximação maior junto ao público. Dessa forma, o museu consegue recursos financeiros para ser divulgado, conservado e até realizar eventos (também organizados com a ajuda dos profissionais de Relações Públicas), atraindo um público maior. O profissional dessa área também tem facilidade de interpretar as necessidades tanto dos museus quanto de outras instituições, órgãos e possíveis parceiros, fazendo com que as parcerias (como divulgações, realização de eventos, entre outros) sejam altamente positivas para ambos os lados. Tal ferramenta é essencial para melhorar a imagem do museu (que deve ser cada vez mais intensificado devido ao uso recorrente da internet) e criar vínculos duradouros com a mídia. O museu é uma instituição importante e mais pessoas precisam ser estimuladas a frequentá-lo, virtual e pessoalmente. Por meio das três ferramentas apresentadas, é possível que o museu contorne as dificuldades enfrentadas, fazendo com que as pessoas fiquem mais interessadas em frequentá-lo. Por ser uma instituição de grande importância, ele deve estar sempre atento às mudanças e às eventuais dificuldades que estas trazem. Afinal, se o museu parar, a história não será tão bem contada para as gerações futuras. * Lana de Araújo Gomides (Autora) Marina Roriz Rizzo Lousa da Cunha (Orientadora)
Divulgação
Carlos Siqueira
Museu: Quais as ferramentas para superar as dificuldades atuais?
radicionalmente, os museus sempre foram conhecidos a partir de seu meio físico, possuindo acervos materiais e visitantes. Com o surgimento da internet, os museus passaram a existir também no meio virtual, tendo a oportunidade de alcançar um maior público. Porém, essas instituições estão passando por alguns problemas, como a falta de investimento e o interesse do público por outras formas de lazer. Na tentativa de solucionar esses problemas, tem-se a possibilidade de usar três ferramentas: a internet, a Publicidade e as Relações Públicas. A internet é uma ferramenta essencial, uma vez que a junção dos meios físico e digital é promissora. Muitas pessoas obtêm conhecimentos históricos por meio de sites de pesquisa, e os museus encontraram no meio digital uma forma de entrar em contato com o público de maneira dinâmica e direta. A ampliação do contato com o setor do turismo aumenta as expectativas de visitas, já que muitos visitantes são estimulados, após terem contato com imagens na internet. Além disso, ainda que não seja possível para o visitante ir até o meio físico, sua visita via internet é importante. De qualquer lugar do mundo, uma pessoa pode interpretar o conteúdo do site e contribuir para reavivar a existência do museu, por meio de comentários e compartilhamentos. Quanto à Publicidade, ela divulga e atrai a atenção do público. Afinal, devido à falta de comunicação, muitas pessoas não sabem da existência e do conteúdo de alguns museus. Assim, as visitas ficam restritas
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Goiânia, abril 2015
Ana Guiomar Rêgo Souza, Diretora da Escola de Música e Artes Cênicas (EMAC) Os cursos de Música - Bacharelado e Música - Licenciatura em Instrumento Musical e Canto, da Universidade Federal de Goiás (UFG), oferecem um número menor de vagas em seu processo seletivo devido às especificidades desses cursos. As vagas ofertadas para Música - Bacharelado são divididas nas habilitações Canto, Composição, Regência e Instrumentos Musicais. A habilitação “Instrumentos Musicais” ainda se subdivide nas seguintes opções de instrumentos: Piano, Violão, Violino, Viola, Violoncelo, Contrabaixo, Flauta Transversal, Clarineta, Trompete, Trombone e Percussão. As aulas de instrumentos musicais são práticas e individuais, com vistas a um adequado acompanhamento, orientação e preparação dos estudantes. Com exceção do piano, os demais instrumentos musicais contam apenas com um professor. Além das aulas individuais e de canto, cada docente se responsabiliza por outras disciplinas e Trabalhos de Conclusão de Curso. Sendo assim, se a cada ano um professor oferecer duas vagas, no ciclo de quatro anos ele terá oito alunos, os quais correspondem no mínimo, por semana, a 8 horas de aulas individuais de instrumento ou canto, mais 2 horas de aulas coletivas em “Formação de Repertório”, outras 2 horas de aulas em “Literatura e Repertório” e 4 horas de “Música de Câmara ou Prática de Orquestra”, o que equivale aproximadamente a um total de 16 horas semanais só na graduação. Vários desses docentes também ministram aulas na Pós-Graduação, além dos que atuam em ações de pesquisa e extensão. A oferta de vagas deve acompanhar a carga horária estabelecida e, para que a EMAC ofereça mais vagas, seria necessário a contratação de mais professores. O curso de Música - Licenciatura nas habilitações Instrumento Musical e Ensino de Canto, apresenta a mesma estrutura do Bacharelado para o preenchimento de suas vagas. Para ingressar nos cursos de Música, o candidato deve participar do Sistema de Seleção Unificada (SISU) e, sendo aprovado, realizar o teste de Verificação de Habilidades e Conhecimentos Específicos (VHCE) como última fase do processo de seleção. Nesta seção, a comunidade acadêmica pode tirar suas dúvidas sobre a universidade (bolsas, projetos, funcionamento da instituição, etc). Mande suas perguntas para o email jornalismo.ascom@ufg.br
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Jornal UFG
ARTE
Goiânia, abril 2015
O artista e professor Edgar Franco, da Faculdade de Artes Visuais, tem atraído alunos de todo o país interessados em estudar as histórias em quadrinhos como forma de arte
Carlos Siqueira
Uma vida dedicada à arte dos quadrinhos Posthuman Tantra Edgar Franco é ainda o mentor de um projeto musical performático onde leva os quadrinhos e seu universo ficcional para o palco: a banda Posthuman Tantra, com CDs lançados na Suíça, França e Japão e com fãs em vários países do mundo. As apresentações ao vivo contam com a participação dos integrantes de seu grupo de pesquisa, envolvendo inclusive orientandos de mestrado e doutorado, que criam figurino, vídeos e efeitos computacionais utilizados para transformar Edgar Franco, no palco, em personagens dos quadrinhos de sua Aurora Pós-humana.
Angélica Queiroz
A
HQtrônicas e HQforismos Desde 1996, Edgar Franco desenvolve uma pesquisa pioneira no mundo sobre os quadrinhos na internet, que resultou no lançamento do livro HQtrônicas: do suporte papel à rede Internet, com duas edições publicadas. O livro tornou-se referência nacional e já foi citado em mais de cem pesquisas em todo o país, entre artigos científicos, trabalhos de conclusão de curso, mestrado e doutorado. O termo HQtrônicas, que já está sendo considerado em livros didáticos, foi criado pelo professor para nomear os quadrinhos que incluem novos elementos, como sons e trechos animados. Outro termo novo, que também já começou a ser utilizado por artistas e outros pesquisadores, é o neologismo HQforismo, criado em parceria com a professora Danielle Barros (Fiocruz/ RJ) e usado para denominar uma nova forma narrativa que une elementos dos quadrinhos às sentenças aforísticas.
Fotos: Edgar Franco
Apaixonado por quadrinhos, professor defende valor artístico dessa forma de expressão
HQtrônica inclui sons e trechos animados
As músicas em inglês e português, que muitas vezes lembram a trilha sonora de filmes de horror, são produzidas com a ajuda de sintetizadores e falam desse admirável mundo novo baseado na fusão entre DNA e silício, com novas criaturas que mixam humano, animal, vegetal e máquinas. A banda já esteve em quatro regiões do Brasil e costuma se apresentar em eventos acadêmicos, assim como em festivais de música alternativa, como o “Goiânia Noise”.
Trabalho foi o único representante goiano no “Oscar dos quadrinhos”
HQmix O álbum em quadrinhos BioCyberDrama Saga, com roteiro de Edgar Franco e arte de Mozart Couto, publicado pela Editora UFG em 2013, foi o único representante goiano indicado ao Troféu HQmix 2014, considerado “o Oscar dos quadrinhos brasileiros”. Além do reconhecimento dado pela indicação, Edgar Franco considera uma grande conquista ter conseguido que a Editora UFG publicasse esse trabalho dentro da coleção Artexpressão, dedicada exclusivamente a livros de arte. Segundo ele, até aquele momento, nenhuma editora de universidade federal tinha publicado uma história em quadrinhos nesses moldes. A história de BioCyberDrama Saga se passa na Aurora Pós-humana, universo ficcional transmídia criado por Edgar Franco, que inclui cerca de cem personagens e discute as interações do ser humano com as novas tecnologias e as possibilidades futuras da biotecnologia, robótica e nanotecnologia. O álbum traz ainda, 50 páginas de introdução, discorrendo sobre os 13 anos de pesquisa que resultaram na criação da obra.
Divulgação
inda criança, o professor da Faculdade de Artes Visuais (FAV), Edgar Franco, tornou-se um apaixonado por quadrinhos e foi com os gibis que seu pai comprava para ele na única banca de Ituiutaba, cidade mineira onde nasceu, que ele aprendeu a ler. A paixão só cresceu e, ainda na adolescência, ele se tornou também criador de quadrinhos, publicados em fanzines (do inglês fanatic magazines, são publicações feitas por e para as pessoas que gostam de um determinado tema em comum) de todo o país. Hoje, Edgar Franco é professor do Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da FAV, onde coordena o grupo de pesquisa Cria_Ciber, e já publicou dezenas de artigos e livros dedicados às suas pesquisas sobre histórias em quadrinhos, processos criativos e universos ficcionais transmídia. O professor é o responsável por colocar a UFG como referência nacional no estudo dos quadrinhos como arte, recebendo alunos de mestrado e doutorado de todo o país interessados em se aprofundar na temática. “Antes era difícil imaginarmos um programa de pós-graduação em artes que envolvesse pesquisas sobre quadrinhos, como fazemos hoje aqui na UFG”, comemora. Uma das grandes lutas do pesquisador é para acabar com o preconceito de que quadrinhos são coisa de criança. O foco de seu trabalho e do de seus orientandos são os quadrinhos autorais, que exploram a linguagem das HQs como uma forma de expressão artística, diferente dos comerciais, que têm como intenção atender demandas do mercado de entretenimento. “Eu defendo os quadrinhos como uma genuína e poderosa forma narrativa de expressão artística”, explica Edgar Franco.
Performances levam o universo dos quadrinhos ao palco