REVISTA UBC #31

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12/UBC : PELO PAÍS

Foto: Marina Andrade

CALÇADA DA M ENGAJADOS, CRIATIVOS, UNIDOS EM COLETIVOS OU SOLITÁRIOS, ARTISTAS OCUPAM O ESPAÇO PÚBLICO E DÃO NOVO ÍMPETO À TRADIÇÃO ANCESTRAL DOS SHOWS DE RUA

O Rio, onde há um claro reflorescimento da cena de rua - do carnaval, das festas e dos shows -, um projeto de shows em praça pública começou a três anos e vem se fortalecendo no Méier, Zona Norte da cidade. Batizado de Leão Etíope do Méier pelo DJ, produtor e idealizador, Pedro Rajão, e iniciado na praça Agripino Grieco, o coletivo já reuniu mais de mil pessoas num só evento e teve em sua programação nomes relevantes da nova safra da música brasileira.

Por Michele Miranda, de São Paulo

“Muita coisa linda acontece num evento de rua. Você vê a mistura de classes sociais e ideológicas, as reações, os encontros inesperados”, analisa Rajão, nascido e criado nos arredores da praça. “No caso do Leão, a gente reativou um espaço abandonado e mostrou a potência que ele pode ter. O maior legado é que muita gente passou a fazer evento ali depois da gente. Agora somos procurados por muitas bandas e diretores de cinema que querem fazer evento, e até grandes marcas já demonstraram interesse em apoiar.”

Artistas independentes e novatos são muito criativos não só culturalmente, mas também quando o assunto é driblar as dificuldades de mercado. E isso ocorre desde tempos imemoriais. Na antiguidade clássica já havia relatos de cantores e atores apresentando-se pelas ruas e “passando o chapéu” em busca de uns trocados. Muitos séculos e uma revolução digital depois, a velha ágora se transferiu para as redes sociais. Mas não se apagou o ímpeto de criadores que ocupam o espaço público – real – com arte e estilo renovados, graças à supercontemporânea ajuda de coletivos, produtores, marcas de moda, comércio local, leis de incentivo e, principalmente, aos aplausos do público. “Comecei a tocar na rua quando cheguei a São Paulo e não vi alternativas”, diz o associado Diego Goldas, que menciona a nem sempre tranquila relação entre bares e artistas. “Na rua a gente toca na hora em que quiser, onde quiser, o tempo que quiser. Os ganhos na rua são muitos, inclusive financeiros. Na rua, tive o prazer de cantar com Alceu Valença (que passava e resolveu dar uma canja).” Diego ressalta ainda que uma cena assim só pode crescer se houver estímulo - ou, pelo menos, se não houver perseguição - do poder público. “Em São Paulo foi possível na gestão (Fernando) Haddad. Até então havia perseguição. A população precisa de uma reeducação cultural.”

ASSOCIADO CRIA EVENTO PARA BANDAS NOVAS Algo parecido é fermentado em Caxias do Sul (RS), onde o associado Luciano Balen, integrante da banda CCOMA, vai pôr em pé mais uma edição do Festival Brasileiro de Música de Rua, entre entre 14 e 19 de março, com previsão de um público de 30 mil pessoas. Em cinco encontros anteriores, mais de 500 artistas nacionais e internacionais já passaram pelos palcos montados em praças, avenidas ou antigas estações ferroviárias de cidades da região. “CCOMA começou a tocar na rua no fim de 2008, como uma forma de buscar espaço. Com o objetivo de democratizar o acesso à música, aproximar artistas e público, nasceu em 2012 o Festival Brasileiro de Música de Rua, que terá


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