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Baco Exu do Blues

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#ubcmúsica

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Baco Exu do Blues

Aos 22 anos de idade, com dois álbuns e premiações na bagagem, o soteropolitano Diego Moncorvo é uma das grandes revelações da música e propõe novas perspectivas para o rap no país

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por_ Marcílio Gabriel de_ São Paulo foto_Alex Takaki

Diogo Moncorvo, artisticamente conhecido como Baco Exu do Blues, chamou a atenção de todo o cenário da música alternativa, em 2017, com o álbum “Esú” e, na reta final, de 2018 deu um ótimo passo para entrar e transitar pelos caminhos da música brasileira com “Blvesman”, seu mais recente trabalho. Mas quem é Baco Exu do Blues?

Tudo começa em Salvador, com o forte apreço pela leitura de livros. A mãe, professora de literatura, o incentiva a ler desde cedo, o que faz com que a música não seja sua principal opção de entretenimento até o instante em que escuta “Quebra Cabeça”, de Gabriel O Pensador, e cria suas versões das canções do disco, tornando real, assim, a vontade de escrever e querer comunicar suas ideias.

O pseudônimo parte de Baco, inspirado no Deus da mitologia grega Dionísio, conhecido por seus excessos. Exu, o orixá que ‘abre os caminhos’, intermedia o equilíbrio que finaliza com Blues, por influência das canções de jazz e blues, frequentes em sua casa pelos ouvidos de sua mãe. Com essa base cultural e de conhecimento, Baco dá suas caras no rap soteropolitano e aparece nacionalmente com a música “Sulicídio”, em parceria com o rapper pernambucano Diomedes Chinaski. A letra, forte, busca a afirmação das regiões Norte e Nordeste contra a centralização do chamado “eixo Rio- São Paulo”.

As obras de Baco trouxeram visibilidade e contribuíram para o crescimento do cenário do rap na Bahia. Faustino Beats, cantor, produtor musical e também contemporâneo de Baco, avalia que, desde 2016, as estruturas da cena vêm sendo balançadas, fazendo com que o público preste mais atenção em artistas da região. “Tem muita gente aqui na Bahia que tem talento, a gente percebe que não tem muito essa questão de imitação, cada um faz rap do seu jeito, e com muita qualidade”, afirma. Para Mariana Paulino, jornalista e responsável pelo blog Rap em Movimento, a porta que Baco abriu ninguém fecha: “Acredito que com o ‘Blvesman’ ele vá conseguir chegar mais longe e colocar o rap nacional em um outro patamar também.”

Se dá um forte impacto, e Baco passa a ter seu nome com um dos mais citados em 2016, tanto por sua ousadia e talento como por suas palavras agudas, que dividem opiniões: “Amadureci muito depois de ‘Sulicídio’, me arrependi de algumas falas da música e, por isso, eu não a canto mais. Entendo a importância dela e me orgulho muito do que ela fez pelo rap nacional, mas, se pudesse voltar no tempo, faria de outra maneira”, opina Baco.

Com a abertura conquistada, a expectativa de um trabalho mais sólido e solo é real. Em setembro de 2017, as marcas que o rapper quer deixar e pelas quais o público ansia acontecem em “Esú” - seu primeiro álbum -, colocando-o como um dos principais nomes do rap no Brasil. Além do prestígio com a crítica, o disco traz a Baco a possibilidade de enxergar outras possibilidades de alcance para sua música e a necessidade de direcionar sua voz a ouvidos que não estariam ligados somente ao seu gênero de raiz: “Eu vi minha música tocando pessoas de outros gêneros musicais, me vi como diretor musical, cresceu em mim a visão de poder fazer coisas além de cantar”, comenta.

Explorando outras sonoridades, inspirando-se em campos das artes visuais e trazendo temas que abordam comportamentos humanos, saúde mental e ligações com suas origens, ancestralidade e inquietudes diretamente inseridas nas raízes da cultura negra, nasce “Blvesman”, seu segundo álbum, definido por Baco como “o movimento que defende (o direito de) as pessoas serem pessoas, não rótulos.” Baco Exu Blues é o nome que desperta olhos e ouvidos para um novo sentimento em tempos em que ritmos e estilos musicais se fortalecem em conjunto e criam novas narrativas.

Amadureci muito depois de ‘Sulicídio’, me arrependi de algumas falas da música.”

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