
10 minute read
Novidades Nacionais
Erupção ‘djavânica’
Era já o prenúncio de uma erupção musical. Ao lançar, em setembro passado, o single “Solitude”, um grito de forte mensagem política em meio à cacofonia da polarização no país, Djavan já sinalizava que seu mais novo álbum (o 24º da carreira), entregue completo dois meses depois com o nome de um emblemático vulcão no título, prometia não deixar ninguém indiferente. As 13 canções de “Vesúvio”, todas inteiramente compostas pelo músico, compositor, cantor, arranjador e produtor alagoano, jogam o espectador numa torrente de emoções por sua complexidade musical, os acenos a variados estilos — da MPB funkeada de “Cedo ou Tarde” ao pop puro de “Dores Gris”, do quase rock “Viver é Dever” às batidas afro e flamencas de “Vesúvio”.
Advertisement

“Solitude”, em si, apesar da batida pop, evoca um cheiro folk ou até rap pela força da letra que, com potência, denuncia a involução da sociedade contemporânea, do capitalismo excludente, de “um mundo louco” de guerras, refugiados, de uma extrema-direita que ressurge com força. “Estamos vivendo um momento de grande incerteza no Brasil e no mundo, tudo é complexo, confuso e nebuloso. Estou apreensivo com o futuro, todas as possibilidades são complicadas”, diz Djavan.
Em março, estreia a nova turnê do músico, e você verá mais informações sobre os shows na próxima edição da Revista UBC.

O "beijo" de nina
Ela tem só 19 anos, mas já lançou EP, um sem-número de singles, emplacou em trilha sonora de novela (“Tempo de Amar”) e seduziu gente como Nando Reis e Fernando Lobo, produtor e gerente artístico do selo Slap, da Som Livre, que aposta nela para o primeiro time da música nacional em muito pouco tempo. Mais um passo acaba de ser dado pela paulistana Nina Fernandes nessa direção: o single “Beijo”, escrito e interpretado por ela, que deve fazer parte de um álbum num futuro não distante. O método de entrega canção a canção, o mais quente do momento, vem garantindo a presença dela nas plataformas de single e vídeo de uma forma pop, mas com uma pegada que em nada lembra a linha de montagem de sucessos sem conteúdo: “Almejo fazer uma carreira tão especial quanto a da Marisa Monte”, disse a jovem à revista “Quem”, mostrando a solidez das suas inspirações.
VEJA MAIS O lyric video de “Beijo” ubc.vc/Nina

Elba: ouro e cristal
O título evoca ouro, e a voz de Elba Ramalho continua cristalina. Em “O Ouro do Pó da Estrada”, seu 38º álbum de estúdio numa carreira mais do que produtiva de quatro décadas, a estrela paraibana dá fé de sua versatilidade ao colocar em fila jovens compositores — Yuri Queiroga, Manuca Bandini, George Sauma —, nomes fundamentais das novas cenas musicais país afora (o paulistano Marcelo Jeneci ou o pernambucano Juliano Holanda, por exemplo) e medalhões de todos os tempos, como Belchior, Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Fausto Nilo. São 13 faixas, entre regravações e inéditas, e uma produção caprichada de Yuri e Tostão Queiroga, ambos produtores também do álbum “Qual o Assunto Mais Lhe Interessa?”, de 2007. Ney Matogrosso divide os vocais com a diva na canção “O Girassol da Caverna”, composição de Lula Queiroga. “‘O Ouro do Pó da Estrada’ tem muito da nossa cultura. Poder explorar isso foi maravilhoso. Tudo foi muito caprichado, e te digo que cantar essas faixas não foi fácil. Mas ficou um trabalho primoroso, e vamos com tudo para a turnê, que começa em fevereiro, em São Paulo”, disse Elba ao jornal “Estado de Minas”.

Alexandre Sant'Anna
Batucada de Elias
O Sul também tem bom samba (e choro), e prova disso é o notável “O Luminoso — Elias Barboza Quinteto”, recém-lançado álbum instrumental do grupo liderado pelo bandolinista que já vinha chamando atenção pelos prêmios que conquistou em festivais ao lançar, por separado, algumas das 15 canções que compõem o trabalho. Em 2014, por exemplo, o choro composto por Elias que dá nome ao disco se sagrou melhor música instrumental no Festival IV Moenda Instrumental, em Santo Antônio da Patrulha (RS). Ano passado, foi a vez de outra faixa, “Quando o Samba Chora”, levar o troféu do festival Musicanto, em Santa Rosa (RS). Além de Elias, responsável por composições, bandolim e arranjos, o quintento é formado por Fabio Azevedos (cavaquinho), Fernando Sessé (percussão), João Vicente (violão sete cordas) e Matheus Kleber (acordeão e piano).

Gabriel, Macacko
E uma bela homenagem a Alex
Prestes a completar cinco anos em estado vegetativo após sofrer uma parada cardiorrespiratória que o deixou sem oxigênio durante uma cirurgia para tratar um aneurisma na aorta, Alexandre Faria, músico, produtor, ex-secretário de Cultura de Vitória, compositor e filiado à UBC, ganhou uma bela homenagem de dois amigos, ambos igualmente pertencentes à nossa associação. Gustavo Macacko e Gabriel o Pensador lançaram no segundo semestre do ano passado a canção “Passaporte para a Fé”, cujos rendimentos serão destinados à família de Faria. Um clipe e um making of que conta os bastidores do projeto e da produção também ganharam o mundo para dar visibilidade à situação de uma das principais figuras da cena cultural da capital capixaba. “Não há em Vitória quem nunca tenha ouvido falar do Alexandre”, diz Macacko. No making of do clipe, chamado “A Vontade de Viver”, diversos músicos falam sobre Alex e sobre sua vida e obra.

LEIA MAIS Reveja uma reportagem do site da UBC de 2017 com mais detalhes sobre a situação de Alexandre Lima ubc.vc/AleLima
12 vezes Ronaldo Bastos
Expoente do Clube da Esquina, o compositor niteroiense Ronaldo Bastos ganhou, aos 70 anos de vida, um bonito tributo da banda paulista Samuca e a Selva. As 12 canções do novo disco do grupo, “Tudo Que Move é Sagrado”, são composições de Ronaldo e seus parceiros, como Milton Nascimento, Beto Guedes, Lulu Santos, Lô Borges ou Ed Wilson, entre muitos outros. “Fé Cega, Faca Amolada”, “Trem Azul”, “Chuva de Prata”, “Um Certo Alguém” e muitas mais criações tanto da primeira fase da produção de Bastos, na efervescente Belo Horizonte dos anos 1960, como da etapa pop dos anos 1980 aparecem em versões que brincam com a diversidade da sua obra, dialogando com gêneros como jazz, guarânia, salsa, reggae e cúmbia. O álbum é uma parceria dos selos YBMusic, de Maurício Tagliari, e Dubas, e uma constelação de participações especiais arremata a homenagem em grande estilo a Bastos: estão lá, por exemplo, Criolo, Luedji Lima, Liniker, Filipe Catto e Siba.

Ouça MAIS As faixas de “Tudo Que Move é Sagrado” ubc.vc/TQMS
Os Beatles, segundo Leo Gandelman
Bossa nova e jazz, dois dos estilos que domina à maestria, se entrecruzam ao rock no novo trabalho do saxofonista Leo Gandelman, lançado em dezembro passado. Com participação do Julio Bittencourt Trio, “Yellow Saxmarine” é uma gostosa homenagem a lados B dos Beatles e sai pelo selo Saxdriver em parceria com a Milk. “Let it Be”, “Ticket to Ride”, “And I Love Her” e “Day Tripper” estão entre as faixas escolhidas. “Difícil pensar em lado B quando falamos dos Beatles, mas buscamos fugir do óbvio”, define o músico. Ele conta que o repertório foi escolhido em conjunto com o trio depois do sucesso de uma canja informal que eles deram num show no interior do Rio de Janeiro, há alguns anos, no qual tocaram hits dos Beatles. Era só o começo de uma aventura musical que marca seus 30 anos de carreira.

Júpiter Maçã, vida e obra intensas
Excessos etílicos, excessos amorosos, excessos artísticos e alguma pistola. “Júpiter Maçã – A Efervescente Vida e Obra” (Editora Plus, 420 páginas, R$ 88) é, como sugere o próprio título, a fervilhante biografia do roqueiro gaúcho falecido precocemente de um infarto do miocárdio em 2015, com só 47 anos. Histórias relacionadas aos anos loucos da cena oitentista de Porto Alegre, a participação nas bandas TNT e Cascavelletes, os amores e desamores e a importância e o impacto que a obra do músico gerou no movimento musical local são explorados pelos autores, Cristiano Bastos e Pedro Brandt.

Adriana Calcanhotto do Brasil

Depois de um hiato de dois anos vivendo e lecionando em Coimbra, Portugal, Adriana Calcanhotto voltou ao Brasil e já chegou com show e música novos, ambos batizados como “A Mulher do Pau Brasil”. Ao evocar as etnias que compõem a chamada civilização brasileira, ela aguça seu olhar antropofágico e cruza referências lusas, nacionais e de outros países num intento de reafirmar sua própria origem. Oswald de Andrade, Chico Buarque, Emily Dickson, Fernando Pessoa e outros emprestam suas criações ao show, que derivou na música, escrita por ela e mais evidentemente autobiográfica do que qualquer outra obra sua anterior.
VEJA MAIS O videomanifesto de “A Mulher do Pau Brasil” ubc.vc/PauBr
J. Michiles na telinha e na telona
Com um histórico de canções suas em trilhas sonoras de telenovelas e filmes, o pernambucano J Michiles se prepara para emplacar mais duas. “Roda e Avisa”, frevo seu escrito em parceria com Edson Rodrigues, aparecerá em “Verão 90”, a nova novela das 19h da TV Globo. E “Bom Demais”, frevo seu que foi sucesso na voz de Alceu Valença, é um dos destaques de “Na Embolada do Tempo”, filme sobre Alceu produzido pela TV Zero. Com mais de 30 anos de carreira, Michiles é um dos principais nomes do carnaval pernambucano, no qual já foi homenageado várias vezes.
As mulheres de Julio
“Uma coleção afetiva sobre mulheres” é como define o cantor, compositor e músico gaúcho Julio Reny seu mais novo álbum (o 11º da carreira), “O Homem Que Amava as Mulheres”. Expoente e, dizem alguns, “mito” da cena roqueira alternativa porto-alegrense, ele reúne gravações originais de canções suas que compôs para as muitas mulheres que passaram por sua vida (“Ivone”, de 1985, “Não Chores, Lola”, de 1998, “Vanessa”, de 2010, ou “Anita”, de 1990), além de um ciclo de novas composições dedicado a garotas de programa, como “Alice no País da Ternura”, “Rochele” e “Yasmin”. Produzido pelo baixista Guilherme Wurch, o álbum traz ainda “A Princesa, a Lady e o Anjo”, uma parceria de Julio com Oly Jr., e vem sendo vendido em versão física pela banda durante os shows.
Batucada da Lan Lanh
Um ano e meio de lapidação à base de uma boa percussão: assim nasceu o novo trabalho da musicista Lan Lanh, “Batuque”. Gerido durante uma longa turnê que mistura cajón, o instrumento percussivo típico do flamenco que ela domina, tambores afro-brasileiros e as improvisações do jazz, o EP de seis faixas termina com uma parceria insuspeita com o amigo Nando Reis. “Meu amor, estou para lhe escrever mas a correria me dispersou. Essa dor vai passar, e você vai passar a sorrir e a amar. Saiba que eu te amo muito. Como você está?” A mensagem recebida pela percussionista num momento complicado virou a letra da faixa “Saiba Que Eu Te Amo Muito”. Aos 50 anos de vida e 30 de carreira, a artista projetada como musicista acompanhante de Cássia Eller se diz feliz por ter ajudado a abrir às mulheres um mundo tão associados aos homens: “Fico orgulhosa porque ajudei a pavimentar essa estrada, por onde hoje passam tantas mulheres. Tudo isso sem levantar bandeiras ou promover revoluções, apenas fazendo meu trabalho.”

VEJA MAIS Assista ao clipe oficial em 360º da faixa “Batuque de Xangô” ubc.vc/Xango
Filme tocado
“Ultraleve” é o segundo álbum solo do músico Alberto Continentino e é também uma espécie de filme tocado. “Oceânica”, “Brisa”, “Praia das Pedras”, “Quieto” e outras faixas deste álbum que se aprofunda no jazz e no latin jazz em que Continentino se especializou evocam imagens continuamente. Gravado nos estúdios Marini (de Kassin) e Audio Rebel, no Rio, o álbum foi gestado ao longo de anos, cuidadosamente lapidado, e conta com a participação de um quinteto formado ainda por Bernardo Bosisio (guitarra), Arthur Dutra (vibrafone), Stéphane San Juan (percussão) e Renato Massa (bateria). A produção é de Kassin e Guilherme Monteiro. Baixista, contrabaixista, compositor, cantor, Continentino tocou como músico acompanhante de nomes como Adriana Calcanhotto, Maria Rita, Ed Motta, Cássia Eller, Carlinhos Brown e Vanessa da Mata e compôs, entre outros, para Gal Costa, Ney Matogrosso, Domenico, Zabelê e Silvia Machete. “Neste disco, eu quis que cada instrumento tivesse mais liberdade de improvisação. Como conceito, dentro da minha bagagem musical, das coisas que ouvi e toquei, pensei num ponto de fusão do jazz que comporte uma presença muito forte das músicas latina e brasileira”, ele descreve.

Ouça MAIS As 12 canções de “Ultraleve” ubc.vc/Ultra