Revista UBC #39

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#39

FEVEREIRO 2019

Pelo País A nova cena do Recife se encontra na loja de CDs PERFIL Baco Exu do Blues: o que é que esse baiano tem? E mais Adriana Calcanhotto, Lan Lanh, Júpiter Maçã, Djavan

song hubs

Acampamentos de criação como o realizado pela UBC juntam artistas de perfis bem variados e geram hits gravados até por Anitta


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FEVEREIRO 2019

RE VIS TA

A Revista UBC é uma publicação da União Brasileira de Compositores, uma sociedade sem fins lucrativos que tem como objetivos a defesa e a distribuição dos rendimentos de direitos autorais e o desenvolvimento cultural.

Conselho Fiscal Geraldo Vianna Edmundo Souto Manno Góes Fred Falcão Sueli Costa Elias Muniz Diretor executivo Marcelo Castello Branco Coordenação editorial Elisa Eisenlohr Assistente de coordenação editorial José Alsanne Projeto gráfico e diagramação Crama design estratégico Editor Alessandro Soler (MTB 26293) Textos Alessandro Soler (São Paulo), Andrea Menezes (Brasília), Bruno Albertim (Recife), Kamille Viola (Rio de Janeiro), Marcílio Gabriel (São Paulo), Matheus Passos Beck (Porto Alegre) e Ricardo Silva (São Paulo) Capa Foto de Luís Bahú (São Paulo). Na imagem, os compositores Jess Cornelius, Lucas Silveira e Celso Fonseca Fotos Imagens cedidas pelos artistas. Créditos nas respectivas páginas, ao longo da edição. Tiragem 8.500 exemplares/Distribuicão gratuita Rua do Rosário, 1/13º andar, Centro Rio de Janeiro - RJ, CEP: 20041-003 Tel.: (21) 2223-3233 atendimento@ubc.org.br

por_ Aloysio Reis

Com o correr da história, as palavras ganham novos significados. Até há bem pouco tempo, acampamento trazia à mente tendas armadas sobre campinas ou areias de lugares paradisíacos. Era a chance de o homus urbanus fugir dos odores desagradáveis da gasolina e colocar alguma coisa limpa nos pulmões.

Editorial

Diretoria Paulo Sérgio Valle (Presidente) Abel Silva Antonio Cicero Aloysio Reis Ronaldo Bastos Sandra de Sá Manoel Nenzinho Pinto

Hoje, um bom acampamento é feito de instrumentos, computadores, microfones e talento. Durante muitos anos, apenas alguns pianos, violões, canetas e cadernos privilegiados foram as testemunhas do processo de criação de grandes gênios da composição — criadores que acreditavam e acreditam que a solidão é a melhor parceira. Duplas eram admitidas no rol de autores das canções icônicas. Já os trios de compositores reunidos para compor eram mais raros. Mais que três, nem pensar. Foi preciso que os ventos digitais soprassem intensamente para que esse tabu caísse. Canções com cinco, seis e até oito autores surgiram nas listas da “Billboard” e nas mais ouvidas do Spotify e da Apple Music, mostrando que a criação coletiva seria a marca dos novos tempos. Agora é a vez dos writers’camps, ou acampamentos de criação musical, onde grupos de compositores e produtores se juntam para construir repertórios, às vezes já conhecendo o intérprete destinatário.

A UBC, de novo, largou na frente. Com a australiana APRA, reunimos em São Paulo talentos dos dois países para criar música. A usina não poluente armou as tendas no Estúdio VIP, de Dudu Borges, ao longo de três jornadas com produtores, letristas, compositores e arranjadores. Os resultados e depoimentos deles estão na matéria de capa desta edição.


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20 PeRFIL: Baco Exu do Blues Fique de Olho DESTAQUE: Art Popular Pelo País: A última loja de CDs do Recife CAPA

28 30 32 34 36 38

NOVIDADE: O novo app da UBC

20

ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO: Rubricas

18

CARREIRA: Feiras e festivais

17

NOTÍCIAS INTERNACIONAIS

14

MERCADO: Supervisor musical

12

RELATÓRIO: Mulheres na música

6

PeRFIL: Anaadi

5

NOVIDADES NACIONAIS

JOGO RÁPIDO: Atitude 67

ín dI ce 12

22

14

1 40

30


JOGO RÁPIDO

REVISTA UBC

5

‘TEM SIDO MAIS DO QUE UM SONHO’ Produzida por Dudu Borges e apadrinhada por Thiaguinho, a banda de ‘samba-rock pantaneiro’ Atitude 67 é o novo hit das plataformas de streaming, com dezenas de milhões de visualizações por_ Alessandro Soler foto_ Somoke

de_ São Paulo

Nova aposta do midas Dudu Borges, e com apadrinhamento de Thiaguinho, a banda Atitude 67 foge aos padrões fáceis da classificação musical. Naturais de Campo Grande, eles bebem na fonte nobre da música do interior, mas fazem mesmo é batuque: pagode, samba-rock (que chamam de pantaneiro) e pitadas de

rap que põem a juventude conectada para dançar. Muitas vezes. Dezenas de milhões delas (só um dos hits, “Cerveja de Garrafa”, tem mais de cem milhões de visualizações no YouTube). Radicados em São Paulo, os seis jovens integrantes vivem juntos (num mesmo apartamento), criam juntos e mostram uma rara sintonia que explica a explosiva repercussão do primeiro álbum deles, homônimo, entregue em capítulos. Num acúmulo de EPs com propostas e tempos de maturação complementares, a obra surgiu, assim, após eles sondarem os gostos e ondas do mercado. É o que conta o vocalista Pedrinho Pimenta. Por que lançar o disco em diferentes EPs? É como se quiséssemos contar uma história. O primeiro foi o Laje 67, gravado numa laje do Brás, com

proposta bem urbana. O último, o Praia 67, que saiu em dezembro com clima e estética de verão, gravado em Saquarema (RJ)... A gente vai compondo e arranjando segundo cada clima, planejando algo como uma entrega de 25 músicas por ano. É um grande desafio, difícil de compor, mas o resultado é que não saímos do radar das plataformas. E dos palcos... Nos últimos 180 dias, foram cem shows. Loucura total. E tem uma logística interessante: procuramos agendar os shows em miniturnês espalhadas por regiões, otimizando nosso tempo. Para isso, temos uma assessoria especialíssima, Thiaguinho nos pôs uma equipe fantástica à disposição. Tem sido mais do que um sonho. LEIA MAIS A entrevista completa com Pedrinho Pimenta, do Atitude 67l ubc.vc/Atitude VEJA MAIS Um vídeo no qual eles mostram um momento de criação no apartamento em que vivem em São Paulo ubc.vc/Atitude


NOVIDADES nacionais 6

por_ Ricardo Silva

de_ São Paulo

Erupção

‘djavânica’ Era já o prenúncio de uma erupção musical. Ao lançar, em setembro passado, o single “Solitude”, um grito de forte mensagem política em meio à cacofonia da polarização no país, Djavan já sinalizava que seu mais novo álbum (o 24º da carreira), entregue completo dois meses depois com o nome de um emblemático vulcão no título, prometia não deixar ninguém indiferente. As 13 canções de “Vesúvio”, todas inteiramente compostas pelo músico, compositor, cantor, arranjador e produtor alagoano, jogam o espectador numa torrente de emoções por sua complexidade musical, os acenos a variados estilos — da MPB funkeada de “Cedo ou Tarde” ao pop puro de “Dores Gris”, do quase rock “Viver é Dever” às batidas afro e flamencas de “Vesúvio”. “Solitude”, em si, apesar da batida pop, evoca um cheiro folk ou até rap pela força da letra que, com potência, denuncia a involução da sociedade contemporânea, do capitalismo excludente, de “um mundo louco” de guerras, refugiados, de uma extrema-direita que ressurge com força. “Estamos vivendo um momento de grande incerteza no Brasil e no mundo, tudo é complexo, confuso e nebuloso. Estou apreensivo com o futuro, todas as possibilidades são complicadas”, diz Djavan.

O “Beijo” de

Ela tem só 19 anos, mas já lançou EP, um sem-número de singles, emplacou em trilha sonora de novela (“Tempo de Amar”) e seduziu gente como Nando Reis e Fernando Lobo, produtor e gerente artístico do selo Slap, da Som Livre, que aposta nela para o primeiro time da música nacional em muito pouco tempo. Mais um passo acaba de ser dado pela paulistana Nina Fernandes nessa direção: o single “Beijo”, escrito e interpretado por ela, que deve fazer parte de um álbum num futuro não distante. O método de entrega canção a canção, o mais quente do momento, vem garantindo a presença dela nas plataformas de single e vídeo de uma forma pop, mas com uma pegada que em nada lembra a linha de montagem de sucessos sem conteúdo: “Almejo fazer uma carreira tão especial quanto a da Marisa Monte”, disse a jovem à revista “Quem”, mostrando a solidez das suas inspirações.

Nina

VEJA MAIS O lyric video de “Beijo” ubc.vc/Nina

foto_ Fernando Schlaepfer

Em março, estreia a nova turnê do músico, e você verá mais informações sobre os shows na próxima edição da Revista UBC.


REVISTA UBC

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Elba:

foto_ Alexandre Sant’Anna

ouro e cristal

Ouça MAIS O álbum “O Ouro do Pó da Estrada” ubc.vc/Elba

O título evoca ouro, e a voz de Elba Ramalho continua cristalina. Em “O Ouro do Pó da Estrada”, seu 38º álbum de estúdio numa carreira mais do que produtiva de quatro décadas, a estrela paraibana dá fé de sua versatilidade ao colocar em fila jovens compositores — Yuri Queiroga, Manuca Bandini, George Sauma —, nomes fundamentais das novas cenas musicais país afora (o paulistano Marcelo Jeneci ou o pernambucano Juliano Holanda, por exemplo) e medalhões de todos os tempos, como Belchior, Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Fausto Nilo. São 13 faixas, entre regravações e inéditas, e uma produção caprichada de Yuri e Tostão Queiroga, ambos produtores também do álbum “Qual o Assunto Mais Lhe Interessa?”, de 2007. Ney Matogrosso divide os vocais com a diva na canção “O Girassol da Caverna”, composição de Lula Queiroga. “‘O Ouro do Pó da Estrada’ tem muito da nossa cultura. Poder explorar isso foi maravilhoso. Tudo foi muito caprichado, e te digo que cantar essas faixas não foi fácil. Mas ficou um trabalho primoroso, e vamos com tudo para a turnê, que começa em fevereiro, em São Paulo”, disse Elba ao jornal “Estado de Minas”. Ouça MAIS Uma degustação das 15 faixas de “O Luminoso” ubc.vc/Lumi

O Sul também tem bom samba (e choro), e prova disso é o notável “O Luminoso — Elias Barboza Quinteto”, recém-lançado álbum instrumental do grupo liderado pelo bandolinista que já vinha chamando atenção pelos prêmios que conquistou em festivais ao lançar, por separado, algumas das 15 canções que compõem o trabalho. Em 2014, por exemplo, o choro composto por Elias que dá nome ao disco se sagrou melhor música instrumental no Festival IV Moenda Instrumental, em Santo Antônio da Patrulha (RS). Ano passado, foi a vez de outra faixa, “Quando o Samba Chora”, levar o troféu do festival Musicanto, em Santa Rosa (RS). Além de Elias, responsável por composições, bandolim e arranjos, o quintento é formado por Fabio Azevedos (cavaquinho), Fernando Sessé (percussão), João Vicente (violão sete cordas) e Matheus Kleber (acordeão e piano).

Batucada de

Elias


NOVIDADES nacionais 8

Gabriel, Macacko

12 vezes

Prestes a completar cinco anos em estado vegetativo após sofrer uma parada cardiorrespiratória que o deixou sem oxigênio durante uma cirurgia para tratar um aneurisma na aorta, Alexandre Faria, músico, produtor, ex-secretário de Cultura de Vitória, compositor e filiado à UBC, ganhou uma bela homenagem de dois amigos, ambos igualmente pertencentes à nossa associação. Gustavo Macacko e Gabriel o Pensador lançaram no segundo semestre do ano passado a canção “Passaporte para a Fé”, cujos rendimentos serão destinados à família de Faria. Um clipe e um making of que conta os bastidores do projeto e da produção também ganharam o mundo para dar visibilidade à situação de uma das principais figuras da cena cultural da capital capixaba. “Não há em Vitória quem nunca tenha ouvido falar do Alexandre”, diz Macacko. No making of do clipe, chamado “A Vontade de Viver”, diversos músicos falam sobre Alex e sobre sua vida e obra.

Expoente do Clube da Esquina, o compositor niteroiense Ronaldo Bastos ganhou, aos 70 anos de vida, um bonito tributo da banda paulista Samuca e a Selva. As 12 canções do novo disco do grupo, “Tudo Que Move é Sagrado”, são composições de Ronaldo e seus parceiros, como Milton Nascimento, Beto Guedes, Lulu Santos, Lô Borges ou Ed Wilson, entre muitos outros. “Fé Cega, Faca Amolada”, “Trem Azul”, “Chuva de Prata”, “Um Certo Alguém” e muitas mais criações tanto da primeira fase da produção de Bastos, na efervescente Belo Horizonte dos anos 1960, como da etapa pop dos anos 1980 aparecem em versões que brincam com a diversidade da sua obra, dialogando com gêneros como jazz, guarânia, salsa, reggae e cúmbia. O álbum é uma parceria dos selos YBMusic, de Maurício Tagliari, e Dubas, e uma constelação de participações especiais arremata a homenagem em grande estilo a Bastos: estão lá, por exemplo, Criolo, Luedji Lima, Liniker, Filipe Catto e Siba.

e uma bela Ronaldo homenagem a Alex Bastos

LEIA MAIS Reveja uma reportagem do site da UBC de 2017 com mais detalhes sobre a situação de Alexandre Lima ubc.vc/AleLima

Ouça MAIS As faixas de “Tudo Que Move é Sagrado” ubc.vc/TQMS


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Os Beatles,

segundo Leo Gandelman

VEJA MAIS Leo Gandelman fala sobre o conceito do álbum ubc.vc/LeoYS

Júpiter Maçã,

vida e obra intensas Excessos etílicos, excessos amorosos, excessos artísticos e alguma pistola. “Júpiter Maçã – A Efervescente Vida e Obra” (Editora Plus, 420 páginas, R$ 88) é, como sugere o próprio título, a fervilhante biografia do roqueiro gaúcho falecido precocemente de um infarto do miocárdio em 2015, com só 47 anos. Histórias relacionadas aos anos loucos da cena oitentista de Porto Alegre, a participação nas bandas TNT e Cascavelletes, os amores e desamores e a importância e o impacto que a obra do músico gerou no movimento musical local são explorados pelos autores, Cristiano Bastos e Pedro Brandt.

Bossa nova e jazz, dois dos estilos que domina à maestria, se entrecruzam ao rock no novo trabalho do saxofonista Leo Gandelman, lançado em dezembro passado. Com participação do Julio Bittencourt Trio, “Yellow Saxmarine” é uma gostosa homenagem a lados B dos Beatles e sai pelo selo Saxdriver em parceria com a Milk. “Let it Be”, “Ticket to Ride”, “And I Love Her” e “Day Tripper” estão entre as faixas escolhidas. “Difícil pensar em lado B quando falamos dos Beatles, mas buscamos fugir do óbvio”, define o músico. Ele conta que o repertório foi escolhido em conjunto com o trio depois do sucesso de uma canja informal que eles deram num show no interior do Rio de Janeiro, há alguns anos, no qual tocaram hits dos Beatles. Era só o começo de uma aventura musical que marca seus 30 anos de carreira.


NOVIDADES nacionais 10

Adriana Calcanhotto

foto_ Leo Aversa

do Brasil

VEJA MAIS O videomanifesto de “A Mulher do Pau Brasil” ubc.vc/PauBr

Depois de um hiato de dois anos vivendo e lecionando em Coimbra, Portugal, Adriana Calcanhotto voltou ao Brasil e já chegou com show e música novos, ambos batizados como “A Mulher do Pau Brasil”. Ao evocar as etnias que compõem a chamada civilização brasileira, ela aguça seu olhar antropofágico e cruza referências lusas, nacionais e de outros países num intento de reafirmar sua própria origem. Oswald de Andrade, Chico Buarque, Emily Dickson, Fernando Pessoa e outros emprestam suas criações ao show, que derivou na música, escrita por ela e mais evidentemente autobiográfica do que qualquer outra obra sua anterior.

As mulheres de

J Michiles na telinha

Com um histórico de canções suas em trilhas sonoras de telenovelas e filmes, o pernambucano J Michiles se prepara para emplacar mais duas. “Roda e Avisa”, frevo seu escrito em parceria com Edson Rodrigues, aparecerá em “Verão 90”, a nova novela das 19h da TV Globo. E “Bom Demais”, frevo seu que foi sucesso na voz de Alceu Valença, é um dos destaques de “Na Embolada do Tempo”, filme sobre Alceu produzido pela TV Zero. Com mais de 30 anos de carreira, Michiles é um dos principais nomes do carnaval pernambucano, no qual já foi homenageado várias vezes.

e na telona

“Uma coleção afetiva sobre mulheres” é como define o cantor, compositor e músico gaúcho Julio Reny seu mais novo álbum (o 11º da carreira), “O Homem Que Amava as Mulheres”. Expoente e, dizem alguns, “mito” da cena roqueira alternativa porto-alegrense, ele reúne gravações originais de canções suas que compôs para as muitas mulheres que passaram por sua vida (“Ivone”, de 1985, “Não Chores, Lola”, de 1998, “Vanessa”, de 2010, ou “Anita”, de 1990), além de um ciclo de novas composições dedicado a garotas de programa, como “Alice no País da Ternura”, “Rochele” e “Yasmin”. Produzido pelo baixista Guilherme Wurch, o álbum traz ainda “A Princesa, a Lady e o Anjo”, uma parceria de Julio com Oly Jr., e vem sendo vendido em versão física pela banda durante os shows.

Julio


REVISTA UBC

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Batucada da

Um ano e meio de lapidação à base de uma boa percussão: assim nasceu o novo trabalho da musicista Lan Lanh, “Batuque”. Gerido durante uma longa turnê que mistura cajón, o instrumento percussivo típico do flamenco que ela domina, tambores afro-brasileiros e as improvisações do jazz, o EP de seis faixas termina com uma parceria insuspeita com o amigo Nando Reis. “Meu amor, estou para lhe escrever mas a correria me dispersou. Essa dor vai passar, e você vai passar a sorrir e a amar. Saiba que eu te amo muito. Como você está?” A mensagem recebida pela percussionista num momento complicado virou a letra da faixa “Saiba Que Eu Te Amo Muito”. Aos 50 anos de vida e 30 de carreira, a artista projetada como musicista acompanhante de Cássia Eller se diz feliz por ter ajudado a abrir às mulheres um mundo tão associados aos homens: “Fico orgulhosa porque ajudei a pavimentar essa estrada, por onde hoje passam tantas mulheres. Tudo isso sem levantar bandeiras ou promover revoluções, apenas fazendo meu trabalho.”

foto_ Nanda Costa

VEJA MAIS Assista ao clipe oficial em 360º da faixa “Batuque de Xangô” ubc.vc/Xango

Filme

tocado “Ultraleve” é o segundo álbum solo do músico Alberto Continentino e é também uma espécie de filme tocado. “Oceânica”, “Brisa”, “Praia das Pedras”, “Quieto” e outras faixas deste álbum que se aprofunda no jazz e no latin jazz em que Continentino se especializou evocam imagens continuamente. Gravado nos estúdios Marini (de Kassin) e Audio Rebel, no Rio, o álbum foi gestado ao longo de anos, cuidadosamente lapidado, e conta com a participação de um quinteto formado ainda por Bernardo Bosisio (guitarra), Arthur Dutra (vibrafone), Stéphane San Juan (percussão) e Renato Massa (bateria). A produção é de Kassin e Guilherme Monteiro. Baixista, contrabaixista, compositor, cantor, Continentino tocou como músico acompanhante de nomes como Adriana Calcanhotto, Maria Rita, Ed Motta, Cássia Eller, Carlinhos Brown e Vanessa da Mata e compôs, entre outros, para Gal Costa, Ney Matogrosso, Domenico, Zabelê e Silvia Machete. “Neste disco, eu quis que cada instrumento tivesse mais liberdade de improvisação. Como conceito, dentro da minha bagagem musical, das coisas que ouvi e toquei, pensei num ponto de fusão do jazz que comporte uma presença muito forte das músicas latina e brasileira”, ele descreve.

Ouça MAIS As 12 canções de “Ultraleve” ubc.vc/Ultra

foto_ Rogerio Von Kruger

Lan Lanh


PERFIL 12

Anaadi Vencedora do Grammy Latino com o álbum “Noturno”, a cantora e compositora gaúcha empreende uma trajetória sólida pavimentada sobre uma trilogia musical por_ Matheus Passos Beck

de_ Porto Alegre

foto_Marlon Laurêncio


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Ana Lonardi é Anaadi. A cantora gaúcha adotou o nome híndi para simbolizar a nova fase, que transcende a interpretação musical e reafirma sua condição de compositora, de artista e de mulher. Escolha premiada, em novembro de 2018, com um gramofone de ouro. Ela foi indicada ao 19º Grammy Latino em quatro categorias: Artista Revelação, Gravação do Ano, com “É Fake (Homem Barato)”, Melhor Engenharia de Gravação e Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa, por “Noturno”. Venceu este último. “O disco foi sendo criado aos poucos, pelas composições que surgiram ao longo de alguns anos e pela busca, na pré-produção, de uma sonoridade autêntica. Esse processo de experimentar é o mais divertido pra mim. É não saber aonde vai dar e se surpreender positivamente”, resume. O disco nasceu quando ela participou de uma audição no estúdio Transcendental Áudio e conheceu o produtor Léo Bracht. “Como intérprete, ela é incrível.

Impressionam a diversidade de timbres, estilos e o domínio da voz”, ele define. “Como compositora, não se intimida com os desafios.”

“Noturno” é a primeira parte de uma trilogia. Será seguido por “Iluminar”, disco que está praticamente gravado. O fechamento ainda não tem nome, mas deve se aproximar do primeiro: “Noturno é inspirado no Purgatório, como este mundo agridoce, belo e difícil em que a gente vive. O próximo será inspirado no Céu e terá, na maioria das faixas, sambas. Sobre o Inferno, ainda não temos nenhuma composição. Por enquanto, tenho apenas referências no soul, no rock e no R&B. Mas não o vejo necessariamente como um lugar de tormento. Tem a questão da diversão, da sensualidade, dos prazeres. É um lugar de tabu fascinante que tenho investigado e visto de maneira diferente.”

Parte de suas composições versa sobre si mesma, e não de maneira egocêntrica. Ela usa as letras para desconstruir estereótipos. No clipe de “É Fake (Homem Barato)”, denuncia o machismo e sugere outras formas de amar. Já em “Sexy Antagonista”, usa a sensualidade do jazz para confessar como forjou sua autoestima fora dos padrões. Em 2013, Ana participou do “The Voice Brasil” (Globo) e seguiu até o nono episódio. A experiência no entretenimento, entretanto, tornou-se um capítulo menor em sua biografia. “Ainda hoje abre algumas portas, mas acredito que vai ficando cada vez mais distante na minha história, porque me sinto evoluída em relação à artista e à pessoa que eu era”, reflete. “Entendi a importância de ser quem se é para sustentar um caminho e sobre os riscos de tentar ser o que não se é para fazer sucesso.”


PERFIL 14

Baco Exu do Blues Diogo Moncorvo, artisticamente conhecido como Baco Exu do Blues, chamou a atenção de todo o cenário da música alternativa, em 2017, com o álbum “Esú” e, na reta final, de 2018 deu um ótimo passo para entrar e transitar pelos caminhos da música brasileira com “Blvesman”, seu mais recente trabalho. Mas quem é Baco Exu do Blues? Tudo começa em Salvador, com o forte apreço pela leitura de livros. A mãe, professora de literatura, o incentiva a ler desde cedo, o que faz com que a música não seja sua principal opção de entretenimento até o instante em que escuta “Quebra Cabeça”, de Gabriel O Pensador, e cria suas versões das canções do disco, tornando real,

Aos 22 anos de idade, com dois álbuns e premiações na bagagem, o soteropolitano Diego Moncorvo é uma das grandes revelações da música e propõe novas perspectivas para o rap no país por_ Marcílio Gabriel foto_Alex Takaki

de_ São Paulo

assim, a vontade de escrever e querer comunicar suas ideias. O pseudônimo parte de Baco, inspirado no Deus da mitologia grega Dionísio, conhecido por seus excessos. Exu, o orixá que ‘abre os caminhos’, intermedia o equilíbrio que finaliza com Blues, por influência das canções de jazz e blues, frequentes em sua casa pelos ouvidos de sua mãe. Com essa base cultural e de conhecimento, Baco dá suas caras no rap soteropolitano e aparece nacionalmente com a música “Sulicídio”, em parceria com o rapper pernambucano Diomedes Chinaski. A letra, forte, busca a afirmação das regiões Norte e Nordeste contra a centralização do chamado “eixo RioSão Paulo”.


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As obras de Baco trouxeram visibilidade e contribuíram para o crescimento do cenário do rap na Bahia. Faustino Beats, cantor, produtor musical e também contemporâneo de Baco, avalia que, desde 2016, as estruturas da cena vêm sendo balançadas, fazendo com que o público preste mais atenção em artistas da região. “Tem muita gente aqui na Bahia que tem talento, a gente percebe que não tem muito essa questão de imitação, cada um faz rap do seu jeito, e com muita qualidade”, afirma. Para Mariana Paulino, jornalista e responsável pelo blog Rap em Movimento, a porta que Baco abriu ninguém fecha: “Acredito que com o ‘Blvesman’ ele vá conseguir chegar mais longe e colocar o rap nacional em um outro patamar também.”


PERFIL

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Se dá um forte impacto, e Baco passa a ter seu nome com um dos mais citados em 2016, tanto por sua ousadia e talento como por suas palavras agudas, que dividem opiniões: “Amadureci muito depois de ‘Sulicídio’, me arrependi de algumas falas da música e, por isso, eu não a canto mais. Entendo a importância dela e me orgulho muito do que ela fez pelo rap nacional, mas, se pudesse voltar no tempo, faria de outra maneira”, opina Baco. Com a abertura conquistada, a expectativa de um trabalho mais sólido e solo é real. Em setembro de

2017, as marcas que o rapper quer deixar e pelas quais o público ansia acontecem em “Esú” - seu primeiro álbum -, colocando-o como um dos principais nomes do rap no Brasil. Além do prestígio com a crítica, o disco traz a Baco a possibilidade de enxergar outras possibilidades de alcance para sua música e a necessidade de direcionar sua voz a ouvidos que não estariam ligados somente ao seu gênero de raiz: “Eu vi minha música tocando pessoas de outros gêneros musicais, me vi como diretor musical, cresceu em mim a visão de poder fazer coisas além de cantar”, comenta.

Amadureci muito depois de ‘Sulicídio’, me arrependi de algumas falas da música.”

Explorando outras sonoridades, inspirando-se em campos das artes visuais e trazendo temas que abordam comportamentos humanos, saúde mental e ligações com suas origens, ancestralidade e inquietudes diretamente inseridas nas raízes da cultura negra, nasce “Blvesman”, seu segundo álbum, definido por Baco como “o movimento que defende (o direito de) as pessoas serem pessoas, não rótulos.” Baco Exu Blues é o nome que desperta olhos e ouvidos para um novo sentimento em tempos em que ritmos e estilos musicais se fortalecem em conjunto e criam novas narrativas.


FIQUE DE OLHO

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do_ Rio

67 canais estrangeiros têm

distribuição no Brasil Pela primeira vez, 67 canais de TV cuja sede fica em outro país tiveram distribuição local no Brasil em novembro passado. Antes, estavam sujeitos a uma regra que fazia com que os valores fossem remetidos para distribuição no exterior, o que, na prática, às vezes dificultava ou retardava a chegada aos criadores brasileiros cujas criações eram usadas na programação. A tal regra, chamada cable retransmission, foi criada nos anos 1980, quando era difícil estabelecer corretamente o repertório musical utilizado num canal internacional. Por isso, todo o dinheiro da execução pública era enviado ao país de origem do sinal para que lá se fizesse a distribuição. Com a melhora na identificação, foi possível distribuir localmente, e a intenção do Ecad é aumentar o número de canais com distribuição dessa forma.

Quase 60% das

Retidos:

rádios estão outro ano inadimplen de bons tes resultados A inadimplência das rádios brasileiras bateu um novo recorde em 2018, a despeito dos esforços do Ecad e das suas associações para tentar selar acordos que ponham fim a essa situação. De janeiro a outubro, um total de 59,7% das emissoras nacionais tinham algum tipo de valor em aberto. Em 2016, eram 58,3%. Se retiradas as rádios comunitárias da lista, a taxa de atraso de pagamentos continua elevada: 41,7%. Em valores monetários, o total devido por todas as rádios inadimplentes brasileiras, comerciais e comunitárias, alcança R$ 6.777.160,00.

A liberação de créditos retidos da UBC teve mais um ano de bons resultados, graças à sedimentação do Sistema de Administração de Direitos Autorais. Implantado pela UBC em 2016, o programa usa inteligência de negócios para identificar e distribuir valores relativos a canções cujos pagamentos não foram entregues aos seus titulares sobretudo por problemas de identificação das obras ou dos fonogramas, inconsistências nas cue-sheets (as folhas que fornecem detalhes sobre o uso de obras musicais em produtos audiovisuais) ou outros erros do gênero. Graças aos constantes investimentos em tecnologia, o montante liberado pela UBC em 2018 foi de R$ 63.350.226,40, ou 55,6% do total de retidos liberados pelo Ecad.


Destaque 18

Com a volta do vocalista original, Leandro Lehart, Art Popular se prepara para lançar um musical sobre o samba por_ Kamille Violal

do_ Rio

Pagode cult A despeito do sucesso estrondoso, o pagode dos anos 90 (ou pagode paulista ou, ainda, pagode romântico) recebeu uma série de críticas da imprensa especializada. Nada como o tempo. Hoje, o estilo ganhou status cult: existem bandas e até blocos de carnaval dedicados a recriar sucessos do gênero, que está na trilha sonora de festas moderninhas. Cenário bastante propício para a volta do vocalista Leandro Lehart para o Art Popular, um dos principais nomes do estilo. Depois de lançar um CD e um DVD no ano passado, a banda se prepara para estrear “Os Bambas, o Musical”, previsto para depois do carnaval.

O Art Popular estreou em disco em 1994, com “Canto da Razão”. Foi um sucesso e trouxe o primeiro contrato com uma grande gravadora. O segundo trabalho, “Nova Era” (1995), teve hits como “Valeu Demais” e foi disco de ouro e de platina. “Temporal” (1996) deu ao cancioneiro nacional sucessos como a faixa-título, “Nani” e “Pimpolho”. “SambaPopBrasil” (1997) vendeu 800 mil cópias e teve os estouros “Fricote” e “Amarelinha”. Outros trabalhos se sucederam, até que, em 2001, depois de nove discos juntos, Lehart anunciou sua saída do grupo e lançou o primeiro trabalho sozinho, “Solo”. Em 2003, voltou a integrar a banda, para sair novamente em 2005. Em 2017, nova volta dele e o lançamento do álbum “Breakdown Partido Alto”, com 17 faixas inéditas.


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“Vamos contar a trajetória do samba desde a década de 1920 até os dias de hoje, de uma maneira emotiva e também divertida. Tem a ver com a história da gente e das nossas famílias”, adianta Lehart. “A gente vai contar a história como se fosse um grupo criado no Rio de Janeiro, que viveu seu auge nos anos 60. Vamos usar roupas daquela época e convidar o público a embarcar nessa e ir caracterizado também”, descreve. Apesar das críticas negativas ao gênero na época, ele garante que não sentiu

na pele a implicância com o estilo. “Até quando lancei meu disco solo, no meio do processo, os críticos me receberam muito bem. Eles sabiam que, independentemente de qualquer coisa, eu tentava fazer um trabalho diferente. Claro que aproveitamos as portas abertas para lançar músicas mais fáceis, mais comerciais. Sabíamos que elas iriam facilitar a entrada das mais difíceis e, assim, poderíamos cravar nosso nome e ter longevidade como artistas quando a onda passasse.”


PELO PAís 20

A renovação passa pela

loja de discos

Os 15 anos da Passa Disco, último bastião de venda de CDs na capital pernambucana e insuspeita agitadora da cena local por_ Bruno Albertim foto_ Heudes Regis

do_ Recife


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“Outra dia, uma moça entrou e perguntou se eu só vendia CDs. Respondi que sim. Ela retrucou, franzindo as sobrancelhas: ‘o que está na moda é pendrive!’. Eu emendei: ‘é que sou cafona!’” É assim, entre risos, suor do trabalho diário e fé na música que Fábio Cabral tem vivido os últimos 15 anos. Ele é dono da Passa Disco, a última loja física de discos do Recife — e uma das últimas da cidade e do país —, instalada no bairro do Espinheiro e agitadora da fervilhante nova cena local.

A loja é o selo Para comemorar os 15 anos de atuação da loja, Fábio produziu uma coletânea com os novos nomes da música autoral pernambucana, uma geração marcada pelo apuro poético e a elegância melódica nas canções. Com o selo da Passa Disco, o álbum Arrisque traz nomes como Almério, Isadora Melo, Sophia Freire, Amaro Freitas, Tonfil ou Zé Manoel. “Toquei na inauguração da Passa Disco com uma banda que eu tinha com Alessandra Leão e Tiné, chamada Coqueiro Novo, 15 anos atrás. E já era muito significativo que houvesse em Recife uma loja de discos independente. Para nós, sempre foi um gigantesco oásis, um lugar de encontro. A Passa Disco, mais que uma loja de discos, é uma loja de música. Um ato de resistência”, diz Juliano Holanda, um dos gurus dessa nova cena e nome presente na coletânea.

A existência da loja é mais que uma curiosidade. É sintoma e reflexo de um paradoxo. Se a indústria fonográfica não tem os pulmões colossais de décadas passadas, a democratização e popularização da tecnologia alimentam a produção de pequena escala, com distribuição garantida ali: “No total, as vendas são menores, mas a quantidade de produtos lançados é muito maior. Só vendo música brasileira, 50% dela daqui de Pernambuco”, conta. Nos anos 1990, Fábio era sócio do irmão, Felipe (hoje dono de uma casa de shows), num bar bem frequentado. “Os artistas iam lá, deixavam os discos para tocar”, lembra. O Rei do Cangaço já não via as mesas tão abarrotadas como no começo quando, por curiosidade, Fábio foi acompanhar o amigo Silvério Pessoa na coletiva de imprensa de seu disco “Micróbio do Frevo” (2002). Ali, uma jornalista comentou que faltava, diante da efervescência musical da cidade, uma loja que concentrasse

Agrônomo de formação, paisagista e jardineiro de ofício, filho de uma família tradicional da capital pernambucana, Fábio Passadisco, figura popular na cena musical daqui, cresceu nos anos 1970 como um devoto da rádio. O parente mais conhecido virou motivo até de uma música de Caetano Veloso sobre o fato de não gostar de música. Hoje verbete fundamental da cultura brasileira, o poeta João Cabral de Mello Neto não podia ver um disco rodando na vitrola. “Eu era criança, mas estive com ele umas três vezes. Uma delas, num jantar em torno dele... sem música!”, lembra Fábio, sobre o primo do avô, de quem, curiosamente, guarda como lembrança um vinil autografado da trilha do longa “Morte e Vida Severina”.

e comercializasse os muitos discos lançados do Recife. Não sabia a repórter, mas havia acabado de fornecer uma senha a Fábio. Desde o começo, a Passa Disco foi um ponto de encontro. “Sou amigo de Fábio desde o bar Rei do Cangaço, onde começou minha carreira artística profissional”, lembra o cantor e compositor Josildo Sá, conhecido pelo seu Samba de Latada. “Sou saudosista, construo meus repertórios ouvindo CD. Acho romântico entrar numa loja física. A Passa Disco é linda!”. Durante treze anos, a loja funcionou numa galeria, no bairro do Parnamirim. Quando a fila de autógrafos de um disco de Lenine dobrou a esquina, Fábio viu que estava na hora de arrumar o matulão e se instalar numa galeria maior. No que depender da importância afetiva deste lugar para o universo musical recifense, pode não ter sido a última mudança.

LEIA MAIS Reveja uma reportagem sobre alguns dos nomes que estão fazendo barulho na nova cena recifense ubc.vc/MusicaPE


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O roqueiro australiano dedilha sua guitarra enquanto a escritora de letras da MPB arrisca algumas rimas (em português e inglês) e o produtor confere um toque latino ao que vai saindo. Na jornada seguinte, cada um deles vai para outra sala, onde os esperam dois ou três criadores diferentes para começar tudo de novo.

Primeira edição de um acampamento de criação musical realizado pela UBC reúne 18 artistas brasileiros e australianos e termina com 24 novas canções; modelo se torna sucesso global e pode representar uma revolução na composição por_ Alessandro Soler

de_ São Paulo

fotos_ Luís Bahú

Assim foram os dias no song camp co-organizado pela UBC em dezembro, em São Paulo. Assim são muitos dos acampamentos de criação musical que se espalham pelo mundo, popularizando essa inventiva, instigante e, por que não?, lúdica forma de composição. Ao unir gente de estilos, origens e gerações variados, e com os olhos de grandes gravadoras e intérpretes diligentemente voltados para o resultado dos experimentos, tais encontros evocam um ambiente de saudável pressão, de busca pelo melhor resultado. Exatamente como ocorreu no início dos anos 2000, nos Estados Unidos, com as disputadas salas de escritores, ou writers’ rooms, que elevaram o nível das séries de TV, equiparando-as aos melhores filmes.


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Depois de seduzir nove entre dez roteiristas do setor audiovisual, esse modelo de produção passa a ocupar também o topo das aspirações de muitos autores e produtores musicais. “Foi minha primeira vez num song camp. E não há dúvida de que quero muito estar em outros. Já compus com um monte de gente, mas, para mim, trata-se de um processo eminentemente solitário. A gente passa muito tempo sem compor, seja por bloqueio, seja por renovação de estilo, seja porque simplesmente está ocupado com outras coisas. Mas, quando se vê com pessoas novas, cercado de ideias novas, não rola bloqueio, não rola branco, só inspiração e um alimentando o outro”, define o compositor, produtor, cantor e instrumentista Lucas Silveira, líder da banda Fresno e um dos 18 artistas brasileiros e

internacionais que participaram da primeira edição do projeto SongHubs na América Latina.

Encontro ocupa estúdio VIP, de Dudu Borges Idealizado pela sociedade de gestão coletiva australiana APRA AMCOS, o projeto já rodou o mundo — Bombaim, Londres, Singapura, Sydney, Los Angeles — e, no Brasil, teve produção também da UBC, com a colaboração de uma iniciativa de difusão musical australiana, o Sounds Australia. Ao longo de três jornadas, produtores, letristas, compositores de músicas e arranjadores ocuparam o impressionante estúdio VIP, do produtor Dudu Borges, no bairro da Aclimação, sem compromisso específico que não o de fazer boas canções. O curador responsável foi Glenn Dickie, da Sounds Australia, que organizou

as turmas, pautou os criadores e supervisionou os intensos turnos de até 12 horas juntando, em diferentes pequenos grupos, os australianos Alexander Biggs, Nic Mckenzie, Nick Weaver e Brendan O’Mahony (os três da banda Deep Sea Arcade), Joel Byrne (Wolf & Cub), Birdz, Chela, Jess Cornelius, Lila Gold e Mitch Kelly, além dos brasileiros Celso Fonseca, Samille Joker, Pedro Dash e Dan Valbusa (da dupla Los Brasileros), Bibi, Glória Groove, Lucas Silveira e Monica Agena. “Foi um fechamento com chave de ouro para um ótimo ano do SongHubs. Tivemos alguns dos melhores compositores e produtores brasileiros conosco”, celebra Dickie. Diretor-executivo da UBC, Marcelo Castello Branco também faz uma avaliação mais do que positiva da


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Diferentes momentos de criação musical durante as três jornadas do SongHubs Brasil, em São Paulo: 24 canções escritas, produzidas e arranjadas por 18 profissionais australianos e brasileiros

primeira edição de um acampamento de criação organizado pela UBC. “Acredito muito que, para um certo perfil de autores e produtores, a palavra prazo é um anabolizante. Cria faísca, ansiedade, e o resultado aparece. Mais curioso e produtivo ainda quando se juntam diferentes nacionalidades, origens, destinos... ”, ele descreve. Celso Fonseca, que já havia participado em junho do ano passado de um grande song camp na França, durante a megafeira Midem, se mostra particularmente feliz com o resultado do SongHubs Brasil: “Foi o melhor. Esse tipo de encontro foi feito para isso: compartilhar, conhecer, aprender com outras culturas, outras pessoas, o que é fazer música. Fico muito agradecido, foi uma experiência maravilhosa.”


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Contribuiu para o relaxamento e a integração entre os criadores o ambiente do estúdio VIP, um conjunto com decoração moderna e convidativa, repleto de espaços de encontro e ócio. Aos poucos, o próprio lugar foi reunindo todo mundo, rompendo alguma barreira inicial que pudesse haver. “Vim com receio do que ia rolar, mas foi maravilhoso. O pessoal é supertalentoso e superaberto. Aprendi muito sobre ter humildade dentro do estúdio produzindo”, conta a guitarrista e produtora Monica Agena.

Aposta certa de gravadoras e editoras

Lila Gold, uma cantora e compositora de Sydney radicada em Los Angeles, faz eco: “Foi muito recompensador, uma das melhores experiências que tive na vida. Faria tudo de novo.”

de_ São Paulo

Outros ‘song camps’ realizados por brasileiros no exterior já renderam canções gravadas por astros como Anitta

Futuros hits a caminho As 24 canções que os grupos conseguiram concluir em três dias corroboram a empolgação delas. “Escrever, com a Glória (Groove), uma canção que acho que está realmente linda e que vai causar impacto na cultura pop, foi incrível. A cada dia, vimos como as ideias pré-concebidas sobre o trabalho iam caindo e demos forma a coisas completamente diferentes. Adoraria repetir algum dia”, diz Mitch Kelly, premiado produtor e compositor de Melbourne. Quem escutou não só o potencial hit deles, mas todas as demais criações durante a festa de audição, ao final da última jornada, não tem dúvidas: muitos dos frutos desse primeiro acampamento da UBC têm tudo para amadurecer e derivar em sucessos.

LEIA MAIS Veja como participar do próximo song camp da Warner Chappell ou enviar seu material para o Brabo Music Team e integrar um “cativeiro de produção” deles ubc.vc/scamps


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Além do já mencionado song camp do Midem, outros encontros similares têm ocorrido mundo afora, com a cada vez mais frequente presença de brasileiros. Um deles, da gravadora Universal, ocorrido em agosto, também no estúdio de Dudu Borges em São Paulo, já deu um resultado bem palpável: o sucesso de Anitta “Não Perco o Meu Tempo”, composto durante o camp por Brasa, Danilo Valbusa, Dayane de Lima Nunes, Gabriele Oliveira, IAD, Marcelinho Ferraz, DJ Dash e pela própria cantora e compositora. “Essa pluralidade diz tudo: é um encontro de gênero, de personalidades, talentos, maneiras de trabalhar que gera uma música fora do comum. Você cria realmente algo novo”, afirma Marcelo Falcão, presidente da Universal Brasil. Com três acampamentos realizados nos últimos meses só para o mercado latino-americano, fora outros nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, a editora Warner Chappell também vê neste modelo uma forma quase imbatível de gerar músicas vendáveis. “Em abril foi a edição de Bogotá, na qual os cantores colombianos Greeicy (que lançou a parceria “Jacuzzi”, com Anitta) e Mike Bahia circulavam, dando opiniões. Toda a produção era destinada aos dois. Em agosto, foi a vez da Cidade do México, com uma

produção pensada para o Reykon (colombiano que faz sucesso no reggaeton). E o de novembro, em Miami, foi um sonho: tivemos o (grupo pop latino dos Estados Unidos) CNCO e o Ricky Martin conosco. Apostamos nesse modelo de criação tendo já um artista em mente porque, para nós, flui melhor, já há um feedback imediato e a certeza de que aquilo vai ganhar vida”, explica Filippe Siqueira, gerente de A&R e marketing digital e criativo da editora. Para Falcão, tanto a criação para um artista quanto a pluralidade absoluta de ideias e objetivos funcionam. As experiências de acampamentos de produção que ele acompanhou foram bem-sucedidas porque, qualquer que fosse o caso, abundaram as ideias fora da caixa. “A gente está acostumado à imagem de dois compositores sentados ao redor de um violão compondo. Isso está muito bem. Mas, nesses camps, um monte de gente já vem com a cabeça fervilhando de ideias, até mesmo com bases prontas, e você vê tudo mudar ao longo do processo. É uma abertura total. E que só funciona porque todos estão juntos, fisicamente juntos, trocando, atiçando-se, um colocando faísca no trabalho do outro”, ele analisa. (A.S.) VEJA MAIS Um vídeo exclusivo com os melhores momentos do SongHubs realizado pela APRA AMCOS e pela UBC ubc.vc/scamps

O ‘cativeiro de produção’ de Rodrigo Gorky O compositor, produtor e músico Rodrigo Gorky, fundador do Bonde do Rolê e produtor de Pabllo Vittar, Banda Uó e Preta Gil, faz suas próprias versões de song camps. São muitos os “cativeiros de produção” realizados por ele e os sócios do Brabo Music Team, coletivo que inclui ainda Pablo Bispo, Maffalda, Zebu e Arthur Marques (foto). Por que decidiram realizar ‘song camps’? Foi quando nos demos conta de que sempre trabalhamos com um montão de colaboradores. Decidimos levar todo mundo para viajar. O primeiro cativeiro foi num hotel em Uberlândia (MG), que rendeu de seis a oito músicas totalmente usáveis. Duas foram para a Mulher Pepita, uma para a Cléo Pires... O segundo foi numa casa em Itatiaia (RJ), sem internet, e rendeu uma só música, mas foi “Disk Me”, da Pabllo Vittar. A terceira foi num estúdio em São Paulo, mas tinha internet demais... O que é melhor: criar músicas num ‘camp’ pensando num intérprete ou fazê-las ao acaso e depois ver quem as cantará? Definitivamente, pensando num intérprete. Já entramos na cabeça dele. Melhor ainda se o artista está junto. Funciona para qualquer estilo? Funciona bem para o pop, funciona para o sertanejo, e eles vêm fazendo com frequência. Mas não consigo ver um artista folk fazendo isso. Ou da MPB. Não consigo imaginar o Bob Dylan, Caetano ou Gil num song camp. Num acampamento, você esquece a vaidade, a personalidade avassaladora... É um trabalho essencialmente em equipe. A música é para o outro... E é tão enriquecedor!


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Por mais espaço para as

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Apesar de uma expansão acima da média geral dos gêneros, participação feminina no quadro de associados se mantém em 14%, mostra relatório exclusivo da UBC de_ São Paulo


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Por faixa etária, o maior peso feminino se dá entre os compositores de 20 a 29 anos: ali, elas são 23% do total, o que sinaliza, ao menos, uma saudável conscientização sobre a igualdade de gênero entre os jovens. Nas faixas etárias mais avançadas, como 60 a 69, 70 a 79 e 80 a 89 anos, por exemplo, há uma queda dramática no percentual de mulheres: 6%, 2% e menos de 1%, respectivamente.

Pelo segundo ano consecutivo, a UBC publica o relatório Por Elas Que Fazem a Música, com dados sobre a participação feminina no quadro de associados — um espelho do que ocorre no mercado como um todo. E os números, apesar de algum alento, ainda estão muito longe de refletir uma presença igualitária das mulheres. Em 2018, elas continuaram a ser só 14% do total dos associados da UBC, embora o crescimento no total de associadas tenha sido de 15% (contra 13% da expansão geral, homens e mulheres).

a escassez de exemplos e estímulo: “Você quase não vê mulher tocando guitarra. Não há impedimento físico, é questão de identificação. Menino brinca de banda, menina não. Mas a gente está entrando.”

A cantora e compositora catarinense Lilian descreve sua própria experiência como um exemplo do que ocorre com tantas mulheres: “Canto desde os 10 anos, profissionalmente desde os 14, mas só me assumi compositora aos 28. Você, amiga compositora, não tenha medo de se mostrar, coloque sua luz no mundo. Por muito tempo, calamos a nossa voz. Para mim, foi uma libertação poder, hoje, dizer com orgulho: sou uma compositora.”

“As mulheres na música muito contribuíram para que homens enriquecessem, fossem reconhecidos e fizessem fama como compositores. À medida que o feminismo se alarga em elaborações e ideais, notamos uma considerável presença de compositoras. Somos intérpretes de nós mesmas”, diz a cantora e compositora paulistana Anelis Assumpção. “E temos inclusive o direito de sermos razoáveis aos ouvidos de críticos que esperam, ao ver uma mulher na música, que ela seja uma grande diva. Os mesmos que sempre toleraram e endossaram os homens que cantavam muitas vezes mal suas composições.”

Para a compositora, cantora, arranjadora e musicista carioca Delia Fischer, o cerne da questão é

Até mesmo no canto, onde a presença das mulheres sempre foi relativamente grande, há desigualdade. Prova disso é um levantamento da consultoria Crowley que mostra que, no Top 100 das rádios nacionais em 2018, havia 215 intérpretes homens e só 66 mulheres.

LEIA mais Em breve, no site da UBC, o relatório completo com todos os números


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Um ‘tradutor’ entre quem compra e quem vende

mú si ca

LEIA MAIS Relembre o evento UBC Sem Dúvida: Música em Audiovisual, que mostrou o crescimento das oportunidades de sincronização de músicas em filmes e séries ubc.vc/Videos_AV

Entenda o papel do supervisor musical na consolidação de um filão que cresce sem parar: o da inclusão de canções em filmes, séries e novelas por_ Andrea Menezes

de_ Brasília

De um lado, alguém que quer “comprar” um produto (uma música para incluir na trilha sonora do seu filme, anúncio publicitário ou série, por exemplo). De outro, alguém que quer vendê-lo (um produtor musical ou editora). No meio, um problema: e se ambos, comprador e vendedor, sequer “falam” a mesma língua? Para resolver a questão, ganha força no mercado brasileiro uma espécie de tradutor das peculiaridades desse tipo de negociação, uma figura que, lá fora, já tem bastante destaque há alguns anos: o supervisor musical. Conhecedor tanto das dinâmicas da produção audiovisual, com a inerente agilidade na escolha da canção ideal, quanto do mundo do licenciamento musical, com suas regras e procedimentos para a sincronização, o supervisor permite que o trabalho salte etapas desnecessárias. “Ele libera a editora de ter que explicar ao produtor audiovisual, a cada vez, o que é obra e o que é fonograma, qual o papel da editora

e qual o da gravadora, como é feito o licenciamento de uma música... Dá para ir direto ao ponto”, resume Adriana Ramos, gerente de sincronização e A&R internacional da editora Universal Music Publishing Group. Ela foi um dos sete especialistas que, no último mês de dezembro, participaram de um dos mais concorridos painéis da Semana Internacional de Música de São Paulo, a SIM São Paulo, precisamente sobre a supervisão musical e os novos desafios e oportunidades do licenciamento de músicas para audiovisual. Outro dos debatedores foi Arthur Abrami, da Punks S/A, uma empresa paulistana especializada em licenciamento e supervisão musical. “É como fazer uma reforma com ou sem arquiteto. Até dá para fazer sem, mas vai demorar mais, vai dar mais trabalho e não vai sair tão bom. O supervisor entende a necessidade do cliente, no caso, o produtor do filme, e propõe a melhor solução dentro do aspecto artístico e do orçamento”, ele afirma.


NOTÍCIAS INTERNACIONAIS 32

do_ Rio

Diretiva europeia sob

bombardeio Após a aprovação, em setembro passado, pelo Parlamento Europeu, da Diretiva de Direitos Autorais Digitais do Mercado Comum europeu, uma verdadeira campanha internacional capitaneada por grandes plataformas on-line vem bombardeando o acordo, ainda pendente de chancela pela Comissão Europeia e o Conselho Europeu. O artigo 13, que obriga YouTube e outros agregadores de conteúdos a instalar filtros de bloqueio para evitar o uso de conteúdos protegidos, é o mais atacado pelo conglomerado Google, que fala em censura. Outro é o artigo 11, que prevê pagamentos aos sites de notícias pelo compartilhamento de seus links em redes sociais como Facebook e Twitter. O discurso das grandes plataformas vem sendo encampado por supostas ONGs que dizem pregar a liberdade na internet. A expectativa delas, denunciada pelas associações de autores mundo afora, é tentar influir na redação final do documento.

Arrecadação global

China:

A arrecadação de direitos autorais musicais cresceu 6% globalmente no ano passado, segundo relatório da Cisac, alcançando € 8,336 bilhões. Sétimo maior mercado do setor (com 3% do total mundial), o Brasil somou R$ 909 milhões. O crescimento da arrecadação na maior nação latino-americana foi de nada menos do que 29,9% em só um ano, graças “ao uso do repertório (musical) em produtos audiovisuais”, como novelas, séries e filmes, diz o documento.

Grandes gravadoras preveem um enorme salto no mercado formal chinês nos próximos anos, colocando-o como o segundo maior do mundo. É o que diz Simon Robson, presidente da Warner Music Asia. Em uma longa entrevista ao portal de notícias musicais Music Ally, ele falou sobre o peculiar uso das redes sociais para difundir as novidades musicais no gigante asiático. Ali, segundo afirma Robinson, só uma delas, a Douyin, tem mais de 150 milhões de usuários ativos diários compartilhando clipes musicais e canções, um volume que amplia as possibilidades de expansão da arrecadação na China apesar da lendária alta taxa de pirataria local.

sobe 6%; no Brasil, 29,9%

bola da vez da música digital


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Mais representatividade

na música britânica Mulheres, negros, asiáticos e outras “minorias” vêm ganhando voz no mercado musical britânico. É o que conclui um estudo da UK Music, órgão de promoção da música daquele país, divulgado em dezembro. Enquanto as mulheres chegaram ano passado a 49,1% do mercado (contra 45,3% em 2016), negros, asiáticos e outras minorias étnicas foram de 15,6% para 17,8%. O ganho de espaço, contudo, é desigual. Se, entre os jovens artistas, o avanço é maior (25,9% de minorias étnicas e 65,3% de mulheres entre cantores, compositores e músicos de 16 a 24 anos), os executivos ainda são esmagadoramente brancos e homens.

Bombou no cinema,

bombou no streaming

O Spotify divulgou um dado que dá uma ideia do poder do audiovisual — através das trilhas sonoras — na promoção de canções. “Bohemian Rhapsody”, lançada em 1975 pelo Queen, é a música do século XX mais tocada na maior plataforma de streaming do planeta, e a média de idade dos seus ouvintes é inferior a 35 anos. Tudo graças ao sucesso mundial do filme homônimo, que reconta a trajetória da banda liderada por Freddie Mercury. A insólita estratégia de promoção da banda através do filme fez com que o perfil do Queen na plataforma chegasse a 40 milhões de ouvintes mensais, a maioria em São Paulo, Cidade do México e Santiago do Chile.

YouTube:

primeira escolha para ouvir música Um relatório da consultoria Midia Research divulgado em janeiro mostra como o YouTube virou, globalmente, a primeira escolha dos ouvintes de música. Mais de 55% das pessoas entrevistadas disseram ouvir canções regularmente através dos vídeos publicados nessa plataforma. Combinados, todos os outros serviços de streaming gratuito somaram 37%. No México, mais de 68% das pessoas disseram ouvir música no YouTube, contra 41% que disseram escutar rádio.


CARREIRA 34

Feiras:

LEIA mais Um calendário detalhado com as principais feiras e festivais de música do país para 2019 ubc.vc/Festivais

foto_ Moviola

o lugar ideal para negociar sua música


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de_ São Paulo

Festival de música, faz tempo, é aspiração de quase todo artista/ intérprete musical. Feira de música é coisa que nem todo mundo conhece — mas deveria. Esse tipo de evento, que põe em contato quem produz, quem financia, quem compõe e quem grava/interpreta, é uma forma efetiva de estabelecer parcerias, fechar contratos ou, simplesmente, ficar por dentro das ondas e dos rumos do mercado. No Brasil, feiras como SIM São Paulo, Music Trends, Rio2C, Exponeja, Midem Brasil ou Women’s Music Event já viraram parada obrigatória para quem quer ver... e ser ouvido. “Esse tipo de evento gera impacto econômico e cultural, atrai gente de diversos países (mais de 25 na última edição, em dezembro passado) e promove conexões de qualidade. Além disso, na última edição tivemos um foco na promoção da diversidade, incentivando o protagonismo feminino. A produção brasileira é riquíssima, e eventos como a SIM São Paulo contribuem para melhor exportá-la”, afirma Fabiana Batistela, diretora do evento, considerado o maior do gênero no país.

A próxima edição já está confirmada para o final deste ano (ainda sem data específica) e, mais uma vez, deve contar com sessões de pitch (venda de projetos), showcases e outras oportunidades para os artistas mostrarem suas criações. Exatamente como acontece no Rio2C, outra das grandes feiras que têm movimentado o mercado nacional. Antes RioContentMarket, um tradicional evento voltado para o mercado audiovisual, a feira cresceu em 2018 e incorporou a música e a inovação. A próxima edição será de 23 a 28 de abril na Cidade das Artes, no Rio. Já estão confirmados mais de 400 players do mercado, com representantes de várias empresas da produção musical de diversos países. Debates, sessões de negócios e muito networking deverão fazer deste o lugar para estar. Já a Exponeja, maior feira do gênero, dias 8 e 9 de outubro no Anhembi, em São Paulo, será o epicentro de negócios milionários. O estilo musical mais popular do país passará por lá, e você, que quer saber como participar, pode acompanhar os períodos de inscrições nas redes sociais do evento. As informações estão concentradas em www.exponeja.com.br.

foto_ Caroline Bittencourt

por_ Ricardo Silva

A partir da página anterior, shows, debates e apresentações de cases na última edição da SIM São Paulo, maior feira de música do país: eventos como esse são oportunidade para artistas que querem se projetar

foto_ Hannah Carvalho

Eventos como SIM São Paulo, Rio2C ou Exponeja entram de vez para o calendário da música nacional, ao promover o encontro entre diferentes ‘players’ do mercado

foto_ Pedro Margherito

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ARRECADAÇÃO E Distribuição 36

Entenda as rubricas de

distribuição Calendário é dividido em diferentes categorias para organizar a repartição dos valores e segue critérios internacionais do_ Rio

Para organizar a arrecadação e a repartição dos valores relativos à execução pública de um imenso volume de músicas, o Ecad, baseado em critérios internacionais, criou um calendário de repartição dividido em rubricas, ou seja, categorias de distribuição. Elas contemplam a totalidade das situações em que as canções dos titulares são utilizadas por usuários. Desde as grandes rubricas — as que representam a maior parte do bolo distribuído — às pequenas, todas elas obedecem

estritamente os meses previstos, e isso se reflete nos extratos que você, associado, recebe digitalmente. Mês passado, em janeiro, as duas principais rubricas — TV aberta e rádio — tiveram distribuição, assim como música ao vivo (shows), casas de festas e diversão, sonorização ambiental, simulcasting e direitos gerais. Todo esse pacote voltará a ser distribuído nos meses de abril, julho e outubro. TV aberta tem seus valores repassados de forma direta aos titulares, ou seja, todas as obras executadas na programação são contempladas. Já as rádios, pela enormidade da programação musical, têm distribuição indireta, por amostragem de mais de 200 mil execuções. A rubrica casas de festas e diversão se baseia numa amostragem específica através da captação de 25 mil execuções de música mecânica em casas de festas, boates, bares e outros locais com música e dança que estejam em dia com os pagamentos. Também se incluem restaurantes e academias de ginástica que toquem música mecânica.

No caso da sonorização ambiental, trata-se também de apuração por amostragem de mais de 50 mil execuções em lojas, lojas de departamentos, supermercados e shoppings. Já a rubrica direitos gerais engloba outros tipos de locais não previstos nas anteriores, como condomínios, hospitais, hotéis, clubes ou espera telefônica com música mecânica. Simulcasting é a programação de rádios executada simultaneamente através da internet. Não confundir com streaming, que tem distribuição neste mês de fevereiro e engloba, basicamente, a execução pública das canções que contidas em serviços de streaming, como YouTube, Spotify, Deezer ou Apple Music. Este mês tem ainda TV por assinatura, cuja distribuição pode ser direta ou indireta segundo o tipo de canal e do uso que se faz da música. Todo o pacote de rubricas distribuído em fevereiro volta a aparecer em maio, agosto e novembro. Mês que vem é a vez da rubrica Cinema, uma modalidade de


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distribuição direta, ao contemplar todas as canções executadas nas salas de cinema nacionais. Em maio, além da volta da TV por assinatura e do streaming, se distribui carnaval (indiretamente, contemplando 50 mil fonogramas captados por gravação em eventos carnavalescos adimplentes). Junho traz uma rubrica ainda não mencionada: a internet demais, que contempla ambientações de sites, webcasting, podcasting e retransmissões de shows através da web. A captação também é indireta e baseada numa amostragem de 10 mil fonogramas. Setembro tem a categoria festa junina, indireta e baseada numa amostragem de 13 mil canções de eventos adimplentes. Novembro traz a rubrica das festas do movimento tradicional gaúcho, com amostragem de 2 mil fonogramas captados dentro dos Centros de Tradição Gaúchas. E dezembro fecha o ano com distribuições extras de rádios e shows, com valores não contemplados nas repartições anteriores.

LEIA mais O calendário de distribuição anual ubc.vc/Calendario


NOVIDADE 38

UBC lança aplicativo Grande parte das informações atualmente contidas no Portal do Associado estará disponível na palma da sua mão do_ Rio

A partir do mês de março, as principais informações sobre os seus rendimentos na UBC passarão a ser concentradas num só lugar: a palma da sua mão. Com a estreia do novo aplicativo da UBC, os extratos de rendimentos, as informações cadastrais e os dados estatísticos sobre os rendimentos do seu repertório estarão disponíveis de qualquer lugar e a qualquer momento. A transposição de grande parte do conteúdo do Portal do Associado para o aplicativo se deu

graças a um longo e preciso trabalho da equipe de tecnologia da UBC. “O aplicativo contará com diversas funcionalidades que atualmente temos no Portal, entre outras que facilitarão ainda mais a vida do titular e sua relação com a UBC. Com o aplicativo instalado em seu celular, o associado da UBC terá acesso de forma muito mais rápida e prática às principais informações sobre a distribuição de seus direitos autorais e aos dados e gráficos estatísticos referente ao uso de seu repertório. Somente titulares da UBC terão acesso a esse aplicativo, que contará com toda a segurança e a privacidade necessárias”, explica o gerente de Operações da UBC, Fábio Geovane. A consulta aos retidos também será possível através do app, e a ideia, segundo Geovane conta, é ir incorporando novas funções

LEIA mais O Conheça a ferramenta Cadastro de Fonograma Online, que funciona dentro do Portal do Associado ubc.vc/Fonograma

pouco a pouco. Assim, o aplicativo da UBC deverá se tornar uma verdadeira central de informações e administração do repertório dos filiados. A previsão é que a partir do dia 13 de março já se possa descarregar o aplicativo pelo Google Play (sistema Android) e pela AppStore (sistema iOS, da Apple).


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E no final de semana, o Rio2C abre suas portas para o público com o #FESTIVAL uma programação que inclui a Festivalia, o festival dos festivais com shows de jovens talentos da música brasileira, além de workshops e debates.

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A UBC na palma da sua mão O novo aplicativo da nossa associação traz os principais serviços do Portal do Associado, como os gráficos e extratos de rendimentos, informações detalhadas sobre o uso do seu repertório e muito mais. Em breve, disponível no Google Play e na AppStore.

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