Revista UBC #38

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#38

NOVEMBRO 2018

Todos os

sons e tons

Carreira Beth Carvalho, midas do samba

Levantamento exclusivo mapeia os gêneros que não saem da cabeça dos brasileiros em cada estado e no DF

Destaque Toquinho e suas parcerias de sucesso Pelo País Porto Alegre, de novo, na vanguarda do rock


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#38

NOVEMBRO 2018

A Revista UBC é uma publicação da União Brasileira de Compositores, uma sociedade sem fins lucrativos que tem como objetivos a defesa e a distribuição dos rendimentos de direitos autorais e o desenvolvimento cultural.

Conselho Fiscal Geraldo Vianna Edmundo Souto Manno Góes Fred Falcão Sueli Costa Elias Muniz Diretor executivo Marcelo Castello Branco Coordenação editorial Elisa Eisenlohr Assistente de coordenação editorial José Alsanne Projeto gráfico e diagramação Crama design estratégico Editor Alessandro Soler (MTB 26293) Textos Alessandro Soler (Madri), Geraldo Vianna (Quito), Kamille Viola (Garanhuns, PE, e Rio de Janeiro), Luciano Matos (Salvador), Matheus Passos Beck (Porto Alegre), Ricardo Silva (São Paulo) e Roberto de Oliveira (Rio de Janeiro) Fotos Imagens cedidas pelos artistas. Créditos nas respectivas páginas, ao longo da edição. Tiragem 8.500 exemplares/Distribuicão gratuita Rua do Rosário, 1/13º andar, Centro Rio de Janeiro - RJ, CEP: 20041-003 Tel.: (21) 2223-3233 atendimento@ubc.org.br

por_ Manoel Pinto

Sertanejo, samba, MPB, forró, carimbó, funk. Não há gênero ruim. O que há é música boa e ruim. O levantamento que a UBC publica nesta edição, com os estilos mais populares de Norte a Sul do Brasil, só comprova algo que nós, que trabalhamos com música, já sabíamos: que as fronteiras regionais desaparecem, tornando alguns estilos fenômenos nacionais.

Editorial

Diretoria Paulo Sérgio Valle (Presidente) Abel Silva Antonio Cicero Aloysio Reis Ronaldo Bastos Sandra de Sá Manoel Nenzinho Pinto

O sertanejo é o principal deles. Antes menosprezado por uma certa elite intelectual — e até por meios de comunicação preconceituosos —, esse gênero que é um verdadeiro estilo de vida bebe na fonte nobre das modas de viola, da música de raiz que inspirou João Mineiro e Marciano, Chitãozinho e Xororó, João Paulo e Daniel, Zezé Di Camargo e Luciano, Rick e Renner e tantas outras grandes duplas. Como produtor e editor de música há 48 anos só na Peermusic, lancei alguns deles e acompanhei de perto a transformação da música sertaneja. Hoje, ele é muito diferente daquele que a grande Inezita Barroso apresentou em “Viola, Minha Viola”, da TV Cultura, até o seu último dia de vida. Virou uma balada romântica com pitadas de forró e outros estilos, e talvez more aí o seu sucesso: todo mundo se sente identificado. Essa é sua maior transformação. Sem se esquecer do papel da mídia, e incluem-se aí os serviços de streaming, no sucesso de uns e no ostracismo de outros, talvez o que explique a universalização de um estilo seja mesmo tocar o que cada um de nós tem de próprio, de particular. Outros ritmos que ignoram regionalismos, como o pop, o funk ou o pagode, também souberam dialogar com as diferenças culturais e sociais dos brasileiros, tornando-se elementos de união. Uma bonita união através da música.


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NOTÍCIAS INTERNACIONAIS Entrevista: Daniel Campello Fique de Olho DISTRIBUIÇÃO: Cinema Dúvida do Associado

Carreira: Beth Carvalho

24

Infantil: Deu Bicho na Casa

Pelo País: Flávio Renegado

20

MERCADO: Single x álbum

NOVIDADES NACIONAIS

18

Pelo País: Porto Alegre

14

CAPA

12

Prêmio UBC

6

Destaque: Toquinho

5

JOGO RÁPIDO: Juliano Holanda

ín dI ce 14

32

18

1 48

24

36


jogo rápido

REVISTA UBC

5

Ju lia no Ho lan da

Produtor de destaque na nova cena do Recife, compositor e músico, ele lança o terceiro disco, “Sobre a Futilidade das Coisas” por_ Kamille Viola

de_ Garanhuns (PE)

foto_ Beto Figueroa

Destaque da fervilhante cena pernambucana, Juliano Holanda não é novidade. Compositor, cantor e instrumentista, acompanhou Mundo Livre S/A e Maciel Salú e é integrante da Orquestra Contemporânea de Olinda e do Ave Sangria. Em 2015, fez a trilha da série “Amorteamo”, da TV Globo. É produtor contumaz da nova música do Recife e, aos 41 anos, já teve 200 canções suas gravadas por gente como Elba Ramalho ou Felipe S. Com os holofotes voltados para si, lança o terceiro disco, “Sobre a Futilidade das Coisas”. Como foi o processo de se assumir cantor? Está sendo (risos). Demorei para, mais do que encontrar uma voz paras as músicas, encontrar as músicas para a minha voz. Entender que, às vezes, componho coisas que não são para mim. Me considero essencialmente compositor. Preciso da música para expressar coisas que não consigo dizer. O que acontece musicalmente no Recife? Houve uma redução das casas de show, e isso se reflete no fato de que você tem menos bandas e mais artistas solo. Ficou calcado na canção, na letra, na voz. E a música hoje é produzida para a internet, para ouvir no trabalho. Diferente do mangue beat, que tinha mais pegada. O que pode falar do disco novo? Tem dez faixas minhas, com participações de Paulo Rafael, Lui Coimbra e Guilherme Kastrup e muita percussão. O conceito vem de uma música do meu pai, Júlio Holanda, que diz: “Sabe o que esse mundo é? É um carrossel de ouro, um casaco de couro e um cavalo pangaré”. Vivemos num mundo de pangarés travestidos de alazões.


NOVIDADES nacionais 6

por_ Kamille Viola

do_ RioFigueroa

Década e meia de

Tecnomacumba

Sanfona, pop, kuduro, rap, pista:

Cantora, compositora e multiinstrumentista, a paraibana Lucy lança o EP homônimo, que marca sua transição para um estilo pop dançante com sotaque nordestino. Com produção de Felipe Rodarte, Sérgio Santos, Ruxell e Pablo Bispo, o disco conta com a participação do grupo baiano Àttooxxá e da cantora angolana Titica em “Sem Juízo”, que mistura sanfona e kuduro, e do rapper cearense RAPadura Xique-Chico em “Bão”. “São artistas que admiro e fazem parte dos últimos encontros musicais que tive nas estradas da vida”, comenta Lucy. Primeira faixa de trabalho, “Santo Forte” é uma composição de Arthur Marques, coautor de hits de Pabllo Vittar. “Eu quis fazer um EP bem solar, ter músicas de pista de dança e uma vibe lá em cima. Gosto muito da energia que este álbum traz, e esse astral tem tudo a ver com a vida que levo”, diz.

Ed e os

sentidos Três anos depois de seu mais recente trabalho, Ed Motta lança no mercado estrangeiro (Must Have/Membran) o álbum “Criterion of The Senses”, que sai em vinil e CD, além das plataformas digitais. O disco é seu 13º álbum de estúdio e traz oito faixas compostas pelo artista, todas cantadas em inglês. “Quando penso em escrever algo, imediatamente me vem o inglês. E eu só leio em inglês, o tempo todo. É muito raro eu ler alguma coisa em português”, ele disse ao jornal “O Estado de S. Paulo”. “Sou parte de uma juventude que ficava muito ligada no que era feito na Inglaterra e nos Estados Unidos. Isso era algo natural.” O trabalho passeia por jazz, soul, funk (sobretudo fusion), disco e até rock. Motta toca baixo e guitarra nas músicas e também contou com músicos como Glauton Campello (piano Rhodes), Michel Limma (synth) e Sergio Melo (bateria). A cantora Cidália Castro faz participação em “The Tiki’s Broken There”. A capa é assinada por Edna Lopes, mulher de Ed. Ouça MAIS As oito faixas de “Criterion of The Senses” ubc.vc/EdMotta

Ouça MAIS O novo estilo de Lucy ubc.vc/Lucy

foto_ Washington Possato

foto_ Stefano Martino

Lucy


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Pabllo, uma ponte

do Maranhão a Los Angeles

VEJA MAIS O clipe de “Problema Seu” ubc.vc/Pabllo

A cantora maranhense Pabllo Vittar lança seu aguardado segundo disco, “Não Para Não”. Gravado em Los Angeles, o trabalho é capitaneado pelo Brabo Music Team (grupo de compositores e produtores formado por Maffalda — nome artístico de Arthur Gomes —, Gorky, Pablo Bispo, Zebu e Arthur Marques), com produção adicional de Noize Men e Filip Nikoli, além de mixagem do americano Turbotito (que também fez “Vai Passar Mal”, o álbum de estreia da drag). O trabalho tem dez faixas e conta com as participações de Ludmilla (em “Vai Embora”), Dilsinho (em “Trago Seu Amor de Volta”) e Urias (em “Ouro”), assessora de Vittar. O single “Problema Seu”, que ganhou clipe em agosto e já ultrapassa 40 milhões de visualizações no YouTube, também está no repertório do trabalho.

O nordeste jazzístico de

Depois de receber elogios da crítica brasileira e estrangeira pelo disco de estreia, “Sangue Negro” (2016), o pianista pernambucano Amaro Freitas lança pelo selo inglês Far Out Recordings seu segundo trabalho, “Rasif” (uma maneira coloquial de se escrever Recife, cidade do artista). O trabalho é centrado no trio formado por Freitas, Hugo Medeiros (bateria) e Jean Elton (contrabaixo) e conta com a participação de Henrique Albino (clarone, flauta e sax barítono). Amaro explora ritmos tradicionais do Nordeste no ambiente

jazzístico, seguindo a tradição de nomes como seu conterrâneo Moacir Santos, Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti. Em “Dona Eni”, por exemplo, recria a estrutura rítmica do baião. “Eu não sabia que ia conseguir chegar aonde cheguei. Só fui com a minha verdade. Mas também sendo honesto, querendo que o cara que seja leigo ou o cara cabeçudo sejam tocados com a mesma música. Isso é difícil demais”, ele analisa. Por conta do lançamento, Amaro realizará este ano sua primeira turnê europeia.

foto_ Jão Vicente

Amaro Freitas

LEIA mais Amaro Freitas, destaque da música instrumental brasileira ubc.vc/TresVozes


NOVIDADES nacionais 8

(ainda mais) popular

Com direção artística de Marcus Preto e produção de Pupillo (ex-Nação Zumbi), “A Pele do Futuro” é o mais recente disco de Gal Costa. Com sonoridade inspirada pela black music dos anos 1970, o álbum, o 40º da cantora, traz 13 músicas inéditas, de nomes como Gilberto Gil, Adriana Calcanhotto, Emicida, Djavan, Guilherme Arantes, Hyldon, Nando Reis, Erasmo Carlos, Tim Bernardes e Silva, entre outros. Marília Mendonça faz dueto com Gal em “Cuidando de Longe”, da própria Marília, e Maria Bethânia, com quem Gal não gravava havia 28 anos, em “Minha Mãe”, de César Lacerda e Jorge Mautner. “Eu tinha vontade de fazer dance music. Há muitos anos queria gravar uma música para tocar em discotecas, para as pessoas dançarem”, disse a estrela ao portal G1.

VEJA MAIS O clipe de “Cuidando de Longe” ubc.vc/Gal

Pedro Mariano em dueto com a mãe,

Elis Regina Quatro vezes indicado ao Grammy Latino, Pedro Mariano, um dos grandes intérpretes da música brasileira, lança o álbum “DNA”, parceria da LAB 344 com o selo NAU, do próprio artista. Filho de Elis Regina e César Camargo Mariano, ele estreou há quatro anos seu projeto Pedro Mariano & Orquestra, e este é o segundo álbum. “Eu estava em estúdio para um projeto em que queria criar uma nova sonoridade. Tínhamos escrito um segundo projeto da Orquestra, mas não era para agora. De repente, tinha um patrocinador perguntando sobre o projeto, e surgiu a oportunidade de fazer de novo”, disse ao jornal “Correio Braziliense”. Produzido com Otávio de Moraes, “DNA” tem uma bela versão de “Casa no Campo”, sucesso de Tavito e Zé Rodrix eternizado por Elis. Na faixa, Pedro divide digitalmente os vocais com a mãe.

Ouça MAIS As canções do álbum “DNA” ubc.vc/PMariano

foto_ Aline Arruda

Gal,


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Conhecida como a voz feminina nos discos de Marcelo Jeneci, Laura Lavieri lança seu primeiro álbum, “Desastre Solar”. Com produção de Diogo Strausz, o trabalho traz 11 faixas de diferentes autores, entre eles Jonas Sá, Gui Amabis e Marcelo Jeneci, com três regravações: “Radical” (dos Novos Baianos), “Tira a Mão” (de Marcos Valle) e “Deixa Laura Acontecer (de Carlos Nascimento e Alex Freitas, sucesso do Revelação). “Na vida tudo é cíclico, tudo nasce e morre, o tempo inteiro. Às vezes isso dói muito, às vezes é a coisa mais linda que já se viu. É o limite, a explosão e eu valorizo muito isso”, comenta a cantora sobre o trabalho. A banda que a acompanha é formada por João Erbetta (guitarra e violão), Alberto Continentino (baixo), Ricardo Dias Gomes (teclado), Pedro Fonte (bateria) e Diogo Strausz (sintetizadores).

Lavieri:

foto_ Karin Santa Rosa

voz própria

A seleção de craques de

Ouça MAIS As 11 faixas de “Desastre Solar” ubc.vc/Laura

O baixista baiano Geisan Varne lança o álbum “Whole Tunes On The Fly”, uma fusão de bossa nova, funk, jazz e temperos eletrônicos que reúne um time de craques como Luce Diolivera, Carlos Trilha, Max Viana, Cesar Michilles, Paula Lima, Marcelo D2, Marcos Suzano, DJ Dolores e Allen Hinds. Lançado na plataforma CD Baby, o trabalho tem seis faixas e é uma produção de Varne e do selo Spray Music. “É um trabalho que desperta o interesse de todos os públicos, ao reunir grandes cantores e músicos da cena pop moderna urbana do Brasil. Trabalhamos com o produtor e engenheiro de som italiano Enrico Sesselego e o produtor Carlos Trilha”, ele conta.

Geisan Varne

LEIA MAIS Geisan Varne e um inovador projeto de educação musical ubc.vc/Geisan

Barro,

solo e bem acompanhado O artista lança seu segundo disco solo, “Somos”, produzido pelo próprio ao lado de Guilherme Assis e Ricardo Fraga. Das dez músicas, cinco foram compostas apenas por Barro. As outras trazem como parceiros Rogério Samico, DJ Negralha, Jéssica Caitano, Hélder Lopes e Luiz Gabriel Lopes, além dos dois coprodutores. O trabalho conta com as participações de nomes como Mariana Aydar (“Eu Só Queria Que Você”), Jéssica Caitano e Sofia Freire (ambas em “Não Vim Pra Passar Batido”), Amaro Freitas e a franco-senegalesa Anaïs Sylla (ambos em “Caju Clareou”), Hugo Lins (“Cavalo Marinho”), e Dengue (Nação Zumbi) e Chiquinho (Mombojó), ambos em “Pela Liberdade”. “As composições vêm muito da minha grande abertura para as coisas, assim como minha ligação forte com o Nordeste”, comentou Barro ao “Jornal do Commercio”. LEIA MAIS Barro e outros nomes que fazem da cena contemporânea de Pernambuco uma das melhores do Brasil ubc.vc/MusicaPE


NOVIDADES nacionais 10

Natural de Serra da Saudade (MG), há dez anos Bemti deixou a cidade menos populosa do Brasil (são menos de 800 habitantes) para viver em São Paulo. A ironia é que foi na metrópole que começou a tocar viola caipira, marca de seu trabalho. Há seis anos no grupo Falso Coral, ele lança o primeiro álbum solo, “era dois”. São dez faixas de autoria própria, entre elas “Tango”, que traz Johnny Hooker, e “Às vezes Eu Me Esqueço de Você”, com Natália Noronha, da banda Plutão Já Foi Planeta. “Se eu tivesse que resumir o que fiz musicalmente nos últimos anos, sairia algo como: peguei a viola caipira que meus avôs tocavam e que herdei como ‘instrumento de alma’ para colocá-la no meu contexto. E, a partir do ano passado, usando minha própria voz, usando timbres mais eletrônicos e falando sobre temas universais sob o ponto de vista gay”, diz.

A viola ‘caipiroeletrônica’ de

Bemti

VEJA MAIS O clipe oficial de “Tango” ubc.vc/Bemti

Pedro Mann:

singles em sequência Cantor, compositor e músico, o carioca Pedro Mann está em fase particularmente criativa. Emendando uma série de singles em sequência — e emplacando alguns deles em rádios —, como “Vai Mas Volta” e “Por Perto”, ele finaliza o clipe desta última, que lançará com festa na casa de shows alternativa Audio Rebel, no Rio, em 6 de dezembro. Um dos fundadores do grupo Bondesom, Pedro, que é baixista e arranjador, imprime sua experiência de fusões sonoras numa MPB dançante e solar. Amores e desamores, a observação do cotidiano, tudo parece inspirá-lo.

“Às vezes me sento e fico duas ou três horas com caderno e violão, mas normalmente não paro para compor: estou sempre compondo, no trânsito, andando na rua, numa passagem de som ou na estrada. Acontece de acordar de madrugada com uma ideia. Ligo o gravador do celular e começo a cantar para registrar”, conta o artista, que já tem dois discos solo e promete reunir e lançar seus singles inéditos em 2019. VEJA MAIS Assista aos clipes de Pedro em seu canal no YouTube ubc.vc/Mann


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Mário PC,

Músico, produtor, escritor — com boas incursões também na fotografia e nas artes cênicas —, o mineiro Mário PC tem mais de 30 anos de carreira, tendo contribuído com grandes nomes da nossa música, como Marina Lima, Ed Motta e Lulu Santos. Em fase solo, ele lança um elogiado disco, “Highlights”, no qual toca seu saxofone e outros instrumentos em composições suas. “Assinei com o selo Delira Música e decidi lançar o trabalho em formato físico e plataformas digitais. Todo o conceito, produção e direção musicais, direção executiva, mixagem e masterização foram feitos por mim”, comenta Mário, que também é autor dos livros “O Saxofone Pop dos Anos 80” e “Ilusório Relógio da Vida”, ambos lançados pela Editora Multifoco.

múltiplo

foto_ Marcos Hermes

LEIA MAIS A agenda dos próximos shows da turnê ubc.vc/MoraesShows

Ouça MAIS O álbum “Highlights” ubc.vc/MarioPC

Moraes Moreira reencontra o rico, lírico, universo do cordel, das tradições do interior baiano da sua infância no álbum “Ser Tão”, com o qual já está em turnê pelo país. “Nesse disco, pude fazer essa ideia que tenho de juntar literatura de cordel, a influência dos cantadores, dos repentistas, essa coisa da cantoria. É uma cantoria às vezes falada mas, na maioria das vezes, cantada, é claro”, comentou ao jornal “O Estado de S. Paulo”. Totalmente autoral, o projeto só tem um parceiro, Armandinho, na faixa “Nas Paradas”.

Moraes Moreira:

de volta ao sertão

Com a recente reunião dos Novos Baianos, Moraes, Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão saíram em turnê nacional e, em 2019, devem entrar em estúdio para gravar um disco de inéditas: “O Galvão está me mandando letras, e eu estou fazendo as músicas”, adianta Moraes.


PELO PAís 12

‘Meu objetivo maior é quebrar barreiras’


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Flávio Renegado junta seu rap a uma orquestra sinfônica, prega as misturas como forma de vencer a polarização do país e, ao mesmo tempo, pede a valorização do hip hop como voz da favela de_ São Paulo

Um dos mais influentes rappers do Brasil está flertando com novas sonoridades. Prestes a lançar um álbum com pegada sinfônica, gravado com a Orquestra Ouro Preto, Flávio Renegado não quer nem ouvir falar em limitações; quer ver o rap de vez no universo do que se convencionou chamar música popular brasileira. Para isso, segue sem se deter no seu projeto de misturar tudo o que puder a esse som nascido nos guetos de metrópoles dos Estados Unidos. “Meu objetivo maior é quebrar barreiras. O ‘não pode’ sempre veio antes na minha vida. Vivo para provar que tudo pode. Quero que o rap seja aceito como MPB nos círculos musicais. Da mesma forma que o repente, o baião e outros estilos que musicam rimas e poesia, está o nosso rap. A África é o que nos une”, ele diz.

Aos dez anos de carreira, esse belohorizontino que, mesmo depois da fama e da consagração, não tirou o pé da favela do Alto Vera Cruz, onde nasceu, vibra com os galhos do gênero germinando, expandindo-se. E pede também a valorização do “tronco” — a mensagem social, a voz da favela. “O rap deixou de ser expressão só das periferias. Agora, é aquilo: tem coisas que só quem viveu pode falar. Então, o rap precisa se reconectar com as comunidades. É uma grande felicidade ver o Baco Exu do Blues fazendo isso. E tantos nomes têm surgido, aqui em Minas, como Djonga ou DV Tribo, e na Bahia, como Baco Exu do Blues”, comemora. A lógica da concentração em São Paulo e no Rio, ele afirma, se pulveriza em nome de um abraço a tradições, estéticas e demandas regionais. As parcerias que tem celebrado — com Chico Amaral, Diogo Nogueira, Samuel Rosa ou Gabriel Moura, só para citar alguns dos muitos que colaboraram com ele no álbum “Outono Selvagem”, de 2016 — são um convite ao diálogo e à mistura, uma mensagem tão cara num país polarizado. “Estou aprendendo a reverter um processo que, para mim, sempre foi muito solitário, que é o de criação. Fico honrado.”

O primeiro álbum de Renegado, “Do Oiapoque a Nova Nova York”, saiu em 2008 já antecipando as fusões que marcariam o estilo e a estética do rapper: “Já tinha citações a samba, reggae, ragga, música cubana, pitadas de jazz. Tudo isso eu sou também.” Agora, o disco volta em vinil e CD, em edição limitada para colecionadores. “Esse trabalho continua a me representar. Levei uma vida inteira para fazê-lo, mudou a minha vida. E acho que já apontava para um caminho que o rap tomou.”

Ouça MAIS Escute novamente as canções do álbum “Do Oiapoque a Nova York” ubc.vc/Oiapoque


CARREIRA 14

Beth Carvalho,

sempre de pé Madrinha do Samba contorna problemas de saúde e comemora os 40 anos de um de seus álbuns mais míticos, no qual lançou o Fundo de Quintal; agora, ela planeja um novo trabalho dedicado a sons de todo o Brasil por_ Kamille Viola

do_ Rio Nascida numa família da Zona Sul do Rio, onde sempre viveu, Elisabeth Santos Leal de Carvalho cantou pela primeira vez em público com só 6 anos, no programa de rádio “Trem da Alegria”, de Lamartine Babo, Heber de Bôscoli e Yara Salles. No início da carreira, nos anos 1960, foi influenciada pela bossa nova. Sua primeira gravação foi “Por Quem Morreu de Amor”, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Ficou conhecida com “Andança”, de Paulinho Tapajós, Danilo Caymmi e Edmundo Souto. Pouco a pouco, o samba pediu passagem. Passou a frequentar o subúrbio, e lá conheceu muitos dos compositores que gravou.

No fim de agosto, uma notícia comoveu as redes sociais: prestes fazer o show de 40 anos do disco “De Pé no Chão” no Rio, Beth Carvalho se apresentaria deitada ao lado do grupo Fundo de Quintal. Essa foi a solução encontrada pela cantora, que desde 2006 sofre de fortes dores na coluna, para não cancelar a festa. “Foi muito bem recebido, muito bom de público”, conta a sambista, que ainda passou com o espetáculo por São Paulo e Belo Horizonte, sempre se apresentando em uma chaise longue. “Tenho convites para fazer Uruguai depois, mas vamos ver como fica. Agora, está um pouco mais complicado.” “De Pé no Chão”, que em seu aniversário foi relançado em vinil e nas plataformas digitais, foi um marco em sua carreira e na história do samba: revelou os músicos que logo depois viriam a formar o Fundo de Quintal e lançou oficialmente o pagode no Rio de Janeiro. Beth conhecera os músicos no clube Cacique de Ramos. Ficou encantada com aquele som diferente, com instrumentos até então pouco comuns nas rodas de samba ou


REVISTA UBC

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CARREIRA 16

Já perdi a conta de quantos são os meus afilhados, porque foram muitos (risos). Todos deram certo.” tocados de uma nova forma, como o repique de mão, o tantã e o banjo com afinação de cavaquinho. Ao revelá-los, Beth encarnava com naturalidade um papel que exerceu quase espontaneamente ao longo destas décadas: o de descobridora e lançadora de talentos, que lhe rendeu o apelido de Madrinha do Samba. “Já perdi a conta de quantos são os meus afilhados, porque foram muitos (risos). Fico muito feliz, porque são todos muito talentosos e todos deram certo”, alegra-se Beth, que deu um empurrãozinho inicial a craques do gabarito de Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Bezerra da Silva e Luiz Carlos da Vila. Também a ajudou a resgatar Cartola e Nelson Cavaquinho quando os mestres haviam caído no esquecimento. De Zeca, ela gravou “Camarão Que Dorme a Onda Leva” (dele, de Arlindo Cruz e Beto Sem Braço), no disco “Suor no Rosto”, de 1983. Foi o primeiro registro de uma música do compositor. Em 1972, convidou Nelson Cavaquinho para participar de sua gravação de “Folhas Secas” (dele e de Guilherme Brito). Já em 1975 gravou

“As Rosas Não Falam”, de Cartola, o que gerou uma revalorização do compositor mangueirense. O repertório do show comemorativo traz as 12 faixas do álbum “De Pé No Chão”, entre elas as clássicas “Vou Festejar” (Jorge Aragão, Dida e Neoci Dias), “Goiabada Cascão” (Wilson Moreira e Nei Lopes), “Agoniza Mas Não Morre” (Nelson Sargento) e “Lenço” (Monarco e Francisco Santana). Além disso, sucessos como “O Show Tem Que Continuar” (Arlindo Cruz, Sombrinha e Luiz Carlos da Vila), “Caciqueando” (Noca da Portela) e “Coisinha do Pai” (Jorge Aragão, Almir Guineto e Luiz Carlos) marcaram presença.

PARAR, NEM PENSAR Aos 72 anos, ela pretende continuar cantando e fazendo shows, apesar dos problemas de saúde. “É a minha vida, né? É o amor à música, ao samba, a mim mesma que me faz seguir em frente. Vou cantar quanto puder”, garante. “Se teve ‘Na Cama com Madonna’, agora tem ‘Na Cama com Beth’”, brinca. “A música cura, é uma bênção, diz ela, que planeja lançar um DVD do show de 40 anos de “Pé no Chão”.


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Em seu próximo álbum, ela pretende fazer um passeio por outros estilos musicais. “Brasileiríssima”, o primeiro trabalho de estúdio desde “Nosso Samba Tá na Rua”, de 2011, vai reunir diversos gêneros musicais do país: “É uma ideia que já tenho há um tempo, de cantar as coisas do Brasil: um forró, um frevo, uma música sertaneja — mas sertaneja de verdade —, um marabaixo, que é uma música do Amapá, de mulheres com saias floridas e rosas no cabelo, e são elas que cantam os versos. Pesquiso há um tempo e agora vai encaixar direitinho.” LEIA mais Relembre o artigo “Beth Carvalho, meio século de samba”, publicado no site da UBC no ano passado ubc.vc/Beth

Beth quer Rildo Hora na produção. A cantora Adelaide Chiozzo já está confirmada no dueto “Beijinho Doce”, de Nhô Pai. “Para o frevo quero o Spok, a orquestra maravilhosa de Recife. Agora está mais fácil, com as tecnologias modernas eu não preciso ir lá nem eles precisam vir aqui. Quero cantar ‘É de Fazer Chorar’, do Luiz Bandeira. Pena que ele não está vivo para ver. Do Rio, uns oito sambas. Não sei se canto algo do Pará ou se, de repente, o Norte fica representado pelo marabaixo. Os sambas vão ser inéditos”, adianta.


Destaque 18


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Toquinho e seus amigos Um dos maiores compositores da nossa música exalta a cumplicidade que estabeleceu com os muitos parceiros e o papel que estes tiveram para a evolução de sua bem-sucedida trajetória por_ Ricardo Silva

de_ São Paulo

Tarefa dura tentar elencar os tantos parceiros com que Toquinho trabalhou em seus mais 50 anos de carreira. Um dos maiores músicos e compositores do Brasil não é só sociável, disponível para os amigos; é, antes, uma mente aberta ao novo, às ideias alheias. João Ventura, Camilla Faustino e Proveta, parceiros da turnê de “Contrapontos”, que ele estreou em setembro em São Paulo e agora deve rodar pelo país, são só os mais novos exemplos. Vinicius de Moraes (cem cocriações), Ivan Lins, Paulo Sérgio Valle, Chico Buarque e Paulo César Pinheiro, alguns dos mais icônicos. Mas, entre eles, há dezenas de outros nomes que ajudaram o autor de clássicos inesquecíveis a pavimentar uma carreira vitoriosa. “Toda parceria é consequência de um entrosamento humano baseado em amizade e confiança. Parceiros passam a se entender com os olhos, e essa sincronia perpassa pelas vozes e pelas mãos. Há prazer na procura da palavra certa, da rima apropriada para cada acorde. Sinto-me privilegiado por ter trabalhado com parceiros que só contribuíram para a evolução da minha trajetória”, descreve Toquinho, que se mostra antenado aos novos movimentos da MPB. “O momento é de transição”, diz, referindo-se a estilos que ocupam o espaço antes reservado à MPB, como o sertanejo. “Mas o dinamismo da música popular brasileira tem essa característica. De repente, surgem talentos que perduram e se consolidam”, aposta.

LEIA MAIS Num bate-papo com a UBC, Toquinho analisa a era dos centavos do streaming e fala mais sobre suas parcerias ubc.vc/Toquinho

Com uma rotina de criação cotidiana, e sem pressa, ele acumula novas composições. Ao lado de Paulo César Pinheiro, compôs 12 inéditas de um disco que deverá sair em 2019. “O violão é um companheiro inseparável, estudo todos os dias. Continuo me divertindo com meu trabalho, o que garante o desenvolvimento da minha carreira.”


foto_ Fábio Ribeiro

Prêmio ubc

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REVISTA UBC

Artistas de origens e estilos bem diferentes se juntam para celebrar Erasmo Carlos, vencedor do Prêmio UBC 2018, e apontam caminho para o país do_ Rio

Uma obra que perpassa décadas, gerações, gêneros, regiões — e países — diferentes não poderia ser mesmo representada por um único estilo. Foi plural, integrando artistas de muitos ritmos e origens, a série de shows que celebrou Erasmo Carlos, no último dia 9 de outubro, durante a entrega do Prêmio UBC 2018 ao Tremendão pelo conjunto da sua obra.

foto_ Raphael Simons

por_ Roberto de Oliveira

foto_ Fábio Ribeiro

União pela música

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A partir do alto, Erasmo se apresenta com os artistas que fizeram releituras de músicas dele; o Tremendão recebe o troféu das mãos dos diretores da UBC Ronaldo Bastos e Aloysio Reis e do presidente, Paulo Sérgio Valle; abaixo, os artistas reunidos no camarim antes dos shows

A grande salva de palmas que recebeu o Tremendão logo na chegada dele abriu os trabalhos. Celso Fonseca, Moraes Moreira, Toni Garrido, Sandra de Sá e Gabriel Moura estavam entre os artistas que o recepcionaram na Casa UBC, espaço de eventos da nossa associação no Centro do Rio, onde se deu a premiação.

foto_ Miguel Sá

Curador das apresentações, que trouxeram hits compostos por Erasmo, Zé Ricardo esperava surpreender e tocar o homenageado. “O Erasmo vem emocionando as pessoas há muito tempo, então eu quero esta noite é emocioná-lo.”


Prêmio ubc 22

foto_ Miguel Sá

Gilberto Gil e Emicida

Os próximos craques a subir ao palco foram Ney Matogrosso (“Mesmo Que Seja Eu”), Mosquito e João Cavalcanti (“Cachaça Mecânica”), Rael e Simoninha (“Coqueiro Verde”) e Ana Cañas (“Do Fundo do Meu Coração”). As quatro canções foram criadas por Erasmo em parceria com Roberto.

“QUE ESSA MENSAGEM CHEGUE AOS CIDADÃOS”

Johnny Hooker

Ney Matogrosso

foto_ Fábio Ribeiro

Johnny Hooker veio depois, com “Filho Único” (cocriação com Roberto Carlos), cedendo o palco em seguida para Ludmilla — que comentou ter ficado nervosa por não cantar com frequência músicas do estilo de “Mais Um Na Multidão” (composta com Marisa Monte e Carlinhos Brown) — fazer um show bem fluido. A apresentação arrancou aplausos e abraços emocionados do Tremendão, que, aos 77 anos e 57 de carreira, recebeu um merecido banho de carinho durante a cerimônia.

foto_ Miguel Sá

A dupla Gilberto Gil e Emicida deu início à noite de releituras da obra de Erasmo com “Sou Uma Criança, Não Entendo Nada” (composta com Giuseppe Ghiaroni). Enquanto Gil nadava de braçada no suingue, o público presenciou um show de rimas do rapper paulista.

A união de artistas tão diferentes entre si era uma espécie de manifesto pelos reencontros, pela reconciliação e a superação das diferenças, algo tão caro neste momento político conturbado que o país vive. “Espero que a música possa unir um pouco mais as pessoas. Nunca vivi um radicalismo tão grande”, comentou Simoninha. “A música não resolve tudo, mas ajuda a amenizar a turbulência”, disse Ludmilla. “O rap e a música em geral sempre pediram uma sociedade melhor. Que essa mensagem chegue a todos os cidadãos”, completou Rael.


REVISTA UBC

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foto_ Miguel Sá

Sorridente, feliz, Erasmo cumpriu o vaticínio de Zé Ricardo: era só emoção. “Mas não vou chorar, não. Se vocês esperavam ver minhas lágrimas, saibam que deixei o reservatório em casa”, brincou o Tremendão, para quem, mais do que os artistas, é a música que deve ser imortal e unir as pessoas.

Ludmilla

Zé Ricardo e o Tremendão

foto_ Miguel Sá

A cantora baiana Illy e o cantor e músico uruguaio Diego Drexler (irmão de Jorge Drexler) deram um tom internacional ao sucesso “Sentado à Beira do Caminho” (composta com Roberto).

Diego Drexler e Illy

Humor e mais homenagens O ator e humorista Lúcio Mauro Filho apresentou o prêmio e logo de cara exaltou os trabalhadores da cultura. “Uma gente que é chamada de vagabunda a todo momento e que representa 4% do PIB brasileiro”, descreveu, arrancando gargalhadas da plateia. Ney Matogrosso também provocou risos ao revelar que se descuidou e foi o único que deixou escapar antes para Erasmo que participaria da homenagem.

foto_ Fábio Ribeiro

Taís Alvarenga e Mariana Volker

foto_ Miguel Sá

Na plateia, Moacyr Luz, Moraes Moreira, Celso Fonseca, Tiago Nacarato, Toni Garrido e representantes da indústria musical. Eles participaram também de outra homenagem, para o advogado João Carlos Müller, de 78 anos, primeiro premiado com o novo Troféu Fernando Brant por sua longa vida dedicada aos direitos autorais.

Nas palavras dele, o papel da arte para pacificar, cicatrizar, é enorme e pode ser resumido em outra de suas muitas criações com Roberto, “É Preciso Saber Viver”, que fechou a noite reunindo o próprio Erasmo e os demais artistas sobre o palco.

“Se você estiver no inferno, precisa saber viver no inferno. É uma música que prega a adaptação ao que a vida dá, às condições em que se vive. Então, é uma mensagem para sempre, para qualquer lugar”, encerrou o Tremendão.


capa

Brasis musicais Levantamento exclusivo da UBC revela os gêneros que fazem a cabeça — e os ouvidos — das pessoas em cada uma das 27 unidades da federação por_ Luciano Matos de_ Salvador Roberto de Oliveira do_ Rio e Ricardo Silva de_ São Paulo Coordenação_ Alessandro Soler de_ Madri

Num país de dimensões e riqueza musical gigantescas, o esperado é encontrar diferenças notáveis entre os gêneros mais populares em cada estado, certo? Bem... seria. Na era digital, com seus fenômenos não só nacionais, mas globais, a homogeneizar um pouco tudo, há estilos que já se podem chamar de transregionais. Sertanejo, funk, pop, forró, arrocha e um punhado de outros ritmos vão varrendo as rádios, redes e ruas de Norte a Sul do Brasil, não sem deixar algum espaço para hits populares que resistem e dão sabor próprio ao que se escuta em cada uma das 27 unidades da federação. Conhecer os gêneros de maior êxito no estado vizinho, como qualquer artista antenado em estratégias de marketing sabe, é fundamental na hora de tomar decisões elementares de carreira. Como programar uma turnê ou planejar um lançamento certeiro, por exemplo.

Pensando nisso, a UBC apresenta nas próximas páginas um levantamento exclusivo sobre os estilos líderes em cada estado. A pesquisa foi feita a partir de informações dos principais serviços de streaming do país — YouTube, Deezer e Spotify —, do escritório brasileiro da Crowley, uma empresa estadunidense de análise eletrônica de audiência de rádios, com centenas de estações monitoradas em quatro das cinco regiões brasileiras, e da JLeiva. No último mês de julho, esta consultoria paulistana publicou um estudo sobre os hábitos culturais de 33 milhões de brasileiros que vivem em 12 capitais. Mais de dez mil pessoas foram entrevistadas, e os dados compilados mostraram que, apesar da indiferenciação aparente, há muita originalidade no que passa pela cabeça — e pelos ouvidos — dos consumidores de música brasileiros.


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Mapa da Música Brasileira Os gêneros que não saíram da cabeça, dos ouvidos e dos olhos dos brasileiros no último ano

REGIÃO NORTE Amazonas As mais ouvidas*

As mais ouvidas e vistas* 1º Funk 66,9% das quase 10 milhões de audições do top 10 no estado são da vertente do gênero produzida em São Paulo / 2º Sertanejo / 3º Arrocha / 4º Pop *Fonte: YouTube

As mais buscadas (Google) Gospel 32% / Samba 25% / Funk 16% / Rock 16% / Sertanejo 7%

Roraima As mais ouvidas e vistas* 1º Sertanejo Sete das dez canções mais ouvidas são do gênero. O funk paulista fica com as três outras / 2º Funk / 3º Forró / 4º Pop *Fonte: YouTube

As mais buscadas (Google) Gospel - 35% / Samba - 21% / Funk - 15% / Rock - 14% / Sertanejo - 12%

As mais ouvidas e vistas*

1º Sertanejo JLeiva e YouTube mostram, respectivamente, a liderança inequívoca em Manaus e no interior, com mais de 36% da preferência / 2º Gospel / 3º MPB / 4º Forró

1º Sertanejo As primeiras sete canções mais ouvidas são do gênero / 2º Funk / 3º Arrocha / 4º Forró Um único artista do gênero figura no top 10 dos mais populares do estado

*Fontes: Pesquisa JLeiva e YouTube

*Fonte: YouTube

As mais vistas (YouTube)

Amapá

Acre

1º Sertanejo / 2º Funk / 3º Arrocha / 4º Pop As mais buscadas (Google)

As mais buscadas (Google) Gospel - 61% / Samba - 37% / Funk - 23% / Sertanejo - 20% / Rock - 18%

Gospel - 33% / Samba - 25% / Funk - 24% / Rock 18% / Sertanejo - 9%

Rondônia

Pará

1º Sertanejo / 2º Funk A vertente paulista do gênero tem 20% do top 10 de artistas mais populares do estado / 3º Arrocha/ 4º Forró

As mais ouvidas* 1º Gospel / 2º Sertanejo / 3º MPB / 4º Brega Empatado com o forró, o gênero paraense por excelência tem 18% da preferência do público, revela a JLeiva *Fontes: Pesquisa JLeiva e YouTube

As mais vistas (YouTube) 1º Sertanejo / 2º Funk / 3º Arrocha Só aparece depois da décima posição. O top 10 de vídeos e artistas é quase inteiramente dominado por sertanejo e funk / 4º Forró As mais buscadas (Google) Gospel - 47% / Funk - 28% / Samba - 26% / Rock - 17% / Sertanejo - 13%

As mais ouvidas e vistas*

*Fonte: YouTube

As mais buscadas (Google) Gospel - 74% / Sertanejo - 30% / Funk - 30% / Samba - 28% / Rock - 19%

Tocantins As mais ouvidas e vistas* 1º Sertanejo Mais de 80% de tudo o que se ouve no estado são do gênero / 2º Funk / 3º Arrocha / 4º Gospel *Fonte: YouTube

As mais buscadas (Google) Gospel - 76% / Funk - 37% / Samba - 31% / Sertanejo - 30% / Rock - 19%


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REGIÃO NORDESTE Alagoas As mais ouvidas e vistas*

1º Forró Já na capital é o sertanejo o estilo mais executado nas rádios (31,65%), segundo a Crowley / 2º Sertanejo / 3º Gospel Em Fortaleza, segundo a JLeiva, 23% dizem preferir o gênero / 4º Pagode

*Fontes: Pesquisa Crowley e YouTube

*Fontes: Pesquisa JLeiva, pesquisa Crowley com 10 estações de rádio fortalezenses, Spotify e YouTube

Gospel - 27%/ Samba - 26%/ Funk - 16%/ Rock - 9%/ Sertanejo - 4%

Pernambuco As mais ouvidas* 1º Pop / 2º Forró / 3º MPB A nova cena local da MPB tem grande peso na programação e empurra o sertanejo para a quarta colocação / 4º Sertanejo *Fontes: Pesquisa JLeiva, pesquisa Crowley com 6 estações de rádio recifenses, Spotify e YouTube

As mais ouvidas* 1º MPB / 2º Sertanejo Já em Salvador, é o gospel que ocupa a segunda colocação, diz a JLeiva. Para a Crowley, pop (27,1%) e sertanejo (20,17%) ocupam as duas primeiras posições. O tradicional axé (8,25%) vem apenas em quinto lugar / 3º Pop / 4º Pagode *Fontes: Pesquisa JLeiva, pesquisa Crowley com 8 estações de rádio soteropolitanas, Deezer, Spotify e YouTube

As mais vistas (YouTube) 1º Funk Três dos cinco vídeos mais vistos em um ano, incluindo o primeiro colocado, são da modalidade paulista do gênero / 2º Sertanejo / 3º Pagode / 4º Pop As mais buscadas (Google)

As mais vistas (YouTube) 1º Funk Os dois vídeos mais vistos nos últimos 12 meses são do gênero / 2º Sertanejo / 3º Pagode / 4º Arrocha Um artista do gênero é o quarto mais popular em todo o estado As mais buscadas (Google) Samba - 31% / Gospel - 26% / Funk - 13% / Rock - 12% / Sertanejo - 5%

Piauí As mais ouvidas e vistas* 1º Funk / 2º Sertanejo / 3º Forró Quatro artistas do gênero aparecem no top 20 do estado / 4º Arrocha *Fonte: YouTube

As mais buscadas (Google) Gospel - 44% / Samba - 32% / Funk - 28% / Rock - 19% / Sertanejo - 11%

Maranhão As mais ouvidas e vistas*

*Fonte: YouTube

*Fontes: Pesquisa JLeiva e YouTube

As mais ouvidas e vistas*

As mais buscadas (Google)

Sergipe

Rio Grande do Norte As mais ouvidas e vistas*

1º Funk / 2º Sertanejo / 3º Arrocha / 4º Pop Sergipe é um dos estados que mais têm artistas do gênero no seu top 20

1º Funk Seis entre os 10 artistas mais populares são da vertente paulista do gênero / 2º Sertanejo / 3º Forró / 4º Pop

*Fonte: YouTube

*Fonte: YouTube

Samba - 28%/ Gospel - 27%/ Funk - 15%/ Rock - 11%/ Sertanejo - 5%

As mais buscadas (Google) Samba - 27% / Gospel - 26% / Funk - 23% / Rock - 14% / Sertanejo - 7%

1º Funk / 2º Sertanejo / 3º Forró Dois artistas do gênero estão no top 10 do estado, encabeçado por quatro do funk e três do sertanejo / 4º Pop

Paraíba

Gospel - 41% / Samba - 34% / Funk - 17% / Rock - 11% / Sertanejo - 7%

As mais buscadas (Google)

As mais vistas (YouTube) 1º Funk / 2º Sertanejo / 3º Forró / 4º Arrocha

1º Forró / 2º Funk Na capital é diferente. Para a JLeiva, é o gospel o segundo gênero mais popular (29%) / 3º Sertanejo / 4º Gospel Também para a JLeiva, o tradicional reggae ocupa a quarta colocação na capital, e o funk não entra nas primeiras posições

Gospel - 29% / Samba - 26% / Funk - 16% / Rock - 12% / Sertanejo - 12%

As mais ouvidas e vistas*

As mais ouvidas*

1º Sertanejo Os dois artistas mais populares nos vídeos exibidos do estado são do gênero / 2º Funk / 3º Forró Para a Crowley, trata-se do segundo estilo mais popular de Maceió, com 15,68% da programação das rádios / 4º Pop As mais buscadas (Google)

Bahia

Ceará

As mais buscadas (Google) Samba - 27% / Gospel - 26% / Funk - 15% / Rock - 13% / Sertanejo - 6%

As mais buscadas (Google) Gospel - 35% / Samba - 22% / Funk - 20% / Rock - 10% / Sertanejo - 8%


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REGIÃO CENTRO-OESTE

Mato Grosso As mais ouvidas e vistas* 1º Sertanejo Com 57,2% da programação das rádios, domina a preferência dos ouvintes, segundo a Crowley. No YouTube, sete artistas do gênero ocupam o top 10 dos mais populares 2º Pop / 3º Pop-rock / 4º Pagode *Fontes: Pesquisa Crowley com 2 estações de rádio cuiabanas e YouTube

As mais buscadas (Google) Gospel - 60% / Samba - 41% / Funk - 36% / Sertanejo - 36% / Rock - 24%

Mato Grosso do Sul

Goiás As mais ouvidas e vistas* 1º Sertanejo / 2º Pagode / 3º Hip hop / Emplaca dois artistas no top 10 do YouTube no estado / 4º Pop *Fontes: Pesquisa Crowley com 7 estações de rádio goianienses e YouTube

As mais buscadas (Google) Gospel - 60% / Samba - 43% / Funk - 36% / Sertanejo - 29% / Rock - 25%

Distrito Federal As mais ouvidas*

1º Sertanejo Responde por 83,5% das visualizações de vídeos no top 10 do YouTube / 2º Pop / 3º Pop-rock / 4º Pagode

1º Sertanejo O caldeirão cultural da capital federal sucumbe ao fenômeno do interior, que ocupa o topo tanto na pesquisa JLeiva (55% da preferência) quanto na Crowley (54,66%) / 2º Pop / 3º Gospel / 4º Forró

*Fontes: Pesquisa Crowley com 2 estações de rádio campo-grandenses e YouTube

*Fontes: Pesquisa JLeiva, pesquisa Crowley com 8 estações de rádio brasilienses, Spotify e YouTube

As mais ouvidas e vistas*

As mais buscadas (Google) Gospel - 44% / Samba - 31% / Funk - 28% / Sertanejo - 23% / Rock - 20%

As mais vistas (YouTube) 1º Sertanejo / 2º Funk / 3º Hip Hop Dois artistas do gênero estão no top 10, além de outros dois do funk paulista / 4º Arrocha As mais buscadas (Google) Gospel - 30%/ Samba - 26%/ Rock - 21%/ Funk - 17%/ Sertanejo - 11%

REGIÃO SUL

Rio Grande do Sul

Paraná As mais ouvidas*

As mais ouvidas*

1º Sertanejo /2º Pop /3º Pagode Em Curitiba, segundo a Crowley, pop-rock e música eletrônica ocupam a terceira (7,24%) e quarta (3,79%) colocações, respectivamente. Para a JLeiva, 29% dos curitibanos ouvem rock / 4º Pop-rock

1º Sertanejo / 2º Pop / 3º Pagode / 4º Forró Em Florianópolis, a música eletrônica ocupa a quarta colocação

1º Pop / 2º Sertanejo / 3º Funk / 4º Forró Em Porto Alegre, o forró não aparece entre os quatro primeiros, segundo a Crowley. Para a JLeiva, a MPB, em terceiro lugar, é a preferida de 26% das pessoas na capital, e o pagode vem em quarto, com 23%

*Fontes: Pesquisa JLeiva, pesquisa Crowley com 29 estações de rádio paranaenses, Spotify e YouTube

*Fontes: Pesquisa Crowley com 25 estações de rádio catarinenses, Spotify e YouTube

*Fontes: Pesquisa JLeiva, pesquisa Crowley com 9 estações de rádio gaúchas, Deezer, Spotify e YouTube

As mais vistas (YouTube) 1º Sertanejo / 2º Funk / 3º Arrocha Um único artista do gênero aparece no top 10 do estado, dominado por sertanejo e funk / 4º Pop As mais buscadas (Google) Gospel - 38% / Samba - 34% / Rock - 33% / Funk 30% / Sertanejo - 21%

Santa Catarina As mais ouvidas*

As mais vistas (YouTube) 1º Sertanejo / 2º Funk / 3º Pop / 4º Hip Hop O gênero é um dos mais populares entre os principais vídeos exibidos no estado As mais buscadas (Google) Gospel - 30%/ Samba - 29%/ Funk - 27%/ Rock - 27% / Sertanejo - 17%

As mais vistas (YouTube) 1º Sertanejo / 2º Funk / 3º Pop / 4º Pagode Dois grupos aparecem entre os 20 mais populares nos vídeos exibidos no estado As mais buscadas (Google) Samba - 32% / Funk - 28% / Gospel - 25% / Rock - 25% / Sertanejo - 15%


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REGIÃO SUDESTE

Rio de Janeiro As mais ouvidas* 1º Pop é o estilo mais tocado nas rádios da capital: 36,6% do total, segundo a Crowley; no interior, o sertanejo assume a ponta, com 49,01% (4,3% na capital) / 2º MPB / 3º Funk / 4º Samba e pagode *Fontes: Pesquisa JLeiva, pesquisa Crowley com 24 estações de rádio fluminenses, Deezer, Spotify e YouTube

As mais vistas (YouTube) 1º Funk Cinco das dez músicas mais executadas nos últimos 12 meses no estado / 2º Pop / 3º Samba e pagode / 4º Sertanejo As mais buscadas (Google) Samba - 15% / Gospel - 10% / Funk - 7% / Rock - 6% / Sertanejo - 2% / Outras - 40%

São Paulo As mais ouvidas* 1º Sertanejo O percentual mais alto de popularidade nas rádios é na região de São José do Rio Preto (84,56%), segundo a Crowley. O mais baixo, na capital: 28,1% / 2º MPB / 3º Rock Um quarto da população da capital diz preferir o estilo, segundo a JLeiva / 4º Samba e pagode *Fontes: Pesquisa JLeiva, pesquisa Crowley com 109 estações de rádio paulistas, Deezer, Spotify e YouTube

As mais vistas (YouTube) 1º Sertanejo / 2º Pagode / 3º Arrocha / 4º Pop Uma única cantora do gênero aparece no ranking dos artistas mais populares, dominado por sertanejo e funk paulista As mais buscadas (Google) Samba - 25%/ Rock - 20%/ Gospel - 18%/ Funk - 15%/ Sertanejo - 9%

Espírito Santo As mais ouvidas* 1º Sertanejo / 2º Pop / 3º Funk Popular na Grande Vitória, perde força para o pagode no interior do estado, segundo a Crowley / 4º Samba e pagode *Fontes: Pesquisa Crowley com 13 estações de rádio capixabas e YouTube

As mais vistas (YouTube) 1º Sertanejo / 2º Funk / 3º Arrocha / 4º Pop As mais buscadas (Google) Gospel - 37% / Samba - 29%/ Funk - 22%/ Rock - 20%/ Sertanejo - 12%

Minas Gerais As mais ouvidas* 1º Sertanejo / 2º Pop / 3º Pagode / 4º Forró Em Belo Horizonte, o funk é o quarto gênero mais popular, à frente do forró, que ocupa tal colocação no Triângulo Mineiro; já na Zona da Mata, o pop-rock chega a 4,64% da programação das rádios, segundo a Crowley *Fontes: Pesquisa JLeiva, pesquisa Crowley com 67 estações de rádio mineiras, Spotify e YouTube

As mais vistas (YouTube) 1º Sertanejo Minas é um dos poucos estados onde não predominam apenas as estrelas goianas e paulistas, com espaço também para as vertentes regionais / 2º Funk / 3º Arrocha / 4º Pop A forte tradição pop-rock do estado não é capaz de fazer as bandas locais do gênero figurarem entre as 20 mais populares As mais buscadas (Google) Gospel - 32% / Samba - 30% / Funk - 27% / Rock - 20% / Sertanejo - 16%

Nota sobre as pesquisas mais populares do Google Trends: Os números representam o interesse de pesquisa relativo ao ponto mais alto no gráfico de uma determinada região em um dado período. Um valor de 100 representa o pico de popularidade de um termo. Um valor de 50 significa que o termo teve metade da popularidade. Uma pontuação de 0 significa que não havia dados suficientes sobre o termo. A alta do samba é puxada sempre pelas buscas no período do Carnaval. Busca relativa a 12 meses feita no dia 25/09/2018.


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O curioso caso do Spotify Diferentemente de outros serviços de streaming, como YouTube (o maior do mundo) e Deezer, o Spotify apresenta resultados quase homogêneos país afora, com duplas sertanejas dominando até mesmo mercados como Rio de Janeiro, Recife, São Luís ou Salvador, historicamente resistentes ao gênero. Analistas do mercado avaliam que isso poderia se dar pela estratégia peculiar de promoção da plataforma sueca, que oferece os principais hits nacionais em playlists — principalmente na modalidade gratuita — quase compulsoriamente, mesmo que eles pertençam a estilos nunca antes escutados pelos usuários. Confira o gênero dos artistas mais populares nos seguintes estados, segundo o Spotify. Bahia 1º Sertanejo / 2º Pagode / 3º Pop / 4º Funk Brasília 1º Sertanejo / 2º Arrocha / 3º Pop / 4º Funk Ceará 1º Sertanejo / 2º Arrocha / 3º Pop / 4º Pagode Goiás 1º Sertanejo / 2º Funk / 3º Arrocha / 4º Pop Maranhão 1º Sertanejo / 2º Pop / 3º Pagode / 4º Funk Minas Gerais 1º Sertanejo / 2º Pop / 3º Arrocha / 4º Funk Pará 1º Sertanejo / 2º Pop / 3º Funk / 4º Arrocha Paraíba 1º Sertanejo / 2º Pop / 3º Forró eletrônico / 4º Pop-rock Paraná 1º Sertanejo / 2º Pop / 3º Funk / 4º Eletrônico Pernambuco 1º Sertanejo / 2º Pop / 3º Pagode / 4º Pop-rock Rio de Janeiro 1º Sertanejo / 2º Pagode / 3º Pop / 4º Funk Rio Grande do Sul 1º Sertanejo / 2º Pop / 3º Eletrônico / 4º Arrocha Santa Catarina 1º Sertanejo / 2º Pop / 3º Funk / 4º Arrocha São Paulo 1º Sertanejo / 2º Pop / 3º Arrocha / 4º Funk


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Entre o mercado e o coração Artistas e produtores pregam equilíbrio na hora de tomar decisões de carreira: a aposta certa em fenômenos populares funciona, mas sem deixar de lado a autenticidade O avanço do sertanejo é fruto de uma estratégia bem-sucedida de marketing com apoio da mídia, como define Roberta Dittz, vocalista da banda de rock Canto Cego. Ou é o retrato bem acabado da própria pluralidade brasileira, como sustenta a sertaneja Naiara Azevedo. Ambas parecem ter razão. O equilíbrio entre a oportunidade de surfar as ondas do mercado — à base de big data, análise de consumo e outras ferramentas — e dar voz a sentimentos legítimos, em qualquer estilo, é mesmo o caminho ideal. “Observar a maneira como eles (do sertanejo) divulgam e gerenciam esses artistas é interessante. Mas o importante é criar o que é sincero”, opina Roberta. “Pagonejo, funknejo, axénejo, e por aí vai... As misturas caíram no gosto das pessoas porque as refletem”, analisa Naiara. Para João Cavalcanti, cantor e ex-integrante do grupo Casuariana, é legítimo usar estratégias de aferição para tomar decisões de carreira: “Nas plataformas de streaming, pesquiso a composição da minha plateia em termos regionais, geográficos, etários… É uma maneira de criar pequenas molduras de assertividade, falar com o público de forma mais objetiva.”

Paulo Monte, gerente artístico da Som Livre, diz que a análise dos fenômenos mais populares em cada região é importante nas decisões de investimento da gravadora. “Trabalhamos focados nisso. Se há gêneros ou movimentos fortes em vários locais, e não temos um artista nesse segmento, vamos atrás.” Gilberto Gil, muito antes das pesquisas nacionais de popularidade e das métricas da era digital, já explorava o gosto regional, mas “de modo intuitivo, não esquemático.” “Quando lançamos ‘Eu Só Quero um Xodó’ (de Dominguinhos e Lucinete Ferreira), em 1973, não era a preferida da gravadora, que quis colocá-la no lado B do compacto. Na Bahia, um radialista resolveu tocá-la. Foi um estouro. A gravadora mudou de estratégia”, ele ri. Fabiane Costa, produtora e empresária de nomes como Zé Ricardo e Flávio Venturini, corrobora a insistência do mestre Gil. A ideia, prega, é abrir espaço, não se pautar só pelo que parece ser o mais seguro. “Tem lugar para todo mundo, mesmo que seja menor. Antes de ir para a estrada com um artista, faço pesquisa, claro. Se a gente percebe que é um lugar onde não há grande público para o estilo, reduz a estrutura. Mas vai, vai mesmo assim.”


PELO PAís

Filipe Catto: “A vida boêmia se desloca e faz com que a cidade floresça em outros lugares”

foto_ Lorena Dini

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Distrito musical Como um grupo de bares e casas noturnas de um bairro em transformação fomentam uma cena pop-rock que, outra vez, volta a fervilhar na capital gaúcha por_ Matheus Passos Beck

de_ Porto Alegre

No dia 20 de setembro, Filipe Catto desceu da sacralidade do palco e apresentou o espetáculo “O Nascimento de Vênus” no chão do Agulha, casa noturna inaugurada há cerca de um ano no 4º Distrito, em Porto Alegre. O show é uma experiência catártica de luzes e sons concebido pelo multiartista — que ficou mais evidente no amplo galpão com o cantor próximo do público. Uma cena e um cenário incomuns por aqui até bem pouco tempo atrás. E que diz muito sobre o novo momento musical que vai recolocando esta cidade,

sempre ponta de lança das vanguardas do rock e do pop, de novo no centro da criação e da difusão musical nacional. O próprio Catto comenta a transformação. Ele conta que se descobriu artista no Ocidente, bar fincado em uma esquina do tradicional bairro Bom Fim, em meados dos anos 2000. Nessa época de relativa decadência, a noite porto-alegrense se concentrava em bares acanhados e sufocantes da Independência e da Cidade Baixa.


PELO PAís

Melancolia e esperança com o futuro da cidade são refletidas no novo EP da Alpargatos, “O Chão É Lava”

Os novos ambientes, no 4º Distrito, são quase o oposto: grandes hangares abandonados em uma área com pouca vizinhança, onde a música vai soando noite adentro. “Em qualquer época de ruptura cultural, as coisas precisam migrar para outras áreas. Este momento de crise e de golpe está fazendo com que os artistas se reaproximem das pessoas, e lugares como o Agulha propiciam uma experiência mais visceral”, diz Catto. “A vida boêmia se desloca e faz com que a cidade floresça em outros lugares”, completa. O tradicional OCulto Pub, por exemplo, mudou-se da Cidade Baixa para o São Geraldo no final de agosto. A exemplo do Agulha, não há um palco para as bandas. Elas se apresentam em formato circular, como em

O 4º Distrito é uma região de 594 hectares que se estende pelos bairros Floresta, Navegantes, São Geraldo, Humaitá e Farrapos. É a porta de entrada e saída da capital gaúcha, seja pelo aeroporto ou por vias terrestres. Outrora setor industrial pujante, ele se degradou na segunda metade do século passado, passando a ser mais conhecido pelas zonas de prostituição e consumo de drogas. Porém, nos últimos anos, a vida cultural do lugar começou a mudar. Primeiro, iniciativas pouco articuladas entre si começaram a revitalizar o patrimônio histórico local. Depois, uma espécie de polo cervejeiro informal foi constituído ali. Porém, a transformação mais acentuada é a da cena musical.

uma arena. Uma tradução da proximidade entre a nova cena e o público. Afonso Antunes, vocalista da Alpargatos, é um dos expoentes dessa geração que vai fermentando novos sons a partir do Sul. Ele escolheu a zona do 4º Distrito para o lançamento do terceiro EP do grupo, “O Chão É Lava”, no qual expressa pessimismo com o clima político atual. “O primeiro EP (Rodovia do Parque) era mais otimista. O segundo (Essa Cidade Cheia de Heróis) já é mais triste. E, no terceiro, paira a melancolia”, compara. “Porque, apesar de Porto Alegre estar cada dia mais dividida, ainda vemos um pouco daquela cidade harmoniosa. E fazer arte é uma maneira de tentarmos reconquistar o terreno perdido”.

foto_ Vini Angeli

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No festival de reinauguração do OCulto, foram reunidas 16 bandas em três noites de som e diversidade. Entre as atrações, nenhuma simboliza melhor o atual momento do que a Gentrificators. O nome remete ao processo de gentrificação, fenômeno de transformação de um bairro ou região no qual um grupo social passa a ocupar espaços de outros grupos mais pobres.

foto_ Fábio Alt

Guitarrista e vocalista da banda lo-fi, Marcelo Conter se familiarizou com o conceito quando morou em Nova York, em 2014, durante seu

Presente distópico é refletido nas letras da Gentrificators, quinteto porto-alegrense de lo-fi

doutorado em Comunicação. Ele se insere na cena pop-rock que fervilha outra vez a partir do 4º Distrito, mas alerta para o perigo de uma possível gentrificação. “Os bairros (do 4º Distrito) estão recebendo o público de fora, mas que não modifica sua realidade. O que nos preocupa é como vamos lidar com possíveis loteamentos de locais onde moram famílias pobres e como evitar a especulação imobiliária”, descreve, na melhor tradição analítica, cheia de mensagem e política, do rock gaúcho.


MERCADO 36

Na era dos streamings, em que a entrega em conta-gotas parece ganhar de goleada, defensores do lançamento de um produto com mais canções também têm bons argumentos de_ São Paulo

Single ou álbum,

eis a questão

Anitta: aposta nos lançamentos de singles com periodicidade determinada


REVISTA UBC

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Marisa Monte e os Tribalistas: histórico de álbuns, mas sem descartar os singles

FORMATO PADRão no funk e no pop

Quem já aderiu ao modelo de distribuição que mais cresce, o streaming, sabe: as playlists de serviços como Spotify, Deezer ou Apple Music viraram os lugares (virtuais) por excelência para apresentar novidades. E, como elas são alimentadas por singles, esse formato de entrega a conta-gotas ganha muita força. Mas defensores do álbum como produto mais longevo e rentável também têm seus argumentos. “Lançar single tem um risco inerente. Se a faixa logo se esgotar, e o fã não tiver mais o que ouvir, vai deixar aquele artista e procurar outro que tenha novidade. Você gasta o dinheiro do marketing, do lançamento, e não captura o ouvinte”, diz Guilherme Figueiredo, diretor de marketing e digital da Som Livre. Anitta tem apostado num modelo oposto, o full-single, com entregas acompanhadas de clipes. Ao estabelecer uma periodicidade para os lançamentos, ela contorna o esgotamento de que fala Figueiredo.

“A forma como o público consome música mudou muito. (Com singles), tenho feedback a cada projeto”, conta a cantora, que realiza adaptações nas seguintes entregas em função da resposta obtida, a fim de potencializar o sucesso de cada hit.

Oriunda do funk e convertida ao pop, Anitta é o exemplo mais bem acabado de dois gêneros que privilegiam os singles. É o que opina Guilherme Figueiredo, da Som Livre: “A estratégia dela, de vincular singles e clipes, é excelente, foi inteligente na forma como empacotou um produto que, reunido, poderia perfeitamente ser chamado de álbum. O funk talvez seja hoje o último grande bastião do single, mas isso tem a ver com sua origem. Antes era caro gravar e lançar, então você lançava um a um e dependia de um agregador. O DJ Marlboro era um agregador, a Furacão 2000 também. A tradição se manteve.”

Diretor artístico da Midas Music, Helio Leite aposta no single para testar novos artistas independentes. Depois, parte para o álbum. “Com a Kell Smith e o Vitor Kley, lançamos single a single e, depois, gravamos outras para chegar ao disco, que torna mais rico e feito com menos pressão.” Para Marisa Monte, não há antagonismo entre os dois modelos. “Álbum vem da albumina, a página em branco, a tabuleta de avisos que se botava na ágora da Grécia Antiga. Ou seja, você escreve e publica o que quiser: uma música, dez músicas. Em meio a tanta informação, tanto ruído, o grande desafio é ser ouvido. Não há fórmula única.”

VEJA MAIS Num bate-papo exclusivo gravado ao vivo na sede da UBC, a cantora Lilian fala sobre seus lançamentos para 2018 e analisa a dicotomia entre singles e álbuns ubc.vc/Lilian


infantil 38

Sula Kossatz fala sobre seu projeto “Deu Bicho na Casa”, álbum que aposta em letras inteligentes, sem concessões a imagens de apelo fácil, e que venceu o Prêmio da Música Brasileira do_ Rio

Música infantil à antiga, com letras inteligentes e educativas e sem a quase obrigatória vinculação a uma versão audiovisual. A aposta da musicista Sula Kossatz, com seu projeto “Deu Bicho na Casa”, era arriscada. Mas deu certo. Vencedora da categoria melhor álbum infantil na última edição do Prêmio da Música Brasileira, a pianista e cravista com mais de duas décadas como educadora conta o que a inspirou a criar o trabalho, que reuniu grandes músicos, entre clássicos e pop, e foi produzido por Fernando Brandão e Chico Batera. Por que compor para crianças? Foi depois de ter netos. Me atraiu perceber, nas crianças em geral, uma certa falta de valores e conhecimentos importantes. Em “Bruxinhas”, por exemplo, cito (a peça para piano) “Quadros de uma Exposição”, de Mussorgsky. Em outras, entram Vivaldi e até outras artes, como as estações do (pintor

“A música é o maior canal de comuni cação”


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Giuseppe) Arcimboldo. Quanto mais você expande o leque, mais rico ele é. Houve um tempo em que todos escutávamos discos com historinhas, fábulas, enfim, nos educávamos ouvindo. Hoje, as crianças são bombardeadas por imagens. Que papel a música ainda tem? A música é o maior canal de comunicação. Eu trabalho numa escola em que atendo a 250 crianças de comunidades carentes e famílias de risco. Vejo o milagre que a música faz na vida delas. Crianças antes agressivas, insubordinadas, são hoje meu braço-direito na sala. A gente vive um período de intolerância. Acredito no poder da arte mais universal para reverter isso. Haverá continuações? Já há novos temas e ideias em gestação? O próximo disco é só de cantigas de ninar e já está pronto. Também há material para outro “Deu Bicho na Casa”, para crianças de 2 a 4 anos. E estou trabalhando num musical. Para cada música escrevi um conto. Deve ser dirigido por Ernesto Piccolo.

Ouça MAIS As 12 canções do álbum premiado ubc.vc/DeuBicho


NOTÍCIAS INTERNACIONAIS 40

de_ Madri

Spotify:

artistas poderão subir suas próprias canções

O Spotify anunciou em setembro que passará a aceitar uploads diretamente dos artistas, sem a necessidade de um agregador digital ou uma gravadora. Ainda em versão beta, a ferramenta já foi testada por selos e artistas independentes e só está disponível mediante convite para alguns criadores indies, e unicamente nos Estados Unidos. O comunicado diz ainda que o pagamento de direitos conexos ocorrerá de forma direta e mensal para os artistas que aderirem. Ainda não há previsão de lançamento desta nova funcionalidade no mercado brasileiro.

Lei de Modernização DA MÚSICA

Na Europa,

O presidente Donald Trump sancionou em outubro, nos Estados Unidos, a chamada Lei de Modernização da Música. Apoiada por artistas, compositores e indústria, a normativa traz mudanças benéficas para os autores, entre elas a regulamentação de uma lei anterior, a Fair Play Fair Pay Act (lei da execução justa e do pagamento justo), que estabelece taxas mínimas-padrão para o pagamento aos autores de músicas das plataformas digitais. Outra mudança é a supressão da seção 114 da Lei de Copyright, que permite aos tribunais acatar ações e estabelecer parâmetros de remuneração aceitáveis em ações movidas por titulares. Igualmente, a MMA modifica outra lei, a Classics Act, estendendo a gravações anteriores a 1972 os direitos fonomecânicos digitais. Por fim, a nova lei também cria uma agência única que emitirá licenças-cobertor para os direitos mecânicos devidos por serviços de streaming e download, agilizando os pagamentos aos autores.

O Parlamento Europeu aprovou, em setembro, a nova Diretiva de Direitos Autorais Digitais do bloco, que dará a autores de músicas, melhor roteiristas de TV e cinema, diretores, cantores e músicos novo poder de negociação com as plataformas que distribuem conteúdos na rede. Amazon, YouTube, Netflix, Spotify e outros conglomerados poderão ser forçados a rever valores pagos aos criadores das obras que oferecem, uma vez que a lei estabelece o conceito de remuneração justa e abre espaço para renegociações. A expectativa é que a diretiva passe a pautar mudanças nas legislações nacionais dos 28 países que compõem o bloco. A nova norma também obriga compartilhadores de links e conteúdos, como as redes sociais Facebook e Twitter ou o mecanismo de busca do Google, a desenvolver filtros de bloqueio automático para materiais piratas.

é sancionada nos EUA

autores ganham nova força

LEIA MAIS Gadi Oron, presidente da Cisac, comenta a nova diretiva com exclusividade falta publicar https://ubc.vc/Gadi


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ubc no mundo por_ Geraldo Vianna

de_ Quito

Por mais transparência na comunicação e uma

melhor governança corporativa

Representantes da UBC se reuniram com membros de outras sociedades de autores latino-americanas em Quito, no último mês de setembro, para debater melhores práticas de governança corporativa no universo da gestão coletiva. O encontro foi promovido no âmbito do Comitê Latino-Americano e do Caribe da Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores (Cisac). Estiveram presentes diretores do comitê, presidentes e diretores de sociedades, além de diretores executivos e advogados. Uma série de recomendações saiu dos debates, tendo como base, entre outros, aspectos éticos, responsabilidades do conselho diretivo das sociedades, questões acerca de tomadas de decisões sobre tarifas, licenças, arrecadação e estratégia. Um ponto crucial defendido por nós, da UBC, e apresentado pelo advogado Sydney Sanches foi a “Responsabilidade na formação dos sócios e nos recursos profissionais e técnicos da sociedade”. Tema muito bem conduzido e debatido, mostrando claramente a posição da

UBC no cenário brasileiro e latino-americano, como uma das sociedades mais modernas e comprometidas com a causa dos autores em todos os âmbitos. Os temas foram debatidos coletivamente, com argumentos claros e francos sobre a necessidade de uma gestão voltada para a competência na administração dos direitos dos autores e a necessidade de modernização nas práticas de comunicação com as novas gerações. A presença de autores foi de total importância para direcionar o escopo das discussões técnicas, que necessitam da visão do criador para sua efetiva implementação. Participaram representantes de Argentina, Uruguai, Peru, Costa Rica, Bolívia, Panamá, Colômbia, México, Guatemala, República Dominicana e Equador. Organizadora do evento, a sociedade local Sayce nos recebeu brilhantemente através do seu presidente, Juan Fernando Velasco, e do seu diretor executivo, David Checa.


Entrevista

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Daniel Campello Dono da ORB Music fala sobre gestão de direitos autorais e administração de repertório para artistas independentes, mercado em expansão no país do_ Rio

A queda nas vendas físicas levou a uma reorganização do mundo musical que deu poder aos independentes. Mas não facilitou a gestão dos direitos autorais ou a administração do repertório. De olho num mercado em expansão, a carioca ORB Music oferece aos indies serviços como rastreamento de créditos retidos, administração de editora e distribuição digital.

Fundada há seis anos, como CQ Rights, a empresa passa por um redesenho e se expande, como seu fundador, Daniel Campello, conta à Revista. Por que um independente precisa de uma empresa como a sua? Daniel Campello: O artista tem que ser dono da sua obra, mas, para isso, precisa de alguém que faça a gestão de coisas complexas. Administramos as editoras de alguns artistas, monitoramos as TVs com tecnologia para verificar os usos das obras, varremos créditos retidos e encaminhamos à associação... Como é esse sistema de rastreamento de retidos? Montamos um algoritmo próprio para fazer o cruzamento dos dados.

E usamos dois softwares, o BMAT e o Repertoir. Este permite ter todos os áudios com tags para uma busca fácil. A gente tem parceria ótima com o Núcleo de TV da UBC. Nosso rastreamento, em 2017, rendeu a liberação de R$ 3,4 milhões retidos e R$ 3,7 milhões em ajustes. Qual o tamanho da empresa? Administramos 70 clientes. Temos grandes criadores do cinema e da TV, como Plínio Profeta, Fábio e Fael Mondego, Mauro Lima e Lázaro Ramos, que está montando um selo. Agora, começamos a prospectar oportunidades para eles em produtos audiovisuais, oferecendo seus trabalhos a diretores. E abrimos escritório em Lisboa. Queremos orbitar o mundo.


FIQUE DE OLHO

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do_ Rio

Cinema:

distribuição de R$ 50 milhões Fechado no ano passado entre o Ecad e a maior associação de cinemas do país, a Abraplex, um acordo pelo qual várias grandes redes multiplex colocaram seus pagamentos em dia rendeu uma distribuição milionária a 30 mil autores em setembro. Mais de R$ 50 milhões foram entregues aos titulares de trilhas sonoras de filmes exibidos entre 1999 e 2017. A boa notícia não veio sozinha: houve um aumento nos rendimentos do segmento Cinema, um dos que mais crescem. A UBC tem um departamento dedicado aos cadastros de audiovisuais, que realizou uma força-tarefa de maio a agosto para o cadastramento de cue-sheets (folhas de informações sobre trilha sonora). Só até setembro deste ano, já haviam sido cadastrados 4.785 deles, mais do que o número de 2017 inteiro. LEIA mais Na página 44, entenda como funciona a distribuição de Cinema

Inadimplência de Salvador:

artistas pedem ajuda Sob administração do prefeito ACM Neto desde 2013, a capital baiana não faz pagamentos aos titulares das músicas tocadas em todos os seus eventos de rua, inclusive o carnaval, o que não a impediu de receber, em 2015, o título de Cidade da Música da Unesco. Agora, artistas apelam, através do Ecad, para que a organização internacional intervenha. Em carta enviada à representante da Unesco no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, eles pedem a retirada do título caso a situação permaneça. Em fevereiro passado, a dívida já era estimada em mais de R$ 40 milhões.

YouTube:

esperança de melhores pagamentos O YouTube estreou em setembro no Brasil os serviços YouTube Music e YouTube Premium, com conteúdos musicais e audiovisuais por assinatura para concorrer com Spotify e Netflix. Até recentemente, o portal de vídeos do Google se recusava a reconhecer-se como um serviço de streaming, reforçando seu caráter de plataforma alimentada por usuários. Isso lhe permitia amparar-se num mecanismo legal chamado porto seguro da internet, que lhe eximia de responsabilidade pelos conteúdos. Em consequência, os pagamentos de direitos autorais eram ínfimos. Agora, a expectativa é que os valores melhorem, potencializados pelas assinaturas mensais de R$ 16,90 dos novos serviços, embora o YouTube não tenha divulgado qual será sua nova política de pagamentos.


Distribuição 44

A maior diversão…

...e os maiores lucros Cinema é uma das bolas da vez no universo dos direitos autorais, com grandes oportunidades para emplacar uma trilha sonora; veja como é feito o cálculo dos valores distribuídos aos titulares

As crescentes oportunidades de inserção de canções em filmes, séries e novelas, o anúncio de editais federais da ordem de R$ 700 milhões para fomentar produções nacionais e o acordo com a associação das redes multiplex que permitiu a recente distribuição de R$ 50 milhões a titulares de trilhas sonoras falam por si: a música para cinema vive um grande momento.

do_ Rio

Se você conseguir emplacar uma canção sua num filme, terá algo para receber pela sua execução pública. E os direitos autorais de músicas inseridas nas trilhas sonoras de filmes exibidos em salas comerciais têm sempre distribuição direta, ou seja, todas as obras executadas são contempladas. Mas, para saber quais músicas estão sincronizadas nos filmes, um instrumento é fundamental: uma folha de cadastro chamada cue-sheet. Nos últimos tempos,

a UBC tem realizado um grande esforço — inclusive participando de um grupo de trabalho na Agência Nacional do Cinema, a Ancine — para conscientizar os produtores cinematográficos, responsáveis por tal documento, sobre a necessidade de entregá-lo corretamente. Isso permite que os direitos autorais e conexos das músicas cheguem efetivamente aos titulares.

A parte autoral, aliás, recebe 2/3 do valor distribuído para uma música, no caso de o uso dela no filme ser mecânico (ou seja, não ao vivo). A parte conexa (intérprete e produtor fonográfico) fica com o 1/3 restante. O tempo em que a música aparece também conta, bem como a categoria de uso. Por exemplo, temas de abertura e encerramento têm o peso mais alto, 12/12, temas de personagens têm peso 8/12, performances ao vivo representam 6/12, e assim por diante. A categoria com menor peso é a de tema de fundo, 1/12.


REVISTA UBC

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PAGAMENTOS 2 VEZES POR ANO Com base no cue-sheet dos filmes, é realizado o rateio da verba líquida arrecadada para um determinado filme exibido no cinema. A verba líquida é o valor arrecadado pelo Ecad das salas exibidoras, descontados os percentuais de administração: Ecad 10% e UBC 5%. A rubrica Cinema tem distribuição aos associados nos meses de março (para valores recolhidos de setembro do ano anterior até fevereiro) e setembro (valores recolhidos de março até agosto).

LEIA MAIS Na seção Fique de Olho, na página 43, veja mais detalhes do acordo com a Abraplex que permitiu a distribuição de R$ 50 milhões extras em setembro

VEJA MAIS Relembre os encontros do evento UBC Sem Dúvida: Música em Audiovisual e descubra como emplacar sua música num filme, série ou novela ubc.vc/Videos_AV


Dúvida do Associado 46

LEIA MAIS Spotify aceitará upload feito diretamente pelos artistas, em Fique de Olho (página 43)

Como é o caminho entre a execução de uma música minha num serviço de streaming e o pagamento? Revista UBC Uma vez que as músicas de sua autoria tenham sido incluídas numa plataforma de streaming — através da gravadora, de um agregador digital, no caso de Spotify, Deezer ou Apple Music; ou diretamente por você, se assim desejar, no caso de uma plataforma abastecida pelos usuários, como o YouTube —, o valor que você receberá pelos direitos autorais de execução pública através da UBC será variável mês a mês. Para calcular quanto vale cada stream, o raciocínio é simples. As plataformas pagam um valor “x” que foi previamente negociado com o Ecad. Este valor arrecadado em um determinado período é dividido pelo número de execuções no Brasil que cada música teve neste mesmo

período. Este é o valor do stream, após descontados os percentuais de administração do Ecad (10%) e da UBC (5%). Para traduzir isso em números, na distribuição de streaming de agosto passado (último dado disponível), foi pago R$ 0,000049771 por cada stream/visualização pelas visualizações feitas em março deste ano no YouTube em sua modalidade gratuita e dependente de anúncios (ainda não existia o serviço premium lançado no Brasil em setembro). Essa cifra é tão longe de um centavo que, para atingir essa rara moedinha, cuja produção já não existe e cuja circulação vai pelo mesmo caminho, seriam necessárias 200 execuções de uma obra. No caso da modalidade premium (por assinatura) do Spotify,

pelas visualizações de abril, o valor por stream foi de R$ 0,000499407. Ou seja, a tal obra teria que ser executada 20 vezes para alcançar o mesmo R$ 0,01. Já na modalidade gratuita do Spotify, cada stream rendeu R$ 0,000030301 - 330 execuções renderam R$ 0,01. Como se vê, os rendimentos da modalidade premium são efetivamente melhores. Feitos os cálculos, a distribuição é feita aos autores de forma direta quatro vezes por ano — em fevereiro, maio, agosto e novembro. O que cada um tem a receber aparece num extrato à parte, já que são tantas as linhas com informações sobre valores tão baixos que se gerariam muitas páginas. Você pode encontrar o demonstrativo dos serviços digitais dentro do Portal do Associado.

E você, tem dúvida? Entre em contato com a UBC pelo e-mail atendimento@ubc.org.br, pelo telefone (21) 2223-3233 ou pela filial mais próxima.


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