PELO PAís 30
Aí vieram a popularização para além das “fronteiras” dos subúrbios, a sincronização de raps em filmes e novelas, o licenciamento de nomes, o lançamento de marcas de roupas e acessórios, canecas, chaveiros, objetos em geral... Em outubro passado, só para citar um em muitos exemplos, o astro paulistano Rappin’ Hood se tornou um dos mais recentes a emprestar seu nome a uma coleção de moda urbana.
QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA Um dos mais destacados rappers da atualidade no país, o brasiliense Hungria — 4,1 milhões de inscritos e mais de 800 milhões de visualizações de seus clipes no canal oficial do YouTube — é um símbolo deste novo momento. Com uma sonoridade eclética e flertes até com o sertanejo, ele chuta para lá os purismos e diz que atingir a elite não é demérito ou traição às origens; é questão de sobrevivência. “Nas baladas de baixo padrão ou alto padrão, todo mundo dança. As pessoas ficam presas mentalmente às questões originais. Claro que a voz da periferia é protesto, mas a gente tem coisa boa para ser falada também”, ele prega. “Eu canto rap por amor. Mas o reconhecimento e o retorno financeiro são importantes. Não temos que ser quebrados de grana para fazer o que fazemos.”
RESPEITA AS ‘MINA’ Não precisa nem de pesquisa. Basta olhar os lançamentos, as reportagens, os canais do YouTube para saber que o rap brasileiro tem mais manos do que minas na linha de frente. Apesar de ter no DNA a luta por direitos iguais em todas as instâncias, é comum ouvir raps que falam apenas com os manos ou assistir a clipes em que o papel das mulheres é corroborar o poder dos MCs machões, pegadores e milionários. Algumas iniciativas, como o projeto “Homens do Hip Hop pela Não Violência Contra as Mulheres”, chamam os rappers para conversar sobre machismo e tentam conscientizá-los em questões que vão além da música. Enquanto isso, minas como Karol Conka, Flora Matos, Kmila CDD e Bebel Du Guetto não esperam cortesia masculina e metem o pé na porta para dizer que a visão feminina é necessária para que a cultura hip hop continue em crescimento. Elas não estão sozinhas. Mulheres como Mikaelli Pinna, a Mika, de 26 anos, também querem parte desse bolo bilionário. Há nove anos no hip hop, Mika abriu uma microempresa e um estúdio de criação para estampar canecas, blusas, calças e outros produtos customizados com as cores do grafite. “Vi que alguns caras faziam roupas e vendiam camisas. Eram legais, mas enormes e direcionadas aos homens. Decidi criar a minha marca com roupas para o público feminino”, diz a grafiteira.
Quero transformar vidas, denunciar injustiças e, por que não?, ganhar dinheiro e curtir.” Coruja BC1