+ A MELHOR ESTRATÉGIA PARA LANÇAR SUA MÚSICA + CRISE IMPACTA DISTRIBUIÇÃO DE SHOWS + ALCEU&ELBA&GERALDO, CAZUZA, WADO, SCALENE
REVISTA DA UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES #30 / NOVEMBRO 2016
GUILHERME ARANTES FÁBRICA DE SUCESSOS NOS 40 ANOS DE CARREIRA, O COMPOSITOR FAZ UMA VIAGEM AONDE TUDO COMEÇOU, REPASSA GRANDES MOMENTOS DO POP E ANALISA OS FENÔMENOS DE MASSA DA NOSSA MÚSICA
Foto: Jorge Bispo
@ MAIS VISTO PAULINHO MOSKA goo.gl/w6jv51 AGOSTO / SETEMBRO / OUTUBRO 2016 A partir desta edição, apresentaremos a cada número um resumo do que mais repercutiu na seção de Notícias do site da UBC (www.ubc.org.br), na nossa newsletter e nas redes sociais. Ao longo das reportagens, confira também conteúdos extras sobre os temas da revista que você pode ler na nossa página na internet. Informe-se, opine, curta e navegue na UBC, tanto no papel quanto no mundo digital.
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AGORA É A HORA
THALLES ROBERTO
CANTADO
M
AGORA É QUE SÃO
REVISTA DA UNIÃO BRASILEIRA DE ME DÁ UM COMPOSITORES DINHEIRO AÍ #30 : NOVEMBRO 2016
ELAS
EDITORIAL
+ A MELHOR ESTRATÉGIA PARA LANÇAR SUA MÚSICA + CRISE IMPACTA DISTRIBUIÇÃO DE SHOWS + ALCEU&ELBA&GERALDO, CAZUZA, WADO, SCALENE
Por Manno Góes
Qua que ad e vo pa a de n a ca e a de Gu he me A an es se a "h make " "gen a " ou "b han e" o na se edundan emen e ág d an e da d mensão e da a mos e a que pe me a o s gn cado do seu nome Nos seus 40 anos de ca e a o a aduz em suas canções necess dades pa xões e v b ações de ge ações
REVISTA DA UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES #30 / NOVEMBRO 2016
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GUILHERME ARANTES FÁBRICA DE SUCESSOS
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NOS 40 ANOS DE CARREIRA, O COMPOSITOR FAZ UMA VIAGEM AONDE TUDO COMEÇOU, REPASSA GRANDES MOMENTOS DO POP E ANALISA OS FENÔMENOS DE MASSA DA NOSSA MÚSICA
Es a ed ção az a nda mpo an es n o mações sob e as consequênc as da c se que a nge o pa s e que nev ave men e a ng a o se o Po ém a UBC encon a se o m s a e p epa ada pa a en en a os mpac os e ans o mações man endo com seus au o es e assoc ados uma e ação de con ança comp ome men o e esponsab dade V da onga à UBC
NOTÍCIAS : UBC/5
4/UBC : NOTÍCIAS
NOTÍCIAS : UBC/7
6/UBC : NOTÍCIAS
NOVIDADES NACIONAIS REPERTÓRIO DE CAZUZA DE VOLTA À UBC
O AXÉ DE WADO
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'O ÚNICO COMPROMISSO ERA SE DIVERTIR E DIVERTIR NOSSOS AMIGOS'
Se pudessem programar uma máquina para voltar a um tempo melhor - musicalmente, mercadologicamente -, que tempo seria esse? Malásia: Meu período favorito da música está entre 1966 e 1982. Foi quando surgiu ou se consolidou a maioria dos estilos musicais que eu admiro. Mas a década de 90 também é muito interessante. O foco musical da Ultramen é bem variado. Todo mundo que ouviu “Robot Baby”, a nossa mais nova música, achou que queríamos soar como o Daft Punk, mas nossa referência nesta música é o Zapp. Este grupo de funk eletrônico é do início da década de 1980. Qual a diferença entre o Ultramen de 2008, quando foi gravado o pacote, e o de 2016? O fato de todos terem uma vida profissional e pessoal sem ter a Ultramen como um “trabalho” foi muito benéfico. Todos amadureceram e voltaram para a banda com mais experiência e alegria.
BANDA COLHE FRUTOS DE SUPEREXPOSIÇÃO NA MÍDIA, QUE OS CATAPULTOU AO MAINSTREAM
Assista a Cazuza em apresentações memoráveis
Eles se conheceram na escola, sempre foram independentes e, apesar de terem ganhado visibilidade nacional após chegar à final do programa “SuperStar”, da Globo, no ano passado, mantêm a atitude cool de quem está começando. O Scalene é uma novidade esperta da cena roqueira brasiliense e garante ter vindo para ficar. "Resolvemos montar uma banda por diversão. Tiramos no palitinho quem ia tocar qual instrumento e começamos a ensaiar. Em 2011 realmente começamos a levar a banda como um projeto de vida", conta, brincando, Tomás Bertoni, o guitarrista e tecladista da banda que ainda é formada por Gustavo Bertoni (guitarra e voz), Lucas Furtado (baixo) e Philipe ‘Makako’ (bateria e voz).
FESTIVAL DE TALENTOS BRASILEIROS
E entre esses dois momentos e o de 1991, quando tudo começou? Nem dá para comparar. A Ultramen começou há 25 anos, e nossas cabeça, atitude e habilidades musicais eram muito diferentes na época. No período que vai dos primeiros ensaios até o primeiro disco, a banda viveu intensamente o circuito alternativo e tinha um lado musical muito experimental. A partir da gravação do álbum, ficou tudo mais profissional, e aumentou a responsabilidade. Lá no começo, o único compromisso era se divertir e divertir nossos amigos. Que inquietudes vocês ainda tem? Os tempos complexos que vivemos hoje, no mundo e, não menos importante, no país inspiram novas letras e músicas? A Ultramen sempre teve uma postura de só fazer o que queria, desde que aprovado pela maioria dos integrantes, e tinha um equilíbrio entre letras nonsense e sérias. Com a evolução da banda e da vida, este lado sério ficou mais evidente. É claro que as coisas da vida influenciam na música que fazemos. Estamos em processo de composição e, em breve, saberemos como essa nova fase vai soar. Fazer música alternativa há 25 anos fora do eixo é… Normal. Na verdade, penso que essa coisa do eixo é meio ilusão. Moro em São Paulo há mais de oito anos, e as dificuldades de ter banda e viver de música autoral aqui são as mesmas de sempre. Viver no Rio Grande do Sul é uma dificuldade em termos logísticos para fazer shows na região Sudeste, mas, por outro lado, é muito mais fácil gravar e fazer a música chegar às pessoas graças às plataformas e tecnologias de hoje em dia. Ao mesmo tempo em que estamos longe demais das capitais, estamos perto das pessoas que têm interesse no nosso som.
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O ano foi de colheita farta para um punhado de artistas que expandiram suas fronteiras e brilharam em festivais mundo afora. Só para citar alguns, tivemos O Terno e Mahmed com shows memoráveis no Primavera Sound, na Espanha, em junho. No mês seguinte, a maranhense Soulvernir ganhou um palco especial no festival NOS Alive, de Portugal, depois de vencer um concurso de novos talentos no Brasil. Antes, em março, a Supercombo, revelação do programa da TV Globo “Superstar”, dividiu o palco com Negra Li no Lollapalooza. E os potiguares do Far From Alaska (foto) arrasaram na primeira edição do prêmio International Midem Awards, conferido em junho no megafestival e feira de música que acontece anualmente em Cannes (França). Eles concorriam com 11 nomes de todo o mundo e saíram de lá com o prêmio We Are The Future, para novos talentos. Parabéns a todos!
'VINHO ANTIGO' E CHEIO DE SURPRESAS
DE QUEM É ESSE “LELEK”? Na edição passada, em reportagem sobre a fábrica de gírias do mundo do funk (“Mas, quando toca, ninguém fica calado”), publicamos que a autoria da música “Passinho do Volante” era compartilhada por MC Federado, Paulo Cesar, Allan Johnson e Lelek. A informação foi contestada por nosso associado Edimar Pedro Santana, que está na Justiça alegando a autoria. Então fica o registro: a obra está bloqueada devido à ação de disputa, e a autoria ainda não foi definitivamente reconhecida.
Assista ao clipe de “Robot Baby”
Com uma agenda de shows de dar inveja a qualquer artista veterano, eles têm rodado o país com a turnê que ganhou registro no DVD “Scalene - Ao Vivo em Brasília”. Gravado na Arena Lounge do Estádio Nacional, o trabalho traz hits deles, como “Surreal”, “Amanheceu”, “Histeria” e “Legado”, que se revezam com as recém-lançadas “Inércia” e “Entrelaços”.
“Sonho de Ícaro”, “Meu Mel”, “Vinho Antigo” e outros sucessos de Byafra ganharam uma bela repaginada num projeto que estreou em julho no Rio. Em parceria com a orquestra Pop Camerata, da UFRJ, o cantor e compositor uniu seu repertório a violinos e instrumentos de sopro e também revisitou canções como “Todo Sentimento”, de Chico Buarque, “Um Dia, Um Adeus”, de Guilherme Arantes, “Cais”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, “August Wing” (Sting) e “Something” (Beatles). Depois da apresentação de estreia no evento Noites Culturais da Sala Baden Powell, em Copacabana, o projeto “Em Concerto” deve viajar pelo país. “As músicas populares ficam com um sabor de música erudita, e eu, como gosto dos dois lados musicais, me delicio com o resultado”, afirmou Byafra.
O que mudou na vida profissional de vocês após a participação no programa 'SuperStar'? Scalene: Foi uma grande exposição e nos permitiu criar parcerias e estruturas pra seguir fazendo o que fazíamos, mas em novas proporções.
SÉRGIO LOPES SE PREPARA PARA LANÇAR COMPILAÇÃO
DISCRETAS HOMENAGENS AOS 100 ANOS DE UM MESTRE
O que uma música precisa ter para entrar no repertório de vocês? A música tem que significar algo relevante, fazer sentido dentro do disco e desafiar o ouvinte. O que inspira vocês a comporem? Tudo! Acontecimentos mundiais, outras músicas, seriados, filmes, livros. Angústias, frustrações, reflexões. Falamos sobre bastante coisa. De quem foi a ideia do documentário "Em busca do Éter" (que mostra os bastidores da produção do segundo álbum da banda, “Éter”). Como foi o processo de gravação? A ideia foi do diretor, Guilherme Guedes. Foi feito sem verba nenhuma, nossos amigos editaram, mixaram e produziram tudo. Por sorte o canal BIS comprou o doc, e o Guilherme pôde pagar a galera. Foi uma honra ter tanta gente boa e inteligente vestindo a camisa pelo projeto. Por Fabiane Pereira
Desde o final dos anos 1970 envolvido com música e teatro, enquanto cursava paralelamente uma carreira militar, o compositor Sérgio Lopes se prepara para apresentar uma compilação do melhor de sua obra. Foi há exatos 30 anos, em 1986, que ele lançou a primeira música, gospel, “Agora Posso Crer”, premiada no I Festival da Música Sacra. De lá para cá, foram dezenas, primeiro com o grupo Altos Louvores, depois em carreira solo, iniciada em 1990 com o hit religioso “Nossos Dias”. Desde 2001 como missionário, já viajou aos Estados Unidos para apresentações e foi diversas vezes premiados pelos seus sucessos evangélicos. Seu mais recente álbum de estúdio, pela Sony, foi “Coração Discípulo”, lançado em 2014.
Fundacional e, ao mesmo tempo, pouco conhecido, o violonista Dilermando Reis teve seu centenário de nascimento celebrado discretamente no último mês de setembro. Sucesso por mais de 30 anos na Rádio Clube do Brasil e na Rádio Nacional, o associado da UBC teve entre seus fãs Juscelino Kubitschek e sua filha Márcia. Autor de valsas e choros, compôs e gravou mais de 120 músicas, além de ter interpretado magistralmente outras 130 de compositores diversos. De acordo com reportagem publicada por ocasião da efeméride no jornal “Folha de S. Paulo”, estudiosos da música instrumental brasileira equiparam João Pernambuco, Garoto e Dilermando, numa espécie de tripé que estabeleceu as bases do violão brasileiro. O lançamento do CD “Dois Destinos: Marco Pereira Toca Dilermando Reis” é a celebração de maior peso ao mestre, cujas homenagens ficaram aquém do seu talento e da sua importância.
O NOVO
HIT DA MÚSICA ENTENDA COMO ESTAR NO MUNDO DIGITAL – E USAR OS NÚMEROS A SEU FAVOR: SÃO PASSOS IMPORTANTES PARA UMA CARREIRA BEM-SUCEDIDA De São Paulo
Growth hacking, branding, interação com fãs, targets, publicidade comportamental... Sim, leitor, isto é uma reportagem sobre música. E sobre como ter uma presença independente na avassaladora era digital. Sem ter, pelo menos, noção do que são os termos acima e, principalmente, sem entender que a internet não é só aquele lugar onde a pirataria ganhou escala interplanetária mas é, também, a solução para a crise aparentemente sem fim do mercado musical, não dá para ir muito longe. “As gravadoras ainda têm um papel nesse jogo... desde que você seja um artista grande. Ainda assim, esse papel é cada vez menor. Elas não investem mais. Isso é o que mudou tudo. Elas pegam alguém que já tem um nome, mesmo que ainda pequeno, e o faz crescer. Então, é o artista que tem que lançar essa máquina. Ninguém vai fazer isso por ele. A boa notícia é que nunca foi tão fácil e barato quanto agora”, ensina Jacques Figueras, músico e produtor cultural ganhador de dois prêmios Grammy pela produção do álbum “Song For Maura”, de Paquito D’Rivera e Trio Corrente, e criador do blog O Assunto é Produção, em que ajuda os artistas a entender melhor o novo cenário musical.
04-05
MERCADO : UBC/9
8/UBC : MERCADO
MARKETING REDES SOCIAIS: NÃO DÁ PARA ESTAR FORA DELAS Como outros especialistas em marketing, ele prega que os artistas devem se anunciar. Assim, diretamente, sem meias palavras. Mas com inteligência. É preciso investigar o público-alvo (o target ali do parágrafo inicial) e atacar, com base no comportamento dele. Para isso, o ponto de partida fundamental é estar nas redes sociais. Não dá para escapar. Esqueça as fotos de viagens ou dos lindos pratos que você adora degustar – ou não esqueça nada disso, faça o contrário e invista ainda mais nessas maravilhas da era contemporânea. Mas, o que quer que faça, que seja com base em números. Dados. É fácil obtê-los. Há muitas ferramentas de medição de audiência. Dezenas. Centenas. Elas usam um pedacinho de um conceitopalavrão para muitos, o big data, ou análise de dados de larga escala, e contam em pormenores o que mais “bombou” junto aos seus seguidores. Sabendo que seu fã gosta de fotos de camarins ou encontros de bastidores de gravações, por exemplo, é hora de pôr a criatividade (você é um artista ou não é?) para trabalhar e produzir materiais personalizados, diferentes, atrativos. Promover encontros com outros artistas, com fãs, fazer promoções. Tudo isso cria engajamento e fideliza. Um lançamento exclusivo no canal do YouTube, ligado ao Facebook e promovido pelo Twitter e pelo Instagram: pronto, em uma única tacada você faz a roda girar sem gastar muito e atingindo um número razoável de pessoas. O importante, pregam os especialistas em marketing, é ter sua presença digital em sintonia. Nada de divulgar uma coisa no Facebook, outra totalmente diferente no Snapchat, e assim por diante. Seja – e pareça – coerente e integrado. “Não acho que músico tenha que aprender jargão de marketing. Nem um pouco. O único conceito importante não tem nome para decorar e é o seguinte: hoje você deve se dedicar ao seu fã em primeiro lugar. Se, antigamente, o músico se preocupava em negociar com as gravadoras, negociar com a imprensa, com apoiadores influentes, com rádio, TV, hoje ele tem de dedicar a maior parte do tempo a falar e monetizar com o fã. Só isso”, prega Mauricio Bussab, sócio-fundador da Tratore, a maior distribuidora de música independente do país. (Pelo sim, pelo não, a gente continua a apresentar a você, caro criador, mais conceitos de marketing. Vai que…)
06-07
NOTÍCIAS : UBC/11
10/UBC : NOTÍCIAS
CAPA : UBC/13
12/UBC : CAPA
CAPA : UBC/15
14/UBC : CAPA
NOVIDADES INTERNACIONAIS INFORMAÇÃO É A BASE DE TUDO
EUROPA DISCUTE PACOTE DE MEDIDAS PARA PROTEGER DIREITOS AUTORAIS
Conforme as suas ações forem dando retornos (números, números!), você acumulará dados para aplicar o chamado growth hacking, uma expressão que soa a coisa proibida mas que é uma das chaves do sucesso do marketing 2.0 (sim, o da internet). Também chamado de estratégia de posicionamento, o conceito é um termo que abarca diversas práticas. E que requer, basicamente, a tal análise dos dados (colhidos pelos tais aplicativos, muitos gratuitos, ou, se você já é um peixe graúdo, por empresas caras e cada vez mais especializadas nisso). Tudo combinado com criatividade (para bolar novas estratégias) e pensamento analítico. Soa complicado?
A Comissão Europeia, órgão executivo dos países do bloco continental, anunciou em meados de setembro um pacote de medidas para proteger os direitos autorais que foi bem recebido por criadores – e produtores de conteúdo cultural e informativo em geral – e que, se aprovado, pode representar um novo olhar sobre as relações (essencialmente desiguais) entre autores e megausuários como Google/YouTube, Apple e Facebook. A resposta europeia a um problema que ganha proporções cada vez maiores – as preocupantes distorções no pagamento dos criadores pelo uso de suas obras – veio exatos dois meses depois de o presidente da comissão, Jean-Claude Juncker, receber uma carta assinada por milhares de artistas denunciando a injustiça da “política dos centavos” promovida por YouTube, principalmente, mas também por Spotify, Apple Music e outros serviços de streaming, que, sabidamente, pagam muito pouco aos compositores. Além de obrigar os grandes usuários a rever o percentual repassado aos criadores, o objetivo da União Europeia é permitir uma cota máxima de conteúdos ilegais em ferramentas como o YouTube, que se encastelou na alegação de que é um simples portal “colaborativo” e não tem tomado medidas satisfatórias para remover material pirata. A forma de pressão viria através de pesadas multas e, em casos extremos, até mesmo pela proibição de atuação em território europeu. Não será, porém, uma mudança rápida. O projeto terá de passar por votação no Parlamento Europeu e também tramitará na burocracia do Conselho Europeu, levando “diversos meses” para ser implementado, caso aprovado, o que demandaria adaptações também nas diferentes leis nacionais dos estadosmembros da União Europeia. As tratativas para o anúncio do chamado Copyright Package (pacote de direitos autorais) levaram três anos.
“Isso não é mais uma desculpa. Hoje em dia dá para fazer tudo isso no celular”, diz Figueras. “Uma coisa fundamental é entender que, se você não divulgar sua música, nunca vai ser famoso. Porque você sempre é famoso ou interessante para alguém. Seja no seu prédio, na sua cidade, no seu estado. Tem que descobrir onde e divulgar para eles. Começar pequeno e crescer. Esse processo é demorado, e a melhor coisa a fazer é começar ontem ou, no máximo, hoje.”
Por muito tempo vocês foram artistas independentes. Quais as principais dificuldades que destacam neste mercado? A dificuldade não vem do fato de ser independente, mas do mercado em si, que é difícil e competitivo. De forma independente você pode se estruturar tão bem quanto qualquer artista que tem uma gravadora.
Foto:Breno Galtier
Há 25 anos surgia um sopro de bem-vinda novidade no cenário plural e vibrante da música de vanguarda da capital gaúcha. Roqueiros, eletrônicos, pop, reggaeiros, sambistas, MPBistas, soulmen... Difícil definir o som variado do Ultramen com apenas um rótulo. A banda foi e continua a ser orgulhosamente experimental, joga (muito bem) nas onze e agora, com um quarto de século de estrada, resgata um DVD ao vivo jamais lançado, “Máquina do Tempo”, gravado em 2008, antes de um hiato de sete anos. Entre as canções, que passeiam pelos melhores momentos do grupo, há uma inédita, “Robot Baby”, uma deliciosa mistura de funk (setentista) e música eletrônica. O show de lançamento será dia 24 de novembro no Bar Opinião, em Porto Alegre. Confira o papo do percussionista Malásia com a Revista UBC.
Foto: Ricardo Lage
BANDA GAÚCHA ULTRAMEN CELEBRA 25 ANOS MULTIRREFERENCIADA COMO SEMPRE E MAIS MADURA DO QUE NUNCA
SCALENE
Você já ouviu muita gente desmerecendo o axé. O pernambucano Wado não é um deles. Com DNA roqueiro, ele saiu há muito tempo da sua zona de conforto e vem fazendo discos em que explora, de modo cerebral, sofisticado, sons marginalizados ou esnobados pela intelligentsia nacional. Em “Ivete”, seu mais recente lançamento, Wado destrincha o axé, mas não só. Afoxés, ijexás e outros ritmos afro-bahianos compõem um trabalho maduro que conta com parcerias como Marcelo Camelo (“Você Não Vem”), Zeca Baleiro (“Mistério” e “Nós”) e Moreno Veloso (“Um Passo À Frente”). “Demorei para sair do punk. Mas só não me aproximei da música brasileira de cara porque eu não tinha aporte técnico. Os acordes são mais elaborados. Hoje acho o axé mais punk que o próprio punk”, disse o músico e compositor ao diário “Folha de Pernambuco”.
Os administradores da obra de Cazuza e a UBC celebraram um acordo em agosto que traz de volta a obra do compositor para ser administrada pela nossa associação. Com quase 200 composições e 230 participações em gravações, Cazuza traduziu como poucos artistas os anseios, as dores e delícias da sua geração e deixou marcado para sempre seu nome no pop nacional. “Confio muito no trabalho do Marcelo (Castello Branco, diretor-executivo da UBC) e, quando ele me convidou para voltar, eu nem pensei duas vezes. Com a UBC teremos um reconhecimento maior, e essa mudança certamente vai trazer uma gestão mais eficiente do legado”, celebra Lucinha Araújo, mãe do cantor.
No caso do growth hacking, os caras à frente dessas análise enorme de material são os growth hackers, ou estrategistas de posicionamento. São bons no uso de técnicas de otimização de motores de busca ou de análise de engajamento, analíticas de sites e redes sociais, publicidade na internet... A partir da necessária descoberta do que querem os fãs, eles pensam nas melhores maneiras de apresentar conteúdos novos. À medida que você for se especializando em certos conteúdos, notará que terá dado passos largos na direção do chamado branding, ou seja, na criação de uma marca sedimentada. É o objetivo máximo de um especialista em marketing (de um músico do século XXI?): fazer com que o nome do artista seja logo associado a algo. Um exemplo bem acabado disso é o dos associados do Teatro Mágico, que construíram uma excelente relação direta com os fãs na rede (Facebook) e na vida real, em shows sempre lotados e cheios não mais de fãs, mas de seguidores. Na hora de se comunicar com o público na rede, é sempre desejável fazê-lo diretamente. Ser muito ocupado não é desculpa. Você pode não querer apostar nas múltiplas estratégias de branding do Teatro Mágico, mas fazer como Hamilton de Hollanda ou a banda O Terno, que têm contato direto e personalizado com o público nas redes, já é um tremendo acerto. Há inúmeros outros casos de artistas com carreiras bem estruturadas, grande quantidade de shows etc. que encontram tempo para falar com os fãs pelas redes. Isso cria uma fidelização que nenhum assessor de marketing poderá reproduzir. “O antigo modelo setentista do músico doidão que ficava em casa enquanto uma equipe da gravadora fazia tudo por ele acabou. Hoje o artista de sucesso é o que arregaça as mangas, se promove, acha oportunidades para aparecer. Muitos são resistentes a isso porque acham que a música fala por si. O que é bonito, mas não é verdade”, pondera Bussab. “O bom artista se preocupa com o fã, me conta histórias do que ele está fazendo com financiamento coletivo, que ações ele está fazendo nas redes sociais, como ele está trabalhando o vídeo com a base de seguidores. Como ele está marcando shows em lugares inusitados, como ele está alavancando os municípios e estruturas coletivas para tocar mais. Não estou falando só de tecnologia. Existem artistas que estão mapeando teatros no interior dos estados e construindo um circuito de shows, já que nas capitais está muito concorrido marcar. O artista que não quer saber de falar com o fã, que não quer inovar, este vai ficar para trás.”
UM ALIADO 'ANTIGO' E EFICAZ Outra maneira de entregar novidades aos seguidores que parece antiga mas é muito eficaz é o e-mail marketing, ou a newsletter. Colete os contatos dos fãs na sua fan-page e estabeleça esse contato direto. Mas sem abusar. Estudos mostram que e-mails e mensagens personalizados vindos dos artistas costumam ser bastante abertos. Como saber se funcionou? Oras, as ferramentas de medição estão aí para isso. Uma coisa é importante ter sempre em mente, em meio a esse mar de nomes gringos e conceitos que, aparentemente, fogem da seara do músico: você não está sozinho nessa travessia do deserto digital. Use e abuse dos aplicativos métricos e analíticos. Com o tempo você ficará craque em oferecer conteúdos cada vez mais certeiros. “Até há pouco tempo, você precisava necessariamente de uma TV Globo, de um rádio ou de um jornal para divulgar seu trabalho... Custava caro, e você não tinha nenhum controle sobre isso. Agora, com seu celular você consegue atingir o mundo inteiro com sua música. Basta entender a regra do jogo. E acho que vale muito a pena entrar nesse jogo”, analisa o criador do canal O Assunto é Produção. “Colocar esses temas nas mãos de alguém, sem tomar conhecimento, é garantia de ficar parado no mesmo lugar.”
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Os erros nas relações dos artistas com os fãs na internet
BOB DYLAN, GOOGLE SE MEXE PARA COMBATER FAMA DE FACILITADOR DA PIRATARIA Tido como um dos maiores veículos para a exposição de conteúdos piratas no mundo, o Google resolveu investir em propaganda para provar que “tem tomado medidas de impacto para combater o uso ilegal de conteúdos”. Em setembro, o gigante americano lançou um site que mostra, em tempo real, relatórios de remoção de páginas com base em infrações de direitos autorais variados, sejam audiovisuais ou de conteúdos escritos. “O Google recebe regularmente pedidos para remover conteúdos que possam infringir direitos autorais. Esse relatório fornece dados sobre pedidos de remoção de resultados de pesquisa que apontam para tais materiais”, explicou a empresa em comunicado. No início de outubro, segundo o contador, havia sido removido mais de 1,8 bilhão de URLs em 902 mil websites. Por meio do link google.com/ transparencyreport/removals/copyright é possível solicitar remoções de material ilegal e acompanhar o processo.
MP3 APLICATIVO QUE “RIPA” VÍDEOS ENTRA NA MIRA DE GRAVADORAS AMERICANAS E BRITÂNICAS
PROJETO DE LEI BRITÂNICO PREVÊ ATÉ DEZ ANOS DE CADEIA PARA PIRATARIA O governo britânico encerrou em setembro a consulta pública de um projeto de lei que endurece as punições para quem gerar e reproduzir conteúdos piratas na rede. Usuários de internet que compartilharem arquivos piratas poderão pegar até dez anos de cadeia, contra os dois anos atualmente previstos na legislação – e que, por representarem uma espécie de teto para prisões alternativas segundo a jurisprudência do país, acabam sendo frequentemente comutados em pagamento de multas e serviços comunitários. A nova lei, Digital Economy, ou economia digital, tramita no Parlamento britânico e é patrocinada por uma entidade antipirataria, a FACT, que alega que o roubo no mundo virtual deve ser tão severamente castigado quanto o do mundo real. Não há previsão de votação da nova norma.
Um popular aplicativo gratuito para “ripar” (copiar trechos) de vídeos do YouTube, transformando-os em arquivos de música, está na mira da indústria fonográfica de Estados Unidos e Reino Unido. A poderosa Associação da Indústria Fonográfica Americana (RIAA, na sigla em inglês) e sua equivalente britânica, a BPI, estão processando na Justiça dos Estados Unidos os responsáveis pelo aplicativo YouTube MP3, que dizem facilitar a propagação de conteúdos piratas e, consequentemente, a violação de direitos autorais. Usado, segundo a denúncia, por milhões de pessoas em todo o mundo, o aplicativo transforma vídeos em arquivos musicais quase instantaneamente, uma etapa importante para a republicação pirata do conteúdo, alegam os demandantes. As duas entidades pedem multa de US$ 150 mil, máximo permitido na atual legislação americana para esses casos, além do fechamento do aplicativo.
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Discurso de T Bone Burnett emociona ao pedir valorização do compositor
08-09
UMA NOVA-VELHA MANEIRA DE FAZER POESIA
PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA CONCEDIDO AO COMPOSITOR SUSCITA DEBATE, LANÇA OUTROS 'CANDIDATOS' À LÁUREA E MOSTRA, SEGUNDO ANTONIO CICERO, UM REENCONTRO DAS LETRAS COM SUAS ORIGENS
Quarenta anos de carreira solo são coisa à beça. Já dá para fazer um balanço bem razoável, não?
Meio brincando, meio a sério, já surgem apostas em grandes nomes da música mundial para as próximas edições do Prêmio Nobel de Literatura depois da surpreendente escolha de Bob Dylan no mês passado. Pela primeira vez na história entregue a um compositor de letras e acordes cuja produção musical – 69 álbuns – é incomparável com a “literária” – dois livros, sendo um deles de memórias – , a láurea mais pop do planeta dá sinais de estar se abrindo a novas (novas?) expressões literárias. “Sabe-se que o primeiro grande poeta da tradição ocidental, Homero, cantava seus poemas para seu público. Assim também faziam os poetas líricos, que tocavam a lira enquanto cantavam. Ou seja, a grande poesia da Grécia Antiga era letra de canções. E essas letras são alguns dos maiores poemas da literatura. Por que, então, fingir que não há, também hoje, grandes poemas na forma de letras de canções?”, provocou o associado da UBC Antonio Cicero, ele próprio um grande letrista e poeta, em entrevista ao diário carioca “O Globo”. “Aqui no Brasil, basta mencionar canções de poetas como Noel Rosa, Dorival Caymmi, Caetano Veloso ou Chico Buarque”, continuou. Como o prêmio concedido anualmente pela Real Academia Sueca só contempla pessoas vivas, poderiam os dois últimos estar no páreo para os próximos anos. Ou, como revelou o serviço em espanhol do conglomerado de mídia inglês BBC, depois de uma pesquisa com leitores e críticos, também o cubano Silvio Rodríguez ou o argentino Facundo Cabral. Possibilidade que irrita os muitos críticos que vieram a público desde o anúncio para atacar o prêmio dado ao compositor americano. Um personagem da cultura global que, praticamente desde que surgiu, se diz poeta e cujo sobrenome artístico (o real é Zimmerman) teria sido adotado em homenagem ao poeta americano Dylan Thomas. “Se Bob Dylan é um poeta, sou um jogador de basquete”, atacou o estadunidense Norman Mailer, certa vez. Assim como ele – que morreu em 2007, sem o Nobel – fazia, outros escritores, como o americano Philip Roth ou o japonês Haruki Murakami, eternos candidatos, esperam sua vez. Isso se Chico ou Rodríguez deixarem...
1989
'EU ERA A BOLA DA VEZ' 1982 Por Alessandro Soler Guilherme Arantes é dono de uma memória prodigiosa. Crava datas, locais, até mesmo horários de encontros importantes para sua carreira. Reconstrói diálogos tal como foram proferidos – ou, ao menos, assim lhe parece. Recita nomes – de parceiros, eventos, músicas, bandas – com fluidez. Tudo nele é rápido, urgente. Se não for interrompido, emenda um fluxo contínuo de ideias, digressões. Não surpreende que, ao celebrar seus 40 anos de carreira (descontados os dois como um dos cérebros da banda de rock progressivo Moto Perpétuo, surgida nos corredores na Faculdade de Arquitetura da USP, onde estudou), ele tenha planejado e guiado à minúcia a produção de um farto material que pretende definitivo. Além de uma caixa com os relançamentos remasterizados de seus 21 LPs e de inúmeros singles, a cargo da Sony, um documentário de cerca de sete horas e em sete episódios divididos cronologicamente e uma considerável agenda de shows celebrativos, publicará uma minibiografia, uma carta escrita de próprio punho para acompanhar o material
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UM DOS MAIORES PRODUTORES DE HITS DO POP BRASILEIRO, GUILHERME ARANTES CELEBRA 40 ANOS DE CARREIRA E, NUM LONGO PAPO COM A REVISTA UBC, ANALISA SUA ASCENSÃO METEÓRICA, O APAGAR DOS HOLOFOTES, AS TRANSFORMAÇÕES DO MERCADO NESTAS DÉCADAS E O RENASCIMENTO DA MÚSICA DE VANGUARDA URBANA
e relembrar passagens marcantes que resumem, a um só tempo, sua própria vida, sua carreira e um pedaço importante da história recente da música brasileira. Neste papo com a Revista UBC, editado num esquema de perguntas e respostas para que o leitor possa ter uma ideia de como funciona a mente ágil e multirreferenciada de Guilherme Arantes, ele relembra suas idas e vindas pelas maiores majors do Brasil – cujo ocaso, admite, representou um golpe para sua própria carreira –, volta a falar do breve affair que teve com Elis Regina, brinca com a rivalidade artísticocultural entre Rio e São Paulo, contextualiza o momento em que surgiram alguns dos incontáveis hits que enfileirou por anos, em contínua linha de produção, reivindica um papel central na criação de uma cena musical infantil no país. E, principalmente, oferece um testemunho de alta qualidade, e em primeira pessoa, de um momento de ouro do pop e da MPB, gêneros que ele vê renascer depois de anos de uma decadência que associa ao que chama de utilitarismo ligado a movimentos como o sertanejo, o pagode e o axé.
Eu tive uma carreira muito irregular, de muitas fases e altos e baixos, com vários selos e gravadoras. Fonograficamente, fui um cara muito eclético. Comecei pela Som Livre, no início da carreira (solo), em 1976, começo forte, com bastante televisão. Depois saí para a Warner. Fiquei quatro anos lá, já num outro perfil de gravadora, com o (André) Midani… Passei pela WEA, voltei para a Som Livre, fui para a CBS, para a Odeon, para a Polygram... Estive no rock, no pop. E tive a Elis (Regina) na minha vida, me gravando, em 1980, no momento mais marcante da minha carreira, uma encomenda para ela (a canção “Aprendendo a Jogar”). Naquele momento, eu tinha a incumbência de fazer um hit para o rádio. Um hit para a Elis. A geração dela estava ficando fora da FM, que ganhava força… Então fizemos pensando nisso. Ela tinha emplacado um sucesso mediano com o “Alô Alô, Marciano”, da Rita Lee (e de Roberto de Carvalho), meses antes. Mas precisava se firmar. Estava numa fase difícil de carreira, teve problema em Montreux (segundo os registros da época, a cantora não gostou da sua apresentação no mítico festival suíço)… O perfil dela estava atrapalhado… Foi um momento importante para ela e ainda mais para mim.
Paulista”. Ela me disse que tinha adorado e me chamou para a reunião de repertório na Odeon, no Rio. Eu não tinha dinheiro para pegar avião e fui de ônibus. Na (Rua) Mena Barreto (no bairro carioca de Botafogo), então sede da Odeon, mostrei “Só Deus É Quem Sabe”, e ela falou: “Roberto é louco, bicho, como é que não grava isso?” Pegou na hora e me encomendou um funk. Funk dos antigos, setentista, não funk de hoje... O mote da música, que brinca com ditos populares, foi proposto por ela? Foi, sim. Fomos jantar no Bar Lagoa, no Rio, e brincamos de fazer “trocadalhos do carilho” (risos). Eu, desde o colégio, já brincava disso. Quem tem amigo cachorro quer sarna para se coçar. Água mole em pedra dura mais vale que dois voando… Ela também pirava nessas coisas. Voltei com esse briefing, e a música saiu rápido. Recentemente descobri o cassete original que mandei para ela. A música foi gravada e, em uma semana, estava em primeiro lugar na FM. Foi uma coisa assim… como dizer?... Foi demais! Ela cravou essa história de que sou um hitmaker, esse carimbo… Ela disse: “você pede, ele atende, e estoura.” A Elis tinha bronca por estar de fora do ambiente da FM naquele momento. Tinha uma coerência política, filosófica, ideológica… Então estava difícil para ela estourar num mercado que sofria uma transformação. E claro que a entrada dela em primeiro nas FMs foi fundamental para mim. Me permitiu emendar outro sucesso, “Deixa Chover”. Voltei para casa e fiz a música, que cita a “Aprendendo a Jogar”, “As pessoas sempre têm a chance de jogar de novo e errar”, e é uma citação também ao affair, ao babado rápido que tivemos naquele momento. Era uma nova chance para ela jogar de novo e errar... Como foi esse affair? Teve uma história entre nós naquele momento. Elis era uma pessoa livre. A gente teve um babado. Ela avançou para cima, avançou o sinal. Eu era aquele cara jovem, cheio de energia... Saímos juntos, foi bonito, guardo com muito carinho. Eu tinha muito respeito por eles, por ela e o Cesar. Isso é importante dizer. O Cesar tinha sido o responsável por eu estar na área e me deu força como produtor, ajudando a estourar “Aprendendo a Jogar”. Que se seguiu ao Festival MPB Shell 81, da Globo, em que participei com “Planeta Água”. Foi sequência mortal, importante, que se mantém até hoje como símbolo do meu desabrochar para o mercado. Eu era a bola da vez.
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E o que veio depois? Eu tinha outra música com o Júlio Barroso, que era a “Perdidos na Selva”, já no MPB Shell 81. Fiz a pedido do Nelson Motta para a Gang 90 e As Absurdettes. Só que não assinei, porque não podia concorrer com duas no festival. Acabou sendo editada só em nome do Júlio. Anos depois ele faleceu, ficou no nome dele, não fiz questão de reverter isso aí… Eu fiz o refrão, “eu e minha gata rolando na relva…”, e alguma outra coisa. Lembra até o estilo de “Lindo Balão Azul”, que eu estava produzindo na mesma época e que inaugurou a era dos musicais infantis porque eu tomei uma atitude muito acertada. Foi a de voltar para a Som Livre num momento de estouro. O Guto Graça Mello tinha me descoberto, nos anos 1970, e eu os “traí” indo gravar com o Midani. Naquele momento de bombação, com três hits enfileirados, fui até o Guto e propus a minha volta no auge. Tinham feito “Arca de Noé”, com Vinicius (de Moraes), Edu Lobo, Chico (Buarque)… Era uma obra mais erudita, sofisticada. A proposta da Globo era fazer pop. Propus o “Lindo Balão Azul”, que vendeu um milhão de discos. Nesse momento eu me firmei como compositor que estava com a estrela. Eu tinha virado um midas. Aquele momento de música infantil durou um certo tempo...
Por quê? Eu não tinha credibilidade, não era gravado por outros que não eu mesmo. Ela gravou “Só Deus É Quem Sabe”, que eu tinha guardada e mandei para o Roberto Carlos. Ele não deu retorno. Fala de separação, coisa de casal. Ela gostou, fez um bolero, gravou de pronto. Aí pediu uma música que pudesse entrar na FM. Como a banda dela tinha acento funk muito forte, o Pedrão Baldanza era o baixista e ajudou a fazer o arranjo junto com o Cesar Camargo Mariano, que era marido da Elis. O Cesar é uma pessoa a quem devo muito. Ele incentivou a Elis a me dar oportunidade. Ela queria um compositor paulista, queria dar uma descariocada no trabalho dela. Gravou Belchior, outros paulistas… Então estava querendo dar uma puxada para a música de São Paulo. Quando ela me ligou, eu morava na Vila Mariana. Me ligou num fim de tarde em 1980. Eu tinha gravado um disco chamado “Coração Paulista”, pela Warner, meio maldito, meio de rock, feito com o Liminha. A Elis tinha me visto no “Fantástico” cantando (a canção) “Coração
1994
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Durou. Eu fiz depois o especial com o Paulo Leminski, o “Pirlimpimpim 2”, um disco de “diluição”, como se dizia. Traduzindo: um caça-níqueis, uma sequência do sucesso do “Pirlimpipim”, que marcou os 100 anos do Monteiro Lobato. Mesmo sem criar diretamente eu continuava na ponta de lança dessa história infantil. A introdução do tema de abertura do “Xou da Xuxa” (“Doce Mel”, de Claudio Rabello e Renato Correa) é igual à do “Lindo Balão Azul”. O arranjo, do Lincoln Olivetti, chupou totalmente, descaradamente, o meu. Ele mesmo me disse: “bicho, eu chupei descaradamente. Algum problema?” Eu virei: “nenhum, meu, você pode tudo.” Esse cara me deu muita força na carreira, me admirou e estimulou. Claro que não havia problema. Isso é o pop. Os Beatles faziam isso. Todo mundo se “cita” o tempo todo. Você estava podendo nesse tempo. Era amigo dos caras, influente. O que faltava? Eu buscava novos desafios (risos). Então fui para a CBS, onde tinha o Marcos Maynard, Claudio Condé, que eram um grupo
de fãs e foram muito importantes para mim. Quem me pôs lá, de certa forma, foi o Djavan. Fui fazer, no final de 1984, um show em Maceió. Apareceu o Djavan no meu camarim. Adoro ele. Uma honra. Um gênio, puta músico, hitmaker… Estava estourado, tinha feito o disco “Luz”, com gaita do Stevie Wonder… Depois lançou o “Lilás”, muito forte no pop. Foi a um show meu, conversamos no camarim, e ele disse que o pessoal da CBS me adorava e que eu deveria tentar, que eu ia me dar bem lá. Na semana seguinte, consegui o telefone da CBS e liguei para o Maynard, que era diretor artístico. O cara pulou da cadeira, “não acredito, você era quem queríamos aqui”. No dia seguinte fomos almoçar na Majórica (churrascaria no bairro do Flamengo, no Rio). Lembro dessas situações todas, muito engraçado. Dois dias depois estava assinado com a CBS e começava a produzir um disco que ia estourar total. Quando hoje eu conto a minha história, as palavras que vêm à mente são satisfação, alegria e gratidão. Não há ranço de injustiça, que eu acho um estado péssimo do artista. Sempre somei música, letra, arranjo, piano, voz e figura, a minha figura. Não me deixei manipular em momento algum. Nunca conseguiram me adulterar, sempre fui muito respeitado. Essa é a verdade. Por todos. Primeiro o João Araújo, depois o Guto Graça Mello, depois a CBS. Na própria Odeon, na Polygram… Nas majors eles sempre foram cheios de dedos para lidar comigo. Eu era figura muito definida, autônoma.
E este? Como é exatamente? É um grande documentário de sete horas de material já editado. Sete episódios de uma hora, cada um dividido em capítulos cronológicos. Conta desde os primórdios no Moto Perpétuo. Fui buscar tudo. Montei no meu estúdio, na Bahia, uma sala de estar, com sofá, biblioteca, discoteca, filmoteca, tudo que influenciou cada período. E ali fizemos. Egberto Gismonti, Taiguara, meu começo… Fala de Blondie, B52s, Police, Tears for Fears, Double, Billy Joel, Elton John… Fala de tudo que me influenciou, que me é caro, dos poetas que influenciaram, como (Vladímir) Maiakovski, Jorge Mautner… Mostro fragmentos de coisas, de obras, na sala de estar… Numa situação de intimidade numa visita à minha casa. Um projeto completamente diferente. Esse material, que vai ser lançado na íntegra no meu canal no YouTube, inclui ainda visitas que faço ao Guto Graça Mello, ao Nelson Motta, no Rio... A gente vai ao Morro da Urca contar como eram aqueles anos de Noites Cariocas, as parcerias que a gente fez… É uma história bastante interessante e vai na contramão do mercado, que tem cultura de arena. DVDs são todos iguais. O da Adele é idêntico ao do Bruno & Marrone, num certo sentido: os recursos, os apelos visuais, as luzes, as câmeras passando pelo palco, o coro de negros dançando. Ficou tudo manjado. Acho que vou abrir uma leva de documentários similares ao meu.
Em nenhum momento esse sucesso subiu à cabeça?
Quem dirige?
Eu até tive um período de temperamento, comecei a ter um temperamento meio difícil, no final dos anos 1970, em função das dificuldades do mercado, que é muito duro. Você sempre ouve do mercado que você não está com essa bola toda. Isso é uma constante para todos os artistas. “Menoshhhh” (imita sotaque carioca e ri). Há 38 anos eu não era ninguém perto do Magal, que era fodão. Quando eu chego ao começo dos anos 1980, quando a Elis me grava, eu estava por baixo. Não era ninguém comparado com o Kleiton & Kledir ou o Oswaldo Montenegro. Não estava mesmo com essa bola toda. Depois, passaram-se os anos, e lá para 1983 ou 1984 eu não era ninguém perto do Ritchie ou do Fabio Jr., que passavam o sucesso na cara. Passaram-se mais dez anos de muito sucesso. No fim dos anos 1980 eu não era ninguém perto dos caras dos gêneros populares que tinham bombado com a era do CD - Asa de Água, Netinho… Dez anos depois, não era ninguém perto do Claudinho & Buchecha. Aí descubro que em 40 anos nunca fui ninguém! (risos).
Eu fiz um coletivo, não tem uma só pessoa. São três diretores sob a minha batuta. Eu sei a história que quero contar e não quero edição alheia. Tem que estar completo. Amanhã eu morro, e não interessa o olhar do diretor. O que interessa é o olhar meu, o do público.
Você ainda tem relação com o pessoal lá do início, do Moto Perpétuo? Tenho ainda com o Gerson, com o Claudio Lucci, o meu maior parceiro ali dentro. A gente se encontrou na FAU 45 anos depois do Moto Perpétuo. O documentário mostra isso. Voltamos às origens. As pessoas vão chorar, falamos de tudo, daquela época.
Com 450 músicas gravadas, é fácil imaginar que a arrecadação de direitos autorais vai muito bem... Vai bem demais! Eu apoio 100% o sistema, o método da UBC, do Ecad…. Funciona muitíssimo bem. Não tem segredo.
E o que aconteceu a partir dos anos 1990? A crise das gravadoras impactou a sua carreira? Claro que sim, um impacto grande. É paradoxal. Por essa época surgem os gravadores digitais caseiros. Sheryl Crow, Alanis Morissette, muita gente começa a fazer disco “em casa”. Por um lado, a indústria declinava, e, por outro, a tecnologia subia. Protools, mais tarde, computadores… Essa migração foi a mais dolorosa, perdemos o modus faciendi. Metamorfose muito grande. A replicação, também, da casa dos milhões propiciada pelo CD – e, mais tarde, pela pirataria do CD – teve um impacto profundo na maneira como se passou a entender a música. É o momento do Gerasamba, que virou É o Tchan!, do Só Pra Contrariar, esse povo que inventava dança, comportamento, sexualidade, claramente já com a dança da moda, gestualidade e toda uma coisa mais caricata. Isso proporcionando vendas que a indústria nunca tinha visto. Aí vêm os Mamonas Assassinas… Há tese de que esses marcos são os fundadores da decadência da indústria musical. Foi quando a gozação, o achincalhe e o esculhambo passaram a render muito mais do que o bom comportamento, a erudição ou a inovação da linguagem, das letras, das músicas, ou até que a revolta do rock… Esses valores ficam de lado. Os sertanejos cantam que vão beber cerveja, a geladeira está cheia, e eu vou comer todas as mulheres. É uma caricatura de sertanejo, uma caricatura de forró, uma caricatura de pagode originais... O nível educacional baixo é o caldo de cultura. É uma instrumentalização da música, uma coisa utilitária, usada para vender. Usada pela indústria, e não só a musical. É consenso que o neossertanejo é usado pelo agronegócio. O axé foi usado pelo carlismo na Bahia, nos grandes shows promovidos durante os governos do Antônio Carlos Magalhães (morto em 2007). O pagode foi a trilha da inserção de uma grande massa de excluídos nas periferias das metrópoles que, de repente, podia ter conta no Itaú e fazer crediário nas Casas Bahia.
Há luz no fim do túnel? Eu vejo um cenário de reconstrução da música brasileira, que foi devastada pelo utilitarismo. O renascimento vem pelas vanguardas de uma juventude urbana e culta, insatisfeita e sempre transgressora. Está havendo uma reconstrução, com novos nomes. Eu admiro muito o idealismo dessa geração, que vem desprotegida para o mercado. Sem a proteção de um demo econômico, de uma propulsão a jato como os fenômenos de massa das décadas passadas, e sem as grandes gravadoras, que perderam o poder de corte do mercado. Cito o Tiago Iorc, um menino que não tem problema com o sucesso e não tem problema em se tornar mainstream. A nova geração tem vergonha de virar mainstream. Ele, não. Tem o Marcelo Jeneci, a Tulipa Ruiz, a Roberta Sá… Roberta Sá beira o divino. É perfeita. Tem a Tiê, que também está se atirando para o mainstream. Tem a Karina Buhr, a Karol Conka... Se perderem o restinho de medo de ser mainstream que têm, essas vão ser as pessoas que farão a virada.
ANC
LEO
1997
14-15
Do Rio
ALCEU & ELBA & GERALDO
Nesse contexto, você já não era a bola da vez. Já não era. Quando você está no auge, todo mundo adere, e você é maravilhoso. O fenômeno da aclamação é generalizado. Cada época tem seu fenômeno. Houve um momento Chico César, um momento Zeca Baleiro, um momento Lenine, Guilherme Arantes, Sullivan & Massadas, Dalto e Claudio Rabello... No sertanejo, houve um momento Sorocaba, que já passou, mas é inegável que o cara é um hitmaker... O normal não é o sucesso retumbante. A normalidade é o dia a dia, o pé no chão. Eu ia andar na madrugada depois de fazer show para milhares. O normal é a solidão, a batalha, a introspecção. É a atitude de gente como Marisa Monte ou Adriana Calcanhotto, que se retiram para criar, saem de cena, saem dos holofotes. E voltam com discos fantásticos. Elas se permitem isso, mas são exceções. Infelizmente, o corrente, hoje, são a roda-vida, a série de shows, as turnês sem fim, a produção em série.
ÍNDICE
A Rev d
SE
A expressão família de músicos poucas vezes caiu tão bem quanto aqui. Filho de um maestro (Henrique Gandelman, diretor artístico da antiga gravadora CBS e advogado especialista em direitos autorais) e de uma pianista (Salomea Gandelman, educadora e fundadora da Escola de Música Pró-Arte, no Rio) e irmão de duas musicistas (a oboísta Lia e a pianista Marisa, ex-diretora-executiva da UBC), Leo Gandelman
1999
04 08 10 12 17
NOV DADES NAC ONA S MERCADO MARKETING DIGITAL NOVIDADES NTERNAC ONA S CAPA GUILHERME ARANTES PELO PA S LEO GANDELMAN
a UBC é uma pub a ão da Un ão B a e a de Compo o e uma o edade em fin u a
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E com a turma da FAU? Dizem que havia uma rixa entre grupos rivais no curso de Arquitetura e que você fez não poucos detratores lá... Eu briguei com todo mundo, mandei todo mundo tomar no c... Eu falava que era um bando de comunistas fracassados (risos). Quem era minha colega de classe era a Clara Ant, braço direito do Lula. Comunista histórica. Hoje eu olho com respeito, claro. Passou a rixa. Vivemos uma realidade tão diferente. Mas não nego que foi ótimo fazer sucesso naquele momento e mostrar para eles. Você parece ter uma história de dissidência, sempre meio do contra.
Como?
16/UBC : CAPA
meio radiofônico. Eu nunca tive que cariocar. A Elis, por exemplo, cariocou, cantava com sotaque forte do Rio. Rita Lee também. Tinham que ser mais palatáveis. Eu fui aclamado no Maracanãzinho, fui aceito. Me mudei em 1985, fiz Canecão, morei em Copa, na Francisco Otaviano, número 17. A minha mulher na época era carioca, amiga de todo mundo do Noites Cariocas. Era discotecária a Luíza, minha segunda mulher. Era amiga do Ezequiel Neves, do Júlio Barroso, da Scarlet Moon… O pessoal me acolheu maravilhosamente. Passaram a pensar que eu sou carioca. É a melhor coisa que pode acontecer com um forasteiro no Rio. Foi a glória (risos).
Quem produz e toca recebe. A gestão coletiva é a forma mais saudável de arrecadação e distribuição, de retribuição do trabalho… Eu tenho um bolo arrecadatório bastante satisfatório. Não é milionário, porque o nosso mercado não comporta isso, os novos tempos não comportam isso, a nossa língua não comporta isso. Mas eu tenho um acervo muito presente.
E a caixa da Sony? A caixa são 21 discos de carreira e mais um só de singles e raridades. Tive alguns que ninguém conhece, que são raridades, obscuros. São 450 músicas gravadas, bicho! E tive outros que estouraram. “Planeta Água” e “Deixa Chover” não saíram em LP. Juntamos tudo em compactos.
Essas comparações irritam o artista em sala de gravadora. Quando você quer fazer um projeto e “não está com essa bola toda”… Isso é o normal da negociação. Os caras derrubam para pagar menos. Com o tempo fui aprendendo isso. Era assim. Não pode gerar irritação, sentimento de injustiça. É o mercado em que a gente quer estar. Tem que jogar o jogo. Hoje tenho 63 anos e vejo que fiz um bom serviço de sobrevivência. E nesse pacote agora eu mostro toda essa gratidão. Dentro da caixa da Sony vai vir um relato manuscrito, um diferencial importante, com caneta gráfica, em que escrevo em 72 páginas todos os detalhes das gravações, a relação com o mercado, as expectativas e tudo mais. Onde a gente estava, o que comíamos, quem eram os músicos. E detalhes técnicos sobre a feitura dos discos com muitas minúcias. Fui buscar pesquisas de todo o contexto. Fui atrás até de fichas técnicas falhas e que omitiam músicos e participantes. Nem tudo foi perfeito nas fichas. Então fiz trabalho que será diferencial importante na caixa. Esse verdadeiro libreto conta essa história. Não conta a história das músicas. Essa fica a cargo do documentário.
1983
Vou te contar um lance. Eu não entrei no Rock in Rio. Nem eu nem o Ritchie. Injustiça grande, ainda mais no caso dele. Tínhamos penetração na classe média alta universitária. Proliferaram bandas semelhantes. Mas eu não era da patota da Blitz, do Lulu Santos, do Barão Vermelho... Essa turma, junto com Kid Abelha, Paralamas do Sucesso, era a voz de uma classe social hegemônica que varreu as FMs. Eu só fui morar no Rio em 1985, com o objetivo de estourar no Canecão e, finalmente, virar um cara “nacional”. Eu não podia ficar sendo um artista paulista. Tinha um ranço, não estourava nacionalmente. Só os artistas cariocas, baianos, que moravam no Rio, tinham presença forte nas paradas. Os artistas de São Paulo eram discriminados, claramente. O bairrismo era muito grande, as gravadoras estavam no Rio. Quando lanço o (disco) “Coração Paulista”, isso provoca reação grande no
4/UBC : NOTÍCIAS
NOVIDADES NACIONAIS
'O ÚNICO COMPROMISSO ERA SE DIVERTIR E DIVERTIR NOSSOS AMIGOS' Há 25 anos surgia um sopro de bem-vinda novidade no cenário plural e vibrante da música de vanguarda da capital gaúcha. Roqueiros, eletrônicos, pop, reggaeiros, sambistas, MPBistas, soulmen... Difícil definir o som variado do Ultramen com apenas um rótulo. A banda foi e continua a ser orgulhosamente experimental, joga (muito bem) nas onze e agora, com um quarto de século de estrada, resgata um DVD ao vivo jamais lançado, “Máquina do Tempo”, gravado em 2008, antes de um hiato de sete anos. Entre as canções, que passeiam pelos melhores momentos do grupo, há uma inédita, “Robot Baby”, uma deliciosa mistura de funk (setentista) e música eletrônica. O show de lançamento será dia 24 de novembro no Bar Opinião, em Porto Alegre. Confira o papo do percussionista Malásia com a Revista UBC. Se pudessem programar uma máquina para voltar a um tempo melhor - musicalmente, mercadologicamente -, que tempo seria esse? Malásia: Meu período favorito da música está entre 1966 e 1982. Foi quando surgiu ou se consolidou a maioria dos estilos musicais que eu admiro. Mas a década de 90 também é muito interessante. O foco musical da Ultramen é bem variado. Todo mundo que ouviu “Robot Baby”, a nossa mais nova música, achou que queríamos soar como o Daft Punk, mas nossa referência nesta música é o Zapp. Este grupo de funk eletrônico é do início da década de 1980. Qual a diferença entre o Ultramen de 2008, quando foi gravado o pacote, e o de 2016? O fato de todos terem uma vida profissional e pessoal sem ter a Ultramen como um “trabalho” foi muito benéfico. Todos amadureceram e voltaram para a banda com mais experiência e alegria.
E entre esses dois momentos e o de 1991, quando tudo começou? Nem dá para comparar. A Ultramen começou há 25 anos, e nossas cabeça, atitude e habilidades musicais eram muito diferentes na época. No período que vai dos primeiros ensaios até o primeiro disco, a banda viveu intensamente o circuito alternativo e tinha um lado musical muito experimental. A partir da gravação do álbum, ficou tudo mais profissional, e aumentou a responsabilidade. Lá no começo, o único compromisso era se divertir e divertir nossos amigos. Que inquietudes vocês ainda tem? Os tempos complexos que vivemos hoje, no mundo e, não menos importante, no país inspiram novas letras e músicas? A Ultramen sempre teve uma postura de só fazer o que queria, desde que aprovado pela maioria dos integrantes, e tinha um equilíbrio entre letras nonsense e sérias. Com a evolução da banda e da vida, este lado sério ficou mais evidente. É claro que as coisas da vida influenciam na música que fazemos. Estamos em processo de composição e, em breve, saberemos como essa nova fase vai soar. Fazer música alternativa há 25 anos fora do eixo é… Normal. Na verdade, penso que essa coisa do eixo é meio ilusão. Moro em São Paulo há mais de oito anos, e as dificuldades de ter banda e viver de música autoral aqui são as mesmas de sempre. Viver no Rio Grande do Sul é uma dificuldade em termos logísticos para fazer shows na região Sudeste, mas, por outro lado, é muito mais fácil gravar e fazer a música chegar às pessoas graças às plataformas e tecnologias de hoje em dia. Ao mesmo tempo em que estamos longe demais das capitais, estamos perto das pessoas que têm interesse no nosso som.
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Assista ao clipe de “Robot Baby”
Foto: Ricardo Lage
BANDA GAÚCHA ULTRAMEN CELEBRA 25 ANOS MULTIRREFERENCIADA COMO SEMPRE E MAIS MADURA DO QUE NUNCA
NOTÍCIAS : UBC/5
REPERTÓRIO DE CAZUZA DE VOLTA À UBC Os administradores da obra de Cazuza e a UBC celebraram um acordo em agosto que traz de volta a obra do compositor para ser administrada pela nossa associação. Com quase 200 composições e 230 participações em gravações, Cazuza traduziu como poucos artistas os anseios, as dores e delícias da sua geração e deixou marcado para sempre seu nome no pop nacional. “Confio muito no trabalho do Marcelo (Castello Branco, diretor-executivo da UBC) e, quando ele me convidou para voltar, eu nem pensei duas vezes. Com a UBC teremos um reconhecimento maior, e essa mudança certamente vai trazer uma gestão mais eficiente do legado”, celebra Lucinha Araújo, mãe do cantor.
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Assista a Cazuza em apresentações memoráveis
FESTIVAL DE TALENTOS BRASILEIROS O ano foi de colheita farta para um punhado de artistas que expandiram suas fronteiras e brilharam em festivais mundo afora. Só para citar alguns, tivemos O Terno e Mahmed com shows memoráveis no Primavera Sound, na Espanha, em junho. No mês seguinte, a maranhense Soulvernir ganhou um palco especial no festival NOS Alive, de Portugal, depois de vencer um concurso de novos talentos no Brasil. Antes, em março, a Supercombo, revelação do programa da TV Globo “Superstar”, dividiu o palco com Negra Li no Lollapalooza. E os potiguares do Far From Alaska (foto) arrasaram na primeira edição do prêmio International Midem Awards, conferido em junho no megafestival e feira de música que acontece anualmente em Cannes (França). Eles concorriam com 11 nomes de todo o mundo e saíram de lá com o prêmio We Are The Future, para novos talentos. Parabéns a todos!
DE QUEM É ESSE “LELEK”? Na edição passada, em reportagem sobre a fábrica de gírias do mundo do funk (“Mas, quando toca, ninguém fica calado”), publicamos que a autoria da música “Passinho do Volante” era compartilhada por MC Federado, Paulo Cesar, Allan Johnson e Lelek. A informação foi contestada por nosso associado Edimar Pedro Santana, que está na Justiça alegando a autoria. Então fica o registro: a obra está bloqueada devido à ação de disputa, e a autoria ainda não foi definitivamente reconhecida.
DISCRETAS HOMENAGENS AOS 100 ANOS DE UM MESTRE Fundacional e, ao mesmo tempo, pouco conhecido, o violonista Dilermando Reis teve seu centenário de nascimento celebrado discretamente no último mês de setembro. Sucesso por mais de 30 anos na Rádio Clube do Brasil e na Rádio Nacional, o associado da UBC teve entre seus fãs Juscelino Kubitschek e sua filha Márcia. Autor de valsas e choros, compôs e gravou mais de 120 músicas, além de ter interpretado magistralmente outras 130 de compositores diversos. De acordo com reportagem publicada por ocasião da efeméride no jornal “Folha de S. Paulo”, estudiosos da música instrumental brasileira equiparam João Pernambuco, Garoto e Dilermando, numa espécie de tripé que estabeleceu as bases do violão brasileiro. O lançamento do CD “Dois Destinos: Marco Pereira Toca Dilermando Reis” é a celebração de maior peso ao mestre, cujas homenagens ficaram aquém do seu talento e da sua importância.
6/UBC : NOTÍCIAS
O AXÉ DE WADO Você já ouviu muita gente desmerecendo o axé. O pernambucano Wado não é um deles. Com DNA roqueiro, ele saiu há muito tempo da sua zona de conforto e vem fazendo discos em que explora, de modo cerebral, sofisticado, sons marginalizados ou esnobados pela intelligentsia nacional. Em “Ivete”, seu mais recente lançamento, Wado destrincha o axé, mas não só. Afoxés, ijexás e outros ritmos afro-bahianos compõem um trabalho maduro que conta com parcerias como Marcelo Camelo (“Você Não Vem”), Zeca Baleiro (“Mistério” e “Nós”) e Moreno Veloso (“Um Passo À Frente”). “Demorei para sair do punk. Mas só não me aproximei da música brasileira de cara porque eu não tinha aporte técnico. Os acordes são mais elaborados. Hoje acho o axé mais punk que o próprio punk”, disse o músico e compositor ao diário “Folha de Pernambuco”.
'VINHO ANTIGO' E CHEIO DE SURPRESAS “Sonho de Ícaro”, “Meu Mel”, “Vinho Antigo” e outros sucessos de Byafra ganharam uma bela repaginada num projeto que estreou em julho no Rio. Em parceria com a orquestra Pop Camerata, da UFRJ, o cantor e compositor uniu seu repertório a violinos e instrumentos de sopro e também revisitou canções como “Todo Sentimento”, de Chico Buarque, “Um Dia, Um Adeus”, de Guilherme Arantes, “Cais”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, “August Wing” (Sting) e “Something” (Beatles). Depois da apresentação de estreia no evento Noites Culturais da Sala Baden Powell, em Copacabana, o projeto “Em Concerto” deve viajar pelo país. “As músicas populares ficam com um sabor de música erudita, e eu, como gosto dos dois lados musicais, me delicio com o resultado”, afirmou Byafra.
SÉRGIO LOPES SE PREPARA PARA LANÇAR COMPILAÇÃO Desde o final dos anos 1970 envolvido com música e teatro, enquanto cursava paralelamente uma carreira militar, o compositor Sérgio Lopes se prepara para apresentar uma compilação do melhor de sua obra. Foi há exatos 30 anos, em 1986, que ele lançou a primeira música, gospel, “Agora Posso Crer”, premiada no I Festival da Música Sacra. De lá para cá, foram dezenas, primeiro com o grupo Altos Louvores, depois em carreira solo, iniciada em 1990 com o hit religioso “Nossos Dias”. Desde 2001 como missionário, já viajou aos Estados Unidos para apresentações e foi diversas vezes premiados pelos seus sucessos evangélicos. Seu mais recente álbum de estúdio, pela Sony, foi “Coração Discípulo”, lançado em 2014.
NOTÍCIAS : UBC/7
SCALENE BANDA COLHE FRUTOS DE SUPEREXPOSIÇÃO NA MÍDIA, QUE OS CATAPULTOU AO MAINSTREAM
Eles se conheceram na escola, sempre foram independentes e, apesar de terem ganhado visibilidade nacional após chegar à final do programa “SuperStar”, da Globo, no ano passado, mantêm a atitude cool de quem está começando. O Scalene é uma novidade esperta da cena roqueira brasiliense e garante ter vindo para ficar. "Resolvemos montar uma banda por diversão. Tiramos no palitinho quem ia tocar qual instrumento e começamos a ensaiar. Em 2011 realmente começamos a levar a banda como um projeto de vida", conta, brincando, Tomás Bertoni, o guitarrista e tecladista da banda que ainda é formada por Gustavo Bertoni (guitarra e voz), Lucas Furtado (baixo) e Philipe ‘Makako’ (bateria e voz). Com uma agenda de shows de dar inveja a qualquer artista veterano, eles têm rodado o país com a turnê que ganhou registro no DVD “Scalene - Ao Vivo em Brasília”. Gravado na Arena Lounge do Estádio Nacional, o trabalho traz hits deles, como “Surreal”, “Amanheceu”, “Histeria” e “Legado”, que se revezam com as recém-lançadas “Inércia” e “Entrelaços”. O que mudou na vida profissional de vocês após a participação no programa 'SuperStar'?
Foto: Breno Galtier
Scalene: Foi uma grande exposição e nos permitiu criar parcerias e estruturas pra seguir fazendo o que fazíamos, mas em novas proporções.
Por muito tempo vocês foram artistas independentes. Quais as principais dificuldades que destacam neste mercado? A dificuldade não vem do fato de ser independente, mas do mercado em si, que é difícil e competitivo. De forma independente você pode se estruturar tão bem quanto qualquer artista que tem uma gravadora. O que uma música precisa ter para entrar no repertório de vocês? A música tem que significar algo relevante, fazer sentido dentro do disco e desafiar o ouvinte. O que inspira vocês a comporem? Tudo! Acontecimentos mundiais, outras músicas, seriados, filmes, livros. Angústias, frustrações, reflexões. Falamos sobre bastante coisa.
De quem foi a ideia do documentário "Em busca do Éter" (que mostra os bastidores da produção do segundo álbum da banda, “Éter”). Como foi o processo de gravação? A ideia foi do diretor, Guilherme Guedes. Foi feito sem verba nenhuma, nossos amigos editaram, mixaram e produziram tudo. Por sorte o canal BIS comprou o doc, e o Guilherme pôde pagar a galera. Foi uma honra ter tanta gente boa e inteligente vestindo a camisa pelo projeto. Por Fabiane Pereira
8/UBC : MERCADO
MARKETING O NOVO
HIT DA MÚSICA ENTENDA COMO ESTAR NO MUNDO DIGITAL – E USAR OS NÚMEROS A SEU FAVOR: SÃO PASSOS IMPORTANTES PARA UMA CARREIRA BEM-SUCEDIDA De São Paulo
Growth hacking, branding, interação com fãs, targets, publicidade comportamental... Sim, leitor, isto é uma reportagem sobre música. E sobre como ter uma presença independente na avassaladora era digital. Sem ter, pelo menos, noção do que são os termos acima e, principalmente, sem entender que a internet não é só aquele lugar onde a pirataria ganhou escala interplanetária mas é, também, a solução para a crise aparentemente sem fim do mercado musical, não dá para ir muito longe. “As gravadoras ainda têm um papel nesse jogo... desde que você seja um artista grande. Ainda assim, esse papel é cada vez menor. Elas não investem mais. Isso é o que mudou tudo. Elas pegam alguém que já tem um nome, mesmo que ainda pequeno, e o faz crescer. Então, é o artista que tem que lançar essa máquina. Ninguém vai fazer isso por ele. A boa notícia é que nunca foi tão fácil e barato quanto agora”, ensina Jacques Figueras, músico e produtor cultural ganhador de dois prêmios Grammy pela produção do álbum “Song For Maura”, de Paquito D’Rivera e Trio Corrente, e criador do blog O Assunto é Produção, em que ajuda os artistas a entender melhor o novo cenário musical.
REDES SOCIAIS: NÃO DÁ PARA ESTAR FORA DELAS Como outros especialistas em marketing, ele prega que os artistas devem se anunciar. Assim, diretamente, sem meias palavras. Mas com inteligência. É preciso investigar o público-alvo (o target ali do parágrafo inicial) e atacar, com base no comportamento dele. Para isso, o ponto de partida fundamental é estar nas redes sociais. Não dá para escapar. Esqueça as fotos de viagens ou dos lindos pratos que você adora degustar – ou não esqueça nada disso, faça o contrário e invista ainda mais nessas maravilhas da era contemporânea. Mas, o que quer que faça, que seja com base em números. Dados. É fácil obtê-los. Há muitas ferramentas de medição de audiência. Dezenas. Centenas. Elas usam um pedacinho de um conceitopalavrão para muitos, o big data, ou análise de dados de larga escala, e contam em pormenores o que mais “bombou” junto aos seus seguidores. Sabendo que seu fã gosta de fotos de camarins ou encontros de bastidores de gravações, por exemplo, é hora de pôr a criatividade (você é um artista ou não é?) para trabalhar e produzir materiais personalizados, diferentes, atrativos. Promover encontros com outros artistas, com fãs, fazer promoções. Tudo isso cria engajamento e fideliza. Um lançamento exclusivo no canal do YouTube, ligado ao Facebook e promovido pelo Twitter e pelo Instagram: pronto, em uma única tacada você faz a roda girar sem gastar muito e atingindo um número razoável de pessoas. O importante, pregam os especialistas em marketing, é ter sua presença digital em sintonia. Nada de divulgar uma coisa no Facebook, outra totalmente diferente no Snapchat, e assim por diante. Seja – e pareça – coerente e integrado. “Não acho que músico tenha que aprender jargão de marketing. Nem um pouco. O único conceito importante não tem nome para decorar e é o seguinte: hoje você deve se dedicar ao seu fã em primeiro lugar. Se, antigamente, o músico se preocupava em negociar com as gravadoras, negociar com a imprensa, com apoiadores influentes, com rádio, TV, hoje ele tem de dedicar a maior parte do tempo a falar e monetizar com o fã. Só isso”, prega Mauricio Bussab, sócio-fundador da Tratore, a maior distribuidora de música independente do país. (Pelo sim, pelo não, a gente continua a apresentar a você, caro criador, mais conceitos de marketing. Vai que…)
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MERCADO : UBC/9
INFORMAÇÃO É A BASE DE TUDO Conforme as suas ações forem dando retornos (números, números!), você acumulará dados para aplicar o chamado growth hacking, uma expressão que soa a coisa proibida mas que é uma das chaves do sucesso do marketing 2.0 (sim, o da internet). Também chamado de estratégia de posicionamento, o conceito é um termo que abarca diversas práticas. E que requer, basicamente, a tal análise dos dados (colhidos pelos tais aplicativos, muitos gratuitos, ou, se você já é um peixe graúdo, por empresas caras e cada vez mais especializadas nisso). Tudo combinado com criatividade (para bolar novas estratégias) e pensamento analítico. Soa complicado? “Isso não é mais uma desculpa. Hoje em dia dá para fazer tudo isso no celular”, diz Figueras. “Uma coisa fundamental é entender que, se você não divulgar sua música, nunca vai ser famoso. Porque você sempre é famoso ou interessante para alguém. Seja no seu prédio, na sua cidade, no seu estado. Tem que descobrir onde e divulgar para eles. Começar pequeno e crescer. Esse processo é demorado, e a melhor coisa a fazer é começar ontem ou, no máximo, hoje.” No caso do growth hacking, os caras à frente dessas análise enorme de material são os growth hackers, ou estrategistas de posicionamento. São bons no uso de técnicas de otimização de motores de busca ou de análise de engajamento, analíticas de sites e redes sociais, publicidade na internet... A partir da necessária descoberta do que querem os fãs, eles pensam nas melhores maneiras de apresentar conteúdos novos. À medida que você for se especializando em certos conteúdos, notará que terá dado passos largos na direção do chamado branding, ou seja, na criação de uma marca sedimentada. É o objetivo máximo de um especialista em marketing (de um músico do século XXI?): fazer com que o nome do artista seja logo associado a algo. Um exemplo bem acabado disso é o dos associados do Teatro Mágico, que construíram uma excelente relação direta com os fãs na rede (Facebook) e na vida real, em shows sempre lotados e cheios não mais de fãs, mas de seguidores. Na hora de se comunicar com o público na rede, é sempre desejável fazê-lo diretamente. Ser muito ocupado não é desculpa. Você pode não querer apostar nas múltiplas estratégias de branding do Teatro Mágico, mas fazer como Hamilton de Hollanda ou a banda O Terno, que têm contato direto e personalizado com o público nas redes, já é um tremendo acerto. Há inúmeros outros casos de artistas com carreiras bem estruturadas, grande quantidade de shows etc. que encontram tempo para falar com os fãs pelas redes. Isso cria uma fidelização que nenhum assessor de marketing poderá reproduzir. “O antigo modelo setentista do músico doidão que ficava em casa enquanto uma equipe da gravadora fazia tudo por ele acabou. Hoje o artista de sucesso é o que arregaça as mangas, se promove, acha oportunidades para aparecer. Muitos são resistentes a isso porque acham que a música fala por si. O que é bonito, mas não é verdade”, pondera Bussab. “O bom artista se preocupa com o fã, me conta histórias do que ele está fazendo com financiamento coletivo, que ações ele está fazendo nas redes sociais, como ele está trabalhando o vídeo com a base de seguidores. Como ele está marcando shows em lugares inusitados, como ele está alavancando os municípios e estruturas coletivas para tocar mais. Não estou falando só de tecnologia. Existem artistas que estão mapeando teatros no interior dos estados e construindo um circuito de shows, já que nas capitais está muito concorrido marcar. O artista que não quer saber de falar com o fã, que não quer inovar, este vai ficar para trás.”
UM ALIADO 'ANTIGO' E EFICAZ Outra maneira de entregar novidades aos seguidores que parece antiga mas é muito eficaz é o e-mail marketing, ou a newsletter. Colete os contatos dos fãs na sua fan-page e estabeleça esse contato direto. Mas sem abusar. Estudos mostram que e-mails e mensagens personalizados vindos dos artistas costumam ser bastante abertos. Como saber se funcionou? Oras, as ferramentas de medição estão aí para isso. Uma coisa é importante ter sempre em mente, em meio a esse mar de nomes gringos e conceitos que, aparentemente, fogem da seara do músico: você não está sozinho nessa travessia do deserto digital. Use e abuse dos aplicativos métricos e analíticos. Com o tempo você ficará craque em oferecer conteúdos cada vez mais certeiros. “Até há pouco tempo, você precisava necessariamente de uma TV Globo, de um rádio ou de um jornal para divulgar seu trabalho... Custava caro, e você não tinha nenhum controle sobre isso. Agora, com seu celular você consegue atingir o mundo inteiro com sua música. Basta entender a regra do jogo. E acho que vale muito a pena entrar nesse jogo”, analisa o criador do canal O Assunto é Produção. “Colocar esses temas nas mãos de alguém, sem tomar conhecimento, é garantia de ficar parado no mesmo lugar.”
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Os erros nas relações dos artistas com os fãs na internet
10/UBC : NOTÍCIAS
NOVIDADES INTERNACIONAIS EUROPA DISCUTE PACOTE DE MEDIDAS PARA PROTEGER DIREITOS AUTORAIS A Comissão Europeia, órgão executivo dos países do bloco continental, anunciou em meados de setembro um pacote de medidas para proteger os direitos autorais que foi bem recebido por criadores – e produtores de conteúdo cultural e informativo em geral – e que, se aprovado, pode representar um novo olhar sobre as relações (essencialmente desiguais) entre autores e megausuários como Google/YouTube, Apple e Facebook. A resposta europeia a um problema que ganha proporções cada vez maiores – as preocupantes distorções no pagamento dos criadores pelo uso de suas obras – veio exatos dois meses depois de o presidente da comissão, Jean-Claude Juncker, receber uma carta assinada por milhares de artistas denunciando a injustiça da “política dos centavos” promovida por YouTube, principalmente, mas também por Spotify, Apple Music e outros serviços de streaming, que, sabidamente, pagam muito pouco aos compositores. Além de obrigar os grandes usuários a rever o percentual repassado aos criadores, o objetivo da União Europeia é permitir uma cota máxima de conteúdos ilegais em ferramentas como o YouTube, que se encastelou na alegação de que é um simples portal “colaborativo” e não tem tomado medidas satisfatórias para remover material pirata. A forma de pressão viria através de pesadas multas e, em casos extremos, até mesmo pela proibição de atuação em território europeu. Não será, porém, uma mudança rápida. O projeto terá de passar por votação no Parlamento Europeu e também tramitará na burocracia do Conselho Europeu, levando “diversos meses” para ser implementado, caso aprovado, o que demandaria adaptações também nas diferentes leis nacionais dos estadosmembros da União Europeia. As tratativas para o anúncio do chamado Copyright Package (pacote de direitos autorais) levaram três anos.
GOOGLE SE MEXE PARA COMBATER FAMA DE FACILITADOR DA PIRATARIA Tido como um dos maiores veículos para a exposição de conteúdos piratas no mundo, o Google resolveu investir em propaganda para provar que “tem tomado medidas de impacto para combater o uso ilegal de conteúdos”. Em setembro, o gigante americano lançou um site que mostra, em tempo real, relatórios de remoção de páginas com base em infrações de direitos autorais variados, sejam audiovisuais ou de conteúdos escritos. “O Google recebe regularmente pedidos para remover conteúdos que possam infringir direitos autorais. Esse relatório fornece dados sobre pedidos de remoção de resultados de pesquisa que apontam para tais materiais”, explicou a empresa em comunicado. No início de outubro, segundo o contador, havia sido removido mais de 1,8 bilhão de URLs em 902 mil websites. Por meio do link google.com/ transparencyreport/removals/copyright é possível solicitar remoções de material ilegal e acompanhar o processo.
MP3 APLICATIVO QUE “RIPA” VÍDEOS ENTRA NA MIRA DE GRAVADORAS AMERICANAS E BRITÂNICAS
PROJETO DE LEI BRITÂNICO PREVÊ ATÉ DEZ ANOS DE CADEIA PARA PIRATARIA O governo britânico encerrou em setembro a consulta pública de um projeto de lei que endurece as punições para quem gerar e reproduzir conteúdos piratas na rede. Usuários de internet que compartilharem arquivos piratas poderão pegar até dez anos de cadeia, contra os dois anos atualmente previstos na legislação – e que, por representarem uma espécie de teto para prisões alternativas segundo a jurisprudência do país, acabam sendo frequentemente comutados em pagamento de multas e serviços comunitários. A nova lei, Digital Economy, ou economia digital, tramita no Parlamento britânico e é patrocinada por uma entidade antipirataria, a FACT, que alega que o roubo no mundo virtual deve ser tão severamente castigado quanto o do mundo real. Não há previsão de votação da nova norma.
Um popular aplicativo gratuito para “ripar” (copiar trechos) de vídeos do YouTube, transformando-os em arquivos de música, está na mira da indústria fonográfica de Estados Unidos e Reino Unido. A poderosa Associação da Indústria Fonográfica Americana (RIAA, na sigla em inglês) e sua equivalente britânica, a BPI, estão processando na Justiça dos Estados Unidos os responsáveis pelo aplicativo YouTube MP3, que dizem facilitar a propagação de conteúdos piratas e, consequentemente, a violação de direitos autorais. Usado, segundo a denúncia, por milhões de pessoas em todo o mundo, o aplicativo transforma vídeos em arquivos musicais quase instantaneamente, uma etapa importante para a republicação pirata do conteúdo, alegam os demandantes. As duas entidades pedem multa de US$ 150 mil, máximo permitido na atual legislação americana para esses casos, além do fechamento do aplicativo.
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Discurso de T Bone Burnett emociona ao pedir valorização do compositor
NOTÍCIAS : UBC/11
BOB DYLAN,
UMA NOVA-VELHA MANEIRA DE FAZER POESIA
PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA CONCEDIDO AO COMPOSITOR SUSCITA DEBATE, LANÇA OUTROS 'CANDIDATOS' À LÁUREA E MOSTRA, SEGUNDO ANTONIO CICERO, UM REENCONTRO DAS LETRAS COM SUAS ORIGENS Meio brincando, meio a sério, já surgem apostas em grandes nomes da música mundial para as próximas edições do Prêmio Nobel de Literatura depois da surpreendente escolha de Bob Dylan no mês passado. Pela primeira vez na história entregue a um compositor de letras e acordes cuja produção musical – 69 álbuns – é incomparável com a “literária” – dois livros, sendo um deles de memórias – , a láurea mais pop do planeta dá sinais de estar se abrindo a novas (novas?) expressões literárias. “Sabe-se que o primeiro grande poeta da tradição ocidental, Homero, cantava seus poemas para seu público. Assim também faziam os poetas líricos, que tocavam a lira enquanto cantavam. Ou seja, a grande poesia da Grécia Antiga era letra de canções. E essas letras são alguns dos maiores poemas da literatura. Por que, então, fingir que não há, também hoje, grandes poemas na forma de letras de canções?”, provocou o associado da UBC Antonio Cicero, ele próprio um grande letrista e poeta, em entrevista ao diário carioca “O Globo”. “Aqui no Brasil, basta mencionar canções de poetas como Noel Rosa, Dorival Caymmi, Caetano Veloso ou Chico Buarque”, continuou. Como o prêmio concedido anualmente pela Real Academia Sueca só contempla pessoas vivas, poderiam os dois últimos estar no páreo para os próximos anos. Ou, como revelou o serviço em espanhol do conglomerado de mídia inglês BBC, depois de uma pesquisa com leitores e críticos, também o cubano Silvio Rodríguez ou o argentino Facundo Cabral. Possibilidade que irrita os muitos críticos que vieram a público desde o anúncio para atacar o prêmio dado ao compositor americano. Um personagem da cultura global que, praticamente desde que surgiu, se diz poeta e cujo sobrenome artístico (o real é Zimmerman) teria sido adotado em homenagem ao poeta americano Dylan Thomas. “Se Bob Dylan é um poeta, sou um jogador de basquete”, atacou o estadunidense Norman Mailer, certa vez. Assim como ele – que morreu em 2007, sem o Nobel – fazia, outros escritores, como o americano Philip Roth ou o japonês Haruki Murakami, eternos candidatos, esperam sua vez. Isso se Chico ou Rodríguez deixarem...
12/UBC : CAPA
'EU ERA A BOLA DA VEZ' 1982 Por Alessandro Soler Guilherme Arantes é dono de uma memória prodigiosa. Crava datas, locais, até mesmo horários de encontros importantes para sua carreira. Reconstrói diálogos tal como foram proferidos – ou, ao menos, assim lhe parece. Recita nomes – de parceiros, eventos, músicas, bandas – com fluidez. Tudo nele é rápido, urgente. Se não for interrompido, emenda um fluxo contínuo de ideias, digressões. Não surpreende que, ao celebrar seus 40 anos de carreira (descontados os dois como um dos cérebros da banda de rock progressivo Moto Perpétuo, surgida nos corredores na Faculdade de Arquitetura da USP, onde estudou), ele tenha planejado e guiado à minúcia a produção de um farto material que pretende definitivo. Além de uma caixa com os relançamentos remasterizados de seus 21 LPs e de inúmeros singles, a cargo da Sony, um documentário de cerca de sete horas e em sete episódios divididos cronologicamente e uma considerável agenda de shows celebrativos, publicará uma minibiografia, uma carta escrita de próprio punho para acompanhar o material
UM DOS MAIORES PRODUTORES DE HITS DO POP BRASILEIRO, GUILHERME ARANTES CELEBRA 40 ANOS DE CARREIRA E, NUM LONGO PAPO COM A REVISTA UBC, ANALISA SUA ASCENSÃO METEÓRICA, O APAGAR DOS HOLOFOTES, AS TRANSFORMAÇÕES DO MERCADO NESTAS DÉCADAS E O RENASCIMENTO DA MÚSICA DE VANGUARDA URBANA
e relembrar passagens marcantes que resumem, a um só tempo, sua própria vida, sua carreira e um pedaço importante da história recente da música brasileira. Neste papo com a Revista UBC, editado num esquema de perguntas e respostas para que o leitor possa ter uma ideia de como funciona a mente ágil e multirreferenciada de Guilherme Arantes, ele relembra suas idas e vindas pelas maiores majors do Brasil – cujo ocaso, admite, representou um golpe para sua própria carreira –, volta a falar do breve affair que teve com Elis Regina, brinca com a rivalidade artísticocultural entre Rio e São Paulo, contextualiza o momento em que surgiram alguns dos incontáveis hits que enfileirou por anos, em contínua linha de produção, reivindica um papel central na criação de uma cena musical infantil no país. E, principalmente, oferece um testemunho de alta qualidade, e em primeira pessoa, de um momento de ouro do pop e da MPB, gêneros que ele vê renascer depois de anos de uma decadência que associa ao que chama de utilitarismo ligado a movimentos como o sertanejo, o pagode e o axé.
CAPA : UBC/13
1989
Quarenta anos de carreira solo são coisa à beça. Já dá para fazer um balanço bem razoável, não? Eu tive uma carreira muito irregular, de muitas fases e altos e baixos, com vários selos e gravadoras. Fonograficamente, fui um cara muito eclético. Comecei pela Som Livre, no início da carreira (solo), em 1976, começo forte, com bastante televisão. Depois saí para a Warner. Fiquei quatro anos lá, já num outro perfil de gravadora, com o (André) Midani… Passei pela WEA, voltei para a Som Livre, fui para a CBS, para a Odeon, para a Polygram... Estive no rock, no pop. E tive a Elis (Regina) na minha vida, me gravando, em 1980, no momento mais marcante da minha carreira, uma encomenda para ela (a canção “Aprendendo a Jogar”). Naquele momento, eu tinha a incumbência de fazer um hit para o rádio. Um hit para a Elis. A geração dela estava ficando fora da FM, que ganhava força… Então fizemos pensando nisso. Ela tinha emplacado um sucesso mediano com o “Alô Alô, Marciano”, da Rita Lee (e de Roberto de Carvalho), meses antes. Mas precisava se firmar. Estava numa fase difícil de carreira, teve problema em Montreux (segundo os registros da época, a cantora não gostou da sua apresentação no mítico festival suíço)… O perfil dela estava atrapalhado… Foi um momento importante para ela e ainda mais para mim.
Paulista”. Ela me disse que tinha adorado e me chamou para a reunião de repertório na Odeon, no Rio. Eu não tinha dinheiro para pegar avião e fui de ônibus. Na (Rua) Mena Barreto (no bairro carioca de Botafogo), então sede da Odeon, mostrei “Só Deus É Quem Sabe”, e ela falou: “Roberto é louco, bicho, como é que não grava isso?” Pegou na hora e me encomendou um funk. Funk dos antigos, setentista, não funk de hoje... O mote da música, que brinca com ditos populares, foi proposto por ela? Foi, sim. Fomos jantar no Bar Lagoa, no Rio, e brincamos de fazer “trocadalhos do carilho” (risos). Eu, desde o colégio, já brincava disso. Quem tem amigo cachorro quer sarna para se coçar. Água mole em pedra dura mais vale que dois voando… Ela também pirava nessas coisas. Voltei com esse briefing, e a música saiu rápido. Recentemente descobri o cassete original que mandei para ela. A música foi gravada e, em uma semana, estava em primeiro lugar na FM. Foi uma coisa assim… como dizer?... Foi demais! Ela cravou essa história de que sou um hitmaker, esse carimbo… Ela disse: “você pede, ele atende, e estoura.” A Elis tinha bronca por estar de fora do ambiente da FM naquele momento. Tinha uma coerência política, filosófica, ideológica… Então estava difícil para ela estourar num mercado que sofria uma transformação. E claro que a entrada dela em primeiro nas FMs foi fundamental para mim. Me permitiu emendar outro sucesso, “Deixa Chover”. Voltei para casa e fiz a música, que cita a “Aprendendo a Jogar”, “As pessoas sempre têm a chance de jogar de novo e errar”, e é uma citação também ao affair, ao babado rápido que tivemos naquele momento. Era uma nova chance para ela jogar de novo e errar... Como foi esse affair? Teve uma história entre nós naquele momento. Elis era uma pessoa livre. A gente teve um babado. Ela avançou para cima, avançou o sinal. Eu era aquele cara jovem, cheio de energia... Saímos juntos, foi bonito, guardo com muito carinho. Eu tinha muito respeito por eles, por ela e o Cesar. Isso é importante dizer. O Cesar tinha sido o responsável por eu estar na área e me deu força como produtor, ajudando a estourar “Aprendendo a Jogar”. Que se seguiu ao Festival MPB Shell 81, da Globo, em que participei com “Planeta Água”. Foi sequência mortal, importante, que se mantém até hoje como símbolo do meu desabrochar para o mercado. Eu era a bola da vez.
Por quê? Eu não tinha credibilidade, não era gravado por outros que não eu mesmo. Ela gravou “Só Deus É Quem Sabe”, que eu tinha guardada e mandei para o Roberto Carlos. Ele não deu retorno. Fala de separação, coisa de casal. Ela gostou, fez um bolero, gravou de pronto. Aí pediu uma música que pudesse entrar na FM. Como a banda dela tinha acento funk muito forte, o Pedrão Baldanza era o baixista e ajudou a fazer o arranjo junto com o Cesar Camargo Mariano, que era marido da Elis. O Cesar é uma pessoa a quem devo muito. Ele incentivou a Elis a me dar oportunidade. Ela queria um compositor paulista, queria dar uma descariocada no trabalho dela. Gravou Belchior, outros paulistas… Então estava querendo dar uma puxada para a música de São Paulo. Quando ela me ligou, eu morava na Vila Mariana. Me ligou num fim de tarde em 1980. Eu tinha gravado um disco chamado “Coração Paulista”, pela Warner, meio maldito, meio de rock, feito com o Liminha. A Elis tinha me visto no “Fantástico” cantando (a canção) “Coração
1976
14/UBC : CAPA
1994 E o que veio depois? Eu tinha outra música com o Júlio Barroso, que era a “Perdidos na Selva”, já no MPB Shell 81. Fiz a pedido do Nelson Motta para a Gang 90 e As Absurdettes. Só que não assinei, porque não podia concorrer com duas no festival. Acabou sendo editada só em nome do Júlio. Anos depois ele faleceu, ficou no nome dele, não fiz questão de reverter isso aí… Eu fiz o refrão, “eu e minha gata rolando na relva…”, e alguma outra coisa. Lembra até o estilo de “Lindo Balão Azul”, que eu estava produzindo na mesma época e que inaugurou a era dos musicais infantis porque eu tomei uma atitude muito acertada. Foi a de voltar para a Som Livre num momento de estouro. O Guto Graça Mello tinha me descoberto, nos anos 1970, e eu os “traí” indo gravar com o Midani. Naquele momento de bombação, com três hits enfileirados, fui até o Guto e propus a minha volta no auge. Tinham feito “Arca de Noé”, com Vinicius (de Moraes), Edu Lobo, Chico (Buarque)… Era uma obra mais erudita, sofisticada. A proposta da Globo era fazer pop. Propus o “Lindo Balão Azul”, que vendeu um milhão de discos. Nesse momento eu me firmei como compositor que estava com a estrela. Eu tinha virado um midas. Aquele momento de música infantil durou um certo tempo... Durou. Eu fiz depois o especial com o Paulo Leminski, o “Pirlimpimpim 2”, um disco de “diluição”, como se dizia. Traduzindo: um caça-níqueis, uma sequência do sucesso do “Pirlimpipim”, que marcou os 100 anos do Monteiro Lobato. Mesmo sem criar diretamente eu continuava na ponta de lança dessa história infantil. A introdução do tema de abertura do “Xou da Xuxa” (“Doce Mel”, de Claudio Rabello e Renato Correa) é igual à do “Lindo Balão Azul”. O arranjo, do Lincoln Olivetti, chupou totalmente, descaradamente, o meu. Ele mesmo me disse: “bicho, eu chupei descaradamente. Algum problema?” Eu virei: “nenhum, meu, você pode tudo.” Esse cara me deu muita força na carreira, me admirou e estimulou. Claro que não havia problema. Isso é o pop. Os Beatles faziam isso. Todo mundo se “cita” o tempo todo. Você estava podendo nesse tempo. Era amigo dos caras, influente. O que faltava? Eu buscava novos desafios (risos). Então fui para a CBS, onde tinha o Marcos Maynard, Claudio Condé, que eram um grupo
de fãs e foram muito importantes para mim. Quem me pôs lá, de certa forma, foi o Djavan. Fui fazer, no final de 1984, um show em Maceió. Apareceu o Djavan no meu camarim. Adoro ele. Uma honra. Um gênio, puta músico, hitmaker… Estava estourado, tinha feito o disco “Luz”, com gaita do Stevie Wonder… Depois lançou o “Lilás”, muito forte no pop. Foi a um show meu, conversamos no camarim, e ele disse que o pessoal da CBS me adorava e que eu deveria tentar, que eu ia me dar bem lá. Na semana seguinte, consegui o telefone da CBS e liguei para o Maynard, que era diretor artístico. O cara pulou da cadeira, “não acredito, você era quem queríamos aqui”. No dia seguinte fomos almoçar na Majórica (churrascaria no bairro do Flamengo, no Rio). Lembro dessas situações todas, muito engraçado. Dois dias depois estava assinado com a CBS e começava a produzir um disco que ia estourar total. Quando hoje eu conto a minha história, as palavras que vêm à mente são satisfação, alegria e gratidão. Não há ranço de injustiça, que eu acho um estado péssimo do artista. Sempre somei música, letra, arranjo, piano, voz e figura, a minha figura. Não me deixei manipular em momento algum. Nunca conseguiram me adulterar, sempre fui muito respeitado. Essa é a verdade. Por todos. Primeiro o João Araújo, depois o Guto Graça Mello, depois a CBS. Na própria Odeon, na Polygram… Nas majors eles sempre foram cheios de dedos para lidar comigo. Eu era figura muito definida, autônoma. Em nenhum momento esse sucesso subiu à cabeça? Eu até tive um período de temperamento, comecei a ter um temperamento meio difícil, no final dos anos 1970, em função das dificuldades do mercado, que é muito duro. Você sempre ouve do mercado que você não está com essa bola toda. Isso é uma constante para todos os artistas. “Menoshhhh” (imita sotaque carioca e ri). Há 38 anos eu não era ninguém perto do Magal, que era fodão. Quando eu chego ao começo dos anos 1980, quando a Elis me grava, eu estava por baixo. Não era ninguém comparado com o Kleiton & Kledir ou o Oswaldo Montenegro. Não estava mesmo com essa bola toda. Depois, passaram-se os anos, e lá para 1983 ou 1984 eu não era ninguém perto do Ritchie ou do Fabio Jr., que passavam o sucesso na cara. Passaram-se mais dez anos de muito sucesso. No fim dos anos 1980 eu não era ninguém perto dos caras dos gêneros populares que tinham bombado com a era do CD - Asa de Água, Netinho… Dez anos depois, não era ninguém perto do Claudinho & Buchecha. Aí descubro que em 40 anos nunca fui ninguém! (risos). Essas comparações irritam o artista em sala de gravadora. Quando você quer fazer um projeto e “não está com essa bola toda”… Isso é o normal da negociação. Os caras derrubam para pagar menos. Com o tempo fui aprendendo isso. Era assim. Não pode gerar irritação, sentimento de injustiça. É o mercado em que a gente quer estar. Tem que jogar o jogo. Hoje tenho 63 anos e vejo que fiz um bom serviço de sobrevivência. E nesse pacote agora eu mostro toda essa gratidão. Como? Dentro da caixa da Sony vai vir um relato manuscrito, um diferencial importante, com caneta gráfica, em que escrevo em 72 páginas todos os detalhes das gravações, a relação com o mercado, as expectativas e tudo mais. Onde a gente estava, o que comíamos, quem eram os músicos. E detalhes técnicos sobre a feitura dos discos com muitas minúcias. Fui buscar pesquisas de todo o contexto. Fui atrás até de fichas técnicas falhas e que omitiam músicos e participantes. Nem tudo foi perfeito nas fichas. Então fiz trabalho que será diferencial importante na caixa. Esse verdadeiro libreto conta essa história. Não conta a história das músicas. Essa fica a cargo do documentário.
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E este? Como é exatamente? É um grande documentário de sete horas de material já editado. Sete episódios de uma hora, cada um dividido em capítulos cronológicos. Conta desde os primórdios no Moto Perpétuo. Fui buscar tudo. Montei no meu estúdio, na Bahia, uma sala de estar, com sofá, biblioteca, discoteca, filmoteca, tudo que influenciou cada período. E ali fizemos. Egberto Gismonti, Taiguara, meu começo… Fala de Blondie, B52s, Police, Tears for Fears, Double, Billy Joel, Elton John… Fala de tudo que me influenciou, que me é caro, dos poetas que influenciaram, como (Vladímir) Maiakovski, Jorge Mautner… Mostro fragmentos de coisas, de obras, na sala de estar… Numa situação de intimidade numa visita à minha casa. Um projeto completamente diferente. Esse material, que vai ser lançado na íntegra no meu canal no YouTube, inclui ainda visitas que faço ao Guto Graça Mello, ao Nelson Motta, no Rio... A gente vai ao Morro da Urca contar como eram aqueles anos de Noites Cariocas, as parcerias que a gente fez… É uma história bastante interessante e vai na contramão do mercado, que tem cultura de arena. DVDs são todos iguais. O da Adele é idêntico ao do Bruno & Marrone, num certo sentido: os recursos, os apelos visuais, as luzes, as câmeras passando pelo palco, o coro de negros dançando. Ficou tudo manjado. Acho que vou abrir uma leva de documentários similares ao meu. Quem dirige? Eu fiz um coletivo, não tem uma só pessoa. São três diretores sob a minha batuta. Eu sei a história que quero contar e não quero edição alheia. Tem que estar completo. Amanhã eu morro, e não interessa o olhar do diretor. O que interessa é o olhar meu, o do público.
1979
Quem produz e toca recebe. A gestão coletiva é a forma mais saudável de arrecadação e distribuição, de retribuição do trabalho… Eu tenho um bolo arrecadatório bastante satisfatório. Não é milionário, porque o nosso mercado não comporta isso, os novos tempos não comportam isso, a nossa língua não comporta isso. Mas eu tenho um acervo muito presente.
E a caixa da Sony?
Você ainda tem relação com o pessoal lá do início, do Moto Perpétuo?
A caixa são 21 discos de carreira e mais um só de singles e raridades. Tive alguns que ninguém conhece, que são raridades, obscuros. São 450 músicas gravadas, bicho! E tive outros que estouraram. “Planeta Água” e “Deixa Chover” não saíram em LP. Juntamos tudo em compactos.
Tenho ainda com o Gerson, com o Claudio Lucci, o meu maior parceiro ali dentro. A gente se encontrou na FAU 45 anos depois do Moto Perpétuo. O documentário mostra isso. Voltamos às origens. As pessoas vão chorar, falamos de tudo, daquela época.
Com 450 músicas gravadas, é fácil imaginar que a arrecadação de direitos autorais vai muito bem...
E com a turma da FAU? Dizem que havia uma rixa entre grupos rivais no curso de Arquitetura e que você fez não poucos detratores lá...
Vai bem demais! Eu apoio 100% o sistema, o método da UBC, do Ecad…. Funciona muitíssimo bem. Não tem segredo.
Eu briguei com todo mundo, mandei todo mundo tomar no c... Eu falava que era um bando de comunistas fracassados (risos). Quem era minha colega de classe era a Clara Ant, braço direito do Lula. Comunista histórica. Hoje eu olho com respeito, claro. Passou a rixa. Vivemos uma realidade tão diferente. Mas não nego que foi ótimo fazer sucesso naquele momento e mostrar para eles. Você parece ter uma história de dissidência, sempre meio do contra.
1997
Vou te contar um lance. Eu não entrei no Rock in Rio. Nem eu nem o Ritchie. Injustiça grande, ainda mais no caso dele. Tínhamos penetração na classe média alta universitária. Proliferaram bandas semelhantes. Mas eu não era da patota da Blitz, do Lulu Santos, do Barão Vermelho... Essa turma, junto com Kid Abelha, Paralamas do Sucesso, era a voz de uma classe social hegemônica que varreu as FMs. Eu só fui morar no Rio em 1985, com o objetivo de estourar no Canecão e, finalmente, virar um cara “nacional”. Eu não podia ficar sendo um artista paulista. Tinha um ranço, não estourava nacionalmente. Só os artistas cariocas, baianos, que moravam no Rio, tinham presença forte nas paradas. Os artistas de São Paulo eram discriminados, claramente. O bairrismo era muito grande, as gravadoras estavam no Rio. Quando lanço o (disco) “Coração Paulista”, isso provoca reação grande no
16/UBC : CAPA
meio radiofônico. Eu nunca tive que cariocar. A Elis, por exemplo, cariocou, cantava com sotaque forte do Rio. Rita Lee também. Tinham que ser mais palatáveis. Eu fui aclamado no Maracanãzinho, fui aceito. Me mudei em 1985, fiz Canecão, morei em Copa, na Francisco Otaviano, número 17. A minha mulher na época era carioca, amiga de todo mundo do Noites Cariocas. Era discotecária a Luíza, minha segunda mulher. Era amiga do Ezequiel Neves, do Júlio Barroso, da Scarlet Moon… O pessoal me acolheu maravilhosamente. Passaram a pensar que eu sou carioca. É a melhor coisa que pode acontecer com um forasteiro no Rio. Foi a glória (risos). E o que aconteceu a partir dos anos 1990? A crise das gravadoras impactou a sua carreira? Claro que sim, um impacto grande. É paradoxal. Por essa época surgem os gravadores digitais caseiros. Sheryl Crow, Alanis Morissette, muita gente começa a fazer disco “em casa”. Por um lado, a indústria declinava, e, por outro, a tecnologia subia. Protools, mais tarde, computadores… Essa migração foi a mais dolorosa, perdemos o modus faciendi. Metamorfose muito grande. A replicação, também, da casa dos milhões propiciada pelo CD – e, mais tarde, pela pirataria do CD – teve um impacto profundo na maneira como se passou a entender a música. É o momento do Gerasamba, que virou É o Tchan!, do Só Pra Contrariar, esse povo que inventava dança, comportamento, sexualidade, claramente já com a dança da moda, gestualidade e toda uma coisa mais caricata. Isso proporcionando vendas que a indústria nunca tinha visto. Aí vêm os Mamonas Assassinas… Há tese de que esses marcos são os fundadores da decadência da indústria musical. Foi quando a gozação, o achincalhe e o esculhambo passaram a render muito mais do que o bom comportamento, a erudição ou a inovação da linguagem, das letras, das músicas, ou até que a revolta do rock… Esses valores ficam de lado. Os sertanejos cantam que vão beber cerveja, a geladeira está cheia, e eu vou comer todas as mulheres. É uma caricatura de sertanejo, uma caricatura de forró, uma caricatura de pagode originais... O nível educacional baixo é o caldo de cultura. É uma instrumentalização da música, uma coisa utilitária, usada para vender. Usada pela indústria, e não só a musical. É consenso que o neossertanejo é usado pelo agronegócio. O axé foi usado pelo carlismo na Bahia, nos grandes shows promovidos durante os governos do Antônio Carlos Magalhães (morto em 2007). O pagode foi a trilha da inserção de uma grande massa de excluídos nas periferias das metrópoles que, de repente, podia ter conta no Itaú e fazer crediário nas Casas Bahia.
Há luz no fim do túnel? Eu vejo um cenário de reconstrução da música brasileira, que foi devastada pelo utilitarismo. O renascimento vem pelas vanguardas de uma juventude urbana e culta, insatisfeita e sempre transgressora. Está havendo uma reconstrução, com novos nomes. Eu admiro muito o idealismo dessa geração, que vem desprotegida para o mercado. Sem a proteção de um demo econômico, de uma propulsão a jato como os fenômenos de massa das décadas passadas, e sem as grandes gravadoras, que perderam o poder de corte do mercado. Cito o Tiago Iorc, um menino que não tem problema com o sucesso e não tem problema em se tornar mainstream. A nova geração tem vergonha de virar mainstream. Ele, não. Tem o Marcelo Jeneci, a Tulipa Ruiz, a Roberta Sá… Roberta Sá beira o divino. É perfeita. Tem a Tiê, que também está se atirando para o mainstream. Tem a Karina Buhr, a Karol Conka... Se perderem o restinho de medo de ser mainstream que têm, essas vão ser as pessoas que farão a virada.
1999
Nesse contexto, você já não era a bola da vez. Já não era. Quando você está no auge, todo mundo adere, e você é maravilhoso. O fenômeno da aclamação é generalizado. Cada época tem seu fenômeno. Houve um momento Chico César, um momento Zeca Baleiro, um momento Lenine, Guilherme Arantes, Sullivan & Massadas, Dalto e Claudio Rabello... No sertanejo, houve um momento Sorocaba, que já passou, mas é inegável que o cara é um hitmaker... O normal não é o sucesso retumbante. A normalidade é o dia a dia, o pé no chão. Eu ia andar na madrugada depois de fazer show para milhares. O normal é a solidão, a batalha, a introspecção. É a atitude de gente como Marisa Monte ou Adriana Calcanhotto, que se retiram para criar, saem de cena, saem dos holofotes. E voltam com discos fantásticos. Elas se permitem isso, mas são exceções. Infelizmente, o corrente, hoje, são a roda-vida, a série de shows, as turnês sem fim, a produção em série.
1985
PELO PAÍS : UBC/17
LEO GANDELMAN
CELEBRAÇÃO À MÚSICA Do Rio
“Me considero um felizardo por viver do meu sonho e do meu ideal, numa realidade onde a maioria luta para pagar as contas”, descreve. “A arte, de maneira geral, não faz parte do mainstream e não tem mídia maciça. Escolhi fazer arte, em oposição a um produto fácil de mercado.” Consciente de que viver só de direitos autorais, na sua área, seria arriscado, há anos Leo apostou na diversificação. “Temos que ter um pensamento mais amplo para alcançar algum êxito na atividade musical. Compor, produzir, arranjar, gravar, apresentar-se e ter um espírito empreendedor são múltiplas coisas que fazem parte da minha vida hoje”, enumera o artista, que alcançou o sucesso logo no ano (1987) do primeiro lançamento, “Leo Gandelman”, com o single “A Ilha”, uma entre muitas parcerias que coassinou com o amigo William Magalhães. “A parceria com William é a que eu mais destaco, rendeu-me os maiores sucessos”, elogia. De lá para cá, investiu na produção de discos de Marina Lima (“Virgem”) ou Gal Costa (“Plural”) e passou a militar no circuito fechado, mas prestigioso, dos festivais de jazz, com participações em grandes encontros do gênero no país (Free Jazz) e no exterior (Montreux, Havana). O contato com grandes nomes lhe permitiu cultivar outra de suas facetas: a composição de trilhas, um mercado promissor para músicos. “Não se ganha muito, é verdade... Quando chega a hora de (criar a) música, os orçamentos já estouraram”, brinca. “Mas já fui fotógrafo e trabalhei em cinema. Fazer trilhas para produtos audiovisuais é um sonho.”
INSTRUMENTISTA, COMPOSITOR E PRODUTOR CARIOCA FAZ 60 ANOS DO JEITO QUE COMEÇOU SUA CARREIRA SOLO, HÁ EXATAS TRÊS DÉCADAS: SEM CONCESSÕES AO MAINSTREAM MIDIÁTICO FESTA COM TRILHA, SHOWS, PROGRAMA DE TV Este ano, assinou a trilha do longa “Dolores”, do argentino John Dickinson, ainda sem previsão de estreia no Brasil. “Foi um verdadeiro sonho fazer essa trilha com meu parceiro Eduardo Farias, um grande músico e um orquestrador de mão cheia. John Dickinson me deu liberdade total para decupar e conceber a música que, por ser de um filme que se passa nas décadas de 1930 e 1940, pedia uma trilha orquestral e muito romântica. Compus algumas baladas que passarão a fazer parte do meu novo repertório de shows”, afirma Leo, que começou a dupla celebração pelos 30 anos de carreira e 60 de vida tocando no Rock in Rio – Lisboa, em maio passado, na capital portuguesa, além de estender para uma miniturnê espanhola, com apresentações em Madri e Bilbao. Mas não é somente no palco que Leo Gandelman celebra. Acaba de ir ao ar a primeira temporada de um programa de TV que ele apresenta, um espaço de encontros entre artistas de sotaques e sonoridades variados, o “Vamos Tocar”, no Canal Bis, que recebeu gente do quilate de Ney Matogrosso, Alcione, Edu Lobo, Fagner, Zélia Duncan, Moraes Moreira e Hamilton de Holanda, entre diversos outros. A (boa) repercussão era evidente, e já há tratativas para uma segunda temporada em 2017. “Foram programas gravados no meu novo estúdio, onde a música é entremeada com conversas reveladoras e íntimas, numa concepção musical bem pessoal. Esse programa é, sem dúvida, uma página marcante na minha carreira”, avalia Leo, exaltando os encontros musicais que, desde pequeno, em casa, sempre marcaram sua vida, culminando numa fase particularmente produtiva: “Este é um momento emblemático e um ano muito especial para mim. Sem dúvida, tem muita coisa boa acontecendo.”
Foto:Cafi
A expressão família de músicos poucas vezes caiu tão bem quanto aqui. Filho de um maestro (Henrique Gandelman, diretor artístico da antiga gravadora CBS e advogado especialista em direitos autorais) e de uma pianista (Salomea Gandelman, educadora e fundadora da Escola de Música Pró-Arte, no Rio) e irmão de duas musicistas (a oboísta Lia e a pianista Marisa, ex-diretora-executiva da UBC), Leo Gandelman não poderia ter encontrado ambiente mais favorável para desenvolver seu talento. À vontade desde cedo para tentar um caminho diverso ao da maioria de músicos que militam no mercado sozinhos, não abraçou o pop, não compõe canções com letras e escolheu um instrumento – o saxofone – associado ao jazz ou à música erudita. Acertou em cheio. Em 30 anos de carreira solo – 37, se somado o período em que atuou como músico acompanhante de diversos artistas brasileiros –, este carioca acaba de completar seis décadas de vida com razões de sobra para celebrar.
18/UBC : PELO PAÍS
20 ANOS DEPOIS, UM NOVO E 'GRANDE ENCONTRO' ENTRE
ALCEU & ELBA GERALDO
SEM ZÉ RAMALHO, ENVOLVIDO NAS COMEMORAÇÕES DAS SUAS QUATRO DÉCADAS DE CARREIRA, OS TRÊS EXPOENTES DA MÚSICA NACIONAL RECRIAM EM SÉRIE DE SHOWS O CLIMA MÁGICO DA TURNÊ DE 1996 Por Christina Fuscaldo, do Rio
A notável produção de Alceu Valença, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho ficou espremida, nos anos 1980, entre dois movimentos que tiveram suas expressões amplificadas, o Tropicalismo (iniciado na década de 1960 e ainda com reflexos muito tempo depois) e o BRock 80. Os redentores anos 1990 assistiram à revalorização desses quatro expoentes nordestinos da música nacional, principalmente após a reunião deles no projeto O Grande Encontro, em 1996. Sucesso retumbante de bilheteria por onde o show passava e de venda de discos em todo o Brasil, o grupo partiu para a segunda e a terceira edição, em 1997 e em 2000, mas sem Alceu, que mudou de gravadora e não pôde participar, então. Neste 2016, vinte anos após eles mostrarem a todos os frutos de uma parceria surgida há mais de quatro décadas, renasce a ideia de celebrar com uma nova reunião. Agora, quem não está presente é Zé Ramalho, que não topou participar por estar ocupado com os eventos de comemoração de seus 40 anos de carreira. Foi, portanto, o trio Alceu, Elba e Geraldo que estreou em setembro, no mítico Metropolitan, no Rio de Janeiro, um espetáculo nada repetitivo (com mais de quatro mil ingressos vendidos em menos de 10 dias), além de gravar em São Paulo um novo CD/DVD e já sair em turnê por outras cidades brasileiras.
Foto: Lívio Campos
& O
PELO PAÍS : UBC/19
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'ALGO NOVO, DIFERENTE' "Nós estamos fazendo algo novo, cantando coisas diferentes. Tem composições novas, é uma outra sonoridade. O show está musicalmente fantástico, porque somos três artistas de muita produção e de muita história. A única coisa antiga que tem na minha apresentação individual é 'Chão de Giz', que vai ser minha homenagem a Zé Ramalho e é um clássico que está na história d'O Grande Encontro, na dele, na minha e na de nós dois. Lamento muito que Zé não esteja com a gente. Nesse show, dois é bom, três é maravilhoso e quatro seria perfeito", resume Elba. Como em 1996, o novo encontro surgiu de uma parceria de dois. Naquela época, Zé e Geraldo estavam apresentando o show “Dueto” e já tinham plano de gravar CD e DVD quando Alceu e Elba entraram para a trupe. Desta vez, Elba e Geraldo é que vinham percorrendo o Brasil com o espetáculo “Um Encontro Inesquecível” e já estavam quase gravando CD e DVD quando surgiu uma proposta, vinda de uma empresa instalada há 20 anos no país, de montar novamente O Grande Encontro para uma celebração dupla de aniversário. Sem Zé, a parceria não se consolidou e, consequentemente, o patrocínio não veio. Mas a vontade de subir ao palco juntos já estava grande demais para o trio desistir. "Chegou a surgir a ideia de chamar outra pessoa para substituir Zé, mas a empresa acabou não aceitando e achei melhor assim, só nós três. Eu nunca concordei com isso. Não seria O Grande Encontro. E o que temos que comemorar é o sucesso que tivemos por causa da originalidade do projeto. Não vemos problema em repetir certas canções porque o público que acompanha nossa trajetória sempre quer nos rever. E há novas gerações que estão assimilando todo o nosso trabalho mais recentemente. Sigo achando que um dia os quatro ainda vão se juntar de novo, porque existe uma relação muito forte de interação em nossas carreiras", diz Geraldo. NO PRINCÍPIO ERAM OS RAMALHO Zé e Elba se conheceram quando ela tinha 14 anos e tocava bateria em uma banda de rock da Paraíba. Ele, com 16, era guitarrista de um conjunto de baile local. Ela é hoje a intérprete que mais gravou composições do compositor paraibano. Geraldo conheceu Alceu em Pernambuco e estreou em disco junto com ele, em 1972: os dois dividiram o repertório de "Quadrafônico", um dos primeiros LPs a serem gravados usando o sistema quadrafônico, ou 4.0, que, com o uso de quatro canais de áudio estéreo, era uma novidade para a época. Zé e Alceu se conheceram na casa de duas irmãs que eles namoravam, e logo um passou a fazer parte dos projetos do outro. Com Zé, Geraldo compôs uma série de canções. Enfim, é história que não acaba mais. "Zé é parceiro de Alceu e é meu parceiro. Elba gravou muitas músicas de Zé e minhas também. Então, esse elo que existe entre a gente é infinito, interminável", celebra Geraldo. DOS VIOLÕES PARA UMA BANDA TODA Diferentemente da primeira edição, em que o show foi todo à base dos violões de Alceu, Geraldo e Zé, o novo O Grande Encontro tem uma banda de peso, formada pelos profissionais que acompanham Elba com adesão de alguns dos músicos de Alceu e Geraldo. Estão no palco com o trio Paulo Rafael e Marcos Arcanjo (violão e guitarra), Cássio Cunha (bateria), Nei Conceição (baixo), César Michiles (flauta), Anjo Caldas (percussão) e Meninão (sanfona). O repertório celebra o show de 1996 principalmente quando os três estão juntos no palco: de lá, eles resgatam "Sabiá", "Banho de Cheiro", "Pelas Ruas Que Andei" e "Frevo Mulher". Do encontro de 2000, vieram "Caravana" e "Táxi Lunar". Em seus momentos solo, eles
também relembram sucessos antigos, mas músicas novas ou algumas até hoje desconhecidas do grande público dão o ar de novidade ao espetáculo. "Incluí no roteiro uma música minha inédita chamada 'Ciranda da Traição' e resgatei 'Papagaio do Futuro', que defendi no Festival Internacional da Canção de 1972 junto a Jackson do Pandeiro. Tem também uma música chamada 'Me dá um Beijo' de minha autoria que Geraldo me lembrou que nós gravamos no 'Quadrafônico'. Mas também canto as mais conhecidas, como 'Coração Bobo' e 'Tropicana'", conta Alceu. "Ciranda da Traição" não está em disco algum de Alceu, mas é velha conhecida de quem frequenta seus shows de carnaval. O pernambucano leva também ao palco "Cabelo no Pente", "La Belle de Jour" e, com Elba Ramalho, "Ciranda Rosa Vermelha" e "Flor de Tangerina", sucessos nas trilhas sonoras das novelas "A Indomada"(1997) e "Velho Chico" (2016), respectivamente. Com Geraldinho, seu conterrâneo, além de "Papagaio do Futuro", ele canta "Moça Bonita". 'OBEDECEMOS A HISTÓRIA DA MÚSICA' "Faço oito tipos de shows diferentes, um com orquestra, o acústico, o de carnaval, o de São João, um mais metropolitano e até um de rock que não é rock, como definiu um jornalista americano que me viu tocar em Nova York certa vez... Em O Grande Encontro, cada um pode escolher a sonoridade que quer para sua apresentação individual. Quando tocamos juntos, obedecemos a história da música", explica Alceu. Com a saída do amigo do palco, Geraldinho ataca sozinho de "Sétimo Céu", "Parceiros das Delícias", "Dia Branco" e a parceria inédita com Abel Silva "Só Depois de Muito Amor". Com Elba, ele canta e toca "Bicho de 7 Cabeças II" e "Canta Coração", composição dele e de Carlos Fernando que inaugurou o repertório do primeiro LP da cantora paraibana, "Ave de Prata", lançado em 1979. A composição é dos tempos em que a dupla dividia apartamento no Rio em um "casamento sem sexo", como declarou Elba no palco carioca. "Eu sempre achei que Elba tinha que cantar. Naquela época, ela fazia uma peça, mas eu já achava que ela devia cantar", relembra ele. Sozinha, além da já citada "Chão de Giz", Elba arrebenta interpretando "Sangrando" - que trouxe do show do Prêmio da Música Brasileira que homenageia Gonzaguinha - e faz um medley celebrando a obra de Dominguinhos com "Abri a Porta" e "Eu Só Quero Um Xodó". Sempre contando histórias no palco, ela entoa "Candeeiro Encantando" lembrando que foi a primeira cantora a gravar uma música de autoria de Lenine. O que o público perdeu desta vez foi a estreia da cantora como compositora de música não religiosa. "Eu ganhei uma força como intérprete com 'Sangrando' nos shows do prêmio, por isso quis continuar cantando. Não foi fácil escolher o repertório porque tenho mais de 800 músicas gravadas de outras pessoas. E, apesar de querer agradar ao público com sucessos, gosto de desafio, de novidade. Eu queria incluir uma composição que fiz com Geraldinho e Tony Garrido, mas não ficou pronta em tempo. As melodias vivem aqui, saindo, mas eu sou preguiçosa. Em disco meu, só tem música religiosa que eu fiz", conta Elba. O Grande Encontro está sob o comando do produtor e diretor cultural pernambucano André Brasileiro, que dirigiu o show do premiado CD/DVD "Cordas, Gonzagas e Afins", de Elba Ramalho. Um show à parte, o cenário elaborado por Gringo Cardia a partir de obras do artista plástico baiano J. Cunha muda a cada número, colorindo o visual nos mesmos tons das músicas.
FIQUE DE OLHO
NOTÍCIAS : UBC/21
83% RECOMENDAM A UBC, REVELA PESQUISA DE SATISFAÇÃO OLIMPÍADAS: DISTRIBUIÇÃO PODE OCORRER JÁ EM NOVEMBRO A distribuição do montante arrecadado durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, ocorridos em agosto, poderá ocorrer ainda em novembro. A única razão que pode levar ao adiamento do repasse aos autores para dezembro é o descumprimento, por parte do Comitê Organizador ou dos patrocinadores dos Jogos, dos prazos para a entrega dos repertórios musicais usados nos diferentes eventos. Entre as rubricas especiais criadas estão Shows - Jogos Rio 2016 (cerimônias de abertura e encerramento), Shows Revezamento da Tocha, Shows - Live Site e Shows - Centros de Hospitalidade, além das modalidades de Sonorização dos mesmos eventos descritos acima.
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Conheça as rubricas especiais de Olimpíadas
UBC E ECAD DIMINUEM SUAS TAXAS DE ADMINISTRAÇÃO A União Brasileira de Compositores (UBC) e o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) reduziram suas taxas de administração a partir da distribuição de agosto. A taxa de administração é o percentual cobrado dos direitos autorais arrecadados, dinheiro que é usado para custear a estrutura da organização, pagar salários, arcar com custos legais e outros gastos. No caso da UBC, esse percentual caiu de 6,12% para 5,36%. O Ecad diminuiu sua taxa de 13,88% para 12,14%.
ALCAM CRITICA PROJETO QUE PODE TIRAR R$ 30 MILHÕES POR ANO DOS COMPOSITORES A Aliança Latino Americana de Autores e Compositores de Música (Alcam) enviou uma carta ao Senado brasileiro manifestando sua preocupação com o PLS 206/12, que isenta hotéis do pagamento de direitos autorais pela sonorização dos seus quartos. O projeto de lei, que já foi aprovado em diversas comissões do Senado, está agora em tramitação final na casa. Posteriormente, será enviado para aprovação na Câmara dos Deputados. De autoria da senadora Ana Amélia (PP - RS), o projeto pode causar um prejuízo de cerca de R$ 30 milhões por ano e afetar em torno de 54 mil criadores. “Se essa lei for aprovada, será um claro retrocesso no campo da justiça social e no reconhecimento daqueles que constituem a parte mais importante da indústria cultural: os criadores”, protesta Alejandro Guarello, presidente da Alcam. No Brasil, mais de 1.200 artistas já assinaram uma petição on-line contra o projeto.
A primeira edição de uma Pesquisa de Satisfação realizada em julho pela UBC com cerca de 400 pessoas revela: 83% delas consideram extremamente provável ou muito provável recomendar os serviços da nossa associação. Entre os que manifestaram opiniões favoráveis, 92% são associados, o que prova que a entidade desfruta de uma visão majoritariamente positiva junto ao seu público-alvo. O bom atendimento (74 menções), a tradição e a confiabilidade de uma associação com 74 anos de história (73 menções), o dinamismo (67) e a transparência na comunicação (47) são alguns dos valores mais citados. Entre todos os entrevistados, 81% avaliaram positivamente o atendimento recebido dos funcionários, sendo que 52% o descreveram como excelente, e 29%, como bom. Entre os que avaliaram mal a associação, 15 pessoas disseram receber atendimento ruim e não ter respostas às suas demandas, 13 citaram motivos variados e sete alegaram ter baixos rendimentos.
GOIÂNIA É MAIS UMA CIDADE A RECEBER O NOVOS MEIOS, NOVOS RUMOS A caravana da informação da UBC continua a rodar o país. Em outubro passado foi a vez de Goiânia receber o encontro Novos Meios, Novos Rumos, criado para promover uma necessária discussão sobre as formas de produzir e consumir música na era digital. Desde maio, diferentes edições em lugares como Salvador, Vitória, Belo Horizonte, São Paulo, Campo Grande e Niterói (RJ) têm contado com a presença da presidente da UBC, Sandra de Sá, do diretor-executivo, Marcelo Castello Branco, e de diretores como Aloysio Reis, Manoel Pinto e Ronaldo Bastos. Marcados por trocas de ideias e proposições para os desafios que as novas formas de uso da música trazem à arrecadação, os eventos põem frente a frente associados e representantes da indústria. Fique ligado no nosso site e acompanhe a agenda dos próximos encontros.
EM SUA 12ª EDIÇÃO, FESTA NACIONAL DA MÚSICA MUDA DE PALCO Depois de 11 anos na Serra Gaúcha, a Festa Nacional da Música está de casa nova. De 9 a 19 de outubro, Porto Alegre recebeu o maior evento do gênero no país, que, além de apresentar alguns dos nossos principais artistas em shows espalhados por diversos pontos da cidade, teve debates sobre mercado musical, palestras e oficinas com técnicos, além de muito networking entre criadores, produtores e representantes da indústria. Só o que não mudou foi a tradicional participação da UBC, que, no dia 13 de outubro, contou com um palco para apresentações de alguns de seus associados no Largo Glênio Peres, em pleno centro histórico da capital gaúcha. Os nomes homenageados nesta 12ª edição pelo conjunto da sua obra foram Alcione, Amado Batista, Leo Gandelman, João Roberto Kelly, Paula Lima, o grupo Turma do Pagode, o cantor tradicionalista Luiz Carlos Borges, o compositor e poeta Luiz Coronel e o coreógrafo Carlinhos de Jesus.
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LANCE-
SE!
(MAS SABENDO BEM ONDE VAI CAIR)
INTERNET OU RÁDIO? PROGRAMA DE AUDITÓRIO OU DIVULGAÇÃO NA RUA? REDE SOCIAL OU GRAVADORA? ARTISTAS, EMPRESÁRIOS E PRODUTORES ENSINAM QUE A FÓRMULA PARA UMA BOA INSERÇÃO DA SUA OBRA SEGUE A VELHA LÓGICA: É TUDO JUNTO E MISTURADO
Por Michele Miranda, de São Paulo Já existem dezenas de programas capazes de gravar discos com excelente qualidade na sua própria casa, e outras dezenas de canais que permitem divulgação gratuita de música. Por conta dessa facilidade, milhares de novos artistas surgem e têm a possibilidade de registrar suas canções a cada ano. Mas como ser um em um milhão na hora de divulgar um trabalho e fazê-lo ganhar a atenção do público? “Essa é a pergunta de um milhão de dólares, que todo mundo está tentando descobrir”, comenta o guitarrista Maurício Tagliari, produtor musical da gravadora independente YB Music, de São Paulo. “O primeiro disco lançado por nós que explodiu foi ‘Efêmera’ (2010), da Tulipa Ruiz. Ela soube trabalhar as redes, com vídeos e conversas com o público. Mas a divulgação que fizemos para ela talvez hoje não funcionasse, porque as mídias sociais são muito dinâmicas. Ideias que dão certo hoje podem ser um fracasso amanhã. E não dá para já nascer mundial. Metá Metá, Tulipa e Bixiga 70 estão hoje fazendo turnê na Europa, mas eles começaram no bairro, partiram para a cidade e conquistaram o estado, antes do país.” Após mais de uma década desde o lançamento do oitavo disco, “Superstar” (2002), o Defalla voltou aos estúdios, gravou 14 faixas inéditas e reuniu tudo em um álbum batizado “Monstro” (2016). Com tudo pronto, o maior desafio da banda, nascida nos anos 80, não era nem a insegurança de agradar ao público com suas canções cheias de rock, hip hop, pop e funk,
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mas, sim, como alcançar os fãs que antes colecionavam seus vinis e cassetes e, ao mesmo tempo, conquistar outra parcela que ainda não era nem nascida quando “It's Fuckin’ Borin’ o Death” (1986) já tocava nas rádios. “Vivi a época das grandes gravadoras, que tinham grana e bancavam tudo. Isso não existe mais”, analisa o vocalista Edu K. “O problema é que existe oferta demais por causa da internet, então estamos competindo de maneira muito mais feroz para ganhar atenção. Não existe mais a função do formador de opinião. Hoje quem forma a sua opinião é você mesmo. Então como chegar a essas pessoas? Para mim, ainda é um mistério. A gente depende de certas coisas que são obsoletas aos olhos da revolução digital, como aparecer na televisão. Mas já percebi certas coisas... Por exemplo: apesar de ter uma equipe, eu mesmo faço as interações nas redes sociais, em vez de terceirizar isso. É uma maneira de deixar sua marca.”
“Não dá para já nascer mundial. Metá Metá, Tulipa e Bixiga 70 estão hoje fazendo turnê na Europa, mas eles começaram no bairro, partiram para a cidade e conquistaram o estado, antes do país.” Maurício Tagliari, produtor da YB Music
Quando participou da fundação do Aborto Elétrico e do Capital Inicial, bandas essenciais do BRock, Fê Lemos passeou pelos bastidores do ápice da indústria musical brasileira. Eis que o baterista decidiu lançar um projeto solo de rock mesclado à música eletrônica, que começou do zero, a banda Hotel Básico. Agora, ele tenta driblar os desafios de divulgar um novo projeto aliando novas tecnologias a mecanismos conservadores. “Apesar de o mercado ter mudado muito nos últimos 30 anos, ainda acho que um artista se torna conhecido quando ele toca no rádio e aparece na TV aberta. Esses pilares da divulgação ainda valem e continuam sendo exclusividade de artistas que tenham gravadoras ou selos bem estruturados”, aposta o músico. “Por outro lado, hoje há algo que não existia nos anos 80, que é a internet. O mais difícil naquela época agora é o mais fácil: gravar um disco. Um artista independente produz um disco de qualidade em casa, com equipamento doméstico, e consegue se tornar conhecido usando as redes sociais, mas o alcance ainda é muito menor do que se você tem uma música na novela.” Ainda segundo Lemos, “a revolução digital permitiu que artistas consigam materializar em discos e vídeos sua obra, algo que era muito difícil nos anos 80 e início dos 90.” Se o lado positivo é a facilidade, o negativo é desvendar a equação de como se tornar conhecido em meio a tantos lançamentos. Em vez de lamentar ou acomodar-se no estável sucesso do Capital Inicial, ele faz suas apostas e tentativas: “Com o disco do Hotel Básico pronto, surgiu a mesma pergunta de anos atrás: o que fazer agora para divulgar? Eu sei a resposta. Preciso me juntar com pessoas que queiram trabalhar com exatamente o que eu tenho: um disco. Talvez a solução seja montar uma rede com pessoas que tenham diferentes conhecimentos e com o mesmo objetivo. Agora, como as pessoas vão ganhar dinheiro com isso? Essa é a grande pergunta, já que uma banda nova vai tocar praticamente de graça. Esse negócio ainda está sendo moldado”, analisa o baterista.
Essa interação proposta por Fê Lemos já é um modelo de negócio para alguns produtores independentes, que acumulam funções, com o objetivo de o negócio se tornar viável. É o caso da fundadora da agência Dobra, Julianna Sá, parceira de artistas como Alvaro Lancellotti, Brunno Monteiro, Fernando Temporão, Aíla, Qinho e Mohandas. “Sempre brinco que sou agente, produtora, assessora de imprensa e carregadora de caixa”, diz a carioca. “Traduzir o artista para o mercado é um processo que exige proximidade, conhecimento e envolvimento. Esse acúmulo de funções é em parte imposição da escassez do mercado. Percebi que alguns artistas tinham um trabalho de imprensa muito forte, mas tocavam em casas já fora do circuito. Outros, com público, circulavam bem, mas não eram absorvidos pela imprensa. Outros ainda tinham um trabalho de imagem totalmente desencontrado do trabalho musical, não conseguiam comunicar.” Fazer parte de Facebook, Instagram, YouTube, Twitter é muito importante, e ninguém contraria essa verdade. Mas não é a única saída. No disco de estreia de Brunno Monteiro, a equipe de Julianna criou anúncios que diziam "disco grátis aqui", com papel destacável, tal qual aqueles de aluguel ou de aula particular pregados em postes espalhados pelas cidades. A proposta, simples e diferente, rendeu retorno no site do cantor. “Estar na internet é essencial, mas estar fora dela de forma criativa, também”, pondera Julianna, aproveitando para analisar o papel de mídias tradicionais no atual mercado. “O jornal é uma forma de avalizar um trabalho, mas não de divulgá-lo. Como é meu segmento, foco em rádios independentes, públicas, de nicho. Isso ajuda a viabilizar uma circulação maior, mesmo que em proporções inferiores às rádios comerciais, que não tocam esse tipo de artista. Quem está à frente desses programas costuma estar presente de outras formas na cadeia como um todo. Em relação ao streaming, apesar de o retorno financeiro não vingar, é importante para o álbum ter lastro.”
“Não existe mais a função do formador de opinião. Hoje quem forma a sua opinião é você mesmo.” Edu K, cantor
O nascimento de novas plataformas, como Spotify, Deezer, Napster e Apple Music, pode ter mudado a maneira como o fã de música descobre seus novos tesouros, mas está longe de eliminar o velho mundo audiovisual. O rádio ainda tem extrema relevância na hora de um artista divulgar seu trabalho, segundo João Carlos Filho, diretor artístico da Rádio Mania. “O rádio continua sendo a melhor maneira de popularizar uma música no Brasil. O rádio continua tentando cumprir seu papel de perceber os movimentos musicais do mercado. As opções para ouvir música aumentaram, mas a audiência do rádio não sofreu perdas proporcionais”, explica Filho. “O tempo médio de permanência do ouvinte diminuiu, é verdade, mas o veículo ainda atinge números expressivos. A internet é mais um campo para o radialista, e o perfil de vanguarda se encaixa perfeitamente nesse segmento.” Os shows de calouro sempre existiram, mas as superproduções internacionais (que, em alguns casos, ganharam releitura brasileira), como “The Voice” e “The X Factor”, revelam talentos a cada edição. Tanto é que a participação nos programas virou uma espécie de eldorado para alguns artistas que sonham ter seus trabalhos divulgados na televisão.
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“A maneira como (esses programas) se encaixam no novo modelo é simples: é um grande portal, que permite que um número gigante de pessoas possam ouvir o trabalho do artista. Por trás do programa existe uma equipe trabalhando para descobrir talentos”, explica Torcuato Mariano, produtor musical de “The Voice” e “Superstar”. “O mercado se transformou radicalmente. Hoje a concorrência é grande, e a música virou um mercado de apostas. Se fizermos uma estatística, qual é a proporção de acertos para a de tentativas? Acho que um em um milhão. É preciso ter criatividade, talento, inspiração, saber se reinventar a cada canção, produção, arranjo”, enumera Mariano, que reconhece ser para poucos ter a sorte de começar a carreira num programa de horário nobre da TV. Existem, ele diz, outros meios para se fazer notar: “Temos que alimentar o mercado com criatividade. Nos últimos tempos percebi muitos trabalhos sendo desenvolvidos num circuito pequeno. A partir do crescimento dessa região os artistas vão se expandindo. O produto físico ficou em último plano, ao ponto de às vezes serem dados ao seu público como presente nos shows. Acredito que o show nunca foi tão decisivo na carreira de um artista quanto nos dias de hoje.”
STREAMING: USE COM CUIDADO Enquanto a maioria dos artistas, empresários e produtores quer estar no maior número de segmentos on-line e off-line, existem aqueles que optam por convergir sua estratégia em um só foco. A sangrenta batalha entre o Spotify, considerado hoje o maior serviço de streaming do mundo, e a Apple, que vem tentando abocanhar essa posição, produz capítulos cada vez mais polêmicos. Depois de Drake e Chance de Rapper, chegou a vez de Frank Ocean ser o protagonista. As duas empresas têm uma disputa muito objetiva sobre a política de exclusividade dos lançamentos de novos discos de artistas badalados, o que tem promovido um leilão musical. Sorte dos artistas, que recebem milhões para escolher qual ferramenta terá o direito de tocar seu álbum pela primeira vez. Mas será que é sorte mesmo? No caso de “Blonde”, segundo trabalho de Ocean, o resultado foi uma maciça pirataria, já que ainda tem muita gente resistente ao serviço de streaming da empresa da maçã. “Se viessem com uma proposta incrível e com muita grana, como foi o caso do Frank Ocean, claro que eu aceitaria. A pirataria vai existir em qualquer estratégia de lançamento”, afirma Edu K. “Mas a música perdeu seu valor ritualístico. Depois da revolução do Napster, o mundo mudou realmente. Como músico, isso é horrível e é maravilhoso, pois não existe mais o ritual do álbum. Mas, ao mesmo tempo, é isso o que as pessoas querem.” Desde a crise da indústria fonográfica, a possibilidade de fazer uma pequena fortuna com um disco se tornou cada vez mais rara. Ter essa chance num modelo de negócio patrocinado por gigantes como Spotify e Apple, em pleno 2016, desperta o interesse, mas pode ser um tiro no pé. É o que Maurício Tagliari pondera: “Acho que exclusividade é uma furada. Se você vai só para um modelo, fecha seu círculo. Por uma questão empresarial, esses acordos de exclusividade pagam um caminhão de dinheiro ao artista”, explica o guitarrista e produtor musical. “O U2 fez um lançamento ousado em parceria com o iTunes para que todos os usuários recebessem obrigatoriamente o disco novo, recebeu muita grana, mas irritou muita gente. Como é uma banda consolidada, os fãs não deixaram de consumir o álbum por causa disso. Mas acho um erro, especialmente para os novos artistas.”
“Estar na internet é essencial, mas estar fora dela de forma criativa, também. Foco em rádios independentes, públicas, de nicho. Isso ajuda a viabilizar uma circulação maior.” Julianna Sá, fundadora da Agência Dobra
Embora os números das plataformas de streaming só cresçam e os de venda de discos venham caindo, o debate sobre abolir as bolachas de CD ainda vai longe. Maurício Tagliari apoia a gravação por conta de algumas formalidades do mercado: “O disco físico existe para situações específicas; há críticos que só ouvem o CD, e festivais que só aceitam material físico. Acho que ainda é necessário, mas os artistas já não querem lançar álbuns, só querem lançar single. O meio muda o consumidor, e o consumidor muda o artista.” E, do lado de lá do palco, os artistas concordam. “O Defalla não vai mais lançar álbum, só singles. Mas nem sei onde, como, se vai dar dinheiro. Vamos fazer de uma forma totalmente caótica. O computador mudou tudo, e o celular mudou tudo de novo”, descreve Edu K. “Mas nada substitui o contato cara a cara com o público. O show é imbatível. O artista tem que ficar na cabeça da pessoa como um promotor de bons momentos.”
CHECKLIST PARA O SUCESSO p Transborde para além da internet; vá ao off-line de maneira impactante e criativa, usando, por que não?, até mesmo meios antiquíssimos, como cartazes em postes p Cruze todas as mídias: rádio, TV, feiras populares, jornais, internet p Mantenha-se autêntico. Acredite: num mar de falta de originalidade, você atrairá atenções p Esteja SEMPRE na rua (show! Show!), seduzindo o público com sua música p Agarre-se a todas as oportunidades para mostrar seu talento. Um programa de revelação de talentos da TV pode não se adequar a sua visão de artista independente, mas dá um baita retorno p Esteja em todos os lugares que puder. Assim, quando seu momento chegar, você estará mais do que pronto para seguir p Construa uma rede social (da vida real) com gente interessada nos mesmos objetivos. Não acumule só amigos no Facebook, acumule no mercado. Eventualmente, um ou muitos deles lhe estenderão a mão p Crie ações de internet sincronizadas com a agenda de show. Não há como fugir da regra: o público está na rede e espera ver você lá p Um bom empresário é a outra cara-metade de um projeto musical bem sucedido. Mesmo que você seja independente, a experiência e a visão alheias são bons ases p Evite terceirizar as interações nas redes sociais. Aproximese do seu público, deixe sua marca
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DISTRIBUIIÇÃO : UBC/25
DISTRIBUIÇÃO DE VALORES ARRECADADOS EM SHOWS COMEÇA A SENTIR OS EFEITOS DA CRISE
NÚMEROS DO ECAD SUGEREM QUE TOTAL DE EVENTOS TEM DIMINUÍDO. INTERVALO ENTRE REALIZAÇÃO DE ESPETÁCULOS E REPARTIÇÃO DO DINHEIRO AOS TITULARES TAMBÉM CAI Por Andrea Menezes, de Brasília Demorou um pouco, mas a grave crise econômica – que fez cair 43,6%, em média, o gasto com diversão nas cinco regiões brasileiras, segundo levantamento da consultoria Boa Vista SCPC – se reflete, por fim, na distribuição de shows. A partir de agosto, os valores repassados aos titulares experimentou notável queda em relação aos anos anteriores. O acumulado arrecadado com shows no país, de janeiro a setembro, ficou em R$ 76,8 milhões, contra R$ 84,5 milhões no mesmo período do ano passado, queda de mais de 9%. A arrecadação ficou mais comprometida a partir do início do segundo semestre, com quedas de 17,33% (julho), 36,29% (agosto) e espantosos 79,87% (setembro), quando comparados com os mesmos meses de 2015. Se o tíquete médio – valor médio que o Ecad arrecada por cada show realizado no país – não tem discrepado tão claramente dos montantes registrados nos anos de 2014 e 2015, as quedas tão acentuadas na arrecadação total sugerem que o número de
apresentações tem diminuído. Com isso, a “fila” de pagamento – ou seja, o tempo entre a realização do evento e a chegada do dinheiro às mãos do titular cuja música foi executada – se reduziu dramaticamente. Segundo números do Ecad, esse intervalo alcançava um limite máximo de 1.129 dias em janeiro de 2015. Em janeiro de 2016 havia caído para 246 dias. Em fevereiro e março, a tendência de queda nessa intervalo continuou, revertendo-se em abril e maio. Em junho e julho a fila voltou a diminuir consideravelmente. Isso significa que foi possível manter um nível razoável de repasses aos titulares enquanto havia um “colchão” representado por esse estoque de dinheiro não distribuído. Sem ele, a tendência é que o valor distribuído tenda a minguar. Vale lembrar que este intervalo mencionado muitas vezes é grande desta maneira por falta de informações sobre o show, como, por exemplo, uma falha no envio do roteiro pelo produtor do show. O ano de 2016 parecia ter começado alheio à crise, com 6.136 shows fechados em janeiro, contra 3.863 no mesmo mês de 2014 e 2.992 na abertura de 2015. A partir de abril, o número de eventos confirmados este ano passou a ficar abaixo de pelo menos um dos dois anos anteriores, outro indício da desaceleração na realização desses eventos. Confira, nos gráficos abaixo, a evolução da arrecadação total com o segmento shows nos últimos três anos e a diminuição notável na “fila” para o repasse aos titulares, nos últimos dois, que faz antever um bolo total menor nos próximos meses.
VALOR HISTÓRICO 2014 X 2015 X 2016
TEMPO MÉDIO REALIZAÇÃO X REPASSE - 2015 X 2016
(EM R$/MILHÕES)
(EM DIAS)
17
1.200
15
1.000 800
13
600 11
400
9
200
7
0 JAN
5
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
3 JAN
FEV
MAR
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MAI
JUN
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26/UBC : SERVIÇO
DÚVIDA DO ASSOCIADO
"RECEBI UM RELATÓRIO DE UMA EMPRESA CHAMADA PLAYAX QUE MOSTRAVA UM NÚMERO ALTO DE EXECUÇÕES DE UMA MÚSICA MINHA NAS RÁDIOS, MAS, QUANDO RECEBI O DEMONSTRATIVO DO ECAD, O NÚMERO DE EXECUÇÕES EM RÁDIO ERA MUITO MENOR. POR QUE ESSA DIFERENÇA?" Elias Muniz - compositor
REVISTA UBC: O primeiro e mais importante ponto para explicar essa diferença é que a distribuição de direitos autorais de rádio contempla apenas as execuções musicais em emissoras adimplentes, ou seja, que pagam a mensalidade ao Ecad. Uma matéria publicada recentemente no site da UBC mostra que o índice de inadimplência chega à ordem de 58%. Então, já podemos descartar aí todas as rádios inadimplentes que executam a sua música. Outro fator que influencia nessa diferença é o fato de que a distribuição de rádio é feita de forma indireta, utilizando uma amostragem de 200 mil execuções no trimestre. Esta amostra é certificada pelo Ibope, e o tamanho é robusto para que seja representativo e adequado ao universo real de execuções, com uma margem de erro de apenas 0,2 pontos percentuais. Então, quando você vê no seu demonstrativo 10 execuções em rádio, isso não significa que a música tocou 10 vezes, mas sim que foi captada 10 vezes dentro daquele espaço amostral. O fato de ser usada uma amostra em vez da distribuição direta não significa que os valores recebidos serão menores, uma vez que uma amostra corresponde ao universo total na mesma proporção e que o valor do ponto (valor atribuído para cada execução) depende diretamente da receita.
TODO ARTISTA SONHA COM VIVER EXCLUSIVAMENTE DA PRÓPRIA ARTE. SE NÃO É POSSÍVEL, A GENTE DÁ UMA MÃOZINHA A UBC distribuiu R$ 390 mil em ajudas de renda mínima e auxílio social a cerca de 700 associados no ano passado. Criados há mais de 30 anos, os programas de assistência financeira, previstos no Estatuto Social, foram desenhados para ajudar os filiados de poucos recursos e com tempo de filiação e número de obras mínimos.
Em https://goo.gl/hMQnSe, descubra se você pode requisitar sua inclusão num dos planos. Caso sim, entre em contato com a filial mais próxima do seu endereço ou com a sede, no Rio, por meio do telefone (21) 2223-3233.
UM É POUCO, DOIS É POUCO, TRÊS É POUCO…
30 É DEMAIS!
A Revista UBC orgulhosamente chega ao número 30, acumulando inúmeras reportagens sobre o mercado musical, os direitos autorais e as novas e tradicionais vozes que fazem da nossa música uma das mais vibrantes e inventivas do mundo. Parabéns a você, criador, fonte de inspiração para outras dezenas de edições mais.
+ A MELHOR ESTRATÉGIA PARA LANÇAR SUA MÚSICA
+ JOÃO BOSCO E TOQUINHO, DOIS MESTRES NO CLUBE DOS 70
+ SÃO PAULO, TERRA DE GAROA E DE ROCK
+ CRISE IMPACTA DISTRIBUIÇÃO DE SHOWS
+ UBC SE DESTACA NA PRIMEIRA DISTRIBUIÇÃO DE STREAMING
+ UBC TEM NOVO DIRETOR-EXECUTIVO
+ ALCEU&ELBA&GERALDO, CAZUZA, WADO, SCALENE
REVISTA DA UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES #30 / NOVEMBRO 2016
REVISTA DA UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES #29 / AGOSTO 2016
+ AUTORAMAS, CANDEIA, JACKSON DO PANDEIRO, GUTO GOFFI, ELVIS TAVARES
+ REGGAE, RAGGA, DUB, DANCEHALL: O QUE MAIS QUE OS BAIANOS TÊM?
REVISTA DA UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES #28 / MAIO 2016
+ GAL: A VOZ CONTINUA A MESMA. O SOM, QUANTA DIFERENÇA… + NOCA DA PORTELA, ENGENHEIROS DO HAWAII, AVA ROCHA, ANGELO TORRES, DUDA BRACK
+ DADI CARVALHO, LETUCE, MC CAROL, ALBERTO CONTINENTINO, RENEGADO
REVISTA DA UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES #26 / ANOVEMBRO 2015
REVISTA DA UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES #27 / FEVEREIRO 2016
+ HUMBERTO TEIXEIRA: 100 ANOS DO “DOUTOR DO BAIÃO"
+ DA VOLTA DO IRA! AO TRANSPORTE SUSTENTÁVEL, A CABEÇA A MIL DE EDGARD SCANDURRA
+ DJ HUM, ARNALDO ANTUNES, ROBERTA CAMPOS, MC SOFFIA
+ MARCO ANTÔNIO GUIMARÃES E A VIDA DEPOIS DO UAKTI
REVISTA DA UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES #25 / AGOSTO 2015
SANDRA DE SÁ
GUILHERME ARANTES FÁBRICA DE SUCESSOS NOS 40 ANOS DE CARREIRA, O COMPOSITOR FAZ UMA VIAGEM AONDE TUDO COMEÇOU, REPASSA GRANDES MOMENTOS DO POP E ANALISA OS FENÔMENOS DE MASSA DA NOSSA MÚSICA
AGORA É A HORA A UM PASSO DO ESPERADO SALTO INTERNACIONAL, ANITTA COLHE OS FRUTOS DE UMA CONSTRUÇÃO DE CARREIRA POUCAS VEZES TÃO BEM PLANEJADA NO PAÍS
ME DÁ UM DINHEIRO AÍ
AOS 35 ANOS DE CARREIRA, A NOVA PRESIDENTE DA UBC ASSUME O LEGADO DE FERNANDO BRANT NA LUTA PELOS DIREITOS DOS AUTORES
RICA EM CANTORAS, NOSSA MÚSICA AINDA DEVE ÀS MULHERES MAIS ESPAÇO COMO COMPOSITORAS. SUELI COSTA (FOTO), ANA CAROLINA, ZÉLIA DUNCAN E OUTRAS CRIADORAS FALAM DESSA LUTA
AGORA É QUE SÃO
ELAS
+ ALCEU, 70 ANOS, MIL PROJETOS + BELÉM: TEM NOVIDADE APONTANDO PARA O NORTE + CHICO SCIENCE, LUÍS GALVÃO, FÁBIO STELLA, CLARICE FALCÃO
COMO FINANCIAMENTO COLETIVO, EDITAIS PÚBLICOS E PRIVADOS, MERCHANDISING E OUTRAS INICIATIVAS AJUDAM ARTISTAS A BANCAREM NOVOS PROJETOS
LONGE AINDA DA PROMESSA DE ENORMES LUCROS PARA OS CRIADORES, A ERA DOS STREAMINGS ENFRENTA DESAFIOS PARA TORNAR A DISTRIBUIÇÃO MAIS JUSTA. AUTORES, ESPECIALISTAS E EMPRESÁRIOS DISCUTEM A QUESTÃO
+ PALAVRA CANTADA: DUAS DÉCADAS DE MÚSICA E EDUCAÇÃO + MATO GROSSO DO SUL, ESQUINA DE ENCONTROS SONOROS + FAGNER & ZÉ RAMALHO, MORENO VELOSO, CLAUS E VANESSA, ATAULPHO ALVES JÚNIOR REVISTA DA UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES #24 / MAIO 2015
REVISTA DA UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES #22 / NOVEMBRO 2014
REVISTA DA UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES #21 / AGOSTO 2014
+ ARTISTAS PEDEM MELHOR REMUNERAÇÃO PARA 'STREAMINGS E VENDAS ON-LINE
THALLES ROBERTO
+ NELSON MOTTA, 70 ANOS DE BOAS HISTÓRIAS
QUANDO UMA
AOS 6 ANOS, JÁ ERA SOLISTA NO CORAL DA IGREJA. AOS 21, ABRAÇOU O MUNDO POP. AOS 36, É UM DOS MAIORES DO GOSPEL E O PRIMEIRO BRASILEIRO NA MÍTICA MOTOWN
+ FUNK BH, SURICATO, GUIDI FERREIRA, PINOCCHIO, ADRIANO CINTRA
VALE MAIS QUE MIL IMAGENS
CANTADO
O MUNDO DE ADRIANA CALCANHOTTO
UM PAPO COM ILUSTRES LETRISTAS, QUE, SEM PALCO, FAZEM DE SUAS CRIAÇÕES A FORÇA DO SEU TRABALHO
EM TURNÊ COM 'OLHOS DE ONDA', ELA PREPARA SHOW DE MÚSICAS DE LUPICÍNIO, FAZ PEÇA INFANTIL COM ORQUESTRA SINFÔNICA E DÁ UM MERGULHO AINDA MAIS FUNDO NA POESIA
+ FUNK, HIP HOP, BATALHAS DE PASSINHOS: A BAIXADA FLUMINENSE ESTÁ EM ALTA + GOIÁS, TERRA DE PURO ROCK ’N’ ROLL + OS NOVOS ACORDOS COM OPERADORAS DE TV POR ASSINATURA + SPOK FREVO ORQUESTRA, MALLU E CAMELO, ADRIANA CALCANHOTTO, JOHNNY HOOKER, MARIA BETHÂNIA
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