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Acelera\u00E7\u00E3o Funk
Versão do gênero em 150 batidas por minuto(contra 130 do tradicional) bomba nos bailes de favelas da Zona Norte do Rio e salta para todo o Brasil
do_ Rio
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Baile da Gaiola, Dennis DJ, Lexa, Ludmilla,Anitta, MC Rebecca, WM, Jerry Smith, Kevinho, DJ RD. O que todos eles têm em comum não é só o amor pelo funk e por suas muitas possibilidades sonoras, mas o abraço ao mais novo subgênero do estilo, o chamado 150. Mais acelerado (150 são as batidas por minuto, contra as 130 da vertente mais tradicional e apenas 90 dos primórdios), virou sinônimo de festa. Depois de surgir no Rio, na esteira da nova leva de bailes de comunidades dos complexos da Penha e de Nova Holanda, já se espalhou por São Paulo e pelo país.
“Traduz o agito, a dança e o suíngue do brasileiro, daí essa invasão toda”, resume Pedro Breder, da Hitmaker, produtora responsável por sucessos de Ludmilla e Anitta e que, ao juntá-las na faixa “Favela Chegou” — uma das músicas mais tocadas no carnaval —, deu selo mainstream ao gênero que já havia sido chancelado nos bailes de subúrbio. “O funk é cultura urbana, de perifa, de favela, e muito viva. Milhares de artistas criando e inovando numa velocidade absurda.”
Tudo começou com uma batida numa garrafa de refrigerante. “Meu filho estava batucando na garrafa, achei interessante e gravei.

Ludmilla
Coloquei acelerado, a 150 BPM. Deu no que deu”, contou o DJ Polyvox ao G1. Depois, o estouro veio nas festas do Baile da Gaiola, comandadas pelo DJ Rennan da Penha — condenado em março por associação ao tráfico de drogas. Para artistas, ativistas e a Ordem dos Advogados do Brasil, o caso se trata de racismo e preconceito com o gênero (leia mais no quadro ao lado).
Depois da repressão da fase dura das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que haviam proibido os bailes em diversas comunidades do Rio, a cidade vive um renascimento da cena funk. O estilo andava em baixa também pela própria crise econômica que castigou duramente o Rio após os Jogos Olímpicos. “Com a crise no Rio, boates e casas de shows foram fechadas, assim como bares em comunidades com as UPPs. Isso foi minando os talentos, que migraram para outras áreas”, afirmou Dennis DJ, outro dos grandes nomes que abraçaram o 150. “O 150 é um grande retorno. Agora, vejo o pessoal mais animado para fazer música.”
OUÇA MAIS! Uma playlist com alguns dos principais hits atuais do funk 150 BPM. ubc.vc/Funk150

Mc Rebecca

Dennis DJ
Eternamente criminalizado
Ativistas, artistas e advogados se mobilizaram em março, quando um dos difusores do funk 150 BPM, o DJ Rennan da Penha, do Baile da Gaiola, foi condenado por associação com o tráfico de drogas da favela de Vila Cruzeiro. Antes de todo o furacão midiático que se gerou em torno do caso, Rennan seria um dos entrevistados desta reportagem.
Fotos dele conversando com alguns dos chefes do tráfico na comunidade — onde tanto Rennan como os traficantes nasceram e cresceram —, além de mensagens de texto postadas por ele em grupos de WhatsApp nas quais se fazem menções à presença da polícia na favela foram as “provas”. Que, para a Ordem dos Advogados do Brasil, são frágeis e expõem, mais uma vez, a criminalização do gênero nascido em comunidades pobres habitadas, em sua maioria, por pessoas negras.
“A teratologia do caso, ao emitir juízo de valor negativo em relação a alguém que demonstre afeto a pessoas que faleceram na falida guerra às drogas ou que possua atividade econômica lícita vinculada a um estilo musical marginalizado, salta aos olhos”, publicou, em comunicado, a OAB.
Mesma opinião tem Raull Santiago, morador do Complexo do Alemão, no Rio, ativista do coletivo Papo Reto e empreendedor social. “Há um desconhecimento profundo da sociedade em relação à vivência da favela. O que está acontecendo com o Rennan é mais um reflexo disso. O preconceito, o racismo, a desigualdade que constrói um cenário de não valorização do que vem da favela estão novamente expostos.”
Artistas de outros segmentos e ONGs se organizaram para protestar contra a prisão preventiva e a condenação de Rennan. Caetano Veloso e sua mulher, Paula Lavigne, articularam uma rede de advogados para defender o funkeiro.

Rennan da Penha