Revista UBC #40

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#40

MAIO 2019

Compositoras de diferentes gêneros e gerações compartilham suas experiências neste especial de 10 anos da Revista

O grande encontro


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MAIS CO MEN TADO no facebook Luiz Caldas: 74 discos em sete anos ubc.vc/Caldas

MAIS cur tido no instagram O time da UBC agradece pelos 10 mil seguidores no Instagram

MAIS VOCÊ VISTO VIU? No Youtube Entrevista com Liminha sobre produção musical ubc.vc/Liminha

Profissionais falam sobre a presença feminina no mercado da música ubc.vc/Criadoras

TOPO DAS PARADAS 1º 12/2/2019 7 dicas de mestre para compor música ubc.vc/7DicasCompor

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2° 28/2/2019 11 dicas preciosas para produzir música ubc.vc/DicasProducao

3° 01/3/2019 Quando os videoclipes precisam de ‘certidão de nascimento’ ubc.vc/CPBeCRT


#40

MAIO 2019

RE VIS TA

A Revista UBC é uma publicação da União Brasileira de Compositores, uma

Atrás: Tulipa Ruiz, MC Carol, Luedji Luna e Lucy Alves No meio: Liniker, Zélia Duncan, Clarice Falcão e Isabella Taviani À frente: Ana Cañas, Fernanda Takai e Mahmundi

sociedade sem fins lucrativos que tem como objetivos a defesa e a distribuição dos rendimentos de direitos autorais e o desenvolvimento cultural.

Conselho Fiscal Geraldo Vianna Edmundo Souto Manno Góes Fred Falcão Sueli Costa Elias Muniz Diretor executivo Marcelo Castello Branco Coordenação editorial Elisa Eisenlohr Assistente de coordenação editorial José Alsanne Projeto gráfico e diagramação Crama design estratégico Editor Alessandro Soler (MTB 26293) Textos Alessandro Soler (Rio de Janeiro), Andrea Menezes (Brasília), Fabiane Pereira (Rio de Janeiro), Fábio Geovane (Tbilisi), Gustavo Leitão (Rio de Janeiro), Kamille Viola (Rio de Janeiro), Ricardo Silva (São Paulo) e Roberto de Oliveira (Belford Roxo, RJ) Capa Foto de Cristina Granato (Rio de Janeiro) Fotos Imagens cedidas pelos artistas. Créditos nas respectivas páginas, ao longo da edição. Tiragem 8.500 exemplares/Distribuicão gratuita Rua do Rosário, 1/13º andar, Centro Rio de Janeiro - RJ, CEP: 20041-003 Tel.: (21) 2223-3233 atendimento@ubc.org.br

UMA POR TODAS E TODAS POR UMA! por_ Zélia Duncan

Ser mulher nunca foi fácil, em nenhum momento da história. Portanto, não temos outra opção, temos que mudar o rumo dessa história toda e fazer ficar melhor, mais igual pra nós!

Editorial

Diretoria Paulo Sérgio Valle (Presidente) Abel Silva Antonio Cicero Aloysio Reis Ronaldo Bastos Sandra de Sá Manoel Nenzinho Pinto

Se a coisa está evoluindo em alguns aspectos, hoje, é porque estamos nos percebendo melhor, não aceitamos mais o rótulo de “inimigas”, escolhemos dar as mãos. Tomamos as rédeas das nossas cabeças e não arredaremos um passo. Pelo menos, essas meninas aqui, não! Tomar consciência é um mergulho que não deixa de doer, mas a recompensa é ampla e irreversível, é janela com vista para o mundo. E mulher conhece dor. Tanto, que vira matéria-prima! Portanto nós, aqui, botamos a boca no microfone, a mão no instrumento, as ideias na caneta, os conceitos nos pedais, as rimas dentro das bases, dos beats, e ainda botamos pra quebrar. Cada uma num lugar da luta, que tem a ver com o lugar de onde veio e como chegou até esta foto. Sabendo que, quando uma faz por si, está fazendo por todas. Nosso papo do estúdio foi papo de “manas”, de alegria, troca e cumplicidade. Não somos Emilinhas e Marlenes, e nem elas eram inimigas como se dizia. Se, como percentual, no universo masculino tendencioso das decisões, ainda somos um número pequeno, isso diz muito mais do esquema todo do que de nossas capacidades e desejos. Estamos prontas pra guerra, porque já nascemos entrincheiradas em nossos corpos, tendo que lutar pela integridade deles, sabendo que não é seguro, não é garantido, não é considerado de igual pra igual, pelo fato de sermos mulheres. Mas acontece que entramos num outro momento de consciência e coragem. Estamos aqui para fazer nossa própria biografia, e podem deixar, que a trilha sonora também será por nossa conta!


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NOVIDADES NACIONAIS DESTAQUE: Jards Macalé PeRFIL: Hyldon ENTREVISTA: Jorge Mautner NOTÍCIAS INTERNACIONAIS CAPA: Compositoras Pelo País: Funk 150

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DÚVIDA DO ASSOCIADO

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ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO: Carnaval

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CARREIRA: Projeto Impulso

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CARREIRA: Formalização

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MERCADO: As mais executadas

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Fique de Olho

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JOGO RÁPIDO: Diogo Nogueira

ín dI ce 12

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jogo rápido

REVISTA UBC

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“O samba me escolheu, antes de eu escolhê-lo” Vencedor de sambas que embalaram desfiles da Portela, Diogo Nogueira investe no lançamento de singles que deve reunir num álbum do_ Rio foto_Marlon Laurêncio

VEJA MAIS Os clipes dos últimos singles de Diogo Nogueira ubc.vc/DiogoN

Diogo Nogueira aposta no formato estrela do momento: o single. Há alguns meses, o carioca de 38 anos (quase 20 de carreira), filho de João Nogueira — um dos maiores sambistas de todos os tempos —, vem fazendo lançamentos soltos que, mais à frente, deve reunir num álbum. Por que single em vez de álbum? Nada contra os álbuns, e em breve farei um. Apenas estamos aproveitando esse momento novo da minha carreira e do atual formato de consumo de música no Brasil e no mundo, pela internet. Lançamos o single “Tá Faltando O Quê?” (em 2018) e, agora em abril, “Vapor de Arerê”. Tenho gostado dessa agilidade de produzir, gravar, lançar, curtindo esse momento, mas pensando sempre no próximo.

2019 está sendo um ano de… Muito trabalho, muito samba, muita luta, muito show e de um Brasil buscando se encontrar. Se não fosse sambista, seria o quê? O samba me escolheu, antes de eu escolhê-lo. Quais, entre as suas muitas realizações, gostaria particularmente que o seu pai tivesse visto? Acho que o velho João ia gostar de muita coisa. De me ver gravando um DVD em Cuba, com certeza. Também iria curtir me ver ganhando sambas na Portela, ganhando Grammy, correndo por todo esse país e levando a bandeira do samba. Ah, e iria curtir muito uma das melhores realizações que fiz, o neto dele, Davi Nogueira. O que não tem saído da sua playlist? Samba, samba, samba. Tô ouvindo muito samba, muita gente nova.


NOVIDADES nacionais 6

por_ Andrea Menezes

de_ Brasília

Clarice (outra vez)

sem censura

Gil Ben Jor Roberta Sá lança seu oitavo álbum, com 11 canções inéditas do mestre Gilberto Gil. Como se fosse pouco, ainda reuniu Gil e Jorge Ben Jor numa faixa composta por ambos, 44 anos depois da última vez em que os dois trabalharam juntos. “Ela Diz Que Me Ama” nasceu de um pedido de Roberta e foi um dos primeiros singles do disco “Giro” lançados. “Estávamos os três juntos, e eu falei pro Jorge que um dia ainda gravaria uma música dele. Jorge me respondeu: ‘Por que não agora?’. Expliquei que estava fazendo um disco somente de inéditas do Gil e brinquei: ‘Se você fizer uma com ele, eu gravo’. Uma semana depois, o Gil me ligou e me mostrou a música pronta. Chamei o Jorge pra participar, e ele topou gravar com a gente”, Roberta contou ao blog de Mauro Ferreira no G1. Outro single, “Afogamento”, também foi uma parceria de Gil, mas com o jornalista Jorge Bastos Moreno, morto em 2017. VEJA MAIS O clipe de “Afogamento” ubc.vc/Afoga

VEJA MAIS O clipe de “Minha Cabeça” ubc.vc/Cabeça

foto_ Lucas Bori

Roberta

A nudez choca uma sociedade cada vez mais puritana? Pois dá-lhe clipe com gente brincando, descontraidamente, com seus genitais. A homossexualidade é tabu para fundamentalistas religiosos? Então, toma versão “sapatônica”, como ela mesma define, de um hit seu. O comportamento de manada está na moda? Exalte-se o senso crítico. Clarice Falcão não faz concessões aos conservadores e, em fevereiro, relançou “Eu Me Lembro”, em que brinca de casal com Alice Caymmi. “Minha Cabeça” veio em março, celebrando o pensamento livre. Na época (2016) do lançamento de “Eu Escolhi Você”, o clipe foi censurado no YouTube por mostrar nudez, apesar da ausência completa de sexualização, e gerou até ameaças à sua criadora. Ela lamenta e diz que só mostra questões que deveriam ter sido superadas. “É importante atentar para o fato de um clipe causar tanto ódio, esse é o verdadeiro fator preocupante”, afirma.


REVISTA UBC

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Pepeu

foto_ Daryan Dornelles

eletrônico

Reconhecido por publicações como “Rolling Stone” e “Guitar World” como um dos maiores guitarristas do mundo, Pepeu Gomes finaliza um novo disco de inéditas no qual investe forte numa inédita faceta eletrônica. Em “Eterno Retorno”, ele não abre mão do rock, do pop, dos sons caribenhos e da experimentação e apresenta uma série de grandes parceiros, como Zélia Duncan, Arnaldo Antunes, Ivo Meirelles e a banda de rock baiana Vivendo do Ócio. O primeiro single, já lançado, é “Aos Poucos”, que juntou, pela primeira vez, Pepeu e Nando Reis. “Surgiu a partir da ideia de que eu podia fazer uma música diferente do que costumava fazer e, assim, renovar meu trabalho. Ganhei o auxílio luxuoso do Nando nessa parceria, que ajudou muito a chegar onde eu queria musicalmente”, ele comenta sobre a faixa de pegada eletrônica. O guitarrista guianês Harold Caribbean aporta um tempero reggae. “O que me motiva a continuar é o legado no qual venho trabalhando, atravessando gerações, com minha guitarra em punho”, afirma Pepeu.

Ouça MAIS A faixa “Aos Poucos” ubc.vc/Pepeu

Jonathan Ferr,

Jazz, hip hop, soul, música eletrônica. Tem tempero variado o caldo de estilos que o carioca Jonathan Ferr misturou sob a receita do urban jazz. Nascido e criado no operário bairro de Madureira, Zona Norte do Rio, ele toca piano desde os 9 anos e foi desenvolvendo um estilo próprio, mesmo sem nunca ter tido o instrumento. Aos 31, já fez turnê na Europa, abriu show para Kamasi Washington, está confirmado na próxima edição do Rock in Rio, em setembro, e acaba de lançar um disco solo, “Trilogia do Amor”, dividido em três partes: “A Jornada”, “O Renascimento” e “A Revolução”. Cada uma delas vem acompanhada de um curta-metragem dirigido por ele. “É o resultado de uma busca espiritual à procura de respostas sobre ancestralidade, afeto, amor, energia e conhecimento”, ele define. Produzido por Vini Machado, o trabalho tem participações de Donatinho e Alma Thomas.

jazz e cinema

VEJA MAIS Uma apresentação do quarteto de Jonathan Ferr ubc.vc/Jonathan4


NOVIDADES nacionais 8

Cordel encantado de

Ouça MAIS Escute trechos das canções e compre o álbum ubc.vc/Lucenna

O inquieto China tem sempre pelo menos dois ou três projetos artísticos movendose ao mesmo tempo. Enquanto se apresenta com o filho Matheus na série de shows “Minijoia”, sem se esquecer da banda Del Rey (que ele divide com o Mombojó), lança agora em maio seu novo álbum, “Manual de Sobrevivência para Dias Mortos”. Trata-se de um mergulho nas raízes do frevo e do baião com espaço para pop, MPB e até metal, numa participação especial de Andreas Kisser, do Sepultura, na faixa “Frevo e Fúria”. Nesta e nas dez outras canções, surge a verve política, de crônica social e observação pungente de uma sociedade em crise, marca do trabalho de China. As canções são assinadas por ele e pelo produtor Yuri Queiroga. “Yuri sugeriu que o disco poderia ter um único tema, e, a partir daí, começamos a compor tudo do zero. O tema é sobreviver, e as letras falam da sobrevivência diária num país machucado”, China conceitua.

China,

cabeça a mil

O potiguar Marcus Lucenna celebra 30 anos de carreira lançando seu 15º álbum, uma exaltação ao universo do cordel. Membro, efetivamente, da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, ele foi gestor da Feira de São Cristóvão, um centro de tradições dedicado à cultura nordestina no Rio de Janeiro. Em “Marcus Lucenna na Corte do Rei Luiz”, apresenta 15 faixas que honram o melhor do cordel: contam histórias, evocam universos e fazem pensar. “Hino da Feira de São Cristóvão” exalta a contribuição nordestina para a cultura do Sudeste, e até a polarização política do país (em “O Salvador Daqui”) tem vez, em composições próprias, com parceiros como Roque da Paraíba e Klévisson Viana ou em releituras do gênio Gonzagão.

LEIA mais O projeto “Minijoia”, voltado para crianças ubc.vc/MinijoiaChina

foto_ Pedro Escobar

foto_ Arievaldo Viana

Marcus Lucenna


REVISTA UBC

foto_ Leticia dos Passo

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Dona Zefinha:

música em cena

Ouça MAIS O disco completo ubc.vc/DZefinha

Música e audiovisual vêm andando de mãos dadas desde que o pop é pop. Música e teatro têm sido junção menos frequente — e, quando bem feita, preciosa. Prova prática disso é a banda Dona Zefinha, de Itapipoca (CE), que completa 25 anos de estrada mesclando com fineza ambas as artes e que, no fim do ano passado, lançou um álbum feito todo em parceria com uma espécie de “irmã gêmea” argentina, o grupo Pato Mojado, da cidade de Rosário. Nas doze faixas de “Da Silva, El Hijo de las Américas”, trilha sonora de um espetáculo que montaram juntas, as duas trupes teatro-musicais exaltam as ricas sonoridades regionais dos respectivos países, os sotaques, as cores e manifestações poéticas em português, espanhol e idiomas criolos com influências ibéricas e indígenas. Os arranjos trazem citações a bolero, tango, arrocha, cumbia e milonga, entre outros gêneros.

O reggaeton empoderado de

Francinne

VEJA MAIS O clipe de “Segue o Baile” ubc.vc/Francinne

foto_ Moroni Cruz

Às vezes associado a estereótipos machistas, o reggaeton ganha, pelas mãos da gaúcha Francinne, uma pegada feminista e empoderada. Ao lado da cantora Clau, ela lançou em janeiro o single “Segue o Baile”. “Eu vou levar a vida como eu quiser/ Não vou mudar pra me tornar quem você quer/ Eu vou contradizer o tipo de pessoa/ Que só aponta o dedo pra você, e nem quer saber/ De onde você veio e qual é o seu rolê”, diz um trecho da letra. Francinne despontou ano passado ao lançar outro single, “Tum Tum”, parceria dela com Wanessa Camargo, Umberto Tavares e Jefferson Junior. “É a minha identidade visual e o que eu realmente gosto de cantar”, explica a cantora ao se referir ao reggaeton.


NOVIDADES nacionais 10

Gustavo Rosseb,

Toninho Lemos:

Os interesses e a curiosidade do músico, compositor e designer paulistano Gustavo Rosseb, de 34 anos, são variados. Ele compõe, escreve livros, conta histórias, canta na banda Capela e, agora, lança um projeto solo, “Ouça, Veja & Sinta”, uma série de singles, sempre associados a clipes e entregues aos poucos, desde setembro do ano passado. A “Primeiro” se seguiram “O Ir e Vir das Coisas” — que integra a trilha sonora do filme “O Segredo de Davi”, do cineasta Diego Freitas —; “Alguém na Janela” (que ganhou versão em Libras), “Teu Oceano” e “Primeiro Remix” (também em Libras). “Tem sido lindo tocar esse projeto. Aprendo com cada diretor e cada equipe que se junta para produzir os clipes”, celebra.

Autor de mais de 200 canções, sozinho ou com parceiros como Luiz Ayrão, Roberto Corrêa (com quem escreveu “Minha Namorada”) e Carlos Daffé, o compositor Toninho Lemos faz samba, sertanejo, pop e, agora, rock, estilo ao qual direcionou sua recém-lançada carreira como cantor solo. Em 2018, ele publicou o disco “Qual É Seu Nome?”, só com criações suas do gênero, o que gerou mobilização entre seus fãs e amigos para vê-lo no maior festival de rock do país. “Seria bacana participar do Rock in Rio, a projeção que isso te dá é enorme”, ele afirma. “São 50 anos de uma carreira longa, com atuação em vários estilos, mas acho que me encontrei mesmo foi no rock”, diz o autor de “Homens Animais”, um manifesto contra o caráter predador da espécie humana que ele ver no palco do superfestival, entre setembro e outubro no Rio.

missão Rock in Rio

VEJA MAIS Os clipes de “Ouça, Veja & Sinta!” ubc.vc/Rosseb

foto_ Juliana Torres

foto_ Marco Falkembach e Pedro Lanfranchi

voz e visão

VEJA MAIS O clipe de “Qual o Seu Nome? ubc.vc/QualEh


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Marisa Monte, Alcione, Daniela Mercury, Margareth Menezes, Gal Costa, Gilberto Gil, Jorge Ben Jor, Carlinhos Brown, Zeca Pagodinho... É estelar o time reunido pela Gege Produções, de Gil, para “Obatalá — Uma Homenagem a Mãe Carmen”, álbum que sai neste mês de maio em homenagem à iyalorixá Mãe Carmen do Gantois, de 90 anos, filha de Mãe Menininha e dona de um imenso prestígio religioso e social em Salvador. Algumas das canções, baseadas em cânticos do candomblé, têm interpretações solo, outras reúnem Gil e Marisa, por exemplo. “Hoje tive uma tarde gloriosa e abençoada por Deus e todos os orixás! Tive a imensa alegria de gravar uma música para Oxóssi, no CD ‘Obatalá’, e ainda fui visitar Mãe Carmen no Gantois!”, comemorou Alcione, em fevereiro, depois de registrar sua participação.

Unidxs por

Mãe Carmen

Integrante do grupo Mamulengos, o recifense Thiago Hoover lança seu primeiro trabalho autoral. O disco “Aurora Boreal” é a expressão da versatilidade de Hoover, que produz, assina a direção musical e toca diversos instrumentos. Entre as parcerias e participações, gente do naipe de Mario Camelo (Fresno), Estevan Sinkovitz (Marrero), Marcelo Jeneci e Paulo Veríssimo (Distintos Filhos). Do rock ao blues, Hoover explora sonoridades que jogam o ouvinte num carrossel de emoções. “O rock é cíclico, pode ter altos e baixos, mas ele nunca vai morrer”, vaticina.

Rock, blues,

MIS, selo de

foto_ Bárbara Cunha

Hoover

Ouça MAIS “Aurora Boreal” na íntegra ubc.vc/THoo

O Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro está reestruturando seu selo, para dar promoção a um conjunto de grandes obras de nomes como Noel Rosa, Carmen Miranda, Pixinguinha, Elizeth Cardoso, Clementina de Jesus, Orlando Silva, Radamés Gnattali e Jacob do Bandolim. Gravações ao vivo, registros de shows e de trabalhos de estúdio recheiam o nobre material, ao qual devem se somar novos registros. “O Selo MIS também traz em seu acervo um CD-ROM totalmente dedicado à memória de Jacob do Bandolim, com raríssimas apresentações, fotos e entrevista. E registros da série Depoimentos para a Posteridade, como Ataulfo Alves, João Saldanha e Pelé”, enumera Clara Paulino, presidente da Fundação MIS-RJ.

qualidade


DESTAQUE 12

Jards Macalé ‘Besta Fera’ à solta na estrada Cantor, compositor e instrumentista se cerca de jovens talentos da nova cena musical em seu primeiro disco todo de inéditas em 21 anos, que já roda o país em turnê por_ Kamille Viola

do_ Rio

fotos_ Leo Aversa


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Foram 21 anos de espera até que Jards Macalé lançasse um álbum inteiro de inéditas. Era lógico que ele quisesse cair logo na estrada. Apenas semanas depois de entregar “Besta Fera”, Macalé iniciou a turnê, acompanhado por Thomas Harres (bateria) e Pedro Dantas (baixo), que já eram parte de sua banda, e Guilherme Held (guitarra), Victoria dos Santos (percussão) e Allan Abadia (trombone), integrantes da nova formação. Novo é mesmo o principal conceito deste projeto, no qual o cantor, compositor e instrumentista carioca, um dos grandes da nossa música, trabalha com nomes de destaque do recente panorama da MPB. Com direção musical do próprio Macalé, o disco tem produção musical de Harres e Kiko Dinucci e direção artística de Romulo Fróes. Macalé fez parcerias com sete compositores convidados e conta com as participações de 17 músicos, além de três cantores com quem divide os vocais: Juçara Marçal, do Metá Metá, Tim Bernardes e Romulo Fróes. Dinucci, Fróes, Campos e Clima, autor de uma das faixas, também participaram de “A Mulher do Fim do Mundo”, disco que trouxe novo fôlego para a carreira de Elza Soares. Macalé enxerga similaridades entre esses artistas e ele próprio. “Eu vejo que eles têm também o sentimento de experimentação, de busca de novos caminhos, novas

Jards Macalé estudou piano e orquestração com Guerra Peixe, violoncelo com Peter Dauelsberg e violão com Turíbio Santos, entre outros. Estreou profissionalmente em 1965, como violonista no Grupo Opinião. Fez a direção musical dos primeiros espetáculos de Maria Bethânia. Em 1971, lançou seu primeiro álbum, “Jards Macalé”. Um de seus maiores sucessos é “Vapor Barato”, parceria com Waly Salomão gravada por Gal Costa em 1971 e relançada pelo Rappa em 1996, novamente um sucesso. Capinam, Torquato Neto, Naná Vasconcelos, Jorge Mautner, Glauber Rocha e Vinicius de Morais são outros de seus parceiros musicais. Além de Gal, foi gravado por nomes como Bethânia e Clara Nunes.

linguagens, como eu sempre fiz. A gente fica irmanado nessa busca, no interesse por novas sonoridades”, ele analisa. “Eles me veem como uma referência. E eu também os vejo como uma referência para o meu trabalho. Porque também tenho interesse no trabalho deles, na busca deles, no que eles pensam, no que estão ouvindo, em qual é a formação musical deles. Enfim, é uma troca”, define. O compositor tirou da gaveta “Pacto de Sangue”, letra de José Carlos Capinam à qual já tinha emprestado a melodia há algum tempo. Também musicou uma adaptação da tradução de Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos para o poema “Canto 1”, do americano Ezra Pound, e transformou o poema “Aos Vícios”, de Gregório de Matos, na faixa-título.

Algumas músicas não têm faixa, vão direto. É como se fosse um filme.”


DESTAQUE 14

Existem pessoas que elogiam aquilo (ditadura). E que estão no poder.”


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“Estamos vivendo um momento muito ‘bestaferístico’, não só no Brasil como no mundo, por isso dei esse nome ao disco”, explica Macalé.

estúdio”, conta. “Gosto de entrar em estúdio com as coisas bem adiantadas, para só fazer o necessário.”

Para ele, os tempos são ainda mais sombrios do que na época da ditadura. “Aquele momento foi muito difícil, muito pesado para o Brasil. E hoje existem pessoas que elogiam aquilo. E que estão no poder. Acho que isso daí é pior”, desabafa.

A química foi tão boa que, em alguns momentos, Macalé tinha que dar limites à criação, pois os colaboradores tinham “ideias demais”. “No álbum, algumas músicas não têm faixa, elas vão de umas para as outras direto. É como se fosse um filme mesmo. Eu trabalho com cinema também. Trabalhei com Nelson Pereira dos Santos, Leon Hirszman, Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade... Na montagem, a gente tinha que botar a palavra ‘fim’. Porque, se não bota essas três letrinhas ali, a gente continua eternamente. Não é fácil esse momento. Então, no disco teve uma hora em que eu tive que bater o martelo: ‘Agora chega, acho que está pronto’”, lembra.

Para desenvolver o trabalho, ele passou alguns dias com Kiko Dinucci e Thomas Harres em seu sítio em Penedo (RJ), o que já fez para gravar outros discos. “Partimos praticamente do zero, improvisamos, demoramos um pouco até formatar alguma coisa para concluir em

Quando se preparava para começar a gravar as 12 faixas, em fevereiro de 2018, foi internado com broncopneumonia, em São Paulo. “Fiquei praticamente um mês no hospital e dois me recuperando. Quando me senti bem, fomos para o estúdio e gravamos”, conta Macalé, que, embora se sinta bem melhor, aos 76 se vê pela primeira vez às voltas com cuidados com a saúde: “E bote cuidado nisso, como é chato!”


PERFIL 16

Hyldon

Na rua, na chuva e no futuro Com a cabeça a mil e cheios de novas criações, o cantor e compositor de 67 anos lança aos poucos as canções que comporão seu novo disco por_ Alessandro Soler

do_ Rio

foto_ Yas Medyna


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Com mais de 50 anos de carreira e 45 desde que lançou aquele que ficaria conhecido como seu maior sucesso, “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda (Casinha de Sapé)” — título também de seu primeiro álbum —, Hyldon parece manter intacto seu espírito experimentador. Com mais de 25 discos, entre compactos, compactos duplos, álbuns de estúdio e ao vivo e coletâneas, ele prefere nem fazer contas de quantas músicas escreveu ou gravou, de quantos parceiros musicais teve, de quantas gravadoras deixou. Sua cabeça está no futuro. “Não gosto de ficar contando. Estou mais preocupado em produzir. Andei dando muito espaço entre um disco e outro, porque brigava com as gravadoras”, ri. “Hoje em dia quero andar com isso, estudar, tocar, manter o tesão do início.... Estou com 67 anos, cheio de gás, e já não tenho mais tempo a perder”, afirma o soteropolitano, catedrático em temas de soul, funk e MPB e que, numa rara concessão a tendências de mercado, começa a entregar em singles as canções do seu próximo álbum, “Amsterdã”. Com participações de Rappin’ Hood, Arnaldo Antunes, Thaíde, Zeca Baleiro e Mano Brown, a obra ainda não tem uma data fixa estabelecida para o lançamento. O primeiro single, “Zondag em Amsterdã”, é uma homenagem à capital holandesa, de que o cantor e compositor desfrutou em diferentes ocasiões. “Em maio de 2017 passei uma temporada lá, me apaixonei. Comprei um violão lá, um Fender azul lindo, e nele compus a música. Voltei em setembro passado e gravei o clipe, o primeiro a ser lançado. Mas não é minha primeira homenagem a cidades, não.

Tenho várias para a minha Salvador e também para o Rio”, esclarece. Das 12 canções do novo disco, a única não inédita é “Vida Que Segue”, gravada por Gal Costa e lançada no seu álbum anterior, “A Pele do Futuro”. Nela e nas outras canções, acompanha Hyldon uma porção de jovens músicos talentosos. João Viana, “baterista maravilhoso”, é filho do Djavan. O baixista é Arthur de Palla. Márcio Pombo e Luiz Otávio tocam piano, e o primeiro também pilota os sintetizadores. Guilherme Schwab é o dono das guitarras. Mas a batuta é de Hyldon, que se orgulha da produção independente. “Eu, graças a Deus, não dependo mais de gravadoras. Hoje, se você está sozinho, mas sabe fazer, fica mais flexível para poder negociar suas coisas.” A distribuição nas plataformas digitais será da OneRPM. “O processo está sendo bom. Eu tenho tempo para fazer direito, sem ter que correr. Quando você grava um disco para terminar rápido, não se detém muito nos detalhes. Quando faz faixa por faixa, aquilo fica em produção até terminar. Estou toda hora mexendo, tendo uma ideia nova. A produção está viva”, compara o artista, cujo álbum anterior, “As Coisas Simples da Vida”, ainda foi lançado no formato tradicional: “O disco é como um livro, um filme: ele dura, é longevo. Estou fazendo achando que vai durar bastante, dando o melhor de mim. E chamei as pessoas que eu queria, que vão somar. O prazer de fazer é enorme. Fico até com pena de acabar.”


entrevista 18

JORGE

MAUTNER Política, criação, parcerias e tecnologia na mente acelerada do compositor, que lança seu primeiro disco de inéditas em 13 anos por_ Alessandro Soler

do_ Rio

fotos_ Gustavo Peres


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entrevista 20

A biografia de Jorge Mautner não deixa dúvidas: parceiro de poetas e músicos, amigo de acadêmicos, ligado à política, à diplomacia, ao cinema, às artes visuais, à literatura (com o Prêmio Jabuti, inclusive, na estante), ele sempre se cercou dos bons. Não é diferente agora. Acompanhado da banda Tono, de Ana Cláudia Lamelino, Rafael Rocha, Bem Gil e Bruno di Lullo, o compositor, escritor, intérprete e músico lança “Não Há Abismo Em Que o Brasil Caiba”, primeiro disco seu de inéditas desde “Revirão”, de 2006. Neste papo com a Revista UBC, Mautner fala sobre o novo trabalho, o panorama político nebuloso, que ele analisa com esperança, as novas cenas musicais y otras cositas más. O título do álbum parece ser autoexplicativo. Estamos mesmo num buraco sem fundo? Não! Justamente o contrário, não há um abismo em que o Brasil caiba! Somos um país que tem 45% da água doce do mundo, nossa Floresta Amazônica move toda a Europa, nós temos 95% do nióbio do planeta. O Canadá, com apenas 2%, consegue oferecer escolas (de qualidade), do jardim de infância até a universidade, para todo o povo canadense. Nós temos 95% do nióbio e também temos grafeno. Sem isso, não existiria satélite, foguete espacial, internet e celular. É escandaloso! E a seca é artificial. Eu trabalhei nas Nações Unidas, exilado em 1965, e os cientistas diziam “explica a misteriosa seca se vocês tem toda essa água.” Há alguma diferença fundamental entre o Brasil de 13 anos atrás, quando saiu seu último álbum de inéditas, e o de hoje? Há, sim. Há 13 anos, já tinha começado o uso da internet, mas agora estamos no auge. É óbvio que Trump, Bolsonaro e Netanyahu são

Trump, Bolsonaro e Netanyahu são uma reviravolta perigosa.” uma reviravolta perigosa. O Steve Bannon, que é o ideólogo deles, é do neonazismo. O grande pensador Heidegger (que foi nazista e, depois, acabou inocentado pelos seus pares, pelo Sartre), disse, no início da década de 50, que “através da cibernética viveremos num planeta em que todos serão controladores e controlados”. Ao que o Nelson Jacobina, meu parceiro durante mais de 40 anos, corrigiu: “que nada, vão ser descontrolados e descontroladores.” Foi isso que aconteceu. Não é fantástico? O que levava dez anos, hoje, leva um segundo. Oito bilhões diante de uma telinha… Metade das conversas são com amigos, e a outra metade é um enlouquecimento! Além das faixas assinadas unicamente por você, quem são os parceiros que cocriaram as demais? Tem o João Paulo Reys, que é meu parceiro em “Oy Vey, Oy Vey” e “Bloco da Preta Gil”. Ele trabalha comigo há sete anos e fez meu site, Panfletos da Nova Era (www. panfletosdanovaera.com.br). O site tem shows gravados, entrevistas, fotos, manuscritos, depoimentos. Os outros parceiros são Bem Gil, Bruno di Lullo e Rafael Rocha, da banda Tono. E tem ainda Domenico Lancellotti.


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Como foi criar junto com os integrantes da Tono? Fundamental! Depois da morte de Nelson, a banda Tono passou a me acompanhar nos shows. E foi a partir dessa convivência nos palcos que surgiu a ideia de gravar o disco. Trabalhar com eles tem sido ótimo, eles sabem tudo! Você tem acompanhado os movimentos que vêm renovando a música brasileira a partir de pontos tão diferentes como Fortaleza e Curitiba, Recife e Belém? Olha, eu sei que, cada vez mais, graças ao celular e à internet, aparecem muitos talentos o tempo todo. Eu fico atento a isso. Não pesquiso

novidades pois a minha preocupação é mais com o escritor e com a história, né? Vê um panorama animador para a música nacional? Vejo, ela é criativa em tudo. Mesmo em coisas de que eu não gosto... Não quer dizer que elas não se apresentem bem. Tem o rap, novas batidas, é uma eterna reinvenção. O tempo todo!

Ouça MAIS As canções de “Não Há Abismo Em Que Caiba o Brasil” ubc.vc/Mautner


notícias internacionais 22

de_ Madri

Europa aprova Diretiva de

Direitos Autorais

LEIA mais Um resumo dos principais pontos aprovados na nova Diretiva ubc.vc/DiretivaAprovada

Depois de uma série de idas e vindas que fomos contando a vocês desde a primeira votação, em setembro passado, no Parlamento Europeu, a Europa finalmente aprovou o texto definitivo da Diretiva de Direitos Autorais do Mercado Único Digital, que será implantada pelos 27 países-membro e tem enorme poder de influência sobre o resto do mundo. Apesar do lobby de gigantes da internet do chamado grupo GAFAM (Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft), os eurodeputados mantiveram os artigos mais polêmicos, que responsabilizam Google/YouTube/Facebook e congêneres por conteúdos piratas subidos por seus usuários, estabelecem filtros para varrer conteúdos sem licença, determinam que portais de compartilhamento paguem a editores de notícias que tenham seu material compartilhado pelos usuários e proíbe a imposição de confidencialidade nas negociações entre titulares de direitos e usuários das suas obras.

Guerra

O novo contratado

Quase um ano depois de uma decisão de um colegiado que determinava melhores pagamentos de direitos autorais pelos serviços de streaming aos titulares nos Estados Unidos, Spotify, Amazon, Google e Pandora se uniram para tentar evitar desembolsar mais. O Copyright Royalty Board (CRB) havia determinado que as plataformas fossem aumentando paulatinamente as transferências aos compositores ao longo de cinco anos, de modo a totalizar 44% de aumento. Os gigantes do streaming acham muito e têm sido bombardeados por críticas de especialistas e associações de criadores daquele país.

“Robôs” criando música já não são projetos experimentais ou restritos a laboratórios acadêmicos. A Endel, um aplicativo musical alemão, desenvolveu um algoritmo que criou discos inteiros de canções que cruzam acordes “aleatoriamente” e criam “climas” de relaxamento, ânimo para malhar etc… e já assinou com uma gravadora! A Warner Music vai distribuir e representar os direitos fonomecânicos dos álbuns robóticos, levando a outro patamar o debate sobre o futuro da criação musical — que parece já ser bem presente.

contra os 44%

LEIA mais Streaming: aumento de 44% para editoras e compositores ubc.vc/44

é o robô

LEIA mais Um robô é o compositor. De quem são os direitos autorais? ubc.vc/robô


REVISTA UBC

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ubc no mundo UBC se torna

membro da Scapr por_ Fábio Geovane

de_ Tbilisi

A UBC se filiará a uma nova entidade internacional. Este mês, passaremos a integrar a Scapr (Conselho das Sociedades de Gestão Coletiva de Direitos de Intérpretes e Músicos) durante a Assembleia Geral da entidade, a ser realizada em São Paulo.

Tbilisi, na Geórgia, e pude observar que a Scapr tem uma organização em comitês técnicos que se reúnem anualmente para discutir e estudar sobre as melhores práticas para uma boa gestão das associações de direito conexo.

Nossa intenção é cooperar com as associações internacionais de direito conexo para ampliar a representação de nossos artistas, bem como participar e contribuir para a evolução dos processos de intercâmbio de dados.

As ferramentas e serviços que a Scapr provê a seus membros possibilitam uma melhor identificação dos titulares e de seus respectivos repertórios, o que acaba enriquecendo a base de dados de seus membros e melhorando a representação e a remuneração dos seus titulares.

Participei da primeira reunião técnica da Scapr, ocorrida em fevereiro, em

Um representante no

A UBC esteve presente na entrega do prêmio Ascap Latin Awards 2019, entregue pela Sociedade Americana de Autores, Compositores e Editores (Ascap). A cerimônia foi realizada no último dia 5 de março, em San Juan de Porto Rico, e coroou o bom ano de artistas como o colombiano Maluma (melhor compositor latino do ano) e os porto-riquenhos Daddy Yankee (artista do ano) e Draco Rosa, ex-integrante do Menudo (prêmio Vanguarda Ascap). Nosso diretor-executivo, Marcelo Castello Branco, esteve lá:

Ascap Latin Awards

“O Ascap Latin Award é um belo reflexo da força da música latina não só nos Estados Unidos mas no mundo. O foco são o trabalho e o valor dos autores e editores envolvidos neste crescimento inevitável, além da sociedade de gestão coletiva. Muitos (dos premiados) são desconhecidos do grande público, mas criadores vitais. É emocionante ver um prêmio destacar o não óbvio, os rostos de quem também trabalha para as coisas acontecerem.”


capa 24

10 anos, 11 craques No aniversário de uma década da Revista UBC, um time de grandes compositoras de diferentes estilos se encontra para falar sobre criação, sucesso, parcerias e, claro, mulheres na música por_ Gustavo Leitão

do_ Rio

colaboração_ Fabiane Pereira

do_ Rio

fotos_ Cristina Granato


REVISTA UBC

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capa 26 MC Carol

“Abaixa quem for mais novinha. É hora de ostentar joelho bom”, zoou MC Carol, para gargalhada geral. A formação era uma das tentativas de fazer caberem onze mulheres, todas de branco e maquiagem caprichada, no quadro da fotógrafa Cristina Granato. O salão congestionado mais parecia um camarim de festival importante. Mas ali se dava outra espécie de celebração: do talento, do poder criativo e da representatividade de um grupo heterogêneo de cantoras-compositoras. Com risadas e reflexões aos montes para compartilhar. Para qualquer produtor(a) de eventos, seria um elenco dos sonhos. Além da funkeira Carol, estavam lá Ana Cañas, Clarice Falcão, Fernanda Takai, Isabella Taviani, Liniker, Lucy Alves, Luedji Luna, Mahmundi, Tulipa Ruiz e Zélia Duncan. A convite da Revista UBC, que celebra seus 10 anos de existência nesta edição #40, o time se juntou na sede da associação, um prédio art déco debruçado sobre a Baía de Guanabara, no Centro do Rio, para discutir os caminhos tortuosos da composição. Uma arte capaz de abarcar poesia, política, crônica do cotidiano e diário pessoal, tudo sem deixar de falar com as multidões. “Fazer canções que vêm de uma experiência nossa, às vezes muito íntima, e torná-la grande, aberta e popular, é uma coisa muito mágica”, resume Fernanda, revelada nos anos

1990 graças às músicas que compôs com o marido, John Ulhoa, para a banda Pato Fu. Ao lado de suas colegas cantautoras (neologismo para intérpretes que assinam o próprio repertório), ela dividiu as dores e delícias da criação em um dinâmico bate-papo gravado em vídeo e publicado no site da UBC. Confira os pontos altos da conversa:

Despertar da compositora “Eu era muito tímida, muito silenciosa. A escrita era meu jeito de estar no mundo, de existir”, conta Luedji, nascida em Salvador, que faz das canções criadas desde a adolescência uma espécie de crônica do cotidiano. Suas inspirações estão mais na poesia de gente como Elisa Lucinda que na música. “É quase uma conversa”, define a artista, que

Fernanda Takai

Luedji Luna


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Toda vez que aparece alguém querendo muito que algo faça sucesso, fica na cara.” Clarice Falcão

lançou em 2017 o incensado álbum “Um Corpo no Mundo”. Isabella Taviani, conhecida pela voz dramática e as composições sobre amores, rascunhava em um quartinho de serviço na casa dos pais, diante do espelho. “No início, eu era apenas intérprete. Quando comecei a escrever música como um diário, fui entendendo o que queria dizer para as pessoas. Aí descobri minha personalidade musical”, lembra. Já MC Carol começou a escrever música ainda criança. Também fazia desenhos e, embaixo de cada um, colocava frases, pensamentos. “Fui criada pela minha bisavó, e lá se ouvia Roberto Carlos, Elis Regina, Rihanna, forró romântico”, descreve suas influências. “Faço funk erótico, mas, no meio do show, canto coisas como ‘Ne Me Quitte Pas’ pra deixar todo mundo chocado”, diverte-se.

Sem hora certa Para Clarice Falcão, um dos macetes para segurar a inspiração é anotar tudo, principalmente quando está em trânsito. Pode ser apenas uma palavra bonita, salva no bloco de notas do telefone. “O pessoal do teatro diz que existe o dia bom e o dia ruim. Eu tenho dois dias bons por

Clarice Falcão


capa 28

No início, eu era apenas cantora. Aí, descobri minha identidade musical.”

Isabella Taviani

Isabella Taviani ano. Aí sento com um instrumento e fico quebrando a cabeça: ‘burra, burra, não vai sair nada’”, brinca. Liniker é outra que prefere as horas mortas da estrada e das salas de embarque: “Escrevo muito no fluxo de viagem.” Sem disciplina para a composição, Luedji acredita no imponderável: “A inspiração pode chegar nos momentos mais inesperados. Já aconteceu quando estava em uma viagem e vi um mapa... Ou escovando o dente... A música, para mim, é uma entidade que paira e chega quando estou aberta para recebê-la”, diz. Para Mahmundi, também. E de formas bem variadas. “Como sou produtora musical, às vezes estou no violão, às vezes na escrita, às

Liniker e Mahmundi


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vezes no computador durante o processo de composição. Na maioria das vezes eu gosto de começar com uma melodia, depois desembocar isso em palavras, em letra. Esse processo não tem um jeito só.”

Sucesso, um enigma Para as compositoras, prever uma canção de sucesso é tarefa quase impossível. “Você grava dez, 12 músicas para um disco, mas tem o acaso de uma delas chegar mais ao coração das pessoas. Isso é um mistério para mim até hoje”, afirma Ana Cañas. Com uma carreira musical fermentada espontaneamente no YouTube, Clarice diz não acreditar em fórmulas. “Toda vez que aparece alguém querendo muito que algo faça sucesso, fica na cara. Para mim, tira totalmente o tesão”, sustenta a cantora, que já lançou dois álbuns e prepara o terceiro. Aos 54 anos, Zélia Duncan prefere nem arriscar os caminhos óbvios. “Eu me especializei em decepcionar o meu fã. Quem está comigo até hoje é um forte”, brinca. “Temos que fazer o que nos dá prazer”, defende.

Parcerias high-tech Redes sociais, smartphones, afinidades digitais: é certo que a tecnologia serviu para mudar as relações. E isso se reflete também na música. “É muito fácil trocar hoje pelo Instagram, por exemplo. Você conhece alguém ali, propõe uma colaboração, compartilha uns áudios…”, descreve Lucy Alves.

Ana Cañas


capa 30

O WhatsApp concretizou trocas quase impensáveis entre Zélia e o compositor Xande de Pilares, com quem cunhou dez músicas para o próximo disco. “Ele mandava a melodia com a voz podre da madrugada. Eu durmo cedo, via só no dia seguinte para fazer a letra”, conta.

Para Zélia, não cabe mais ficar em cima do muro no momento. “Estou hoje muito mais à vontade para ser gay, para falar das minhas coisas. Eu costumava dizer que não ia dar minha vida para os urubus. Acho que agora devemos enfrentar nossos urubus, sim”, declara.

Mulheres na música Caldeirão político A polarização política recente tem resvalado, claro, na produção musical. Desde o single “Respeita”, de 2017, que denuncia a violência contra a mulher, Ana Cañas se debruça sobre temas como o feminismo e as lutas sociais. “Sobre o que mais eu falaria, com tudo o que está acontecendo no país, com o fascismo batendo à nossa porta, retrocessos de direitos?”, protesta.

“A mulher na música brasileira sempre ocupou o lugar da intérprete, da diva. É massa, mas também é a reprodução de um lugar criado pelos homens. A história, a poesia, é sempre masculina”, diz Luedji, que faz questão de ser a letrista de suas parcerias com compositores. Para Tulipa Ruiz, a equidade de gênero virou questão de ordem. “Se vou a um

Juntas, misturadas e bem-humoradas O encontro de tantas criadoras talentosas foi, ele próprio, uma atração. Com humor, elas interagiram na hora das fotos e, craques também da promoção do seu trabalho, ajudaram a experiente Cristina Granato a clicá-las rápido e bem. •

Zélia era a mais solta, gesticulava muito e descontraiu o ambiente algumas vezes. Num dado momento, Granato deu uma instrução longa e complicada sobre como queria que elas ficassem distribuídas. Silêncio geral. Zélia o quebrou: ‘Tá, mas agora o que a gente faz?’.

Clarice não levou roupa branca. Improvisou uma cueca samba-canção enorme de um amigo e uma camisa de linho. Ficou ótima.

Em outra instrução de foto, Granato pediu “agora, todo mundo rindo!” MC Carol completou: “E agora, chorando”, no que Clarice respondeu: “Graças a Deus!”

Depois das fotos oficiais, começou a sessão de selfies delas. Todo mundo queria fotos para suas redes. MC Carol publicou a sua no Twitter com a legenda “Família Kardashian”. Luedji publicou uma agarrada com Carol no Instagram, dizendo: ‘O mundo não está preparado, mores”. Ana legendou assim no Instagram: “Cris Granato registra há 40 anos a cena musical, artística e cultural do país, fez retratos emblemáticos das minhas heroínas e heróis da música, além de ser uma das manas mais gente phyna que conheço. Uma honra ser clicada por essa lenteolho que é só alma, sensibilidade, coração e emoção”.

Estou hoje muito mais à vontade para ser gay, para falar das minhas coisas.” Zélia Duncan Zélia Duncan


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31 Tulipa Ruiz

Neste ensaio elas são muitas — todas. Mas, infelizmente, no conjunto da indústria musical, as mulheres ainda estão sub-representadas, como mostrou a segunda edição do relatório Por Elas Que Fazem a Música, publicado pela UBC em março. Entre todos os mais de 30 mil associados da UBC, elas são só 14% — embora tenham crescido um pouquinho mais (15%) do que o total geral (13%). Entre os cem maiores arrecadadores, só nove são mulheres. “Levantar esses números, manter esse debate na ordem do dia, são maneiras de incentivar uma redução na diferença de gênero que existe não só no mundo da música mas em praticamente todas as áreas da economia”, afirma Elisa Eisenlohr, gerente de Comunicação da UBC e coordenadora do projeto.

LEIA mais O relatório completo ubc.vc/PorElas19

festival hoje em dia, e só tem uma equipe de homem, aquilo já me irrita na hora. Isso era algo que passava batido”, diz. “É um momento em que temos que usar nosso lugar de fala, nossa exposição”, defende Lucy. Produtora, cantora e letrista das próprias músicas, Mahmundi se inspira no chamado feminejo. “Elas têm força popular. Fico muito feliz de estar nesse mercado agora. A mulher está preparada para tudo, nossa força se estende para o que quisermos fazer, milita.

VEJA MAIS O vídeo do encontro ubc.vc/GrandeEncontro

Lucy Alves

agradecimentos ao time de produção_ Fabiane Costa, Fabiane Pereira, Vanessa Schutt, Tatiana Fortes, Regina Bezerril e Elisa Eisenlohr

Só 9 entre os 100 maiores arrecadadores


PELO PAÍS 32

Ludmilla


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Aceleração

funk Versão do gênero em 150 batidas por minuto (contra 130 do tradicional) bomba nos bailes de favelas da Zona Norte do Rio e salta para todo o Brasil

foto_ Rodolpho Magalhães

do_ Rio

Baile da Gaiola, Dennis DJ, Lexa, Ludmilla, Anitta, MC Rebecca, WM, Jerry Smith, Kevinho, DJ RD. O que todos eles têm em comum não é só o amor pelo funk e por suas muitas possibilidades sonoras, mas o abraço ao mais novo subgênero do estilo, o chamado 150. Mais acelerado (150 são as batidas por minuto, contra as 130 da vertente mais tradicional e apenas 90 dos primórdios), virou sinônimo de festa. Depois de surgir no Rio, na esteira da nova leva de bailes de comunidades dos complexos da Penha e de Nova Holanda, já se espalhou por São Paulo e pelo país. “Traduz o agito, a dança e o suíngue do brasileiro, daí essa invasão toda”, resume Pedro Breder, da Hitmaker, produtora responsável por sucessos de Ludmilla e Anitta e que, ao juntá-las na faixa “Favela Chegou” — uma das músicas mais tocadas no carnaval —, deu selo mainstream ao gênero que já havia sido chancelado nos bailes de subúrbio. “O funk é cultura urbana, de perifa, de favela, e muito viva. Milhares de artistas criando e inovando numa velocidade absurda.” Tudo começou com uma batida numa garrafa de refrigerante. “Meu filho estava batucando na garrafa, achei interessante e gravei.


PELO PAÍS

REVISTA UBC

34 MC Rebecca

Dennis DJ

Eternamente criminalizado

“A teratologia do caso, ao emitir juízo de valor negativo em relação a alguém que demonstre afeto a pessoas que faleceram na falida guerra às drogas ou que possua atividade econômica lícita vinculada a um estilo musical marginalizado, salta aos olhos”, publicou, em comunicado, a OAB. Mesma opinião tem Raull Santiago, morador do Complexo do Alemão, no Rio, ativista do coletivo Papo Reto e empreendedor social. “Há um desconhecimento profundo da sociedade em relação à vivência da favela. O que está acontecendo com o Rennan é mais um reflexo disso. O preconceito, o racismo, a desigualdade que constrói um cenário de não valorização do que vem da favela estão novamente expostos.” Artistas de outros segmentos e ONGs se organizaram para protestar contra a prisão preventiva e a condenação de Rennan. Caetano Veloso e sua mulher, Paula Lavigne, articularam uma rede de advogados para defender o funkeiro.

Rennan da Penha

Coloquei acelerado, a 150 BPM. Deu no que deu”, contou o DJ Polyvox ao G1. Depois, o estouro veio nas festas do Baile da Gaiola, comandadas pelo DJ Rennan da Penha — condenado em março por associação ao tráfico de drogas. Para artistas, ativistas e a Ordem dos Advogados do Brasil, o caso se trata de racismo e preconceito com o gênero (leia mais no quadro ao lado). Depois da repressão da fase dura das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que haviam proibido os bailes em diversas comunidades do Rio, a cidade vive um renascimento da cena funk. O estilo andava em baixa também pela própria crise econômica que castigou duramente o Rio após os Jogos Olímpicos. “Com a crise no Rio, boates e casas de shows foram fechadas, assim como bares em comunidades com as UPPs. Isso foi minando os talentos, que migraram para outras áreas”, afirmou Dennis DJ, outro dos grandes nomes que abraçaram o 150. “O 150 é um grande retorno. Agora, vejo o pessoal mais animado para fazer música.” Ouça MAIS Uma playlist com alguns dos principais hits atuais do funk 150 BPM ubc.vc/Funk150

foto_ Studio 0767

Fotos dele conversando com alguns dos chefes do tráfico na comunidade — onde tanto Rennan como os traficantes nasceram e cresceram —, além de mensagens de texto postadas por ele em grupos de WhatsApp nas quais se fazem menções à presença da polícia na favela foram as “provas”. Que, para a Ordem dos Advogados do Brasil, são frágeis e expõem, mais uma vez, a criminalização do gênero nascido em comunidades pobres habitadas, em sua maioria, por pessoas negras.

foto_ Léo Caldas

Ativistas, artistas e advogados se mobilizaram em março, quando um dos difusores do funk 150 BPM, o DJ Rennan da Penha, do Baile da Gaiola, foi condenado por associação com o tráfico de drogas da favela de Vila Cruzeiro. Antes de todo o furacão midiático que se gerou em torno do caso, Rennan seria um dos entrevistados desta reportagem.


FIQUE DE OLHO

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de_ São Paulo

UBC distribui

Ecad fecha

UBC renova sua

R$ 521,3 milhões em 2018

acordo com GloboPlay

newsletter

O Relatório Anual da UBC mostra que, em 2018, nossa associação distribuiu R$ 521,3 milhões. Foram beneficiados 186 mil titulares nacionais e estrangeiros, 25,4% mais do que no ano anterior. No biênio 2017-2018, houve crescimento de 61,9% no montante distribuído, se comparado ao do biênio anterior (2015-2016). Mas, isoladamente, 2018 teve queda de 13,3% no valor, em relação a 2017. Mesmo assim, nossa associação ainda se destaca com folga no conjunto de entidades que compõem o Ecad, respondendo por 57% dos valores distribuídos entre todas.

O Ecad celebrou um acordo com a GloboPlay que derivará em pagamentos de direitos autorais de execução pública a titulares de obras musicais contidas em filmes e séries. O contrato também abarca valores referentes ao TelecinePlay e às plataformas Sexy Hot, Philos TV e GShow. De acordo com dados do Ecad, o valor pago ano passado por tais plataformas do Grupo Globo chegou a R$ 2,9 milhões.

LEIA mais Em breve, no site da UBC, o relatório completo em português, espanhol e inglês

Além de reproduzir os artigos e reportagens do nosso site, com os dados mais quentes do mercado e do mundo dos direitos autorais, a nova versão do UBC News, o e-mail informativo periódico enviado aos inscritos, terá mais informações exclusivas e um novo desenho. LEIA mais Inscreva-se para receber gratuitamente os conteúdos informativos da UBC ubc.vc/ubcnews

UBC lança

aplicativo LEIA mais Ecad e prefeitura de Salvador fecham acordo ubc.vc/SalvadorAcordo

Lançado no último dia 13 de março, o aplicativo da UBC concentra os principais serviços já oferecidos pelo Portal do Associado, como gráficos que ajudam a acompanhar o progresso dos rendimentos; recibos e demonstrativos dos valores pagos pela UBC; uma versão digital da carteira do associado; um apartado de notícias sobre o mercado; e os contatos das nossas filiais. VEJA MAIS Descarregue agora o aplicativo, na Google Play (Android) ou na AppStore (Apple) ubc.vc/BaixarApp


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Conheça 20 canções há anos entre as mais executadas e, a partir da análise de metadados da UBC, entenda o contexto em que elas mais fazem sucesso por_ Alessandro Soler e Ricardo Silva

de_ São Paulo


REVISTA UBC

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É generalizada a sensação de que um hit, hoje em dia, tem vida efêmera. Também o é a certeza de que alguns sobrevivem, permanecendo na cabeça e na boca das pessoas ano após ano. A dúvida suprema, martelada uma e outra vez por compositores, produtores, intérpretes, por você e por nós, é: qual, afinal, é o segredo das que ficam? Uma análise do imenso sistema de metadados da UBC, que traz informações sobre todas as obras cadastradas na nossa associação, líder em distribuição de direitos autorais musicais no Brasil, dá algumas dicas. As canções no topo das mais executadas dos últimos dez anos — período escolhido por contemplar um novo tipo de consumo, mais acelerado, mais urgente, como o que ocorre no Spotify e no YouTube, por exemplo — são temas de telejornais e programas informativos. A lógica é simples: elas tocam todo dia na TV, garantindo aos seus autores uma posição hors-concours na classificação geral. Por isso, nos centramos nas demais, elaborando uma lista com as 20 primeiras.

O que é que

elas têm?

Apesar da hegemonia do sertanejo, do pagode, do arrocha, do funk e de outros sons de forte apelo popular nos meios de comunicação, nas rádios e no streaming — como revelamos na reportagem de capa da Revista UBC #38, sobre os gêneros mais ouvidos em cada estado do Brasil —, as canções que permanecem, sólidas, são de estilos bem mais universais. Tom Jobim (e Vinicius de Moraes), Gilberto Gil e Tim Maia são os únicos com diferentes criações (e, às vezes, por até nove anos seguidos) na lista, o que atesta a longevidade indiscutível do seu trabalho. Entre as 20 principais — fora, sempre é bom repetir, as trilhas de telejornais e programas informativos —, têm espaço também outros nomes da MPB (Gonzaguinha, Paulo Sérgio Valle), do pop-rock (Kiko Zambianchi e Herbert Vianna), das marchinhas de carnaval (Antonio Almeida e Oldemar Magalhães), do sertanejo (Allê Barbosa, José Augusto), do axé (Manno Góes) e do funk (Anitta). Uma amostra que dá boa dimensão da pluralidade musical brasileira.


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As 20 mais do top 100 da UBC, entre 2009 e 2018

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“Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)”_ Para cima, explosiva, animada, é a tradução do seu criador, Tim Maia. Aparece nove anos no top 100. No início da década, brilhava quase que exclusivamente em rádios, shows e bares de música ao vivo. Pouco a pouco, ao longo dos anos foi virando hit de festas de casamento. Tanto que, em 2018, teve uma de suas maiores execuções no segmento Casas de Festas, do Ecad, que engloba tais eventos.

“Parabéns a Você”_ Dispensa comentários. A esmagadora maioria do seu sucesso, que a pôs sete anos na lista das “mais-mais” da década, vem das execuções ao vivo em casas de festas, bares, restaurantes, boates e estabelecimentos do gênero, com alguma participação de rádio e TV. No Brasil, a letra da canção — cujos acordes da original americana já estão em domínio público — é de Bertha Celeste Homem de Melo.

“Show das Poderosas”_ Apesar do caráter particularmente efêmero de hits do chamado pop-funk, ficou cinco anos no top 100. É a canção por excelência ligada ao estouro de Anitta. Escrita por ela, sozinha, exalta o poder feminino com ímpeto e energia. “É a primeira música forte de impacto da fase pop dela, uma das coisas mais emblemáticas que eu produzi na minha carreira,”, descreve o megaprodutor Umberto Tavares.

“Jeito Carinhoso”_ Escrita por Allê Barboza, é hit do sertanejo e do pagode. Teve uma primeira gravação, pela dupla Jads & Jadson, que lhe garantiu o estouro no carnaval de 2013 e uma enxurrada de execuções em shows, rádios e eventos ligados às festas juninas. Em 2015, o grupo de pagode Bom Gosto a relançou, dando-lhe novo ímpeto em boates, bares e restaurantes de música ao vivo e, claro, também rádio e TV. Resultado: cinco anos no top 100.

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“Evidências”_ Um dos maiores sucessos do sertanejo em todos os tempos, não saiu do top 100 em nenhum dos nove anos que analisamos. A composição é uma parceria matadora de José Augusto e Paulo Sérgio Valle, e a interpretação mais conhecida (houve várias) foi de Chitãozinho & Xororó. É hit de festas de casamento, de bares e restaurantes com música ao vivo e de shows, além de rádios do Sudeste.

“Praieiro”_ Escrita por Manno Góes e gravada por Jammil e Uma Noites, também figura em todos os nove anos analisados. Sucesso do axé, tem tudo a ver com o verão, com o clima hedonista e para cima ligado ao estilo. Tem expressiva participação nos segmentos rádio, shows e, principalmente, carnaval e shows realizados durante a folia.

“Meu Erro”_ Nove 9 anos no top 100 na última década. Clássico de Herbert Vianna lançado originalmente em 1985, é uma das canções mais conhecidas dos Paralamas do Sucesso (com regravações de CPM22, Roupa Nova, Chimarruts e diversas outras bandas, o que lhe garante vida nova de tempos em tempos). Hit de bares e restaurantes ao vivo, de rádios e, nos últimos anos, de festas de casamento.

“Garota de Ipanema”_ Talvez a canção brasileira mais famosa no mundo, ao lado de “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso. Seis anos no top 100. Mítica criação de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, traduz a bossa nova e evoca um sonho feliz de país (e de cidade, o Rio de Janeiro). Nos últimos anos, tem sua força na música ao vivo de bares e restaurantes, em shows, em rádios e na TV.

“Primeiros Erros”_ Nove anos no top 100, é uma composição de Kiko Zambianchi, gravada por ele nos anos 1980 e relançada pelo Capital Inicial nos 2000, o que lhe garantiu um estouro na rádio, nos shows e na TV, nos primeiros anos analisados, e, mais recentemente, em bares e restaurantes de música ao vivo.


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“Asa Branca”_ Há 8 anos seguidos, brilha nas festas juninas e nos shows juninos, o que se reflete na inconteste predominância da distribuição de setembro. Criação de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, é a música dos são-joões nordestinos por excelência.

“Vamos Fugir”_ Escrita por Gilberto Gil e Liminha, brilhou num comercial de uma famosa marca de chinelo nos anos 2000. Teve regravação do Skank em 2010. Dali para cá, não sai do repertório de casas de festas (de casamento, de aniversário), da música ao vivo de bares e restaurantes e das rádios. Há oito anos no top 100.

“Wave”_ Outro clássico da bossa nova gerado no piano do maestro Tom Jobim, em 1967, figurou em 4 anos entre os 10 analisados. Teve um revival nas rádios e, desde o início da nossa série, em 2010, deve à música ao vivo de bares e restaurantes o seu lugar no top 100.

“Esperando na Janela”_ Outra música obrigatória nos festejos juninos (quando tem seu grande boom de execuções), foi lançada em 2000 por Gil (a autoria é de Manuca Almeida, Raimundinho do Acordeon e Targino Gondim). Do ano seguinte para cá, não saiu mais do top 100. No início, graças aos shows e à TV; agora, à música ao vivo em bares e restaurantes.

“Quando a Chuva Passar”_ Sucesso na voz de Ivete Sangalo, este axé foi escrito por Ramón Cruz e figura cinco anos no top 100. Além da grande qualidade artística, há um empurrão que lhe garantiu anos de execução maciça: foi tema do casal protagonista da novela da TV Globo “Cobras e Lagartos”, em 2006, e, em 2010, tema de abertura da novela “Escrito nas Estrelas” (na voz de Paula Fernandes).

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“Porque Homem Não Chora”_ Foi um dos hits que projetaram o cantor Pablo e seu arrocha nacionalmente. “É a música da sofrência por excelência”, ele chegou a dizer numa entrevista, usando a palavra que cunhou para se referir à pegada típica do gênero que canta. Composição de Rony dos Teclados, ficou dois anos no top 100.

“Marcha do Remador”_ Única marchinha de carnaval na lista da UBC, figurou cinco anos entre as mais executadas. Escrita por Antônio Almeida e Oldemar Magalhães, foi lançada pela diva Emilinha Borba no carnaval de 1964. Não saiu mais da boca do povo. O sistema de metadados da UBC mostra que, esmagadoramente, seu sucesso se atribui a blocos e shows de carnaval.

“Eu Sei Que Vou Te Amar”_ Outra da dupla Jobim e Moraes, aparece quatro anos no top 100. Hit inconteste de bares e restaurantes de música ao vivo, esse ícone da bossa nova também frequenta rádios e shows ano após anos.

“Você”_ Como se alguém duvidasse da capacidade incrível de Tim Maia de gerar hits, eis que aparece outra dele quatro anos (entre dez) no top 100. Nos últimos tempos, essa canção romântica e extremamente popular deve suas execuções, principalmente, à música ao vivo, aos shows, rádios e casas de festas.

“O Que é O que é?”_ Sete anos na lista das “maismais”, é uma criação de Gonzaguinha e outra a se destacar em festas de casamento, música ao vivo e rádios. Nos últimos anos, voltou a ter bastante execução na televisão com sucessivas reprises da telenovela “Vale Tudo”, cuja trilha sonora integra.

“Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha”_ Composição de Shylton Fernandes, fez sucesso de 2012 em diante. Nesse ano, integrou a trilha sonora do grande sucesso da TV “Avenida Brasil”. Sertanejo gravado por João Lucas & Marcelo, tem um refrão com batida funk que é tido como um exemplo pioneiro das fusões entre esses estilos que ganharam outros hits mais tarde.


CARREIRA 40

Criatividade

sub mersa


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Receita produzida por setores culturais poderia dobrar, caso mais criadores se formalizassem, estimam especialistas; tônica é a necessidade de espalhar conhecimento sobre como funciona o mercado por_ Roberto de Oliveira

de_ Belford Roxo (RJ)

As expressões indústria criativa e economia criativa se popularizam tão rápido quanto a percepção de que a criação artística não é só a expressão do espírito humano — o que já seria legítimo em si —, mas também uma importante fonte de empregos e receita para milhares de pessoas no Brasil. Isso não quer dizer que a formalidade seja a regra nos setores musical, audiovisual, literário, teatral e de outros campos tão variados quanto os videogames e o artesanato, a arquitetura e as artes visuais. O mapa da economia criativa que a Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan) produz a cada dois anos apurou um montante nada desprezível de R$ 171,5 bilhões gerados pelo setor em 2017, período mais recente com dados compilados. Poderia ser muito mais. Especialistas como Luiz Carlos Prestes Filho, economista dedicado aos estudos da cultura e do desenvolvimento local, falam em pelo menos 50% de informalidade, o que nos leva a calcular que a soma de dinheiro gerado pelos setores criativos passaria de R$ 340 bilhões anuais — ou até mais.

Abastecer com informação O SIM Transforma, projeto da superfeira SIM São Paulo, leva à periferia da capital paulista um grupo de profissionais de várias áreas do mercado fonográfico. “São jornalistas, produtores, artistas, assessores de imprensa, especialistas em políticas públicas, em editais, donos de casas noturnas que vão em caravanas aos bairros para conversar com artistas locais sobre diversos temas do mercado da música”, diz Fabiana Batistela, diretora-geral da SIM São Paulo. Um projeto recém-lançado pela Associação Brasileira da Música Independente (ABMI) promoverá, a partir de maio, em São Paulo, seminários de capacitação digital. O Giro Digital ABMI “trará informação sobre marketing, direitos autorais, agregadores, plataformas digitais, números do mercado atualizados...”, enumera Carlos Mills, presidente da ABMI. Interessados podem se inscrever em abmi.com.br. E a própria UBC, como esquecer?, tem um foco voltado para a capacitação dos seus associados. Através das nossas newsletters, da Revista, do site e de vídeos exclusivos no YouTube (ubc.vc/YT), buscamos aportar ferramentas para a inserção dos criadores no mercado.


CARREIRA 42

“Essa grande informalidade é impossível de ocorrer com petróleo e gás, metalurgia e indústria de automóveis, entre outras áreas. Mas estamos no milênio dos serviços, e não no milênio de fabricação de bens de materiais duráveis”, preocupa-se Prestes Filho, que prega a necessidade de formalizar os atores dessa indústria. Com isso, poderia-se pôr em movimento um ciclo virtuoso de mais impostos, mais investimento na área, mais geração de empregos e mais produção de bens culturais exportáveis, um importante vetor de inserção de um país no cenário global. “Formalizar”, no caso da música, abarca exigir contratos para gravar ou tocar; o registro oficial como cantor/músico/intérprete/ compositor em entidades de classe; mas, sobretudo, a participação no bolo da distribuição de direitos autorais, o que ocorre quando um criador está vinculado a uma sociedade de gestão coletiva como a UBC. Dada a própria dinâmica da carreira musical, muitas vezes os direitos autorais funcionam como a “aposentadoria” dos criadores. Ano passado, o Ecad distribuiu R$ 971 milhões a centenas de milhares de titulares. Não é ilógico pensar que essas cifras se multiplicariam, caso mais participantes estivessem inseridos no sistema. Para se ter uma ideia, baseada em registros do extinto Ministério do Trabalho, a Firjan levantou apenas 13 cantores profissionais em toda a cidade do Rio no estudo de 2017. Nenhum deles é

Paulo Jorge da Silva Mendes Júnior, de 32 anos, o PJ, que grava em seu estúdio caseiro, na Zona Norte da cidade e não está filiado a nenhuma sociedade. Nem Diego José dos Santos, também de 32 anos, cantor que trabalha na noite tocando em bares. “A noite é onde a gente mais consegue ganhar dinheiro, mas não tem nenhum tipo de contrato, é tudo sempre de boca”, diz. Anita Carvalho, pesquisadora do mercado de música, chama a atenção para um outro agente que também é visto como um trabalhador informal pela ausência de contratos nas relações profissionais: o empresário artístico. “Nove em cada 10 empresários que eu entrevistei só ganham dinheiro com venda de shows, mas, mesmo assim, apenas 40% acham importante estar filiados a alguma entidade de classe”, diz a pesquisadora, que, num estudo para a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), calculou o mercado de shows ao vivo em R$ 2 bilhões anuais.

De Fortaleza à Baixada Fluminense, músicos tomam a frente No Ceará, o rapper Erivan Produtos do Morro (36) pôs a mão na massa e resolveu espalhar, entre os artistas da comunidade Castelo Encantado, de Fortaleza, onde vive, as vantagens de participar do mercado. Ele criou o selo Produtos do Morro Rec e contratou mais de 30 criadores. O trabalho do selo ensina aquela parte burocrática que o artista, chegando ao mercado, frequentemente desconhece: como lançar um single, como distribuí-lo, como colocar nas plataformas digitais. Na Baixada Fluminense, Rodrigo Caê (músico, produtor e DJ) e Marcão Baixada (rapper e produtor cultural) reúnem artistas, produtores e músicos interessados em saber mais sobre os aspectos variados da indústria musical, em especial, as regras e leis de direitos autorais, num esquema de troca de ideias que começou com um almoço oferecido numa laje. “Queremos ajudar a nossa galera a entender como funciona a cadeia produtiva da música e o direito autoral”, diz Caê.


REVISTA UBC

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Projeto Impulso Iniciativa lançada no Rio2C pela nossa associação propiciará capacitação, mentoria e networking a filiados

Sem Dúvida: Música 360°. E, no mês seguinte, haverá uma imersão de dois dias com o orientador para que se possam estabelecer as metas a serem cumpridas pelos artistas e as contrapartidas a serem entregues.

do_ Rio

Começar uma carreira na música já é um desafio e tanto. Dar seguimento a ela e fazer as melhores escolhas que lhe garantam longevidade e sustentabilidade são muito mais difíceis. Para ajudar nossos associados a trabalhar aspectos artísticos e de gestão, lançamos no final de abril, durante o Rio2C, o Projeto Impulso. Para participar, os candidatos devem ter um trabalho autoral, ser filiados à UBC e já terem recebido rendimentos de execução pública. Entre os inscritos, três (sendo, obrigatoriamente, pelo menos uma mulher) serão escolhidos

LEIA mais Veja o edital completo do projeto e saiba como participar impulso.ubc.org.br

por uma curadoria independente para participar do projeto, que consiste em um processo de mentoria com profissionais renomados do mercado e orientação do gestor Iuri Freiberger. Além disso, rceberão um aporte de R$ 5 mil a R$ 15 mil para investir como complemento em um projeto que tenha relevância para seu desenvolvimento profissional e artístico. Todo o processo de mentorias e acompanhamento dos projetos durará um ano. Em junho, os selecionados poderão se apresentar ao vivo para curadores e mentores no evento UBC

“O Impulso UBC é uma incubadora independente que otimiza a rede da UBC para ajudar o talento a se revelar, crescer e se viabilizar. Sem nenhum vínculo proprietário, apenas de aceleradora”, define Marcelo Castello Branco, diretor-executivo da UBC. Elisa Eisenlohr, gerente de Comunicação da UBC e idealizadora do projeto, faz coro: “Para nós, não se trata só de ajudar os associados a avançar em suas carreiras através de networking, mentoria e capacitação. Também queremos aprender sobre todo o processo que faz com que um criador musical atinja outro patamar.”


ARRECADAÇÃO E Distribuição 44

Fim da ressaca

Valores referentes ao segmento Carnaval e Festas de Fim de Ano terão distribuição agora em maio; entenda o que entra na conta do_ Rio

Todo ano é mais ou menos assim: primeiro vem a folia, que se esparrama pelos meses de fevereiro e/ou março. Depois, chega a ressaca. E, para ajudar a curá-la, maio traz a distribuição dos valores arrecadados em direitos autorais referentes à rubrica Carnaval.

em todas as cinco regiões brasileiras. Gravam-se eventos localizados nas áreas de atuação das equipes do Ecad, e selecionam-se aleatoriamente os eventos, prioritariamente os adimplentes, para compor a amostragem.

Mas o que é exatamente essa rubrica? Segundo o Ecad, a categoria, na verdade, é maior do que os festejos de Momo propriamente. Entram nela os montante referentes às festas de confraternização de fim de ano, festas natalinas e de réveillon, bailes pré e pós-carnavalescos, blocos e coretos e festas e bailes realizados durante o período oficial do carnaval.

Ficam de fora, portanto, os números relativos aos shows e desfiles de carnaval, que entram no segmento de distribuição Shows. Este, diferentemente do segmento Carnaval e Festas de Fim de Ano, tem distribuição mensal e direta. As gravações que baseiam o cálculo do total a ser distribuído são coletadas pelos técnicos através da tecnologia Ecad Tec Som, que grava as músicas dos shows, de desfiles de carnaval e de trios elétricos, conferindo acuidade e precisão ao processo.

Toma-se como base uma amostragem de 50 mil execuções a serem captadas no período de dezembro a março


REVISTA UBC

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Folia de números

50 mil é a amostragem das execuções usada para calcular o valor a ser distribuído.

4 são os eventos contemplados: festas (de fim de ano, de carnaval, de Natal e ano-novo); bailes (carnavalescos, assim como pré e pós); blocos; e coretos. Ficam de fora os desfiles de escolas de samba, por exemplo, e os shows.

4 é o número de meses contemplados na amostragem: dezembro, janeiro, fevereiro e março.

5º é o mês do ano em que se dá a distribuição: é agora em maio!

LEIA mais O calendário completo de distribuição do Ecad ubc.vc/Calendario


Dúvida do Associado 46

LEIA mais Qual o melhor distribuidor digital? ubc.vc/DDigital

“Que serviços oferecem os distribuidores digitais?”
 Revista UBC Essas empresas surgiram como uma ponte entre os artistas e as plataformas de download e streaming — que, de um modo geral, ainda não permitem que os titulares subam suas canções diretamente. Mas as atribuições dos distribuidores (também conhecidos como agregadores) vêm crescendo e mudando. Uma das razões é uma tendência que, segundo analistas, não deve demorar a se concretizar: a de que os próprios criadores possam fazer o upload das suas músicas em plataformas como Spotify, Deezer ou Apple Music, entre outras. No caso do Spotify, já há um serviço beta — por enquanto, restrito a alguns artistas e bandas pré-

selecionados, e unicamente nos Estados Unidos — que admite a inclusão da música diretamente no sistema da plataforma, sem passar por um agregador.

autorizações de reprodução das canções e até buscando oportunidades de sincronização (em filmes, séries e novelas) das músicas dos seus representados.

Enquanto isso não se amplia e expande às demais plataformas, os distribuidores diversificam e já vêm atuando como verdadeiros selos, oferecendo assessoramento de marketing e gerenciamento da presença do artista nas plataformas (através da administração de playlists, da integração com mídias sociais e da elaboração de campanhas em vídeo no YouTube, por exemplo).

São tantos os novos serviços que elaboramos uma tabela no nosso site com alguns dos principais agregadores/distribuidores digitais em atuação no país e o que oferecem. Acesse ubc.vc/DDigital e compare!

Não só: alguns também têm atuado num campo normalmente associado às editoras, intermediando

E você, tem dúvida? Entre em contato com a UBC pelo e-mail atendimento@ubc.org.br, pelo telefone (21) 2223-3233 ou pela filial mais próxima.


outra vez, na liderança O Relatório Anual da UBC mostra que, em 2018, nossa sociedade foi responsável por 57% de tudo o que o Ecad distribuiu. Mais de 186 mil titulares, aqui e lá fora, se beneficiaram dos R$ 521,3 milhões que entregamos. Se somados os resultados do biênio 2017-2018, o aumento foi de 61,9% em relação a 2015-2016.

WWW.UBC.ORG.BR


Que tal ganhar um IMPULSO para sua carreira?

O PROJETO IMPULSO, promovido pela UBC, oferece capacitação, mentoria e networking a artistas que queiram chegar mais longe em suas trajetórias. Três projetos serão selecionados. Cada um deles contará com uma equipe de especialistas do mercado da música e receberá apoios entre R$ 5 mil e R$ 15 mil para sua execução. Acesse impulso.ubc.org.br e veja como participar.


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Editorial

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page 3

D\u00FAvida do Associado

1min
page 46

Fim da Ressaca

1min
pages 44-45

Projeto Impulso

1min
page 43

Criatividade Submersa

3min
pages 40-42

O que \u00E9 que elas t\u00EAm?

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pages 36-39

Fique de olho

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Acelera\u00E7\u00E3o Funk

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pages 32-34

10 anos, 11 craques

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Not\u00EDcias Internacionais

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Jorge Mautner

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Hyldon: na rua, na chuva e no futuro

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Jards Macal\u00E9: 'Besta Fera' \u00E0 solta na estrada

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Novidades Nacionais

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pages 6-11

\"O Samba me escolheu, antes de eu escolh\u00EA-lo\"

1min
page 5
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