Especial Aluízio Alves - 100 anos

Natal • Rio Grande do Norte • Quarta-feira, 11 de agosto de 2021

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ALUÍZIO ALVES O LEGADO DA ESPERANÇA

UM HOMEM À FRENTE DE SEU TEMPO Aluízio Alves (1921-2006) 0 nasceu em Angicos, há 10 e deu anos. Menino prodígio, qu os primeiros passos no s 11 jornalismo e na política ao um anos, se notabilizou como inado. gestor inovador e determ

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Aos 11 anos, Aluízio (no canto direito à esquerda) em reunião do PP

11 de agosto de 2021. Se vivo estivesse, Aluízio Alves completaria nesta quarta-feira 100 anos. Quinto filho do casal Manoel Alves Filho (1894-1986) e a dona-de-casa Maria Fernandes Alves (1891-1975), o jornalista, empresário e ex-ministro nasceu no dia 11 de agosto de 1921, em Angicos, cidade localizada aos pés do Pico do Cabugi, na região central do Rio Grande do Norte. Ao todo, a família era composta por nove filhos, sendo que uma menina (Maria) resistiu apenas três dias; e outro morreu antes mesmo de nascer.

A irmã mais velha de Aluízio Alves era Maristela Alves (falecida em janeiro de 1975, aos 56 anos). Pela ordem de nascimento, a segunda mais velha do grupo de irmãos é Maria Neusa Alves, 100 anos. Aluízio Alves era o terceiro mais velho. O mais velho dos irmãos após o ex-ministro é Garibaldi Alves (ex-deputado), 98 anos. O quinto filho mais velho era Expedito Alves, exprefeito de Angicos assassinado em 1983 na praça da cidade.

O sexto filho era José Gobat Alves, falecido em maio de 2004 após passar cerca de 12 anos em coma. O acidente que lhe colocou em tal estado aconteceu em 1992 e vitimou fatalmente sua mulher, Maria José de Vasconcelos Alves (1933 - 1992). A freira Carmem Alves (falecida em 04 de fevereiro de 2018, aos 91 anos) era a sétima da linhagem. Ela era irmã Dorotéia e dirigiu a ordem religiosa em Natal.

Os dois irmãos mais novos de Aluízio Alves são Maria de Lourdes Alves, 93 anos; e Agnelo Alves (falecido em 21 de junho de 2015, aos 82 anos). Dos nove filhos do casal "Nezinho Alves" e "Dona Liquinha", apenas Agnelo Alves, que foi prefeito de Parnamirim e senador da República, não nasceu em Angicos. Em 1932, no auge da Revolução Constitucionalista, Nezinho Alves era prefeito da cidade e achou melhor enviar sua mulher para CearáMirim, onde Agnelo nasceu.

Mais de cinco décadas de união Quando Aluízio Alves casouse com dona Ivone Lyra Alves, em setembro de 1944, na igreja Santa Terezinha, no Tirol, tinha 24 anos e ela 18. Segunda filha de uma família de cinco irmãos descendentes do casal Luiz e Lydia

O aperto de mãos com Getúlio Vargas, em 1951, no Palácio do Catete

O MAIS ILUSTRE FILHO DE ANGICOS

Aluízio recebe em 1964, o senador Robert Kennedy, na sede da TN

 LINHA DO TEMPO 1921 Nasce em Angicos, sertão central do Rio Grande do Norte, em 11 de agosto, o quinto filho do casal Manoel Alves Filho (comerciante) e da dona de casa Maria Fernandes Alves, Aluízio Alves.

Aluízio foi o quinto filho do casal Manoel Alves Filho (1894-1986) e a dona-de-casa Maria Fernandes Alves (1891-1975). Nasceu em Angicos, cidade aos pés do Pico do Cabugi FOTOS: ARQUIVO TN

1931 Durante as férias do fim do ano, cria o jornalzinho O Clarim. Eram duas folhas datilografadas na máquina do pai. O único exemplar circulava de casa em casa. Entre as notícias, coisas da política.

1932 Em Natal, para os estudos secundários, aos 11 anos participa da fundação do Partido Popular, ao lado do líder José Augusto e de outros figuras importantes da política do Rio Grande do Norte.

1938 Escreve e edita, dentro de um projeto de relançar vários autores potiguares, o livro Angicos, considerado até hoje um dos mais completos estudos sobre a realidade daquela região.

Aluízio Alves reunia, com facilidade, multidões em seus comícios em todas as campanhas partidárias das quais participou

Lyra, dona Ivone conheceu o futuro marido ainda na adolescência na praia da Redinha, onde as famílias passavam o veraneio.

Em agosto do ano seguinte ao casamento, nasce, em Natal, o primogênito Aluízio Filho, que se tornou empresário. Com o patriarca eleito deputado federal, a família se muda para o Rio de Janeiro, onde, em dezembro de 1948, nascem os gêmeos Henrique Eduardo – deputado federal por 11 mandatos consecutivos, desde 1971 – e Ana Catarina, que também foi parlamentar durante as legislaturas 1997-1999 e 1999-2003. O caçula

do casal Aluízio e Ivone é o jornalista Henrique José, nascido em Natal, em janeiro de 1962. Dona Ivone faleceu aos 77 anos, no dia 30 de agosto de 2003, em decorrência de um infarte fulminante.

Menino prodígio Menino prodígio e político precoce, Aluizio Alves sempre esteve à frente do seu tempo em diversas áreas de atuação. Herdou o gosto pela política do pai, o comerciante Nezinho Alves que foi prefeito de sua terra. Já aos 11 anos, entre antigos membros do Partido Republicano, como o ex-

governador José Augusto Bezerra de Medeiros, e da Aliança Liberal, como o monsenhor João da Maria Paiva, e o ex-prefeito de Caicó Dinarte de Medeiros Mariz, participou da fundação do Partido Popular (PP). Foi em 12 de fevereiro de 1933, na então provinciana capital do RN, iniciando assim uma longeva carreira político-partidária, que só terminou com sua morte aos 84 anos, no dia 06 de maio de 2006, depois de sofrer uma isquemia cerebral.

Eleito deputado a primeira vez à Assembleia Nacional Constituinte pela UDN (União Democráti-

ca Nacional) do Rio Grande do Norte, em fevereiro de 1946, era empossado aos 24 anos, o mais jovem constituinte do país. Foi eleito mais três vezes deputado federal, tendo deixado a Câmara dos Deputados após ter sido eleito governador do Estado em 1960.

Em1966,voltoua seelegerdeputado federal, sendo cassado em 1969 pela Ditadura Militar. Voltou à Câmara Federal para o último mandato (1991-1994) e exerceu cargos de ministros da Administração e da IntegraçãoRegional,nosgovernosJosé Sarney(1985-1990)eItamarFranco (1992-1994), respectivamente.

1942 Assume a coordenação do Serviço Estadual de Reeducação e Assistência Social e a LBA, atuando de forma decisiva no atendimento aos flagelados da seca e migrantes que vêm do interior para Natal 1944 Casa-se com Ivone Lira Alves em 30 de setembro.

Filha de uma família tradicional, dona Ivone iria acompanhar Aluízio em todas as lutas políticas, dando a ele quatro filhos.

Memória Viva Em 18 de julho de 1983, o ex-governador Aluízio Alves deu um depoimento ao programa Memória Viva, na TVU. A entrevista foi conduzida pelos jornalistas Wodem Madruga, Alvamar Furtado, Ticiano Duarte e Affonso Laurentino. Confira abaixo alguns trechos nos quais ele se define e conta passagens que marcaram sua vida.

O jornalista “Eu tenho em matéria de jornalismo, com o perdão da modéstia, um feito inédito: eu já fui diretor de um jornal de um só exemplar, e já fui diretor de um jornal com 200 mil exemplares. Um dia, não sei por que - até hoje

não sei por que - resolvi fazer um jornal. O jornal tinha um exemplar. Eu escrevia o jornal no sábado e no domingo, à máquina. E aquele jornal na segunda-feira começava a circular de casa em casa na cidade. Era um exemplar só. Chamava-se O Clarim. E fui depois diretor da Tribuna da Imprensa, que na fase que dirigimos, Carlos Lacerda e eu, tinha circulação de 120 mil, 130 mil exemplares, mas que no dia do atentado a Carlos Lacerda, no qual morreu Major Vaz, ele tirou 200 mil exemplares. E eu estava na direção. Carlos Lacerda estava ferido e eu assumi a direção do jornal. Então tenho esse feito inédito no jornalismo: dirigi um jornal de um só exemplar,

com 11 anos de idade. E depois dirigi um jornal com 200 mil exemplares, no Rio de Janeiro.”

A personalidade “Apesar de ser um homem polêmico. Diante de mim, das minhas atitudes, raramente há uma neutralidade, sempre alguém está a favor, alguém está contra. É uma característica da minha vida, não escolhida por mim, mas por talvez pelos acontecimentos ou pelo meu temperamento.”

O deputado “Eu digo a vocês: tudo o que eu quis ser não consegui. E fui muitas outras coisas que eu nunca pensei em

ser. Eu quis ser diretor da República, não consegui. Eu quis ser promotor público. Não consegui. Quis ser deputado estadual, também não consegui.

Havia três candidatos, da ala estudantil. Eram Zé Ariston, Zé Gonçalves e eu. Os dois queriam ser deputados federais e eu queria ser deputado estadual. Eu tinha apoio eleitoral, eles não tinham. A chapa estadual estava muito cheia. Houve a convenção estadual, na escolha da chapa e sobrou Agenor Lima, chefe político em Goianinha.

Que, em cima do palco, ao saber que sobrou, ameaçou romper com o partido. Imediatamente eu abri mão do meu lugar. Me procuraram Monsenhor Mata, Dinarte, Dix-sept. Foi

muito engraçada a conversa. Disseram: “Você tinha uma eleição de deputado estadual certa. Para deputado federal nós devemos fazer quatro pela UDN. Você deve ficar em quinto.

Mas serão eleitos Zé Augusto. Djalma. Pedro Amorim e cada um tira uma licença, vez por outra, e você assume”.

E entrei para a chapa de deputado federal. Fomos para a campanha. Eles pensando que eu seria o quinto e que os outros quatro seriam eleitos. Terminando a campanha, a UDN não fez quatro. Fez dois. E os eleitos foram Zé Augusto e eu. E eu fui eleito sem esperar, nos últimos dias. Aos 23 anos de idade, o deputado mais moço da Assembleia Nacional Constituinte.”

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om o fim do Estado Novo e o País redemocratizado, em 1945, Aluízio Alves candidata-se e é eleito ao seu primeiro cargo público: deputado federal pela União Democrática Brasileira (UDN), partido liderado por José Augusto. Com apenas 24 anos, foi o mais jovem integrante a redigir a Constituinte de 1946.

Ao longo de seis mandatos na Câmara dos Deputados interrompidos duas vezes – a primeira porque se elegeu governador do Rio Grande do Norte em 1960 e depois em 1969, cassado pelo Regime Militar, um dos projetos mais importantes da carreira legislativa de Aluizio Alves foi a elaboração da Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS).

Após a promulgação da Constituição de 1946, o então deputado federal Aluízio Alves foi designado para ser o relator de 86 projetos que modificavam o sistema da Previdência Social. Diante da tarefa, ele decidiu elaborar uma lei orgânica que pretendia corrigir os erros identificados e aproveitar o que havia de bom sobre o assunto no mundo.

Ele registrou (no livro “O que eu não esqueci”) que para concretizar sua ideia resolveu aproveitar “os acertos brasileiros, desde a Lei Eloy de Souza, de 1923, que criou os Caixas de Aposentadorias e Pensões, projetos de alteração, a criação dos Institutos Nacionais e os regimes de seguro social estruturados em vários países após a Segunda Guerra, a começar pelo Plano Beveridge*, da Inglaterra, que inspirou diversas conferências interamericanas e modificações nos regimes previdenciários de outros países”.

Na intenção de fazer o melhor possível, Aluízio Alves estudou os regimes de previdência de sete países (Venezuela, Uruguai, Peru, Paraguai, México, Equador e Argentina). Na função de relator, o deputado cuidou também de examinar a legislação dos Estados Unidos e do Canadá; o decreto-lei brasileiro de maio de 1945 que instituiu a Lei Orgânica dos Serviços Sociais. Ao final do trabalho, apresentou a Lei Orgânica da Previdência Social.

A Lei Orgânica da Previdência Social só seria aprovado no segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954) e previa a proteção social a toda a população, que após longo período de tramitação, em virtude dos debates e estudos realizados, finalmente resultou na edição da Lei n° 3.807,

O LEGADO DA LEI ORGÂNICA DA PREVIDÊNCIA

Apesar da pouca idade, o então deputado federal Aluízio Alves foi designado para a a relatoria de 86 projetos que modificavam o sistema da Previdência Social.

FOTOS: ARQUIVO TN

Olhar aguçado

LINHA DO TEMPO

VIVALDO PINHEIRO

Na carreira legislativa de Aluizio Alves um dos projetos mais importantes foi a elaboração da Lei Orgânica da Previdência Social

de 26 de agosto de 1960, denominada de Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS). Chegou a vigorar por mais de 30 anos.

O próprio Aluizio Alves publicou artigo na TRIBUNA DO NORTE, depois transcrito na “Folha de S. Paulo” em 1º de julho de 2003, sobre o instituto da previdência social no País, com o título “Escamoteação da verdade”, no qual considerava necessária uma reforma no sistema previdenciário, mas questionava alguns pontos da proposta do então presidente Lula da Silva, entre eles, a taxação de aposentados e pensionistas do serviço público federal.”

Polígono das Secas Durante essa nova lesgislatura, que foi de 1951 a 1955, Aluízio

Alves fez parte das comissões de Legislação Social, finanças e Orçamento e do Polígono das Secas.

Destacou-se pelo estudo que realizou sobre o mais grave problema a atingir o Nordeste. Toda a ação dos governos brasileiros, até então realizada para combater a seca, foi analisada por ele, que constatou: “No Império, essa ação foi quase nula e, na República, a partir de 1903, graças às obstinada e competente pregação do senador Eloy de Souza, representante do Rio Grande do Norte.”

Cassação Após seu governo, Aluízio voltou a se eleger em 1966. Em 13 de dezembro de 1968, o governo militar baixou o Ato Institucional nº 5 (AI-5), fechando o congresso e cas-

sando vários políticos de oposição.

O nome de Aluízio Alves estava na listadoscassadospublicadapelogoverno em fevereiro do ano seguinte. Os irmãos Agnelo Alves e Garibaldi Alves, então deputado estadual, também foram cassados. Os três estavam proibidos de participar de qualquer atividade política por 20 anos. O ato inaugurou, também, uma nova série de perseguições e acusações que objetivavam sufocar financeiramente as empresas de Aluízio Alves.

Em 18 de janeiro de 1973, quasecincoanosdepois,aComissãoGeral de Investigações do Ministério da Justiça comunicou o arquivamento do processo, em certificado assinado pelo presidente da Subcomissão/RN, Carlos Alberto Pamplona de Moura.

Filhos recordam com emoção trajetória de Aluízio Deputado federal pelo Rio Grande do Norte entre 1971 e 2015, Henrique Eduardo Alves revive com muita emoção a presença do pai Aluizio Alves naquilo que foi muito importante na política para o Rio Grande do Norte, o Nordeste e para o Brasil.

Ele considera que a Lei Orgânica da Previdência o projeto parlamentar de maior envergadura do pai. “Pela pouca idade já tinha tamanha responsabilidade e competência, fundamental para o país”, diz o ex-deputado.

Ao rememorar a vida do pai como político e jornalista, Henrique Eduardo afirma que o pai “não fazia política por interesse pessoal, não era a vaidade, a vontade de ter poder, tanto que de quando necessário, ele sabia renunciar e estimular outros”.

Henrique Eduardo destaca, ainda, o lado “marqueteiro” do pai, que virava a seu favor críticas ou colocações feitas por adversários de forma pejorativa contra a sua pessoa, como o apelido de “cigano”. Ele lembrou que numa ocasião em Pau dos Ferros, onde uma multidão o esperava, Aluízio Alves pega o microfone e a primeira frase dele foi



““Sertanejo de sangue, nascido ao pé do Cabugi, Aluízio Alves foi um desses raros homens públicos que de tempos em tempos brotam no coração de seus contemporâneos.

Destacou-se na política, sua maior obra, sem deixar de ter um texto escorreito no jornalismo, o qual praticou por décadas em paralelo a sua atividade parlamentar ou no executivo. Exerceu, com olhar aguçado, as vestes de empresário e em tudo o que se propôs a fazer, deixou sua marca. O líder que conhecia os caminhos da esperança soube como poucos, na história do RN, enxergar mais longe e por isso contribuiu decisivamente para o desenvolvimento do estado. Que as novas gerações observem o seu exemplo e prossigam nesta rota.”

“o cigano chegou!”. O pai candidato a governador fez mais, pediu ao povo que levantasse as mãos pra o céu e passou a ler as mãos – ‘você quer saneamento, você quer saúde, emprego, aquilo pegou de tal maneira, que em toda cidade, chegava o cigano para ler as mãos do povo”.

Segundo Henrique Eduardo, o pai não queria que ele viesse a passar o que Aluízio estava passando na época, cassado pela Ditadura Militar. “Chegou o momento que percebi no seu olhar o que ele não queria dizer, ai eu tomei a iniciativa e disse, eu topo. Vou segurar sua bandeira e vou ser candidato a deputado federal”, conta.

Ele lembrou que em comícios na praça Gentil Ferreira, quando Aluizio Alves era proibido de vir ao Rio Grande do Norte pela Ditadura Militar, os amigos pegavam o telefone de uma farmácia na esquina – “ele ansioso por me ouvir falar” – e levavam a minha voz até onde ele estava. “Imaginem a emoção dele”, afirma Henrique Eduardo.

Aluízio, relembra Henrique, deixou um legado político e administrativo e até empresarial – mes-

1945 Aluízio é eleito deputado federal para a Assembléia Nacional Constituinte. Tinha, na época, apenas 24 anos de idade. Nasce o primeiro filho do casal Aluízio/Ivone, Aluízio Alves Filho.

1946 Deputado da UDN, Aluízio se destaca nos debates da Assembleia Nacional Constituinte como um defensor dos trabalhadores.

Sua capacidade de trabalho o levou à secretaria geral do partido.

1948 O casal, Aluízio Alves e Ivone Lira Alves, tem um casal de gêmeos. Henrique Eduardo Alves e Ana Catarina Alves, nascem no dia 30 de setembro.

Henrique Eduardo viria a ser o herdeiro político do pai.

Henrique caminhou lado a lado do pai como seu herdeiro político

mo quando estava cassado por uma coisa fundamental: não deixava a esperança morrer. “Meu pai nunca se abatia por nada, e ele soube cedo e soube passar, e espero ter aprendido com ele que para se levantar, quando necessário, teve uma queda antes”.

Aluizio Filho Aluízio Alves Filho, o primogênito, relembra que a política levava o pai sempre para as ruas, dias e noites, mas “nunca sentíamos a sua ausência porque isso lhe fazia tão feliz, que nos alegrava também”. “Papai era uma generosidade só! Parece que adivinhava o que sentíamos, quando sentíamos, e como sentíamos!

E ele sempre chegava, se entre-

gava, no pai de gestos, muito amor e solidariedade! No Ministério, na TV Cabugi e no jornalismo, que eu e Henrique José exercemos, sempre, a sua luz era reluzente”, afirma Aluízio Filho.

Ana Catarina Ex-deputada Ana Catarina Alves também destaca a generosidade e solidariedade do pai.

“Ele sempre fez da esperança uma semente renovadora de fé e de luta pelo bem. Por isso, foi tão vitorioso mesmo em momentos impossíveis porque o acreditar era seu guia, o olhar para frente era sua luz e a cidade de Angicos, tão querida, no semiárido sofrido, era sua inspiração na resistência, no lutar sempre”, afirma.

Presidente do Tribunal de Justiça do RN

1949 Amigo, correligionário e homem de confiança do jornalista e também deputado udenista Carlos Lacerda, Aluízio assume a direção do jornal Tribuna da Imprensa, veículo de oposição ao governo.

1950 Aluízio é reeleito deputado federal. É dele o relatório da lei que modernizava a Previdência Social. Em 24 de março, funda o jornal TRIBUNA DO NORTE. Forma-se em Direito, em Maceió.

1954-58 Obtém mais dois mandatos, sucessivos, para a Câmara Federal. Participa de comissão e missões internacionais voltadas para os interesses sociais dos trabalhadores.

Motivo de orgulho “Celebrar o centenário de Aluízio Alves é motivo de orgulho para o Rio Grande do Norte. Na condição de sobrinho que acompanhou, desde adolescente, suas obras e sua luta, tenho obrigação de externar minha admiração pelo incrível homem público cuja história se confunde com a do próprio estado.

Celebramos hoje o político, forjado do jornalismo, que encampou o desenvolvimento da sociedade potiguar. Sua importância não cabe em poucas palavras. Mas é difícil imaginar o RN sem a 'energia de Paulo Afonso’ e o turismo impulsionado pelo hotel Reis Magos, para falar o mínimo.

Exalto um legado de importância cada vez mais relevante: após a sua criação, foi quem instalou e estruturou a Corte de Contas, há 64 anos, sendo hoje um Órgão referência na fiscalização e controle dos recursos públicos.”

PAULO ROBERTO ALVES Presidente do TCE/RN

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LUZ PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO

No início dos anos 1960, o município de Santa Cruz, no Trairi, foi escolhido, devido sua posição estratégica, para ser a porta de entrada da anergia de Paulo Afonso FOTOS: ARQUIVO TN

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luízio Alves (19212006), uma das maiores lideranças políticas do Rio Grande do Norte no século XX, deixou como legado um grande saldo de desenvolvimento no Estado. Advogado e político atuante, destacou a presença do até então inexpressivo Rio Grande do Norte no mapa do Brasil. A lista de feitos não deixa dúvidas de sua grandeza enquanto gestor público público, político e cidadão preocupado com as questões sociais.

Para iniciar o processo de desenvolvimento do Rio Grande do Norte que Aluízio Alves almejava, era necessário, sobretudo, energia farta e barata, facilidade de comunicação com os grandes centros urbanos e boas estradas. Neste aspecto, o primeiro ponto foi alcançado no início dos anos 1960, quando o município de Santa Cruz, no Trairi, foi escolhido, devido sua posição estratégica, para ser a porta de entrada da anergia vinda da usina de Paulo Afonso, da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).

O jornalista e ex-assessor direto de Aluízio Alves, com quem conviveu por mais de 50 anos, Luiz Antônio Porpino, conta que o processo não foi tão simples e precisou de todo o trato político de Aluízio, antes mesmo dele se tornar governador. Isso porque, quando foi criada a Chesf, em 1948, para trazer energia de Paulo Afonso para o Nordeste, os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará tinham sido excluídos sob a alegação de dificuldade para garantir o fornecimento, do ponto de vista técnico, e inviável economicamente devido à distância superior a 500 quilômetros.

Porpino relembra que naquele ano, da tribuna da Câmara, Aluízio Alves fez um protesto pela discriminação que estava prestes a ser praticada.

"Quando deputado, Aluízio pressionou pela extensão da energia ao Rio Grande do Nor-

 LINHA DO TEMPO 1960 A UDN participa da articulação para a candidatura de Jânio Quadros à presidência da República, na sucessão de JK. Aluízio é um dos articuladores, convencendo Jânio a aceitar a candidatura.

1961 Eleito governador do RN com 121.076 votos, Aluízio Alves toma posse no dia 31 de janeiro. Apenas 22 dias antes nascera o quarto filho do casal Aluízio e Ivone Lira Alves: o hoje jornalista Henrique José.

1962 Integra um grupo de governadores, entre eles Virgílio Távora (CE) e Magalhães Pinto (MG), que articula a campanha do plebiscito pela volta ao presidencialismo, vitoriosa em janeiro de 1963.

1963 Em abril, na cidade de Santa Cruz, com a presença do presidente da República, João Goulart, Aluízio inaugura a primeira etapa da linha de transmissão da Chesf, trazendo energia elétrica para o Estado.

Abril de 1963: em Santa Cruz, presidente João Goulart e Aluízio inauguram a primeira etapa da linha de transmissão da Chesf

te, mesmo com os estudos apontando inviabilidade. Naquela época, já existia na Sibéria, energia elétrica puxada a distâncias maiores. Sabendo disso, ele elegeu isso como bandeira, sabendo dessa viabilidade", relatou.

Sem o apoio da bancada potiguar no parlamento, apresentou um projeto que abria crédito especial de 200 contos de reis para a elaboração de um plano técnico de expansão do fornecimento para os três estados excluídos. Sem apoio político, o projeto passou meses de uma co-

missão a outra. A luta parecia perdida, mas finalmente o crédito para o estudo técnico da expansão acabou aprovado na Câmara dos Deputados. Aluízio Alves lutou durante 13 anos para mudar essa situação, só vindo a conseguir a inserção dos três estados em 1960.

Em 1963, como governador do Rio Grande do Norte, criou, pela lei 2.721, de 14 de setembro de 1961, a Cosern - Companhia de Serviços Elétricos do Rio Grande do Norte - que implantou a energia de Paulo Afonso

no território norte-riograndense, com uma grande obra de infraestrutura para o desenvolvimento industrial e, mais tarde, agroindustrial.

A primeira linha de transmissão, inaugurada em 2 de abril de 1963, em Santa Cruz, teve a presença do presidente João Goulart. A partir de então, diversas cidades passaram a contar com a energia de Paulo Afonso, como Taipu, Currais Novos, Acari. O custo total do plano de eletrificação atingiu a cifra de 2.283 milhões de Cruzeiros. Pa-

ra que se possa ter uma ideia do significado da obra realizada, em 1960, 14% da população se beneficiava dos serviços elétricos.

Um ano depois, 39% da população já recebiam os benefícios da energia elétrica.

A Cosern continua sendo a empresa fornecedora de luza e energia elétrica ao estado e foi controlada pelo Governo até 1997 quando foi vendida em um leilão de privatização ao consórcio formado pela Iberdrola, Previ, Banco do Brasil e por fundos de pensão do Nordeste.

1964 O golpe militar de abril depõe o presidente João Goulart.

Aluízio junta-se a outros governadores no apoio ao novo governo, mas enfrenta intrigas e denúncias da oposição junto a Castelo Branco 1965 O deputado Erivan França, chefe de Gabinete de Aluízio Alves, é preso por militares da Aeronáutica. O próprio Aluízio é ameaçado de prisão. Tentativa de impedir a posse do Monsenhor Walfredo Gurgel.

FOTO: ALEX REGIS

Cidade da Esperança, primeiro conjunto habitacional do RN Dentre tantos programas pioneiros do governo Aluízio Alves, a construção do primeiro conjunto habitacional da América Latina, a Cidade da Esperança, foi um dos mais emblemáticos. As primeiras das 504 casas entregues em 1966, através da Fundação de Habitação Popular (Fundhap), eram financiadas com recursos da chamada “Aliança para o Progresso”.

O deputado estadual José Dias (PSDB) foi o segundo presidente da Fundhap e diz que se não fosse a burocracia brasileira que emperrava a libe-

ração dos recursos, vindos em dólar dos Estados Unidos, mas quando havia conversão para moeda brasileira sofria uma abrupta desvalorização, teria se construído pelo menos mil casas populares naquela época.

“O valor previsto era em dinheiro brasileiro (Cruzeiro), mas até chegar à Aliança para o Progresso, a coisa caminhava razoavelmente bem, a burocracia era bem menor, mas o grande problema desse programa, era que tinha de passar pelo crivo do governo federal, através da Sudene, ai a burocracia era de matar, o Brasil sem-

pre foi campeão em burocracia”, disse José Dias.“Era um programa que o governo dos Estados Unidos criou para fazer contraponto às investidas da União Soviética na América Latina”, disse o parlamentar, que dirigiu a Fundhap, depois transformada em Cohab, até o fim do governo Walfredo Gurgel (1966-1970).

“O dinheiro era a fundo perdido, mas era um programa bem mais amplo, que envolveu educação e as empresas que foram criadas no governo de Aluizio Alves, receberam apoio da Aliança para o Progresso”, afir-

mou. José Dias disse ainda que a cons-trução da Cidade da Esperança “foi obra do gênio político de Aluizio, nós fomos pioneiro e ele tinha sido relator da primeira Lei Orgânica da Previdência Social, que tinha essa previsão de construção de conjuntos habitacionais para o funcionário público”.

Daí, segundo Dias, surgiu a ideia de Aluizio Alves de construir moradia para famílias de baixa renda, que não tinham onde morar, com a construção das primeiras casas numa área adquirida a um comerciante alemão, que era praticamente subúrbio de Natal e hoje está situada na zona Oeste da cidade. Em 1974, quando foi entregue a última etapa, a Cidade da Esperança tinha 2.434 casas.

Na Cidade da Esperança, uma homenagem a Aluízio Alves

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FOTO: ALEX REGIS

Alunos da primeira turma do programa “De pé no chão também se aprende a ler”, em Angicos

Marcos Guerra: em 4 meses, 300 pessoas foram alfabetizadas e programa foi concluído com sucesso

Experiência pioneira pelo “Método Paulo Freire”, uma referência no País

que 100 mil potiguares seriam alfabetizados. A experiência pioneira foi concluída com resultados que despertaram a atenção de todo o Brasil devido os resultados da alfabetização e da conscientização cívica. Outras turmas se formaram em Natal, Mossoró e Macau, mas o trabalho foi interrompido pela Ditadura Militar.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil ainda tem 11,041 milhões de analfabetos, ou seja, pessoas que já completaram 15 anos sem aprender a ler nem escrever. No RN o analfabetismo atinge 372 mil, sendo 188 mil acima dos 15 anos, o que representa 13,4% desta parcela populacional.

Marcos Guerra defende que, ao longo dos anos, com o método Paulo Freire essa realidade seria diferente. “Hoje esses analfabetos estão com menor salário, menor possibilidade de oportunidades, não concorrem a bons empregos”, avaliou Guerra.

Na década pós Segunda Guerra Mundial, a educação era um dos problemas mais graves que o Rio Grande do Norte, assim como em todo o País, enfrentava, não apenas pela falta de estrutura e vagas, mas também pelo alto índice de analfabetismo. Esta foi uma das áreas prioritárias que o governador Aluízio Alves resolveu investir e se tornou referência no País com o projeto das “40 horas de Angicos”, no qual as pessoas eram alfabetizadas neste curso de tempo, através da metodologia do educador e filósofo Paulo Freire.

“Em educação foi Aluízio quem criou a secretaria de Planejamento. Havia formação de professores, reforma e construção de novas escolas e alfabetização de jovens e adultos, uma das ‘meninas

dos olhos’ do governador”, contou Marcos Guerra, ex-coordenador do programa de alfabetização no Governo Aluízio Alves.

Ele relembra que Aluízio buscava inovar em suas iniciativas e traçou a meta de alfabetizar 100 mil potiguares. Quando conheceu a metodologia de Paulo Freire, que prometia a alfabetização em 40 horas, ele acreditou que conseguiria esse feito implantando tal metodologia no estado. “Paulo Freire aceitou o convite na condição de que lhe desse total liberdade pedagógica e política e que entregasse o projeto para ser tocado pelos estudantes. Nós já fazíamos o trabalho semelhante em Natal e no programa de educação de base da Rádio Rural e seguimos para Angicos”, explicou.

Foi nessa época que surgiram os movimentos sociais de combate ao analfabetismo, reprimidos posteriormente pela ditadura militar que se iniciou com o Golpe de 1964. Os dados divulgados na época apontavam que mais de 65% da população não sabia ler e nem escrever e que o percentual dos que sabiam apenas assinar o nome chegava a 80%. O déficit de crianças fora da escola passava de 140 mil, que incrementariam o número de analfabetos anos mais tarde.

Aluízio trabalhou para reverter essa realidade. Escolheu Angicos, sua cidade Natal. Para ele, era preciso “correr o risco” e dar o exemplo a partir da sua terra.

“Fizemos campanha em toda a cidade convidando todos os analfabetos para se inscreverem. A quase totalidade dos interessados se inscreveu e de janeiro de 1963 até o início de abril alfabetizamos mais de 300 pessoas”, relembrou.

Com o sucesso do projeto, o presidente à época, João Goulart, esteve na aula de encerramento e formatura da turma e prometeu

Apoio à UFRN

Aluízio e seu legado

O apoio de Aluízio à educação esteve em todas as frentes ao longo de sua vida política. Uma das grandes contribuições ao ensino superior é relembrada pelo reitor do Centro Universitário Uni/RN, Daladier da Cunha Lima. Ele foi o primeiro reitor eleito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), entre 1987 e 1991 e, na época, Aluízio estava ministro da Administração, no Governo de José Sarney.

“Lembro-me que a UFRN enfrentava um grande problema com o quadro de servidores que estavam em órgãos como a Funpec e a Funan, que hoje é a Nuplan. Eu era reitor e muitos profissionais esperavam há anos para serem efetivados”, contou Daladier. Após tratar o assunto com o ministro Aluízio, o problema foi solucionado. “Aqueles trabalhadores foram incorporados aos quadros do Governo Federal na UFRN, acabando com uma preocupação que se estendia há anos”, pontuou ele.

FOTO: ALEX REGIS

“Aluízio criou o estado moderno no RN” Autor do livro “Aluízio Alves: Populismo e modernização no Rio Grande do Norte”, publicado em 2004 pela editora Sebo Vermelho, o escritor e historiador Sergio Luiz Bezerra Trindade define Aluízio como “o político que criou o estado moderno no RN”. Trindade afirma que “a ideia era, basicamente, fazer um estudo sobre a campanha política de 1960, mais o Aluízio Alves palanqueiro, que me fascinava”. Mas quando iniciou as pesquisas em arquivos, constatou que, além de um grande palanqueiro, Aluízio Alves era um grande administrador. “Ele criou toda uma infraestrutura de Estado, não tínhamos companhias como Cosern, Caern, Cohab, Fundação José Augusto”, continuou.

Sergio Trindade afirma que “Aluízio foi um grande administrador público no governo do Estado, depois também mostrou is-

so, quando foi ministro por duas vezes, da Administração do governo José Sarney (1985-1990), quando cria a Escola de Administração Pública (Enap) e como ministro da Integração Regional no governo de Itamar Franco (19921994), quando retoma os estudos para o projeto de transposição das águas do rio São Francisco”.

O trabalho inicial do historiador foi uma dissertação de mestrado e a proposta nasceu, conta, “porque sempre tive fascínio por conhecer a história de políticos carismáticos, como Getúlio Vargas, Juscelino Kubistchek, Miguel Arraes, Carlos Lacerda e Aluízio Alves”.

Ele destaca que ficava intrigado com a capacidade e a habilidade que Aluízio tinha de reverter apelidos que lhe eram dados em proveito próprio, como “o cigano feiticeiro, a gentinha”. “Me fascinava como é que alguém con-

seguia numa situação difícil e adversa, com apelidos que a rigor lhe colocariam em xeque, con-seguia reverter isso”.

Sérgio Trindade destaca a campanha de 1960. Nela, Aluízio Alves imprimiu um estilo que o acompanharia pela vida afora. Os lenços verdes, os galhos de árvores, os grandes comícios, a voz rouca, a peregrinação pelo interior do Estado, que ficou conhecida como “Cruzada da Esperança” e o principal trunfo de marketing político de Aluízio Alves, a legenda do Cigano Feiticeiro, em uma época em que mal se ouvia falar ainda em marketing político.

Alves, à época, contou que a construção do hotel se mostrou necessáriaporqueacapitalnãodispunha de equipamentos do gênero para receber visitantes. Havia apenas o Grande Hotel, na Ribeira, desde 1939.Ademandanãoatendida,geralmente era direcionada ao Hospital Miguel Couto, hoje Hospital UniversitárioOnofreLopes(Huol), quetambémhospedavavisitantes.

“Havia um problema que não se via desde a época da II Guerra: falta de lugar para acomodar

Governadora do Rio Grande do Norte

Maior liderança Escritor Sergio Trindade publicou livro sobre Aluízio em 2004

Trindade chama atenção para o fato de que Aluízio Alves “foi um jornalista que se fez político, não foi um político que já rece-

o visitante. Natal tinha um grande aeroporto na base aérea, sendo a melhor ponte aérea do Brasil para a Europa. Então, Aluízio fez um moderno hotel e o inaugura em 7 de setembro de 1965, o primeiro de categoria internacional”, contou Porpino.

Elaborado por uma equipe de arquitetos pernambucanos, composta por Waldecy Pinto, Antônio Didier e Renato Torres, o projeto original do complexo contava com 63 apartamentos e uma in-

fraestrutura de ponta. “Nasceu o turismo a partir daí. E a política de interiorização também, com a construção de outros hotéis pelo interior, como o Hotel Thermas em Mossoró e outros em Caraúbas, Angicos e Caicó. A partir do Reis Magos desenvolveu-se mais tarde outras linhas que consolidaram o turismo para o Sul, como a Via Costeira, a estrada para Pirangi (Rota do Sol). Não existe nada que tenha trazido inovação que não tenha sido nos anos 1961 a 1966”, contou Porpino.

Ele destacou que o empreendimento contribuiu para ações que possibilitaram o prolongamento das conexões entre a cidade e o aeroporto e que também

A abertura para o turismo a partir do hotel Reis Magos O olhar de Aluízio Alves estava voltado para o desenvolvimento social e econômico do Rio Grande do Norte e ele sabia que era preciso investimentos em diferentes áreas. Com a visão de futuro que sempre teve, foi na sua gestão, em 1965, que o Hotel Internacional Reis Magos abriu suas portas entreaspraiasdoMeioedosArtistas, alavancando o turismo e interiorizandoessaatividadeeconômica.

LuizAntônioPorpino,secretário de gabinete do governo Aluízio

FÁTIMA BEZERRA

beu algo já pronto”, embora já tivesse começado a fazer política ainda garoto. “Tinha 11, 12 anos, cabulava aula no Colégio Marista para transitar no meio dos próceres do Partido Popular, nos anos 1930, no meio de gente que era quase um mito no Estado, como José Augusto de Medeiros e Ju-

Jornalista que se fez político

“Lembrar hoje o centenário de nascimento do ministro Aluísio Alves é celebrar a passagem de um homem que escreveu sua história na comunicação e na política do Rio Grande do Norte e, também, do Brasil. Em 1945 foi o deputado constituinte mais jovem daquele período. Em 1985, alçou o cenário nacional ao se tornar ministro da Administração do Governo Sarney, função que lhe conferiu a missão de promover uma reforma administrativa. Em 1994, assumiu o Ministério da Integração Nacional, época em que se deu início ao projeto embrionário de transposição do Rio São Francisco. De modo que citando apenas alguns feitos é possível constatar que sua trajetória teve propósitos que afetaram a vida de muitas pessoas. Um homem jamais morre quando deixa o legado como o que foi deixado pelo ministro Aluísio Alves. Deixo aqui minhas saudações a todos seus familiares, amigos e conterrâneos que contemplam sua vida e sua permanência em memória.”

venal Lamartine de Faria, gente que construiu o estado republicano aqui, no Rio Grande do Norte”.

Sérgio escreveu o livro sem ter conseguido entrevistá-lo antes de sua conclusão e publicação. Depois dapublicação,conseguiufazerduas entrevistas com Aluízio Alves entre o fim de 2004 e começo de 2005.

culminou na iluminação, calçamento, galerias, implantação de delegacias, bem como desenvolvimento do comércio e inauguração de bares e restaurantes na região leste da capital. A clientela do hotel era formada por grandes empresários e turistas.

O hotel foi vendido pelo EstadodoRNem1977,pormeiodeuma concorrênciapúblicaaogrupoHotéis Pernambuco S/A. Foram três décadas de glória e glamour. Nos anos1979/1980,passouporreforma e foi arrendado de 1989 a 1995, quando foi desativado. Até 2002 permaneceuarrendado,mas,sem manutenção, ficando em ruínas.

Em janeiro de 2020, após longo processo litigioso, foi demolido.

“Aluízio Alves foi a maior liderança política do Rio Grande do Norte no século XX. Jornalista, já aos 11 anos de idade em Angicos, fundou a Tribuna do Norte, e depois o sistema Cabugi de Comunicação. Tinha uma liderança em todo o Estado que se traduziu na sua atuação no Executivo. Como governador revolucionou o Estado e deixou sua marca em todas as regiões. Em Natal, construiu um bairro inteiro, a Cidade da Esperança. Criou o Instituto Kennedy para formação de professores e como ministro da Integração foi o grande responsável por tirar das gavetas o projeto de transposição do São Francisco que vinha ainda dos tempos do imperador Pedro II. Foi graças a seu trabalho para trazer a energia de Paulo Afonso que as primeiras linhas de energia elétrica passaram a cruzar o cenário do interior, levando a luz elétrica e o desenvolvimento aos municípios do RN.” ÁLVARO DIAS Prefeito de Natal

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ALUÍZIO ALVES O LEGADO DA ESPERANÇA

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6 • Natal • Rio Grande do Norte • Quarta-feira, 11 de agosto de 2021 FOTOS: ARQUIVO TN

Inovador

Aluízio Alves iniciou precocemente no jornalismo, aos 11 anos, escrevendo “O Clarim”, depois dirigiu a Tribuna da Imprensa no Rio e fundou a TRIBUNA DO NORTE, em 1950

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olítica e jornalismo são duas carreiras que andaram juntas durante toda a vida pública de Aluizio Alves, que foi tema de teses e monografias universitárias, e que ainda serviram como fontes para lançamentos de livros sobre o personagem que vivenciou 74 anos de politica no Rio Grande do Norte. Em sua monografia no curso de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – “Morre o homem nasce o mito: O legado de Aluizio Alves na política norteriograndense” (2006), Leandro Batista do Nascimento faz referência ao fato de Aluizio Alves também ter fundado em Angicos, aos 11 anos, o jornal “O Clarim", um semanário que só saia um exemplar, lido de casa em casa, em que contava-se os acontecimentos da cidade, reclamações ao prefeito, notas sociais, perfis biográficos, quadros e glosas.

A monografia traz uma citação de Aluizio Alves sobre o semanário: “Um dia (...) resolvi fazer um jornal. Eu escrevia o jornal no domingo, à máquina. A paginação era variada: tinha umas matérias em azul e, quando queria grifar fazia em vermelho; e, aquele jornal na segunda-feira começava a circular de casa em casa, na cidade [Angicos]. Eu entregava na primeira casa e seus moradores, depois da leitura, levavam as casas vizinhas.”

Já residindo em Natal, Aluizio Alves fundou e dirigiu outros jornais e revistas – “A Palavra”, “O Estudante". Em 1933, durante a campanha do Partido Popular (PP), cria-se o jornal "A Razão", que pertencia a Dinarte Mariz e tinha como diretor Eloy de Souza, e que designou o jovem Aluízio para trabalhar como repórter no jornal, informa a monografia.

POLÍTICA E JORNALISMO, DE MÃOS DADAS

 LINHA DO TEMPO 1966 Aluízio transmite o cargo de governador, em 31 de janeiro, ao sucessor eleito por ele, o Monsenhor Walfredo Gurgel. Aluízio é eleito deputado federal pela antiga Arena.

Por 74 anos, Aluízio Alves conciliou a política e o jornalismo. Experiência jornalística na Tribuna da Imprensa o impulsionou a fundar a TRIBUNA FOTOS: ARQUIVO TN

Aluízio Alves acompanhando a chegada de novas impressoras

Posteriormente,nocomeçodos anos 1940, Aluizio Alves entra no jornal “A República”, ocasião, segundo a monografia, ele se envolveu num projeto político de maior relevância, se propondo a organizar uma campanha de assistência aos flagelados da seca de 1942. "Fiquei na 'A República', e ai comecei aminhapreocupaçãopelosproblemas sociais", contou Aluízio.

Paralelo a sua atuação política e ao exercício do mandato parlamentar, Aluizio Alves continuou com o ativismo jornalístico. Em 1949 assumiu o cargo de redatorchefe e a função de editorialista

da “Tribuna da Imprensa”, no Rio de Janeiro, que era de propriedade do udenista Carlos Lacerda.

A experiência jornalística no Rio e a necessidade política de possuir um jornal no RN o levaram a fundar em 1950 a TRIBUNA DO NORTE, embrião de uma rede de comunicação que incluiu à compra da Rádio Cabugi em 1962, e abertura da rádio Difusora em Mossoró, e 1972 e até a concessão da afiliada da Rede Globo de Televisão no Estado – a TV Cabugi, em 1987.

Aluizio Alves também escreveu livros, o primeiro aos 18 anos – “Angicos”, de quase 400 pági-

Amor pelo jornalismo se concretiza na criação da faculdade Jornalista por vocação, Aluízio Alves também ajudou a traçar os rumos do jornalismo no Rio Grande do Norte. Ele acreditava que o Rio Grande do Norte devia comandar a revolução qualitativa do jornalismo no Nordeste e resolveu criar a primeira Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza no

Estado e na região, que não chegou a completar 15 anos, mas foi decisiva pelo pioneirismo e por desenvolver práticas inovadoras que marcaram os anos 60 e 70 no estado e no Nordeste.

A familiaridade com o jornalismo, o conhecimento com jornalistas de todo o país e a disposição de fazer circu-

nas sobre as origens, a vida administrativa e política, a economia, a vida cultural do município de Angicos, editada em 1940 como o segundo livro da Biblioteca Norte-Riograndense de História, pelos Irmãos Pongetti Editores.

A obra foi reeditada em 1997 pela Fundação José Augusto (FJA).

“O mais apaixonante para meu pai era o jornalismo. Daí derivou para a política, porque uma coisa se encontra com a outra e ambas permeiam a liberdade, a cidadania, a democracia, o falar e o se comunicar. O jornalismo tinha muito a ver com a política na vida dele”, comenta Henrique Eduardo Alves, lembrando que Aluízio conciliou o mandato de deputado nos anos 1940 e 1950, escrevendo na “Tribuna da Imprensa”, no Rio ao lado de Carlos Lacerda e Hélio Fernandes.

“Era um jornalista nato e digo queograndesonhodele,eraoquinto filho que ele tinha, com o mesmo carinho, o mesmo cuidado, o mesmo amor, que foi a TRIBUNA DO NORTE, que vejo como a última obra dele que não pode morrer, porque tem sua história, seu sangue, sua emoção, a sua doação e amor à democracia e à liberdade deimprensa”,disseHenrique, sem esquecer que o pai tinha ao lado dele os irmãos Agnelo e José Gobat.

lar novas ideias fez Aluízio instituir a nova faculdade pela Lei Estadual nº 2.783, de 1962. Ele já havia criado a Fundação José Augusto em 1963 e escolheu a entidade para instalar a nova faculdade que começaria a formação acadêmica sistemática de jornalistas em nível universitário. O nome escolhido foi o de Eloy de Souza, jornalista que pesquisou e divulgou a seca no Nordeste.

Na obra “Memórias - Faculdade de jornalismo Eloy de Souza”, publicada pela Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN, os au-

1969 Em fevereiro, Aluízio Alves tem os direitos políticos cassados pelo governo militar, com base no Ato Institucional nº 5. A punição era de ficar 20 anos sem poder participar de partidos ou atividade política.

1970 Cassado, Aluízio não é esquecido pelo povo. Na campanha daquele ano, elege o filho Henrique Eduardo Alves pelo MDB. Com 21 anos, Henrique chega à Câmara ainda mais moço que o pai em 46.

1973 Aluízio é absolvido no processo aberto contra ele pela CGI do Ministério da Justiça. Não são encontradas provas das denúncias feitas contra ele pelos opositores locais.

1974 Coordenada, sem participar de qualquer ato público, a campanha de oposição no RN, reelegendo Henrique Eduardo para a Câmara e elegendo Agenor Maria para o Senado.

1976-77 É eleito vice-presidente do grupo União de Empresas Brasileiras (UEB). Em 1977, Aluízio Alves é eleito para ocupar uma cadeira entre os imortais da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

tores transcorrem o tempo contando sobre a criação da faculdade que foi agregada à universidade em 1973. Esta obra registra que, três anos depois, após divergências e muitos conflitos com a mantenedora, que chegavam ao conhecimento público pelos meios de comunicação, a faculdade foi incorporada definitivamente à instituição com a criação do Curso de Comunicação Social da UFRN, que dá continuidade à sua missão formadora. O novo curso fica vinculado, desde então, ao Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes.

“O que melhor pode definir Aluízio Alves no dia do centenário de seu nascimento é que ele, no Governo, iniciou o processo de modernização do Rio Grande do Norte. Aluízio liderou esse processo em diferentes posições que ocupou. Ele foi um inovador.

No exercício do mandato, no Rio de Janeiro, pode mostrar o seu talento ao Brasil. Primeiro, da tribuna da Câmara, expondo suas qualidades de orador; e nas comissões, assumindo a questão da previdência, desenhando um novo modelo para atendimento ao trabalhador, convocando a classe patronal para gerir novos mecanismo de serviço social. Ainda acumulou – no Rio - a condição de jornalista, tendo dirigido o jornal Tribuna da Imprensa e a Revista da Semana, dois órgãos de imprensa de grande prestígio. No Governo do Estado recebeu uma estrutura carcomida e liderou verdadeira revolução, começando por incluir o planejamento na administração estadual como prática de governo, o que permitiu ser o primeiro parceiro do Governo Kennedy (Aliança Para o Progresso) no Nordeste do Brasil tendo criado o primeiro Plano de Desenvolvimento do RN.” Cassiano Arruda Câmara Jornalista.

Aluízio, o homemséculo “Não houve, até a segunda metade do século vinte, no Rio Grande do Norte, um índice de modernidade, com força deflagradora de desenvolvimento, que não tenha nascido pelas mãos mesmo comparado ao forte ciclo ‘desenvolvimentista’ dos governos militares, que não tenha a marca pioneira de Aluízio Alves. Ele cumpriu a grande plataforma que sua campanha política anunciou, em forma de uma canção que foi um hino de luta, pelas ruas, praças, vilas e cidades.

Tudo começa com ele: a água, a energia, o telefone, a casa popular, a real estadualização do ensino público, o ensino estadual superior, a alfabetização de adultos, com o método Paulo Freire; a ação cultural, o jornalismo moderno, a perfuração de poços para matar a cede do sertanejo e garantir a produção agrícola em escala; a reforma agrária. Tudo a partir da ideia revolucionária de implantar no RN a cultura do planejamento técnico para o desenvolvimento econômico, força propulsora que daria os rumos da vida política, econômica e social ao longo do século. Aluízio não é o clichê do antes e depois. Ele foi o construtor do futuro.

Não há nada a partir do seu governo que não tenha até hoje a sua marca pessoal. A obra de Aluízio Alves tem a extensão, a dimensão e a permanência das ideias criadoras e formadoras da elite e de todas as gerações que vieram depois. Grande em tudo, entre as virtudes e os defeitos de um ser político.

E a ninguém a História não vai conceder o direito de desconhecê-lo.”

Vicente Serejo Jornalista

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ALUÍZIO ALVES O LEGADO DA ESPERANÇA

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Natal • Rio Grande do Norte • Quarta-feira, 11 de agosto de 2021 • 7 FOTO: TIAGO ROCHA

Político de virtudes “0 Centenário de Aluízio Alves me traz a recordação e a saudade de um dos maiores amigos que tive na vida,um dos maiores homens públicos do nosso tempo,que prestou grandes serviços ao Brasil,como Ministro, Governador, político e administrador.

Mudou o Rio Grande do Norte e marcou sua história. Amigo leal, inteligência brilhante, político de virtudes morais e pessoa humana bondosa e solidária.“ José Sarney Ex-presidente da República

O Centenário de Aluízio Manoel de Medeiros Brito foi deputado estadual e é conselheiro aposentado do Tribunal de Contas do Estado. Ele particpou da articulação política na campanha de 1960

“ALUÍZIO FOI O MAIOR POLÍTICO DESSE ESTADO” Manoel de Brito, que no começo dos anos 1950 foi secretário particular do então deputado federal Aluizio Alves, rememora a trajetória política Aos 93 anos, Manoel de Medeiros Brito rememora a trajetória de Aluízio Alves. No começo dos anos 1950, foi secretário particular do então deputado federal Aluizio Alves, que mais tarde, na primeira metade da década de 1960, o convidou para ser secretário de articulação política, no governo dele. Sobre Aluízio afirma que“foi o maior político que esse Estado já teve, porque sabia tratar bem o correligionário, dava toda condição de trabalhar, e sabia respeitar o adversário”. Manoel de Brito participou ativamente da articulação política da chapa que elegeu Aluizio Alves governador em 1960, tendo como companheiro de chapa o monsenhor Walfredo Gurgel, que também o sucedeu no cargo em 1966. O ex-deputado estadual e conselheiro aposentado do Tribunal de Contas do Estado, natural de Jardim do Seridó, tem escrito um livro de memórias políticas que está para ser publicado entre setembro ou outubro.

Confira a entrevista.

Como foi a sua primeira aproximação com Aluízio Alves?

Em 1950 fui para o Rio de Janeiro por sugestão de Dinarte Mariz, que era seridoense como eu e parente pelo lado dos Medeiros e disse que tinha arranjado um emprego pra mim no Rio. O governador José Varela me deu a passagem de avião, chegando lá, procurei Dinarte, que me disse – ‘seu emprego já está arranjado, você conhece o deputado Aluízio Alves? Conheço, não tenho aproximação com ele, mas conheço! - Pois se apresente a ele, que você vai trabalhar com ele na Câmara dos Deputados. Me botei pra lá, uma tarde depois do almoço, duas horas da tarde. Na portaria disseram, doutor Aluízio só chega às 3 horas, aguarde ai, quando chegar mando você entrar, assim, foi quando ele chegou, vamos subir, a gente foi pro gabinete da liderança da oposição na Câmara,

que era no primeiro andar do Palácio Tiradentes e era também o gabinete do primeiro vice-presidente da Câmara, o deputado José Augusto. - Subi com Aluízio: “Brito, você fique aqui, que eu vou participar da sessão na Câmara e quando terminar a sessão, você vai comigo lá pra casa pra gente acertar tudo”. Fiquei aguardando e quando terminou a sessão, ele chegou no carro, ele mesmo dirigindo e fui com ele, José Gobat irmão dele também estava com ele e fomos para o apartamento dele, na rua Silveira Martins, na mesma rua do lado do Palácio do Catete, na esquina da Silveira Martins. Cheguei lá, dona Ivone Alves, que era esposa dele me atendeu com muita fidalguia, fez com que jantasse lá com eles e depois do jantar, ele disse, você vai ser meu secretário particular, eu vou lhe pagar o salário mínimo e você vai procurar resolver toda a correspondência que tenho parada aqui sem dar resposta ao que interessar, ai me deu um pacote de cartas, telegramas pra que começasse a trabalhar nisso. Quando fui morar no Rio, eu morava em Engenho de Dentro, porque tinha um primo, sobrinho de meu pai que era da banda de música do Corpo de Fuzileiros Navais e morava em Engenho de Dentro, ele foi quem me acolheu na casa onde ele tinha um quarto. Aí comecei a trabalhar com Aluízio Alves nesses termos, revendo as coisas, mas para mim isso foi uma grande lição, porque para que cumprisse minha obrigação, eu tinha que percorrer os Ministérios todos, os pedidos todos eram com relação à máquina governamental, que nesse tempo era no Rio por ser a capital federal.

O senhor tinha ido pra estudar?

Tinha feito vestibular pra Direito, fui aprovado e me matriculei na Faculdade de Direito do Rio, que ficava na rua do Catete

e comecei a traduzir tudo o que se pedia a Aluizio, ai voltava pra ele, prestava contas. Em suma, esse foi o meu papel junto a ele, que me ajudou demais, porque me identifiquei totalmente com a máquina administrativa do governo federa e isso me deu muita condição de trabalho e de ganhar um dinheiro também.

Dai veio sua amizade com Aluízio Alves?

Exatamente e eu mantinha o mesmo trabalho que fazia para Aluízio com Dinarte Mariz, que me pedia as coisas e eu também resolvia. Já estava senhor da situação do Rio e dava solução pra tudo.

 LINHA DO TEMPO 1978 Em entrevista à revista Veja, Aluízio rompe o silêncio imposto pela cassação. No RN, ele articula uma aliança com o grupo Maia, apoiando Jessé Freire para o Senado. É a “paz pública”.

1980 Anuncia o rompimento com o então govenador Lavoisier Maia, pondo fim ao episódio da “paz pública”.

No ano seguinte, anuncia que será candidato ao governo do RN pelo PP. 1982 O PP se funde com o PMDB. Aluízio mantém a candidatura ao governo do RN e reedita o estilo de campanha popular pelo interior do Estado, mas perde a eleição para José Agripino (PDS).

1985 Com a morte do presidente Tancredo Neves e a posse de José Sarney, Aluízio é convidado e assume o Ministério da Administração no governo da Nova República.

O senhor acompanhava a ação legislativa do então deputado Aluízio Alves na Câmara?

Por trabalhar diretamente com Aluizio, ele estimulou de alguma forma sua candidatura?

Isso aí não acompanhava, porque não tinha maior interesse. Só depois, quando foi instalada a Comissão de elaboração orçamentária, é que passei a acompanhar por indicação de Aluízio e Dinarte, mas já em 1953.

Estimulou, porque também tive votos na área dele, não muitos, mas tive alguns, mas quem me garantiu a eleição foram os votos do Seridó e de Natal pela influência de dom Eugênio Sales, que era meu amigo fraternal e me ajudou aqui.

Também foi um aprendizado político para o senhor?

Como o senhor avalia a pessoa do político Aluízio Alves?

Para mim foi ótimo, porque passei a conviver com os deputados federais do Nordeste, que me vinham ali, pediam pra resolver as coisas, tinha ligação com o deputado Janduy Carneiro, da Paraíba, e Virgílio Távora, do Ceará.

No meu livro tem um capítulo dedicado ao governo dele (19611966). Aluízio pegou o Estado sem obra nenhuma, sem estrada, sem nada, nem energia não tinha, era força e luz. Ele assumiu o governo e teve, como todo o país passou por isso, a desgraça da renúncia de Jânio Quadros, que foi um irresponsável. Aluízio tinha muita ligação com a Câmara Federal, porque tinha sido, com Carlos Lacerda, dois emissários da UDN para conseguir que Jânio Quadros aceitasse ser candidato com o apoio da UDN, então ele tinha muita ligação com toda bancada federal, tinha trânsito livre em todo lugar, com exceção de Dinarte Mariz, de quem era inimigo figadal por conta da eleição que ele ganhou Djalma Marinho em 1960. Aluízio começou a trabalhar, primeiro lutando pela vinda da energia de Paulo Afon-

O senhor nem pensava em ser político ali?

Depois disso passei a admitir e pensar em minha atuação política também.

O senhor então voltou ao Rio Grande do Norte?

Continuei na Faculdade de Direito e em 1954 foi um ano muito importante na minha vida, porque aconteceram três fatos que sem dúvida nenhuma, influíram muito na minha vida, eu me casei, me elegi deputado estadual e me formei em Direito.

so, que foi uma campanha dele como deputado federal, segundo, a construção de estradas de rodagens pavimentadas, porque só tinha uma estrada pavimentada em Natal, a paralelepípedo, para Macaíba, feita no governo Rafael Fernandes e o asfalto de Natal para Parnamirim, que ia para a base aérea. A primeira estrada que asfaltou foi de Natal à Santa Cruz, a energia de Paulo Afonso chegou no seu governo e depois tratou de construir hotéis, porque só tinha o Grande Hotel, antigo, e construiu o Hotel Reis Magos, outro em Mossoró, Caraúbas. Ai criou a Telern, Cosern, Cohab, a Cidade da Esperança é um exemplo, foi construída no governo dele. Modernizou o Rio Grande do Norte no governo dele, não tem dúvida.

Mas como o senhor classifica o político Aluízio Alves?

Na minha ótica, foi o maior político que esse Estado já teve, porque sabia tratar bem o correligionário, dava toda condição de trabalhar, e sabia respeitar o adversário, então ele tinha essa qualidade de lidar com as pessoas, Aluizio dava três expedientes no Palácio do Governo, manhã, tarde e noite e às vezes até de madrugada.

Tem algum episódio político que o senhor tenha participado diretamente ao lado dele?

Eu fui emissário dele antes de organizar a chapa do governo para a campanha de 1960. Houve um evento em Currais Novos, eu era deputado e e ele também, e nesse evento que ele promoveu como presidente da Associação dos Municípios do Rio Grande do Norte, ao qual compareceu o bispo de Caicó, e lá nessa reunião eu disse, o senhor quer que eu vá a Caicó sondar monsenhor Walfredo Gurgel para ser o seu vice?

Isso foi em 1959. Ele disse, quero, vá, eu fui levando um amigo meu que era padre, depois deixou a batina. Chegamos lá no Ginásio Diocesano, Manoel, você por aqui, o que é que há, muita novidade, o que é que está acontecendo? Eu vim aqui saber se o senhor se dispõe companheiro de Aluízio para o governo do Estado, ele governador e o senhor o vice! É possível Manoel? É possível!”. Diga a ele que aceito, voltei de lá feliz da vida. Aluizio, o padre aceitou. Passou-se a organizar a chapa, monsenhor Walfredo vice-governador e Aluizio governador, dai surgiu aquele slogan – “A esperança e a fé, salvarão o Estado”.

E como o senhor avalia a cassação política de Aluizio Alves pela ditadura militar para o Rio Grande do Norte?

Foi um prejuízo grande, porque Aluizio era competente e sabia pleitear os benefícios de que o Estado precisava.

"Há fatos que o tempo não apaga, que a distância no tempo, paradoxalmente, parece não se impor na nossa memória. Refiro-me ao centenário de Aluízio Alves. Ele está cada vez mais presente na nossa história, pelo que representou para o nosso Estado. Tive o privilégio de conviver com ele desde à adolescência. Foi o grande exemplo da minha vida pública. Depois do exercício de vários mandatos, na Câmara, voltou para o nosso Estado elegendo-se governador. E foi aí que pode realizar tudo aquilo que pregara e prometera.

Um governo revolucionário em todos os aspectos. A nenhum potiguar é dado desconhecer sobretudo a mudança de mentalidade que introduziu na nossa política, economia e área social. Os indicadores da educação e saúde passaram a ostentar melhores patamares de avanço, destacando-se atividades pioneiras, como foi a experiência do método Paulo Freire. Aluizio continua eternamente vivo nos nossos corações.”

Garibaldi Filho Ex-senador da República

Um homem além do seu tempo “Aluizio foi um homem com duas marcas muitos fortes, ele era um sujeito com raríssima capacidade de convencimento, de convencer pessoas e de convencer multidões. E era um homem muito ousado, além do seu tempo. Por isso é que se transformou no líder politico que até hoje é cultuado pela ousadia e capacidade de convencimento. Ele não foi mais um governador, ele foi o governador do Rio Grande do Norte, um estado pequeno, que chegou a uma convivência com os Kennedy dos Estados Unidos e conseguiu com sua relação pessoal e capacidade de convencimento, ajuda especial para o Rio Grande do Norte. Teve a rara perspicácia, de identificar na sua época uma das coisas mais importantes, que teriam de ser feitas para a infraestrutura do Estado, que era a provisão da energia elétrica de Paulo Afonso. Ele tinha uma raríssima capacidade política. Foi um ponto fora da curva na constelação política do Rio Grande do Norte.”

José Agripino Ex-senador da República

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ALUÍZIO ALVES O LEGADO DA ESPERANÇA

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8 • Natal • Rio Grande do Norte • Quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Um gigante no cenário nacional “Sempre ouvi o depoimento de quem faz ou fez parte da cena política de que Aluízio Alves foi um fenômeno na política do Rio Grande do Norte. Fez muito pelo Estado.

Jornalista, advogado e como político saído do Angicos se tornou gigante no cenário nacional. É dele o ato de tirar das gavetas o projeto de Transposição do São Francisco. Para citar um projeto. Um sonho de todo nordestino que em breve será realidade. O Rio Grande do Norte tem muito que agradecer a Aluízio Alves. De minha parte fica a gratidão e a admiração por tudo que Aluízio Alves representou e representa ainda hoje como político que lutou muito pelo Rio Grande do Norte.”

ÁGUA PARA O SERTÃO

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Quando ministro da Integração Regional, no Governo Itamar Franco, Aluízio Alves resgatou o projeto de transposição do São Francisco FOTOS: ARQUIVO TN

EZEQUIEL FERREIRA DE SOUZA Deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa

Aluízio, a boa política “Aluízio Alves deixou um precioso exemplo de espírito público, correção, franqueza, força e firmeza de caráter. Foi um estadista e um modelo para a classe política brasileira.

Ele representa a boa política; a política que transforma a vida das pessoas. Um homem das instituições, respeitoso durante o Executivo, Legislativo e sua vida partidária. Continua a ser uma das mais importantes referências no debate político para o Rio Grande do Norte após 15 anos de sua morte. Portanto, em nome dos 29 parlamentares que compõem o Legislativo natalense, ressalto a importância histórica deste grande homem”.

PAULINHO FREIRE Presidente da Câmara Municipal de Natal

Projeto da transposição está se concretizando graças ao resgate feito por Aluízio nos idos de 1994/95

ssim como fez chegar ao Rio Grande do Norte a energia elétrica produzida na usina de Paulo Afonso no início dos anos 1960, a chegada das águas do Rio São Francisco ao Estado também passou pelas mãos de Aluízio Alves. Quando ocupava o cargo de ministro de Estado da Integração Regional entre 1994 e 1995, no Governo Itamar Franco, Alves resgatou o projeto de transposição do Rio São Francisco que estava esquecido nos gabinetes do Governo.

Para a missão, ele convocou o empresário potiguar Abelírio Vasconcelos da Rocha, “Bira”, para assumir a Secretaria Nacional de Irrigação. “O projeto estava arquivado e não se falava mais nisso por muitos anos. A convite, fui nomeado para refazer o projeto executivo”, relembrou.

Além dele, coordenaram os grupos de trabalho de elaboração do projeto da transposição de águas do São Francisco os potiguares Rômulo Macedo e Alexandre Firmino. Para o resgate do projeto antigo, elaborado quando Mário Andreazza era ministro e que havia desaparecido nos birôs da burocracia, Aluízio mobilizou cerca de 300 técnicos que trabalhavam em várias frentes: No Rio de Janeiro, Brasília, Natal, Mossoró e Fortaleza, onde ficava a sede do antigo Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOS).

“Aluízio sempre teve a ideia fixa de trazer água para o sertão e enfrentou a antipatia de baianos e alagoanos que não eram simpáticos ao projeto. Mobilizamos muita gente, faltavam sete meses para acabar o governo de Itamar e esforço foi imenso para concluir a tempo”, contou Bira Rocha. O projeto de engenharia, com os editais de licitação prontos, foi concluído no tempo previsto. No dia 21 de dezembro de 1994, no Palácio do Planalto, o ministro Aluízio entregou ao presidente Itamar Franco, numa solenidade que contou com a presença de ministros e dezenas de parlamentares, entre eles, o expresidente José Sarney.

O projeto, no entanto, só veio começar a se concretizar em 2007 no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, atualmente, está em processo de conclusão, graças ao resgate de Aluízio Aves há quase 20 anos.

A Transposição do São Francisco entra no RN por dois trechos: trecho IV (Apodi-Mossoró) do Eixo Leste e o trecho II (Piranhas-Açu), do Eixo Norte. A Barragem de Oiticica, no Seridó, é uma das importantes obras que integram o projeto.

Além de garantir segurança hídrica para o Médio e Alto Oeste potiguar, ao recarregar vários reservatórios, as águas da transposição do São Francisco que chegarão ao rio Grande do Norte pelo Ramal do Apodi, deverão ampliar as áreas irrigadas para a agricultura na região e fomentar outras atividades, como a pecuária e instalação de indústrias.

“O projeto estava morto e Aluízio foi responsável por recupe-

 LINHA DO TEMPO 1990 Mais uma vez candidato à Câmara Federal, ao lado do filho Henrique Eduardo, Aluízio elege-se para o sexto mandato no Congresso Nacional. Passa pouco mais de um ano no cargo..

1992 Itamar Franco toma posse, após o impeachment do presidente Collor, e chama Aluízio Alves para assumir o Ministério do Desenvolvimento Regional.

Na função, elabora o projeto para o rio São Francisco.

1995 Elege-se, pela última vez, deputado federal. No final do mandato, decide se dedicar exclusivamente ao PMDB potiguar. Conduz uma vasta campanha de reorganização e filiação ao partido.

2003 Morre dona Ivone Lira Alves, companheira de Aluízio desde 1944. No ano seguinte, Aluízio precisa tratar-se de um câncer na próstata. Em 2005, passa a direção do PMDB para Henrique Eduardo.

2006 Aluízio Alves morre no dia 6 de maio, em decorrência de uma isquemia cerebral.

 VEJA MAIS Aponte a câmera para o QR Code e assista videoreportagem sobre o centenário de nascimento de Aluízio Alves.

rar uma das infraestruturas mais grandiosas que poderemos ter no RN, que é o potencial econômico muito grande da agricultura irrigada, fazendo com possamos crescer ainda mais enquanto exportadores de frutas”, ressaltou Bira Rocha.

Na Chapada do Apodi, a estimativa da Secretaria de Agricultura, da Pecuária e da Pesca (Sape-RN) é de que as áreas para a agricultura irrigada dobrem ou até mesmo tripliquem, passando dos atuais 5 mil hectares para 10 ou 15 mil hectares. A ordem de serviço para as obras do Ramal do Apodi foi assinada no último dia 24 de junho, durante passagem do presidente Jair Bolsonaro pelo Estado.

Outros depoimentos "Aluízio Alves foi um homem que viveu à frente do seu tempo e viu um Rio Grande do Norte fazendo jus ao nome Grande. Aprendendo sempre com ele, fui me tornando o que sou e vivi ao seu lado - nos seus últimos 5 anos - o período mais importante da minha vida. Me tornei seu amigo, admirador de seus ideais, dos seus sonhos, dos seus alertas políticos, do seu pensar para Nordeste com o Projeto da Transposição São

Francisco. Cumpriu o “…lhe ensino…” para valer. Mantenho sobre minha mesa no escritório, afixada, a sua última foto. Dr. Aluízio, obrigado por ter confiado em mim e me ensinado tanto.

ESEQUIAS PEGADO CORTEZ NETO Advogado

“Foi Aluízio Alves quem me abriu a porta para a imprensa local.

Minha iniciação jornalística, na segunda metade dos anos 50, deuse na Tribuna do Norte. Participei do Curso de Jornalismo, promovido pela TN e cuja aula inaugural foi ministrada por Carlos Lacerda. Guardo entre os momentos inesquecíveis os encontros dominicais que tivemos na casa de minha irmã, Carmen Lúcia Rocha. Aluízio é um ausente que continua e continuará presente

entre amigos e conhecidos.”

VALÉRIO DE ANDRADE Jornalista e sócio do IHGRN

"Este ano, estaríamos festejando o centenário de Aluízio Alves, um homem de personalidade ímpar que, ainda adolescente, deu seus primeiros passos no jornalismo e na política. Um cidadão dotado de rara sensibilidade, que não deixou

morrer a consciência das coisas essenciais: amor, crença, honradez, lealdade, justiça, serenidade, honestidade, entre outras. Aluízio nunca se rendeu à mediocridade de gestos, atitudes e comportamentos.

Sua trajetória de vida foi, toda ela, aureolada por sonhos exequíveis, sentimentos, fé, realizações!

FERNANDO SIQUEIRA Advogado