"O amante" TAG Curadoria - Abril/2025

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TAG CURADORIA O amante

TAG — Experiências Literárias

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Publisher Rafaela Pechansky

Edição e textos Débora Sander, Rafaela Pechansky e Tatiana Cruz

Colaboradoras Laura Viola e Sophia Maia

Designer Bruno Miguell Mesquita

Capa Renata Spolidoro

Revisores Antônio Augusto e Liziane Kugland

Impressão Impressos Portão

Olá, tagger

As experiências mais marcantes da vida de uma pessoa parecem nunca terminar de acontecer. Ressoam entre camadas da memória, da abstração do inconsciente à materialidade sempre insuficiente das palavras, e ganham novos sentidos com o passar do tempo. Pode-se levar décadas para começar a entender um trauma, um deslumbramento, uma descoberta que nos arrebatou ou a importância de alguém que fez parte da nossa história. O livro que você acaba de receber é, ao mesmo tempo, o resultado e o disparador dessa sensação.

O amante é um testemunho da memória de Marguerite Duras sobre seu período de formação, vivido na Indochina francesa dos anos 1920 e 1930. Mas também é um desses livros que não termina de ser lido depois do seu fim. E quando o debate sobre essa obra é feito em diálogo com um curador como Édouard Louis, autor de narrativas que também partem da experiência pessoal e suscitam esse efeito de infindável abertura de sentidos no leitor, estamos falando de algo verdadeiramente profundo.

É sob o impacto dessa emoção, taggers, que enviamos a vocês esta caixinha, reunindo a premiada obra de uma das escritoras mais originais e instigantes do século 20 e a curadoria do escritor de autoficção mais lido do momento. Desejamos que esta leitura e este diálogo entre diferentes gerações da literatura reverbere em um encontro potente, de dimensões insondáveis, com a sua própria experiência no mundo.

Boa leitura!

sumário

Experiência do mês

Um espaço todo seu, para aproximar e celebrar a maior comunidade leitora do Brasil 04 06 08 14 20 22 24 26 29

Para inspirar o olhar e as ideias antes, durante e após a leitura

Por que ler este livro

Bons motivos para você abrir as primeiras páginas e não parar mais

A autoria

Um retrato caprichado de quem está por trás da história

A curadoria

Conheça Édouard Louis, que escolheu seu livro do mês

Dois dedos de prosa

De onde veio, do que fala, o que é o livro que você vai ler

Da mesma estante

Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês

Universo do livro

Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês

Leia. Conheça. Descubra.

Memória, liberdade e crítica social na literatura do franco-argelino Albert Camus

Espaço da comunidade

Experiência do mês

Seu livro além do livro: para ouvir, guardar, expandir, crescer.

Mimo

A paixão por ler e espalhar boas histórias foi o que deu vida à TAG. Não só as histórias dos livros, mas também aquelas do dia a dia, as nossas e as de cada um de vocês. Por isso, nos unimos à Nescafé® para multiplicar essas narrativas. Na caixinha deste mês, além de uma grande obra literária, você encontra um mimo cheio de surpresinhas que convida cada um a descobrir histórias incríveis de produtores envolvidos na cadeia do café e também a capturar sua própria história — de quebra, degustando um café delicioso!

Projeto gráfico

Prêmio Goncourt em 1984, com mais de 2 milhões e meio de exemplares vendidos apenas na França, este romance autobiográfico acompanha a tumultuada história de amor entre uma jovem francesa e um rico comerciante chinês na Indochina pré-guerra. Com uma prosa intimista e certeira, Duras evoca a vida nas margens de Saigon nos últimos dias do império colonial da França e relembra não só sua experiência, mas também os relacionamentos que separaram sua família e que, prematuramente, gravaram em seu rosto as marcas implacáveis da maturidade.

O amante é um livro que você pode ler em uma tarde, é a cena primordial em torno da qual giram todos os mitos e devaneios.

The New Yorker

O amante é como um lago sem fundo, ou talvez com um fundo em constante mudança: cada mergulho produz um entendimento alterado e enriquecido da topografia, e há a sensação de que você pode mergulhar para sempre e nunca absorvê-lo totalmente.

As linhas e curvas de um corpo femi nino ilustram a capa da nossa edição de O amante, desenvolvida pela desig ner Renata Spolidoro com pintura da artista visual Marina Quintanilha. Uma imagem de sensualidade, força e mistério, três elementos que atraves sam a narrativa de Marguerite Duras.

Laura vaN deN Berg, LiThuB

Seu talento artístico sugere que a arrebatadora é Marguerite Duras, e nós, os arrebatados. Jacques LacaN

Posfácio de Leyla Perrone-Moisés 9 788542231526

DURAS

OAMANTE DURAS MARGUERITE

Ao final da leitura, convidamos você a escutar o Podcast da TAG e seguir movimentando e acomodando os efeitos do livro deste mês com uma entrevista exclusiva sobre os temas da obra.

Enquanto você viaja pelas páginas do livro do mês, que tal abrir seus sentidos sonoros para as emoções dessa narrativa? Preparamos uma seleção marcada pela intensidade emocional e pela atmosfera íntima e melancólica da obra-prima de Marguerite Duras, incluindo faixas da trilha sonora original da adaptação audiovisual da obra, composta por Gabriel Yared.

Visite o app para saber mais sobre o livro e participar da comunidade.

“Seu talento artístico sugere que a arrebatadora é Marguerite Duras, e nós, os arrebatados.”

Jacques Lacan

“O amante é como um lago sem fundo, ou talvez como um fundo em constante mudança: cada mergulho produz um entendimento alterado e enriquecido da topografia, e há a sensação de que você pode mergulhar para sempre e nunca absorvê-lo totalmente.”

Laura van den Berg, LitHub

“O amante é um livro que você pode ler em uma tarde, é a cena primordial em torno da qual giram todos os mitos e devaneios.”

The New Yorker

Goncourt em 1984, com mais de 2 mimeio de exemplares vendidos apenas França, este romance autobiográfico acomtumultuada história de amor entre uma francesa e um rico comerciante chinês na Indochina pré-guerra. Com uma prosa intimista certeira, Duras evoca a vida nas margens de nos últimos dias do império colonial da e relembra não só sua experiência, mas também os relacionamentos que separaram sua e que, prematuramente, gravaram em rosto as marcas implacáveis da maturidade.

amante é um livro que você pode ler em tarde, é a cena primordial em torno da qual giram todos os mitos e devaneios.

The New Yorker

amante é como um lago sem fundo, ou talvez com um fundo em constante mudancada mergulho produz um entendimento alterado e enriquecido da topografia, e há a sensação de que você pode mergulhar para sempre e nunca absorvê-lo totalmente.

Laura vaN deN Berg, LiThuB talento artístico sugere que a arrebatadoMarguerite Duras, e nós, os arrebatados.

Jacques LacaN

Posfácio de Leyla Perrone-Moisés

9 788542231526

AMANTE MARGUERITE DURAS

DURAS MARGUERITE

O

OAMANTE

04/02/2025 17:53

Por que ler este livro

Vencedor do Prêmio Goncourt em 1984, este é o livro que tornou Marguerite Duras uma escritora best-seller, com 2,5 milhões de exemplares vendidos na França. Combinando memória e ficção, Duras narra em sua prosa fragmentada, lírica e profundamente honesta, o período de transição de uma adolescente francesa que se envolve com um chinês doze anos mais velho na Indochina colonial. Indicado por Édouard Louis, o livro toca em temas como o amadurecimento precoce e a transgressão de normas sociais, criando um contraste impactante entre a excitação da iniciação sexual e amorosa da protagonista e a miséria de sua família.

“Escrever. Não posso. Ninguém pode. É preciso dizer: não podemos.

E escrevemos.”

Prolífica, original e multifacetada, Marguerite Duras circulou com destreza por diferentes linguagens e colecionou multidões de leitores admirados - incluindo alguns célebres escritores contemporâneos

Se é impossível alcançar em palavras a dimensão de qualquer existência humana, essa impossibilidade parece ainda mais tangível quando estamos falando de Marguerite Duras, alguém que sustentou durante toda a sua vida a obstinação em narrar a si própria e a eterna insuficiência dessa missão. Mas alguns marcos de sua biografia carregam certa síntese do impacto de sua obra: ao mesmo tempo em que arrebatou intelectuais, como o psicanalista Jacques Lacan, o filósofo Michel Foucault e os escritores Hélène Cixous, Roland Barthes e Elena Ferrante, Duras conquistou multidões de leitores. Ela é até hoje uma das autoras mais lidas da França, com milhões de exemplares vendidos em todo o mundo.

Filha de dois professores franceses, a autora de O amante nasceu Marguerite Donnadieu em Saigon, na Indochina colonial, atual Vietnã, em 1914. Viveu toda a infância e adolescência na colônia e só conheceu a França aos 18 anos, quando foi cursar a faculdade de Direito em Paris. Quando concluiu os estudos, a Europa já estava tomada pelas tensões políticas que antecederam a Segunda Guerra Mundial. A escritora então filiou-se ao Partido Comunista, casou-se e, quando Paris foi ocupada pelos nazistas, participou da Resistência Francesa. Na mesma época, começou a escrever ficção. Em 1944, seu marido, o também escritor Robert Antelme, foi preso e enviado a um campo de concentração na Alemanha. Em A dor (1985), ela narra essa brutal experiência de espera e busca, que só terminou após o final da guerra, quando enfim Antelme foi resgatado e voltou para casa.

Ao lançar-se como escritora, Marguerite escolheu o nome da vila onde seu pai nasceu e morreu, Duras, para formar seu pseudônimo. Ainda durante a guerra, publicou Os insolentes (1943) e A vida tranquila (1944). Seu primeiro sucesso na literatura foi Barragem contra o Pacífico (1950), em que narra as muitas desilusões de sua mãe e a luta para criar os três filhos na colônia francesa após a morte do marido. Alguns anos e livros depois, ela publicou outro de seus romances mais conhecidos, O arrebatamento de Lol V. Stein (1964), que propõe um mergulho poético e introspectivo na subjetividade de uma protagonista que presencia, durante um baile, o nascimento de uma paixão entre seu noivo e outra mulher.

Com O amante (1984), Duras conquistou uma repercussão inédita e permanente junto ao público e à crítica. O livro rendeu à autora o Prêmio Goncourt, o mais prestigioso de seu país. Em 1992, a escritora publicou seu último romance, Yann Andréa Steiner, narrando o começo de sua história de amor com um jovem leitor de suas obras que se tornou seu companheiro durante os 16 anos finais de sua vida. Em 1993, dois anos e meio antes de morrer, ela deu ao mundo seu último livro, o ensaio Escrever, considerado um testamento literário da autora e uma síntese poderosa de seu legado.

Marguerite Duras circulou com consistência por diferentes linguagens: escreveu cerca de 50 romances, foi roteirista e diretora de cinema, além de dramaturga e ensaísta. Apesar de não ter se associado a nenhum movimento literário específico, sua obra é colocada entre o novo romance francês e o existencialismo.

AUTOFICÇÃO

A francesa foi precursora do que anos mais tarde seria chamado de autoficção pelo escritor Serge Doubrovsky. O gênero transita entre a biografia e o universo ficcional, e é mais complexo do que a mera combinação entre essas duas esferas, movimentando questões sempre em aberto sobre os distanciamentos e aproximações entre as experiências pessoais do autor e suas criações literárias.

No conjunto da obra de Marguerite Duras, estão colocados elementos significativos de sua biografia: a infância e a adolescência na Indochina colonial francesa, a pobreza da família, a relação ambígua da autora com a mãe e os irmãos, a espera angustiada pelo retorno do marido durante a Segunda Guerra Mundial e a imagem sempre inacabada que ela constrói de si em diferentes personagens que remetem fortemente a ela própria. No pano de fundo de vários de seus livros, está a complexa teia de relações que envolvia o colonialismo europeu na Ásia.

As narrativas de Duras não parecem existir para pintar linhas definidas a respeito de sua trajetória ou das coincidências entre biografia e ficção. Pelo contrário, são histórias que insistem em borrar essas fronteiras. Muito mais do que o encadeamento de acontecimentos objetivos, seus livros fazem chegar ao leitor uma sensação — ou uma atmosfera, como bem definiu o escritor Alex Castro em texto para o jornal literário Rascunho. Sem qualquer dissimulação, Duras expõe a natureza inconclusiva e mutável das experiências subjetivas. “A história da minha vida não existe”, lemos ainda no começo de O amante. Há na obra da autora uma imensa força visual mobilizada por sua capacidade de transpor em um universo narrativo fascinante o imaginário fugidio e distante das memórias de uma vida.

O AMANTE

Nas pouco mais de cem páginas de O amante, Marguerite Duras consegue sustentar essa atmosfera instigante, fértil e profundamente subjetiva em um enredo que cativa a atenção e o apetite estético do leitor.

Ela inicia a narrativa descrevendo a fotografia jamais capturada da protagonista que, aos 15 anos e meio de idade, atravessa o rio Mekong em uma balsa, usando um vestido de seda já gasto, sapatos de salto e um chapéu masculino. Em uma narrativa inimitável, ela revela gradualmente ao leitor o retrato de uma transição, do momento que antecedeu a descoberta do sexo e o surgimento de um “novo rosto” no lugar das feições de menina da personagem. Nessa travessia, ela conhece um homem chinês muito rico e doze anos mais velho, e com ele embarca no prazer desesperado das extravagâncias sexuais e financeiras que contrastam com a dura realidade social e afetiva de sua família.

O livro é um olhar que a autora já madura, aos 70 anos, lança em direção ao seu passado. Nesse sentido, o estranhamento que podemos sentir hoje com a diferença de idade entre a adolescente e seu amante é aplacado pela forma como a escritora posiciona a protagonista na narrativa. A menina parece estar a todo tempo apropriando-se de suas atitudes, movida pelo próprio desejo e até no controle da dinâmica daquela relação — no tanto que é possível exercer tal agência aos 15 anos.

O estilo da narração se aproxima da escrita de um diário íntimo — ou, quem sabe, de uma sessão de análise —, como se a autora estivesse sobretudo buscando se comunicar consigo mesma, indo e vindo no tempo e virando perspectivas, sem, por isso, perder o fio da trama. É, assim, uma história que sustenta alguns enigmas, favorecendo que o encontro de cada leitor com o texto seja profundamente singular. Duras lança sobre a própria vida um olhar curioso e inventivo, e pede de seus leitores uma postura de escuta aberta, de interesse, quase como uma conversa.

Se ler Marguerite Duras é um deleite que se estende indefinidamente depois do final do livro, sua obra também nos provoca a sustentar nossas próprias inconclusões — na paixão, no desejo, na dor, na escrita, no laço com o mundo, com quem fomos e seremos. “Em vez de me assustar, acompanhei a evolução desse envelhecimento do meu rosto com o interesse que teria, por exemplo, pelo desenrolar de uma leitura”, nos diz a narradora nas primeiras páginas. Desejamos que este livro possa despertar em você esse horizonte de curiosidade.

“A intimidade também é uma força de confronto.”

Em entrevista exclusiva, o curador Édouard Louis fala do íntimo que atravessa sua relação com a obra indicada ao clube — enquanto leitor e escritor —, sobre a conexão entre autobiografia e risco, e comenta a visita ao Brasil no ano passado e a troca com leitores brasileiros.

Quando você leu O amante pela primeira vez, e por que escolheu este livro para enviar aos associados da TAG?

Eu o li poucas semanas depois de chegar a Paris, quando tinha 19 anos e me mudei para a capital francesa para estudar, viver livremente minha vida gay e começar a escrever livros. Um amigo me recomendou O amante. Eu não sabia que um livro podia ser assim. Sem dúvida porque cresci em um ambiente operário, muito pobre, sem acesso à cultura, e, por causa disso, tinha uma visão bastante acadêmica da literatura. Os únicos romances que conhecia eram os que estudávamos na escola: Balzac, Zola. São livros magníficos, claro, que releio com frequência hoje, mas se tornaram “clássicos” com o tempo. Quando descobri Duras, percebi que era possível escrever fora dos códigos tradicionais do

romance: os diálogos, a psicologia dos personagens, o desenvolvimento de uma trama ao longo de duzentas ou trezentas páginas — nada disso está presente em O amante . É um livro que rompe completamente com a escrita clássica. É impressionante como ainda hoje muitos livros seguem o modelo de Zola ou Balzac, como se Duras nunca tivesse existido. Penso, por exemplo, na literatura inglesa e americana, com seus diálogos, personagens e tudo o que chamam de “ the great American novel” [o grande romance americano]. A literatura que recebe prêmios geralmente é escrita dessa maneira. Os prêmios recompensam o conformismo, o antigo, as formas literárias bem-comportadas, que não incomodam muito. Ler Duras é romper com essa velha literatura. Duras está duzentos anos à frente de grande parte da literatura atual.

O curador do mês

Nome:

Édouard Louis

Nascimento:

30 de outubro de 1992, Hallencourt, França

Profissão:

Escritor e sociólogo

Duas ou três coisas sobre ele:

1 MUDANÇA DE NOME

Um dos processos mais profundos narrados na obra do jovem escritor é a mudança do seu nome — de Eddy Bellegueule para Édouard Louis —, um gesto carregado de simbolismo que apontava seu desejo de deixar para trás o contexto opressivo da infância. “Mudar de nome foi uma forma de dizer o que quero ser”, afirmou a El País. Ele se debruça sobre essa transformação no livro Mudar: método.

2 ESCRITA DE SI

Em narrativas honestas e afiadas, Louis disseca suas traumáticas experiências familiares em uma vila operária no norte da França, lançando um olhar ao mesmo tempo crítico e compassivo sobre o pai, a mãe e os irmãos. Seus relatos dialogam com questões complexas da coletividade, expondo com força impressionante as estruturas sociais que perpetuam opressões de classe, gênero e sexualidade.

3 RECONHECIMENTO PRECOCE

Publicado quando o autor tinha apenas 21 anos, seu livro de estreia, O fim de Eddy, foi um grande sucesso de crítica e público, finalista do Prêmio Goncourt para Primeiro Romance. A obra se debruça sobre sua infância, marcada por homofobia, pobreza e violências, e seu esforço inútil em se adaptar para sobreviver.

©Mariusz Kubik
“Duras não

escreve uma

história, ela nos conta uma história. Com

ela, passamos da literatura que diz 'aqui está uma história' para uma literatura que diz 'eu estou falando com você'.”

O amante é uma obra autobiográfica, uma característica que atravessa também o seu projeto literário como um todo. Que aspectos estilísticos e temáticos de Marguerite Duras ressoam na sua escrita?

Eu fui inspirado pela escrita autobiográfica de Duras. A autobiografia tem uma força de confronto muito grande: quando você lê uma autobiografia, há um discurso invisível sob cada frase, não escrito, que diz “o que você está lendo realmente aconteceu”. Enquanto você lê confortavelmente no sofá, algumas pessoas sofrem, ou sofreram, com a violência, o racismo, a pobreza. A autobiografia é um tapa de realidade. E esse tapa faz com que seja mais difícil desviar o olhar, ignorar, como às vezes fazemos ao ver uma pessoa em situação de rua. É isso que me interessa na literatura: provocar o confronto, impedir o leitor de desviar o olhar.

Outra característica de O amante que me inspirou muito é seu caráter íntimo. Duras não escreve uma história, ela nos conta uma história. Com ela, passamos da literatura que diz “aqui está uma história” para uma literatura que diz “eu estou falando com você”. Todo o tom, a forma, o estilo e a construção do livro são impregnados pelo íntimo. E a intimidade também é uma força de confronto. Através dela, o autor convida o leitor para seu espaço pessoal, fala olhando diretamente nos olhos, e não há como escapar. Esse uso da intimidade como forma literária em O amante me ajudou muito a escrever Mudar: método e Monique se liberta.

Escrever talvez seja sempre um processo de imersão ao mesmo tempo estética e emocional — especialmente quando a história que se conta é a própria história. Como foi para você revisitar territórios afetivos tão delicados da sua infância e da sua trajetória familiar? O que te motivou a mergulhar nesse complexo universo subjetivo? Como Duras, eu queria deslocar a fronteira entre o íntimo e o político. Queria falar sobre tudo o que era considerado impossível de narrar, pois era visto como muito “privado” pela literatura e pela sociedade: a sexualidade dos meus pais, a violência deles contra mim, a vida familiar. Eu quis correr riscos, tentar assumir ainda mais riscos que Marguerite Duras, como uma homenagem aos riscos que ela já havia assumido em sua escrita.

Para mim, a definição de autobiografia é o risco. Falar sobre o que não pode ser dito. Se alguém hoje escreve

uma autobiografia como Rousseau escreveu Confissões, então não é uma autobiografia, pois Rousseau quebrou barreiras que, graças a ele, já não existem. Se você escreve “Nasci em Paris em 25 de abril de 2004” e descreve suas visitas à casa da avó nos fins de semana, os cheiros quentes saindo da cozinha e sua estranha atração por um professor, isso não é autobiografia. Falar da própria vida não basta. Isso é apenas repetir o que a sociedade determina como “narrável”. Você não está dizendo “eu”, mas apenas ecoando a voz coletiva. Penso, por exemplo, nos muitos livros de memórias de cantores ou políticos que apenas reproduzem o que se espera que eles digam, com uma ou duas “transgressões permitidas”, já esperadas. Por isso, frequentemente temos a sensação, ao ler textos pretensamente autobiográficos, de que estamos lendo a mesma coisa de novo e de novo. Porque os eventos narrados são aqueles que a cultura estruturou socialmente como narráveis.

No seu livro Lutas e metamorfoses de uma mulher, você fala em “escrever contra a literatura”. Em que sentido você entende que a sua escrita destoa e desafia as convenções literárias? Quando você começa a escrever, normas e regras recaem sobre você, ditando o que fazer ou não, o que é um bom ou um mau livro. Essas regras são difíceis de descrever, porque funcionam como as regras de gênero: ao nascer e ser percebido como homem ou mulher, ninguém lhe dá um manual de como falar, como se comportar, não há uma polícia do gênero que circula pela rua, não há placas sinalizando o que você deve fazer. Mas a sociedade o molda a cada instante. A literatura funciona da mesma forma. Quando comecei a escrever, senti essas regras pesando sobre mim: a ideia, por exemplo, de que um livro não pode ter muita emoção. Eu lia críticos elogiando obras por serem “sem sentimentalismo” ou “sem miserabilismo”. Pelo contrário, a cultura popular é frequentemente desprezada pela elite por ser vista como muito sentimental: as telenovelas para os operários com as emoções exaltadas, os romances “baratos” que fazem chorar. E eu, que chegava ao mundo literário vindo de um mundo brutalmente violento, me perguntava: como escrever sobre a vida da minha mãe ou do meu irmão sem fazer um livro que faça chorar? Meu irmão morreu aos 38 anos por causa do álcool e da pobreza. Se eu escrevesse sem emoção, estaria traindo sua história.

Da mesma forma, diziam que um livro não pode ser “muito político”. Se fosse, não era literatura, mas um “panfleto” ou “manifesto”. Como

contei em Quem matou meu pai, na minha infância, uma reforma política de Sarkozy ou Macron, cortando auxílios sociais e medicamentos, mudava radicalmente nosso cotidiano, nos impedia de comer ou nos tratarmos. Por pertencer às classes dominadas, a política fazia parte da nossa vida íntima. Já se você pertence à burguesia, com dinheiro, diplomas e conhecimento, você está protegido da política, ela não te impede de se alimentar ou ter acesso à saúde, você não precisa do Estado para isso. Talvez porque a maior parte dos escritores venha das classes dominantes, eles digam tanto que a política não deve estar presente na literatura. Porque, para eles, a política é algo periférico.

Logo me dei conta de que para escrever sobre o mundo da minha infância, precisaria fazer uma arqueologia da literatura: escavar e quebrar cada regra, para fazer emergir histórias que a literatura tradicional exclui.

Quais autores e obras mais marcaram sua formação como escritor?

De que forma essas influências aparecem no seu texto?

Jamaica Kincaid, Anne Carson, Jean Genet, Marguerite Duras, Annie Ernaux, Hélène Cixous, Claudia Rankine, Didier Eribon. Esses autores me ajudaram a compreender que o íntimo é uma arma de disputa política, uma forma de lutar contra a violência. A partir deles, tento aprofundar ainda mais a escrita do íntimo e criar um “intimismo” literário. O intimismo é político, comovente e explícito — tudo o que a literatura tradicional rejeita.

Você esteve no Brasil há alguns meses, participou da última edição da FLIP e de outros eventos literários. Como foi seu diálogo com os leitores brasileiros? Por que você acredita que sua obra reverbera tanto neste contexto sociocultural? Grande parte do público europeu que lê literatura está sufocada pelos próprios privilégios. Na França, Alemanha e Inglaterra, a maioria dos leitores pertence à pequena burguesia culta. Não são todos, mas é a maioria. E, às vezes, sinto que esse público não compreende bem isso que eu busco fazer: uma literatura intimista de combate, uma literatura da violência, que coloca a política na vida cotidiana. O Brasil, com sua história recente turbulenta, com fenômenos políticos violentos, como a presidência de Bolsonaro, que ainda sofre os impactos do colonialismo europeu, não está tão sufocado pelos privilégios quanto os leitores europeus. Muitos leitores brasileiros compreendem o peso da violência, da homofobia, da realidade dos problemas políticos. E são exatamente essas questões que busco explorar nos meus romances.

MINHA ESTANTE

Primeiro livro que li: Harry Potter, de J.K. Rowling.

Livro que estou lendo: Nietzsche e a filosofia, de Gilles Deleuze.

Livro que mudou minha vida: Retorno a Reims, de Didier Eribon.

Livro que eu gostaria de ter escrito: Luz em agosto, de William Faulkner.

O último livro que me fez chorar: Mr. Potter, de Jamaica Kincaid.

Último livro que me fez rir: Extinção, de Thomas Bernhard. (Bernhard é o único autor que conseguiu me fazer rir, pois não gosto muito do riso na literatura.)

Livro que não consegui terminar: Muitos livros, por boas ou más razões.

©Udoweier

A Indochina Colonial Francesa

O cenário do livro do mês é o território onde Marguerite Duras passou a infância e a adolescência após a migração dos pais, franceses, para a então colônia no sudeste asiático.

Compreendendo os atuais territórios do Vietnã, Laos e Camboja, a Indochina francesa foi estabelecida como uma colônia formal em 1887 e permaneceu sob controle do país europeu até meados do século 20. A presença francesa na região teve início na primeira metade do século 19, inicialmente com missões religiosas católicas e exploração comercial. No final dos anos 1850, a França começou incursões militares e, em 1862, o Tratado de Saigon marcou a anexação da Cochinchina, no sul do Vietnã. A expansão do domínio sobre o sudeste asiático seguiu ao longo daquele século, consolidando a Indochina francesa por volta de 1890.

A administração colonial francesa impôs uma estrutura política centralizada e dominada por interesses europeus. Governadores-gerais nomeados em Paris controlavam as colônias, e as elites locais eram integradas de forma limitada, muitas vezes como intermediários subordinados. No começo do século 20, dezenas de milhares de franceses foram enviados para a Indochina, grupo composto por soldados, oficiais administrativos e missionários.

A VIDA ÀS MARGENS DO MEKONG

A cena primordial de O amante se passa durante uma travessia da protagonista pelo maior rio do sudeste asiático. Com quase cinco mil quilômetros de extensão, o Mekong conecta regiões montanhosas do Laos às planícies férteis do Camboja e do sul do Vietnã, onde se encontra o vasto delta do rio. É precisamente ali que se passa a história que você recebe este mês.

Os pais de Marguerite Duras migraram para a região para trabalhar como educadores em Sadec, cidade situada no coração do delta do Mekong. Durante uma entrevista de Marguerite Duras a Leopoldina Pallotta della Torre, em 1987, a escritora francesa contou que seu pai era professor e escrevia livros de matemática. Comentou ainda as complexidades da relação da mãe com o território onde a família vivia. Duras afirma que “até o dia em que deixou as colônias, [sua mãe] recusou-se a falar vietnamita. Não obstante, ela ensinava nas escolas indígenas e era certamente mais próxima dos vietnamitas e dos anamitas do que dos brancos”.

Sadec era conhecida por sua importância agrícola e pela produção de arroz e flores. Com canais navegáveis e uma forte influência cultural franco-vietnamita, a cidade foi um ponto crucial no transporte fluvial que conectava áreas rurais a centros urbanos, como Saigon — onde vive a protagonista da narrativa e também seu amante chinês.

Saigon, atual Cidade de Ho Chi Minh, era a capital da Cochinchina, a região sul do Vietnã. Próxima ao delta do Mekong, a cidade tornou-se o principal centro político, econômico e cultural da Indochina francesa. Sua posição estratégica favoreceu o comércio e a administração colonial, além de atrair investimentos em infraestrutura, como ferrovias e portos. Uma região muito citada em O amante é o Cholen, o maior bairro chinês do Vietnã.

A economia colonial baseava-se na exploração de recursos naturais e na produção agrícola para exportação. Plantações de arroz, borracha e chá tornaram-se pilares da economia, enquanto recursos como carvão, estanho e zinco eram extraídos em larga escala. Para sustentar essas atividades, os colonizadores impuseram sistemas de trabalho forçado e pesados tributos à população local, aprofundando as desigualdades sociais da região.

Da mesma estante

Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês, para quem quiser continuar no assunto.

AUTOFICÇÃO

Obras poderosas para explorar o gênero que marca a escrita da autora e do curador deste mês

A MORTE DO PAI,

Karl Ove Knausgård

Companhia das

Letras, 408 pp.

Tradução de Leonardo Pinto Silva

No primeiro volume da série Minha luta, o autor lança um olhar investigativo sobre as experiências dos anos de sua juventude, resgatando a trajetória do pai, um processo complexo de luto e a conexão com o tempo presente do autor, pai de três filhos.

K., RELATO DE UMA BUSCA, Bernardo Kucinski

Companhia das

Letras, 176 pp.

A jornada de um pai em busca de sua filha desaparecida durante a ditadura militar brasileira. De forma concisa e tocante, o autor oferece diferentes perspectivas sobre a mesma trama: a dor da ausência e a persistência da impunidade.

EXPLORAÇÃO,

Gabriela Wiener

Todavia, 144 pp.

Tradução de Sergio Molina

Profundo ensaio pessoal que conduz uma exploração memorável sobre amor, desejo, o legado colonial e o racismo na América Latina. Nessa narrativa corajosa e íntima, a autora expõe suas experiências para questionar identidades e dinâmicas de poder.

MULHERES E SEXUALIDADE

Um trio de histórias profundas e contemporâneas escritas por mulheres, com protagonistas que circulam pela vida em pleno exercício da liberdade sexual

O MEU AMANTE DE DOMINGO, Alexandra

Lucas Coelho

Bazar do Tempo, 160 pp.

Enquanto escreve um livro e planeja uma vingança contra o ex-amante, uma mulher na casa dos cinquenta anos se lança em um romance intenso, numa trama original, envolvente e divertida que oferece ao leitor visões singulares sobre a existência.

A NOIVA ESCURA, Laura Restrepo Companhia das Letras, 400 pp. Tradução de Sergio Molina

Conduzido como uma investigação jornalística, esse romance carregado de humor e sensualidade conta a história de uma mítica e carismática prostituta de uma cidade na selva colombiana, dividida entre dois amores.

TUDO PODE SER ROUBADO, Giovana Madalosso Todavia, 192 pp.

Uma jovem garçonete em São Paulo vive entre a boemia e pequenos roubos. Com humor ácido, a protagonista se aventura por um submundo de excentricidade, drogas e sexo e dispara reflexões sobre desejo e moralidade.

Universo do livro

Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês

Prêmio Goncourt em 1984, com mais de 2 milhões e meio de exemplares vendidos apenas na França, este romance autobiográfico acompanha a tumultuada história de amor entre uma jovem francesa e um rico comerciante chinês na Indochina pré-guerra. Com uma prosa intimista e certeira, Duras evoca a vida nas margens de Saigon nos últimos dias do império colonial da França e relembra não só sua experiência, mas também os relacionamentos que separaram sua família e que, prematuramente, gravaram em seu rosto as marcas implacáveis da maturidade.

HIROSHIMA,

MEU AMOR filme com roteiro de Marguerite Duras, dirigido por Alan Resnais, sobre um relacionamento entre uma atriz francesa e um arquiteto japonês.

é um livro que você pode ler em uma tarde, é a cena primordial em torno da qual giram todos os mitos e devaneios.

The New Yorker

O amante é como um lago sem fundo, ou talvez com um fundo em constante mudança: cada mergulho produz um entendimento alterado e enriquecido da topografia, e há a sensação de que você pode mergulhar para sempre e nunca absorvê-lo totalmente. Laura vaN deN Berg, LiThuB

Seu talento artístico sugere que a arrebatadora é Marguerite Duras, e nós, os arrebatados. Jacques LacaN

A ESPÉCIE HUMANA

livro do poeta e jornalista

Posfácio de Leyla Perrone-Moisés

Robert Antelme, marido de Marguerite Duras, sobre sua experiência direta nos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

O AMANTE filme de Jean-Jacques Annaud adaptado do livro de Marguerite Duras e abertamente criticado pela autora.

OAMANTE DURAS MARGUERITE

O SIMPATIZANTE

minissérie da HBO baseada no romance homônimo de Viet Thanh Nguyen, que venceu o Prêmio Pulitzer, retrata a perspectiva asiática da Guerra do Vietnã.

04/02/2025 17:53

ANNIE ERNAUX

autora francesa ganhadora do Nobel de Literatura em 2023, conhecida por suas narrativas de autoficção, gênero do qual Duras foi precursora ainda nos anos 40.

SALVE-SE QUEM PUDER

filme de Jean-Luc Godard com participação de Marguerite Duras, que com sua própria obra audiovisual influenciou o cineasta francês.

LEIA. CONHEÇA. DESCUBRA: Albert Camus

Da infância e adolescência em uma colônia francesa à participação na Resistência durante a ocupação nazista de Paris, Marguerite Duras e Albert Camus compartilharam uma época e fizeram parte, de diferentes formas, do mesmo movimento literário, o existencialismo.

©Jared Enos

Nome

Albert Camus

Nascimento

7 de novembro de 1913, Mondovi (atual Dréan), Argélia

Morte

4 de janeiro de 1960, Villeblevin, França

Escritor, filósofo e jornalista, o franco-argelino Albert Camus foi um dos maiores expoentes do existencialismo e do pensamento humanista no século 20. Nascido na Argélia, então colônia francesa, em uma família humilde, Camus enfrentou dificuldades desde cedo. Perdeu o pai na Primeira Guerra Mundial e foi criado pela mãe.

Formado em Filosofia pela Universidade de Argel, Camus começou sua carreira como jornalista. Mudou-se para a França em 1939, aos 25 anos, e no ano seguinte entrou para a Resistência Francesa durante a ocupação nazista, fundando e editando o jornal clandestino Combat.

Paralelamente, se lançava na literatura. Ainda na Argélia, publicou O avesso e o direito (1937) e Bodas em Tipasa (1938). Entre suas obras mais conhecidas estão os romances O estrangeiro (1942), que explora uma profunda reflexão sobre liberdade e a condição do homem moderno, e A peste (1947), uma alegoria sobre o totalitarismo e a desumanização.

Com O estrangeiro, Camus chamou a atenção de JeanPaul Sartre, de quem permaneceu amigo durante uma década. Em 1951, a publicação do ensaio crítico O homem revoltado motivou um desentendimento público entre os dois filósofos devido a discordâncias em relação ao comunismo soviético, do qual Sartre era partidário e ao qual Camus se opunha.

Ele também escreveu ensaios filosóficos, como O mito de Sísifo (1942), que aborda o absurdo da existência, e peças teatrais, como Calígula (1944), Estado de sítio (1948) e Os justos (1949). O absurdo paradoxo entre a busca e a falta de sentido da vida foi um tema que marcou o conjunto de sua obra, inspirada em intelectuais como o alemão Martin Heidegger e o dinamarquês Søren Kierkegaard.

Camus foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1957, aos 44 anos, tornando-se um dos escritores mais jovens a receber a honraria. Sua morte precoce aconteceu três anos depois, em um acidente de carro, deixando um legado que permanece vivo na literatura, na filosofia e no pensamento contemporâneo.

A

única

maneira de lidar

com um mundo não livre é se tornar tão absolutamente livre que sua própria existência seja um ato de rebeldia.

O ESTRANGEIRO

Após cometer um assassinato, um homem enfrenta um julgamento que o coloca frente a frente com o vazio da existência, o absurdo da condição humana e novas concepções de liberdade.

A PESTE

Pelo olhar de um médico, acompanhamos o avanço de uma terrível peste transmitida por ratos em uma cidade da Argélia. Publicado em pleno pós-guerra, esse livro carrega uma dimensão política fundamental ao aproximar a cidade atingida pela epidemia da ocupação nazista na França.

O PRIMEIRO HOMEM

Publicado a partir de um manuscrito inacabado encontrado nos destroços do acidente de carro que vitimou Camus, esse livro retrata a infância do autor e a história da Argélia, traçando os fundamentos de seu percurso sensível e reunindo os temas que marcaram o conjunto de sua obra.

Espaço da comunidade

Madame TAG, eu criei o hábito de ler já adulta, há 2 anos (tenho 41), após um fato ruim na minha vida. Encontrei nos livros uma companhia, um refúgio e a possibilidade de estar em vários lugares e de conhecer diversas pessoas. Tô tão feliz com isso!

Os livros têm me salvado, porém há muitos deles na minha lista de espera e falta tempo pra ler todos, então eu deixo de fazer outras coisas. Eu não malho, não encontro os amigos, não vou ao cinema... Meu programa predileto é minha rede em casa e ler o livro da vez. A questão é que a lista de livros só aumenta! Me ajude, o que eu faço?

Cara leitora,

Você tem diante de si um dilema comum a qualquer apaixonado por livros. Acredite quando eu digo que entendo perfeitamente seu sentimento. Mas veja bem, até as nossas melhores obsessões podem se virar contra nós quando não as miramos do ângulo mais generoso. Já pensou que ter uma imensa lista de livros por desbravar pode ser, em vez de uma demanda pesada a cumprir, um horizonte de prazeres, mistério e descobertas à sua frente? Para quem ama ler, o que pode ser mais empolgante do que isso? Meu conselho é que você não permita que o apetite pelos livros que ainda não leu te arranquem da entrega à história que você está lendo agora — afinal, o presente é tudo o que temos de verdade. E, se me permite mais um pitaco, querida leitora, abra um espaço na agenda para encontrar seus amigos, movimentar o corpo e ir ao cinema. Eu sei, é difícil deixar os livros, mas intercalar a leitura com outras atividades nos deixa mais inteiros para ler o mundo e enriquece nosso território afetivo. Sem contar que hábitos saudáveis vão lhe proporcionar mais energia e qualidade de vida para entregar-se, sem remorsos, à leitura. Você chegará a cada livro no tempo certo. Aproveite a jornada e confie!

Saudações de uma leitora desapressada, Madame TAG

Prêmio Goncourt em 1984, com mais de 2 milhões e meio de exemplares vendidos apenas na França, este romance autobiográfico acompanha a tumultuada história de amor entre uma jovem francesa e um rico comerciante chinês na Indochina pré-guerra. Com uma prosa intimista e certeira, Duras evoca a vida nas margens de Saigon nos últimos dias do império colonial da França e relembra não só sua experiência, mas também os relacionamentos que separaram sua família e que, prematuramente, gravaram em seu rosto as marcas implacáveis da maturidade.

O amante é um livro que você pode ler em uma tarde, é a cena primordial em torno da qual giram todos os mitos e devaneios.

The

New Yorker

O amante é como um lago sem fundo, ou talvez com um fundo em constante mudança: cada mergulho produz um entendimento alterado e enriquecido da topografia, e há a sensação de que você pode mergulhar para sempre e nunca absorvê-lo totalmente.

Laura vaN deN Berg, LiThuB

Seu talento artístico sugere que a arrebatadora é Marguerite Duras, e nós, os arrebatados.

Posfácio de Leyla Perrone-Moisés

As capas de livro frequentemente são verdadeiras obras de arte, não é mesmo? Recortando a página ao lado, você pode transformar este projeto gráfico em um item exclusivo, seja como elemento decorativo ou colecionável. O verso também é especial, com uma linda citação do autor para complementar a imagem.

Agora é só soltar a criatividade! E, se compartilhar nas redes, não se esqueça de nos marcar no @taglivros — adoramos ver as ideias de vocês ganhando vida.

OAMANTE DURAS MARGUERITE

TAG — Experiências Literárias

Tv. São José, 455

Porto Alegre, RS (51) 3095-5200 (51) 99196-8623

contato@taglivros.com.br www.taglivros.com @taglivros

Publisher Rafaela Pechansky

Edição e textos Débora Sander, Rafaela Pechansky e Tatiana Cruz

Colaboradoras Laura Viola e Sophia Maia

Designer Bruno Miguell Mesquita

Capa Renata Spolidoro

Revisores Antônio Augusto e Liziane Kugland

Impressão Impressos Portão

“E vendo que a libélula enveredava por entre os juncos, ficou pensando que mais importante do que nascer é ressuscitar.”
– LYGIA FAGUNDES TELLES

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