Oque há de mais poderoso para unir duas vidas do que a experiência compartilhada de um mesmo trauma? E, paradoxalmente, o que poderia gerar um vínculo mais turbulento, tenso e ambíguo do que essa dor em comum?
Você tem diante de si a história de um amor profundo e visceral entre irmãs — mas neste amor há doses acima da média de fusão e confusão emocional, amparo afetivo e competitividade, admiração e desprezo mútuos. O romance de estreia de Elyse Durham narra a jornada de duas meninas gêmeas nascidas em meio à guerra, inspiradas e assombradas pela memória da mãe, uma jovem e promissora bailarina que tira a própria vida logo após o parto. Na União Soviética da Guerra Fria, Maya e Natasha crescem seguindo os passos maternos no balé, movidas tanto por sua paixão pela dança quanto pelo acesso a privilégios que o pertencimento à classe artística possibilitava naqueles tempos conturbados.
Mas, em seu último ano de estudos na prestigiada academia Vaganova, apenas uma delas será aceita na mundialmente reconhecida companhia de balé Kirov, e essa cruel disputa aos poucos revela os lados mais sombrios do vínculo entre as duas — mostrando como as circunstâncias de uma época podem contaminar para sempre até mesmo as relações mais valiosas de nossas vidas.
Boa leitura!
Experiência do mês
Seu livro além do livro: para ouvir, guardar, expandir, crescer
Mimo
Há dois itens básicos que não se pode deixar para trás ao sair de casa: as chaves, para abrir as portas materiais, e um bom livro, para abrir todas as outras: da imaginação, da criatividade, das realidades distantes, dos mistérios e emoções que levamos dentro. O mimo do mês foi feito para lembrar você, todos os dias, de levar junto aonde for essas poderosas chaves para uma existência mais plena — os livros.
PODCAST
Terminou a história com a cabeça cheia de impressões para acomodar? Hora de dar o play no nosso bate-papo pós-leitura, que tem sempre um convidado especial para aprofundar ainda mais sua experiência literária.
Projeto gráfico
A força de um amor fusional entre irmãs e a dor de um drástico rompimento afetivo constituem o âmago emocional da narrativa que você lerá neste mês. Essa simbologia foi levada para o projeto gráfico através da obra Dançarina em pé, do pintor francês Jean-Louis Forain. Na capa do designer Bruno Miguell Mesquita, a bailarina retratada na pintura aparece dividida ao meio, em uma significativa disposição que joga com as noções de dualidade, contraponto, falta e complementaridade.
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Para você dançar pelas páginas ao som de uma trilha sonora primorosa, preparamos uma seleção musical inspirada no encantador universo do balé, com peças de compositores que embalaram coreografias clássicas, como Tchaikovsky, Stravinsky, Vivaldi e Strauss.
sumário
Por que ler este livro
Um espaço todo seu, para aproximar e celebrar a maior comunidade leitora do Brasil 04 06 08 11 13 14 16
Bons motivos para você abrir as primeiras páginas e não parar mais
O livro
Para aprofundar sua leitura da história que você tem em mãos
Entrevista com a autora
Uma entrevista com quem está por trás da história
Dois dedos de prosa
O poder simbólico do esporte e das artes em grandes momentos da história mundial
Da mesma estante
Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês
Universo do livro
Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês
Espaço da comunidade
“O envolvente e oportuno romance de estreia de Elyse Durham gira em torno de irmãs gêmeas nascidas durante o cerco de Leningrado, treinadas como dançarinas na renomada academia de balé Vaganova e que iniciam suas carreiras no auge da Guerra Fria.”
- Lit Hub
“A cuidadosa escrita de Durham sobre dualidades soa como uma delicada coreografia.”
- Los Angeles Times
“Um vira-páginas imersivo no mundo do balé russo, através das lentes da rivalidade entre irmãs.”
- Pointe Magazine
da Guerra inseparáveis e um sonho da mãe, interrompido, de se tornar orgulho do disputa os Estados histórica de fôlego, vida das mais íntimos de arte do balé geopolítica confrontar
ELYSE
DURHAM
Maya & Natasha
Maya & Natasha
As gêmeas Maya e Natasha nascem em Leningrado, na União Soviética, às vésperas do cerco pelo exército nazista, em 1941. A mãe não consegue suportar o impacto da maternidade no sonho — até então prestes a se realizar — de se tornar a primeira bailarina do prestigioso Ballet Kirov e decide tirar a própria vida, logo após o parto.
Acolhidas por outra bailarina da companhia, as meninas crescem com o desejo de realizar o destino da mãe. Após a derrota dos alemães, tornam-se alunas da Academia de Ballet Vaganova, em São Petersburgo, escola das futuras estrelas do Kirov. No laço inquebrantável que há entre as duas também cabe alguma competividade, ainda mais porque, embora ambas sejam excelentes dançarinas, as diferenças de personalidade se dão a ver nos ensaios e nas apresentações: Natasha atrai todos os olhares e é candidata ao estrelato, Maya não se destaca e vislumbra um futuro como parte do corpo de baile.
Neste impactante romance de estreia, porém, como na vida, os caminhos nem sempre seguem em linha reta, e o turbulento espírito do tempo — estamos no auge da Guerra Fria — vai impor suas marcas nos corações e nas mentes, divididos entre a obediência cega ao fechado regime soviético e os sonhos de liberdade e de consumo propagandeados pelo inimigo ocidental, os Estados Unidos.
Por que ler este livro
Um romance histórico sensível e envolvente, ambientado em um cenário pouco usual na ficção contemporânea. A autora entrelaça com maestria as disputas políticas e simbólicas daquele período com a complexidade do laço entre irmãs gêmeas inseparáveis que se tornam rivais no fascinante e competitivo mundo do balé soviético. Alternando pontos de vista, Maya & Natasha mergulha fundo nas ambições, dilemas morais e descobertas das protagonistas, em cenários que vão da União Soviética aos Estados Unidos e iluminam as vidas de pessoas comuns e de figuras históricas reais.
ELYSE DURHAM
Danças descompassadas em um mundo dividido
Quanto de quem somos se desenha conforme o lugar, a época e as circunstâncias em que nascemos? Maya & Natasha desperta uma profunda reflexão sobre a experiência de crescer, amar e encontrar seu próprio ritmo pela vida em tempos de exceção
Em seu romance de estreia, Elyse Durham compõe uma narrativa comovente, tecida com apuro histórico e rara sensibilidade, ambientada em um dos períodos mais marcantes do século 20: a Guerra Fria. A autora nos transporta para esse cenário tenso e polarizado através da história de Maya e Natasha, irmãs gêmeas nascidas em meio ao cerco de Leningrado, em 1941 — filhas de Elizaveta, uma jovem e promissora bailarina que, desesperada diante das portas fechadas pela guerra e pela gravidez inesperada, comete suicídio logo após o parto. O gesto trágico marca profundamente o destino das meninas, que crescem envoltas na herança do desespero, da ambição e do amor visceral pela dança.
A trama se desenvolve durante o último ano das meninas na prestigiada academia de balé Vaganova, revelando a cumplicidade que as une como se fossem uma só. Até aquele momento, mesmo com suas personalidades e estilos contrastantes, Maya e Natasha conduziam juntas seus passos em direção ao mesmo sonho: ingressar no corpo de baile do Kirov, uma das principais companhias do balé soviético e internacional. Mas, em meio às restrições políticas que afetam todas as esferas da vida no país, elas recebem a notícia de que apenas uma integrante da mesma família poderá ser aceita.
Enquanto Natasha cresceu sendo celebrada por todos à sua volta como um talento natural na dança, Maya enfrenta uma batalha interna com seu corpo — e talvez mais ainda com sua mente — para encontrar seus próprios passos, sem a condução da irmã. Pela primeira vez na vida, cada uma precisa olhar para si e assumir a missão solitária de tornar-se quem deseja ser, mesmo que isso signifique deixar para trás a pessoa que mais ama no mundo. A inevitável competição entre as duas revela camadas insuspeitadas de quem elas podem ser, para o bem e para o mal — colocando em xeque a solidez daquilo que sempre foi a base de ambas: a lealdade.
A partir desse conflito íntimo, Durham costura uma reflexão poderosa: somos realmente livres para guiar nossos movimentos ou estamos, desde sempre, sendo coreografados pelas circunstâncias? Até que ponto nossas escolhas são nossas? E o que poderia testar nossas mais firmes convicções morais?
Ao longo do livro, a autora trabalha com raro domínio narrativo a noção de dualidade. Enquanto a tensão entre as irmãs cresce em silêncio, a Guerra Fria também se intensifica no pano de fundo — uma disputa ideológica e simbólica entre potências que se reflete nas paisagens subjetivas das personagens. Com uma narrativa que alterna distanciamento analítico e mergulhos emocionais, Durham movimenta-se com precisão entre o íntimo e o histórico, incorporando na ficção figuras reais como George Balanchine, Sergei Bondarchuk, Yekaterina Furtseva e John F. Kennedy.
Com duas protagonistas cativantes e complexas, este ousado romance histórico é um convite a olhar para os bastidores da Guerra Fria através das lentes sedutoras do balé, mas também para os bastidores das escolhas humanas — aquelas que fazemos e aquelas que nos fazem. Ao longo das páginas, o leitor oscila: ora empatizamos com uma das gêmeas, ora damos razão à outra. E talvez, num terceiro momento, a conclusão possível seja de que, numa guerra como essa, seja difícil ou impossível ter razão.
“Eu jamais conseguiria ter escrito este romance se não tivesse experimentado antes o balé no meu próprio corpo.”
A autora Elyse Durham revela os bastidores, a pesquisa, as inspirações e as escolhas que transformaram seu encontro pessoal com o balé na encantadora narrativa de Maya & Natasha, seu romance de estreia
De que forma a experiência de aprender balé depois de adulta inspirou você a escrever Maya & Natasha?
Eu jamais conseguiria ter escrito este romance se não tivesse experimentado antes o balé no meu próprio corpo. Passamos tanto tempo de nossas vidas em frente a telas que, em parte, procurei o balé para me lembrar de que sou uma criatura em um corpo. As aulas que fiz quando adulta não só foram profundamente prazerosas, mas também me lançaram em uma exploração do balé que durou anos. Levei algum tempo para perceber que estava, de fato, trabalhando em um romance. De início, eu só estava seguindo a minha curiosidade.
Muitos livros sobre balé focam apenas no lado sórdido — distúrbios alimentares, dependência química, professores cruéis. Até começar a fazer aulas, eu achava que esses clichês eram o balé. Mas então comecei a dançar e percebi que esse era apenas o lado sombrio. Eu queria escrever sobre o quanto o balé é belo e transformador, tanto como arte quanto como disciplina. Se você ler memórias de bailarinos, verá que eles realmente falam sobre lesões e dificuldades como as que mencionei. Mas o que eles mais querem compartilhar é o quanto amam o balé. Era isso que eu também queria compartilhar.
Seu romance é ambientado no contexto da Guerra Fria. Como foi a pesquisa para o livro? Que cuidados tomou para narrar a complexidade daquele momento histórico sem reforçar estereótipos?
A pesquisa é uma das coisas que eu mais amo no meu trabalho, e, para este livro, mergulhei de cabeça. Li muitos, muitos livros — da história russa à cultura soviética, passando por psicologia da dança. Conversei com estudiosos, entrevistei bailarinos, professores, pianistas, vendedores de sapatilhas de ponta, até um cirurgião ortopédico. Fiz aulas de dança com professores de diferentes lugares dos Estados Unidos ao longo de vários anos. E, claro, assisti a muitas apresentações e até a alguns ensaios de figurino do New York City Ballet.
Evitar estereótipos foi uma das coisas mais importantes para mim. Eu não queria que o que eu estava escrevendo tivesse o menor cheiro de propaganda da Guerra Fria. Compreendi a importância disso numa tarde na Biblioteca Pública de Nova York, na seção de Artes Performáticas. Passei o dia vasculhando os arquivos do Bolshoi e assisti a uma série de vídeos do acervo pessoal de Mikhail Baryshnikov, filmados em escolas de balé soviéticas nas décadas de 60 e 70. Em um desses vídeos, um casal adolescente ensaiava um pas de deux e, de repente, a menina escorregou e caiu… e caiu na risada. Fiquei muito surpresa. Existe esse estereótipo americano de que todo mundo na União Soviética era totalmente sem alegria, quase nem humano — e ali estava aquela garota rindo de si mesma por ter errado. Foi um momento que me
fez perceber que, não importava onde ela tivesse nascido nem o quanto fosse ambiciosa, aquela jovem soviética extremamente talentosa ainda era, no fim das contas, apenas uma garota. Guardei esse momento comigo durante todo o processo de escrita.
Uma das virtudes do seu livro é propor uma reflexão sobre a complementaridade de duas personalidades contrastantes, no balé e na vida. Se à primeira vista Natasha parece estar em vantagem com seu jeito solto e sua fluidez ao dançar, ao longo do livro as características de Maya também ganham outros contornos. Essas personagens refletem de algum modo aprendizados que você teve ao se relacionar com a arte? O livro partiu certamente da minha própria experiência com a criação artística — e também da experiência dos meus colegas. Percebi que as pessoas para quem fazer arte vem mais naturalmente, como Natasha, também são, muitas vezes, as que mais tendem a tomar isso como dado. Já aquelas que precisaram batalhar muito, como Maya, estão acostumadas a lutar com unhas e dentes e, por isso, geralmente são menos propensas a desistir.
Mas será que insistir a qualquer custo é sempre uma coisa boa? Uma das primeiras inspirações para este romance foi o balé La Valse, de George Balanchine, no qual uma jovem é seduzida pela figura da Morte. A Morte apela à vaidade da garota, afastando-a de seus colegas, fazendo com que se sinta mais importante do que eles com joias e outros presentes.
Para mim, esse balé mostra como a ambição pode ser sedutora. Fazer arte exige muitos sacrifícios e exige também certo grau de isolamento — mas como saber quando você já abriu mão demais? Como saber quando o desejo de vencer passou a te consumir por completo? A garota de La Valse se deixa levar tanto por sua vaidade e ambição que só percebe que foi longe demais quando já é tarde. Quando vi esse balé, entendi exatamente que tipo de história eu queria contar.
O que motivou você a narrar esta história em terceira pessoa, com um narrador onisciente?
Desde criança eu amo narradores oniscientes — eles aparecem com frequência na literatura infantil, provavelmente porque são ótimos contadores de histórias. Eu adorava quando o narrador onisciente se afastava da trama principal para dar sua opinião sobre algum assunto. Isso fazia os livros parecerem muito pessoais, como se houvesse alguém ali do seu lado, inventando aquela história só para você. Eu também sabia que contar esta história exigiria revelar ou explicar muito contexto, e eu queria fazer isso sem sobrecarregar o leitor — ou mesmo sem chamar atenção para o fato de que isso estava acontecendo. O tema era tão vasto e profundo que eu precisava de um narrador capaz de costurar tudo isso junto, alguém que soubesse e entendesse muito mais do que os próprios personagens. Mas também era importante que nem mesmo esse narrador soubesse absolutamente tudo. Toda história precisa carregar um certo mistério…
Você cita Guerra e paz, de Tolstói, durante a narrativa de Maya & Natasha. Que insights esse clássico da literatura trouxe a você durante a escrita do seu livro?
Guerra e paz ficou na minha mesa durante todo o tempo em que escrevi este livro. Me apaixonei por essa história pela primeira vez depois de assistir à adaptação soviética de 1966, em um cinema em Detroit, e peguei o romance alguns meses depois, logo no início da pandemia. A escritora Yiyun Li estava conduzindo uma leitura coletiva online no Twitter: todos os dias, ela nos atribuía algumas páginas para ler e publicava pequenas análises sobre os recursos narrativos daquele trecho. Sou imensamente grata por isso, porque essa leitura me manteve sã em um momento assustador e ainda me deu muitos insights sobre a construção do mundo de Tolstói.
Aprendi muito com o narrador onisciente de Tolstói. Guerra e paz é épico em todos os sentidos da palavra, mas esse narrador nunca perde de vista a história profundamente humana que está sendo contada. Fiquei maravilhada com a abrangência da experiência humana que o romance explora: Tolstói conseguia escrever com a mesma naturalidade sobre como era estar na pele de Napoleão ou sobre o que sentia uma garota de quinze anos, empolgada demais para conseguir dormir em uma linda noite de verão. A onisciência era uma das formas que ele usava para costurar todos esses elementos.
Arte, esporte e poder simbólico
No contexto da Guerra Fria, o balé desempenhou um papel político significativo e foi usado como uma ferramenta de disputa simbólica e diplomacia cultural entre a União
Soviética e os Estados Unidos. Conheça outras situações em que o esporte e as artes foram arenas performativas de poder e disputa de narrativas — com atletas e artistas como protagonistas involuntários ou estratégicos
OLIMPÍADAS DE BERLIM, 1936
Os Jogos sediados na capital alemã foram usados por Hitler para promover a ideologia de supremacia racial ariana. No entanto, o destaque do evento esportivo foi Jesse Owens, atleta negro dos Estados Unidos que ganhou quatro medalhas de ouro, desafiando a narrativa racista de Hitler. O evento expôs o esporte como palco tanto de propaganda quanto de resistência simbólica.
EMBAIXADORES DO JAZZ, 1950/1960
Durante a Guerra Fria, o governo dos Estados Unidos investiu em viagens de músicos de jazz por vários países do mundo para suavizar a imagem externa do país, associando o ritmo à liberdade, à igualdade racial e à democracia, num viés afirmativo da cultura estadunidense. Artistas como Louis Armstrong, Duke Ellington e Dizzy Gillespie participaram de turnês internacionais na África e no Oriente Médio como contraponto à influência soviética.
O DIA EM QUE PELÉ
PAROU UMA GUERRA, 1969
Reza a lenda que uma passagem do time do Santos pela Nigéria motivou uma trégua de um dia na Guerra do Biafra, um violento conflito entre dois grupos étnicos do país. O episódio foi narrado na autobiografia de Pelé e virou até música da torcida do time, que canta que “Só o Santos parou a guerra”.
A DIPLOMACIA DO PINGUE-PONGUE,
1971
Ainda no contexto da Guerra Fria, a China e os Estados Unidos estavam havia mais de 20 anos sem relações diplomáticas formais. Durante o Campeonato Mundial de Tênis de Mesa no Japão, em abril de 1971, o jogador estadunidense Glenn Cowan entrou por engano no ônibus da equipe chinesa e foi recebido calorosamente pelo atleta chinês Zhuang Zedong. Dias depois, a China convidou a equipe de tênis de mesa dos EUA para visitar o país, dando início a uma aproximação estratégica entre os dois países contra a União Soviética.
COPA DO MUNDO DE RÚGBI
NA ÁFRICA DO SUL, 1995
Em um país profundamente dividido pelo recém-derrubado regime de segregação racial do Apartheid, Nelson Mandela usou o torneio para unir o país e restaurar o sentido de identidade nacional. Juntando forças com o capitão dos Springboks, a seleção sul-africana, ele mobilizou a população através do esporte em uma vitória que ficou marcada na história do país.
JOGO DA PAZ NA COSTA DO MARFIM, 2005
Em um período marcado por tensões políticas, severas divisões sociais e à beira de uma guerra civil, o astro do futebol Didier Drogba fez um apelo público pela paz. O gesto foi decisivo e resultou em um cessar-fogo temporário. Nos anos seguintes, o atacante promoveu encontros com as autoridades políticas em busca da paz, conseguiu verba para a construção de hospitais, fez diversas doações para institutos e promoveu campanhas contra a pobreza e sobre a conscientização da paz.
Da mesma estante
Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês, para quem quiser continuar no assunto
A EXPERIÊNCIA FEMININA ÀS MARGENS DA HISTÓRIA
Uma pequena coletânea de narrativas que recuperam ou imaginam os caminhos, desejos e complexidades que marcaram as vidas de mulheres durante grandes momentos históricos
MULHERES SEM NOME,
Martha Hall Kelly
Intrínseca, 496 pp.
Tradução de Ana Rodrigues, Cássia Zanon e Maria Carmelita Dias
Um retrato incisivo e original da Segunda Guerra Mundial, que entrelaça as histórias de uma socialite americana, uma jovem polonesa e uma médica alemã. Em meio a ambições individuais e aos horrores da guerra, esse emocionante best-seller do New York Times revela diferentes formas de poder e resistência feminina.
RETRATO EM SÉPIA
,
Isabel Allende
Bertrand, 353 pp.
Tradução de Mario Pontes
Entre romance histórico e ficção psicológica, essa história situada no Chile do século 19 segue Aurora del Valle, uma mulher que busca reconstruir seu passado e descobre uma trama familiar íntima que ecoa na própria formação de seu país, revelando a trajetória de luta silenciosa das mulheres por autonomia.
TRÊS IRMÃS: AS MULHERES QUE
DEFINIRAM A CHINA
MODERNA, Jung Chang
Companhia das Letras, 392 pp.
Tradução de Odorico Leal
A envolvente biografia das irmãs que marcaram a política chinesa do século 20, casadas com três homens poderosos. Entre alianças políticas, amores estratégicos e disputas familiares, elas moldaram o destino do país ao longo de um século turbulento de constantes guerras e revoluções.
Universo do livro
Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês
GUERRA E PAZ
Clássico de Liev Tolstói ambientado na São Petersburgo do século 19, adaptado ao cinema pelo diretor estadunidense King Vidor em 1956 e pelo russo Sergei Bondarchuk em 1966. Foi o filme mais caro já produzido na União Soviética.
GEORGE BALANCHINE
Coreógrafo nascido na União Soviética que desertou do país em 1924, fundador do New York City Ballet. Reconhecido por renovar o balé clássico através de uma fusão com a modernidade e a estética contemporânea.
CISNE NEGRO
Filme de terror psicológico, dirigido por Darren Aronofsky e estrelado por Natalie Portman, que explora as dinâmicas de ambição e rivalidade entre duas bailarinas.
BALLETS RUSSES
Documentário de Daniel Geller e Dayna Goldfine sobre a história da companhia de dança fundada pelo russo Serge Diaghilev em Paris, no começo do século 20, que influenciou de forma determinante os rumos do balé contemporâneo.
O FIM DO HOMEM SOVIÉTICO
Livro da ganhadora do Nobel de Literatura de 2015, Svetlana Aleksiévitch, que examina a queda da União Soviética através de um painel de russos de todas as idades que tiveram suas vidas afetadas por essa transformação.
INVICTUS
Filme de Clint Eastwood que retrata o esforço de Nelson Mandela de restaurar através do esporte o sentido de identidade nacional em uma África do Sul ainda dividida após o fim do regime do Apartheid.
OS SAPATINHOS VERMELHOS
Filme de Emeric Pressburger e Michael Powell, lançado em 1948, que narra o conflito da jovem bailarina Vicky Page, dividida entre o amor e a devoção ao balé. Inspirado no conto de Hans Christian Andersen.
Espaço da comunidade
Cara Madame TAG,
Há alguns anos, com a ajuda das caixinhas da TAG, me propus o desafio de me tornar um leitor mais assíduo. Hoje posso dizer que consegui! Agora que estou mais “em forma”, me sinto pronto para embarcar em um clássico, algo que sempre tive um pouco de medo de fazer e acabar me desestimulando. Você pode me indicar obras clássicas acessíveis, que me motivem a percorrer essa jornada? Obrigado!
Ah, o medo dos clássicos… um clássico, se você me permite a redundância. Adentrar o universo das grandes obras da história da literatura pode intimidar, mas acredite: nem todo clássico é um calhamaço difícil de digerir. Aliás, são obras que pertencem a essa categoria justamente por ter o poder de dialogar com questões fundamentais da alma humana e, nesse sentido, elas têm tudo para ganhar seu coração.
Além do livro do mês da TAG Curadoria, que é uma pedida sem erro, deixo aqui outras dicas para você aproveitar sua boa forma literária e começar sem demora essa aventura apaixonante pelos clássicos. Na literatura nacional, sugiro dois: Vidas secas, de Graciliano Ramos, é uma narrativa curta e acessível, mas ao mesmo tempo forte, profunda e dolorosamente atual. Dê uma chance também para Dom Casmurro, do mestre Machado de Assis, e entre de vez para o eterno debate sobre a traição (ou não) de Capitu. Para citar mais um curto e infalível, aposte em A metamorfose, a célebre história kafkiana do homem que amanhece num dia qualquer transmutado em um inseto asqueroso. E, se estiver no clima de um suspense filosófico, Frankenstein é mais acessível (e existencial) do que parece.
Bom proveito, caro leitor!
“Só quando eu danço me liberto do tempo — esvoam as memórias, levantam voo de mim.”