"Corregidora" TAG Curadoria - Junho/2025

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TAG — Experiências Literárias

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Publisher Rafaela Pechansky

Edição e textos Débora Sander

Colaboradoras Laura Viola e Sophia Maia

Designer Bruno Miguell Mesquita

Capa Bruno Miguell Mesquita

Revisores Antônio Augusto e Liziane Kugland

Impressão Impressos Portão

sumário

Experiência do mês

Um espaço todo seu, para aproximar e celebrar a maior comunidade leitora do Brasil 04 06 08 14 18 22 24 26 29

Para inspirar o olhar e as ideias antes, durante e após a leitura

Por que ler este livro

Bons motivos para você abrir as primeiras páginas e não parar mais

A autoria

Um retrato caprichado de quem está por trás da história

O livro

Mergulhando em uma narrativa difícil e necessária

A curadoria

Conheça Jeferson Tenório, que escolheu seu livro do mês

Da mesma estante

Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês

Universo do livro

Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês

Leia. Conheça. Descubra.

A força poética e intelectual de Audre Lorde

Espaço da comunidade

Projeto gráfico

A pintura de Laura Wheeler Waring — artista e educadora, considerada uma das retratistas mais proeminentes do Renascimento do Harlem — é o centro da capa desta grandiosa narrativa de Gayl Jones. Desenvolvido pelo designer da TAG, Bruno Miguell Mesquita, nosso projeto gráfico reflete um pouco da angústia e da solidão da protagonista, buscando amparo visual na delicadeza expressiva das pinceladas da artista.

Nossa clássica conversa pós-leitura te espera com um convidado muito especial para aprofundar ainda mais o encontro inesgotável com a forte, impactante e dolorosa história de Ursa.

Além da prosa inovadora de Gayl Jones, a música é um fio condutor fundamental dessa narrativa. Por isso, convidamos você a entrar de cabeça na atmosfera do blues com artistas como Billie Holiday, Thelonious Monk, Aretha Franklin e Ray Charles.

Visite o app para saber mais sobre o livro e participar da comunidade.

“Nenhum romance sobre qualquer mulher negra poderá jamais ser o mesmo depois deste.”

Toni Morrison

“Corregidora é a revelação mais dolorosa e brutalmente honesta do que aconteceu e segue acontecendo nas almas das mulheres e homens negros.”

James Baldwin

“O grande feito de Jones é levar em conta tanto a história quanto a interioridade, e derrubar a fronteira entre elas.”

Anna Wiener, The New Yorker

“Sem condescendência ou qualquer tipo de autopiedade, a protagonista enfrenta os obstáculos impostos por uma sociedade desigual, racista e machista, onde poucos têm direito ao sonho americano. A luta da protagonista passa muitas vezes por amar quem a machuca, uma luta para manter a dignidade diante de tanta violência.”

Jeferson Tenório

corregidora

Descoberto

Corregidora

Por que ler este livro

Alerta de gatilho: violência contra a mulher, escravidão.

Percorrendo as entranhas emocionais de uma cantora de blues que investiga as memórias de sua linhagem materna depois de sofrer uma perda irreparável, Gayl Jones constrói uma genealogia dolorosa da exploração sexual e psicológica de mulheres negras. Este poderoso romance de estreia — elogiado por escritores como Maya Angelou e John Updike e editado por Toni Morrison — segue até hoje fundamental para adentrar a sensibilidade daqueles que foram devastados pela profunda ferida transgeracional da escravidão e da violência contra a mulher.

Gayl Jones
corregidora Gayl Jones

Gayl Jones e a história coletiva das Américas

Pouco conhecida no Brasil, a autora do mês amplia as vozes do maior trauma da nossa história: o legado do colonialismo e da escravidão, sobretudo na vida de mulheres negras. Seu romance mais recente, Palmares, é ambientado no Brasil Colônia

Conhecer novos autores é uma parte deliciosa da vida de qualquer leitor apaixonado. Mas às vezes a gente descobre um escritor e logo se dá conta de que era para esse encontro ter acontecido antes. Gayl Jones é uma autora de dimensões oceânicas, da estatura de outros grandes da literatura afro-americana, como Toni Morrison, Maya Angelou, James Baldwin, Audre Lorde, Alice Walker e Octavia Butler. Seu nome, no entanto, circulou muito menos do que seria justo entre os brasileiros — um público que certamente encontrará preciosos pontos de diálogo com sua obra.

Corregidora, seu primeiro e mais aclamado romance, foi publicado há exatos 50 anos. Chega agora ao Brasil na tradução primorosa de Nina Rizzi, que teve um olhar cuidadoso para as particularidades e escolhas formais da autora no original, escrito em Black English — “uma variante africana do inglês surgida da fusão de diversas línguas africanas com a língua inglesa”, como a própria tradutora explica em nota de abertura à edição brasileira. Nina faz um paralelo com o pretuguês, termo cunhado pela intelectual brasileira Lélia González para designar a africanização da língua portuguesa na construção de um idioma propriamente brasileiro. Essa conexão linguística entre as raízes do Black English e do pretuguês é uma via potente para adentrar as diversas camadas valiosas que entrelaçam a obra literária de Jones à história compartilhada da escravidão nas Américas.

Na fase escolar, Gayl estudou até a adolescência em uma instituição destinada a alunos negros. Com a flexibilização das leis Jim Crow, ela e o irmão fizeram parte de um dos primeiros grupos de estudantes negros a ingressarem na Henry Clay High School. A futura escritora era então considerada uma aluna de inteligência acima da média e, através da mediação de uma professora, foi indicada pela célebre escritora Elizabeth Hardwick para estudar na pequena e consagrada Connecticut College, onde foi aluna dos poetas William Meredith e Robert Hayden.

Em 1970, Gayl Jones recebeu seu primeiro prêmio literário, o Frances Steloff Award, pelo conto “The Roundhouse”. No mesmo ano, ingressou na Universidade Brown para estudar escrita criativa. Foi lá que conheceu o poeta e professor Michael Harper, uma figura fundamental do pensamento crítico e literário sobre a história e a cultura afro-americana. Ele se tornaria seu mentor mais próximo e uma figura decisiva na publicação de Corregidora. Em 1974, Harper enviou uma caixa com manuscritos de Jones a uma amiga notória: Toni Morrison, que era então editora da Random House.

Em um ensaio publicado na revista Mademoiselle, a consagrada escritora — que na década seguinte ganharia o Prêmio Nobel de Literatura — relatou seu encontro com o romance de Jones. “Fiquei tão impressionada que nem tive tempo de me ofender com o fato de que ela tinha apenas 24 anos e não tinha o direito de saber tanto e tão bem. Ela havia escrito uma história que pensava o impensável: falava sobre a exigência feminina de criar descendentes como um ato político ativo, até mesmo violento”, descreveu. No ano seguinte, Corregidora foi publicado sob calorosa recepção do público e da crítica.

OS FEITOS, OS HIATOS E OS RETORNOS DE UMA ESCRITORA

Um ano depois de sua estreia no romance, Gayl Jones publicou Eva’s Man, uma nova narrativa que viaja pelas memórias de trauma e violência de uma mulher, presa depois de assassinar o homem que amava. Em 1977, lançou a coletânea de contos White Rat, e em 1981, o livro-poema Song for Anninho, que reconta a destruição do quilombo de Palmares a partir da história de amor de dois ex-escravizados.

No começo dos anos 1980, Jones casou-se com Bob Higgins, iniciando um capítulo aparentemente conturbado — mas também especialmente nebuloso — de sua história. Em 1983, depois de se envolver em um confronto violento com ativistas LGBTQIA+ em uma manifestação no Michigan, Higgins foi detido e acusado por agressão, levando o casal ao exílio na Europa. Em 1986, seu romance Apanhadora de pássaros foi publicado unicamente na Alemanha — só seria editado no inglês original em 2022, quando tornou-se finalista do National Book Award. Trata-se da primeira obra da autora a ser publicada no Brasil, em 2023, pela Instante. No começo dos anos 1990, Jones lançou uma antologia editada por ela sobre a tradição oral na literatura afro-americana. Por volta dessa época, o casal se restabeleceu no Kentucky.

Em 1998, Gayl Jones publicou um novo romance depois de vinte anos: The Healing, também finalista do National Book Award — uma narrativa lírica que se debruça sobre a dificuldade de se desvencilhar da dor, da raiva e até mesmo do amor. Pouco depois do lançamento, outro evento dramático envolvendo Higgins marcou a história da escritora. A polícia apareceu à porta do casal com um mandado de 15 anos de prisão para o marido de Jones. Ambos reagiram de imediato ameaçando suicídio, mas ele foi em frente, tirando a própria vida diante dos policiais e da esposa.

O acontecimento precedeu mais um longo hiato na carreira da escritora, que dessa vez permaneceu 22 anos sem publicar ou aparecer na mídia. Em 2021, Gayl Jones voltou com uma obra magistral: o romance Palmares, finalista do Prêmio Pulitzer no ano seguinte. O livro recupera a personagem de Song for Anninho, Almeyda. Ela é uma mulher escravizada que cresce em meio aos engenhos de açúcar no Brasil colonial e escapa para Palmares, a maior comunidade quilombola da América Latina. Depois da destruição do quilombo, Almeyda percorre o território brasileiro em busca de seu marido, perdido em meio aos confrontos com os colonizadores. A obra de mais de 500 páginas mistura romance histórico com nuances de realismo mágico e foi anunciada como o primeiro de cinco novos trabalhos da autora que serão publicados nos próximos anos.

território de confusão entre prazer e dor. Ursa luta para se reconciliar com sua sexualidade enquanto se debate com uma profunda ferida transgeracional, buscando uma forma de amar e de ser amada que não reproduza os padrões de violência e dominação que marcaram a vida de suas ancestrais. Mas, no emaranhado complexo de bloqueios e repetições da protagonista, se evidencia o alcance do trauma. Muito mais do que relatar essa teia de vivências dramáticas, Gayl Jones mergulha na interioridade dessas mulheres, abrindo frestas para suas emoções conflitantes, seus desejos, culpas, vergonhas e memórias íntimas, traçando uma linhagem brilhante e brutal da exploração sexual e psicológica de mulheres negras.

O livro também foi muito destacado por sua conexão profunda com o blues, gênero musical que atravessa diferentes camadas da narrativa. Na mais evidente, é através da música que Ursa dá vazão à avalanche de emoções que a tomam ao longo da história — em alguns momentos, como uma espécie de cura, em outros, com uma carga autodestrutiva. Mas a densidade, o andamento narrativo e as notas dissonantes que o enredo assume a todo instante também encontram sinergia no blues, ritmo que nasceu na diáspora africana nos Estados Unidos e faz, ao mesmo tempo, uma celebração da vida e um lamento profundo da dor. Jones não recua diante dos aspectos mais sombrios e dolorosos da experiência humana, em uma prosa muitas vezes fragmentada, que reflete a natureza descontínua da memória e do trauma.

No ensaio de Imani Perry para o New York Times, ela descreve sua própria experiência de leitura de Corregidora. “Aos 19 anos, criada no movimento pelos direitos civis, eu tinha sido socializada para ter esperança na liberdade. Gayl Jones respondeu que a esperança não vai nos tirar do medo histórico com o qual convivemos hoje. Aprendi com ela que o terror do agora é um assunto tão importante para a imaginação negra quanto um amanhã especulativamente belo”, relatou.

“O nosso corpo e a nossa pele também são documentos que carregam uma história de luta.”

O curador do mês, Jeferson Tenório, fala à TAG sobre seu encontro com o livro indicado aos associados, a conexão entre narrativas afrodiaspóricas de diferentes lugares do mundo e seu novo livro, De onde eles vêm

Corregidora é uma obra fundamental, que foi aclamada já na época de sua primeira publicação, há 50 anos, mas só agora está sendo publicada no Brasil. Como você entrou em contato com este livro? O que te marcou nessa história e na escrita de Gayl Jones?

Conheci a obra recentemente, após ter lido uma entrevista de Toni Morrison em que ela elogiava a escritora. Acho o tom elegante e ao mesmo tempo coloquial, nos leva para dentro da narrativa. Há uma honestidade e uma profundidade nos personagens poucas vezes vistas na literatura mundial; além disso, Gayl Jones trata a herança da escravidão com complexidade, sem maniqueísmos.

O curador do mês

Nome:

Jeferson Tenório

Nascimento:

1977, Rio de Janeiro (RJ)

Profissão:

Escritor, professor e pesquisador

Duas ou três coisas sobre ele:

1 ORIGENS

Carioca de nascença, o curador do mês é mestre em Literaturas Luso-Africanas pela UFRGS e doutor em Teoria Literária pela PUCRS. Foi professor visitante de Literatura na Universidade Brown, nos Estados Unidos. Hoje, vive entre São Paulo e Porto Alegre.

2 CENSURA

Seu romance O avesso da pele venceu o Jabuti em 2021, foi traduzido em diversos países e sofreu censura em escolas brasileiras pela descrição de cenas de sexo. A obra aborda o racismo estrutural no Brasil pela perspectiva de um homem negro que investiga a morte do pai, vítima de violência policial. Ao tratar da sexualidade, o autor evidencia o potencial corrosivo do racismo nas relações íntimas dos personagens.

3 NOVO LIVRO

No final do ano passado, Jeferson publicou um novo romance, De onde eles vêm. O protagonista, um dos primeiros estudantes a ingressar no ensino superior pela Lei de Cotas, vive sua formação como leitor e seu despertar racial em meio à hostilidade do ambiente acadêmico, movimentando reflexões sobre o direito da população negra de sonhar.

aos livros é mais

Esta é uma narrativa sobre traumas coletivos que atravessam gerações, como a violência de gênero e a memória da escravidão. É uma história bastante dura, em especial para leitores que tenham intersecções pessoais com esses temas. Como você lida, enquanto leitor, com livros que te mobilizam muito emocionalmente?

Corregidora é um livro que resgata a memória da escravidão, sem condescendências, sem anestesia. No entanto a violência que se apresenta não é gratuita porque vem acompanhada de uma profunda reflexão humana. Enquanto leitor, gosto de narrativas que me mobilizam, que me incomodam e que oferecem a possibilidade de aprofundamento.

É a segunda vez que você é curador da TAG! Em 2021, você indicou o livro Sonhos em tempo de guerra, do autor queniano Ngũgĩ wa Thiong’o, um nome que era pouco conhecido pelo público brasileiro, embora fosse frequentemente cotado para o Prêmio Nobel de Literatura. Gayl Jones é outra gigante da literatura que circulou pouco por aqui. Como você vê o diálogo entre o contexto brasileiro e as questões retratadas em obras da literatura africana e afrodiaspórica?

As narrativas negras são parecidas porque viemos de um mesmo processo: diáspora e colonização. Há sempre um diálogo nessa relação, pois as questões em Corregidora falam muito sobre nós brasileiros. Sobre não esquecer os horrores da escravidão, reconhecendo que o nosso corpo e a nossa pele também são documentos que carregam uma história de luta.

Você publicou um novo livro no final de 2024, De onde eles vêm . Entre muitos assuntos, é uma obra sobre a dificuldade em sustentar a proximidade com a literatura em meio a um contexto de precariedade social. Quais possibilidades as ações afirmativas abriram para que a leitura e o acesso ao conhecimento deixassem de ser um luxo no Brasil? Onde ainda precisamos avançar nesse sentido?

De onde eles vêm toca justamente nessa questão: o direito ao encanto, à arte e à leitura. Ou seja, quem tem direito a ler? O acesso restrito aos livros é mais uma estratégia de desumanização. Creio que há outras camadas sociais que precisam ser resolvidas antes da população mais pobre chegar no livro. A desigualdade é o nosso maior problema. Ninguém quer saber de ler de barriga vazia. A leitura é um luxo, mas, em alguns lugares, manter-se vivo e com dignidade é que é um luxo.

MINHA ESTANTE

Primeiro livro que li: Feliz ano novo, Rubem Fonseca.

Livro que estou lendo: Paixão simples, Annie Ernaux.

Livro que mudou minha vida: Dom Quixote, Miguel de Cervantes.

Livro que eu gostaria de ter escrito:

Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis.

O último livro que me fez chorar: Quem matou meu pai, Édouard Louis.

Último livro que me fez rir: Literatura infantil, Alejandro Zambra.

Livro que dou de presente: Terra estranha, James Baldwin.

Livro que não consegui terminar: A montanha mágica, Thomas Mann.

ÁGUA DE BARRELA,

Eliana Alves Cruz

Malê, 322 pp.

Através de gerações de lavadeiras, esse poderoso romance histórico revela as raízes africanas, os traumas da escravidão e a resistência negra no Brasil. Com uma escrita poética e densa, a autora desvela histórias de dor, luta e ancestralidade, conectando passado e presente.

ESTELA SEM DEUS, Jeferson Tenório Companhia das Letras, 184 pp.

Pouco antes das históricas eleições de 1989, Estela migra de Porto Alegre para o Rio de Janeiro, abrindo ao leitor uma trajetória de violências, faltas e desamparos a que ela, a mãe e o irmão são submetidos na relação ambígua da protagonista com a família e com a religião.

CRIANÇAS

DE ATLANTA, Toni Cade Bambara

Darkside, 704 pp. Tradução de Rogério W. Galindo e Rosiane Correia de Freitas

Na obra-prima de Toni Cade Bambara, a aclamada escritora se debruça sobre a sequência de assassinatos que vitimou mais de 40 crianças negras em Atlanta na virada das décadas de 1970 e 80, mobilizando questões sobre as desigualdades raciais e os furos judiciais que marcaram as investigações dos crimes.

SEUS OLHOS VIAM DEUS

livro de Zora Neale Hurston, considerado um dos mais importantes da literatura afro-americana. Através de uma protagonista forte e irreverente, a autora denuncia a violência contra as mulheres e, em particular, as mulheres negras.

THE UNDERGROUND RAILROAD

minissérie de Barry Jenkins, baseada no romance do ganhador do Pulitzer Colson Whitehead. Depois de escapar de uma plantação de algodão, uma mulher escravizada encontra uma ferrovia subterrânea secreta.

AMADA

livro de Toni Morrison, considerado sua obra-prima. A história de Sethe, uma ex-escravizada que recebe uma visita inesperada e reencontra traumas, em uma trama de revelações e lirismo nos EUA do século 19.

LEIA. CONHEÇA. DESCUBRA: Audre Lorde

Nome fundamental da literatura e do pensamento afro-americano, a ativista e poeta laureada de Nova York contribuiu, assim como Gayl Jones, com a articulação sobre a experiência de mulheres negras nos Estados Unidos do século 20, expondo as intersecções entre a violência racial e patriarcal

Nome

Nascimento

18 de fevereiro de 1934, Harlem, Nova York, EUA

Morte

17 de novembro de 1992, Santa Cruz, Ilhas

Virgens Americanas

“Negra, lésbica, mãe, guerreira, poeta.”

Assim se definia Audre Lorde, que dedicou sua vida e sua escrita a lutar contra injustiças de raça, gênero, sexualidade e classe. Filha de imigrantes caribenhos, participou dos movimentos pelos direitos civis nos Estados Unidos e foi pioneira ao discutir interseccionalidade no feminismo antes mesmo de o conceito ser criado. Ao longo da vida, publicou 17 volumes de poesia, ensaios e autobiografia.

Mestre em estudos literários pela Universidade Columbia, trabalhou como bibliotecária durante a década de 1960. Em 1962, casou-se com o advogado Edwin Rollins, com quem teve dois filhos. Em 1968, conheceu Frances Clayton, uma professora universitária que seria sua parceira por mais de 20 anos.

No livro Os diários do câncer (1980), fez um relato íntimo e político sobre sua experiência com o câncer de mama e a mastectomia, confrontando a possibilidade da morte e o peso do silêncio cultivado ao redor da doença.

Em sua produção, articulou experiências pessoais, vivências da coletividade e elaborações políticas mais abrangentes sobre os acontecimentos de seu tempo. Com a coleção de ensaios A Burst of Light (1988), ganhou o National Book Award. Foi também professora universitária e cofundadora de organizações como a Kitchen Table: Women of Color Press, dedicada a promover os escritos de mulheres negras.

No final dos anos 1980, Audre Lorde foi viver em Santa Cruz, uma ilha no Caribe, onde passou os últimos anos de sua vida junto com a socióloga e ativista Gloria Joseph. Faleceu em 1992, aos 58 anos, vítima de um duradouro câncer no fígado.

Não serei livre enquanto alguma mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas.

PARA COMEÇAR

A UNICÓRNIA PRETA

Considerada um marco da poesia de Lorde, essa coletânea instigante e inovadora explora elementos da cultura iorubá e dialoga com entidades africanas, amparando o que Lorde chama de “experiência arquetípica das mulheres negras”.

IRMÃ OUTSIDER: ENSAIOS E CONFERÊNCIAS

Uma coletânea que se tornou canônica nos estudos feministas, queer e antirracistas. Em ensaios tão pessoais quanto políticos, a autora parte da experiência de estar fora da norma e propõe análises precisas para a transformação da sociedade.

ZAMI: UMA NOVA GRAFIA DO MEU NOME, UMA BIOMITOGRAFIA

Nessa obra que combina história, biografia e mito, os primeiros passos da jornada de Lorde até a “casa de si mesma”, em uma trajetória marcada, do início ao fim, pela conexão com outras mulheres.

PARA SE APAIXONAR DE VEZ OBRA-PRIMA

Espaço da comunidade

Olá, Madame Tag.

Não escrevo em busca de um conselho, embora esses sejam sempre muito bem colocados! Humildemente, venho agradecer pela experiência maravilhosa que é ser uma tagger, ou quase. Digo quase porque não sou assinante, o tagger de fato é meu companheiro. Então compartilhamos a maravilha de ser surpreendidos todos os meses por você! Mas, no mês de julho/2024, A árvore mais sozinha do mundo nos proporcionou lembrar, com muito carinho e melancolia, da nossa infância! Assim como você, sou gaúcha, mas sou do centro do estado. Então a história contada tão linda e gentilmente pela Mariana Salomão Carrara nos prendeu e nos comoveu. Durante a leitura, foi como se estivéssemos, de novo, com as mãos meladas pelas folhas do fumo. Embora o fumo nunca tenha sido o sustento da minha família, foi e ainda é o dos meus (agora poucos) tios e primos. Eu vi no personagem Carlos a mesma doença que atingiu o meu pai, também Carlos. O meu Carlos estava a criar raízes e virar árvore, mas foi levado antes pelos restos das folhas de fumo que ficaram de lembrança em seus pulmões. Muito obrigada pelas recordações, por me lembrar de todo o amor que o meu pai tinha e nos deu. Pelo menos até começar a virar árvore.

Querida quase tagger, Ainda que o associado oficial seja seu companheiro, você acaba de ser promovida simbolicamente a tagger, pois seu relato materializa muito do que nos move a fazer nosso trabalho todos os dias: a dimensão afetiva inestimável do encontro entre um livro e um leitor que precisava daquela história.

Se há rastros de uma realidade brutal que coincidem no livro de Mariana Salomão Carrara e na história da sua família, também é possível traçar outros pontos de confluência e fazer surgirem raízes mais profundas e folhas novas na memória tão bonita que você tem do seu pai. Obrigada a você por compartilhar essa história com a nossa comunidade.

Um novo mês de aniversário da TAG bate à porta, e vocês não perdem por esperar o que estamos preparando.

“A revelação mais brutalmente honesta e dolorosa do que

ocorreu e ainda ocorre na alma de homens e mulheres negros.”

Ambientado entre o fim dos anos 1940 e 1970, Corregidora conta história da personagem Ursa Corregidora, mulher negra, cantora de blues, no Kentucky. Ao mesmo tempo que busca conquistar espaços para desenvolver sua carreira e viver de sua arte, Ursa atravessa relacionamentos tumultuados e ocasionalmente violentos. Em uma das agressões sofridas, passa por uma histerectomia e precisa lidar com a frustração e a angústia por não ser capaz de atender ao apelo de suas antepassadas para “dar à luz novas gerações”, o que seria fundamental para continuar a tradição oral que evitaria o apagamento da realidade da vida sob a escravatura. Contar histórias, portanto, se torna a sua grande missão, e é nessa prática que ela busca superar seus traumas geracionais e as tristezas do presente. Descoberto e editado por Toni Morrison, Corregidora é o romance de estreia de Gayl Jones, publicado em 1975.

As capas de livro frequentemente são verdadeiras obras de arte, não é mesmo? Recortando a página ao lado, você pode transformar este projeto gráfico em um item exclusivo, seja como elemento decorativo ou colecionável. O verso também é especial, com uma linda citação do autor para complementar a imagem.

Agora é só soltar a criatividade! E, se compartilhar nas redes, não se esqueça de nos marcar no @taglivros — adoramos ver as ideias de vocês ganhando vida.

Gayl Jones

corregidora

Gayl Jones

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