"Invasores del Norte" TAG Inéditos - Junho/2025

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TAG INÉDITOS

Invasores del Norte

TAG — Experiências Literárias

Tv. São José, 455 - Porto Alegre, RS (51) 3095-5200 (51) 99196-8623

contato@taglivros.com.br www.taglivros.com @taglivros

Publisher Rafaela Pechansky

Edição e textos Débora Sander

Colaboradoras Laura Viola e Sophia Maia

Designer Bruno Miguell Mesquita

Capa Anderson Junqueira

Revisores Antônio Augusto e Liziane Kugland

Impressão Impressos Portão

Olá, tagger

Ahistória do continente latino-americano é gigante, complexa e cheia de nuances que desconhecemos. Também é cheia de violência e dores dilacerantes — que, não raro, inspiraram algumas das narrativas mais fortes e belas da história da literatura. E, para nós, essa é a melhor coisa que se pode fazer com uma dor: inventar um jeito de contá-la, materializar suas garras e feições monstruosas, simbolizá-la para que, assim, ela seja ouvida e perca o poder de nos paralisar. Neste mês, convidamos você a mergulhar em capítulos duros da história do México através da prosa inventiva e poética de Isabel Cañas, uma grata novidade da literatura gótica latina.

Parte mexicana, parte estadunidense, a autora já viveu em diferentes países, sempre consciente de sua outridade. Em 2022, se lançou na escrita resgatando suas raízes latinas no romance de estreia The Hacienda; foi duplamente indicada ao Prêmio Goodreads e também ao Bram Stoker Award, uma premiação especializada em literatura de horror.

No livro que você acaba de receber, Invasores del Norte, Cañas transita com habilidade por um universo de monstros metafóricos e reais para nos contar sobre a invasão do Tejas (atual Texas) pelos Estados Unidos, no século 19. Ao temperar essa trama com uma envolvente e terna história de amor e com as fragrâncias fascinantes da ancestralidade cultural mexicana, a autora mostra que é possível encontrar, nos horrores das dores coletivas e individuais, brechas de resistência que nos permitem resgatar nossa história e afirmar nossos laços com a vida.

Que hagan todos una buena lectura!

Experiência do mês

Seu livro além do livro: para ouvir, guardar, expandir, crescer

Mimo

Odara tradicional ou Odara branco? Quem estava por aqui em novembro de 2024 já sabe, mas esse delicioso dilema é um clássico da história da TAG. No final do ano passado, os associados receberam como mimo um alfajor da Odara, uma empresa gaúcha que, assim como a TAG, sofreu impactos profundos com as enchentes de maio. O ano que se passou foi marcado por resiliência e reconstrução, duas coisas que só são possíveis quando unimos forças. Mas, se nossa trajetória se entrelaçou à da Odara em um momento cheio de dor, também há infinitas delícias nessa parceria. Por isso, neste mês que reverbera encontros bonitos, convidamos você a entrar nessa doce disputa entre dois sabores sensacionais do alfajor.

PODCAST

Você está mais do que convidado para seguir com a gente no nosso bate-papo pós-leitura, para conferir uma entrevista exclusiva e seguir ampliando suas percepções sobre o livro do mês. Vem!

Projeto gráfico

Para ensaiar a entrada na paisagem desta história antes mesmo de abrir o livro, o designer Anderson Junqueira desenvolveu uma capa cheia de elementos da região do então norte do México — atual Texas. Com tons sombrios e contrastes marcantes que sugerem a tensão presente na narrativa, a capa leva nosso olhar para o horizonte de alívio e encantamento desta obra: o romance arrebatador entre os protagonistas.

Visite o app para saber mais sobre o livro e participar da comunidade.

Que tal um mergulho sonoro na atmosfera mexicana do livro deste mês? Acesse nossa seleção musical exclusiva para aprofundar sua imersão nesta história incrível!

“Invasores del Norte navega com elegância por uma multiplicidade de gêneros para entregar uma história envolvente, que consolida Cañas como uma das melhores novas vozes que preenchem a lacuna entre romance e ficção especulativa.”

- NPR

“Mesmo que você ache que terror ou esse tipo de mundo especulativo não sejam a sua praia, esta é uma narrativa cativante para entrar no gênero. Este romance tem muito a oferecer para qualquer leitor que esteja procurando algo assustador, picante ou alguma coisa entre os dois.”

- Barnes & Noble Reads

MÉXICO, SÉCULO XIX.

de um fazendeiro rico, sempre representados tanto pelos invaanglo-americanos quanto por algo igualmente criatura misteriosa que a atacara Néstor, seu amor de infância, fugindo de sua dor, assombrado por dentes afiados. Quando os Estados México em 1846, seus caminhos novamente: Nena é uma curandeira luao pai seu valor e fugir de um arranjado; Néstor, integrante de uma Mas o reencontro e as feridas serão ofuscados pelo retorno das e, a menos que enfrentem junhistória quanto os horrores à frente, sobrevivam para ver o amanhecer.

Isabel Canãs

INVASORES DELNORTE

Como filha de um fazendeiro no México dos anos 1840, Nena sabe bem o que são monstros — há muito tempo sua casa é ameaçada pelas tensões com os colonizadores anglo-americanos do norte. Mas algo ainda mais sinistro espreita o rancho à noite, algo que suga o sangue dos homens e os deixa para morrer.

Algo que, nove anos antes, atacou a própria Nena.

Por acreditar que Nena esteja morta, desde então Néstor foge de sua dor, indo de rancho em rancho trabalhar como vaqueiro. Mas não há bebida que o afaste dos terrores noturnos ou mulher que apague de sua mente a lembrança do amor de infância.

Quando os Estados Unidos atacam o México em 1846, os dois são repentinamente reunidos no caminho da guerra. Mas o choque do reencontro — e a raiva de Nena por ter sido aparentemente abandonada — logo é ofuscado pelo surgimento de um pesadelo encarnado.

Por que ler este livro

Um best-seller do USA Today que entrelaça o sobrenatural e o histórico no México do século 19, onde a violência de invasores estadunidenses e vampiros míticos assombram as comunidades rurais. Com descrições belas e imersivas, personagens profundamente verdadeiros e uma história de amor arrebatadora, a autora constrói uma narrativa rica em atmosfera, com reflexões fundamentais sobre ancestralidade cultural, neocolonialismo, resistência, o poder das tradições e as formas como o amor pode sobreviver aos horrores da vida e nos salvar do medo.

“Viver

junto de fantasmas é parte da realidade de ser uma pessoa latina nos Estados Unidos.”

Com dois livros publicados e um a caminho, Isabel Cañas tem se consagrado como um dos novos nomes do gótico latino

por Mia Sodré

Vivendo entre dois mundos, Isabel Cañas, pseudônimo de Isabel Lachenauer, decidiu resgatar a herança de sua infância no México após passar sua lua de mel no país e começar a recordar histórias, lugares e sentimentos ali vividos. Parte mexicana, parte estadunidense, ela já morou em diversos países — como a Escócia, o Egito, a Turquia — e agora vive em Nova York, onde escreve sua tese de doutorado sobre literatura islâmica medieval.

Tendo consciência de ser o Outro, tropo muito trabalhado no gótico, Isabel decidiu resgatar sua ascendência latina para costurar duas de suas paixões: a memória e o protagonismo de mulheres não brancas.

Invasores del Norte, descrito pela autora como um “western sobrenatural”, usa o cenário do colonialismo estadunidense no México para contar a história de duas personagens que carregam em si muito das tradições mexicanas do século 19: Nena, a curandeira, e Néstor, o vaqueiro. O romance entre eles é central no livro e perpassa questões de classe, amizade e amor em meio ao Tejas de 1846. Nena e Néstor precisam lidar com as lembranças do passado enquanto a guerra avança e com a ameaça — tanto dos Anglos quanto da misteriosa e aterrorizante criatura noturna que causa o susto na população — fica cada vez mais próxima.

Além disso, Isabel também se apropria da iconografia do vampiro para criar uma monstruosidade que assola a escuridão — e que é em si mesma um duplo do colonizador. Enquanto os Anglos exploram as terras de dia, travando suas batalhas e dizimando a população local, o vampiro alimenta-se do sangue e da energia dos habitantes à noite, sugando sua vitalidade.

Em entrevista, ela disse que, como uma mexicano-americana, aprendeu a esperar por assombrações — desde a infância, com o Día de los Muertos e sua iconografia sombria. Na importante data cultural mexicana, aqueles que a celebram abrem seus lares para receber os espíritos dos entes queridos que os deixaram, fazem altares, oferendas e decoram tudo com fotos dos falecidos, comida e recordações. “Tiramos tempo das nossas vidas para convivermos com as memórias e às vezes com as presenças dos familiares que já partiram”, disse Isabel para a Electric Literature.

As relíquias familiares das memórias de lutas e desconfortos de se viver em uma situação liminar, “ni de aquí, ni de allá”, é algo que muitos latinos enfrentam nos Estados Unidos. Isabel, apaixonada pelo subgênero gótico desde a juventude, não encontrava a si mesma naqueles livros. Inspirada por histórias de alteridade, classe e etnia, como O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Brontë) e Amada (Toni Morrison), a escritora decidiu ser, ela mesma, a voz que queria ter ouvido na adolescência, especialmente após o incentivo do best-seller Gótico mexicano, livro de Silvia Moreno-Garcia que também se vale de pontos tradicionais da cultura mexicana para contar uma história diferente e mais plural.

A partir de então, Teresa dedicou sua vida a curar as pessoas do rancho e outras que vinham visitá-la, atraindo multidões que levavam suas enfermidades aos pés da Santa de Cabora. Não demorou para que ela se tornasse um ícone também político naqueles tempos turbulentos de revoluções. Ela inspirou muitas pessoas a lutarem, cuidando delas física e espiritualmente. Foi exilada do México aos 19 anos pelo ditador Porfirio Díaz, por ser considerada a garota mais perigosa do país. Além do governo, Teresa também foi perseguida pela Igreja Católica, cujos clérigos a denunciaram como herege e praticante do mal, e ameaçaram excomungar qualquer pessoa que procurasse a ajuda da curandera.

A medicina natural de curanderos faz parte da cultura tradicional das fronteiras mexicanas. Os tratamentos mesclam o catolicismo com a sabedoria das plantas, herdada dos povos originários, formando, dessa maneira, uma espécie de cristianismo místico. A figura da curandera é ambígua, pois era em geral uma mulher muito importante na comunidade, numa época em que mulheres tinham a função social de casar e ter filhos — como é o conflito de Nena, que tenta provar para seu pai o valor de seu trabalho no rancho, tentando escapar de um casamento por conveniência.

As práticas do curanderismo consistem em diversas rezas, pedidos de ajuda a santos, a utilização de plantas medicinais, ossos e ovos, além de estados de transe. No curanderismo mexicano, existem quatro tipos de doenças místicas: empacho, uma disfunção estomacal causada por excesso de emoção; mollera caída, algo próximo à nossa cultura popular, relacionada à crença de que as moleiras dos bebês podem afundar ou amolecer devido a questões espirituais e energia pesada de adultos perto dos bebês — uma doença levada muito a sério, que causaria danos no corpo físico e poderia levar à morte caso não tratada —; mal de ojo, o mau-olhado, quando se absorve a energia negativa de outra pessoa; e o susto, uma doença que ocorre após um acontecimento severo no qual o indivíduo assustou-se a ponto de enfraquecer o espírito, hoje em dia entendido também como proveniente do choque emocional ao viver experiências traumáticas. Na trama, é uma epidemia de susto que assola os rancheros vítimas dos vampiros. Ainda tal qual a Santa de Cabora, uma das plantas utilizadas na história é o alecrim, que Nena carrega consigo contra o susto, tida como uma erva com propriedades de limpeza energética e proteção.

Da mesma estante

Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês, para quem quiser continuar no assunto

O MONSTRO NA LITERATURA

Três obras clássicas em que criaturas monstruosas corporificam o horror da experiência humana e movimentam reflexões profundas sobre as estruturas da sociedade

FRANKENSTEIN,

Mary Shelley

Darkside, 304 pp.

Tradução de Márcia

Xavier de Brito

O clássico da ficção científica usa a criatura do Dr. Frankenstein para simbolizar e movimentar temas como rejeição social, responsabilidade científica e a dualidade do monstro. Abandonada e marginalizada, a criatura reflete a solidão e a crueldade da sociedade.

DRÁCULA,

Bram Stoker

Penguin-Companhia, 648 pp.

Tradução de José Francisco Botelho

O vampiro Conde

Drácula pode ser visto como uma metáfora para o medo do “outro”, representando as ansiedades vitorianas em relação à sexualidade, à imigração e à corrupção moral. A obra explora como o monstro desafia as normas sociais e religiosas da época.

A METAMORFOSE, Franz Kafka

Companhia das

Letras, 96 pp.

Tradução de Modesto Carone

Nesse pequeno grande livro, Gregor Samsa acorda transformado em um inseto monstruoso e se torna objeto de repulsa pela própria família. Aberta a múltiplas interpretações, a obra suscita uma série de reflexões críticas sobre a sociedade, da alienação à rejeição social.

O LABIRINTO DO FAUNO

Filme de Guillermo del Toro no qual a protagonista mistura fantasia e realidade para lidar com o contexto da Guerra Civil Espanhola.

O MORRO DOS VENTOS UIVANTES

Livro de Emily Brontë que explora o amor impossível, permeado por tensões de classe e etnia, entre dois personagens criados como irmãos, Cathy e Heathcliff, numa localidade isolada na charneca.

PENNY DREADFUL

Série que explora o romance entre uma sacerdotisa e um cowboy que lutou nas Guerras Indígenas nos Estados Unidos.

“Nunca lhe confessei o meu amor com palavras, mas se os olhos falam, o último dos tolos poderia verificar que eu estava totalmente apaixonado.”

– EMILY BRONTË

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