A JU S TA R O S PA S S A D O S
abastados produtores de café da ilha do Fogo, que exercia o ensino há quinze anos, e já tinha passado por diversas ilhas, Santiago, Sal, Brava, e há dois anos tinha sido colocado na Boa Vista. Fazia do ensino um verdadeiro sacerdócio. Todos se sentaram na larga varanda, saboreando as bebidas servidas e colhendo a frescura daquele fim de tarde. Valda, uma das criadas de dentro de casa, sussurrou a Dona Clarisse que o jantar estava pronto a ser servido. Levantaram-se e entraram na sala. Clarisse Murtosa sentou-se num dos topos da mesa, à sua direita, o padre Francisco e o professor, à sua esquerda, o administrador e a sua sobrinha Beatriz e, no outro topo, António Murtosa. Durante o jantar, as conversas fluíam sobre diversos aspectos da vida da ilha, e numa delas, António começou por perguntar ao administrador: – Então como é que a administração pensa resolver as consequências que este grave problema da seca está a gerar na nossa já tão depauperada agricultura. – Meu caro, a administração pouco pode fazer, primeiro porque não tem meios económicos, depois porque o problema não é assim tão grave. Padre Francisco interrompeu: – O senhor sabe que no passado recente morreram cerca de setenta pessoas nesta ilha devido à fome? – Claro que sei. Mas podemos agradecer a Deus por nos ter poupado de uma desgraça idêntica à que ocorreu na ilha de Santiago; foram mais de seis mil almas que se finaram e, segundo informações que disponho, se a seca se
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