

O Sol a Lua e Maria Pinheiro


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título: O Sol e a Lua
autora: Maria Pinheiro
edição: Edições Vírgula® (Chancela Sítio do Livro)
revisão: Mário Potes
arranjo de capa: Ângela Espinha
paginação: Paulo Resende
1.ª edição
Lisboa, agosto 2025
isbn: 978‑989 9284 04 3
depósito legal: 550367/25
© Maria Pinheiro
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Maria Pinheiro
O Sol e a Lua Preview
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Capítulo 1
Amor. Algo que sentimos quando gostamos de certa forma tão intensamente de algo ou alguém que não conseguimos viver sem. Pelo menos é isso que penso.
Estamos no carro a caminho da casa da minha avó Lisa, na Califórnia, mais especificamente em Long Beach. São mais de seis horas de viagem. Tenho de ficar presa dentro de um carro, sentada numa posição um tanto ou quanto desconfortável e com as pernas dormentes, a ouvir o meu irmão mais novo, Nick, de doze anos, sempre a perguntar “Já chegámos?” “Estamos perto?” “Já estamos a chegar?”, como se, magicamente, em 1 minuto nos tivéssemos teletransportado. E o meu irmão mais velho, Josh, que está sentado do seu lado direito, à minha frente, a ouvir música nos seus fones,
Mar ia Pinheiro
o que, sinceramente, não vale de nada, pois aquilo está num volume que até os surdos conseguiriam ouvir.
À esquerda está a Summer, a minha irmã mais velha.
Ao meu lado está o Oliver a ler um livro, e sinceramente não sei como é que ele consegue ler com todo este barulho. Ele é o irmão do meio, um ano mais velho que eu. Deve ser algum tipo de magia de irmão do meio.
Mesmo que eu já suporte esta algazarra há quinze anos, ainda me faz confusão. O meu pai vai a conduzir, e a minha mãe está ao seu lado a ouvir as notícias na rádio, muito serenos. Acho que depois de criarem cinco filhos, o cansaço é tanto que já nem sequer se dão ao trabalho de ficarem irritados, não têm forças para isso.
Eu estou a ouvir uma playlist que fiz para as viagens grandes, como esta. Os géneros musicais são minimamente diversos, contendo apenas músicas sobre amor, o que me fez pensar o que é exatamente o amor de que tanto falam, e músicas de verão.
A temperatura é amena e está um sol radiante, sem sinal de muitas nuvens, apesar de ainda ser um pouco cedo. Vários pensamentos me passam pela cabeça, principalmente o facto de chegar à casa da minha avó e não o ver. Não ver o seu rosto, alegre, com um sorriso até aos olhos.
Não sei quando regresso à realidade, mas, subitamente, a Summer está a gritar com o Nick para se calar. Ela é muito pacífica, mas quando a irritam, não há forma de a acalmar. Pelo que percebi, o que
gerou esta confusão foi o facto de que estava a dar uma música que o Nick gosta muito na rádio, então começou a cantar muito alto e a irritá-la ao cantar no seu ouvido. Ele já devia saber que não pode brincar com o fogo… Porém, a minha mãe conseguiu suavizar a situação.
Entretanto, o Josh não ouviu nada do que tinha acontecido. O mundo podia estar a acabar que ele continuaria a não ouvir nada. O Oli ainda está a ler, embora agora já estivesse a acabar o livro. Provavelmente nas últimas sessenta páginas.
Vejo as horas. São 9:40h. Ainda faltam quatro horas para chegarmos. Penso no que posso fazer para me distrair. Nada. Não me consigo lembrar de nada. Limito-me a olhar para a estrada e observar. Veem-se alguns carros, caravanas, um ou outro autocarro e pequenas plantações. Daí a uma hora, o meu pai para numa área de serviço.
Aproveitem agora se quiserem ir à casa de banho, não irei fazer mais paragens! Quem quiser comer alguma coisa vem comigo, os outros que não quiserem nada, podem ficar aqui no carro, ou nos arredores. Vamos — diz ele.
O Oli e eu saímos do carro e encostámo-nos ao exterior do veículo enquanto observávamos todos os outros a seguirem o meu pai, famintos.
Já acabaste de ler o teu livro? pergunto de maneira a que não fiquemos dez minutos calados a olhar para o nada.
Mar ia Pinheiro
Sim. O final foi mesmo como eu esperava — confessa.
Ai sim? Então o que é que esperavas?
Bem, eu sempre soube que o Mr. Darcy gostava da Elizabeth desde o momento que eles se conheceram. E também sabia que no fundo ela gostava dele, mesmo “odiando-o”. — traça parênteses com os dedos — E no fim, casaram-se. Como eu esperava. Eles eram perfeitos um para o outro! — Ele continuaria a falar animadamente sobre o seu livro, mas fomos interrompidos por barulhos que vinham de dentro do carro. O meu coração parou. Parecia aquelas cenas de filmes em que de repente se ouvem barulhos e sai um monstro de dentro de algum sítio. O Nick abre a porta do veículo e, maravilhado, pergunta:
— A sério? — inquire, tocando em todo o corpo para sentir a sua pele. — Então isto é que é estar morto. — Faz uma pequena pausa. — Pensei que o céu tivesse um cheiro melhor. — Encolhe o nariz, Preview
Onde é que eu estou? Isto é o céu? Nick? — pergunto um tanto aliviada e ainda um bocado assustada. Deixo escapar um suspiro de alívio e percebo que o Oli também. — Tu não tinhas ido? Pergunto, obviamente confusa. Estava tão exausta da viagem que nem sequer tinha reparado que ele não estava com os outros. — Sim, claro. Isto é o céu e nós estamos aqui porque o carro despistou-se e morremos respondo ironicamente à sua pergunta.
franzindo-o e colocando a mão de forma a tapá-lo. Realmente sinto um cheiro a qualquer coisa estragada, como se toda a comida estragada do mundo estivesse mesmo ao nosso lado. Olho ao meu redor e percebo que estamos estacionados ao pé de um caixote do lixo, o que explica o terrível aroma. O resto da minha família chega logo a seguir e continuamos a nossa longa viagem.
A Summer está quase a atirar a sua cabeça pela janela, já não consegue suportar o barulho. Mesmo depois de ter pedido que o Nick se calasse, ele continua e, vou admitir, também já começo a ficar cansada, não só dele, mas também de ficar neste cubículo. Parece que ao passar do tempo o ar começa a ficar cada vez mais escasso e que começamos a ficar mais apertados. Cá estamos nós em Long Beach! Só mais dez minutos e estamos na casa da avó! — anuncia o meu pai. Finalmente!! Ouve-se o Nick a gritar. Tirou-me as palavras da boca. Não aguento estar presa mais tempo. Se depois desses dez minutos não chegarmos a casa da avó, eu não sei o que faço. Por outro lado, começo a sentir o coração a bater mais depressa, porque não quero mesmo nada chegar e não sentir a sua presença na casa. É como se tivessem tirado toda a essência ao lugar e já não fosse o mesmo de antes.
— Já não era sem tempo — murmura a Summer. Conseguimos ver as milhares de palmeiras e a praia cheia de pessoas. Crianças a correr de um lado para o outro atrás de uma bola, adolescentes a jogar voleibol
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e velhinhos a passear desde uma das extremidades da praia até à outra. Já tinha saudades desta cidade. Não posso negar que sou feliz em São Francisco, no entanto, nada se compara à velha Long Beach. A minha verdadeira casa. Passei quase toda a minha infância aqui. Tinha vários amigos e ia à praia todos os dias com os meus avós ou com os meus irmãos. É pena que já não seja como antes. Sei que vou parecer uma velhinha a dizer isto, mas quem me dera voltar atrás no tempo e reviver cada momento como se fosse o último. Porque, realmente foram. Pelo menos com ele. Escapa uma lágrima da minha cara.
Passamos pelo portão de entrada da casa da minha avó e a sua enorme habitação está tal e qual como da última vez que a vi.
A minha irmã aproxima-se de mim e, apontando-me o dedo, diz: Preview
Ao sairmos do carro vejo o seu cãozinho, Bobby, de que tanto me falou, a correr de um lado para o outro, com o rabinho a abanar de felicidade. O Bobby é um Golden Retriever bebé, ainda só tem 6 meses. A minha avó dissera que o tinha adotado para não se sentir tão sozinha. Imagino como não têm sido estes meses, ainda mais para uma pessoa que era tão próxima dele…
O Bobby é realmente um anjinho na sua vida. Toda esta animação com certeza traz um brilho especial à casa.
Quando voltar mos, vais tu ao lado destes dois! Aponta para o Nick e o Josh.
Porque é que tenho de ser eu? — pergunto, revirando os olhos como forma de demonstrar o meu desagrado.
Se não quiseres, eu digo ao Oli que ele será a próxima vítima — responde ela.
Obrigadaaaa! — Não seria capaz de ficar um segundo que fosse ao lado deles. Se ficando no banco de trás era o que era, mais perto então nem consigo imaginar. Por isso, deixo esse serviço para o meu irmão, até porque ele fica tão concentrado a ler que nem se dá conta de nada. Uma bênção, posso dizer.
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Capítulo 2
A minha avó está à porta de casa. É uma senhora de altura média, alguns centímetros mais baixa do que eu, ainda muito atlética e ativa para a idade, de olhos castanhos e cabelos pintados de castanho escuro. Sei disto, porque quando me mostrara fotografias de quando era mais nova, tinha os cabelos loiros como o trigo.
Sorri o máximo que pode. Acho que já não a vejo sorrir desde antes do falecimento do meu avô, há uns meses. Não a vejo desde o verão passado, mas quando fazíamos videochamadas não estava assim tão sorridente. Gosto de a ver assim, mesmo que saiba que no fundo ainda dói. O meu ânimo aumentou drasticamente apenas por aquilo, vê-la sorrir. Deve ser alguma das magias do Bobby.
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Olá, avó — dizemos todos em coro e vamos a correr dar-lhe um abraço. Tinha muitas saudades dela. Sempre foi muito carinhosa e protetora connosco. Melhor avó que ela não existe! Olá, meus queridos! Estão maiores que na última vez que vos vi!
É verdade, o Oli deu um salto enorme, cresceu uns bons dez centímetros desde o verão passado. E posso admitir que o Nick também cresceu uns bons cinco centímetros.
Bom dia, mãe — diz o meu pai dando um abraço à minha avó.
Bom dia, Lisa! Está tudo bem consigo? — questiona a minha mãe.
Vou a correr para o meu quarto. Posso já não ser uma criança, mas a minha alma de criança ainda está presa ao meu corpo. Subo as escadas muito rapidamente, mesmo com uma mochila e uma mala nas mãos. Quase atropelo o Bobby que está deitado num dos degraus a brincar com um dos seus brinquedos. Assim que abro a porta, um aroma a lavanda apodera-se do local. Largo as minhas coisas no chão. Preview
Bom dia. Sim, está tudo bem. E com vocês aqui, ainda vai ficar melhor! Oh, como eu tinha saudades vossas! — Damos novamente um abraço muito apertado e sinto-me mais segura, de certa forma. É como se, com eles, soubesse que tudo ficaria bem.
O quarto está diferente. Sinto que sim. Falta alguma coisa, mas não sei bem o que é. Olho para a parede meticulosamente. Inspeciono cada centímetro, cada átomo do meu quarto. Quando finalmente penso que estou apenas a delirar, percebo. O quadro com uma fotografia minha com o meu avô que outrora estava ali pendurado, agora já não está. Sinto um aperto no coração. Sabia que este lugar me ia trazer recordações, mas não esperava que fosse logo assim que chegasse. Era a minha fotografia preferida com ele.
Tento não me questionar sobre o paradeiro da fotografia e volto a agarrar na minha mala. Coloco-a mais próximo da cama e começo a tirar as roupas do seu interior. Ao arrumar as minhas coisas vejo a Cindy, uma boneca que o meu avô me tinha comprado quando fiz sete anos. Começam a sair lágrimas dos meus olhos, a respiração está cada vez mais pesada e o coração cada vez mais apertado. Pensava que já tinha superado minimamente a sua morte, a ponto de não chorar a cada vez que penso nele, contudo acho que isso é decididamente impossível. Superar a morte de uma pessoa muito próxima é impossível. Ainda mais a morte do meu avô, que sempre foi um dos meus melhores amigos! Volto a colocar a boneca do seu lugar. Corro lá para fora, ainda mais rapidamente de que quando subi, de maneira a apanhar algum ar fresco, porém olhava ao meu redor e tudo o que conseguia ver eram as nossas memórias. Esta casa era o principal sítio com memórias. Tudo.
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Tudo me fazia lembrar dele. A este ponto já quase não conseguia respirar. Chego ao exterior. Faço uma inspiração profunda e depois tento enxugar as lágrimas com os dedos. Fico ali em pé. Sinto os minutos a passar e é como se tivessem passados dias. Quando sinto que lentamente me estava a recompor, descalço-me, sento-me na borda da piscina e coloco os pés dentro da água. Este verão vai ser muito estranho sem ele. Era ele que nos levava a vários lugares muito divertidos, era ele que aceitava fazer coisas malucas connosco. Fico sentada, abanando os pés lentamente dentro de água e observando formarem-se pequenas ondinhas na piscina.
Oiço alguns sons. Do outro lado da vedação, avisto o neto do vizinho da minha avó, o Dylan. Por outras palavras, o meu melhor amigo. Tem dezasseis anos, é uns meses mais velho que eu, cabelo loiro e olhos verdes. É muito simpático, astuto e engraçado. É o meu melhor amigo desde que tenho cinco anos.
Como conheci e me tornei melhor amiga do Dylan
Eu e o Dylan conhecemo-nos no Colorado Lagoon. Eu tinha chegado há pouco tempo do Brasil e não conhecia ninguém, não tinha amigos além dos meus irmãos e, como é óbvio, era nova na vizinhança. Naquele dia os meus irmãos tinham ido com os meus avós ao cinema e apenas eu e o Nick é que ficámos com os nossos pais.
Como ele apenas tinha dois anos, ainda não podia brincar comigo, então estava sozinha. O Dylan estava sentado no baloiço, também sozinho. Comia uma sandes e baloiçava-se muito lentamente. Aproximei-me dele e sentei-me no baloiço ao lado. Fiquei a observá-lo comer a sandes por uns segundos e depois perguntei se estava saborosa. Ele parecia muito tímido e não me respondeu de momento.
Sim. A minha mãe tem outra guardada se quiseres — declarara e olhara para mim pela primeira vez desde que tinha chegado.
Não, obrigada. — Ficara uns minutos calada. Sou a Maddie. Porque é que estás aqui sozinho? perguntara-lhe, olhando para os outros miúdos que estavam a brincar no escorrega e para os que estavam espalhados pelo parque a brincar com carrinhos e aviões de papel.
Eu não tenho… amigos. Ninguém gosta de brincar comigo, então fico aqui sentado. Ah, e eu sou o Dylan. Por uns momentos ficara quieta. Porém, de seguida, levantara-me e perguntara:
Queres vir brincar comigo, Dylan?
Ele olhara-me muito espantado e feliz, mas disse:
Não precisas de estar a fazer isso por pena.
— Ei, tu achas mesmo que conheço alguém que está aqui? Vem, vamos jogar às escondidas — dissera, agarrando-lhe a mão e puxando-o. Preview
Mar ia Pinheiro
Brincámos a manhã inteira até eu ter de ir embora. Ao ir ter com os meus pais vi que tinham também feito uma amizade. Ficara parada, ainda a uma certa distância a observar. Estavam a conversar com uma senhora que eu obviamente desconhecia. A sua criança devia estar no parque, pensei. Só tinha de saber quem era. Atrás de mim vinha o Dyls.
Mãee! Correra e fora ter com a senhora que estivera a falar com os meus pais. Ela era a mãe do Dyls, pensei. Só pode ser.
Vamos para casa, querido? — perguntara a mãe dele. Definitivamente era.
Sim — dissera ele, muito feliz.
Foi bom conhecer -vos, vemo-nos por aí — falou para os meus pais.
Aproximara-me deles e perguntara se já conheciam a senhora. Responderam-me negativamente. Que tinham acabado de a conhecer. Fomos para casa e no dia seguinte uma senhora tinha batido à porta para nos dar as boas vindas ao bairro. Coincidentemente a senhora era a mesma que falara com os meus pais no dia anterior. Acabei por descobrir que éramos vizinhos. Desde esse dia, o Dyls e eu ficámos sempre juntos a brincar e tornámo-nos melhores amigos. Estudámos na mesma escola, éramos da mesma turma e fazíamos tudo juntos.
Para ser sincera, tive uma paixoneta nele quando era mais nova mas desvaneceu-se quando me tive de mudar para São Francisco aos doze e fiquei todos estes anos sem o ver. Temos falado todos os dias, todavia já não o vejo pessoalmente desde a mudança, apesar de todos os anos vir para casa da minha avó. Ele também se mudou, mas para o Connecticut e já não vem a casa do avô desde então, porque é muito longe (são cerca de quatro mil e seiscentos quilómetros), o que explica o porquê de já não o ver pessoalmente há tantos anos.
Vira-se na minha direção, semicerra os olhos e diz: Maddie? És tu? Da última vez que te vi estavas mais alta! — Aqui está o velho Dyls, sempre com as suas piadas sem piada. Hum, claro. Agora sou uma velhinha para diminuir de tamanho. Não chegou ainda à conclusão de que ele é que cresceu demasiado. Está, pelo menos, uns vinte centímetros mais alto. Sim, sou eu. E não, não estava mais alta, tu é que eras mais baixo! Estás tão diferente! — Deixou o cabelo crescer e já não usa aparelho. Não que eu não soubesse disso, fazemos videochamadas todos os dias, mas mesmo assim, pessoalmente é sempre mais “chocante” de alguma maneira. Está mais…bonito. — Estás mais pálido. Já há muito que não vais à praia, não?
— Pois, é normal estar diferente. Já não nos vemos há três anos! Tu também estás muito diferente. E não, já não vou à praia há um ano ou assim. — Fica uns segundos em silêncio. — Espera um segundo. — Salta
Mar ia Pinheiro
por cima da vedação, aproxima-se de mim e dá-me um abraço. Sentir os seus braços pela primeira vez depois de tanto é muito reconfortante. Faz me querer voltar ao passado. Aos bons velhos tempos.
T inha tantas saudades! Porque é que não me avisaste que vinhas?
Desculpa. Mas queria fazer uma surpresa!
Chegaste há quanto tempo?
Dois dias. — DOIS DIAS SEM ME DIZER NADA???!!! Tento ficar chateada, mas isso é completamente impossível. Estou muito feliz para isso.
Temos tanto para pôr em dia!
Vais ter de me contar tudo!
Claro. Adorava ficar aqui a falar contigo, mas agora tenho de ir almoçar. Já consigo pressentir a minha mãe a chamar-me de longe! Vim cá para fora só por alguns minutos, porém preciso de ir. Até logo!
Sim, não querias chatear a tua mãe! Até logo, Madds.
Estou muito contente por vê-lo. Despeço-me com outro abraço e vou para a cozinha. O sorriso a estampar-se na minha cara é inevitável. Nem parece que momentos antes estava a chorar.
Desapareceste! Onde estavas? Já não te víamos desde que foste para o teu quarto — diz o meu pai, pondo a mesa. — E falando nisso, não acabaste de arrumar as tuas coisas, estão todas espalhadas! Aquilo parece um campo minado.
Desculpa! Estava na piscina e vi o Dylan e estivemos a falar um bocadinho. E não exageres! Só estão as malas no chão e algumas roupas na cama!
Espera… O Dylan? Ele está cá? — Esqueceu-se completamente do resto. O meu pai sempre gostou muito do Dylan. Diz que ele é uma ótima influência e um bom rapaz. Sempre o tratou como um filho seu e convidava-o sempre para as atividades de família.
Faço que sim com a cabeça.
Que bom! Deve estar enor me, não? Os rapazes crescem imenso nestas idades. Mas agora podes ir chamar os teus irmãos para virem almoçar? A Summer deve estar no quarto dela, o Josh está no seu quarto e o Nick e o Oliver estão na sala.
Queres ir dar uma volta pela cidade? — pergunta o Josh, o que me surpreende bastante porque ele nunca me convida para ir a lado nenhum.
O que é que queres de mim? Precisas de dinheiro? É que se for isso eu também preciso.
Não sou nenhum sem-abrigo, não preciso de esmola…sempre. Só queria passar a tarde com a minha irmãzinha — diz e mostra um pequeno sorriso. Algo me diz que ele está a ser sincero. Hesito por alguns segundos.
Hum, sei. — Mantenho a minha postura relutante.
Mar ia Pinheiro
É verdade! Não tenho nada para fazer e como tu aparentemente também não… mas tu queres vir ou não? É que se não quiseres eu chamo o… — A mudança súbita de tom indicou que era melhor eu aceitar, sem duvidar mais.
Ok, eu vou — respondo, interrompendo-o.
Vamos aonde?
Logo verás.
Apresso-me para calçar os sapatos. Entramos no carro e o Josh começa a conduzir. Há uns meses atrás, nunca entraria num carro onde fosse o Josh a conduzir. Ele era um bocado… assustador ao volante. Mas com o tempo tem aprendido a controlar-se. Assim que ponho música o meu irmão revira os olhos e inspira rispidamente, como forma de desprezo, no entanto, volta a concentrar-se na estrada.
Passamos pela praia, que está cheia de pessoas, pelo parque, que está cheio de crianças que alimentam os patos com pedaços de pão, entre outros lugares como gelatarias e restaurantes de fast food. Long Beach é linda no verão. As suas palmeiras enormes, as praias lindíssimas e o seu clima, tal como várias outras coisas, tornam esta cidade um grande ponto turístico. Parte da sua beleza, provavelmente, tem que ver com o facto de eu ter crescido aqui. A beleza da cidade em si, juntamente com as memórias, tornam esta cidade maravilhosa, incrível e especial.
Continuo a perguntar-me onde esta viagem me há de levar. Cerca de vinte minutos se passam até chegarmos ao nosso destino e ele estacionar o carro. Estamos num parque de trampolins. ESTAMOS NUM PARQUE DE TRAMPOLINS!
Josh! Estás com febre? — Ponho a mão na testa dele. — O que estamos aqui a fazer???? — Pergunto pasmada porque desde pequena que sempre quis vir a um parque destes e não fazia a mínima ideia que ele tinha conhecimento disso. — Obrigada! Adoro-te!
Digo, antes mesmo dele conseguir dizer algo. Doulhe um abraço muito forte e ele sorri.
Vá, vá. Agora vamos entrar ou vamos ficar aqui parados a olhar? — fala a afastar-me com as mãos.
Calçamos as meias antiderrapantes e começamos a saltar. Saltamos, saltamos, saltamos e saltamos mais um bocadinho. Desde saltos normais a mortais. Até vamos para um trampolim que tem uma piscina de esponja e atiramo-nos lá para dentro. Preview
Caminho aos saltinhos de felicidade, pareço uma criancinha. Consigo sentir os seus olhos a observar-me com alguma satisfação. Mal abro a porta consigo prever que vai ser uma tarde muito divertida! Tantos trampolins!!! Pareço uma criança sozinha numa loja de brinquedos.
O local está um pouco cheio. Encontram-se pessoas das mais variadas idades.
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