Catalogo OJU Sesc-SP Roda de Cinema Negro AF S.pdf

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15 de março a 16 de abril de 2023



_ Guri


DO DIREITO DE SE RECONHECER, DO DIREITO DE (SE) PERTENCER


A palavra cinema permite múltiplas associações, e talvez uma das mais emblemáticas, por seu potencial afetivo, seja o ritual de ver um filme em uma sala escura, tal como sugere a convenção. Esta magia, como assim se referem à chamada sétima arte, é resultado das técnicas que a produzem, do emaranhado de significados articulados por meio das escolhas de visualidades e roteiros – e também, é claro, pela relação estabelecida com indivíduos que a assistem. É a percepção de quem a testemunha que dá sentido à cena, e neste contato, criam-se memórias, assim como signos de aproximação ou distanciamento com suas realidades e imaginações. Em seu livro Pele Negra, Máscaras Brancas, Frantz Fanon descreve como o projeto de colonização e o racismo fraturam a humanidade de pessoas negras em um sofisticado sistema de violência. Ao escrever que é “impossível ir ao cinema sem me encontrar”, o filósofo e psiquiatra negro refere-se aos estereótipos que regem a presença de corpos negros no campo das artes e do entretenimento – em geral associados a valores negativos, violentos, alienantes ou tidos como primitivos. Em outras palavras, ele cita a expectativa angustiante de encontrar na tela a imagem daquilo que ele não é. Nesta reflexão, Fanon aponta mais do que uma demanda pessoal: revela o desejo por uma representação que alcance a humanidade de pessoas negras em suas subjetividades e pluralidades. A construção de histórias e personagens que desarticulem uma negritude pensada segundo a lógica do racismo estrutural é fundamental para a elaboração de imagens e imaginários com dignidade suficiente para que seja possível se reconhecer, para além das máscaras embranquecedoras. OJU: Roda Sesc de Cinema Negro é um projeto que se empenha neste sentido, e destaca o protagonismo de pessoas e narrativas negras no audiovisual brasileiro, seja diante das câmeras ou nos bastidores da ampla trama que compreende a produção cinematográfica. Com exibições de longas e curtas-metragens, ações formativas e bate-papos, busca-se ampliar o debate acerca das questões raciais e viabilizar experiências mais democráticas e acessíveis. Tanto a difusão da arte quanto a criação de espaços que contemplem as diversidades significam, para o Sesc, oportunidades de encontro: com o outro, e sobretudo consigo. Quando um ambiente é capaz de proporcionar afeto e reafirmar formas de existência, algo de transformador pode acontecer. Se um dos significados de OJU na língua Yorubá é “olho”, que seja possível a todas as pessoas frequentar cinemas, assim como todos os espaços sociais, e enxergar-se neles.

Danilo Santos de Miranda Diretor do Sesc São Paulo


SUMÁRIO


12 CRONOLOGIA E ‘RODA’ DO TEMPO DO CINEMA NEGRO NO BRASIL 16 O PROTAGONISMO NEGRO QUEER BRASILEIRO 20 AÇÕES AFIRMATIVAS: POLÍTICA PÚBLICA INDISPENSÁVEL À CONSOLIDAÇÃO E FORTALECIMENTO DA PRODUÇÃO AUDIOVISUAL NEGRA NO BRASIL 30 CINEMA NEGRO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO: SONHANDO COM O FUTURO E COM O ESPAÇO 36 LONGAS METRAGENS 42 CURTAS METRAGENS 64 O LEGADO DE ZÓZIMO BULBUL 66 LONGAS METRAGENS NA PLATAFORMA SESC 68 CURTAS METRAGENS NA PLATAFORMA SESC 76 DEBATES 79 RODA DE CONVERSA 80 CURSOS E LABORATÓRIOS 86 AGENDA DE PROGRAMAÇÃO


POR UMA CARTOGRAFIA DE AFETOS

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O que é possível ver no cinema negro brasileiro? A expressão Oju – olho em yorubá - transcende percepções e estimula para o olhar para além do que se vê. A pluralidade das produções audiovisuais pretas, assim como suas corporeidades, carrega em si uma infinidade de memórias, narrativas e contextos. Um corpo negro no mundo nunca está isolado de sua experiência histórica coletiva. Seu território de pertencimento é sua existência, cujas manifestações artísticas, consequentemente, testemunham os efeitos dessas vivências. Escrevivências que se fazem som e imagem no cinema e (re)anunciam a ancestralidade. A partir de uma cosmopercepção ancestral, o corpo negro se faz presença, atrás e na frente das câmeras, reverenciando quem veio antes - em continuidade aos seus ensinamentos, conhecimentos e tecnologias, e respeitando o tempo vívido e fecundo para adubar e pavimentar possibilidades. As narrativas contemporâneas audiovisuais de pessoas negras ressignificam e atualizam saberes, produzem novas subjetividades e deslocam o foco para imagens que anunciam e reivindicam outros personagens, cenários, figurinos. As estéticas refletem as diversas possibilidades e perspectivas. A ética reconhece as histórias, visibiliza afetos que humanizam cotidianos à grandiosidade das pequenas alegrias da vida, sem banalizar nem ignorar as adversidades das condições estruturais a que estão submetidas. Ela exalta a resistência a partir da alegria, da dança, do desejo, do amor. O sonho, entre a realidade e a ficção, cria e recria universos em um tempo espiral no qual passado, presente e futuro se encontram e as cartografias de afetos se reencontram nos territórios da diáspora a partir de reconexões familiares, amorosas, espirituais, onde todos os corpos são convidados a participar. Em roda, a Mostra OJU permite que novos olhares enxerguem e reconheçam de quem se faz nosso país.

Equipe de Curadoria

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_ Kbela



CRONOLOGIA E ‘RODA’ DO TEMPO DO CINEMA NEGRO NO BRASIL EDILEUZA PENHA DE SOUZA

Escrevo [e filmo] palavras [e imagens] negras Tatuando a ancestralidade na alma Para refletir a nossa luz. Cristiane Sobral - Ancestralidade na alma Foram as tecnologias desenvolvidas no continente africano que possibilitaram a criação e evolução da medicina, da matemática, da arquitetura, da metalurgia e tantas outras ciências e ramos do conhecimento humano oriundos desse território e territorialidade ancestral, drasticamente interrompidas pelo projeto de escravidão mercantilista1. Ao tomarem posse de 20,3% do solo do planeta Terra, os europeus destruíram e se apropriaram (ou pelo menos tentaram destruir) da produção científica, histórica, social, cultural e política dos povos africanos. No entanto, o propósito de exterminar os povos africanos e esvaziar o continente a partir do sequestro de pessoas arrancadas de suas comunidades não foi maior que o desígnio de todes aqueles/as que sobreviveram e reconstruíram suas comunalidades ancestrais.

1 Sobre o assunto ler: História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África / editado por Joseph Ki‑Zerbo. – 2.ed. rev. – Brasília: UNESCO, 2010. 12


Assim como a territorialidade, a comunalidade parte de uma filosofia que se refere a linguagens, valores do contínuo civilizatório africano, se ancora na memória, no legado ancestral e na identidade. Desse modo, aderimos ao princípio de que somente a partir desse preâmbulo ancestral é possível estruturar uma cronologia do e para o Cinema Negro Brasileiro (CNB). Importantes pesquisas de cientistas negros, a exemplo do clássico texto do sociólogo e cineasta Noel de Carvalho “Esboço para uma História do Negro no Cinema Brasileiro2”, não se dão conta dessa circularidade e memória ancestral e engessam suas produções em colonialidades e epistemicídio da branquitude. O pai do cinema africano Ousmane Sembène reafirma o quanto a oralidade e o cotidiano asseguram a identidade do cinema3. Desse modo, como defendemos em nossa tese de doutorado4, o nascimento do CNB ocorre no momento em que aqui aportam os/as primeiros/as trabalhadores/ as negros/as. Postulamos, portanto, o entendimento de que o CNB é antes de tudo um ensaio sobre a ancestralidade e a memória, uma vez que ela devolve nossas humanidades enquanto sujeitos que ao longo do processo escravagista nos foi negado. O CNB é um aporte ancestral e tecnológico que busca desde a sua concepção projetar histórias plurais que democratizam as pluralidades e edificam as diversidades de poder e de liberdade. Noutras palavras, a construção de um cronograma para o CNB deriva da produção direta dos Movimentos Sociais Negros. Entendendo que, esses se perpetuaram nos quase quatro séculos de escravidão – período durante o qual importantes movimentos como a Imprensa Negra, a Revolta dos Malês, os Terreiro, os Quilombos, as Congadas, Reisados, Bumba meu Boi, Maracatu, Irmandades e tantos outros foram se estabelecendo como espaço de existência e comunalidade, muito além da resistência e continuidade de nossas humanidades. Após o 13 de maio de 1888 outros movimentos como a Imprensa Negra; a Frente Negra, o Teatro Experimental do Negro - TEN; a Carta Grande Otelo (1953); o Movimento Negro Unificado (MNU), as Escolas de Samba, os Clubes Negros e as inúmeras entidades de mulheres negras, cada MSN com suas especificidades, deu origem ao que podemos chamar de contemporaneidades do CNB como o Dogma Feijoada, o Movimento do Recife, do Centro Afro Carioca de Cinema e do Iº Encontro de Cinema Negro Brasil-África por Zózimo Bulbul em 2007, da criação da Associação dos Profissionais Negros do Audivisual (Apan, 2016) e da eclosão de incontáveis Mostras, Festivais Cine Clube e demais produções de circulação e debates do CNB. 2 DE, Jeferson; CARVALHO, Noel dos Santos. Dogma Feijoada: o cinema negro brasileiro. Col. Aplauso Cinema Brasileiro. São Paulo: Imprensa Oficial, 2005. 3 Ver: DIAWARA, Manthia. African Cinema: Politics & Culture. Bloomington, Indiana: Indiana University Press, 1992. 4 SOUZA, Edileuza Penha de. Cinema Negro – conceito corporificado pela militância. In: Cinema na Panela de Barro: Mulheres Negras, narrativas de amor, afeto e identidade. Brasília, UNB, 2013. (Capítulo: - pág. 64 - 84). Disponível em: http://repositorio.unb.br/ bitstream/10482/17262/1/2013_EdileuzaPenhadeSouza.pdf 13


A ancestralidade desses e de inúmeros outros espaços do MSN demarcam a Roda do Tempo do CNB como espaço território de circularidade e bases epistemológica de Zózimo Bulbul, Adélia Sampaio (somente para citar dois gigantes) e de todos aqueles e aquelas realizadores que estruturam suas narrativas fílmicas a partir do compromisso e afeto que caracterizam nossas narrativas. Ao construirmos a roda do tempo do Cinema Negro Brasileiro, produzimos sentidos e valores como centralidade, movemos conceitos de interseccionalidade, giramos nossa corporalidade e instrumentamos os conceitos de gênero, raça, classe, sexualidade, pertencimento, territorialidade e afetos. Parafraseando o escritor e filósofo africano Tierno Bokar, podemos dizer que o Cinema é uma coisa, e o Cinema Negro Brasileiro, outra. Cinema Negro Brasileiro é a fotografia do saber, mas não o saber em si. “O saber é uma luz que existe no homem [e na mulher]. A herança de tudo aquilo que nossos ancestrais vieram a conhecer e que se encontra latente em tudo o que nos transmitiram, assim como o baobá já existe em potencial em sua semente”. O CNB, assim como nossos corpos, é constituído de histórias, tempo e memória. Histórias alegres que inventamos e reinventamos com zelo na criação de roteiros e argumentos; no tempo e no olhar áspero dos planos e contraplanos que escolhemos para fotografar peles negras em seus múltiplos tons e tessituras; na memória dos sons que reverbera canções e ritmos refeitos em cada movimento corporal. Em uma cronologia circular unimos os elos da vida, do trabalho e das artes (Sillva, 2009)5.

EDILEUZA PENHA DE SOUZA é professora, documentarista e pesquisadora. Pós-doutora em comunicação e doutora em educação pela Universidade de Brasília (UnB), com estágio e atuação na Cátedra de documentário na Escuela Internacional de Cine y TV (EICTV), de San Antonio de los Banõs (Cuba). É idealizadora e organizadora da Mostra Competitiva de Cinema Negro – Adelia Sampaio. Atuou na curadoria e no júri de mostras e festivais nacionais e internacionais, como o Festival de Cinema de Brasília e o 2º Los Angeles Internacional Music Video Festival. Seu último filme, “Filhas de Lavadeiras” (2020) recebeu valiosos prêmios, entre eles, o da Academia Francesa de Cinema - Prêmio César, em 2022. Tem experiência em ensino, pesquisa e consultoria nas áreas de educação das relações étnico-raciais, educação quilombola, cinema negro e cineastas negras no Brasil.

5 SANTOS, Inaicyra Falcão. Dança e pluralidade cultural: corpo e ancestralidade. Revista múltiplas leituras, Santa Catarina, v.2, n.1, p. 31-38, 2009. 14


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O PROTAGONISMO NEGRO QUEER BRASILEIRO BRUNO VICTOR

No presente ensaio, propõe-se refletir acerca das confluências artísticas, performáticas e políticas de cineastas e multi artistas negros LGBTQIA+ que perpassam as fronteiras impostas entre as artes visuais e o cinema. Estar nessa constante travessia se faz característica de realizadores que, em sua maioria, viveram uma busca de referenciais imagéticos inexistentes ou apagados da historicidade cinematográfica brasileira. Antes de adentrar nessa busca incansável de pessoas negras e de suas subjetividades nas telas, retorno a Grada Kilomba, que - no prefácio da Obra Pele Negras, Máscaras Brancas de Frantz Fanon pela editora UBU 2020 - compartilha sua busca de escritores negres durante suas pesquisas em Lisboa no ano de 1990. “Eu passava horas à procura de palavras, frases ou parágrafos que eventualmente me pudessem dar uma linguagem. Eram recortes, retalhos que eu tentava cuidadosamente incluir na minha escrita.” (pg 12). Esse percurso de busca, de costura de retalhos de representatividade ou contemplação se faz método para muitos de nós, realizadores do audiovisual negro queer brasileiro. Edileuza Penha questiona: “quantos cineastas negros vocês conhecem?”, no início do meu primeiro curta-metragem - Afronte - em 2017. A questão reformulada me acompanhou por muitos momentos de minhas pesquisas acadêmicas e de minha carreira cinematográfica: quantos cineasta negros queers vôces conhecem e, por conseguinte, onde estão as suas obras?

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Em 2016, eu e meu companheiro de universidade Marcus Azevedo iniciamos o mapeamento acerca de afetos entre negros gays para a pesquisa do nosso documentário/produto de conclusão de curso em Audiovisual pela Universidade de Brasília, o curta-metragem Afronte. Para além da abordagem temática em si, o processo do documentário consistiu em refletir a respeito da nossa subjetividade como negros, gays e diretores da obra. Assim, a busca de um relevo rico em referências, produções e trocas se tornou o grande objetivo das nossas pesquisas. Compreendo hoje que essa busca era pautada pela afroperspectividade, conceituada pelo filósofo Renato Nogueira, que reivindica uma nova perspectiva, uma conceituação decolonial acerca de seus estudos no campo filosófico. Nogueira (2015) recorre às tradições indígena, africana e afro-brasileira, distanciando-se das tradições europeias para conceituar uma filosofia brasileira. “Numa sociedade racista que apresenta dados alarmantes de violência urbana em que as principais vítimas são jovens negras e negros, filosofar pode ajudar a repensar o cenário político e social. Mas, insisto, eles devem estudar uma Filosofia que seja marginal e antidogmática. Uma Filosofia que pense o racismo, uma Filosofia que trate da violência, uma Filosofia que pense o Brasil, uma Filosofia enredada no nosso território cultural, uma Filosofia que está porvir e que, talvez, possa estar em semente no pluriverso filosófico afro perspectivista.” Renato Nogueira, 2015. O afroperpectivismo também se faz método na escrita do Professor Gilberto Alexandre Sobrinho, ao analisar as obras de Juan Rodrigues, em seu artigo O Afroperspectivismo de A Trilogia da Bicha Preta, de Juan Rodrigues: construindo as estéticas das resistências, 2020. Acredito ser fundamental citar Juan Rodrigues ao falar de subjetividades que atravessam raça, gênero e sexualidade. Juan foi o primeiro cineasta bixa preta que conheci pessoalmente, em 2017, no Festival Universitário de cinema de Brasília. Até então, em meu trajeto, éramos eu e meu amado colega Marcus Azevedo, juntando nossos retalhos de referências e tentando discutir as subjetividades das bixas pretas por meio do coletivo Afrobixas em Brasília. Para refletir sobre essa tarefa política que é a construção da subjetividade negra ou nossa afroperspectiva, referencio Neusa Santos, que expressa sua intenção de criar narrativas feitas para pessoas negras em sua obra Tornar se Negro (1983). Ela pontua que só temos autonomia individual, ao possuir narrativas que partem das nossas próprias subjetividades e quando temos conhecimento dos nossos contextos históricos. Somando-se às citações anteriores, que fazem desse ensaio uma linha narrativa interdisciplinar, em um exercício de costurar nossos retalhos, para então chegarmos às reflexões do fazer cinematográfico, relembro uma importante análise presente no artigo “Identidade Cultural e Diáspora” (1994),

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no qual Stuart Hall cita o cinema negro caribenho em sua buscade novas representações de sua identidade cultural por meio do audiovisual. Um processo de contranarrativa e busca de identificação imagética negra foi posto em evidência neste movimento cinematográfico executado por“ novos sujeitos pós-coloniais”.(pg:68) Hoje, para além de sujeitos pós-coloniais, agregamos características mais profundas que abarcam a compreensão da nossa territorialidade como realizadores periféricos, que refletem raça, interseccionando sexualidade e gênero de forma disruptiva. Racquel J. Gates e Michael Boyce Gillespie se aprofundam na compreensão do cinema negro. Em manifesto, Gates e Gillespie, convocam uma compreensão da prática cinematográfica que extrapola as caracteristicas firmadas apenas pela presença do profissional negro como agente dessa narrativa. Busca-se, assim, compreender as linguagens, processos criativos e fomentar possibilidades de estudos acerca do audiovisual racializado. O Manifesto Reivindicando os Estudos de Mídias Pretos (2019) nos guia como proposta de avançarmos na discussão aqui iniciada pela minha subjetividade como pesquisador e diretor de cinema. Para além dessa especificidade autoral, proponho a reflexão acerca das referências midiáticas racializadas, perfomances ou produções textuais que confluem para as produções negras queers. “Devemos parar de defender a representação como um marcador do progresso racial e, em vez disso, começar a nos concentrar nos temas e ideias com os quais essas representações se engajam” (Gates, Gillespie, 2019, p. 6). Sendo assim, analisar os métodos narrativos que constroem o que se compreende como cinema negro queer se torna exercício fundamental para que os processos fílmicos sejam discutidos com maior profundidade no campo de estudos do cinema. Extrapolar a temática e se debruçar na linguagem ainda tem sido um desafio para nós realizadores, que inúmeras vezes somos tokenizados em festivais de cinema, onde nos limitam como corpos negros em nome de uma diversidade superficial. O cinema negro LGBTQIA+ ou cinema de negritude queer é aqui compreendido por uma prática executada por individuos LGBTQIA+ negros que utilizam sua subjetividade como ponto de partida para a construção de vertentes artisticas e narrativas de autorepresentação. Gilberto Alexandre Sobrinho e Natasha Rodrigues se aprofundam nessa perpectiva dos novos artistas que são atravessados por esses recortes, no artigo O cinema negro LGBT+ e queer no Brasil (2022), em que destacam a multiplicidade estética e cultural na produção audiovisual negra da segunda década do século XX, indagando como seus realizadores constroem representações da negritude. Levando em consideração essa percepção dos realizadores, a narração em primeira

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pessoa e os processos de figuração de corpos negros representam papéis estratégicos nessas articulações, nos filmes de ficção, documentário e experimental, em que também se preveem combinações não óbvias entre essas tradições, articulando-se trabalhos com voz própria. Aqui não pretendemos encontrar uma resposta definitiva a respeito do que é o cinema de negritude queer, mas sim abrir um novo olhar sobre as produções que estão em efervescência pelas janelas nacionais. É um convite para observar as complexidades do fazer artístico e político dessas obras para além de sua temática e contemplá-las como arte. Olhar esse movimento cinematográfico é entender que ele floresce a partir da interação e construção de uma narrativa a partir de corpos que expõem diferentes especificidades. Esse encontro se dá em uma perspectiva de fronteiras, sejam elas fronteiras físicas, culturais ou sociais, pois a ideia de fronteira não indica delimitações mas sim ponto de início. Compreende-se, também, que onde existem as marginalizações sociais é onde podem ocorrer as ressignificações dos imaginários sociais e a criação de contra narrativas como afere Bhabha (1988). Esses “entre lugares” fornecem o terreno para elaboração de estratégias de subjetivação - singular ou coletiva - que dão início a novos signos de identidade e postos inovadores de colaboração e contestação, no ato definir a própria ideia de sociedade. (Bhabha, 1988. p.20) Assim, essas novas narrativas vislumbram um novo olhar, uma nova perspectiva, a qual o cinema nacional tradicional não contempla: são nossas intersecções elaboradas em telas. O convite segue para um olhar atento ao processo fílmico de protagonismo negro queer brasileiro.

BRUNO VICTOR é formado em audiovisual pela Universidade de Brasília e mestrando em Multimeios pela Unicamp. Codirigiu e corroteirizou o curta “Afronte”, documentário exibido em Harvard, Festival Internacional de Cinema de Rotterdam e Festival de Havana, premiado com o Coelho de Ouro de melhor curta-metragem no Festival Mix de 2017; Prêmio Saruê e melhor montagem da Mostra Câmara Legislativa no 50º Festival de Brasília. Ministrou a oficina “O corpo negro LGBT” no Cinema Contemporâneo na UFRJ (RJ, 2019), no Festival Negritudes Infinitas (CE, 2020) e no Festival no seu Quadrado (DF, 2020). Foi professor de roteiro pelo programa educativo do Instituto LGBT+ (DF, 2020). Representou o Brasil no documentário, “Kreativ durch die Krise” para a ZDF TV (Alemanha, 2020). Foi curador do Festival de Documentário Internacional Rastro (DF, 2020 e 2021), integrante do comitê de seleção Festival Mix Brasil (SP, 2020 e 2021), integrante do corpo curatorial do concurso de roteiros do Fade To Black Festival (RS, 2021) e curador do Festival Conexcine (DF, 2021). Finalista Prêmio ABRA de Roteiro (2021) e coordenador do Queer Festival for Palestine (2021). Foi assistente de direção do curta-metragem “Lubrina” (2023), codirigiu e corroteirizou o curta-metragem “Pirenopolynda” (2023), Story Producer do documentário “Cartas Marcadas” Warner Bros. Discovery/Trip Filmes (2022), diretor assistente, pesquisador do longa “Afeminadas” (Selecionado para o 55° Festival de Brasília). Codirigiu o longa-metragem “Rumo” (Prêmio Zózimo Bulbul, Prêmio Especial do Júri e Melhor Longa-metragem do Júri Popular no 55° Festival de Brasília). 19


AÇÕES AFIRMATIVAS: POLÍTICA PÚBLICA INDISPENSÁVEL À CONSOLIDAÇÃO E FORTALECIMENTO DA PRODUÇÃO AUDIOVISUAL NEGRA NO BRASIL VIVIANE FERREIRA Em tempos de retomada das políticas públicas culturais, em âmbito federal, temos esperanças renovadas de que segmentos e grupos historicamente alijados dos acessos à recursos públicos ou privados para prover suas produções culturais tornem-se prioridade no novo ciclo de formulação, implementação e monitoramento das políticas públicas. Entendendo os movimentos de cinemas negros, como um segmento que se manteve na trincheira e em constante diálogo com as estruturas estatais, nas diversas esferas federativas, é importante historicizarmos e evidenciarmos a importância das políticas de Ações Afirmativas como política pública indispensável para a consolidação e o fortalecimento da produção audiovisual negra no país. A denominação Ações Afirmativas, tem berço na Índia, na década de 1950 quando a Constituição Indiana estabelece cotas na legislatura, no emprego público e no ensino superior para as Scheduled Castes e Schedulend Tribe. E ganha força na década de 1960, nos Estados Unidos, referindo-se a um sistema de políticas públicas e privadas voltadas à população negra norte-americana, no pós-luta pelos direitos civis, que trazia a extensão da igualdade a todos como bandeira principal. A experiência das políticas de Ações Afirmativas não se restringiu apenas aos Estados Unidos; sendo tratada desde 1972 na Europa sob a denominação de “ação ou discriminação positiva”, foi inserida no primeiro “Programa de Ação para a Igualdade de Oportunidades” da Comunidade Econômica Europeia, no ano de 1982. As Ações afirmativas têm em seu foco grupos como minorias étnicas, raciais e mulheres, visando atender as áreas de desenvolvimento educacional, econômico, profissional e cultural. Traz em seu complexo de possibilidades de efetivação o sistema conhecido como “sistema de cotas”, que estabelece um percentual ou número a ser ocupado em área específica por determinado grupo; o sistema de taxas e metas, que estabelece parâmetros para mensurar progressos obtidos em 20


relação a determinados objetivos, dentro de um cronograma específico, com etapas a serem observadas em um planejamento de médio prazo; dentre tantas outras formas existentes ou a serem criadas. As Ações Afirmativas guardam em si profundas afinidades com a garantia da diversidade cultural e identitária, e a possibilidade de implementações de políticas públicas eficazes. Sua definição pode ser traduzida de diversas formas, entretanto, no âmbito do presente artigo, nos contentaremos com as definições coadunadas com as ciências jurídicas. Dessa maneira, na acepção de Joaquim Barbosa, Ações Afirmativas devem ser sintetizadas como: conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou voluntário, concebidas com vistas ao combate à discriminação racial, de gênero, por deficiência física e de origem nacional, bem como para corrigir ou mitigar os efeitos presentes da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como a educação e o emprego. (BARBOSA,2017, p. 27). No âmbito dos estudos do Direito Público no Brasil a autora Carmem Lúcia Antunes Rocha classificou as Ações Afirmativas como a mais avançada tentativa de concretização do princípio jurídico de Igualdade, ao expor que: a definição jurídica objetiva e racional da desigualdade dos desiguais, histórica e culturalmente discriminados, é concebida como uma forma para se promover a igualdade daqueles que foram e são marginalizados por preconceitos encravados na cultura dominante na sociedade. Por esta razão desigualação positiva promove-se a igualação jurídica efetiva; por ela afirma-se uma fórmula jurídica para se provocar uma efetiva igualação social, política, econômica no e segundo o Direito, tal como assegurado formal e materialmente no sistema constitucional democrático. A ação afirmativa é, então, uma forma jurídica para se superar o isolamento ou a diminuição social a que se acham sujeitas as minorias. (BARBOSA, 2017, p. 28). Sendo assim, a aceitação das ações afirmativas como componente capaz de promover a redução das desigualdades e a defesa da garantia da fruição do Direito à cultura é legitimamente constitucional, dentro do ordenamento de um Estado Democrático de Direito como o Estado Brasileiro, reafirmando a necessidade de existência de programas de governo e políticas públicas de Estado formuladas que tomem como componente indispensável as políticas de ações afirmativas. A historicidade das Ações Afirmativas com foco nas pessoas negras no âmbito nacional começa no regime militar e nos acompanha até a redemocratização. Principia com a manifestação favorável, durante o regime militar no ano de 1968, de técnicos do Ministério do Trabalho e do Tribunal Superior do Trabalho pela criação de uma Lei que obrigasse empresas privadas a manter uma percentagem mínima de empregados “de cor” em seus quadros de funcionários, manifestação frustrada, uma vez que tal Lei não foi criada. 21


Já na década de 80 circulou na Câmara Federal o projeto de Lei no 1.332 de 1983, editado pelo então Deputado Federal Abdias do Nascimento, que propunha uma “ação compensatória” à população afro-brasileira após séculos de discriminação, projeto também frustrado pela não aprovação no Congresso Nacional. Na mesma década, no ano de 1988, mesmo ano de promulgação da Constituição Federal, por força das manifestações do centenário da abolição, o Estado Brasileiro criou a Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura, órgão que recebeu a função de apoiar a ascensão social da população negra. É nessa encruzilhada da história que moram as razões pelas quais no atual contexto de reorganização das políticas públicas culturais a Fundação Cultural Palmares, precisa ter sua reputação e sua finalidade resgatadas após os severos ataques sofridos durante a gestão do bolsonarista Sérgio Camargo. Na crista da redemocratização do país e do engajamento dos movimentos sociais na estruturação da institucionalidade, desde a promulgação da Constituição Brasileira em 1988 – que com fim de reduzir as assimetrias de gênero no mercado de trabalho estabeleceu em seu art. 7º, inciso XX indicativos de incentivos para empresas que contratem mulheres –, uma série de legislações apontando medidas de ações afirmativas foi criada, dentre elas: a Constituição Estadual da Bahia, de 1989, que em seu Capítulo XXIII – Do negro, art. 289, institui a obrigatoriedade de inclusão de uma pessoa negra quando é “veiculada publicidade estadual com mais de duas pessoas; a Lei no 8.112/90, art. 5o, § 2o estabelecendo um sistema de cotas de até 20% para pessoas com deficiência; a Lei no 8.213/91, que estabelece um percentual na contratação de pessoas com deficiência pelas empresas privadas, com limitação de até 5% para as que têm acima de mil empregados; a Lei no 8.666/93, que no art. 24, inciso XX (Lei das Licitações) determina a inexigibilidade de licitação para a contratação de entidades filantrópicas para pessoas com deficiência; e a Lei no 9.100/96, de autoria da deputada federal Martha Suplicy (PT-SP), que reserva um percentual mínimo de 20% das candidaturas nos partidos políticos para as mulheres. Os anos 2000 ficaram marcados por acolherem iniciativas governamentais que buscaram garantir a inserção de pessoas negras em espaços institucionais. Desta maneira, no Ministério do Desenvolvimento Agrário e no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra foram adotadas cotas de 20% para negros – com meta de 30% a ser atingida em 2003; no Ministério da Justiça (2001) aderiu-se a 20% de cotas para negros, 20% para mulheres, e 5% para pessoas com deficiência na contratação de serviços terceirizados; já o Ministério das Relações Exteriores (2002) criou 20 bolsas de estudos para negros que se candidatem à carreira de diplomata do Instituto Rio Branco. À medida que o processo de redemocratização ia se estabelecendo e fortificando, os movimentos sociais negros seguiam implementando sua agenda política, com foco na melhoria da vida das pessoas negras no Brasil. Assim conseguiu-se a primeira lei com aprovação de política de ações

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afirmativas no ensino superior, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro – Uerj, entrando em vigor a partir da seleção de 2002/2003. A lei estadual estabeleceu que 50% das vagas dos cursos de graduação das universidades estaduais sejam destinadas a alunos oriundos de escolas públicas selecionados por meio do Sistema de Acompanhamento do Desempenho dos Estudantes do Ensino Médio – Sade. Devendo ser aplicada em conjunto com outra medida, decorrente de lei aprovada em 2002, a qual estabelece que as mesmas universidades destinem 40% de suas vagas a candidatos negros e pardos. Depois, foi a vez da Universidade de Brasília – UnB e da Universidade Estadual da Bahia – UNEB, no ano de 2004, aprovarem o sistema de cotas raciais nos próprios vestibulares. Culminando com a aprovação da lei no 12.711/2012, regulamentada pelo decreto no 7.824/2012, sancionada pela Presidenta Dilma Rousseff, popularmente conhecida como “Lei de Cotas”, que instituiu que todas as universidades federais deveriam, até o final de 2016, apontar o regime próprio que garantiria a reserva de 24% das suas vagas para estudantes oriundos da rede pública, com renda igual ou inferior a 1,5 salário mínimo; 25% para candidatos que estudaram integralmente no ensino médio e que possuem renda igual ou superior a 1,5 salário mínimo e, ainda, um percentual para pretos, pardos e indígenas, conforme o último Censo Demográfico do IBGE na região. A implementação das Políticas de Ações Afirmativas chega no campo da cultura em meio a turbulências políticas. Isso porque a pasta do Ministério da Cultura esteve envolvida em polêmicas desde o primeiro momento do Governo Dilma Rousseff, que teve início no dia 01 de janeiro de 2011. A classe artística brasileira demonstrou sua insatisfação por diversos meios de comunicação e canais abertos de diálogo com o governo. Dentre as reivindicações da classe, encontravam-se reclamações sobre a política do mecenato, por meio da Lei Rouanet, carro-chefe do complexo legislativo cultural brasileiro, sob alegações de que os recursos circulam nas mãos de poucos, sendo esses sempre os grandes produtores culturais, legando aos pequenos produtores condições precárias para concepção, produção e disseminação de seus produtos culturais. Dentre o grupo dos desfavorecidos com a política cultural nacional, destacamos a presença da população negra. A Presidenta Dilma Rousseff, na expectativa de fazer as pazes com a classe dos produtores culturais, destituiu a então ministra Ana de Hollanda e entregou a pasta para a Senadora Marta Suplicy. A nova Ministra da Cultura fora provocada pela Ministra Luiza Bairros, titular da pasta da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República – SEPPIR (com status de ministério), militante histórica do movimento de mulheres negras e defensora das políticas de ações afirmativas, a dar um giro pelo país se reunindo com os diversos grupos e eixos culturais no campo das artes negras. Após dialogar com diversos setores das artes negras, o Ministério da Cultura, convocou à Fundação Cultural Palmares, a Fundação Nacional de Artes – Funarte, e a Secretaria do Audiovisual, todas subordinadas ao Ministério da Cultura, para que em parceria

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com a SEPPIR elaborassem um complexo de editais em consonância com as diretrizes das ações afirmativas, a fim de garantir participação do grupo de produtores negros do país no orçamento destinado à cultura. Assim, no dia 19 de novembro de 2012, foram lançados os editais: Prêmio Funarte de Arte Negra; Apoio à coedição de livros de autores negros; Apoio a pesquisadores negros; e o edital Curta Afirmativo, esse último em parceria com a Secretaria do Audiovisual. Os editais receberam um conglomerado de mais de 4.000 inscrições, de acordo com publicações do Ministério da Cultura, sendo considerados um grande sucesso e reveladores de um universo significativo de produtores culturais negros que encontram dificuldades para acessar os meios de produção cultural permitidos na legislação brasileira. Entretanto, no dia 21 de maio de 2013, os inscritos nos editais foram surpreendidos com comunicado da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, que dizia:

A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR-PR) comunica a decisão do Juiz Federal José Carlos do Vale Madeira, do Tribunal Regional Federal – 1a Região/TRF, publicada em 21 de maio de 2013, que “determina a imediata sustação de todo e qualquer ato de execução dos Concursos que estejam relacionados aos Editais impugnados pela presente ação popular (Edital n. 03, de 19 de novembro de 2012, do Ministério da Cultura, Secretaria do Audiovisual; Edital Prêmio Funarte de Arte Negra; Edital de Apoio à Coedição de Livros de Autores Negros; e Edital de Apoio à Pesquisadores Negros)”. Entenda o caso: Os Editais do MinC, realizados em parceria com a SEPPIR, foram impugnados por uma ação popular apresentada por Pedro Leonel Pinto de Carvalho, procurador aposentado do estado do Maranhão. Para a ministra Luiza Bairros (Igualdade Racial), “a decisão judicial demonstra que a vitória jurídica obtida no STF (Superior Tribunal Federal) deverá ser seguida por uma outra batalha, a ideológica, até que as ações afirmativas sejam entendidas como necessárias em todos os campos da vida social, e não apenas na educação”. A SEPPIR fará todo o esforço, juntamente com a Advocacia Geral da União – AGU e o MinC, para que esta decisão seja revertida; para fazer valer o direito de artistas negros a recursos públicos que assegurem a expressão da nossa diversidade cultural. Quadro 1 – Comunicado da Seppir sobre editais afirmativos Fonte: CRUZ, 2013

Pois bem, o Edital voltado para o audiovisual, Curta Afirmativo, como comum a todo edital de fomento ao setor, trouxe sua fundamentação jurídica no primeiro parágrafo do instrumento, seguido por seu objetivo, da seguinte forma:

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A União, por intermédio do Ministério da Cultura – MinC, neste ato representado pela Secretaria do Audiovisual (SAv/MinC), em parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR/PR), neste ato representada pela Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas, no uso de suas atribuições legais e nas condições e exigências estabelecidas neste Edital e seus anexos, em conformidade com o disposto na Lei no 12.288/2010, na Lei no 8.313/1991, no Decreto no 5.761/2006, na Portaria no 29/2009-MinC e, supletivamente, na Lei no 8.666/1993 e suas eventuais modificações, torna público o EDITAL DE APOIO PARA CURTA-METRAGEM – CURTA AFIRMATIVO: PROTAGONISMO DA JUVENTUDE NEGRA NA PRODUÇÃO AUDIOVISUAL. 1.1 O presente edital tem por objeto o fomento a 30 (trinta) obras audiovisuais de curta-metragem, a partir de 10 (dez) minutos, dirigidos ou produzidos por jovens negros, de 18 a 29 anos, pessoa física, com temática livre, podendo ser ficção ou documentário, com a possibilidade de utilização de técnicas de animação. (BRASIL, Edital no 03, Curta Afirmativo, Diário Oficial da União, 2012, p. 1). O instrumento segue regulando as condições de participação dos candidatos no certame: 3.1. Os projetos audiovisuais de curta-metragem deverão ser inscritos por pessoas físicas autodeclaradas negras (pretos e pardos, de acordo com as categorias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE), que se apresentem como produtores, diretores ou que, cumulativamente, exerçam as duas funções na obra proposta; 3.2. Os produtores e/ou diretores devem ser jovens negros, de 18 a 29 anos; 3.3. Será permitida a inscrição de apenas 1 (um) projeto por concorrente, independente [sic] de sua apresentação como produtor, diretor ou em ambas as funções; 3.4. As obras audiovisuais de curta-metragem deverão ser inscritas por concorrentes pessoas físicas individualmente que sejam brasileiros natos ou naturalizados. (ibidem). A vitória jurídica obtida no Superior Tribunal Federal à qual o comunicado da SEPPIR se refere foi o reconhecimento da constitucionalidade da Política de Ações Afirmativas e implementação da Política de Cotas nos vestibulares das Universidades Públicas brasileiras, como instrumento capaz de permitir que o Estado assegure o acesso à educação superior para a população negra. O que demonstra que toda trilha que conduz à implementação das políticas de ações afirmativas no Brasil, até tal decisão do Supremo, já tinha enfrentado diversas batalhas no sistema judiciário, na academia, na mídia e com toda a sociedade para desconstruir os argumentos contrários às políticas de ações afirmativas. Considere-se que o principal deles trata da proteção à “meritocracia”, um dos aspectos mais enraizados do pensamento liberalizante do sistema capitalista.

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Não foi diferente no campo da cultura; o processo se estendeu na justiça até dezembro de 2013, o que significou que os realizadores contemplados no Edital Curta Afirmativo só tivessem um acesso ao recurso no ano de 2014. A política se mostrou acertada, e mobilizou o país e setores das artes negras de tal forma que o MinC publicou no ano de 2015 a segunda edição do Curta Afirmativo e o 1º Edital B.O. Longa Afirmativo, este último voltado para premiação de até 3 (três) narrativas audiovisuais de ficção, com orçamento de até R$ 1.250.000,00 (um milhão, duzentos e cinquenta mil reais) cada um. Em virtude deste edital, por ter sido uma das contempladas para realização do longa-metragem “Um Dia com Jerusa”, pude dirigir meu primeiro longa-metragem de ficção. Os outros dois realizadores negros contemplados foram Déo Cardoso (CE), que dirigiu o aclamado “Cabeça de Nêgo” e Gabriel Martins (MG), que dirigiu “Marte Um”, representante do Brasil na disputa por uma vaga no Oscar em 2023. Não há dúvidas de que a política pública atingiu 100% de eficácia ao observarmos a trajetória dos três filmes por ela contemplados. No ano de 2016, inspirados nas políticas dos curtas e longa afirmativos, e sob pressão dos movimentos culturais negros locais, o Estado de Pernambuco aprovou o sistema de cotas, combinando reserva de vagas com indução na pontuação, garantindo 20% dos recursos do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura – Funcultura PE investidos em projetos cujos proponentes sejam pessoas negras ou indígenas, e atribuição de maior peso a projetos que apresentassem mulheres e pessoas negras ou indígenas como proponentes. No mesmo ano, na cidade de São Paulo, a SPCINE, lança um edital, o Curta Afirmativo Municipal, com sistema de indução, reservando cotas para mulheres, negros, indígenas, e pessoas periféricas. Aparentemente, parecia que no audiovisual, de maneira incipiente, o diálogo entre os movimentos de Cinemas Negros e os órgãos responsáveis por fomento ao audiovisual estava ocorrendo e apontando horizontes mais democráticos e empenhados em reduzir as assimetrias raciais e de gênero no setor. No entanto, com o advento do golpe configurado no impeachment de Dilma Rousseff (2016), o retrocesso se apresentou, também, no campo das políticas do audiovisual. O ano de 2017 foi momento do movimento de Cinemas Negros empunhar a bandeira das Ações Afirmativas no Audiovisual como principal agenda, para enfrentar os retrocessos políticos trazidos pelo golpe. O primeiro foi a suspensão do Edital Curta Afirmativo SPCINE, por parte do Tribunal de Contas do Município de São Paulo – TCM. O órgão fiscalizador questionava a metodologia utilizada pela empresa para garantia das reservas de cotas, dando um prazo de 15 (quinze) dias para que a metodologia fosse revista, sob o risco de cancelamento do edital sem pagamento dos contemplados. Parecia, aos olhos do movimento de Cinemas Negros, uma repetição de tudo que já havia sido vivenciado pelos contemplados do Edital Curta Afirmativo do MinC. Em carta aberta à SPCINE, no dia 16 de fevereiro de 2017, a Associação de Profissionais do 2 Audiovisual Negro

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– APAN se posicionou, pondo-se em vigilância dos questionamentos e respostas no processo em curso, entre o TCM e a SPCINE. Na comunicação citada, a APAN afirma que: os debates políticos pela consolidação das políticas de ações afirmativas no Brasil, passam pela desconstrução das interpretações enviesadas do arcabouço legal que regulamentou os processos licitatórios no país. Fortalecer um “Sistema de Ações Afirmativas no Setor Audiovisual” não se trata de manutenção de privilégios e, sim, garantia de Direitos. E o direito positivado não pode e nem deve estar a serviço da exclusão de grande parte da população em acessar seus direitos.³ A batalha se seguiu, e a SPCINE conseguiu responder todos os questionamentos do TCM e garantir o pagamento dos contemplados no edital. Podendo contar atualmente com uma das experiências mais consistentes de aplicabilidade das políticas de ações afirmativas do país, por ter uma portaria que regulamenta as políticas, uma comissão própria de verificação, e metodologia mista que combina o método de indutores e o método de reservas em seus editais. O ano de 2017 foi intenso para as reflexões sobre as políticas afirmativas no audiovisual, vale ainda resgatar que no dia 10 de julho de 2017 a APAN editou uma carta aberta, endereçada à 4ª Secretaria do Audiovisual – MinC, expondo o descontentamento do movimento de Cinemas Negros com a ausência dos editais Curta Afirmativo e Longa Afirmativo no conjunto de editais que foram lançados no dia 07/07/2017, e que a secretaria anunciou como Programa Nacional de Fomento ao Audiovisual. Dentre suas ponderações a carta dizia que: A APAN tem dialogado com diversos entes do audiovisual brasileiro como a ANCINE, SPCINE, além de secretarias estaduais, sempre no intuito de constituir diversas iniciativas que contemplem ações afirmativas no audiovisual brasileiro. Desta forma, a APAN entende que a ausência dos editais afirmativos marca RETROCESSO na política audiovisual brasileira e, nesse sentido, solicitamos agenda com a Ilustríssima Senhora Mariana Ribas, Secretária do Audiovisual, para que possamos retomar a existência dos editais afirmativos e elaborar em conjunto outras importantes ações afirmativas relacionadas à SAV. Sob pressão do Movimento de Cinemas Negros, e a dinâmica própria de uma gestão conduzida ao poder por meio de um golpe de Estado, em 2018 a ANCINE anuncia aprovação de cotas raciais e de gênero no edital destinado a produção cinematográfica, reservando, de um total 5 de R$ 100.000.000,00 (cem milhões de reais), o percentual de 35% dos valores para projetos propostos por mulheres, e 10% para projetos propostos por pessoas negras e/ou indígenas. A pegadinha do edital está na ausência de obrigatoriedade de aprovação de projetos que atinjam os valores reservados, uma vez que não há reserva de vagas entre os projetos selecionados. O que permite que os recursos reservados possam retornar para os cofres do Fundo Setorial do Audiovisual sob a alcunha de ausência de projeto para serem fomentados com o recurso reservado. 27


Já a Secretaria do Audiovisual – SAV, no mesmo ano, em resposta às reivindicações presentes na carta da APAN e à insatisfação do Movimento de Cinemas Negros, anunciou o Programa Audiovisual Gera Futuro, com um pacote de oito editais, dentre eles um específico para seis produções voltadas a temáticas negras, e instituindo “se possível” uma reserva de 25% dos projetos contemplados para pessoas negras, de modo que a seleção deveria acontecer em duas etapas: na primeira não se aplicariam critérios de cotas raciais, se na segunda etapa houvessem projetos cujos proponentes fossem pessoas negras; aí, “se possível”, deveria-se aplicar a ação afirmativa. Até o presente momento desta pesquisa, não foi publicado o resultado de tais editais, o que nos impede de saber o resultado de tais “políticas afirmativas”. Não obstante, como último ponto da trilha que guia a construção das políticas de Ações Afirmativas do Audiovisual Brasileiro, temos a atuação da APAN junto ao Congresso Nacional para a propositura do projeto de lei no 10516/2018, pela Deputada Federal Jandira Feghali (PCdoB/RJ) e Deputado Federal Paulo Teixeira (PT/SP ), que dispõe sobre políticas de ação afirmativa para o 7º setor audiovisual, determinando reserva de recursos para negros, indígenas e mulheres em processos seletivos financiados com recursos públicos federais. O projeto seguiu em tramitação na casa, recebeu parecer do relator da Comissão de Cultura da Câmara Federal, até que foi arquivado, contudo, recebeu atualização no último dia 6 de fevereiro de 2023 a partir de um pedido de desarquivamento protocolado pela deputada autora. Por fim, entendendo que por todo histórico aqui exposto, em um momento de debate e reabertura de diálogos para pensarmos e construirmos políticas públicas culturais consistentes e eficazes, as ações afirmativas são importantes e indispensáveis ferramentas para o fortalecimento e consolidação das produções audiovisuais negras e indígenas no país.

VIVIANE FERREIRA é uma jovem advogada, ativista negra e cineasta. Mestre em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB), presidiu a Comissão de Seleção Brasileira 2021 do Oscar®, que escolheu o representante brasileiro na Academia. É também professora universitária de Mídia Cinematográfica da ESPM, fundadora da Odun Filmes e uma das fundadoras da APAN, Associação Brasileira dos Profissionais Negros da Indústria Audiovisual. Seu curta “O Dia de Jerusa” (2014) foi selecionado para o Cannes Short Film Corner e posteriormente se tornou o longa-metragem “Um dia com Jerusa” (2020). Em 2021, Viviane Ferreira foi nomeada pelo Most Influential People of African Descent (MIPAD) como uma das 100 Afrodescendentes Mais Influentes do mundo, com menos de 40 anos, na categoria Humanitarismo e Ativismo. A ação faz parte da agenda global da ONU e é uma iniciativa global da sociedade civil em apoio à Década Internacional das Nações Unidas para os Afrodescendentes. Especialista em políticas públicas para a indústria audiovisual na Spcine, lidera o desenvolvimento, financiamento e implementação de programas e políticas para os setores de cinema, TV, games e novas mídias. 28


REFERÊNCIAS: BARBALHO, Alexandre (Org.). Cultura e desenvolvimento: perspectivas políticas e econômicas. Salvador: Edufba, 2011. BARBOSA, Joaquim. O Debate Constitucional sobre ações afirmativas. In SANTOS, Renato e Lobato, Fátima (Org.). Ações Afirmativas: Políticas públicas contra as desigualdades raciais. Org. Renato Santo e Fátima Lobato. – RJ , 2003. BRASIL, Edital 03, Curta Afirmativo, Diário Oficial da União, 2012, p. 1 BOYER, Robert. Teoria da Regulação: os fundamentos. Trad. Paulo Cohen. Brasil: Estação Liberdade, 2010. BIKO, Banto. A Definição da Consciência Negra”, 1971. Tradução: Núcleo de Estudantes Negras “Ubuntu” / Universidade do Estado da Bahia – UNEB Collins, Patricia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. Trad. Natália Luchini. Seminário “Teoria Feminista”, Cebrap, 2013. [Em inglês, Black feminist thought: knowledge, consciousness, and the politics of empowerment. Nova York/Londres, Routledge, 1990. CHAUí, Marilena. Cidadania Cultural: o Direito à cultura. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2006. CRUZ, Viviane. A aplicabilidade dos princípios constitucionais de igualdade e isonomia pelo Estado Brasileiro à luz da diversidade étnico racial: uma análise da sentença que suspendeu os efeitos do edital Curta Afirmativo na garantia do Direito à cultura. São Paulo, 2013. Monografia de Graduação, Faculdade de Direito, Universidade Paulista, 2013. PT é a sigla do Partido dos Trabalhadores; PCdoB é Partido Comunista do Brasil. CURIEL, Ochy. Construyendo metodologías feministas desde el feminismo decolonial, 2014. In Otras formas de (re) conocer. Reflexiones, herramientas y aplicaciones desde la investigación feminista Edición: Irantzu Mendia Azkue, Marta Luxán, Matxalen Legarreta, Gloria Guzmán, Iker Zirion, Jokin Azpiazu Carballo 2014. DAVIS, Angela. Mulheres, Cultura e Política. tradução Heci Regina Candiani. 1 ed. São Paulo: Boitempo, 2017. DAVIS, Angela. A liberdade é uma luta constante. In Frank Barat (Org); tradução Heci Regina Candiani. 1 ed. São Paulo: Boitempo, 2018. MONTEIRO, Adriano. Os territórios simbólicos do Cinema Negro: racialidade e relações de poder no campo audiovisual brasileiro. Vitória: UFES, 2017. OLIVEIRA, Janaína. Kbela e Cinzas: o cinema negro no feminino do Dogma Feijoada aos dias de hoje. In AVANCA: Edições Cine-Clube de Avanca, 2016. P. 1-9. OLIVEIRA, Janaína. Cinema negro contemporâneo e protagonismo feminino. In: FREITAS, Kênia e ALMEIDA, Paulo Ricardo (Org.). Catálogo da Mostra Diretoras Negras no Cinema Brasileiro. Brasília: Voa Comunicação e Cultura, 2017. PAIXÃO, Fernanda. Espelho do real: Oscar Micheaux e o cinema negro durante a segregação racial. O Fluminense, Rio de Janeiro, 2013. SUELI, Carneiro. Contribuições do Cinema Negro para um Novo Pacto Civilizatório. Palestra In Encontro de Cinema Negro: Zózimo Bulbul, Rio de Janeiro, Cine Oden, 2017. ZENUM, Maíra. Cinema Negro: sobre uma categoria de análise para a sociologia das Relações Raciais, 2014. Disponível em: <http://ficine.org/?p=1097>. Acesso em: 27 jan. 2016.

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CINEMA NEGRO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO: SONHANDO COM O FUTURO E COM O ESPAÇO KÊNIA FREITAS

mas isso não pode ser cinema negro. isso não pode ser cinema negro. este filme não pode ser desprezado por conta de seu elenco ou público. este filme não pode ser uma metáfora pra pessoas negras & extinção. este filme não pode ser sobre raça. este filme não pode ser sobre a dor do negro ou causar dor ao negro. este filme não pode ser sobre uma longa história de haver uma longa história de mágoa. este filme não pode ser sobre raça. ninguém pode dizer negão neste filme se não pode dizer isso na minha cara em público. sem piadas de frango neste filme. sem buracos de bala nos heróis. & ninguém mata o menino negro. & ninguém mata o menino negro. & ninguém mata o menino negro. (“os dinos da rua”, Danez Smith, 2014)1

Em “os dinos da rua” Danez Smith, poeta e performer, nos propõem imaginar um filme a partir de uma cena em que um garotinho negro que brinca dentro de um onibus segurando o seu dinossauro de plástico. Nessa cena, por um instante, esse garotinho olha pela janela sonhador e cheio de possibilidades. Para assegurar que essa cena exista e seja preservada em sua plenitude mágica, no resto do poema Danez Smith lista as inúmeras formas de cooptação dessa possibilidade inocente de sonhar negra por um sistema industrial cinematográfico que equivale a nossa produção audiovisual a uma série de estereótipos ou de temas e abordagens limitadores.

1 Traduzido por André Capilé. Disponível: https://escamandro.wordpress.com/2020/06/13/danez-smith-por-andre-capile/. 30


Abrimos esse texto com essa imagem e esse desejo - de que o menino negro não seja morto no fim e de que possamos sonhar - para pensar as táticas e caminhos do cinema negro brasileiro contemporâneo. Entendemos a expressão “cinema negro” como um movimento político atravessado por linhas de criação estéticas que se contaminam e se transformam. Falar nesse contexto em cinema negro é assim pensar as aberturas de possibilidade de criação (os olhos sonhadores nas janela que os filmes nos oferecem) - e não em uma classificação crítica ou acadêmica que se encerra em si. Falar em cinema negro é tratar portanto também das contradições e ambivalências que cercam esse campo. Afinal, é ou não é cinema negro o cinema um filme como “Ôrí” (Raquel Gerber, 1989)? A obra foi dirigida por uma mulher não negra, mas conduzida pelo pensamento da intelectual negra Beatriz Nascimento. Ou quando Spike Lee dirige “O Plano Perfeito” (Inside Man, 2006) - um filme que traz a discussão racial em uma perspectiva múltipla e não ancorada unicamente nas experiências negras -, o diretor estadunidensde está deixando de fazer cinema negro? E como falar dos filmes de Adélia Sampaio: que em 1980 foi produtora de “Parceiros da Aventura” (José Medeiros), um filme que reúne no elenco e nas participações especiais grande parte dos atores negros do cinema nacional da época e quatro anos depois dirige “Amor Maldito” (Adélia Sampaio, 1984) - sendo a primeira mulher negra brasileira a lançar um filme de longa-metragem -, um filme não centrado na presença ou discussão racial? Ou ainda, como pensar da perspectiva do cinema negro um filme como “Fantasmas” (André Novais Oliveira, 2010), em que o que vemos são as imagens da rua e presença das personagens está toda concentrada no plano sonoro do filme? Cada pergunta dessa abre um caminho de discussão e produção de afetos e que nos interessam mais do que o simples “isso é (ou não é) cinema negro”. Como defende Michael B. Gillespie em “Film blackness” (2016), acreditamos que trata-se menos de impor “prescrições” e mais em assumir a potencialidade como pergunta dos filmes negros. Ou seja, trata-se de mergulhar no emaranhado de discussões estéticas e políticas que se colocam em jogo quando evocamos a denominação cinema negro. Afinal, dos race movies da indústria segregada dos EUA no final dos anos 1910 ao momento contemporâneo de cinemas negros cada vez mais interseccionalizados e decoloniais, muitas definições já atravessaram esse termo. A marcação pela autoria: o cinema negro é o feito (dirigido? roteirizado?) por pessoas negras. Ou a definição temática: é um cinema que trata de “questões negras” (ancestralidade? racismo? escravização? vida na periferia? samba ou funk? Afinal, quais são essas questões?). E até mesmo a marcação mais estrutural: a recusa, por exemplo, de um cinema industrial negro, visto que a estrutura industrial é financiada pelo capital de pessoas brancas (o cinema negro seria sinônimo de cinema artesanal? precário?). Como podemos ver, cada uma dessas definições nos abrem para mais um conjunto de perguntas, que ao serem respondidas nos puxam a outras. 31


Acreditamos, pois, que o campo gravitacional mais potente para uma tentativa de definição esteja na intersecção entre esses elementos: autoria, tema e estrutura. Até porque, historicamente, o cinema negro se faz e define contextualmente reformulando-se a partir de perspectivas históricas, culturais e geográficas, mas constantemente associado às lutas dos Movimentos Negros por inclusão, representação, direitos civis, autonomias nacionais e culturais, etc. Refletir então sobre o cinema negro brasileiro contemporâneo, é olhar para os contextos que cercam essa produção, tanto quanto para as linhas de criação que surgem desses contextos. A partir das pesquisas de Janaína Oliveira (2018), destacamos quatro característica dessa produção: realizadores com formação universitária ou em cursos livres em cinema (desdobramento das políticas públicas de ações afirmativas nas universidades, nos editais e nas oficinas e minicursos públicos); uma referencialidade dessa geração à diretores pioneiros, como Zózimo Bulbul e Adélia Sampaio; o aumento da presença de mulheres negras na direção, roteiro e produção dos filmes; e o curta-metragem como formato onde essa produção se concentra. E, nesse momento, notamos no cinema brasileiro “simultaneamente à intensificação das narrativas de ficção imaginadas e das presenças não hegemônicas no campo de criação audiovisual brasileiro”. Transformações que reverberam diretamente no cinema negro nacional. Uma observação do cinema brasileiro feito por pessoas negras ressalta também uma tendência cada vez maior na criação de narrativas que mesclam a ficção científica, a fantasia e/ou o terror sobrenatural e o protagonismo negro - algo que pode ser pensado pelo guarda-chuva do afrofuturismo. Observamos essas características em filmes como: Elekô (Mulheres de Pedra, 2015), Kbela (Yasmin Thayná, 2015), Quintal (André Novais Oliveira, 2015), Rapsódia para um homem negro (Gabriel Martins, 2015), Experimentando o Vermelho em Dilúvio (MuSa Michelle Mattiuzzi, 2016), Arco do Medo (Juan Rodrigues, 2017), Chico (Irmãos Carvalho, 2017), HIC (Alexander S. Buck, 2017), NoirBLUE – Deslocamentos de uma Dança (Ana Pi, 2017), Carne (Mariana Jaspe, 2018), Cartuchos de Super Nintendo em Anéis de Saturno (Leon Reis, 2018), Negrum3 (Diego Paulino, 2018), Brooklin (Coletivo Cine Leblon, 2019), Pattaki (Everlane Moraes, 2018), Abjetas 288 (Júlia da Costa e Renata Mourão, 2020), Caminhos na Noite (Douglas Oliveira, 2020), Egum (Yuri Costa, 2020), Inabitável (Enock Carvalho e Matheus Farias, 2020), Morde & Assopra (Stanley Albano, 2020), Preces Precipitadas de um Lugar Sagrado que Não Existe Mais (Rafael Luan e Mike Dutra, 2020), República (Grace Passô, 2020), “Blackness = Time ÷ Media = ∞” (Márcio Cruz, 2021), Ímã de Geladeira (Carolen Meneses e Sidjonathas Araújo, 2021) — para citarmos apenas alguns filmes com os quais tivemos contato mais direto por meio de processos curatoriais, participação em júris de festivais e/ou escrita crítica.

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Em relação aos eixos de criação dessa filmografia negra contemporânea, percebemos três linhas (que se separam, mas também convergem): Performatividade, Fugitividade e Futuridade. No primeiro caso, a presença performativa e muitas vezes afrofabular dos corpos negros torna-se um elemento marcante dos filmes. No segundo, temos filmes que escapam/fogem das convenções e expectativas da representação e narrativas feitas por pessoas negras. E no terceiro, filmes que negociam e forjam espaços de intimidade entre quem filma e quem é filmado. No início dos anos 2000, o cinema negro brasileiro foi movimentado por dois manifestos - O Feijoada (2000) e o De Recife (2001) -, contextualizados pelo momento de retomada da produção cinematográfica nacional e pelo problemas relacionados às desigualdades das presenças negras no audiovisual brasileiro. Cerca de duas décadas depois, acompanhamos uma geração que reivindica pelo futuro - “Manifesto do Futuro” (GALINDO, 2018) - e por outros espaços - “Manifesto pelo espaço” (no filme “Negrum3”, Diego Paulino, 2018). Tal qual o menino negro no ônibus no poema de Danez Smith, as personagens de Paulino afirmam: “Aspiramos aos cosmos pela simples possibilidade de sonhar!”.

REFERÊNCIAS FREITAS, KÊNIA. Cinemas Negros Brasileiros: rotas de criação e de fuga. In: CLEBER, Eduardo; D’ANGELO, Raquel Hallak; D’ANGELO, Fernanda Hallak. (Org.). O Cinema Brasileiro em Resposta ao País - 2016-2021. 1ed. Belo Horizonte: Universo Produção, 2022. GALINDO, Bruno. “Manifesto do Futuro”. In: Sessão Aberta. Publicado em Novembro de 2018. Disponível em: https://sessaoaberta.com/2018/11/07/livre-manifesto-de-um-jovem-negro-critico-de-um-critico-negro-jovem-de-tudo-ao-mesmo-tempo/. GILLESPIE, Michael Boyce. Film blackness: American cinema and the idea of black film. Durham: Duke University Press, 2016. OLIVEIRA, Janaína. Kbela e Cinzas: o cinema negro no feminino, do “Dogma Feijoada” aos dias de hoje. In: SIQUEIRA, Ana [et al]. Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte (catálogo). Belo Horizonte: Fundação Clóvis Salgado, 2018.

KÊNIA FREITAS é curadora e programadora do Cinema do Dragão. Doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ. Realiza palestras, oficinas e minicursos sobre Afrofuturismo e Crítica de Cinema. Escreve para o site de cinema Multiplot! desde 2012. Integra o FICINE - Forúm Itinerante de Cinema Negro. 33


_ Manhã de domingo



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DIÁLOGOS COM RUTH DE SOUZA

107’ | Brasil | São Paulo | 2002 | +10 Ruth de Souza inaugura a existência de atrizes negras em palcos, televisão e cinema no Brasil. Carrega em si a gênese de parte importante das conquistas para as mulheres negras ao longo de quase um século de vida. A partir de conversas com a diretora da obra, também uma mulher negra, materiais de arquivos da vida de Ruth em um cruzamento com o universo mitológico, em uma interpretação ficcional e transcendental de sua vida, temos um longa protagonizado por Ruth de Souza.

EXU E O UNIVERSO

Direção, Produção, Roteiro Juliana Vicente Elenco Ruth de Souza, Dani Ornellas, Jhenyfer Lauren, Ya Wanda Araujo, Luísa Dionísio, Rosana Paulino, Livia Laso, Mirrice de Castro Direção de Fotografia Lilis Soares, Ana Paula Mathias Direção de Arte Márcia Beatriz Granero, Juliana Vicente Música Original Renato Gama Edição Washington Deoli

Direção Thiago Zanato Roteiro Prof King, Thiago Zanato, Marcos “Nasi” Valadã Produção Chica Barbosa, Prof King, Marcos “Nasi” Valadão Direção de Fotografia Marco Antônio Ferreira Edição Danilo Santos Som Thiago Zanato, Fred França, Raul Costa, Tales Manfrinato Edição de Som e Mixagem Tiago Bello Cor e Finalização MIA - Marcelo Rodriguez Produção Druzina Content, Livres Filmes, Thiago Zanato

85’ | Brasil - Nigéria | Rio Grande do Sul | 2022 | +12 Filme sobre a descolonização do pensamento e a influência do povo Iorubá na diáspora. No Brasil, um país onde a liberdade religiosa está sob ataque e o racismo é sistêmico, um nigeriano e sua comunidade lutam para provar que Exu não é o Diabo.

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IJÓ DUDU – MEMÓRIAS DA DANÇA NEGRA NA BAHIA 84’ | Brasil | Bahia | 2022 | Livre

Filme documentário construído a partir da Memória Viva. Uma DENÚNCIA POÉTICA, contada através das vivências e saberes das Mestras e Mestres pioneiros e protagonistas da Dança Negra na Bahia. A Memória da Dança Negra na Bahia é também a memória da resistência negra na Bahia, memória da história da Bahia e memória da resiliência democrática da Bahia. Direção José Carlos Arandiba “Zebrinha” Roteiro Susan Kalik, José Carlos Arandiba “Zebrinha” Colaboração de Roteiro Igor Correia Produção Executiva Susan Kalik Produção José Carlos Arandiba “Zebrinha”, Susan Kalik, Thiago Gomes Rosa Diretor Assistente e Montador Thiago Gomes Rosa Direção de Fotografia Gabriel Teixeira Direção Musical e Trilha Original Jarbas Bittencourt Elenco Altair Amazonas e Silva (Amazonas), Clyde Morgan, Edeise Gomes, Edileuza Santos, Elísio Pitta, Eurico de Jesus, Eusébio Lobo, Inaicyra Falcão, Ivete Ramos, Jorge Silva, Lindete Souza, Luiz Bokanha, Luiza Meireles, Macalé, Nadir Nóbrega, Nildinha Fonsêca, Reginaldo Daniel Flores (Conga), Renivaldo Nascimento (Flexinha) e Vânia Oliveira In memoriam Augusto Omolú, Raimundo Bispo dos Santos (Mestre King), Raimundo Senzala Som Direto Napoleão Cunha Produtora Modupé Produtora em Cooperação com a Fundação Pedro Calmon/Secult Ba

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MARTE UM

115’ | Brasil | Minas Gerais | 2022 | +16 O dia a dia de uma família negra de classe média baixa na periferia de uma grande capital. Entre trabalhos, utopias, amores e traumas, os Martins tentam seguir vivendo num Brasil em mudanças. Direção e Roteiro Gabriel Martins Produção André Novais Oliveira, Gabriel Martins, Maurilio Martins e Thiago Macêdo Correia Elenco Rejane Faria, Carlos Francisco, Camilla Damião, Cícero Lucas, Ana Hilário, Russo APR, Dircinha Macedo, Tokinho, Juan Pablo Sorrin Direção de Fotografia Leonardo Feliciano Som Tiago Bello, Marcos Lopes Montagem Gabriel Martins, Thiago Ricarte Música Daniel Simitan Distribuição Embaúba Filmes Realização Filmes de Plástico


MIRADOR

94’ | Brasil | Paraná | 2022 | +16 Maycon é um boxeador que treina para retornar aos ringues enquanto divide seu tempo com dois subempregos. Pai de Malu, fruto de uma relação casual que teve com Michele, ele tem sua vida revirada quando se vê na situação de ter que cuidar da filha sozinho. Entre a rotina exaustiva de treinos e bicos para sobreviver, a maior luta de Maycon ainda está por ser vencida: tornarse pai. Direção Bruno Costa Roteiro Bruno Costa, William Biagioli Assistente de Direção Eugenia Castello Produção Fran Camilo, Bruno Costa, William Biagioli Direção de Produção Andréa Tomeleri Produção Executiva Chris Spode, Fran Camilo Direção de Fotografia Elisandro Dalcin Montagem Matheus Kerniski Som Direto Lucas Maffini Elenco Edilson Silva, Maria Luiza Costa, Stephanie Fernandes, Luiz Pazello, Léa Albuquerque, Victor Haygert, Jordan Machado, Rafaelle Becker, Giovana Soar, Sandro Tueros Produtoras Metafix Produções, Costa Filmes, Guaipeca Filmes Distribuidora Olhar Distrib Distribuição

NOITES ALIENÍGENAS 91’ | Brasil | Acre | 2023 | +16

“Noites Alienígenas” apresenta uma Amazônia urbana, onde a ancestralidade dos povos tradicionais resiste frente à contemporaneidade que parece negar a floresta. Na periferia de Rio Branco, Acre, as vidas de três jovens amigos de infância se entrelaçam e, por fim, encontramse em uma tragédia comum, em uma sociedade em transformação e impactada de forma violenta com a chegada do crime organizado do sudeste do Brasil. Direção: Sérgio de Carvalho Roteiro: Camilo Cavalcante, Rodolfo Minari, Sérgio de Carvalho Assistente de Direção: Adler Kibe Paz Produção Executiva: Karla Martins, Pedro von Krüger, Sérgio de Carvalho Elenco: Gabriel Knoxx, Adanilo, Gleici Damasceno, Chico Diaz, Joana Gatis, Chica Arara, Bimi Huni Kuin, Duace, Jefferson Xavier, Kika Sena Direção de Arte: Alonso Pafyeze Direção de Fotografia: Pedro von Krüger, ABC Trilha Sonora Original e Edição de Som: Bernardo Gebara Montagem: André Sampaio Empresa Produtora: Saci Filmes Coprodução: Domínio Filmes

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RACIONAIS: DAS RUAS DE SÃO PAULO PRO MUNDO 106’ | Brasil | São Paulo | 2022 | +14

Com seus protestos em forma de música, o lendário grupo de rap Racionais MC’s transformou a poesia de rua em um movimento poderoso no Brasil e no mundo. Direção e Roteiro: Juliana Vicente Produção: Juliana Vicente e Eliane Dias Coprodução: Cosa Nostra Com Racionais MC’s: Edi Rock, Ice Blue, DJ Kljay, Mano Brown Depoimentos de Eliane Dias, Meire de Jesus, Luís Serafim, Dexter, Dona Lourdes Produção Executiva: Beatriz Carvalho, Gustavo Maximiliano e Juliana Vicente Direção Fotografia: Flávio Rebouças, Rodrigo Machado, Carlos Firmino Montagem: Washington Deoli e Yuri Amaral Direção de Arte: Isabel Xavier Direção de Produção: Camila Abade e Mari Santos Trilha Sonora Original: Racionais Mcs Empresa produtora: Preta Portê Filmes

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RAÍZES

72’ | Brasil | São Paulo | 2020 | Livre Em busca de suas raízes, Kelton resgata a ancestralidade de sua família e se depara com o apagamento da história do povo negro brasileiro. Direção Simone Nascimento, Well Amorim Elenco Kelton Campos F Roteiro Carlos De Nicola, Simone Nascimento, Well Amorim Produção Executiva Nayana Ferreira, Wellington Amorim Montagem e Direção de Fotografia Nay Mendl Produção Bruna Lima, Larissa Castanha, Nayana Ferreira Direção de Arte Bruna Lima Som Direto Adller Oliveira, Carlos De Nicola e Ivan Salomão Realização Maloka Filmes Distribuidora Forte Filmes e Kuarup



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A INVISIBILIDADE DA IDENTIDADE NEGRA NA EDUCAÇÃO 13’ | Brasil | Bahia | 2017 | Livre

Jovens negros discutem o epistemicídio e a importância da representatividade dentro do âmbito escolar. O documentário a “Invisibilidade da Identidade negra na educação” nos faz questionar: Que tipo de educação é dada aos jovens negros de escola pública? Direção e Roteiro Tais Amordivino Direção de Fotografia Danilo Garcia Áudio Igor Correia Câmera Rafael Santa Clara Produção Ricardo Bacellar e Sonia Rauédys Edição Luiz Henrique

ADÃO, EVA E O FRUTO PROIBIDO 20’ | Brasil | Paraíba | 2021 | +14

Após 15 anos, Ashley finalmente tem a oportunidade de se aproximar do filho, fruto da relação com a amiga Suzana. Roteiro e Direção RB Lima Assistente de Direção Diego Lima Produção Executiva e Direção de Produção Tais Pascoal Elenco Danny Barbosa, Lay Gonçalves, Manoa Vitorino, Margarida Santos, William Cabral Direção de Fotografia Carine Fiúza Direção de Arte e Figurinos Ingrid Marla Montagem e Finalização Edson Lemos Akatoy Desenho de Som e Mixagem Vitor Galmarini Som Direto Janaína Lacerda e Gian Orsini Produção Electricprism Incentivo Lei Aldir Blanc - Estado da Paraíba Apoio Escola de Artes Recriar, Érica Rocha, Tzôra Gang, Massas Litorânea

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AFRONTE

AS VEZES QUE EU NÃO ESTOU LÁ 25’ | Brasil | Pernambuco | 2020 | +14

16’ | Brasil | Brasília | 2017 | Livre Ficção e documentário se cruzam para mostrar o processo de transformação e empoderamento de Victor Hugo, um jovem negro e gay, morador da periferia do Distrito Federal. Seu relato se mistura aos depoimentos de outros jovens, cujas histórias revelam diferentes formas de resistência encontradas em discursos de valorização do negro gay. Roteiro e Direção Bruno Victor, Marcus Azevedo Produção Executiva e Direção de Produção Renata Schelb, Juliana Melo Direção de Fotografia Ana Carolina Matias Direção de Arte e Cenografia Ana Júlia Melo Elenco Vhfro, Edileuza Penha de Souza, Eduardo Rosa, Thiago Almeida, Victor Matos, Ricardo Caldeira, Agostinho Santos, Damien Browne, Gabriel Nascimento Som Direto Martha Suzana, Ana Carolina Nicolau Mixagem de Som Arnold Gules Finalização e Edição Lucas Araque

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Rossana enxerga e vive o mundo através de um vidro borderline. Entre pliés, delírios dançantes e duros golpes de realidade, ela busca seu lugar no mundo. Direção e Roteiro Dandara de Morais Montagem Dandara de Morais, Ana Julia Travia Produção Executiva Danielle Valentim Direção de Fotografia Safira Moreira Direção de Arte Lia Letícia Figurino Mariana Souza e Rayanne Layssa Coreografia Anne Costa, Dandara de Morais Elenco Dandara de Morais, Aurora Jamelo, Anne Costa, Ayaname Gonçalves, Claudio Ferrario, Eliane Santos, Erick Felipe, Everton Gomes, Gustavo Patriota, Jean Santos, Maria Laura Catão, Meujaela Gonzaga, Una Martins, Sophia Williams


BELEZA DA NOITE 38’ | Brasil | Bahia | 2022 | Livre

Michellini é uma mulher jovem e batalhadora que se candidata ao Concurso da Beleza Negra para que sua filha se inspire e valorize a própria beleza. Uma história emocionante sobre gerações de mulheres e o poder transformador do amor. Criação e Roteiro Gildon Oliveira Direção e Produção Cecília Amado, Dayse Porto Assistente de Direção Lis Schwabacher Produção Executiva Tiago TAO Direção de Arte Erick Saboya Elenco Larissa Luz, Mayana Aleixo, Edvana Carvalho, Diogo Lopes Filho, Fernanda Silva, Véu Pessoa, Paula Lice, Iana Nascimento, Evana Jeyssan, Mônica Santana, Sabrina Bispo, Paolo Fraga, Valentina Cunha, Mathias Cunha Direção de Fotografia Maoma Faria Montagem Pablo Oliveira Som Direto Pedro Garcia Realização Movida Conteúdo e Globo Filmes Distribuição Globo Filmes

BENDITA

18’ | Brasil | Mato Grosso | 2022 | Livre O curta documentário Bendita é um fragmento do cotidiano de Benedita Silveira, mulher-universo que não é resumida somente à descrição de líder comunitária, agente de saúde, mãe e avó. Benedita representa em seu dia-a-dia o “ordinário” que se revela extraordinário, através de cada expressão sua, de cada gesto, cada palavra dita. Direção, Roteiro, Montagem e Finalização Juliana Segóvia Produção e Produção Executiva Carolina Barros Elenco Benedita Silveira, Yasmim da Silveira, Valentina Agnes da Silveira, Ricardina Tome, Valdeci Pinto, Gislaine Custódio, Celso Gustavo da Silveira Direção de Fotografia Julia Muxfeldt Direção de Som, Mixagem e Desenho de Som Augusto Krebs Trilha Sonora Aline Veras, Augusto Krebs

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BENZEDEIRA

15’ | Brasil | Pará | 2021 | Livre O curta imerge no universo da benzedeira Maria do Bairro que escolheu o silêncio para dividir a sabedoria que lhe foi confiada. Esta ciência da natureza se esconde ao longe em uma ilha na comunidade do Tamatateua, interior do município de Bragança. Manoel Amorim, conhecido como Maria do Bairro, é uma bicha preta conhecedora de ervas e benzedeira que se dedica à cura do corpo e da alma de quem a procura. O saber que a habita não vem do achismo, mas sim da vivência e resistência direta com a natureza, seus espíritos e filosofia. Direção Pedro Olaia, San Marcelo Roteiro, Câmera, Direção de Fotografia, Drone e Montagem San Marcelo Produtora Executiva Cecília Nascimento Produção Pedro Olaia Produzido por Sapucaia Filmes Protagonista Manoel Amorim (Maria do Bairro)

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CAFUNDÓ: O QUILOMBO NÃO ESTÁ NO PASSADO 25’ | Brasil | São Paulo | 2021 | Livre

Filmado no Quilombo do Cafundó em 2021, o curtadocumentário propõe uma atualização dos conceitos de quilombo, tecnologia e relacionamentos. Partindo de relatos pessoais de cinco moradoras do Quilombo, que fica a cerca de 100 km de São Paulo, política, agricultura e ancestralidade se transformam em alimentos diários de alegria e resistência mostrando que definitivamente o Quilombo não está no passado. Direção Daiane Pettine Direção de Arte Alexandra Tulani Produção Juliana Rosa e Maíra Berutti Pesquisa Larissa Macedo Edição Daiane Pettine Trilha Sonora Ilú Obá De Min Elenco Lucimara Rosa Aguiar, Cintia Delgado, Lucimari Aguiar Pires, Regina Aparecida Pereira, Gabriela Delgado Luiz Som Daiane Petrine Realização Poiesis


COMO RESPIRAR FORA D’ÁGUA 17’ | Brasil | São Paulo | 2021 | +14

CALUNGA MAIOR 19’ | Brasil | Paraíba | 2022 | Livre

Ana, uma escritora, recentemente órfã, que decide se aventurar pelos becos da memória e do relacionamento rompido com a mãe e a avó, atravessando a calunga para resolver questões do passado. Direção de Produção Carolina Porto Direção e Roteiro Thiago Costa Assistente de Direção Raysa Prado Assistente de Produção Jô Pontes Produção Executiva Luzia Costa Fotografia Luis Barbosa Montagem e Cor Edson Lemos Akatoy Direção de Arte e Figurino Ana Dinniz Som Juca Gonzaga Edição de Som Vitor Galmarini Elenco Mariana, Laíz de Oyá, Danny Barbosa, Norma Goés, Vera Baroni Narração inicial Leda Maria Martins Produção Tajá Filmes

Na volta de um dos seus treinos de natação, Janaína é enquadrada por policiais. Já em casa e livre de perigo, ela enfrenta a relação com seu pai, também policial militar, com outros olhos. Direção, Roteiro e Realização Júlia Fávero, Victoria Negreiros Direção de Fotografia Giuliana Lanzoni Elenco Raphaella Rosa, Dárcio de Oliveira, Giovana Lima, Taty Godoi, Oswaldo Eugênio, Riggo Oliveira, Daniel Melotti Som Direto Bia Hong, Mariana Suzuki Direção de Arte Ana Iajuc Montagem Luiza Freire Produção e Distribuição Ricardo Santos

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ELES NÃO VÊM EM PAZ 4’ | Brasil | São Paulo | 2021 | Livre

E SE JOSÉ FOSSE DEUS? 2’ | Brasil | São Paulo | 2020 | Livre

Um retrato feito de José Carlos Marciano a partir do olhar de sua filha. O curta traz a presença divina dentro de uma pessoa real, num paralelo entre o José pai de Jesus, a figura do Deus católico e o próprio pai da artista. Entre uma marcenaria e o cuidado das plantas, José se mostra um personagem de várias facetas, com composições musicais autorais que formam a trilha sonora do filme, além de referências de uma ancestralidade negrodiaspórica transmitidas pela dança e pelo axé. Gravado em celular durante o período de pandemia. Direção, Roteiro, Fotografia e Montagem Aryani Marciano Elenco e Trilha Sonora José Carlos Marciano Assistente de Fotografia Fabinho Santos Masterização Gago Ferreira Apoio Maria Tereza de Almeida Marciano Realização e Distribuição Filme Independente - Aryani Marciano

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Enquanto dois irmãos assistem uma matéria de jornal sobre seres extraterrestres, o irmão mais velho faz uma analogia sobre o seu mundo ser invadido por visitantes indesejados. Direção e Roteiro Pedro Oranges, Victor Cazuza Assistente de Direção Tays Perez Produção Executiva Pedro Oranges, Victor Cazuza Produção João Caroli Elenco Dante Aganju, Gustavo Coelho, Teka Romualdo, Denis Franco da Silva Direção de Arte Winnie Ramos, Lunna Touronoglou Direção de Fotografia Victor Cazuza Coordenador de Pós e Montagem João Falsztyn Trilha Sonora Original e Direitos Autorais das Trilhas Deekapz Realização Pedro Oranges e Victor Cazuza


ESCASSO

16’ | Brasil | Rio de Janeiro | 2022 | Livre Um mockumentary político que nunca fala de política. Um filme excessivo, verborrágico, faminto e cômico. ESCASSO acompanha Rose, uma passeadora profissional de pets que apresenta sua nova casa para uma equipe documental enquanto celebra a realização de um sonho: o da casa própria, mesmo que ocupada. Enquanto diz cuidar do imóvel e aguardar o retorno da proprietária, a nova “inquilina” cria intimidade com a casa, assumindo um estado de paixão pela dona ausente. Um filme de Clara Anastácia, Gabriela Gaia Meirelles Direção Artística, Roteiro e Atuação Clara Anastácia Direção e Produção Executiva Gabriela Gaia Meirelles Assistente de Direção Madara Luiza Direção de Produção Madara Luiza Elenco Clara Anastácia Fotografia Luís Gomes Montagem Bruno Ribeiro Som Direto Ísis Araújo Produtora Fomo Filmes, Encruza

EU SOU RAIZ

8’ | Brasil | Pernambuco | 2021 | Livre Mestra Mariinha é líder quilombola, e há mais de 40 anos luta à beira do rio São Francisco para preservar a cultura e a natureza de seu território. Ela se dedica aos saberes das ervas medicinais, é benzedeira e Mestra do Reisado do Quilombo da Mata de São José. Direção Cíntia Lima, Lílian de Alcântara Roteirista Convidada Mestra Mariinha Roteiro Cíntia Lima, Lílian de Alcântara Direção de Produção Cíntia Lima Assistente de Produção Bruna Neves Produção Executiva Olar Filmes Montagem Ivich Elenco Mestra Mariinha, Ludmila, Reisado da Mata de São José Fotografia Letícia Batista, Lílian de Alcântara Som e edição de Som Priscila Nascimento

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EWÉ DE ÒSÁNYÌN: O SEGREDO DAS FOLHAS

23’ | Brasil | Alagoas, Bahia e Rio de Janeiro | 2021 | Livre Uma criança nasce com folhas em seu corpo e sua mãe busca a cura. Na escola, porém, as outras crianças a discriminam e ela foge para a mata. Na Caatinga, encontra seres encantados de tradições indígenas e negras, e caminha numa aventura de autoconhecimento. Sua busca a leva até Òsányìn, o orisà das folhas, que apresenta o poder das plantas e a importância da preservação ambiental. Direção Pâmela Peregrino Direção Musical MAROON Roteiro Pâmela Peregrino (Baseado no livro “Òsányìn Os segredos e Mistérios das Folhas Sagradas” de Alzení Tomáz, 2019) Produção Alzení Tomáz, Sílvia Janayna Ilébomim, Pâmela Peregrino Fotografia e Direção de Arte Pâmela Peregrino Bonecos Pâmela Peregrino, Natália Fróes, Yuri Kevin, MAROON, Alzení Tomáz, Sílvia Janayna Ilébomim, Maria Santos Esqueletos Pâmela Peregrino, MAROON, Maria Santos Adereços Pâmela Peregrino, Alzení Tomáz, Sílvia Janayna Ilébomim, Maria Santos, MAROON, Cícero de Oliveira Araújo Filho (Quilombo Serra das Viúvas), Natália Fróes Dançarinos Natália Fróes, Jhonatan Almeida Desenho de Som Anderson Barros Som Direto Anderson Barros, MAROON Distribuição Borboletas Filmes & Pombagens Realização ÌTÀN - Cinema Negro de Animação, Coletivo Ekàn - Abassá da Deusa Òsùn de Idjemim

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GURI

13’ | Brasil | Espírito Santo | 2019 | Livre Victor é um menino de 12 anos que sonha em vencer um campeonato de bolinha de gude do seu bairro. Direção e Roteiro Adriano Monteiro Produção Bule Estúdio Criativo Direção de Produção Daiana Rocha Direção de Fotografia Francisco Xavier Direção de Arte Castiel Vitorino Brasileiro Som Direto Natália Dornelas Elenco Wesley Silva, Rejane Faria, Joaquim Marques Rosa de Novais, Kauã Golfeto Escodino, Marina Maciel Vargas, Lucas Ricardo Assunção Rangel, Assíria Vitória Fernandes Silva, Markus Konka, Margareth Galvão, Leonardo Patrocínio Apoio Cultural Edital de Produção de Curta-metragem do FUNCULTURA da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo


LUAZUL INTERIORES

22’ | Brasil | Rio de Janeiro | 2021 | +12 Jonathan é um menino de 9 anos que trabalha como vendedor ambulante na praia do Leme ao lado de Sandra, sua avó de criação. Em mais um dia de trabalho, ele conhece diversas realidades enquanto procura por clientes que queiram comprar seus óculos escuros. Direção e Roteiro Matheus Bizarrias Produção Ana Sanz, Wesley Prado, Matheus Bizarrias Assistência de Produção Camila Lins Direção de Fotografia Tassiana Catein Direção de arte Cacica Candela, Valentina Caraffa Direção de Som João Paulo Gohar Elenco Pedro Libânio, Dja Marthins, Priscila Mayer, Tatiana Henrique, Ricardo Romão, Wilson Caetano, Matheus Bizarrias, Mira Barbosa, Eloana Gabriel, Thatiana Verthein, Luciana de Sousa Félix, Alexandre do Leme, Carla dos Santos Edição Bia Póvoa, Matheus Bizarrias Mixagem de som Gustavo Silveira Trilha sonora Pedro Lima, Felipe Cavalieri, Foguete Barreto, Duo Pope

21’ | Brasil | São Paulo | 2022 | Livre Riva volta ao Brasil e se encontra mais sozinha do que nunca. Flávia não tem tempo para se sentir sozinha. As duas se conhecem, e se distraem, ao redor dos campinhos e quadras de futebol. Direção, Roteiro e Produção Letícia Batista, Vitória Liz Assistente de Direção Bruno Galindo Produção Executiva Patricia Lima Produção Lais Reis Assistente de Produção Maya Souza Elenco U vnancio, Larissa Noel, Lucas Bebiano, Tobias, Taty Godoi, Nicole Zuim, Rogério Costa Direção de Fotografia Jéssica Borges Mixagem de Som Priscila Nascimento Montagem, Finalização e Correção de Cor Tiago Lima Técnico de Som Danilo Carvalho Mixagem de Som Priscila Nascimento Produtora Complô Produções Coprodutora Ç Filmes

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MEU NOME É MAALUM 8’ | Brasil | Rio de Janeiro | 2021 | Livre

MANHÃ DE DOMINGO 25’ | Brasil | Rio de Janeiro | 2022 | Livre

Gabriela é uma jovem pianista que irá se apresentar em seu primeiro grande recital. No entanto, um sonho com sua falecida mãe desestabiliza a mente e o coração de Gabriela, colocando em risco a sua apresentação. A partir de uma série de encontros ao longo de um dia, Gabriela irá se jogar em uma jornada de reconciliação com suas memórias e sua mãe. Direção Bruno Ribeiro Roteiro Bruno Ribeiro, Tuanny Medeiros Produção Executiva Laís Diel Produção Bruno Ribeiro, Julia Monnerat, Laís Diel Fotografia Wilssa Esser Som Direto Gustavo Andrade Montagem Vinícius Silva Arte Diogo Hayashi Elenco Raquel Paixão, Leonardo Castro, Silvana Stein, André Pacheco, Indira Nascimento, Valéria Lima, Ítalo Pereira, Layza Griot Empresa Produtora Reduto Filmes

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Maalum é uma menina negra brasileira que nasce e cresce em um lar rodeado de amor e de referências afrocentradas. Logo que Maalum sai do seio de sua casa, ela se depara com os desafios impostos pelos discursos e práticas de uma sociedade racista. Assim que ela chega na escola, todos riem do seu nome. Ela não entende o porquê e, com ajuda da sua família, Maalum irá descobrir que a tristeza pode se transformar em orgulho através da sua ancestralidade. Direção Luísa Copetti Roteiro Magna Domingues, Eduardo Lurnel Produção Executiva Marcela Baptista, Eduardo Lurnel Trilha Sonora Maíra Freitas Elenco Layza Griot, Flavio Bauraqui, Roberta Rodrigues Produção, Realização e Distribuição Pé de Moleque Filmes


MULHERES DO AYÊ: SABERES ANCESTRAIS ATRAVÉS DAS ERVAS 14’ | Brasil | São Paulo | 2019 | Livre

Mulheres do Ayê é um documentário que conta a vivência de cinco mulheres pretas e afro indígenas residentes da zona leste de São Paulo e suas relações com as plantas e ervas no autocuidado do corpo em diversas dimensões. Benedita, Iracema, Mauralis, Iyá Cristina D’Osun e Dona Elena contam suas histórias, resistem e se fortalecem na troca de energia com as ervas pelos saberes ancestrais que receberam em suas trajetórias e repassam em tentativa de continuidade e construção de afeto. Direção Geral e Direção de Fotografia Bea Andrade, Bruna Vieira Roteiro Coletivo Onilé (Bea Andrade, Bruna Vieira, Nani Oliveira, Priscila Estevão, Thais Nascimento) Direção de Produção Bea Andrade Produção Nani Oliveira, Priscila Estevão, Luana Almeida Entrevistas Nani Oliveira Montagem, Edição e Finalização Maya Guedes Operação de áudio Bruna Vieira Edição e Tratamento de Áudio Elias Andrade (Oficial Stam Studios)

MUTIRÃO: O FILME 10’ | Brasil | São Paulo | 2022 | Livre

Uma criança apresenta a construção da sua quebrada. Direção, Produção, Pesquisa, Roteiro, Fotografia, Montagem e Captação de Som Lincoln Péricles (LKT) Produção Francineide Bandeira Pesquisa Sassá Tupinambá, Jonnas Rosa, Amanda Pereira Elenco Maria Eduarda Isaú, Edna Pereira Matos Edição e Mixagem de Som Priscila Nascimento (PRINPS) Assistente de Fotografia Adriano Araujo Realização e Distribuição Astúcia Filmes

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MÃE SOLO

15’ | Brasil | Bahia | 2021 | Livre Curta-metragem que conta as histórias de mulheres pretas, mães e moradoras de comunidades da cidade de Salvador (BR). Apresentando suas identidades como mães solteiras, através de relatos autorais de suas vivências, fugindo dos estereótipos que cercam as mulheres mães pretas solteiras e trazendo consigo algumas reflexões essenciais sobre como a responsabilidade pela criação de seus filhos recaem sobre as mulheres e expõe as questões que envolvem a falta de apoio e acolhimento da família, dos pais das crianças, da sociedade e do Estado. Direção Camila de Moraes Assistente de Direção Engels Miranda Roteiro Nane Sacramento, Danilo Stael Projeto e Produção Executiva Danilo Stael Diretor de Fotografia Uiran Paranhos Produção Danilo Stael Mães Entrevistadas Lúcia Batista dos Santos, Keisiane Santos Pereira Filhos Entrevistados Ângelo Máximo Batista dos Santos, Bernardo Santos Pereira Socióloga Entrevistada Vilma Reis Performance - Atrizes Brenda Matos, Kalú Santana, Lindete Souza Montagem Gabriel Lake, Camila de Moraes Técnica de som - Captação de Som Direto Marise Urbano Edição e Mixagem de Som David Aynan Produção Musical Tiago Pinto, Danilo Stael Composição Tiago Pinto, Danilo Stael Produtora Aworan

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FILMES | CURTAS METRAGENS

NEM O MAR TEM TANTA ÁGUA 20’ | Brasil | Paraíba | 2022 | +14

Babi é uma mulher que vive, ama e se movimenta na mesma intensidade que pedala sua bicicleta. Roteiro Mauricio Garcia, Mayara Valentim, Marcelo Quixaba, Guilherme Deganello, Leticia Albuquerque Direção Geral Mayara Valentim Assistente de Direção Raysa Prado Produção Executiva Anna Amélia Direção de Produção Luzia Costa Direção de Fotografia Marcelo Quixaba Direção de Arte e Figurino Ana Moravi Elenco Laíz de Oyá, Raana Rocha, Paulo Phillipe, Anderson Breno, Leticia Albuquerque Montagem e Correção de cor Edson Lemos Edição, Som Direto e Mixagem de Som Daniel Moraes (Jack) Assistência de Produção Maurício Garcia, Guilherme Deganello, Leticia Albuquerque Realização Coletivo Mangaba e Filmes Urgentes


O CINEMA ESTÁ SERVIDO 15’ | Brasil | Rio de Janeiro | 2020 | Livre

NOSSA MÃE ERA ATRIZ 26’ | Brasil | Minas Gerais | 2023 | Livre

Maria José Novais Oliveira, uma senhora negra, moradora da periferia de Contagem (MG), já nos seus 60 anos se tornou atriz de cinema, com uma carreira premiada no Brasil e internacionalmente. Este documentário rememora a imagem de uma mulher ímpar, que marcou o cinema brasileiro dos anos 2010. Direção e Roteiro André Novais Oliveira, Renato Novais Produção André Novais Oliveira, Thiago Macêdo Correia, Gabriel Martins, Maurilio Martins Produção Executiva Thiago Macêdo Correia Elenco Bárbara Colen, Grace Passô, Gláucia Vandeveld, Gilda Nomacce Montagem Higor Gomes e André Novais Oliveira Tratamento de Áudio Priscila Nascimento Tratamento de Cor João Gabriel Riveres Realização e Distribuição Filmes de Plástico

O filme mostra a essencialidade do cinema negro na formação e subjetividade de jovens artistas da periferia do Rio de Janeiro que buscam, além do conhecimento, nutrir suas inquietações a partir das produções e referências negras do cinema brasileiro. A linguagem ficcional e o making of também “compõem a mesa” da narrativa do filme e o cinema se torna o alimento a ser servido. Direção e Roteiro Leila Xavier e Stefano Motta Produção Camila Catarino, Leila Xavier, Stefano Motta Direção de Fotografia Nathalia Pires Som Pedro Moraes e Bernardo Carvalho de Góes Montagem Nathalia Pires e Maria Litago Aguirre Elenco Evelyn Estevam, João Vinicius Pereira, Leila Xavier, Nathalia Pires, Pedro Moraes, Tuanny Medeiros, Victoria Carvalho Distribuição Borboletas Filmes & Pombagens

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PEDRO

12’ | Brasil | Ceará | 2022 | +10 Pedro vê sua rotina dividida, frente a TV, ir à escola e brincar com seus amigos na rua de sua casa. Em fins de tarde, enquanto o pôr do sol desce, o inesperado acontece. Um silêncio toma o espaço.

O PANTANAL É PRETO 5’ | Brasil | Mato Grosso do Sul | 2022 | Livre

Os fantasmas insistem em perseguir, mas não estavam preparados para o esquecimento. Direção, Roteiro, Direção de Fotografia, Produção, Montagem, Som e Mixagem Raylson Chaves Direção de Arte Leo Sales Elenco Raylson Chaves, Josefina Chaves

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FILMES | CURTAS METRAGENS

Direção e Roteiro Leo Silva Produção Vitória Helen Direção de Fotografia Arthur Rodrigues, Thiago Campos Elenco Pedro Nunes, Veronizia Sales Direção de Arte Rebeca Eloi Som e Desenho Sonoro Mike Dutra Montagem, Colorização e Finalização Gabi Trindade Produção Água Imagens


PROCURA-SE BIXAS PRETAS

25’ | Brasil | Bahia | 2022 | +14 Durante a audição de um teste de elenco, concorrentes realizam um monólogo em que contam as vivências sobre afeto e identidade de duas personagens. Contudo, a cena entregue sobre Darnley e Tigrezza, se entrelaçam com suas próprias vivências criando uma linha tênue entre ficção e realidade. Roteiro Vinicius Eliziário, Omibulu Direção e Montagem Vinicius Eliziário Produção Omibulu Assistente de Direção Omibulu Assistente de Produção Nathalie Rosa, Luan Javé Fotografia Otávio Conceição, Vinicius Eliziário Fotografia Still João Lima Motorista Adilson Sampaio Docentes Francisco Serafim, Marcus Curvelo Elenco Cleidson Baby, Nola Criola, Lunna Montty, Paulilo, Caique Copque, Vittor Adél, Pietá Cuture, Fernando Alves, Vagner Jesus Produtora Boca de Filmes

SETHICO

14’ | Brasil | Pernambuco | 2021 | +10 Esta travessia começa no rio Capibaribe, por onde muitas pessoas traficadas de África entraram no Brasil. Seguimos por lugares que quase escondem o horror da tragédia colonial. Apesar de tudo isso, encontramos estratégias para sobrevivermos à feiura do mundo. Seth é o juiz; e Sethico, seu julgamento. Direção e Elenco Wagner Montenegro Roteiro Andréa Veruska, Danielle Valentim, Wagner Montenegro Produção Executiva Andréa Veruska Direção de Fotografia / Frame da Videoarte Breno César Edição, Montagem e Finalização Felipe Correia Som Direto e Fotografia Still Camila Silva Orientadora de Pesquisa Danielle Valentim Pesquisa Andréa Veruska, Wagner Montenegro Mixagem, Masterização, Trilha Sonora Original / Sound Design Rafaella Orneles

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SOBRE NOSSAS CABEÇAS 15’ | Brasil | Bahia | 2020 | +12

Cícero perdeu seu irmão para o ódio racial. Agora, seu cunhado quer salvá-lo do mesmo destino, levando-o à força para outro lugar. Roteiro Susan Kalik Direção Geral, Direção de Arte e Produção Executiva Susan Kalik, Thiago Gomes Assistente de direção Luciana Flores Direção de Fotografia Jeronimo Soffer Elenco Dan Ferreira, Danilo Mesquita Montagem Thiago Gomes Trilha Sonora Original Peter Marques Som Direto e Mixagem Napoleão Cunha Realização Modupé Produtora

SOLMATALUA

15’ | Brasil | Santa Catarina | 2022 | Livre Em uma onírica odisseia afro-diaspórica, paisagens e vielas encontram-se nas encruzilhadas do tempo. “SOLMATALUA” percorre um vertiginoso itinerário por territórios ancestrais e contemporâneos, realizando uma mística viagem que resgata memórias e busca possíveis futuros. Direção e Roteiro Rodrigo Ribeiro-Andrade Montagem Rodrigo Ribeiro-Andrade, Julia Faraco, Carlos Eduardo Ceccon Produtores Rodrigo Ribeiro-Andrade, Eryk Rocha, Mariana Mansur, Bernardo Oliveira Edição de Som Rodrigo Ribeiro-Andrade, Mbé Coprodução QTV Selo, Aruac Filmes Produção e Distribuição Gata Maior Filmes

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FILMES | CURTAS METRAGENS


TE GUARDO NO BOLSO DA SAUDADE 11’ | Brasil | Rio Grande do Norte | 2021 | Livre Uma filha tece memórias sobre a sua mãe.

SUELLEN E A DIÁSPORA PERIFÉRICA 04’ | Brasil | Minas Gerais | 2020 | +10

Filha da Diáspora Periférica, Renata Suellen nasceu no Formigueiro das Américas, apelido de uma das cidades com maior adensamento populacional da América Latina, São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Suellen e a Diáspora Periférica é um exercício fílmico na tentativa de desapagar a memória de uma infância entre as margens do Rio de Janeiro.

Direção Rosy Nascimento Roteiro Rosy Nascimento, Brunelita Nascimento Assistente de Direção Manul Lira Direção de Arte Rosy Nascimento, Manul Lira Produção Executiva Diana Coelho Elenco Rosy Nascimento, Rosineide Nascimento Direção de Produção Allyne Paz Direção de Fotografia Álvaro Miranda Som Direto Kaê Montagem e Finalização Fábio de Oliveira Mixagem Ricardo Félix Distribuição Tarrafa Produtora

Direção, Produção, Realização, Roteiro, Montagem, Som, Fotografia e Argumento Renata Dorea Elenco Renata Dorea, Agostinha Dorea, Sueli Dorea

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TIME DE DOIS

11’ | Brasil | Rio Grande do Norte | 2021 | Livre

TERREMOTO

27’ | Brasil | Minas Gerais | 2022 | +10 Niky, Nicolson e Ralph, três irmãos Haitianos sobreviventes do terremoto de 2010 e recém-chegados ao Brasil, tentam se adaptar à vida escolar na periferia de Contagem (MG) enquanto o Brasil passa por uma de suas maiores crises econômicas e sanitárias. Direção Gabriel Martins Pesquisa Gabriel Martins, Matheus Will Produção Executiva Thiago Macêdo Correia Direção de Produção Luna Gomides Elenco Nicolson Augustin, Niky Augustin, Ralph Johnson Augustin, Nephtalie Kira Augustin, Marie Nerline Augustin, Bazile, Nicoly Augustin, Juliana Márcia Reis Fotografia Leonardo Feliciano Som Direto Gustavo Fioravante Montagem Victor Furtado Elétrica/Maquinaria Luciano Negro Drama Coordenação de Pós Giordano Lima Correção de Cor João Gabriel Rivers Finalizadora Sem Rumo - Projeto Audiovisual

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FILMES | CURTAS METRAGENS

Flávio e Wendel são da mesma escolinha de futebol e compartilham o sonho de serem jogadores profissionais. Flávio tem dúvidas se deve continuar tentando e com a possibilidade de sua desistência, Wendel percebe que o que eles sentem um pelo outro pode ser mais que amizade. Direção e Roteiro André Santos Produção André Santos, Babi Baracho Produção Executiva Babi Baracho Assistente de Direção Tereza Duarte Direção de Produção Larissa Sales, Luiza Oest Assistente de Produção Leka Castro, Luci Braga Direção de Arte Mamba Negra Assistente de Arte Judson Andrade Direção de Fotografia Johann Jean Montagem e Finalização Pipa Dantas, edt. Mixagem de Som Ricardo Felix Elenco Firmino Brasil, Thásio Igor, Célia Melo, Leonardo Prata, Wallace Martin, Artur Sousa Realização Caboré Audiovisual Patrocínio Prefeitura de Natal: Secult/Funcarte e Governo Federal via Lei Aldir Blanc


TÁ FAZENDO SABÃO 06’ | Brasil | Bahia | 2022 | +16

Filme ensaístico que retrata a construção da identidade e sexualidade da criança preta sapatão. Narrado e documentado em primeira pessoa, o curta apresenta em sua trama os vínculos afetivos que unem a garotinha moleque macho às mulheres negras de sua família em uma performance atemporal e surrealista. Direção, Roteiro, Direção de Som, Narração, Montagem Ianca Oliveira Direção de Arte e Direção de Fotografia Jaci Lima Elenco Ianca Oliveira Produção Ianca Oliveira, Jaci Lima Realização Aterrar Produções

VOCÊ JÁ TENTOU OLHAR NOS MEUS OLHOS? 4’ | Brasil | Paraná | 2020 | +14

Quem dita o que um corpo negro necessita? Você já tentou olhar nos meus olhos? Direção, Roteiro e Montagem Tiago Felipe Produção Tiago Felipe, Stefano Lopes Direção de Fotografia Lívia Zanuni Som Direto e Finalização de Som Juliano Pasqualini Por Prisma Cocriações Elenco Tiago Felipe

FILMES | CURTAS METRAGENS

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_ Ewé de Òsányìn: o segredo das folhas 63


O LEGADO DE ZÓZIMO BULBUL CAROL RODRIGUES

Para as pessoas negras que vieram antes de nós... Através da plataforma Sesc Digital, a “OJU - Roda Sesc de Cinemas Negros” recebe filmes contemporâneos de pessoas negras que dialogam direta ou indiretamente com o legado do intelectual, cineasta e ator Zózimo Bubul. Autor de filmes como Alma no Olho (1973) e Abolição (1988), Zózimo é considerado fundador e precursor do cinema negro no Brasil. O Professor e Pesquisador Noel dos Santos Carvalho chegou a dar a ele o título de inventor do cinema negro brasileiro. Zózimo não foi a primeira pessoa negra a realizar um filme em nosso país, no entanto, sua obra inaugura o território fílmico negro no cinema brasileiro, trazendo inventividade estética e narrativa, além de uma busca por uma linguagem que conseguisse traduzir a experiência negra no mundo. Um cinema inspirado nas proposições de bell hooks sobre a importância do olhar como um gesto de resistência das pessoas negras. Um cinema que vá além do mero reflexo da realidade e que proponha novas formas de representação que possibilitem descobrirmos quem somos. Um cinema que olha e devolve o olhar. Nesse sentido, a recente produção cinematográfica negra propõe interessantes diálogos. Nos últimos anos, o cinema negro brasileiro vive sua primavera. Como indicou a pesquisadora e curadora Janaína Oliveira, o cinema negro se tornou um movimento de realidade incontestável. Aliás, não se trata de um cinema negro, mas múltiplos. Promovidos em diferentes regiões do país e extremamente diversos do ponto de vista estético, discursivo e narrativo, são cinemas que buscam novas formas de representar as complexidades e ambiguidades das experiências negras. Cinemas que são, muitas vezes, voltados para o cotidiano, para dentro. Feito por pessoas negras e para pessoas negras. Cinemas que se inspiram em realizadores africanos e afro diaspóricos de diferentes partes do mundo, com marco essencial na obra de Zózimo Bulbul.

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Quem foi Zózimo Bulbul? Jorge da Silva, nasceu no Rio de Janeiro em 21 de setembro de 1937 e, como cineasta, ator, produtor e roteirista, tornou-se conhecido como Zózimo Bulbul. Atuou em diversos filmes de ficção, entre eles Terra em Transe (Dir: Glauber Rocha, 1967), Compasso de Espera (Dir: Antunes Filho, 1973) e As Filhas do Vento (Dir: Joel Zito, 2005), e na televisão, integrou elenco de algumas novelas, também como protagonista. Foi como cineasta, a partir de 1974, que Zózimo se destacou como artista político afirmativo, tendo o cinema como propulsor para ressaltar as culturas negras, contextualizar diálogos do presente com a história e fomentar a participação legítima de artistas negros e negras no audiovisual nacional.

A reivindicação da ancestralidade é vital para as pessoas negras. Afinal, uma das facetas mais perversas do racismo estrutural, é o apagamento da memória negra da história oficial e a consequente fragmentação da nossa identidade histórica, cultural e psicológica. Quando uma pessoa negra reivindica sua ancestralidade, percebendo-se como parte de uma história mais longa, tecida a muitas mãos ao longo de décadas, ela resgata sua humanidade, identidade e sentimento de pertencimento. Cria uma conexão dialógica com o passado, permitindo a ressignificação do presente e a invenção do futuro. Os filmes dessa seleção, propõem diálogos de aproximação e de alargamento com o legado de Zózimo. Performativos, se afastam da encenação realista/naturalista em tom afirmativo. Ao mesmo tempo, na maior parte dos filmes, agora são os corpos de mulheres negras (cis e trans) que ocupam as telas, investigando as possibilidades de cura e celebrando os encontros. Uma seleção que propõe aos espectadores traçar uma cartografia afetiva, mapeando as sensibilidades, os sentimentos, as vivências, o que é visível e o que é invisível nos corpos que habitam os filmes e suas próprias vidas, criando possibilidades infinitas.

CAROL RODRIGUES é diretora e roteirista. Realizou três curtas premiados que tiveram ampla carreira em festivais nacionais e internacionais: “A boneca e o silêncio” (2015), “A felicidade delas” (2019) e “Mãe não chora” (2019), que co-dirigiu e co-roteirizou com Vaneza Oliveira. Prepara-se para dirigir o seu primeiro longa, “Criadas”, no final de 2023. Integrou a equipe de curadoria desta atual edição da OJU - Roda Sesc de Cinemas Negros. 65


LONGA METRAGEM NA PLATAFORMA SESC DIGITAL

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ILHA

98’ | Brasil | Bahia | 2018 | +12 Emerson, um jovem da periferia, quer fazer um filme sobre a sua história na Ilha, lugar de onde os nativos nunca conseguem sair. Para isso, ele sequestra Henrique, um premiado cineasta. Juntos, reencenam a própria vida, com algumas licenças poéticas. Direção Ary Rosa e Glenda Nicácio Roteiro e Direção Executiva Ary Rosa Assistente de Direção Tidi Eglantine Direção de Arte Glenda Nicácio Assistente de Arte e Figurinista Larissa Brandão Direção de Produção Thamires Vieira Direção de Som Ary Rosa e Rafael Beck Som Direto Napoleão Cunha Direção de Fotografia e Câmera Augusto Bortolini, Poliana Costa e Thacle de Souza Direção Musical Moreira Elenco Aldri Anunciação, Renan Motta, Thacle de Souza, Valdinéia Soriano, Arlete Dias, Aline Brune, Sérgio Laurentino, Ridson Reis Montagem Poliana Costa e Thacle de Souza Colorista Augusto Bortolini

FILMES | LONGAS METRAGENS

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CURTAS METRAGENS NA PLATAFORMA SESC DIGITAL

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À BEIRA DO PLANETA MAINHA SOPROU A GENTE 14’ | Brasil | Bahia | 2020 | Livre

Através de imagens de arquivo pessoal e reflexões sobre as ambivalências que às vezes se imprimem em relações cheias de amor, “à beira do planeta mainha soprou a gente” apresenta recortes de afeto entre duas sapatonas e suas mães. Direção, Roteiro, Produção, Fotografia, Som, Montagem, Elenco e Realização Bruna Barros, Bruna Castro

BR3

23’ | Brasil | Rio de Janeiro | 2018 | +16 Kastelany chega na casa da Luciana. Mia se prepara para sair à noite com suas amigas. Dandara transa com Johi pela primeira vez. Direção, Roteiro e Montagem Bruno Ribeiro Assistente de Direção Victor Rodrigues Produção Executiva Laís Diel Produção Laís Diel, Mariana Melo Assistente de Produção Amina Sophia Produção Local Geo Abreu Direção de Fotografia Thais Faria Elenco Dandara Vital, Johi Farias, Kamyla Galdeano, Kastelany Silva, Leona Kalí, Luciana Vasconcellos, Mia Divva Som Direto Felipe Carneiro Equipe Maré Sobre Saltos Carlos Marra, Gabriel Félix, Karina Marinho, Marcos Aprigio

FILMES | CURTAS METRAGENS

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ELEKÔ

7’ | Brasil | Rio de Janeiro | 2015 | +16

BRANKURA

15’ | Brasil | Rio de Janeiro | 2022 | +12 Curta experimental que atravessa colagens, imagens de arquivo e performance com o desejo de colocar o branco em cena como objeto de análise do negro. Direção e Roteiro Thamyra Thâmara Assistente de Direção e Produção Marcela Lisboa Direção de Fotografia e Montagem João Araió Trilha Sonora Bira Reis Supervisão de Trilha Sonora Yasmin Reis Elenco Igor Nickal

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FILMES | CURTAS METRAGENS

Um fio de poesia vermelha conduzindo a experiência audiovisual de fazer-se e afirmar-se na loucura das condições de ser negra e mulher. Olhando a história a partir do porto, reconhecer e afirmar as potências e a beleza. Parir do próprio sofrimento um horizonte de liberdade, apoio e colaboração. Encontrar na presença de outras mulheres a força do feminino e o sagrado sentido de ser, até poder celebrar a vida, em fêmea comunhão e sociedade. Direção e Roteiro Coletivo Direção de Fotografia Ana Rovati Direção de Arte Gaya Rachel Produção Erika Candido, Monique Rocco, Roberta Costa Elenco Simone Ricco, Livia Vidal, Dai Ramos, Ana Magalhães, Dani Gomes, Angela Peres, Veronica da Costa, Eva Costa, Andrea dos Anjos, Míllena Lízia, Andrea Villas Boas, Fernanda Torres Lima, Leila Netto, Roberta Costa Montagem e Edição Amanda Palma, Adriana Bassi Trilha Sonora Ana Magalhães


EU, NEGRA

10’ | Brasil | Bahia | 2022 | Livre Ayo é uma artista que vive sozinha submersa em seu próprio mar e começa a questionar sua identidade quando através de autorretratos percebe que não se enxerga como realmente é. A partir daí ela começa a se desvencilhar do processo de embranquecimento social e trava uma luta consigo mesma pela reivindicação da sua negritude. Direção e Roteiro Juh Almeida, inspirado em “Alma no Olho” de Zózimo Bulbul, Jamile Cazumbá Direção de Fotografia 1ª unidade Safira Moreira Produção e Direção de Fotografia 2ª unidade Juh Almeida Elenco, Texto e Voz Jamile Cazumbá Som Direto Gabriela Palha Direção de Arte Juliana Pina, Olívia Pitô Montagem Bruna Castro Distribuição Amanda Pó Realização Pródigo Filmes

NOIR BLUE: DESLOCAMENTOS DE UMA DANÇA

27’ | Brasil - França | Minas Gerais | 2018 | Livre No continente africano, Ana Pi se reconecta às suas origens através do gesto coreográfico, engajando-se num experimento espaço-temporal que une o movimento tradicional ao contemporâneo. Em uma dança de fertilidade e de cura, a pele negra sob o véu azul se integra ao espaço, reencenando formas e cores que evocam a ancestralidade, o pertencimento, a resistência e o sentimento de liberdade. Direção, Roteiro, Produção, Fotografia, Direção de Arte e Montagem Ana Pi Elenco Paloma, Pape Klè Fall, Les Wongari, Apsath Bagaya, Les Génies de Babi - Stephane Tehe, Ibrahim & Yves, Roger Mignon, Hamed Tralala, Devisseur Terrible, Daniel Blensi Distribuição NA MATA LAB

FILMES | CURTAS METRAGENS

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TRAVESSIA

05’ | Brasil | Rio de Janeiro | 2017 | Livre Num ensaio visual íntimo e poético, “Travessia” procura registros fotográficos de famílias negras. Enquanto explora histórias pessoais, o filme gradualmente adota uma postura crítica em relação à estigmatização e quase ausência de retratos de pessoas negras. Finalmente, nos afetando com uma contra-narrativa visual sensível do que permaneceu invisível. Direção, Roteiro, Montagem, Produção e Som Safira Moreira Elenco Angelica Moreira, Marina Silva, Vladimir Ventura, Viviane Laprovita, Fernanda Canuta, Nilo Canuta, Miguel Jorge, Valdenir Nunes da Silva, Marisa Santana da Encarnação da Silva, Mariana Santana da Encarnação da Silva, Pedro Santana da Encarnação da Silva, Alline Guimarães Cipriano, Adriano Guimarães Cipriano, Neisi Maria Guimarães Cipriano, José Geraldo Cipriano, Unaí de Paula Cipriano Caiuá de Paula Cipriano, Neuza Guimarães dos Santos Fotografia e Câmera Caíque Mello Realização Safira Moreira

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FILMES | CURTAS METRAGENS

TUDO QUE É APERTADO RASGA 28’ | Brasil | Bahia | 2019 | +14

Na tentativa de forjar uma ferramenta capaz de operar o corte por justiça, este filme retoma e intervém em imagens de arquivo, reestudando parte da cinematografia nacional à luz da presença e agência do ator e da atriz negra. Direção, Roteiro, Som e Montagem Fabio Rodrigues Filho Elenco Antônio Pitanga, Antônio Pompeo, Elida Palmer, Eliezer Gomes, Grande Otelo, Henrique Felipe da Costa (Henricão), João da Cunha, Jorge Coutinho, Lázaro Ramos, Léa Garcia, Lélia Gonzales, Luíza Maranhão, Mário Gusmão, Milton Gonçalves, Ruth de Souza, Watusi, Zezé Motta, Zózimo Bulbul Produção, Distribuição e Realização Fabio Rodrigues Filho


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_ Interiores


ENCONTROS E DEBATES NO CINESESC Encontros com profissionais do cinema e das artes para debater temáticas presentes nos filmes em exibição.

15/03 – 20H DIÁLOGOS COM RUTH DE SOUZA Apresentação do documentário por Naruna Costa

NARUNA é Co-fundadora do Espaço Clariô, do Grupo Clariô de Teatro e do grupo de pesquisa musical Clarianas. Interpretou a cantora ELZA SOARES, na montagem “Garrincha”, do diretor norte-americano Robert Wilson. Foi indicada ao Prêmio APCA de Melhor atriz de 2017, com a personagem ANTÍGONA da montagem produzida pelo Ágora Teatro. No cinema filmou “MARIGUELLA”, de WAGNER MOURA, o longa “ANNA”, de Heitor Dhalia e Nara Mendes, e “CANO CERRADO” de Erick Castro. Protagonizou filmes como “Causa & Efeito” de André Marouço e “Toro” - Eduardo Felistoque, além de participar de longas como “Mundo Deserto de Almas Negras” e “Hoje eu Quero Voltar Sozinho”. Na Netflix protagoniza a série “Irmandade” ao lado de Seu Jorge.

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16/03 – 20H REPRESENTAÇÃO AFRORELIGIOSAS NO CINEMA NEGRO

Debate após a exibição de Exu e o Universo. Com Baba Julio (Júlio Cezar de Andrade) e Ellen de Souza

JÚLIO CEZAR DE ANDRADE Morador de Guaianases, Zona Leste de SP. É assistente social, pós graduado em direito da criança e do adolescente e mestre em Serviço Social. Colaborou com a fundação e articulação de núcleos de base da UNEafro Brasil entre 2009 e 2012. Foi Conselheiro Tutelar na região do Lajeado de 2011 a 2016. Atuou como educador social em serviços de acolhimento e abordagem de rua e atualmente coordena um serviço de convivência e fortalecimento da criança e do adolescente. É profissional e reconhecido ativista do Serviço Social e Babalorixá da casa Ile Aye Dun. ELLEN DE SOUZA é pesquisadora, escritora, possui graduação em Pedagogia pela UNESP, mestrado e doutorado em Educação pela UFSCar, e pós doutorado em Ciências Humanas pela UERJ. Professora adjunta no Departamento de Educação, é credenciada ao Programa de Pós-graduação em Educação da UNIFESP e coordenadora do Grupo de Pesquisa LAROYÊ - Culturas Infantis e Pedagogias Descolonizadoras. Possui vasta experiência na área de Educação e atua, principalmente, nas seguintes temáticas: relações étnico-raciais, filosofia da infância, descolonização, religiosidade afro-brasileira, racismo religioso, territórios negros e educação antirracista. Ministra pelo Brasil, entre outras formações, o curso Giro Epistemológico, recorde de inscrições na UNICAMP, tendo se tornado um livro homônimo publicado no ano de 2022 (Editora Pedro e João). Desenvolve e integra na África do Sul o projeto Conexões Epistêmicas: Conceitos de Criança e Infância na Ética Ubuntu, que se tornará matéria de suas novas atividades de formação e literárias.


17/03 – 20H CINEMA NEGRO COLETIVO E COLABORATIVO Debate após a exibição de Raízes. Com Simone Nascimento e Renato Cândido

SIMONE NASCIMENTO é jornalista formada na PUC SP e mestranda na USP. Co-diretora do longa metragem Raízes e membra da coordenação nacional do Movimento Negro Unificado. RENATO CANDIDO é cineasta negro formado em 2007 no bacharelado em Audiovisual pela ECA/USP. Desde 2011, Renato Candido é mestre em Ciências da Comunicação e doutor em Meios e Processos Audiovisuais também pela ECA/USP. No Mestrado, Renato desenvolveu um roteiro de série ficcional focado na representação da mulher negra em nossa sociedade e em nosso audiovisual. Atualmente este trabalho se encontra em processo de pós-produção através de editais de curta e da Lei Aldir Blanc. No doutorado, Renato Candido analisou a atualidade e o processo histórico de como o racismo atravessa as políticas públicas de financiamento audiovisual e como se dá a importância de implementação de políticas de ações afirmativas para afro-brasileiros no audiovisual brasileiro.

20/03 – 20H LUTA E RESISTÊNCIA NEGRA – RACIONAIS MC’S Apresentação do filme “Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo” por Semayat Oliveira

SEMAYAT OLIVEIRA, jornalista formada pela Universidade Metodista de São Paulo, Semayat é cofundadora do site jornalístico Nós, mulheres da periferia, consultora jornalística no podcast Mano a Mano, liderado pelo rapper Mano Brown.

21/03 – 20H CARTOGRAFIA DE AFETOS EM MARTE UM Debate após a exibição de Marte Um. Com Carol Rodrigues e Bruno Victor

CAROL RODRIGUES é diretora e roteirista. Realizou três curtas premiados que tiveram ampla carreira em festivais nacionais e internacionais: “A boneca e o silêncio” (2015), “A felicidade delas” (2019) e “Mãe não chora” (2019), que co-dirigiu e co-roteirizou com Vaneza Oliveira. Prepara-se para dirigir o seu primeiro longa, “Criadas”, no final de 2023. BRUNO VICTOR Formado em audiovisual pela Universidade de Brasília e mestrando em Multimeios pela Unicamp. Codirigiu e corroteirizou o curta “Afronte”, premiado com o Coelho de Ouro de melhor curta-metragem no Festival Mix de 2017. Ministrou a oficina “O corpo negro LGBT” no Cinema Contemporâneo na UFRJ (RJ, 2019), no Festival Negritudes Infinitas (CE, 2020) e no Festival no seu Quadrado (DF, 2020). Foi professor de roteiro pelo programa educativo do Instituto LGBT+ (DF, 2020). Finalista Prêmio ABRA de Roteiro (2021) e coordenador do Queer Festival for Palestine (2021). Codirigiu o longa-metragem “Rumo” (Prêmio Zózimo Bulbul, Prêmio Especial do Júri e Melhor Longa-metragem do Júri Popular no 55° Festival de Brasília). 77


DEBATES 22/03 - 20H CINEMA NEGRO DECOLONIAL

Debate após a exibição de Noites Alienígenas. Com Mariana Queen Nwabasili e Michel Carvalho. Mediação: Viviane Pistache

MARIANA QUEEN NWABASILI é jornalista e pesquisadora, doutoranda e mestra em Meios e Processos Audiovisuais pela Escola de Comunicações e Artes da USP, onde também se graduou em Jornalismo. Mestra em Curadoria Cinematográfica pela Elías Querejeta Zine Eskola, na Espanha, com bolsa do Projeto Paradiso. Curadora de curtas-metragens da Mostra de Cinema de Tiradentes 2023 e do Cabíria Festival Audiovisual 2022. Foi selecionadora de filmes brasileiros da 24ª edição do FestCurtasBH, em 2022, na qual idealizou a mostra paralela “Filmes decoloniais?”, e da 29ª edição do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, em 2018. Escreve ensaios e análises críticas sobre Teatro e Cinema, tendo participado da 10ª edição do Critics Academy do Festival de Cinema de Locarno, na Suíça, em 2021. Interessada nas conexões entre Cinema, Comunicação, História e Ciências Sociais, pesquisa autorias, representações e recepções cinematográficas vinculadas a raça, gênero, classe e (de)colonialidade nos cinemas nacional e internacional. MICHEL CARVALHO atuou como roteirista em mais de 20 obras, onde se destacam a novela Malhação (Rede Globo), as séries de ficção Temporada de Verão (Netflix), Perrengue (MTV), Matches (Warner Channel) e Bola pra Frente (TV Brasil), os longas-metragens documentais Torre das Donzelas, Mussum - um filme do cacildis e Prazer em Conhecer. Atualmente desenvolve o longa ficcional A Mais Forte (selecionado para o Cine Qua Non - México), é colaborador em telenovela na Rede Globo e dá aulas na Pós-Graduação em Roteiro da FAAP. Graduado, Mestre e Doutorando em Antropologia pela UFRJ,

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pesquisa questões relacionadas a gênero, raça e sexualidade no cinema. Estudou roteiro com Patrick Vanetti, diretor do Conservatório Europeu de Escrita Audiovisual, Lucas Paraízo e Zé Carvalho. É especialista em Cinema Etnográfico pela Fiocruz. Cursou a Oficina de Roteiristas e a Oficina de Escrita de Humor da Rede Globo de Televisão. Atuou ainda como consultor de roteiro e questões raciais em série de ficção ainda não anunciada para rede de streaming e em série documental para a Globoplay. Trabalha também como curador de roteiros no FRAPA e no Laboratório Novas Histórias. Atualmente se dedica à escritura de seu longa ficcional A Mais Forte, contemplado em edital do Ministério da Cultura, à adaptação audiovisual de um romance para a Barry Company e faz parte da equipe de colaboradores de uma das próximas novelas da Rede Globo. VIVIANE PISTACHE é preta das Minas Gerais. É pesquisadora, roteirista e crítica de cinema com passagem pela Casa de Criação e Cinema, pelo Departamento de Desenvolvimento de Roteiros da O2 Filmes. Doutoranda em Psicologia e Cinema pela USP. Graduada em Psicologia pela UFMG. Formada em Roteiro e Direção pela Academia Internacional de Cinema de São Paulo AIC/SP.


RODA DE CONVERSA 11/04 – 19H30 SESC SÃO JOSÉ DOS CAMPOS RACISMO ESTRUTURAL NO AUDIOVISUAL

O racismo estrutural, principalmente estudado e divulgado no Brasil por Silvio de Almeida, aborda como questões jurídicas, políticas, sociais e culturais formam o racismo no Brasil. No contexto do audiovisual, da representatividade ao “Cartão Shirley”, das narrativas à falta de oportunidades de trabalho, ainda se trata de um setor a ser vivenciado em sua plenitude por pessoas racializadas -- que mesmo tendo conquistado um certo acesso aos meios de produção audiovisual nos últimos tempos, não chegou ainda a uma equidade em relação a pessoas não racializadas. Com o Grupo Komunga e Viviane Pistache

LUCAS BAUMGRATZ é professor, produtor audiovisual e músico de São José dos Campos. Bacharelado em Audiovisual pelo Centro Universitário SENAC em São Paulo em 2012, continuou seus estudos na área de Motion Graphic pela Faculdade Melies de Tecnologia, pós-graduação em Docência em Ensino Superior também pelo SENAC e Mestre em Linguística pela UNIFESP Guarulhos. Foi um dos criadores da Mostra Formiga Independente, de curtas-metragens de São José dos Campos. No campo do audiovisual, já atuou como diretor e editor de videoclipes de artistas como o rapper Rappin Hood, Rael, Dom Pescoço, Eduardo Agni, entre outros. Atualmente é coordenador e professor no curso de Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade do Vale do Paraíba. Na música, é integrante do grupo Komunga.

realizados em parceria com ou contemplados em editais da Fundação Cultural Cassiano Ricardo - SJC. Seu trabalho mais recente foi na co-direção e edição audiovisual do espetáculo de dança “Relatos Amefricanos”. Na música, é integrante do grupo Komunga. VIVIANE PISTACHE é preta das Minas Gerais. É pesquisadora, roteirista e crítica de cinema com passagem pela Casa de Criação e Cinema, pelo Departamento de Desenvolvimento de Roteiros da O2 Filmes. Doutoranda em Psicologia e Cinema pela USP. Graduada em Psicologia pela UFMG. Formada em Roteiro e Direção pela Academia Internacional de Cinema de São Paulo AIC/SP.

JULIO RHAZEC é produtor audiovisual, com atuação na área desde 2011, na qual inicialmente desenvolveu um trabalho voltado à Arte Educação, em instituições direcionadas ao atendimento de menores egressos da Fundação CASA. Em 2015 foi convidado a integrar o Coletivo Maxado, desenvolvendo produções nas áreas de videoclipe, documentário, web série e produções comerciais, além de idealizar e coordenar projetos como Cine Bandas, Arte Móvel e Mostra Formiga Independente,

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CURSOS E LABORATÓRIOS 06/04 - 18H30 SESC RIBEIRÃO PRETO CINEMAS NEGROS NARRATIVAS DECOLONIAIS Com Mariana Queen Nwabasili Se apenas uma década separa a Conferência de Berlim (1884-1885) da primeira sessão com cinematógrafo promovida pelos irmãos Lumière na já colonialista França de 1895, seria equivocado dizer que o cinema é uma arte industrial cunhada e influenciada pelo colonialismo? Partindo das articulações históricas presentes nessa pergunta, o workshop tem como objetivo abordar as ralações básicas entre colonialismo, colonialidade, cultura visual, cinema e (des)construções cinematográficas quanto a históricas formas estigmatizantes e estereotipadas de mostrar e ver determinados corpos e vidas humanas em filmes e na realidade. Assim, são propostas reflexões sobre características e relações entre cinema anticolonial e os atualmente chamados por alguns pesquisadores de cinemas decoloniais, ambos entendidos como respostas dialógicas às construções narrativas e estéticoformais do cinema dominante e como propostas cinematográficas de “descolonização do olhar” (ou seja, como oposição aos processos de “colonialidade do ver”) surgidas ao longo da história do cinema. O curso terá como base bibliografias, filmografias e experiências estruturadas na realização da pesquisa “Construcciones de la mirada: representaciones de mujeres negras africanas y europeas blancas en películas coloniales de ficción y no ficción sobre Guinea Ecuatorial”, realizada sob asupervisão da Profª Drª Raquel Schefer para a obtenção de título de mestra em Curadoria Cinematográfica pela Elías Querejeta Zine Eskola, na Espanha; na atuação como debatedora do evento “O Cinema Decolonial de Sarah

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Maldoror”, durante a Mostra Ecofalante de Cinema em 2022; na atuação como idealizadora da mostra “Filmes decoloniais?”, exibida durante a 24ª edição do Festival Internacional de Curtas-Metragens de Belo Horizonte em 2022, e no processo de autoria do artigo “Entre Europa, África e América Latina: representações de mulheres negras e brancas em filmes coloniais espanhóis”, publicado na Revista Rebeca neste ano.

MARIANA QUEEN NWABASILI é jornalista e pesquisadora, doutoranda e mestra em Meios e Processos Audiovisuais pela Escola de Comunicações e Artes da USP, onde também se graduou em Jornalismo. Mestra em Curadoria Cinematográfica pela Elías Querejeta Zine Eskola, na Espanha, com bolsa do Projeto Paradiso. Curadora de curtas-metragens da Mostra de Cinema de Tiradentes 2023 e do Cabíria Festival Audiovisual 2022. Foi selecionadora de filmes brasileiros da 24ª edição do FestCurtasBH, em 2022, na qual idealizou a mostra paralela “Filmes decoloniais?”, e da 29ª edição do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, em 2018. Escreve ensaios e análises críticas sobre Teatro e Cinema, tendo participado da 10ª edição do Critics Academy do Festival de Cinema de Locarno, na Suíça, em 2021. É interessada nas conexões entre Cinema, Comunicação, História e Ciências Sociais, tendo como foco de pesquisa autorias, representações e recepções cinematográficas vinculadas a raça, gênero, classe e (de)colonialidade nos cinemas nacional e internacional.


25/03 - 16H SESC VILA MARIANA NARRATIVAS NEGRAS INFANTOJUVENIS Conversa em torno das construções de personagens e narrativas negras infantojuvenis. Com Pâmela Peregrino, Maria Shu e Thais Scabio

PÂMELA PEREGRINO É animadora, cenógrafa, professora de Artes da Universidade Federal do Sul da Bahia e tem buscado a realização de curtas de animação em processos educativos comunitários, de imersão e vivência em comunidades tradicionais negras e indígenas. Possui bacharelado e licenciatura em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), bacharelado em Artes Cênicas, habilitação em Cenografia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Mestrado em História (UFF) e em Educação (PUC-Rio) e doutorado no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UNIRIO. Entre seus principais trabalhos estão os curtas: “Partir” (2012), “Òpárá de Òsùn: quando tudo nasce” (2018), “Oríkì” (2020); “Porto e Raiz” (2021) e “Ewé de Òsányín: o segredo das folhas” (2021).

THAIS SCABIO Cineasta, diretora da produtora Cavalo Marinho Audiovisual, onde realizou diversas produções entre elas os curtas metragens premiados Caixa d ́ água, Graffiti Dança e Barco de Papel. Realiza formação audiovisual desde 2005 em diversas regiões de São Paulo, é uma das criadoras do projeto JAMAC Cinema Digital e da MIIA - Mostra Itinerante de Infanto Juvenil de Audiovisual. Atualmente é diretora de produção da série de animação Anaya, está em finalização de seu primeiro longametragem e é gestora de desenvolvimento de negócios da plataforma de streaming Todesplay.

MARIA SHU Dramaturga e roteirista com peças de teatro encenadas em diversos países. Autora de “Quando eu morrer vou contar tudo a Deus” e “12 anos ou a memória da queda”. Escreveu os curtas “Sobre Alices” e “Uma porção de cólera”. É co-roteirista das séries de ficção “Onisciente”, “Irmandade”, “Bom dia, Veronica”, “Sentença”, “Franjinha e Milena em busca da ciência”, do especial “Mães do Brasil” e de outras ainda não anunciadas. Atualmente, escreve a série “Torto Arado’’ para a HBO Max, baseado no best seller de Itamar Vieira Junior.

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CURSOS E LABORATÓRIOS 22, 23 E 24/03 - 19H ÀS 21H30 SESC BELENZINHO LABORATÓRIO A CONSTRUÇÃO DO CINEMA NEGRO DE ANIMAÇÃO Com Pâmela Peregrino O Cinema Negro de Animação é uma ferramenta de expressão e valorização da subjetividades de pessoas negras e suas percepções de mundo. Faremos uma breve imersão no conceito e na história do Cinema Negro de Animação, em especial no Brasil, visando conhecer sujeitos, elementos e práticas que integram este conceito. Nesse caminho, há tempo para ver e ouvir curtas de animação realizados em África e na diáspora. Afinal, o que fizeram antes de nós, nos alimenta e nos provoca a pensar o que faremos e como contaremos nossas histórias. Encontro 1: História do Cinema Negro de Animação incluindo África e Diáspora: conceito e obras. Encontro 2: Ancestralidade, narrativas negras e técnicas de animação. Encontro 3: Produção, difusão e processos educativos afrocentrados.

PÂMELA PEREGRINO É animadora, cenógrafa, professora de Artes da Universidade Federal do Sul da Bahia e tem buscado a realização de curtas de animação em processos educativos comunitários, de imersão e vivência em comunidades tradicionais negras e indígenas. Possui bacharelado e licenciatura em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), bacharelado em Artes Cênicas, habilitação em Cenografia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Mestrado em História (UFF) e em Educação (PUC-Rio) e doutorado no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UNIRIO. Entre seus principais trabalhos estão os curtas: “Partir” (2012), “Òpárá de Òsùn: quando tudo nasce” (2018), “Oríkì” (2020); “Porto e Raiz” (2021) e “Ewé de Òsányín: o segredo das folhas” (2021).




_ Sethico


PROGRAMAÇÃO CINESESC 14h30

15h30

16h

15-Mar

16-Mar

O cinema está servido (RJ, 15') Ijo Dudu (BA, 83')

17-Mar

Sessão de curtas 5 (102') As Vezes que não Estou Lá (PE, 25') Bendita (18´) Mulheres do aiê (SP, 38') Como Respirar Fora d'água (SP, 16') Ta Fazendo Sabão (BA, 5')

18-Mar

Diálogos com Ruth de Souza (SP, 107')

19-Mar

Sessão infantil (53') Meu Nome É Maalum (RJ, 8') Ewé De Òsányìn: O Segredo Das Folhas (AL, BA, RJ, 22') Guri (ES, 13') Mutirão (SP, 10')

Sessão de curtas 4 (92') Interiores (RJ, 22') Manhã de Domingo (RJ, 25') Adão, eva e o Fruto Proibido (PB, 20') Procura-se Bichas Pretas (BA, 25')

20-Mar

Sessão de curtas 3 (82') Sobre nossas cabeças (BA,15') A Invisibilidade negra na educação (BA,12') Pedro (CE,12') Você já tentou Olhar nos meus olhos (PR, 4') Calunga Maior (PB,19') LuaAzul (SP, 20')

Sessão de curtas 2 (98') Cafundó (SP, 25') Suellen e a Diáspora (MG, 4') Escasso (RJ,16') Terremoto (MG, 26') Nem o Mar nem tanta água (PB, 20') O Pantanal é preto (MS, 5') E Se José Fosse Deus (SP, 2')

21-Mar

Eles não vem em paz (SP, 4') Noites alienígenas (AC, 80')

22-Mar

Sethico (PE, 15) Raízes (SP, 72')

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18h

20h

DEBATES

Sessão de abertura Diálogos com Ruth de Souza (SP, 107')

Sessão apresentada por Naruna Costa

Sessão de curtas 2 (98') Cafundó (SP, 25') Suellen e a Diáspora (MG, 4') Escasso (RJ,16') Terremoto (MG, 26') Nem o Mar nem tanta água (PB, 20') O Pantanal é preto (MS, 5') E Se José Fosse Deus (SP, 2')

Solmatalua (SC,15) + Exu e o universo (RS, 85)

Representação afroreligiosas no cinema negro Debate após a exibição com Baba Julio (BàBálóòrisá do Ilê Àsé EGBÉ ODÉ Ibùalámo) e Prof. Dra Ellen Souza.

Sessão de curtas 1 (93) Brankura (RJ, 15') Benzederia (PA, 15') Mutirão (SP, 10') Afronte (DF, 16') Time de dois (RN, 11') Nossa mãe era atriz (BH, 26')

Sethico (PE, 15) + Raízes (SP, 72')

Cinema negro coletivo e colaborativo Debate após a exibição com Simone Nascimento (co-diretora do longa metragem Raízes ) e Renato Cândido, pesquisador e cineasta.

Sessão de curtas 3 (82') Sobre nossas cabeças (BA,15') A Invisibilidade negra na educação (BA,12') Pedro (CE,12') Você já tentou Olhar nos meus olhos (PR, 4') Calunga Maior (PB,19') LuaAzul (SP, 20')

Sessão de curtas 1 (93) Brankura (RJ, 15') Benzederia (PA, 15') Mutirão (SP, 10') Afronte (DF, 16') Time de dois (RN, 11') Nossa mãe era atriz (BH, 26')

O cinema está servido (RJ, 15') Ijo Dudu (BA, 83')

Mãe solo (BA, 15') Mirador (PR, 94')

Solmatalua (SC, 15’) Exu e o universo (RS, 85’’)

Sessão especial Racionais (SP, 116') (gratuita)

Sessão apresentada por Semayat Oliveira

Sessão de curtas 4 (92') Interiores (RJ, 22') Manhã de Domingo (RJ, 25') Adão, eva e o Fruto Proibido (PB, 20') Procura-se Bichas Pretas (BA, 25')

Marte um (MG, 110')

Por uma cartografia de afetos Debate após a exibição com a cineasta e roteirista Carol Rodrigues e o pesquisador Bruno Victor.

Sessão de curtas 5 (102') As Vezes que não Estou Lá (PE, 25') Bendita (PA, 18') Mulheres do aiê (SP, 38') Como Respirar Fora d'água (SP, 16') Ta Fazendo Sabão (BA, 5')

Eles não vem em paz (SP, 4') Noites alienígenas (AC, 80')

Cinema negro decolonial Debate após a sessão com Mariana Queen Nwabasili (pesquisadora) e Michel Carvalho (pesquisador e roteirista). Mediação de Viviane Pistache. 87


SESC BELENZINHO 19h30 22-Mar 23-Mar

Workshop “Cinema negro de animação” (19h30 as 21h30) Com Pâmela Peregrino (BA)

24-Mar 29-Mar

Racionais (SP, 116´) apresentação Semayat Oliveira

05-Abr

Marte Um (MG, 110’)

12-Abr

Sessão de curtas (79 minutos) Somatalua (15) Mutirão (10) Eu sou raiz (7) Benzedeira (15) Como respirar fora d’água (16) Escasso (RJ, 16’)

SESC VILA MARIANA 14h30

16h

25-Mar 26-Mar

Sessão Infantojuvenil (53 minutos) Meu Nome É Maalum (8) Ewé De Òsányìn: O Segredo Das Folhas (22) Guri (13) Mutirão (10)

16h30

18h

Escasso (RJ,16’) Beleza da Noite (40)

Marte um (MG, 110’)

Bate-papo Narrativas Negras Infantojuvenis Com Pâmela Peregrino (BA); Maria Shu (SP) e Thais Scabio (SP)

SESC SÃO JOSÉ DOS CAMPOS 18h 02-Abr

Te Guardo no Bolso (RN, 11’) Beleza da Noite (40)

09-Abr

Mirador (PR, 95)

11-Abr

16-Abr

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19h30 às 21h30

Roda de Conversa (19h30 as 21h30) Racismo estrutural no Audiovisual Com Viviane Pistache, Julio Rhazec e Lucas Baumgr Curtas (91’) Invisibilidade Negra (12’) Como Respirar Fora D´água (16’) Eu Sou Raiz (7’) Mãe Solo (15’) Escasso (RJ, 16’)


SESC RIO PRETO 14h 18-Mar 19-Mar

14h30

15h30

16h

16h30

18h

20h

Produção Audiovisual Negra com Érika Freitas

22-Mar

Mirador (PR, 95’)

24-Mar

Marte Um (MG, 110’)

29-Mar

Sessão de curtas (78’) Manhã de Domingo (RJ, 25’) Escasso (RJ, 16’) Interiores (RJ, 22’) Time de dois (RN, 11’) Eles não vêm em paz (SP, 4’)

SESC RIBEIRÃO PRETO 18h30 às 21h30

19h30

04-Abr

Te guardo no bolso (11’’’) Mirador (95)

05-Abr

Sessão de curtas (76’) Solmatalua (15’’) Afronte (16’’) Escasso (16’) Eles não vem em paz (4’) Às vezes que não estou lá (25’)

06-Abr

Workshop Cinemas Negros - Narrativas Decoloniais Com Mariana Queen Nwabasili

SESC DIGITAL 16/03 a 16/04 Ilha (BA, 98')

Eu, negra (BA, 10')

BR3 (RJ, 23')

Elekô (RJ, 7')

Tudo que é apertado Rasga (BA, 28")

Travessia (RJ, 5')

Brankura (RJ, 15')

Kbela (RJ, 22')

Noir Blue – Deslocamento de uma dança (MG, 27')

A Beira do Planeta Mainha soprou a gente (BA, 14)

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_ Marte Um


Sesc – Serviço Social do Comércio Administração Regional no Estado de São Paulo PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL Abram Szajman DIRETOR DO DEPARTAMENTO REGIONAL Danilo Santos de Miranda SUPERINTENDENTES Técnico-social Rosana Paulo da Cunha Comunicação Social Aurea Leszczynski Vieira Gonçalves Administração Jackson Andrade de Matos Assessoria Técnica e de Planejamento Marta Raquel Colabone Consultoria Técnica Luiz Deoclécio Massaro Galina GERENTES Ação Cultural Érika Mourão Trindade Dutra Artes Gráficas Rogério Ianelli Centro de Produção Audiovisual Wagner Palazzi Perez Estudos e Desenvolvimento Joao Paulo Leite Guadanucci Estudos e Programas Sociais Flavia Andrea Carvalho Sesc Digital Fernando Amodeo Tuacek CineSesc Gilson Packer Sesc Belenzinho José Roberto Ramos Sesc São José dos Campos Claudia Maria Da Silva Righetti Sesc São José do Rio Preto Thiago Aguiar Freire Silva Sesc Jundiaí Wagner Dini de Castro Sesc Ribeirão Preto Mauro Cesar Jensen Sesc Vila Mariana Kelly Adriano de Oliveira

EQUIPE SESC Aline Ribenboim, Ana Carolina Garcez, Ana Carolina Rios Gomes, Ana Paula Rodrigues, Carolina Paes de Andrade, Carlos Petrachini, Cesar Albornoz, Claudia Vieira Garcia, Cleber Rocha, Denis Salzano, Érica Dias, Fernanda De Freitas Goncalves, Fernando Hugo Fialho, Graziela Marcheti, Humberto Silva, Jane Eyre Piego, João Cotrim, José Gonçalves Junior, Jose Henrique Osoris Coelho, Karina Camargo Leal Musumeci, Lucas Carbonera Molina, Luiz Fernando Dos Santos Silva, Mariana Rosa, Poliana Queiroz, Regina Gambini, Renato Diego Alves de Jesus, Ricardo Tacioli, Simone Yunes, Solange dos Santos Alves Nascimento, Suzana Souza OJU – RODA SESC DE CINEMAS NEGROS Curadoria Cecília de Nichile, Carol Rodrigues, Fabiano Maranhão, Gabriella Rocha, Livia Lima da Silva e Rodrigo Gerace Identidade Visual Daniel Brito Produção Gráfica Camila Teresa Vinheta Arte: Naná Prudencio Trilha Sonora: DiPa e PiPo Pegoraro Produção Friccione Produções: Bea Andrade e Thaís Oliversi Imprensa Flávia Miranda Redes Sociais Erasmo Penteado




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