Jornal seha ed 46

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Curitiba, 1ª quinzena de abril de 2017

ENTREVISTA DARCI PIANA

O maior líder empresarial paranaense Apesar do respeito e assédio, presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac do Paraná, não pretende concorrer a nenhum cargo político Por Pierpaolo Nota

Eu voto na pessoa, não voto no partido para que o partido escolha uma pessoa. Isso é contra a nossa Constituição, é contra a democracia. Democraticamente eu escolho o meu candidato, como qualquer outro brasileiro escolhe o seu candidato, e não escolhe um partido para que este partido escolha o candidato que ele quer. ”

D

arci Piana dispensa apresentações. É incansável na defesa dos comerciantes, empresariado e turismo do Paraná. Em entrevista exclusiva ao SEHA, em seu escritório, no sexto andar na sede da Fecomércio-PR, falou cobre economia, política, reforme trabalhista e previdenciária e sistema sindical. Leitura obrigatória para quem quer aprender e se inteirar. Jornal do SEHA - No começo de 2015 em uma entrevista para o Jornal do SEHA o senhor demonstrou números que nos deixaram assustados, já apresentando o desastre econômico que estamos vivenciando. Se não fosse pelo agronegócio não haveria muito que comemorar hoje no Brasil. Estamos longe de recuperar uma sólida e sustentável economia? Darci Piana - Eu acredito que sim. Nós damos como exemplo o que aconteceu nos Estados Unidos, um país forte, um país que tem a maior economia do mundo, um país organizado, um país que tem planejamento, estrutura política e teve uma crise pontual na área habitacional, que aconteceu em 2008. Este país demorou cinco anos para recuperar sua economia, sendo que cinco anos depois, de 2008 a 2012 ele passou o PIB a 0,28. Ou seja, ele passou a equilibrar o PIB em cinco anos de prazo. O nosso país não tem a estrutura que tem os Estados Unidos, não é um país com o orçamento, com os critérios orçamentários que possam permitir que você diga que nós somos organizados. Temos uma economia muito fraca perto dos Estados Unidos. Quantos anos nós vamos demorar para superar esta crise? Se tirarmos hoje o agronegócio, que envolve soja, trigo, milho, frango, suíno, carne bovina, essas coisas envolvidas chamado agronegócio em que situação este país se encontraria? As reservas externas hoje que saem do agronegócio como fator principal, que primeiro somava petróleo e mineração, tiveram quedas substanciais, e os minérios de ferro e aço tiveram quedas substanciais de preço e de consumo em função da China. Provavelmente este país não vai conseguir recuperar sua economia tão rapidamente quanto os Estados Unidos conseguiram. Índices da própria Fecomércio-PR divulgados agora demonstram que em fevereiro de 2017 tivemos uma queda de 7,41% em

relação a fevereiro do ano passado na economia local, e que o Estado acumula perdas de 3,95% no primeiro bimestre. Isso indica que vamos ter mais um ano terrível? E mais um 2018 pior ainda? Piana - Veja bem, isso inclui o agronegócio ainda, assim mesmo com esses números. A gente fica preocupado com o que vem acontecendo. O Paraná é um Estado forte, um Estado que tem uma economia muito sólida, o agronegócio tem dado um suporte muito grande. Agora, na outra ponta nós temos ainda a esperança dos nossos empresários que cresceu em relação ao ano anterior. Nós tínhamos no ano passado a expectativa de que iria melhorar em 40%, 39%. Hoje nós estamos com 49%. Ou seja, a expectativa de melhora existe. Baixou juros, houve um pouco mais de dinheiro no crédito, agora está entrando o Fundo de Garantia (liberação do saque das Contas Inativas do FGTS) que deve colocar no mercado em torno de 35 a 40 bilhões de reais. Quer dizer, isso já é expectativa que pode nos ajudar, mas nós continuamos não tendo faturamento correspondente a esta expectativa. O comércio ainda vem caindo, mesmo com toda a expectativa de melhora, ele vem caindo ainda. Ele continua demitindo. Assim a gente não pode imaginar que nesse período agora, até o final do ano, com esta crise que está aí, com estes anúncios que estão acontecendo, com este problema da Operação Lava Jato, também do BNDES e tantas outras instituições nossas que tem toda esta crise política envolvida com todos nossos grandes homens públicos que nós temos, governadores, senadores, deputados federais e estaduais, empresas envolvidas, este problema de ética que está aí, isso tem dado uma repercussão muito negativa no mercado. Então, qual é a expectativa hoje de um empresário investir, qual é a expectativa hoje dele melhorar o seu estoque, de querer fazer investimento para aumentar a sua capacidade, contratar pessoas, se tudo isto que está acontecendo continua aumentando? E, além disso, ainda, nós temos que somar o aspecto financeiro do País. Ou seja, as mudanças que o Governo quer fazer, se são amargas, mas são necessárias, e infelizmente elas não vão sair da forma com que deveria sair. Isso significa que aquilo que a gente tinha como expectativa de uma reforma política, da previdência, uma reforma trabalhista, que desse a possibili-

dade das empresas e empresários entender de que agora sim o País está no caminho certo, elas vão ser feitas pelo que nós estamos observando aí, mas pela metade. Isso significa que daqui a seis, sete anos a gente vai ter que de novo voltar a fazer reformas. Nós não vamos melhorar o que precisava e, pelo contrário, vamos cair de novo em um emaranhado, vamos estar de novo com uma nova crise financeira na mão. Então, não tem nada que nos permita dizer que a esperança pode ser alcançada. A esperança podia ter sido alcançada quando houve a mudança de Governo. A esperança veio de novo quando a gente disse que havia as mudanças de uma reforma política que pudesse dar credibilidade pública nos homens que assumiriam o país. Nós poderíamos acreditar que as mudanças necessárias neste País estão nas quatro grandes reformas que são necessárias e todo mundo sabe disso. Provavelmente se saírem, vão sair “aleijadas”, com dificuldades enormes de serem competitivas naquilo que o País precisa. Então, como nós vamos acreditar que tudo isso pode ser transformado em uma expectativa de melhora? Precisa muita definição do Governo ainda para que o empresariado tome a iniciativa de investimento e contrate pessoas, essas mesmas pessoas que saíram do consumo porque não tem ganho, que voltem a consumir para fazer com que o comércio consiga vender, consiga fazer pedidos para a indústria, para que consiga produzir, comprar matéria-prima e assim por diante. Ou seja, voltar o ciclo econômico completo. Isso vai ser muito difícil nos próximos cinco ou seis anos. Mesmo com tudo isso, como explicar que a confiança do empresariado aumente, sendo que temos aí um problema político que envolve dezesseis partidos e um rombo de corrupção de meio bilhão de reais? O empresariado está desprendido dos políticos? O Brasil funciona sozinho, funciona sem a classe política? Se ela não existisse seria mais fácil? Piana - Não existe nenhum lugar no mundo onde não exista a questão da classe política no comando. Isso faz parte da democracia, faz parte do sistema de controle de qualquer lugar do mundo. Mesmo que sejam países que tenham ditaduras, mas elas não deixam de ter uma classe política no poder. A política faz parte do sistema de governo. A gente tem que entender isso. O


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