





Órgão da Província Redentorista Nossa Senhora Aparecida • Edição 1 • Dezembro de 2023 a Março de 2024




Órgão da Província Redentorista Nossa Senhora Aparecida • Edição 1 • Dezembro de 2023 a Março de 2024
Entrevista: A presença da Igreja no ambiente digital p. 8
Pastoral: Missões Redentoristas em 2024 p. 20
As quatro etapas das Santas Missões
• Preparação das comunidades e lideranças
• Formação dos coordenadores e auxiliares
• Visitas nas famílias
• Organização setores missionários
• Celebração do envio das lideranças
• Bênção dos Andorzinhos de Nossa Senhora
• Encontros de oração nas casas
• Presença dos Missionários Redentoristas
• Famílias participam de encontros nas comunidades
• Atividades religiosas e pastorais para todos
• Consolidação dos setores missionários
• Formação contínua para coordenadores e auxiliares
• Busca dos afastados
• Retorno dos Missionários Redentoristas em outras datas
• Romaria das Missões em Aparecida
“Unidos em Cristo, com Maria para viver e crescer em comunidade”
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PALAVRA DO PROVINCIAL
ESPAÇO
REFLEXÃO: Conferência da América Latina e do Caribe vivendo a Reestruturação
8
ENTREVISTA: MOISÉS SBARDELOTTO: A presença da Igreja no ambiente digital
HISTÓRIA DA PROVÍNCIA: Sob a Proteção da Mãe Aparecida, a Província segue os rumos da Reestruturação
PASTORAL: Missões Redentoristas em 2024
ESPIRITUALIDADE: Ser Viva Memória do Redentor, à luz da Palavra de Deus
SUA HISTÓRIA, NOSSA HISTÓRIA: Pe. José Luciano Jacques Penido, C.Ss.R.
PARTILHA MISSIONÁRIA: Educadora: a rádio pioneira do Vale do Aço!
CURIOSIDADE: 130 anos de presença redentorista no Brasil
RESENHA: Mistérios do Terço - Mistério da Vida
FOCUS PROVINCIALIS
Edição 1 - Dezembro de 2023 a Março de 2024
Superior Provincial
Pe. Marlos Aurélio da Silva, C.Ss.R.
Editores
Pe. Jonas de Pádua, C.Ss.R.
Fr. Fabrício Oliveira, C.Ss.R.
Mário Pereira
Revisão
Sofia Machado
Diagramação
Mauricio Pereira
Maicon dos Santos
Email comunica2300@gmail.com
Tiragem
700 exemplares
Foto de fundo da capa Adobe Stock
Nascemos e já começamos, aos poucos, a engatinhar, pois temos uma carga genética missionária que nos permite partilhar algumas atividades da vida adulta redentorista por meio desta Revista, que irá sacramentar nossa comunicação e sintonia fraternal dentro de nossa Província e, também, fora dela!
Ora, Deus criou o tempo e o espaço para que pudéssemos neles reconhecer sua presença e sua graça! Certamente, a vida humana seria vazia de sentido se não percebêssemos o tempo como oportunidade de maturação humana e ocasião para desenvolvermos nossos projetos de vida, sempre cônscios de nossa finitude e temporalidade! Os espaços existem para darmos forma e ação a nossa vocação de cocriadores, ou seja, de quem não simplesmente recebe, mas que é capaz de ofertar vida e criatividade ao cosmo e às pessoas com as quais nos relacionamos!
Nesse sentido, a criação da Província Nossa Senhora Aparecida revela o caráter dinâmico, renovador e revitalizador de nossa vida e missão redentorista! Cada momento da história requer respostas diferentes e novas para os desafios que surgem. De modo que não cabem saudosismos aprisionantes como reações defensivas! Sem negar as origens fundantes de nossa identidade grupal e missionária, temos de ousar novos caminhos, embalados por sonhos desinstaladores, para sermos também nós os pioneiros deste tempo grávido de oportunidades! Embora tendo de reconhecer que a graça divina irrompe dentro da história, e no momento que quiser, não podemos simplesmente improvisar e viver de modo inoperante. Por isso tem sentido realizar o devido planejamento, que nos permite ter parâmetros, critérios e escopo para nossos trabalhos e nossas metas de vida apostólica. Na Conferência Redentorista da América Latina e Caribe, isso se evidencia a partir de um novo tempo, que se inaugura com a coordenação do Pe. César Torres. Em comunhão continental, queremos e podemos juntos dar passos significativos para o êxito em nossa missão redentorista. Em espírito de sinodalidade, devemos primar por abraçarmos as causas mais essenciais nesse cenário redentorista reconfigurado. Certamente que o diálogo e a presença amiga sempre representarão muito e serão facilitadores de todos os processos! No campo pastoral, é possível constatar o quanto vamos consumindo de nossa vida e energias para que
a Redenção aconteça para todas as pessoas, especialmente para as mais pobres e abandonadas. E, dentre os muitos desafios que sentimos para realizar nosso trabalho evangelizador, deparamo-nos com um, em especial, isto é, aquele relativo ao ambiente digital. Este traz muitas possibilidades, mas tem também muitos riscos. Nunca é demais refletir e pensar a esse respeito! Ademais, para nós continua relevante e atual o trabalho das Missões Redentoristas. Continuamente, temos de nos deixar interpelar por essa frente apostólica com suas dificuldades e oportunidades. Portanto é válido ver e perceber também as perspectivas que se abrem para nossa Província nesse setor. Afinal, nossa vitalidade apostólica transparece tanto nos 130 anos da chegada dos Redentoristas holandeses, como nos 120 anos da Igreja São José, e nas outras diversas atividades que cotidianamente realizamos dentro do território geográfico de nossa Província. Ainda que o espírito afonsiano sempre nos interpele e provoque para novos desafios pastorais!
De modo que não precisamos de nenhum esforço para perceber que, tanto nossa história, como nossa vivência da espiritualidade redentorista nos motivam a continuar o caminho do Redentor com muita alegria e esperança. Jamais colocamos em xeque que esse itinerário existencial e espiritual deixa de nos oferecer um meio seguro e eficaz para nossa santificação e aprimoramento humano! Basta pensar na quantidade de confrades e leigos que lograram alcançar essa graça trilhando esse caminho!
Enfim, auspiciamos que essa singela partilha, que reflete nossa fraternidade e a missão evangelizadora redentorista, sirva de estímulo e seja seiva para todos que puderem desfrutar destas páginas.
Com o coração agradecido, estamos iniciando um novo tempo. Imbuídos pelo espírito de confiança, com coragem para o que está por vir, vislumbrando com esperança o futuro, tendo gratidão pelo passado e buscando viver intensamente o presente. Nós somos a nova Província Nossa Senhora Aparecida, e sem fraternidade não existe comunidade humana que resista, porque ser irmão é vocação de todos nós. É tempo de fé, de conforto e estímulo para que todos vivam como irmãos, uns ajudando os outros a caminhar na mesma direção. É preciso colocar em prática a fraternidade por meio de gestos concretos, não só pela verbalização, pelo discurso, mas também por meio de amor, de ternura, de serviço gratuito, respeito pelas pessoas e culturas.
Ir. Thaylor Bertoli, C.Ss.R.A unidade encurta a distância, agrega valores, fortalece os vínculos e aproxima os corações, e dessa forma São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Espírito Santo e Bahia, agora unidos e tomados pelo mesmo sentimento de grande esperança, demonstrado pelo superior eleito para a nova Província Nossa Senhora Aparecida, Pe. Marlos Aurélio, que nós, Missionários Leigos Redentoristas, da cidade de Tietê, SP, abraçamos e desejamos muitas bênçãos para essa Província reconfigurada, para que possamos juntos, consagrados e leigos redentoristas, com o mesmo espírito missionário, levar o amor do Cristo Redentor aos mais pobres e abandonados em uma igreja em saída, a exemplo de seu fundador, Santo Afonso, e como propõe o Papa Francisco. Que a nova Província, que já começa abençoada em seu nome pela Mãe Aparecida, possa lançar suas redes em águas mais profundas, superar desafios e dificuldades que possam surgir no caminho, e que essa nova reconfiguração atenda o dinamismo da Congregação Redentorista, que se faz presente no Brasil e no mundo, há quase 300 anos, e que sob as luzes do Espírito Santo tenha êxito para a continuidade de sua missão. Maria Lúcia Bacili, Leiga Redentorista, Tietê, SP
O apóstolo Paulo nos encoraja dizendo que “tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28). Com essa certeza, como expressão desse amor a Deus e à Missão, abraçamos a inspiração do Espírito Santo, que nos convoca a viver a Reestruturação/Reconfiguração com abertura de coração e renovada esperança, dóceis a sua ação, em vista de sermos fiéis a nossa vocação Redentorista, frente às necessidades de nossos dias. Consagramo-nos para isto: gastar nossos dias em prol do anúncio Redentor de Jesus Cristo e em prol dos remidos, em especial, os mais pobres e abandonados. E aqui estou, feliz e realizado por fazer parte desta história! Aqui estamos, para construir esse novo tempo na Província Nossa Senhora Aparecida, com coragem, alegria, disponibilidade, confiantes no auxílio da Padroeira do Brasil, nosso Perpétuo Socorro, seguindo os passos do Redentor, que nos cumula com sua graça. Afinal, se Jesus está presente, nada pode faltar!
Fr. Natan Augusto Pimentel Santos, C.Ss.R. Alfonsianum II - Bosque da Saúde
É com muita alegria que em nome dos Oblatos Redentoristas de Tietê-SP, damos as boas-vindas à nova Província Nossa Senhora Aparecida! Que alegria poder fazer parte dessa grande família! Que possamos caminhar juntos com nossos Confrades, Missionários Leigos Redentoristas e com nossa Jumire, sempre, com o mesmo espírito missionário! Queremos, a exemplo de nosso Pai fundador Santo Afonso, com as bênçãos da Mãe Aparecida, levarmos a todos os nossos irmãos o amor de Jesus, o Santíssimo Redentor! Vamos aprender a caminhar juntos, nos momentos de êxitos e também em tempos de dificuldades! Juntos, somos com certeza muito melhor!
Maria José Lara, Oblata Redentorista de Tietê, SP
Tecendo novos versos com esperança! É muito interessante observar, na prática, como nossa Congregação não é movida por um grupinho com boas ideias, mas pela ação maravilhosa do Espírito Santo. Ele nos desinstala e nos faz contemplar um horizonte novo e cheio de possibilidades. Quem não se deixa conduzir pelo Espírito fica preso às velhas e carcomidas teorias e perde a valiosa chance de se reinventar e oxigenar sua vida missionária. Recentemente, o Espírito nos desafiou a recomeçar de novo por meio da Província Nossa Senhora Aparecida. Assim como os grandes maestros, usemos essa nova nota dada pelo Espírito para compor a melhor canção, que traduz as maravilhas do Senhor! Nesse sentido, chegou o tempo de partir sem medo, de coração aberto e cheio de esperança; tempo de romper com os preconceitos e na força da fraternidade anunciar com ardor e amor a copiosa Redenção!
Pe. Robério Santana de Lima, C.Ss.R. Comunidade São João da Boa Vista, SP
E-mail: secretariasp@cssr.com.br
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Whatsapp: (11) 97070-9253
Para nos projetarmos no futuro devemos dar ênfase especial a nossa transformação pessoal. Esse processo deve quebrar muitas passividades e mediocridades que ainda existem entre nós. A conversão requer um processo de confronto real com as origens carismáticas da Congregação. Quanto mais radical for nossa conversão, mais radical e profética será nossa vida apostólica. A conversão missionária é um desafio para todos.
Do primado das estruturas ao primado das pessoas
Durante muito tempo, houve processos de transformação de formas externas, em vez de processos de conversão pessoal. O Espírito se manifesta de dentro para fora. Pessoas e estruturas, nós estamos a serviço da missão. Não basta renovar as estruturas. A renovação das pessoas deve ser sempre cultivada, ainda mais nesse processo de transição de unidades reconfiguradas. As pessoas são mais importantes que as estruturas.
me fascina! “Eu acredito na mística”. Portanto a reestruturação de nossas obras, atividades e presenças será muito mais ousada, se for acompanhada de um processo de conversão, de reestruturação espiritual pessoal e comunitária.
É necessário, em todo o caso, manter estruturas verdadeiramente adequadas à salvaguarda da riqueza do carisma e que permitam difundir o Evangelho, colocando-o a serviço de todos, especialmente dos mais pobres. Como disse o Papa Francisco, em 2018, no Peru: “Uma Igreja que não se aproxima dos pobres é uma Igreja que se distancia do Evangelho”. Tal como, na visita de Maria a sua prima Isabel, o Menino saltou de alegria em seu ventre, também a presença de um Redentorista faz saltarem de alegria os pobres, os excluídos, os migrantes, as mulheres e as crianças vulneráveis, porque lhe trazemos abundante redenção.
Lembro-me das palavras da primeira mensagem que o Padre Rogério nos deu no dia seguinte a sua eleição como superior geral: “Tenho fé antropológica. Para mim, as pessoas estão acima das estruturas. As estruturas têm sua importância, mas pensadas em termos de pessoas e de missão. E o ser humano é sempre novo. A cada dia ele se renova, surpreende-se com seu potencial e suas fraquezas, e isso
Dinamizar a congregação a partir da missão
O Plano Apostólico propõe prioridades missionárias e apostólicas, que garantirão a fecundidade apostólica e missionária, o que certamente lançará um dinamismo sem paralelo, mas o dinamismo começa por colocar nossa confiança em Deus e em seu Espírito, não contemplando nossas deficiências ou vitalidades, mas o potencial do carisma redentorista na igreja. Isso, tendo em consideração a qualidade do compromisso e das escolhas pessoais, porque nos reestruturamos por fidelidade e
Último encontro da União dos Redentoristas do Brasil (URB), realizado em Fortaleza (CE), de 5 a 7 de setembro de 2023
não por necessidade. Não respondemos a uma “moda eclesiástica”, mas sim ao que exige a fidelidade a nossa missão.
O dinamismo depende também da fidelidade pessoal à nossa consagração, como religiosos, e da fidelidade de nossa Congregação aos “sinais dos tempos”, que devemos saber ler, compreender e responder. Não vejo a Reestruturação como uma luta pela sobrevivência, mas como uma forma de trilhar novos caminhos, com a novidade de um novo horizonte, cativados pelos valores do Reino de Deus.
Essa espiritualidade missionária, partilhada com os leigos, dará maior impulso e vitalidade a nossa missão.
Vida comunitária reestruturada
Temos diante de nós um grande desafio, colocado por São João Paulo II: “O primeiro ato evangelizador da vida religiosa é sua vivência fraterna”. É na convivência fraterna que aprendemos a partilhar os dons recebidos para a edificação de todos. A partir daí você aprende a dimensão missionária da consagração, a partir daí você cultiva o sentido de pertença.
A partir da comunidade, promoveremos o trabalho desafiador proposto pelo XXVI Capítulo Geral: identidade, missão, vida consagrada redentorista, formação para a missão e liderança para a missão.
Ser Redentoristas na América Latina e no Caribe é falar de alguém fiel a Jesus Cristo e a seu Evangelho, fiel aos pobres e a seus desejos, que está aberto à ação do Espírito, que vive com fé robusta, caridade ardente e zelo, iluminado, missionário da Esperança nos passos do Redentor.
Pe. César Pantoja Coordenador da Conferência Redentorista da América Latina e Caribe
Leigo engajado e doutor em Comunicação contextualiza sobre o testemunho da fé e a evangelização na cultura digital, suas potencialidades e seus cuidados com algumas “tentações”, no campo da comunicação: a visibilidade, a futilidade e a agressividade
Na sociedade conectada, na qual vivemos, é inevitável utilizar as tecnologias e redes sociais, que emergem constantemente no ambiente digital, onde nos relacionamos, comunicamos e trabalhamos. Assim é preciso saber inculturar em tal ambiente e evangelizar de modo integral a pessoa, ou seja, uma evangelização que leve “em consideração não apenas os aspectos tecnológicos contemporâneos, mas também as dimensões corporais, psicológicas, relacionais e espirituais – dentre outros âmbitos – das pessoas e de suas inter-relações como comunidade”, segundo o professor e doutor Moisés Sbardelotto, em entrevista para a nossa Revista Focus Provincialis.
Além de leigo engajado na comunidade, Moisés é doutor em Ciências da Comunicação, jornalista, escritor, tradutor e palestrante. Entre suas publicações, destacamos: “E o Verbo se fez bit: A comunicação e a experiência religiosas na internet” (Santuário, 2012); “E o Verbo se fez rede: religiosidades em reconstrução no ambiente digital” (Paulinas, 2017); e “Comunicar a fé: por quê? Para quê? Com quem?” (Vozes, 2020). Sbardelotto é professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), coordenador do Grupo de Reflexão sobre Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Grecom/CNBB), pesquisador do Núcleo de Estudos em Comunicação e Teologia (Nect/
PUC Minas) e colaborador do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Por meio de sua vasta experiência de estudos e assessorias no âmbito da comunicação católica, o pesquisador salienta a importância de estarmos inseridos no ambiente digital, com cuidado, consciência e discernimento. E, fazendo referências aos documentos da Igreja, busca situar-nos em relação ao essencial da prática da comunicação cristã: “Evangelizar não é apenas transmitir ideias e teorias. Trata-se, em vez disso, de uma experiência do amor de Deus, de uma (con)vivência com a pessoa de Jesus e com todos os irmãos e as irmãs, de um estilo de vida pessoal e comunitário inspirado pelo Espírito”.
Moisés é doutor em Ciências da Comunicação, jornalista, escritor, tradutor e palestrante
Focus Provincialis (FP): Qual a importância da inserção da Igreja no ambiente digital?
Moisés Sbardelotto (MS): A Igreja tem uma “boa notícia” a comunicar. Essa é sua missão principal, dada pelo próprio Jesus (cf. Mc 16,15). Na Evangelii Gaudium, o Papa Francisco reafirma que hoje é vital que a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todas as pessoas, em todos os lugares e em todas as ocasiões (cf. n. 23). Portanto os ambientes digitais também são um lócus muito importante de missão, em tempos de sociedades cada vez mais digitalizadas. A internet, de modo geral, não é mais “secundária” ou “opcional”, mas faz parte do estilo de vida da cultura contemporânea, sendo um de seus principais espaços de sociabilidade.
O mais importante, nesse sentido, é que evangelizar não é apenas transmitir ideias e teorias. Trata-se, em vez disso, de uma experiência do amor de Deus, de uma (con)vivência com a pessoa de Jesus e com todos os irmãos e todas as irmãs, de um estilo de vida pessoal e comunitário inspirado pelo Espírito. Por isso a evangelização nos ambientes digitais deve ser principalmente uma continuidade da missão nos demais espaços da vida humana e social, sem dicotomias, nem incoerências, nem duplicidades. Somos chamados a ser cristãos sempre e em todo lugar, seja onde for, quando for e com quem for.
Em sua primeira mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 2014, o Papa Francisco já convidava a Igreja a uma “saída” rumo às “estradas digitais”, justamente pelo fato de estarem “congestionadas de humanidade, muitas vezes ferida”. Portanto se a Igreja quer estabelecer uma relação com as pessoas de hoje, dialogando com elas em suas linguagens, é preciso promover uma inculturação digital, que favoreça essa “saída” e esse encontro com o mundo atual, reconhecendo e aprendendo novos modos de comunicar a fé.
FP: Quais as oportunidades e os riscos que o contexto digital apresenta para o cristão?
MS: do ponto de vista das oportunidades, a maior delas, a meu ver, é a possibilidade de estarmos praticamente sempre “comunicáveis” e, portanto, disponíveis à escuta do outro. O Papa Francisco já afirmou, naquela sua primeira mensagem, que o poder da comunicação é justamente a “proximidade”. E os ambientes digitais ampliam as possibilidades de estarmos próximos dos outros, derrubando quase totalmente as barreiras geográficas e temporais. Não importa onde eu esteja nem onde você esteja, nem mesmo se estamos em sincronia
ou no mesmo fuso horário, pois, por meio dos ambientes digitais, podemos estar “juntos a distância”. E se Jesus se faz realmente presente onde dois ou mais estiverem reunidos em seu nome, os ambientes digitais podem facilitar esse encontro humano-divino.
Do ponto de vista dos riscos, os ambientes digitais, justamente por facilitarem as interações, também podem fomentar algumas “tentações”, no âmbito da comunicação da fé. Eu destacaria três principais: a visibilidade, a futilidade e a agressividade. A visibilidade é se deixar levar pela mera busca de mais seguidores, de mais visualizações, de mais fama digital. Entretanto, como lembra o recente documento do Dicastério para a Comunicação do Vaticano, intitulado “Rumo à presença plena: uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais”, como cristãs e cristãos, seguimos alguém que morreu pregado em uma Cruz, subvertendo qualquer glória mundana. “Não houve ‘curtidas’ e praticamente nenhum ‘seguidor’, no momento da maior manifestação da glória de Deus! Todas as medidas humanas de ‘sucesso’ são relativizadas pela lógica do Evangelho” (n. 79).
Por outro lado, supostamente para “atrair” mais pessoas, percebe-se uma tendência, em certos ambientes digitais cristãos, a baratear a fé, quase a ponto de ridicularizá-la e liquidá-la. Essa futilidade manifesta-se, muitas vezes, como superficialidade na abordagem das questões ligadas à fé cristã, como certa falta de seriedade, de reflexão e de prudência, como pura irreverência, não apenas no modo de comunicar e de interagir, mas também nos próprios conteúdos oferecidos.
de um conteúdo cristão, gritam da tela e representam uma contradição do próprio Evangelho” (n. 50). Nesse sentido, o maior desafio, do ponto de vista da fé cristã, é justamente promover “relacionamentos pacíficos, significativos e atenciosos” em rede (cf. n. 5). Em tempos em que vivemos uma polarização radicalizada, inclusive dentro da Igreja, com agressões mútuas entre pessoas que deveriam viver como irmãs na fé, é preciso sempre lembrar as palavras de Jesus: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35).
FP: Que cuidados precisamos ter em tempos de redes sociais e como nos comportar quando percebemos que a exposição pessoal está/foi demasiada?
MS: No ritmo frenético da vida contemporânea, a internet vem se manifestando cada vez mais como uma fonte de dependência e distração. As pessoas podem ficar “escravas” e “prisioneiras” de seus dispositivos eletrônicos, perdendo tempo útil para outras atividades mais relevantes – e tempo de vida – além do contato com as pessoas a seu redor. Geralmente, estamos divididos entre as telas de nossos celulares e o olhar da pessoa com quem tentamos nos relacionar. Além de afetar nossa própria fisiologia, pela falta de movimento corporal e pelo excesso de exposição à luz artificial, a dependência tecnológica revela uma atitude antievangélica, especialmente para quem é chamado, por vocação, a viver relações de comunhão e partilha em família ou em comunidade.
Por fim, não basta se dizer “cristão” em rede. Muitos perfis digitais afirmam proclamar a doutrina da Igreja, mas não são capazes de construir relações saudáveis. Como também afirma o documento “Rumo à presença plena”, “interações hostis, bem como palavras violentas e ofensivas, especialmente no contexto da partilha
Para evitar isso, primeiramente, é importante estimular e pôr em prática um estilo de vida saudável e equilibrado, dosando o uso das tecnologias e discernindo o papel delas na vida pessoal e também familiar ou comunitária. Além disso, é importante promover uma conscientização e um discernimento em relação ao tempo que passamos na internet e em frente às telas. Pode contribuir com isso um “exame de consciência digital”, inclu-
sive diariamente (e há até aplicativos que auxiliam nisso), que permita aceitar as próprias limitações e imperfeições em relação às práticas em rede. Espaços e momentos de “retiro”, “deserto” e “jejum” digitais também podem ser significativos –e aqui a própria Igreja tem uma rica tradição; basta pensar nos momentos propícios do próprio Ano Litúrgico, como o Advento, a Quaresma e o Tríduo Pascal, dentre outros.
Em suma, além do “que” comunicar (o Evangelho), é importante sempre se perguntar “por que”, “para que” e “com quem” o fazemos, para que nossa comunicação não seja autorreferencial, alienada e talvez até meramente narcísica, contradizendo o próprio “mandamento do amor” dado por Jesus (Jo 13,34).
FP: Que mensagem o senhor nos deixa sobre a evangelização no ambiente digital?
Seminário São Geraldo, em Sorocaba (SP)
MS: Em tempos de internet, é importante pôr em prática uma evangelização que seja integral, ou seja, que leve em consideração não apenas os aspectos tecnológicos contemporâneos, mas também as dimensões corporais, psicológicas, relacionais e espirituais – dentre outros âmbitos – das pessoas e de suas inter-relações como comunidade. Máquinas, dígitos, métricas não são (nem um pouco) suficientes para a missão cristã, pois somos chamados a seguir os passos de Jesus e “anunciar a Boa-Nova aos pobres” (cf. Lc 4,18), indo ao encontro de pessoas humanas, que têm um nome, um rosto, uma história,
uma dignidade a ser respeitada e defendida, nas redes e fora delas.
Se “evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (Evangelii Gaudium, n. 176), uma evangelização integral busca assumir também as contribuições positivas das lógicas e dinâmicas digitais, assim como seus limites, dentro da experiência de mundo contemporânea. Trata-se, com isso, de contribuir, de modo efetivo, com a construção de redes de relações humanizadas e humanizantes nos ambientes digitais e fora deles, buscando o desenvolvimento do ser humano como um todo, no respeito a sua dignidade e consciência pessoais, e do bem comum de todos os seres humanos, sem discriminação nem exclusão.
Formada pelos Missionários Redentoristas presentes nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia, a Província Nossa Senhora Aparecida é fruto do processo de reestruturação pelo qual a Congregação do Santíssimo Redentor passa no mundo todo. A iniciativa da renovação é discutida há mais de 30 anos dentro da instituição religiosa, a partir dos Capítulos Gerais, no intuito de repensar as estruturas evangelizadoras e o diálogo com as realidades plurais para o bem da Missão Redentorista.
O que a Congregação tem buscado com a reestruturação é dar um dinamismo maior a seu corpo missionário, para responder de forma criativa e eficaz às urgências pastorais e aos desafios da atualidade, sem perder sua identidade, tão pouco a fidelidade à vocação e ao carisma Redentorista.
Para tal revitalização da vida apostólica, os Missionários Redentoristas são chamados à conversão contínua de coração e renovação do espírito. É preciso saber ler os sinais dos tempos, apontar novos caminhos e apresentar a resposta do Evangelho para cada contexto social do tempo presente!
Um dos caminhos indicados para a reestruturação foi uma nova configuração das Unidades. A proposta era diminuir estruturas para responder de forma mais ágil às adversidades atuais encontradas no campo da evangelização e liberar recursos humanos, financeiros e materiais para a missão.
Dessa forma, em agosto de 2018, ficou definido que a Província de São Paulo, Província do Rio de
Janeiro e Vice-Província da Bahia deveriam se unir, a fim de formarem uma única Unidade. Os primeiros passos para essa unificação aconteceram de maneira cautelosa, consciente e participativa. Sustentadas pelo Plano Apostólico e Projeto de Reconfiguração dos Redentoristas da América Latina e Caribe, aprovados pelo Governo Geral, as Unidades realizaram muitas reuniões para seguirem os melhores rumos para a efetivação desse processo.
A metodologia de trabalho consistiu em formar subcomissões nas diversas áreas da vida Redentorista, para melhor planejar os vários campos de atuação e envolver maior número de confrades. Os grupos de Vida Comunitária, Pastoral Vocacional, Juventude e Leigos, Jurídico, de Mídias, Administrativo e de Vida Apostólica começaram, então, a deliberar, a fim de reunir contribuições à Comissão Central, formada por representantes das três Províncias.
O ano de 2023, histórico e decisivo para a constituição da Unidade, foi marcado por uma série de atividades que culminaria com a ereção canônica da nova Província. A primeira etapa para esse processo foi a eleição dos Capitulares (vogais), nas Comunidades e nos Colégios Eleitorais dos Junioristas e dos Irmãos, de 1º a 30 de abril. O objetivo foi escolher os religiosos que votariam em nome dos demais Missionários Redentoristas e participariam, em agosto, do Capítulo que elegeria o primeiro Governo Provincial.
A Grande Assembleia:
Memória, Fraternidade e Esperança
De 22 a 25 de maio, uma grande Assembleia com as três (Vice)Províncias foi realizada no Seminário Santo Afonso, em Aparecida (SP). Durante o encontro, foi apresentada uma síntese dos trabalhos realizados pelas Subcomissões e proporcionados momentos de confraternização e partilha fraterna de vida.
Também houve espaço para uma palestra com o Pe. Pedro Cunha, da Diocese de Lorena (SP); apresentação da trajetória de cada (Vice) Província, com memória agradecida, sobretudo, aos Missionários
Grande Assembleia da Província Nossa Senhora Aparecida, realizada no Seminário Santo Afonso, em Aparecida (SP), de 22 a 26 de maio de 2023
Redentoristas pioneiros; e a celebração da Santa Missa, no Santuário Nacional, presidida por Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Aparecida e Oblato Redentorista.
Entretanto, o destaque desse evento, que marcou um novo e importante capítulo na história da Unidade, foi a escolha de “Nossa Senhora Aparecida” como nome da nova Província, agora oficialmente amparada pelo colo materno e amoroso de Maria Santíssima.
Memória, fraternidade e esperança foram os termos que nortearam toda a Assembleia, dando o tom da força vivificadora do Espírito Santo que, somado à proteção da Mãe Aparecida, encaminhavam, com sabedoria e perseverança, os Missionários Redentoristas para um tempo novo!
A eleição do nome da nova Unidade foi um processo participativo, que contou com a opinião de todos os religiosos. O procedimento começou dentro de cada (Vice)Província, em abril de 2023, quando as Comunidades Apostólicas apresentaram suas sugestões. Em suas respectivas Unidades Provinciais, os confrades escolheram um dos nomes indicados. Os dois mais votados em cada uma das três (Vice)Províncias foram, então, levados à escolha definitiva, que aconteceu no dia 25 de maio, durante a Assembleia em Aparecida.
Dentre os seis nomes apresentados no encontro, dos 183 votantes presentes, 125 preferiram “Província Nossa Senhora Aparecida”. Em clima de união e irmandade, a Rainha e Padroeira do Brasil abençoava os filhos espirituais de Santo Afonso Maria de Ligório e nomeava a nova Unidade Redentorista!
A Eleição do Primeiro Governo Provincial Assumido com compromisso e seriedade, o processo que elegeu o primeiro Governo da Província Nossa Senhora Aparecida teve início nos meses de maio e junho, com a sondagem e prévia eleitorais para o cargo de Superior Provincial. Em cada (Vice)Província, por meio de votação individual, os Redentoristas indicaram alguns nomes para a função. As três sugestões mais votadas em cada Unidade foram levadas para o Capítulo Provincial Eletivo, realizado de 22 a 25 de agosto, na Casa de Retiros São
José, em Belo Horizonte (MG), para a eleição final entre os membros de direito e os capitulares, representantes das Comunidades Redentoristas.
Na ocasião, os 63 votantes elegeram os Redentoristas para conduzirem a Província Nossa Senhora Aparecida, no triênio 2024-2026. Primeiramente, a votação foi para o cargo de Superior Provincial, sendo eleito o Pe. Marlos Aurélio da Silva, C.Ss.R., até então Provincial de São Paulo. Natural de Wenceslau Braz (PR), o religioso de 49 anos ingressou na Congregação Redentorista em 1989, no Seminário Santo Afonso, em Aparecida (SP), tendo sido ordenado sacerdote em 14 de julho de 2001.
A nomeação do Provincial foi confirmada pelo Superior Geral da Congregação Redentorista, Pe. Rogério Gomes, C.Ss.R., em documento enviado de Roma, Itália: “Desejamos ao Pe. Marlos todas as bênçãos e que seja bom pastor e guia para a nova Província. E cada confrade, por sua corresponsabilidade e para o bem da Congregação, é chamado a auxiliá-lo em sua tarefa de pastorear, governar, guiar e administrar”.
Em seguida, foram escolhidos os demais representantes para comporem os Conselhos Ordinário e Extraordinário, além do cargo de Vigário Provincial.
Composição do Governo da Província Nossa Senhora Aparecida (2024-2026):
Superior Provincial:
Padre Marlos Aurélio da Silva, C.Ss.R.
Vigário Provincial:
Pe. Américo de Oliveira, C.Ss.R.
Conselheiros Ordinários:
Pe. Roque Silva, C.Ss.R.
Pe. Américo de Oliveira, C.Ss.R.
Pe. Fábio Evaristo Resende Silva, C.Ss.R.
Ir. Carlos José da Cunha, C.Ss.R.
Conselheiros Extraordinários:
Pe. Rosivaldo Motta, C.Ss.R.
Pe. Jonas Pacheco, C.Ss.R.
Após as eleições do Governo Provincial, as Unidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia passaram pelo processo de supressão, no mês de setembro, em virtude da constituição oficial da nova Província.
Assim, no dia 9 de novembro de 2023, data em que a Congregação Redentorista completou 291 anos de fundação, a Província Nossa Senhora Aparecida foi erigida canonicamente. A Solenidade foi marcada com a Missa em Ação de Graças, no Santuário Nacional de Aparecida, reunindo ao redor do altar da Rainha e Padroeira do Brasil os Missionários Redentoristas que formam a nova Unidade.
A Celebração Eucarística foi presidida pelo Superior Geral Redentorista, Pe. Rogério Gomes, C.Ss.R., e concelebrada pelos bispos diocesanos Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Aparecida, SP, e Dom José Eudes, Bispo de São João Del Rei (MG), pelos bispos Redentoristas Dom Darci José Nicioli, Arcebispo de Diamantina, MG, Dom Joércio Gonçalves Pereira, Bispo emérito de Coari, AM, e Dom Carlinhos, Bispo emérito de Rubiataba, GO, além do Governo da Província Nossa Senhora Aparecida, empossado na ocasião.
O momento histórico vivenciado pelos Redentoristas é visto com esperança pelo Pe. Marlos Aurélio. “É o início de um novo ciclo, mas que queremos continuar com toda a garra, aproveitando tudo de bom que já existe e abrindo novos horizontes para o anúncio do Evangelho”, declarou o Provincial.
Retiros São José, em Belo Horizonte (MG), de 17 a 19/05/22
Irmanados por um Grande Ideal Missionário
Em número de confrades, a Província Nossa Senhora Aparecida é a maior Unidade Redentorista do Brasil e do continente america -
no, além de ser a terceira maior do mundo, atrás apenas de Vietnã e Polônia. São cerca de 260 Missionários Redentoristas, entre Padres, Irmãos,
Bispos e Junioristas, atuando em 38 Comunidades
Religiosas, espalhadas em cinco estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia, além da República do Suriname, cuja Missão ad gentes é de responsabilidade da referida Província, com o apoio da Conferência Redentorista da América Latina e Caribe.
Em vista do vasto território geográfico, dos grandes complexos evangelizadores e do número de Missionários Redentoristas, a sede provincial instalou-se no bairro Jardim Paulistano, na cidade de São Paulo (SP). Apesar das especificidades locais de uma região tão extensa, há mais laços que unem os Redentoristas do que diferenças. Como fonte de unidade, aflora uma identidade que começa a ser moldada nessa trajetória iluminada pelo Espírito Santo e abençoada por Maria. Simbologias, orações e composições de um desejo de comunhão entre os filhos espirituais de Santo Afonso, que agora formam uma única Província, pelo bem da Missão Redentorista!
O fundador da Congregação Redentorista, Santo Afonso de Ligório, já dizia que a oração “é um meio necessário e seguro para alcançar a salvação e todas as graças das quais temos necessidade”. Pensando na inspiração divina que conforta e orienta os caminhos quando rezamos com fé, foi desenvolvida uma Oração para a Província Nossa Senhora Aparecida.
A ideia surgiu em uma das reuniões preparatórias para a Assembleia realizada em maio, quando foi sugerida a criação de uma oração para iluminar o processo de constituição da nova Unidade Redentorista. A elaboração ficou a cargo do Pe. Sérgio Luiz e Silva, C.Ss.R., que o fez com maestria, sob uma perspectiva trinitária: a Trindade como geradora de comunhão.
“A oração se dirige à pessoa de Deus Pai, Deus Filho e o Espírito Santo. Eu levei em consideração as três palavras que nos inspiraram na realização da grande Assembleia – memória, fraternidade e esperança. Também estão presentes as três (Vice)Províncias, que dão origem à nova Unidade, e, ainda, aquilo que nos marca como Redentoristas: a vocação, a identidade e a missão”, explica Pe. Sérgio.
A súplica a Deus despertou a inspiração em outro campo: o musical. Ao final da referida Assembleia, o Pe. Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R., sugeriu ao Pe. Ronoaldo Pelaquin, C.Ss.R., que compusesse um Hino para a Província. Conhecido por suas inúmeras canções que exaltam o carisma e a espiritualidade Redentorista, o compositor desenvolveu a letra e melodia, pedindo as bênçãos de Maria nessa nova missão que a Província estava prestes a começar.
Na música, Padre Ronoaldo exalta a memória saudosa, a fraternidade no amor e a esperança alegre como agentes propulsores que conduzirão os Missionários Redentoristas da Província de Aparecida no anúncio da Copiosa Redenção, junto aos mais abandonados e oprimidos, conforme o legado deixado por Santo Afonso.
Sob a proteção maternal de Maria, é nesse espírito missionário e fraterno que nasce a Província Nossa Senhora Aparecida! Unidos em prol da Missão Redentorista, os anunciadores do Evangelho que compõem essa Unidade, revitalizados pela fé, pelo ardor apostólico e pela fidelidade criativa, são chamados a fazer aquilo que o próprio Cristo os instruiu: “Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade” (Mc 16,15).
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Ó Trindade Santa, fonte de comunhão, a Vós nos dirigimos em confiante súplica por nossa Nova Província. Fortalecei em nós os vínculos que nos unem por comum consagração. Firmai em nosso ser e em nossas estruturas a identidade vocacional que nos foi legada por Santo Afonso, sempre em vista da Missão.
Pai de Misericórdia, em MEMÓRIA agradecida, nós vos damos graças pela história de nossas três Unidades. Bendito sejais pelos que gastaram suas vidas pela redenção, ao longo dos anos, nas diversas frentes de trabalho apostólico. Bendito sejais pela generosidade, pela entrega, pela ousadia missionária. Bendito sejais por nossas famílias, pelas parcerias em vista do Reino, pelos leigos e leigas associados à nossa evangelização.
Amado Redentor, Jesus, sendo Filho, quisestes fazer-vos irmão nosso. Solidificai entre nós a FRATERNIDADE que acolhe, que aceita as diferenças, que se manifesta na escuta atenta e nos gestos de gratuito interesse pelo outro. Seja o vosso Amor a inspirar nossas palavras, a desarmar nossas resistências e a impulsionar nossa vida comunitária.
Espírito Santo, Paráclito, Alma e Guia fiel da Igreja, um dia, suscitastes em Afonso a fundação da Congregação Redentorista. Enraizai profundamente em nós a ESPERANÇA que descortina horizontes, fecunda novos projetos e desperta mais vocacionados para continuação dessa Obra Missionária. Que não nos deixemos vencer, nem pelo medo, nem pelo cansaço, nem pelas dificuldades do caminho. Que cada desafio seja um convite para o exercício de uma fidelidade criativa em favor dos evangelizados, dentre eles, os mais pobres e abandonados.
Maria, Mãe do Perpétuo Socorro, sede para nós exemplo de disponibilidade e intercessora constante em nossas necessidades.
Amém.
Primeiro Governo Provincial eleito no Capítulo Provincial da Província Nossa Senhora Aparecida, triênio 2024-2026: Pe. Roque Silva, Conselheiro Ordinário; Pe. Américo Oliveira, Vigário Provincial e Conselheiro Ordinário; Pe. Marlos da Silva, Superior Provincial; Pe. Fábio Evaristo, Conselheiro Ordinário; e Pe. Jonas Pacheco, Conselheiro Extraordinário
HINO DA PROVÍNCIA NOSSA SENHORA APARECIDA
Letra e música: Ronoaldo Pelaquin
O amado Redentor Jesus Cristo, Que por nós nasceu,
Que por nós morreu, Por nós ressuscitou.
Ele chamou-nos pra deixarmos tudo, Pra nos dedicarmos somente a seu amor, E empenharmos nossa vida toda
Aos abandonados e oprimidos, E assim vivendo, confiantes na bondade, Um dia ganharemos a eternidade
Memória saudosa, Fraternidade no amor, Esperança alegre, Reinarão entre nós.
Nós somos a Província
Nossa Senhora Aparecida.
Que alegria, quanta bênção, A Bênção da Mãe!
Maria nossa Mãe vai conosco
Pra nos ajudar
Em nossa missão
Agora e para sempre.
Conosco está pra nos amparar
Pra nos defender em qualquer perigo. Com seu auxílio a todos levaremos
O evangelho vivo de Nosso Senhor.
E tudo seja pra glória de Deus Pai, Do Deus que é seu Filho, no Espírito Santo.
As Missões Redentoristas se definem como um tempo especial de evangelização, tempo da graça abundante, tempo de conversão do coração. Ao fundar a Congregação em 1732, em Scala, Sul da Itália, Afonso de Ligório tinha no coração o nobre desejo de que os excluídos, os pobres e mais abandonados, conhecessem e experimentassem o grande amor de Deus por eles. Um Deus compassivo, terno, misericordioso, que não pune, não castiga e não condena, mas o Deus do amor misericordioso capaz de dar a própria vida para nos salvar. Para revelar aos homens a imensidão desse amor, Afonso reuniu um grupo de padres e irmãos para anunciar a todos, particularmente aos mais pobres e abandonados, a Copiosa Redenção.
Ainda nos dias atuais, os filhos de Santo Afonso continuam o mesmo sonho do fundador. Por meio do anúncio explícito da Palavra de Deus,
os missionários redentoristas vão de cidade em cidade anunciando a Redenção abundante trazida por Jesus Cristo, nosso Redentor. Por isso o missionário é o homem do povo e para o povo, capaz de acolher todos e com todos agir com misericórdia e compaixão. Sua mensagem profunda e simples tem endereço certo, o coração das pessoas.
Para o ano de 2024, na grande Província Nossa Senhora Aparecida as nossas perspectivas são as melhores possíveis. Teremos quatro equipes missionárias totalmente dedicadas à pregação das Santas Missões. Duas no estado de São Paulo, em Araraquara e em São João da Boa Vista, uma em Curvelo, MG, e outra em Salvador, na Bahia. Outro motivo de esperança e alegria é o maior número de missionários, padres e irmãos liberados para esse importante trabalho. A partir de 2024, muitas cidades que estão aguardando sua vez, serão evangelizadas.
Para os missionários que residem no estado de São Paulo, as missões em 2024 serão nas seguintes cidades: Presidente PrudenteSP, Desterro do Melo-MG, Tapira-MG, Ouro Preto-MG, Muzambinho-MG, Araraquara-SP, São Paulo-SP, Taciba-SP. Nos meses de fevereiro, maio, outubro e dezembro, os missionários vão trabalhar no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Os residentes em Curvelo, MG, e Salvador, BA, têm outra programação.
A realização das missões em uma determinada comunidade acontece em quatro etapas distintas: Missão da Visitação, Missão nas Famílias, família evangelizando famílias, Missão nas Comunidades e Missão da Perseverança ou Permanente. Na primeira, todas as casas são visitadas e divididas em pequenos grupos de 20 a 30 famílias, chamados Setores Missionários; na segunda, as famílias se reúnem para rezar juntas e refletir a Palavra de Deus; na terceira, com a presença dos missionários padres e irmãos, acontecem as celebrações, procissões, encontros, visitas; e na quarta, cada comunidade, motivada pelas fases anteriores, imbuída pela força do Espírito Santo, dá continuidade à dinâmica missionária como Igreja em cons -
Encontro com as crianças nas Missões de Primavera
tante estado de missão, uma Igreja em saída. Para coordenar as duas primeiras etapas contamos com a importante participação das Irmãs Missionárias, neste ano: Ir. Marlene Inês Teixeira, MAD. Ir. Lúcia Natália de Assis, MAD e Ir. Silvana Lúcia Sidney, MC.
As Santas Missões é a atividade que mais caracteriza o carisma e a missão dos filhos de Santo Afonso. Ao fundar a Congregação, Santo Afonso assim escreveu: “A obra das Santas Missões é uma das principais tarefas denosso Instituto visando a Glória de Deus, a edificação e a salvação das almas” (Ordini da osservari nelle missioni, in AGHR, II, P. 109).
Por necessidade de nossa Igreja, estamos comprometidos com outras formas de evangelização, mas a que mais confirma nossa fidelidade carismática é a prática das Missões Populares, o anúncio explícito do evangelho aos mais pobres e abandonados.
Caro Leitor, se você deseja conhecer melhor nossas missões, acesse o Portal a12. com/missões ou pelo nosso WhatsApp: (19) 99981-9232.
Ser missionário Redentorista é desafio, dom e graça de Deus, é continuar a missão de Jesus: “Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).
Aexpressão “Viva Memória” nos remete à nossa Irmã Redentorista, a Bemaventurada Maria Celeste Crostarosa (1696-1755), fundadora da Ordem do Santíssimo Redentor, cuja festa litúrgica é celebrada no dia 11 de setembro, no calendário redentorista desde 2016, ano em que ela foi beatificada, na cidade italiana de Foggia, onde está seu túmulo.
A Ordem possui atualmente cerca de 400 religiosas, que vivem em 40 mosteiros, situados em diversos países, inclusive no Brasil, onde o mosteiro de Itu, SP, vai celebrar seu 70º aniversário no próximo ano, 2024.
As Constituições da Ordem comprovam que ser “viva memória” de Jesus Redentor é o cerne do carisma e da missão espiritual das Irmãs Redentoristas. As palavras “viva memó-
ria” aparecem pela primeira vez na regra para a vida religiosa contemplativa revelada a Maria Celeste no seguinte contexto: “No dia 25 de abril de 1725, depois de receber a Eucaristia, ela ouviu estas palavras em sua oração mística: ‘Aprouve a mim escolher este Instituto para ser uma viva memória e imagem das obras de salvação e de amor realizadas por meu Filho Unigênito durante os trinta e três anos que viveu como homem neste mundo’”. O ideal de ser na terra uma “viva memória” do Filho de Deus está claramente explicado na Constituição 5 da O.Ss.R.: “O Pai nos chamou a sermos hoje para o nosso mundo uma Memória Viva, uma recordação contínua de tudo o que o Filho realizou por nossa salvação durante sua vida. O Pai quis que esta Ordem tenha em sua Igreja
como missão específica a de ser testemunha clara e irradiante do amor que Ele nos tem em Cristo”.
70 anos da mudança do prédio
Concretamente, ser viva memória é ser sinal, presença e testemunha de Cristo, imitando seus exemplos e buscando uma transformação pessoal que nos torne o mais possível semelhantes a Ele. Para Maria Celeste, a concretização da viva memória do Redentor nas religiosas seria realizada pela prática de nove virtudes – aumentadas para doze pelo bispo Dom Tomás Falcoia – realçando uma a cada mês na seguinte ordem: fé, esperança, caridade, amor fraterno, pobreza, pureza, obediência, humildade, mortificação, recolhimento, oração, amor da cruz. A memória-imitação do Salvador consiste em torná-lo presente, atualizando suas ‘obras’; continuar sua vida de doação e seu serviço ao mundo.
O caminho da “viva memória” é uma proposta profundamente enraizada na mensagem de Jesus e na dos Apóstolos. É o que passamos a analisar, recordando alguns dados do Novo Testamento.
O Redentor continua em nós e por nós sua obra de salvação, para sermos o que São Paulo afirma de si mesmo: “Já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Sabiamente, a Bíblia de Jerusalém assim comenta essa frase em nota: “Pela fé Cristo torna-se de certo modo o sujeito de todas as ações vitais do cristão”. Isso me recorda um hino italiano que diz: “Cristo não tem mãos, tem somente nossas mãos para transformar o mundo de hoje”.
Nessa mesma linha, Paulo afirma: Para mim, viver é Cristo (Fl 1,21). Não tem outro desejo, ou pensamento ou amor senão pelo Cristo. Sem Cristo a vida não seria nada para ele. Tudo ele encontra em Jesus: vida, alegria, força, luz, esperança.
Na escola do Mestre Jesus, o ideal do discípulo é ser como seu Mestre, como Ele
mesmo disse (Mt 10,25). Com muita propriedade, São Lucas descreve no relato da Ascensão que em sua vida Jesus primeiro fez e depois ensinou (At 1,1), confirmando sua doutrina com o exemplo que dava. Assim fizeram os grandes mestres. De São Bento se diz que “não ensinou outra coisa senão o que ele mesmo viveu”. Quando traçou o perfil do abade ideal, parecia estar descrevendo seu autorretrato. Já dizia São Paulo VI: “O homem moderno escuta com mais satisfação as testemunhas do que os mestres, ou se escuta os mestres o faz porque são testemunhas”.
Quem quer ser “viva memória” tem uma fonte abundante onde pode beber. O apóstolo Paulo escreveu aos coríntios: “Sede
meus imitadores, como eu mesmo o sou de Cristo” (1Cor 11,1). Jesus nos propõe este seu projeto para um mundo renovado: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). “Sede misericordiosos, como o vosso Pai celeste é misericordioso” (Lc 6,36). “Permanecei em mim, como eu em vós” (Jo 15,4). “Que sejam um, como nós somos um” (Jo 17,22).
Essa “viva memória” é obra de cada dia, construída passo a passo. Quando leio na Carta aos Gálatas (4,19) o anseio de Paulo de “que Cristo seja formado neles”, penso no trabalho paciente e minucioso do escultor que vai trabalhando a madeira, caprichoso no uso do cinzel, imaginando a obra de arte que está ali em potencial, aguardando apenas seu toque de artista.
Com a Bem-aventurada Maria Celeste Crostarosa podemos aprender como ser efetiva-
mente testemunhas do amor misericordioso do Pai em Cristo, criando comunidades que sejam sua “memória” transparente e evangelizadora.
Pe. José Raimundo Vidigal, C.Ss.R.
Aos 101 anos de vida, o Padre José Luciano Jacques Penido, C.Ss.R. é o Missionário Redentorista mais idoso do Brasil! Ao completar mais um aniversário, no dia 18 de outubro de 2023, o sacerdote comemorou a data com uma oração especial, o almoço festivo e um lanche entre os confrades, familiares e amigos, no Convento Redentorista Santo Afonso, no Rio de Janeiro (RJ), onde o decano reside.
Padre Penido atinge a nova idade de maneira lúcida, porém com limitações próprias da idade. Firme em seu propósito de servir a Deus e à Igreja, missão à qual se dedica há 81 anos, o Redentorista revela que o segredo para chegar bem à longevidade é cumprir a vontade do Pai. “Eu tenho de agradecer a Deus por essa lucidez. Sinto-me em pleno juízo, com inteligência, aberto às novidades da vida e, principalmente, em conformidade com a vontade de Deus. Isso me traz
paz, alegria e o cumprimento da minha vida não só religiosa, mas cristã.”
Padre José Luciano Jacques Penido, C.Ss.R. nasceu em Belo Vale (MG), no dia 18 de outubro de 1922, juntamente com seu irmão gêmeo, Paulo. Filho do sr. Henrique e de dona Maria José, recebeu o sacramento do batismo em 28 de janeiro de 1923. Desde pequeno, sonhava em ser sacerdote. “Em 1934, por volta dos 11 anos de idade, meu pai mandou-me para o seminário em Congonhas porque era o colégio mais próximo. Eu já desejava ser padre, mas nem pensava em Redentorista como tal. Quando cheguei ao Juvenato, conheci mais de perto o trabalho dos Missionários Redentoristas, principalmente a eloquência do Padre Ferreira, que despertou em mim o entusiasmo pelas missões
e para a vida religiosa. Foi um grande estímulo de estudos e, mais tarde, da vivência religiosa”, revela.
Após a experiência vocacional em Congonhas (MG), Padre Penido mudou-se para Juiz de Fora (MG) para fazer o Noviciado. Foi lá que conviveu com o Padre Gregório, que lhe orientou a permanecer fiel na vocação e na formação Redentorista, a exemplo do Padre Ferreira, missionário que tanto o inspirava. Após um ano, ele partiu para Tietê (SP), onde cursou Filosofia. Seguiu com os estudos da Teologia e foi transferido para o Seminário da Floresta, na cidade juizforana, cujo terreno foi doado pela Família Penido.
No dia 02 de fevereiro de 1942, Padre Penido professou os votos religiosos na Congregação Redentorista e em 20 de julho de 1947 foi ordenado sacerdote na Paróquia São José, em Belo Horizonte (MG). Ele passou por algumas Comunidades Redentoristas na Província do RJ-MG-ES e exerceu alguns cargos, entre eles, o de Superior Provincial, função que ocupou de 1962 a 1967. Em Roma (Itália), cursou Jornalismo na Universidade Internacional Pró Deo e Teologia Moral na Academia Alfonsiana, entre os anos de 1967 e 1969.
Desde 1975, o Padre Penido reside no Rio de Janeiro, no Convento Redentorista localizado no bairro da Tijuca, e é muito querido pelos paroquianos da Paróquia Santo Afonso, que o consideram um sacerdote de grande coração, solícito, gentil, humilde e carinhoso com as pessoas. Como dirigente espiritual à frente de diversas pastorais, orientou os fiéis com zelo e seu testemunho missionário, sempre à luz do carisma Redentorista.
De sua entrada no Juvenato em Congonhas até os dias atuais, Padre Penido guarda muitas lembranças na memória. Uma das que mais o marcou foi uma viagem missionária, na qual houve um terrível acidente com o ônibus em que estava. “Certa vez, em um trabalho de missão, o ônibus em que estávamos teve os pneus arrebentados. Tivemos de descer do veículo e vimos, a 4 metros dali, um moribundo que havia sido baleado e estava morrendo. Eu me ajoelhei diante dele, ouvi sua confissão e dei-lhe a absolvição. Foi um fato marcante em minha vida missionária”, conta o Redentorista.
Neoprofessos de 1942, na Igreja Nossa Senhora da Glória, em Juiz de Fora (MG), da esquerda para a direita: Fr. Mário, Fr. Guabiroba, Fr. Raymundo e Fr. Penido
Com toda a sua experiência, seu exemplo de vida, constância vocacional e ardor missionário, Padre Penido fala sobre o sentimento que todo vocacionado precisa carregar em seu coração para se tornar um Missionário Redentorista: “Em primeiro lugar, é preciso ter um grande amor a Jesus Cristo! Desse amor nasce a generosidade de se entregar plenamente à vontade Deus, que se manifesta pelos atos da vida, pela Bíblia Sagrada e pelo exemplo que nós
Em Congonhas (MG), o Pe. Penido é o 1º da direita para a esquerda
temos de tantas pessoas, como os Missionários Redentoristas!”
São 81 anos como Missionário Redentorista, 76 de sacerdócio e 101 anos de vida! Um testemunho vocacional inspirador e exemplo valente de vida enraizada no Redentor! Por tudo isso, rendemos graças a Deus! Parabéns, Padre Penido!
Brenda Melo, Jornalista
Para começo de conversa...
Em meados da década de 1960, iniciava-se o processo de instalação de uma rádio evangelizadora no Vale do Aço. Por meio do empenho dos padres redentoristas da então província de Minas, Rio e Espírito Santo, no dia 18 de março de 1968, a rádio Educadora entrou oficialmente no ar e foi o radialista mineiro Aurélio Caixeta quem teve o privilégio de ser o primeiro a falar nos microfones da emissora. Desde sempre marcada pela evangelização explícita, a Rádio Educadora também mergulhou no universo esportivo local e nacional.
Na década de 1980, a rádio alcançou destaque como a melhor emissora do Vale do Aço. Em 1991, a emissora avançou em sua potência de transmissão, passando para 10.000 watts, possibilitando que o som nítido pudesse ser ouvido a longa distância. Sempre destacando em sua cobertura e transmissão esportiva, em 1997, a Rádio recebe o troféu Mineiro 97. Em 2004, a Educadora inaugurou sua FM na frequência 107,1. Em agosto de 2011, a emissora foi homenageada pela Prefeitura Municipal de Coronel Fabriciano, por intermédio do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, pelo pioneirismo e pelos 43 anos de presença, nos lares do Vale do Aço. Ainda em 2011, a rádio recebeu em mãos o troféu Microfone de Prata, prêmio jornalístico oferecido pela CNBB. Em 2016, inaugurou-se o novo transmissor AM, assim podendo ser ouvida a longa distância. Junho de 2020 – em plena pandemia do COVID-19, e enfrentando as dificuldades financeiras advindas dessa situação de paralisação mundial, a Rádio Educadora recebeu um novo desafio – retomar o papel de difusora da boa notícia para o Vale do Aço, recuperando sua credibilidade jornalística e artística. Nasceu nesse momento nosso atual slogan – “Uma nova rádio, para novos tempos”.
Inauguração do museu “Marcos Guabiroba”, em dezembro de 2014
Finalmente, em 2023, a Educadora recebeu o prêmio da CDL-ACICEL como empresa destaque em imprensa e comunicação da cidade de Coronel Fabriciano e a medalha Rodrigo Neto, reconhecimento que o Câmara Municipal fez à emissora! Essas linhas, que resumem uma história de 55 anos, já mostram o quanto a Rádio Educadora foi, é e continua sendo a cada dia um canal seguro e valioso de evangelização, informação e entretenimento para todo o vale do Aço mineiro.
Uma rádio para unir o Vale do Aço...
Uma história de pioneirismo e ousadia é construída sempre por muitas mãos. Percebendo a necessidade de ampliar o potencial evangelizador pelo Vale de Aço, que na década de 1960 começava já a se configurar como o maior polo de siderurgia do país, os missionários redentoristas, sempre atentos aos sinais do tempo, buscaram a outorga de uma emissora de rádio para a região. Os redentoristas haviam chegado em 1948, em Coronel Fabriciano, para assumir o cuidado pastoral da primeira paróquia da região, dedicada a São Sebastião, e criada pelo então bispo de Mariana, dom Helvécio. Em 1964, começou a maratona em busca de uma emissora de rádio. Foi com muito zelo e dedicação que o missionário redentorista Padre Marcos Fernandes Guabiroba encabeçou todo o processo, aproveitando-se do momento político da época, no qual os militares facilitavam a expansão da rede radiofônica para todo o território nacional, como um braço institucional da ditadura militar. Sagazmente o missionário viu a oportunidade política como fonte de um novo projeto missionário! Criou-se a Fundação Cultural e Educacional Santo Afonso, que receberia, um ano mais tarde, em 1966,
a outorga para operar em AM 1010 para todo o Vale do Aço e região.
O dia 2 de fevereiro de 1968 ficou marcado na história de nossa região, com o início das transmissões em caráter experimental. O radialista Aurélio Caixeta foi o primeiro a falar nos microfones da emissora. E no dia 18 de março de 1968, a emissora entrou oficialmente no ar, iniciando sua missão evangelizadora, tarefa que segue ininterrupta até o presente momento. Nestes 55 anos de história foram muitos os missionários e radialistas que passaram pelos estúdios da Educadora, entre eles os missionários padre Barbosa, padre Élio Athayde, Dom Lelis Lara, Padre Antônio, padre Vanderlei e muitos outros.
Uma nova rádio para novos tempos!
A pandemia do COVID-19 deixou também suas consequências na Educadora. Foi preciso uma remodelação de estrutura e de programação, e uma nova etapa de trabalho foi implantada. Assumindo em plena pandemia o trabalho de reorganização da rádio, eu, padre Evaldo Souza, missionário redentorista, com a equipe de colaboradores, tratei de planejar um “renascimento” da emissora. Duas metas foram inicialmente estabelecidas, uma interna e outra externa: primeiro, buscou-se refazer a programação, de modo a organizar melhor os tempos e espaços disponíveis; organizar processos de produção e de administração; introduzir padrões de trabalho que pudessem “profissionalizar” ainda mais o ambiente da empresa. Depois, pensando na recepção da rádio entre os ouvintes e na sociedade local, estabeleceu-se como meta reintroduzir o nome da Educadora entre o povo, nos organismos civis, no meio político e nas empresas da região. Era preciso que a “marca” Educadora voltasse a ser percebida de modo positivo! E assim foi feito, com a implementação de processos simples e bem estruturados de ação e avaliação constantes, acolhidos com muito entusiasmo pela equipe de colaboradores da emissora. O slogan escolhido veio com o desejo de superação do tempo da pandemia! O mundo estava mudando, e a rádio acolheu este momento de ressignificação para si, propondo-se a ser novo espaço para um tempo que se anunciava.
Na programação da AM 1010 foram inseridos novos produtos, alguns programas já exauridos pelo tempo foram substituídos por outros mais leves e mais bem conduzidos; novas vinhetas, novos spots e novas vozes foram agregadas, para dar mais leveza ao conjunto da obra. Renovou-se a parceria com a rede Aparecida de Rádio, um novo site foi desenvolvido, ampliou-se o número de voluntários em programas dos mais diversos segmentos, atualizou-se o cadastro dos associados do Clube dos Amigos, investimentos em eventos comunitários, ações sociais, viagens e promoções das mais diversas, em um esforço coletivo para dar maior visibilidade e sustentação econômica para nossas iniciativas.
O Clube dos Amigos da Educadora
Como tantas outras emissoras de inspiração católica, a Rádio Educadora vive de duas fontes de renda, igualmente importantes: a publicidade, pois uma rádio precisa ter propagandas para se manter e para dialogar com o mercado local; e a família de doadores do Clube dos Amigos, movimento que une pessoas que acreditam em nosso trabalho e que nos ajudam financeiramente todos os meses. De um modo bem simples, a publicidade e as propagandas financiam os conteúdos jornalísticos e entretenimento, enquanto o Clube dos Amigos dá respaldo aos conteúdos religiosos. Existe um zelo muito grande por esse trabalho de envolvimento da comunidade local, como patrocinadora da emissora, e muitas iniciativas durante o ano existem para fomentar esse amor que as pessoas têm pela “rádio dos padres”. Atualmente, o Clube consegue responder com 40-45% do custo mensal da emissora, o que é essencial para que se possa manter o trabalho de comunicação.
E o futuro...
O Vale do Aço é formado por 28 munícipios, hoje um grande colar urbano, com uma população próxima dos 800 mil habitantes. Desse montante, temos o alcance das principais cidades, destaque para Ipatinga, Timóteo e Coronel Fabriciano, o que nos apresenta quase meio milhão de pessoas! A região conta hoje com pelo menos 14 emissoras de rádio, o que faz a concorrência publicitária ser muito forte, ainda mais que se lida com grandes redes de
rádio, como a Itatiaia e a Jovem Pan. A Educadora sobrevive nesse mundo de opções como uma rádio que tem história e que tem uma vocação segmentada muito peculiar: somos a rádio católica da região! Essa marca mantém nosso público cativo, ainda que também seja razão de seleção publicitária.
Mas o grande desafio da Educadora está agora no processo de migração que está em vias de conclusão. Como tantas outras rádios pelo Brasil, a Educadora deixará sua transmissão em AM para assumir uma onda digital em FM. Como será esse cenário? Quais serão os desafios? Como vamos lidar com a diminuição do alcance do sinal da AM em toda a região? Perguntas como estas têm sido frequentes, ainda que as incertezas sejam parte da resposta! De qualquer forma, a transição da AM para FM já nos obriga a pensar a reestruturação completa de nossos estúdios, modo de operação, programação etc. Alguns passos estão sendo dados, e agora, com a criação da Província Nossa Senhora Aparecida, certamente novos ares serão respirados neste pedaço de chão. Assim auguramos!
Pe. Evaldo César de Souza, C.Ss.R.Os Missionários Redentoristas chegaram ao Brasil no dia 2 de julho de 1893. Os pioneiros foram os confrades holandeses Padre Mathias (Petrus) Tulkens (1844-1915) e Padre Francisco (Johannes Joseph) Lohmeyer (1853-1908). Após a travessia do Atlântico, que durou 25 dias, aportaram no Rio de Janeiro, a fim de rumarem para Mariana, Minas Gerais. Todavia, do ponto de vista histórico e do desenvolvimento da Congregação Redentorista, a chegada dos Filhos de Santo Afonso ao Brasil pode ser considerada tardia.
Desde meados do século XIX, os bispos brasileiros, revestidos com o espírito reformista ultramontano, vinham tentando revigorar a presença da Igreja em solo brasileiro. As estruturas do Império, sobretudo a partir do padroado régio, acabou por engessar a Igreja: tinham poucas sés episcopais, pouco clero diocesano e o consequente envelhecimento das tradicionais Ordens e Congregações presentes no Brasil, a partir do período da colonização. Ademais, a política imperial barrou toda tentativa dos bispos brasileiros de introduzirem novas famílias religiosas no Brasil. Isso ocorreu também com os Redentoristas.
Os Arquivos da Congregação conservam documentação oficial dos pedidos dos bispos brasileiros de introdução dos Redentoristas no Brasil. Esses pedidos ocorreram por causa do já citado espírito reformador do episcopado brasileiro do século XIX, mas, também, porque a Congregação do Santíssimo Redentor havia se transformado, sem falsa modéstia, no grupo missionário mais importante da Igreja, naquele período. Essa importância foi alcançada por causa da metodologia missionária, do número de congregados e, também, pelo perfeito alinhamento com o espírito eclesial tri-
dentino; espírito que o episcopado brasileiro queria adotar também no país.
Não obstante os esforços dos bispos brasileiros, em meados do século XIX, apenas no final da dita centúria foi possível a vinda dos Redentoristas para o Brasil. Essa concretização ocorreu por causa da nova situação política brasileira: o fim do Império e a inauguração da República, situação política que acabava com o regime do padroado e dava plena liberdade para os bispos administrarem e organizarem suas dioceses. Nesse contexto, entrou em cena o Bispo-Auxiliar de Mariana Dom Silvério Gomes Pimenta. Já em 1890, o Bispo lazarista havia entrado em contato com o Governo Geral da Congregação, a fim de conseguir os Redentoristas para a Diocese de Mariana, o que veio a se concretizar em 1893, junto à fértil Província Redentorista da Holanda.
O bispo diocesano Dom Antônio Maria Correia de Sá Benevides e seu auxiliar receberam os dois pioneiros em Mariana, no dia 5 de julho de 1893. Em Mariana, os Redentoristas se mudaram para o Seminário Diocesano, a fim de aprenderem com mais liberdade a Língua Portuguesa. Nesse ínterim, também estiveram em contato com os lazaristas para entenderem a metodologia missionária que a Congregação da Missão empregava no Brasil. Outro ponto importante foi as negociações com os Bispos sobre o lugar da primeira fundação. Dentre as opções dadas pelos Bispos, os Redentoristas optaram por Juiz de Fora, cidade da Zona da Mata Mineira. As razões desta escolha foram por causa da localização e acesso à ferrovia, além de a igreja da
Glória não ser uma paróquia, realidades que possibilitariam integral dedicação às Missões Populares.
Os Redentoristas holandeses se estruturaram inicialmente em Juiz de Fora. Em 1894, houve a composição da primeira grande comunidade religiosa, formada, além dos pioneiros, por mais seis confrades: Padres Geraldo Schrauwen (1839-1904), Teodoro (Theodorus) van Helsen (1845-1926), Afonso (Alphonsus Hadrianus Sebastianus) Mathysen (1855-1927), e os Irmãos Filipe (Nicolaua Joannes), Winter (1860-1926), Doroteu (Petrus) van Lent (1864-1927), Gregório (Jacobus Hubertus) e Mulders (1859-1926). A primeira missão redentorista pregada em solo brasileiro aconteceu no Grama, então região rural de Juiz de Fora, em 1895. A partir dessa data, as Missões Populares se expandiram pelos Estados do Sudeste e, também, pelo Nordeste.
Justamente por causa da pregação das Missões, os Redentoristas foram expandindo suas casas. Aqui, um destaque para Belo Horizonte, a segunda fundação dos holandeses. A chegada dos Redentoristas à nova capital mineira se deu em 23 de janeiro de 1900, ou seja, praticamente no início da cidade que havia sido inaugurada, em 12 de dezembro de 1897. Belo Horizonte significou importante mudança no apostolado interno dos Redentoristas, pois, a construção da Igreja de São José era, desde o início, com o propósito de ser uma paróquia.
A igreja de São José, escolhida pelos Redentoristas para ser construída naquela pequena elevação, teve o início das obras em 1902. Ainda inconclusa, em 1904, já recebia em seu interior os ofícios religiosos. Em seus quase 120 anos de existência, em Belo Horizonte, como local de acolhida da população e garantia dos sacramentos, elevado a Santuário Diocesano, em 19 de março de 2021, por Dom
Walmor Oliveira de Azevedo, o templo é marca do apostolado Redentorista e, também, uma obra de arte legada pelos holandeses ao povo brasileiro. Não apenas a arquitetura, mas, sobretudo as pinturas internas, executadas pelo artista alemão Guilherme Schumacher, de 1910 a 1912, evidenciam temas da espiritualidade cristã que colocam os fiéis em clima de profunda oração e contato com o sagrado.
istérios do terço, mistério da vida” é um instrumento para ajudar refletir sobre o valor desta oração tão simples, mas que mantém a unidade da família. A oração do terço nos coloca em sintonia com Jesus e Maria, presentes nos Evangelhos. A obra nasce da meditação da Palavra de Deus contida nos mistérios. A motivação para escrever esse livro foi a de verificar que a devoção ao Santo Terço ganha espaço cada vez maior na vida dos católicos. Essa devoção cresce, de modo especial, nos homens. Cada vez mais percebe-se o interesse dos homens pela reza do terço. São raras as paróquias que não têm o movimento do Terço dos Homens. O movimento já ultrapassou as fronteiras do Brasil. Pelo fato do terço ser uma devoção Mariana, o livro “Mistérios do terço, mistério da vida” motiva os devotos a buscar Maria e Jesus nas páginas dos Evangelhos, especialmente no Evangelho de Lucas, em que encontramos Jesus e Maria em uma profunda relação de amor. Cada
mistério do terço é precedido de uma breve reflexão bíblica referente àquele mistério, abrindo assim caminho para o devoto ir ao encontro da Palavra de Deus contida na Bíblia. Essa obra quer mostrar que a oração do terço é essencialmente bíblica. Assim como terço é a oração que está ao alcance de todos, do lavrador ao universitário, da criança ao idoso, os textos do livro seguem as mesmas dinâmicas; estão ao alcance de todos. A obra é escrita em uma linguagem acessível, de fácil compreensão, para ajudar a rezar. Desta maneira creio estar contribuindo para que mais pessoas aproveitem as riquezas que se escondem em cada Pai-Nosso, pão nosso, Ave-Maria e Santa Maria. Nenhuma dessas palavras está fora dos textos bíblicos. A inspiração para escrever o livro vem de dois acontecimentos: na década de 90, em um entardecer, apareceu na portaria do convento novo do Santuário uma freira, trajada de hábito preto, que me passou o seguinte recado: “Nossa Senhora pediu para você escrever um livro sobre ela”. Na época eu fazia
um programa religioso na Rádio Aparecida, no qual minha reflexão girava em torno de Nossa Senhora. Não tinha nenhuma intenção de escrever sobre tal assunto. Recebi o recado da freira, mas não levei a sério. Muitos anos depois, surgiu o movimento do Terço dos Homens e muitas conversões aconteceram e continuam acontecendo; uma delas foi a volta dos homens para a igreja. Foi daí que comecei a refletir mais a fundo sobre o recado da religiosa. Pensava: “Será que o recado da irmã tem algo a ver com Nossa Senhora?” Não fiquei sabendo quem era aquela freira, o nome, a congregação à qual pertencia. Nunca mais a vi. Dali em diante, veio-me o costume de rezar o terço e refletir longamente sobre os mistérios. Daí o desejo de escrever aquelas meditações e partilhá-las com mais pessoas, especialmente as devotas de Nossa Senhora.
Partilhando com o irmão Mauro Maciel, Missionário Redentorista, esse meu desejo, ele me incentivou muito e até sugeriu o título da obra; “MISTÉRIOS DO TERÇO, MISTÉRIO DA VIDA”. Mandei o texto para a Editora Santuário e, por coincidência ou não, na primeira noite da Novena de Nossa Senhora Aparecida, o padre Fábio Evaristo, Missionário Redentorista, Conselheiro Provincial, entregou-me o primeiro exemplar, que me causou surpresa e alegria. Vi naquele acontecimento um sinal de Nossa Senhora. Espero, com essa obra, ajudar muitas pessoas a se unirem a Nossa Senhora e a Jesus por meio da oração do terço, meditando os mistérios da alegria, da dor, da glória e da luz.
Ir. Ernesto Coelho da Costa, C.Ss.R. Autor do Livro
As celebrações marianas, como as demais celebrações do calendário santoral, têm o caráter pedagógico de nos conduzir e nos inserir no mistério pascal de Jesus Cristo. As celebrações marianas, renovadas à luz do Concílio Vaticano II, traçam-nos a vida de Maria em relação ao mistério de Cristo, evidenciando assim sua participação direta, nesse mesmo mistério, como mãe e companheira. Ao celebrar a memória de Maria, a Igreja deve ver nela um modelo e exemplo a ser seguido.
Sendo assim, de modo particular no Brasil, com a renovação litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II, a solenidade de Nossa Senhora Aparecida também passou por uma renovação, para que se compreenda o papel de Maria e a mensagem que ela nos traz, enquanto aquela que foi encontrada
nas águas. É sobre a teologia presente na eucologia da missa de Nossa Senhora Aparecida que pude me deter em estudo e, assim, pretendendo considerar, com detalhamento, partes da referida eucologia.
Por meio da história do Brasil, principalmente do período colonial com a corrida do ouro, procurei conhecer a formação cultural e religiosa de nosso povo, que já se percebe, com grande ênfase, na presença da devoção mariana, herança portuguesa. Nossa Senhora da Conceição tem um lugar privilegiado na formação religiosa de nosso país, tendo em vista que era a Padroeira de Portugal. Por meio do percurso histórico, chegamos à realidade do Vale Paraibano: entendemos o contexto em que se deu o encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida e a rápida propagação de sua devoção.
No que diz respeito à devoção mariana, esta foi repensada pela reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, que buscou entender Maria, à luz do mistério de Cristo e da Igreja; Maria foi entendida como aquela que tem uma conexão vital com o mistério da salvação, portanto não atua sozinha na Igreja, mas se encontra inserida em um mistério, o pascal. O vínculo que une Maria a Cristo deve ser o primeiro e fundamental critério com que se deve exprimir a veneração eclesial a Maria, ao se celebrar uma liturgia em sua memória.
A partir da Marialis Cultus, podemos afirmar que o culto dirigido a Maria tem a finalidade última de glorificar a Deus e levar os cristãos a aplicar à vida a vontade divina. Esse culto a Maria deve ser visto a partir de aspectos da vida da Mãe de Jesus: sua cooperação na obra da salvação; sua missão e condição única no povo de Deus, do qual ela é membro, modelo e mãe; sua incessante e eficaz intercessão. Portanto essa exortação nos convida a nos revestirmos das virtudes de Maria para assim traduzi-las em nossa vida.
Desse modo, pudemos nos ater às preces que compõem a eucologia da Missa de Nossa Senhora Aparecida, para assim entender toda a teologia que a embasa. Salta a nossos olhos a teologia conciliar e pós-conciliar como fundamento teológico para os textos eucológicos. A oração da coleta traz em sua composição elementos relacionados à vida de maria, como: sua Imaculada Conceição, sua maternidade divina e sua maternidade eclesial.
Pela intercessão de Maria, pedimos a graça de Deus para sermos fiéis a nossa vocação: o batismo. Vocação aqui se refere ao batismo, pelo qual todos os cristãos são chamados à santidade, como registra a Lumen Gentium, dos números 39 a 42. Desse modo, na oração da coleta, pedimos a Deus a graça de sermos fiéis a nosso batismo, fiéis à santidade, e isso implica no compromisso e na vivência da justiça e da paz, que também é um apelo que encontramos na Lumen Gentium, n. 36, ao falar sobre os leigos.
Na oração sobre as oferendas, Maria é ressaltada em sua maternidade, com base na Marialis Cultus, pois seus méritos são válidos em vista de sua divina maternidade. O prefácio é enriquecido pela teologia
da Sacrosanctum Concilium 103 e pelos números 53 e 65 da Lumen Gentium. Esses três textos do Concílio Vaticano II mostram que Maria, unida à Santíssima Trindade e ao Mistério Pascal, é exemplo de santidade para nós, porque é cheia de graça e serva fiel do Senhor (cf. Lc 1,38; 2,48).
A oração pós-comunhão tem como base a propagação do Reino de Deus, por meio de todos nós, como
Thiago Leon
encontramos na Lumen Gentium, em seus números 35-36, e também no Decreto Apostolicam Actuositatem, número 4. Cada batizado, por sua vocação, é chamado a responder ao chamado de Deus: dilatar seu reino no mundo, até que cheguemos à pátria definitiva. Vemos, portanto, que este formulário eucológico convoca cada cristão a assumir sua missão e vocação de batizado, de renascido das águas.
Seguindo o exemplo de Maria, a Igreja se abre à realização de sua própria vocação, visto que Maria é a imagem daquilo que a Igreja é chamada a ser. Portanto as memórias marianas exaltam Maria como participante do mistério de Cristo e celebra, em sua pessoa, a realização plena desse mesmo mistério pascal. Cada celebração mariana deve ter um caráter pedagógico: deve levar o fiel a um comprometimento com a fé, à compreensão do mistério celebrado e suas implicações no cotidiano da vida; deve fazer, de fato, que cada fiel veja em Maria um modo concreto de colocar em prática a Boa-Nova do Evangelho.
Fr. Caio Oliveira Bueno, C.Ss.R.
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