Portfólio de Santiago Cao (traduzido para o português)

Page 16

Os espaços públicos como lugares corpográficos Corpo que afeta um espaço que afeta um Corpo Espaço ≠ Lugar Um espaço se conhece. Um lugar se re-conhece Um lugar é um espaço que foi percorrido e experimentado com anterioridade. Carregado de afetos, um lugar está mais perto de ser um “espaço conceitual” do que um físico. Nada volta a ser igual depois que a subjetividade o atravessa. Os espaços públicos nas cidades podem ser estudados não somente desde sua arquitetura como também desde as forças que os compõem, melhor dizendo, desde os dispositivos que organizam tanto as relações entre os seres viventes como os espaços onde estas relações “devem” desenvolver-se. Segundo o proposto por Agamben no seu ensaio “O que é um dispositivo?” (2009), os sujeitos são o resultado do encontro «corpo a corpo entre os viventes e os dispositivos», produzindo-se subjetivações como resultados destes encontros. Se pensarmos nos espaços públicos como uns dos lugares onde estas subjetivações vão se evidenciar nos limites conferidos pelas permissões e denegações dos dispositivos aos viventes, poderíamos pensar as Performances e intervenções urbanas como ferramentas para alterar estas subjetivações, ou seja, como contradispositivos de Produção de Realidade, cujo campo de ação é o en-tre destas duas classes. Hélio Oiticica, em referência aos modernistas brasileiros dos anos 20, fez uma releitura do termo “Antropofagia”, introduzindo a ideia da incorporação do corpo na obra e da obra no corpo. Paola Berenstein, pensando a partir daí, propôs da sua vez no ensaio “Zonas de Tensão” (Corpocidade, 2010), a ideia da incorporação urbana, entendida como «uma incorporação do corpo na cidade e da cidade no corpo». Continuando com estas linhas de pensamento, Desde um aspecto relacional proponho pensar o Corpo (com C maiúscula), não o corpo matérico senão o Corpo organizado -é dizer o organismo- como uma ponte ao outro e desde o outro. O Corpo pode expandir-se para além de sua materialidade e é precisamente esta capacidade de se expandir, minha possibilidade de “tocar’’ a esses outros sem necessidade de tocar-lhes fisicamente. Desde a Performance, ao não tocar nos outros Corpos sua materialidade, o que podemos “tocar” será sua organicidade, os saberes que (com)formam a esse outro. Porém como também estou sendo um outro para os outros, será então minha própria possibilidade de ser “tocado” nos saberes que me (com)formam. O Corpo expandido, na Performance, será justamente essa ponte que permitirá desorganizar(nos). (CAO, Santiago & FERNÁNDEZ ALBORNOZ, Katherine. Metáforas de carne para (sa)ver: la performance en Santiago Cao. Em Revista Lindes: Estudios sociales del Arte y de la Cultura. n.7 [online]. Buenos Aires, novembro de 2013, p. 3)


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.