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experiências de educação

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justificativa

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A educação no campo requer mais que a melhora física das escolas ou a requalificação do corpo discente, ela demanda um currículo baseado nas vivências e valores da sua comunidade, de modo que o processo de aprendizado seja vetor para o desenvolvimento rural. Baseando-se nisso, podemos levantar algumas questões, e a partir dessas, estabelecer premissas para uma escola do campo*.

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Questões:

. precariedade das instalações; . dificuldades de acesso/locomoção; . currículo escolar que privilegia uma visão urbana; . ausência de assistência pedagógica e supervisão; . sobrecarga dos professores; . necessidade de reavaliação da política de nucleação; . calendário adequado - que respeite a época das safras em que muitos alunos trabalham e não podem comparecer as aulas, por exemplo. Premissas: .

I. educação básica como objetivo principal: a oferta de uma educação de qualidade que possibilite o direito irrestrito ao acesso e permanência na escola;

II. a educação do campo deve ter cunho universal, porém, contextualizada com as especificidades do meio no entendimento de sua valorização cultural;

III. deve proporcionar oportunidades de continuidade dos estudos, inserção no mundo de trabalho e ampliação dos padrões de cidadania da população rural.

Nesse contexto, cabe destacar as experiências das escolas organizadas pelo MST que apresentam indícios da valorização de saberes conceituais e atitudinais pouco vistos no campo cearense (OLIVEIRA, 2009). A luta do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra sempre teve a questão da consecução da terra como prioridade, mas a continuidade da luta se reflete na sua participação na educação como instrumento de luta da comunidade. A educação vem tornando-se prioridade na luta dos Sem Terra, articu-

*”do campo” designa um espaço geográfico e social que possui vida e emergências próprias e não aquilo que sobra das cidades

lando assuntos práticos da vida campesina e auxiliando no entendimento da conjuntura política econômica e social do meio rural.

A escola do MST liga-se ao projeto de um modo de vida representativo do campo e de resistência contra a visão dominante do agronegócio. Trabalha-se com situações e problemas do dia a dia dos estudantes: a produção agrícola, a adubação da terra, as serras e a caatinga são abordados em sala. Além disso, a educação se faz presente em espaços e momentos diversos: em casa, na escola, no roçado e nas articulações dos camponeses com os movimentos sociais. Essa prática pedagógica valoriza os conhecimentos historicamente construídos pelos trabalhadores do campo, despertando nos homens e mulheres do meio rural sua identidade camponesa e o olhar para o campo como um lugar de direitos.

As escolas que surgem nesse contexto de lutas buscam questionar e apresentar caminhos que vão de encontro ao projeto hegemônico de desenvolvimento rural e ao modelo tradicional de ensino e formação docente. A educação é vista como algo emancipatório.

Quando essas escolas de assentamentos são incorporadas à rede municipal passam a ter que seguir diretrizes da secretaria do município e com disciplinas obrigatórias. O movimento investe na formação de professores para que possam cumprir com os requisitos das diretrizes, mas sem abandonar a realidade local. Aulas de práticas agrícolas e ambientais, visitas a plantações e cultura camponesa estendem a educação para outros espaços além das salas de aula.

Já são mais de 2 mil escolas públicas construídas em assentamentos e acampamentos dos Sem Terra, que garantiram o acesso a educação a mais de 200 mil crianças, adolescentes, jovens e adultos. Além de 2 mil estudantes em cursos técnicos e superiores e cursos de graduação em parceria com universidades pelo país.

O projeto da Escola de Formação Florestan Fernandes é um centro de educação e formação idealizado pelo MST inaugurada em 2005. A escola é um elemento importante para a formação da militância campesina. Os cursos e atividades oferecidos são elaborados de modo a estimular a colaboração e solidariedade por meio do estudo e trabalho coletivo, qualificando a luta dos movimentos sociais. Já passaram por seus bancos

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mais de 3500 estudantes, que foram qualificados a retornarem às suas comunidades e porem em prática o conhecimento apreendido. Exemplo de alguns cursos ministrados na ENFF: alfabetização, administração cooperativista, pedagogia da terra, saúde comunitária, planejamento agrícola, técnicas agroindustriais e outros cursos de nível médio.

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8. Trabalhadores sem-terra no mutirão da Escola Florestan Fernandes. mst.org.br/

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46 9. Trabalhadores sem-terra no mutirão da Escola Florestan Fernandes. mst.org.br/

10. Escola Nacional Florestan Fernandes. mst.org.br/

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48 11. Projeto de ensino de música em escola rural no assentamento Recreio, em Quixeramobim - CE. mst.org.br/

12. Horta comunitária em escola rural no assentamento Antônio Conselheiro, em Aracoiaba - CE. mst.org.br/

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