11ª Edição da Tribuna da Imprensa Digital

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Na véspera do Dia da Consciência Negra o Brasil da ‘nova política’ dá diversos exemplos do seu atraso civilizatório, do seu distanciamento das normas consagradas na Carta de 1988 e o mais grave, naturaliza a violência como forma de resolução dos problemas políticos, sociais e de convivência cotidiana.

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OAB, 91 anos Pilar da democracia brasileira e instituição fundamental de resistência às tentativas autoritárias que ainda hoje insistem em atrasar nosso desenvolvimento como sociedade civilizada, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) completou ontem (18) 91 anos com suas seccionais renovadas por eleições realizadas na última quarta-feira (17) por todo o Brasil. Esta Tribuna da Imprensa celebra a efeméride, deseja vida eterna para a instituição e reafirma seu compromisso com a democracia a partir do respeito incondicional à Constituição como forma de conduzir o país no rumo da Soberania Nacional. Soberania que está gravemente ameaçada com o entreguismo do governo atual que visa desmontar o Estado Nacional a partir da precarização do Serviço Público que tanto nos orgulha e a privatização das nossas estatais e recursos naturais.

Rio de Janeiro, sexta-feira, 19, a domingo, 21 de novembro de 2021

Ano 1 | N0 11

NO PAÍS DA “DEMOCRACIA RACIAL”

Três exemplos de retrocessos no eterno ‘país do futuro’ No Rio, influencidador digital é levado para delegacia por ‘desobediência para averiguação’, ao se recusar ser abordado pela polícia sem um motivo concreto

Entendemos que esse pernicioso processo de submissão é fruto de outra carência da nossa sociedade a partir dos seus representantes em todas as esferas de poder, que é a falta de letramento em Direitos Humanos,também tão caro para a Ordem dos Advogados do Brasil.

Entrei em uma loja e, como não encontrei nada, logo saí. Nisso um policial deu um pique até mim e pediu meu CPF para pesquisa. Questionei o que seria essa pesquisa. O policial então foi mais ríspido e voltou a pedir meu documento. Foi aí que começou a situação gravada” Júlio Cesar de Sá Dantas

Hoje, aproveitando o aniversário de criação da OAB, a Tribuna atualiza seu princípio editorial (da Soberania Nacional) consagrado por Hélio Fernandes, Sebastião Nery, Carlos Chagas e tantos outros inesquecíveis colaboradores com o princípio dos Direitos Humanos, por entendermos que uma nação que não respeita os direitos elementares dos seus cidadãos não atingirá jamais a plenitude da Soberania Nacional em nenhum aspecto. Parabéns, OAB!

SOBERANIA

Petrobras, que já foi 15a, hoje está na posição 120 no ranking das empresas de petróleo

Em Minas, Grupo de Congado é retirado de igreja católica por reverenciar a escravizada Anastácia

Pág.7 DESIGUALDADE

ONG faz churrasco para moradores de rua em protesto contra o Touro da Bolsa de Valores Pág.2

Em Roraima, Indígenas dizem que Polícia Militar atirou com arma de fogo na Raposa Serra do Sol Págs. 3, 4 e 5


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DESIGUALDADE

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ONG faz churrasco para moradores de rua em frente a Touro da Bolsa de Valores Ação ocorreu na noite de quarta-feira (18); carne foi comprada pela ONG SP Invisível e distribuída também para ambulantes que passavam pelo local

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ntegrantes da ONG SP Invisível organizaram um churrasco para pessoas em situação de rua em frente ao Touro de Ouro da Bolsa de Valores, no Centro de São Paulo, na noite de quarta-feira (17). A organização não governamental, que busca transformar a vida de pessoas em situação de rua,comprou a carne,preparou o churrasco e o distribuiu também para ambulantes que estavam passando pelo local. “Falam que o Touro simboliza o progresso e a economia melhorando, mas essa não é a verdade.A verdade é que aumentou o número de pessoas morando na rua,desempregadas, mais pessoas estão passando fome e precisando de comida”, afirma Vinicius Lima,cofundador da SP Invisível. A alta no preço dos alimentos levou muitas famílias a buscar alternativas para se alimentar, como gordura e ossos de boi nos açougues e até em caçambas de descarte. “O preço da carne no mercado aumentou, está tudo muito caro. Enquanto o Touro sinaliza um progresso, esse progresso de fato não existe, estamos vivendo um retrocesso”, completa Vinicius Lima. A escultura inspirada no Touro de Wall Street que foi instalada em frente à Bolsa de Valores brasileira (B3) na terça-feira (16) e está sendo alvo de protestos desde a inauguração. Na quarta-feira (17), pela manhã, um grupo colou cartazes na escultura. A ação aconteceu por volta de 6h30

e levou cerca de 5 minutos.Um segurança da B3 tentou impedir a ação. Dez minutos depois, um caminhão da limpeza urbana passou para limpar a Rua 15 de novembro, retirando os cartazes.Na noite da quarta,houve o churrasco. E na manhã desta quinta-feira (18), um novo ato foi realizado no local: com tinta preta, a escultura foi marcada com inscrições como “taxar os ricos”. Em nota, o Movimento Juntos, autor da intervenção,disse que“seguiremos buscando expor a contradição entre a existência de bilionários enquanto o povo vive à procura de ossos de boi e carcaças de frango”. “Nesta semana,a Bolsa deValores instalou a estátua do Touro de Ouro no Centro de São Paulo. O que para eles simboliza a força do mercado financeiro,para nós é um símbolo da fome, da miséria e da superexploração do trabalho. Mas, também é um lembrete de que continuaremos na luta por uma vida com dignidade. E é por isso que hoje fizemos essa ação simbólica de protesto”, afirmaram. A escultura encomendada pela B3,inspirada no Touro de Wall Street,o centro financeiro de NovaYork,representa“o otimismo e a força dos investidores” no mercado financeiro. De acordo com os organizadores do protesto,o monumento retrata a contradição de um país que viu o Produto Interno Bruto (PIB) crescer até setembro,mas em uma expansão desigual, que deixa de fora especialmente a classe de renda mais baixa.

O SIGINIFICADO DO TOURO No mercado financeiro, o touro representa “otimismo e a força dos investidores”.Acredita-se que a origem dessa metáfora está numa expressão usada no mercado financeiro para se referir ao movimento de alta nos papéis, quando os preços estão subindo:“bull market” (mercado do touro). O Touro de Wall Street é um dos maiores símbolos ligados às bolsas dos Estados Unidos e fica em Manhattan, Nova York. O touro americano tem 3,4 metros de altura e 4,9 metros de comprimento.A estátua de 3,2 toneladas foi criada pelo escultor siciliano Arturo Di Modica. Já a réplica nacional vira-latas foi concebida pela B3, pelo economista Pablo Spyer e o artista plástico Rafael Brancatelli. Com três metros de altura, o animal foi construído sobre uma estrutura de metal, com fibra de vidro e pintura anticorrosiva. Segundo o CEO da B3,Gilson Finkelsztain, a obra representa “a força e a resiliência do povo brasileiro”.“A B3 está trazendo esse novo símbolo para valorizar não apenas o centro de São Paulo, mas o desenvolvimento do mercado de capitais do Brasil, que passa pela própria história da bolsa. O centro é o coração do mercado financeiro e, após a fusão que originou a B3, em 2017, a companhia optou não apenas em permanecer na região, como em contribuir para sua retomada”, disse em nota.

Diretor-Presidente: Ralph Lichotti

Edição e design: Ricardo de Souza, Rochinha, Anabella Landim, Mel de Moraes

Tratamento de Imagens: Carlos Júnior https://www.tribunadaimprensadigital.com.br/


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NOVEMBRO NEGRO Confira a programação das atrações gratuitas nos equipamentos culturais no Rio de Janeiro Dia 19/11 SEXTA-FEIRA Parque das Ruínas (Santa Teresa) 18h ABERTURA OFICIAL DO TEATRO RUTH DE SOUZA Exibição de vídeo (3 min) sobre a trajetória da atriz, morta em 2019. Em seguida, Valéria Monã interpreta “Ruth de Souza em movimento ancestral com o futuro”, com uma fala sobre o teatro negro, a relação com a Dona Ruth e os ensinamentos para as gerações futuras, além de performance de dança. 19h POCKET SHOW COM ÁUREA MARTINS Com 81 anos, a cantora tem mais de seis décadas de carreira, tendo começado aos 19 anos no bairro de Campo Grande, em casas noturnas onde marcou presença com sua voz de crooner de orquestra. Dona de discos festejados como “Iluminante”, “Depontacabeça” e “Até sangrar”, este último CD valeu a ela o Prêmio da Música Brasileira de 2009, na categoria Melhor Cantora. Rivalzinho (Cinelândia) 19h BAILE DA VELHA GUARDA DO FUNK – DJ Vinil: Grand Master Raphael; Marcelinho; Gello; Ricardinho e Galo da Rocinha DIA 20/11 SÁBADO ARENA FERNANDO TORRES (Parque Madureira) 9h às 18h Feira com barraquinhas de comida, bebida e artesanato, ao som ambiente. 10h às 17h Ônibus elétrico com saídas às 10h, 11h30, 14h, 15h30 e 17h. Retirada gratuita de ingressos pelo site bit.ly/buscultura

Para metade da população, desigualdade social é o que mais prejudica a saúde mental de negros

CENTRO 11h MARACATU BAQUE MULHER, no Busto do Zumbi (Centro). Grupo de maracatu Nação, formado por mulheres, regido por Tenily; uma extensão do Maracatu Baque Mulher de Recife, liderado pela Mestra Joana Cavalcante, da Nação do Maracatu Encanto do Pina. Padre Miguel 11h TERREIRO DE CRIOULO (Toca do Criolice; Rua Matriz de Camaragipe 153). Narrativas ancestrais através de samba, comida preta, cantos e danças em Padre Miguel. Programação Infantil na parte da manhã, à tarde Jongo e outras danças populares, tarde/noite. Roda de Samba Terreiro de Criola: uma das rodas mais animadas do Rio, interpreta desde clássicos do Fundo de Quintal, Velha Guarda do Império Serrano, Velha Guarda da Portela e João Nogueira às atuais músicas de trabalho dos integrantes. 15h BUSTO DE ZUMBI (Rua Figueiredo Camargo 110, Padre Miguel). Ações culturais e artísticas (jongo, capoeira, danças populares e roda de samba) em torno do Busto de Zumbi do Palmares para a tradicional celebração de rua do Dia da Consciência Negra em Padre Miguel. O busto em bronze é uma criação do artista Clécio Regis da figura de Zumbi. Foi erguido por iniciativa do Point Chic Charm e doada à cidade do Rio. 

Nem essa imagem sensibiliza a turma da meritocracia: para moradores de Paraisópolis, vida média é 10 anos mais curta que no vizinho Morumbi

Pesquisa “Viver em São Paulo: Relações Raciais”, realizada pela Rede Nossa São Paulo, revela que 49% dos paulistanos concordam que dificuldades de acesso à renda, educação e saúde podem desencadear ou agravar problemas psicológicos

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desigualdade social, que inclui o acesso à renda, trabalho, educação, moradia e saúde, é o fator que mais contribui para desencadear ou agravar problemas de saúde mental na opinião de 49% da população negra de São Paulo. É o que afirma a edição de 2021 da pesquisa“Viver em São Paulo: Relações Raciais”,realizada pela Rede Nossa São Paulo.O levantamento traz dados sobre a percepção da população paulistana em relação ao racismo e as consequências da discriminação no cotidiano da

população negra na cidade. Realizado em conjunto com o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), o estudo mostra que o medo constante de sofrer abuso ou violência policial também é um fator decisivo na saúde mental de 45% dos negros da cidade. Já 42% das pessoas entrevistadas afirmam que têm grande insegurança de não saber lidar com racismo e sentem medo de sofrer preconceito racial. Para 47% dos paulistanos, a pandemia também teve um impacto maior sobre o trabalho e a capacidade de gerar renda das pessoas negras em relação às

brancas. A concentração de serviços e postos de trabalho em regiões de maior renda,os desafios da mobilidade urbana e de acesso às oportunidades da cidade contribuem para para agravar e manter as diferenças sociais que sustentam o racismo, de acordo com a pesquisa. O estudo aponta que houve queda leve, de 3 pontos percentuais, na percepção do preconceito em shoppings e comércios em relação ao ano anterior, quando havia sido notada uma subida elevada nos números, em comparação aos de 2019,mas prevalece a percepção da maioria da população (78%) de que

há diferença no tratamento de pessoas negras e pessoas brancas. Em escolas ou faculdades, 74% da população percebe diferença no tratamento de pessoas negras em comparação às brancas. Nas ruas e espaços públicos, a percepção é de 72%; no trabalho, 68%; no transporte público,64%; em hospitais ou postos de saúde,57%;no local em que mora, 48%; e no ambiente familiar, 32%. “Alguns indicadores apontam que as pessoas estão esperando medidas mais práticas de combate à violência e responsabilização das pessoas brancas,entendendo que o problema racial é uma questão para toda a sociedade”, diz o estudo. Melhorar a educação e o nível de informação sobre as questões raciais é a opção mais citada quanto ao papel das pessoas brancas no combate ao racismo (56% dos pretos e pardos), seguida de intervenção em situações de tratamento diferenciados entre brancos e negros (44% da população total). Participar de protestos (físicos ou online) é a opção que apresenta maior queda quando comparado a 2020 (de 27% para 13%, em 2021), passando a ser visto por menos gente como uma ação válida de combate ao racismo. Se reconhecer como parte do problema também cai de forma acentuada (53% ante 47%). Para os entrevistados do levantamento, as punições a policiais que são violentos com pessoas negras podem contribuir com a diminuição do preconceito racial.“Isso significa um melhor entendimento por parte da população sobre as complexidades que envolvem o racismo estrutural no Brasil”, pontua o estudo. Já o aumento da punição por injúria racial e o debate sobre o tema nas escolas apareceram como as medidas que mais contribuem para o combate do racismo na cidade de São Paulo. Apenas 8% dos entrevistados não declararam alguma medida que as empresas deveriam adotar para assegurar um ambiente de trabalho sem racismo e apenas 2% dos apontaram que não existe racismo no ambiente corporativo da cidade. “Ou seja,praticamente 90% da população paulistana afirma que as empresas devem prevenir e assegurar um ambiente de trabalho sem racismo”,diz a pesquisa. Ao mesmo tempo, 86% da população geral entende que o racismo prejudica o desenvolvimento da cidade. Posicionar-se contra qualquer tipo de preconceito racial é a medida mais eficaz que uma empresa pode adotar para assegurar um ambiente de trabalho sem racismo para 46% da população total, chegando aos 61% na zona oeste da cidade. “Ter canais próprios de denúncia é mais citado por pretos e pardos (37%) do que pelos brancos (29%), enquanto ter protocolos e políticas institucionais para dar encaminhamento aos casos foi a medida menos apontada, por 46% do total de entrevistados”,finaliza o informe. (Do site Alma Preta)


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LUTA ANTIRRACISTA

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NOVEMBRO NEGRO LAPA 16h Amir Haddad, na Praça Cardeal Câmara (Lapa), num espetáculo de variedade do grupo Tá na Rua, sobre a Consciência Negra no Brasil. Madureira 21h BAILE CHARME (sob o Viaduto Negrão de Lima, Madureira). Um dos bailes blacks mais antigos do Rio ainda na ativa, o evento tem os seus DJs residentes e sempre recebe convidados, além de atrações diversas. DIA 21/11 DOMINGO ARENA FERNANDO TORRES (Parque Madureira) 9h às 18h Feira com barraquinhas de comida, bebida e artesanato, ao som ambiente. 10h às 17h ÔNIBUS ELÉTRICO “VERÃO VERDE”, com saídas: 10h, 11h30, 14h, 15h30 e 17h. Retirada gratuita de ingressos pelo site bit.ly/ buscultura 10h Batalha dos Barbeiros: 128 barbeiros competem nas categorias Corte e Desenho. As inscrições começam às 10h, e a competição, às 13h. DIA 23/11 TERÇA-FEIRA MUHCAB (Gamboa) 12h às 12h15 – Toque de abertura com o Ogã e percussionista Kotoquinho, que faz uma apresentação de atabaque. 13h30 às 16h RODA DE SAMBA – Tributo a Zé Ketti, com membros da família Ketti Meireles.

Grupo de Congado é retirado de igreja católica por reverenciar a escravizada Anastácia O grupo teve que retirar a bandeira da escravizada Anastácia e foi convidado a tocar seus tambores fora da igreja; Nossa Senhora do Rosário é a santa padroeira do festejo tradicional, que acontece desde 2011 em Tiradentes (MG)

14h TEATRO: CIA CERNE apresenta o espetáculo “Turmalina 18 – 50”, sobre João Cândido, o Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata, personagem marcante na luta por igualdade racial no Brasil. 16h RODA DE JONGO com o Fuzuê d’Aruanda, grupo que leva para as ruas de Madureira os ritmos e as danças da cultura popular. DIA 25/11 QUINTA-FEIRA MUHCAB (Gamboa) 18h Roda de samba com o grupo Mulheres do Samba Notícias, um coletivo nacional de comunicação de mulheres do samba. Parque das Ruínas (Santa Teresa) 14h30 às 16h30 OFICINA DE TEATRO com o grupo Nós do Morro, do Vidigal. 18h Apresentação do espetáculo “Modus Operandi”, do Grupo Nós do Morro, com direção de Fátima Domingos e texto de Fabrício Branco. O espetáculo é a junção de três histórias baseadas em fatos reais sobre a realidade cotidiana das cidades grandes e a luta pela sobrevivência em meio a tempos conturbados. DIA 26/11 SEXTA-FEIRA MUHCAB (Gamboa) 18h Roda de samba com o grupo Awurê – termo iorubá que significa um desejo de boa sorte -, de Madureira. Toca ritmos brasileiros como variações do samba, jongo, ijexá, coco, maracatu e toques do candomblé, além de estilos musicais dos países vizinhos, como candomblé e salsa. 

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tradicional congado de Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia, de Tiradentes (MG), foi impedido, no último dia 31 de outubro, de realizar as homenagens à santa padroeira na missa tradicional anual por estar com uma bandeira da escravizada Anastácia. Segundo relatos, o padre Alisson Sacramento, à frente da igreja há pouco tempo, pediu para que os turistas interessados na homenagem se retirassem do local, como pode ser conferido no vídeo gravado por uma das testemunhas. Desde 2011, o festejo acontece na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, sendo interrompido pela pandemia no ano passado. Normalmente, uma bandeira do congado é posicionada no altar,em homenagem à padroeira do grupo. Além disso, o congado realiza cânticos de agradecimento,acompanhado por tambores. No entanto, este ano, o dirigente da igreja mandou retirar do altar a bandeira, ilustrada com a imagem de Anastácia, e disse ao congado que tocasse os tambores do lado de fora. “Ele [padre] rezou a missa pela metade e mandou os turistas que estavam lá para nos acompanhar saírem da igreja, deixando apenas o nosso grupo reduzido de quatro pessoas lá dentro, e fechou a porta. Depois ele falou que era pra gente tocar lá fora. Em nenhum momento ele falou do congado ou citou que Nossa Senhora é protetora dos pretos”, relata o líder do congado, Mestre Claudinei Matias, conhecido como Prego. Claudinei afirma que essa atitude do padre foi similar aos tempos de regime escravocrata, em que brancos e negros não podiam participar da

Apenas quatro pessoas puderam permanecer no interior da igreja | Fotos: André Frade

mesma missa ou ficar juntos no mesmo ambiente. A partir disso, ele se retirou junto com o congado e entoou cânticos do lado de fora, com a promessa de nunca mais entrar na igreja. “O problema do padre é a gente carregar a imagem da escrava Anastácia conosco.A justificativa dele é que nós estamos falando que ela é santa, mas não é verdade.Para nós,a escrava Anastácia é um símbolo de luta e resistência. E ele está sendo racista com ela”, avalia o mestre do congado. “Foi extremamente constrangedor” O fotógrafo e cinegrafista André Frade Andrade estava no momento em que o padre pediu para que os visitan-

tes se retirassem da igreja, mas se recusou a sair. De acordo com a testemunha,“foi extremamente constrangedor. Estou há oito anos acompanhando o congado e sempre vi a homenagem de forma muito respeitosa”, comenta. “Eu estava realmente empolgado para assistir a missa do congado, que resgata a ancestralidade tão esquecida aqui de Tiradentes. Eu senti algo de cunho racista.Um conservadorismo bolsonarista do padre. Para mim,ainda é muito difícil de acreditar em tudo que eu testemunhei e registrei em vídeo”, lamenta André. Mestre Claudinei Matias afirma que uma denúncia junto ao Ministé-

rio Público já foi aberta a respeito do caso e da gestão do padre. Ele afirma que se o grupo for chamado para dar depoimento,“diremos a verdade sobre o que aconteceu e que o preconceito dele foi para com a Anastácia, que é tão importante para nós”. Com tristeza,o líder do congado de Nossa Senhora do Rosário afirma que enquanto o dirigente Alisson estiver à frente da igreja, o grupo não irá participar de nenhuma atividade.“Para nós, foi realmente muito doloroso,pois achamos que iríamos participar da missa do povo. Foi uma das piores coisas que já me aconteceu. Não tenho nem como explicar”, finaliza. (Do Alma Preta)


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NOVEMBRO NEGRO PARQUE DAS RUÍNAS (Santa Teresa) 14h30 às 16h30 OFICINA DE TEATRO com o grupo Nós do Morro, do Vidigal. 18h Apresentação do espetáculo “Modus Operandi”, do Grupo Nós do Morro, com direção de Fátima Domingos e texto de Fabrício Branco. DIA 27/11 SÁBADO Arena Fernando Torres (Parque Madureira) 9h às 18h Feira com barraquinhas de comida, bebida e artesanato, ao som ambiente.

Influenciador digital sofre abordagem inadequada da PM, reage e é levado para delegacia por ‘desobediência’ Produtor de eventos filmou e transmitiu ao vivo em suas redes sociais mais uma ação descabida da polícia militar que alegou que ele ‘entrou e saiu muito rápido’ de uma

10h às 17h ÔNIBUS ELÉTRICO com saídas às 10h, 11h30, 14h, 15h30 e 17h. Retirada gratuita de ingressos pelo site bit.ly/buscultura

loja; em nota, PM alega atitude suspeita e

MUHCAB (Gamboa) 16h Roda de conversa com o carnavalesco Leandro Vieira e a pesquisadora Helena Teodoro, sobre o tema “Enredos e identidades negras”.

diz que homem não quis se identificar. Se ele fosse loiro de olhos verdes os

PARQUE DAS RUÍNAS (Santa Teresa) 18h Apresentação do espetáculo “Modus Operandi”, do Grupo Nós do Morro, com direção de Fátima Domingos e texto de Fabrício Branco.

policiais teriam feito a abordagem?

PRAÇA CARDEAL CÂMARA (Lapa) 16h Amir Haddad, na Praça Cardeal Câmara (Lapa), num espetáculo de variedade do grupo Tá na Rua, sobre a Consciência Negra no Brasil.

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DIA 28/11 DOMINGO PARQUE DAS RUÍNAS (Santa Teresa) 9h às 18h Feira com barraquinhas de comida, bebida e artesanato, ao som ambiente. 10h às 17h Ônibus elétrico com saídas às 10h, 11h30, 14h, 15h30 e 17h. Retirada gratuita de ingressos pelo site bit.ly/buscultura FEDERAÇÃO DOS BLOCOS AFROS E AFOXÉS DO RIO Febarj (Centro) 15h Apresentação do Grupo Afoxé Filhos de Gandhi, o mais antigo e tradicional do Rio, fundado por trabalhadores do Cais do Porto, moradores dos bairros Saúde, Gamboa e arredores, integrantes de religiões de matrizes africanas e também por integrantes do Afoxé Filhos de Gandhy de Salvador (Bahia), que havia sido criado um ano antes. ARENA JOVELINA PÉROLA NEGRA (Pavuna) 13h Roda de samba El Pavuna, que nasceu na Praça Copérnico, próxima à estação do metrô Pavuna, numa feira reunindo comerciantes locais para expor seus trabalhos todo segundo sábado do mês, das 16h às 21h. Vasto repertório entre sambas e pagodes clássicos, passeando por várias décadas, estilos e referências, incluindo alguns trabalhos autorais no roteiro com a convidada sambista carioca Cassiana Pérola Negra. BANGU ATLÉTICO CLUBE (Bangu) 21h Baile funk com equipes de som tradicionais de Bangu, em homenagem aos trabalhadores, funkeiros e amantes do funk.

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Considerado por amigos como um cidadão com consciência racial, Júlio transforma as agruras do racismo cotidiano em humor em sua página no Instagram que tem 188 mil seguidores, onde dá dicas de como lidar com situações como a que viveu anteontem e o deixou transtornado

produtor de eventos e influnciador digital Júlio Cesar de Sá Dantas, homem negro de 31 anos, denunciou ter sido vítima de racismo em uma abordagem policial enquanto deixava uma loja no Centro do Rio de Janeiro, na quarta-feira (17). Segundo Dantas,um policial solicitou seus documentos ao vê-lo saindo da loja. Sem entender, ele questionou o motivo de ter sido parado.A partir daí, passou a gravar a ação e transmitir ao vivo toda a cena em suas redes sociais. O produtor afirma que começou a filmar para sua própria segurança, já que não era possível saber o desfecho. No vídeo, ele questiona o motivo da abordagem e recebe como resposta que teria entrado e saído muito rápido do estabelecimento.Ao longo da ação,Dantas questiona se o verdadeiro fato era a cor de sua pele. “Eu estava no centro do Rio, em um almoço com uma amiga. Como tenho uma viagem para a Bahia na semana que vem, queria comprar roupas pra levar. Então entrei em uma loja e, como não encontrei nada, logo saí. Nisso um policial deu um pique até mim e pediu meu CPF para pesquisa.Questionei o que seria essa pesquisa. O policial então foi mais ríspido e voltou a pedir meu documento. Foi aí que começou a situação gravada”, relatou Dantas. No vídeo, um dos policiais também afirma que o produtor teria apresentado um volume suspeito na cintura.O jovem levanta a blusa e mostra que não havia qualquer objeto.Um agente chega a dizer que o volume poderia ser efeito do vento na camisa. O produtor de eventos,então,nega-se a entregar a identificação por entender que não havia um motivo concreto para a abordagem e passa a ser acusado de desobediência.No início,é possível identificar dois policiais,mas logo o número cresce e chega a seis, segundo narra o rapaz. “Foi constrangedor estar cercado por todos aqueles policiais como se eu fosse algum criminoso.Esse processo dói.Não foi a primeira vez, já passei por outras abordagens abusivas,mas,dessa vez,consegui registrar”, conta. Dantas foi conduzido para a 5ª Delegacia de Polícia Civil,no Centro da cidade.

Esse é um instrumento usado na ditadura (levar para averiguação). É uma violação à Constituição e ao Código do Processo Penal. Ser preto não é uma atitude suspeita.”

RODRIGO MONDEGO, vice-presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do Rio de Janeiro e procurador da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)

Em resposta ao ocorrido, a Operação Segurança Presente (OSP) da Polícia Militar do Rio de Janeiro, que usa um modelo de policiamento de proximidade, se manifestou em nota. “Os policiais do Centro Presente estavam patrulhando a região do Centro e suspeitaram do rapaz que,segundo eles, demonstrou insatisfação com a aproximação policial e pareceu querer se desvencilhar dos agentes entrando em uma loja”, diz a nota. A polícia afirma ainda que os policiais se aproximaram do rapaz e pediram para que ele se identificasse.“Porém, ele se recusou e, por isso, foi conduzido à delegacia para que fosse identificado. Na delegacia ele foi identificado, nada foi constatado e foi liberado,” conclui. Além de produtor de eventos, Dantas é dono da página“Carioquice Negra”, que tem mais de oitocentos mil seguidores nas redes sociais. Também é pai de um menino de dez anos. Para Rodrigo Mondego, vice-presi-

dente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do Rio de Janeiro e procurador da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a abordagem policial precisa ser fundamentada em alguma suspeita concreta de crime cometido. “Quando não há motivação para a abordagem e a pessoa é levada para a delegacia sem justificativa,caracteriza-se abuso de autoridade.A pessoa só pode ser detida em caso de flagrante delito, em caso de um crime, ou por determinação judicial”, diz Mondego. O procurador explica ainda que ninguém pode ser detido para averiguação. “Esse é um instrumento usado na ditadura. É uma violação à Constituição e ao Código do Processo Penal. Ser preto não é uma atitude suspeita”, pontuou. Dantas informou que,na tarde desta quinta-feira (18), ele e seus advogados vão à 5ª Delegacia de Polícia para prestar queixa contra os policiais que participaram da abordagem.


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magens divulgadas nas redes sociais pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR) mostram que, na terça-feira (16),homens do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) de Roraima atiraram munidos de armas de fogo,de borracha e bombas de gás lacrimogêneo contra indígenas do povo Macuxi.Nas cenas de violência, é possível ver os indígenas tentando se proteger:“Bando de covardes”e“aqui tem criança”foram algumas das frases ditas em reação aos ataques. O conflito aconteceu durante uma ação de desbloqueio de um posto de monitoramento contra garimpos ilegais na comunidade Tabatinga,localizada na região de Serras,dentro da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.Em nota,o Governo de Roraima afirmou que“em momento algum foi utilizada arma ou munição letal”.Na região de Serras vivem indígenas dos povos Macuxi,Wapichana e Ingaricó Nesta quarta-feira (17),o CIR informou que dez pessoas ficaram feridas,algumas com tiro na cabeça e peito. Entre as vítimas estão dois idosos e uma mulher.Anastácio Lima Battista,disse durante coletiva realizada na sede do CIR, em Boa Vista, que foi ferido com uma bala no braço. “Eles atacaram.Foi muito tiro que dispararam contra nós indígenas.Saíram atirando na comunidade toda.Todo mundo ficou desesperado.As crianças chorando, os idosos correndo pra se esconder. Em nenhum momento nós atacamos eles. Nós ficamos procurando nos esconder para não ser atacado,mas eu ainda levei uma bala no braço”, disse o indígena. O pai e dois irmãos de Anastácio também foram atingidos.Um dos irmãos está em recuperação na Casai (Casa de Saúde Indígena), após passar por uma cirurgia na tarde de hoje para retirar a bala que ficou alojada em seu peito.Segundo Anastácio,o irmão mal consegue andar,pois o tiro acertou sua perna. Seu pai continua na comunidade. A reação das forças policiais foi desproporcional, inclusive pela motivação. O posto de vigilância que foi desativado pelos PMs servia para controlar o acesso de não indígenas na TI Raposa Serra do Sol. A base tinha a função de combater o avanço da criminalidade no território. “Há muitos anos, as comunidades fazem monitoramento do seu território. Na região das Serras têm surgido vários pontos de garimpo, entrada de bebida alcoólica, e antes que agrave a situação como na Terra IndígenaYanomami,diante da omissão do poder público federal,as comunidades têm feito o possível para garantir a própria segurança da terra indígena”, disse o advogado do CIR, Ivo Macuxi, à Amazônia Real. A PM negou que tenha agido com violência e que os soldados primeiro sofreram o ataque.“Antes que os policiais pudessem iniciar a nova mediação, os indígenas os atacaram arremessando suas flechas e pedras.Os policiais se defenderam com escudos e revidaram a injusta agressão com armamento menos letal e material químico de controle de distúrbio civil”, informou, em nota. Policiais militares divulgaram fotos e um vídeo para se contrapor às imagens de que a ação de retirada da barreira não foi pacífica. E afirma que se dirigiu até a comunidade para cumprir decisão judicial “que proíbe a obstrução de vias na Raposa Serra do Sol,garantindo o direito constitucional de ir e vir dos cidadãos das comunidades da região”. Mas no vídeo enviado pelo CIR nota-se um indígena afirmando:“Neste momento, ataque por parte dos policiais do Bope, PM. Pessoal está todo espalhado aqui. Praticamente todos retirados de sua própria casa, de seu trabalho”.Alguns dos indígenas tentam se proteger dentro da casa do tuxaua, Domingos Macuxi, mas o imóvel também virou alvo das balas dos policiais. A deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR) reagiu, durante discurso na Câmara Federal,contra o ataque violento. “A nossa Constituição fala que o usufruto é exclusivo do indígena.Aquela área é terra pública, necessariamente o governador tem que começar a verificar a atuação da Polícia Militar, uma vez que não existia uma decisão judicial”, escreveu.“E é necessário o Supremo tomar uma decisão relacionada a isso.” Liminar judicial A ação policial para a retirada do posto de monitoramento tem sua origem em uma liminar da Justiça Estadual de Roraima de agosto de 2021 que vem sendo contestada pelo CIR. O advogado Ivo Macuxi destacou que

Indígenas dizem que PM atirou com arma de fogo na Raposa Serra do Sol

Lideranças relatam que moradores que prestavam apoio a feridos foram abordados e agredidos fisicamente pelos policiais. Os indígenas tiveram posto de vigilância desativado e foram atacados por soldados da PM dentro na Terra Indigena. O governo de Roraima nega o ataque. (Fotos: CIR)

qualquer decisão ou ação dentro de uma terra indígena é de competência apenas de órgãos federais, como a Justiça Federal ou a Polícia Federal. A liminar da 5ª Vara Cível atende a pedido de outra organização indígena, a Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima (Sodiurr), que contesta a instalação do posto de vigilância. Em nota,a Sodiurr afirmou que não compactua com a ação do posto de vigilância e monitoramento, pois o mesmo impede o acesso e o direito de ir e vir. Lideranças da Sodiurr apoiam o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a própria organização faz questão de deixar evidente que possui um posicionamento diferente do CIR. Em recente visita a Roraima, Bolsonaro foi recebido

por indígenas da Sodiurr.No processo da homologação da Raposa Serra do Sol,as lideranças desta organização ficaram do lado dos arrozeiros que eram contra a demarcação contínua do território. A homologação foi fruto de uma luta incansável dos povos indígenas que perdurou décadas. “Estamos atentos às expressões e atitudes desta natureza e não toleramos em nenhuma hipótese tais práticas, apoiamos diretamente o trabalho das forças de segurança do Estado de Roraima para o cumprimento da ordem jurídica”, disse o documento dos indígenas aliados de Bolsonaro. Em dura nota,o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Pastoral Indigenista de Roraima afirmaram que a violência

contra os indígenas foi promovida pelo “Estado da morte e da violência,da desordem e do crime”.“Esta ação policial escancara a verdadeira face do atual governo estadual de Roraima e do governo federal,que agem violentamente contra a vida dos povos indígenas enquanto defendem, acobertam e premiam o crime e as atividades ilícitas como o garimpo e outras invasões”, dizem as entidades. Não é a primeira vez que uma barreira de monitoramento foi retirada por decisão da Justiça estadual de Roraima. A última remoção havia sido em agosto. No último dia 12 de novembro,durante assembleia realizada por indígenas de 76 comunidades da região de Serras, as lideranças decidiram pela retomada proteção contra invasores nos seguintes

postos de vigilância:Tabatinga,26 d abril de 77, Pedra Branca, Igarapé do Cebo, Geraldo Macuxi e Armando Silva. Eles relatam que neste mesmo dia presenciara a entrada de muitas pessoas de fora do território indígena,sendo que muitas delas xingaram as lideranças. “Ficamos surpresos com a quantidade de pessoas não indígenas em plena pandemia e sem apresentar carteira de vacina e prosseguir nos protocolos sanitários”,disse trecho da nota assinada por lideranças. Segundo Ivo Macuxi,a ação de cumprimento de decisão judicial alegada pela PM já foi cumprida no mês de agosto,em outra área.O advogado disse que a açao truculenta da PM na terça-feira (17) foi ilegal, pois sequer a PM teria competência para entrar em território indígena. “Essa liminar determinou o desbloqueio de outra barreira que fizeram na BR para chamar atenção. De fato, foi cumprida a liminar.Nós temos documentos e mapas que mostram vários pontos de garimpo na Raposa Serra do Sol”, explicou. “A Sodiurr tem apoiado a questão do garimpo,que inclusive levou o presidente Bolsonaro para a comunidade que fica próximo a região,para incentivar esse tipo de invasão que as comunidades sofrem. Estão usando essa liminar antiga que já foi cumprida.Agora eles estão abusando do poder de polícia”,acrescentou o advogado Macuxi. Ainda de acordo com o advogado do CIR,os postos de vigilância não impedem o livre trânsito dos moradores da TI ou de agentes públicos,mas que as comunidades indígenas continuam sofrendo com o aumento crescente de agressões e invasões externas. O CIR já entrou com pedido para que a polícia seja retirada da região, denunciando as agressões sofridas pelos indígenas aos Ministério Público Federal e Ministério Público Estadual. No documento, eles pedem que a Polícia Federal impeça a ação da força policial estadual.“A Polícia Militar já está usurpando do poder da União e não tem liminar que autoriza a Polícia Militar a entrar nas comunidades indígenas”, esclarece Ivo. Conforme o advogado Ivo Macuxi, duas lideranças atingidas chegaram na madrugada desta quarta-feira (17) em Boa Vista para receber atendimentos médicos no Hospital Geral de Roraima. “Foram removidos. Um deles levou um tiro no pé com uma arma letal, onde a bala atravessou.E o outro foi atingido no peito, já foi submetido a uma cirurgia e retiraram a bala do corpo”,explicou.Este último indígena está internado na Casai, e apresenta uma situação estável. Depois do violento confronto, a PM apreendeu equipamentos da comunidade.“Vamos ao Ministério Público Federal entregar as provas do crime, que foi uma tentativa de homicídio contra lideranças indígenas e relatar também da invasão é que a polícia levou os equipamentos da comunidade,radiofonia,celulares das lideranças sem nenhuma ordem judicial”, afirmou Ivo Macuxi. Na madrugada de quarta-feira (17), durante quase duas horas, os indígenas foram novamente alvo da violência policial. Moradores que iriam prestar apoio à comunidade Tabatinga foram abordados e agredidos pelos policiais.Uma liderança da aldeia Caxirimã denunciou também que durante a noite policiais militares jogaram bombas de efeito moral e atiraram contra a casa dela.O estado de tensão é elevado. Os moradores de Wilimon também relataram que viaturas da PM passaram a vigiara a estrada que dá acesso à comunidade. “Recebemos a informação que a Polícia Militar foi na comunidade Caxirimã, próximo da sede do município de Uiramutã,e atirou na casa do tuxaua,além de soltar bomba na comunidade”,descreveu Ivo Macuxi.“Hoje mais viaturas subiram pra lá pra continuar o trabalho de atacar, as comunidades estão revoltadas.” Edinho Batista, coordenador do CIR, denunciou durante a coletiva desta quarta-feira que, além dos disparos, os policiais destruíram o posto de saúde da comunidade.“Derramaram remédios, quebraram frascos de remédios do posto de saúde. As flechas que a polícia está divulgando eles pegaram de dentro casa das pessoas,não houve nenhum conflito, os povos indígenas não revidaram nada, só tentaram se proteger”, afirmou. O MPF afirmou, em nota, que está acompanhando as notícias de conflito e irá participar, com a Polícia Federal, o Ministério Público do Estado de Roraima e a PM,de uma reunião com as lideranças indígenas locais para mediar o conflito.


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SOBERANIA NACIONAL

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PETROBRÁS: de locomotiva do desenvolvimento a vaca leiteira dos acionistas

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s afirmações destacadas assim como as citações que se seguem, foram feitas pelo ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, em encontro promovido pela Associação Brasileira de Economistas pela Democracia. Uma certa mitologia do fim da era do petróleo A ideia de que os veículos de transporte de pessoas e de cargas brevemente serão movidos a eletricidade leva muitos de nós a crer que o petróleo será dispensável num futuro próximo. Gabrielli aponta esse raciocínio como um certo mito, pois mesmo o aumento do consumo de eletricidade deverá provir de alguma fonte de energia, que não escapará, em curto prazo, dos combustíveis fósseis. “Para começar a falar sobre a Petrobras,precisamos pensar sobre a importância dos derivados de petróleo no mundo. Hoje, há uma certa mitologia de que a transição energética vai implicar o fim da era do petróleo e sua substituição por combustíveis não-fósseis, através de um processo de eletrificação acelerada dos transportes.” Ele acredita na tendência de substituição por eletricidade, no entanto entende que a velocidade da troca está sendo superestimada e, assim, os motores de combustão deverão ainda prevalecer por algumas décadas. “Se vamos ter um processo de aumento da eletrificação, vamos ter que pensar de onde vem essa energia adicional. Também aí tem-se um importante papel para o gás natural, que é um combustível de transição importante na geração de eletricidade antes que se avance no desenvolvimento tecnológico para o armazenamento das energias eólicas e solares, e que sua intermitência seja compensada por baterias suficientes para atender essa expansão.” Ele conclui: “O primeiro elemento importante é mostrar que o petróleo, o gás natural e seus derivados não são mercadorias quaisquer. E ainda vão ser muito importantes por muitas décadas” A segurança energética é fundamental para a segurança nacional Tendo em mente potências como China, EUA, Rússia e mesmo países da Europa, Gabrielli ressalta a segurança energética como componente essencial da segurança dessas nações “As grandes potências do mundo têm nas suas políticas de segurança nacional, ou seja, nas políticas que orientam suas ações militares, suas ações diplomáticas, suas relações comerciais no mundo, um componente de política de segurança energética muito importante. Portanto, a segurança energética é parte fundamental da segurança nacional das grandes potências mundiais. (...) Hoje em dia, a grande maioria, mais de 85% das reservas conhecidas de petróleo no mundo estão nas mãos dos estados e de empresas estatais.” A estatal Petrobras nasce em 1953 para garantir o desenvolvimento brasileiro A Petrobras, com 68 anos de exis-

“A Petrobras está na posição 120 no ranking das empresas de petróleo. Ela já foi 15a.” “Não basta mudar a política de preços, é preciso mudar a política de abastecimento e mudar o papel da Petrobras no fornecimento e no setor de petróleo e gás no país.” “A Petrobras está abandonando sua função fundamental do início da sua construção que era garantir o suprimento e o abastecimento do país.”

tência, conseguiu cumprir seus objetivos: temos um mercado praticamente equilibrado entre produção de óleo cru, capacidade de refino e consumo. “Eu falei tudo isso, antes de falar da Petrobras,porque ela é parte desse processo [geopolítico mundial],só que ela é fruto de uma outra era. A Petrobras surge no pós-guerra, surge na década de 1950 no Brasil, quando ficou evidente que o controle do petróleo era fundamental e ele era muito barato nesse período, antes de crise de 1973, antes dos preços crescerem. A Petrobras surge com a tarefa fundamental de garantir o abastecimento nacional. Para isso e para garantir o desenvolvimento brasileiro, a estatal Petrobras, que tinha acionistas privados quase que desde seu início, tinha que descobrir petróleo, tinha que buscar novas fontes de fornecimento de petróleo bruto para o Brasil, tinha que

expandir sua capacidade de refino para reduzir as importações e a dependência do país das importações de derivados e tinha que abastecer o mercado brasileiro como um todo.” De locomotiva do crescimento a uma exportadora de óleo cru O foco no longo prazo,no desenvolvimento do país, que guiou a empresa por mais de 60 anos, foi abandonado nos últimos anos. A política em curso transformou a locomotiva do crescimento nacional em vaca leiteira, pagadora de altos dividendos aos acionistas. “A Petrobras procurou ser uma locomotiva do crescimento industrial brasileiro, viabilizando a criação de uma cadeia produtiva no Brasil, de forne-

cedores de materiais e insumos críticos para a produção e, particularmente, para a produção marítima do Brasil, especialmente depois do pré-sal brasileiro.” Sua atuação não se resumia, entretanto, ao pré-sal. “A Petrobras viabilizou a expansão de sua atividade na área de biocombustíveis. Ampliou sua participação na área de etanol.Viabilizou um programa de desenvolvimento tecnológico, envolvendo universidades e centros de pesquisa do Brasil inteiro, montando laboratórios de pesquisa para resolver problemas técnico-científicos, tanto da área de petróleo como das outras áreas do desenvolvimento brasileiro.A Petrobras era,não somente uma fornecedora de petróleo e derivados para o mercado brasileiro, mas era também uma locomotiva para o desenvolvimento industrial, da indús-

tria voltada para os equipamentos submersos, da indústria naval brasileira, das sondas e plataformas.” Gabrielli denuncia o desmonte, a destruição do modelo que orientou a empresa desde sua fundação.A Petrobras abandonou, nos anos recentes, inúmeras atividades essenciais para o desenvolvimento e, atualmente, ainda se exime da responsabilidade pelo abastecimento do país. “Tudo isso foi desmontado.De 2015 para cá nós estamos vivendo uma profunda transformação, uma profunda destruição desse modelo. A Petrobras se foca, praticamente, no horizonte de curto prazo, de pagamento de grandes dividendos e de redução do endividamento, portanto metas financeiras. A Petrobras se foca e concentra suas atividades de investimento no pré-sal da bacia de Santos, abandonando a produção em terra, abandonando a atividade na área de fertilizantes, abandonando as atividades do gás natural, abandonando a atividade de geração de energia elétrica, abandonando os biocombustíveis, abandonando o etanol, abandonando as fontes alternativas de energia e desmontando seu parque de refino. Vende a BR Distribuidora, que hoje é uma empresa 100% privada.Vende a Liquigás, portanto, sai da distribuição de gás de cozinha. Vende alguns terminais e os gasodutos e os oleodutos fundamentais para o transporte de gás e derivados. E se torna uma empresa exportadora de petróleo cru. Desobrigando-se do abastecimento nacional.” A vulnerabilidade aos preços internacionais Durante muitos anos,o Brasil ficou exposto às variações dos preços internacionais do petróleo, pois produzia muito menos do que consumia.Hoje, graças a avanços tecnológicos e fortes investimentos em pesquisa, o país é quase autossuficiente na extração de petróleo cru.Entretanto,voltamos a ser vulneráveis às oscilações dos preços internacionais,altamente especulativos,por conta de decisões políticas tomadas no governo Temer e mantidas no governo atual. “De 2016 para cá, a Petrobras se desincumbe disso [da responsabilidade pelo abastecimento nacional]. Chegamos a ter um terço da gasolina e quase um terço do diesel brasileiro importados.A Petrobras tem reduzido a sua carga processada. Nesse ano de 2021 voltou a crescer a utilização das refinarias, mas a capacidade utilizada chegou a menos de 70%, ou seja, manteve capacidade ociosa para abrir espaço para as importações de derivados de petróleo. De 2016 para cá foram criadas mais de 400 empresas importadoras de derivados de petróleo no país.O que torna o país completamente vulnerável aos preços internacionais.” “Enquanto a Petrobras não cresce, enquanto o Brasil não cresce a capacidade de refino e não cresce a capacidade de atender o mercado interno com o petróleo brasileiro,que é produzido a custos muito menores do que o preço vendido no mercado internacional,nós dificilmente teremos condições de separar o preço doméstico do preço internacional. Portanto, a Petrobras está abandonando sua função fundamental do início da sua construção que era garantir o suprimento e o abastecimento do país.” (Continua na próxima edição)


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INTERNACIONAL

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Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento da Alemanha, votou nesta quinta-feira (18/11) um conjunto de medidas para conter a quarta onda da pandemia de covid-19 no país. O pacote foi apresentado pelas legendas que provavelmente formarão o próximo governo da Alemanha – Partido Social-Democrata (SPD), Partido Verde e Partido Liberal Democrático (FDP). O plano inclui a necessidade de estar vacinado, ter se recuperado da doença ou ter um teste negativo recente para ir ao escritório ou usar o transporte público em toda a Alemanha.Essa regra é conhecida como 3G,de“geimpft,genesen, getestet” (“vacinado, recuperado, testado”). Os funcionários das empresas no país também deverão voltar a trabalhar em regime de home office sempre que a presença no ambiente de trabalho não for necessária. Outra regra é a exigência de testes diários para funcionários e visitantes de asilos e casas de repouso, independentemente de eles terem sido vacinados ou não. O plano não inclui o fechamento de escolas, restrições gerais de viagem ou vacinação obrigatória. A nova legislação estabelece penas rigorosas de até cinco anos de prisão para falsificadores de documentos e certificados relacionados à covid-19.A falsificação dos chamados passaportes da vacina tornou-se um grande problema na Alemanha, e a polícia diz que esses documentos falsos podem ser vendidos por até 400 euros (R$ 2,5 mil). Os deputados decidiram não estender o regime de “situação epidêmica de preocupação nacional” depois que ele expirar,em 25 de novembro.Esse status foi introduzido em março de 2020 e serviu de base legal para que o governo federal tomasse medidas de alcance nacional. As novas regras ainda precisam ser aprovadas pelo Bundesrat, a Câmara Alta do Parlamento. Governadores concordam em endurecer regras Também nesta quinta, os 16 governadores estaduais se reuniram com a chanceler federal Angela Merkel para buscar uma abordagem unificada das regras e restrições sobre a pandemia. Participou do encontro o vice-chanceler e ministro das Finanças Olaf Scholz, do SPD, que provavelmente assumirá o cargo de chanceler da Merkel. Os governadores decidiram que a taxa de novas hospitalizações por covid19 a cada 100 mil habitantes em sete dias será a nova referência para a adoção de restrições em cada estado. Haverá três níveis de restrições, e serão utilizadas as regras 2G,que admite apenas as pessoas vacinadas ou recuperadas da doença, e a regra 2G+, que admite apenas pessoas vacinadas ou recuperadas que também apresentarem um teste negativo. Se a taxa de hospitalizações superar 3 por 100 mil habitantes,será utilizada a regra 2G para regular a entrada de pessoas em bares, restaurantes e eventos. Essa medida já estava em vigor nos estados da Saxônia e na Baviera. Se a taxa superar 6 por 100 mil habi-

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Alemanha aprova pacote de medidas para frear quarta onda de covid-19 Transporte público será apenas para vacinados, recuperados ou com teste negativo, e home office volta a ser prioritário; negacionistas da extrema-direita resistem

Alemanha registrou o recorde de mais de 65 mil novas infecções nesta quinta

tantes, a regra 2G+ deverá ser utilizada. Se a taxa superar 9 por 100 mil habitantes,os estados deverão adotar restrições adicionais,como limites a reuniões pessoais e proibição de eventos. Atualmente,a taxa nacional de novas hospitalizações está em 4,9 a cada 100 mil habitantes. Com exceção de Hamburgo, Baixa Saxônia, Schleswig-Holstein e Sarre, a taxa está acima de 3 em todos os estados. Na Saxônia-Anhalt e na Turíngia,já ultrapassou a marca de 9. Os governadores também pediram que a vacinação contra a covid-19 seja obrigatória para trabalhadores de alguns setores.Essa medida dependerá agora de uma decisão do governo federal. Primeiro teste do provável novo governo A votação no Bundestag foi um primeiro grande teste para a possível coalizão que deverá substituir o governo liderado por Merkel,hoje composto pela União Democrata Cristã (CDU),a União

Estados da Áustria anunciam lockdown generalizado para conter onde do covid Dois estados da Áustria entrarão em lockdown generalizado a partir da próxima segunda-feira (22/11) para conter a explosão dos novos casos de covid-19. Desde o início desta semana, o governo austríaco confinou pessoas a partir de 12 anos que não tenham se

vacinado contra o novo coronavírus, mas os estados de Alta Áustria e Salzburg decidiram ir além. Essas duas regiões apresentam incidências semanais de 1.557 e 1.672 casos para cada 100 mil habitantes, respectivamente, enquanto o índice nacio-

Social Cristã (CSU),legenda-irmã da CDU na Baviera, e o SPD. A aprovação da nova legislação tem como complicador o fato de as negociações para formalizar a nova coalizão ainda estarem em andamento.Enquanto isso, o antigo governo segue no poder para gerir o país durante a transição. Em um debate acalorado no Bundestag, a deputada Sabine Dittmar, do SPD, colocou a culpa da situação atual da pandemia na Alemanha na conta do governo de saída,que segundo ela teria falhado em fazer uma promoção efetiva da vacinação para conter as infecções. “Meu pedido urgente é – vacinar, vacinar, vacinar”, disse. A CDU e a CSU já entraram no modo de oposição,e exigiram que o regime de emergência que moldou a resposta da Alemanha à pandemia seja estendido. O deputado social-cristão Stephan Stracke acusou a provável nova coalizão de governo de ter cometido seu “primeiro erro”.

“O número de casos está subindo, e vocês estão reduzindo as restrições.Isso é um erro”,disse.“Isso significa que vocês não têm um plano para a pandemia.” O deputado Marco Buschmann, do FDP,afirmou que estender o regime especial para além de 25 de novembro só faria sentido se o governo quisesse proibir a abertura do comércio e impor lockdowns,incluindo o fechamento de escolas,ao que os liberais se opõem veementemente. A situação é mais difícil onde as taxas de vacinação são baixas e as taxas de infecção altas,disse Buschmann.“Esse é especialmente o caso na Saxônia e na Baviera”, observou. Tino Chrupalla,presidente do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD),expressou ceticismo sobre o quanto as vacinas ajudaram a conter a pandemia. Seu partido é apoiado por muitos céticos sobre vacinas e negacionistas do coronavírus.Em seu programa de campanha de 2021,a AfD descreveu

Desde o início desta semana, o governo austríaco confinou pessoas a partir de 12 anos que não tenham se vacinado contra a covid nal é de 971/100 mil.“Não temos mais grandes margens de manobra”, declarou o governador da Alta Áustria, Thomas Stelzer. A expectativa é de que o lockdown nos dois estados dure “algumas semanas”.A Áustria contabiliza pouco mais

de 1 milhão de casos de covid-19 desde o início da pandemia, porém mais de 210 mil foram registrados apenas nos últimos 28 dias. Entre 8 e 14 de novembro, o país registrou 204 mortes, maior número semanal desde meados de abril - são

diversas restrições adotadas pela Alemanha como “desproporcionais” e defendeu que muitas deveriam ser eliminadas.O partido também contestou várias delas na Justiça. Vários deputados da AfD não podem atualmente ir ao plenário do Bundestag, pois se recusam a seguir a regra 3G.Eles se recusam a mostrar comprovantes de vacinação ou recuperação e não admitem serem testados. Número de casos aumenta drasticamente Mais de 65 mil novas infecções foram registradas em toda a Alemanha em 24 horas nesta quinta-feira,um novo recorde desde o início da pandemia.A incidência de novos casos por 100 mil habitantes em sete dias escalou para 336,9, outro recorde. Autoridades sanitárias dizem que é provável que o número seja o dobro ou até o triplo do que é registrado oficialmente.

23,5 mil óbitos desde o começo da crise sanitária. De acordo com o portal Our World in Data, a Áustria tem 64% de sua população totalmente vacinada contra o novo coronavírus, cifra inferior à média da União Europeia (66,42%). A Europa entrou, em novembro de 2021,em uma quarta onda de infecções pelo coronavírus,o que fez os casos de covid-19 dispararem. A situação seria muito pior se já não houvesse pessoas vacinadas,já que é comprovado que as vacinas disponíveis reduzem substancialmente os casos graves e de mortes. A quarta onda de covid na Europa atinge os países de diferentes maneiras. O negacionismo dos antivacinas prejudica o combate à doença,e ele se manifesta com maior ou menor intensidade a depender da nação. Vale lembrar que,em um país como a Alemanha, que têm 83 milhões de habitantes, se 24% desse total não se vacinou, são cerca de 19 milhões desprotegidos.As autoridades alemãs,inclusive, falam em uma pandemia de não vacinados


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