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UMA TRAJETÓRIA DE APRENDIZADO

Atentae inconformada, Ana Claudia Quintana Arantes buscou a prática e o conhecimento que trouxe respostas para aquilo que mais a inquietava enquanto profissional: o sofrimento das pessoas quando estavam diante de uma doença que não tem tratamento. Firme no caminho contrário àquela dolorida frase “não há nada que possa ser feito”, ouvida por muitos pacientes diante de uma doença que ameaça a continuidade da vida, a médica encontrou soluções: ela sabia que havia, sim, o que pudesse ser feito!

Esse foi o encontro de Ana Claudia com a prática dos cuidados paliativos, uma abordagem da área da saúde que proporciona o alívio do sofrimento às pessoas com doenças em estágios avançados em cinco dimensões: física, mental, emocional, social e espiritual. “Os cuidados paliativos têm como objetivo aliviar e prevenir o sofrimento vinculado a essa condição de saúde, e com isso promovem qualidade de vida. Em muitas situações, podem aumentar o tempo de vida da pessoa pelo fato de ela estar se sentindo bem e vivendo bem”, explica.

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Ana Claudia explica que o acesso a esse tipo de tratamento é muito baixo no Brasil. O número de pessoas que precisam de cuidados paliativos pode chegar a 900 mil por ano, e apenas 0,3% consegue ter acesso a essa assistência. A médica reforça que, quando ofertados desde o diagnóstico, os cuidados paliativos fazem uma grande diferença no tratamento. “A gente vai precisar de muitos milhões de brasileiros tendo acesso para que eles sigam de fato uma vida que valha a pena ser vivida, apesar de ter uma doença que ameaça a continuidade dessa vida”, alerta.

Apesar do acesso restrito, a autora acredita que o brasileiro está sempre em busca de informação, especialmente quando passa por uma situação envolvendo um problema grave de saúde. Prova disso são as mais de três milhões de visualizações no vídeo de sua palestra para o TEDx-FMUSP com o tema A morte é um dia que vale a pena viver, a qual resultou em um dos seus livros de maior sucesso. Outra conquista de Ana, fruto da luta em parceria com o Conselho Nacional de Educação, é a publicação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina no Brasil, que entraram em vigor em dezembro deste ano. “Agora está escrito com todas as letras a necessidade de ofertar conhecimento, habilidade e competência para os futuros médicos do nosso país. Demos um grande passo em relação a um futuro mais promissor dessa área dentro do nosso país”, relata.

Sabemos que a morte ainda é um tema difícil para muitas pessoas, e por isso os livros da autora têm ajudado na compreensão desse tabu. Ana Claudia Quintana Arantes explica que é ilusório achar que alguém, um dia, ficará confortável com a morte. Para ela, a morte é um grande desafio, pois ela representa o fim da vida, o fim de uma relação de amor. “Quando a morte chega para o seu pai ou sua mãe, você perde esse vínculo concreto de uma relação de segurança. Quando você perde um filho, isso é totalmente sem lógica na vida humana. Então a morte sempre vai ser algo que mobiliza o ser humano. E se importar significa você saber lidar com a sua emoção diante disso, saber lidar com a tristeza, com a vulnerabilidade, com a fragilidade, com a coragem de se sentir cuidado e saber que precisa de cuidados. É a coragem de olhar para a pessoa que está doente e ver para além da doença. Isso sim precisa de maturidade, de muita conversa, de espaço, de segurança para compor todos os itens necessários de reflexão acerca da morte”, reflete a autora.

Conversar sobre o assunto e ter um espaço de discussão para além das doenças — ou seja, falar sobre a morte sem precisar estar doente — é algo muito importante e que de fato pode proporcionar maior capacidade diante dos problemas que enfrentamos no dia a dia. “Refletir sobre a sua morte vai te tornar mais capaz de fazer escolhas mais lúcidas, conscientes e sensatas. Quando você sabe que não tem para sempre para resolver as coisas, você consegue resolver as que têm condição de serem resolvidas imediatamente”, ressalta.

A DICA É: AME!

Amorte chega de forma prematura para muitas pessoas. O fim inevitável faz com que o ser humano sinta todas as sensações e emoções que a perda pode provocar. Essa experiência humana é chamada de luto antecipatório, ou seja, a consciência de que a morte está para chegar faz com que a pessoa viva a experiência do luto antes que a morte aconteça. Para lidar com a linha tênue entre o viver e o partir, a autora nos presenteia com orientações importantes e emocionantes, compartilhadas nos relatos reais dos seus livros, como A morte é um dia que vale a pena viver e Histórias lindas de morrer, as quais não devem ser esquecidas pelas famílias, mesmo diante de um momento tão difícil. “A dica é: AME! Não desperdice seu tempo pensando na perda, invista seu tempo pensando no amor que você tem hoje para dar e para receber. É isso que vai fazer com que seu luto real seja mais leve, porque você durante a vida aproveitou a vida.”

A médica especialista em cuidados paliativos constrói relações fortes e intensas com os seus pacientes e familiares, vive momentos emocionantes, tensos e também alegres com eles. Ela nos conta que é difícil quando um ciclo se fecha com a partida de alguém, mas a consciência de saber que aquela pessoa que partiu teve acesso ao melhor conhecimento, às melhores competências e habilidades que ela poderia oferecer, traz conforto. “Sempre é um grande aprendizado que me prepara para o próximo paciente, então é uma experiência de paz e de gratidão pela honra e pela confiança que esses pacientes e essas famílias depositam no meu trabalho”, conta.

PARA A VIDA TODA VALER A PENA

Os livros de Ana Claudia Quintana Arantes nos apresentam realidades difíceis e dolorosas de pessoas que precisam lidar com doenças que podem interromper suas vidas e que trazem dor e sofrimento. Mas, mais do que relatos profissionais e histórias compartilhadas, suas obras também nos trazem esperança, nos mostram possibilidades, nos confortam e nos ensinam o que realmente faz com que a vida valha a pena ser vivida.

Na sua obra best-seller Pra vida toda valer a pena viver , a autora fala sobre construir uma velhice que traga bem-estar e alegria. Em sua percepção, é um livro que vai na contramão das demais publicações que abordam o envelhecimento. Muitas, inclusive, com propostas para evitá-lo, como se a velhice fosse um problema. Resolvê-la, diz a autora, não é a melhor opção. Afinal, a solução seria morrer cedo, e isso não é uma boa ideia para Ana. Aliás, para ela, envelhecer não é nenhum problema. É por isso que ela aborda com maestria esse tema em seu livro, e nos deixa dicas valiosas sobre envelhecer da melhor forma possível. pensamentos. Não é todo mundo que vai ter recursos para fazer isso, mas durante a pandemia a coisa que mais floresceu foi suporte gratuito para essas pessoas conseguirem se estruturar melhor, conseguirem conhecer melhor as suas emoções. E, espiritualmente, se proporcione a chance de experimentar a transcendência da beleza que é estar vivo. E essa transcendência não está nas religiões, ela está na espiritualidade”, orienta.

NOVOS PROJETOS, NOVOS ENSINAMENTOS

“Tenha consciência de que envelhecer significa sucesso do tempo, então não vai ser uma boa ideia você ir contra esse sucesso. Favoreça esse sucesso cuidando do seu corpo, da sua mente e do seu espírito. E o cuidado para cada uma dessas partes que te compõem é algo que você já sabe que precisa ser feito. Terapia é item de sobrevivência hoje em dia, não é mais luxo ou falha de caráter precisar de terapia. É absolutamente indispensável você buscar intervenções que possam favorecer a qualidade das suas emoções, dos seus

Em novembro deste ano, Ana Claudia lançou o livro Mundo Dentro: poesia de sobrevivência , também pela editora Sextante. Um livro inspirador, que resgata memórias, sonhos e lembranças em textos curtos e cheios de sentimentos. Um dos livros mais importantes da sua carreira. “ Mundo dentro traz o moti vo pelo qual eu consegui sobreviver para escrever um livro como A morte é um dia que vale a pena viver. Então ele é um espaço extremamente sagrado. Se eu cuidei do meu corpo, da minha mente, das minhas emoções, o Mundo Dentro é um cuidado para a minha dimensão sutil, de transcendência. E eu partilho nesse livro talvez os meus maiores segredos, as coisas de maior intimidade e potência que me trouxeram até aqui”, descreve. Além desse lançamento, a autora promete que vêm chegando por aí muitos livros lindos e cheios de novos caminhos de refl exão e compreensão da vida e da morte. Só podemos esperar ansiosos pelo acalento que o texto de Ana Claudia Quintana Arantes é para os nossos corações e para as nossas almas. Afi nal, ela nos ensina que viver não precisa ser difícil, e partir, muito menos.

Dicas de leitura por Ana Claudia Quintana Arantes

A estrada da cura

Neil Peart

O ano do pensamento mágico

Joan Didion

O último sopro de vida

Paul Kalanithi

Gratidão

Oliver Sacks

NO CREO EN BRUJAS, PERO QUE LAS HAY, LAS HAY

Houve uma vez um duelo de magia, sem vencedor.

Houve uma vez uma rixa entre famílias, que perdura há quase cem anos.

Houve uma vez um tempo em que varinhas mágicas eram permitidas.

Houve uma vez um lugar onde se podia praticar magia livre de proibição.

Houve uma vez uma chave capaz de levar seu possuidor em qualquer lugar no espaço e no tempo.

Houve uma vez uma varinha que podia fazer todos os quatro elementos se curvarem à sua vontade.

Houve uma vez um livro, onde todos os bruxos do mundo guardavam ali seus segredos.

E houve uma vez um menino, com um olhar de duas cores, que chegou para mudar a história como é conhecida hoje.

Esse menino é Marvin Grinn, e essa história você conhecerá em breve aqui na Vitrola.

Aguarde...

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