ANO XIV - NÚMERO 26 - 1° SEMESTRE DE 2017 - ISSN 1678-3824 | PUBLICAÇÃO SEMESTRAL | FUNDAÇÃO CENTRO DE ANÁLISE, PESQUISA E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
O rio comanda a vida:
78% dos empregos do mundo dependem de recursos hídricos P.122 ENTREVISTA
Após 25 anos, Lei de Informática pouco contribuiu para avanços na pesquisa e desenvolvimento, aponta especialista p.04
MANAUS IMAGINADA: A contrução da cidade sob o olhar do imigrante haitiano
p.08
Análise da Abordagem SCAP para Atribuição de Autoria de Código Fonte em Cursos de Programação p.21
Dados Editoriais Ano XIV - Número 26 - 1º Semestre de 2017
Jornalista Responsável
ISSN - 1678-3824 P CAPI Fundação Centro de Anális e, Pesquisa e Inovação Tecnológica
Cristiane Barbosa Mtb 092 DRT/AM
Conselho Editorial
Coordenação Alderlane Ribeiro Aquino
Isa Assef dos Santos Alexandre Santos de Oliveira Ademir Jesus Lourenço Francisco Elno Bezerra Herculano Hellen Cristina Medeiros de Souza
Designer Johnnathan Gabriel Maia
Capa
Niomar Lins Pimenta
Aline Oli veira Lopes
Conselheiros Ad hoc Afonso Degmar Ribas, Antonio Ramos de Carvalho Júnior, Claudete Ines Kronbauer, Pohlit, Cristiane Lucia de Freitas, Elba Vieira Mustafá dos Santos, Eneida Regina Nascimento Oliveira, Francisco Dinolá Neto, Frederico Pinagé, Ginarajadaça Ferreira dos Santos Oliveira, Isabel Cristina Souza Dinóla, João Tito Borges, Joice de Jesus Machado, Roni Mayer Lomba e William Roberto Malvezzi
es
Projet
s
Rev Raimunda Rodrigues
Diagramação Johnnathan Gabriel Maia Brenda Sthefany Lima Cordeiro
Estágio da Coordenação de Pesquisa
Alexandre Santos de Oliveira Isabel Cristina Souza Dinóla
Elvis Ka Fai Lee
As opiniões emitidas nos artigos publicados nesta revista são de inteira responsabilidade dos autores.
E D I TO R I A L sempre aclamado com entusiasmo, principalmente por ser mais uma contribuição dos que se dedicam ao trabalho intelectualbem como à difusão do conhecimento. A revista T&C Amazônia desde o seu lançamento, em 2003, passou por pequenas alterações de cunho técnico. Hoje com uma edição completamente eletrônica, nos inserimos em uma nova fase substituindo velhos processos, como a impressão de milhares de volumes. Com caráter mais global, a T&C é orientada por um Conselho Editorial de alto nível, renovado a cada período de dois anos. No que diz respeito ao conteúdo, um corpo de especialistas ad hoc apreciará e selecionará os trabalhos que forem submetidos, de maneira independente e anônima. Os textos inaugurais da revista honram o ambiente acadêmico pela grandeza dos temas tratados. A matéria de capa com o título 'O rio comanda a vida' e a nossa entrevista
com o Ricardo Salles, especialista em Lei de Informática e gerente do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi) com o tema 'Após 25 anos, Lei de Informática pouco contribuiu para avanços na pesquisa e desenvolvimento, aponta especialista' por Cristiane Barbosa. Apresentamos uma novidade, os artigos dos alunos do (PIICT) e também do Encontro Regional de Computação e Sistemas de Informação (ENCOSIS). Isso se torna um incentivo para os nossos alunos, já que divulga resultados de pesquisas desenvolvidas nos cursos de graduação. Como vocês poderão ver, os autores dos artigos possuem elevado conhecimento nos campos que atuam. Com certeza, lê-los é percorrer caminhos de enriquecimento intelectual e de desbravamento de novos campos do conhecimento. Boa Leitura!
S U M Á R I O Seções 02
Editorial Entrevista
Após 25 anos, Lei de Informática pouco contribuiu para avanços na pesquisa e desenvolvimento, aponta especialista
04
Cristiane Barbosa
Artigo MANAUS IMAGINADA: A construção da cidade sob o olhar do imigrante haitiano Marcus Vinícius Ferreira Gomes e Maria Evany do Nascimento
08
Análise da Abordagem SCAP para Atribuição de Autoria de Código Fonte em Cursos de Programação Juliane dos Santos Silva, Sergio Cleger Tamayo e Márcio Palheta Piedade
21
Josiel Wirlino Vieira dos Santos e Carlos Maurício Seródio Figueiredo.
Testes Baseados em Tela Sensível ao Toque em Aplicações Móveis Apoiados por Robôs Larissa Neves e Arilo C. Dias-Neto
Padrões Tecnológicos e Evolução Recente das Exportações Brasileiras Ana Luiza Farage Silva e Orlando Monteiro da Silva
28
Estudo de caso em uma escola pública na cidade de Manaus/AM
38
Algoritmos Genéticos aplicados na otimização de redes IP Ricardo M. Guimarães, Abner J.V. Matos, Carlos A. A. Mar e Renata da E. Onety
45
Estudo das propriedades magnéticas do nanocompósito Mn3O8 / Fe3O4 para aplicação em remediação ambiental
Leonardo Fernandes Farias, Wallace Sant’anna, Isabel Cristina Souza Dinóla, Francisco Dinóla Neto, Igor Tavares Padilha e Gabriela Cordeiro Silva 53
Estudo de Prospecção Química dos Extratos de Espécie Vegetais com Potencial Inseticida da Amazônia Bianca Cristina Pinto Hassan, Elba Vieira Mustafa e Mirian dos Santos
75
83
Logística reversa dos resíduos sólidos das associações folclóricas dos bois-bumbás “Caprichoso e Ga rantido” do município de Parintins (AM) Françoan de Oliveira Dias
Geraldo Ximenes Pinto Júnior e Marcos Paulo Mendes Araújo.
DESAFIOS E IMPLICAÇÕES NO ENSINO DA TRIGONOMETRIA: Rosimeire Oliveira e Sidney Oliveira
67
90
PINAM : A alternativa estratégica para o desenvolvimento regional e econômico do Amazonas, paralelo ao Pólo Industrial de Manaus
Um Relato de Experiência do Ensino de Grafos Usando Aprendizagem Cooperativa para Alunos do Ensino Médio Matheus Alves, Diogo de Araújo, Raimundo Barreto, Francisca Cavalcanti e Yone Costa
Rede de Sensores Sem Fio Para Monitoramento de Dados Ambientais: Projeto de Nó Sensor de Baixo Custo
97
Produção agrícola uma alternativa para o desenvolvimento sustentável na microrregião do madeira Antonio da Encarnação, Mauro Emerson, Moraes Duarte, Therezinha Maia, Magalhães, Thamy Tatielle Pantoja, Waldecir Barros Pereira e Andreza Siqueira dos Santos
Reportagem
103
O rio comanda a vida: 78% dos empregos no mundo dependem de recursos hídricos Por Cristiane Barbosa
118
62
AOS L E I TOR E S A T&C Amazônia é uma publicação semestral criada com o intuito de discutir temas relevantes de interesse do País e, em especial, da Região Amazônica. Desde a 20ª edição, a T&C abriu espaço para contribuições relacionadas ao desenvolvimento regional em seus diferentes aspectos, desde que aderentes ao revista. Portanto, serão bem- vindos estudos que contemplem ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação. O teor dos textos é de inteira responsabilidade dos autores. Os interessados em publicar seus trabalhos devem encaminhá-los para o e-mail tec_amazonia@fucapi.b r, para que sejam submetidos à análise do Conselho Editorial. O envio de um art igo não garante a sua publicação. Os art igos publicados
não concedem direito de remuneração ao au tor. O art igo deverá ser enviado exclusivamente por meio eletrônico, em arquivo texto, digitado em editor de texto Microsoft Word, formatado em papel Carta, com margens laterais de 3,0 cm, superior de 3,5 cm, inferior de 2,5 cm, fonte Arial tamanho 12 e espaçamento simples. Os textos devem ser inéditos. O artigo deve conter um resumo, breve currículo do autor e pode apresentar gráficos e figuras, desde que o tamanho do artigo permaneça entre 8 e 12 páginas. A publicação também deverá ser autorizada pelo(s) coautor(es) e encaminhada carta de anuência anexa ao artigo submetido à aprovação.
Entrevista
Após 25 anos, Lei de Informática pouco contribuiu para avanços na pesquisa e desenvolvimento, aponta especialista
Foto: Karoline Nogueira
Por Cristiane Barbosa
Criada e sancionada há 25 anos, a
em Lei de Informática e gerente do Centro
lei 8.248/ 91, conhecida como Lei de
de Desenvolvimento Tecnológico da
Informática, foi aprovada em outubro de
Fundação Centro de Análise, Pesquisa e
1991, pelo então presidente Fernando
Inovação Tecnológica (Fucapi), concedeu
Collor. Na época, o País passava por
entrevista exclusiva à revista T&C
um período de transição abrupta entre
Amazônia, apresentando o panorama da
o modelo de reserva e de abertura
Lei tanto no âmbito nacional quanto no
de mercado e a legislação. Essa foi
cenário estadual da Amazônia Ocidental.
a forma encontrada para garantir a
04
T&C Amazônia Ano XvI, Número 26, I Semestre de 2016
competitividade de empresas locais, com
Natural de Minas Gerais, Salles tem
a concessão de benefícios temporários
experiência na área de Engenharia
– à época, a isenção do Imposto
Mecânica e atua como gerente de projetos
sobre Produtos Industrializados (IPI)
há mais de 20 anos em indústrias da área
sobre equipamentos de informática e
de telecomunicações, eletroeletrônicos
automação produzidos nacionalmente.
e institutos de pesquisa. Tem profundo
Nesse sentido, Ricardo Salles, especialista
conhecimento em investimentos em
P&D com base na Lei de Informática.
O CATI (compreende todas as regiões
Acompanhe, a seguir, a entrevista, na
exceto Amazônia Ocidental) tem seu
íntegra?
relatório mais simplificado, solicitando comprovações documentais apenas por
T&C Amazônia: A Lei de Informática (Lei 8.248/91) completa 25 anos, em 2016. Destaque quais avanços nosso
amostragem ou em casos específicos onde
País teve com a criação desta Lei.
do projeto ou nos dispêndios realizados.
a análise inicial apresenta dificuldades ou dúvidas no entendimento das atividades Além disso, no âmbito do CATI existe
A Lei de Informática tanto na abrangência
um sistema web, onde as informações
do Comitê da Área de Tecnologia da
são implementadas pelas empresas.
Informação (CATI) (Lei 8.248/91) quanto
Outros pontos estão ligados aos valores
do Comitê das Atividades de Pesquisa
permitidos para a rubrica ‘Custos
e Desenvolvimento (CAPDA) (Lei
incorridos e reserva de P&D’, que no CATI
8.387/1991) possibilitou o investimento,
é de até 20% e no Capda limitado a 10%.
principalmente em capacitação e no
Há uma discussão antiga na abrangência
desenvolvimento de alguns produtos
do CAPDA, onde as instituições pedem a
com características inovadoras, de
hegemonia nos benefícios das duas leis.
um modo geral com foco na melhoria dos processos de fabricação. Como a maioria das empresas que recebem este incentivo tem seus produtos
T&C Amazônia: De maneira geral, quais os incentivos ofertados na Lei de Informática para a área da ZFM?
desenvolvidos fora do Brasil, uma grande parcela destes investimentos acabou
Isenção do IPI e redução do Imposto
sendo direcionados para a evolução no
de Importação (II) para as empresas
lado da industrialização, aumentando
que produzem bens de informática na
assim a qualidade dos produtos
Amazônia Ocidental e que deverão investir,
produzidos no Brasil e a dissiminação do
anualmente, em atividades de pesquisa
conhecimento minimizando a emigração
e desenvolvimento a serem realizadas na
dos profissionais que atuam nas regiões
Amazônia, no mínimo, cinco por cento
da abrangência da lei. A área que mais
do seu faturamento bruto no mercado
recebeu recursos foi o desenvolvimento
interno, decorrente da comercialização dos
de software.
produtos contemplados com a isenção do IPI e redução do II, deduzidos os tributos
T&C Amazônia: Sabemos que há a Lei de Informática aplicada às indústrias da Zona Franca de Manaus (ZFM), quais as principais características da
correspondentes a tais comercializações,
legislação nacional e da local?
PASEP, bem como o valor das aquisições
nestes incluídos a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e a Contribuição para o PIS/ de produtos contemplados com a isenção
As principais diferenças na legislação
do IPI e redução do II, conforme projeto
entre os projetos realizados pelo CATI
elaborado pelas próprias empresas, com
e pelo CAPDA estão relacionadas aos
base em proposta de projeto previamente
relatórios demonstrativos e às exigências
apresentada à Superintendência da
documentais.
Zona Franca de Manaus (Suframa) e ao Ministério da Ciência, Tecnologia e
T&C Amazônia Ano XvI, Número 26, I Semestre de 2016
05
Entrevista
Inovação (MCTI).
T&C Amazônia: E quais são os requisitos para ter direito a essas
T&C Amazônia: Quais são os pontos críticos, na sua avaliação como especialista, relacionados à Lei de Informática nacional e local?
alíquotas reduzidas?
Ser empresa que produza bens
de informática, conforme relacionado no Decreto 5.906 de setembro de 2006
Um dos principais problemas está
e Decreto 6.008 de dezembro de 2006 e
relacionado à dificuldade que as empresas
suas alterações
têm em entender que estes recursos não são delas, são frutos dos incentivos
dados pelo governo, não sendo permitido,
Participação de Lucros, art. 28 do
desta forma, a aplicação destes recursos
Decreto 6.008 dez/2006 que é requisito
em qualquer tipo de projeto. Existem
obrigatório e deve ser implantado de
regras de enquadrabilidade que devem ser
imediato para que a empresa possa
seguidas, não são simplesmente projetos
requerer os benefícios da Lei de
de engenharia.
Informática, caso contrário não será
Apresente um Programa de
concedido. O documento comprobatório Outro ponto está relacionado aos
será: acordo coletivo celebrado entre
institutos de pesquisa credenciados
Sindicato dos trabalhadores e empresa.
para receberem estes recursos para execução dos projetos que acabam
sufocados por uma hierarquia onde
beneficiar dos incentivos previstos na Lei
os órgãos reguladores, Ministério de
de Informática possuem uma carência
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI),
de 36 meses para implantar a ISO 9.000,
Ministério de Desenvolvimento e Indústria
a contar da data de implantação do
e Comércio (MDIC) e Superintendência
Laudo de Produção – LP. Documento
da Zona Franca de Manaus (Suframa)
comprobatório: Certificado da ISO 9.000.
As empresas interessadas a se
definem regras para as empresas beneficiadas, que são repassadas para os
tecnológicos.
T&C Amazônia: Como está o cenário da aplicação dos recursos de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) nos institutos de pesquisa instalados no Amazonas?
Sobre os institutos recaem ainda as
Atualmente, no meu ponto de vista,
exigencias dos consultores de P&D, atores
existe certa divisão que talvez até seja
que surgiram no processo para apoiar e
involuntária, mas as instituições já estão
orientar as empresas na execução dos
caracterizadas por competências. Existem
projeto para evitar eventuais ‘Glosas’. A
as instituições que recebem mais recursos
hierarquia atual apresenta a estrutura
para desenvolvimento de software, outra
abaixo: orgão regulador, empresas
para capacitação, outra para hardware e
incentivadas, consultores de P&D e
assim vai. Parece que existe um consenso
institutos de pesquisa no fim da cadeia
de que o recurso deve ser distribuido de
tendo toda a carga de risco na sua
forma a não privilegiar, nem prejudicar
relação com a empresa.
nenhuma instituição.
institutos credenciados sem diferenciar as características jurídicas e objetivos
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T&C Amazônia Ano XvI, Número 26, I Semestre de 2016
Temos poucas empresas que fazem investimentos significativos e muitas empresas que não sabem o que fazer com o dinheiro, não têm projeto próprio. Com casos em que preferem simplesmente depositar nos programas prioritários do CAPDA e no Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDTC), como prevê a lei, evitando assim
“Precisamos rever a lei, pois o ambiente de tecnologia mudou muito, a atuação das empresas também” Ricardo Sales
os relatórios e prestações de contas.. Uma dificuldade que os institutos atravessam está nos recursos financeiros que sobram para elas. A lei não permite ganhos reais e sabemos que as instituições sem fins lucrativos não podem dividir o lucro, mas precisam ter lucro para poderem se manter no mercado e promoverem outras formas de pesquisa e inovação. As empresas entendem que devem fazer o que quiserem com os recursos e pressionam as instituições, amparadas nas restrições colocadas pelos decretos. T&C Amazônia: Apesar dos desafios e dificuldades na área, qual sua avaliação sobre o impacto dos 25 anos da Lei de Informática no desenvolvimento do País e da nossa
multinacionais precisam entender que o benefício é para desenvolver o conhecimento e o capital humano. Não basta cobrar o desenvolvimento. O objetivo é preparar e desenvolver inovação. Ela não está pronta e disponível. A relação instituto, universidade e empresa é muito distante no que diz respeito a produzir inovação.
região? Em minha opinião, tivemos um retorno muito pequeno em relação ao volume de recursos aplicados. Basta olhar para o número de patentes geradas por esta lei e principalmente na relação entre as pessoas qualificadas e a real utilização deste conhecimento em pesquisa e desenvolvimento, com inovação. Precisamos rever a lei, pois o ambiente de tecnologia mudou muito, a atuação das empresas também. Na região Norte, principalmente onde as grandes
T&C Amazônia Ano XvI, Número 26, I Semestre de 2016
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Artigo
MANAUS IMAGINADA: A construção da cidade sob o olhar do imigrante haitiano Marcus Vinícius Ferreira Gomes e Maria Evany do Nascimento
Resumo
e divertimento. O convívio social interferiu dire-
A presente pesquisa está baseada numa aborda-
tamente na relação dos imigrantes com a cidade,
gem interdisciplinar de observação e interpre-
sendo unanimidade entre os entrevistados a
tação da cidade que culminou na tradução dos
afinidade com os cidadãos manauaras e muitas
aspectos simbólicos do espaço urbano captada
vezes o fator determinante para a permanência.
por um grupo de imigrantes haitianos. O grupo foi definido, pois traz um olhar diferenciado para o cotidiano manauara e que constitui o fluxo
Palavras-chave: Imaginários Urbanos, Design Urbano, Imigração Haitiana
de migração mais representativo nos últimos
08
anos, segundo dados do Conselho Nacional de
Introdução
Imigração (CNIg, 2014). Para o desenvolvimento
Manaus, sempre de braços abertos para acolher
da pesquisa estarão sendo operacionalizados
todos àqueles que escolheram o solo manauara
os conceitos de Imaginários Urbanos (SILVA,
como lar: africanos, nordestinos, ingleses, judeus,
2001) e Design Urbano (NASCIMENTO, 2014). Os
sírio-libaneses, norte-americanos, italianos,
imaginários urbanos são percepções inconscien-
japoneses (Benchimol, 2009), assim também está
tes construídas a partir da vivência na cidade,
sendo com a chegada dos haitianos. Manaus é
são “materializados” através de simbolismos, dis-
uma cidade construída a muitas mãos e cada
cursos e comportamentos, causando efeitos no
cultura que passa a compor o cenário manauara
real. A estrutura interdisciplinar do design urbano
contribui para a formação de uma cidade cada
pautada numa estrita metodologia projetual
vez mais plural. Para muitos migrantes Manaus
para o estudo do espaço da cidade surge como
é definida como “O lugar das oportunidades”,
alternativa para a interpretação dos aspectos
mas a cidade parece possuir esse perfil acolhedor
simbólicos e funcionais do espaço urbano. Tendo
e próspero que fascina os viajantes e atrai os
como objetivo a compreensão do espaço, do
migrantes. Melo e Moura (1990) coordenaram
cidadão e as relações entre eles. A metodologia
uma pesquisa sobre o perfil migratório da cidade
utilizada consistiu em pesquisa bibliográfica
de Manaus no início da década de 1990, na qual
e documental, elaboração de fichamentos,
ficou constatado que a maioria dos migrantes
coleta de dados por meio de visitas de campo
eram oriundos do interior e de outros estados
e aplicação de entrevistas semiestruturadas,
do país que vieram atraídos pelas oportunidades
análise de dados e redação do artigo científico.
de emprego. Em estudos recentes é perceptível
Na percepção dos entrevistados a praia da Ponta
a alteração no perfil migratório na cidade
Negra foi escolhida como imagem-símbolo da
através da inserção de estrangeiros (SILVA, 2012;
cidade e a apontam como espaço de relaxamento
OLIVEIRA E OLIVEIRA, 2012). Nos últimos anos,
MANAUS IMAGINADA: A contrução da cidade sob o olhar do imigrante haitiano
a nacionalidade haitiana é a responsável pelo
Silva (2012) realizou uma pesquisa de campo em
maior número de entradas no estado, segundo
2011 em Tabatinga e em Manaus com imigrantes
dados do Conselho Nacional de Imigração (CNIg,
haitianos e identificou nos grupos pesquisados
2014). O Haiti possui um grande número de
o perfil de imigrantes laborais, “aqueles que
cidadãos que vivem além de suas fronteiras, fato
emigram em busca de sustento para si e para
que incentivou o governo a criar um ministério
sua família que permaneceu no lugar de origem”,
responsável por gerenciar questões relacionadas
também identificou diferenças sociais e culturais
à emigração. Estima-se que setenta por centodos
dentro do próprio grupo de haitianos entre
haitianos que possuem formação superior
escolaridade, lugar de origem e experiência prévia
emigraram, causando um grande impacto no
em emigração. Em 2014 um amplo relatório
desenvolvimento do país. As maiores concentra-
sobre a imigração haitiana a nível nacional foi
ções haitianas estão na República Dominicana,
desenvolvido por solicitação do Ministério do
Estados Unidos, Bahamas, Canadá e França (Wah,
Trabalho e Emprego, coordenado por Fernandes
2013).
et al. (2014), após o terremoto que ocorreu em 2010 o país declarou estado de calamidade, o
Ao analisarmos o Gráfico 1, podemos observar
governo brasileiro interviu liberando mil vistos
que desde 2011 o governo brasileiro liberou
anuais (expedidos em Porto Príncipe) para a
oficialmente a entrada de imigrantes haitianos
entrada de haitianos no país em caráter de asilo
no país sob o visto de asilo humanitário, 2012 foi
humanitário. Muitos haitianos que já viviam
o ano com maior número de entradas, provavel-
(legalmente ou não) em outros países que fazem
mente por conta do furacão Sandy. A partir de
fronteira com o Brasil, também pediram o visto
2013 houve um decréscimo no número de vistos
de asilo, acarretando no aumento das expedições
para haitianos e em 2014 o número de pedidos
do visto humanitário. Dessa forma, o fluxo de
para o visto humanitário aumentou consideravel-
entrada de haitianos no país mais que dobrou,
mente para imigrantes de outras nacionalidades,
as principais entradas no país eram oriundas
provavelmente pelo asilo proporcionado aos
das fronteiras nos estados do Acre, Amazonas e
haitianos, cidadãos de outras nacionalidades
Roraima.
foram motivados a buscar asilo no Brasil. O estado do Amazonas registrou o maior número
A cidade de Manaus serviu como passagem
de pedidos em 2011 e 2012, o estado do Acre
temporária de muitos haitianos que se direciona-
em 2013 e o Distrito Federal registrou o maior
vam ao sul e ao sudeste do país. O intenso fluxo
número de pedidos do vistos humanitários em
de entradas de imigrantes mobilizou a sociedade
2014, segundo estatísticas do Conselho Nacional
civil a encontrar soluções para a acolhida dos
de Imigração, órgão ligado ao Ministério do
imigrantes na cidade, foram mobilizadas diversas
Trabalho e Emprego.
iniciativas como abrigos, redes de solidariedade, empregadores e serviços que auxiliaram a recepção dos haitianos na cidade. Uma das principais iniciativas em Manaus foi organizada pela Pastoral do Migrante, instituição de acolhida à imigrantes ligada a Paróquia de São Geraldo, liderada pelos Padres Valdeci Molinari e Geomino Costa, que acolheram e proveram as necessidades básicas de mais de seis mil haitianos nos últimos anos, segundo informações da pastoral.
Gráfico 1. Vistos humanitários. Fonte: CNIg. Elaborado pelo autor
A Pastoral do Migrante inicialmente recebia todos os imigrantes em suas dependências, com
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o aumento do fluxo de imigrantes, a Pastoral passou a realocar os imigrantes em outras residências de acolhida, além de auxiliar no processo de legalização dos imigrantes a Pastoral foi mediadora entre imigrantes e empregadores tanto na cidade de Manaus quanto em outros estados do país. Empresas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná incorporaram muitos dos imigrantes em seu quadro de colaboradores. A motivação da presente pesquisa nasceu após a observação da inserção de famílias haitianas que se formaram ou se estabeleceram em Manaus, adotando-a como residência. Nesse momento, duas questões nortearam o desenvolvimento da pesquisa: Como Manaus se revela? E Quais percepções da cidade foram construídas? O presente trabalho foi estruturado a partir das etapas de desenvolvimento da pesquisa, mas é importante ressaltar que todo o processo foi conduzido a partir de uma visão sistêmica e interdisciplinar. Referencial Teórico O presente referencial teórico pretende contribuir para a construção de uma abordagem sistêmica pautada na metodologia projetual do design para que seja possível identificar o aspecto simbólico e funcional da cidade. Simbólico porque visa compreender como o indivíduo se relaciona com a cidade a partir de suas percepções sensoriais e funcional porque pretende compreender as funções atribuídas aos espaços. Para tal empreendimento será necessário uma abordagem interdisciplinar, pois privilegia a troca e cooperação entre diversas áreas . As categorias de análise definidas para o atual projeto foram: Design Urbano, como metodologia de estudo e análise do espaço urbano; Cidade, estrutura teórica que fundamenta a compreensão do espaço urbano e Imigração, para a compreensão do processo migratório haitiano. O design por interagir com outras áreas do conhecimento estimula uma perspectiva abrangente na identificação de problemas e propostas de soluções, característica ideal quando se trata
10
do espaço urbano, pois comporta elementos naturais e construídos, pessoas e sistemas informacionais. Naturalmente, o gerenciamento de informações no desenvolvimento projetual se torna um desafio para o pesquisador, dessa forma é necessário encontrar um meio de organizar e sistematizar dados de diferentes áreas do conhecimento, mas que possuem relação entre si, Morin (2005) define que um sistema é complexo quando seus componentes estão “intrinsecamente ligados de forma indissociável”. Sendo assim, fica inviável a correta compreensão da cidade apenas por uma ótica econômica, sociológica ou estrutural. A cidade é a resultante de todos esses vetores sendo definida por Argan (1989) como um complexo sistema de informações. A função do designer é ser o intérprete desse sistema de informações, gerenciando e ordenando o espaço através de produtos, serviços ou processos. Em consonância com Argan está Nascimento (2014) que defende o design urbano como “gerenciador da construção de valores na cidade contemporânea, agregando elementos culturais e os diversos profissionais que contribuem para isso” através do diálogo livre e aberto com outras áreas do conhecimento como: Arquitetura, Urbanismo, Sociologia, Antropologia, Artes e etc. Passaremos a abordar o design urbano a partir da definição desenvolvida por Nascimento (2014), é importante destacar que a pesquisadora apresentou três categorias de interesse do Design Urbano: A estrutura interdisciplinar do design permite o diálogo e a interação com outras áreas do conhecimento que possuem o espaço urbano como seu objeto de estudo: arquitetura, engenharias, sociologia, antropologia e etc. A metodologia projetual valida o processo de design e permite a reprodução. O aspecto simbólico e funcional é levado em consideração, por ser o cidadão o alvo de todo projeto em Design Urbano. O designer pode atuar como intérprete da cidade que é vivenciada pelos cidadãos que diariamente estão expostos aos códigos e signos que constituem o espaço urbano. A percepção dessas informações irá contribuir para a forma
MANAUS IMAGINADA: A contrução da cidade sob o olhar do imigrante haitiano
como esses cidadãos vivem e entendem sua
O estudo dos aspectos físicos naturais e constru-
cidade.
ídos da cidade compreende o estudo da forma ou desenho da cidade, a disposição e localização dos
Silva (2001) em sua obra “Imaginários Urbanos”
bairros, os meios de locomoção, o mapeamento
defende que a cidade é construída a partir da
dos espaços utilizados para a compreensão
imagem que os seus cidadãos formam através
dos usos sociais e as impressões causadas pelo
das suas relações com a urbe. Nesse aspecto
viver a cidade. As modalidades de expressão são
Silva (2001) também concorda com Argan (1989)
percepções “materializadas” no espaço físico
ao atribuir ao cidadão participação na construção
que podem ser o graffiti, intervenções artísticas,
da cidade:
discursos e outros meios expressivos.
“Devemos, portanto, levar em conta, não o valor em si, mas a atribuição de valor, não
Entendendo a cidade como um complexo sistema
importa quem a faça e a que título seja feita.
de informação, ao vivê-la, o cidadão se depara
De fato, o valor de uma cidade é o que lhe é
com sistemas de sinalização, de comunicação,
atribuído por toda a comunidade.“ (ARGAN, 1989; pág. 228) Além da atribuição de valor gerado pelos seus habitantes, Argan (1989) concebe a cidade como um objeto coletivo que é construído através das interações dos cidadãos com a cidade, atribuindo valor aos espaços, enquanto Nascimento (2014) reafirma atribuindo ao Design Urbano o papel de “gerenciador da construção de valores na cidade contemporânea”. Para Silva (2011) a imagem da cidade é construída “lenta e coletivamente”, à medida que seus habitantes vão vivenciando o cotidiano, através da relação social, espacial e representativa. É importante o estudo do espaço físico da cidade, como defende Lynch (1997) por seu aspecto visual, por suas ruas e construções e pelo seu “desenho”, também é importante o estudo social como defende antropólogos e sociólogos, como Simmel (1903) através das relações humanas e culturais, mas há uma relação “que não é apenas física ou social, mas representativa”: o estudo do espaço imaginário, onde “o físico produz efeitos no simbólico”. Dessa maneira para compreendermos a relação imaginária dos cidadãos com sua cidade, segundo Silva (2011), é necessário entender os aspectos físicos naturais, os construídos, os usos sociais e as modalidades de expressão.
construções, monumentos referenciais e outros cidadãos que são parte integrante desse sistema, que impressionam e são impressionados, nesse sistema nada está estático, o “ser urbano” está sempre em construção. Essa interação dá ao espaço a habilidade de comunicar-se ou de revelar-se. Argan (1989) acredita que essa interação dá ao cidadão a “possibilidade de reagir ativamente ao ambiente”, interpretando e dando novos significados aos percursos, às construções e aos espaços de convivência. O imaginário de uma cidade é mutável e sofre alterações num contínuo processo de construção e desconstrução, afinal, quando os cidadãos mudam a cidade muda e acompanha esse ritmo de transformação. A cidade é formada e transformada a partir da vida cotidiana, no contato com o “outro”. “Uma cidade se autodefine por seus próprios cidadãos, seus vizinhos e seus visitantes.” (SILVA, 2011; pág. XXV), pode-se perceber a dinâmica horizontal das relações humanas na cidade que a partir do cotidiano a parte revela o todo. Ao viver a cidade e percorrer o seu espaço, o cidadão está exposto a uma infinidade de sensações, impressões e oportunidades. Segundo Bosi (1994) a vivência nos lugares formam um elo emocional que funciona como um mapa afetivo da memória, as significações dadas aos espaços são definidas pelas funções atribuídas a eles. Pode-se analisar a significação do espaço, como parte do que Silva (2001) denomina como
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imaginários urbanos. Estudar os Imaginários é
Segundo Gil (1989) a entrevista é uma das
interpretar percepções construídas pelos cida-
técnicas mais utilizadas no âmbito das ciências
dãos que vivem numa mesma cidade. Percepções
sociais, pois permite não só a “coleta de dados,
que não são idealizações, mas materializações no
mas o diagnóstico e orientação”. A finalidade das
espaço e na forma de ser e viver a cidade, dando
entrevistas é coletar as percepções da cidade pe-
um ritmo, uma identidade própria a cada lugar.
los imigrantes, analisar e interpretar o imaginário construído da cidade. A construção do instru-
Contudo, a presente pesquisa não pretende
mental de pesquisa foi dividida em seis blocos de
ser um registro demográfico, estatístico ou de
perguntas que atuam de maneira complementar,
amostragem, nosso objetivo é registrar a analisar
podendo ser analisadas individualmente ou em
aspectos imaginários da cidade de Manaus
conjunto: Identificação; Memória e interação;
através da percepção de imigrantes haitianos
Tempo e memória; Os espaços da memória;
ou parafraseando Bosi (1994) “o objetivo é
Memória e política e Memória e trabalho. As
colher memórias de imigrantes”, valorizando a
categorias de análise foram fundamentadas no
experiência individual num contexto social.
mais atual e completo estudo realizado sobre a imigração haitiana no Brasil, disponibilizado pelo
Metodologia
Ministério do Trabalho e Emprego (FERNANDES
A pesquisa, como processo metodológico em
ET AL. 2014), e nas obras Memória e Sociedade:
design, torna-se o que Lana (2011) define como
lembranças de velhos (BOSI, 1994) e Imaginários
“blocos construtores, que permitem certa liber-
Urbanos (SILVA, 2001).
dade criativa”. É necessário entender e conhecer todos os processos que permeiam o urbano para
Foi aplicada uma entrevista teste para avaliar a
que o designer desenvolva uma visão sistêmica
coerência do referencial teórico construído com
do espaço que atua, levando em consideração o
a entrevista elaborada, sendo possível a detecção
fator humano em seus projetos. Para Leite (2006)
de erros e adequações. A entrevista foi elaborada
e Lana (2011) o design pode ser definido como
para avaliar a percepção da cidade por imigran-
“reunião possível de atividades projetivas rela-
tes, sendo assim, o entrevistado foi um imigrante
cionadas ao habitat humano”, sendo o homem, o
nigeriano que vive na cidade há sete anos, acre-
objetivo final do projeto de design. Dessa forma,
dita-se ser tempo suficiente para a integração
é necessário que o design seja pensado de forma
à sociedade local. A entrevista foi realizada em
que desenvolva a qualidade de vida do usuário.
dois momentos distintos com aproximadamente 30 e 20 minutos de duração respectivamente.
Inicialmente foi realizado um estudo exploratório
Após a entrevista, foram realizadas as etapas de
através da pesquisa bibliográfica e documental,
transcrição e análise, tendo um resultado satisfa-
culminando na elaboração de fichamentos e
tório, pois a análise em conjunto dos seis blocos
construção do referencial teórico. A coleta de
de perguntas contribuíram para a coleta de
dados foi realizada por meio da aplicação de
informações, refletindo na construção detalhada
entrevista semiestruturada a imigrantes haitianos
e complementar da percepção do entrevistado
que foram auxiliados pela Casa de Apoio ao
sobre a cidade. As informações contidas no
Migrante, entidade ligada à Paróquia de São
bloco “espaços da memória”, foram suficientes
Geraldo, em Manaus. O público-alvo foi definido
para captar as informações relevantes para a
por imigrantes acima de 18 anos que optaram
presente pesquisa, então se optou pelo recorte
por estabelecer residência permanente em
para dois blocos de perguntas: “identificação” e
Manaus e que já estejam integrados à sociedade
“os espaços da memória”. Com esses blocos foi
manauara há mais de um ano.
possível captar a percepção da cidade construída pela vivência no espaço público, através dos usos
12
MANAUS IMAGINADA: A contrução da cidade sob o olhar do imigrante haitiano
e funções atribuídos.
nas expressões cidadãs, determinando a forma como o cidadão responde ao espaço urbano.
Apesar de viver na cidade há sete anos, o entrevistado apresentou dificuldade de comunicação
Sendo assim, um estudo da percepção imaginária
da sua língua materna para o português. Durante
de uma cidade, além de considerar aspectos
a entrevista foi necessário clarificar o vocabulário
físicos e sociais, também interpreta os símbolos
em alguns momentos ou reelaborar as perguntas
e evocações utilizadas para representá-la. O
em outros, para facilitar a correta compreensão.
objetivo dessa análise é identificar as significa-
Durante o processo de transcrição e análise foi
ções construídas a partir dos usos dos espaços
necessário considerar o esforço do entrevistado
da cidade, a partir da perspectiva da cidade vista,
em traduzir para uma língua estrangeira suas
marcada e imaginada (SILVA, 2001).
impressões e percepções. Como meta, foi estabelecida a realização de dez Análise de Dados
entrevistas. A dificuldade encontrada no processo foi a aceitação por parte dos imigrantes em rea-
Para a análise dos dados, será necessário retornar
lizar as entrevistas, muitos deles não se sentiram
ao referencial teórico e relacionar as percepções
a vontade para compartilhar seu ponto de vista.
dos entrevistados com os imaginários urbanos
Foi levado em consideração o grande número
(SILVA, 2001) a partir da perspectiva do design
de pesquisadores, jornalistas e curiosos que os
urbano (NASCIMENTO, 2014), dessa forma, será
procuram em busca de informações, portanto,
construído um mapa afetivo que revelará os
ao longo do processo foi tido como premissa o
espaços da memória (BOSI, 1994). É necessário
respeito com a privacidade e o espaço pessoal
destacar que a análise feita é um recorte a partir
de cada imigrante abordado. Durante um mês
da perspectiva dos entrevistados.
foi realizada visitas regulares à Casa de Apoio ao Migrante no período vespertino. Os imigrantes
A cidade vista é revelada pelas imagens e repre-
que aceitaram realizar as entrevistas cooperaram
sentações que o cidadão evoca do espaço urbano,
durante todo o processo. Para a realização da
ao viver a cidade o cidadão é impressionado por
entrevista foi necessário adaptar-se à necessida-
campanhas publicitárias, grfites, monumentos,
de e ao tempo do entrevistado, duas entrevistas
pessoas e outros elementos que constituem o
foram realizadas na área interna e uma na área
espaço visual da cidade, construindo o ponto
externa da Casa de Apoio ao Migrante no bairro
de vista cidadão que quando somado a outros
de São Geraldo em Manaus.
“pontos de vista” projeta a percepção de um grupo social sobre a cidade.
Foram entrevistados três imigrantes do sexo masculino, os nomes utilizados não são os
A cidade marcada é delimitada por seus territó-
verdadeiros para preservar a identidade dos
rios e os usos que atribuímos aos seus espaços,
entrevistados: Oliver, é casado apenas no
usos que revelam quais são os lugares para
religioso com uma haitiana, é mestre de obras;
morar, para trabalhar, para diversão, para relaxar,
Pierre é solteiro, formado em mecânica industrial
etc. Revelando as preferências e as segmentações
e em Manaus é gerente de uma fábrica do ramo
que os cidadãos fazem da cidade.
alimentício e Louis é casado, foi motorista no Haiti e em Manaus é ajudante de pedreiro.
A cidade imaginada é um objeto simbólico
Dividiremos a análise em duas seções distintas
“construído em um nível superior de percepção”
que se complementam: Imagem de Percurso, na
(inconsciente), formada pelo conjunto de cons-
qual abordaremos o caminho percorrido para
truções sociais e espaciais que se materializam
chegar a Manaus e Imagem de Permanência, no
13
qual serão abordadas as percepções construídas
“...eu posso falar que Manaus é uma cidade
a partir das vivências na cidade.
de oportunidade para a pessoa crescer na vida.” (Pierre)
Imagem de Percurso Como abordado no referencial teórico, a decisão por emigrar é construída coletivamente, na qual um membro da família é o responsável pelo sustento e manutenção dos familiares que ficaram. Oliver saiu do Haiti e foi para o Panamá, Peru e entrou no Brasil pela fronteira de Tabatinga e depois seguiu para Manaus. Pierre morava legalmente no Equador, mas ao saber que o Brasil tinha permitido o visto de asilo humanitário para haitianos, decidiu emigrar para o Brasil a fim de melhores condições de vida. Passou por Peru e entrou no Brasil também pela fronteira de Tabatinga e seguiu para Manaus. Louis foi mais direto e informou apenas que entrou no Brasil pela fronteira no Acre e seguiu para Manaus.
“Muita praia, mas aqui eu não vi mar, mas no Haiti tem muito mar.” (Louis) Na seção imagem de permanência serão analisadas as percepções da cidade, que serão interpretadas como mapas afetivos construídos a partir da vivência nos espaços públicos e privados. As categorias de análises foram extraídas com base na análise do discurso dos entrevistados. Imagem do País “Eu morei minha vida foi viajando todo o tempo, eu nunca acho um país que trata melhor que aqui... Brasil é ótimo.” (Oliver) “Porque a ideia é porque antigamente (..) eu não tinha a vontade hoje pelo Brasil, quando eu sair lá do meu país depois do terremoto eu tive a ideia, a ideia é pegar um país que falar de seu cultura, sua língua, a cultura para conseguir ficar, eu pensei que seria Guiana Francesa, mas eu já tá aqui, olha as pessoas ficou um tempinho conseguir um emprego na época, eu gostar e fiquei.” (Pierre) Conforme abordado anteriormente, o Brasil não fazia parte da rota migratória haitiana. Com o incentivo do governo federal muitos haitianos viram no Brasil uma nova oportunidade. Pierre nunca tinha pensado em vir para o Brasil, pois planejava ir para a Guiana Francesa, mas ao
Figura 1. Percurso migratório. Elaborado pelo autor.
chegar em Manaus, conhecer as pessoas e conquistar um emprego, f
oram fatos
decisivos para permanecer na cidade. O interessante é que o entrevistado destacou que primeiro Imagem de Permanência
observou a pessoas, permaneceu um tempo e depois conseguiu um emprego. Pode-se perceber que as relações sociais tiveram importância
14
“Porque são muitas imagem que representa
na decisão por permanecer, a mesma situação
e todas são bonitinhas...aí não pode escolher
ocorreu na entrevista teste. Oliver está muito
uma porque é que vem...” (Oliver)
satisfeito, apesar passar a vida “em trânsito”
MANAUS IMAGINADA: A contrução da cidade sob o olhar do imigrante haitiano
nunca tinha encontrado um país como o Brasil.
inclui o estudo da percepção do território. Para
O país permitiu sua entrada legal e o apoiou em
Silva (2001) a noção de território é construída
todo o processo de legalização, esse ainda é um
coletivamente a medida que se vai vivendo os
dos grandes desafios para muitos imigrantes pelo
espaços. Assim como o urbano, o território é algo
mundo.
dinâmico e vai “territorializando-se na medida em que estreita os seus limites”. Dessa forma,
Imagem de Cidade
aquele que não está habituado ao espaço, ou à forma de uso, ou seja, aquele que não pertence
“É normal, a gente vive, trabalha (...) Cidade
a um território específico, não se adapta e é de-
Nova.” (Pierre)
nunciado como “estrangeiro”. Pode-se perceber o quanto Pierre está adaptado ao convívio social e
“Vários... Presidente Figueiredo, Ponta Negra, o shopping é esses lugar.” (Pierre) “Ah! Ponta Negra eu posso falar é um point, tipo um cartão postal da cidade (...) um monte de pessoas que tem... Sei lá! Ponta Negra pode ser.” (Pierre)
ao uso dos espaços, pois ele passa a construir por si mesmo, os caminhos e percursos na cidade e além dela mesma. “Decidi porque aqui foi que eu gosto. Os outros... as outras cidade tem tempo que és muito frio e que eu não aguento o frio, aqui em Manaus tá sempre quente, que chove e fica quente...” (Oliver)
“O mais, a verdade é o shopping, que eu falei, a Cachoeirinha, muito tipo, como diz (...)
“A vida aqui, a gente tá vivendo bem, não sei
3, 4 vez por ano, mas o shopping eu ia quase
pra outro, mas eu tô muito.” (Oliver)
todo final de semana.” (Pierre) “Depois que a gente entra aqui, morou no São “É... (...) Manaus é uma cidade bonita, mara-
Jorge, mas não me adaptei porque era muita
vilhosa e para mim quente, quase o mesmo
droga no São Jorge eu saí e entro aqui pro
clima do nosso país...” (Pierre) Entre os três entrevistados, Pierre está há mais tempo na cidade e demonstrou estar mais adaptado. Indicou o convívio social e a conquista do emprego como a motivação para permanecer na cidade. Apontou o shopping, a Ponta Negra e o bairro da Cachoeirinha como lugares para diversão e escolheu o bairro Cidade Nova para morar. Citou a beleza da cidade e a similaridade do clima com o de sua terra natal. Um ponto interessante para destaque é que o entrevistado está tão adaptado e confortável que os espaços para diversão apontados pelo entrevistado estão além da própria cidade. Ele indica Presidente Figueiredo como alternativa de diversão e relaxamento. O estudo do imaginário da cidade também
bairro Presidente Vargas, a gente tá pra três anos lá e não tá pensando em mudar não.” (Oliver) “Só as vezes saio para a Ponta Negra, eu não gosto porque.... eu sou uma pessoa que não tá gostando muito de... de coisa assim não, porque as vezes eu não gosto de ir pra festa... a gente não gosta de coisa assim...” (Oliver) “É... há muitos lugares bonitos que dá pra representar.” (Oliver) “Primeira imagem... primeira imagem...? Porque são muitas imagem que representa e todas são bonitinhas...aí não pode escolher porque é que vem...” (Oliver) “É muito bonito. Como foi aí no Arena da Amazônia, lá na Ponta Negra, tem outro onde é que tá todo (incompreensível) é aí que
15
você chega lá e se (incompreensível)... dá pra
refletir, indicou a Arena da Amazônia e a Ponta
representar muita coisa bonita. E não pode
Negra como lugares que representam a cidade de
escolher uma só.” (Oliver)
Manaus a partir de sua percepção.
“O primeiro lugar que eu gostei muito quan-
Retomando ao referencial teórico, Argan (1989)
do da casa que a gente chegou, só eu que a
destaca: “Devemos, portanto, levar em conta,
Presidente Vargas que é muito tranquilo pra
não o valor em si, mas a atribuição de valor, não
mim, a gente entra qualquer hora diz que tem
importa quem a faça e a que título seja feita”.
violência, mas nunca aconteceu nada comi-
O valor atribuído pelo cidadão aos espaços
go.” (Oliver)
determina a forma como ele se relacionará com ele e a função que esse espaço terá. A Arena da
Oliver ao ser questionado sobre o que o motivara
Amazônia é próxima à Paróquia de São Geraldo,
a permanecer em Manaus, disse que ficou porque
como uma construção recente e imponente ela
gostou da cidade e se adaptou ao clima, indican-
possui a função de marco referencial no espaço
do que a cidade está sempre quente, enquanto
da cidade. O valor atribuído por Oliver à Arena da
as outras pelas quais passou não se adaptou por
Amazônia como símbolo representante da cidade
conta do clima frio. Morou inicialmente num
pode indicar um olhar otimista para o futuro,
bairro na zona oeste da cidade e sua percepção
para as possiblidades do que a cidade pode se
foi de insegurança, pois não se adaptou por con-
tornar. Ao indicar apenas a Ponta Negra como
ta da intensa circulação de narcóticos. Mudou-se
lugar de divertimento e relaxamento e deixar
e está morando há três anos no centro da cidade,
claro que ele e a esposa “não gostam de coisa
em sua percepção a região é mais tranquila e
assim”, é possível perceber que mesmo vivendo
segura. Ao ser questionado sobre os lugares que
na cidade há pelo menos três anos, sua relação
utiliza para diversão e relaxamento, disse que não
com ela ainda é limitada.
gosta de ir a festas e não demonstrou uma vida social ativa, mas destacou que esporadicamente
“É foi muito bem para mim, eu gosto da tem-
gosta de ir à Ponta Negra. Ao ser questionado
peratura aqui e... eu quero ficar aqui mesmo!”
sobre os símbolos que representam a cidade
(Louis)
o entrevistado não soube inicialmente definir
16
e afirmou que há muitos lugares que podem
“Ah, tá! Para mim foi, eu fui trabalhar todo
representar e que não se pode escolher um. Após
dia... graças a Deus... eu fui bem.” (Louis)
MANAUS IMAGINADA: A contrução da cidade sob o olhar do imigrante haitiano
“Se eu gosta de morar aqui, então? Sim, eu
para todas as cidades que visitava, tinha Veneza
gosto.” (Louis)
por modelo: “Para distinguir as qualidades das outras cidades, devo partir de uma primeira que
“Ah... diversão? Só em casa.” (Louis)
permanece implícita. No meu caso, trata-se de
“Ah não... eu não tá... eu não sabe Manaus
Veneza.”. O processo de adaptação e assimilação
bem não... Porque eu só saí pra trabalhar,
na/da cidade, implica viver os espaços, perceber
então fico bem em casa, não passear muito
o ritmo da dinâmica urbana, interagir com
não. Por isso eu não saio muita coisa aqui em
outros cidadãos, enfim vivendo o urbano em sua
Manaus.” (Louis)
urbanidade o “estrangeiro” passará a reconhecer os códigos e símbolos, passando a construir por
“Só eu saber lá em Ponta Negra, eu gosto de
si mesmo sua vivência urbana.
lá. Ponta Negra muito bacana lá. Entendeu? Eu fui lá tomar banho, depois... as vezes eu fui
Imagem das Pessoas
lá no centro só isso, aí não sabe muito lugar não. E... Eu gosta a praia... a praia tem muita
“As pessoas de Manaus são muito pra mim
gente lá, é... tomando banho, entendeu? Eu,
é ótimo que ninguém me trata mal, tudo eu
as vez quando chegar domingo, eu levar a mi-
quase o brasileiro, quase tudo é assim, tudo
nha esposa, lá tomando banho, depois voltar
sabe como trata as pessoa, pra mim não tem
em casa.” (Louis)
crítica não.” (Oliver)
“Muita praia, mas aqui eu não vi mar, mas no
“... e os povo, o manauara, são um pessoal
Haiti tem muito mar.” (Louis)
que... tipo assim, que é ajudador, (...) que você fala assim: Gente, eu (...) eu posso falar que
Louis está na cidade há um pouco mais de
Manaus é uma cidade de oportunidade para
um ano, e através do seu discurso podemos
a pessoa crescer na vida.” (Pierre)
perceber que sua relação com a cidade ainda é de estranhamento, quando não está trabalhando,
“... e quero agradecer você que procura imi-
está em casa. O entrevistado também indica o
grante, que dá ajuda quando a pessoa entra
emprego e o clima como fatores que o motiva-
no país, precisa de outra pessoa para orientar
ram a permanecer na cidade. Apesar de gostar
mais, dá uma orientação talvez, é um trabalho
de morar na cidade, apontou sua casa e a Ponta
que admiro muito.” (Pierre)
Negra como espaço de relaxamento e diversão.
E... eu gosta a praia... a praia tem muita gente lá, é... tomando banho, entendeu? (Louis)
Através de sua última frase pode-se perceber que ao olhar para a cidade, a comparação com
No geral a visão dos três entrevistados sobre os
sua terra de origem ainda é muito evidente.
manauaras é positiva. Oliver destacou o trata-
Segundo Bosi (1994) a memória é delimitada
mento cortês dos manauaras, Pierre destacou a
por marcos “onde a significação da vida se
gentileza e a disponibilidade para ajudar e Louis
concentra”, são os momentos que vivemos que
destacou o convívio social no espaço público. A
constroem nossa percepção do tempo, o ato
recepção dos imigrantes na cidade foi caracteri-
de emigrar é um importante acontecimento na
zada por ações solidárias mobilizadas por inte-
vida do imigrante, que ao estar imerso em outro
grantes da sociedade civil. Sakata (2011) assim
contexto cultural, necessita de um tempo para
como Silva (2001) acreditam que a apropriação
assimilação e adaptação. Da mesma forma como
dos espaços é definida a partir da sua utilidade. O
Calvino (1989) em sua obra, Cidades Invisíveis,
convívio social estimulado através do espaço pú-
nos apresenta o famoso viajante Marco Polo que
blico “tem efeito compensatório às desigualdades
17
de renda” (SAKATA, 2011; pag. 20), atribuindo ao
constatada a percepção do espaço em função
espaço público uma personalidade democrática e
do tempo de permanência. Pierre está há quase
integradora, pois permite a interação e o contato
cinco anos na cidade e está integrado ao convívio
entre os cidadãos.
social e ao ritmo urbano de Manaus. Oliver está há um pouco mais de três anos, ainda está no
A cidade vista, a partir da perspectiva dos
processo de adaptação, utiliza alguns espaços da
entrevistados, é caracterizada como “bonita”,
cidade, mas ainda permanece distante do ritmo
a partir da vivência nos espaços. O recorte da
citadino, já Louis está um pouco mais de um
cidade marcada foi revelado pela unanimidade
ano na cidade e ainda apresenta uma relação de
dos entrevistados aos escolherem a Ponta
estranhamento, mas a partir das relações com a
Negra como imagem-símbolo da cidade, eles
cidade (através dos usos dos espaços e do con-
destacam o convívio social proporcionado pela
vívio social) o processo de assimilação vai sendo
praia e a apontam como espaço de relaxamento
desenvolvido. Portanto temos o registro de três
e divertimento. Apesar do intenso processo de
imigrantes haitianos em momentos distintos: A
urbanização, a relação da cidade com o rio deter-
chegada, a adaptação e a incorporação à cultura
mina alguns comportamentos e usos ndo espaço
local. É importante ressaltar que todo processo
urbano. Para a construção da cidade imaginária,
de tradução é incompleto, pois “implica no
o convívio social merece destaque, foi unani-
reconhecimento e a identificação dos elementos/
midade entre os entrevistados a afinidade com
ideias e espaços intraduzíveis” (OLIVEIRA, 2013),
os cidadãos manauaras e muitas vezes o fator
sendo a atual pesquisa um dos recortes possíveis.
determinante para a permanência. No tempo em que estão na cidade desenvolveram laços afetivos
Os imaginários urbanos são percepções incons-
e fraternos considerando as relações construídas
cientes construídas a partir da vivência na cidade,
mais importantes no processo de adaptação e
que são “materializados” através de simbolismos,
assimilação do novo contexto cultural. A relação
discursos e comportamentos, causando efeitos
com os cidadãos interferiu diretamente na
no real. A estrutura interdisciplinar do design
relação dos imigrantes com a cidade.
urbano pautada numa estrita metodologia projetual para o estudo do espaço da cidade
Pode-se concluir que os entrevistados estão sa-
surge como alternativa para a interpretação dos
tisfeitos com a cidade e encontraram em Manaus
aspectos simbólicos e funcionais do espaço ur-
os fatores necessários para sua adaptação e
bano. Com o objetivo de compreender o espaço,
desenvolvimento, reafirmando a característica
o cidadão e as relações entre eles. Construções
acolhedora de Manaus. Ao longo dos últimos
e desconstruções foram presentes ao longo de
cinco anos haitianos estão passando a compor
toda a pesquisa, um percurso desafiador que ao
o espaço urbano de Manaus, um processo de
final trouxe muitas contribuições e possibilidades,
assimilação não só para os imigrantes, mas
dando continuidade a questões e necessidades
também por parte da cidade que os recebem
que foram surgindo ao longo do processo:
e à medida que os visitantes vão se tornando novos moradores, a cidade vai recebendo novas
Metodologia:
características.
O percurso metodológico desenvolvido ao longo da pesquisa pode contribuir para a realização de
18
Considerações Finais
estudos que avaliam o design de experiência no
O presente trabalho foi proposto como análise
espaço urbano, para isso foi construído um ins-
e tradução da percepção imaginária da cidade
trumental metodológico que auxilia na captação
por parte de imigrantes haitianos em Manaus.
e na análise de dados, por parte do público alvo.
Ao analisar o perfil de cada entrevistado foi
Posteriormente, por meio de um artigo científico
MANAUS IMAGINADA: A contrução da cidade sob o olhar do imigrante haitiano
será abordado os detalhes do percurso metodoló-
ARGAN, G. História da arte como história da
gico desenvolvido.
cidade. Tradução: Pier Luigi Cabra. 4ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. (Coleçao 2)
Design Urbano e Tradução Cultural: A cidade contemporânea está cada vez mais
BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de
plural e diversificada, livre de uma ideologia
velhos. 3ª Ed. São Paulo: Companhia das Letras,
totalitária e cada vez mais fragmentada. Para que
1994.
o design urbano possa atuar como “gerenciador da construção de valores” (NASCIMENTO, 2014) e
FERNANDES, D. et all. Estudos sobre a migração
entendendo a cidade como um “objeto coletivo”
haitiana ao Brasil e diálogo bilateral. Durval
(ARGAN, 1989) o design urbano pode contribuir
Fernandes, Maria Consolação Castro, Bruna
para a tradução das diversas racionalidades con-
Pimenta, Vanessa Carmo, Tais Xavier e Paula
tidas na cidade para valores culturais materiais
Guedes. Belo Horizonte, 2014.
e imateriais, Oliveira (2013) interpreta o campo do design como “um trabalho de tradução”.
LANA, S. A complexidade dos métodos em
Portanto, para a compreensão dos aspectos reais,
design. In: MORAES, Dijon de, DIAS, Regina
simbólicos e imaginários do espaço urbano é
Alvares, BARBACENA, Rosemary Bom Conselho.
necessário ter em considera ção o uso do espaço
Cadernos de estudos avançados em design. MG:
público pelo cidadão (utilizador), seu contexto
EdUEMG,2011.
(cultural e social) e sua relação com os demais contextos (culturais e sociais) que formam
LEITE, J. Tudo pelo social: O debate sobre mercado
a cidade, essa relação é mediada através do
e sociedade na educação de design. In: COELHO,
trabalho de tradução cultural.
Luiz Antonio L. (Org.) Design Método. Rio de Janeiro: Ed. PUCRio; Teresópolis: Novas Idéias,
A cidade possui personalidades, identidades que
2006. p. 99 –108.
são formadas a partir dos seus habitantes que num processo dinâmico e contínuo formam
LYNCH, K. A imagem da cidade. São Paulo:
o que diferencia cada ajuntamento urbano
Martins Fontes, 1997
distribuído no espaço. A cidade é viva e se revela através da sua visualidade e das funcionalidades
MELO, M. L.; MOURA, H. A. Migrações para
que são atribuídas aos seus espaços. Criando um
Manaus. Recife: Massangana, 1990
elo afetivo e intrigante, pois a cada interação pode-se descobrir muitas outras “cidades invisíveis”,
MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo.
que convidam o flâneur a explorá-las. Para esse
Porto Alegre: Sulina, 2005.
empreendimento é necessário estar aberto para imergir em uma experiência sensorial, através dos
NASCIMENTO, M. Do discurso à Cidade:
seus espaços, dos seus cheiros, dos seus sons, da
políticas de patrimônio e a construção do espaço
sua gastronomia e através dos elementos que
público no Centro Histórico de Manaus. Tese
revelam outras dimensões do cotidiano. Sendo
de Doutorado defendida no Rio de Janeiro, em
a cidade uma obra de arte coletiva, ela está
2014 – Pontifícia Universidade Católica do Rio de
aberta para receber a contribuição de todos. Uma
Janeiro – PUC-Rio. Programa de Pós-graduação
gama de desafios e possibilidades de pesquisa se
em Design.Disponível em: http://www.dbd.
descortina para o explorador urbano.
puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses. php?open=1&arqtese=1011910_2014_Indice.
Referências
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2013 – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio. Programa de Pós-graduação
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Marcus Vinícius Ferreira Gomes - Faculdade Fucapi -
e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo: Hucitec,
mvncgomes@gmail.com
1996 Maria Evany do Nascimento - Universidade do Estado do
SILVA, A. Imaginários Urbanos. São Paulo: Perspectiva; Bogotá: Convênio Andres Bello, 2001
20
Amazonas - nasci.eva@gmail.com
Artigo
Análise da Abordagem SCAP para Atribuição de Autoria de Código Fonte em Cursos de Programação Juliane dos Santos Silva, Sergio Cleger Tamayo e Márcio Palheta Piedade
Resumo A atribuicão de autoria de código fonte consiste
onde códigos com essas características sao
em identificar o autor de um determinado programa. Atualmente, uma das abordagens mais eficazes para resolver este problema e a
recorrentes. Pode-se constar que coleções de
Source Code Author Profile (SCAP), que, até entao, não foi analisada com históricos pequenos de códigos e com c códigos
contrario da colecão de alunos avançados, que
programas de alunos iniciantes representam um problema mais difícil para o SCAP resolver, ao geraram bons resultados de acuracia nesta pesquisa.
implementados para resolver tarefas similares. Tendo em vista isso, o presente estudo analisa o desempenho do SCAP com bases academicas,
-
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Introdução A atribuição de autoria é o processo de identificação do autor de um determinado documento. Segundo Krsul & Spafford (1997), a classificação de autoria pode ser aplicada a textos livres e a códigos fonte, sendo esse último mais difícil de ser analisado. Isto porque a análise de códigos possui algumas particularidades, listadas por Krsul & Spafford (1997, apud PALHETA, 2013), conforme a seguir:
(1) a implementação de um programa deve obedecer a um conjunto rígido de regras de sintaxe, imposto pela linguagem de programação utilizada pelo autor; (2) em ambientes de programação, é comum o reuso de trechos de códigos entre programas; (3) autores diferentes podem utilizar funções de autoformatação para melhorar a legibilidade do texto e em ambientes acadêmicos; (4) o estilo de programação de um aluno pode ser influenciado
comum que vários alunos resolvam os mesmos problemas ou problemas muito semelhantes. Levando em consideração a falta de conhecimento do comportamento da abordagem SCAP em relação a históricos pequenos de códigos e códigos implementados para resolver tarefas similares, o presente estudo objetiva analisar o desempenho do SCAP com bases acadêmicas, onde códigos com essas características são recorrentes. Para tanto, implementamos uma máquina de busca utilizando o modelo SCAP, variando os parâmetros do modelo para identificar quando ele melhor desempenha. Faremos isso a fim de analisar a acurácia do SCAP quando aplicado a bases acadêmicas, considerando o cenário de códigos comentados e escritos por alunos experientes e inexperientes. Esta análise pode ser particularmente útil para o auxílio de instrutores em cursos de programação, onde um grupo de aluno submete programas em resposta às tarefas propostas em classe. Além desta seção introdutória, este artigo está organizado como segue. Na seção 2, descrevemos os conceitos básicos necessários para compreensão deste trabalho. Na seção 3, apresentamos os experimentos realizados. Logo em seguida, na seção 4, os resultados obtidos com esses experimentos. E, por fim, na seção 5, apresentamos nossa conclusão e sugestões de próximos passos na pesquisa.
Krsul & Spafford (1997, apud PALHETA, 2013) ainda assegura que o estilo de escrita de um autor é definido por um conjunto distinto de características presentes em seus códigos fonte. Para determinar quais dentre essas características usar no processo de classificação de autoria, Palheta (2013) sugere levar em consideração o grau de importância de cada característica para o modelo de classificação. Tendo determinado essas características de estilo e tendo-as em mãos, dado um novo código-consulta, podemos buscar o autor com características mais similares às características da consulta. Para o problema de atribuição de autoria de códigos fonte, uma das abordagens mais eficazes atualmente é a Source Code Author Profile (SCAP), proposta por Frantzeskou (2005) (TENNYSON, 2014).
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Fundamentos Na literatura em geral, os métodos de melhor desempenho para a tarefa de atribuição de autoria usam uma estratégia de recuperação de informação (PALHETA, 2013). Um desses métodos é o SCAP, que propõe um perfil simplificado para o autor e uma nova medida de similaridade, a qual é menos complicada do que as dos algoritmos normalmente usados na atribuição de autoria. Nesta seção, apresentamos uma revisão da literatura relacionada ao nosso problema, bem como conceitos básicos para a compreensão da abordagem analisada. Recuperação de Informação A recuperação de informação (RI) lida com a representação, armazenamento, organização e acesso a itens de informação, permitindo que usuários tenham fácil acesso à informação de seu interesse (Baeza-Yates & Ribeiro-Neto, 1999). Sistemas de RI, também conhecidos como máqui-
Análise da Abordagem SCAP para Atribuição de Autoria de Código Fonte em Cursos de Programação
nas de busca, segundo Baeza-Yates & Ribeiro-Neto (1999), recebem uma string de consulta de um usuário e buscam em uma base indexada os documentos mais relevantes a essa consulta. Em detalhes, essa string é repassada para um processador, que percorre a base calculando a similaridade de cada documento em relação à consulta. Para que o processador possa fazer um acesso rápido, de antemão, o preparador de documentos extrai as características relevantes dos documentos da base, o indexador associa essas características com suas respectivas frequências e armazena num índice. A extração das características dessa abordagem se dá através da técnica de n-gramas. Um n-grama, segundo Cavnar & Trenkle (1994, apud PALHETA, 2013), é uma sequência de n-caracteres consecutivos, que fazem parte de uma string maior, onde n indica o tamanho da substring gerada. Frantzeskou (2005) acrescenta que um n-grama pode ser definido a nível de caracter ou de palavra. Dada a palavra “VIDA”, por exemplo, a partir dela podemos gerar as seguintes sequências de 2-gramas à nível de caracter: “VI”, “ID”, “DA”. A seguir, detalhamos a abordagem utilizada em nossa pesquisa para recuperar e ordenar os documentos de acordo com a sua estimada relevância para a consulta.` Abordagem SCAP A fim de determinar o autor de um código-consulta, Frantzeskou (2005) desenvolveu uma abordagem chamada Source Code Author Profile (SCAP), que, segundo Tennyson (2014), está entre as mais eficazes no âmbito de atribuição de autoria de código fonte atualmente. Essa abordagem se baseia em n-gramas à nível de caracter (cf. Seção 2.1.1) e na utilização de uma medida de similaridade usada para classificar um programa para um autor, o que faz com que este método seja independente de linguagem de programação (FRANTZESKOU, 2005). Na abordagem SCAP, Frantzeskou (2005) propõem a elaboração de um Simplified Profile (SP) que pode ser entendido como um perfil simplificado para cada autor da base. Esse perfil é construído seguindo os passos: 1. Todos os códigos conhecidos e escritos por um mesmo autor devem ser concatenados e armazenados juntos;
2. Desses códigos concatenados, todos os n-gramas devem ser extraídos, incluindo todos os caracteres não impressos, como espaço, tabulação, quebra de linha e outros; 3. A frequência de cada n-grama de um mesmo autor deve ser armazenada numa tabela, também conhecida como perfil do autor; 4. Nessa tabela, os n-gramas devem ser ranqueados de acordo com a sua frequência, em ordem decrescente, para que os n-gramas com maior ocorrência fiquem no topo; 5. Dessa tabela, apenas as L ocorrências mais frequentes de n-gramas devem ser mantidas, onde L é o tamanho do perfil do autor. A tabela com as L ocorrências de n-gramas é o perfil simplificado do autor, muito utilizado na medida de similaridade do SCAP, explicada nessa seção. Medida de Similaridade SPI Conforme propõe Frantzeskou (2005, apud TENNYSON, 2014), o método SCAP utiliza a medida de similaridade Simplified Profile Intersection (SPI), que corresponde ao número de n-gramas que um perfil de um autor tem em comum com um outro perfil. Essa afirmativa é representada pela equação 1: SPa - SPP • SPA é o perfil de um autor; • SPP é o perfil de uma consulta. O autor classificado é, então, aquele que alcançar o maior número de intersecções com a consulta. Materiais e Métodos Nesta seção, mostramos a série de experimentos que realizamos para analisar a acurácia da abordagem SCAP (cf. Seção 2.2) em relação a bases acadêmicas. Para tanto, apresentamos as coleções usadas nestes experimentos e o nosso método de experimentação. Coleções Para avaliar a abordagem SCAP, usamos 3 coleções de códigos fonte escritos em C, coletadas em cursos de programação de instituições de ensino superior, descritas a seguir. INICIANTE 1: Composta por códigos de 35 alunos da disciplina de Estrutura de Dados de uma faculdade particular. Esses códigos foram desenvolvidos para responder uma lista de exercícios com 36 questões. A base tem ao todo 944 programas. Os autores dessa base são, em sua maioria, alunos
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iniciantes do curso de computação, com pouca experiência em programação, que podem ter copiado os códigos de outros alunos ou trabalhado em pares. INICIANTE 2: Composta por códigos de 41 alunos da disciplina de Estrutura de Dados da Universidade de São Paulo. Esses códigos foram desenvolvidos para responder uma lista de exercícios com 7 questões. A base tem ao todo 239 programas. As características dos autores dessa base se assemelham as dos autores da coleção INICIANTE 1. São alunos com pouca experiência em programação que podem ter copiado os códigos de outros alunos. Essa coleção, no entanto, tem 2 diferenciais: (1) os códigos foram desenvolvidos tendo como base uma interface (arquivo de cabeçalho) passada pelo professor da disciplina, o que quer dizer que os alunos utilizaram funções com os mesmos nomes, mesmos tipos de argumentos e retornos; (2) todos os códigos foram muito bem comentados, alguns tendo um comentário por linha de código. AVANÇADA: Composta por códigos de 8 alunos, participantes voluntários de uma turma de preparação para maratona de programação, da Universidade de São Paulo. Esses códigos foram desenvolvidos para responder uma lista de exercícios com 40 questões. A base tem ao todo 270 programas. Os autores dessa base são alunos veteranos e possuem um estilo de programação bem formado. O Quadro 1 reitera as características das bases analisadas. E mostra, com mais evidência, que nem todos os alunos responderam todas as questões. Métodos dos Experimentos Nossos experimentos foram realizados a partir das coleções INICIANTE 1, INICIANTE 2 e AVANÇADA.
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Num primeiro momento, utilizamos as coleções na íntegra; num segundo momento, removemos os comentários e os literais delimitados por “” (aspas) dos seus códigos, a fim de identificar a relevância deles para abordagem quando aplicada em bases acadêmicas. Para testar em qual condição a abordagem SCAP gera os melhores resultados para as nossas coleções, variamos e combinamos diferentes valores para o tamanho n dos n-gramas e para o tamanho L do perfil do autor, conforme mostrado no Quadro 2. Para n, trabalhamos com n = 6, n = 10 e n = 14. Para L, consideramos os valores descritos abaixo: • L = 2000. Segundo Frantzeskou (2006), esse valor produz os melhores resultados nas suas análises; • L = infinito. Burrows (2010, apud TENNYSON, 2014) sugere não limitar o tamanho do perfil do autor, pois, segundo seus testes, essa limitação produz resultados inconsistentes; • L = infinito, omitindo n-gramas com frequência = 1 da base. De acordo com os experimentos de Tennyson (2014), essa condição melhora significativamente os resultados quando comparado com as condições anteriores. Definido os valores de n e L, realizamos os seguintes passos: 1. Retiramos um código da base por vez, recuperando o nome do autor desse código; 2. Consideramos o código retirado como código-consulta; 3. Comparamos esse código-consulta, utilizando a abordagem SCAP, com todos os restantes da base; 4. O autor do código com mais semelhanças de n-gramas do código-consulta, é sugerido pelo SCAP como autor do código-consulta; 5. Por fim, comparamos o autor sugerido
Análise da Abordagem SCAP para Atribuição de Autoria de Código Fonte em Cursos de Programação
pelo SCAP com o nome do verdadeiro autor do código para saber se o SCAP acertou a atribuição de autoria ou não. Para avaliar o desempenho do SCAP para cada coleção, usamos a métrica de acurácia, definida pela equação 3.1. Para estimar a confiabilidade estatística dos resultados, consideramos a acurácia como uma média tomada sobre N decisões binárias (1 para acerto na atribuição de autoria e 0 para erro), onde N é o total de programas avaliados. Resultados e Discussão Os resultados obtidos com a aplicação do modelo SCAP (cf. Seção 2.2) nas coleções acadêmicas INICIANTE 1, INICIANTE 2 e AVANÇADA (cf. Seção 3.1) são apresentados nas tabelas 1, 2, e 3, respectivamente. Quanto a coleção AVANÇADA, os valores da acurácia variaram entre 82% e 91%, análogos aos obtidos nos experimentos da Frantzeskou (2005). Apesar de os códigos desta base serem de tarefas similares, o fato de os alunos terem um estilo de programação bem formado, ajudou a identificar na maioria das vezes o verdadeiro autor do código. Ao comparar os resultados obtidos nas 3 coleções com ajuda do Quadro 3, observamos que é muito mais difícil atribuir autoria na coleção INICIANTE,
tanto na INICIANTE 1 quanto na INICIANTE 2. Pensamos que isso deve ao fato de que os alunos dessas coleções têm pouca experiência de programação e, portanto, ainda não têm um estilo bem definido. Observamos também que, para as 3 coleções, os melhores resultados se deram quando o tamanho L do perfil do autor foi equivalente a 2000. Quanto ao tamanho n do n-gramas, não houve uma unanimidade, em alguns momentos n = 6 gerou bons resultados, em outros n = 10 e n = 14 foram melhores. Sobre a retirada dos comentários e literais, podemos dizer que essa alteração foi apenas notada nos resultados da coleção INICIANTE 2, onde era intensa a presença de comentários. Nas demais bases, os resultados dos códigos na íntegra e sem comentários e literais foram aproximados. . Conclusão e Trabalhos Futuros Neste artigo, propusemos a análise da abordagem SCAP para resolução do problema de atribuição de autoria em coleções acadêmicas caracterizadas por (1) programas escritos para resolver ou mesmos problemas ou problemas similares, (2) autores inexperientes e avançados e (3) históricos de programas possivelmente pequenos. Nossos resultados sugerem que coleções de progra-
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Gestão energética no Amazonas: a alternativa solar
mas de alunos iniciantes representam um problema mais difícil para a abordagem SCAP resolver, o que pode estar relacionado ao fato de que os alunos desta base ainda não têm um estilo de programação definido e onde há um maior número de trabalhos copiados. Ao contrário das coleções iniciantes, os resultados da coleção dos alunos avançados na maioria das vezes estavam certos em relação ao verdadeiro autor do código, o que se justifica por terem um estilo de programação já bem formado. As principais limitações deste trabalho estão relacionadas ao processo de avaliação, uma vez que não há como garantir que todos os códigos usados nas bases coletadas são efetivamente dos autores. Em particular, nas bases INICIANTE 1 e INICIANTE 2, é provável que haja informação de atribuição incorreta, visto que a cópia de tarefas entre alunos destas bases não é incomum.
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Como continuação desta pesquisa, sugerimos a avaliação da abordagem SCAP com coleções de outras linguagens de programação, por exemplo, Java. Sugerimos também a comparação do SCAP com a implementação de outras máquinas de busca que igualmente utilizem indexação baseada em n-gramas, mas com modelos de recuperação diferentes, como os clássicos vetorial e Okapi BM25. Com esses resultados, poderemos avaliar se o SCAP continua sendo melhor que outros algoritmos mesmo quando aplicado a bases acadêmicas e, poderemos propor mudanças que façam com que o SCAP desempenhe melhor com esse tipo de coleção. Referências Bibliográficas BAEZA-YATES, R.; RIBEIRO-NETO, B. et al. Modern information retrieval. [S.l.]:
Análise da Abordagem SCAP para Atribuição de Autoria de Código Fonte em Cursos de Programação
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Sergio Cleger Tamayo - Escola Superior de Tecnologia – Universidade do Estado do Amazonas - sergio.cleger@gmail.com
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27
Artigo
Um Relato de Experiência do Ensino de Grafos Usando Aprendizagem Cooperativa para Alunos do Ensino Médio Matheus Alves, Diogo de Araújo, Raimundo Barreto, Francisca Cavalcanti e Yone Costa
Abstract
da descoberta da melhor rota de viagem. Tais
This paper compared cooperative learning with
problemas foram motivadores para a aprendi-
individual learning in the context of teaching
zagem. A avaliação da proposta foi feita através
computer foundations to high school students.
de questionários. Os resultados experimentais
Therefore, we run a set of experiments of
mostram que a aprendizagem cooperativa foi
teaching graph theory for high school students,
melhor do que a abordagem individual tanto na
which is an unconventional content. In order to
diminuição do tempo de execução das atividades,
present the content in a more interesting and
quanto no nível da aprendizagem em si.
playful way, we chose to teach using practical applications of mathematical concepts using an
Introdução
investigative problem, with several suspects and
Uma abordagem que vem ganhando destaque
detective, in addition to the discovery of the best
nos últimos anos é a abordagem de ensino
travel route. Such problems were motivators for
cooperativo, que é um processo educacional
the learning. The evaluation of the proposal is
onde os participantes se ajudam para atingir um
made by questionnaires. The experimental results
objetivo definido.
showed that cooperative learning was better
objetivo principal investigar se a aprendizagem
than the individual learning in both decreasing
cooperativa tem melhor desempenho do que a
the execution time and in the increasing of the
aprendizagem individual, considerando o ensino
learning level.
de fundamentos computacionais. Para atingir as
Este artigo tem como
metas foi executado um conjunto de experimenResumo
tos de ensino de teoria dos grafos para alunos do
Este artigo comparou a aprendizagem coopera-
ensino médio, que é um conteúdo não conven-
tiva com a aprendizagem individual no contexto
cional. A forma de ensino será feita a partir de
do ensino de fundamentos computacionais
aplicações práticas dos conceitos matemáticos
para estudantes do ensino médio. Para tanto,
e a avaliação será através do preenchimento
foi executado um conjunto de experimentos de
de questionários pelos alunos participantes. O
ensino de teoria dos grafos para alunos do ensino
experimento foi executado com duas turmas do
médio, o qual é um conteúdo não convencional.
1o ano do ensino médio, sendo um total de 69
Com o objetivo de apresentar o conteúdo de
alunos.
forma mais interessante e lúdica, a forma de ensino utilizou aplicações práticas dos conceitos
Este artigo está no contexto do Programa
matemáticos usando um problema investigativo,
PRÓ-ENGENHARIAS e RH-TI, proposto pela
com diversos suspeitos e um detetive, além
28
Um Relato de Experiência do Ensino de Grafos Usando Aprendizagem Cooperativa para Alunos do Ensino Médio
SEDUC-AM e financiado pela FAPEAM, que tem
Aprendizagem Cooperativa
como objetivo precípuo induzir os alunos do
De acordo com o enfoque sociocultural de
Ensino Médio para as áreas de Engenharias e
Vygotsky (1993), aprende-se num ambiente das
Tecnologias da Informação, preparando-os para
interações sociais com os demais. A aprendi-
a entrada na academia, desenvolvendo espirito
zagem cooperativa é um recurso na área de
científico, crítico, criativo e de liderança. O
educação, que surge da necessidade de inserir
Programa está sendo oferecido no CETI Sérgio
metodologias interativas, onde o elemento essen-
Pessoa, uma escola pública da cidade de Manaus
cial é a tendência a aprender trabalhando juntos.
de ensino fundamental e médio. No Programa
A estratégia mais usual é o trabalho conjunto de
são oferecidas diversas oficinas, incluindo
pequenos grupos de alunos, de vários níveis de
Matemática Aplicada, Introdução às Engenharias
performance, tendo como meta principal a inte-
e Computação e Lógica. Neste caso, a atividade
ratividade, com pouca intervenção do professor,
de ensino de teoria dos Grafos foi executada na
e dando mais responsabilidade aos alunos. Uma
Oficina de Matemática Aplicada.
variedade de métodos sobre a aprendizagem cooperativa vem sendo desenvolvido por muitos
Um trabalho base para esta pesquisa foi proposto
pesquisadores tais como: (i) o Student-Teams-
por Costa (2013). Neste, foi proposto a introdu-
Achievement Division (Slavin,1994) que envolve
ção de novos conceitos da Matemática Discreta
o reconhecimento da equipe e a responsabilidade
às turmas do Ensino Fundamental e Médio. Neste
do grupo para aprender em grupos de habili-
caso, em particular, o autor escolheu o ensino
dades mistas; (ii) Aprendendo Juntos (David
de Teoria dos Grafos, especificamente grafos
e Roger Johnson, 2000) que foca, além do
eulerianos. Inicia-se por mostrar um problema
rendimento, o desenvolvimento socioemocional e
que causasse interesse no público, por isso foi es-
a interação do grupo; (iii) Investigação de Grupo
colhido o problema do Caso Count Van Diamond,
(Sharan e Sharan, 1992) que envolve uma combi-
que visa investigar quem foi o assassino de um
nação de aprendizagem independente e trabalho
bilionário. A proposta apresenta o problema
em grupo; e (iv) Apontamento Cooperativo
seguido de diversas questões, e os alunos tiveram
(Dansereau,1988), nos qual os estudantes
que responder à mão as questões, sem qualquer
trabalham em pares, fazem apontamentos e
conhecimento de teoria dos Grafos. A segunda
apresentam oralmente sendo que um apresenta e
etapa da proposta de Costa (2013) é a introdução
outro monitora para ver se tem algum equívoco,
dos novos conceitos da Teoria dos Grafos e a
caso tenha faz-se a retroalimentação. Entretanto,
solução do problema baseada nesta teoria. Os
a eficiência dos métodos cooperativos depende
alunos se dividiram em grupos e chegaram
do tipo de interação dentro do grupo, ou seja, de
facilmente às conclusões que já tinham obtido
interações que sobressaiam aproximações mais
anteriormente, só que de forma bem mais rápida.
democráticas e a extinção de autoritarismo e
Finalmente, foi pedido aos alunos que avaliassem
controle tanto por parte dos iguais quanto dos
todo o trabalho e colocassem suas opiniões
professores, conduzindo assim a cooperação.
pessoais sobre o interesse no tema, análise do quanto efetivamente tinham aprendido e na
Método Proposto
dinâmica da realização do projeto em todas as
O método proposto é de ensino e avaliação,
suas etapas. A proposta deste artigo é diferente
que consiste em uma sequência de aulas que
do trabalho de Costa (2013) no sentido que
visam ensinar os conceitos de grafos utilizando
incluímos não só o Caminho/Circuito Euleriano,
atividades práticas que sejam motivantes para
mas também o Caminho/Circuito Hamiltoniano,
o aprendizado. Um dos objetivos deste artigo
além de Grafos Valorados e Caminhamento
é avaliar se a abordagem cooperativa é, em
Mínimo.
algum aspecto, superior à abordagem individual.
29
A proposta consiste em executar o mesmo
experimento em duas turmas distintas, uma
problema do “Assassinato de um Bilionário”,
3) A terceira etapa é um retorno ao
executando individualmente e a outra em
onde, dessa vez, o problema é modelado através
grupos de três a quatro alunos heterogêneos.
de um grafo e a fácil conclusão que um dos
Um professor que conheça bem a turma será
depoimentos seria impossível de ser realizado.
utilizado para a divisão dos grupos. As próximas subseções detalham os conteúdos a serem
abordados em cada aula, a forma de interação
ensino de grafos valorados e ciclo/caminho
dos alunos e como será aplicado a avaliação do
Hamiltoniano mínimo, além da aplicação do
processo de aprendizagem.
conhecimento para solucionar o problema de tra-
4) A quarta etapa consiste no
çar uma rota de viagem, partindo de uma cidade Conteúdos a serem Abordados nas Aulas
e retornando à mesma cidade, e cujo trajeto deve
A proposta das aulas será feita da mesma
minimiza a distância percorrida.
forma para ambos os métodos de solução das atividades, cooperativo e individual. Em cada
etapa há alguns exercícios a serem resolvidos
dado um labirinto com uma entrada e uma saída,
pelos alunos. Uns farão individualmente e
deve-se encontrar um caminho que a partir da
outros farão em grupos. O método pode ser
entrada, vá até uma dada sala no centro, e depois
sumarizado da seguinte forma:
vá para a respectiva saída. A proposta é que seja
5) A quinta e última etapa consiste em,
feito inicialmente à mão e, depois, mostre-se
1) A primeira etapa descreve o
problema que chamamos de “Assassinato de um
que é muito mais rápido quando se constrói um grafo, cuja solução é direta.
Bilionário” em que se apresenta uma planta da mansão de um bilionário que foi assassinado. Os
Forma de Avaliação da Aprendizagem
presentes na mansão na hora do crime, ou seja,
Para avaliação da aprendizagem serão adotados
mordomo, jardineiro e empregada, prestaram os
questionários para coletar diversas informações,
depoimentos. Com base nos depoimentos e nas
tais como: (1) o que o aluno achou da aula
constatações feitas pelo detetive que investiga-
sobre grafos; (2) se foi interessante conhecer
va o caso, foram feitas diversas perguntas aos
sobre o que se trata, as regras e aplicações
alunos que, basicamente, pediam que fossem
de grafos; (3) se já houve aulas práticas com
escritos, à mão, os caminhos que repetissem os
exemplos claros e lúdicos; (4) se acha interes-
depoimentos de todos os suspeitos. Algumas
sante trabalhar aulas práticas que mostrem a
dessas perguntas exigem que se construa
aplicação do conteúdo; (5) se conheciam grafos
caminhos que passem por todas as portas,
Eulerianos ou Hamiltonianos; (6) se metodologias
e outros que passam por todos os cômodos,
que apresentem teoria e prática melhoram o
passando por todas as portas, exceto as portas
processo de aprendizagem; (7) se conseguiu
que levam a um cômodo específico. Com base
com facilidade identificar os diferentes tipos de
nas construções dos caminhos seria possível
grafos, suas regras e aplicações; (8) autoavaliar
descobrir quem foi o assassino.
sua interação, seriedade e engajamento na aula. Os itens acima foram perguntados tanto para
30
2) A segunda etapa é a introdução
o grupo que trabalhou individualmente quanto
dos conceitos de grafos, pares ordenados e
para os que trabalharam cooperativamente.
não-ordenados, caminho e ciclo Euleriano, grau
Além disso, exclusivamente para quem trabalhou
de vértices, teorema que diz o que é necessário
cooperativamente, foram feitas mais duas
para se ter um caminho Euleriano e um ciclo
perguntas, a saber: (i) se o trabalho em equipe
Euleriano.
ajudou a compreender melhor o assunto; e (ii) se
Um Relato de Experiência do Ensino de Grafos Usando Aprendizagem Cooperativa para Alunos do Ensino Médio
a atividade tivesse sido feita individualmente se teria um desempenho diferente. Avaliação Experimental O método proposto foi aplicado em uma escola pública, no caso, CETI Sérgio Pessoa, com duas turmas do 1 ano do ensino médio. Ambas as turmas são consideradas pela coordenação da escola como bastante hiperativas. Na primeira turma foi feito individual e na segunda foi feito em grupos. No total 69 estudantes participaram
Figura 1. Alguns alunos que fizeram parte do experimento
do experimento considerando as duas turmas. A
Para ajudar na concentração nas respostas, foi
Figura 1 apresenta a foto de uma das turmas.
pedido que quem tivesse um raciocínio mais rápido, e terminasse a atividade, deveria ficar
Execução das Aulas e Exercícios
quieto para não atrapalhar os outros. Foi passado
Com o objetivo de apresentar o conteúdo de
um conjunto de perguntas (Figura 3) para guiá-
forma mais interessante e lúdica, iniciou-se
-los na solução do caso. Percebeu-se que alguns
por apresentar a especificação do problema do
alunos tiveram dificuldades de raciocinar. Nesse
assassinato de um bilionário que, por estar no
momento, o facilitador teve que grifar pontos
formato de investigação, com diversos suspeitos
de destaque, ajudando-os a interpretar melhor
e detetive, além da descoberta de quem tinha
o texto. A solução proposta pelos alunos foi, de
assassinado o bilionário, motivou bastante os
forma bastante acertada, verificar se os depoi-
alunos. Inicialmente as duas turmas estavam
mentos eram verídicos representando através de
bastante agitadas mas, em ambas, após apresen-
desenhos no mapa (Figura 2b). Durante toda a
tado o problema, a turma se mostrou bastante
atividade os alunos, seja individualmente ou em
interessada. No caso da turma individual, cada
grupos, foram sempre inquiridos a responder o
aluno recebeu a planta (Figura 2a) da mansão e
“porquê” de cada afirmação.
tiveram que agir como investigador e descobrir quem foi o assassino usando os depoimentos
Após a descoberta de quem efetivamente tinha
e constatações do problema. No caso da turma
assassinado o bilionário, passou-se para a teoria
cooperativa, o mapa da mansão foi escrito em
matemática de grafos, ensinando-os a encarar
uma cartolina. Também disponibilizamos pincéis
novos desafios e aprender coisas novas. A expli-
de cores diferentes. Os grupos foram divididos
cação da teoria de grafos foi feita de forma bem
com o auxílio de um professor da escola para que
enxuta e o mais simples possível, mas sem perder
os grupos fossem heterogêneos.
o rigor matemático. Também foi recomendado
Figura 2. (a) Planta da mansão do experimento; (b) respectivo grafo da mansão
31
Figura 3. Perguntas a serem respondidas pelos alunos
que os alunos fizessem anotações do que eles
possuem tal conhecimento. A partir desse ponto,
acharam bem interessante (Figura 4). Em seguida,
as soluções dos exercícios foram conduzidas de
foi apresentado a definição do caminho/circuito
forma mais simples e de maior aceitação por
de Euler. Em ambas as turmas, alunos foram
parte dos alunos.
chamados à lousa para resolver alguns exercícios. Alguns alunos falaram que tinham encontrado
Quando ensinamos Ciclo/Caminho Hamiltoniano
outros caminhos, o que retrata que realmente
(passa pelos vértices, independente das arestas)
eles estavam fazendo os exercícios, porque
enfatizamos a diferença com o Ciclo/Caminho
realmente havia mais de um caminho.
Euleriano (passa pelas arestas, independente dos vértices). Os conceitos foram aprendidos
Também mostramos a definição de grau e que,
rapidamente, exceto por um ou outro que não
se o grafo tem todos os vértices com grau par é
tinham absorvido a diferença. A explicação do
provado que o grafo tem um Circuito de Euler.
grafo valorado foi muito importante porque
Da mesma forma, definimos o Caminho de Euler,
aumentou o leque de aplicações possíveis dos
ou seja, se exatamente dois vértices do grafo têm
grafos, principalmente os caminhos que têm
grau ímpar, então é possível, a partir de um dos
menos custos. Uma das aplicações comentadas
vértices de grau ímpar, passar por todas as suas
foi o uso de GPS e escolha da rota que tem custo
arestas uma única vez e finalizar no outro vértice de grau ímpar. Quando a planta da casa foi representada através de um grafo, ficou fácil aplicar os conceitos e descobrir que o depoimento do jardineiro seria impossível. A ideia foi passar para os alunos que o conhecimento matemático pode ajudá-los a resolver diversos problemas práticos do dia a dia de forma bem mais fácil do que aqueles que não
32
Figura 4. Diversas anotações feitas pelos alunos
Um Relato de Experiência do Ensino de Grafos Usando Aprendizagem Cooperativa para Alunos do Ensino Médio
mínimo. Fizemos alguns exercícios de encontrar o
experimento (Figura 6). As questões das Tabelas
caminho mínimo em diversos grafos. Para tanto,
1, 2 e 3, são as mesmas que apresentadas na
pedimos que eles escrevessem o custo de todos
Seção 3.2.
os caminhos possíveis. Quando apresentamos a aplicação “Rota de Viagem” (Figura 5) ficou bem mais claro o que se pretendia, mais uma vez, deixar claro a importância do conhecimento baseado no Ciclo Hamiltoniano. E, além disso, que eles mesmo poderiam usar na vida prática deles, por exemplo,
Figura 5. Busca da melhor rota feita pelos alunos
em uma viagem. Quando os alunos tinham dúvidas, os próprios colegas ajudavam a sanar tais dúvidas. Houve um problema na aplicação da turma cooperativa porque o condicionador de ar estava quebrado e o calor estava muito grande. Mesmo com esse entrave, a metodologia foi aplicada e o resultado superou todas as expectativas, foi proveitosa e todos ficaram bastante focados, participando efetivamente, mesmo com o calor. Resultados Experimentais A turma que executou as atividades individuais tinha 34 alunos, enquanto que a turma que executou as atividades em grupo tinha 35 alunos, ou seja, no total 69 estudantes participaram do
33
Tabela 1. Avaliação sobre a aula e o conhecimento sobre grafos
34
A Tabela 1 apresenta dados positivos tanto
se os alunos preferem esse tipo de abordagem no
para a turma individual, quanto para a turma
ensino e se eles já conheciam a teoria dos grafos
cooperativa. As questões da tabela verificam
Eulerianos e Hamiltonianos. Note que a maioria
que os alunos gostaram das aulas sobre grafos
disse que nunca tiveram aulas que expusessem
(Questão 1) e, também, da metodologia prática
o conteúdo de forma prática (Questão 3); quase
(Questão 2). Entretanto, percebe-se que a turma
100%, considerando ambas as turmas, disseram
individual, aparentemente gostou mais das
que é interessante trabalhar aulas práticas
aulas. Um dos motivos para a aparente não
e mostrando aplicações (Questão 4); e que
muita aceitação da turma cooperativa é o fato
pouquíssimos (15% e 6%) já conheciam a teoria
do calor durante as aulas.
dos grafos.
A Tabela 2 apresenta as respostas a diversas
A Tabela 3 responde ao questionamento se
perguntas, ou seja, se os alunos já tiveram aulas
aplicar metodologias que ensinam a teoria e logo
tão práticas com exemplos práticos do dia a dia,
põe em prática melhoram o processo de aprendi-
Um Relato de Experiência do Ensino de Grafos Usando Aprendizagem Cooperativa para Alunos do Ensino Médio
zagem, se os alunos conseguiram identificar com
que é importante estudar, que é importante
facilidade os diferentes tipos de grafos e aplica-
saber, e que tão importante quanto conhecer a
ções. O resultado é que a grande maioria acredita
teoria é saber onde aplicar cada conhecimento
que aulas que unem teoria e prática melhoram
teórico obtido. Algo que precisa ser melhor
sensivelmente o processo de aprendizagem. Os
investigado é a razão pela qual 46% dos alunos
conhecimentos foram aprendidos de forma fácil,
que participaram da turma cooperativa acha que
mas o desempenho da turma cooperativa foi
o desempenho seria igual se a atividade fosse
melhor do que a turma individual.
feita de forma individual.
A Tabela 4 mostra o aspecto da autoavaliação
O fato de que a grande maioria acredita que
dos alunos com respeito à interação, seriedade
aulas que unem teoria e prática melhoram
e engajamento. Vale a pena notar que a turma
sensivelmente o processo de aprendizagem deve
individual teve 26% que achou que seu engaja-
ser um alerta para os educadores. Outro detalhe
mento foi regular, o que aconteceu muito pouco
que pode ser preocupante é que no aspecto
(6%) com o grupo cooperativo. A razão para este
interação, seriedade e engajamento, a turma
alto índice pode ser explicado porque os alunos
que resolveu os exercícios de forma individual
não estavam acostumados com esse tipo de aula
teve 26% que achou que teve um engajamento
e metodologia de ensino.
regular. Isso pode retratar que a cooperação é uma boa alternativa para promover tanto a
Adicionalmente, para os alunos que usaram a
interação e sociabilização entre os alunos, como
abordagem em grupo foram feitas mais duas
também facilita e potencializa o aprendizado.
perguntas. A primeira é se o trabalho em equipe
Isto se dá pelo fato de que os pequenos grupos
ajudou a compreender melhor o assunto. O
são peças fundamentais para que todos tenham
resultado é que 74% disseram que sim e 25%
oportunidade de participar do trabalho coletivo.
respondeu que “em partes”. A segunda é se a atividade tivesse sido feita individualmente o alu-
Outro aspecto a ser ressaltado é que o tempo
no teria um desempenho diferente. O resultado
para a execução das atividades na turma
é que 48% teria um desempenho inferior; 46%
individual foi de 120 minutos, enquanto que na
acha que o desempenho seria igual; e 6% acha
turma cooperativa esse tempo foi reduzido para
que teria um desempenho melhor.
90 minutos. Pode-se perceber uma otimização do tempo quando se utiliza a abordagem
Discussão
cooperativa.
Durante a aplicação das aulas, foi percebido que na abordagem individual houve muito mais
Conclusão
dúvidas do que na abordagem cooperativa. A
Este artigo descreveu um experimento de ensino
razão é que as dúvidas já eram tiradas no próprio
de teoria dos grafos para alunos do ensino médio
grupo.
de uma escola pública da cidade de Manaus. O
A separação das equipes de forma
heterogênea ajudou bastante porque, no grupo,
método consistiu de fazer aplicações práticas
não necessariamente, estavam as pessoas mais
do conteúdo sendo apresentado, ou seja, unir
próximas. Isso ajudou tanto da sociabilização
a teoria com a prática em uma mesma aula.
quanto no compartilhamento dos conhecimen-
Além disso, as duas abordagens pedagógicas
tos.
foram comparadas: aprendizagem individual e aprendizagem cooperativa, onde em uma turma
Algo muito importante que também foi percebido
de alunos foi aplicado a aprendizagem individual
durante as aulas, é que a maioria dos alunos
e em outra turma foi aplicado a aprendizagem
reconheceram que ter o conhecimento é válido,
cooperativa.
35
Os resultados experimentais apontam que a
(Eds). Learning and Study Strategies. Orlando,
maioria acredita que aulas que unem teoria e
Academic Press.
prática melhoram o processo de aprendizagem (94% em uma turma e 91% em outra turma). Os
JOHNSON, D. W. E JOHNSON, F. P. (2000). Joining
conhecimentos foram aprendidos de forma fácil
together: group theory and skills. Boston. Allyn
em ambas as turmas, embora o desempenho da
& Bacon.
turma cooperativa foi melhor do que a turma individual (60% da turma cooperativa contra 44%
SHARAN, S E SHARAN, S. (1992). Expanding
da turma individual). Outro resultado importante
Cooperative Learning Through Group
está relacionado com o tempo para a execução
Investigation. New York. Teacher College Press.
das atividades. No caso da turma individual o tempo foi em torno de 120 minutos, enquanto
SAVI, R., WANGENHEIM, C., ULBRICHT, V.,
que no caso da turma cooperativa esse tempo
VANZIN, T (2010). Proposta de um modelo
foi reduzido para 90 minutos para ser executado
de avaliação de jogos educacionais. Novas
exatamente as mesmas atividades.
Tecnologias na Educação, v8, p.1-10.
Uma
situação que não conseguimos explicar é porque 46% dos alunos que participaram da turma
SLAVIN, R. (1994). Using team learning.
cooperativa acha que o desempenho seria igual
Baltimore, Johns Hopkins University.
se a atividade fosse feita de forma individual. Esse ponto deve ser melhor investigado.
VYGOTSKY, L. S. (1993). Pensamento e Linguagem. Ed. Martins Fontes.
Como trabalhos futuros, pretendemos executar mais experimentos em outras turmas de escolas
Matheus Alves - Instituto de Computação - Universidade
públicas de ensino médio para confirmar os
Federal do Amazonas - mla@icomp.ufam.edu.br
resultados apresentados. Usar o modelo de avaliação de jogos educacionais proposto por Savi
Diogo de Araújo - Instituto de Computação - Universidade
et. al (2010) para a avaliação da aprendizagem.
Federal do Amazonas - dca2@icomp.ufam.edu.br
Outra possibilidade é avaliar a turma usando captura de vídeo para verificar o engajamento do aluno, além da captura de áudio para verificar as interações e a liderança do grupo. Agradecimentos Agradecemos à FAPEAM pelo suporte financeiro aos programas PRÓ-ENGENHARIAS e RH- TI.
Raimundo Barreto - Universidade Federal do Amazonas rbarreto@icomp.edu.br Yone Costa - Faculdade de Educação - Universidade Federal do Amazonas - yonegamacosta@gmail.com Francisca Cavalcanti - Faculdade de Educação Universidade Federal do Amazonas fransciscamcc@hotmail.com
Referências COSTA, CHRISTINE (2013). Matemática Discreta no Ensino Médio: Um Trabalho com Grafos Eulerianos. Relatórios de Pesquisa em Engenharia de Produção. v.13, Série B. n.2, p. 8-19. DESENREAU, D. (1998). Cooperative Learning Strategies. C. Weinstein, E. Goetze e P. Alexander
36
GestĂŁo energĂŠtica no Amazonas: a alternativa solar
47
Artigo
DESAFIOS E IMPLICAÇÕES NO ENSINO DA TRIGONOMETRIA: Estudo de caso em uma escola pública na cidade de Manaus/AM. Rosimeire Freires Pereira Oliveira e
Resumo
Introdução
Este artigo foi desenvolvido, na busca de
Este artigo apresenta um estudo de caso em uma
respostas, quanto às questões das implicações
escola pública na cidade de Manaus no Estado
e desafios que a trigonometria traz enquanto
do Amazonas. Buscou-se trazer as didáticas e
ensino e aprendizagem, com uma abordagem de
metodologias usadas por parte dos professores
sua história, evolução, aplicação e implicação.
da escola em estudo, e as formas de absorção
O problema que se levantou ao ensino da
por parte dos alunos referente ao tema proposto,
trigonometria não é recente, assim bem, como
além dos diversos desafios e implicações, no
as implicações que ela provoca em professores
que se refere à aprendizagem da trigonometria,
e alunos. No entanto, criou-se um desafio de
estudo este desenvolvido no segundo semestre
buscar métodos e didáticas de ensino para tal
de 2013.
problema, mas, as dificuldades são muitas, variadas e difíceis. Portanto, buscou-se abordar
Foi realizado um estudo sobre o ensino da
parâmetros através de um estudo de caso em
trigonometria, as dificuldades do individuo
uma escola pública na cidade de Manaus no
quanto estudante em absorver tal temática, e
Estado do Amazonas. De forma que, os maiores
o processo ensino-aprendizagem, acreditando
desafios dessa temática se encontram nas
que o desenvolvimento intelectual do ser
escolas públicas, visto que, são alunos de diversas
humano passa por várias fases e estágios de
culturas e classes sociais. Vale ressaltar que após
desenvolvimento, além dos fatores que possam
o estudo constatou-se que tal hipótese é
trazer malefício ou benéfico nesse percurso.
um problema que permeia há anos, cuja a maior concentração da problemática está na base
Portanto, esse estudo de caso, buscou-se trazer
matemática e como ela é apresentada aos alunos
resultados que possam responder a seguinte
nos primeiros anos de estudo, verificando que a
problemática: Quais os desafios e implicações
cada dia vem se agravando tal situação. Hoje em
que o ensino da trigonometria traz? A ideia
dia os alunos veem à trigonometria como apenas
foi de apresentar resultados após a análise de
matéria para passar de ano e não como uma
questionários e observações diretas, de forma
ferramenta de uso.
que pudesse trazer flexões sobre os processos de ensino e aprendizagem da trigonometria,
Palavras-Chave: Desafios. Implicações. Ensino. Trigonometria.
38
para que possa ser avaliado a necessidades de reestruturação dos modelos pedagógicos.
DESAFIOS E IMPLICAÇÕES NO ENSINO DA TRIGONOMETRIA
Procedimentos Metodológicos
utilizados materiais publicados por autores
A investigação se caracterizou como uma
renomados, que já obtiveram resultados em
pesquisa- diagnóstico uma vez que tem o intuito
pesquisas semelhantes, como artigos científicos,
de analisar os desafios e implicações do ensino
livros editorados e até teses de doutorado.
da trigonometria, caracterizando-se como um
Na pesquisa documental foram analisados
estudo de caso.
os resultados das provas apresentados pelos docentes da disciplina.
A pesquisa teve a natureza qualitativa quando buscou estabelecer relações entre os desafios e
Para a pesquisa de campo foram aplicadso para
implicações com o ensino que a trigonometria
os professores e alunos questionários a fim de
traz, sendo, portanto também de natureza
identificar os desafios e implicações do ensino
quantitativa. Sendo assim, caracterizou-se por
da trigonometria, foram feitos entrevistas com
uma pesquisa quali-quanti.
os professores e alunos, além de observações diretas durante os períodos de aula. O modelo do
No que tange à finalidade pode-se dizer que a
questionário e o roteiro da entrevista encontram-
pesquisa se caracterizou como descritiva, pois,
se no apêndice deste projeto.
buscou descrever a correlação entre o ensino da trigonometria com seus desafios e implicações e
Desafios e Implicações da Trigonometria em
os impactos advindos desta relação.
Sala de Aula A forma de se ensinar trigonometria, não se
A pesquisa se caracterizou como um estudo
preocupando com a sua história de formação
de caso – método indutivo, onde se propõe
ou de construção, demonstra certa falha sobre
a analisar os desafios e implicações quanto
aquilo que ela é ou o que pode ser além de,
ao ensino da trigonometria. A pesquisa foi
ocultar sua importância tanto para a vida do
bibliográfica, documental e de campo.
individuo, quanto pra a sociedade. Muitas das vezes o professor ao ensinar trigonometria,
Para o universo da pesquisa, foi escolhida uma
conceitos e aplicações, não está preocupado se o
escola pública na cidade de Manaus no Estado
aluno está aprendendo ou não, levantando assim
do Amazonas, que conta com aproximadamente
mais questionamentos do que entendimentos,
com 980 alunos e um corpo docente de 42
e a preparação dos professores nem sempre
professores, sendo que 12 na área da docência do
corresponde a responder de forma clara e
ensino da matemática.
objetiva tais questionamentos.
Para a amostragem desta pesquisa, foram
De acordo com (OLIVEIRA E VELASCO, 2010, p. 1)
investigados 5 sujeitos que atuam na área da
“O treinamento, aliado ao contato com problemas
docência do ensino da matemática e 98 alunos,
fora dos padrões, estimula o aluno a exercer suas
sendo divididos em dois grupos: 30 alunos do
faculdades de resolução de problemas”.
ensino fundamental e 68 alunos do ensino médio. Essa amostra corresponde a 42% dos
A educação de hoje, principalmente o estudo
professores da área da docência do ensino da
das disciplinas básicas, português e matemática
matemática e 10% do total de alunos do ensino
devem ser trabalhadas com metodologias
fundamental e médio, sendo considerada válida
utilizando o cotidiano do aluno, desde as séries
para a natureza deste tipo de pesquisa.
iniciais, buscando mostrar sua importância, para o dia a dia, só que a maior ênfase é dada
Os Instrumentos de coleta de dados foram a
somente no ensino médio, de forma que, o
seguinte: Para a pesquisa bibliográfica foram
aluno não teve uma preparação adequada e nem
39
mesmo um estímulo para a compreensão do
conhecimentos traz em si o desenvolvimento de
mesmo.
competências e habilidades que são essencialmente formadoras, à medida que instrumentalizam e
Devendo ser capaz de entender as diversas
estruturam o pensamento do aluno, capacitando-o
situações da trigonometria e suas equações
para compreender e interpretar situações para se
matemáticas. Sabendo construir uma visão
apropriar de linguagens específicas, argumentarem,
sistematizada das diferentes linguagens e
analisar e avaliar, tirar conclusões próprias, tomar
seu campo de estudo, reconhecendo relações
decisões, generalizar e para muitas outras ações
entre tal disciplina com as outras áreas do
necessárias à sua formação.
conhecimento, e por fim, saber compreender a construção do conhecimento matemático como
Assim como, saber construir uma visão
um processo histórico.
sistematizada das diferentes linguagens e campos de estudo da Matemática, reconhecendo
De acordo com (VARELA, 2000, p.11) “estas
sua relação com outras áreas do conhecimento,
questões estão atreladas a uma visão tradicional
e por fim, saber compreender a construção do
para o ensino, porém a luta por uma educação
conhecimento matemático como um processo
matemática vem apontando novas alternativas”.
histórico e atual.
Numa visão ampla sobre o ensino da Matemática
De acordo com (OLIVEIRA, 2006) as abordagens
em sala de aula, principalmente após estudos
trazidas para a sala de aula sobre a matemática
feitos em livros e pesquisas de campo, observou-
principalmente a trigonometria, faz uma
se que o reflexo dos baixos índices com relação à
conexão com outras áreas. De forma que essa
aprendizagem matemática é decorrente da base
abordagem dá um novo direcionamento quanto
que adquire durante suas séries iniciais. Isto é,
ao aprendizado e ao interesse do aluno, pois
a trigonometria deveria ser estimulada desde
qualquer que seja a dificuldade pode-se inventar
as séries iniciais utilizando materiais lúdicos e
algum conceito que supere essa dificuldade.
tecnológicos, que hoje é ensinada somente em Segundo (PASSOS, 2010, p. 1) diz que:
algumas séries do ensino fundamental e no ensino médio.
A matemática nos mostra ser uma disciplina que tem seu próprio modo de ser e de se apresentar,
Haja vista que, a educação de hoje tem como
onde aparece na sua forma de linguagem, nos seus
peça fundamental facilitar o aprendizado
enunciados das suas proposições, nas formas no
e trazer o conhecimento, contrapondo-se
qual se raciocina. Leva aquele que é preocupado na
à caracterização do conhecimento a ser
forma no qual ensina e conhece a matemática no
transferido. Isso porque a maior preocupação
seu modo de ser a ter mais um pouco de atenção
está no sentido de desenvolver uma instrução
e de cuidado.
mais compreensível, com base em seqüências didáticas, que motive o aluno a interagir com o
Como se pode ver, a importância da matemática
conteúdo.
na educação de hoje e o estudo matemático devem ser trabalhada seriamente desde as primeiras séries escolares, porém de forma
De acordo com (PCN+, 2002, p. 111): Aprender
Matemática
de
uma
forma
contextualizada, integrada e relacionada a outros
adequada levando em consideração a idade do aluno para se aplicar a devida metodologia introduzindo a trigonometria no cotidiano do
40
DESAFIOS E IMPLICAÇÕES NO ENSINO DA TRIGONOMETRIA
aluno, causando assim um desenvolvimento
forma, o maior esforço é no sentido de delinear o
significante de tal conteúdo.
referido processo e acompanhar o progresso do aluno – coisas que o aluno pode fazer para tornar
De acordo com (VARELA, 2000, p.11) “estas
a sua apreensão mais fácil.
questões estão atreladas a uma visão tradicional para o ensino, porém a luta por uma educação
O contexto histórico da trigonometria é muito
matemática vem apontando novas alternativas”.
importante, por mostrar os impasses, as
Visto que, a educação matemática tem
limitações e as reservas que os matemáticos
como fundamento facilitar a aprendizagem
tiveram frente aos números. O ensino mudou,
da matemática, contrapondo-se à sua
mas a matemática é a mesma, ou será que foi o
caracterização, como sendo um conhecimento
ensino desses professores de hoje em sua época
a ser transferido, do professor ao aluno, através
de acadêmico? Acredito que não era diferente.
de técnicas didáticas apropriadas. Neste sentido, a preocupação maior será no sentido de
Resultados e Discussões
desenvolver uma instrução mais compreensível,
Na primeira fase foram feitas as análises
com base em sequências didáticas, que motive o
preliminares, através de dois levantamentos de
aluno a interagir com o conteúdo.
dados coletados através de entrevistas aplicadas aos alunos e professores objetos deste estudo:
Segundo (OLIVEIRA, 2006), o conhecimento,
O primeiro levantamento foi com relação à
principalmente no que diz respeito às expressões
forma de apresentação dos conteúdos da
e suas relações matemáticas, são fundamentaisl
trigonometria nos livros didáticos.
ao desenvolvimento do raciocínio do estudante. Umas das maiores implicações do ensino da
Os alunos tanto do ensino fundamental
trigonometria, está na elaboração do plano de
quanto os do ensino médio, responderam que
curso, na escolha do livro didático. A transmissão
a trigonometria é sem funcionalidade e muito
do conteúdo na maioria das vezes prende-se aos
complexa, além de ser difícil de entender, e na
conceitos dos livros e seus exercícios somente.
maioria dos alunos disseram que tinham muitas
O desenvolvimento da trigonometria é quase
dificuldades com as atividades em desenvolver
sempre baseado nas fórmulas, e conceitos, além
as operações da trigonometria, e que não veem
de estar sempre fora do plano de curso e na
a necessidade de aprender, que para eles, é
maiorias das vezes no final do livro didático,
apenas um conteúdo para passar de ano.
o que implica ao professor não ministrar o conteúdo ou passar de forma irregular, o mesmo,
De acordo com os professores, a matemática em
por não dominar o assunto, não introduz em
si, é vista como uma barreira pelos alunos, e que
seu plano de aula ignorando completamente o
a existência de muitas dificuldades com relação
conteúdo, esquecendo que a matemática é uma
ao aprendizado da trigonometria, se dá, pelo
linguagem e que cada assunto não ministrado é
fato do assunto não ter uma boa abordagem
uma palavra a ser desconhecida do vocabulário
nas séries iniciais, sabendo que a trigonometria
matemático.
está presente em diversos campos da vida.
Segundo (FOSSA, 2000, p. 7):
O segundo levantamento foi à importância de se
A tendência é de considerar a matemática como
saber as definições da trigonometria.
um processo e de estimular o aluno a participar neste processo por pensar matematicamente. Desta
Por parte dos alunos, constantemente não
41
sabiam dar nem ao menos as definições simples
Quanto à aplicação do primeiro questionário,
como pares ordenados, muito menos da
os alunos responderam que, saem do ensino
importância de saber tal definição.
médio, necessitando de uma proposta para o aperfeiçoamento do ensino da matemática, já
Já com relação às respostas dos professores, tais
que o é o conteúdoapresentado atualmente, não
definições eram repassadas, mas, não viam a
tem atingido o objetivo desejado tais como: a
importância do aluno aprender, pois, não iriam
compreensão de tais conceitos, de forma isolada
ter a necessidade de utiliza-las em sua vida
e sem relação com outros conceitos.
cotidiana. Já os professores, relataram que as dificuldades Na segunda fase foi à análise, após a entrevista
que os alunos têm em aprender a trigonometria,
foram desenvolvidas didáticas, utilizando
talvez possam estar na forma como o conteúdo
materiais lúdicos, e de apoio que são utilizados
é abordado nos livros, ou até mesmo a
na vida cotidiana das pessoas, além de material
complexidade que se tem do mesmo. Visto a
didático e de pesquisa, na qual foram utilizados
problemática do processo de aprendizado não
na fase seguinte.
pode ser generalizada professores e/ou escola, mas sim a todo um sistema que a compõe.
A terceira fase, foi a de aplicação sobre as didáticas e questionários, além das observações
Após a aplicação dos materiais de apoio, os
diretas, dentro das salas de aula durante a
alunos responderam no segundo questionário
ministração das aulas dos professores de
que, conseguiram visualizar a importância que
matemática objeto deste estudo.
a trigonometria traz para a vida no cotidiano, relataram que ficou muito mais fácil a
Primeiramente, foram observadas as formas das
compreensão dos assuntos, e que as alternativas
aplicações dos conteúdos trigonométricos por
davam uma melhor visão dos resultados,
parte dos professores e os materiais utilizados,
trazendo soluções de fácil entendimento, uma
em seguida a forma de como os alunos
vez que têm formas mais simples de aprender
atentavam para o conteúdo ministrado e de
a desenvolver as atividades propostas pelos
como desenvolviam as atividades repassadas
livros. Numa visão geral percebendo que a
pelos docentes. Após a aula, foi aplicado o
trigonometria não é tão complexa assim quanto
primeiro questionário tanto para os alunos
parece.
quanto para os professores. Num contexto geral, observa-se que os Posteriormente, foram aplicados materiais
professores buscam apenas repassar os estudos
didáticos não convencionais, e do cotidiano,
matemáticos de forma a cumprir a ementa
utilizando os mesmos conteúdos antes aplicados,
seguindo a didática dos livros, e os alunos que
numa forma descontraída, os alunos brincando
por outra hora, veem esse estudo tão complexo
iam desenvolvendo as atividades, observando sua
e difícil compreensão, buscam, portanto, apenas
funcionalidade e importância.
cumprir o que é determinado pelo docente, com o interesse apenas de passar de ano, para dar
Após a aplicação dos materiais didáticos de
seguimento aos estudos sem antes aprender a
apoio, foi aplicado o segundo questionário,
importância da trigonometria em sua vida.
somente aos alunos. Por fim, na quarta fase
42
foram feitas as de análise das aplicações das
O conhecimento da trigonometria,
didáticas e a coleta dos dados quantitativos e
principalmente no que diz respeito à expressão
qualitativos. Chegando aos seguintes resultados:
gráfica das formas e suas relações matemáticas,
DESAFIOS E IMPLICAÇÕES NO ENSINO DA TRIGONOMETRIA
são de suma importância no que se diz respeito
respostas para os desafios e implicações,
ao desenvolvimento do raciocínio do estudante,
descobrindo maneiras de ensino para que haja
tanto na parte lógica quanto na parte do
uma construção matemática dos alunos, e
cotidiano.
que não importa a escola a qual se encontra, o importante é trazer para eles a curiosidade,
A verdade é que, a trigonometria é um assunto
interesse no desenvolvimento lógico e intelectual.
mal compreendido por todas as partes, pois uns tentam repassar sem saber como, outros tentam
De forma resumida, não são oferecidos aos
receber, entretanto, não sabe o porquê.
educandos as ferramentas básicas para que estes possam desenvolver seu raciocínio lógico
Dificuldades foram encontras durante o estudo,
dedutivo para que possam transcender as fases
mas, foram encaradas como um desafio a ser
de seu desenvolvimento. Segundo (NACARATO,
alcançado, vale ressaltar que a intenção não é
2000) os trabalhos realizados pelos professores
buscar culpados, mas entender o problema no
só apresentam significado para os alunos quando
contexto abordado.
são confrontados com o saber prático dos mesmos.
Esse estudo de caso trouxe resultados e conclusões satisfatórias, visto que, coletar pensamentos de pessoas que convivem com
Referências
esses dilemas pode nos trazer muitas conclusões,
BICUDO, Maria Aparecida Viggiani. Educação
uma das principais são como devemos ver e
matemática organizado, 2ª Ed., Editora: Centauro,
tratar a matemática trigonométrica.
Outubro de 2005.
E finalmente, analisando a parte cognitiva,
FOSSA, J. A. (Org.). Facetas do diamante: ensaios
verificou-se que os alunos não estão aprendendo
sobre educação matemática e história da
da forma que deveriam aprender, e que os
Matemática. Rio Claro, SP: SBHM, 2000.
professores não estão conseguindo repassar de forma eficaz e eficiente os conteúdos. Considerações Finais A trigonometria vem sofrendo mudanças no que se referem as suas aplicações e progresso do conhecimento humano, com o passar do tempo, houve a necessidade de definir esse conhecimento dando oportunidades a todos, daí, a preocupação de como repassar tal conhecimento nas escolas, pelo fato do tabu que a trigonometria é um conceito sem aplicações, e muito difícil de aprender e/ou compreender. É de total responsabilidade do professor, o despertar dos alunos, com relação ao aprendizado da trigonometria, visto que, a matemática é a construção permanente de conceitos, em que cada aluno tem uma maneira diferente de absorvê-lo, basta apenas encontrar
NACARATO, Adair Mendes, PASSOS, Cármen Lúcia Brancaglion. A Geometria nas Séries Iniciais: Uma análise sob a perspectiva da prática pedagógica e da formação de professores. São Carlos: EdUFSCar, 2003. OLIVEIRA, F. C. de. Dificuldades no processo ensino aprendizagem de trigonometria por meio de atividades. 2006. 74 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Matemática) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2006. OLIVEIRA, Liliane Lelis de; VASCONCELOS, Angela Dias, O ensino de geometria nas escolas de nível médio da rede pública da cidade de Guaratinguetá, UNESP- Campus de Guaratinguetá, Departamento de M atemática, 2010.
43
PCC+, Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília, Ministério da educação/ Secretaria da Educação Média e Tecnológica, 2002. PASSOS, Luciano. Um novo “LOOK” para a Matemática publicado em 16/05/2010 disponível em: <http://www.webartigos.com> acessado em: 02 de julho de 2011. VARELA, M. O. S. O espaço matemático: estudo de sua elaboração conceptual no 1º Ciclo do Ensino Fundamental. 2000. 301 f. Tese (Doutorado em Educação Matemática) - Universidade Federal do
44
Rio Grande do Norte, Natal, 2000. Rosimeire Freires Pereira Oliveira - Universidade do Estado do Amazonas - rosimeirefpol@yahoo.com.br Sidney dos Santos Oliveira - Universidade do Estado do Amazonas - sidneyoliveira54@yahoo.com.br
Artigo
Algoritmos Genéticos aplicados na otimização de redes IP Ricardo M. Guimarães, Abner J.V. Matos, Carlos A. A. Mar e Renata da E. Onety Abstract. The current paper presents the use of Genetic Algorithms for optimi-zation in a controlled environment of IP networks. The algorithm has multiple concurrent requests, which have minimum requirements of bandwidth, that si-mulates Quality of Service, assuming multimedia applications. This proposal uses specific genetic operators with elitism to suit the scene being studied. Resumo Neste artigo, será apresentada a utilização de Algoritmos Genéticos para a otimização em um ambiente controlado de redes IP. O algoritmo busca atender a várias requisições simultâneas, que possuem requisitos mínimos de largura de banda, de modo que se simule o atendimento a índices de Qualidade de Serviço, supondo-se aplicações multimídias. A proposta apresentada utiliza operadores genéticos específicos com elitismo para atender o cenário em estudo. Introdução Com o avanço das redes de comunicação (LAN’s, WAN’s, Internet, etc.), o número de usuários tem se multiplicado a cada dia, o mesmo ocorre com os aplicativos. Junto a esse crescimento, surge a necessidade de transmissões mais rápidas e que garantam o mínimo de qualidade, seja Qualidade de Serviço (Quality of Service - QoS) ou Qualidade de Experiência (Quality of Experience - QoE), de modo que se atenda às exigências das aplicações e dos usuários. Contudo, não é suficiente somente aumentar a largura da banda e a velocidade de
trasmissão. É preciso haver também a garantia de entrega e recebimento dos pacotes que trafegam na rede em um determinado tempo, de acordo com cada aplicação utilizada. O protocolo MPLS (MultiProtocol Label Switching), devido ao acréscimo de rótulos no roteamento, permite que seja identificado o caminho explicitamente a ser percorrido pelos pacotes. Dessa forma, é possível mensurar os índices de QoS. Supondo-se o índice de atraso, analogamente ao problema do caminho mais curto, podem ser citados diversos algoritmos, como Dijkstra [Dijkstra 1959] (para pesos entre as arestas não negativos) e Bellman-Ford (para pesos inclusive negativos). Ambos são algoritmos gulosos, ou seja, tomam a decisão que parece ótima no momento. Quando, junto ao menor caminho, tem-se outras restrições, e, além disso, tem-se várias solicitações simultâneas, o ótimo global pode ser encontrado com estratégias diferenciadas. Isso significa que um menor caminho, pode não ser o melhor. Nesse sentido, a fim de otimizar o processo de roteamento e melhorar os níveis de QoS, foi utilizado o Algoritmo Genético. O Algoritmo Genético foi fundamentado inicialmente pelo americano John Henry Holland [Holland 1975], Segundo as palavras do próprio Holland:[Sousa Sobrinho 2014]. “Algoritmos Genéticos são modelos computacionais que imitam os mecanismos da evolução natural para resolver problemas de otimização.”
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Desde então, estes algoritmos vêm sendo aplicados com sucesso nos mais diversos problemas de otimização [Sousa Sobrinho 2014]. Desta forma, neste trabalho, propõe-se um Algoritmo Genético cujo objetivo é encontrar o melhor caminho entre os nós de uma rede de acordo com suas requisições, levando em consideração a largura de banda disponível na rede. Seus elementos representam caminhos entre os nós de origem e de destino. O cruzamento gera novas rotas e a mutação introduz novos cromossomos gerando novas rotas. Deve-se minimizar a função objetivo para se alcançar a melhor rota possível, atendendo às múltiplas requisições sem atingir o limite de banda disponível, e assim, melhorar a QoS. Trabalhos Relacionados A partir das questões de roteamento, juntamente com a Tecnologia MPLS, foram realizadas buscas a fim de se levantar as pesquisas sobre este tema. [Andrade 2008] propõe o provisionamento de QoS em Redes MPLS utilizando algoritmos bioinspirados associados a métodos de busca local, como a Busca Tabu e o método GRASP (Greedy Randomized Adaptive Search Procedure) em um ambiente de tráfego autossimilar. [Santos 2009] propõe a avaliação dinâmica de roteamento em um ambiente MPLS a partir de técnicas multiobjetivo. Procura-se minimizar o custo da rede, atender as diversas requisições do usuário de modo que se possa assegurar a qualidade deste serviço e realizar o balanceamento de carga dos fluxos na rede. Algumas características deste trabalho, como a avaliação dinâmica baseada em técnicas multiobjetivacionais se apresentam como um método favorável à simulação da transmissão de fluxos multimídia. A pesquisa realizada por [Onety et al. 2013] é a referência base do presente artigo. São apresentadas soluções para um problema multi-objetivo de escolha de rotas em redes IP corporativa com tecnologia MPLS. Tais soluções devem apresentar o menor atraso para atender a maior quantidade de requisições simultâneas, de modo que haja um balanceamento na distribuição de carga na rede. A partir da combinação dos Algoritmos Genéticos e Busca em Vizinhança Variável, propõe-se o VN-MGA (Variable Neighborhood Multiobjective
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Genetic Algorithm), no qual a construção do indivíduo possui codificações alternadas em momentos distintos. Dessa maneira, altera-se o espaço de busca e encontram-se novas soluções. Com base nessas pesquisas, será utilizado o mesmo cenário de aplicação de roteamento explícito, com foco apenas nos Algoritmos Genéticos, de modo que se possa extrair índices de Qualidade de Serviço, como o menor atraso entre um conjunto de várias solicitações. Algoritmos Genéticos Segundo [Fernandes 2003], na evolução dos Algoritmos Genéticos, procura-se, a partir de uma população inicial, combinar os melhores representantes de uma determinada população para se obter uma nova população, que substituirá a população anterior. A cada nova iteração é gerada uma nova população, que apresentará novas e melhores soluções para o problema em questão. A Figura 1 representa o diagrama com as operações básicas dos Algoritmos Genéticos. Suas principais etapas são definidas como: • População - É um conjunto de indivíduos com características distintas. Passando por um processo evolutivo a fim de gerar indivíduos melhores que os atuais, o que dá início a uma nova população. Cada indivíduo tem um conjunto de propriedades que pode ser alterado ou mutado. • Avaliação de Aptidão - O valor de aptidão de cada indivíduo da população será calculado através de uma determinada função. Ainda nesta fase, os indivíduos são ordenados conforme sua aptidão. • Operadores Genéticos - Sua principal função é diversificar a população através de várias gerações. A fim de manter certas características das gerações anteriores, utiliza-se um método de conservação dos dados, chamado de Elitismo. Dentre os operadores, podemos citar a Seleção, Cruzamento e a Mutação. Há diversos métodos de seleção, como seleção por Roleta e por Torneio. O processo de sele-ção no algoritmo, tem como função escolher os indivíduos com melhor valor na função objetiva. O Cruzamento e
Algoritmos Genéticos aplicados na otimização de redes IP
a Mutação permitem gerar diversidade entre os indivíduos de uma população, pois através desses operadores, os indivíduos po-derão passar a ter características diferentes, de modo que evoluam para soluções melhores. • Critério de parada - O algoritmo deverá ser executado até que seja atingida uma condição de parada, que pode ser um número fixo de gerações alcançadas (critério utilizado neste trabalho) ou até que o algoritmo convirja. • Retorna melhor indivíduo - Os indivíduos melhores adaptados, ou seja, que possuem melhor valor encontrado de função objetivo, terão maior probabilidade de sobrevivência e reprodução. Dessa forma, retorna-se a melhor solução encontrada pelo algoritmo. Metodologia
A capacidade de banda de cada link (i; j) será representada por Bij. Cada requisição do usuário será representada por (ok; dk; bk), onde ok e dk indicam, respectivamente, os roteadores de origem e de destino do tráfego e bk indica a quantidade de banda necessária para a requisição k. O conjunto de requisições é representado por R. Este problema procurará minimizar o custo da rede, de modo que seja alocada a quantidade de banda necessária por cada requisição e que respeite o limite de banda disponível. O modelo, baseado na proposta de [Onety et al. 2013], pode então ser descrito pela Equação 1. A função objetivo representa a soma de todos os links utilizados para atender a uma requisição k. Quanto menos links forem utilizados, maior será
Para a implementação dos Algoritmos Genéticos, utilizou-se o ambiente Matlab, devido à sua simplicidade de tratamento de dados matriciais
Figura 1. Representação do Algoritmo Genético, correspondente a um conjunto de operações básicas. Ao fim do processo cria-se uma nova população com a melhor soluçao para o problema de otimização.
e representações gráficas. Serão descritas as operações básicas implementadas para que fosse encontrado o melhor caminho nesta proposta. Função Objetivo O grafo que modela a rede a ser otimizada será representado por G = (V; A), onde V representa o conjunto de roteadores do domínio MPLS e A = (i; j) representa o conjunto de enlaces do nó i ao nó j, ou os links existentes entre os roteadores.
a velocidade que os dados trafegarão desde a origem até o destino. Nas restrições, a Equação 2 representa a conservação de fluxo, assegurando que para qualquer fluxo intermediário, a quantidade total de fluxo que entra em um nó deve ser a mesma que sai, exceto nos nós de origem e destino. Na Equação 3, a banda solicitada (bk) para um link (i,j) deve ser menor ou igual à banda disponível. Na Equação 4, é indicado se o enlace Xijk está sendo usado ou não, uma vez que não há divisão de fluxo do tráfego em vários subfluxos. As Equações 5 e 6 representam o domínio das variáveis. Segundo a Equação 5, ak assume os valores 1 ou 0, indicando se a k-ésima requisição foi atendida ou não. O valor de indica o percentual de utilização do link, assumindo valores entre 0 e 1, como indicado na Equação 6. A função objetivo representa a soma de todos os links utilizados para atender a uma requisição k.
T&C Amazônia Ano XI, Número 24, I Semestre de 2014
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Quanto menos links forem utilizados, maior será a velocidade que os dados trafegarão desde a origem até o destino. Nas restrições, a Equação 2 representa a conservação de fluxo, assegurando que para qualquer fluxo intermediário, a quantidade total de fluxo que entra em um nó deve ser a mesma que sai, exceto nos nós de origem e destino. Na Equação 3, a banda solicitada (bk) para um link (i,j) deve ser menor ou igual à banda disponível. Na Equação 4, é indicado se o enlace Xijk está sendo usado ou não, uma vez que não há divisão de fluxo do tráfego em vários subfluxos. As Equações 5 e 6 representam o domínio das variáveis. Segundo a Equação 5, ak assume os valores 1 ou 0, indicando se a k-ésima requisição foi atendida ou não. O valor de indica o percentual de utilização do link, assumindo valores entre 0 e 1, como indicado na Equação 6. Geração de Caminhos e População Inicial Para a construção deste Algoritmo Genético, é informado um conjunto de entradas, con-tendo: 1. As requisições, indicadas pelos nós de origem e destino; 2. A estrutura do grafo, representada pela matriz de adjacências; 3. O custo que existe entre os vértices do grafo; 4. O limite de banda que cada requisição necessita. As requisições são representadas a partir de uma matriz cuja primeira coluna representa a origem da requisição e a última coluna representa o seu destino. Para a construção da população inicial, primeiramente definiu-se a quantidade de indivíduos que se deseja gerar. Um indivíduo consiste em um conjunto de N requisições, compostas pelo número do vértice de origem e de destino do caminho que se pretende gerar. Para os testes, foram utilizados 6 indivíduos combinados com 6 requisições, 6 indivíduos com 12 requisições, 10 indivíduos com 6 requisições e, por fim, 10 indivíduos com 12 requisições. Em seguida, foram gerados caminhos com pesos aleatórios, a fim de se obter uma diversidade dentro da população inicial. De modo geral, o processo de
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gerar o caminho de uma requisição segue os passos ilustrados na Figura 2. Conforme o fluxograma, gera-se um caminho a partir de uma estrutura inicial que guarda os
Figura 2. Representação em fluxograma das etapas para a geração da população inicial.
vértices vizinhos do nó que está sendo verificado. No algoritmo, referenciou-se a estrutura como vetor caminho e vetor disponíveis. O vetor caminho inicia com o vértice de origem (etapa 1). Verifica-se, então, quais são os nós que se deve percorrer (etapa 2) e se guarda esses valores no vetor disponíveis. Posteriormente, escolhe-se um valor aleatório do vetor disponíveis (etapa 3) para ser o novo vértice que será adicionado no caminho. A fim de se evitar ciclos, é necessário fazer uma verificação (etapa 4) para saber se esse nó foi visitado anteriormente. Caso tenho sido visitado, este será retirado do vetor disponíveis e se repete a etapa 3, selecionando novamente um vértice aleatório. Se não for visitado, adiciona-se o vértice no caminho (etapa 5). Todo esse processo se repete enquanto não se chegar ao nó de destino (etapa 6). Seleção Nesta implementação utilizou-se o torneio como seleção para a escolha dos melhores indivíduos da população, onde, aleatoriamente são escolhidos dois indivíduos da população
Algoritmos Genéticos aplicados na otimização de redes IP
inicial. Utilizando-se a taxa de seleção de 75%, escolhe-se o melhor indivíduo, alternadamente, com a escolha do pior indivíduo. Como ponto inicial, é gerado um número entre 0 e 1 para decidir que indivíduo será selecionado. Se este valor for maior que 0.75, então o pior indivíduo, ou seja, aquele que tiver menor valor de aptidão comparado ao outro indivíduo é selecionado. Caso contrário, o melhor é selecionado. A escolha do pior indivíduo traz o benefício da diversidade da população. Cruzamento O processo de cruzamento consiste em basicamente três etapas:
ponto de corte. Caso contrário, a parte que sofrerá cruzamento será a partir da posição sorteada até a posição final do filho. Após essa definição, é feito a troca das partes entres os dois indivíduos sorteados, conforme ilustrado na Tabela 2. Mutação O processo de mutação ocorre dependendo da taxa de mutação definida. Para tal verificação,
Tabela 1. Exemplo da operação de cruzamento. Após 6 indivíduos serem escolhidos para serem pais, escolhe-se dois indivíduos desse grupo e gera-se um número aleató-
1. Escolher os indivíduos: O cruzamento será feito entre dois indivíduos selecionados a partir dos escolhidos pela seleção (pais). 2. Escolher aleatoriamente um ponto de corte: Dado que o indivíduo é um vetor com várias requisições, para que seja realizado o cruzamento, precisa ser decidido em que ponto do vetor será aplicado o ponto de corte. Para isso, é verificada a quantidade de requisições que o indivíduo possui. Então, gera-se um número aleatório que representará a posição de onde será aplicado o corte. 3. Escolher o lado que sofrerá o cruzamento: Definiram-se dois valores para representar a escolha do lado: 0 para o lado esquerdo de 1 para o lado direito. A escolha desses números é feita de forma aleatória. Dependendo do número escolhido, a partir daquele ponto, ou as requisições da esquerda ou as da direita são trocadas. Segundo exemplo da Tabela 1, no processo de seleção, são gerados seis indivíduos para serem pais. Desses indivíduos, 2 serão escolhidos aleatoriamente para passarem pelo processo de cruzamento. Gera-se então, um número aleatório de 1 à quantidade de requisições para definir a posição onde será aplicado o ponto de corte, e logo depois, é sorteado o número 0 ou 1 para definir em qual o lado será feito o cruzamento (0 - esquerdo e 1 - direito). No caso do número sorteado ser 0, a parte do indivíduo que sofrerá cruzamento será a partir da primeira posição até a posição que foi sorteada para ser aplicado o
rio para se decider em que lado será aplicado o corte.
Tabela 2. Representação dos filhos gerados após o cruzamento.
gera-se primeiramente um número aleatório no intervalo de 0 a 1. Se esse valor for maior ou igual a taxa de mutação definida, ocorre mutação, caso contrário, o indivíduo permanece o mesmo, sem alteração alguma. A mutação consiste em escolher um caminho de uma dada requisição, e trocar por um novo caminho. Quando ela ocorre, é executada a seguinte sequência de passos: 1. Escolher um filho de forma aleatória; 2. Escolher uma requisição de forma aleatória; 3. Obter as informações de origem e destino que a requisição escolhida possui; 4. Gerar um novo caminho; 5. Substituir esse caminho pelo anterior. Após passar por todos os operadores genéticos, temos então os filhos resultantes dessa geração.
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Procura-se então qual é o melhor filho dentro desses filhos resultantes, mas para isso, alguns critérios precisam ser analisados. O melhor filho é aquele que possui o menor caminho dentre os outros filhos, e que esse caminho não ultrapasse o limite de largura de banda definido para a rede. Para achar esse filho e fazer essa verificação da banda, utilizou-se o vetor com os filhos gerado e o vetor que guarda o custo de cada caminho de um filho. Como se quer saber qual o custo de banda total que cada filho consome, foi percorrido o vetor de filhos com seus caminhos, guardando esse valor total em um outro vetor. Após alguns testes, observou-se que irão existir casos em que os filhos de uma determinada geração podem ter todos os seus valores totais de banda maiores que o limite. Nesse caso, o melhor filho será aquele que têm o menor caminho. Elitismo O melhor filho de cada geração é guardado dentro de um vetor, em que as posições repre-sentam o número da geração em que se encontrou aquele melhor filho. Porém, precisa-se manter o melhor filho até que um outro melhor
seja encontrado, pois existe a possibilidade do algoritmo genético encontrar um filho inferior ao atual, impactando nas próxima gerações. A Figura 3 mostra a diferença entre não haver (a) e haver (b) elitismo em um Algoritmo Genético. Percebe-se que, na Figura 3 (a), o algoritmo se perde durante as execuções. Já na Figura 3 (b), mostra-se que havendo elitismo, o algoritmo converge muito mais rápido, sem se preocupar com a perda de valores em gerações anteriores. Resultados Obtidos A eficiência do algoritmo desenvolvido nesta pesquisa foi analisada aplicando-se os testes em duas topologias de redes, representadas na Figura 4, variando-se o número de requisições. A quantidade de nós nas redes testadas são 6 e 10, com 6 e 12 requisições simultâneas dentro de um limite de banda no valor de 2500MB. Teste 1: Variação do número de Requisição com 6 nós na Rede Procurou-se analisar os melhores valores que a função objetiva alcançou e também analisar o
Figura 3. Comparação do desempenho do Algoritmo Genético com (a) e sem (b) elitismo. O eixo das abscissas representa os números de gerações. O eixo das ordenadas, representa o valor da função objetiva em cada geração..
Figura 4. Grafo das topologias de rede utilizadas. No grafo (a) está representado uma rede com 6 nós e no (b) uma rede com 10 nós.
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Algoritmos Genéticos aplicados na otimização de redes IP
que ocorre com a função quando aumenta-se o número de requisições. Foram feitos 20 testes, guardando-se o melhor valor de função objetivo alcançado. Ao final, calculou-se a média dos valores obtidos. Neste teste, definiu-se uma rede pequena de 6 nós, variando-se o número de requisições simultâneas entre 6 e 12, como mostra a Tabela 3. As requisições definidas para o teste de 6 nós foram (1 6; 1 5; 2 5; 3 6; 1 4; 1 2). Observando o
Tabela 3. Tabela que informa o desempenho da função objetiva de acordo com o número de nós no grafo (6 nós), com 6 e 12 requisições simultâneas, utilizando 2500MB de limite de banda.
grafo, pode-se definir qual a menor quantidade de saltos que o caminho de uma requisição vai tomar. Baseado nisso, pode-se estimar qual o menor valor que a função objetiva poderá alcançar (neste caso, 10 saltos). Ao comparar a média de valores da função objetiva gerada pelos testes e o melhor valor que a função objetiva pode alcançar, pode-se notar que há uma aproximação muito grande entre esses valores, o que indica que na maioria dos testes, os melhores valores encontrados eram 10 saltos ou estavam próximos deste valor. Com base nisso, sabendo que o índice de atraso é análogo ao caminho mais curto, e que a média dos valores da função objetiva
encontrada é próxima do melhor valor que esse função pode alcançar, o melhor valor do índice de atraso está sendo alcançado. Observa-se também que a média dos valores da função objetiva aumentou quando se aumentou o número de requisições. Isso ocorre pelo fato da função objetiva retornar o somatório dos valores de cada caminho das requisições de um indivíduo, logo, aumentando o número de requisições, aumenta-se também o número de caminhos, ou seja, mais valores a se acrescentar no somatório final, fazendo com que o valor total do indivíduo avaliado pela função objetiva aumente. Os gráficos da Figura 5 são uma amostra de um dos 20 testes realizados, com (a) 6 requisições e (b) 12 requisições, ao longo de 50 gerações. É evidente a utilidade do elitismo, sempre preservando o melhor valor ao decorrer das gerações. Variação do Número de Requisição com 10 Nós na Rede Neste segundo teste, foi analisado o impacto que a quantidade de nós do grafo causa no valor da função objetiva, considerando novamente a variação no número de requisições. A rede definida para este teste possui 10 nós, com 6 e 12 requisições, como mostra a Tabela 4. Como já esperado, o valor da função objetiva aumenta quando o número de requisições passa a ser 12. Porém, observa-se que houve um aumento nos valores médios da função
Figura 5. Gráfico que compara o desempenho da função objetiva em dois testes. No gráfico (a) o algoritmo genético possui um grafo com 6 nós e 6 requisições simultâneas, e no segundo gráfico (b), o algoritmo genético possuí 6 nós e 12 requisições simultâneas. O eixo x corresponde ao número de gerações e o eixo y corresponde ao valor da função objetiva em cada geração.
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Tráfego Auto-Similar. PhD thesis, UFMG. Dijkstra, E. W. (1959). A note on two problems in connexion with graphs. Numerische mathematik, 1(1):269–271. Tabela 4. Tabela que informa o desempenho da função objetiva de acordo com o número de nós no grafo (10 nós), com 6 e 12 requisições, utilizando 2500MB de limite de banda.
objetiva em relação ao primeiro teste com uma rede de 6 nós, como visto na Figura 4. Isso acontece porque no processo de construção de um caminho, são analisadas várias possibilidades (vértice adjacentes) a partir do nó de origem para chegar ao nó destino. Se o número de nós da rede aumenta, consequentemente o número de possibilidades de chegar ao nó de destino aumenta, podendo gerar um caminho final com muitos nós visitados. Como descrito no primeiro teste, o valor da função objetiva retorna o valor do somatório de todos os caminhos de um indivíduo, logo, quando se aumenta a quantidade de nós de uma rede, os caminhos das requisições de um indivíduo passam a possuir mais nós, fazendo com que o valor total dos caminhos da função objetiva aumente. Conclusão e Trabalhos Futuros A utilização dos Algoritmos Genéticos para a quantificação de índices de QoS em redes IP apresenta-se como uma metaheurística capaz de representar os requisitos de atraso, com limitação de largura de banda. Como possíveis trabalhos futuros, pretende-se realizar a implementação de um algoritmo utilizando métodos exatos, a fim de se garantir a precisão do método heurístico proposto. Pretende-se também testar o método desenvolvido em uma topologia de rede maior e com maior número de requisições. Dessa forma, pode-se aproximar a simulação das situações reais de redes IP, justificando-se a real necessidade da utilização de métodos heurísticos. Referências Andrade, A. V. (2008). Provisionamento de Qualidade de Serviço em Redes MPLS utilizando Algoritmos Bio-inspirados em um Ambiente de
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Fernandes, A. M. d. R. (2003). Agentes inteligentes. Inteligência Artificial, Noções Gerais. Florianópolis: Visual Books, pages 85–113. Holland, J. H. (1975). Adaption in natural and adaptive systems. Onety, R. E., Tadei, R., Neto, O. M., and Takahashi, R. H. (2013). Multiobjective optimi-zation of mpls-ip networks with a variable neighborhood genetic algorithm. Applied Soft Computing, 13(11):4403–4412. Santos, F. A. (2009). Otimização Multiobjetivo aplicada a alocação dinâmica de rotas em redes de telecomunicações. Master’s thesis, UFMG. Sousa Sobrinho, P. d. (2014). Algoritmos genéticos canônico e elitista: uma abordagem comparativa. Ricardo M. Guimarães - Faculdade Fucapi - ricardommoraes@gmail.com
Abner J.V. Matos - Faculdade Fucapi - abnerjvmatos@ gmail.com Carlos A. A. Mar - Universidade do Estado do Amazonas - carlos.augusto.mar@gmail.com Renata da E. Onety - Universidade do Estado do Amazonas - ronety@uea.edu.br
Artigo
Estudo das propriedades magnéticas do nanocompósito Mn3O8 / Fe3O4 para aplicação em remediação ambiental. Leonardo Fernandes Farias, Wallace Sant’anna, Isabel Cristina Souza Dinóla, Francisco Dinóla Neto, Igor Tavares Padilha e Gabriela Cordeiro Silva.
Resumo
knowledge is essential to the development of
Nanotecnologia é uma área multidisciplinar
new materials and new devices. It is important
cujo pleno conhecimento é fundamental para
to mention that the size of the material is
o desenvolvimento de novos materiais e novos
relevant, since the decrease it, new properties
dispositivos. É importante citar que o tamanho
are observed, properties that can be very useful.
do material tem relevância, uma vez que ao
Nevertheless, as we know, the decontaminated
diminuí-lo, novas propriedades são observadas,
water is essential for human health and is also
propriedades que podem ser muito úteis. Como
essential raw material in a variety of industries
sabemos, a água descontaminada é essencial
including electronics, pharmaceuticals and food.
para a saúde humana e também é matéria-
One of the main promises of nanotechnology
-prima essencial em uma variedade de indústrias
and which will be the focus of this work will be
incluindo eletrônica, produtos farmacêuticos
its use for environmental remediation. The use
e alimentos. Uma das principais promessas da
of nanomaterials has become an important tool
nanotecnologia e que será o principal foco desse
in remediation activities, as well as control and
trabalho será a sua utilização para remediação
monitoring of water. In this paper, we study the
ambiental. O uso de nanomateriais tem se tor-
magnetic behavior of the magnetic composite
nado uma ferramenta importante em atividades
formed by manganese oxide (Mn3O8) and
de remediação, como também de controle e
magnetite (Fe3O4) through hysteresis curve that
monitoramento de água. No presente trabalho,
will be used in the treatment of wastewater.
estudaremos o comportamento magnético do compósito magnético formado pelo óxido de
Key-words: nanotechnology, environmental
manganês (Mn3O8) e pela magnetita (Fe3O4),
remediation, magnetic composite manganese
através de curvas de histerese, que será usado no
oxide, magnetite, hysteresis.
tratamento de águas residuais. Introdução Palavras-chaves: nanotecnologia, remediação
O mundo vem enfrentando um enorme desafio:
ambiental, compósito magnético, óxido de
de um lado está a crescente demanda por quali-
manganês, magnetita, histerese.
dade e quantidade de água limpa; de outro está a carência cada vez maior de fontes disponíveis
Abstract
de água doce. Temos a necessidade de aplicação
Nanotechnology is a multidisciplinary field whose
de tecnologias cada vez mais eficientes, capazes,
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com maior rapidez e menores custos, de detectar,
representa uma barreira para a aplicação em pro-
quantificar e remediar a contaminação da água
cessos de remediação ambiental e tratamento de
em casos de poluição química.
grandes volumes de solução aquosa. O esquema de funcionamento da separação magnética pode
Aliado a este cenário, leis ambientais rigorosas
ser observado na figura 2.
tem estimulado o desenvolvimento de materiais e métodos para o tratamento de soluções aquosas contaminadas. Um desses métodos é através do processo de adsorção, que está frequentemente envolvido em tecnologias aplicadas para tratamento de água. No contexto do método da adsorção, as características desejadas são que o adsorvente deva ser de baixo custo, ter considerável capacidade de absorção de contaminantes presentes em um meio aquoso e/ou ser facilmente recuperado. O desempenho de adsorventes também está associado com o tamanho das partículas: partículas menores possuem grandes áreas superficiais, aumentando a área de contato com os poluentes. Recentemente, adsorventes nanométricos, foram concebidos e avaliados tendo em vista a sua
magnéticas aplicadas para remoção de contaminantes no meio aquoso. Fonte: Tese Ruth Luquese Camilo, São Paulo, 2006.
O funcionamento tem início quando as partículas magnéticas, representadas pelas esferas cinzas, são introduzidas em um recipiente contendo metais pesados, representados pelos pontos vermelhos, em baixas concentrações. As partículas magnéticas se ligam aos metais através de
capacidade de absorção superior nestes sistemas.
propriedades químicas, como a adsorção. Como
A técnica de separação magnética tem sido usada
magnético aplicado, representado na figura pelos
para diversas aplicações em áreas como bioquímica, química analítica, mineração e engenharia ambiental, por ter a vantagem de ser rápida e de fácil aplicação. Compósitos magnéticos podem ser convenientemente recuperados por separação magnética, evitando os passos de filtração, o que
Figura 1–Cataratas do Iguaçu. Fonte: www.cataratasdoiguacu.com.br
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Figura 2 Esquema de funcionamento de nanopartículas
essas partículas apresentam resposta ao campo imãs em forma de “U”, as nanopartículas podem ser imobilizadas e armazenadas como rejeito. Com o propósito de separar o cádmio, que é um metal pesado, de um meio aquoso, um compósito nanométrico foi produzido. Muitos
Estudo das propriedades magnéticas do nanocompósito Mn3O8 / Fe3O4 para aplicação em remediação ambiental
materiais podem ser utilizados para a fabricação
Referencial Teórico
desses nanocompósitos, dentre eles, pode-se
Magnetismo - Domínios Magnéticos
destacar o uso de magnetitas (Fe₃O₄), já que
O magnetismo é uma propriedade básica de
podem ser facilmente produzidas, com baixo
qualquer material e têm origem na estrutura
custo e também disponibilizados no mercado,
eletrônica dos átomos. Assim, todo material
além de não apresentarem substâncias tóxicas
apresenta características próprias quando sub-
em sua composição. Entretanto, é muito raro
metido a um campo magnético externo H. Como
encontrar nanopartículas magnéticas com a
pode ser observado na figura 3(a), em materiais
finalidade de imobilizar metais pesados formadas
magnéticos macroscópicos, existem grandes
puramente por magnetitas. Dependendo do
regiões com magnetização uniforme que são se-
objetivo da aplicação, é normal haver mistura
paradas por paredes. Essas regiões com a mesma
com outro material, de forma que outras novas
orientação magnética são chamados domínios
características sejam geradas, mas de forma
magnéticos. Essas paredes, que separam esses
que a particularidade magnética seja mantida.
dois domínios com sentidos e direções diferentes
Se o objetivo for aplicá-la no meio ambiente, é
são denominadas paredes de domínio.
comum a criação de nanopartículas compostas por magnetita e óxido de manganês já que esse
De modo geral, dependendo das orientações
material consegue facilmente se atrair e ligar
magnéticas de cada domínio, podemos ter um
com diversos poluentes. Nesse sentido, o foco
material que não apresenta uma ordem magné-
deste trabalho é estudar as propriedades magné-
tica macroscópica, pois uma região pode anular
ticas desta combinação de materiais, magnetita +
o efeito da outra. Quando aplicamos um campo
óxido de manganês.
magnético externo, alinhamos as orientações magnéticas dessas regiões paralelamente, na mesma direção e sentido, e obtemos um imã. (Ver figura 3(b) e 3(c) ). Na natureza, existem materiais que na presença de um campo magnético são capazes de se tornarem imãs, de intensidade fraca ou forte. De acordo com sua capacidade de atração podemos classificá-los de modo geral como:
• Diamagnéticos;
• Paramagnéticos;
• Antiferromagnéticos;
• Ferromagnéticos.
No diamagnetismo, os átomos na presença de um campo magnético externo alinham-se no sentido oposto ao campo aplicado, apresentando valores reduzidos e negativos de susceptibilidade magnética, ou seja, apresentam uma resposta contrária ao campo. Exemplos: vários metais como cobre (Cu), prata (Ag), mercúrio (Hg), Figura 3 – (a) Regiões com diferentes domínios magnéticos. (b) e (c) Domínios magnéticos de um ferromagneto aliando-se com um campo magnético externo crescente.
bismuto (Bi), ouro (Au), berílio (Be); a maioria dos não metais, como boro (B), silício (Si), fósforo (P), enxofre (S); gases nobre e muitos íons.
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Comparando com as outras classificações, o
como pode ser observado na figura 4. Essa curva
material diamagnético é o que apresenta a mais
mostra a tendência de um material de conservar
fraca resposta magnética.
suas propriedades magnéticas na ausência de um estímulo que as gerou e é o que melhor
Quando um material é classificado como
caracteriza o material.
paramagnético, significa que na presença de um campo magnético, apresenta baixos e positivos
Quando o campo magnético aplicado em um
valores de resposta magnética. Exemplos: Alguns
material ferromagnético for aumentado até a
metais, como cromo (Cr), manganês (Mn),
magnetização atingir um valor de saturação
alumínio (Al), platina (Pt). Como seus elétrons
(Ms) e em seguida for diminuído, a densidade de
estão desemparelhados, ao aplicar o campo, os
fluxo magnético B não diminui tão rapidamente
elétrons irão se alinhar, surgindo um imã de
quanto o campo H. Dessa forma quando H chega
baixa intensidade. Estes materiais são dificilmen-
a zero, ainda existe uma densidade de fluxo
te atraídos por imãs.
magnético remanescente, Br. Para que B chegue a zero, é necessário aplicar um campo negativo.
Nos materiais antiferromagnéticos, os átomos
Se H continuar aumentando no sentido negativo,
possuem momentos de dipolo permanentes que
o material é magnetizado com polaridade oposta.
interagem entre si, alinhando-se antiparalela-
A redução do campo novamente a zero deixa
mente. Este alinhamento só desaparece acima de
uma densidade de fluxo remanescente, -Br, e,
uma temperatura crítica chamada de tempera-
para reduzir B a zero, deve-se aplicar uma campo
tura de Néel, porém, na presença de um campo
no sentido positivo. Aumentando-se mais ainda
magnético externo alinham-se na direção e
o campo, o material fica novamente saturado,
sentido do campo aplicado, apresentando valores
com a polaridade inicial. Alguns parâmetros
reduzidos e positivos de resposta magnética.
importantes podem ser obtidos desta curva:
Temos como exemplo muitos compostos de
campo coercivo (Hc), magnetização de saturação
metais de transição.
(Ms) e permeabilidade (B/H).
Os átomos em um material ferromagnético, possuem dipolos permanentes que interagem entre si causando alinhamento paralelo, que só desaparece acima de uma temperatura crítica, chamada de temperatura de Curie, e quando na presença de um campos externo alinham-se na direção e no sentido do campo aplicado, apresentando valores altos e positivos de susceptibilidade magnética. Temos como principais exemplos ferro (Fe), cobalto (Co) e o níquel (Ni). Estes materiais tem a capacidade de serem atraídos por imãs e mesmo quando tiramos o campo, eles continuam tendo a capacidade de
Figura 4 – Esquema ilustrativo de uma curva de histerese.
continuarem sendo atraídos, são chamados de imãs permanentes. Aproveitando-se desse fato, a nanotecnologia
56
Podemos investigar o comportamento magnético
tem ganho cada vez mais destaque no cenário
do material através de medidas de magnéticas
científico, uma vez que se utiliza das reações dos
que geram uma curva chamada de histerese,
materiais para gerar um efeito desejado.. 2.2
Estudo das propriedades magnéticas do nanocompósito Mn3O8 / Fe3O4 para aplicação em remediação ambiental
Superparamagnetismo
a fabricação de partícula magnéticas com
Ao se diminuir o tamanho da matéria, é verifica-
aplicação na remediação ambiental, dentre eles,
do que o material apresenta novas característi-
podemos destacar o uso da magnetita (Fe₃O₄).
cas, como por exemplo o superparamagnetismo.
A magnetita é um óxido de ferro magnético de
Como anteriormente citado, os materiais são
valência mista com estrutura cúbica de espinélio
formados por regiões denominadas domínios
inverso, e sua estrutura cristalina pode ser
magnéticos. Quando reduzimos o tamanho
observada na figura 6.
destes domínios até um tamanho crítico, em que abaixo deste perde suas propriedades magnéticas, temos os chamados monodomínios magnéticos. A representação esquemática é vista na figura 5.
Figura 6 – Estrutura cristalina da magnetita. Fonte: Quím. Nova, vol. 36, nº. 1, São Paulo, 2013.
Óxido de Manganês Figura 5– (a) Regiões com diferentes domínios magnéticos. (b) Com a redução de tamanho dos domínios, abaixo de um tamanho crítico, temos os monodo mínios
Manganês puro é o terceiro metal de transição mais abundante da terra e o 10º elemento químico mais abundante na crosta terrestre. É um metal branco cinzento distribuído em diversos
Partículas superparamagnéticas apresentam
ambientes geológicos, encontrando-se na forma
magnetização, ou seja, respondem apenas na
de óxidos, hidróxidos, silicatos e carbonatos (Ver
presença de um campo magnético externo.
figura 7). Os óxidos de manganês são altamente
Quando retirado o campo magnético, a partícula
ativos quimicamente e fortes removedores de
não permanece magnetizada e não é observado
metais pesados, o que é de interesse para o
nenhum tipo de magnetização residual. Esta
nosso estudo.
propriedade está diretamente ligada ao tamanho da nanopartícula magnética. O controle do tamanho das nanopartículas durante a síntese é extremamente importante para aplicações tecnológicas. Como este trabalho está mais focado na utilização desses materiais do que na sua produção, não serão citados os processos de produção. Material magnético: Magnetita – Fe3O4 Muitos materiais podem ser utilizados para
Figura 7 – Metal manganês. Fonte: www.infoescola.com
57
Figura 8 – Ilustração da síntese do compósito magnético
As medidas de magnetização foram obtidos através do Magnetômetro de Amostra Vibrante e é baseado na alteração que ocorre no fluxo magnético de uma bobina quando esta se aproxima de uma amostra vibrante, que está sob a ação de um campo magnético uniforme aplicado. Observamos diferentes comportamentos magnéticos nas amostras analisadas. Na figura 9, a magnetita comercial (amostra
Figura 11 – Curva de histerese da magnetita comercial com a adição do óxido de Manganês, amostra 3.
1), observamos uma resposta de uma material
adsorção do cádmio, ver figura 12, que é um
ferromagnético, com uma pequena abertura
metal não magnético, observamos um pequeno
na curva de histerese. Isto é uma indicação que
aumento na resposta magnética obtida pelo
temos parte do material na escala nanométrica.
mesmo tipo de medida, com magnetização de
Observamos uma magnetização de saturação de
saturação de aproximadamente 24 emu / g.
aproximadamente 134 emu / g. Isto é devido a um tipo de mudança estrutural
58
Com a adição de Mn3O8 com a magnetita
no compósito causado pela alta reatividade do
comercial, obtemos um compósito (amostra
cádmio. Nesse processo, a formação de íons de
3). Observamos uma mudança na curva de
cádmio proporciona um rearranjo do cluster,
histerese: o sinal magnético diminuiu uma ordem
levando a uma diminuição da blindagem de
de grandeza, com magnetização de saturação
Mn3O4 por cima da magnetita previamente
de aproximadamente de 13 emu / g. Depois da
observada.
Figura 10 – Curva de histerese da magnetita comercial,
Figura 12 – Curva de histerese do compósito depois da
amostra 1.
adsorção do Cádmio, amostra 4.
Estudo das propriedades magnéticas do nanocompósito Mn3O8 / Fe3O4 para aplicação em remediação ambiental
Compósito Magnético
béquer utilizando magnetos (imãs). 2. 6 Cádmio
O objeto de estudo desse trabalho é um compósito magnético que foi fabricado combinando a
O cádmio (Cd) é um dos elementos químicos
magnetita com o óxido de manganês (Ver figura
mais tóxicos para os seres humanos, mesmo em
8). Além das propriedades químicas dos mate-
baixas concentrações. A exposição ao cádmio
riais relacionados, como da adsorção precisamos
nos humanos ocorre geralmente através de duas
também das propriedades físicas, como a boa
fontes principais: a primeira é por via oral (por
resposta magnética e o superparamagnetismo,
água e ingestão de alimentos contaminados), e a
obtida somente se o compósito estiver na escala
segunda por inalação. Como ele é um elemento
nanométrica.
do grupo dos metais pesados e é organocumulativo, pode ser depositado em vários tecidos do corpo, causando doenças graves. Esse metal tem sido utilizado em várias atividades industriais como a fabricação de liga, fundição, galvanoplastia, pigmentos, plásticos e baterias. A sua contaminação pode ser dada pela poluição da água e do solo. Com o aumento da geração de águas residuais é essencial estudar alternativas e desenvolver novas tecnologias de tratamento que sejam
Figura 8 – Ilustração da síntese do compósito magnético
economicamente viável e atender os limites da legislação em vigor para a eliminação de cádmio.
O esquema de funcionamento do método de separação magnética apresentado na figura 2
Metodologia
pode ser visto na prática na figura 9, onde o
Recebemos, via correio, amostras da pesquisado-
compósito inicialmente disperso em uma solução
ra Gabriela Cordeiro Silva do Centro Federal de
aquosa, pode ser imobilizado nas paredes do
Educação Tecnológica – CEFET – Belo Horizonte – Minas Gerais. Foi realizado no Centro de Laboratórios da FUCAPI o ensaio de varredura dos metais existentes na amostra pela a técnica de Espectrometria de Raio X para verificação da composição das amostras recebidas. Verificamos as respostas magnéticas das amostras bem como se as mesmas eram superparamagnéticas, através de medidas de magnetização no VSM (Magnetômetro de Amostra Vibrante) no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Resultados Nas 4 amostras que nos foram enviadas verificamos a composição de cada uma através da técnica de Espectrometria de Raio X. Os
Figura 9 – Compósito magnético em meio aquoso sob a ação de um campo magnético.
resultados com as respectivas composições se encontram na Tabela 1.
59
Conclusões e perspectivas
sugere uma espécie de mudança estrutural no
Com base no comportamento magnético das
compósito causada pela alta reatividade do
diferentes das amostras, podemos concluir que
cádmio. Futuras investigações são necessária
a magnetita comercial (Fe3O4) apresentada
para entender melhor como adsorção Cd pode
uma resposta magnética típica de um material
levar a uma redução na blindagem de Mn3O8
ferromagnético resultando em uma magnetiza-
sobre a magnetita.
ção de saturação de cerca de 134 emu / g. Para o compósito (Mn3O8 / Fe3O4), a curva de histerese
Agradecimentos
apresentou mudança e o sinal magnético dimi-
Ao grupo de pesquisa Materiais Cerâmicos, do
nuiu uma ordem de grandeza, com a magnetiza-
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
ção de saturação perto de 13 emu / g. Podemos
Gerais que sintetizou e cedeu estes compósitos
concluir que após adição do óxido de manganês,
para estudo. A pesquisadora Dra. Elisa Saitovitch
a resistência à desmagnetização é menor. Esta
no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)
observação nos leva a acreditar que o óxido de
que deu suporte necessário para realização das
manganês age como um escudo diminuindo o
medidas de magnetização. Ao PhD. Stephen
caráter ferromagnético do material, no entanto,
Rowley pelas idéias e discussões durante sua
o compósito formado continua magnético, o que
visita a faculdade FUCAPI.
muito importante para a aplicação. Referências Após a adsorção de cádmio, um metal de transi-
60
ção não-magnético, houve um pequeno aumento
CAMILO, Ruth Luquese. Síntese e caracterização
na magnetização de saturação, que apresentou
de nanopartículas magnéticas de ferrita de cobal-
um valor de cerca de 24 emu / g. Este resultado
to recobertas por 3-aminopropiltrietoxissilano
Estudo das propriedades magnéticas do nanocompósito Mn3O8 / Fe3O4 para aplicação em remediação ambiental
para uso como material híbrido em nanotecno-
SILVA, Gabriela Cordeiro. Mecanismo de
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Isabel Cristina Souza Dinóla - Faculdade Fucapi isabelcbpf@gmail.com Francisco Dinóla Neto Uninorte -dinollaneto@gmail.com
Oxford: Elsevier, 2009; SCHULZ, Peter A. B. O que é a nanociência e para que serve a nanotecnologia? Física na Escola, v.6, p.58-62, 2005;
Igor Tavares Padilha - Universidade Federal do Amazonas - igorfispadilha@gmail.com Gabriela Cordeiro Silva - Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - gcsilva25.gc@gmail.com
61
Artigo
Estudo de Prospecção Química dos Extratos de Espécie Vegetais com Potencial Inseticida da Amazônia Bianca Cristina Pinto Hassan, Elba Vieira Mustafa e Mirian dos Santos
Resumo
Abstract
O Brasil é o país com a maior diversidade gené-
Brazil is the country with the greatest plant
tica vegetal do mundo, magnitude da biodiversi-
genetic diversity in the world, magnitude of
dade brasileira não é conhecida com precisão tal
Brazilian biodiversity is not accurately known
a sua complexidade, estimando-se a existência
as its complexity, it is estimated that there are
de mais de dois milhões de espécies distintas de
over two million different species of plants,
plantas, (Dias, 1996). Neste trabalho foi realizado
(Dias, 1996). In this work extraction plant species
extracão de espécies vegetais usando técnicas de
using maceration techniques, techniques will
maceração, as técnicas serão empregadas para
be employed for a number of species, in view
um determinado número de espécies, tendo em
of the variety of species of flora that Amazon
vista a grande variedade de espécies da flora
still without study and point having a larvicidal
Amazônica que ainda permanecem sem estudo
potential, pesticide, fungicide proven, the plant
e apontam ter um potencial larvicida, inseticida,
extracts involve a number of important aspects
fungicida já comprovado, Os extratos vegetais
of which is own inter and multidisciplinary
envolvem inúmeros aspectos importantes um de-
character, on the one hand, represents problems,
les é próprio caráter inter e multidisciplinar que,
obstacles and care; secondly, allows researchers
se por um lado, representa problemas, obstáculos
have broader knowledge and those obtained
e cuidados; por outro, permite aos pesquisadores
rich in specific lines of research in this way, the
terem conhecimentos mais amplos e ricos que
analysis screnning promotes phytochemical
aqueles obtidos em linhas específicas de pesqui-
studies, as an alternative for groups of secondary
sa, desta forma, a análise de screnning promove
metabolites, also including species with the same
estudos fitoquímicos, como uma alternativa
potential, still no study that this work will be
para obter grupos de metabólitos secundários,
submitted to phytochemical screening through
contemplando também espécies com o mesmo
qualitative tests.
potencial, ainda sem estudo, que neste trabalho serão submetidas à triagem fitoquímica, por meio de testes qualitativos. Palavras-chave: Extração, Fitoquímicos, Vegetal.
62
Keywords: Extraction, Phytochemicals, Plant. Introdução Várias substâncias são extraídas dos vegetais, muito delas são responsáveis pela aplicabilidade
Estudo de Prospecção Química dos Extratos de Espécie Vegetais com Potencial Inseticida da Amazônia
na alimentação e na saúde, fato esse, que tem
Na defesa direta estão envolvidas substâncias
sido o estímulo ao desenvolvimento do estudo
como sílica, metabólitos secundários, enzimas
químico de muitas plantas. Estima-se que na
e proteínas, além de órgãos como tricomas e
Amazônia existem um total 350.000 e 550.000
espinhos que afetam diretamente a performance
espécies vegetais, Flores, folhas, cascas, rizomas
do inseto. Na defesa indireta estão envolvidas
e frutos, matérias-primas para produção de
substâncias emitidas pela planta, que atraem pa-
fitofármacos e fitoterápicos (Santos, 2007). Esses
rasitas e predadores do inseto fitófago. Terpenos
produtos possuem grande aplicação na perfuma-
e fenilpropanóides voláteis sintetizados por es-
ria, cosmética, alimentos e como coadjuvantes
pécies vegetais podem ter, dependendo do inseto
em medicamentos, são empregados principal-
em análise, propriedades atrativas (alimentação,
mente como aromas, fragrâncias, fixadores de
polinização) e/ou deterrentes e inseticidas. Nos
fragrâncias, em composições farmacêuticas e
últimos anos, óleos essenciais obtidos de plantas
orais e comercializados na sua forma bruta ou
têm sido considerados fontes em potencial de
beneficiada, a diversidade química produzida
substâncias biologicamente ativas. Ênfase tem
pelos organismos vivos. Plantas, são organismos
sido dada às propriedades antimicrobiana, anti-
que co-evoluem com insetos e outros microor-
tumoral e inseticida de compostos voláteis, além
ganismos, são fontes naturais de substâncias
de sua ação sobre o sistema nervoso central.
inseticidas e antimicrobianas, já que as mes-
Dessa maneira tem crescido a busca por extratos
mas são produzidas pelo vegetal em resposta
vegetais e substâncias naturais que sejam efe-
a ataques patogênicos, inúmeras substâncias
tivas no combate de insetos e pragas que sejam
acumulam-se no vegetal para sua defesa contra
isentas de toxicidade para o ambiente.
microorganismos.
Material e métodos
Tem-se observado nas últimas décadas um
a) Coleta e Identificação da Amostra: A coleta
grande avanço científico no estudo dos vegetais,
das espécies, Vindicá (Alpinia zerumbet), Citro-
isto porque, os processos vitais de biossíntese
nela (Cymbopogon nardus ), Pitanga (Eugenia
são os responsáveis pela formação, acúmulo e
uniflora L.), Piperaceae (Piper nigrum), Pobre-ve-
degradação de inúmeras substâncias orgânicas
lho (Costus spicatus), foi realizada no município
no interior das células que formam os diversos
de Manaus, em locais próximos a residência dos
tecidos dos organismos animais e vegetais. Isto
colaboradores desse projeto e no departamen-
tem sido estímulo ao desenvolvimento do estudo
to de botânica do INPA, onde tambem foram
de muitas plantas, dentro do âmbito da química
identificadas.
orgânica, objetivando o estudo das estruturas e da química destes compostos que são extremamente amplos e diversificados (Santos, 2002), segundo Simões (2001), atualmente os estudos fotoquímicos abrangem a utilização de vegetais, e não apenas a plantas medicinais, para obtenção ou desenvolvimento de medicamentos, é comum o pensamento de que as plantas medicinais de uso tradicional já foram testadas, levando assim, ao uso inadequado e abusivo. As plantas sintetizam e emitem inúmeros compostos voláteis (ácidos, aldeídos e terpenos) para atrair polinizadores e se defender de herbívoros. No que concerne à defesa contra herbívoros, as plantas desenvolveram dois tipos de defesa, a direta e a indireta.
b) Secagem, Pesagem e moagem: O material vegetal após secagem foi pesado obtendo de 0,5 ou 1,0 kg no máximo de massa seca, cortados e triturado em moinhos de facas industrial e liquidificador industrial e/ou doméstico, parte no laboratório de Tecnologia Química de Produtos Naturais LTQPN/INPA, parte no laboratório multidisciplinar da FUCAPI. c) Extração (Maceração / Infusão / Decocção): Nesses métodos de extração o material foi submetido ao solventes etanol, metanol, água. Para extração por maceração utilizou-se Etanol e Metanol, deixando extrair por 7 dias em recipiente fechado em temperatura ambiente, e
63
posteriormente filtrado. No método de infusão: o
filtrou-se para um tubo de ensaio. a solução foi
matéria vegetal permaneceu 30 minutos em água
agitada permanentemente por 3 minutos e em
fervente num recipiente tapado, na decocção: o
seguida observada a formação de espuma.
material vegetal ficou em contato com a água em ebulição, também por 30 minutos. d) Destilação e liofilização: Na operação de destilação um líquido será aquecido e levado à ebulição em aparelhagem adequada, seus vapores são condensados e recolhidos, sobrando somente ceras, graxas e resinas no balão. Para a liofilização os extratos concentrados foram congelados a uma temperatura bem baixa, depois submetidos a uma pressão negativa (vácuo), fazendo com que a água dos produtos seja retirada por sublima-
4) Alcalóides – (Teste de turvação
e/ou precipitação) - Para cada amostra foram pesadas em um beckér 0,01g ml do extrato seco, dissolvendo-os em 20 mL de H2SO4 a 1%, para que fossem fervidos por 2 minutos, ao final foram filtrados em algodão para um tubo de ensaio, após o tempo de resfriamento foram acrescentados duas gotas do reagente de Bertrand para a verificação da presença de alcalóides.
ção, tendo como resultado final um produto de
Resultados e Discussão
estrutura porosa livre de umidade.
As plantas medicinais da Amazônia sempre foram
e) Identificação e armazenamento das amostras: As amostras liofilizadas foram armazenadas e identificadas em potes plásticos descartáveis 250g e mantidos em refrigeração, para que a amostra desidratada não absorva umidade. e) Prospecção de constituintes na planta:
1) Esteróides /triterpenóides
(reação de Lieberman Burchard : anidrido acético + ácido sulfúrico concentrado) - Foram misturados 2 ml do extrato a 2 ml de clorofór-
de uso dos povos indígenas, das comunidades ribeirinhas e da população com baixo poder aquisitivo, o conhecimento tradicional dos empíricos adquiridos de seus ancestrais, deixam uma grande contribuição para a ciência. O uso de plantas medicinais pela população mundial tem sido muito significativo nos últimos anos desempenha um papel fundamental no contexto econômico, social e cultural das populações tradicionais amazônicas, muitas vezes constituindo-se a única fonte de recursos para a sua sobrevivência.
mio, em seguida filtrou-se a solução clorofórmica gota a gota em um funil com algodão coberto
1. Vindicá (Alpinia zerumbet).
com alguns decigramas de Na2SO4 anidro. Em
Metodologia: maceração e infusão
tubo de ensaio, adicionou-se 1 ml de anidrido
Toxicidade: não comprovada
acético, agitando suavemente, e acrescentando
Principais atividades: antiamebiana, antiteratogênica, anti-helmíntica, citoprotetora, antiparasitária, antiproliferativa
em seguida três gotas de H2SO4 concentrado cuidadosamente, agitando suavemente e observando, desenvolvimento de cores.
2) Taninos – ( reação com clore-
to férrico) - Foram adicionados três gotas de solução alcoólica de FeCl3 em um tubo de ensaio contendo 2 ml do extrato, agitando fortemente, observando qualquer variação de cor.
2. Citronela (Cymbopogon nardus). Metodologia: maceração Toxicidade: não comprovada Principais atividades: citoprotetora, antiparasitária, antiproliferativa , repelente.
3. Pitanga (Eugenia uniflora L.).
64
3) Saponinas – ( teste de espuma)
Metodologia: maceração e decocção
- Foram adicionados 2 ml do extrato, 2 ml de
Toxicidade: não comprovada.
clorofórmio e 5 ml de água destilada, em seguida
Principais atividades: citoprotetora, antimicrobia-
Estudo de Prospecção Química dos Extratos de Espécie Vegetais com Potencial Inseticida da Amazônia
Tabela 1. Triagem fitoquímica por prospecção preliminar.
na, antiproliferativa , repelente.
atuam na defesa contra fungos, bactérias, larvas, insetos e que ao mesmo tempo com viabilidade
4. Piperaceae (Piper nigrum).
econômica e baixo impacto ambiental podem
Metodologia: infusão e decocção
se tornar uma alternativa pertinente a demanda
Toxicidade: não comprovada
da região amazônica no combate a endemias e
Principais atividades: citoprotetora, antibacteriano, antifúngico , inseticida.
pragas causadas pelos mais diversos insetos e microorganismos. Referenciais Bibliográfico
5. Pobre-velho (Costus spicatus).
DE SOUZA, Gustavo Henrique Bianco; DE MELO,
Metodologia: infusão e decocção
João Carlos Pallazo; LOPES, Norberto Peporine
Toxicidade: não comprovada
(Organizadores). Farmacognosia: Coletânea Cien-
Principais atividades: citoprotetora, antibacteriano, antifúngico, inseticida.
tífica. Ouro Preto, 2012. DI STASI, L. C. Plantas medicinais: arte e ciência. Um guia de estudo interdisciplinar. São Paulo:
Segundo literatura (Souza, Et al. 2012) também atuam sobre membranas celulares, repelentes, deterrentes alimentares e de oviposição, inibidores de crescimento, esterilizantes e toxinas, que formam uma vasta defesa química contra insetos e microrganismos invasores. Conclusão A prospecção preliminar dos extratos vegetais possibilitou o estudo dessas classes de metabólitos com princípios ativos biológicos, a metodo-
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logia em questão as análises laboratoriais evi-
SANTOS, E. M. Floristica Etnobotânica e Tipa-
denciaram extratos vegetais e seus constituem
gem Fitoquímica de espécies medicinais de uso
os processos bioquímicos, que especificamente
popular nos cerrados dos municípios de Caxias e
65
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da população. Cadernos de saúde pública, 2004, Vol.20(6), pp.1447-57.
Bianca Cristina Pinto Hassan - Faculdade Fucapi biancahassann@gmail.com
ASSUNÇÃO, Gilson Vitorino de. Caracterização química e avaliação da atividade larvicidafrente a Aedes aegypti do óleo essencial da espécie Citrus sinensis L. Osbeck (laranja doce)/ Gilson Vitorino de Assunção. São Luís, 2013. N. L. A. da Silva¹, F. A. A. Miranda; & G. M. da Conceição. Triagem Fitoquímica de Plantas de Cerrado, da Área de Proteção Ambiental Municipal do Inhamum, Caxias, Maranhão. Caxias – MA, 2010. Láiza Cristina Carlos Freire (IC); Emanuel Isaias
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Elba Vieira Mustafa - Faculdade Fucapi elba.mustafa@fucapi.br Mirian dos Santos - mirian@inpa.gov.br
Artigo
Rede de Sensores Sem Fio Para Monitoramento de Dados Ambientais: Projeto de Nó Sensor de Baixo Custo Josiel Wirlino Vieira dos Santos e Carlos Maurício Seródio Figueiredo Resumo. O meio ambiente está sujeito a vários fatores dentre eles a sua destruição, seja por meio natural ou por intervenção de terceiros. É possível acompanhar a situação atual, utilizando recursos tecnológicos. O emprego da redes de sensores em florestas para monitoramento é desafiador devido as irregularidades topográficas e problemas inerentes da tecnologia, porém possui grande vantagem uma vez que o monitoramento é mais rápido, facilitando o combate. Esse artigo visa apresentar o desenvolvimento de uma plataforma de hardware/ software de baixo custo para aplicações de monitoramento ambiental. Introdução O cuidado com o meio ambiente tem se tornado cada vez mais visado pelo mundo, um dos motivos é o agravamento das mudanças climáticas. As autoridades mundiais estão cada vez mais preocupadas em cuidar de suas florestas, em especial a floresta Amazônica. Dentre os principais motivos para a destruição das florestas e consequentemente das faunas e floras se destacam os desmatamentos, as queimadas e as ocupações inapropriadas [Pádua 2013]. Desde 1970, o número de queimadas e focos de incêndios vem aumentando gradativamente, levando a necessidade de ser voltada atenção para esse problema. O tema é muito delicado e emergencial, prova disso são os números de incêndios e focos contabilizados no ano de 2015, de janeiro até a segunda metade do mês de março, o número acumulado de focos de queimadas, somente no Brasil, ultrapassam sete mil casos [INPE 2015a], ou seja, aproximadamen-
te 93 focos diários. Em 1998, ocorreu o maior e mais trágico episódio vivenciado pelo Brasil em decorrência de queimadas, onde cerca de 40 mil km2 de vegetação foram devastados no estado de Roraima, perdendo diversidades biológicas de uma floresta primária [Kirchhoff and Escada 1998]. Atualmente o INPE utiliza satélites para monitorar as regiões florestais, realizando a captura de imagem das florestas e processando para detectar possíveis casos de focos de queimadas, porém uma grande desvantagem desse método está no tempo de obtenção das imagens, com intervalos que podem variar de cinquenta segundos até quatro dias para a sua aquisição [INPE 2015a] [INPE 2015b], a demora no tempo de aquisição ou na análise dos acontecimentos pode ser fatalmente prejudicial. Como mostrado em [Antoine-Santoni et al. 2009], é estipulado que o tempo de resposta, uma vez detectado o foco ou possível foco de incêndio, deve ser no máximo 15 minutos, porém a tecnologia atualmente utilizada não fornece essa agilidade, para melhorar o tempo de resposta do monitoramento pode ser utilizado sistemas terrestres para coletar e processar a informação em tempo mais hábil. Utilizar uma tecnologia mais eficaz para auxiliar ou até mesmo substituir o modo atual de monitoramento, pode trazer ganhos ambientais e sociais. A solução proposta nesse trabalho é a utilização da Rede de Sensores Sem Fio (RSSF), mais especificamente apresentar uma plataforma de nó sensor que pode auxiliar nesse cenário. As RSSF diferem de redes de computadores tradicionais em vários aspectos. Os pontos mais importantes estão limitações de energia, tempo de vida útil da rede, adaptação e reconfiguração
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devido a falha de comunicação e/ou perda de nós sensores [Loureiro et al. 2003]. De forma resumida, as RSSFs consistem em dispor nós no ambiente alvo que deseja monitorar, por exemplo, indústria, meio ambiente, laboratório, entre outros. Os nós geralmente são projetados especificamente para os ambientes alvos, para um laboratório químico, por exemplo, o nó pode ser constituído de sensor de gás, umidade, temperatura. Já para a indústria o nó pode ser constituído de um sensor de ruído, gás, incêndio, movimento, entre outros. Mesmo que os nós possuam sensores similares, os cada um é projetado para situações específicas [Bahrepour et al. 2008]. O presente artigo visa apresentar uma arquitetura de hardware capaz de servir como nó sensor para aplicações que envolvam RSSF. A vantagem de utilizar essa plataforma consiste em diminuir de forma significativa a necessidade de reprojeto do nó sensor. A necessidade do reprojeto é uma realidade que atualmente é um dos fatores que encarecem a aplicação de RSSF, contornar esse problema pode ajudar a divulgação da tecnologia, agregar valor aos problemas abordados e reduzir os custos de aplicação. Rede de Sensores sem Fio O rápido avanço nas áreas de pesquisa e desenvolvimento dos microprocessadores, comunicação sem fio e micro sistemas eletromecânicos (MEMS - Micro Electro-Mechanical Systems) estão facilitando a utilização dessa tecnologia. A rede de sensores geralmente é constituída por centenas ou milhares de dispositivos chamados de nós sensores. Esses nós tendem ser autônomos no que diz respeito a comunicação entre membros da rede, processamento, armazenamento e envio das informações coletadas [Ruiz et al. 2004] [Loureiro et al. 2003]. Geralmente o objetivo das RSSFs é monitorar um ambiente, o que significa monitorar certas variáveis (temperatura, gás, entre outros) desse ambiente. A tarefa de monitorar é delegada aos nós sensores que coletam os dados, fazem o processamento local (quando convém) e depois disseminam os dados pela rede até chegar no
68
ponto de acesso utilizando, por exemplo, o protocolo multihop [De Couto et al. 2005]. Os nós individualmente possuem pouca capacidade computacional e de energia, mas um esforço colaborativo entre os mesmos permite a realização de uma grande tarefa [Ruiz et al. 2004]. A arquitetura das RSSFs pode ser divida em arquitetura de hardware e arquitetura de software [Barbosa et al. 2003], além da topologia de rede [Loureiro et al. 2003], porém de um modo geral, a arquitetura das RSSFs requer, no mínimo, dois componentes: nós sensores e ponto de acesso, este último pode ser implementado em um nó sorvedouro ou em uma estação base (BS- Base Stations) [Ruiz et al. 2004]. A escolha da arquitetura é influenciada por questões como: objetivo é monitorar ou monitorar e reagir? A amostragem de dados (captura) é periódica ou acionada por eventos? O fenômeno (variável) monitorado é simples ou são vários? Discreto (local) ou distribuído? [Ammari 2014a] [Ruiz et al. 2004]. De forma resumida, a arquitetura da RSSFs é dependente da aplicação [Ammari 2014a]. A Figura 1 mostra a configuração básica de uma organização de rede de sensores sem fio, onde têm seus dois elementos básicos: nó sensor e o nó servedouro que permitir enviar os dados para outra rede de RSSF ou a estação de processamento.
Figura 8 – Ilustração da síntese do compósito magnético
RSSFs podem ser classificadas segundo a sua configuração, capacidade de sensoriamento, comunicação e tipo de processamento [Ruiz et al. 2004]. Desafios inerentes ao projeto e desenvolvimento de RSSFs geralmente giram em torno de pouca capacidade de armazenamento, processamento e comunicação além do fato de que a fonte de energia é crítica [Ammari 2014a] [Ammari 2014b]. Todos os fatores citados até
Rede de Sensores Sem Fio Para Monitoramento de Dados Ambientais: Projeto de Nó Sensor de Baixo Custo
aqui devem ser levados em consideração ao
ZigBee para se conectar com a placa.
projetar a RSSF e os seus nós. 2.1. Plataforma de Hardware
Nenhum dos sensores citados possuem
Atualmente há vários sensores disponíveis no
nativamente um GPS ou maior adaptabilidade
mercado, porém cada um com uma finalidade
sem a necessidade de modificação de circuitos
diferente, dentre eles podem ser citados dois
ou a inclusão de lógica digital (projeto de
bastante utilizados: Tmote Sky
circuito extra).
[Advanticsys 2015] e o Waspmote [Libelium 2015].
O sensor projetado possui o dobro de memória flash do que o Waspmote e cinco
Tmote Sky possui aplicação onde exige pouco
vezes mais que o Tmote Sky, além de possuir
processamento e pode ser tirado o
quatro pinos para comunicação UART,
máximo proveito do esforço colaborativo
todos livres para serem usados, suporte ao
para realizar as operações. Dificilmente sua
protocolo SPI, possui GPS (inserindo maior
arquitetura é modificada antes de ele ser
confiabilidade e segurança na hora de agir em
adicionado a rede de sensores, seja por acréscimo
decorrência de um evento, sabendo, com
de sensor ou por retirada destes. Nativamente
mais precisão, a localização do sensor, e assim,
possui embarcado em sua placa, sensor de
saber onde está ocorrendo os eventos).
umidade, temperatura e sensor de luminosidade,
A escola dos sensores e circuitos integrados
possui 16 pinos para expansão, podendo
utilizados, foram escolhidos para otimizar o
conectar mais sensores, possui somente 10k RAM
consumo de energia e aumentar a vida útil da
e 48k Flash, a comunicação é utilizando WiFi
fonte de alimentação utilizada.
[Advanticsys 2015]. O sensor desenvolvido se torna uma opção Memória de programa e memória RAM limitadas,
viável se comparado com nós sensores
e principalmente baixo poder
já existentes no mercado, tanto para
de processamento, podem ser fatores negativos
aplicação onde é necessário pouco poder
para a aplicação e utilização do TmoteSky,
de processamento, onde geralmente era
como nó sensor principal, em situações mais
usado o Tmote Sky, quanto aplicações que
complexas, deixando-o usável em aplicação
necessitem de maior poder de processamento.
simples.
As características relevantes do sensor e suas configurações são discutidas nos tópicos desse
O nó sensor Waspmote é uma plataforma
artigo.
mais robusta que o TmoteSky, possuindo o processador ATmega1281, tem quase três vezes
Nó Sensor Projetado – Forest Fire Sensor
mais memória flash do que o anterior, o que
O nó sensor projetado está dividido em quatro
permite programas mais complexos, a forma
níveis distintos. O primeiro é o módulo de
de comunicação com outros nós da rede e
energia que fornece e gerencia a energia
com servodouro ocorre utilizando a tecnologia
de todo o sensor. O segundo é a camada de
ZigBee podendo realizar comunicação a grandes
processamento que contém o microcontrolador
distâncias na escala de quilômetros [Libelium
e uma memória para armazenamento de
2015], porém a quantidade de dados enviados
dados. O terceiro módulo é o de comunicação
por transmissão é inferior de um sensor como o
e o quarto é a camada de sensoriamento, que
Tmote Sky, por exemplo. Outro diferencial é que
contém todos os sensores que monitoram os
o seu meio de comunicação pode ser modificado
eventos desejados. A Figura 2 mostra a divisão
para o Bluetooth ou outro meio que use o socket
das camadas e como elas se comunicam.
69
Figura 2. Divisão em camadas do sensor projetado.
Unidade de Gerenciamento de Energia
o “empilhamento” de periféricos unicamente
A Figura 3 apresenta o esquemático do conteúdo
endereçáveis.
da camada de gerenciamento de energia. A bateria utilizada será uma bateria alcalina de
Unidade de Comunicação
12V/38mAh como fonte de energia base, tendo
O nó sensor dispõe de um socket específico que
em vista a demanda do nó sensor por tensão de 5
dar suporte a meios de comunicação distintos,
e 3.3 Volts foi utilizado os reguladores de tensão
permitindo, por exemplo, que os sockets
LM7805 para regular a tensão de 12V para 5V
Bluetooth, Xbee, Infravermelho e todos os outros
e fornecer corrente de até 1.5A e LM3940 para
meios de comunicação sem fio que implementem
regular a tensão de 5 para 3.3 Volts e fornecer
fisicamente a mesma configuração do socket,
corrente de até 1A se necessário.
possam ser conectados e utilizados (somente um por vez) ao nó sensor e por meio deste realizar a
Unidade de Processamento/Armazenamento
comunicação, não deixando a aplicação presa ao
A Figura 4 apresenta a visão em blocos do
módulo WiFi embarcado no sensor.
conteúdo das camadas de processamento,
3.4. Unidade de Sensoriamento
comunicação, sensoriamento. O microcontrolador
O sensor MQ2 é responsável por monitorar as
utilizado é ATMega 2560 da ATMEL,
informações sobre a concentração de gases
todas as informações são armazenadas no micro
inflamáveis no ambiente, os dados são de forma
cartão SD de 2GB, para quando for
analógica, porém, possui quando fica ligado por
necessário (requisitado pelo host ou quando
mais de 24 horas ininterruptamente, pode atingir
programado) seja enviado as informações
temperatura superior a 50 graus Celsius.
monitoradas pelos sensores para o servodouro e deste para o host de destino.
O sensor TSL2561 é um sensor digital que possui
Há quatro portas UART, dessas, duas são
internamente um conversor e
disponibilizadas para a inserção de novos
um integrador que são utilizados para o cálculo
periféricos que requerem esse protocolo de
do Lux(lx) (unidade de iluminância), esse
comunicação. O microcontrolador possui quatro
sensor é mais indicado que o sensor LDR por
portas RX e TX além da SPI o que possibilita
ser mais preciso, programável além de possuir
Figura 3. Esquemático da camada de gerenciamento de energia.
70
Figura 4. Visão das camadas e suas interconexões.
Rede de Sensores Sem Fio Para Monitoramento de Dados Ambientais: Projeto de Nó Sensor de Baixo Custo
internamente medidores distintos para luz visível
o nó sensor, sendo necessário o compilador
e luz infravermelha.
do AVR. Uma vez que o código original é disponibilizado há a possibilidade de alterar
O DHT22 é o sensor responsável por medir a
partes do software embarcado, deixando o mais
temperatura e umidade relativa, com precisão de
“limpo” e mais rápido.
5% faz que seu custo/benefício seja viável para um projeto de baixo custo, caso seja necessário
A Figura 6 mostra um nó sensor plotado no
um sensor de maior precisão.
mapa, com as informações enviadas.
4. Software Embarcado
Com base na informação enviada, pode ser
A Figura 5 mostra a máquina de estado finito do
escolhido um nó que esteja presente no mapa
software embarcado no Arduíno Mega.
e exibir o seu histórico das últimas 24 horas em
A máquina de estado permanece executando até
forma de gráfico, na aba Statistics, além de ser
que ou acabe a bateria do nó sensor, ou
possível ver todos os históricos desse sensor. A
ocorra falha em mais de 40% dos sensores,
implementação foi feita utilizando a linguagem
fazendo que a máquina de estado siga para
Visual C#. O software foi desenvolvido de forma
o fluxo “Não” na decisão “Funcionando
multithread onde uma thread é para executar de
Corretamente?”.
forma assíncrona o servidor que recebia os dados do nó sensor, uma thread para ler os dados
Após os dados da RSSF serem enviados ao host,
recebidos e atualizar a interface de usuário,
são processados e plotados no mapa com ajuda
além da thread padrão de interface gráfica que é
de um software desenvolvido em conjunto. Se o
inerente da tecnologia WPF.
software nativo não for uma boa solução para o problema a ser abordado é possível reprogramar
Figura 5. Máquina de estado finito do software embarcado no microcontrolador ATMega 2560.
Figura 6. Tela principal do programa ForestFireSensor Analyses e tela de análise do histórico diário de cada sensor.
71
Avaliação Qualitativa
poder ter um módulo substituído, evitando
A Tabela 1 mostra a comparação técnica entre
assim o reprojeto, assim, realizando economia
os nós sensores em suas respectivas camadas
de investimento e mantendo a relação custo/
de processamento. Apesar do ForestFireSensor
benefício. O ForestFireSensor possui vantagem
trabalhar em uma frequência duas vezes maior
em comparação aos demais, pois foi projetado
que a dos outros dois, não implica em um
exatamente com esse propósito, permitir a fácil
consumo maior de energia, uma vez 80% do nó
remoção e alteração de camadas.
ficará em stand-by na maior parte do tempo. Além de ser possível a diminuição de frequência
O gráfico Figura 7-a) mostra a quantidade de
de trabalho.
energia drenada por cada um dos nós sensores em um cenário onde todos
72
Em questão de hardware todos os nós sensores
funcionariam por 24 horas. O ForestFireSensor
são muito similares. A Tabela 2 mostra a
apresentou uma economia de energia 72.4%
quantidade máxima de sensores que cada nó
da bateria, enquanto o TmoteSky e WaspMote
sensor suporta. Por poder se incrementado
obtiveram uma economia de 59.52% e 54%
o número de sensores no ForestFireSensor(
respectivamente. Como pode ser visto o
nó sensor projetado), implica que este pode
ForestFireSensor possui um desempenho melhor
desenvolver atividades mais complexas que os
do que os demais sensores mesmo possuindo
outros dois sensores, porém com o incremento
mais sensores na camada de sensoriamento.
de sensores deve ser fornecido uma bateria com
O gráfico Figura 7-b) mostra o tempo , em
maior capacidade devido ao dreno de corrente
segundos, que cada sensor leva para transmitir
que pode existir devido a esses novos sensores.
um pacote de dados dos dados coletados.
A Tabela 3 mostra a capacidade de um nó sensor
Por fim, a Figura 8 mostra o custo unitário
Rede de Sensores Sem Fio Para Monitoramento de Dados Ambientais: Projeto de Nó Sensor de Baixo Custo
de cada sensor e o custo de cada módulo do
modularização onde proporciona a economia
ForestFireSensor. O ForestFireSensor mostra
em investimentos de reprojeto, evitando assim
uma economia de 42% se comparado com
um aumento do custo final do nó sensor, além
o TmoteSky, que é o mais barato dentre
de fornecer mais uma opção robusta de nós
os dois sensores estudados. Conforme os
sensores, open source e open-core, altamente
dados mostrados e adquiridos durante o
adaptável e de custo mínimo. Em conjunto e não
desenvolvimento desse projeto é possível mostrar
menos importante, foi desenvolvido o software
que o custo/benefício e a robustez da plataforma
desktop para avaliar as informações recebidas,
desenvolvida é competitiva em relação aos
organizá-las e exibi-las de forma amigável.
demais sensores.
6. Trabalhos Futuros Os próximos passos serão tentar colocar em um
A Figura 9 mostra os hardwares desenvolvidos no
ambiente real, por exemplo, laboratório
decorrer desse trabalho. Os
químico da Universidade do Estado do Amazonas
módulos estão divididos em 01 - é o módulo de
para monitorar a umidade, temperatura das
sensoriamento; 02-camada de armazenamento
estufas, fazendo o controle automático evitando
e comunicação; 03-camada de processamento, e
a intervenção dos alunos; melhorar a estética
04-camada de gerenciamento de energia.
do produto. Em função da plataforma, buscar melhorar o software desktop e fornecer o
Conclusão
sistema online de integração.
Este artigo apresentou uma forma de projetar nós sensores para Redes de Sensores Sem Fios tirando o máximo proveito da tecnologia, além de mostrar uma metodologia de
Figura 9. Nó sensor desenvolvido, visão em camadas.
73
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74
Josiel Wirlino Vieira dos Santos - Instituto Ambiental e Tecnológico da Amazônia - josiel.wirlino@gmail.com Carlos Maurício Seródio Figueiredo - Universidade Federal do Amazonas - mauriciofigueiredo@gmail.com
Artigo
Testes Baseados em Tela Sensível ao Toque em Aplicações Móveis Apoiados por Robôs Larissa Neves e Arilo C. Dias-Neto Abstract
ções móveis já existente na indústria com um
Currently, the increased use of mobile devices has
robô que simula a interação humana com a tela
influenced the increased complexity and demand
de dispositivos móveis, possibilitando a tradução
for quality in mobile applications. The diversity of
dos scripts de teste gerados por essas ferramen-
mobile devices and platforms, as well as the diffi-
tas para um código em Javascript reconhecido
culty in reproducing the exact user environment,
pelo robô. É apresentada a estrutura arquitetural
are challenges for testing this software category.
da solução proposta e um exemplo do seu uso,
This paper describes a proposal of infrastructure
demonstrando sua viabilidade.
that aims to support the tests automation based on touch screen in mobile applications through
Introdução
the use of a robot. This infrastructure enables
O número de usuários que utilizam aparelhos
the integration of mobile application testing
celulares e smartphones tem crescido a cada ano,
tools already existing in the software industry
chegando ao impressionante número de quase
with a robot that simulates human interaction
4 bilhões de usuários ao final de 2015 (mais de
with the screen of mobile devices, enabling the
50% da população mundial) (KEMP, 2015). Os da-
translation of test scripts generated by these
dos preliminares da Anatel indicam que o Brasil
tools into JavaScript code accepted by the robot.
terminou o mês de Janeiro de 2016 com 183,8
We present the architectural structure of the
milhões de celulares pré-pagos (TELECO, 2016).
proposed solution and an example of its use,
Da mesma forma que cresce o uso de tais dispo-
demonstrating its feasibility.
sitivos, cresce a necessidade por novas aplicações móveis a serem lançadas no mercado. Estas
Resumo
aplicações deixaram de ser usados apenas para
Atualmente o aumento na utilização de
entretenimento e hoje são parte do cotidiano das
dispositivos móveis tem influenciado no aumento
pessoas para diversas outras atividades, como
da complexidade e exigência por qualidade nas
negócios, movimentações financeiras, dentre
aplicações móveis. A diversidade de dispositivos e
outras finalidades, tornando as aplicações cada
plataformas, assim como a dificuldade de repro-
vez mais complexas e requerendo uma maior
duzir o ambiente exato do usuário, são desafios
qualidade antes da publicação destas aplicações
para a realização de testes nesta categoria de
no mercado.
software. Este artigo descreve uma proposta de infraestrutura que visa apoiar a automatização
O “usuário” ou “cliente”, que é o utilizador final,
de testes baseados em tela sensível ao toque em
precisa confiar no software que está sendo
aplicações móveis por meio da utilização de um
utilizado. Para isso, é necessário garantir a sua
robô. Essa infraestrutura possibilita a integração
qualidade, e uma das formas mais aplicadas para
entre ferramentas de apoio a testes em aplica-
obtenção de qualidade em software é por meio
75
de práticas de teste de software (PRESSMAN,
na tela é afetada pelo tamanho e resolução
2016). Em aplicações móveis, novos desafios
do dispositivo. Além disso, não é possível usar
surgem para a realização de testes e que pre-
protótipos não funcionais para testar gestos ade-
cisam ser considerados. Teste de software para
quadamente e a execução manual dos testes em
aplicações móveis se refere aos diferentes tipos
diversos dispositivos para os quais uma aplicação
de teste a serem aplicados para os diferentes
móvel foi construída é inviável, pois demandaria
tipos de aplicações móveis (nativa, híbrida e web)
muito esforço e tempo dos testadores, podendo
que executam sobre a plataforma móvel usando
afetar nos prazos estabelecidos para um projeto.
métodos e ferramentas de teste de software bem definidos a fim de garantir a qualidade em fun-
Como alternativa para a redução do tempo e
ções, comportamentos, desempenho e qualidade
esforço para a realização de testes automatizados
de serviço, assim como atributos como mobilida-
baseados em touch screen em aplicações móveis,
de, usabilidade, interoperabilidade, conectividade,
este artigo apresenta a proposta para automati-
segurança e privacidade (GAO et al., 2014).
zação dos testes por meio de uma infraestrutura composta por um robô que simula interações
Um testador de aplicações móveis deve conhecer
na tela de um dispositivo móvel e ferramentas
bem a capacidade das plataformas de sistemas
computacionais que visam apoiar o robô na
operacionais. Frequentemente, em um teste de
identificação dos elementos a serem testados em
aplicação móvel são encontradas muitas varian-
uma aplicação móvel.
tes de configuração que precisam ser incluídos para garantir que a aplicação móvel é funcional.
Este artigo está organizado da seguinte forma.
Os usuários abandonam rapidamente a aplicação
Na seção 2 é apresenta a fundamentação teórica,
móvel se não funcionar bem ou não atingir suas
descrevendo conceitos sobre teste em aplicações
expectativas. Tornando assim, o atendimento
móveis e testes baseados em touch screen, além
das necessidades do cliente o principal foco do
de uma descrição do robô que será utilizado
software com qualidade, pois o cliente acredita
neste trabalho. Na seção 3 é apresentada a
que o software cumpriu o que era desejado
proposta de infraestrutura de apoio a testes
(DEUS, 2009).
automatizados baseados em touch screen em aplicações móveis, descrevendo seu objetivo do
Uma das formas de se aplicar testes funcionais
projeto e sua visão arquitetural. Na seção 4 são
em aplicações móveis é por meio da interação
apresentados exemplos do funcionamento da
com sua tela sensível ao toque (em inglês,
infraestrutura proposta. Finalmente, na seção
touch screeen), que seria o principal método de
5 são mostradas as conclusões obtidas com o
entrada de dados em uma aplicação móvel e que
andamento deste trabalho e trabalhos futuros
responde a inúmeros gestos. Um fator impor-
previstos para sua continuidade.
tante para o sucesso dos testes em aplicações móveis é o ambiente montado para a realização
Fundamentação Teórica
dos testes. Quanto mais próximo for do ambiente
76
real utilizado pelo cliente, menores serão as
Testes em Aplicações Móveis
chances de encontrar surpresas desagradáveis e
Teste de software para aplicações móveis se
rejeição do cliente. No entanto, para um testador,
refere aos diferentes tipos de teste a serem
é difícil utilizar uma ferramenta automatizada
aplicados para os diferentes tipos de aplicações
para testar ações de toque ou gesto na interface,
móveis (nativa, híbrida e web) que executam
assim como registrar gestos precisamente para
sobre a plataforma móvel usando métodos e
a reprodução, tornando esta tarefa demorada e
ferramentas de teste de software bem definidos
cara (PRESSMAN, 2016). A localização de objetos
a fim de garantir a qualidade em funções,
Testes Baseados em Tela Sensível ao Toque em Aplicações Móveis Apoiados por Robôs
comportamentos, desempenho e qualidade de
da aplicação por usuários que representam o
serviço, assim como atributos como mobilidade,
público alvo, porém requer um alto esforço
usabilidade, interoperabilidade, conectividade,
para identificar e selecionar tais pessoas. Neste
segurança e privacidade (GAO et al., 2014).
trabalho, o foco será a realização de testes em
De acordo com (MUCCINI et al., 2012), alguns
dispositivos reais por meio de toques na tela. Esta
requisitos diferenciam a engenharia de aplicações
técnica será discutida na próxima seção.
móveis de outras plataformas, como potencial interação com outras aplicações, dependência
Testes Baseados em Toques na Tela
por conectividade, diversificados métodos de
Um dos testes utilizados em aplicativos móveis
entrada de dados, requisitos de sensibilidade ao
visa automatizar o teste sob condições do
contexto, existência de diferentes categorias de
mundo real e tem o objetivo de verificar como
aplicações (nativa, híbrida e web), diversidade de
a aplicação funciona em dispositivo real. Ele é
famílias de hardware e plataformas de software,
chamado de Teste Baseado em Toques na Tela
restrições de segurança, interfaces de usuário
(Touch Screen Based Tests). Este teste possui
adaptáveis, restrições de consumo de energia,
foco em dispositivos reais, e não em emuladores,
e isso possui influencia na forma como testes
buscando reduzir a incidência de falsos relatos
devem ser realizados.
de defeitos e garantir que os erros em nível de usuário tenham maior probabilidade de serem
Pesquisas recentes em testes para aplicações
descobertos (MUCCINI et al., 2012).
móveis têm focado na proposição de soluções para problemas técnicos específicos desta
A tela sensível ao toque (touch screen) está
plataforma nas seguintes áreas: Teste Funcional
presente nos celulares, tablets, caixa eletrônicos,
e Comportamental (onde estão as técnicas
videogames, dentre outros dispositivos. Touch
de teste baseado em touch screen), Teste
screen é um termo que se refere à presença do
Estrutural, Validação de Requisitos de Qualidade
toque dentro da área de exibição por meio de
de Serviço (Quality of Service – QoS), Teste de
pressão com o dedo ou a mão, mas também
Usabilidade, Teste de Compatibilidade e Teste de
podem reconhecer objetos, como canetas
Conectividade. Este trabalho possui como foco
específicas para usar em dispositivos móveis.
testes funcionais a partir de interações e gestos realizados por meio da interface gráfica da
Do ponto de vista do desenvolvedor, o reco-
aplicação através de sua tela sensível ao toque.
nhecimento de toques na tela introduz nova complexidade ao código fonte da aplicação.
A plataforma móvel também apresenta dife-
Plataformas móveis mais antigas suportavam um
rentes abordagens para execução dos testes em
conjunto limitado de interações com a tela (ex:
um projeto, sendo listadas a seguir as quatro
toque/duplo toque, longa pressão na tela, clicar
principais, baseadas na infraestrutura e contexto
e arrastar, pincelar, abrir/fechar). No entanto, as
de execução do sistema (GAO et al., 2014): Testes
plataformas e aplicações evoluem, tornando esse
em Emuladores, Testes em Dispositivos Reais,
conjunto mais amplo e diversificado.
Testes em Nuvem (Cloud Testing), Testes em Larga Escala (Crowd Testing). Cada abordagem
Do ponto de vista dos testes, aplicações intensi-
possui suas vantagens e desvantagens. Por exem-
vas em toques criam dois principais desafios: os
plo, testes em emuladores diminuem o custo
toques precisam ser exatamente especificados
dos testes, porém não conseguem reproduzir
a priori e reproduzidos corretamente. Ambos
fielmente o ambiente do usuário, como testes
– especificamente sua ausência – representam
em dispositivos reais. Por sua vez, testes em
desafios chaves em teste de aplicações móveis e
larga escala possibilitam uma ampla avaliação
podem ser superados pela especificação formal
77
das interações com a tela em conjunto a criação
com tela sensível ao toque. Ele é programado
de infraestrutura tecnológica para lidar com
com Node.js, Johnny-Five e Arduino. O Node.js é
estes desafios, principalmente da realização dos
um interpretador de código JavaScript. Johnny-
testes de forma manual. É difícil usar ferramentas
Five é uma biblioteca de componentes JavaScript
automatizadas para testar ações de toque na tela.
que sabem como se comunicar com o Arduino
A localização de objetos na tela é afetada pelo
através do protocolo “Firmata” – um protocolo
tamanho e pela resolução. Os testadores preci-
padrão para os computadores para se comunicar
sam utilizar frameworks de teste que chamem
com dispositivo de hardware. E por fim, Arduino
funções para simular eventos de interação na tela
é uma plataforma de prototipagem eletrônica
(HESENIUS et al., 2014).
open-source.
O foco deste trabalho é exatamente prover
Para executar as funções do robô, é necessário
uma alternativa de apoio à realização de testes
executar o arquivo bot.js que vcontém as
funcionais automáticos a partir da interface
informações necessárias para ligar o robô,
gráfica de uma aplicação móvel por meio de sua
arquivo que se encontra no diretório tapsterbot/
tela sensível ao toque. Para isso, será definida
tapsterbot/software/src do GitHub (HUGGINS,
uma infraestrutura computacional que conta
2016), ou criar um novo arquivo Javascript que
com a participação de um robô que é o respon-
importe este arquivo. Na Figura 1 é apresentada
sável por simular as interações humanas com
a execução do arquivo funções.js (comando node
uma aplicação móvel a partir de sua tela sensível
funções.js), implementado pelos pesquisadores
ao toque em conjunto com software de apoio à
e que importa o arquivo bot.js. Esse arquivo
realização dos testes. A próxima seção descreve
contém funções pré-definidas para uso do robô
esse robô, chamado Tapster.
que serão citadas ao longo deste artigo. Isso irá
O Robô Tapster Tapster é um robô usado para automatizar aplicações móveis em dispositivos móveis simulando um dedo humano em um dispositivo
Figura 1. Executando uma função que inicia o uso do Tapster.
Figura 2. (esquerda) Imagem do robô Tapster e (direita) resultado da execução do comando unlock().
78
ligar o robô e torná-lo apto a “ouvir” qualquer
ferramentas de testes funcionais para aplicações
comando que se dá a ele.
móveis baseadas na interface gráfica do usuário (ou GUI, do inglês, graphical user interface) já
Quando o robô estiver ligado, podem ser
existentes, que em geral utilizam linguagens de
utilizadas as funções para testá-lo. Na Figura
script para geração de scripts de teste, com o
2 o exemplo utilizado foi o comando unlock(),
robô Tapster, que utiliza uma linguagem própria
que realiza a operação de desbloquear a tela do
baseada na linguagem Javascript. Assim, o
celular.
objetivo principal deste trabalho é construir um tradutor (parser) dos scripts das ferramentas de
Além das funções já definidas, podem ser
teste de automação para o script reconhecido
criadas outras funções para executar tarefas
pelo Tapster. A infraestrutura visa principalmente
específicas, como por exemplo, fazer uma
auxiliar testadores de aplicações móveis que já
ligação. No exemplo da Figura 3 são utilizadas
utilizam ferramentas de automatização de testes
as funções click(x,y), call(x1,x2,x3,x4,x5,x6,x7,x
na utilização do robô Tapster como alternativa
8,x9) e typing(), todas elas não são nativas do
para os testes baseados em toque na tela do dis-
Tapster e foram criadas pelos pesquisadores,
positivo móvel, reduzindo o esforço de realização
para elaborar a função testcall. Essa função
destes testes de forma manual.
resultará o teste de sequência de eventos para
fazer uma ligação no celular. O click será usado
arquitetural da solução proposta neste trabalho
para iniciar a aplicação usada para fazer ligações
em relação ao seu objetivo, que é promover a
no dispositivo, a função call é responsável por
integração entre ferramentas de teste GUI para
discar os números e a função typing é usada para
aplicações móveis e o robô Tapster por meio de
clicar no ícone de chamada. As funções podem
um parser. O elemento principal a ser explorado
ser escritas individualmente no terminal ou pode
neste trabalho é a tradução de scripts de teste
ser organizada em forma de função, como foi
criados na linguagem Python, bastante utilizada
feito para a função chamada testcall(x1,x2,x3,x4
em ferramentas de apoio a testes em aplicações
,x5,x6,x7,x8,x9). É esse recurso do robô que será
móveis, como Appium e Monkey Runner ,
explorado neste trabalho.
dentre outras, para o ambiente com as funções
A Figura 4 apresenta uma visão
já pré-definidas neste trabalho implementadas A próxima seção apresenta a infraestrutura
na linguagem JavaScript, linguagem que o robô
proposta nesta pesquisa para apoiar a automati-
Tapser é capaz de interpretar.
zação de testes com a utilização do Tapster para
3.1 Biblioteca de Funções
interação com a tela sensível ao toque de uma
aplicação móvel.
funções na linguagem JavaScript, como scripts
3. Testes Automatizados Baseados em Toque na
para a automatização dos testes que farão parte
Tela em Aplicações Móveis
da biblioteca de funções, mostradas na Tabela
Este trabalho visa descrever uma infraestrutura
1. Essas funções foram escolhidas e definidas
que utiliza o robô Tapster como auxílio para
por já existirem nas principais ferramentas de
automatização de teste em aplicações móveis por
automatização de testes para aplicações móveis
meio da tela sensível ao toque do dispositivo.
e pelo fato de melhor se adequarem às limitações
de entrada de função com coordenadas (x,y), que
Esta infraestrutura visa a integração de
Atualmente, foram construídas 10
Figura 3. Exemplo de função criada para uso do Tapster.
79
é a forma de interação do robô Tapster com o dispositivo móvel.
Todas essas funções foram mapeadas manu-
taforma criada para o Tapster), como mostrado
almente. Assim, é possível obter também as
na Figura 5.
coordenadas exatas dos números para serem utilizados na função call(x1,x2,x3,x4,x5,x6,x7,
Parser entre Ferramentas
x8,x9), descrita na Tabela 1. As funções foram
O parser é o processo de analisar uma sequência
pré-definidas utilizando como base o celular da
de entrada para determinar sua estrutura de
Samsung Note 3.
saída. Neste trabalho, o objetivo do parser é fazer a tradução da linguagem Python para linguagem
Todas as funções apresentadas na Tabela 1 não
JavaScript. Assim, o testador poderá fazer o
são nativas do Tapster e foram criadas a partir
script de teste automatizado na ferramenta de
das funções nativas. Por exemplo, a função
automação e haverá o parser para ser executado
click(x,y) utiliza a função go(x,y,z) (nativa da pla-
no robô.
Tabela 1. Funções implementadas em JavaScript para manipulação do Tapster.
80
Testes Baseados em Tela Sensível ao Toque em Aplicações Móveis Apoiados por Robôs
Figura 5. Exemplo de função criada para uso do Tapster utilizando funções nativas.
Exemplo de Uso da Infraestrutura Proposta
Conclusões e Trabalhos Futuros
Esta seção descreve a exemplificação de um
Este trabalho apresentou uma proposta de infra-
estudo de caso que avaliou a integração do robô
estrutura de apoio a automatização de testes ba-
à ferramenta de teste para aplicações móveis
seados em toques na tela em aplicações móveis
Appium, descrevendo um tradutor dos scripts
utilizando um robô. Foi apresentada a arquitetura
de teste desta ferramenta na linguagem Python
proposta, que visa automatizar a integração do
para a linguagem Javascript, reconhecida pelo
robô com ferramentas de automatização de teste
robô Tapster.
baseadas em GUI para aplicações móveis.
O exemplo descrito na Figura 6 visa testar um
Nesta solução, foram implementadas funções
click na tela. Para isso, foi criado um script
na linguagem JavaScript utilizando a notação
de teste na ferramenta Appium utilizando a
reconhecida pelo robô Tapster. Estas funções si-
linguagem Python.
mulam os principais comportamentos de usuário ao interagir com aplicações móveis (ex: clique,
O parser proposto para a infraestrutura descrita
duplo clique, desbloquear o celular). A partir
neste trabalho deve ser o responsável por mapear
disso, um parser está sendo implementado para
as funções em Python, transformando-as em
traduzir scripts de teste na linguagem Python
JavaScript usando as funções implementadas na
(utilizada pelas ferramentas de automatização
biblioteca descrita na Tabela 1. O resultado final
de testes em aplicações móveis) para as funções
seria a conversão apresentada na Figura 7. 5.
que compõem a biblioteca implementada na
Figura 6. Exemplo de função criada para uso na Appium.
Figura 7. Exemplo de função usada na Appium e como é interpretada pelo Tapster.
81
linguagem Javascript. Foi ainda descrito um
HUGGINS, J. (2016). “GitHub – tapsterbot/
exemplo utilizando a ferramenta Appium que
tapsterbot”. Disponível em <https://github.com/
serve como ferramenta de teste de automação
tapsterbot/tapsterbot> Acesso em: 02 de março
para dispositivos móveis.
de 2016.
Apesar de já demonstrar a viabilidade da
KEMP. S. 2015. Digital, Social & Mobile
infraestrutura proposta, este trabalho ainda
Worldwide in 2015. Disponível em <http://
possui etapas a serem concluídas. Elas envolvem
wearesocial.com/uk/special-reports/digital-
a finalização da implementação do parser entre
-social-mobile-worldwide-2015> Acesso em 13
ferramentas de teste para aplicações móveis,
de abril de 2016.
além da ferramenta Appium citada e utilizada neste artigo, e ampliação da biblioteca de
MUCCINI, H., Di Francesco, A., Esposito, P.
funções apresentada neste artigo. Por fim, está
“Software testing of mobile applications:
prevista a avaliação experimental da infraestru-
challenges and future research directions”. In
tura em testes de aplicações móveis reais.
Proceedings of the 7th International Workshop on Automation of Software Test (AST ‘12). IEEE
Referencias
Press, Piscataway, NJ, USA, pp. 29-35, 2012.
DEUS, G. (2009). “Avaliação de Técnicas de
PRESSMAN, R. (2016). Engenharia de software, 8
Teste para Dispositivos Móveis por Meio de
ª edição.
Experimentação” Goiânia. Dissertação de Mestrado. Instituto de Informática, Universidade
Teleco (2016). Disponível em <http://www.teleco.
Federal de Goiás.
com.br/ncel.asp> Acesso em: 9 de março de 2016.
GAO, J., BAI, X., TSAI, W., UEHARA, T. “Mobile Application Testing: A Tutorial”. In: Journal Computer, Vol. 47, pp. 46-55, 2014. DOI=10.1109/MC.2013.445. HESENIUS, M., GRIEBE, T., GRIES, S., GRUHN, V.R. 2014. Automating UI tests for mobile applications with formal gesture descriptions. In Proceedings of the 16th international conference on Human-computer interaction with mobile devices & services (MobileHCI’14). ACM, New York, NY, USA, 213-222. DOI=http://dx.doi. org/10.1145/2628363.2628391 HUGGINS, J. (2013). “Tapster – Móvel Automation Robot”. Disponível em <http://www.thingiverse. com/thing:123420> Acesso em: 09 de março de 2016.
82
Larissa Neves - Universidade Federal do Amazonas llen@icomp.ufam.edu.br Arilo C. Dias-Neto - Universidade Federal do Amazonas - arilo@icomp.ufam.edu.br
Artigo
Padrões Tecnológicos e Evolução Recente das Exportações Brasileiras Ana Luiza Farage Silva e Orlando Monteiro da Silva. Resumo
Introdução
É importante analisar o conteúdo tecnológico
O comércio internacional de bens tem tido um
das exportações brasileiras e sua evolução
crescimento expressivo, mesmo com a grave crise
recente dado o relacionamento entre avanços
financeira que atingiu as maiores economias
tecnológicos e maiores taxas de crescimento
mundiais a partir de 2008. Em termos de valor,
econômico. Para tanto, calculou-se um índice
o comércio internacional atingiu 17,9 trilhões de
de intensidade tecnológica (PRODY) assim como
dólares no ano de 2012, quase três vezes mais do
um índice de Gini para a distribuição das receitas
que no ano 2000.
com as exportações em relação ao PRODY. A
O relatório anual da UNCTAD (2013) mostra
concentração do valor exportado nos produtos
que os países desenvolvidos ainda dominam o
mais sofisticados foi maior para o Brasil do que
comércio de bens, mas que a participação dos
para o mundo, mesmo que o PRODY desses
países em desenvolvimento tem aumentado,
produtos tenha caído desde 2005/6. O país
constituindo, na atualidade, quase 50% do total.
ainda é muito dependente das exportações dos
Os países do leste asiático dominam o comércio
produtos primários.
entre os países em desenvolvimento, com a China
Palavras-chave: Exportações brasileiras, intensidade tecnológica, Gini
se tornando um dos mais importantes parceiros comerciais dos demais países. O aumento da demanda dos países emergentes
Abstract
e a fragmentação dos processos de produção
It is important to analyze Brazilian exports
ajudam a explicar o crescimento recente do
technological content and its recent develop-
comércio mundial e os padrões variados entre as
ment given the relation between technological
diferentes categorias de produtos. O aumento da
advances and bigger economic growth rates.
renda nos países emergentes ampliou a demanda
To that end, there were calculated an index
por produtos primários e os seus preços, assim
of technological intensity (PRODY) as well as
como a fragmentação dos processos da produção
a Gini index for exports revenue distribution
aumentou o comércio intra-indústria, espe-
with relation to PRODY. The exported value was
cialmente na Ásia, e o comércio de produtos
concentrated on the most sophisticated products
intermediários (Nicita, 2013).
more for Brazil than for the world, even though
Enquanto os países desenvolvidos permane-
the PRODY of those products has fallen since
cem como maiores exportadores de produtos
2005/6. The country is still very dependent from
sofisticados, os países em desenvolvimento têm
primary products exports.
aumentado a sua participação no mercado como
Key words: Brazilian exports, technological intensity, Gini
exportadores de commodities e de produtos com pouco grau de manufatura. Esse é o caso do Brasil, onde, de acordo com Plata et.al. (2012), predominam as exportações de produtos de
83
média baixa e baixa intensidade tecnológica.
países que exportam aquele bem. Por isso o
A importância de exportar produtos mais
índice PRODY é considerado um indicador
sofisticados e de maior valor agregado tem sido
de vantagem comparativa revelada capaz de
evidenciada em diversos estudos (HAUSMAN,
mensurar o conteúdo de renda das exportações.
R.; HWANG, J. RODRIK,D., 2005; e Xu, 2007) e reforçado os argumentos de um relacionamento
Para a análise do conteúdo de renda revelado
direto entre os avanços tecnológicos e maiores
pelas exportações do Brasil, calcula-se os valores
taxas de crescimento econômico.
PRODY para cada produto exportado e um valor PRODY ponderado (PRODYpond), com os pesos
Uma análise do conteúdo tecnológico das
correspondendo às participações do valor das
exportações brasileiras e da sua evolução recente ajudaria a entender como o Brasil tem se inserido no mercado internacional de bens, criando possibilidades de estímulos e modificações setoriais. Esse é o objetivo desse estudo que além de clas-
exportações de cada produto i dentro do grupo
sificar as exportações brasileiras pela sofisticação,
tecnológico a que pertence (Xit). Assim,
avalia sua distribuição e evolução entre os anos
A separação dos grupos tecnológicos se baseia
de 2000 e 2012.
no System of International Trade Classification (SITC Rev.3 de 1985) da OCDE, que classifica
Metodologia
os produtos comercializados como de alta
O índice PRODY é uma maneira de classificar
(AT), média alta (MAT), média baixa (MBT) e
os produtos de acordo com o seu conteúdo
baixa tecnologia (BT). Nesse estudo faz-se uma
tecnológico. Ele mede a sofisticação revelada
correspondência dessa classificação com a dos
das exportações ou o nível de produtividade
produtos do sistema harmonizado, no nível de
associado ao produto i do país j. Assim, quanto
seis dígitos (HS-6), de 1996.
maior for o valor PRODY, maior será considerada A análise da distribuição ou desigualdade dos valores das exportações entre os produtos pode ser feita por meio do índice de Gini. Neste trabaa intensidade tecnológica do produto.
lho, ele é calculado para avaliar a concentração
Na equação (1), PRODYi expressa a sofisticação
dos valores das receitas com as exportações com
do produto i, que é medida como uma média
relação aos valores PRODY. Busca-se, portanto,
ponderada pelo Produto Interno Bruto per
analisar se as receitas com as exportações estão
capita (Yc) de todos os países em um grupo
mais ou menos concentradas entre os produtos
Ci de países. Sic é a participação do valor da
com maiores conteúdos tecnológicos ou
exportação do produto i nas exportações totais
intensidade de renda. Esse cálculo para o Brasil é
do país c (market share). Dessa forma, ∑ S é a
comparado com a situação mundial.
soma da participação do produto i no total das exportações de todos os países.
A interpretação do índice de Gini plotado em uma curva de Lorenz é, por definição (Hoffman,
O índice PRODY também pode ser interpretado
1998), uma relação entre uma área de desigual-
como a ponderação do PIB per capita dos
dade (o próprio coeficiente de Gini) e a área de
países que exportam o produto i pelo índice de
um triângulo retângulo repartido em um gráfico.
Vantagem Comparativa Revelada (VCR) criado
Seu valor varia entre zero (completa igualdade,
por Balassa em 1965. A VCR reflete a importância
sendo a curva de Lorenz a área de 45°) e 1
do bem i no país c em relação a todos os outros
(completa desigualdade).
84
Padrões Tecnológicos e Evolução Recente das Exportações Brasileiras
Adaptando-se a explicação dada por Hoffman
sólidos da extração do óleo de soja.
(1998), pode-se compreender o índice de Gini a partir da seguinte fórmula:
No ano 2000, os valores PRODY ponderados variaram entre US$7.691 para o grupo ¬de baixa tecnologia, até US$12.100, para o grupo de alta
Resultados
tecnologia. Houve um crescimento generali-
A Figura 1 mostra a evolução da sofisticação dos
zado nos valores PRODY e em 2012 o mesmo
produtos que o Brasil exporta, de cada um dos
intervalo aumentou, variando ente US$11.516 e
grupos de tecnologia, ponderados (PRODYpond).
US$22.016. Ao longo daquele período, ocorreu
É importante ressaltar que os valores PRODY
um crescimento de 127% da sofisticação
individuais representam a sofisticação de cada
ponderada do grupo de produtos de alta
produto e que os altos valores estão relacionados
tecnologia, 93% no grupo de baixa tecnologia,
à produção desses produtos em países de alta
73% no de média baixa e de 42% no de média
renda, que têm vantagem comparativa em
alta tecnologia.
tecnologia avançada e na utilização de mão-de-obra treinada.
O grupo de produtos de AT, que vinha crescendo continuamente, sofreu uma desaceleração a par-
No último ano da série (2012), o Brasil exportou
tir de 2006, indicando crescimento da produção
376 produtos de alta tecnologia, 1.364 de
daqueles produtos em países de renda baixa e
média alta, 842 de média baixa e 1.411 de baixa
média. O grupo de produtos de AT foi, também, o
tecnologia. Exemplos de produtos brasileiros de
primeiro a sentir os efeitos da crise em 2008.
alta tecnologia exportados são: aviões e outras aeronaves e, medicamentos. Entre os de média
É nítida a queda do conteúdo de renda de todos
alta tecnologia estão carros de passeio e peças
os grupos em 2009, em decorrência da crise
de motores de ignição. As exportações de pro-
financeira internacional, que reduziu o comércio
dutos de média baixa tecnologia tem produtos
e a renda per capita em quase todos os países.
tais como óleos brutos de petróleo e produtos
A maior queda ocorreu no grupo de produtos
semimanufaturados de ferro ou aço, enquanto
de média baixa tecnologia e a recuperação
exemplos de produtos de baixo conteúdo tecno-
mais rápida ocorreu no grupo de produtos de
lógico são polpa de madeira química e resíduos
maior intensidade tecnológica. Em 2010 houve
Figura 1: Evolução do conteúdo de renda para os grupos de produtos de alta, média alta, média baixa e baixa tecnologia. 2000-2012. Mil US$
85
recuperação do conteúdo de renda de todos os
a receita com as exportações seria originária de
grupos, principalmente do grupo de média baixa
um único produto (com uma dada intensidade
tecnologia (crescimento de mais de 35% com
tecnológica).
relação ao ano anterior), seguido pelos de alta e média alta (28%) e baixa tecnologia (26%). Em
No período da análise, alguns produtos novos
2011, apenas os produtos de baixa tecnologia
passaram a ser comercializados, enquanto outros
não tiveram o PRODY ponderado reduzido,
deixaram de sê-lo. Para o cálculo do índice de
enquanto o grupo AT apresentou a maior queda.
Gini, contudo, essa diferença não foi significativa
A explicação aqui é a de uma crise em “W”, que
e, portanto, não foi considerada.
ocorre quando os problemas da crise inicial são considerados sanados, mas retornam com inten-
Os índices calculados para os produtos comercia-
sidade quando se percebe que eles permanecem.
lizados no mundo e para aqueles exportados pelo
Pode-se notar que, em 2012, continuou a queda
Brasil, apresentaram alta concentração (maior
dos conteúdos de renda, com exceção do grupo
que 0,7), ao longo de todo o período. Também,
de produtos de alta tecnologia.
os índices para as exportações brasileiras apresentaram um padrão mais desigual do que
Para analisar a contribuição dos produtos com
aqueles das exportações mundiais. O índice para
diferentes conteúdos tecnológicos na receita
as exportações mundiais aumentou de 0,780
com as exportações, foram calculados os índices
para 0,825, tornando-se mais desigual. No Brasil
de Gini para os produtos exportados pelo Brasil
a concentração foi maior, passando de 0,89 em
e para todos aqueles exportados pelo mundo de
2000, para 0,91 em 2012.
2000 a 2012, inclusive os produtos considerados não manufaturados, ou sem conteúdo tecnológi-
A Figura 2 mostra que a desigualdade da
co, de acordo com o SITC Rev.3. Um valor igual a
receita das exportações em relação à intensidade
zero para o índice de Gini indicaria uma distribui-
tecnológica no mundo aumentou de 2002 a
ção equitativa das receitas de exportação, pelos
2006 e de 2008 a 2012. No Brasil, houve uma
produtos de diferentes intensidades tecnológicas,
melhoria na distribuição das receitas entre 2002
enquanto um valor igual a 1 indicaria que toda
e 2008 (queda no índice de Gini), em função do
Figura 2: Variação percentual do índice de Gini para o Brasil e para o mundo. 2001-2012. Fonte: Elaboração própria
86
Padrões Tecnológicos e Evolução Recente das Exportações Brasileiras
aumento da demanda internacional e do preço
aumentou em 2012, quando aproximadamente
das commodities agrícolas e minerais, conforme
21% da receita tinha origem em produtos com
relatado por Veríssimo, Xavier e Vieira (2012).
89% dos valores PRODY comercializados no
Contudo, após os primeiros anos da crise, voltou
mundo.
a ocorrer um aumento na concentração das receitas das exportações brasileiras.
No caso do Brasil, a concentração é ainda pior, desde que, no ano 2000, cerca de 16% da receita
A Figura 3 mostra a curva de Lorenz de con-
com as exportações tinha origem nos produtos
centração das receitas com as exportações em
com valores PRODY acumulados de 95%. Essa é
relação à intensidade tecnológica (PRODY), nos
uma confirmação de que a maioria das exporta-
anos de 2000 e 2012, para as exportações bra-
ções brasileiras é constituída de produtos pouco
sileiras e mundiais. Nota-se que as curvas para
intensivos em tecnologia. A situação piorou
o Brasil estão à direita daquelas para o mundo,
em 2012, quando 97% dos produtos geraram
indicando a maior concentração das receitas com
somente15% da receita.
as exportações brasileiras em produtos de menor
intensidade tecnológica.
Conclusões A sofisticação revelada das exportações ou o
A curva de Lorenz para o mundo indica que, no
nível de produtividade associado aos produtos
ano 2000, cerca de 23% do valor das exportações
que o Brasil exporta têm tido um crescimento
era proveniente de produtos cujos valores PRODY
constante. Até os anos de 2004/05 os produtos
acumulados correspondiam a 85% do total (me-
de maior intensidade tecnológica mostravam um
nor sofisticação). Os outros 77% da receita com
crescimento maior do que os demais grupos de
as exportações tinha origem nos produtos com
sofisticação. Dai em diante houve uma desace-
maior sofisticação ou intensidade tecnológica. O
leração nas exportações brasileiras de produtos
que se nota na figura acima é que a desigualdade
com maior intensidade tecnológica. Certamente,
Figura 3: Curva de Lorenz para as exportações mundiais e brasileiras. 2000 e 2012.
87
a distribuição da produção dos produtos dessa
NICITA, A. Key trends in international merchandi-
classe, em países de renda mais baixa, contribuiu
se trade. UNCTAD, 2013.
para essa desaceleração mas, também, contribuiu, o aumento no preço das commodities agrícolas e
OCDE (2005) – Directorate for Science,
minerais, nas quais o Brasil tem grande vantagem
Technology and Industry, STAN Indicators, 2003.
comparativa. A renda per capita brasileira não tem crescido acima daquela das demais nações
PLATA, L. E. A.; ROGER AUGUSTO DE CAMARGO,
e que reforça o argumento do crescimento das
R.A.; FERNANDES, R.L.; BERDEJO, B.I.A.;GARCIA
exportações explicado pelas vantagens compara-
NETO, A.S.. Intensidade tecnológica e a inserção
tivas, principalmente, nos grupos de produtos de
paulista no comércio internacional. In: 51o
menor intensidade tecnológica.
Congresso da SOBER. Belém - PA, 21 a 24 de julho de 2012.
A análise da concentração das receitas por classe de intensidade tecnológica reforça o argumento
VERÍSSIMO, M.P.; XAVIER, C.L.; VIEIRA, F.V. Taxa
acima ao indicar que a maior parte das receitas
de Câmbio e Preços de Commodities: Uma in-
dos produtos exportados pelo Brasil está concen-
vestigação sobre a hipótese Holandesa no Brasil.
trada em poucos produtos com altos conteúdos
Economia, Brasília (DF), v.13, n.1, p-93-130, jan/
de renda ou sofisticação. Essa concentração
abr 2012.
no Brasil é maior do que a mundial, apesar da concentração das receitas com as exportações
WORLD TRADE ORGANIZATION. ANNUAL TRADE
mundiais ter mostrado aumento ao longo de
REPORT, Factor Shaping the Future of World
todo o período.
Trade. 340p. 2013.
No Brasil, uma redução da concentração
XU, Bin. Measuring China’s Export Sophistication.
coincidiu com a alta do preço das commodities,
China Europe International Business School. 41p.
indicando que o país ainda é muito dependente
October 2007
das exportações dos produtos que utilizam recursos naturais, mão-de-obra não qualificada e
World Integrated Trade Solution. Disponível em
tecnologia facilmente reproduzida.
http://wits.worldbank.org/wits/ Acesso em jul-set de 2013.
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org/topic/economic-policy-and-external-debt.
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88
Artigo
Logística reversa dos resíduos sólidos das associações folclóricas dos bois-bumbás “Caprichoso e Garantido” do município de Parintins (AM). Françoan de Oliveira Dias Resumo
res condições de consumo e ao crescimento
Este trabalho tem como objetivo apresentar os
do descarte de produtos usados, aumentando
resultados de um estudo de caso feito nas asso-
o lixo urbano, principalmente em países com
ciações folclóricas dos bois-bumbás “Caprichoso
menor desenvolvimento econômico e social. Isto
e Garantido” do município de Parintins (AM).
ocorre porque os canais reversos de distribuição,
Trata-se do processo de logística reversa dos re-
normalmente, não estão estruturados, havendo
síduos sólidos como ferro e isopor (poliestireno)
desequilíbrio entre as quantidades de material
que são gerados após o término do Festival Fol-
descartado e reaproveitado. Como exemplo,
clórico. Os procedimentos de coleta são realiza-
pode-se citar o Brasil, onde a coleta seletiva do
dos pela empresa Cometais Indústria e Comércio
lixo urbano não é prática comum, dificultando
de Metais Ltda., localizada na cidade de Manaus
o estabelecimento de um canal de distribuição
(AM), onde esses resíduos receberam tratamento
reverso.
adequado para os procedimentos de reciclagem. O processo teve caráter obrigatório a partir da
Considerando que os produtos descartados no
implantação da Lei n° 12.305, de 02 de agosto de
meio ambiente trazem o que se denomina po-
2010, que institui a Política Nacional de Resíduos
luição, fato gerador dos custos para a sociedade
Sólidos. Entre os principais benefícios gerados
em termos de gastos para destinação final, e
a partir da implantação da logística reversa dos
para que haja o controle deste cenário de grande
resíduos sólidos nas associações, podemos citar:
impacto ambiental, as empresas, o governo e a
o melhoramento de imagem administrativa e
sociedade devem somar esforços para aplicar
organizacional, redução de custos, e a utilização
programas de reciclagem e, deste modo, cons-
de ações ecologicamente sustentáveis, sendo o
cientizar a população sobre sua importância.
último benefício o que mais representa a ideolo-
O governo estabelece legislações ambientais que
gia dos bois-bumbás para a região amazônica.
regulamentam o descarte e depósitos em aterros sanitários e, ainda, determinam como deverá ser
Introdução
realizado o uso de matérias-primas secundárias,
De acordo com Lacerda (2002), a questão
entre outros.
ambiental vem ganhando importância crescente
90
desde a década de 70, quando os consumidores
A logística reversa surge como uma essencial
passaram a cobrar das indústrias de bens de con-
ferramenta para conseguir recolher e organizar
sumo ou serviços maior consciência ambiental e
todos os resíduos. Funcionando como uma rede
só a partir da década de 90 é que sua influência
coletora de resíduos, formando um grande cená-
se mostrou mais intensa.
rio econômico, gerando impactos socioeconômi-
O avanço tecnológico acelerou a introdução de
cos em toda a sociedade, sem falar da questão
novos produtos no mercado, levando a maio-
ambiental.
Logística reversa dos resíduos sólidos das associações folclóricas dos bois- bumbás “Caprichoso e Garantido”
As atividades da Logística Reversa para obter o
perguntas, que devem ser respondidas por escrito
reaproveitamento de produtos usados por meio
e sem a presença do entrevistador”.
da utilização do fluxo reverso podem agregar
Os questionários foram aplicados no período de
valor ao produto no mercado, pela imagem cor-
06 a 08 de agosto de 2014 aos administradores
porativa associada ao respeito ao meio ambiente,
responsáveis pelo processo de logística reversa
além de captar oportunidades econômicas para o
das associações folclóricas dos bois-bumbás “Ca-
processo produtivo, como a redução de compra
prichoso e Garantido” do município de Parintins
de matéria prima virgem.
(AM).
Portanto, a preocupação com o meio-ambiente
Todas as informações coletadas foram tabuladas
é mundial, sendo um dos principais fatores que
e analisadas sob a ótica da logística reversa,
a motivam, e nas decisões relacionadas ao uso
constituindo o referido estudo, onde os procedi-
de recursos não renováveis ou a eliminação
mentos e instrumentos se mostraram satisfató-
de resíduos que afetam negativamente o meio
rios, atendendo às expectativas.
ambiente, o desenvolvimento sustentável traduz-
Após o processo de tabulação de dados dos ques-
-se freqüentemente pelo emprego de métodos
tionários, os resultados foram representados em
como a reciclagem, o reuso, a recuperação e o
gráficos, que, para Lakatos & Marconi (2001, p.
gerenciamento de resíduos.
170) “são figuras que servem para representações dos dados”, onde foi possível expor os resultados.
Nesse contexto o presente estudo visa contribuir diretamente para estudos na área de logística
Desenvolvimento
reversa no município de Parintins (AM), analisando o processo de destinação dos resíduos sólidos nas associações folclóricas dos bois-bumbás “Caprichoso e Garantido”, tendo como foco a importância do referido processo pouco difundido no município, sendo que a escolha do tema pelo autor é uma preocupação constante que impulsionou estudá-lo no descarte adequado
O município de Parintins (AM) e o festival folclórico dos bois-bumbás “Caprichoso e Garantido”. O município de Parintins é um município brasileiro no interior do estado do Amazonas, próximo á divisa com o estado do Pará, Região Norte do país. Sua população foi estimada em 2014 pelo
de materiais reutilizáveis.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Metodologia
e onze) habitantes, sendo o segundo município
A metodologia seguida pelo pesquisador foi com o embasamento da definição do problema levantado, leituras realizadas com proveito a respeito do tema escolhido e nos objetivos traçados. O instrumento de coleta de dados foi o questionário sendo utilizado como instrumento de coleta de dados, pela sua facilidade na aplicação, pela economia de tempo e de custo que oferece, pela abrangência com que permite a abordagem de assuntos, pois ele pode ser considerado como o instrumento mais conhecido e usado em pesquisa. De acordo com Lakatos & Marconi (2001, p. 201), o questionário “é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de
(IBGE) em 110.411 (cento e dez mil quatrocentos mais populoso do estado do Amazonas. O Ministério do Turismo classificou o município de Parintins como um dos 65 municípios indutores do turismo no Brasil, sendo um dos pontos turísticos mais importantes da Amazônia. Trata-se de um dos principais patrimônios culturais devido à apresentação do festival folclórico dos bois-bumbás “Caprichoso e Garantido”, que acontece todos os anos no último final de semana do mês de junho durante três noites de apresentação. O festival é uma apresentação a céu aberto de associações folclóricas, sendo o ponto mais importante do evento atualmente é a disputa
91
entre dois bois folclóricos, o Boi Garantido, de
logístico, de imagem corporativa, entre outros”.
cor vermelha, e o Boi Caprichoso, de cor azul. A apresentação ocorre no Bumbódromo. O Festival
Nesse contexto, o gerenciamento de resíduos
de Parintins se tornou um dos maiores divulga-
sólidos nas associações folclóricas teve início no
dores da cultura local. Durante as três noites de
ano de 2010, a partir da implantação da Lei n°
apresentação, os dois bois exploram as temáti-
12.305, de 02 de agosto de 2010, que institui a
cas regionais como lendas, rituais indígenas e
Política Nacional de Resíduos Sólidos, antes desse
costumes dos ribeirinhos através de alegorias e
período os resíduos sólidos como: ferro e isopor
encenações.
(poliestireno), que não tinham mais utilidade para formação de novas alegorias folclóricas
A rivalidade entre os bois é uma manifestação
eram destinados a lixeira pública do município de
folclórica conhecida mundialmente, e a festa
Parintins (AM).
recebe uma gama considerável de visitantes
Vale enfatizar que a lixeira pública do município
chegando a igualar o número de turistas com a
não dispõe de uma destinação adequada para
população local na época do festival.
esses tipos de resíduos, sendo que atualmente
A arena do Bumbódromo, desde 1988 após sua
o maior problema da lixeira é a contaminação
construção, é o palco de toda essa apresentação,
do lençol freático através do chorume (líquido
onde belas alegorias materializam os mistérios do
percolado de aterro), altamente corrosivo, que é
imaginário caboclo e indígena.
a mistura de água e resíduos da decomposição do lixo.
O objeto em foco para estudo são as “alegorias”, termo nativo que designa uma categoria a
A aquisição desses resíduos para montagem das
cultura popular contemporânea cujo destino final
alegorias é feita anualmente pelas associações,
é os rituais, e após a apresentação das noites de
sendo que esses materiais advêm de várias
festival as mesmas irão dar origem aos resíduos
empresas de Manaus (AM). O estimativo anual
sólidos como: ferro, isopor, plástico, borracha,
desses resíduos vai de acordo com os projetos
entre outros materiais, que são acondicionados
alegóricos apresentados pelos artistas plásticos
em galpões das associações durante 3 (três)
havendo oscilação nessa quantidade entre as
meses.
associações. Os procedimentos logísticos de retirada dos resíduos sólidos nas associações
Logística reversa dos resíduos sólidos nas associações folclóricas dos bois-bumbás “Ca-
folclóricas dos bois-bumbás “Caprichoso e
prichoso e Garantido”.
terceirizado pela empresa Cometais Indústria e
A Logística Reversa é uma área relativamente
Comércio de Metais Ltda., inscrita sob o CNPJ n°
nova para as organizações e sociedades no Brasil
02.896.727/0001-24, localizada na Rua Abelardo
e no mundo.
Barbosa, n° 486, Bairro Aleixo, CEP n° 69.060-
Segundo uma visão mais ampla de Leite (2003),
100.
Garantido” são realizados através de serviço
depois de algumas evoluções dos conceitos, a
92
logística reversa pode ser definida hoje como a
Após a apresentação na arena do Bumbódromo
“área da logística empresarial que planeja, opera
durante as noites de festival os carros alegóricos
e controla o fluxo e as informações logísticas
voltam para seus galpões de origem para iniciar
correspondentes, do retorno dos bens de pós-
o processo de logística reversa. O processo tem
-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios
duração média de 3 (três) meses e tem como
ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de
cumprimento a norma NBR 13.463:1995, que
distribuição reversos, agregando-lhes valor de
classifica a coleta de resíduos sólidos e seus
diversas naturezas: econômico, ecológico, legal,
procedimentos.
Logística reversa dos resíduos sólidos das associações folclóricas dos bois- bumbás “Caprichoso e Garantido”
Os resíduos dispostos nos galpões são separados
como de média concentração, e a topografia é
e acondicionados. Para cada associação estão
predominantemente plana.
disponíveis os seguintes materiais: 01 prensa
Em relação aos lugares de acondicionamento,
para ferro e alumínio, 01 bancada de policorte,
podemos afirmar que é pavimentado, e o sistema
01 máquina de cortar ferro, 04 maçaricos e 01
viário é de razoável circulação.
estufa para isopor.
Quanto ao tráfego é de média intensidade, e a
O ferro passa por uma prensa para metais
estação de transbordo de resíduos é a hidrovi-
iniciando o processo de compactação que se
ária através de balsas. Quanto ao tratamento
tornará em blocos para facilitar o manuseio e
físico prévio dos resíduos, podemos classificar
transporte, no caso do isopor passará pela estufa
como sistema de redução de volume através de
de aquecimento que será responsável pela redu-
compactador.
ção de volume.
Sendo assim, podemos afirmar a que norma de classificação do tipo de coleta é essencial para
Para os procedimentos de coleta é verificada a
que seja direcionada a forma como as atividades
licença ambiental junto ao Instituto de Proteção
fluíram para o bom andamento das atividades de
Ambiental do Amazonas (IPAAM), essa licença
logística reversa dos resíduos sólidos nas associa-
é feita através do Requerimento de Licença de
ções folclóricas.
Operação (LO). A Licença de Operação tem prazo de validade máxima de 2 (dois) anos, sendo que
RESULTADOS E PROPOSTAS DE MELHORIAS
tal procedimento esta descrito no Art. 12 do Decreto Estadual nº 10.028, de 04 de fevereiro de
Resultados
1.987.
Nos gráficos abaixo, pode-se concluir que entre
Após a verificação da licença ambiental o IPAAM
as associações folclóricas dos bois-bumbás
autoriza os procedimentos da coleta de resíduos
“Caprichoso e Garantido”, o ferro é o que mais
nas associações. Outra licença ambiental verifica-
gera resíduos em torno de 201,5 (duzentos e
da é a do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
um e meio) toneladas (88,96% do total), e a
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Após
que apresenta maiores custos com disposição e
a autorização dos órgãos fiscalizadores, dará
transporte, enquanto o isopor (poliestireno) gera
início aos procedimentos de coleta dos resídu-
25 (vinte e cinco) toneladas (11,04% do total).
os sólidos pela empresa Cometais Indústria e
Os resíduos citados acima são responsáveis por
Comércio de Metais Ltda., que serão analisados a
maior de todos os resíduos sólidos gerados nas
partir da ABNT NBR 13463:1995.
associações.
Em ambas as Associações o tipo de coleta ficou
A quantidade de ferro gerado na Associação
classificada como particular, e o tipo de sistema
Folclórica Boi-Bumbá Caprichoso é de 103 (cento
de trabalho é a terceirização através de coleta
e três) toneladas, o equivalente a 51,12%, en-
contratada, sendo que os operários utilizam
quanto que na Associação Folclórica Boi-Bumbá
equipamentos de proteção individual.
Garantido são 98,5 (noventa e oito e meio)
Quanto ao tipo de equipamento de coleta foi
toneladas, o equivalente a 48,88%.
classificado como veículo coletor com caçamba
A quantidade de isopor (poliestireno) gerado na
simples e basculante tipo standard.. Em relação à
Associação Folclórica Boi-Bumbá Caprichoso é
forma de acondicionamento dos resíduos, pode-
de 13,5 (treze e meio) toneladas, o equivalente
mos concluir que é através de contêiner coletor
a 54%, enquanto que na Associação Folclórica
ou intercambiável.
Boi-Bumbá Garantido são 11,5 (onze e meio) toneladas, o equivalente a 46%.
Quanto à área da coleta podemos classificar
Durante esse período de 2010 e 2013 foram
93
Figura 1 – Gráfico de percentual de toneladas de ferro coletado nas associações folclóricas.
Figura 2 – Gráfico da quantidade de ferro coletado no período de 2010 a 2013.
Figura 3 – Gráfico de percentual de toneladas de isopor coletado nas associações folclóricas.
coletados 226,5 (duzentos e vinte e seis e meio)
sabilidade sócio-ambiental perante o município
toneladas de ferro e isopor (poliestireno), sendo
de Parintins (AM) e o seguimento da legislação,
que na Associação Boi-Bumbá Caprichoso
pois antes boa parte destes resíduos era desti-
coletou-se 116,5 (cento e dezesseis e meio) tone-
nada a lixeira pública do município de Parintins
ladas, o equivalente a 51,44%, enquanto que na
(AM). Esses dados engrandecem ainda mais o
Associação Boi-Bumbá Garantido coletou-se 110
Festival Folclórico realizado todos os anos que
(cento e dez) toneladas, o equivalente a 48,56%.
preza pela preservação ambiental da Amazônia e
O aumento gradativo entre os anos de 2010 a
do mundo.
2013 de geração de resíduos sólidos entre as
94
associações é devido ao maior número de carros
Propostas de Melhorias
alegóricos que são apresentados anualmente nas
Pelo fato do gerenciamento de resíduos sólidos
três noites de festival na arena do Bumbódromo.
ser recente no Brasil, as associações folclóricas
Através dos gráficos podemos perceber a respon-
desde o ano de 2010, quando foi implantada
Logística reversa dos resíduos sólidos das associações folclóricas dos bois- bumbás “Caprichoso e Garantido”
Figura 4 – Gráfico da quantidade de isopor coletado no período de 2010 a 2013. Fonte: O autor.
Figura 5 – Gráfico da quantidade de ferro e isopor coletados no período de 2010 a 2013. Fonte: O autor.
a Lei n° 12.305, de 02 de agosto de 2010, que
O presente estudo desenvolvido alcançou seu
institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
objetivo principal que é mostrar a evolução e o
vem aperfeiçoando o processo de transporte e
processo de logística reversa dos resíduos sólidos
redução dos resíduos.
nas associações folclóricas dos bois-bumbás “Ca-
Um dos procedimentos a serem analisados nas
prichoso e Garantido” do município de Parintins
associações folclóricas, é a forma de acondicio-
(AM), sendo que as associações se interessam
namento dos resíduos sólidos, pois quando não
pela redução, armazenagem e pela destinação
há disponibilidade de espaço nos galpões, os
correta de seus resíduos, seja para reciclagem,
resíduos ficam expostos as condições climáticas,
reuso ou redistribuição.
sendo que o ferro ocasiona uma reação química
Durante o desenvolvimento do trabalho há
de ferrugem, e o isopor (poliestireno) se alastra
alguns pontos que devem ser ressaltados, como
com o vento, ocasionando mais lixo nas ruas do
por exemplo, as associações se preocupam em
município de Parintins (AM).
atender a legislação, visando o melhor para o
Nas associações não é divulgado de forma efi-
município no que tange a destinação adequa-
ciente os resultados para a população parintinen-
da dos resíduos sólidos, preocupando-se em
se e sociedade, que poderiam ser através das mí-
influenciar de alguma forma, empresários e a
dias locais como rádio e televisão, ou até mesmo
população, para que assumam uma postura
pelo próprio site dos bois-bumbás. A divulgação
sócio-ambiental responsável.
seria importante para despertar a conscientização
Entre os principais benefícios gerados a partir
ambiental através da destinação adequada dos
da implantação da logística reversa dos resíduos
resíduos sólidos para reciclagem. Considerações Finais
sólidos nas associações, podemos citar: o melhoramento de imagem administrativa e organiza-
95
cional, redução de custos, e a utilização de ações
Ambiental Federal. Disponível em: <https://www.
ecologicamente sustentáveis, sendo o último
ibama.gov.br/licenciamento/>. Acesso em: 12 de
benefício o que mais representa a ideologia dos
agosto de 2014.
bois-bumbás. O tema aqui abordado é bem amplo, e este
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e
trabalho abre espaço para novas pesquisas e
Estatística. Amazonas - Parintins. Disponível
novas idéias. As propostas de melhoria sugeridas
em: <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.
podem ser trabalhadas nas associações e dessa
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forma continuar esse estudo mostrando seus
de 2014.
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Amazonas. Licença de Operação. Disponível em: <www.ipaam.am.gov.br/pagina_interna.
AMAZONAS. Decreto Estadual nº 10.028, de 04 de
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fevereiro de 1.987. Dispõe sobre o Sistema Estadual de Licenciamento de Atividades com Poten-
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conceitos básicos e as práticas operacionais. Cen-
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Françoan de Oliveira Dias -Universidade Estácio de Sá MBA em Gestão Financeira e Controladoria francoan_dias.18@hotmail.com
dos Recursos Naturais Renováveis. Licenciamento
96
Artigo
PINAM : A alternativa estratégica para o desenvolvimento regional e econômico do Amazonas, paralelo ao Pólo Industrial de Manaus. Geraldo Ximenes Pinto Júnior e Marcos Paulo Mendes Araújo Resumo
better understand this reality, we seek with this
As dinâmicas que movem o desenvolvimento
investigation, analyze the current reality of PIM
regional exigem que sejam criados meios para
and PINAM in order to understand, among other
inovar e aprimorar setores que apresentam po-
things, the need for training of the hand labor
tenciais de crescimento econômico. Este estudo
and the acquisition of new technologies that will
teve como objeto de análise, o desenvolvimento
keep pace with new demands of both poles.
do Estado do Amazonas a partir de números provenientes do Pólo Industrial de Manaus (PIM),
Keywords: Industrial Pole of Manaus, Naval
bem como, do Pólo de Construção Naval (PINAM),
Industry and regional development.
que atua hoje na informalidade, mas que projeta despontar nos próximos anos como um dos seto-
Introdução
res mais promissores da economia amazonense.
O desenvolvimento de uma região é de suma
Para entender melhor essa realidade, buscamos
importância para seu crescimento econômico. A
com esta investigação, analisar a atual realidade
criação de atrativos é determinante para novos
do PIM e do PINAM, a fim de entender, entre
investimentos, sejam de empresas nacionais ou
outras coisas, a necessidade de capacitação da
estrangeiras que, observando as oportunida-
mão-de-obra e a aquisição de novas tecnologias
des, decidem investir em diferentes setores da
que permitam acompanhar as novas demandas
economia, entre as quais, inovação tecnológica e
de ambos os pólos.
sustentabilidade.
Palavras-chaves: Pólo Industrial de Manaus, Indústria Naval e desenvolvimento regional.
O Brasil é um país que possui uma Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável. Tendo como
Abstract
base este princípio, os municípios brasileiros
The dynamics that move regional development
possuem autonomia jurídica para criar meios e
require that resources be created to innovate
estratégias para desenvolverem potencialidades
and improve sectors with potential for economic
que possam provocar a inserção destes na com-
growth. This study had as its object of analy-
petitiva globalização.
sis, the development of the State of Amazonas numbers coming from the Industrial Pole of
Países com longa tradição na construção naval,
Manaus (PIM), both Pole Shipbuilding (PINAM),
como por exemplo, a Finlândia ‘assistem’ com
which currently operates informally, but designs
otimismo o crescimento do setor. Em função des-
emerge in the coming years as one of the most
se interesse, desde 2012, os empresários daquele
promising sectors of the Amazonian economy. To
país já capacitaram cerca de 200 brasileiros nas
97
suas sedes européias.
lente ao Pólo Industrial de Manaus, porém pouco
O embaixador da Finlândia no Brasil, Jari Petteri
desenvolvido.
Luoto, ao visitar a SUFRAMA em 2012, afirmou
Seria esta uma alternativa estratégica para um
que “empresas navais finlandesas instaladas no
desenvolvimento da região norte aliado ao PIM?
Rio de Janeiro chegam a faturar 11 bilhões por
O desenvolvimento deste pólo naval acrescen-
ano e algumas planejam instalar-se em Manaus”.
taria valores efetivos na logística e economia do
As vantagens que podem advir do “casamento”
estado?
entre o PINAM e o Pólo Industrial de Manaus
Acreditamos que este estudo permite verificar
(PIM), tornará a cidade de Manaus, cada vez mais
como o Estado do Amazonas e mais especifica-
atrativa, pois, os incentivos fiscais que já são
mente, a cidade de Manaus desenvolve atu-
oferecidos, aliados à construção de estrutura es-
almente suas estratégias ou políticas públicas
pecialmente construída para abrigar o Pólo Naval,
visando atrair novos investimentos, bem como,
contribuirá para a abertura de um significativo
empresas estrangeiras interessadas em inves-
mercado regional.
tirem na região. A investigação nos possibilita
A situação financeira da cidade pode ser observa-
refletirmos sobre os diferentes cenários da
da em 2013, quando o Estado do Amazonas teve
economia regional, bem como, pensarmos na
receita tributária em torno de R$ 8,064 bilhões
propositura de sugestões que possam ser incor-
(SEFAZ/AM, 2013). O ano de 2012 encerrou com
poradas nestes cenários.
a receita em torno de R$7,178 bilhões (SEda balança comercial do estado, bateu recorde,
Breve esboço da Indústria Naval no Amazonas.
recolhendo mais de R$ 4,9 bilhões (SEFAZ/AM,
Segundo Salsa (2009), a indústria de construção
2008).
naval no Brasil está presente desde os tempos
Essa arrecadação expressiva mostra o potencial
coloniais. Logo no início da presença portuguesa
do município de Manaus na contribuição do
foram construídos estaleiros tanto para repara-
crescimento regional, segundo o secretário de
ção de embarcações como para projeto e cons-
fazenda Afonso Lobo: “Este resultado é muito
trução. Contribuíram decisivamente para isso a
positivo, que contribui para o Estado manter a
posição geográfica e estratégica da colônia em
sua política de investimentos”. E apesar de sua
relação à rota da Índia, além da grande disponi-
regressão em no ano de 2008, permite ao Ama-
bilidade de madeira de boa qualidade. O primeiro
zonas sonhar e executar projetos ambiciosos e
estaleiro estabelecido foi o da Ribeira das Naus,
faraônicos, já concluído, como a Ponte Manaus –
ao final do século XVI, também na Bahia, durante
Iranduba com 3,5 Km de extensão, que faz parte
o governo de D. Francisco de Souza.
do planejamento de construção de uma região
O primeiro tipo de canoa adaptada pelos coloni-
metropolitana no Amazonas.
zadores, denominada “canoa de obra” era uma
FAZ,2012) e mesmo com a crise em 2008, o saldo
adaptação dos batéus portugueses. Os mestres Com tudo isso, a problemática principal é que,
de obras caboclos receberam dos portugueses as
apesar do crescimento proporcionado pela Zona
primeiras lições de construção naval; no entanto,
Franca de Manaus (ZFM), a infraestrutura da
através dos anos desenvolveram e aperfeiçoa-
cidade em si continua deixando de atender a
ram as embarcações às condições amazônicas
necessidade de escoamento da produção, criando
(BOTINELLY, 1990).
um déficit negativo na logística do município de
98
Manaus e suas adjacências. Além desta questão,
Aos poucos, as diferentes realidades da região
podemos analisar a hipótese de um novo pólo
amazônica, impuseram diversas fusões de
industrial, porém voltado totalmente para a
técnicas, que acabaram ocasionando a criação
indústria naval, que possui um potencial equiva-
de diversos tipos de embarcações e aos poucos
PINAM : A alternativa estratégica para o desenvolvimento regional e econômico do Amazonas
foram se adaptando ao contexto regional a fim
região gira em torno de cinco mil barcos, sendo
de atender as necessidades de locomoção das
que cerca de 90% são feitos de madeira, com
populações locais.
características técnicas muito parecidas. Ainda,
No período áureo da borracha, ou seja, entre os
tomando como base os números do Sindinaval,
séculos XIX e XX, a Amazônia assistiu a introdu-
essas embarcações são responsáveis por 95% do
ção dos primeiros barcos a vapor. Essa inova-
abastecimento dos municípios do Amazonas.
ção tecnológica resultou em um significativo progresso técnico para região, pois possibilitou a
Apesar deste grande número de estaleiros,
instalação das primeiras empresas de navegação,
poucos são regulamentados. Sendo que a maioria
como por exemplo, a Companhia de Navegação
das embarcações de madeira é produzida por ar-
do Amazonas (CNA).
tesãos que mantém a tradição de suas raízes. Um número reduzido de construtores desenvolveram
Características da Indústria Naval no Estado.
técnicas para a construção de embarcações que
O Núcleo Estadual de Arranjos Produtivos Locais
utiliza como principal matéria prima na confec-
no Amazonas NEAPL/AM integrante do MDIC
ção da estrutura, o aço. Esses construtores navais
(Ministério do desenvolvimento, da Indústria e
são tratados historicamente como estaleiros.
Comércio Exterior) em seu levantamento sobre
Um estudo sobre o setor naval realizado pelo
o setor, afirma que a Amazônia possui a maior
Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas
indústria naval autônoma já conhecida. Só na
(SEBRAE) no ano de 2010, apresenta uma de-
região do Amazonas, são mais de 300 estaleiros,
monstração das características das empresas que
sendo a maioria de pequeno porte.
ingressam ou atuam hoje em dia no setor naval,
Segundo o Sindicato de Reparo e Construção
conforme o gráfico abaixo:
Naval do Amazonas (Sindinaval), a frota da
Fig.1 Fonte: SEBRAE, 2010. Gráfico do CNAE e Setor de atividades Naval de Manaus.
Fig.2 Fonte: SEBRAE,2010. Tempo de atuação de estaleiros na indústria naval do amazonas.
99
Segundo o citado órgão, é importante ressaltar
pleno desenvolvimento. Não é possível afirmar,
que 62% das empresas do setor naval possuem
mas acreditamos que a ausência de tecnolo-
o cadastro para a construção de embarcações de
gias, ou a falta de acesso a estas, acarretam o
pequeno e médio porte para fins comerciais ou
atraso no desenvolvimento de novos produtos,
especiais, enquanto apenas 21% estão cadastra-
prejudicando significativamente os processos
das e habilitadas para construção de embarca-
produtivos na região.
ções de grande porte.
Para termos uma visão mais completa do fatu-
Ainda sobre esse estudo, o SEBRAE enfatiza que
ramento alcançado pelo pólo naval, que possui
o tempo de existência dos estaleiros, bem como,
um espaço em pequena escala no Pólo industrial
o tempo que atuam no mercado amazonense,
de Manaus no que tange a produção voltada
conforme gráficona figura 2. Vejamos:
para embarcações ou reparos realizados em
Observamos, ao analisar esse gráfico, que as em-
embarcações tradicionais ou especificas, temos a
presas que atuam neste ramo encontram-se, em
seguinte tabela:
Fonte: SUFRAMA (junho/2009).
Tabela esta, que nos dá uma ampla visão de
diretos e indiretos.
que os projetos apresentados e aprovados pela
O projeto vem sendo executado pela SEPLAN (Se-
Superintendência da Zona Franca de Manaus,
cretaria de Planejamento e Desenvolvimento Eco-
já demonstram que as empresas especializadas
nômico), tendo sido intitulado: “Complexo naval,
em atividades da construção naval representam
mineral e de logística do estado”. As expectativas
valores significativos para nossa região e com
são grandes, porém, os incentivos ao crescimento
os incentivos poderiam oferecer uma gama de
e desenvolvimento regional, requerem diversos
serviço maior, atendendo a maiores requisitos do
planejamentos, sobretudo, estratégicos.
mercado.
Segundo o secretário executivo da SEPLAN Ronney Peixoto, o faturamento anual do pólo naval
Conceituando o Pólo Industrial Naval de Manaus – PINAM e seus benefícios para o
informal gira em torno de R$ 800 milhões ao
desenvolvimento econômico.
PINAM o faturamento alcançaria em 10 anos
ano e com a nova infraestrutura oferecida pelo o faturamento nas margens dos R$ 15 Bilhões,
100
Atualmente o município de Manaus, vem sendo
além da criação de 30 mil empregos diretos e
preparado para receber um dos maiores planeja-
indiretos.
mentos estratégicos para o pólo naval, conhe-
Para Maximiniano (2000, p.175), o processo de
cido como Pólo Industrial Naval do Amazonas
planejamento é a ferramenta que as pessoas e as
(PINAM).
organizações usam para administrar suas rela-
Idealizado pelo governo do Estado do Ama-
ções com o futuro. É uma aplicação especifica do
zonas em alternativa paralela ao projeto Zona
processo decisório. As decisões que procuram de
Franca de Manaus, o pólo industrial naval visa o
alguma forma, influenciar o futuro, ou que serão
desenvolvimento da infraestrutura e escoamento
colocadas em prática no futuro, são decisões do
da produção regional, além de gerar empregos
planejamento.
PINAM : A alternativa estratégica para o desenvolvimento regional e econômico do Amazonas
A fim de atender a todas as necessidades do novo
Unindo estes fatores, o PINAM estará bem es-
pólo industrial naval, deverão ser realizados nos
truturado para criar uma vantagem competitiva
próximos anos, investimentos que permitam o
sobre os demais países que possam ser concor-
estabelecimento de elevados padrões produtivos
rentes e ser um atrativo para investidores que
que possam contar com instalações “inovadoras”,
visam lucratividade.
bem como, equipamentos para aumento da capa-
Um dos fatores positivos de investir em um pólo
cidade produtiva; infraestrutura; conhecimentos
com incentivos fiscais e que existe a facilidade
e habilidades, além de novas competências.
logística local, além de oferecer facilidades como:
O arranjo produtivo da Construção Naval no
(i)Baixo custo de operação; (ii) Alta previsibilidade
Amazonas deverá ser centralizado na capital
do tempo de viagem; (iii) Reduzido índice de po-
Manaus, no entanto, será necessário gerar mul-
luição; (iv) Capacidade de integração e desenvol-
tiplicadores para atenderem as demais regiões,
vimento de regiões ribeirinhas; (v) Menor custo
priorizando algumas localidades que já são refe-
total de investimento e maior facilidade para
rência neste setor. A organização deverá seguir o
o seu equacionamento no sistema hidroviário,
seguinte planejamento:
em comparação às alternativas terrestres em
virtude da necessidade de vultosos investimentos
• Manaus - facilidade de acesso aos
vários tipos de estaleiros, aos institutos de pes-
para expandir a infraestrutura, tanto rodoviária
quisas e aos insumo;
quanto ferroviária.
• Manacapuru- proximidade da capital;
Os dados mostram que este projeto que vem sen-
• Iranduba – maior proximidade da
do implantado oferecerá uma nova etapa para
capital, após a conclusão da ponte;
o estado do Amazonas, utilizando a estratégia
de produzir o meio de transporte mais utilizado
• Novo Airão – habilidade naval
conhecida mundialmente e proximidade de
para escoamento de produção, atualmente tão
Manaus;
deficiente.
• São Sebastião do Uatumã – vanta-
gem competitiva na logística de cargas (transpor-
Considerações Finais
te de grãos), perto de Itacoatiara.
O Desenvolvimento econômico de uma região considerada competitiva é extremamente desa-
O pólo industrial naval de Manaus não requer
fiado, quanto à conquista de novas tecnologias,
apenas realizar o cadastro dos estaleiros em fun-
investimentos financeiros e infraestrutura para o
cionamento atualmente no Amazonas, mas sim
seu crescimento.
estabelecer a integração entre todos os setores
O Pólo Industrial Naval de Manaus mostra-se
que necessitem deste.
firme para o desenvolvimento regional. Com
Lorenzoni e Fuller (1995) nos propõem que o
investimentos e uma gestão competitiva, poderá
sucesso competitivo requer a união de múltiplas
atender não só aos requisitos regionais, mas
capacidades (inovação, produtividade, qualidade,
também nacionais, quiçá internacionais, atraindo
resposta a clientes) e Segundo Porter (1985) a
aportes financeiros e tecnológicos.
Vantagem Competitiva advém do valor que a
Com o crescimento deste setor, poderemos ob-
empresa cria para seus clientes em oposição ao
servar em pouco tempo, o município de Manaus,
custo que tem para criá-la. Portanto, a formu-
ou mesmo o Estado do Amazonas, sem essa
lação de uma estratégia competitiva é essencial
“eterna” dependência do Pólo Industrial. O desen-
para a empresa, pois esta dificilmente poderá
volvimento do Pólo Naval deverá assegurar novas
criar condições, ao mesmo tempo, para responder
perspectivas e delinear um futuro promissor para
a todas as necessidades de todos os segmentos
toda região.
de mercado atendido, proporcionando à empresa,
De acordo com a literatura e pesquisa reali-
desta forma, criar uma posição única e valiosa.
zada sobre o setor é possível afirmar que este
101
pólo trará benefícios significativos para toda a
LORENZONI,G.; BADEN,F.C. Creating a Strategic
população da capital, assim como dos municípios
Center to Manage a Web of Partners. California
vizinhos, quanto à educação, P&D, crescimento
Management Review, 37 (3): 146-163, (1995).
profissional, desenvolvimento, sustentabilidade e inovação tecnológica, através de um projeto
MAXIMINIANO,A.C.A - Introdução à Administra-
empreendedor.
ção. 5º ed. rev. e ampl. – São Paulo: Atlas, 2000.
Portanto, a implantação deste pólo naval é
PORTER, M. E. Estratégia - A Busca da Vantagem
crucial para criar um novo diferencial estratégico
Competitiva.Editora: Campus. Rio de Janeiro,
para a região amazônica e alcançar novos resul-
1998.
tados competitivos, que estão ligados a este setor pouco explorado e ainda em condições deficien-
SALSA, C. Indústria naval brasileira: passado e fu-
tes para o crescimento.
turo, artigo de Carol Salsa. Disponível em <http:// www.ecodebate.com.br/2009/09/17/industria-
Referências Bibliográficas.
-naval-brasileira-passado-e-futuro-artigo-de-carol-salsa/>. Acesso em: 23 de abr. 2014.
BARBOSA, E. Pólo naval de Manaus: comando e controle – Amazonas, 2011. Disponível em:
BRASIL. Setor Naval de Manaus: Relatório con-
http://www.gnbc.com.br/. Acessado em: 06 de
solidado das empresas associadas ao Sindinaval,
Abril de 2014.
SEBRAE, 2010.
BRASIL. Pólo Naval atrai interesse de finlande-
BRASIL. SDR (Secretaria de Desenvolvimento
ses. Imprensa: Nacional.02/10/2013 disponível
Regional): Diretrizes da Política Nacional de
em: www.suframa.gov.brAcessado em: 23 de
Desenvolvimento Regional – Brasília, 2005.
abr.2014. Geraldo Ximenes Pinto Júnior – Faculdade FUCAPI -
BOTINELLY, T. Amazônia, uma utopia possível.
ximenesgeraldo@live.com
Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1990.
Marcos Paulo Mendes Araújo – Faculdade FUCAPI cunhabebe@ig.com.br
JADJISKI, D. Em busca da formalidade.In.Revista Portos e Navios.pag:24-25, Dezembro,2012.
102
Artigo
Produção agrícola uma alternativa para o desenvolvimento sustentável na microrregião do madeira Antonio da Encarnação, Mauro Emerson Moraes Duarte, Therezinha Maia Magalhães, Thamy Tatielle Pantoja, Waldecir Barros Pereira e Andreza Siqueira dos Santos Resumo
utilizou-se a técnica de análise regional a fim
O presente artigo tem como objetivo analisar
de diagnosticar as exportações regionais. Neste
a evolução produtiva do setor primário da
sentido, o método de Quociente de Localização
Microrregião do Madeira enfatizando seus
(QL) foi a ferramenta que propiciou ao teórico
momentos de baixa e alta produção, utilizando a
o conhecimento da realidade investigada num
variável do setor agrícola. Para isto foi aplicado
período em que obter dados, era muito difícil.
como método de análise o cálculo do Quociente de Localização (QL) de Homer Hoyt 1944, que nos
A agropecuária é um setor de grande importância
permitirá verificar as vocações dos municípios
para a economia brasileira, considerado o pilar.
desta microrregião. Os resultados auferidos
Através das exportações agrícolas, o país tem
mostram que esta Microrregião, no que tange os
se consolidado num líder mundial em produção
produtos agrícolas, possui uma boa participação
agrícola e abre as fronteiras de novos mercados
na geração de riquezas do Estado do Amazonas
para os produtores brasileiros. Nesse sentido,
pelo seu dinamismo neste setor, como aponta
o Estado do Amazonas vem construindo um
os dados oficiais, tanto por parte do Estado
emblemático polo agrícola para dar sustentação
com Secretaria de Estado do Planejamento do
à demanda cada vez maior, para uma população
Amazonas – SEPLAN, bem como, O Instituto
crescente. Neste contexto, vários materiais
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
têm sido publicados sobre essa temática e as
Palavras-chave: Setor Primário; Crescimento
perceptíveis pluralidades de opiniões.
Introdução
Os investimentos na área correspondente a
Este trabalho visa analisar a produção agrí-
Microrregião do Madeira é o enfoque abordado
cola, através dos indicadores fornecidos por
neste artigo, buscando sempre analisar os fluxos
órgãos oficiais, a saber: Secretaria de Estado de
de produção e suas oscilações dentro de um
Planejamento - SEPLAN e Instituto Brasileiro
período espacial.
de Geografia e Estatística – IBGE que apresenta a importância do setor agropecuário no
O Artigo apresenta a seguinte estrutura: na seção
Desenvolvimento Regional nos municípios da
1 Desenvolvimento Regional e Sustentável, 1.1
Microrregião do Madeira, no período de 2005
Desenvolvimento Regional, 1.2 Desenvolvimento
a 2010, tomando como base a metodologia
Sustentável, seção 2 apresentam os Modelos
utilizada por Homer Hoyt em 1944, método de
teóricos de Desenvolvimento Econômico, na
Quociente de Localização (QL), o qual foi utilizado
seção 2.1 apresenta o modelo quociente de
para estudar as condições econômicas da região
localização(QL), na seção 3 análise dos dados, na
metropolitana de Nova Iorque, para isso,
103
seção 4 apresenta os resultados e discussões e,
condizente com a realidade da Microrregião do
por fim, a seção 5 as considerações finais.
Madeira, procurando aperfeiçoar os mecanismos do setor produtivo, bem como, modernizar seu
Justificativa
aparelho institucional com a formação adequada
O Desenvolvimento Regional nos municípios
dos recursos humanos.
do Estado do Amazonas tem se configurado como um desafio, isto porque, historicamente o
A agricultura tem alcançado números expressi-
Estado do Amazonas passou por várias etapas
vos em termos de produção agrícola e pecuária,
de desenvolvimento, iniciando pelas “drogas
contribuindo dessa forma com o desenvolvimen-
do sertão”, que incluía produtos como canela,
to regional do Estado do Amazonas. No entanto,
cravo, anil, cacau, raízes aromáticas, sementes
a produção não é suficiente para alimentar sua
oleaginosas, madeiras, salsaparrilha etc - eram
população, considerando a localização geográfica
especiarias de grande valor na Europa utilizadas
do Estado do Amazonas, que está localizado
para alimentação, condimentação, construção
numa região de grande diversidade biológica,
naval e na farmacopeia (PONTES FILHO, 2000).
que necessita ser preservada a qualquer custo, nem que para isso tenha que privar a prática da
Mais tarde inicia-se o Ciclo da Borracha em 1879
agricultura. Contudo, há uma clara ascensão do
que deu inicio a um importante momento econô-
desenvolvimento agrícola na Microrregião do
mico e social, que anos depois, perdeu a primazia
Madeira, objeto de estudo deste trabalho que in-
da produção do látex para Malásia e Ceilão, tendo
vestigará os pontos em que este setor consegue
como consequência a estagnação econômica
alcançar números surpreendentes, bem como,
do Estado do Amazonas, por um longo período
verificará momentos em que esta Microrregião
até o aparecimento do Segundo Ciclo, que teve
passará por períodos de baixa produtividade,
como objetivo a instituição da Zona Franca de
confirmado através de dados científicos do
Manaus e criação do centro Industrial, comercial
setor que apontam o caminho ou decisão a ser
e agropecuário no interior da Amazônia. O outro
tomado para um investimento adequado, sem
Ciclo implantado inicia-se com o programa Zona
desrespeitar o ciclo natural das relações entre
Franca Verde criado em 2003, pelo Governo
homem-natureza.
do Estado com objetivo de enfrentar e corrigir os desvios sociais e ambientais em busca do
O modelo do Quociente de Localização (QL),
desenvolvimento sustentável.
proposto para ser aplicado neste trabalho, pode indicar soluções para sanar as deficiências de
Porém, há poucos dados científicos, mesmo se
dados no setor e, sobretudo, diagnosticar as
tratando do setor Agropecuário, que se configura
vocações de cada município que compõe a
como uma importante mola propulsora do cres-
Microrregião do Madeira, ajudando a construir
cimento econômico da Microrregião do Madeira
uma análise responsável dos resultados, mas,
e do país. A ausência de estudos existentes,
não será capaz de mudar uma estrutura sem a
levando em consideração o período espacial
vontade política.
evolutivo da atividade, motivaram a busca de parâmetros no sentido de entender como se dá o
A relevância deste trabalho se dá pela neces-
processo produtivo na sua forma dinâmica.
sidade de acompanhamento da evolução do setor agropecuário, com estudos e análises
104
Uma análise aprofundada dos resultados do
científicas que possam balizar futuros investi-
período investigado pode ser um forte aliado
mentos privados nesta área e nortear políticas
para nortear futuros projetos e aportes na
governamentais no incremento agropecuário,
construção de uma politica agropecuária
na perspectiva de melhoramento da competiti-
Produção agrícola uma alternativa para o desenvolvimento sustentável na microrregião do madeira
vidade e sustentabilidade, visando melhoria na
progresso material, justiça social e sustentabi-
qualidade de vida da população da Microrregião
lidade e mobilizar os recursos necessários para
do Madeira.
sua obtenção”. Em outras palavras é o esforço comum de uma
Desenvolvimento Regional e Sustentável
localidade em possibilitar politicas capazes de responder às necessidades de sua população
Desenvolvimento Regional
com objetivo de proporcionar a melhoria na
O elemento espaço, no Desenvolvimento
qualidade de vida de seus cidadãos, respeitando
Regional, muito embora em alguns momentos
o meio-ambiente do qual fazem parte e deles
negligenciados, remonta o período mercanti-
explorando os recursos necessários de forma
lista (1450/1750), período em que um País era
racional sem por em risco a sobrevivência das
considerado forte quanto mais pudesse acumular
futuras gerações.
metais, bem como, manter sua balança comercial favorável, fato que levou um intervencionismo
Isso tem mudado consideravelmente a ponto de
e paternalismo na formulação de políticas
dividir-se em três grupos distintos, o primeiro
econômicas.
grupo, segundo Fochezatto (2010), é o grupo
Segundo Buarque (2006) na sua formulação
tradicional que defende a teoria da distância e
conceitual, Desenvolvimento Regional ou Local
área. Preocupa-se basicamente com os custos e
é um processo endógeno de pequenas unidades
os lucros determinada pela localização da firma
territoriais ou grupos humanos capazes de
em determinada região. Ainda nesta perspectiva
promover a dinâmica em sua economia possibi-
Fochezatto afirma que o segundo grupo que vai
litando, dessa forma, melhoria da qualidade de
até a década de 80 aponta três teorias principais:
vida das pessoas que deles façam parte.
as dos Polos de crescimentos, de Perroux; da
Essa dinâmica produz uma singular transforma-
Causação Circular, de Myrdal e dos Efeitos
ção dos meios, baseados nos princípios econômi-
de Encadeamento para trás e para frente de
cos e na organização social no qual essas forças
Hirschman.
promovem a exploração de suas capacidades de
Essas teorias enfatizam as interdependências se-
produção, desenvolvendo métodos cooperativos
toriais como fator de localização das firmas e de
e criando a uma competividade local entre os
desenvolvimento da região. Isso porque inclui a
diversos atores. Aumentado assim, a renda e as
ideia de economias externas e vai além das pre-
várias formas de riquezas.
ocupações de localizações individuais das firmas. E por fim, o terceiro grupo ascende depois dos
Furtado (1968), diz que Desenvolvimento é muito
anos 80 tem como principal expoente Marshall
mais que o aumento da oferta de bens e acumu-
(1982) com teoria a externalidades dinâmicas,
lação de capital, é um conjunto de respostas e de
defendidas por alguns autores tais como Arthur
autotransformação de uma coletividade humana.
e Krugman que as explicitam dividindo em três
Para o autor, quando esses projetos priorizam a
tipos de economia: concentração do mercado
melhoria de vida das pessoas, o crescimento se
de trabalho, oferta de insumos especializados e
transforma em desenvolvimento.
intercâmbio tecnológico.
No conceito da Comissão Econômica para
Desenvolvimento Sustentável
América Latina e o Caribe CEPAL e do Instituto Latino-americano de Planificação Econômica
O conceito de Desenvolvimento ao longo dos
e Social – ILPES, Desenvolvimento Econômico
tempos apoiou-se principalmente na acepção
Territorial é: “a capacidade de uma sociedade
econômica como principal parâmetro para men-
local em formular propósitos coletivos de
surar se uma localidade era ou não desenvolvida.
105
106
Hoje, esse pensamento parece ultrapassado, isto
no Rio de Janeiro gerando um documento deno-
porque o conceito de Sustentabilidade, levando
minado de Agenda 21. Esse documento trouxe no
em consideração o Meio-Ambiente tornou-se
seu bojo um plano de sustentabilidade para três
decisivo nesta nova concepção conceitual.
áreas: dimensão econômica, social e ambiental,
Na década de 80 parece desencadear novas for-
que também era defendido por teóricos como
mas de enfrentar o processo de Desenvolvimento
Scharf, segundo a qual, o desenvolvimento
Regional, emergindo dessa forma, uma preo-
Sustentável estaria apoiado neste tripé e
cupação cada vez mais latente de atender as
condicionados ao desenvolvimento simultâneo
necessidades presentes, sem comprometer as
dos três pilares.
gerações a futuras. Por essa razão, a Comissão
Para Elkington (2001) o Pilar Econômico trata do
de Brundtland elaborou o relatório Our
lucro da empresa, a diferença entre seus ativos e
Commom Future que se delineou o conceito de
suas obrigações e pode ser encontrado de duas
Desenvolvimento Sustentável como sendo: “a
formas: capital físico e capital financeiro. O pilar
forma com as atuais gerações satisfazem as suas
Social “é a capacidade das pessoas de trabalha-
necessidades sem, no entanto, comprometer a
rem juntas, em grupos ou organizações, objeti-
capacidade de gerações futuras satisfazerem as
vando o bem-comum” (FUKUYAMA, 2004). Já o
suas próprias necessidades” (Brundtland apud
pilar Ambiental, segundo Elkington (2001:83), as
Scharf, 2004, p. 19).
empresas precisam saber se são ambientalmente
sustentáveis e precisam conhecer o conceito de
A escassez dos recursos e sua
exploração cada vez mais irracional aumentou na
capital natural, que para o autor, nada é nada
sociedade o desejo de equilibrar sua exploração e
fácil de definir. Porém, o autor aponta que este
possibilitar o seu usufruto pelas novas gerações.
está dividido em duas formas: O Capital natural
Muito embora esse conceito fosse entendido
crítico e capital natural renovável ou substituível.
como a harmonização da economia com o
O primeiro seria imprescindível para manutenção
meio-ambiente, o que foi mais amplamente
do ecossistema e o segundo diz respeito aos
difundido, levando muitas instituições a aderirem
recursos que são capazes de se renovar, de se
este conceito com a ideia de que esverdeando
recuperar e ser subsistidos.
seus negócios os tornariam mais eficientes e
Almeida (2002) sintetiza bem qual a principal
minimizariam os custos.
dificuldade para por em prática este conceito.
Segundo este autor, a maior dificuldade não
Segundo Elkington (2001), somente
as questões ambientais por si só numa eco-
está em elaborar o conceito de Desenvolvimento
nomia global, não resolveria os problemas da
Sustentável, mas de colocá-lo em prática. Isso
sustentabilidade. “Aqueles que pensam ser
porque, para que seja implantado, é necessário
a sustentabilidade somente uma questão de
observar as externalidades que são capazes de in-
controle de poluição, não está vendo o quadro
fluenciá-los diretamente tais como: Democracia e
completo” (ELKINGTON, 2001, p. 74). Dessa forma
estabilidade política, paz, respeito à propriedade,
houve uma percepção de que a questão era bem
ausência de corrupção, entre outros.
mais do que somente ambiental, é também uma
Outro aspecto não menos relevante é a
questão social.
Responsabilidade Social Empresarial – RSE - in-
Durante a Conferência Mundial sobre o Meio
tegralizado com o Desenvolvimento Sustentável
Ambiente e Desenvolvimento da ONU, a ECO
correspondente à Dimensão do pilar Social do DS.
92, realizado no Rio de Janeiro, percebeu-se
Assim, para que uma determinada Região alcance
um maior conhecimento acerca dos problemas
o tão sonhado desenvolvimento, deve, antes de
econômicos, o que foi utilizado como pano de
tudo, considerar as bases conceituais em seus
fundo para as discussões socioeconômicas e as
vários axiomas para que possa comprimir um
transformações ecológicas durante a Conferência
plano capaz de proporcionar a qualidade de vida
Produção agrícola uma alternativa para o desenvolvimento sustentável na microrregião do madeira
de sua população.
capital). O modelo de Solow-Romer espacial modela a
Modelos Teorícos de Desenvolvimento
interdependência espacial e mostra quais os
Econômico
efeitos dos transbordamentos causados pela
A análise de Williamson (1977) é influenciada por
influência da dimensão espacial. A magnitude
Kuznets (1974), tentando comprovar sua curva
das externalidades espaciais que afetam o capital
de U-invertido. De forma resumida, esta teoria
agregado (K) e são calculados por modelos de
afirma que, à medida que o país se desenvolve,
econometria espacial.
há um aumento da disparidade regional devido à atração de mão de obra pelos polos desenvol-
Quociente de Localização
vidos, o que implica um êxodo do campo para a
Homer Hoyt desenvolveu o método de Quociente
cidade. Contudo, os centros urbanos, demandan-
de Localização – QL para estudar a situação
tes de mão de obra qualificada, são incapazes de
econômica da área metropolitana de Nova York e
abrigar contingentes populacionais advindos do
para sanar a carência de para obtenção de dados.
campo, uma vez que há uma desqualificação des-
Neste sentido, Homer utiliza o QL para estimar as
ses trabalhadores, ocasionando uma distribuição
exportações por setor.
desigual da renda, tanto nas cidades quanto entre o campo e a cidade, e um desenvolvimento
Para Haddad (1989), o índice permite comparar a
regional não balanceado pode ser observado.
participação percentual de uma região (município, estado, microrregião, ou macrorregião) em
Outro modelo teórico de crescimento econômico
um setor particular com a participação percen-
é o neoclássico que tem como objetivo explicar
tual da mesma região no total do emprego de
o comportamento das economias, no que se
todos os setores e regiões do País.
refere ao crescimento econômico, defendido por Solow (1956) e Swan (1956). Na base do modelo
De acordo com Brito & Albuquerque (2002) apud
Solow-Swan, há um conjunto de hipóteses sim-
Crocco et tal (2002), o quociente locacional
plificadoras e, com um forte grau de irrealismo,
procura, dentro de uma situação diferenciada,
mas suficientes para chegar a determinadas
analisar se uma determinada região possui ou
conclusões que ocupam o status de teoria
não especialização em determinado setor em
científica, podendo ser testáveis empiricamente.
comparação com duas estruturas espaciais.
Neste modelo, a simplicidade é o que mais atrai.
Segundo Haddad (1989), o cálculo da fórmula do
Ainda, como modelo neoclássico, a estrutura
QL é a seguinte:
teórica da abordagem por meio da regressão, que apresenta uma dinâmica de transição que mostra como a renda per capita da economia converge
Onde,
para o seu próprio estado estacionário e também
Eij = Emprego do setor econômico i na região j;
para renda per capita de outras economias.
Ei = Emprego no setor i de todas as regiões; Ej = Emprego em todos os setores da região j; e,
O modelo, segundo Ramsey-Cass-Koopmans
E = Emprego em todos os setores de todas as
(2009), denominado Modelo de Ramsey que é
regiões.
analisado em tempo e espaço infinitos. Através desse modelo são aplicados descontos tantos
Por fim, Brito & Albuquerque (2002), afirmam
temporais quanto espaciais e a mobilidade do
que caso o setor econômico i na região j
fator capital entre as regiões dá-se de forma
possua um QL maior que 1, esta região pode ser
que o capital move-se para as regiões com
considerada especializada neste setor.
maior retorno (maior produtividade marginal de
107
Análise dos dados
agropecuários do município de Apuí, conforme a
Análise do Quociente de Localização, desen-
tabela 1.
volvido por Homer Hoyt, com a finalidade de
108
identificar os setores produtivos de cada muni-
Na tabela 1, pode-se verificar que, no caso da
cípio da Microrregião do Madeira, composta por
Agropecuária, o município de Apuí construiu uma
cinco municípios, a saber: Apuí, Borba, Humaitá,
produção bastante significativa com avanços e
Manicoré e Novo Aripuanã, identificando os
quedas. Contudo, conseguiu manter sua produ-
setores produtivos da Agropecuária, Indústria de
ção ao longo dos anos investigados, isto leva a
Transformação e Serviços no período de 2005 a
crê, que a razão deste equilíbrio, está na politica
2010, tendo como base os dados fornecidos pelo
adotada pela administração para manter o fluxo
IBGE e SEPLAN.
de produção e a qualidade do produto.
Investigação dos indicadores produtivos
No quadro de cálculos, verificou-se que o
Produção agrícola uma alternativa para o desenvolvimento sustentável na microrregião do madeira
município de Apuí tem uma tendência para
desempenho abaixo de 1, o estudo mostra que
desenvolvimento da agropecuária e, Comparando
ele não é especializado neste setor e depende
com o modelo teórico apresentado, mostra o
da importação desses produtos para abastecer o
percentual maior que 1, isso indica que além de
mercado interno. Dessa forma, o município terá
especializado o município produz excedentes
que implementar em outro setor uma atividade
que são comercializados para outros municípios,
que atenda a uma vocação econômica e que
tornando-se um município exportador de
compense participação no setor primário.
produtos agropecuários.
Investigaremos a seguir os indicadores de
Mudando de município, investigaremos os
produtividade agropecuários do município de
indicadores Agropecuários do município de
Humaitá.
Borba, conforme a tabela 2.
Os indicadores de produtividade do município de Humaitá, apresentados na tabela 3, mostram
Na tabela 2 acima, verifica-se, a dinâmica do
a desenvoltura no PIB Agropecuário, a grosso
município de Borba na área Agropecuária,
modo, o município não tem grande expressão
observa-se que o município ao longo de 2005
neste setor, conforme dados de indicadores
a 2009 construiu uma dinâmica razoável, con-
apresentados no período analisado de 2005 a
siderando os indicadores de Apuí. Contudo, em
2010.
2010 observa-se uma recuperação econômica,
Seu melhor resultado foi em 2009, que alcançou
mudando de forma considerável com um salto
incríveis 59.693, já no ano posterior teve uma
que atinge a casa de 41.942, o que possivelmente
queda considerável na produção do setor primá-
consolida sua importância na produção agrope-
rio. Nos anos anteriores a 2009 seus resultados
cuária da Microrregião do Madeira.
não tiveram expressão no cenário econômico
Nos cálculos dos QLs deste munícipio podemos
regional.
verificar a sua vocação no setor primário.
Na investigação dos indicadores medidos em QL os dados serão medidos ano a ano, no período
O município de Borba apresentou índice de
espacial investigado que vai de 2005 a 2010.
109
Os indicadores de produtividade do município
A análise mostra que durante esse período o
de Humaitá, apresentados na tabela 3, mostram
município de Humaitá apresenta um quadro
a desenvoltura no PIB Agropecuário, a grosso
de dependência neste setor, uma vez que não é
modo, o município não tem grande expressão
especializado. Portanto, importa produtos para
neste setor, conforme dados de indicadores
abastecer o mercado interno. Os percentuais
apresentados no período analisado de 2005 a
abaixo de 1, reflete a mudança de foco no setor
2010.
produtivo do município de Humaitá, com deslocamento para o setor de serviços, onde podemos
Seu melhor resultado foi em 2009, que alcançou
ver progressão no crescimento do PIB.
incríveis 59.693, já no ano posterior teve uma queda considerável na produção do setor primá-
Em seguida serão analisados os dados econômi-
rio. Nos anos anteriores a 2009 seus resultados
cos do município de Manicoré, conforme mostra
não tiveram expressão no cenário econômico
a tabela 4.
regional. Manicoré apresenta indicadores constantes de
110
Na investigação dos indicadores medidos em QL
crescimento econômico nesta área de investiga-
os dados serão medidos ano a ano, no período
ção, agropecuária, conforme mostra a tabela 4.
espacial investigado que vai de 2005 a 2010.
Notadamente o município mantém uma constân-
Produção agrícola uma alternativa para o desenvolvimento sustentável na microrregião do madeira
cia na sua produção e consegue ano-a-ano
4. Notadamente o município mantém uma
incrementar seu fluxo produtivo
constância na sua produção e consegue ano-a-
Os dados econômicos apresentados na tabela 4,
-ano incrementar seu fluxo produtivo
mostram o crescimento econômico na área de
Os dados econômicos apresentados na tabela
investigação agropecuária, verificou-se que em
4, mostram o crescimento econômico na área
2007, o município teve uma queda brusca na sua
de investigação, agropecuária, verificou-se
produção, mas, no ano seguinte mostra recupe-
que em 2007, o município teve uma queda
ração econômica, mantendo uma constância na
brusca na sua produção, mas, no ano seguinte
produção e consegue ano-a-ano incrementar o
mostra recuperação econômica, mantendo uma
fluxo produtivo, fato que pode ser comprovado
constância na produção e consegue ano-a-ano
com o aumento considerável do PIB agropecuário
incrementar o fluxo produtivo, fato que pode
no ano de 2010, último ano de investigação da
ser comprovado com o aumento considerável
pesquisa. Dessa forma, o município de Manicoré
do PIB agropecuário no ano de 2010, último
deu uma guinada na sua produção alcançando o
ano de investigação da pesquisa. Dessa forma,
patamar de 172.289, consolidando seu potencial
o município de Manicoré deu uma guinada na
no setor. Nos cálculos QL verificamos a potencia-
sua produção alcançando o patamar de 172.289,
lidade do município na Agropecuária, conforme
consolidando seu potencial no setor.
indica a tabela 4:
Nos cálculos QL verificamos a potencialidade do
Manicoré apresenta indicadores constantes de
município na Agropecuária, conforme indica a
crescimento econômico nesta área de investi-
tabela 4:
gação, agropecuária, conforme mostra a tabela
111
Observa-se que o município de Manicoré
regional da Microrregião do Madeira e Estado do
alcançou um crescimento sustentável e dinâmico
Amazonas, contrastando com alguns municípios
no período estudado, com a penas um período de
desta Microrregião, que importam muitos
baixa produtividade em 2007, devido à ocorrência
produtos para abastecer seus mercados.
de casos de febre aftosa na região do Careiro-
Por fim, investigamos os dados econômicos do
Am, afetando os municípios exportadores, o que
munícipio de Novo Aripuanã, dados apresentados
contribui para o decréscimo no índice apresenta-
na tabela 5.
do. Contudo, conseguiu recuperar-se e construir
Os dados apresentados na tabela 5, mostram que
uma caminhada de franco crescimento, pois,
o município de Novo Aripuanã apresenta uma
consegue produzir para suprir o mercado interno
boa média de produtividade agropecuária, o que
e exportar o excedente para outros municípios.
mantém durante os anos de nossa investigação, comprovando seus dados no cálculo QL.
O percentual alcançado sempre acima de 1 é
112
o sinal de que o município é especializado no
Ao contrário do que se pode ver à primeira vista,
setor Agropecuário, assim, é por excelência um
o munícipio de novo Aripuanã, por dois períodos
exportador, contribuindo para o desenvolvimento
foi exportador, ou seja, conseguiu produzir para
Produção agrícola uma alternativa para o desenvolvimento sustentável na microrregião do madeira
a manutenção do seu mercado local e vender o
Em relação a Microrregião do Madeira estes são
excedente para outras localidades. Mostrando
os resultados progressivos dos anos investigados.
uma posição contrária aos munícipios exportadores da Microrregião do Madeira, que no período
A tabela 6 apresenta os resultados crescentes do
em que Novo Aripuanã exportava, os demais
PIB agropecuário dos municípios da Microrregião
municípios importavam produtos para abastecer
do Madeira, com uma queda considerável em
o mercado interno, contribuindo para queda no
2007, contudo apresenta recuperação nos
PIB desses municípios.
anos posteriores. A tabela mostra que poucos
Já no período de 2008 à 2010, Novo Aripuanã
municípios dessa Microrregião tem vocação
volta a condição de importador, não conseguindo
para o setor primário, porém, isso não indica
o mesmo sucesso produtivo de 2006 e 2007,
que os demais munícipios não especializados na
alcançando percentual abaixo de 1, mesmo tendo
Agropecuária, não possa investir neste setor.
um grande potencial neste setor primário.
Resultados e discussões
No mesmo patamar de Novo Aripuanã, segue
Das análises realizadas no setor Agropecuário
Humaitá, neste setor Agropecuário em 2005 o
concluímos que o município de Apuí é altamente
município atinge o percentual de 0,551812107,
especializado nesta atividade com resultados dos
em 2006 a mudança não é significativa, alcan-
QLs de 1,372001908 em 2005, o que aponta essa
çando o índice de 0,556697535. Um ligeiro au-
competitividade juntamente com o município de
mento ocorre em 2007 e 2008 com percentuais
Manicoré. Em 2006, o valor conitnuou crescendo
de 0,717363102 e 0,718717672 respectivamente.
para 1,803387708 e em 2007 há uma queda
Já em 2009, o índice chega a 0,863278126, o
brusca na produção decrescendo ao patamar de
que representa um significativo avanço para o
0,800429989. Já nos anos posteriores o municí-
município que no ano de 2010, não conseguiu
pio torna-se a equilibrar-se com os resultados em
manter o ganho, reduzindo seu percentual para
2008 de 1,781225775, 2009 é de 1,678364094
0,449018216, tornando-se importador e não
e finalmente em 2010 alcança o valor de
especializado na área.
1,430105634 consolidando o seu crescimento nesta área do setor primário. Dessa forma Apuí é
Manicoré, outro município da Microrregião do
exportador neste setor.
Madeira, tem uma participação significativa
Borba apresentou o QL no setor agropecuário
na área da Agropecuária de acordo com os
em 2005 o valor de 0,394890483, respecti-
QLs dos anos investigados, atingindo índice
vamente em 2006 o valor de 0,43637071, em
acima de 1, o que faz dele um especialista no
2007 atingiu 0,800429989, já em 2008 baixou
setor prestando uma enorme contribuição no
para 0,336859765, 2009 continua a baixa em
desenvolvimento do município e o Estado. Em
0,340116386 e em 2010 alcança 0,69927116,
2005 alcança o índice de 1,374644358, em 2006
mantendo-se como município importador e não
sofre uma diminuição, mas continua acima de 1,
especializado neste setor.
alcança índice de 1,048887602. No ano de 2007
113
a queda do índice é ainda maior, ficando abaixo
apresentando queda no QL de 2007, devido à
de 1, é valorado em 0,638461902, contudo, no
ocorrência de casos de febre aftosa na região do
ano de 2008, recupera-se, atingindo o índice de
Careiro-Am, afetando os municípios exportado-
1,076067773 e em 2009 alcança 1,354524114.
res, o que contribui para o decréscimo no índice
Já em 2010 não consegue otimizar ainda mais
apresentado.
o seu crescimento e tem uma ligeira queda de 1,085117035.
Com a restrição da exportação de produtos, principalmente os derivados do gado, para outras
Novo Aripuanã tem algumas oscilações nos seus
localidades, como o vizinho estado de Rondônia,
QLs mostrando que algum momento é um muni-
que exigiu dos municípios adoção de estratégias
cípio exportador e em outro caia para o patamar
de exportação, a fim de equilibrar seus PIBs. Em
de importador. Para entender essas alternâncias
outra vertente o Município de Novo Aripuanã
nos índices do município podemos verificar que
apresentou no mesmo período o papel de ex-
em 2005 atinge 0,759417907, abaixo do que
portador, tapando lacuna deixada por Manicoré
é considerado exportador e especialista, mas,
e Apuí, que no ano posterior reasumem seus
já nos anos subsequentes, 2006 e 2007, Novo
postos com a recuperação de suas economias.
Aripuanã dá uma reviravolta alcançando a elite dos municípios exportadores com índices de
Já os municípios de Borba, Humaitá e Novo
1,001612693 e 1,592723179. No entanto, nos
Aripuanã não sofreram tanto impacto devido
anos de 2008, 2009 e 2010, retoma a posição de
as suas características de importadores e não
importador e não especialista, alcançando índices
especializados, com exceção do município de
de 0,8759881, 0,8834497 e 0,811540093.
Novo Aripuanã que assumiu o papel de exportador, em seguida, retornou ao posto de município
Os indicadores dos QLs apresentam uma impor-
que importam produtos de origem agropecuários
tante discussão, a implementação, como defende
para abastecer seu mercado.
Fukuyama (2004), do associativismo nas áreas de estudo a fim de proporcionar a melhoria na
Dessa forma, o estudo mostra que há necessi-
qualidade de vida dos habitantes destas localida-
dade de adoção de políticas públicas capazes de
des, respeitando a natureza sem degradar o meio
promover o desenvolvimento social sustentável
ambiente, apresentando-se como uma alternativa
nos municípios de Borba, Humaitá e Novo
sustentável da exploração dos recursos naturais
Aripuanã, a fim de responder às necessidades do
de forma racional.
setor primário, pela implementação de programas agropecuário, que possam permitir que esses
Considerações FInais
municípios produzam o suficiente para abastecer
O trabalho apresentado mostra os indicadores
seus mercados internos e exportem para outros
econômicos agropecuários da Microrregião do
mercados, tendo em vista que esses municípios
Madeira composta pelos municípios de Apuí,
têm capacidade de crescer no setor produtivo.
Borba, Humaitá, Manicoré e Novo Aripuanã, iden-
114
tificando os setores produtivos da Agropecuária,
Por fim, considerando as análises dos QLs
Indústria de Transformação e Serviços no período
verificou-se que os municípios da Microrregião
de 2005 à 2010, tendo como base os dados
do Madeira possuem vocação para produção do
fornecidos pelo IBGE e SEPLAN.
setor primário, embora alguns não estejam alcan-
Das análises dos realizadas, verificou-se que
çando os índices de desenvolvimento desejado.
apenas dois municípios são especialistas e
Dessa forma, construímos um arcabouço para
exportadores no setor Agropecuário (Apuí e
continuarmos um estudo minucioso investigando
Manicoré), pois, possuem um QL maior que 1,
esses munícipios, tendo como parâmetro o Índice
Produção agrícola uma alternativa para o desenvolvimento sustentável na microrregião do madeira
de Desenvolvimento Humano – IDH - como
Identificação de Aglomerações Produtivas Locais.
principal indicador de melhoria da qualidade de
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O PCTI/Amazônia como contribuição ao fortalecimento da estratégia de desenvolvimento regional.
131
Reportagem
O rio comanda a vida:
78% dos empregos no mundo dependem de recursos hídricos Por Cristiane Barbosa
Foto: Thayanne Rios
118
Três quartos dos empregos no mundo dependem da água. De fato, a escassez e os problemas de acesso à água podem limitar o crescimento econômico nos próximos anos. Essa foi a constatação destacada na edição de 2016 do Relatório Mundial das Nações Unidas para o Desenvolvimento de Recursos Hídricos, cujo tema é a água e o trabalho. O Relatório foi lançado mundialmente em 22 de março deste ano. O documento aponta ainda que quase 1% da força de trabalho total, tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento, trabalham atualmente em setores da água – o que inclui gestão hídrica, construção e manutenção da infraestrutura, além de fornecimento de água e saneamento. Entretanto, dados apontam que nas últimas décadas, o número de pessoas empregadas no fornecimento de água e no tratamento de águas residuais tem diminuído de forma constante. Vários são os motivos, desde a falta de interesse de pessoas recém-formadas nos empregos oferecidos pelo setor hídrico, falta de recursos
para empregar e reter pessoal qualificado, especialmente no setor público, e envelhecimento da força de trabalho. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, entre 30% e 50% da força de trabalho ligada a serviços hídricos atingirá a idade de aposentadoria até 2020. Outros desafios consistem na dificuldade em atrair profissionais qualificados para morar e trabalhar em áreas rurais é o estigma associado ao setor de saneamento como um todo. Em algumas regiões, como no oeste da África, é particularmente difícil atrair trabalhadores para áreas de ocupação consideradas degradantes. O pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Márcio Luiz da Silva, vem estudando desde 1997 sobre recursos hídricos na Amazônia. Segundo a avaliação dele, esse recurso é tão significativo, que até o momento, ainda não sabemos sua quantidade e qualidade, nos aquíferos regionais.
O rio comanda a vida
“Esses e outros fatos, levaram-me, desde então, a -
água subterrânea. “Essa pressão antrópica, que a água
estudos referentes às águas subterrâneas para que
vem sofrendo, ainda não compromete a grande
possa contribuir com esse conhecimento”,
abundância de água existente na Amazônia”, disse.
declarou ele.
Entretanto, na avaliação do pesquisador, as pressões
Silva, que também atua como representante da
vêm acontecendo em uma escala cada vez maior em
Região Norte na Comissão Brasileira para Programas
um ecossistema sensível e vulnerável repleto de
Hidrológicos Internacionais (Cobraphi/PHI) da Unesco
desafios e esperanças, preenchem o imaginário
no Brasil, disse à revista T&C Amazônia que os
nacional quanto às suas perspectivas de desenvolvi-
recursos hídricos da Região Hidrográfica Amazônica
mento e sustentabilidade.
são abundantes e pouco explorados. Isso é resultado
No contexto da sustentabilidade, conforme apontou o
de uma combinação de alta disponibilidade hídrica e
pesquisador, algumas alternativas de desenvolvimen-
de baixa demanda, devido à baixa densidade
to podem ser vistas como vocações regionais, dentre
demográfica da região. “Em várias escalas do espaço
as quais se destacam: a indústria do ecoturismo, a
geográfico Amazônico, percebem-se questões
aquicultura, o uso da biodiversidade para a produção
vinculadas à água. Na escala regional, têm-se
de fármacos e a indústria de transformação de baixo
problemas vinculados aos regimes dos grandes rios,
impacto (eletro-eletrônica, por exemplo).
sua tipologia e disponibilidade hídrica, afetadas por
Sendo que hoje, muitas dessas atividades, já ocorrem
questões relacionadas com a expansão das ações
de maneira independente do estabelecimento de
antrópicas como o desmatamento, a mineração, e a
políticas públicas específicas. O que preocupa, a
monocultura de grãos, dentre outras”, explicou.
médio e longo prazo, a questão da gestão dos seus
O pesquisador informou ainda que na escala de
recursos naturais. “Assim, a Amazônia tem passado
detalhe e/ou local, os problemas principais envolvem
por grandes transformações, fruto de um desenvolvi-
o saneamento, em especial nas áreas urbanas, a
mento que se dá de forma aleatória apresentando
questão fundiária, os conflitos em relação aos usos
dificuldades para a efetiva implementação de políticas
preponderantes da água e o uso indiscriminado da
públicas”, asseverou ele.
O pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Márcio Luiz da Silva, vem estudando desde 1997 sobre recursos hídricos na Amazônia.
119
Foto: Jônatas Matos Água mineral
A Amazônia nesse contexto
Durante sua pesquisa que originou o livro ‘Água Mineral: Região Metropolitana de Manaus’, lançado pelo Inpa, ele se deparou, em certas oportunidades, com amostras de águas subterrâneas oriundas de poços tubulares construídos para explorar água para o consumo humano de cidades da Região Metropolitana de Manaus, que apresentavam particularidades mineralógicas distintas das águas subterrâneas comuns e naturais. “Esses acontecimentos foram o motivo inicial para eu escrever este livro sobre águas minerais na região, além do fato deste recurso ser abundante, de valor estratégico e social, pois sua caracterização como bem econômico abre perspectiva de a região auferir renda a partir da exportação de água in natura para localidades que apresentam necessidades de consumo”, explicou.
A falta de fornecimento de água seguro, adequado e confiável para os setores altamente dependentes de recursos hídricos resulta na perda ou no desaparecimento de empregos e pode limitar o crescimento econômico mundial nos próximos anos, a menos que exista infraestrutura suficiente para gerenciar e armazenar a água. E como a Amazônia está inserida nesse contexto?
Estudos relacionados às águas envasadas no Brasil, são escassos. Pior ainda, quando nos referimos à região norte, ou mais especificamente, ao estado do Amazonas. Na tentativa de repassar informações, que julgamos importantes, considerando a pouca informação sobre a produção e o comércio regional desse recurso, apresentei essa obra, elaborada com a contribuição científica de diversos pesquisadores e formatada em capítulos específicos sobre temas relevantes, para transmitir de uma forma mais linear, a visão geral do mercado de água engarrafada na Região Metropolitana de Manaus, para respaldar teoricamente, o desenvolvimento industrial, a pesquisa científica e tecnológica, a ação de programas de conservação, manejo e bem estar social.
120
“Quando falamos em Amazônia temos que considerar dois aspectos fundamentais: o regime pluviométrico, que promove o abastecimento hídrico da Região Amazônica por meio das precipitações e o regime hidrológico, resultado do primeiro e que promove os períodos de cheias e vazantes no Estado do Amazonas”, respondeu o pesquisador e professor do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, Jônatas Matos da Faculdade Fucapi.
“Em várias escalas do espaço geográfico Amazônico, percebem-se qestões vinculadas à água”. Márcio Luiz da Silva, pesquisador do Inpa
O rio comanda a vida
Nesse contexto, no que se refere aos usos múltiplos da água, principalmente na cidade de Manaus, é necessário um olhar mais atento, uma vez que a demanda é crescente, e em tempos de mudanças climáticas. “Faz-se necessário medidas eficientes em relação ao tratamento e reuso da água, uma vez que os nossos principais mananciais estão em estado crítico, sendo, portanto, necessário haver mais atenção nesse aspecto, tendo em vista que o regime de chuvas na região também é afetado, resultando em menor oferta de água ao longo da Bacia Amazônica”, afirmou o pesquisador. Na visão de Matos, há a necessidade de investir em infraestrutura que possa suprir a demanda e também conscientizar a população acerca da possibilidade da escassez de água. “A Amazônia é uma região estratégica, entretanto, também constitui um bioma vulnerável às mudanças climáticas, dessa forma, pensar a Amazônia em diversos aspectos, possibilita olhares para a nossa realidade”, destacou ele. Considerando os resultados preliminares nos nossos estudos, destacamos a urgência de medidas em termos de gestão, além do fato de recorrer às instituições de pesquisas nesse segmento, que podem contribuir com projetos e ações efetivas, principalmente no âmbito científico, o que falta na realidade é um caráter científico nas ações governamentais.
Na avaliação do pesquisador, há no contexto regional grande oferta de água, entretanto, é possível utilizar de modo planejado e investir nesse recurso, de modo que possibilite a geração de empregos na região. “A pesca artesanal, por exemplo, é uma possibilidade e representa um setor que tem obtido expansão no interior do Amazonas. Mas é necessário pensar em práticas eficientes e uma gestão que considere otimizar o cuidado com os recursos hídricos na Amazônia”, disse. Ele apontou também a agricultura como um fator de fixação da população ribeirinha, sendo uma atividade importante, por isso, investir em águas é permitir que essa população tenha possibilidades-de sustentabilidade no seu espaço vivido. “O que temos notado é que quanto mais se investe nos recursos hídricos, melhora a qualidade de vida da população e principalmente, permite a geração de empregos em diversos setores, principalmente no setor das indústrias”, destacou. Outro dado do relatório da ONU ressalta que metade da força de trabalho mundial -- 1.5 bilhão de pessoas -- está empregada em oito setores da indústria dependentes de água e outros recursos naturais: agricultura, silvicultura, pesca, energia, manufatura, reciclagem, construção e transportes; os dois primeiros muito ameaçados e afetados pela escassez de água.
Com o tema a água e o emprego, o Relatório Mundial das Nações Unidas para o Desenvolvimento de Recursos Hídricos da ONU mostra que 78% dos empregos que constituem a força de trabalho mundial são dependentes dos recursos hídricos. No Amazonas, temos uma riqueza desse recurso mineral e essa relação entre a água e o trabalho se torna vital e essencial, especialmente nas comunidades ribeirinhas. “Leandro Tocantins já dizia que “o rio comanda a vida”, faço essa analogia ao atual período de intensas intervenções humanas, cujo impacto tem sido profundo, principalmente nos cursos fluviais. A questão é o saneamento básico nos municípios do interior do Amazonas, haja vista que os efluentes não recebem o devido tratamento, comprometendo a qualidade da água e alterando características naturais da água”, destacou o estudioso.
Foto: Jônathas Matos
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Matos realizou, durante sua dissertação de mestrado, uma pesquisa sobre a organização sociocultural e o modo de vida na comunidade Miracauera, no Paraná do Careiro, no Careiro da Várzea, a cerca de 20 km de Manaus. O objetivo foi entender como o ribeirinho da comunidade convive com as mudanças que ocorrem durante o ano com o regime hidrológico (período das cheias e vazantes) e a relação estabelecida entre o homem e o ambiente de várzea, lugar onde a população estabeleceu laços culturais e relações simbólicas nesse espaço transformado pela dinâmica das águas. “Descrevemos na dissertação os impactos sofridos pela comunidade no âmbito socioeconômico, durante o período da cheia e da vazante e as técnicas desenvolvidas para cada período, desde o processo dos cultivos em cercados, processo de irrigação, transporte do rebanho bovino, formas de plantar”, disse. As contribuições do trabalho permitiram um conhecimento detalhado do modo de vida da comunidade, o convívio com os elementos da natureza, o aproveitamento da água, a inserção de novos processos, um deles com a chegada da energia elétrica (2003) possibilitou o acesso rápido à informação, dessa maneira, as relações também mudaram. Atualmente, o pesquisador junto a alguns alunos da Faculdade Fucapi do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária desenvolvem uma pesquisa sobre a qualidade da água em três lagos na Ilha do Careiro.
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Trata-se de um estudo analítico, no qual será possível verificar a qualidade da água nesses lagos em seus diversos aspectos, tendo em vista que essa água é utilizada para consumo humano, queremos com isso verificar se a água que está sendo utilizada está dentro dos padrões estabelecidos para consumo humano. “Ainda estamos com resultados preliminares, em fase de análises em laboratório, em breve divulgaremos os resultados e buscaremos junto aos moradores um contato de modo a explicar acerca do modo mais adequado no que tange ao manejo dessa água”, destacou.
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável Alcançar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável exigirá uma profunda compreensão do papel fundamental da água no mundo do trabalho. Trabalhos dignos estão diretamente relacionados à gestão hídrica – em áreas como abastecimento de água, infraestrutura e gestão de resíduos – e a setores dependentes de água – como agricultura, pesca, energia, indústria e saúde. Além disso, os acessos ao saneamento e à água potável tratada facilitam a criação de empregos e a formação de uma força de trabalho saudável, educada e produtiva, que são fundamentais para o crescimento. Criar condições para melhorar a produtividade hídrica e favorecer a transição para uma economia verde, assim como formar mais trabalhadores qualificados para atender às crescentes demandas por trabalho no setor hídrico, são alguns dos pontos que o Relatório traz à luz para que governos respondam adequadamente às exigências dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas – sobretudo o ODS 6, especialmente dedicado à água e ao saneamento.
O rio comanda a vida
Foto: Divulgação
Serviços ambientais Ainda em 2010, quando ainda era viva, a pesquisadora Bertha Becker, já defendia durante a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), ocorrida em maio de 2010, em Brasília, que a capital amazonense fosse a base para prestação de serviços ambientais, inclusive com uma bolsa de valores. “Isso é possível graças a sua posição ímpar frente à floresta amazônica sul-americana”, frisou na época. A pesquisadora foi mais além e destacou que é preciso haver uma revolução científico-tecnológica na Amazônia, com foco no desenvolvimento de cadeias produtivas baseadas na biodiversidade, envolvendo as comunidades do âmago da floresta até os centros de pesquisa e as indústrias localizadas nas cidades. “É nesse contexto que Manaus seria uma base para múltiplos serviços ambientais, tais como água, energia renovável, energia solar, entre outras alternativas, tudo com foco na mudança e na inovação”, explicou em sua
proposta. “Manaus pode ser planejada para ser uma cidade mundial de marca amazônica”. Becker faleceu em 13 de julho de 2013 e atuou como pesquisadora e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“A Amazônia é uma região estratégica, entretanto, também constitui um bioma vulnerável às mudanças climáticas, dessa forma, pensar a Amazônia em diversos aspectos, possibilita olhares para a nossa realidade” Jônatas Matos, professor e pesquisador da Faculdade Fucapi
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