Revista tec ed12

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SUMÁRIO

EDITORIAL Em dezembro de 2007, a televisão brasileira começará a viver um novo capítulo na sua história: a implantação da TV digital terrestre, ou seja, a migração do sistema analógico para o digital. Isto representa um marco importante para a participação do País na era da convergência digital. Em um primeiro momento, apenas parte dos telespectadores receberá em seu televisor sinais de qualidade superior de som e imagem. No entanto, no médio e longo prazos todo o conjunto da sociedade experimentará novas possibilidades em termos de conteúdo e de oportunidades de interação. A convergência digital pressupõe a confluência de tecnologias e serviços. O alcance de seu impacto dependerá, sobretudo, dos esforços de diversos atores envolvidos e comprometidos com o desenvolvimento do País, e de sua capacidade de garantir à população o acesso às novas tecnologias. É esse cenário desafiador que estimulou T&C Amazônia a dedicar sua edição de número 12 à exploração do assunto. Estão contempladas participações que esclarecem conceitos básicos e potencialidades do novo modelo, discutem aspectos tecnológicos e econômicos, assim como seus impactos sociais. Como usual, T&C procura levar ao leitor uma perspectiva abrangente, equilibrada, sempre contando com a participação de especialistas reconhecidos. Esperamos que o resultado seja apreciado em medida proporcional ao empenho com que foi construído.

ENTREVISTA Radiodifusoras e a implantação da TV Digital Liliana Nakonechnyj

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ARTIGO TV Digital e a interatividade: impacto na sociedade Valdecir Becker

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ARTIGO Competência da Fucapi em tecnologia de TVD e convergência digital Carlos Maurício Seródio Figueiredo Ademir de Jesus Lourenço

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REPORTAGEM TV Digital e a demanda por Recursos Humanos Cristina Monte

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ARTIGO Set-Top Box: características e necessidades Vicente Ferreira de Lucena Junior Humberto Plínio Ribeiro Filho

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ARTIGO Tecnologia digital na TV brasileira Juarez Quadros do Nascimento

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ARTIGO SBTVD - Uma visão sobre a TV Digital no Brasil Luciano Leonel Mendes

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ARTIGO Aplicações e tendências da IPTV Eduardo Antônio Barros da Silva Lisandro Lovisolo

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OPINIÃO Manuel Augusto Pinto Cardoso

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DEPOIMENTO Vantagens e perspectivas da TV Digital para a ZFM Maurício Elísio Martins Loureiro

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ARTIGO Suporte para desenvolvimento de aplicações multiusuário e multidispositivo para TV Digital com Ginga Lincoln David Nery e Silva Carlos Eduardo Coelho Freire Batista Luiz Eduardo Cunha Leite Guido Lemos de Souza Filho

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CONTRAPONTO Nivelle Daou Junior Roberto Aroso Cardoso

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NOTÍCIAS T&C

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ENTREVISTA

RadiodifusoRas e a implantação da tV digital lIlIANA NAkONEChNyj

Foto: Divulgação

L

iliana Nakonechnyj é engenheira de Telecomunicações, graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Hoje em dia, ela atua como diretora de Engenharia de Transmissão e Apoio às Afiliadas da Rede Globo de Televisão e Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET). Desde 1994, a engenheira está envolvida nos estudos para a implantação da Televisão Digital no Brasil, tendo liderado trabalhos de planejamento, testes e demonstrações diversas. Atualmente, participa ativamente do Fórum Brasileiro de Televisão Digital como membro suplente do Conselho Deliberativo e membro permanente do Módulo de Promoção. Liliana concedeu a seguinte entrevista exclusiva para T&C Amazônia:

Revista T&C - Quais as vantagens, para as emissoras de TV, com a implantação da TV Digital terrestre?

T&C Amazônia, Ano V, Número 12, Outubro de 2007


Radiodifusoras e a implantação da TV Digital

Liliana Nakonechnyj - As emissoras brasileiras de televisão, e em particular a TV Globo, oferecem hoje à população o que há de melhor em entretenimento e informação, no estado da arte da tecnologia de transmissão analógica. Com a TV digital, poderão oferecer, livre e gratuitamente, o que há de mais avançado na tecnologia digital: imagens sem fantasma, sem ruído, sons límpidos, alta definição, mobilidade, portabilidade e interatividade. O oferecimento da alta definição para as residências possibilitará aos telespectadores usufruir de uma qualidade de imagem parecida à de cinema, com som multicanal. A mobilidade permitirá à população entreter-se e informar-se a caminho do trabalho, nos transportes coletivos, ou como passageiros, em carros. Nosso sistema de televisão digital também possibilita a portabilidade, ou seja, ver televisão em pequenos dispositivos pessoais, como minitelevisores, PDAs ou celulares. E a programação poderá ser enriquecida pela interatividade. Na interatividade parcial, sem canal de retorno, as emissoras já poderão enviar dados junto com os programas – por exemplo, a escalação do time em um jogo de futebol; ou exercícios adicionais, no caso de um telecurso. Na interatividade completa, com um canal de retorno através de um serviço de telecomunicações, poderá haver até a participação em tempo real dos telespectadores nos programas de TV. A possibilidade de transmissão de mais de um vídeo, simultaneamente, pode ser interessante em alguns momentos, como por exemplo em alguns programas em que faça sentido o oferecimento de múltiplas perspectivas, vistas através de múltiplas câmeras. Resumindo, a implantação da televisão digital, com suas várias novas ferramentas, permitirá que a televisão aberta se modernize e possa continuar prestando à população um serviço gratuito de primeira categoria, que não deixará nada a desejar relativamente aos serviços por assinatura. Revista T&C - Como a Rede Globo de Tele-

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visão e suas afiliadas estão se preparando para a migração dos sistemas? Liliana Nakonechnyj - Os profissionais da TV Globo vêm trabalhando há mais de uma década para implantar a televisão digital no Brasil - foram estudos das tecnologias de ponta, pesquisas, testes comparativos dos sistemas mundiais de transmissão, demonstrações, e mais recentemente, uma participação ativa no desenvolvimento do Sistema Brasileiro de Televisão Digital. O transmissor digital da TV Globo-São Paulo entrou no ar no dia 29 de maio deste ano. As transmissões em caráter experimental continuarão ocorrendo até o dia 2 de dezembro, quando se dará o início comercial simultâneo das transmissões de diversas emissoras brasileiras naquela cidade. As transmissões experimentais têm sido utilizadas para diversos testes, pesquisas e demonstrações na nova televisão digital envolvendo transmissão de HDTV, TV portátil, TV móvel e Interatividade. Tudo já no padrão brasileiro de TV digital. Foi um sucesso a transmissão dos jogos do PAN 2007 em HDTV para receptores protótipos espalhados pelos shoppings de São Paulo. Também já está sendo transmitida a programação para os primeiros aparelhos celulares equipados com recepção de TV e o interesse de quem experimenta a tecnologia é sempre muito alto. Ao longo desses anos, tem sido efetuada a digitalização dos estúdios de produção e jornalismo da TV Globo e de suas afiliadas. Atualmente, praticamente toda a produção da TV Globo é digitalizada. Parte dela já é gravada em alta definição e o grande salto de qualidade oferecido pela televisão digital. Estão em andamento os preparativos para, desde o primeiro dia das transmissões, serem oferecidos alguns programas em HDTV para o público brasileiro. Alguns dos estúdios da Central Globo de Produção, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, já foram reformados para trabalhar com os equipamentos necessários para a produção em HDTV e a atual novela das oito - Duas Caras - já está sendo transmitida em HDTV no canal experimental de São


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Paulo. Também o treinamento dos profissionais envolvidos com a transição e a operação inicial está sendo um ponto importante. Revista T&C - Qual o maior desafio relacionado ao atendimento de prazos estabelecidos para a implantação da TV Digital no Brasil? Liliana Nakonechnyj - O primeiro grande desafio para o atendimento do prazo de entrada no ar da TV Digital foi a necessidade de desenvolvimento do Sistema Brasileiro de Televisão Digital. Embora nosso sistema use a modulação do sistema japonês, várias inovações foram introduzidas, tais como a substituição do padrão de compressão de vídeo MPEG 2, presente em todos os sistemas terrestres até o momento pelo H.264, padrão de compressão de vídeo mais eficiente e que garantirá que o sistema brasileiro permaneça atualizado por muito tempo. Além dessa inovação, várias outras precisaram ser integradas ao nosso sistema, como a adoção de uma máscara espectral de transmissão que contemplasse a forma de ocupação do espectro em nosso País. E não pode ser esquecida a maior de todas as inovações – nosso middleware, o Ginga, completamente desenvolvido no Brasil, a partir de contribuições da Universidade Federal da Paraíba e da PUC do Rio de Janeiro. Esse enorme desafio de desenvolver as normas do sistema brasileiro, em menos de um ano, foi enfrentado pelo Fórum Brasileiro de Televisão Digital, entidade privada formada pelos setores diretamente envolvidos na implantação da Televisão Digital no Brasil: emissoras de TV, fabricantes de transmissores e televisores, indústrias de software e a academia. Graças ao esforço hercúleo dos profissionais envolvidos e com o final do processo de normatização pela ABNT das principais normas, esse desafio está praticamente superado. Outro desafio para o início comercial da transmissão digital em 2 de dezembro próximo é o lançamento no mercado de conversores e televisores digitais, por seus fabricantes. Normalmente, o ciclo de desenvolvimento de eletrônicos de áudio e

vídeo leva 18 meses, a partir das especificações completas. Só a participação ativa dos fabricantes na discussão das especificações é que está permitindo que, em poucos meses, eles já tenham apresentado protótipos e indiquem a comercialização de produtos no final de outubro, início de novembro. Claro, não dá para falar sobre desafios sem mencionar os vultosos investimentos que as emissoras de TV precisarão realizar para implantar a televisão digital em todo o País. Cada um dos atuais transmissores analógicos precisará ser pareado por um novo transmissor digital – não só na cidade aonde a emissora de TV tem seu serviço principal, mas também nas demais cidades aonde os sinais serão retransmitidos. E, por último, o não menor desafio de desenvolvimento de mão-de-obra especializada para realizar essa implantação. Revista T&C - Que análise você faz quanto à disponibilidade de profissionais no País para atender as demandas técnicas e de produção de conteúdo? Liliana Nakonechnyj - Conforme mencionei na resposta anterior, haverá que desenvolver conhecimento tanto na área técnica quanto na área de produção de conteúdo para enfrentar as enormes demandas. Além de técnicos especializados para os projetos e implantação dos novos sistemas de transmissão, a área de produção também exigirá investimentos e novos cuidados, por exemplo quanto aos cenários. Com a alta definição, e uma resolução seis vezes maior que a atual, há que prestar atenção nos acabamentos, nas superfícies, em todas as texturas aparentes, sejam elas aplicadas com tintas ou sejam com papel de parede. Na maquiagem, o desafio é ainda maior, sendo imprescindíveis novas técnicas. Para atender às novas necessidades de acabamentos em cenários, maquiagem e apliques de cabelo é preciso adotar novas técnicas de acabamento e, mais que tudo, treinar as equipes. Também a interatividade tornará necessário todo um novo conhecimento, nas emissoras de TV.

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Na área criativa e na área técnica, de desenvolvimento de aplicativos. Revista T&C - Quais as características prováveis deste novo modelo de negócios que está surgindo para as emissoras de TV? Liliana Nakonechnyj - O modelo de negócio da radiodifusão continuará baseado no mercado publicitário. É esse modelo que possibilita a oferta gratuita à população de conteúdo audiovisual. Entretanto, os novos benefícios da televisão digital certamente causarão algum impacto. A mobilidade, por exemplo, poderá fazer surgir novos horários de pico - os horários em que as pessoas se deslocam para o trabalho e de volta para a casa, quando poderão aproveitar para se entreter e se informar, vendo televisão. A interatividade, com o intercâmbio muito mais imediato entre o telespectador e a emissora de TV, deverá trazer novas oportunidades. A possibilidade de ver televisão em dispositivos pessoais certamente ensejará novas parcerias entre as emissoras de TV e as operadoras de telecomunicações. Recebendo em seu celular a programação que está no ar, é mais do que natural que o cidadão tenha vontade de solicitar algum trecho que ele tenha perdido, tal como o gol de seu time de futebol preferido, o que ele poderá fazer através da operadora, com novas receitas para ambas: a operadora e a emissora de TV. Revista T&C - O advento da TV Digital significa uma mudança conceitual no modo de se fazer TV, por exemplo na construção narrativa de uma matéria ou outro conteúdo. Como a Rede Globo está se preparando para produzir os programas diante desse desafio? Liliana Nakonechnyj - Na atual televisão analógica, os planos médios e principalmente os planos gerais ficam prejudicados pela falta de definição das imagens, levando a uma tendência de se evitar a exposição desses planos por muito tempo e a cortes constantes de imagens. Já a resolução seis vezes maior propiciada pela

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alta definição permitirá ao telespectador repousar o olhar, com prazer, numa mesma imagem, enquanto absorve todos os seus detalhes. A relação de aspecto 16X9, que substitui a atual 4X3, é especialmente adequada para que a narrativa ficcional seja feita através de tomadas mais “contemplativas”, com tempo de exposição mais longo de cada imagem. Isso porque as percepções psicofísicas se dão, na maior parte do tempo, na dimensão horizontal (ou seja, olhamos muito mais para a esquerda e a direita do que de cima para baixo). A alta definição também favorecerá o maior uso de ambientes exteriores, pelo impacto estético dessas imagens. E o som multicanal ajudará na sensação de realismo e maior envolvimento do telespectador - relação de aspecto 16X9, alta definição de imagens e som multicanal são, portanto, ferramentas preciosas para beneficiar o telespectador, mas que exigirão do roteirista encontrar novas formas de construção narrativa. Naturalmente existe aqui um desafio grande, ainda mais no período de transição da televisão analógica para a digital, em que conviverão ambas as relações de aspecto. O desenvolvimento da interatividade também deverá propiciar novas formas de apresentação de conteúdo. O Ginga tem ferramentas poderosas para permitir desenvolvimento de aplicativos e o desafio das emissoras será produzir conteúdos interativos que interessem o telespectador e que enriqueçam os programas. Revista T&C - Para uma rede de TV, qual o tamanho do desafio que essa mudança representa, em investimentos, e em que itens estão concentrados? Liliana Nakonechnyj - Certamente são vultosos os investimentos previstos. O atual investimento das redes de televisão já é de cerca de 200 milhões de dólares, entre adequação de estúdios para poder oferecer alguns programas em alta definição desde o lançamento da televisão digital e a aquisição dos primeiros sistemas de transmissão.


Radiodifusoras e a implantação da TV Digital

A transição para HDTV é um processo quase natural, uma vez que, progressivamente, mais e mais equipamentos de televisão oferecidos no mercado já vêm com essa capacidade, o que significa, na medida em que os atuais parques das emissoras são substituídos por obsolescência, eles passam a estar em alta definição. Já na área de transmissão não ocorre o mesmo, pois, começando pelas cidades maiores e continuando para as menores, as emissoras precisarão instalar novos sistemas de transmissão e operá-los, junto com os atuais analógicos, durante os vários anos da transição analógico-digital. É toda uma nova interiorização de sinais de televisão, à similaridade do que ocorreu ao longo dos anos 1970 e 1980. E além dos investimentos, há o aumento dos custos de operação. É importante ressaltar, no entanto, que se trata de um “mal” necessário, já que só assim a televisão aberta, federativa, que oferece conteúdo gratuito de entretenimento e informação, reforçando a unidade nacional enquanto preserva as culturas regionais se manterá atualizada, estendendo a todos os brasileiros os benefícios de um serviço no estado da arte mundial. Revista T&C - Cada emissora de tevê poderá buscar um nicho de mercado decorrente do leque de opções que a TV Digital proporcionará, podendo definir se manterá vários canais ou se privilegiará a alta definição, por exemplo. Neste novo cenário, surgirão outros perfis de concorrentes. Quem são eles e como enfrentá-los? Liliana Nakonechnyj - Em vários países do mundo, a alta definição só está disponível para usuários de serviços pagos. No Brasil, a televisão aberta é a principal janela para o mundo de uma grande parcela da população. E a TV Globo acredita na alta definição como um benefício do qual o cidadão brasileiro não deve ser privado. A atenção à concorrência deve existir, mas o foco da empresa permanece no trabalho e dedicação para manter seu maior ativo, que é a competência de seus profissionais. Só assim a TV Globo garantirá a conti-

nuidade na oferta do que há de melhor em entretenimento e informação à sociedade brasileira. Revista T&C - Considerando a realidade de nosso País, que impactos sociais – em termos de acesso à informação e inserção, por exemplo – podem ser esperados com a implantação da TV Digital? Liliana Nakonechnyj - O Sistema Brasileiro de Televisão Digital contém todas as ferramentas para o oferecimento de uma televisão que entretenha, informe e eduque da forma mais plena possível. Com o oferecimento gratuito da alta definição, evitamos a criação dos “excluídos” a um entretenimento de primeira categoria. O mesmo acontece com a mobilidade e a portabilidade – a que toda a população terá acesso para entreter-se e informarse ao longo do dia. A interatividade também deverá exercer um papel importante na inserção social e digital. Como o Ginga é muito flexível, ele se presta ao desenvolvimento de aplicativos de todo tipo – desde os comerciais até os educativos. Para uma parcela razoável da população, talvez a televisão traga a primeira oportunidade de uma alfabetização digital, de uma primeira exposição a telas interativas, eliminando o medo natural de interagir e interessando-se em vôos progressivamente mais altos. Mesmo no caso de interatividade local, o telespectador poderá navegar nas páginas enviadas pelas emissoras através de datacasting – por exemplo, informações adicionais aos programas ou informações para o exercício da cidadania, como prazos para entrega do imposto de renda ou o endereço de clínicas para vacinação. A interatividade completa, com canal de retorno através de qualquer rede de telecomunicações, seja ela por fios ou seja wireless, prevista na norma técnica dos receptores, permitirá intercâmbio em tempo real do telespectador com a emissora de televisão. Nesse caso, o conversor digital ou o televisor com receptor digital embutido permitirá ao telespectador até mesmo navegar na internet.

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ARTIGO

tV digital e a inteRatiVidade: impacto na sociedade VAldECIR BECkER

Resumo Este texto discute a interatividade no contexto da implantação da TV digital, buscando delinear impactos e conseqüências em diferentes cenários. Os desafios durante a implantação, onde as primeiras impressões são essenciais para o sucesso a curto prazo, demandam conteúdos e capacidades técnicas adequadas à realidade dos telespectadores. Já as novas redes de distribuição permitem chegar a um público maior, refletindo em audiências diferenciadas e, em alguns casos, individualizadas. Por fim, as tecnologias digitais implicam mudanças na forma de fazer e transmitir TV, variando o leque de oportunidades para as emissoras e para os telespectadores. Palavras-chave: Televisão digital, interatividade, processos de implantação, redes de distribuição, impactos.

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INTRodução A interatividade na televisão é um tema controverso, a começar pela definição. Vários autores tentaram conceituá-la, chegando a definições que apontam na convergência entre televisão e tecnologias interativas (Pagani, 2003), internet na televisão (Bernardo, 2002), diálogo entre televisão e telespectador (Gawlinski, 2003; Becker, 2006). É nesta última definição que este trabalho vislumbra mais chances de embasamento para o entendimento do que efetivamente se altera nesse meio de comunicação quase centenário com a chegada da interatividade. Dessa forma, interatividade é tratada aqui como o aumento do diálogo entre emissor e receptor da informação televisiva através do aprimoramento dos recursos audiovisuais. Além disso, inúmeras incertezas rondam a implantação da interatividade na televisão, mesmo em mercado onde ela está, teoricamente, consolidada. No que se refere ao modelo inicial e à velocidade do oferecimento de aplicações, ainda se percebe uma busca por conceitos que garantam um mínimo de segurança quanto à aceitação das aplicações


TV Digital e a interatividade: impacto na sociedade

por parte do telespectador/usuário. Trazendo a discussão para o Brasil, que deve começar sua TV digital em dezembro próximo, a interatividade representa oportunidades inéditas para o setor de radiodifusão, mas por outro lado traz competições e modelos de negócio ainda obscuros para todo o mercado. Por isso, a correta formatação dos modelos e tipos de interatividade a serem oferecidos num primeiro momento é fundamental para cativar os telespectadores e induzir maior rapidez na adoção da TV digital como um todo. Em função deste cenário, analisar os impactos e conseqüências da interatividade na sociedade torna-se uma atividade delicada. Todos os indícios apontam para a presença de alguma interatividade na TV digital brasileira. No entanto, há poucas bases concretas para avaliar o alcance e a efetividade desses novos recursos. O alcance da própria tecnologia depende do processo de implantação e das escolhas feitas pelos detentores do conteúdo, sejam produtoras, distribuidoras ou sejam emissoras de TV. Não é possível separar a interatividade da tecnologia que a suporta e de como ela será oferecida. Tampouco é possível estudar interatividade sem correlacioná-la com o conteúdo audiovisual da televisão, pois não há elementos teóricos que apontem para uma existência separada das aplicações em relação ao vídeo. Assim, este texto começa analisando a implantação da TV digital e da interatividade, com os conseqüentes riscos. Posteriormente, apresentam-se novas possibilidades de distribuição de conteúdo, seguidas dos impactos das tecnologias digitais televisivas na sociedade. Finalizando, são apresentadas conclusões e necessidades de estudos futuros.

Implantação Não há dúvidas de que a interatividade poderá ser sucesso absoluto no Brasil. Olhando para a história da TV, é fácil perceber uma relação de confiança e credibilidade construída nos últimos 57 anos. O modelo consolidado reside basicamente

numa troca de informações entre o meio televisivo e a população que o assiste. A participação nos programas, com envio de cartas, fitas de vídeo, mensagens eletrônicas, ou mesmo telefonemas, retrata uma relação que não pode ser classificada como inerte por parte do telespectador conforme Crocomo (2004). O que acontece é o uso de ferramentas criativas para serem ouvidas e interferirem no processo de produção da mensagem que irá transitar na televisão posteriormente. Essa relação dialogal da televisão com o telespectador fica mais evidente em autores como Machado (2003) e Crocomo (2004), que discutem, respectivamente, a base da programação televisiva e pontos de partida para a implementação da interatividade na TV brasileira. Segundo esses autores, a interatividade não poderia ser tratada como algo revolucionário, que vai mudar de dia para a noite a forma de fazer e de ver TV. Deve ser um processo lento, gradual e planejado, onde a história da televisão no Brasil tem papel central, assim como o contexto dessa implantação, onde predomina uma sociedade altamente desigual, financeira, intelectual e culturalmente. Nesse ponto surgem os primeiros desafios da implantação da interatividade, relacionados tanto à tecnologia, pois a televisão é um dos equipamentos domésticos de fácil uso, quanto ao conteúdo da mensagem das aplicações, uma vez que está construída uma relação dialogal entre meio e receptor da mensagem. Os desafios relacionados à tecnologia podem ser classificados como estruturais; já os relacionados ao conteúdo, de subjetivos. Desafios estruturais da implantação Documento editado pelo Congressional Budget Office americano elencou quatro fatores determinantes para o sucesso da implantação da TV digital (CBO, 1999). Inicialmente, o fator básico de sucesso está no funcionamento adequado do sistema. Os padrões de codificação de áudio e vídeo, transmissão e recepção devem ser robustos a ponto de manter o sinal no ar nas mesmas áreas de cober-

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tura da TV analógica. A aquisição de set-top boxes que não funcionam pode ser uma experiência frustrante, que desmotiva a migração para o sistema digital, mesmo quando o sinal estiver disponível e o sistema funcional. O segundo item apontado pelo documento reside no início das transmissões pelas emissoras de TV. A compra de set-top boxes depende da disponibilidade do sinal digital, uma vez que assistir determinados canais com qualidade digital, ou seja, som e vídeo melhores, e outros no formato analógico, pode representar um problema. Quanto mais cedo as emissoras oferecerem, em conjunto, o sinal digital, mais rápido ocorrerá a migração dos telespectadores. O terceiro fator de sucesso para a implantação da TV digital apontado pelo CBO está na disponibilidade de canais digitais na TV por assinatura. O cenário americano difere drasticamente do brasileiro neste quesito. Nos EUA 95% das residências têm disponibilidade de serviços de TV por assinatura e mais de 80% assinam tais serviços. Mais de um terço dos canais já são em alta definição. Por outro lado, no Brasil os sistemas de TV por assinatura não estão aptos a transitarem alta definição, o que pode causar choques estéticos no telespectador, pois o mesmo programa estará disponível em formatos diferentes. A solução óbvia seria desligar o set-top box da TV por assinatura para assistir à programação pela TV aberta. No entanto, considerando que as principais audiências da TV por assinatura estão nos canais abertos, o não oferecimento dos mesmos pode representar prejuízos para as operadoras. O quarto e último elemento, crucial na adoção, depende da velocidade de adoção das novas tecnologias como resultado da demanda dos consumidores, o que gera a queda dos preços dos equipamentos. Este item pode ser resultado da dinâmica dos três anteriores, no entanto, é dele que depende o acesso aos equipamentos para as populações mais carentes. A queda dos preços é um motivo essencial para que os consumidores comprem novos produtos. Histórias bem-sucedidas de consu-

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mo de produtos eletrônicos passam por um rápido declínio dos preços. Expectativas de queda dos preços na indústria eletroeletrônica giram em torno de 50% em 10 anos. No entanto, essa queda nos preços pode não ser suficiente para o Brasil, que pretende acabar com as transmissões analógicas nesse mesmo período. O texto do CBO não fala na interatividade, mas o raciocínio pode ser expandido. Não resta dúvida de que o funcionamento adequado dos recursos e ferramentas disponibilizados é fundamental e elementar para o sucesso de qualquer tecnologia. Na interatividade isso é ainda mais crucial, pois experiências de outros países mostraram que problemas no começo da implantação representam atrasos substanciais na concretização dos prazos. Os períodos de testes e início das interatividades estão diretamente relacionados com a velocidade de adoção. Experiências isoladas têm por mérito identificar problemas e consolidar modelos conceituais de interação com mais facilidade, onde eventuais problemas podem ser minimizados. No entanto, enquanto não houver demanda maciça por parte das emissoras, com oferecimento constante de aplicações interativas, o mercado eletroeletrônico não se desenvolve, restringindo as aplicações para as classes sociais com maior poder aquisitivo. O terceiro ponto representa um problema para a interatividade, se as operadoras de TV por assinatura, já digitalizadas em sua maioria, fizerem opções tecnológicas diferentes, com variados padrões de middleware. Esse fato demandará desenvolvimento múltiplo das aplicações, pois os sistemas, em sua maioria, não são compatíveis entre si. Para cada middleware diferente, uma nova aplicação deverá ser desenvolvida, o que representa substancial aumento de custos. O quarto e último ponto está diretamente relacionado ao segundo, pois a demanda pode surgir através das emissoras, com o oferecimento de conteúdo interativo, como por parte dos usuários, procurando essas novas opções tecnológicas.


TV Digital e a interatividade: impacto na sociedade

Desafios subjetivos da implantação Por um lado a interatividade pode alavancar o processo de adoção do sistema digital, funcionando como um motivador para a aquisição de set-top boxes. Já por outro, serviços e aplicações oferecidas fora das expectativas da audiência podem representar um adiamento do uso do sistema digital. Apesar das perspectivas de sucesso, a interatividade, assim como a TV digital na sua totalidade, passará por uma série de testes que vão ditar os caminhos do sucesso ou problemas na sua adoção. Esses testes para a interatividade passam pela atratividade estética das aplicações, pelo conteúdo agregado e pela sedução que conseguirem causar na audiência. A qualidade estética das aplicações e sua adequabilidade aos diferentes receptores são essenciais para o completo entendimento dos novos recursos. O mesmo é válido para o conteúdo da aplicação, onde a relação com o conteúdo audiovisual desempenha papel central na compreensão da mensagem. O conteúdo adicionado pela aplicação precisa estar condizente com o ambiente da utilização, incluindo a satisfação das expectativas e a capacidade de apreensão e compreensão Montez e Becker (2005) e Crocomo (2004). O primeiro item trata do uso compartilhado da televisão, onde a audiência é, majoritariamente, uma experiência coletiva. A interatividade, em contraponto, se restringe à posse do controle remoto, o que enseja uso individual. Esse tipo de restrição pode ser contornada por sistemas de interatividade multidispositivos¹, onde outros recursos, como telefone celular, podem ser usados para acionar as aplicações. Já a compreensão das aplicações depende do nível de conhecimento demandado pelo usuário para interagir. Problemas de leitura, de compreensão da própria língua portuguesa, de aversão e receio a novas tecnologias, são questões que precisam ser superadas com interfaces acessíveis e facilmente decodificáveis cognitivamente.

Finalmente, a prestação de serviços e esclarecimentos em casos de mau funcionamento vai ser fundamental para a construção da credibilidade na TV interativa. O pronto atendimento, seja por parte das emissoras com problemas causados pelos softwares ou seja por parte das fabricantes de equipamento, com problemas de recepção, é fundamental para produzir uma boa imagem do sistema novo.

Distribuição do conteúdo A digitalização da televisão traz, além da interatividade, outros desafios que refletem diretamente na disponibilização do conteúdo e na percepção do que é televisão por parte do telespectador. Além da interatividade e da alta definição, que trazem novas possibilidades informacionais e estéticas à televisão, diferentes meios de distribuição de conteúdo também abrem mercados, que até há alguns anos eram ininteligíveis para a produção de TV. Atualmente, o ciclo de vida de conteúdos produzidos para TV se restringe à veiculação em TV aberta, por assinatura analógica, por assinatura digital com ou sem interatividade, às vezes com pay-per-view e, eventualmente, disponibilização por DVD e na internet. O produto cinema ainda inclui veiculação em salas (Pagani 2003). As novas tecnologias apresentam vários outros meios de distribuição, a começar pela própria TV digital aberta, com alta definição, onde a estética, a composição e a montagem das imagens sofrem mudanças. A transmissão digital pode ser estendida para a transmissão por intermédio do protocolo IP, chamando de IPTV, onde o sinal de TV passa a ser acessível por qualquer computador conectado à internet. Por falar em internet, o oferecimento de vídeos na internet ganha novos contornos, com demandas de usuários que não se contentam mais com textos e imagens. Conteúdos hipermídia, onde a navegação acontece dentro das mídias, representam uma nova fronteira na produção

¹ Inovação do middleware brasileiro Ginga, que permite a interatividade através de qualquer aparelho capaz de se “conectar” a televisão, substituindo o controle remoto. Telefones celulares com tecnologia bluetooth são o exemplo mais claro desse recurso. A interface da interatividade sai da tela da TV e aparece na tela do celular, podendo ser diferente para cada aparelho e cada perfil de usuário.

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de conteúdo. O vídeo sob demanda, seja por IPTV ou seja na internet, completa essa seara de distribuição de conteúdo em alta definição. Além disso, redes peer-to-peer (P2P), como o Joost (www.joost.com), oferecem televisão em qualquer tempo e em qualquer lugar, bastando conexão com boa velocidade à internet. A televisão móvel e portátil traz meios de acesso e inclui na audiência pessoas em trânsito, que atualmente, no máximo, escutam rádio. No primeiro caso, onde o sinal pode ser recebido por meio de antenas e aparelhos de TV móveis, a configuração da audiência não difere muito na forma de ver TV na sala de estar. No entanto, a recepção portátil, seja com aparelhos portáteis ou via aparelhos celulares, altera a forma de consumir e enxergar o conteúdo da TV. Primeiramente, o formato, a resolução e a definição das telas mudam; segundo, a demanda de informações difere, pois o tempo de audiência varia muito em relação à audiência da sala de TV; terceiro, a possibilidade de interatividade plena ou permanente é real, pois o canal de retorno é intrínseco ao meio da telefonia celular. Fechando as novas possibilidades de distribuição de conteúdo, a interatividade trata de meios adicionais de fidelização do telespectador, com conteúdos oferecidos adicionalmente visando tornar a produção audiovisual ainda mais atrativa. Essa interatividade pode se manifestar de várias formas, formatos e meios. No caso da audiência a programas de alta definição com interatividade suportando multidispositivos, a experiência “ver TV” é individualizada, com cada telespectador participando da forma que achar melhor. Dessa forma, o conteúdo audiovisual é único, mas as aplicações interativas, incluindo publicidades, podem ser individuais, dependendo do perfil do, agora sim, usuário que está manuseando o equipamento de interação. O mesmo é válido para as transmissões para aparelhos portáteis, que podem estar em qualquer lugar, mas com audiência predominantemente individual. Nesse caso, dependendo do modelo de negócios adotado pela emissora de TV, inclusive o conteúdo audiovisual pode ser individualizado,

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voltado para perfis de público e lugares específicos. As possibilidades dessa tecnologia para novos conteúdos, incluindo publicidade, são inúmeras, quiçá infinitas. Por fim, a velocidade de desenvolvimento de novas tecnologias permite supor que inúmeras outras formas de projeção e de transmissão se vislumbram para poucos anos. A televisão tridimensional, a televisão chamada ultra high definition, a distribuição e compra de conteúdo por ferramentas como o i-tunes, da Apple, não disponível no Brasil, representam alguns desafios da produção já demonstrados comercialmente ou em forma de protótipos. Todas essas novas formas de distribuição e de interpretação do meio televisão trazem desafios à formatação do conteúdo, incluindo o software que suporta a interatividade. O uso e a assistência do conteúdo acontecem em cenários e contextos muito diferentes dos conhecidos atualmente: TV assistida na sala de estar, no celular, na internet. São três meios de acesso ao conteúdo, mas com demandas por esse conteúdo totalmente diferentes entre si. Em outras palavras, o desafio é formatar tanto o vídeo quanto a aplicação interativa para fazê-los caber na tela dos receptores, que podem ter inúmeros formatos.

Impactos das novas tecnologias audiovisuais Até aqui este texto se centrou na discussão dos processos de implantação e conseqüências das novas tecnologias na distribuição e acesso ao conteúdo. Este cenário é mais acessível e com probabilidades maiores de ocorrência, pois os desafios da implantação existem e as novas formas de distribuição já se fazem presentes em diferentes escalas e contextos. A seguir, discutem-se prováveis e possíveis implicações das novas tecnologias audiovisuais, incluindo a interatividade, na sociedade, teoricamente, a beneficiária final de todo o investimento que está sendo feito na digitalização da TV no Brasil.

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É preciso reforçar que os impactos delineados a seguir não são conseqüência direta da tecnologia, como é a alta definição, por exemplo. Pelo contrário, dependem da conjugação de uma série de fatores políticos (na concepção mais ampla do termo) e econômicos, passando pela definição de modelos de negócios e regulamentações, cujos debates ainda estão incipientes. 1. Mais acesso ao conteúdo – por si só a interatividade já aumenta o rol de conteúdos oferecidos, com a inclusão de softwares, ou aplicações, na transmissão da TV. Aplicações com suporte a multidispositivos permitem uma adequação do conteúdo a diferentes usuários em diferentes contextos, o que é impossível na TV analógica. Além disso, a distribuição de conteúdo televisivo em novas plataformas de comunicação, como IPTV e celulares, traz outras ferramentas de acesso ao conteúdo, diferentes do modelo tradicional da TV na sala de estar. Da mesma forma como é possível acessar em diferentes lugares os mesmos conteúdos da internet, a televisão caminha para um modelo em que o oferecimento do conteúdo depende cada vez mais das opções que o consumidor/usuário fizer. 2. Mais conteúdos oferecidos, com novos formatos – as novas redes de distribuição de conteúdo permitem formatos novos, algo raro na televisão tradicional. Há pelo menos quinze anos não surge um formato novo na televisão. O último talvez tenha sido o reality show. Desde então se repetem as velhas fórmulas de sucesso ou de fracasso, na esperança de inovar em algum conteúdo. Já a interatividade traz elementos novos aos formatos da televisão, com programas totalmente novos e interativos. 3. Conteúdo mais dinâmico com a interatividade – tradicionalmente, os programas de TV não diferem muito entre si. A forma de assistir a uma novela não difere da forma como se assiste a um telejornal ou a um programa de auditório. Isso pode mudar com o advento da interatividade, que permite novos meios de interação e de formatação do conteúdo. 4. Novos caminhos para a educação e saúde

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– caso se opte pela multiprogramação, abre-se a possibilidade de aumentar o número de canais da radiodifusão. Com isso, é possível pensar em canais exclusivos para educação e para saúde, distribuídos numa rede de TV pública, por exemplo. 5. Desafios de chegar a toda a sociedade – os quatro itens discutidos anteriormente não se sustentam se o conteúdo não continuar chegando à sociedade de forma ampla e igualitária. Inicialmente a interatividade deve se restringir a alguns setores, mais interessados em acompanhar as inovações tecnológicas e com poder aquisitivo para tal. No entanto, com o passar do tempo, os benefícios das novas tecnologias, especificamente da interatividade, só serão perceptíveis se alcançarem todas as classes sociais. 6. Risco de monopolizar e centralizar ainda mais o conteúdo – a produção e distribuição da televisão brasileira são extremamente centralizadas, domínio amplo do mercado por uma única rede. Da mesma forma como existe o risco da sociedade não se beneficiar dos novos recursos, existe o risco de nem as emissoras de TV conseguirem oferecer esse conteúdo com um mínimo de qualidade. A interatividade e as novas redes de distribuição demandam investimentos em criação, não só das interfaces, mas de modelos de conteúdo atraentes e compreensíveis, o que pode não ser possível para a maioria das redes. 7. Reformulação do mercado – apesar da crítica de alguns setores da publicidade, as novas tecnologias se sobrepõem às estruturas de mercado, gerando reformulações. Na televisão digital interativa isso será válido para a publicidade, a segurança da informação e a produção multidisciplinar. No caso da publicidade, novas formas de oferecer produtos e marcas se vislumbram; na segurança da informação, a privacidade representa um desafio para o trânsito de informações; a produção multidisciplinar do conteúdo é necessária para garantir que o conteúdo audiovisual esteja de acordo com os requisitos técnicos de transmissão e com as possibilidades de recepção.

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TV Digital e a interatividade: impacto na sociedade

Conclusão A evolução das tecnologias e suas presenças cada vez mais constantes no dia-a-dia das pessoas requer novos planejamentos e novas acomodações no plano do uso e da interação. A diversidade de opções, seja de formas ou seja de utilidades, deriva de um planejamento de quem oferece as tecnologias no intuito de se aproximar da necessidade do consumidor. Essa tarefa se torna mais complexa quando falamos das tecnologias digitais, cada vez mais presentes e em formas antes inimagináveis, muitas vezes sem a percepção dos usuários. A televisão digital traz novos ingredientes ao tema, convergindo aspectos da radiodifusão, da informática e das telecomunicações num único serviço: televisão interativa (Becker, 2006). Experiências internacionais mostram a falta de clareza do que vem a ser essa nova TV. Parte das dúvidas pode ser explicada pela incompreensão do tema em sua plenitude, com base em teorias que se aplicam à informática/internet, mas não à televisão (Crocomo, 2004). Já e evolução da informática, e a conseqüente disseminação dos computadores pessoais para pessoas cada vez menos familiarizadas com o funcionamento de tecnologias digitais, além de softwares cada vez mais complexos, trouxe desafios sobre a compreensão de como o usuário utiliza esses softwares e de como ele se comporta diante das novidades. A incorporação de novos recursos, o que inclui a interatividade na televisão, e o aprendizado da operação do software visando melhorar a experiência do usuário, passam por um projeto de interface eficiente e eficaz. A relação do ser humano com a tecnologia varia conforme o contexto em que ocorre, iniciando na distinção entre trabalho e laser. As necessidades e os desejos diferem, inclusive na utilização do mesmo software em circunstâncias diferentes. Além disso, durante a execução de tarefas no trabalho, amparadas por computadores, o contexto social ao qual o usuário está inserido molda a forma de uso, interferindo no resultado do trabalho final. Por outro

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lado, a televisão é majoritariamente uma ferramenta de entretenimento, onde os telespectadores não têm qualquer atitude exceto assistir às imagens em questão. Dessa forma, não é possível centralizar a implantação da interatividade em recursos da internet ou de jogos. A televisão demanda estudos que comportem as suas especificidades, tanto de interface como de distribuição e acesso ao conteúdo. A materialização dos possíveis impactos e a superação dos desafios apresentados ao longo deste texto dependem de uma coerente compreensão do que é televisão e como ela é distribuída atualmente, para, a partir daí, presumir opções de interatividade.

BIBLIOGRAFIA BECKER, Valdecir (2006). Concepção e desenvolvimento de aplicações interativas para televisão digital. Florianópolis, 2006. 100f. Dissertação (Mestrado em Engenharia e Gestão do Conhecimento) – Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina. BERNARDO, Nuno (2002). O guia prático da produção de televisão interactiva. Porto: Centro Atlântico. CBO,

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CRÓCOMO, Fernando Antônio. (2004). TV digital e produção interativa: a comunidade recebe e manda notícias. Florianópolis, 2004. 189 f. Tese (doutorado em Engenharia de Produção) – Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina. GAWLINSKI, Mark (2003). Interactive television production. Oxford: Focal Press. MACHADO, Arlindo (2003). A televisão levado a sério. São Paulo: Senac São Paulo. 3ª edição. MONTEZ, Carlos; BECKER, Valdecir (2005). TV Digital Interativa: conceitos, desafios e perspectivas para o Brasil. Florianópolis:

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TV Digital e a interatividade: impacto na sociedade

Editora da UFSC. PAGANI, M. (2003). Multimedia and Interactive Digital TV: Managing the Opportunities Created by Digital Convergence. IRM Press.

Valdecir Becker é jornalista, graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina, instituição na qual obteve o título de mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento em 2006, com dissertação sobre a concepção e o desenvolvimento de conteúdo interativo para TV digital. Atualmente é professor da Universidade Metodista de São Paulo - valdecir.becker@metodista.br

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ARTIGO

competência da fucapi em tecnologia de tVd e conVeRgência digital

CARlOS MAuRíCIO SERódIO FIGuEIREdO E AdEMIR dE jESuS lOuRENçO

INTRodução Nos últimos 30 anos, acompanhamos a explosão do mundo digital com a evolução da computação pessoal. Antes, atividades do dia-a-dia, que eram executadas de forma totalmente manual ou com ajuda de dispositivos mecânicos, deram lugar à conveniência e agilidade introduzidas com a popularização dos computadores (PCs). A partir dos anos 80, vimos a necessidade de trocar e compartilhar dados tratados digitalmente. Assim se deu o surgimento de tecnologias de redes de computadores e, posteriormente, da grande rede mundial que é a Internet. As conveniências da digitalização de dados também atingiram outros segmentos além da computação pessoal. Exemplos consistem do surgimento de vários outros dispositivos com funcionalidades digitalizadas como eletroeletrônicos com funções programáveis ou de processamento de sinais, videogames, dispositivos de controle para indústria, dispositivos veiculares como navegadores ou injeção eletrônica, máquinas de cálculo, agendas eletrônicas, celulares e a própria infra-estrutura de teT&C Amazônia, Ano V, Número 12, Outubro de 2007

lecomunicações para a telefonia. Essa conveniência se deve à evolução da eletrônica digital e dos circuitos integrados, trazendo muitas facilidades para o processamento e armazenamento de bits. Tudo isso de forma rápida, ágil e compacta. Como conseqüência desse processo de digitalização, todo o conteúdo, produzido ou acessado por tais dispositivos, teve que passar também que ser digitalizado. Em uma primeira etapa, foram os próprios documentos e informações armazenadas ou trocadas entre computadores (dados). Em uma segunda etapa, o áudio passou a ser digitalizado com o surgimento dos CDs (Compact Discs) e, mais tarde, através da música no computador ou na telefonia por IP (VoIP). E, hoje, a grande discussão que envolve as áreas acadêmica, industrial, governamental e de mercado, gira em torno da digitalização de conteúdo de vídeo e de sua transmissão com o modelo da TV Digital (TVD). Todo esse processo de digitalização resulta no conceito de Convergência Digital. O termo em questão surgiu mais recentemente a partir da observação de que, com a digitalização, diferentes

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serviços, dispositivos ou redes de comunicação passam a ter um potencial muito grande de integração. Como conseqüência dessa integração, observa-se a possibilidade de redução de custos de desenvolvimento tecnológico e operação de serviços digitais e maior conveniência aos usuários de tecnologia por terem acesso a cada vez mais conteúdo por meios comuns. Diante desse contexto, este artigo apresenta uma discussão mais profunda sobre os vários aspectos da convergência digital. O objetivo é ampliar o entendimento sobre o que está por trás da mencionada definição de forma mais ampla, através da introdução de conceitos e exemplos de aplicações. De forma mais particular, o modelo de TV Digital é discutido sobre o aspecto de convergência. Esse foco é dado pelo momento tecnológico importante que o mundo, e mais particularmente o Brasil, vive com a adoção de modelos digitais desse que é o maior meio de comunicação em massa, a TV. Assim, são apresentados os diferentes modelos potenciais de acesso a conteúdo de TV digital e como esses modelos podem caminhar para uma única solução convergente, ou seja, um ponto focal. Além disso, este artigo aborda as ações da Fucapi como entidade facilitadora no processo de implantação da TV Digital no Brasil. A Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi) é uma instituição de direito privado, sem fins lucrativos, com 25 anos de realizações na Região Amazônica.

Conceitos de Convergência Como discutido inicialmente, convergência digital se refere ao fenômeno da digitalização de conteúdo, de seus meios e dispositivos de acesso, bem como do conseqüente potencial de agregação de diferentes serviços digitais. O objetivo da convergência digital é estabelecer uma plataforma tecnológica única que permita acesso a todos os serviços possíveis e necessários. Atualmente, o foco da convergência está concentrado no acesso a mídias de voz, vídeo e dados, onde nesse último inclui-se, principalmente, o acesso à Internet.

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O conceito concentra-se na seguinte visão de futuro: acesso em qualquer rede, em qualquer dispositivo e a qualquer momento a conteúdo relevante e contextualizado. Essa visão se opõe à visão de passado, onde as tecnologias eram focadas na disponibilização de conteúdos particulares da melhor forma possível. Agora, deseja-se a conveniência do uso das mesmas redes digitais para acesso, por poucos dispositivos diferentes, a uma grande gama de serviços digitais. Essa visão é desejável por vários motivos. Para prestadores de serviços digitais, a vantagem é a redução de gastos de capital (CAPEX) e operação (OPEX) de suas infra-estruturas. Isso é devido ao fato de que, sendo possível a unificação de toda essa infra-estrutura, reduz-se a necessidade de aquisição de diferentes tecnologias, a manutenção de diferentes equipes de suporte ou a dispersão de gastos com recursos humanos especializados. Além disso, ao poder usar uma mesma infra-estrutura para o fornecimento de diferentes serviços, automaticamente amplia-se sua capacidade de fornecer novos serviços. Já do lado dos usuários, o principal interesse da convergência reside no fato da conveniência, onde uma gama muito maior de conteúdos e serviços é acessada por poucos ou, até mesmo, um único dispositivo. É difícil prover um conceito fechado para o termo convergência digital por ele envolver muitos aspectos. Uma tentativa, que se concentra mais na idéia de convergência dos serviços digitais, é apresentada pelo Deutsche Bank Research, onde convergência é definida como “o processo de mudança qualitativa que conecta dois ou mais mercados existentes e anteriormente distintos” [1]. Mas, como pode-se observar, a convergência digital também está sustentada em outros dois pilares adicionais, além da convergência de serviços, que são a convergência das redes de comunicações e a convergência de dispositivos. Esses três pilares são melhores discutidos nos subitens a seguir. Convergência de Redes A convergência de redes diz respeito à unificação entre duas ou mais redes de comunicação disT&C Amazônia, Ano V, Número 12, Outubro de 2007


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tintas, em uma única infra-estrutura capaz de prover os diversos serviços que, antes, eram disponibilizados de forma independente. Não há dúvidas de que esse benefício interessa, principalmente, aos players de mercado provedores de serviços. Com a unificação da infra-estrutura de rede, ampliam-se as possibilidades de prestação de serviços sem a necessidade de aumentar muito os custos relacionados a essa infra-estrutura. Historicamente, a digitalização de diferentes redes de comunicação aconteceu de forma independente e com o objetivo de conquistar os benefícios obtidos por técnicas de transmissão digital, tais como o melhor compartilhamento dos canais de comunicação com a comutação por pacotes e a possibilidade de usar técnicas de compactação de dados e de correção de erros. Tudo isso, conseqüentemente, torna o processo de comunicação muito mais eficiente. Esse processo de digitalização ficou muito evidente com as redes de telefonia, principalmente da telefonia celular, onde a voz passou a ser digitalizada para melhor aproveitamento do espectro de freqüência entre vários usuários e a inclusão de outros serviços associados. Paralelamente, observou-se a evolução das redes de computadores, já criadas para a comunicação de dados digitais, que antes conectavam áreas locais restritas e foram sendo ampliadas através de interconexões por backbones, até se formar uma infra-estrutura de comunicação metropolitana ou global, como é a Internet. Naturalmente, através desse processo de digitalização das técnicas e meios de transmissão, redes de diferentes domínios passaram a agregar também diferentes funções. Um exemplo claro foi a evolução das redes de telecomunicações para o tráfego de dados. É o caso das redes GSM/GPRS e CDMA/EVDO, que permitiram acesso a funcionalidades de dados comuns como troca de e-mails e acesso à Web. Por outro lado, com a evolução das velocidades de acesso, usuários de redes de dados corporativas ou domésticas passaram a acessar funcionalidades de serviços de voz e vídeo, via Internet. Um exemplo mais específico e com granT&C Amazônia, Ano V, Número 12, Outubro de 2007

de alcance no momento é o de serviços de VoIP, onde serviços de comunicação de voz passam a ser integrados como aplicações da Internet. Hoje, convivemos com um conjunto considerável de tecnologias para comunicação de dados através de infra-estruturas criadas inicialmente para outros serviços. Alguns exemplos são as próprias redes de dados da telefonia celular citadas anteriormente, as redes ADSL da telefonia fixa, as redes CATV das operadoras de TV a cabo e até as redes PLC, que são baseadas nas redes de distribuição de energia. Embora tais redes passem a integrar diferentes serviços, suas limitações ainda impedem uma convergência plena. Isso se deve, principalmente, a limitações de suas redes de dados, tais como de largura de banda e QoS (Qualidade de Serviço), que inviabilizam vídeo de alta definição em tempo real, por exemplo. Assim, essa integração é limitada, onde na verdade é comum o uso compartilhado do mesmo meio de transmissão (cabos), mas ainda mantendo os diferentes serviços com diferentes tecnologias de transmissão. Uma iniciativa mais acadêmica sustenta que nenhum dos padrões atuais deverá ser essa plataforma convergente, e que devemos buscar inovações tecnológicas para projetarmos e adotarmos uma única infra-estrutura convergente, chamada Rede de Próxima Geração (Next Generation Network) [2]. Essa infra-estrutura única já seria concebida desde o seu início envolvendo todos os aspectos de convergência digital. Hoje em dia, uma tecnologia já disponível e que se candidata a se estabelecer como um exemplo de tal infra-estrutura é o Wi-Max [3]. Essa tecnologia promete acesso em banda larga, satisfazendo requisitos de QoS, com capacidade de cobertura de áreas metropolitanas e sem fio. Ou seja, se tais características se concretizarem, esta tecnologia pode suplantar facilmente todas as outras iniciativas existentes. No entanto, sua evolução e adoção têm esbarrado em questões econômicas e políticas, sendo que os problemas de regulamentação ainda persistem. Convergência de Serviços À medida que redes e dispositivos convergen-

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tes se popularizam, mais natural é o anseio dos usuários por acesso a diferentes serviços de forma integrada. Basicamente, a convergência de serviços envolve a integração de serviços on-line e offline, serviços fixos e móveis, de telecomunicações e broadcast. Nesse contexto, atualmente, classifica-se serviços convergentes como: • Serviços triple-play: oferta combinada de serviços de telefonia, TV e Internet. Tal categoria de serviços convergentes é mais viável com as tecnologias de redes atuais e exemplos começam a surgir. Esse é o caso da Telefónica na Espanha e da NET do Brasil, que integraram a comunicação de dados em suas redes e passaram a oferecer serviços digitais não fornecidos anteriormente. • Serviços quadruple-play: oferta combinada entre os serviços triple-play, mas com mobilidade. Particularmente, esse tipo de serviços ainda é muito limitado pelas tecnologias móveis existentes. Basicamente, ainda não há infra-estruturas de redes sem fio que atendam satisfatoriamente a demanda de TV, por exemplo. Talvez tecnologias emergentes como o Wi-Max ou de telefonia 4G possam suprir essa demanda, mas até tais tecnologias se popularizarem, deveremos ter uma convergência intermediária onde um dispositivo móvel acessa os diferentes tipos de serviços, mas por diferentes redes e diferentes provedores. O maior problema que ainda emperra a implementação da convergência digital não é tanto tecnológico, mas sim de regulamentação dos serviços digitais. Apoiado em um modelo antiquado, tem-se restrições sobre o uso de canais de comunicação para o provimento de diferentes serviços. Em um exemplo claro da concessão de serviços no Brasil, tem-se a recente discussão sobre a natureza dos participantes que podem concorrer a licitações de concessão de novos espectros de rádio. Nesse caso, há uma disputa entre operadores de telefonia, provedores de TV e de redes de acesso, de quem pode obter concessão de determinado serviço.

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Convergência de Dispositivos A convergência de dispositivos se refere à capacidade desses em acessar diferentes redes de dados e serviços digitais. O foco é a conveniência dos usuários em usar um único dispositivo ou uma quantidade menor deles, para acesso a todos os seus dados e serviços de interesse. Uma observação desse aspecto é o fato de que dispositivos móveis e eletrônicos de consumo, tais como PCs e celulares, vêm se tornando cada vez mais “allin-one”. Um exemplo muito claro de plataforma convergente é o telefone celular. Hoje, esse tipo de aparelho integra as mais diversas funções de acesso a conteúdo e serviços digitais. Como exemplo citamos a unificação das funcionalidades da comunicação de voz com a troca de mensagens de texto antes realizadas por serviços de pagers. Hoje vemos a ampliação dessa plataforma de serviços com a possibilidade de acesso à internet e troca de e-mails, possível devido à integração de mecanismos de comunicação de dados à rede de telecomunicações. Na verdade, os celulares vêm, cada vez mais, incorporando funcionalidades de um computador pessoal móvel [4]. Uma conseqüência do desenvolvimento do celular como plataforma convergente é o acesso a diferentes tipos de conteúdos digitais. Exemplos clássicos consistem da integração de funcionalidades de MP3, vídeo, aplicações pessoais e de entretenimento nesses dispositivos. Particularmente no Japão, onde uma infra-estrutura de TVD já existe, esses dispositivos integram, também, a recepção e exibição de TV. Também se tornam comuns aos celulares, funcionalidades de câmera digital e gravação de som. Como exemplo, tem-se relatos de que se vendem mais câmeras digitais embutidas em celulares do que como dispositivos independentes. Mesmo que a utilização desses dispositivos vem diminuindo a utilização de relógios de pulso pelas gerações de usuários mais novas. Esses fatos indicam importantes mudanças de hábitos culturais ocasionadas pelos dispositivos convergentes.

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Alguns outros exemplos de dispositivos convergentes são os navegadores e computadores de bordo para veículos. Nesse caso, se alia as funcionalidades de acesso e processamento móvel a informações com a plataforma tecnológica dos carros modernos. Um exemplo mais relacionado ao tópico discutido posteriormente neste artigo consiste do próprio set-top box, equipamento responsável por realizar a recepção de TVD e dar interatividade aos usuários com seus equipamentos convencionais. Semelhante a um receptor de TV a cabo, comumente tal dispositivo adota uma arquitetura computacional baseada em PCs convencionais (e.g., processador, dispositivos de armazenamento, interfaces de periféricos, sistema operacional e softwares aplicativos) mas com algumas funcionalidades adicionais específicas, como processamento de streams MPEG. Várias ilustrações de dispositivos convergentes são apresentadas na figura 1.

(A) iPhone

de. No entanto, dentro dos aspectos de convergência digital, outros modelos de acesso a esse tipo de serviço surgem paralelamente. A seguir, os principais modelos são apresentados brevemente, bem como uma discussão sobre como esses modelos podem convergir. TVD Basicamente, o modelo de TV digital visa elevar a qualidade de imagem e som. Essa característica é obtida através da eliminação de ruídos e imunidade a reflexões, conseqüências do processo de transmissão digital. Esse modelo também produz economia de espectro de freqüências, permitindo a existência da canais adjacentes, o que não acontece com a TV analógica, e possibilita a transmissão de mais fluxos de dados pelas redes de TV. Como exemplo, um canal de 6 MHz de espectro permite apenas um canal de televisão analógi-

(B) Navegador veicular

(C) Set-top box digital

Figura 1 - Alguns exemplos de dispositivos convergentes

Uma análise sobre os serviços de TV Digital Atualmente, vivemos um momento tecnológico importante em escala global, e mais particularmente no Brasil, com a adoção de modelos digitais desse que é o maior meio de comunicação em massa, a TV. O conceito de TV Digital (TVD) surge, principalmente, como uma transformação dos modelos analógicos atuais de difusão com a incorporação de funcionalidades de dados digitais e interativida-

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co, enquanto que com a TVD pode-se ter quatro canais a 4,5 Mbps com resolução padrão (SDTV - Standard Digital TV) ou um canal de 18 Mbps com alta resolução de vídeo (HDTV - High Definition TV) e som de cinco canais de áudio mais woofer. Outras combinações também são possíveis. Quanto à imagem, ela passa de 525 linhas da TV analógica, com relação de aspecto de 4:3, para 1080 linhas para a TV digital, com relação de aspecto de 16:9. Além da transmissão de TV em alta definição,

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onde a imagem passa a ter uma maior resolução, o modelo da TV Digital também introduz o conceito de interatividade (datacasting). Nesse modelo de interatividade, outros dados digitais podem ser direcionados aos receptores juntamente com o conteúdo de TV. Tais dados podem ser informações adicionais relativas à programação sendo veiculada, como por exemplo guias eletrônicos de programação e informações de produtos sendo anunciados, ou podem ser aplicações interativas (software) que são executadas no receptor e que podem realimentar informações às operadoras através de um canal de retorno. Particularmente, o canal de retorno representa um canal de dados separado para comunicação do receptor de TVD com as redes transmissoras de TV e/ou outras fontes de informação. Tal canal pode ser implementado por diferentes tecnologias de redes de dados de longa distância, como as tecnologias dial-up ou ADSL, que já são usuais para acesso à Internet. Dessa forma, esse canal de retorno abre muitas possibilidades para o modelo de TVD como plataforma de convergência ao permitir a integração de outros serviços. No cenário mundial da televisão digital, a Europa (pioneira desde 1998) se destaca com programas pagos e interativos, juntamente com a tevê gratuita, e experimentos em mobilidade (DVB-H) e em alta definição. Os EUA se destacam por 85% das televisões serem conduzidas por cabo, o que favorece a HDTV (high definition television). No Japão, desde dezembro de 2000, há dez canais de tevê de alta definição via satélite, com cerca de 6,2 milhões de receptores. Lá se destaca a possibilidade de atender a receptores fixos e portáteis (hendhelds e celulares). Já a China tenta desenvolver um modelo com padrões próprios, como visto em Hong Kong e Xangai. O padrão japonês ISDB-T serviu de base para a implementação do padrão brasileiro. O ISDB-T possui banda de 6 Mhz, que equivale a uma capacidade de 20 Mbits/s, dividida em 13 segmentos. Este sistema permite realizar, na mesma faixa de freqüência, até 03 configurações distintas, permi-

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tindo que a programação de uma única transmissora de TV seja transmitida em até 03 resoluções diferentes, por exemplo HDTV (1080i, 720p), SDTV (480p, 480i, 576p e 576i) e LDTV (240p, 288p). O sistema em implantação no Brasil optou pelo formato de compressão o codec H-264, com compressão de vídeo em MPEG-4 ao invés do MPEG-2 do padrão japonês. Esse formato de vídeo permite uma compressão maior dos dados de vídeo sem perdas consideráveis em sua qualidade. Isso é possível porque o MPEG-4 analisa todos os frames de vídeo, identifica os objetos comuns entre eles e encaminha para o próximo quadro apenas os objetos que não são redundantes no quadro anterior. Basicamente, a compressão de vídeo em MPEG-4 é, em média, 30% maior do que em MPEG-2. Além da diferenciação do formato de codificação de vídeo, o padrão brasileiro inova com a especificação de um middleware de desenvolvimento próprio, o GINGA. Esse software, que deve ser embarcado nos aparelhos receptores, permite a execução de aplicações interativas de forma homogênea entre os diversos fabricantes de receptores e fornece funções de mais alto nível para a elaboração desse conteúdo digital interativo. Como pode-se perceber, o modelo de TVD revoluciona o modelo existente com novas técnicas de digitalização e a compressão de áudio e vídeo, com a fragmentação do sinal em streams (fluxos seqüenciais), a inserção e a apresentação de outros dados digitais, e a geração, multiplexação e transmissão de streams de forma digital. Toda essa mudança não é suportada pelos aparelhos analógicos existentes, assim um dispositivo de adaptação, chamado set-top box, faz-se necessário para atender aos 70 milhões de televisores estimados atualmente. Esse aparelho receptor, semelhante a um receptor de TV a cabo comum, é então responsável por receber a transmissão das redes de TVD, possibilitar a interatividade dos usuários e a execução de aplicativos e prover a conexão com um canal de retorno. O atual modelo de negócios da TV aberta, paga por publicidade, sofrerá o impacto da TV digital. Em

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números, a TV aberta é representada no Brasil por 70 milhões de televisores analógicos, sendo 45 milhões de domicílios atendidos (1,55 aparelhos por lar) e 160 milhões de telespectadores. Como base de comparação, a televisão paga corresponde a 4,5 milhões de assinantes (dos quais 3 milhões por cabo) e inclui três redes, via satélite. O potencial de mercado abrange cerca de 600 cidades com outorga de Cabo e MMDS. Diante do exposto, o modelo de TVD como plataforma convergente abre um grande mercado de conteúdo digital. Esse mercado não se limita à produção de conteúdo de vídeo e áudio, mas inclui também os recursos de interatividade, tais como de entretenimento (notícias, shows, jogos eletrônicos, enquetes eletrônicas e apostas), publicidade (informações adicionais sobre produtos e compras online), comunicações (WEB, e-mail e conferência) e serviços públicos (conteúdo educativo, e-gov, serviços comunitários e banco eletrônico). IPTV A tecnologia de IPTV [5] diz respeito à introdução do uso de aplicações de vídeo, basicamente TV Digital e VoD (vídeo sob demanda), usando a tecnologia de redes IP, a mesma que forma a infraestrutura da Internet. Sua grande vantagem é a redução de custos com o emprego de tecnologias de rede muito conhecidas e difundidas. Além disso, a integração de serviços de dados se dá nativamente, facilitando a implementação da interatividade da TV Digital unificando o canal de retorno com o de difusão de vídeo. Seu funcionamento baseia-se na construção de uma rede IP dedicada e mantida pela própria operadora. Isso é feito para que a rede atenda a questões de controle de QoS, tais como largura de banda e entrega de pacotes, de forma particular aos serviços providos, o que não acontece com as redes tradicionais de dados para acesso à Internet. Com essa qualidade de rede garantida, a transmissão de TV é feita, simplesmente, através do encapsulamento de streams de transporte do padrão MPEG em pacotes IP multicast.

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Segundo [6], os principais desafios para adoção de padrões de IPTV são: (i) Alta disponibilidade, porque os usuários estão acostumados ao padrão de qualidade de TVs a cabo e via satélite; (ii) Planejamento de capacidade, pois tanto a rede quanto o serviço devem ser dimensionados corretamente para a demanda de clientes; (iii) Controle de congestionamento, que é extremamente necessário em redes multisserviço para evitar impactos na exibição de diferentes mídias; e (iv) Medida de qualidade fim-a-fim, pois, para garantir qualidade de rede, é necessário o monitoramento constante de fatores que podem afetar o seu funcionamento. Um exemplo de infra-estrutura de IPTV atual é a mantida pela Kingston Interactive Television, na Inglaterra. Essa operadora usa, como infra-estrutura, tecnologias básicas de redes ADSL com QoS e, além de broadcast de vídeo, integra VoD. Internet TV Nos dias atuais, não há dúvidas sobre a importância e a capacidade da Internet como instrumento de comunicação digital e provimento dos mais diversos serviços de dados. Com o aumento das velocidades de acesso, avanços tecnológicos e o aumento do número de usuários on-line, surgiu o interesse de acesso a conteúdos televisivos na Internet, o que vem recebendo o nome de Internet TV [7]. Dessa forma, a infra-estrutura para serviços de TV seria exatamente a mesma para acesso à Internet. Em uma infra-estrutura de Internet TV, o serviço de TV passa a ser mais uma aplicação de troca de dados onde a tecnologia de streaming (envio contínuo de pacotes contendo conteúdo de áudio e vídeo) é usada para a transmissão de conteúdo televisivo. No entanto, normalmente a qualidade da mídia exibida pela Internet TV é baixa. Isso é devido às limitações de largura de banda, escalabilidade de usuários e falta de controle de QoS na infra-estrutura da Internet, diferentemente das infraestruturas de IPTV. Mas, ainda assim, começaram a surgir abordagens alternativas de TV pela Internet para minimizar tais problemas. Esse é o caso

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do P2P-TV (Point-to-point TV) [8], que se apóia em estratégias de compartilhamento de grandes quantidades de dados através da cooperação de vários usuários, como é o caso do Bit-Torrent, para minimizar a necessidade de banda em streams de tempo-real. Ainda assim, sem garantias de QoS. Alguns exemplos de Internet TV que começam a surgir são serviços de streams de vídeo através de programas específicos como RealPlayer, Windows Media Player ou Nullsoft. Um exemplo interessante é mostrado na figura 2, onde vemos claramente em uma aplicação de Internet TV da BBC, chamada iPlayer, funcionalidades de programação e interatividade semelhantes ao modelo esperado para a TVD. Já em relação a tecnologias de P2P-TV vemos o surgimento de aplicações como o PPLive, SopCast e Joost, que permitem a difusão de vídeo para grandes quantidades de usuários.

Em Busca do Ponto Focal Como podemos observar, quando relacionada a serviços de TV, a convergência digital tem tomado diferentes caminhos: o caminho das operadoras de telecomunicações tradicionais com padrões de TVD, que introduzem meios de difusão digital e conteúdo também digital; o caminho das operadoras de redes de dados com suas infra-estruturas de IPTV, entrando no nicho de serviços de vídeos digitais; e a forma mais livre e democrática de acesso a dados digitais que é a Internet, com o conceito de Internet TV. Embora seja claro que os aspectos de convergência digital estejam presentes nos três modelos, determinar qual será, de fato, o modelo convergente definitivo – ou seja, o que concentrará as iniciativas de geradores de conteúdo, fornecedores de redes de acesso e outros serviços digitais - ainda

Figura 2 - Exemplo de Internet TV da BBC

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é uma busca da área acadêmica e dos players de mercado. Enquanto as alternativas evoluem para esse ponto de convergência, temos algumas vantagens e desvantagens de cada modelo: • TVD: médio custo de migração para transmissão digital de TV, alto QoS devido ao modelo específico ao propósito, falta de controle do usuário sobre o acesso a conteúdo, menor interatividade em aplicações de broadcast e dependência de canal de retorno para inclusão de outros serviços digitais; • IPTV: alto custo, por necessitar a criação de uma rede IP controlada e infra-estrutura de geração de vídeo própria, escalabilidade menor que o modelo de difusão da TVD, mas uma vez controlada, a interatividade é automática pelo próprio canal de dados, e o mais vantajoso, a inclusão de outros serviços digitais pode fazer uso direto da infra-estrutura existente; • Internet TV: baixo custo, por utilizar uma infraestrutura de rede extremamente popularizada, maior liberdade de escolha de conteúdo, interatividade implícita seguindo padrões de comunicação TCP/IP, porém, total falta de controle sobre a infra-estrutura e QoS na entrega de streams. Tecnicamente, vemos uma proximidade maior de possibilidades de integração de diferentes serviços nas soluções de IPTV e Internet TV. Primeiro que soluções de IPTV são, de fato, redes com fácil integração de outros serviços digitais. Segundo, a Internet tem evoluído muito rapidamente, as velocidades de acesso têm aumentado, custos vêm sendo reduzidos, aspectos de QoS vêm sendo considerados em sua infra-estrutura e, conseqüentemente, tais redes começam a suportar melhor o tráfego de dados multimídia. Um exemplo real de tal evolução é a popularização dos serviços de VoIP. Finalmente, é muito mais fácil imaginar uma integração de infra-estruturas de redes específicas para IPTV e de acesso à Internet. Já no caso dos padrões de TVD de difusão digital, o acesso de outros conteúdos digitais e a inte-

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ratividade dependem do canal de retorno. Tal canal de retorno representa uma infra-estrutura adicional para tráfego de dados e, portanto, não deriva em uma convergência plena. Por outro lado, tal modelo se alinha muito mais às questões sociais, pois os custos de acesso e o modelo convencional permanecem pouco alterados para uma população economicamente desbalanceada, como a existente em países de terceiro mundo. Além disso, o modelo de difusão consegue atender a usuários móveis, o que pode representar um diferencial tecnológico em rumo a serviços quadruple-play. Com exceção dos modelos de difusão de TV Digital que suportam mobilidade, como é o caso do padrão japonês e, conseqüentemente, do brasileiro, os modelos com maior suporte a integração de dados tem mobilidade muito limitada pela largura de banda. Na verdade, a tecnologia presente hoje que permitiria tal mobilidade é a da telefonia celular, que ainda é lenta e cara, e tecnologias de redes de dados com acesso a Internet com banda-larga são baseadas em cabo. Conseqüentemente, ainda estamos distantes dos modelos de serviços quadruple-play. Nesse sentido, ainda se faz necessário o esforço do desenvolvimento das redes de próxima geração (ver Convergência de Redes, pág.16) com suporte a vídeo digital de alta qualidade e com mobilidade, ou seja, com comunicação sem fio. Como podemos observar, ainda estamos distantes de um ponto focal em relação aos serviços de TVD. Teremos que esperar pelos avanços tecnológicos, econômicos e políticos que deverão ocorrer nos próximos anos, para sabermos qual modelo prevalecerá. Até lá, há o sentimento de que conviveremos por um bom tempo com soluções tecnológicas alternativas, até porque o modelo de difusão é o mais acessível a uma grande parcela da população excluída digitalmente e com limitações socioeconômicas.

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Um exemplo de capacitação local em TV Digital: o caso Fucapi. Desde 1990 o Ministério da Comunicações tem estudado a questão da definição do Sistema de TV Digital a ser adotado no Brasil. A partir de 1991 a Fucapi iniciou, através de investimentos próprios, a formação e consolidação de conhecimento tecnológico nesta área, por meio da capacitação da sua equipe. Em agosto de 1999 o grupo SET-ABERT iniciou, com a supervisão rigorosa da ANATEL, testes de campo e de laboratório nos padrões de TV Digital existentes até então. Em fevereiro de 2000 a ELETROS e a Fucapi se incorporaram à equipe de testes. No período de 2004 a 2006 a Fucapi teve assento, representando a ABIPTI, no Comitê Consultivo do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD). Este Comitê foi responsável por propor as ações e diretrizes fundamentais relativas ao SBTVD. Portanto, intimamente envolvida com a migração para o SBTVD, esse aprendizado permitiu o acúmulo de competências, pela Fucapi, capazes de dar sustentação a iniciativas e projetos de cunho tecnológico realizados no âmbito da instituição por um grupo de trabalho específico dedicado à área, conforme relatado nos itens a seguir. Set- top box para TV Digital Um dos projetos atuais na Fucapi é o desenvolvimento de um set-top box para o sistema SBTVD. O alto nível de integração de hardware e a grande quantidade de software embarcado neste sistema tornam o projeto uma tarefa altamente complexa. A equipe da Fucapi trabalha desde o desenvolvimento mecânico até a produção do hardware e a codificação do software. A mecânica envolveu inicialmente a modelagem 3D do set-top box e a criação de um design final para o produto. Durante este processo cada conector, componente e parte da caixa foram modelados separadamente para depois serem reunidos numa montagem geral. Além disso, utilizando-se softwares de última geração foram feitas várias análises de interferência mecânica sobre este modelo. O hardware foi desenvolvido buscando-se obter

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uma máxima otimização do layout da placa e da redução dos custos do projeto. A placa multicamadas produzida ao final destas etapas tem um alto grau de integração e complexidade. Neste tipo de desenvolvimento, técnicas especiais foram utilizadas para minimização de erros e retrabalho. Em paralelo a estas fases foi realizado o desenvolvimento do software que será embarcado na placa. O set-top box utiliza o Sistema Operacional Linux e é baseado em um SoC (System on a Chip) criado especialmente para soluções set-top box. Este chip já possui os decodificadores de vídeo e áudio, além de uma série de periféricos comuns a set-top boxes. O software fará o controle de todo o sistema e responderá a requisições do usuário tais como mudança de canal, seleção de legenda, redimensionamento do vídeo e outras funcionalidades. Além do set-top box a Fucapi atualmente está desenvolvendo outros projetos relacionados a TV Digital. Podemos citar, por exemplo, projetos relacionados à produção de conteúdo interativo e projetos de ensino. Iniciativas em interatividade para TV Digital Uma das novidades que a TV Digital traz para o consumidor é a comentada interatividade. O telespectador poderá deixar de ser um agente passivo, podendo então interagir com o conteúdo da TV Digital. Através deste processo, ele poderá, por exemplo, responder a questionários, participar de jogos, votações e uma infinidade de outras possibilidades. A existência desse novo personagem é suportada pela tecnologia associada ao software GINGA, um middleware desenvolvido pela PUC-RJ e pela UFPB. Ele é o responsável pela interpretação dos comandos e programas que são enviados juntamente com o sinal digital da TV. A Fucapi, em parceria com a PUC-RJ, está trabalhando para a realização de cursos de NCL (Nested Context Language), com o objetivo de formar pessoas para o desenvolvimento destes aplicativos interativos. A linguagem NCL foi desenvolvida pela PUC-RJ e é uma das partes centrais do GINGA.

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Ela permitirá a criação de diversos sistemas interativos para a TV Digital utilizando-se do paradigma declarativo. Além disso, a Fucapi também está envolvida com outros parceiros diretamente no desenvolvimento de tais aplicativos. Participação no Fórum Brasileiro de TV Digital O Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre é a entidade responsável pela normatização de todo o sistema brasileiro de TV digital. Dentro deste escopo, ele também é responsável pela especificação do set-top box. Atualmente os fabricantes não precisam estar em total compatibilidade com a norma. No entanto, quem não estiver dentro dos padrões não receberá o selo de compatibilidade que será oferecido pelo Fórum. Estes produtos certamente não serão bem vistos pelo mercado, pois não oferecerão garantias ao consumidor. Por esta razão, a Fucapi optou por ser tornar um participante Pleno do Fórum. Assim ela está sempre atualizada com relação às últimas decisões permitindo o desenvolvimento de projetos e produtos aderentes às especificações e normas estabelecidas. Esforços em IPTV A Fucapi vem participando, em conjunto com a ANATEL, representada pela CBC2 (Comissão Brasileira de Comunicação 2), das reuniões do “Focus Group on IPTV”. Este “Focus Group” foi criado pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) para a normatização dos sistemas de IPTV. Através da sua equipe de técnicos, a Fucapi vem trabalhando ativamente com várias outras instituições internacionais dentro da UIT para a criação deste mais novo padrão. No âmbito das reuniões, a equipe procura representar o Brasil e, sempre que possível, citar e incluir as tecnologias desenvolvidas dentro de nosso País, como é o caso do próprio middleware GINGA. Nessa mesma área, também está buscando atualmente um parceiro industrial para o desenvolvimento de set-top boxes para IPTV. Esta tecnologia está em ascensão em todo o mundo e provavel-

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mente também deverá se estabelecer fortemente no Brasil, no futuro próximo. Formação de capital intelectual Em parceria com a COPPE/RJ, a Fucapi realizou, em 2007, um curso alto nível voltado à capacitação de profissionais em TV Digital, com carga horária de 265 horas, abrangendo conteúdos como codificação de vídeo e áudio, modulação e transmissão de sinal, middleware, multiplexação de streams e outros. Em 2008 está previsto o inicio de um curso de pós-gradução lato sensu em TV Digital na instituição, concebido e liderado por seus próprios profissionais com formação stricto sensu nos quais vem investindo ao longo desse processo. Este curso irá possibilitar a ampliação, em Manaus, de capital intelectual altamente especializado e pronto para trabalhar no crescente setor de TV Digital.

Considerações Finais De forma conclusiva, podemos perceber que a convergência digital não foi algo que evoluiu de forma planejada, mas é a observação de um fenômeno que ocorreu por interesses de usuários e operadoras na digitalização de seus conteúdos e serviços. Talvez o principal pilar do conceito esteja na convergência de redes, pois as redes unificadas é que permitirão a unificação, também, de serviços e de dispositivos de acesso de forma mais fácil. A dúvida que persiste atualmente é como se dará a evolução dessa rede convergente, pois as tecnologias em utilização não atendem a todas as necessidades de serviços convergentes. Isso é fato, principalmente quando consideramos os serviços quadruple-play, com aplicações de vídeo e mobilidade. As estratégias atuais consistem da evolução das redes tradicionais de telecomunicações para dados ou da evolução das redes de dados para suporte às várias mídias. Paralelamente, devemos aguardar os esforços de criação de novos padrões de rede de próxima geração, já focados nos serviços convergentes.

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Conforme exposto neste artigo, os modelos de TV digital em implantação encontram-se imersos nessa discussão. O modelo de difusão digital terrestre tem sua importância por atingir a grande massa da população por um método já usual. No entanto, apresenta limitações na agregação de outros serviços digitais. Em relação a outras tecnologias existentes que poderiam servir de infra-estrutura convergente, como o Wi-Max, ainda permanece o empecilho de questões de regulamentação. Assim, ainda teremos que esperar para ver como será a forma de assistir televisão que prevalecerá no futuro. Todavia, essas indefinições não impedem que institutos tecnológicos contribuam para o grande esforço nacional, desenvolvendo competências e aplicando-as em projetos reais, como o caso da Fucapi, aqui relatado.

Referências Bibliográficas [1] Deutsche Bank Research. The dawn of technological convergence. IT, telecoms & New Media, Maio de 2006. [2] Stuckmann P. & Zimmermann R. Toward Ubiquitous and Unlimited-Capacity Communication Networks: European Research in Framework Programme 7. IEEE Communications Magazine, Vol. 45, No. 5. (2007), pp. 148-157.

[7] Hansell, S. As Internet TV Aims at Niche Audiences, the Slivercast Is Born. The New York Times, Março de 2006. [8] Sentinelli, A. Marfia, G. Gerla, M. Kleinrock, L. Tewari, S. Will IPTV ride the peer-topeer stream? IEEE Communications Magazine, Vol. 45., No. 6 (2007), pp. 86-92.

Carlos Maurício Seródio Figueiredo é graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Amazonas (1998) , mestrado em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2001) e doutorado em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2007). Atualmente, é coordenador de Pesquisa em Computação da Fucapi e professor dos cursos de graduação do Instituto de Ensino Superior Fucapi (CESF) e dos cursos de especialização do Centro de Pós-Graduação e Extensão Fucapi (CPGE) - mauricio.figueiredo@fucapi.br Ademir de Jesus Lourenço é mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), na área de Processamento Digital de Sinais, especializado em sinais de teste para HDTV. Atualmente, é Líder de Projetos de Hardware da Fucapi e Professor Assistente da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) - ademir@fucapi.br

[3] She, J., Hou, F., Pin-Han Ho & Liang-Liang Xie. IPTV over WiMAX: Key Success Factors, Challenges, and Solutions. IEEE Communications Maganize, Vol. 45. No. 8. (2007), pp. 87-93. [4] Figueiredo, C. M. S. & Nakamura, E. F. Computação Móvel: Oportunidades e Desafios. T&C Amazônia, Vol.1. No. 2. (2003), pp. 16-28. [5] Ooghe, S. IPTV Architecture Overview. DSL Forum, Abr. 2006. [6] Heavy Reading. Assuring Quality of Experience for IPTV. Disponível on-line: http://www.heavyreading.com/. Acessado em Jul. 2007.

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REpORTAGEM

tV digital e a demanda poR RecuRsos Humanos

CRISTINA MONTE

A

implantação da TV digital terrestre aberta no Brasil prestes a acontecer no início de dezembro representará um marco na história da tevê brasileira, tudo o que foi realizado até o momento será coisa do passado. A quebra de paradigma causará uma revolução sob diversos aspectos: social, tecnológico e econômico – a extensão desse impacto deverá se ampliar muito mais do que visualizamos no presente. Entretanto, sabe-se que nunca mais se verá televisão como antes, o que isso irá refletir nas relações sociais e mercadológicas ainda é uma incógnita, mas o fenômeno é passível de estudos que permitam refletir sobre a mudança no comportamento coletivo e suas inter-relações nos diversos extratos sociais e nas relações comerciais. Sob o ponto de vista tecnológico, a inovação e o desenvolvimento de soluções tecnológicas para suporte a área da TV digital parecem não ter limites – O rigor científico demonstrado pelo corpo de pesquisadores responsável pelo desenvolvimento do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre

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(SBTVD-T) é uma amostra da potencialidade brasileira, a qual pode tecnicamente se comparar aos países mais avançados nessa área, assumindo um papel de destaque entre os gigantes emergentes. Por outro lado, na área jurídica, a questão que se coloca refere-se a legislação vigente, a qual não tem acompanhado toda a dinâmica tecnológica dos últimos anos. A análise sobre o assunto partiu do presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Ronaldo Mota Sardenberg, por entender que o Brasil está atrasado em relação a outros países. “Em boa parte dos países desenvolvidos, a regulamentação dos serviços de comunicação de massa está sendo adequada ou já foi, com vistas a acompanhar o avanço do processo de convergência tecnológica. Entre nós, tal obsolescência da legislação, que decorre da obsolescência da própria tecnologia regulada, começa a dificultar o adequado aproveitamento dos avanços e seu mais amplo acesso pela sociedade”, disse ele por ocasião de sua participação na Conferência Nacional Preparatória de Comunicações: Uma Nova Política para a Convergência Tecnológica e o


TV Digital e a demanda por Recursos Humanos

Futuro das Comunicações, na Câmara dos Deputados, em setembro último. Economicamente, a implementação da TV digital não deve se restringir a alavancar crescimento econômico apenas nos setores de entretenimento e de fabricantes de televisores, mas sim tornar-se oportunidade para desenvolver a cadeia produtiva a qual envolve, entre outros, os desenvolvedores de software, incluindo aplicativos. Num cenário mais otimista, a possibilidade de negócios para o Brasil, a partir da adoção da TV digital é grande, principalmente se os países da América Latina adotarem o padrão japonês, mesmo porque há a intenção de desenvolver um chip multipadrão, que englobe o modelo americano, europeu e japonês, justamente para atender ao mercado externo. Nesse contexto, o Brasil em agosto perdeu um país em potencial - o Uruguai optou pelo modelo europeu. Se o modelo escolhido pelo Brasil for adotado pelo mercado externo, sua disseminação reduzirá o custo de produção para o interno, em virtude do aumento na escala. O reflexo disso representará desenvolvimento econômico para o País. Entretanto, grosso modo, se a indústria do Brasil apenas atuar como montadora, sem muita agregação de valor, provavelmente o País perderá a oportunidade de desenvolvimento. Contudo, sob o ponto de vista otimista, o fortalecimento da indústria nacional dependerá da formação de mão-de-obra especializada. Em relação a isso, a pergunta que se faz é se os institutos de ensino e universidades têm empreendido esforços para oferecer ao mercado profissionais preparados para atuarem diante dessa nova área. Têm ?

TV Digital: principais áreas profissionais O início das transmissões digitais abrirá um leque de oportunidades capaz de alcançar diversas áreas profissionais, tanto na parte técnica quanto na de produção de conteúdo. Algumas das mais importantes são Engenharia Eletrônica, Informática

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e Comunicação Social. Uma boa parte dos profissionais já vem direta ou indiretamente se envolvendo com a área da TV digital, já que em virtude de suas áreas de graduação ou especialização muito do conteúdo estudado é compatível com o assunto. No geral, ainda não há um cenário que sinalize as áreas a serem mais requisitadas pelo segmento da TV digital, mas até onde se percebe, há alguns indicativos que permitem a reflexão. Para o coordenador do Centro de Desenvolvimento de Tecnologias Industriais (CDTI/FUCAPI), Rogério Pereira, os operadores e engenheiros serão os mais necessários. “Com o advento da TV digital, creio que haverá demanda por operadores qualificados em Sistemas de Transmissão, em Engenharia de Produto e Processo, em Desenvolvimento, talvez na área de Instalação e Assistência Técnica e uma demanda razoável em desenvolvimento de softwares, dada a questão da interatividade”, informa o coordenador. Em relação à capacitação dos profissionais, é preciso considerar que o curto período de tempo estabelecido entre a assinatura do decreto e a efetiva implantação da tevê digital não é suficiente para qualificar tantos profissionais. Da assinatura do Decreto nº 5.820/2006 que definiu o regime de transição da televisão analógica brasileira para o sistema digital, em 29 de junho de 2006, ao início das transmissões, previsto para 2 de dezembro de 2007, não há como colocar no mercado mão-deobra capacitada para atender a todos os setores envolvidos com a TV digital.

Disponibilidade e capacitação de mão-de-obra O modelo híbrido escolhido pelo Brasil, o qual resulta em produto único, tornar-se-á oportunidade para se desenvolver novas tecnologias, principalmente na área de software, o que poderá impactar diretamente na criação e geração de empregos, justificando investimentos em Recursos Humanos. A questão que envolve a utilização do compo-

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TV Digital e a demanda por Recursos Humanos

nente humano começará a ser considerada mais importante quando a TV digital iniciar suas operações, porém algumas notícias veiculadas na mídia vêm apontando a situação. É o caso da matéria intitulada “Faltam profissionais especializados em TV Digital”, divulgada no site Computerworld, no dia 5 de julho, a qual traz informações sobre a falta de mão-de-obra especializada para atuar no novo mercado. O texto registra exemplos de como as empresas Samsung, Philips, RF Telavo e Linear estão agindo diante da problemática. Já em outra matéria divulgada no mesmo site, em 27 de agosto, sob o tema “TV digital poderá gerar 25 mil empregos diretos em 10 anos, prevê NEC”, o diretor de Telecomunicações da NEC do Brasil, Humberto Yamamuro, prevê o enorme crescimento no mercado de trabalho, porém o executivo não precisou como se dará esse crescimento. No entanto, o que se sabe é que atualmente há aproximadamente 200 mil profissionais atuando diretamente na área de televisão, conforme informado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), mas não há dados estatísticos que demonstrem o montante de profissionais necessários para suprir a nova demanda. Nesse sentido, a associação irá realizar um levantamento. “A Abert está fechando um convênio com a Fundação Getúlio Vargas para elaborar o censo do setor de Radiodifusão. A expectativa é de que tenhamos os números consolidados do segmento de televisão até o mês de abril do próximo ano”, informou o assessor técnico da associação e mestre em Ciência pelo IME, Ronald Siqueira Barbosa. Segundo a opinião do coordenador da Câmara Especializada da Engenharia Elétrica do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Amazonas (CREA/AM), o engenheiro eletricista Artur Henrique de Mello Braga, o aumento em nível de graduação propriamente dito não deve acontecer porque a TV digital, assim como outra tecnologia tem um crescimento circunstanciado. Mas indica uma tendência de digitalização do processo industrial. “A TV digital vai implicar no desenvolvimento de uma série de componentes que acabam

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sendo absorvidos por outros sistemas. Para explicar melhor, podemos exemplificar dizendo que a TV digital é como um carro de corrida: cria-se um componente específico para este carro, mas com o passar do tempo esse componente acaba absorvido pelos carros de passeio. Trata-se de um ciclo virtuoso que vai crescendo favoravelmente e depois passa a fazer parte também do rádio, DVD, CD, etc.”, explica o coordenador. Contudo, Artur aponta outro segmento importante a ser considerado: “A TV digital fomenta não só a Engenharia Elétrica mas também a tecnologia de Nível Médio. Daqui a três anos a tecnologia vai estar tão absorvida que a indústria vai optar pela mão-de-obra não qualificada”, finaliza o engenheiro.

A academia na formação de profissionais No site do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) encontra-se a informação de que o instituto foi o primeiro a oferecer no País a especialização em Sistemas de TV Digital, sendo que a primeira turma iniciou em fevereiro de 2004 e finalizou o curso em julho de 2005. Ao todo, cerca de 40 profissionais se especializaram. Desde agosto, o instituto oferece o curso de especialização lato sensu em Engenharia de Sistemas de TV Digital e IPTV, o qual tem como objetivo desenvolver conhecimentos tecnológicos e científicos especializados na área de sistemas de TV Digital e IPTV, capacitando os profissionais para o exercício das atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Para o coordenador da Pós-Graduação Lato Sensu do Inatel e aluno do doutorado de Engenharia Elétrica da UNICAMP, Rausley Adriano Amaral de Souza, a definição do padrão adotado pelo Brasil aumentou a procura dos profissionais pela pós e ele comenta sobre a importância da capacitação na área da TV digital: “A demanda por mão-de-obra qualificada cresce a cada dia. Estamos falando de um mercado em potencial de cerca de 90 milhões

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TV Digital e a demanda por Recursos Humanos

de televisores que poderão ter, de alguma forma, acesso às facilidades da TV digital. Seja através da aquisição de novos televisores ou seja através da compra de conversores (set-top box). As emissoras privadas e públicas estão se preparando para este novo mercado. Treinando técnicos capazes de entender o desenvolvimento de novos sistemas e a implantação de novos serviços“, explica Souza. Já a Universidade Estadual Paulista (UNESP), por meio da sua Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicações (FAAP), oferece cursos de Graduação, Pós, Mestrado e Doutorado na área da TV Digital. O diretor da Faculdade, coordenador do Projeto da TV Digital UNESP e idealizador do Programa de Pós-Graduação em TV Digital: informação e conhecimento, Antonio Carlos de Jesus, explica os motivos que levaram a faculdade a oferecer os cursos: “Os motivos que levaram a FAAC propor o programa de Pós-Graduação em TV Digital, nível de Mestrado profissional, foi a identificação da total carência que as emissoras de televisão têm no sentido de formarem profissionais para a geração de conteúdos para a TV digital. Já o programa de Pós-Graduação em TV Digital, em nível de Doutorado, objetiva formar profissionais para atuarem junto aos programas de PósGraduação e Graduação nas diversas áreas de atuação da TV digital. E por fim, a razão maior é que a UNESP recebeu canal de radiodifusão para instalar sua TV digital em 2008, sendo assim será a primeira TV Educativa em sistema digital a ser instalada no País”, afirma o coordenador que também atua como professor. A Universidade Presbiteriana Mackenzie iniciou no segundo semestre deste ano o curso de especialização em TV Digital voltado para engenheiros e outros profissionais graduados que tenham conhecimentos técnicos e atuem com sistemas de empresas de rádio e televisão. No caso da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) a instituição oferece desde 2002, disciplinas na área de Televisão Digital para os alunos do bacharelado em Ciência da Computação (Graduação) e mestrado em Informática (Pós-Graduação).

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Segundo o doutor em Informática e professor da UFPB Guido Lemos de Souza Filho, a universidade prepara o futuro profissional, mas a criação de laboratórios é necessária para capacitação do pessoal da área. “Vamos ter que recapacitar o pessoal que já está empregado. As universidades preparam sim o pessoal para trabalhar na parte de software, mas é preciso montar mais laboratórios de TV digital para realização de desenvolvimento e testes”, afirma Guido que atua como coordenador do Laboratório de Aplicações em Vídeo Digital (Lavid) da universidade e é um dos idealizadores do Ginga, camada de software intermediário (middleware) que permite o desenvolvimento de aplicações interativas para a TV digital, considerada a grande inovação tecnológica brasileira no processo da TV digital no País. No caso da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia (COPPE), ligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro, o assessor de Comunicação da coordenação, Carlos Ribeiro, informa que em 2008 ocorrerá a implantação do MBA de Novas Tecnologias da Informação, o qual abrange o desenvolvimento de softwares voltados para aplicação em TV digital. Embora não possua um curso específico na área de tevê digital, o Instituto de Ensino Superior (CESF/Fucapi) oferece diversos outros que apresentam conteúdo relacionado ao tema. “O curso de Engenharia de Comunicações é o que apresenta maior relação, porém os cursos de Análise de Sistemas e Ciência da Computação, além do curso de Design de Interface Digital, desde as suas implantações, apresentam disciplinas cujos conteúdos se relacionam com TV digital. No curso de Engenharia de Comunicações são tratadas, dentre outros temas, as formas de transmissão e de recepção de sinais analógicos e digitais; nos cursos de Informática são abordados conteúdos relacionados aos softwares necessários tanto para o controle do hardware quanto para aplicações de usuário e, por último, mas não menos importante, o curso de Design, em que são discutidas as melhores formas de gerar interfaces interativas que atendam às es-

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pecificações da sociedade”, esclarece o mestre em Engenharia de Produção e diretor do Instituto de Ensino Superior (CESF/Fucapi), Antonio Luiz da Silva Maués. Por isso, no próximo ano o CESF contemplará mais disciplinas e cursos voltados ao tema. “Além do curso de Engenharia de Comunicações, que terá a sua grade curricular atualizada e deverá apresentar disciplinas com conteúdos mais voltados à TV digital, o CESF deverá oferecer também, a partir de 2008, o curso de Engenharia da Computação, que trará em suas disciplinas estreita relação com o tema e um curso de Pós-Graduação lato sensu sobre Convergência Digital, o qual abordará fortemente os conteúdos relacionados à TV digital”, explica Maués. Para aliar a teoria à prática, a Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi), através de proposta submetida a Edital da FINEP, foi contemplada com recursos para construção de um Laboratório de Convergência Digital que, a partir do próximo ano, estará à disposição de professores e alunos, realizando pesquisas e desenvolvendo produtos para TV digital, o que representará um diferencial para os alunos no que diz respeito ao contato com as melhores condições para absorção de conhecimentos na área. O Genius Instituto de Tecnologia também vem implementando programas que abordam a área de TV digital. “O Genius iniciou em março de 2006, por intermédio de uma parceria com o CEFET e com o apoio financeiro da FINEP, um programa de cursos focados no desenvolvimento de software embarcado (sistemas que agregam funções inteligentes em eletrodomésticos, eletrônicos de consumo e outros produtos da indústria). Foram 2 turmas com 24 alunos cada, sendo que cada curso teve a duração de 6 meses. O segundo curso teve um foco no desenvolvimento de aplicações voltadas para a TV digital. Esta capacitação foi totalmente gratuita para os alunos selecionados. Adicionalmente, o Genius tem projetos em TV digital, mas por questões de confidencialidade não podemos divulgar mais detalhes”, explica o gerente de projetos corporativos

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do instituto, Mario Ferreira Filho. O gerente comenta ainda sobre a demanda de mão-de-obra capacitada: “A Região Amazônica conta com boas instituições de ensino, tanto as públicas quanto as particulares. A tecnologia de TV digital - do transmissor ao receptor - envolve diversas competências que naturalmente não devem estar disponíveis na Região. Certamente algumas dessas áreas terão carência de mão-de-obra qualificada mas, por outro lado, outras competências já podem ser encontradas na Região como é o caso de competências para o desenvolvimento de settop box, por exemplo”, conclui Mario. É bom que se lembre que tanto o CESF quanto o Genius são instituições instaladas em Manaus, no estado do Amazonas.

Indústria: realocação de profissionais pode diminuir contratações A Philips da Amazônia, instalada no Pólo Industrial de Manaus (PIM) desde 1972, até o momento não aumentou o número de contratações em decorrência da implantação da TV digital no País. “Nossa equipe de engenheiros dedicada ao desenvolvimento e implantação de produtos - contratados e colaboradores próprios - tem se mostrado do tamanho adequado para absorver esta nova tecnologia. Por hora, não há planos de contratações devido à introdução de TV digital”, informa o diretor-executivo da Philips em Manaus, Júlio Pacini. Para o executivo, a introdução da nova tecnologia levará a um realinhamento de pessoal. “O número de colaboradores não deve se alterar em curto prazo. De fato, a TV digital substituirá a TV analógica. O que acarreta, nesse caso, é uma transferência direta de colaboradores entre as duas especialidades, com aproveitamento da experiência anterior”, observa o diretor. Mas, mesmo com o realinhamento de pessoal, a médio prazo, o diretor-executivo do Laboratório Philips e CTO Latin América, Walter Duran, acredita que novas oportunidades de trabalho podem

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TV Digital e a demanda por Recursos Humanos

surgir devido a essa demanda. “Deverá haver incremento na área de desenvolvimento de aplicações de software com a interatividade, que deve ser implementada no final de 2009. Assim mesmo, este novo tipo de profissional deverá estar mais ligado às produtoras de vídeo, e não aos fabricantes de equipamentos digitais”, finaliza Duran. Já o gerente administrativo da Envision Indústria de Produtos Eletrônicos Ltda., instalada em Manaus, Wilson Koji Ikuno, explica que ainda não precisou aumentar o número de contratações em razão da TV digital. “Certamente, no futuro, teremos que captar profissionais no mercado, em decorrência da TV digital”, explica o gerente da indústria que fabrica receptores para sinal de TV digital.

necessidade, num primeiro momento, de se elevar os investimentos e assim elas não correm o risco de pulverizar os recursos dos anunciantes, uma vez que a tevê digital amplia o número de canais, ou seja, onde há um canal com configuração analógica, poderá ser transmitido quatro canais com programações diversificadas, pelo sinal digital. Isso acontece devido ao menor espaço que a tecnologia digital ocupa. Em relação a contratações, o superintendente da TV Gazeta, Silvio Alimari, em matéria do site Computerworld do dia 10 de julho, disse que a emissora pretende contratar cerca de 150 profissionais até o final de 2008 para trabalharem com TV digital: “Nem esperamos pessoas tão especializadas, porque com esse perfil ainda não existe ninguém”, comentou o executivo na ocasião.

Demanda

de profissionais para atuação em tevê A quebra de paradigma será definitivamente testada a partir da interatividade a ser oferecida ao futuro usuário da tevê digital, já que a maioria das emissoras vem produzindo conteúdos em formato digital há algum tempo. As mudanças serão muitas, a começar pelas possibilidades de ele, em um futuro não tão distante, assistir ao jogo de futebol, comprar um refrigerador e conferir o saldo da conta bancária - tudo ao mesmo tempo. Portanto, isso exigirá capacitação por parte dos profissionais e, provavelmente, elevará o número de contratações, já que se supõe que as emissoras de tevê deverão oferecer um conteúdo multidiversificado. Além disso, precisa ser considerado o fato de que o Brasil pode tornar-se um pólo exportador da produção televisiva, o que conseqüentemente contribuiria ainda mais para a criação de novos postos de trabalho. Por isso, essas expectativas exigirão uma nova postura dos profissionais que atuam com produção de software, radiodifusão e marketing. O grande entrave para o aumento nas contratações vem do fato de as grandes emissoras como Rede Globo, Record, Bandeirantes e SBT, por exemplo, terem optado pela alta definição em detrimento à multiprogramação. Dessa forma, não há a

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Próximo capítulo É importante lembrar que por ocasião do acordo entre o Brasil e o Japão, um dos compromissos assumidos era justamente o relacionado à formação de mão-de-obra especializada, mas, por enquanto, se ações foram empreendidas nesse sentido, restringiram-se a um grupo de especialistas, uma vez que não refletiram no mercado de trabalho nacional. O essencial a ser analisado é que a implantação da TV digital no Brasil representará um salto considerável para a convergência digital. Como tudo o que é novo, vem acompanhado por expectativas e especulações, torna-se difícil prever com precisão o desfecho quanto às contratações trabalhistas. De Chateaubriand à televisão digital a evolução da tecnologia nos proporcionou recursos antes inimagináveis, mas é bom lembrar que o aparelho de televisão passou a representar muito mais do que a junção de sons e imagens – Ela tornou-se um instrumento de unidade nacional por preservar a nossa língua e cultura, o que reforça nossa soberania. Neste sentido, espera-se também muito mais do profissional que atuará na área, conforme analisa o diretor da área tecnológica da Fucapi e

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TV Digital e a demanda por Recursos Humanos

professor do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Evandro Vieiralves: “Os atuais recursos oferecidos pela tecnologia abrem uma série de possibilidades profissionais que vai além das áreas da Engenharia de Comunicação, Elétrica, da Ciência da Computação e de Design. A capacidade criativa e inventiva do homem aliada à tecnologia será capaz de modificar muitos dos conceitos que temos hoje. Por isso, não há no momento como prever as áreas profissionais que serão mais requisitadas. Certamente o profissional mais preparado será o que reunir a técnica e a criatividade”, finaliza o diretor.

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ARTIGO

set-top BoX: caRacteRÍsticas e necessidades

VICENTE FERREIRA dE luCENA juNIOR E huMBERTO plíNIO RIBEIRO FIlhO

Resumo Uma verdadeira revolução se inicia no sistema de televisão brasileiro: a migração do atual sistema de transmissão analógico para o digital. Essa quebra de paradigma cria uma variedade de novas possibilidades e expectativas. O telespectador agora terá a garantia de recepção de um sinal de alta qualidade, terá também a possibilidade de interagir com o conteúdo gerado e pode vir a ter acesso a uma série de novos serviços que tendem a ser disponibilizados pelas emissoras e utilizados nos novos aparelhos de TV. Durante o período de transição um equipamento estará no centro das atenções: o set-top box. Esse equipamento desempenhará um papel muito importante no novo cenário da indústria da televisão no Brasil, permitindo que as TVs atuais entendam e apresentem o conteúdo da nova TV digital. Neste artigo, apresentaremos mais detalhadamente as principais características desses equipamentos e discutiremos novas funcionalidades que devem fazer parte de um set-top box para a TV Digital brasileira.

INTRodução O nome set-top box, comumente abreviado por STB, é derivado do fato desses equipamentos serem “caixas” (box) que são normalmente colocadas sobre (top) os televisores (TV Set). Os set-top boxes da TV digital são equipamentos conectados aos televisores que recebem sinais digitais através de alguma fonte de dados que pode ser via ar, cabo ou satélite. Eles são responsáveis por converter estes sinais para um formato que possa ser interpretado e apresentado pelos atuais equipamentos de TV. Hoje, quem já tem acesso a alguma forma de TV paga muito provavelmente já conhece esta caixinha. A Figura 1 mostra um exemplo de set-top box.

Figura 1 - Exemplo de set-top box

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Set-Top Box: características e necessidades

Além da conversão do sinal, estes equipamentos permitirão aos usuários interagirem com o conteúdo sendo apresentado. Por exemplo, no caso de um jogo de futebol, o usuário poderá pressionar a tecla de interatividade e ver alguns dados estatísticos sobre o jogo ou algum jogador em particular. Essas informações serão transmitidas juntamente com as informações de áudio e vídeo. Durante a visualização desses dados a imagem do jogo será redimensionada para o canto da tela, desta forma nenhum lance será perdido. O denominado canal de retorno (também conhecido como canal de interatividade) permitirá uma forma mais sofisticada de interatividade, permitindo que o telespectador envie informações de volta à emissora de TV. Assim pode-se, por exemplo, realizar uma votação com participação direta e em tempo real dos usuários domésticos. As opções de voto serão apresentadas para os usuários em suas residências, esses com o controle remoto poderão escolher os seus votos e validar

sua escolha. O voto do usuário, gerado no set-top box, será então enviado para a emissora através do canal de retorno que coletará votos de todos participantes e posteriormente poderá apresentar o resultado final da votação. Na seqüência do artigo descreveremos sobre as principais interfaces que estarão disponíveis em um set-top box. Logo depois apresentamos e detalhamos as funcionalidades que comporão tanto os dispositivos mais simples como os mais sofisticados para então finalizar o artigo com uma descrição das funcionalidades avançadas que serão implementadas em um futuro um pouco mais distante.

INTERFACES DE UM SET-TOP BOX A grande variedade de interfaces de entrada existentes nas TVs atuais obriga que os set-top boxes também possuam vários tipos de interfaces de saída. Comumente são encontradas interfaces de áudio e vídeo tais como: Canal RF 3/4, vídeo

Figura 2 - Interfaces de Áudio e Vídeo de uma TV

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composto, S-Video, vídeo componente, HDMI, áudio estéreo, áudio S/PDIF e outras. Na seqüência descrevemos sucintamente cada uma destas saídas ilustradas na Figura 2. Canal RF 3/4 - Esta saída de vídeo/áudio é muito importante por ser compatível até mesmo com os mais antigos televisores. Ela deve ser conectada na entrada da antena do televisor convencional. Para visualizar a imagem proveniente do set-top box será necessário sintonizar a TV nos canais 3 ou 4, semelhante ao procedimento para vídeos cassetes ou DVD players. Com esta saída será garantida uma sobrevida para televisores antigos e sem recursos mais sofisticados. Isto deverá atender a uma grande porcentagem da população brasileira. Vídeo Composto - Com exceção da entrada de RF o vídeo composto é a entrada de vídeo mais comum nos televisores. Este sinal corresponde ao sinal de vídeo da TV analógica antes de ser combinado com o áudio e modulado com a portadora de rádio freqüência (RF). Como o áudio nesse caso é transmitido separadamente, são necessários mais dois cabos para levar áudio estéreo à TV (veja Vídeo Composto na figura 2). S-Video - A conexão de S-Video possui uma qualidade melhor do que a do vídeo composto, pois ela separa o sinal de vídeo em duas componentes básicas: luminância e crominância. O áudio também é transmitido em um cabo separado. Vídeo Componente - A saída de vídeo componente é uma saída analógica que possui qualidade bem superior às anteriores sendo possível conseguir com esta interface até mesmo qualidade de alta-definição (HD – High Definition). O sinal de vídeo é separado em todas as suas componentes básicas: luminância, crominância vermelha e crominância azul. Por ser um sinal analógico o vídeo componente está sujeito às mesmas interferências e distorções que todas as outras interfaces discutidas anteriormente. HDMI – High-Definition Multimedia Interface - O HDMI é uma interface totalmente digital desenvolvida para a transmissão de imagens de alta defini-

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ção para o aparelho de TV. Utilizando-se esta interface fecha-se o último elo da digitalização. Assim o conteúdo é digital desde sua produção, edição, transmissão até a recepção e apresentação pelo equipamento de TV. Esta interface permite que o telespectador receba um sinal de alta qualidade tanto em termos de vídeo quanto de áudio. Fisicamente o conector HDMI é bem compacto e prático, pois nele além de vídeo encontra-se o sinal digital de áudio. DVI - A interface DVI (Digital Visual Interface) é outro padrão de vídeo digital. Esta interface é quase idêntica ao HDMI tendo como principal diferença a ausência do sinal de áudio. O DVI foi inicialmente desenvolvido para ser utilizado em monitores de computador e por isso não tem áudio. No mercado existem cabos que convertem DVI para HDMI, no entanto é importante frisar que esta interface não contém o sinal digital de áudio, ou seja, são necessários cabos adicionais para que o televisor possa reproduzir o áudio. Áudio S/PDIF - S/PDIF é a abreviação para Sony/Philips Digital Interface Format. Esta interface foi desenvolvida para permitir a reprodução de um sinal de áudio com maior qualidade. Geralmente é utilizada para conectar o set-top box a um home theater. O S/PDIF é totalmente digital e tem capacidade para transmitir até mesmo áudio com 5.1 canais. Seus conectores são cabos coaxiais ou fibras óticas, sendo o último o mais comumente utilizado.

VISÃO GERAL DO SET-TOP-BOX Um diagrama em blocos mostrando uma visão geral de um set-top box está apresentado na Figura 3. Neste diagrama temos blocos azuis representando os componentes de um set-top box básico e blocos vermelhos representando os componentes que provavelmente devem ser implementados em modelos mais avançados de set-top box. A funcionalidade básica deste equipamento será explicada a seguir.

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Set-Top Box: características e necessidades

Figura 3 - Diagrama de blocos de um STB

Inicialmente o sinal digital enviado pela emissora de TV é captado pela Antena e sintonizado pelo Tuner. Este sinal precisa então ser demodulado (Demodulador) para obter-se daí o Transport Stream (TS1). O Transport Stream é uma seqüência de dados digitais que contém informações de vídeo, áudio e dados. Estes dados que permitirão a apresentação na tela de informações de imagens, a reprodução de informações de sons e a execução de programas de computador nos set-top boxes. Em seguida o Transport Stream (TS1) pode ser gravado em um disco rígido (HD) para posterior visualização ou demultiplexado (Demux). A demultiplexação é o processo responsável por separar os diversos componentes do Transport Stream: vídeo, áudio e dados. O sinal de vídeo é decodificado e então transmitido para a TV através de uma das interfaces disponíveis: digitais ou analógicas. No caso de ser uma saída analógica é necessário antes um codificador PAL-M que será responsável por captar o sinal de vídeo digital e convertê-lo no padrão analógico de TV brasileiro, o PAL-M. O áudio também é decodificado e transmitido para a TV

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através das interfaces de áudio. Para o áudio analógico um conversor Digital/Analógico (D/A) tem o mesmo papel que o codificador PAL-M tem para o vídeo. Já os dados adicionais enviados no Transport Stream são levados ao Processador e podem influenciar na saída de vídeo apresentando opções de menus, guia de programas, programas de interatividade, e etc. Estas modificações no sinal de vídeo estão representadas na Figura 3 através do sinal de adição (+) entre a saída do decodificador de vídeo e uma das saídas do Processador. O set-top box também recebe estímulos do usuário através do controle remoto (interface de infra-vermelho). Estes estímulos podem corresponder, por exemplo, à resposta de uma enquete interativa que foi enviada ao usuário pelo fluxo de dados do Transport Stream. Esta resposta deverá ser então transmitida de volta ao programa de televisão através do canal de retorno. Outra possibilidade é a reprodução de um Transport Stream (TS2) que tenha sido previamente gravado no disco rígido. A principal diferença deste modelo é a fonte do Transport Stream que será o Disco Rígido ao invés da Antena.

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Set-Top Box: características e necessidades

FUNÇÕES AVANÇADAS Um set-top box possui várias outras atribuições além de simplesmente converter os sinais digitais recebidos em sinais que possam ser interpretados pela televisão. Dentre estas funções temos: Personal Video Recording (PVR), Picture In Picture (PIP), reescalonamento de vídeo e várias outras. Personal Video Recording (PVR) - Esta função permite que o usuário grave o conteúdo que está sendo recebido pelo set-top box. Além disso, através do PVR o usuário pode pausar o programa corrente que está sendo recebido. O pause funciona como um comando de gravação e um de reprodução sendo executados ao mesmo tempo, sendo que existe uma pequena diferença de tempo entre o que está sendo gravado e o que está sendo reproduzido. Nos STBs modernos normalmente são utilizados discos rígidos para o armazenamento dos programas gravados (como mostrado na FIGURA 4). Picture in Picture - O PIP possibilita a visu-

alização de outro canal sem que seja necessário mudar o canal que está sendo visto no momento. O canal principal é mostrado na tela inteira da TV e um segundo canal é visualizado no canto da tela (veja a Figura 4). O áudio geralmente é do canal principal. No caso da TV digital, o PIP ainda é muito caro, pois o set-top box necessita de dois tuners e o decodificador de vídeo tem que ser poderoso o suficiente para decodificar dois sinais ao mesmo tempo. Reescalonamento de Vídeo - Quando o usuário quer ver o guia eletrônico, acessar o menu ou outro tipo de informação na tela, normalmente o programa atual é reescalonado para o canto da tela. Desta forma durante esses acessos a visualização do programa não é interrompida (ver Figura 5). Interatividade - A interatividade pode ser classificada basicamente em dois tipos: interatividade local e interatividade com canal de retorno. Na interatividade local todo o processamento é feito no set-top box. Este seria o exemplo do jogo de fute-

Figura 4 - Exemplo de Picture in Picture

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Reescalonamento de Vídeo

Figura 5 - Exemplo de reescalonamento de vídeo

bol onde o telespectador tem acesso às estatísticas do jogo. Neste caso a emissora pode enviar durante o jogo os dados atualizados da partida e de cada jogador. Através de um menu de navegação pode permitir ao usuário selecionar as informações que deseja. O telespectador está interagindo com o conteúdo transmitido, mas não necessita enviar nenhuma informação de volta à emissora de TV, ou seja, não existe a necessidade de um canal de retorno. A interatividade com canal de retorno envia dados de volta à emissora para que estes sejam processados. Um exemplo deste tipo de interatividade é a da votação para a escolha do melhor cantor em um programa de calouros. Neste caso existe a necessidade do set-top box enviar dados para a emissora. Ao final do programa a emissora poderá então processar todos os votos e apresentar o resultado ao telespectador. Cada empresa irá desenvolver um hardware específico para seu set-top box. Para que a interatividade seja possível todas essas plataformas têm

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de ser capazes de falar uma mesma linguagem. O elemento responsável por padronizar esta linguagem é o Middleware. No caso do padrão brasileiro este Middleware é o GINGA. O GINGA foi desenvolvido em conjunto pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e Universidade Federal da Paraíba (UFPb), e permite que uma determinada aplicação possa ser executada nas diferentes plataformas de hardware desenvolvidas pelos fabricantes. Ou seja, aquele exemplo da enquete que foi desenvolvida para aparecer durante o programa de auditório será recebida e entendida por todos os set-top boxes que tiverem suporte ao Middleware GINGA. Não tendo este suporte o set-top box irá ignorar os dados recebidos e a enquete simplesmente não será exibida.

CONCLUSÃO

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A mudança para TV digital irá proporcionar ao telespectador um sinal de TV de alta qualidade, além de outras possibilidades através da interatividade. Os equipamentos responsáveis pela recepção e decodificação dos sinais serão os set-top boxes. Estes possuirão uma variedade de interfaces de vídeo e áudio que permitirão a sua comunicação com os atuais televisores e com equipamentos de alta definição como os home theaters. Durante os próximos anos da TV digital no Brasil o set-top box será cada vez mais comum no nosso dia-a-dia. Espera-se que com a evolução dos dispositivos fabricados e vendidos no mercado brasileiro, estes equipamentos venham a ser integrados aos televisores que passarão a receber diretamente o sinal digital. Assim o Brasil entrará definitivamente para a era da TV Digital. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA CURAN, S. Convergence Design: Creating the User Experience for Interactive Television, Wireless, and Broadband, Rockport Publishers, 2003. FISCHER, W., VON RENOUARD, H. Digital Television: A Practical Guide for Engineers, Springer; 1ª edição, Março, 2004 LUGMAYR, A., NIIRANEN, S., KALLI, S. Digital Interactive TV and Metadata: Future Broadcast Multimedia, Springer; 1ª edição, Junho, /2004 MORIS, S., SMITH-CHAIGNEAU, A. Interactive TV Standards – A Guide to MHP, OCAP, and JavaTV, Elsevier, 2005. O’DRISCOLL, G. The Essential Guide to Digital Set-Top Boxes and Interactive TV, Prentice Hall PTR; 2006. PAGANI, M. Multimedia and Interactive Digital TV: Managing the Opportunities Created by Digital Convergence, Irm Press, 2003.

ROBIN, M., POULIN, M. Digital Television Fundamentals, McGraw-Hill Professional, 2ª edição, Junho, 2000. SCHWALB, E. M. ITV Handbook: Technologies and Standards, Prentice Hall PTR; 2003. SRIVASTAVA, H. O. Interactive TV Technology & Markets, Artech House Publishers; 2002.

Vicente Ferreira de Lucena Junior é professor adjunto da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Centro Federal de Educação Tecnológica do Amazonas (CEFET-AM). Engenheiro Eletricista pela Universidade Federal do Amazonas, mestre em Engenharia Elétrica com ênfase em Processamento da Informação pelo Programa de Pós-Graduação do Centro de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de Campina Grande na Paraíba e doutor em Engenharia Dr.-Ing. com ênfase em Engenharia de Software e Automação Industrial pela Universidade de Stuttgart na Alemanha. Nos últimos cinco anos tem desenvolvido suas atividades de pesquisa no CETELI-UFAM. e-mail: vicente@ufam.edu.br Humberto Plínio Ribeiro Filho é coordenador do Núcleo de Convergência Digital da Fucapi. Engenheiro Eletricista pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestre em Tecnologia da Informação com ênfase em Sistemas Embarcados pela Universidade de Stuttgart na Alemanha, foi professor do curso de pós-graduação de TV Digital da Universidade Federal do Amazonas. Trabalha há três anos com o desenvolvimento de set-top boxes para sistemas de TV Digital e IPTV. email: humberto.ribeiro@fucapi.br

POYTON, C. Digital Video and HDTV Algorithms and Interfaces (The Morgan Kaufmann Series in Computer Graphics), Morgan Kaufmann, 2003. RICHARDSON, I. E.G. H.264 and MPEG-4 Video Compression: Video Coding for Next Generation Multimedia, Wiley, 2003.

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ARTIGO

tecnologia digital na tV BRasileiRa

juAREz QuAdROS dO NASCIMENTO

Resumo A TV brasileira, livre e gratuita, é um dos mais influentes veículos de comunicação social. Sua importância advém não apenas da ampla cobertura geográfica, como também da qualidade - uma das melhores do mundo - e da instantaneidade com que pode transmitir as informações. Contribui para garantir a defesa do idioma, a integração nacional e o exercício da cidadania. Neste artigo, na sua introdução, é mostrado um cenário do ambiente do serviço de TV. Nos tópicos seguintes são comentados vários parâmetros, alguns polêmicos, tais como: as bases da política pública estabelecida, a TV digital terrestre, suas contrapartidas, as condições para sua implantação, o parque industrial, o consumidor, a necessidade de fomento à transição e à inovação, a proteção de conteúdo, os clientes de TV por assinatura e por fim, a expectativa com relação ao Pólo Industrial de Manaus (PIM).

INTRodução Desde o aparecimento da televisão durante os jogos olímpicos de Berlim, em 1936, a TV sempre foi uma via de mão única. No Brasil, a primeira emissora de TV surgiu em 1950, na cidade de São Paulo. Hoje o estúdio é quase digital, a transmissão é analógica e o televisor já possui algumas partes digitais. Provavelmente num prazo de 10 a 15 anos tudo será digital e a história será outra e bem mais interessante. O ideal seria que houvesse um padrão universal para a TV digital, uma vez que os padrões existentes têm vantagens e desvantagens, como a escala industrial. Os fabricantes se dividem: os coreanos preferem o sistema norte-americano (ATSC), a Sony e Panasonic, o sistema japonês (ISDB-T) e a Phillips prefere o padrão europeu (DVB-T). Notícias da China divulgaram que, ao final de 2003, existiam dois padrões em testes, cujos desenvolvimentos iniciaram em 1996. Os gastos nos países que fazem tais desenvolvimentos têm sido acima de US$ 500 milhões e o tempo superior a cinco anos. No Brasil, em 2006, dados da Pesquisa Nacio-

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Tecnologia digital na TV brasileira

nal por Amostra de Domicílios (Pnad-IBGE), 51 milhões (93,5%) dos 54,6 milhões de domicílios contavam com aparelhos de TV. O mercado brasileiro é significativo, mas o poder aquisitivo ainda é pequeno, tanto que os televisores mais populares são os de antena interna (47%), e tela com diagonal de 14 polegadas (27%) e de 20 polegadas (37%). A demanda por aparelhos acima de US$ 180 é pequena e não é conhecida para os de valor acima de US$ 3.700. Outra característica de mercado a ser observada é a da cobertura da TV aberta (broadcasting). Aqui, 80% dos lares só recebe TV aberta; era 60% nos países que adotaram o padrão europeu, 46% no Japão, e 21% dos lares nos países que adotaram o padrão americano. Nos países onde é expressivo o uso de antena interna, e amplo o broadcasting, caso do Brasil, a atenção deve ser redobrada, pois em uma transmissão digital a imagem ou é perfeita ou inexiste, é tudo ou nada. Para atender ao mercado brasileiro, um sistema de TV digital deverá permitir às classes econômicas C, D e E uma solução de baixo custo e para as classes A e B flexibilidade para oferecer serviços sofisticados. Deverá também contemplar o melhor desempenho técnico em cada uma de suas aplicações, incluindo mobilidade, portabilidade e interatividade. Os produtores precisam complementar a digitalização dos estúdios e as emissoras digitalizar os equipamentos de transmissão. Os fabricantes precisam de insumos para os novos equipamentos e as universidades adequarem os seus cursos. Os consumidores precisam decidir: ou adquirem a TV digital ou a unidade receptora decodificadora (settop box) para a TV analógica. Em 2006, com o Decreto nº 5.820, o governo estabeleceu o Sistema Brasileiro de TV Digital, uma derivação do sistema japonês (ISDB-T). Mas o que existiu de fato na disputa da TV digital no Brasil? Sob o manto de uma discussão técnica, houve uma ampla disputa entre o setor de radiodifusão e o de telefonia. O sistema japonês permite que os telefones celulares recebam a TV

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aberta diretamente, sem que os sinais passem pela rede das telefônicas. É um detalhe técnico, aparentemente irrelevante, mas que permite ao radiodifusor controlar a convergência da TV com o celular e protege o setor da competição com as telefônicas, obrigando-as a fazerem parcerias com as operadoras de TV.

Bases da política pública A televisão aberta brasileira proporciona educação e cultura, constituindo-se na maior fonte de entretenimento e informação do povo brasileiro e contribuindo decisivamente para garantir a defesa do idioma, a integração nacional e o exercício da cidadania. Por sua importância, mereceu tratamento constitucional diferenciado dos demais meios de comunicação, tendo sido definida como Comunicação Social. O serviço de Radiodifusão de Sons e Imagens é também conhecido como Serviço de Televisão Aberta ou simplesmente Televisão. Assim como o Serviço de Radiodifusão Sonora, conhecido como Rádio, a TV aberta é um dos mais influentes veículos de comunicação social existentes. Sua importância advém não apenas da ampla cobertura geográfica dos serviços, como também da qualidade e da instantaneidade com que pode transmitir as informações. Nesse ambiente, a televisão aberta, que alcança 93,5% dos domicílios brasileiros, estará intimamente associada ao sistema de transmissão digital adotado e que deverá oferecer, na tecnologia digital, capacidade de recepção do sinal com antenas interna e externa, bem como, aplicações diferenciadas aos telespectadores. Em face da importância do mercado brasileiro, na adoção da TV digital, o governo brasileiro cobrou, do detentor da tecnologia envolvida, contrapartidas comerciais, industriais e tecnológicas que permitam a implantação dessa tecnologia no País, possibilitando não só a transição tecnológica da radiodifusão e a fabricação em território nacional dos equipamentos, mas também a possibilidade

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Tecnologia digital na TV brasileira

de criação e exploração de novas aplicações para a TV digital terrestre, bem como a capacitação de mão-de-obra nacional. Esses benefícios da tecnologia da TV digital incluem a capacidade de proporcionar qualidade de imagem e som consideravelmente superior, bem como maior quantidade e diversidade de programação de vídeo e toda uma nova gama de serviços de informação, inclusive uma capacidade interativa que ajudará a trazer de maneira mais completa os benefícios da era da informação aos cidadãos brasileiros. Esses são, em linhas gerais, os tópicos marcantes das questões relativas ao Serviço de Radiodifusão de Sons e Imagens utilizando tecnologia digital adotado pelo Brasil, que, dada a sua importância e o interesse publico, por envolver toda a sociedade, sejam consumidores ou sejam operadores ou fornecedores, constituem as bases para a política pública estabelecida.

TV digital terrestre Tal sistema de televisão com transmissão, recepção e processamento digitais, deve, na ponta do usuário final, exibir programas por meio de equipamento digital ou através de aparelho analógico acoplado a um set-top box, que tem por finalidade receber e processar os sinais de televisão digital para exibição através de um monitor ou um televisor convencional. Permitirá a televisão de alta definição (chamada HDTV – High Definition Television) que é uma variante da televisão que disponibiliza ao usuário vídeo com formato de tela larga (16:9) ou similar e uma qualidade de imagem comparável à de cinema. Permitirá também a televisão com definição padrão (chamada SDTV – Standard Definition Television) que por sua vez, é uma variante da televisão que disponibiliza ao usuário imagens com resolução similar à televisão analógica. Usualmente possui formato de tela 4:3, embora possa ser também 16:9.

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A implantação da TV digital terrestre no Brasil atenderá às seguintes finalidades: • promover a inclusão digital; • atualizar e revitalizar o setor de radiodifusão e a indústria eletrônica nacional; • otimizar o uso do espectro de radiofreqüência; • melhorar a qualidade de imagens e áudio; • contribuir para a convergência dos serviços de telecomunicações. O modelo de implantação de TV digital terrestre oferecerá flexibilidade de forma a permitir que as emissoras de TV possam fazer opção por um determinado conjunto de aplicações de modo a customizar o serviço às regiões que atenderão, podendo modificá-lo ao longo do tempo. O modelo deverá contemplar o melhor desempenho técnico em cada uma das seguintes aplicações: • transmissão de SDTV simples; • transmissão de SDTV com múltipla programação; • transmissão de HDTV; • recepção móvel; • recepção portátil; • multimídia; • interatividade.

Contrapartidas Considerando a extensão do mercado consumidor de aparelhos de televisão instalados no País, inteiramente atendido por empresas nacionais, a necessidade da preservação e de expansão da base industrial, a preservação dos empregos e a necessidade de exportação, é salutar que, dentre outras condições, com a coordenação técnica, regulatória e política do governo brasileiro nos foros sub-regionais e hemisféricos, o detentor da tecnologia escolhida possibilite: • participação efetiva de representantes brasileiros, com direito a voto, nos organismos responsáveis pelo desenvolvimento da tecnologia adotada; • suporte tecnológico à implantação de TV

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Tecnologia digital na TV brasileira

• •

digital terrestre no Brasil; tratamento não discriminatório na transferência da tecnologia de TV digital terrestre aos diversos fabricantes nacionais, bem como o fornecimento de equipamentos e componentes, em prazos, preços, quantidades e qualidade adequadas, com os eventuais e justos encargos de direito de propriedade intelectual (Royalties); compromisso de capacitação e treinamento dos técnicos brasileiros; compromisso de incentivar integração dos sistemas de TV digital terrestre na América Latina.

Condições para implantação A deliberação sobre o padrão tecnológico do sistema de TV digital terrestre adotado no Brasil, na sua seqüência, precisa estabelecer a regulamentação técnica necessária para sua implantação, mediante as análises sobre o modelo de negócios e o modelo de transição que, em especial, deve observar as seguintes condições: • elaboração do plano de distribuição de canais do serviço de radiodifusão de sons e imagens utilizando tecnologia digital, de modo a fazer corresponder um canal digital para cada canal analógico, com cobertura equivalente ou superior ao canal existente e em condições de recepção iguais ou melhores; • a concessionária do Serviço de Radiodifusão de Sons e Imagens utilizando tecnologia analógica deve migrar para a tecnologia digital nos prazos e nas condições estabelecidas no plano de transição; • na hipótese referida anteriormente, a concessionária deverá manter transmissão de radiodifusão de sons e imagens de forma que, estando o sistema no ar, sempre haja programa de radiodifusão disponível para o público; • estabelecimento de cronograma de transição que deverá iniciar-se nos grandes

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mercados e migrar gradativamente para os menores; para ser utilizado durante o período de transição analógico digital, será feita a inclusão pelo poder concedente, nas outorgas das emissoras de televisão, de um canal de 6 MHz adicional a cada utilizado para transmissão analógica; vencido o prazo para migração, os canais utilizados com tecnologia analógica serão recuperados pelo poder concedente.

Parque industrial Considerando que com a entrada da nova tecnologia todos os aparelhos analógicos serão, com o tempo, substituídos ou adaptados para a recepção do sinal digital, deverão ser adotadas medidas objetivando: • estimular o crescimento do parque industrial do Brasil, sendo que os equipamentos de transmissão e televisores digitais sejam majoritariamente fabricados no País; • encetar ações para que o País amplie o seu parque industrial de fabricação de equipamentos de transmissão e televisores digitais; • manter a produção dos equipamentos analógicos durante todo o período de transição, assim como estimular a produção de unidades receptoras decodificadoras.

Consumidor Todo o esforço para implantar a TV digital terrestre no Brasil deve levar em conta o interesse do consumidor, suas necessidades e seu potencial de compra. Para tal, é imperativo que a TV digital terrestre necessariamente deva: • ser aberta, livre e gratuita; • proporcionar ao povo educação, cultura e entretenimento; • contribuir para garantir a universalidade do idioma, a integração nacional e o exercício

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Tecnologia digital na TV brasileira

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da cidadania; ser acessível pela população atendida pela TV analógica; contribuir para a inclusão digital.

Fomento à transição Devido aos altos investimentos em que incorrerão todos os atores da cadeia de valor de radiodifusão no processo de transição tecnológica são necessários incentivos e estímulos para os setores envolvidos. Segundo o Ministério das Comunicações, em 2005, o Brasil contava com 462 geradoras e 9.816 retransmissoras de TV. Hoje deve ser um pouco mais que isso. Assim como os demais países em desenvolvimento, o Brasil também enfrenta dificuldades frente à inclusão digital. Em proporções maiores na área de radiodifusão, onde faltam recursos para investir em tecnologia digital para a grande maioria dos radiodifusores brasileiros. Enquanto isso, as operadoras de telecomunicações estão em processo de planejamento para ampliação de atuação, pois já utilizam tecnologia digital que lhes permite o triple play (jargão do setor para a oferta conjunta de voz, dados e imagem) e diligenciam buscando a liberação de regulamentação.

Fomento à inovação Os equipamentos de acesso à televisão digital foram incluídos pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) entre os bens que podem receber subvenção econômica, pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), agência do MCT voltada para a inovação tecnológica em áreas estratégicas, que espera obter resposta de interessados em produzir software para a TV digital. A partir de dezembro a troca da tecnologia, que começará por São Paulo, terá grande repercussão na indústria, que precisará se preparar para a reposição de quase 90 milhões de aparelhos de televisão e, até que isso aconteça, oferecer um set-top box que seja acessível ao grande público telespec-

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tador. A Finep lançou em 31de agosto de 2007, o segundo edital para subvenção econômica destinada a empresas inovadoras. Os recursos previstos no edital beneficiarão projetos de pesquisa e desenvolvimento de produtos, serviços e processos inovadores em áreas prioritárias da política industrial do Governo Federal. O edital visa contemplar empreendimentos que atuam em cinco grandes áreas: tecnologias da informação, comunicação e nanotecnologia; biodiversidade, biotecnologia e saúde; inovações em programas estratégicos; biocombustíveis e energia; e desenvolvimento social. Lançando em setembro de 2006, o Programa de Subvenção Econômica concede recursos públicos de natureza não-reembolsável para empresas públicas ou privadas que desenvolvam projetos de inovação estratégicos para o País. São apoiados projetos de TV digital, circuitos integrados dedicados, sistemas e artefatos aeroespaciais, armazenamento, produção e melhoria do biodiesel, soluções para banda larga, reutilização da água, entre outros.

Proteção de conteúdo na TV digital A alta qualidade das transmissões de TV utilizando tecnologia digital possibilitará reproduções de conteúdo fiéis aos originais e a ausência de dispositivos de proteção será um espaço propício à violação. Assim, na adoção da TV digital brasileira sem proteção, será facilitada a subtração e a posse dos direitos intelectuais àqueles que utilizam meios inescrupulosos, para fins de comercialização indevida. Nesse sentido, a TV aberta digital é altamente vulnerável. Feita a opção pelo sistema nipo-brasileiro é discutido agora implantar ou não dispositivos tecnológicos de proteção (chamados DRM – Digital Rights Managements) que impeçam a redistribuição de conteúdo gerado em alta definição. Para as transmissões em resolução normal não existiria nenhum

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Tecnologia digital na TV brasileira

tipo de proteção. Para as transmissões em alta resolução há a alternativa de gravação apenas uma vez, para uso pessoal, impedindo a reprodução de cópias a partir da primeira gravação. O Ministério das Comunicações declarou-se favorável à adoção de um sistema de proteção. Já a Casa Civil, manifestou-se defendendo o contrário. Entidades de defesa do consumidor mostram-se opostas à instalação de um mecanismo de proteção por considerá-lo violação dos direitos do consumidor. Não há previsão quanto à decisão relacionada ao sistema de proteção de cópias. O tema foi levado ao Comitê de Desenvolvimento da TV Digital, integrado por um conjunto de ministros, mas não houve consenso. Por oito votos a um, o comitê reprovou a idéia. A posição final cabe agora ao presidente da República, que ainda não se manifestou. Em função da espera pela tomada de decisão por parte do governo, a quem cabe decidir pela permissão ou não da reprodução, é possível que os primeiros decodificadores de TV digital feitos no Brasil não incorporem o mecanismo. Alguns fabricantes já têm prontos modelos de set-top box para recepção da TV digital, inclusive para alta definição, sem o bloqueio.

TV por assinatura Um dos desafios para a elaboração das futuras normas destinadas à TV digital aberta é tratar da obrigação das operadoras de TV por assinatura em relação aos sinais digitais broadcasting, que começarão no final de 2007, em São Paulo. A Lei de TV a Cabo diz que as operadoras são obrigadas a portar os sinais das geradoras de TV nas localidades em que operam. Não é feita menção aos sinais digitais dessas mesmas emissoras, seja em alta definição ou seja em definição padrão. Com a entrada das empresas de telefonia no segmento de TV por assinatura, a questão fica mais delicada. A TV por assinatura, além de já ter boa base de seus assinantes atendidos por sistemas digitais – ainda que não seja em alta definição –, tem clientes

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com mais poder aquisitivo, que tendem a ser os primeiros a adotarem a TV digital aberta, devendo as operadoras de TV por assinatura dar mais ênfase a conteúdos de alta definição para os quase cinco milhões de assinantes de Cabo, MMDS e DTH que não recebem os sinais de TV aberta, o broadcasting, exclusivamente.

Pólo industrial de Manaus e a TV digital Está sendo esperado pela indústria instalada em Manaus que a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) adote uma posição com relação à divisão que ainda persiste na indústria com relação ao texto aprovado na Medida Provisória nº 352, e que manteve os incentivos fiscais da TV digital em Manaus. As empresas que estão no pólo industrial amazonense se preparam para defender a região. E a Eletros, como entidade nacional do setor, agora, precisa colocar a sua posição de forma firme. É o momento de definição dos planos de negócios, destacam empresários do setor. As empresas, que reestruturam suas operações, afirmam que serão players do mercado de TV digital e que estarão na briga pelo mercado de conversores de TV digital. Portanto, é hora de a Eletros e os integrantes do Fórum de TV digital trabalharem juntos para perceberem que o processo é gradual e tratem das várias definições que ainda faltam, como por exemplo, a questão do conversor popular. Ele vai funcionar e dar alta definição para os televisores de 29 polegadas, que são os mais vendidos no mercado? Além dessas questões, também deve ser levado em consideração que o Brasil poderá ser um dos pólos mundiais de produção de conteúdo e aplicativos, podendo passar não somente a retransmitir, mas a produzir e exportar programas para TV digital, unindo assim a nossa criatividade artística com o bom domínio que temos em técnicas e ferramentas de software.

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Tecnologia digital na TV brasileira

Conclusão A sociedade brasileira espera pela implementação da decisão com garantia da continuidade de atendimento ao telespectador nas atuais áreas de cobertura da TV analógica e em condições de recepção iguais ou melhores. A implementação do padrão de TV digital precisa ser feita mediante a um estruturado modelo de negócios e a um bom plano de transição. A escala a atingir deveria ser a de plano nacional e mercado global e para tanto, seriam necessárias tecnologias e produtos de classe mundial. São? Eis a questão!

BIBLIOGRAFIA Sites: http://orionconsult.com.br http://mc.gov.br http://anatel.gov.br http://finep.gov.br http://cpqd.com.br http://eletros.org.br

Juarez Quadros do Nascimento é engenheiro eletricista, sócio da Orion Consultores Associados e membro do Conselho Curador da FITec. Tem sido regular colaborador de jornais, livros e revistas especializadas. No Ministério das Comunicações, foi Ministro de Estado, Secretário Executivo e Secretário de Fiscalização e Outorgas. Dentre outras posições de destaque, foi diretor e conselheiro de Administração da Telebrás e subsidiárias, presidente do Conselho Curador do CPqD e conselheiro de Administração da Embraer.

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ARTIGO

sBtVd – uma Visão soBRe a tV digital no BRasil luCIANO lEONEl MENdES

Resumo Hoje, a televisão brasileira está passando por uma revolução. A mudança do sistema analógico de televisão para o sistema digital traz enormes benefícios para os telespectadores, além de permitir novos negócios para as emissoras e movimentar o mercado eletroeletrônico nacional. O objetivo deste artigo é apresentar um breve relato sobre a camada física do Sistema Brasileiro de TV Digital, ressaltando as características que permitem a grande flexibilidade desse sistema. Os principais resultados oriundos das pesquisas realizadas no Instituto Nacional de Telecomunicações (INATEL) também serão apresentados de forma resumida, apenas para ilustrar alguns avanços tecnológicos obtidos no Brasil.

INTRodução Um padrão de TV digital é dividido em diversas camadas distintas. Em uma divisão macro, podese dizer que um padrão de TV digital é composto pelas seguintes camadas:

a) Conteúdo e Aplicação: camada responsável pela captura e formatação dos sinais de áudio e vídeo, bem como o desenvolvimento de aplicativos interativos [1]. b) Compressão: camada responsável pela remoção de redundâncias nos sinais de áudio e vídeo, reduzindo assim a taxa de bits necessária para transmitir essas informações [2]. c) Middleware: camada de software que realiza a integração de todas as subcamadas do sistema. O Middleware permite que os aplicativos gerados pelas emissoras sejam compatíveis com todas as plataformas de recepção desenvolvidas para o padrão de TV digital [3]. d) Multiplexação: camada responsável por gerar um único feixe de dados contendo o vídeo, áudio e aplicações dos diversos programas a serem transmitidos [4]. e) Transmissão/Recepção: também denominada de camada física, é a camada responsável por levar as informações digitais do T&C Amazônia, Ano V, Número 12, Outubro de 2007


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estúdio da emissora até a casa do telespectador [5]. f) Canal de Interatividade: é o canal por onde o telespectador pode solicitar e receber informações específicas ou enviar dados para a emissora [6]. Diferentemente do que muitos assumem como verdade, um sinal de TV digital não é necessariamente um sinal de alta definição. Na verdade, existem 4 formatos de vídeos possíveis em um sistema de TV digital. São eles [7]: a) LDTV (Low Definition Television) – formato de vídeo de baixa definição empregado para transmissão de sinais para dispositivos móveis, como celulares e PDA’s. Os sinais de vídeo neste formato possuem 240 linhas, cada uma contendo 320 pontos (ou pixels), resultando em uma relação de aspecto de 4:3. b) SDTV (Standard Definition Television) – formato de vídeo de resolução padrão, tem uma resolução equivalente ao sinal de TV analógica. Hoje, esse formato já é empregado pelas operadoras de TV por assinatura via satélite e em DVD’s. Este formato possui 480 linhas com 640 pixels por linha, o que também resulta em uma relação de aspecto de 4:3. c) EDTV (Enhanced Definition Television) – este formato apresenta um ganho de qualidade de imagem quando comparado com o formato SDTV, mas ainda não representa a máxima resolução possível em um sistema convencional de TV digital terrestre. Esse formato possui 720 linhas, cada uma com 1280 pixels, o que resulta em uma relação de aspecto de 16:9, ou seja, a mesma empregada no cinema. d) HDTV (High Definition Television) – o formato HDTV representa, hoje, a melhor qualidade possível de imagem em um sistema de TV digital terrestre. Este formato possui 1080 linhas, cada uma com 1920 pixels, resultando em uma relação de aspecto de 16:9 Qualquer que seja o padrão de TV digital emT&C Amazônia, Ano V, Número 12, Outubro de 2007

pregado, é possível combinar diferentes sinais com diferentes formatos e transmiti-los dentro de um canal de 6 MHz. A Figura 1 ilustra algumas possibilidades de combinação de formatos em um canal de 6 MHz, assumindo o uso da compressão de vídeo H.264. Note que em todos os casos há uma banda reservada para a transmissão de dados, que pode ser empregada, por exemplo, para a transmissão das informações referentes à interatividade carrossel [8].

Figura 1 - Algumas possíveis combinações para o uso do canal de 6 MHz em um sistema de TV digital, assumindo o uso da compressão H.264.

O objetivo deste trabalho é apresentar uma breve descrição sobre o padrão de TV digital adotado no Brasil, enfocado a camada física do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD). Para atingir esse objetivo, este trabalho está organizado da seguinte maneira: a Seção 2 apresenta uma visão geral sobre a camada física, comum a todos os padrões de TV digital existentes. Em seguida, a Seção 3 apresenta as características específicas do padrão adotado no Brasil. A Seção 4 apresenta os principais resultados das pesquisas realizadas pelo INATEL (Instituto Nacional de Telecomunicações) na área da Televisão Digital e, finalmente, a Seção 5 traz as conclusões e os comentários finais deste artigo.

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Sistema de transmissão de TV Digital Atualmente existem três padrões de TV digital comercialmente disponíveis: ATSC (Advanced Television Systems Committee) [9] desenvolvido nos EUA; DVB-T (Digital Video Broadcasting) [10], desenvolvido na Europa e ISDB-T (Integrated Services Digital Broadcasting - Terrestrial) [11], desenvolvido no Japão. Embora cada um desses padrões apresente características e particularidades específicas, todos podem ser representados por um digrama em blocos genérico, mostrado na Figura 2.

a codificação de canal, tal como mostra a Figura 3. Note que com o uso do entrelaçador, mesmo que o canal introduza erros em rajada no sinal, esses erros se apresentam para o decodificador de canal de forma dispersa, aumentando a eficiência do código corretor de erro. A função do bloco de codificação interna é similar à função do bloco de codificação externa, ou seja, o objetivo é aumentar a robustez do sistema frente às intempéries do canal através da inclusão de redundâncias. A principal diferença entre o código externo e o código interno é que o primeiro trabalha com bytes, enquanto que o segundo ope-

Figura 2. Diagrama em blocos generalizado da camada física de um padrão de TV digital.

O bloco de dispersão de energia tem como objetivo distribuir a energia do sinal de entrada em toda a largura de faixa disponível. O bloco de codificação externa introduz redundâncias que permitem ao decodificador no receptor corrigir erros introduzidos pelo canal de comunicação. Nos padrões de TV digital, o código externo é um Reed Solomon [12] que trabalha com pacotes de 188 ou 187 bytes. A função do bloco entrelaçador é evitar que os erros em rajada introduzidos no canal sejam apresentados também em rajada para o decodificador externo. Erros em rajada devem ser evitados porque a capacidade de correção do Reed Solomon é limitada a alguns bytes por palavra-código. Logo, é interessante garantir que a ocorrência de erros em rajada no canal não resulte em erros em rajada na entrada do decodificador Reed Solomon. Isso por ser feito entrelaçando os bytes de informação após

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ra com bits, sendo este um código convolucional [12]. Da mesma forma que o código externo, a ca-

Figura 3. Exemplo de funcionamento de um entrelaçador.

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pacidade de correção do código interno também é limitada. Assim, é necessário evitar erros de bit em rajada no receptor. Portanto, é necessário empregar um entrelaçador interno (entrelaçador de bit) na saída do codificador interno para garantir um desempenho satisfatório do sistema. A etapa de modulação é a que resulta em maior diferença entre os padrões. O padrão ATSC emprega um sistema de portadora única com modulação vestigial de 8 níveis, chamado de 8-VSB (Vestigial Side Band) [13], enquanto que os padrões DVBT e ISDB-T empregam um sistema com múltiplas portadoras e modulação M-QAM, denominado de COFDM (Coded Orthogonal Frequency Division Multi-plexing) [14]. A modulação 8-VSB pode ser considerada a versão digital da técnica de modulação empregada nos sistemas analógicos de televisão, sendo de fácil implementação. A desvantagem desse esquema é que seu desempenho em canais seletivos em freqüência é pobre, o que requer o uso de complexos equalizadores temporais no receptor. Já os sistemas COFDM apresentam alta robustez frente aos múltiplos percursos do canal, uma vez que o sinal a ser transmitido é dividido em N subcanais de faixa estreita, que sofrem apenas atenuação plana ao ser transmitido por

um canal seletivo em freqüência. Desta forma, o receptor não precisa ter equalizadores complexos, o que simplifica a sua implementação e aumenta o desempenho do sistema. A Figura 4a apresenta o espectro de um sinal 8-VSB, enquanto que a Figura 4b apresenta o espectro de um sinal COFDM. O bloco denominado de transmissor é o responsável por transladar o sinal de banda-base para a freqüência de canal e também por fornecer o ganho de potência para que a cobertura desejada seja alcançada. Sistema Brasileiro de TV Digital O SBTVD foi baseado no padrão de TV digital japonês, com modificações na camada de compressão e na camada de middleware. No caso da compressão de vídeo, todos os padrões de TV Digital Terrestre empregam o MPEG2. O Brasil, no entanto, emprega uma técnica de compressão de vídeo mais recente e mais eficiente, denominada de H.264. Com esta técnica de compressão de vídeo, é possível manter a qualidade de imagem, porém reduzindo sensivelmente a taxa de bits. Este ganho de desempenho de compressão resulta em um uso mais eficiente do espectro. Já com relação ao Middleware, o Brasil adotou uma

Figura 4. Espectro de sinais de TV digital. (a) 8-VSB. (b) COFDM.

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Figura 5 - Diagrama em blocos de um sistema de transmissão ISDB-T.

solução nacional, denominada de Ginga, que foi desenvolvido pela PUC-RJ e pela UFPB. No que se refere à camada física, o SBTVD é exatamente igual ao padrão ISDB-T, cujo diagrama em blocos é apresentado na Figura 5.A complexidade do sistema de transmissão do padrão ISDB-T é maior do que dos demais padrões, porém essa complexidade permite uma maior flexibilidade do sistema, o que o torna tão interessante tanto para as emissoras quanto para os telespectadores. Algumas destas vantagens serão exploradas com mais detalhes a seguir.

Codificação de canal O ISDB-T emprega um código Reed Solomon (RS), onde 16 bytes de paridade são inseridos a cada pacote de 188 bytes, resultando em um código RS (204,188) com capacidade de correção igual

a 8 bytes. Como código interno, o ISDB-T emprega um código convolucional puncionado, que permite operar com taxas de codificação de 1/2, 2/3, 3/4, 5/6 ou 7/8. Quanto menor for a taxa de codificação maior será a robustez, porém menor será a vazão do sistema. O ISDB-T também emprega um entrelaçador convolucional de bytes como entrelaçador externo e dois entrelaçadores de bits, sendo um no domínio do tempo e outro no domínio da freqüência. A maior profundidade de entrelaçamento obtida no ISDB-T garante a este padrão um desempenho frente aos ruídos impulsivos superior aos demais padrões de TV digital [15].

COFDM A técnica de transmissão empregando múltiplas portadoras ortogonais codificadas (COFDM) aumenta a robustez do sistema frente aos múltiplos

Tabela 1. Modos de operação do sistema ISDB-T.

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percursos quando o número de subportadoras é suficientemente elevado. No caso do padrão ISDBT, existem três modos de operação distintos, denominados de Modos 1, 2 e 3. A Tabela 1 apresenta o número de portadoras empregadas em cada um dos modos de operação. Há uma relação de compromisso entre o número de portadoras empregadas no sistema e a robustez frente aos múltiplos percursos e frente ao efeito Doppler causado pela mobilidade do receptor. Quanto maior for o número de portadoras, maior será a robustez do sistema frente aos múltiplos percursos e mais sensível será o sistema ao desvio de freqüência Doppler [14]. Logo, pode-se concluir que o Modo 1 é indicado para os casos onde a mobilidade do receptor é o fator limitante do sistema, enquanto que o Modo 3 é indicado para os casos onde a seletividade em freqüência do canal é o fator limitante. O Modo 2 é uma solução de compromisso onde a mobilidade a velocidades relativamente baixas estão presentes e o canal apresenta uma seletividade em freqüência do canal moderadamente severa. O símbolo OFDM pode ser visto como a soma de N portadoras complexas moduladas, tal como mostra a Figura 6. Logo, se os dados modulantes não variarem ao longo do tempo, então o sinal COFDM se torna cíclico em um período de T segundos. Essa característica garante que a última amostra do símbolo COFDM será igual a sua

Figura 6 - Diagrama em blocos de um sistema de geração COFDM.

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primeira amostra, permitindo que uma cópia de parte do fim do símbolo COFDM seja inserida no início do mesmo. Esse procedimento, denominado de prefixo cíclico, introduz um tempo de guarda entre os símbolos, aumentando a robustez do sistema frente aos múltiplos percursos. A Figura 7 ilustra a inserção do tempo de guarda. Esse tempo de guarda também possibilita a criação de redes de freqüência única (SFN – Single Frequency Network). No padrão ISDB-T, o tempo de guarda pode ser configurado para T/4, T/8, T/16 ou T/32. Quanto maior for o tempo de guarda, maior é a robustez frente aos múltiplos percursos e menor é a vazão do sistema.

Segmentação de Banda A segmentação de banda é um dos principais recursos que torna o padrão ISDB-T mais flexível do que o padrão DVB-T. Um símbolo COFDM do padrão ISDB-T é composto por N subportadoras, onde N depende do modo de operação. Essas N portadoras são divididas em 13 segmentos distintos. Esses segmentos podem ser livremente agrupados para transmitir até 3 programas distintos. Por exemplo, pode-se utilizar apenas segmento número 0 para transmitir um sinal LDTV de baixa taxa para a recepção em um dispositivo móvel, enquanto que os demais segmentos são empregados para transmitir um sinal HDTV para a recepção

Figura 7 - Inserção do tempo de guarda em um símbolo COFDM.

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b)

a)

Figura 8 - Exemplos da utilização da segmentação de banda.

fixa, conforme ilustra a Figura 8a. Já a Figura 8b apresenta o caso onde a segmentação de banda é utilizada para transmitir sinais de vídeo em LDTV para recepção móvel e dois sinais EDTV distintos para a recepção fixa. Logo, o uso da segmentação de banda permite que a emissora envie sinais de vídeo diretamente para o celular do telespectador, sem a necessidade da operadora de telefonia.

Vazão A taxa de bits por camada do padrão ISDB-T depende da configuração dos parâmetros, como taxas de codificação, tempo de guarda e modulação. O fato do padrão ISDB-T prever 4 modulações digitais distintas permite que haja uma grande gama de

Tabela 2. Taxa de transmissão por segmento do padrão ISDB-T.

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relação de compromisso entre taxa de transmissão e vazão, conforme apresenta a Tabela 2.Conforme pode-se ver na Tabela 2, tanto a taxa de codificação quanto o tempo de guarda podem ser ajustados para se obter uma taxa de bits desejada para uma dada modulação digital. Por exemplo, assuma que a taxa de 468 kbps por segmento seja desejada. Essa taxa pode ser obtida com duas configurações diferentes: QPSK com r=5/6 e Tg=T/4 ou QPSK com r=3/4 e Tg=T/8. A decisão sobre qual das duas configurações deve ser empregada para obter a taxa desejada depende do tipo de canal de comunicação. A primeira opção apresenta um tempo de guarda maior do que a segunda solução, logo é mais robusta aos múltiplos percursos. No entanto, a taxa de codificação de canal da primeira configuração é maior do que a taxa de codificação da segunda configuração, o que resulta em pior desempenho frente ao ruído branco aditivo. Logo, a primeira configuração é in-dicada se o canal apresentar uma dispersão temporal elevada, enquanto que a segunda configuração é recomendada para o caso onde o canal não é o muito seletivo em freqüência e deseja-se obter uma maior área de cobertura.

Desenvolvimento no âmbito do SBTVD O Instituto Nacional de Telecomunicações atua na área de TV Digital desde 2003. Ao longo desses anos, o INATEL desenvolveu e desenvolve projetos nas diferentes camadas da TV digital, em parceria com diferentes empresas, universidades e centros de pesquisa. Alguns destes projetos serão brevemente apresentados ao longo desta Seção.

Sistemas de Transmissão Em 2003, o INATEL iniciou a execução de um projeto de desenvolvimento de sistemas de transmissão de TV digital, fomentado pela FINEP com recursos do FUNTTEL e em parceria com a Linear Equipamentos Eletrônicos. Como em 2003 as dis-

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cussões sobre qual padrão deveria ser adotado no Brasil estavam apenas no início, decidiu-se desenvolver um sistema de transmissão para o padrão ATSC, uma vez que a interveniente do projeto já possuía clientes no México, EUA e Canadá interessados neste produto. O projeto deste equipamento foi baseado em uma estrutura denominada de FPGA (Field Programmable Gate Array), que permite o desenvolvimento da lógica do sistema em software para depois sintetizar o hardware [16]. A primeira versão comercial do transmissor ATSC foi finalizada em dezembro de 2004 e as primeiras transmissões abertas de caráter experimental foram realizadas em janeiro de 2005. Hoje, este transmissor é comercializado pela interveniente do projeto nos EUA e no México. O segundo produto proveniente desse projeto visou o mercado brasileiro. Já em 2005 havia fortes indícios da preferência das emissoras de televisão pelo padrão japonês. Por esta razão, a coordenação do projeto decidiu investir no desenvolvimento de um transmissor ISDB-T. Esse transmissor foi iniciado em julho de 2005 e em novembro de 2006 o primeiro protótipo já estava funcional. Em julho de 2007 as primeiras versões comerciais estavam disponíveis e, hoje, algumas emissoras de televisão, como a Rede Bandeirantes e a MTV já empregam essa solução nos testes que estão sendo realizados na cidade de São Paulo. O próximo passo desse projeto é fazer com que esse transmissor esteja apto a operar em redes de freqüência única.

Sistemas de Recepção O INATEL possui duas grandes participações na área de recepção de sinais de TV digital. O primeiro projeto foi realizado em 2005, em parceria com a empresa Superior Technologies Broadcasting com o fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). O objetivo deste projeto foi desenvolver uma unidade receptora e conversora de sinais digitais em sinais analógicos, que permitisse que um televisor convencional pudesse ser utilizado em um sistema

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de TV digital. Como em 2005 ainda não havia definição do padrão a ser empregado no Brasil, decidiu-se pelo desenvolvimento de uma unidade receptora para o padrão DVB-T. Um dos fatores que levou a essa decisão foi o fato do INATEL estar se tornando um centro de excelência em TV digital. Para isso, era necessário ter domínio sobre todas as tecnologias existentes nessa área, e o padrão DVB-T ainda não havia sido estudado. O segundo fator foi econômico, uma vez que a interveniente desse projeto visava o amplo mercado disponível para o DVB-T, que é o padrão mais difundido em todo o mundo. Duas versões desse produto foram desenvolvidas, sendo uma para uso profissional e outra para uso doméstico. Esse projeto foi finalizado em dezembro de 2005 e atualmente o produto é comercializado pela interveniente do projeto em diversos países. Em 2007, o INATEL iniciou o desenvolvimento de uma nova unidade receptora de TV digital, desta vez visando o mercado brasileiro. Esse projeto está sendo realizado em parceria com a Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi), sediada em Manaus e os primeiros protótipos já estão sendo produzidos. Estima-se que até o final deste ano as primeiras unidades comerciais do produto já estarão disponíveis.

Inovação Tecnológica Em 2005, o Governo Federal investiu no desenvolvimento de uma nova proposta para o Sistema Brasileiro de Televisão Digital, que apresentasse ganhos expressivos com relação aos padrões já existentes no mercado. Um consórcio de universidades e centros de pesquisas formado pela INATEL, UNICAMP, UFSC e CE-FET/PR ficou responsável por desenvolver uma proposta para o subsistema de modulação. O projeto MI-SBTVD (Modulação Inovadora do SBTVD) teve como ponto de partida a camada física do padrão ISDB-T. No entanto, como esse padrão foi desenvolvido na década de 90, diversas novas tecnologias desenvolvidas no final da década de 90 não foram incorporadas. A

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proposta do MI-SBTVD foi de incorporar dois grandes avanços na área de comunicação digital que foram apresentados recentemente. São eles: • LDPC [17]: todo sistema de TV digital possui dois níveis de códigos corretores de erro. O primeiro nível é denominado de código externo e o segundo nível de código interno. Todos os padrões existentes hoje empregam o código RS encurtado como código externo. Essa solução também foi empregada pelo MI-SBTVD, uma vez que a estrutura de blocos RS(204, 188) facilita o processo de sincronismo do decodificador e apresenta bom desempenho nas condições de canal referentes à radiodifusão de sinais digitais. A inovação proposta pelo MI-SBTVD refere-se ao código interno. A solução clássica, adotada pelos padrões existentes, consiste em utilizar um código convolucional como código interno. Já o MI-SBTVD utiliza um código de blocos denominado de Low Density Parity Check (LDPC) Code. Esse código utiliza blocos de informação extensos que permite ganhos elevados mesmo quando a taxa de codificação é alta. • Codificação Espaço-Temporal [18]: a mobilidade e a robustez do sistema frente aos canais variantes no tempo é um requisito que deve ser atendido para que o sistema de TV digital satisfaça as necessidades das operadoras. A maneira clássica de mitigar o problema da variação do canal ao longo do tempo é utilizar duas antenas de recepção espaçadas o suficiente para que os sinais recebidos sejam descorrelacionados, técnica esta denominada de diversidade de recepção. Em seguida, esses de sinais são combinados de maneira adequada a fim de garantir uma qualidade de recepção aceitável. O principal problema com essa solução é o encarecimento do sistema de recepção. Em um sistema de radiodifusão, onde um transmissor atende milhares de

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receptores é mais interessante utilizar a diversidade na transmissão, uma vez que o custo dessa implementação será dissolvido entre todos os usuários. Nesse cenário, o uso da codificação espaço-temporal é uma solução interessante, uma vez que é possível obter um ganho de diversidade de ordem 2 empregando-se duas antenas no transmissor e apenas uma antena no receptor. O uso da diversidade de transmissão, através da codificação espaço-temporal, traz vantagens em praticamente todos os aspectos. Caso algum fabricante decida empregar um receptor com duas antenas, esse dispositivo pode apresentar ganho de diversidade de ordem 4, sem que haja nenhuma modificação no esquema de transmissão. Da mesma forma, caso a operadora decida empregar apenas uma antena de transmissão, o receptor funciona sem a necessidade de nenhuma modificação, embora não seja possível obter ganho de diversidade. Ambas as inovações apresentadas resultam em pouco ou nenhum aumento na complexidade do sistema. Embora a decodificação interativa do LDPC seja mais complexa do que a decodificação de Viterbi (empregada nos demais padrões), o desenvolvimento de chipsets de alta densidade, a partir de soluções em FPGA, permite que soluções acessíveis do decodificador LDPC sejam obtidas em um curto intervalo de tempo. O uso de duas antenas de transmissão resulta, apenas, na inclusão de um conversor de freqüência e na modificação da estrutura de potência do transmissor, uma vez que são necessárias duas saídas de RF ao invés de apenas uma.

Conclusões O desenvolvimento do Sistema Brasileiro de TV Digital é algo de primordial importância para o crescimento tecnológico nacional. Os investimentos do Governo Federal permitiram que, pela primeira vez

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no Brasil, diversas instituições de ensino e pesquisa pudessem trabalhar em conjunto, formando uma rede de pesquisa com um objetivo em comum. O resultado desse trabalho conjunto foi a concepção de um sistema, baseado em um padrão robusto e flexível que atende as expectativas tanto das emissoras quanto dos telespectadores, mas com importantes evoluções nas camadas de compressão e middleware. Os diversos projetos conduzidos pelo INATEL também mostram que o fomento e financiamento de projetos de pesquisa e desenvolvimento na área de TV Digital tornam possível que o conhecimento e a competência até então limitados aos círculos acadêmicos sejam estendidos para a indústria, formando um elo de desenvolvimento sólido. Essa parceira entre academia e indústria permite que sejam desenvolvidos no Brasil equipamentos de alto valor agregado que podem competir em preço e qualidade com produtos importados. Como exemplo deste tipo de sucesso, pode-se citar os transmissores ATSC que hoje são comercializados nos EUA, que é um grande centro de desenvolvimento de tecnologia. Outro exemplo é o transmissor desenvolvido para o mercado brasileiro, que compete com equipamentos de gigantes como Harris, NEC, Toshiba, entre outros. O projeto do receptor ISDB-T que está em desenvolvimento também vem somar-se a esta lista, uma vez que esse produto irá competir com soluções da Philips, LG, Sony e outras. Todos esses exemplos mostram que o potencial nacional para o desenvolvimento de soluções competitivas pode ser explorado de maneira eficiente, se houver uma interação entre a academia, a iniciativa privada e governo.

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SBTVD – Uma visão sobre a TV Digital no Brasil

Luciano Leonel Mendes é graduado em Engenharia Elétrica e mestre em Telecomunicações pelo Instituto Nacional de Telecomunicações em 2001 e 2003, respectivamente. Recebeu em 2007 o título de doutor em Engenharia pela Universidade Estadual de Campinas. E, desde 2001, atua como professor e pesquisador do Instituto Nacional de Telecomunicações.

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ARTIGO

aplicações e tendências da iptV EduARdO ANTôNIO BARROS dA SIlVA E lISANdRO lOVISOlO

Resumo IPTV consiste da entrega de sinais de TV usando redes privadas que compreendem IP (Internet Protocol). A IPTV agrega diversas tecnologias de forma a tornar isso possível. Neste artigo algumas delas são discutidas. Entretanto, enfatiza-se mais as aplicações e serviços possíveis a partir da IPTV do que os aspectos tecnológicos, ainda que saliente-se os aspectos tecnológicos e requisitos de rede subjacentes. A principal diferença entre IPTV e outras formas de entrega de TV digital é a certeza do canal de retorno, o que permite a rápida implantação de serviços interativos como a transformação da TV num centro de informação e comunicação do lar. Assim, a IPTV tem o potencial de permitir a convergência de diversas aplicações de comunicação e informação hoje existentes.

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INTRodução A convergência dos sistemas de telecomunicações, de distribuição de conteúdo e de informação é premente, se não uma realidade. Há um sem número de previsões sobre a possibilidade de acesso simultâneo, utilizando um mesmo canal e equipamento, a dados, comunicações por voz e conteúdos de vídeo e áudio. As operadoras de TV a cabo saíram na frente com relação a isso. Hoje, além dos canais e programas de TV, grande parte dessas operadoras oferta serviços de acesso banda larga a dados (acesso à Internet) e de transmissão de voz, uma cesta de serviços conhecida por triple play. Diversas pesquisas de mercado apontam que assinantes de telefonia que possuem mais de uma linha telefônica e TV a cabo estão desligando uma das linhas e transferindo-a para o serviço de voz oferecido pela rede de TV a cabo. A possibilidade de prover TV pelo canal de telefonia, além de dados, adicionada às grandes capilaridade, penetração e tradição dos serviços básicos de telefonia, muito maiores que a das reT&C Amazônia, Ano V, Número 12, Outubro de 2007


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des de TV a cabo, permitiriam às operadoras de telefonia enfrentar essa concorrência. Entretanto, para que isso seja possível, os sinais de vídeo e áudio providos deverão ter qualidades comparáveis, senão superiores, àquelas dos sinais entregues pelas redes de TV a cabo. O conjunto de tecnologias conhecido por IPTV (Internet Protocol Television) é o que pode tornar isso realidade. A IPTV não deve ser confundida com transmissão de TV via Internet. Ela consiste, basicamente, da entrega de TV usando IP (Internet Protocol) sobre uma rede privada que seja capaz de prover a qualidade de serviço necessária à entrega do vídeo. De acordo com a International Telecommunications Union (ITU) entende quei: “A IPTV é definida como serviços multimídia tais quais televisão/vídeo/áudio/texto/gráficos/dados entregues por redes baseadas em IP gerenciadas para prover os níveis de QoS (Quality of Service) / QoE (Quality of Experience), segurança, interatividade e confiabilidade requeridos.” Assim, a grande diferença entre a entrega de vídeo via Internet e a IPTV reside na utilização de uma rede que garante a qualidade de serviço necessária para uma boa experiência de uso por quem assine o serviço (i.e. assiste ao vídeo). Diversos aspectos tecnológicos são fundamentais para tornar a IPTV possível, dentre eles destacam-se a compressão (codificação) de vídeo e o aumento na taxa de transmissão hoje obtida na última milha, a parte final do enlace entre a operadora ou provedora do serviço de telecomunicações e o assinante. Um dos principais motivos para a aposta em IPTV é que ela pode prover um serviço de TV diferenciado. O serviço IPTV é provido individualmente a cada cliente através de seu enlace com a provedora de acesso, diferentemente do que ocorre nos sistemas de TV a cabo e via satélite. A exclusividade do canal permite fazer não só o broadcast (difusão) de um programa de TV para vários assinantes, como oferecer vídeo sobre demanda (VoD), programação com atraso (Timeshift broadcast) e

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download de arquivos para exibição posterior. Essa cesta de serviços de entretenimento e a interação do usuário e o controle do assinante sobre sua TV podem trazer um diferencial competitivo significativo ao serviço IPTV. A IPTV permite oferecer uma gigantesca gama de conteúdos ao cliente, muito maior que aquela disponível na TV via cabo ou satélite, oferta conhecida como long tail, e o cliente pode escolher o que deseja assistir sem sair de casa. Entretanto, para que todos esses serviços possam ser ofertados para uma grande parcela dos assinantes é necessário escalar a capacidade da rede, que deve ser aumentada de forma a permitir o tráfego dos sinais de áudio e vídeo dos diversos usuários. Essa nova cesta de serviços e aplicações é o principal apelo para a IPTV. Cabe citar que grandes players dos mercados de entretenimento e computação (Microsoft, Apple e Sony), recentemente, lançaram produtos que permitem fazer o download de um filme para exibi-lo depois, no mesmo dia, ou durante 2 dias após o download, ou até mesmo gravá-lo em DVD, dependendo da tarifa paga ou do plano de serviços contratado. As televisões atuais ainda não incorporam a tecnologia IPTV e nem acesso a redes. Suas interfaces com os telespectadores (os controles remotos) tampouco são hoje capazes de permitir interação razoável. Portanto, para oferecer IPTV deve ser disponibilizado ao assinante um equipamento, o STB (Set-Top Box – caixa sobre o conjunto de TV). Ele consiste basicamente do dispositivo que faz a comunicação via rede, de decodificadores de vídeo e áudio, e de um processador no qual são executadas as aplicações. Contudo, para que uma grande parte dos serviços, permitidos pelo conjunto de tecnologias que fazem parte da IPTV, possa tornar-se realidade, os detentores dos direitos autorais sobre os conteúdos devem ter algumas garantias. Sistemas confiáveis para cobrança e controle de acesso ao conteúdo devem ser disponibilizados. Além disso, direitos autorais deverão ser resguardados. Cópias não-autorizadas devem ser coibidas e, se por aca-

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so realizadas, deverão ser identificadas para que as ações legais cabíveis possam ser tomadas.

Por que IP? O protocolo IP tornou-se o padrão de endereçamento empregado na construção e implantação de redes de dados. O cerne desse protocolo é a alocação racional de endereços para as mais diversas máquinas e equipamentos conectados a uma rede. Esses endereços permitem identificar cada uma das máquinas presentes na rede e assim direcionar os pacotes de dados para os seus destinos, também identificando as suas origens. O sucesso do protocolo IP reside em sua simplicidade e interoperabilidade, já que é independente da rede física sobre a qual os dados trafegam. Devido ao seu sucesso, com o crescimento da Internet, novos padrões e especificações de redes surgem já com suporte a IP. Assim, a grande disponibilidade de equipamentos, hardware e software, pessoal capacitado e a implantação com êxito do IP sobre as mais diversas redes fazem com que o IP seja a opção para a implantação de novos sistemas e serviços em redes. Disso, surge a IPTV. Mas nem tudo são flores. O IP foi projetado para realizar transferências de dados ponto a ponto, isto é, de um emissor para um receptor, fluxo de dados conhecido como unicast. Entretanto, o sinal de TV é transmitido para todos, um emissor para todos os receptores, fluxo de dados conhecido como broadcast. Assim, cuidados específicos devem ser tomados ao disponibilizar um serviço de TV usando uma rede IP.

Aplicações básicas da IPTV A primeira e mais trivial aplicação da IPTV é a difusão (Broadcast) de TV, ou seja, a retransmissão dos sinais de TV aberta usando uma rede que compreenda IP. Obviamente, tal possibilidade não traz nenhum grande diferencial ao provedor do serviço IPTV, relativamente às TVs a cabo, via satélite e até mesmo aberta. Porém, a primeira dife-

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rença reside na possibilidade de “Timeshifted TV”, isto é, TV deslocada no tempo. Nessa aplicação, a programação é repetida, ou seja, retransmitida pela rede IPTV, em diferentes horários com, por exemplo, 5 minutos de diferença entre si. Isso, por si só, já permite ao espectador não perder o início de seu programa favorito e não ter que esperar por reprises, nem se preocupar em gravar o programa. Para tornar isso possível, a programação é gravada pelo provedor do serviço IPTV e disponibilizada em horários predeterminados. Outro atrativo do serviço IPTV é que todas as possibilidades de escolha de programação pelo usuário são disponibilizadas no guia eletrônico de programação ou EPG (Electronic Program Guide). Nele, o usuário pode ver, entre outras informações, os horários de início e fim de cada programa, descrições dos programas, os horários de repetição de cada programa. Assim, o EPG permite tanto navegar pelo catálogo de programas do provedor quanto obter informações sobre os programas que estão sendo ou serão transmitidos. Por exemplo, essas informações podem permitir o controle pelos pais dos conteúdos assistidos pelos filhos. Apesar de o EPG conferir certa “interatividade” entre o espectador e a TV, diferentemente do “Timeshitfed TV”, não podemos considerá-lo um diferencial, pois já existe nos serviços de TV digital via cabo e satélite, e a tendência é que esteja presente na transmissão de TV digital terrestre e aberta. Similar à aplicação “Timeshifted TV” é o serviço conhecido como vídeo quase sobre demanda ou NVoD (Near Vídeo on Demmand). O NVoD já é uma aplicação corriqueira em sistemas de DTH (Direct to the Home - sistemas de TV via satélite). Ele consiste da transmissão a intervalos regulares de um mesmo conteúdo, por exemplo, o mesmo filme se inicia a cada 5 minutos. Os conteúdos disponibilizados na aplicação NVoD são diferenciados, por exemplo, um filme ou evento esportivo específico, podendo inclusive, e muito provavelmente, ser pay-per-view (acesso condicionado ao pagamento de uma taxa extra). Já em “Timeshifted TV”, o conteúdo oferecido é aquele já disponibilizado pelos

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diversos agregadores de programação – canais de TV, tanto abertos como os transmitidos por canais restritos a redes de TV a cabo e via satélite.

Interatividade: escolha de conteúdo As aplicações até aqui discutidas, em nada diferem daquelas atualmente disponibilizadas ou que possam vir a ser disponibilizadas pela transmissão de sinais de TV via cabo, satélite, ou mesmo pela TV digital terrestre, desde que disponham de banda suficiente. A grande diferença do serviço IPTV relativamente à TV via cabo tradicional, via satélite ou terrestre é a existência líquida e certa de um canal de retorno, o que permite interatividade. A interatividade pode permitir uma série de novas aplicações e serviços nas quais o assinante/ espectador pode escolher grande parte do conteúdo que deseja assistir. Cabe salientar que o serviço de TV a cabo pode dispor também de um canal de retorno simples e barato, o próprio cabo. A primeira e mais simples (do ponto de vista do usuário) das possibilidades de interatividade é o VoD (Video on Demand). O usuário escolhe o que deseja assistir e a rede disponibiliza esse conteúdo para ele, a qualquer momento e não em instantes pré-determinados. Obviamente, se cada usuário decidir assistir um programa diferente, a quantidade de tráfego poderá ser muito maior que a capacidade da rede, assim, é muito provável que esse serviço seja oferecido, inicialmente, apenas a uma pequena parcela dos assinantes do serviço IPTV (p.ex., assinantes Premium). Outras aplicações, razoavelmente propaladas, são as funções de Gravação de Vídeo. Pode-se, num sistema IPTV, disponibilizar a gravação pessoal de vídeos. Para esse fim, as implementações de sistemas IPTV têm trabalhado de duas formas. A primeira é disponibilizar um PVR (Personal Vídeo Recorder) no próprio STB, ou seja, o STB é capaz de armazenar vídeo para visualização posterior. Entretanto, se o usuário deseja gravar um vídeo simultaneamente à gravação de outro, tal aborda-

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gem exigiria o dobro de banda ao longo de toda a rede. A segunda abordagem é conhecida como NPVR (Network Personal Video Recorder) e nela o vídeo é armazenado em algum ponto da rede que não no terminal do usuário. Isto é, o provedor armazena o vídeo. Isso elimina a necessidade do dispositivo de armazenamento de vídeo na casa do assinante. Repare que tal serviço se assemelha ao VoD; a diferença reside em que no VoD o conteúdo disponível é predeterminado por quem oferece o serviço. Para que essas aplicações se tornem possíveis há dois aspectos tecnológicos extremamente relevantes. O primeiro reside na confiabilidade da rede e do sistema de disponibilização de vídeos, que deverão ser capazes de gerenciar um grande número de transações, enviando os vídeos requisitados aos mais diversos usuários. Por outro lado, sistemas de busca de conteúdo, diferentes dos disponíveis hoje na Internet, devem ser desenvolvidos, de modo a permitir procurar por muito mais que texto. Tal ferramenta de busca impõe alguns desafios interessantes ao projeto de máquinas de busca. Outro serviço que talvez possa vir a ser interessante é a disponibilização de múltiplas vistas (ângulos) de uma mesma cena. Vários vídeos de um mesmo filme, cada um filmado em uma posição diferente, são disponibilizados para os usuários que escolhem de qual ângulo desejam assisti-lo. Tal abordagem poderia também ser aplicada na transmissão de eventos esportivos. Porém, devese salientar que para tornar isso possível, a geração do conteúdo deverá contemplar a gravação a partir de múltiplas posições. Mais além, no caso de filmes, a sincronização dos vídeos assim gerados após a finalização da obra também deverá ser endereçada. A existência do canal de retorno permite disponibilizar uma série de outros serviços interativos. Um exemplo é a oferta de serviços de informações na qual o usuário tem acesso às mais diversas informações via sua TV. Assim podem ser disponibilizados serviços de notícias, previsões do clima, trânsito local, eventos locais, etc. Serviços simi-

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lares já são realidade em algumas redes de TV a cabo e mesmo via satélite, e há a possibilidade de eles estarem presentes também na TV digital aberta terrestre.

Acessando informações via TV A existência de um canal de retorno permite que o assinante do serviço IPTV interaja com a sua TV. Acima, discutiram-se algumas possibilidades de interação bastante simples. Nessas, o canal de retorno é empregado somente como o meio pelo qual o espectador/assinante envia as requisições dos conteúdos e informações que deseja receber. Entretanto, tais serviços não são limitados ao serviço IPTV e podem ser oferecidos também por serviços de TV a cabo, via satélite e terrestre. A diferença básica reside em que nos três últimos toda a informação disponível é enviada para o STB que seleciona o que apresentar ao usuário/assinante, conforme as escolhas e comandos do mesmo. Já num paradigma IPTV, a princípio, não há banda suficiente para enviar todos os conteúdos e informações ao mesmo tempo para o assinante, como é o caso de uma última milha usando uma tecnologia xDSL. Assim, a provisão de conteúdos e informações deverá ser mais sofisticada e inteligente, direcionando a cada usuário somente o que ele requisitar. Logo, a rede através da qual o serviço IPTV trafega deverá ser capaz de direcionar conteúdos específicos para cada usuário. O que obviamente implica uma rede capaz de transportar essa grande quantidade de informação. Essas capacidades intrínsecas da rede usadas para prover IPTV, banda gigantesca e capacidade de endereçamento, podem ser empregadas para oferecer outros serviços muito mais sofisticados. Por exemplo, o serviço de informações não está mais limitado a exibir informações predefinidas pelo provedor IPTV, mas sim toda a informação existente hoje, por exemplo, na Internet. Essa é a primeira grande transformação oferecida pela IPTV ao assinante do serviço: acesso à Internet usando o conjunto aparelho de TV mais STB. Claramente,

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para que isso ocorra, há uma barreira a ser vencida: o conteúdo disponibilizado na Internet não está formatado para ser visto em um aparelho de TV, principalmente, em um aparelho de TV de baixa resolução. Assim, será necessário, em certa medida, conformar essas mídias. Outra possibilidade para a qual já existem, inclusive, diversas iniciativas é o e-mail via TV, ou t-mail que disponilizaria e-mail no aparelho de TV. Entretanto, ao falarmos do acesso à informação possibilitado pela IPTV devemos tomar um certo cuidado: enquanto a TV possui uma natureza agregadora, reunindo às vezes toda a família para ver um certo programa, o computador é em geral utilizado de forma pessoal e solitária. As naturezas diferentes de uso desses equipamentos devem ser consideradas tanto no desenvolvimento de novas aplicações bem como ao fazermos previsões de unificação desses dois aparelhos, que provavelmente ainda virão a conviver por um largo prazo.

A TV como central de comunicação Assim como o usuário poderá acessar as mais diversas informações, podemos imaginar que ele poderá ainda transmitir e disponibilizar informações. Isso permitirá que a TV se torne mais que uma central de acesso a informações, mas também um centro de comunicações. Por exemplo, uma câmera de vídeo, um microfone e um STB capaz de receber esses sinais e codificá-los para transmissão pela rede permite oferecer tanto telefonia quanto vídeoconferência no aparelho de TV. Tudo isso permite transformar a TV na central de comunicação do lar. No entanto, alguns cuidados devem ser tomados ao fazer afirmações e previsões tão categóricas. Qualquer estratégia de transformação da TV em uma central de comunicações deverá permitir ao usuário experiências de uso e conforto ao menos similares às que ele dispõe hoje. Exemplificando, não é incomum que pessoas falem ao telefone vendo TV. Assim, qualquer tentativa de transformar

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a TV em telefone deverá permitir uma experiência semelhante, por exemplo, apresentando a imagem e a conversa, emudecendo o áudio do programa se assim for desejado. Hoje, aplicações de muito sucesso no computador são as de troca instantânea de mensagens que permitem interação em tempo real entre diversas pessoas conectadas na rede. Essas podem facilmente ser migradas para um serviço IPTV. O acesso à Internet permitido pelos terminais IPTV permite imaginar as mais diversas aplicações de banda larga para todos que dela dispuserem. Além do que já foi discutido acima, podemos imaginar a educação/aprendizado à distância. Um serviço IPTV de larga penetração permitiria oferecer treinamento e capacitação à distância interativos e sem as limitações de horário hoje encontradas nos programas educativos da TV brasileira.

Propaganda Dirigida As mais diversas aplicações apresentadas fazem com que o sistema IPTV rastreie o que o assinante vê. Além disso, o sistema de gerenciamento das assinaturas possui dados sobre os clientes armazenados em seu banco de dados. Essas informações permitem assim formar um perfil do cliente que pode ser empregado para dirigir-lhe somente propagandas de seu interesse (ou que pelo menos se acredita serem de seu interesse). Isso permite trazer para a TV um paradigma de propaganda dirigida, que na visão de alguns anunciantes pode ser mais efetiva.

Sistemas de IPTV Para implementar as aplicações discutidas, sistemas complexos e sofisticados são necessários. A Figura 1 (retirada de Guedes, 2006 - pág. 66) apresenta a estrutura básica de um sistema IPTV utilizando rede de acesso DSL (Digital Subscriber Line). O sistema apresentado na tal figura enfatiza somente a parte referente ao vídeo, sua digitalização, disponibilização, controle de acesso e entrega.

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Já, os tráfegos de voz e de dados (afinal, um dos objetivos de sistemas IPTV é oferecer triple-play) não são especificamente apresentados e seguem um caminho virtualmente distinto, conforme mostrado na Figura 1 no quadro “DSLAM” (DSL Access Multiplexer) na saída “para a Internet”. O Headend é o cabeçal da rede IPTV. Uma de suas funções é receber os sinais das mais diversas fontes e disponibilizá-los para os clientes do serviço IPTV. Em alguns casos, isso inclui a conversão de sinais de TV analógicos em digitais (digital turn-around), em outros a transcodificação, isto é, a mudança da taxa de transmissão ou do tipo de codificador empregado, em outros simplesmente a leitura ou a recepção do vídeo digital seguidas de sua transmissão. As opções de codificadores são diversas. Os primeiros sistemas IPTV implantados utilizavam MPEG-2 (Motion Pictures Experts Group versão 2) da ISO (International Organization for Standardization), que permite codificar vídeos de definição padrão; ela é a usada hoje na TV aberta, com boa qualidade (igual à do DVD) à taxa de 3,5 a 5 Megabits por segundo. Entretanto, há uma tendência de migração para o padrão de codificação conhecido por H.264, padrão conjunto da ITU (International Telecommunications Union) e da ISO, também conhecido como MPEG-4 AVC (Advanced Vídeo Coding). Essa migração se deve ao fato do H.264 permitir obter a mesma qualidade do MPEG-2 com a metade da taxa de bits. Assim, o uso do H.264 permite transmitir uma quantidade duas vezes maior de vídeos por um mesmo canal do que o uso do MPEG-2. Um dado importante é que o H.264 foi o sistema de codificação de vídeo escolhido para a TV digital brasileira. O provedor do serviço conta com uma série de servidores de vídeo. Esses são utilizados para armazenar os mais diversos conteúdos disponibilizados aos usuários nas aplicações discutidas. Para que vídeo e áudio possam ser disponibilizados, eles deverão ser preparados, isto é, comprimidos usando os padrões escolhidos no sistema implantado. Para disponibilizar as mais diversas aplicações,

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Figura 1 - Sistema IPTV Típico

outras partes (subsistemas) extremamente relevantes do sistema IPTV são as de gerência de usuários e de cobrança. Essas envolvem duas funções básicas: disponibilizar informações sobre as aplicações e serviços aos quais cada assinante tem acesso (seu perfil), bem como relatar os acessos realizados por cada assinante. A primeira permite controlar exatamente o acesso ao conteúdo a que cada assinante tem direito, já a segunda, cobrar especificamente pelas aplicações utilizadas. Técnicas de embutimento e ocultamento de informações (esteganografia e marcas d’água) têm sido desenvolvidas para inserir informações imperceptíveis e invioláveis no conteúdo (a não ser com a própria destruição da cópia do conteúdo), que identifiquem tanto o STB onde o conteúdo foi decodificado quanto o assinante que requisitou e a sessão (transação eletrônica) que disponibilizou o conteúdo.

O núcleo da rede A rede, através da qual o serviço IPTV é fornecido ao assinante, é de extrema importância, já que

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por ela deverá fluir todo o conteúdo a ser entregue. Tal rede existe entre os servidores e o acesso específico de cada usuário, a última milha. Assim, essa rede deve ser capaz de garantir requisitos mínimos de banda bem como de tempo de entrega e de variação desse tempo (jitter). Tais caraterísticas não são, em geral, obtidas na Internet, que é, por isso, caracterizada simplesmente como uma rede de melhor esforço. Em virtude disso, em geral, de forma a garantir a qualidade do serviço necessária, e por conseguinte satisfação no uso do sistema, redes privadas são empregadas. Muitas tecnologias têm sido empregadas no núcleo da rede, mas a tendência mais comum parece ser a migração para sistemas a fibra ótica. Para a implantação de IPTV é necessário escalar a capacidade de tráfego, já que devemos entregar um fluxo de vídeo a cada STB IPTV. Porém, comumente, grande parte dos assinantes ou telespectadores assiste concomitantemente a um mesmo programa. Assim, poderíamos reduzir os requisitos da rede utilizando o mesmo fluxo de vídeo e áudio para esses assinantes. O servidor de

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vídeo transmite os distintos programas de TV em um único fluxo multicast (isto é, de um transmissor para múltiplos receptores), ao invés de um fluxo unicast para cada espectador. Numa rede IP isso é obtido através do uso de um endereço IP virtual. O assinante que desejar esse fluxo, envia um pedido para recebê-lo. A infra-estrutura da rede se encarrega então de direcionar uma cópia do fluxo especificado para o STB requisitante. Temos assim uma utilização eficiente de banda, não importa quantos usuários recebam o mesmo vídeo, uma única cópia do fluxo de vídeo é enviada pela rede, que somente é replicado para os ramos da rede, nos quais esse fluxo tenha sido requerido ao menos uma vez. Se há mais de um assinante conectado a um ramo da rede, mesmo assim, apenas uma cópia do fluxo é requerida por esse ramo, pois o fluxo é replicado somente quando as conexões usarem ramos distintos. Quando um espectador não assiste mais ao programa de um fluxo dado, ele pede a desconexão e esse fluxo deixa de ser direcionado para ele. A infra-estrutura da rede acompanha quantos são os usuários do fluxo em cada ramo - quando não há mais assinantes no ramo da rede IPTV usando esse fluxo, este para de fluir pelo ramo. Isso permite escalar o tráfego. Porém, para que isso seja possível, toda a infra-estrutura da rede deve suportar esse paradigma, o que só pode ser garantido, hoje, por uma rede privada e não pela Internet.

Chegando ao assinante Na implantação de sistemas IPTV, a utilização de tecnologias xDSL tem sido bastante considerada no enlace final entre a operadora e o assinante, a última milha. Para prover a taxa necessária para atender uma quantidade razoável de assinantes utiliza-se uma fibra ótica cuja capacidade de transmissão é compartilhada por vários assinantes, e um DSLAM (DSL Access Multiplexer) divide os sinais para seus destinatários. Entretanto, há diversas implantações IPTV nas quais a última milha é provida usando fibra ótica. Note que nada impediria que as redes de TV a cabo migrassem para IPTV, sem que

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fosse mudado o enlace final entre a operadora e o assinante. Para tal, seria apenas necessário que o número de usuários que compartilham a banda de um mesmo ramo da rede cabeada diminuísse e que fosse disponibilizado um meio de alta capacidade para conectar cada ramo da rede cabeada à central de conteúdos. Note que essas não são as únicas três formas de implantar a IPTV, pois tecnologias sem fio cada vez mais eficientes estão sendo desenvolvidas e implementadas, como o WiMax. Isso leva a crer que, em não tão longo prazo, tais tecnologias possam ser empregadas na última milha de um sistema IPTV.

O papel do STB Obviamente, o STB terá um papel fundamental para o sucesso dessas aplicações, já que ele deverá possuir um processador capaz de executá-las. A estratégia mais comum é especificar um sistema operacional e um middleware, que é uma camada de software entre as aplicações e o hardware. Seu papel é fornecer uma máquina virtual, um ambiente sobre os quais as aplicações são executadas e podem acessar os recursos do STB, independentemente do seu modelo ou fabricante. Essa máquina virtual permite que as mais diversas aplicações sejam implementadas pelos mais diversos desenvolvedores, sem a necessidade de elaboração de software dependente da máquina real e a custos menores. É importante notar que, se por uma lado as aplicações discutidas trazem maior atratividade à IPTV, por outro elas aumentam o custo do STB, o que leva a um aumento do custo tanto do serviço IPTV quanto de sua implantação. Entretanto, deve-se salientar que, caso a IPTV realmente ocupe o lugar que a ela parece destinado, ou seja, o acesso ao conteúdo televisivo em grande escala e com grande penetração, a tendência é de incorporação da tecnologia envolvida no STB no próprio aparelho de TV. Assim como hoje os aparelhos de TV possuem entradas analógicas, digitais, etc., e configuram-se automaticamente, no futuro uma das entradas disponíveis poderá

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ser para receber IPTV automaticamente. Isso, por si só, permitiria uma economia de escala que, por sua vez, poderia reduzir o custo da assinatura/taxa de adesão ao serviço IPTV. Por outro lado, ainda existe o problema do controle de acesso ao conteúdo. Para isso, a principal solução hoje, que é a empregada nos STBs tanto de IPTV como de TV a Cabo, Satélite e TV terrestre paga, tende a ser a de esses aparelhos de TV com STB incluídos virem com uma entrada para smartcard onde o acesso é verificado e controlado. Cabe ressaltar que esta é a parte mais crítica do sistema, pois é ela que, permitindo o controle de acesso ao conteúdo, dá flexibilidade à cobrança do serviço e garante o lucro dos provedores.

Conclusão Um dos principais motivos, senão o principal, para a implantação de IPTV é a oportunidade que ela gera para que as companhias de telefonia recuperem parte das perdas de renda na provisão de serviços de voz. Essa renda tem diminuído, em termos de participação no mercado de comunicações, devido a mudanças no perfil de comunicação dos cidadãos, que têm encontrado outras soluções, de menor custo e maior disponibilidade para comunicarem-se, como e-mail, mensagens instantâneas, VoIP, e as próprias comunicações móveis. A IPTV consiste da entrega de TV utilizando o protocolo IP em uma rede privada. Assim, de forma a poder atender a cada assinante deverá disporse de um canal dedicado para o tráfego dos dados dos mesmos. Apesar da IPTV requerer uma capacidade de tráfego maior que a hoje disponível em redes de telefonia, isto deve ser pesado pelo fato de que, tanto a tecnologia que permite prover essa banda vem diminuindo de custo assombrosamente quanto pelo fato de que novas tecnologias que permitem reduzir a banda necessária vêm sendo desenvolvidas a passos largos. Assim, a IPTV encontra-se num ponto de virada. Porém, um dos aspectos fundamentais para que, não só a IPTV vingue, mas também para deter-

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minar algumas tendências, é o marco regulatório. É necessário saber como será interpretada a IPTV, se como um serviço de dados ou radiodifusão. Além disso, precisa ser determinado quem terá autorização para oferecer IPTV. Estes são aspectos que o Brasil precisa discutir urgentemente. Por exemplo, pode-se imaginar um serviço verticalmente integrado em que o provedor do conteúdo seja o mesmo que o de acesso. Mas, por outro lado, a legislação poderá especificar papéis bem definidos, com uma empresa (ou, preferencialmente, várias) disponibilizando o conteúdo através da rede de acesso das companhias de telefonia. A IPTV permitiria mudar o paradigma de cobrança pelo acesso a canais de comunicação, cobrando-se uma taxa fixa que cubra uma cesta de serviços. Hoje, serviços de voz são em geral cobrados por ligação completada (atendida do outro lado), além de uma assinatura mensal. No modelo IPTV, como a banda deverá estar disponível sempre, a assinatura poderia também incluir os custos de chamadas telefônicas, permitindo assim a redução das tarifas. Ainda, pode-se acreditar que, como os serviços ofertados serão basicamente os mesmos, independentemente do papel atual de quem vier a oferecer IPTV (uma operadora de TV a cabo ou de telefonia fixa ou sem fio), haverá uma grande concorrência pelo mesmo cliente. Conseqüentemente, a IPTV pode acarretar uma redução de tarifas de forma a atrair os assinantes. O que, para a realidade tarifária das comunicações brasileiras, seria de grande valia e poderia permitir a tão sonhada inclusão digital. A inclusão dos recursos tecnológicos para acesso a IPTV nos próprios aparelhos de TV, eliminando o STB, parece ser bastante provável. Isso permite fazer alguns exercícios de imaginação e futurismo bem interessantes. Por exemplo, em um cenário o assinante compra um STB/aparelho de TV qualquer, assina um serviço de IPTV e insere o smartcard correspondente em seu aparelho, e utiliza sua linha telefônica para ter acesso ao serviço. Uma cadeia como essa permitiria ao usuário não só ter acesso a toda gama de serviços possíveis

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Aplicações e tendências da IPTV

via IPTV, como também optar e escolher de quem vai receber cada serviço. Isso geraria recursos que poderiam ser distribuídos ao longo de toda a cadeia envolvida entre o usuário e os conteúdos ofertados pelo serviço IPTV. Obviamente, isso dependeria da utilização de padrões abertos nos vários sistemas empregados, onde o funcionamento dos sistemas pode ser conhecido por qualquer um, diferentemente do que ocorre com padrões proprietários. A principal objeção ao emprego de padrões abertos parece ser nos sistemas de acesso condicional; entretanto, como esses podem estar contidos no smartcard, o cenário apresentado parece ser uma tendência bastante viável.

Tradução dos autores para “IPTV is defined as multimedia services such as television/video/audio/ text/graphics/data delivered over IP based networks managed to provide the required level of QoS/QoE, security, interactivity and reliability”

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Aplicações e tendências da IPTV

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Eduardo Antônio Barros da Silva é engenheiro eletrônico graduado pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), concluiu o mestrado na mencionada área na Universidade Federal do Rio de JaneiroCOPPE/UFRJ) e Ph.D. em Eletrônica pela Universidade de Essex, Inglaterra. Lisandro Lovisolo é engenheiro eletrônico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde concluiu o mestrado e doutorado na mesma área.

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OpINIÃO

MANuEl AuGuSTO pINTO CARdOSO

Revista T&C - Qual a longevidade da TV Digital Terrestre, considerando a possibilidade real da IPTV para nosso País? manuel Cardoso - A longevidade da TV Digital Terrestre será decorrente fundamentalmente dos investimentos em infra-estrutura para internet banda larga no País, pois as vantagens tecnológicas oferecidas pela IPTV a tornam uma opção definitiva para o futuro das comunicações digitais. Com o crescimento dos usuários de banda larga da internet, poderá haver cada vez mais uma redução de custos proveniente de seu uso, o que possibilitará o acesso desse serviço para parte da população de menor renda, que como sabemos no Brasil representa uma parte significativa da população. Havendo com isso um círculo virtuoso da redução de custos, em função da expansão da base de consumidores e vice-versa. Outrossim, um outro fator decisivo na aceleração da consolidação da IPTV, decorre do advento e crescimento da tecnologia de convergência digital, que já possibilita o uso de serviços de entretenimento (TV, DVD e Aúdio) num computador

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pessoal, que poderá ser fixo (notebooks) ou móvel (telefones celulares). Esses produtos estão num forte processo de “comoditização”, que decorre numa significativa queda de preços, expandindo o seu acesso à população de baixa renda, inclusive com apoio de políticas governamentais para a inclusão digital. Para os geradores de conteúdo, isso significa uma oportunidade favorável a curto prazo, por representar uma diminuição dos investimentos diretos que se fazem necessários em infra-estrutura para transmissão e recepção. Além de uma expansão de seu mercado consumidor com novas oportunidades de negócios e serviços para um mercado globalizado. Todavia, a médio e longo prazos também poderá representar uma ameaça, em virtude da forte competitividade que terá, em função da entrada direta de um número significativamente maior de oferta de conteúdos do mercado globalizado, que passará a ter acesso ao mercado do País. Isso vai exigir, por parte das empresas de conteúdo nacionais, maior especialização e regionalização de seus conteúdos, que ofereçam uma

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Opinião

competitividade diferenciada. No entanto, isso poderá exigir mais qualidade na geração desse conteúdo e assim demandar mais investimentos para manter essa geração. Este risco pode levar até mesmo a absorção dessas empresas nacionais pelas grandes corporações globais, geradoras de conteúdo, e até mesmo uma perda dos valores culturais regionais.”

Manuel Augusto Pinto Cardoso é doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente, é professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

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dEpOIMENTO

Vantagens e peRspectiVas da tRansmissão digital paRa a Zfm MAuRICIO ElíSIO MARTINS lOuREIRO

A

s abordagens aqui referenciadas certamente poderão dar ao leitor da revista T&C Amazônia uma visão mais verdadeira e coerente do que poderá representar a transmissão digital em nosso País, que acontecerá a partir do próximo dia 2 de dezembro. Isso, não somente para São Paulo, que terá o privilégio de fazê-lo num primeiro momento, aumentando assim a responsabilidade do Governo Federal na escolha do Estado que dará o pontapé nesse jogo de bilhões de reais. Digo isso em função não só de tudo que até o momento cercou essa mirabolante modificação no sistema brasileiro de transmissão, que passará de analógica para digital, dando a partir daí o tom da diferenciação entre o moderno e o ultrapassado. Todavia, o ultrapassado ainda perdurará por pelo menos uns dez anos, quiçá até mais, a depender do vigor dos investimentos, da curiosidade dos consumidores, do tamanho do bolso de cada um e do quanto antes plugarem-se no novo sistema, que poderá oferecer maiores vantagens de interatividade e participação entre quem gerará o conteúdo e T&C Amazônia, Ano V, Número 12, Outubro de 2007

quem decidirá sobre a melhor maneira de acessálo. As opções dos conteúdos de maior identificação com cada um dos seus novos telespectadores e interlocutores influenciarão em definitivo a transmissão e seus serviços oferecidos. Tudo isso poderá abrir imensas janelas de oportunidades no Brasil e fora dele. Porém, com absoluta certeza, muitos dos que se prepararam para este evento poderão usufruir de grandes benefícios, seja mediante a aplicação das tecnologias existentes no mundo ou seja pelos investimentos já realizados em pesquisa e desenvolvimento (P&D), ou ainda em parcerias estratégicas que poderão colocar os que normalmente enxergam além das árvores, alcançando, assim, grande vantagem mercadológica. Olhando pela janela das oportunidades, podemos vislumbrar para a Zona Franca de Manaus (ZFM), ou se quiserem para o Pólo Industrial de Manaus (PIM), perspectivas positivas sobre esta nova maravilha que poderá ser a transmissão digital, associada aos produtos e serviços que o Pólo Industrial de Manaus oferecerá como produtor de


Vantagens e perspectivas da transmissão digital para a ZFM

televisores, seja em CRT, Plasma ou LCD, com recepção digital ou seja através dos aparelhos de set-top box. Estes serão produzidos também em Manaus, graças à visão estratégica do Governo Federal - diga-se presidente Lula - em apoiar o desenvolvimento com valor agregado dos produtos numa mesma cadeia de produção. Os números com relação ao faturamento de mercado relativamente às novas opções de negócios são alvissareiros. Contudo, não podemos festejar sem a certeza de que o desafio de termos a primazia da produção de televisores e set-top box serão complementados com o esforço que a classe empresarial precisa imprimir ao desafio de atender às necessidades de mercado e as suas mais tenras exigências. Por outro lado, podemos estar certos de que na cadeia produtiva do Pólo Industrial de Manaus estarão inseridas novas tecnologias nessa área, cuja tônica destacará o desenvolvimento de hardware e software. Parcerias com grandes empresas poderão demonstrar serem viáveis pesquisas e desenvolvimento de produtos com tecnologia digital em centros tecnológicos aqui instalados. As versões políticas inseridas no contexto nacional, de que a ZFM e seu Pólo Industrial não são capazes de desenvolver produtos e serviços na era digital, serão apenas lamúria de página virada, quando estiverem no mercado nacional os televisores com conversores adaptados ou mesmo o próprio conversor set-top box, comercializados a preços justos. O mercado de certo saberá a diferença entre um produto de qualidade produzido por trabalhadores brasileiros, em plena Amazônia, e um produto de qualidade duvidosa produzido na China ou mesmo na Índia. A bem da verdade, milagres não existem no mundo tecnológico, salvo aqueles existentes na competitividade dos países asiáticos, cujos custos de produção, incluindo-se a mão-de-obra, são verdadeiros acintes ao racional competitivo entre as nações. Ao finalizar, proponho que façamos um exercício da lógica dos negócios e dos mercados. Será que depois de quarenta anos dedicados à eletrô-

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nica de entretenimento e às suas bases de sustentação, não seremos capazes de mais uma vez oferecermos ao Brasil produtos que coloquem os brasileiros na era da transmissão digital, sem que nenhum cataclismo afete os interesses dos maiores centros de competitividade do País?

Mauricio Elísio Martins Loureiro Presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM)

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ARTIGO

supoRte paRa desenVolVimento de aplicações multiusuáRio e multidispositiVo paRa tV digital com ginga

lINCOlN dAVId NERy E SIlVA, CARlOS EduARdO COElhO FREIRE BATISTA, luIz EduARdO CuNhA lEITE E GuIdO lEMOS dE SOuzA FIlhO

INTRodução O presente artigo visa descrever as definições do middleware Ginga que permitem o desenvolvimento de aplicações de TV Digital multiusuário e multidispositivo através da conexão do receptor de TV com dispositivos móveis, em uma HAN (Home Área Network). O Ginga é o padrão de middleware do Sistema Brasileiro de TV Digital, que dá suporte à aplicações declarativas e procedurais, sendo compatível com as definições internacionais ITU J.200 [3], J.201 [4] e J.202 [5]. As definições da parte procedural do Ginga, o Ginga-J, é que incluem as APIs (Application Program Interfaces) que permitem o desenvolvimento de aplicações que podem utilizar recursos disponíveis nos dispositivos conectados ao receptor de TV Digital.

aRquITeTuRa do mIddLewaRe gINga O universo das aplicações para televisão digital pode ser dividido em dois conjuntos: o das aplicações declarativas e o das aplicações procedurais. Uma aplicação declarativa é aquela em que sua T&C Amazônia, Ano V, Número 12, Outubro de 2007

entidade “inicial” é do tipo “conteúdo declarativo”. Analogamente, uma aplicação procedural é aquela em que sua entidade “inicial” é do tipo “conteúdo procedural”. Um conteúdo declarativo deve ser baseado em uma linguagem declarativa, isto é, em uma linguagem que enfatiza a descrição declarativa do problema, ao invés da sua decomposição em uma implementação algorítmica [4]. Um conteúdo procedural deve ser baseado em uma linguagem não declarativa. Linguagens não declarativas podem seguir diferentes paradigmas. Tem-se assim, as linguagens baseadas em módulos, orientadas a objetos, etc. A literatura sobre televisão digital, no entanto, utiliza o termo procedural para representar todas as linguagens que não são declarativas. Numa programação procedural, o computador deve obrigatoriamente ser informado sobre cada passo a ser executado [5]. Pode-se afirmar que, em linguagens procedurais, o programador possui um maior poder sobre o código, sendo capaz de estabelecer todo o fluxo de controle e execução de seu programa - como existem mais recursos disponíveis o grau


Suporte para desenvolvimento de aplicações multiusuário e multidispositivo para TV Digital com Ginga

de complexidade é maior. A linguagem mais usual encontrada nos ambientes procedurais de um sistema de TV digital é Java[6]. O Ginga-NCL[2] (ou Máquina de Apresentação) é um subsistema lógico do Sistema Ginga que processa documentos NCL. Um componente-chave do Ginga-NCL é o mecanismo de decodificação do conteúdo informativo (NCL formatter). Outros módulos importantes são o usuário baseado em XHTML, que inclui uma linguagem de estilo (CSS) e intérprete ECMAScript, e o mecanismo LUA, que é responsável pela interpretação dos scripts LUA. O Ginga-J[1] (ou Máquina de Execução) é um subsistema lógico do Sistema Ginga que processa aplicações procedurais (Xlets Java). Um componente-chave do ambiente do aplicativo procedural é o mecanismo de execução do conteúdo procedural, que tem por base uma Máquina Virtual Java. Decodificadores comuns de conteúdo devem servir para as necessidades de aplicativos tanto procedurais quanto informativos de decodificação e apresentação de conteúdos comuns do tipo PNG, JPEG, MPEG e outros formatos. O Ginga-Core é

composto por decodificadores e procedimentos comuns de conteúdo para obter conteúdos transportados em fluxos de transporte MPEG-2 (TS) e através de um canal de retorno. A arquitetura (ver Figura 1) e as facilidades da especificação Ginga devem ser destinadas à aplicação em sistemas e receptores de transmissão para transmissão terrestre (over-the-air). Além disso, a mesma arquitetura e facilidades podem ser aplicadas a outros sistemas de transporte (como sistemas de televisão via satélite ou cabo). Ginga-J – A porção procedural do Middleware Brasileiro A Figura 2 apresenta o contexto em que a pilha do software Ginga-J é executada. O Ginga-J é uma especificação de middleware distribuído, que reside em um dispositivo Ginga (dispositivo que embarque o middleware Ginga – um receptor de televisão digital), com possibilidade de possuir componentes de software nos dispositivos de interação (celulares, PDA, etc). O dispositivo Ginga deve ter acesso a fluxos de

Figura 1 - Arquitetura em alto nível do middleware Ginga

Figura 2 - Contexto do Ginga-J

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vídeo, áudio, dados e outros recursos de mídia, que devem ser transmitidos através do ar, cabo, satélite ou através de redes IP. As informações recebidas devem ser processadas e apresentadas aos telespectadores [8][12]. O telespectador pode interagir com o dispositivo Ginga através de dispositivos de interação que podem conter componentes de software Ginga, de forma que o dispositivo de interação possa enviar informações para o dispositivo Ginga utilizando as funcionalidades providas na especificação Ginga, ou seja, estes componentes de software que podem ser instalados nos dispositivos de interação permitem que as funcionalidades dos mesmos sejam exploradas, utilizando funcionalidades da API Ginga-J, por aplicações nos dispositivos Ginga (receptores de televisão digital). Para que um dispositivo de interação possa ser utilizado ele deve estar registrado com o dispositivo Ginga e durante esse processo o dispositivo de interação pode receber o componente de software necessário para viabilizar a comunicação com o dispositivo Ginga. Como resposta à informação enviada pelo telespectador, o dispositivo de Ginga deve apresentar a saída de vídeo e áudio utilizando seu próprio monitor e alto-falantes ou os dos dispositivos de interação. Um único dispositivo pode ter capacidade de entrada e saída simultâneas. Por exemplo, um dispositivo de interação pode ser um PDA conectado à plataforma Ginga através de uma rede sem fio. Utilizando tal dispositivo de interação, um telespectador pode enviar comandos (eventos de usuário) à plataforma através do teclado PDA e os aplicativos da plataforma podem enviar conteúdo visual para ser apresentado na tela do PDA. Um dispositivo de interação pode também ter capacidades de captura e reprodução de som, de forma que o telespectador possa enviar fluxos de áudio e vídeo para o dispositivo Ginga, utilizando os dispositivos de interação que dêem suporte a essa funcionalidade. Vários telespectadores podem interagir com a plataforma Ginga, simultaneamente. Nesse caso,

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cada telespectador pode ter um dispositivo de interação e a plataforma deve distinguir os comandos enviados por e para cada dispositivo. O dispositivo Ginga pode também enviar informações para os transmissores de conteúdo quando da existência de um canal de retorno (conexão com a Internet, por exemplo).

Inovações do Ginga-J Quando o governo brasileiro guiou as pesquisas no desenvolvimento do middleware de referência para a Televisão Digital Brasileira, ele determinou alguns requisitos importantes a serem preenchidos. Esses requisitos foram em sua maioria baseados em algumas particularidades do contexto social brasileiro. Por exemplo, apenas 32,1 milhões de pessoas têm acesso à Internet, o que representa 21% da população brasileira - o governo brasileiro definiu então que a televisão digital deveria ser uma ferramenta para a inclusão digital, uma vez que a televisão está presente em 91% dos lares brasileiros. Durante o desenvolvimento do middleware procedural de referência para o Sistema de TV Digital Brasileiro foram conduzidos muitos estudos sobre as principais soluções de middleware para TV digital adotadas mundialmente e, uma vez que a maioria das especificações estava baseada nas especificações do GEM[9] e do J.202, ficou claro que alguns requisitos não seriam alcançados, uma vez que o contexto europeu (que guiou o desenvolvimento do MHP[10]) é muito diferente do brasileiro. As funcionalidades inovadoras do Ginga-J, providas por suas APIs, permitem o desenvolvimento de aplicações avançadas, explorando a integração com outros dispositivos tais como telefones celulares, PDAs, etc. Essa integração foi motivada por um outro número: o Brasil correntemente possui 79,5 milhões de telefones celulares. Um telefone celular pode ser utilizado como um canal de retorno para o ambiente de TV, ou usado como um controle remoto, ou ainda como um dispositivo de interação (para responder a enquetes de maneira individual,

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por exemplo), etc. Uma vez que essas funcionalidades são todas implementadas utilizando protocolos comuns tais como Bluetooth, USB, Wi-Fi, etc., o Ginga é compatível com diversos dispositivos.

A API de Integração com Dispositivos A API de Integração de Dispositivos agrega ao Ginga funcionalidades relacionadas à maneira como é feita a interação dos usuários com o receptor de TV Digital A API integra as especificações do Ginga-J e foi completamente idealizada e especificada pelo grupo de trabalho responsável pelos estudos do middleware para o Sistema Brasileiro de TV Digital. Não existe nenhuma especificação de middleware no mundo [9][10][13][14] que ofereça funcionalidades equivalentes, sendo o Ginga o primeiro middleware que integra o receptor de TV Digital ao modelo HAN (Home Area Network). As funcionalidades inovadoras oferecidas pela API permitem o uso de diversos dispositivos de interação para comunicação com o receptor que hospeda o middleware Ginga e viabilizam que as aplicações interativas utilizem os recursos disponíveis nesses dispositivos. Tais dispositivos devem possuir um componente (módulo) do Ginga instalado – uma pequena parte móvel do Ginga que é responsável por gerenciar o protocolo de comunicação entre a instância Ginga no receptor de TV digital e o componente do Ginga no próprio dispositivo. Dentre os possíveis dispositivos podemos citar celulares, PDAs, computadores portáteis e virtualmente qualquer outro dispositivo móvel com capacidade de processamento e comunicação; podemos imaginar “controles remotos avançados” compatíveis com o Ginga. Para que os dispositivos possam ser efetivamente utilizados pelo Ginga eles precisam estar registrados junto ao middleware. O registro deve ser feito pela própria interface do sistema, que deve permitir a conexão de dispositivos através de diferentes redes: Bluetooth, wi-fi, infra-vermelho, USB entre outras, ficando a critério do desenvolvedor

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do receptor decidir que meios de conexão estarão disponíveis. O registro junto ao middleware só é possível para dispositivos que já possuem o módulo Ginga instalado, porém o processo de instalação também pode ser realizado pela interface do sistema: o componente móvel do Ginga pode ser um Midlet num celular com tecnologia Java ou uma aplicação Symbian para dispositivos com sistema operacional Symbian, e o módulo móvel do Ginga pode ser automaticamente transferido do receptor de TV digital para o dispositivo onde o componente deve ser instalado. Uma vez que um dispositivo esteja registrado junto ao Ginga (conectado) sua interação com o mesmo pode ser feita de forma automática: os recursos presentes no dispositivo, como teclado, tela, microfone, câmera, alto-falantes e outros, estarão disponíveis para as aplicações através da API de Integração de Dispositivos do Ginga. Como exemplo de uso simples, podemos conectar um celular ao Ginga e passar a usar o seu teclado como controle remoto e dispor de suas funcionalidades básicas – troca de canal, controle do volume do som, etc; em um outro caso, uma aplicação interativa em execução poderá dispor de uma segunda tela de exibição (a tela do celular), que pode ser utilizada para apresentar ao usuário informações adicionais às exibidas na tela da televisão. Os recursos dos dispositivos disponíveis para as aplicações dependem dos dispositivos conectados com o receptor – caso um celular possua câmera, será possível, por exemplo, que uma aplicação requisite a captura de uma imagem de tal dispositivo. A API dispõe de métodos para consulta de quais recursos estão disponíveis em cada dispositivo conectado. A API de Integração de Dispositivos oferece a funcionalidade de identificar a origem de cada interação, relacionando-a a cada dispositivo individualmente. Essa característica viabiliza aplicações multiusuário. Uma aplicação simples que pode explorar essa característica seria um Quiz (questionário). Tal aplicação comumente espera a resposta do usuário

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para cada pergunta por meio do clique no controle remoto (ou de qualquer dispositivo conectado, caso a aplicação esteja sendo executada no Ginga), e então pula para a próxima pergunta; ao final a pontuação do usuário é apresentada. No Quiz multiusuário, utilizando as APIs Ginga, é possível se identificar qual dispositivo originou cada resposta para o questionário, passando para as próximas perguntas apenas quando todos dispositivos individualmente respondessem a cada pergunta. Cada dispositivo representaria um usuário único da aplicação, e esta controla a pontuação de cada um desses usuários individualmente, e ao final do Quiz a pontuação de cada um seria exibida – inclusive nas telas dos dispositivos. A Especificação A especificação já está disponível juntamente com a Norma Ginga-J, atualmente em consulta pública da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Apesar das funcionalidades avançadas presentes na API, ela é bastante simples, pequena e apresenta uma interface familiar às interfaces já utilizadas para a construção de Xlets – algumas funcionalidades foram baseadas no Havi[7] e os desenvolvedores provavelmente não encontrarão problemas para usar a nova API e, assim, incrementarem suas aplicações. A API especifica apenas um pacote, o pacote br.org.sbtvd.interactiondevices, cujas classes componentes serão detalhadas a seguir: a) Classe GRemoteDeviceManager A classe GRemoteDeviceManager define um objeto que deve administrar todas as conexões com os dispositivos de interatividade registrados com o Ginga. Os métodos públicos disponíveis são: • static GRemoteDeviceManager getInstance () Este método retorna um objeto GRemoteDeviceManager. • GRemoteDevice[] getActiveDeviceList() Este método retorna um array conten-

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do objetos GRemoteDevice referenciando cada um dos dispositivos de interatividade registrados com o Ginga. b) Classe GRemoteDevice A classe GRemoteDevice define um objeto que deve ser uma representação abstrata de um dispositivo de interação. Essa classe oferece métodos que possibilitam a recuperação de informações acerca dos dispositivos registrados (tipo do dispositivo, funcionalidades disponíveis, etc.), bem como explorar as funcionalidades disponíveis do mesmo (utilizar recursos de gravação de áudio, vídeo, captura de imagens, etc.). As constantes públicas estáticas presentes na classe GRemoteDevice são: • int KEYBOARD_FACILITY Um valor inteiro que representa a funcionalidade de teclado de um dispositivo de interação. • int SCREEN_FACILITY Um valor inteiro que representa a funcionalidade de tela de um dispositivo de interação. • int SOUND_CAPTURE_FACILITY Um valor inteiro que representa a funcionalidade de captura de áudio de um dispositivo de interação. • int SOUND_PLAYER_FACILITY Um valor inteiro que representa a funcionalidade de reprodução de áudio de um dispositivo de interação. • int PICTURE_CAPTURE_FACILITY Um valor inteiro que representa a funcionalidade de captura de imagens de um dispositivo de interação. • int VIDEO_CAPTURE_FACILITY Um valor inteiro que representa a funcionalidade de captura de vídeo de um dispositivo de interação. • int VIDEO_PLAYER_FACILITY Um valor inteiro que representa a funcionalidade de reprodução de vídeo de um dispositivo de interação.

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int DIALING_FACILITY Um valor inteiro que representa a funcionalidade de efetuar ligações telefônicas de um dispositivo de interação. Os métodos públicos da classe GRemoteDevice são: • int getID() Este método retorna um inteiro representando o identificador de um dispositivo de interação. • String getDescription() Este método retorna uma string (cadeia de caracteres) contendo a descrição do dispositivo de interação. • int[] getFacilities() Este método retorna um vetor de inteiros onde cada item representa uma funcionalidade suportada pelo dispositivo. • String getParameter(String name) Este método recebe uma string contendo um mnemônico para um parâmetro (característica) relacionada a um dispositivo de interação (por exemplo, a área da tela em pixels representado pelo mnemônico “screen_area”) e retorna o valor correspondente em uma String (por exemplo “640x480”). Estes parâmetros (e seus respectivos mnemônicos) dependem do dispositivo de interação em questão. • boolean isActive() Este método retorna um valor booleano (verdadeiro ou falso) representando o estado do dispositivo: verdadeiro (true) se o dispositivo estiver ativo, falso (false) se o dispositivo estiver inativo ou não registrado com o Ginga. • void addActionListener(GRemoteDeviceA ctionListener lis) Este método registra o dispositivo em um Listener do tipo GRemoteDeviceActionListener (passado como parâmetro). • void removeActionListener(HRemoteDevic eActionListener lis) Este método desregistra o dispositivo •

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de Listener do tipo GRemoteDeviceActionListener (passado como parâmetro). int submitFile(java.io.File file) throws java. io.IOException Este método envia um arquivo (passado como parâmetro) para o dispositivo. O método retornará um valor inteiro igual ao tamanho do arquivo em bytes em caso de sucesso ou -1 (menos um) em caso de falha. Este método pode lançar uma exceção do tipo java.io.IOException. void startAudioRecording() throws IOException Este método inicia a captura de áudio no dispositivo. Este método pode lançar uma exceção do tipo java.io.IOException. void stopAudioRecording() throws IOException Este método finaliza a captura de áudio no dispositivo. Este método pode lançar uma exceção do tipo java.io.IOException. void startVideoRecording() throws IOException Este método inicia a captura de vídeo no dispositivo. Este método pode lançar uma exceção do tipo java.io.IOException. void stopVideoRecording() throws IOException Este método finaliza a captura de vídeo no dispositivo. Este método pode lançar uma exceção do tipo java.io.IOException. int takePicture() throws java. io.IOException Este método dispara a captura de uma fotografia no dispositivo. Este médoto pode lançar uma exceção do tipo java. io.IOException. void dialNumber(String number) Este método faz com que o dispositivo efetue uma ligação telefônica para o número passado como parâmetro em uma cadeia de caracteres (string). Este método pode lançar uma exceção do tipo java. io.IOException.

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Suporte para desenvolvimento de aplicações multiusuário e multidispositivo para TV Digital com Ginga

org.havi.HScene getHScene() Este método retorna um objeto do tipo org.havi.HScene, relativo ao dispositivo, de forma que elementos de interface possam ser manipulados no objeto HScene de cada dispositivo de interação.

c) Interface GRemoteDeviceActionListener A interface GRemoteDeviceActionListener deve conter métodos que devem ser implementados por qualquer objeto que deva ser notificado sobre eventos relacionados às atividades dos dispositivos de interação registrados com o Ginga. O método público que deverá ser implementado: • void notifyDeviceEvent(GRemoteEvent

event) Este método notifica o objeto que implementa a interface GRemoteDevice ActionListener acerca de eventos que ocorreram nos dispositivos, através da passagem de um objeto GRemoteEvent como parâmetro.

d) Classe GRemoteEvent A classe GRemoteEvent descreve um objeto que representa um evento relacionado a um dispositivo de interação registrado com o Ginga. Este objeto encapsula dados relacionados ao evento. As constantes públicas estáticas presentes na classe GRemoteEvent são: • int AUDIO_REQUEST Um valor inteiro que define que o evento está relacionado a uma requisição por áudio e contém o estado dessa requisição encapsulado. • int VIDEO_REQUEST Um valor inteiro que define que o evento está relacionado a uma requisição por vídeo e contém o estado dessa requisição encapsulado. • int PICTURE_REQUEST Um valor inteiro que define que o evento está relacionado a uma requisição por

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imagem e contém o estado dessa requisição encapsulado. int FILE_TRANSFER Um valor inteiro que define que o evento está relacionado a uma requisição por transferência e contém o estado dessa requisição encapsulado. int NUMBER_DIALED Um valor inteiro que define que o evento está relacionado ao estabelecimento de uma ligação telefônica (por parte do dispositivo de interação) e contém o estado dessa requisição encapsulado. int AUDIO_DATA Um valor inteiro que define que o evento possui dados de áudio encapsulados. int VIDEO_DATA Um valor inteiro que define que o evento possui dados de vídeo encapsulados. int PICTURE_DATA Um valor inteiro que define que o evento possui uma imagem encapsulada. int KEY_DATA Um valor inteiro que define que o evento possui um evento de teclas encapsulado. métodos públicos da classe GRemoteEvent

Os são: • Object getSource() Este método retorna um Object referenciando o dispositivo de interação (GRemoteDevice) que foi a fonte do evento em questão. • int getType() Este método retorna um valor inteiro de acordo com o tipo do evento em questão (de acordo com as constantes estáticas definidas na mesma classe). • byte[] getData() Este método retorna os dados relacionados ao evento em questão. • String getDescription() Este método retorna uma cadeia de caracteres (String) relacionada a uma descrição do evento em questão.

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boolean isSuccessful() Este método retorna um valor booleano (verdadeiro ou falso) representando o estado do evento: se verdadeiro (true) o evento foi bem-sucedido, falso (false) em caso contrário.

e) Classe GRemoteKeyEvent A classe GRemoteKeyEvent estende java.awt. event.KeyEvent, e é relacionada a eventos de teclas originados em dispositivos de interatividade. Sua utilização é feita da mesma maneira como nos eventos awt normais, bastando fazer um downcasting quando necessário. Os métodos públicos da classe GRemoteKeyEvent são: • GRemoteDevice getSourceDevice() Este método retorna um objeto GRemoteDevice referenciando o dispositivo de interação que foi a fonte do evento em questão. f) Classe GRemoteUserEvent A classe GRemoteUserEvent estende org. dvb.event.UserEvent, e é relacionada a eventos do usuário originados em dispositivos de interatividade. Os métodos públicos da classe GRemoteUse rEvent são: • GRemoteDevice getSourceDevice() Este método retorna um objeto GRemoteDevice referenciando o dispositivo de interação que foi a fonte do evento em questão. Impacto na adaptação de aplicações GEM Um forte requisito considerado durante a fase de especificação e, posteriormente nas primeiras implementações de referência, era a de deixar sua interface a mais familiar possível, além de garantir que as aplicações existentes possam vir a utilizar a API Ginga com pouco impacto na sua reengenharia – poucas chamadas devem ser adicionadas ao código da aplicação.

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A forma como os eventos de usuário são capturados pela aplicação é idêntica à utilizada pelos padrões de middleware compatíveis com o GEM. Seja usando AWT ou a classe UserEvent do sistema DVB-MHP, os Xlets existentes precisam apenas fazer um downcasting para as classes equivalentes definidas na API e, assim, poderão identificar qual dispositivo gerou eventos para a aplicação. Para captura de eventos convencional, nenhuma chamada no código precisa ser alterada – apenas para identificação do dispositivo teremos duas linhas de código adicionadas (com relação a uma aplicação GEM), como pode ser visualizado no código fonte de exemplo presente nesse artigo. Ainda na parte de dispositivos, a notificação de atividade dos mesmos é feita através do uso de ouvintes (listerners), o que facilita o trabalho do desenvolvimento já que essa estratégia é familiar aos desenvolvedores Java[11].

Conclusão O presente artigo descreveu as definições do middleware Ginga que permitem o desenvolvimento de aplicações de TV Digital multiusuário e multidispositivo através da conexão do receptor de TV com dispositivos móveis, em uma HAN (Home Area Network). Utilizando esses novos recursos, uma nova gama de aplicações em TV se torna factível, visto que a interatividade na televisão deixa de ser a experiência individual oferecida pelos sistemas de TV digital atuais e assume a coletividade que é inerente ao ambiente televisivo.

BIBLIOGRAFIA [1] SOUZA FILHO, Guido Lemos de; LEITE, Luiz Eduardo Cunha; BATISTA, Carlos Eduardo Coelho Freire. Ginga-J: The Procedural Middleware for the Brazilian Digital TV System. In: ______ Journal of the Brazilian Computer Society. No. 4, Vol. 13. p.47-56. ISSN: 0104-6500. Porto Alegre, RS, 2007.

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[2] SOARES, Luiz Fernando Gomes; RODRIGUES, Rogério Ferreira; MORENO, Márcio Ferreira. Ginga-NCL: the Declarative Environment of the Brazilian Digital TV System. In: ______ Journal of the Brazilian Computer Society. No. 4, Vol. 13. p.37-46. ISSN: 0104-6500. Porto Alegre, RS, 2007. [3] ITU Recommendation J.200:2001, Worldwide common core – Application environment for digital interactive television services. [4] ITU Recommendation J.201:2004, Harmonization of declarative content format for interactive television applications. [5] ITU Recommendation J.202:2003, Harmonization of procedural content formats for interactive TV applications. [6] Sun Microsystems, Java TV API, <http://java. sun.com/products/javatv/>. [7] HAVi Level 2 Graphical User-Interface:2006, Specification of the Home Audio/Video Interoperability (HAVi) Architecture. HAVi, Inc. 2001. <http://www.havi. org>. [8] DAVIC 1.4:1998, Part 2 – DAVIC Specification Reference Models and Scenarios, <http://www.davic.org>. [9] DVB Document A103 – Globally Executable MHP (GEM) Specification 1.1. DVB Bluebook, 2007. <http://www.mhp. org/mhp_technology/gem/a103r1. tm3567r1.GEM1.1.1.pdf> [10] TS 102 812:2003, Digital video broadcasting (DVB) multimedia home platform (MHP). [11] Sun Microsystems, Java Media Framework API (JMF), <http://java.sun.com/products/ java-media/jmf/index.jsp>

Lincoln David Nery e Silva é aluno do curso de mestrado em Informática na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Trabalha há quatro anos com projetos de pesquisa acadêmicos em Vídeo e TV Digital. Atuou no projeto FlexTV, FlexTV, cuja junção com o MAESTRO originou o Ginga, padrão de Middleware adotado no Sistema Brasileiro de TV Digital. Atualmente é membro do Grupo de Trabalho de TV Digital da RNP e trabalha com o desenvolvimento do middleware Ginga para diversas plataformas - lincoln@lavid.ufpb.br

Carlos Eduardo Coelho Freire Batista é aluno do curso de mestrado em Informática na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Trabalha há quatro anos com projetos de pesquisa em Vídeo e TV Digital. Atuou como gerente de Qualidade e Processo no projeto FlexTV, cuja junção com o MAESTRO originou o Ginga, padrão de Middleware adotado no Sistema Brasileiro de TV Digital. Atualmente é membro do Grupo de Trabalho de TV Digital da RNP e trabalha no projeto de redação da Norma Brasileira de TV Digital Terrestre (middleware procedural) - bidu@lavid.ufpb.br

Luiz Eduardo Cunha Leite é graduado em Engenharia de Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e mestre em Sistemas e Computação pela mesma universidade. Atualmente é aluno de doutorado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi o responsável pelo gerenciamento técnico do projeto FlexTV, que resultou na proposta do middleware Ginga, adotado como padrão no Sistema Brasileiro de Televisão Digital - leduardo@lavid.ufpb.br

[12] ARIB STD-B10:2004, Service information for digital broadcasting system. [13] ATSC Standard:2005, Advanced Common Application Platform (ACAP) [14] CableLabs:2005, OpenCable Application Platform Specification – OCAP 1.0 Profile. T&C Amazônia, Ano V, Número 12, Outubro de 2007

Guido Lemos de Souza Filho é professor do Departamento de Informática da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Concluiu o doutorado em 1997, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de

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Janeiro (PUC-Rio). É coordenador do Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital da UFPB, onde são desenvolvidas aplicações nas áreas de televisão digital, ambientes virtuais colaborativos e servidores de vídeo. É um dos responsáveis pela definição do middleware Ginga, adotado como padrão no Sistema Brasileiro de Televisão Digital guido@lavid.ufpb.br

Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital – LAViD Departamento de Informática – Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

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CONTRApONTO NIVEllE dAOu juNIOR E ROBERTO AROSO CARdOSO

T&C Amazônia fez a mesma pergunta para dois convidados envolvidos com o tema TV Digital. Os convidados são: nivelle Daou Junior, Diretor-Técnico da Rede Amazônica de Televisão e Roberto Aroso Cardoso, Presidente da Associação Brasileira de Telecomunicações (TELECOM). Acompanhe a seguir o resultado: Revista T&C - Tendo em vista a escolha do padrão ISDB-T, no que tange ao modelo de negócios para a TV digital, como você analisa as divergências entre as empresas de radiodifusão e as operadoras de telecom ? Nivelle daou Junior - A escolha pelo sistema ISDB-T para a televisão digital no Brasil foi acertada por diversas razões, as quais menciono em primeiro lugar, o padrão que se buscou para a TV digital no Brasil deveria atender às seguintes premissas: melhor qualidade, imagem sem ruídos ou fantasmas; permitir HDTV (fundamental para concorrer com outras mídias que já dispõem de High Definition, como internet, TV paga, DTH, DVD-HD, etc.); mobilidade e portabilidade e inte-

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ratividade. Em segundo lugar, o padrão americano (ATSC) foi descartado por não permitir mobilidade e portabilidade. O padrão europeu (DVB) embora permita mobilidade, quando é utilizado dentro do canal padrão de emissora brasileira com largura de banda de 6 MHz, não permitiria a transmissão do canal principal em High Definition, pois não haveria banda suficiente, pois para alta definição necessita-se de pelo menos 17 Mbps, conforme mostra a tabela abaixo.


Contraponto

Em terceiro lugar, os países que adotaram o DVB tiveram que se utilizar de outra banda para transmitir seus sinais para dispositivos portáteis. Por essa razão, as teles defenderam a adoção do DVB provavelmente para concorrer com os canais abertos, nessa faixa que eventualmente seria destinada à transmissão portátil, uma vez que, ao fornecerem esses sinais, cobrariam pelo serviço. Em quarto lugar, certamente as teles continuarão no processo da TV digital, pois toda interatividade sempre passará por algum dispositivo ou serviço fornecido por elas. Outro aspecto importante relaciona-se à verificação de que as partes mais caras dos dispositivos de recepção são comuns tanto ao DVB quanto ao ISDB-T, portanto, o padrão escolhido não oneraria o usuário final. E por último, reafirmamos o acerto na escolha do ISDB-T pois com este sistema, a televisão aberta, melhor veículo de entretenimento do povo brasileiro, poderá fornecer de maneira gratuita, televisão de alta definição, portabilidade e interatividade. Roberto Aroso Cardoso - Em resposta à interessante questão, podemos dizer que trata-se de um modelo muito moderno, mais novo e conseqüentemente, mais atualizado em relação aos padrões americano ASTC que tem quase 15 anos de existência, e ao europeu DVB, que deve estar beirando os 10 anos desde o seu desenvolvimento inicial. Como o padrão japonês é mais novo, incorpora uma série de atualizações e vantagens que as novas tecnologias hoje permitem. Uma das principais vantagens é a mobilidade que acredita-se vir a ser um dos dispositivos terminais mais usados em telecomunicações nos próximos cinco anos. Teremos então um superterminal integrando todos os tipos de mídia com voz, dados, imagens, textos, TV e tudo mais que venha a incorporar os avanços que a convergência digital já está, ou mesmo irá, nos proporcionar. Com relação ao cenário industrial, deveremos ter um modelo mais voltado ao consumo interno

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do País, uma vez que o outro mercado, que seria o japonês, não será competitivo para as indústrias brasileiras virem a exportar. Na América do Sul, por ser o Brasil uma liderança inconteste, talvez venha a ter alguns adeptos desse padrão mas que, neste momento, não podemos ainda assegurar. Em contrapartida, crescerá o setor de produção de conteúdo, que não temos dúvidas está em plena ascensão em nosso País. Em recente evento que participei, o Sr. João Roberto Marinho, das Organizações Globo, dizia-me que hoje a Rede Globo produz mais minutos de novelas do que Hollywood em minutos na indústria cinematográfica ! Ou seja, sem a TV digital já caminhávamos nessa direção de crescimento vertiginoso da produção de conteúdo no Brasil. Imaginemos agora com todas as facilidades e tecnologias que o cidadão internauta tem e que lhe permite ser até um produtor independente ? Essa indústria crescerá e trará muitas divisas ao nosso País, pois o Brasil é um produto que vende muito no exterior. Produzir bons conteúdos educativos e dar acesso à inclusão digital ao cidadão brasileiro trará um grande desenvolvimento socioeconômico ao País. Há que se destacar a iniciativa do Governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de Ciência e Tecnologia, que foi além ao propor a inclusão tecnológica e científica para todos os municípios do Estado e já está inclusive negociando em conjunto com a TELECOM a participação da Comunidade Européia nesse modelo. A TELECOM, recentemente, criou três importantes Comissões Permanentes para abranger esses três temas. São elas: Acessos em Banda Larga, cujo presidente é o engenheiro Luis Eduardo Rocha; Produção de Conteúdo, cujo presidente é o jornalista Alberto Matos e TV Digital, cujo presidente é o engenheiro Cristovam Nascimento, um especialista na matéria. Vamos agora ao cerne da questão: a tecnologia não permite que a regulamentação acompanhe a sua velocidade. Temos, a cada dia, novas técnicas

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Contraponto

sendo colocadas no mercado e a sua regulamentação está sempre a reboque, pois bem, a regulamentação na área de TV é ainda de 1962, quando a realidade da TV era bem distinta do que falamos hoje em TV digital, com seus avanços incomensuráveis. Há então um receio de que os serviços hoje prestados pelas emissoras de TV venham a ser também prestados pelas Operadoras de Telecomunicações. Isso será natural em função da evolução tecnológica. O que os setores de Telecomunicações (que na sua concepção mais ampla, engloba também Radiodifusão) e de Televisão precisam é sentarem-se à mesa e discutir inteligentemente uma forma em que os conteúdos que vierem a ser gerados pela TVs sejam remunerados, pois é justo que os direitos de produção sejam preservados, mas, em contraposição, as emissoras de tevês devem entender que o novo modelo ampliará em muito a divulgação desses conteúdos e que também essa divulgação precisa ser remunerada. Ambos os setores possuem profissionais de primeira linha e não tenho dúvidas de que a negociação em alto nível entre ABERT, SET e TELECOM e demais associações desses setores saberão encontrar com sabedoria o caminho, mas para tanto é preciso o diálogo, como dizia o célebre Voltaire. O que não se aceita é que esse diálogo seja evitado, pois trata-se de um cenário win x win que deve ser buscado com todas as forças por ambos os setores. Tudo em prol da Educação e da Cultura do País, abrindo-se novos caminhos para o desenvolvimento socioeconômico e por conseqüência, para a publicidade brasileira, hoje maciçamente apoiada pelas grandes empresas que monopolizam os patrocínios existentes. Mercados menores e de segmentos orientados deverão surgir com as novas mídias, tirando essa concentração das maiores que além do apoio dado ao segmento, estão sempre a ser chamadas pelo próprio governo para parcerias. Não podemos matar as nossas “galinhas de ouro” que é o mercado anunciante ou, em última análise, os nossos clientes.

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NOTÍCIAS T&C

Manaus sedia curso sobre TV Digital A Unisat Consultoria e Treinamento Ltda. ministrará o curso: “TV Digital e Radiodifusão Sonora Digital: Via Terrestre e Via Satélite”, em Manaus, entre os dias 5 e 7 de novembro. O curso visa oferecer aos participantes uma visão geral atualizada sobre TV digital nos seus aspectos técnicos, aplicações, regulamentação e negócios.

Fonte - http://www.unisat.com.br/

Evento Cidades Digitais acontece em Campinas No dia 21 de novembro de 2007, acontecerá em Campinas, município de São Paulo, o evento Cidades Digitais. A programação e demais informações podem ser obtidas pelo e-mail marketing@networkeventos.com.br . Fonte - http://www.networkeventos.com.br

Congresso de Gestão de Níveis de Serviços de TI SLA & SLM Medir a qualidade dos serviços contratados e prestados por uma empresa, ou até mesmo, internamente entre os departamentos, é um desafio que os gestores e técnicos atravessam, a partir de uma estratégia especificada no início do projeto. O Congresso SLA & SLM, tem como objetivo principal apresentar e discutir as principais etapas e os fatores envolvidos na elaboração, implementação e monitoração dos processos dos Acordos de Níveis de Serviços na área de TI. O evento será apresentado através de palestras conceituais, técnicas, painéis de debates, apresentação casos de sucesso e soluções. O evento acontece em São Paulo, no dia 27 de novembro de 2007. Fonte - http://www.ideti.com.br/


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AOS LEITORES

Ano V - Número 12 - Outubro de 2007 ISSN - 1678-3824 Publicação Quadrimestral da Fucapi - Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica

Conselho Editorial Alessandro Bezerra Trindade Dimas José Lasmar Evandro Luiz Xerez Vieiralves Guajarino de Araújo Filho Isa Assef dos Santos José Alberto da Costa Machado Niomar Lins Pimenta

Jornalista Responsável Cristina Monte Mtb 39.238 DRT/SP

Projeto Gráfico desenvolvido pelo curso de Design de Interface Digital - CESF/ FUCAPI Coordenação de Projeto Gráfico Narle Silva Teixeira Capa e Ilustrações Carolina Azulay de Azevedo Diagramação de Soluções Gráficas Osvaldo Relder Araújo da Silva

As opiniões emitidas nos artigos publicados nesta revista são de inteira responsabilidade dos autores.

T&C Amazônia é uma publicação quadrimestral, criada com o intuito de discutir temas relevantes de interesse do país e, em especial, da região amazônica. Cada edição aborda um tema específico, divulgando o pensamento e os estudos realizados por profissionais da área focalizada. O teor dos textos é de inteira responsabilidade dos autores. Os interessados em publicar seus trabalhos devem encaminhá-los para a secretaria da revista (tec_amazonia@fucapi.br), para que sejam submetidos à análise do Conselho Editorial. O envio de um artigo não garante sua publicação. Os artigos publicados não concedem direito de remuneração ao autor. No próximo número, T&C Amazônia irá abordar o tema - Inovação e Desenvolvimento. Os interessados em publicar seus artigos na próxima edição da T&C Amazônia devem encaminhá-los até o 31.01.08 para o endereço eletrônico mencionado acima. O artigo deverá ser enviado exclusivamente por meio eletrônico, em arquivo texto, digitado em editor de texto Microsoft Word 4.0 ou superior, formatado em papel Carta, com margens laterais de 3,0 cm, margem superior de 3,5 cm, margem inferior de 2,5 cm, fonte Arial tamanho 12 e espaçamento simples. O artigo deve conter um resumo e breve currículo do autor e pode apresentar gráficos e figuras com um tamanho de 4 a 6 páginas.



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