Revista Studiobox Dezembro 2015

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Por João Moreira

Editorial “(…) Como aquela fosse uma noite muito santa e muito álgida – o Salvador ia nascer nas palhas para lembrar aos homens que vêm do nada e para lá caminham – mãe e filha se deixaram ficar ao lume, tão perto, que a chama do toro de carvalho, reatando-se depois de sopitar, alumiava mais que a candeia. A Mãe no seu luto de viúva, chaile roto pelos ombros, mal tinha acabado de espiar a roca e cismava; a pequena, dez anos espertinhos e medrados, com um pauzito ia atiçando o fogo, entretida a ver dançar e rodopiar os mil fogaréus da combustão.” Aquilino Ribeiro, in “Sonho de uma Noite de Natal.” Mais um Natal se aproxima e as cidades enchem-se de música e de luz. Um sorriso diferente conquista o olhar dos transeuntes, como se uma aura de boa vontade e simpatia ofuscasse, momentaneamente, o ritmo mal humorado do dia-a-dia e, aqui e ali, é possível assistir, num gesto de inusitada compaixão, a um olhar mais atento aos mendigos com que nos cruzamos habitualmente. Muitos de nós, imbuídos desse espírito natalício, aproveitamos a época para visitar amigos e familiares votados ao esquecimento diário e outros, solidariamente mais ousados, dividem um pouco do seu tempo com presos e doentes. Algo muda em cada um de nós durante os dias que antecedem o Natal, como se, entre o lufa-lufa dos presentes comprados à ultima hora, fossemos tocados por uma centelha de paz interior que nos leva a sermos um bocadinho melhores para com os outros. Mas, passadas as festas, tudo volta à normalidade e mesmo quando, em conversas sobre o assunto, insistimos na necessidade de fazer do espírito de Natal a regra e não e excepção, acabamos por deixar cair no esquecimento essa intenção tão generosa. Talvez por isso, por alturas de Natal, gosto de regressar a Aquilino e a essa frase que recordo desde a infância: “o Salvador ia nascer nas palhas para lembrar aos homens que vêm do nada e para lá caminham.” Há, na simplicidade quase bíblica com que o Aquilino define o nascimento de Cristo, algo de tão genuinamente humano, que nos remete para a essência do incomensurável amor contido nesse momento redentor, ocorrido algures em Belém da Judeia, já lá vão mais de 2000 anos. É essa humanidade palpável, reconhecida e reconhecível, do nascimento desse menino, numa manjedoura, aquecido pelo sopro de uma vaca e de um burro e envolto em palhinhas, que anualmente nos comove, independentemente da nossa crença religiosa. É a singeleza do exemplo, escolhido por esse Deus tornado Homem que, de certa forma, nos humaniza, ao menos, uma vez por ano. O ideal seria, é claro, que o Natal fosse todos os dias. Que este espírito solidário nos acompanhasse ao longo de todo o ano, ou melhor, ao longo de toda a vida. Mas, o Natal é um começo... É a nossa garantia individual de que somos capazes de olhar além das nossas preocupações e dos nossos umbigos, ao menos, uma vez ao ano. É a reconfortante centelha de esperança num mundo menos individualista. E é possível! Basta que, chegados aos Reis, deixemos bem visível o menino nascido entre palhas no estábulo de Belém e olhemos para ele de vez em quando, com o mesmo olhar que lhe devotamos no Natal. Vão ver como vai fazer toda a diferença. É que, de tempos a tempos, precisamos de algo que nos faça regressar a Aquilino reduzindo-nos à nossa insignificância terrena, recordando que “o Salvador vai nascer nas palhas para lembrar aos homens que vêm do nada e para lá caminham.”

COLABORAÇÕES/AGRADECIMENTOS ESPECIAIS. Amadeu Fernandes, Ana Nunes, Bernardo Mota Veiga, Bruno Alves, Bruno Esteves, Drª Odete Madeira, Francisco Cappelle, Grabriela Gonçalves, Heitor Castel´Branco, Jenine Rausch, Joana Abreu, João Moreira, Lemos Figueiredo, Lopo de Castilho, Luís Araújo, Narciso Soares, Nuno Vaz, Padre Amadeu Castro, Patrícia Belo, Paulo kassoma, Pedro Sousa, Prof. José Ernesto Silva, Ricardo Azevedo, Rodrigo, Gomes, Rui Monteiro, Silvia Mitev, Simona Kurcikeviciute, Susana, Andrade, Therbio Felipe M. Cezar, Tiago Miguel FOTO CAPA/EDITORIAL. Modelo Modelo Micheli Vicenzi Maquiagem Priscila Wolff Vestido Atelier Aster Scheidt Colar Carolina Vecchietti Chlôe fotografia Criativa Produção e Direção Beto Barreto DISTRIBUIÇÃO . Studiobox • ADMINISTRAÇÃO | PROPRIEDADE . Studiobox - Publicidade e Gestão de Meios, Unipessoal, Lda., Rua Alexandre Herculano, nº 291 R/C, 3510-038 Viseu • DEPÓSITO LEGAL . 224690/05 CONTACTO PARA PUBLICIDADE . geral@studiobox.pt, 232 435 131 O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO NÃO FOI USADO EM TODOS OS ARTIGOS. A SUA UTILIZAÇÃO FICOU AO CRITÉRIO DOS AUTORES QUE REDIGIRAM OS TEXTOS.


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