blue design 12

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(SUM)ONE: EXERCICIOS DE APROPRIAÇÃO, projecto colaborativo de Miguel Rios Design e Ângela Ferreira.

CONTAMINAÇÃO CRIATIVA (SUM )one, o primeiro projecto de design de mobiliário de Miguel Rios, nasce de uma instalação de Ângela Ferreira que por sua vez parte da intersecção de três referências: um banco, uma casa e uma moeda. Complicado? Talvez. Mas fascinante. POR MADALENA GALAMBA

UM BANCO EM LISBOA ligado a outro banco em Maputo, ligado a uma casa visionária em Brno, ligada a uma moeda, ligada à Minikitchen de Joe Colombo. Ligações. Citações. Hipervínculos. Textos que se apropriam de outros textos, textos que desembocam noutros textos, portas que se abrem, gavetas que deslizam à velocidade de um duplo clique. A intertextualidade está no núcleo do projecto colaborativo entre o gabinete Miguel Rios Design e a artista plástica Ângela Ferreira. Eles chamam-lhe “exercícios de apropriação” e é este dialogismo que está na origem das duas partes do projecto (que por sua vez “conversam” entre si): a instalação BNU, de Ângela Ferreira e o equipamento (SUM)one, de Miguel Rios Design. Para além de explorar ligações verticais (um objecto que remete para outro objecto e assim sucessivamente) (SUM)one, apresentado em finais de Outubro na Galeria Filomena Soares, propõe uma “renovada reflexão interna acerca das ligações e diferenciações entre a arte e o design”. Tudo começou com uma “encomenda” do MUDE. O Museu do Design e da Moda desafiou Miguel Rios a criar um projecto e Miguel Rios desafiou Ângela Ferreira, uma artista cujo percurso seguia há muito, a colaborar com ele. “Ela apropriava-se de um espaço arquitectónico no MUDE, fazia o que quisesse, e a partir daí eu fazia uma peça”. Por esta ordem, o trabalho de Ângela Ferreira é virgem (até onde qualquer obra o pode ser) e a abordagem de Miguel Rios, surge já contaminada pelo seu predecessor (e muito mais). Para Ângela Ferreira, o detonador foi uma sala do edifício do MUDE em Lisboa, outrora a

do edifício do século XIX) era um espaço atípico, distante das premissas modernistas do resto do edifício, mas também uma imagem fortíssima do poder imperial português. No coração do banco emissor para as colónias, era o centro do centro. Por razões logísticas, não foi possível realizar o projecto nessa sala. Mas um parapeito, em forma de meia rotunda, que delimita o foyer no primeiro andar, debruçado sobre a ampla entrada no rés-do-chão,

B L U E

(homenagem ao administrador do banco que, nos anos 1950/1960 ordenou a remodelação

D E S I G N

sede do Banco Nacional Ultramarino na metrópole. A sala Dom Luís Pereira Coutinho

chamou a atenção da artista. É desse elemento arquitectónico que parte a reflexão de Ângela 89


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