Revista Rumos 302

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#302 NOVEMBRO/DEZEMBRO

AS REDES E OS NÓS As mídias sociais digitais foram alçadas a um papel protagonista em momentos políticos recentes. Quais as implicações para o debate público brasileiro e o futuro do país?

REPORTAGEM

ARTIGO

INSTITUCIONAL

Especialistas debatem o futuro dos bancos de desenvolvimento

Carmen Feijo e Leonardo Dondoni escrevem sobre as evidências da distribuição desigual do crédito

Sistema Nacional de Fomento apresenta as ações desenvolvidas em todo o país

2018



Especialistas em pequenos negรณcios / 0800 570 0800 / sebrae.com.br


SUMÁRIO

NOVEMBRO/DEZEMBRO 2018

#302

ARTIGO

Guilherme Afif Domingos

Divulgação/BNDES

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A agenda de desenvolvimento dos pequenos negócios

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REPORTAGEM

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Pensando no amanhã ARTIGO

Carmem Feijo e Leonardo Dondoni

A atuação regional da firma bancária no Brasil

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ARTIGO

Gustavo Macêdo

A comunicação interna em um sistema não hierarquizado

OPINIÃO |

Netto

Divulgação

Em um ano decisivo para o futuro do país, a Rumos propõe, em sua já tradicional edição especial de fim de ano, uma reflexão com a participação de importantes especialistas em temas importantes da vida brasileira. Dessa vez, o cientista político José Maurício Domingues e o diretor de comunicação Tarcízio Silva debatem sobre a influência das redes sociais no debate público brasileiro e as implicações da utilização massiva dos meios digitais para o futuro político do país. Os artigos vêm acompanhados por um panorama do uso das redes no Brasil e das diversas discussões que estão em curso sobre o tema. O futuro dos bancos de desenvolvimento também foi tema de debates realizados no Rio de Janeiro, em novembro e dezembro, sob a direção do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As principais discussões podem ser conferidas nas próximas páginas. A Rumos traz ainda, nesta edição, artigos sobre temas diversos, como a inovação nas pequenas empresas, a desconcentração do crédito para as regiões brasileiras e os primeiros sinais do novo governo federal. Também é possível conferir uma experiência bem-sucedida da Agência de Fomento do Rio Grande do Sul (Badesul) no apoio aos municípios gaúchos. Por fim, a seção Sistema Nacional de Fomento retorna nesta edição, como um mosaico da atuação das Instituições Financeiras de Desenvolvimento em todo o país. Boa leitura!

DESTAQUES

NESTA EDIÇÃO

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REPORTAGEM

Retomada com os municípios

Noel Joaquim Faiad

AO LEITOR

Antonio Delfim

Cumprir a Constituição

18 CAPA |

Especial

Política em redes

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ARTIGO

Renato Garcia

Desafios e oportunidades da inovação das pequenas empresas

30 SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO

32 LIVROS

NOVEMBRO | DEZEMBRO 2018


ARTIGO

A agenda de desenvolvimento dos pequenos negócios

RUMOS

A agenda da competitividade dos negócios brasileiros passa, necessariamente, pela democratização e facilitação do acesso ao crédito, sem o qual as pequenas empresas não sobrevivem. Além do estímulo à concorrência entre instituições bancárias, o país precisa oferecer alternativas de crédito, seja por meio de fintechs, cooperativas ou de outros meios de financiamento. Do ponto de vista da educação, o Brasil deve incluir a cultura empreendedora nas grades curriculares de escolas e universidades como tema transversal, além de implantar Núcleos de Empreendedorismo nas escolas técnicas, federais e universidades. Entre outros projetos para os quais o Sebrae tem atuado fortemente e conta com a clareza dos tomadores de decisão nos próximos anos, estão a atualização e consolidação da política do Microempreendedor Individual (MEI), a estruturação da Rede Nacional de Centros de Referência em Assistência Social (Cras), a integração dos programas regionais de desenvolvimento, além da simplificação para promover e apoiar a internacionalização dos pequenos negócios. Em uma nação marcada pela descontinuidade de políticas públicas e interrupção de ações governamentais, o caminho para o Brasil alcançar resultados desejados quanto à geração de emprego, renda, arrecadação, inovação, investimento e qualidade de vida é valorizar o empreendedorismo. A democracia brasileira precisa avançar socialmente e, na perspectiva da justiça social, o segmento dos pequenos negócios tem um papel insubstituível.

GUILHERME AFIF DOMINGOS Charles Damasceno

Os pequenos negócios, que representam 98,5% das empresas do país, nem sempre são incluídos entre as prioridades econômicas e políticas nacionais. A atenção do próximo governo tende a se fixar nos temas clássicos da administração pública, sujeitos às pressões da urgência, como saúde, educação, segurança, infraestrutura e equilíbrio fiscal, deixando as demandas das pequenas empresas em segundo plano. Mesmo a agenda do desenvolvimento tende a priorizar as grandes empresas, por seus expressivos números, que individualmente chamam a atenção pelos investimentos, faturamento e arrecadação que promovem. No entanto, é indiscutível a importância dos pequenos negócios no Brasil. Nos dez primeiros meses deste ano, essas empresas foram responsáveis por um saldo de 650 mil vagas de trabalho, representando 80% dos postos preenchidos no país com carteira assinada, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). E é também, cada vez mais, no ambiente dos pequenos negócios que ocorrem as inovações mais significativas e transformadoras do ponto de vista das novas tecnologias digitais. Porém, em que pesem os avanços no tratamento diferenciado aos pequenos negócios em sua relação com o Estado, na prática, a máquina administrativa ainda é pesada, fragmentada e impõe severas exigências aos negócios. As barreiras à entrada em mercados, as dificuldades de acesso ao crédito e à inovação inibem a livre iniciativa, desestimulam investimentos, dissipam energia dos setores público e privado, comprometendo o pleno potencial de desenvolvimento dos negócios e da economia. E é esse cenário desafiador que o próximo governo terá de enfrentar em sua gestão. Enfrentar com condições e oportunidades de reverter o ambiente hostil aos negócios e efetivar o Estatuto da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte. Desse modo, um conjunto de medidas voltadas a aprimorar o ambiente de negócios e fomentar os empreendedores precisa ser levado adiante, seja por meio da continuidade de ações em curso ou pela implementação de novas iniciativas. Tornar mais simples as relações do Estado com seus cidadãos e empreendedores é primordial.

Presidente do Sebrae

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Fotos: Divulgação/BNDES

REPORTAGEM

Pensando o amanhã Especialistas brasileiros e internacionais debatem o futuro do país e o papel que pode ser desempenhado pelos bancos de desenvolvimento para que o Brasil volte a crescer com sustentabilidade. POR LUCIANO SILVA, COM COLABORAÇÃO DE JOYCE PONTEIRO

Com objetivo de debater novas propostas para o país, o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se uniram para discutir importantes pautas das agendas econômica e política brasileira para os próximos anos, em dois grandes seminários realizados nos meses de novembro e dezembro, no Rio de Janeiro. A iniciativa, nomeada como Diálogos para o Amanhã, também celebrou os 20 anos do Cebri. O presidente do BNDES, Dyogo Oliveira, afirmou acreditar que o país tem condições de superar todos os desafios que hoje impedem que ele tenha um crescimento mais robusto: deficiências em infraestrutura, em segurança jurídica, na qualidade regulatória e no desenvolvimento do mercado de capitais – alguns dos temas que dominaram os debates. Para Oliveira, a situação econômica do Brasil hoje é menos frágil 6

e o novo governo, que assume em janeiro, receberá um país “razoavelmente estabilizado e com grandes desafios na área fiscal”, mas com condições de governabilidade. Em sua exposição, o presidente falou sobre o papel dos bancos de desenvolvimento na economia e destacou a participação dessas instituições em áreas estratégicas como a infraestrutura e o desenvolvimento tecnológico. “Hoje, o avanço de tecnologias ambientalmente amigáveis é ainda mais relevante do que sempre foi. E nisso o BNDES tem avançado muito, no apoio a energias limpas, como solar e eólica”, frisou ele, que elencou ainda outra ação em que as instituições financeiras de desenvolvimento podem exercer papel relevante, o apoio na estruturação de projetos. “Um dos gargalos do Brasil é a falta de projetos. E um NOVEMBRO | DEZEMBRO 2018


dos gargalos mais apertados ainda é a qualidade deles. Precisamos melhorar na qualidade e na quantidade”, disse. Futuro presidente do banco, também presente ao evento, o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy destacou a importância da instituição na pauta do desenvolvimento sustentável. Ele apontou ainda outros temas que considera fundamentais para o futuro do BNDES: a inovação, a infraestrutura e a digitalização de setores do poder público, para aumentar a eficiência dos serviços prestados à população. “O nosso papel, em termos de desenvolvimento, é ajudar nos aspectos mais estruturais, mais fundamentais e, principalmente, junto com os demais órgãos do governo, criar as condições para que as pessoas possam desenvolver suas atividades, crescer e criar empregos, que é a expectativa geral do país”, afirmou. O economista Stephany Griffith-Jones, da Universidade de Columbia, citou o exemplo do banco KfW, da Alemanha, para defender que até mesmo os países desenvolvidos necessitam desse instrumento para que a economia seja bem-sucedida. Para ele, os bancos de desenvolvimento devem atuar de forma contracíclica nos momentos de crise, investir em infraestrutura, melhorar o sistema financeiro, apoiar a inclusão e financiar bens nacionais e internacionais. “O financiamento privado não é capaz de lidar com incertezas de forma tão perfeita. Então, é necessário ter Estados empreendedores. Os bancos de desenvolvimento podem fazer a ponte entre público e privado”, disse. Rogério Studart, economista da Brookings Institution, reforçou esse entendimento e lembrou o papel importantíssimo que o BNDES já desempenha na ampliação da infraestrutura sustentável brasileira. Ele defendeu que o banco é um instrumento fundamental para realizar as transformações que o Brasil necessita e defendeu que a instituição “precisa se articular internacionalmente com outros bancos de desenvolvimento”. RELAÇÕES INTERNACIONAIS Os debates promovidos nos encontros, que estão disponíveis na íntegra na internet, no canal do BNDES no Youtube, projetaram as perspectivas do país, a partir de discussões específicas com especialistas de áreas consideradas centrais ao desenvolvimento: indústria, energia, abertura comercial, relações exteriores, inovação, mudanças climáticas, além do papel dos bancos de desenvolvimento na construção do futuro. RUMOS

Um dos gargalos do Brasil é a falta de projetos. E um dos gargalos mais apertados ainda é a qualidade deles. Precisamos melhorar na qualidade e na quantidade Dyogo Oliveira, presidente do BNDES

Julio Raimundo, superintendente da Área de Indústria e Serviços do BNDES, ressaltou que outros países como Alemanha e Estados Unidos possuem estratégias mais claras voltadas para o investimento no setor industrial e disse que o Brasil deve seguir o mesmo caminho. “Grande parte do ganho de produtividade que se espera que a economia do país venha ter nos próximos anos precisa vir da indústria”, declarou. O conceito de Indústria 4.0 foi apresentado por Christoph Bundschere, ministro-chefe adjunto da embaixada da República Federal da Alemanha em Brasília, como a digitalização do processo produtivo e o encontro entre o mundo virtual e o mundo real, com o intuito de aumentar o rendimento das empresas. Ele afirmou que a inovação tecnológica nos setores não tira a necessidade de haver especialistas, mas simplesmente aumenta e agiliza a produtividade. Citando exemplos da Alemanha, Bundschere lembrou a importância do investimento em micro e pequenas empresas. “Dar segurança de investimento para esses empresários é uma das prioridades do governo alemão”, assegurou. Outro exemplo internacional foi levado ao debate pela conselheira Política da embaixada da China, Bai Jie, que lembrou que em 2019 a relação entre os dois países completará 45 anos. A conselheira ressaltou que desde 2009 a China é o principal parceiro comercial do Brasil e, só em 2016, o intercâmbio comercial foi de US$ 58,4 bilhões. 7


O futuro presidente do BNDES, Joaquim Levy, apontou três temas fundamentais para o futuro do banco: a inovação, a infraestrutura e a digitalização de setores do poder público.

Além disso, o país asiático tornou-se, em 2012, o maior fornecedor de produtos brasileiros importados. As relações internacionais foram destacadas como uma ferramenta fundamental para o fluxo de conhecimento: Brasil e China são países que possuem experiências relevantes um para o outro, como os novos modelos de capitais e os investimentos em infraestrutura. “É preciso entender que não há escolha, a China é uma potência que chegou para ficar”, afirmou o professor Javier Vadell, representante da Rede Brasileira de Estudos sobre a China (RBChina). SUSTENTABILIDADE O tema da sustentabilidade perpassou diferentes mesas e foi debatido sob diferentes aspectos. Vijay Rangarajan, embaixador do Reino Unido, destacou a importância de investimentos em infraestrutura e agricultura sustentáveis e em eficiência energética. Ele apontou esses eixos como os maiores interesses do Reino Unido com o Brasil, um país que tem a capacidade de gerar produtos sustentáveis – sem carbono, carvão e trabalho escravo. “Estamos trabalhando em Finanças Verdes com o BNDES e com muitos outros parceiros brasileiros, e isso é muito importante. Temos que acrescentar nesses investimentos 8

verdes mais alguns milhões de libras no Brasil e a boa notícia é que temos condições para isso, pois há investidores interessados”, afirmou o embaixador, que citou a importância da participação de empresas privadas em aplicações sustentáveis. “Alavancar investimento privado em finanças verdes é fundamental em todas as partes do mundo”. O superintendente de Gestão Pública e Socioambiental do BNDES, Gabriel Visconti, afirmou que a comunidade internacional tem interesse em auxiliar o país a se desenvolver de forma mais sustentável, investindo recursos para esse fim. Contudo, para que o país possa acolher esse investimento é preciso um arranjo de governança novo, em que governo, iniciativa privada e as estruturas políticas estejam afinadas no tema. “É muito comum as pessoas debaterem sobre mudanças climáticas pensando que a Amazônia precisa da ajuda do mundo. Ao contrário, o mundo é que precisa da Amazônia”, destacou. Ele afirmou que, no ano passado, cerca de 20% dos desembolsos do BNDES foram para economia verde e o objetivo do banco é promover um desenvolvimento que não seja alcançado a qualquer custo, mas sim NOVEMBRO | DEZEMBRO 2018


com a promoção de uma transição “gradual e permanente” para a economia de baixo carbono. “Todo o planejamento do BNDES tem como pilar a sustentabilidade, tanto no que se refere aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável quanto às Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs)”, afirmou, lembrando que o Brasil foi o único país em desenvolvimento a apresentar metas absolutas de redução de emissões no Acordo de Paris. O presidente da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau, Eduardo Bastos, afirmou que há um espaço enorme para o Brasil crescer na agricultura de baixo carbono. Ele também lembrou do potencial do país na área de biocombustíveis. “É a parte mais visível da bioeconomia, mas também temos um potencial gigantesco com bioquímicos e outros bioprodutos”, comentou. Para o consultor sênior do Programa de Florestas do World Resources Institute, Miguel Calmon, outra oportunidade para o país na economia sustentável é o restauro e a recuperação de áreas florestais, que deve ser encarado como investimento e não mais como custo, visão que vigorou até há pouco. Ele defendeu que o plantio de espécies nativas e agroflorestas são bons investimentos, pois proporcionam retorno ao país, e destacou que o BNDES tem sido uma grande liderança em restauração florestal. “É preciso termos fontes de financiamento para apoiar esse processo de forma compatível com o prazo de retorno desse negócio, que é o que o banco vem fazendo”, reconheceu. DESAFIOS: EDUCAÇÃO E INFRAESTRUTURA “Brincamos de falar em ‘infraestrutura 4.0’, mas o saneamento é a infraestrutura 1.0, que não está pronta ainda”. A frase da superintendente de Saneamento e Transporte do BNDES, Luciene Machado, demarcou o tamanho do desafio que o país precisa superar em um setor que impacta de forma preponderante a população. Ela elencou algumas das frentes de trabalho no banco em infraestrutura, como o estudo sobre saneamento em oito estados, o apoio à iluminação pública, a desestatização das distribuidoras de energia e o apoio à estruturação dos projetos de infraestrutura: “Essa fase inicial determina o sucesso ou fracasso das posteriores. O banco tem esse foco e queremos ser um dos atores a executar essa tarefa daqui para a frente”, afirmou. Para Lucia Dellagnelo, do Centro de Inovação para a Educação Brasileira, a estruturação de bons RUMOS

projetos também é um grande desafio para municípios e estados, em outro setor prioritário para o país, a educação. Ela lembrou que os grandes avanços na educação no mundo tiveram apoio dos bancos de desenvolvimento, nacionais e multilaterais. “Os países que conseguiram avanços em educação em curto espaço de tempo tiveram planos de uso de tecnologia para a educação. É necessário não só financiamento de longo prazo, mas projetos bem estruturados. O BNDES tem condição de dirigir essa mudança na educação brasileira”, disse.

“Os países que conseguiram avanços em educação em curto espaço de tempo tiveram planos de uso de tecnologia para a educação. É necessário não só financiamento de longo prazo, mas projetos bem estruturados. O BNDES tem condição de dirigir essa mudança na educação brasileira” Lucia Dellagnelo, Centro de Inovação para a Educação Brasileira

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ARTIGO

A atuação regional da * firma bancária no Brasil O objetivo deste artigo é apresentar evidências sobre a distribuição desigual do crédito no território, mostrando como o comportamento dos bancos públicos contribui para a inserção de liquidez nas regiões menos desenvolvidas. Sugere-se que o comportamento dos bancos públicos, ao satisfazer a demanda por financiamento nestas regiões, desempenha uma função social não atendida pelos bancos privados. Na perspectiva da teoria pós-keynesiana, o crescimento desigual de regiões está relacionado ao desenvolvimento desigual do setor bancário e de seu comportamento diferenciado entre as regiões geográficas. Neste contexto, as desigualdades regionais podem ser mantidas e até aprofundadas quando regiões mais desenvolvidas, com menor preferência pela liquidez e melhores oportunidades de investimento, concentram a oferta de crédito. O Gráfico 1 apresenta o índice regional de crédito (IRC)1,

Gráfico 1:

que compara a participação de crédito de uma região no total de crédito concedido no país com a participação do produto da mesma no Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Quando o IRC é maior que a unidade, indica que a região tem uma participação na distribuição do crédito superior à sua participação na distribuição do PIB, e quando o IRC é menor que a unidade, a região tem uma participação na distribuição do crédito menor que sua participação na distribuição do PIB2. Como esperado, a região Sudeste apresenta uma participação relativa do crédito superior à participação na distribuição da riqueza total em todo o período. A desigualdade na distribuição do crédito em nível regional indica a possibilidade de vazamento de recursos das regiões menos desenvolvidas para as regiões mais desenvolvidas. O vazamento de depósito é um mecanismo perverso que ocorre quando a região menos Índice Regional de Crédito: 2000 a 2015 desenvolvida é importadora líquida, reforçando o mecanismo de causação cumulativa. Ou seja, a expansão do crédito na região menos desenvolvida, ao gerar novos depósitos nesta região, dada a relação de dependência frente às regiões mais desenvolvidas, gera demanda nestas últimas, caracterizando o vazamento de depósitos. O Gráfico 2 mostra a relação entre as variáveis crédito e depósito, buscando capturar o * Esta nota é baseada nos capítulos 2 e 4 da tese de doutorado de Dutra (2017). A metodologia aplicada ao IRC, desenvolvida em Crocco (2010).

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Fonte: Estatísticas Bancárias por Município (ESTBAN), do Banco Central do Brasil, elaboração própria.

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2 O Distrito Federal foi excluído na construção do índice da Região CentroOeste.

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Gráfico 2: Vazamento de Depósitos: 2000 a 2015

Fonte: Estatísticas Bancárias por Município (ESTBAN), do Banco Central do Brasil, elaboração própria.

processo de vazamento de depósitos, que é observado quando a relação entre as duas variáveis é negativa3. A construção da medida de vazamento de depósito segue Crocco (2003). Este gráfico demonstra que a região Sudeste, com valores positivos em relação às demais regiões, capta recursos gerados no sistema bancário das outras regiões, caracterizando o vazamento de depósitos das regiões menos desenvolvidas para a região mais desenvolvida. A região Sul, após o ano de 2004, também passa a incorporar os recursos financeiros gerados nas regiões menos dinâmicas, com exceção em 2006 e 2007 e 2014 e 2015. As regiões Norte, Nordeste e Cen-

tro-Oeste (esta última de 2002 até 2008) são exportadoras líquidas de recursos financeiros, o que sinaliza para um grau mais elevado de preferência por liquidez nessas localidades. Dutra (2017) distingue a atuação dos bancos públicos e privados em nível regional. Segundo o autor, a firma bancária de origem privada discrimina sua atuação regional entre as regiões mais e menos desenvolvidas. O Gráfico 3 apresenta a evolução do indica3 Para a exposição dos vazamentos de depósitos foram utilizadas as contas (160) Operações totais de crédito; (400) Depósitos à vista Governo; (410) Depósitos à vista Setor Privado; (432) Depósitos a prazo.

Gráfico 3: Índice de Preferência pela Liquidez por Região a) Bancos Públicos

b) Bancos Privados

Fonte: Estatísticas Bancárias por Município (ESTBAN), do Banco Central do Brasil, elaboração própria.

RUMOS

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Tabela 1: Evolução da razão Créditos/Ativos dos Bancos

Públicos e Privados (em %)

Anos selecionados

Referências CROCCO, M.A. Financiamento do desenvolvimento Regional no Brasil: Diagnósticos e Propostas, in João Sicsú, José Luis Oreiro e Luiz Fernando de Paula (orgs), Agenda Brasil - Políticas Econômicas para o Crescimento com Estabilidade de Preços, Editora: Manole/ Konrad Adenauer, pp. 295-329, 2003. ______________. Moeda e Desenvolvimento Regional e Urbano: uma leitura Keynesiana e sua aplicação ao caso Brasileiro. Tese submetida ao Concurso de Professor Titular, CEDEPLAR, Minas Gerais, abril 2010.

Fonte: Estatísticas Bancárias por Município (ESTBAN), do Banco Central do Brasil, elaboração própria.

dor de preferência pela liquidez4 dos bancos públicos e privados em cada região. Este indicador mostra a disposição dos bancos em abrir mão da liquidez oferecida por ativos mais líquidos por crédito. Os bancos públicos (Gráfico 3a) claramente apresentaram uma tendência decrescente de preferência pela liquidez ao longo do período em todas as regiões. Quanto aos bancos privados (Gráfico 3b), o indicador de preferência pela liquidez é maior nas regiões menos desenvolvidas (Norte, Nordeste). Por fim, a Tabela 1 mostra, para anos selecionados, a participação do crédito em relação ao total de ativos dos bancos públicos e privados por região. Para todas as regiões, os bancos públicos utilizaram de forma intensa e crescente a variável crédito em seus ativos. Em termos evolutivos, os mesmos bancos públicos aumentaram a intensidade dessa utilização após 2006 nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul, ocupando o espaço deixado pela atuação dos bancos privados. Conclui-se assim que o desenvolvimento desigual das regiões pode estar associado ao volume de crédito oferecido pelas instituições financeiras, que seguem a preferência pela liquidez das agências bancárias nas diversas regiões onde atuam. A atuação dos bancos públicos se distingue por manter elevado percentual de crédito em relação ao total do ativo, ampliando a funcionalidade social do sistema bancário.

DUTRA, L. D. “A firma bancária nas regiões brasileiras nas décadas de 2000 e 2010: uma discussão sobre a funcionalidade social dos bancos à luz da teoria Pós-Keynesiana”, Tese de Doutorado submetida à Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, dezembro de 2017.

CARMEM FEIJO Economista, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e vicepresidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB) LEONARDO DONDONI Doutor em Economia pela UFF

A preferência pela liquidez é definida como a razão entre o depósito à vista do setor privado (conta 410) e do governo (conta 400) pelas operações de crédito total (conta 160) das regiões

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NOVEMBRO | DEZEMBRO 2018


A ABDE nasceu para fazer ecoar o ideal dos agentes que representa. Unir esforços, conhecimentos e recursos. Potencializar o desenvolvimento de um país com dimensões continentais. Agora, tem novos desa�os� a partir www.abde.org.br de uma nova visão estratégica, se prepara para se tornar mais forte. Conciliando diferentes facebook.com/abdeoficial saberes, realidades e twitter.com/abde_oficial experiências. linkedin.com/company/abde


Leonid Streliaev

REPORTAGEM

Retomada com os municípios Financiamentos a projetos de infraestrutura nos municípios aceleram a recuperação financeira da Agência de Fomento do Rio Grande do Sul e ampliam investimento público no estado; somente em 2018, já foram aprovados mais de R$ 162 milhões para apoiar as prefeituras gaúchas. POR DANILE REBOUÇAS A meta da Agência de Fomento do Rio Grande do Sul (Badesul) de aprovar R$ 100 milhões para o financiamento de investimentos públicos em 2018, por meio do Programa Badesul Cidades, foi superada antes do fim do ano. Foram aprovados R$ 162 milhões pela diretoria da instituição, sendo que R$ 147,7 milhões já foram contratados. Os números reforçam a importância do programa no cenário de recuperação da agência. Em 2017, a instituição havia alcançado um lucro líquido de R$ 14 milhões. No biênio 2016-2017, o Badesul Cidades liderou, com R$ 112,1 milhões, as operações aprovadas pela agência de fomento, que totalizaram R$ 389,1 milhões. A presidente Jeanette Lontra explica que o programa merece destaque especial, considerando a gradual redução das operações da instituição em 2015-2017, o que já vinha ocorrendo desde 2014, motivada pela redução da exposição ao risco, dos limites do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da demanda de crédito a investimentos, principalmente das empresas, mas também de produtores rurais. “O financiamento de investimentos públicos municipais, mediante o Badesul Cidades, apresentou e continua a apresen14

tar importante função no portfólio de operações da agência”, destaca. Jeanette Lontra explica que a recuperação do Badesul foi resultado de um conjunto de medidas previstas no Plano de Reestruturação. Ela destaca ações importantes como a redução de despesas administrativas e de pessoal; a prioridade à cobrança, à recuperação de créditos e ao monitoramento de clientes; a redução do estoque de operações ativas (e da exposição ao risco); a recomposição do Comitê de Crédito; a captação de novas fontes de recursos; e a revisão e adoção de normas e processos operacionais e de gestão. Por meio do Badesul Cidades, de 2015 até dezembro de 2018, foram contratadas 212 operações e R$ 307,5 milhões, para financiar investimentos públicos no Rio Grande do Sul. A superintendente do Setor Público, Márcia Santana, acredita que cer-

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Apoio à inovação Em novembro deste ano, o Badesul assinou uma parceria em apoio ao Pacto para Inovação de Porto Alegre, uma iniciativa capitaneada por três das principais universidades do estado – UFRGS, PUC-RS e Unisinos –, que visa promover a inovação na capital gaúcha. A participação no Pacto explicita a atuação mais intensiva que a agência tem desempenhado no campo da inovação, em seus diferentes segmentos. As ações em favor da inovação tiveram início em 2011, quando a agência percebeu a dificuldade das empresas inovadoras no acesso ao crédito. A partir dessa percepção, foram adotadas algumas iniciativas para viabilizar os recursos necessários para a inovação: primeiro, foi estruturado um setor focado em Fundos de Participação, iniciando pelo CRP Empreendedor, cujos aportes já realizados somam R$ 55 milhões. Depois, vieram os fundos Criatec II e Criatec III – o último possui R$ 200 milhões subscritos. Esses investimentos resultaram em apoio a diferentes ramos, como uma empresa de monitoramento de rebanhos de gado de leite e uma startup desenvolvedora de jogos eletrônicos. Para as empresas tradicionais que desejam inovar, o Bade-

RUMOS

municípios precisam ter capacidade de pagamento e endividamento; atender aos requisitos da Resolução nº 43 do Senado Federal e do Manual de Instrução de Pleitos da Secretaria do Tesouro Nacional; e ter autorização legislativa para a contratação do financiamento. CRESCIMENTO No cenário global do Badesul, o desafio é manter o equilíbrio institucional. O período de recuperação da agência já se encerrou e a instituição voltou ao curso normal de sua trajetória de apoio ao desenvolvimento da economia do Rio Grande do Sul e do seu público relevante: os produtores rurais, as empresas em geral e o setor público municipal. “O resultado bem-sucedido das medidas de gestão adotadas desde 2015 foi gradual, penoso e com frequentes reveses na microeconomia da instituição, em grande parte decorrentes da frágil macroeconomia do Brasil e seu impacto, que qualifico como trágico sobre a economia do Rio Grande do Sul, em especial sobre o setor industrial e o mercado de trabalho ”, avalia a presidente Jeanette Lontra. Para ela, “mesmo com o saneamento, a reestruturação e o crescimento que vem sendo obtido pela instituição, o momento é de cautela e de apoio à preservação, de um lado da economia gaúcha como um todo e, de outro, das operações e finanças reequilibradas do Badesul, em contexto de recuperação lenta e difícil da economia brasileira em geral e da economia do Rio Grande do Sul”. Divulgação

ca de 1 milhão de habitantes tenham sido beneficiados. Ela explica que o programa já apoiou cerca de 80% do total de 497 municípios do estado, muitos mais de uma vez. A prefeitura de Bom Jesus foi uma das beneficiadas, com financiamento de R$ 1,33 milhão para construir uma Unidade Básica de Saúde (UBS). “A maioria dos financiamentos aprovados e contratados com as prefeituras tem como objeto a pavimentação e iluminação de vias públicas, além de máquinas e equipamentos para este fim. Bom Jesus foi além, com a UBS e financiamento também do mobiliário, que já está prestando seus serviços essenciais aos habitantes do município”, destaca a superintendente. Márcia Santana acrescenta que o programa apresentou crescimento em 2016, em relação a 2015, enquanto, em 2017, houve redução devido ao fato de os novos prefeitos, eleitos em 2016, precisarem de tempo para avaliar os projetos dos seus municípios. Em 2018, a trajetória de crescimento anual foi retomada. “De fato, os valores contabilizados estão dentro das expectativas operacionais do Badesul, as quais são pautadas pela disponibilidade de recursos próprios, especialmente destacados do seu capital social para esse fim, e pela disponibilidade de outras fontes de financiamento, como o programa Avançar Cidades, da Caixa, e os repasses do BNDES”, pontua. Conforme destaca a superintendente, mais de 500 mil habitantes foram beneficiados pelos projetos públicos contratados em 2018. Para se enquadrarem no Badesul Cidades, os

sul se utiliza de sua modalidade de crédito, fortalecida pelo repasse de recursos do programa Inovacred, da Finep. Outro destaque é o programa Tecnova-RS, que repassou a cerca de 50 pequenas empresas recursos de subvenção para desenvolvimento de inovação. O programa contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado (Fapergs) e apoiou empresas de diferentes segmentos: Petróleo e Gás, Energias Alternativas, TIC, Saúde Avançada e Medicamentos, Calçados e Artefatos, Madeira e Móveis, Metal Mecânico e Agroindustrial. A expectativa é que, com o sucesso do programa, no próximo ano seja realizado um segundo ciclo, alcançando ainda mais empreendimentos de todo o estado.

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ARTIGO

A comunicação interna em um sistema não hierarquizado Imagine ter que se comunicar, manter uma rede de apoio comercial e criar ferramentas de negócios, entre outras funções, para um sistema com mais de 37 mil pessoas interligadas. E, ainda por cima, com o desafio de ser um sistema não hierarquizado, como é o caso das cooperativas financeiras, mais precisamente do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) e do banco que o atende, o Bancoob. Esses são os personagens principais deste artigo, que abordará o desafio da comunicação interna. Em primeiro lugar, vamos explicar melhor essa questão de “comunicação em um sistema não hierarquizado”. Para isto, precisamos falar também de cooperativismo. No sistema cooperativo, os “donos do empreendimento” e o público final são os cooperados, formando o que é definido como duplo papel: dono e usuário. Diferente dos bancos tradicionais, no cooperativismo financeiro não há um grupo pequeno no controle do empreendimento ou uma família de herdeiros. Os cooperados que decidem, elegem os dirigentes em assembleia e dividem os resultados. No caso das cooperativas financeiras do Sicoob, quem atende às necessidades comerciais dos cooperados é a força de vendas, apoiada pelo Bancoob. Resumindo: os associados formam as cooperativas, que contam com um banco e uma rede de atendimento em todo o país. Todo esse sistema oferece aos cooperados, por meio da força de vendas, tudo o que um banco tradicional tem, só que com taxas e condições mais justas. E o Bancoob, juntamente com a Confederação Nacional do Sicoob, por meio de um Esquema Tático de Vendas (ETV) – que reúne estratégia comercial, comunicação externa, comunicação interna, inteligência de mercado e educação – 16

proporciona ao pessoal de atendimento tudo que é necessário para garantir as melhores oportunidades para os cooperados. Além disso, o cooperativismo é um movimento que tem como consequência algo muito importante, que é o desenvolvimento das comunidades que abrigam as cooperativas e o envolvimento em ações sociais. Os recursos circulam na região e desenvolvem as economias locais. Influenciam até mesmo os bancos tradicionais, que têm de se mobilizar para não perderem espaço. Então, quando falamos, por exemplo, dos dirigentes, funcionários e gestores em todas as empresas, pontos de atendimento, centrais e singulares estamos falando em um tipo de comunicação interna que se processa de forma horizontal e multifocada. Não há comunicação de cima para baixo, na qual quem comunica está em uma posição hierárquica superior a quem recebe a mensagem. O Bancoob tem de conquistar, atender e incentivar cada uma dessas 37 mil pessoas em seus negócios. Ou seja, deve manter um padrão de excelência constante em seus serviços e uma comunicação efetiva e objetiva, sem ser invasiva. Isso sob o risco de perder a atenção da audiência. Em tempos de uma sociedade líquida, onde tudo é extremamente efêmero, como afirma o filósofo polonês Zygmunt Bauman, o tempo se tornou um de nossos bens mais preciosos. E, para termos uma comunicação direta com os funcionários, estabelecermos uma relação com essas pessoas, não podemos fazê-las perderem tempo no acesso às informações. A comunicação interna requer a mesma atenção, importância e empenho, ou mais, do que a comunicação externa. Se pensarmos também do ponto de vista do branding ou gestão de marca, todos os envolvidos com o sistema são os “embaixadores da marca”, aqueles que, além de seu ofício diário, podem multiplicar em suas redes, pessoais e sociais, a consciência do que são o Sicoob, seus princípios e propósito. É preciso primeiro conquistar os corações e mentes de quem está “dentro de casa”, e esses são nossos principais aliados na fidelização e engajamento do público externo. A comunicação de hoje é mais sobre valor e empatia do que sobre proNOVEMBRO | DEZEMBRO 2018


dutos. E isso vale tanto para a força de vendas como para seu público final. Queremos que todos os envolvidos sejam exitosos em sua jornada de vendas. Para isso as informações estimulantes, tempestivas e fáceis de serem obtidas são fundamentais. FERRAMENTAS Nesse contexto, a comunicação interna do sistema conta com o Portal Sicoob Negócios, como ponto de convergência entre o Bancoob e os responsáveis pelas vendas. É nesse site que as pessoas da linha de frente nos pontos de atendimento encontram o que precisam em termos de informação, serviços e ferramentas de negócios. O Portal conta com diversos canais de comunicação, que são utilizados de forma integrada para levar o melhor conteúdo na forma mais adequada a quem recebe a informação. E por que centrar tanto a atenção em nossos vendedores? Bem, a preocupação com a qualidade da experiência de quem trabalha no sistema é algo intrínseco. E sabemos, ainda, que funcionário feliz, capacitado e informado vende melhor. Mas existe muito mais aí: para Neil Rackham – autor, consultor, acadêmico e um dos pioneiros da venda consultiva –, um bom vendedor é mais importante para a empresa do que o produto. Durante o Fórum Mundial de Marketing e Vendas, promovido pela plataforma de conhecimento HSM, Rackham defendeu que vender não é mais persuasão, mas compreensão e solução de problemas. Ele afirmou que é preciso compreender as questões e problemas dos “clientes” melhor do que eles próprios fariam. E é por isso que nos últimos anos tem se observado que as melhores empresas do mundo mudaram a maneira pela qual recrutam seus vendedores. Estão agora em busca de “solucionadores”. Ao final de sua palestra, Rackham concluiu afirmando ser esta a chave para os vendedores do futuro: a solução personalizada de problemas dos clientes, a coisa mais importante pela qual as pessoas pagariam. Isso vem ao encontro das estratégias de comunicação interna do Bancoob direcionadas à força de vendas e ao posicionamento empresarial com foco no relacionamento consultivo, que foi justamente o tema do workshop interno de pessoa jurídica, que reuniu representes de todo o Brasil em setembro de 2018. RUMOS

É preciso primeiro conquistar os corações e mentes de quem está “dentro de casa”, e esses são nossos principais aliados na fidelização e engajamento do público externo. A comunicação de hoje é mais sobre valor e empatia do que sobre produtos.

GUSTAVO MACÊDO Jornalista e Assessor de Comunicação, pós-graduado em Gestão da Comunicação nas Organizações.

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Noel Joaquim Faiad

REPORTAGEM ESPECIAL

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Política em redes As mídias sociais foram alçadas a protagonistas de momentos políticos recentes, incluindo as eleições presidenciais de outubro. A internet de fato se transformou na nova arena pública de debates brasileira? Um cientista político e um analista de mídias respondem a essa questão e apontam quais os limites e possibilidades do cenário digital. A Rumos traz ainda os dados e opiniões de diferentes especialistas sobre o futuro que chegou. Em 2018, os números relativos à atuação dos brasileiros nas redes sociais se intensificaram e, durante o recente período eleitoral, alcançaram patamares jamais vistos: nos três meses de campanha, somente em uma rede social – o Twitter – foram registrados 130 milhões de postagens sobre o tema, com mais de 160 milhões de interações dos usuários com os candidatos à presidência. Em um pleito em que 117 milhões de eleitores compareceram às urnas, e considerando que o Twitter não é a rede social de maior penetração entre os usuários brasileiros, os números são impressionantes. Ainda em 2016, o IBGE já estimava em 116 milhões o total de usuários de internet brasileiros. Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha nos dias 24 e 25 de outubro deste ano, cerca de dois terços dos eleitores possuem contas em redes sociais, índice que pode chegar a 90% entre os mais jovens, de até 24 anos. Mesmo entre os mais pobres, mais da metade do eleitorado (53%) acessa as redes sociais. O Brasil é o terceiro país do mundo com maior número de usuários do Facebook e o sexto entre usuários do Twitter. Mas ambas as redes estão atrás, em popularidade, daquela que tem sido a estrela dos debates políticos e eleitorais: o WhatsApp. De acordo com o Datafolha, 65% dos eleitores brasileiros possuem conta no aplicativo, sendo que quase metade dos usuários afirmou que utiliza a rede para ler notícias sobre política e eleições e 24% disseram compartilhar notícias com essa temática. O número é próximo do verificado no Facebook: 46% dos usuários leem informação eleitoral e política, e 22% compartilham as notícias. Os números sugerem que uma parte relevante do debate político brasileiro está ocorrendo no ambiente digital, em especial nas mídias sociais. Para tentar compreender esse cenário e oferecer dados para análise das implicações do uso intensivo das redes sociais para o futuro político do país, a Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV), em conjunto com organizações internacionais como o Atlantic Council, o National Democratic Institute (NDI), a New RUMOS

York University (NYU) e o Oxford Internet Institute, lançou, em julho, a Sala de Democracia Digital, espaço de acompanhamento das redes e monitoramento do debate público brasileiro durante o período eleitoral. A análise da rede foi defendida como “uma nova possibilidade de entender as relações entre Estado e sociedade”. IMPACTO Ao longo de três meses, a Sala de Democracia Digital publicou 123 análises, realizadas a partir das postagens realizadas tanto pelos candidatos quanto, principalmente, pelos próprios usuários das redes. Apenas no dia da votação do primeiro turno, foram mais de 5,8 milhões de tuítes, o que representa o maior volume já registrado desde que o Departamento iniciou suas medições na rede, em 2014. Naquele dia, mais de 70% das postagens se concentraram no então candidato Jair Bolsonaro – fato que se repetiu, com maior ou menor intensidade, durante toda a campanha, em que Bolsonaro foi o ator central, mobilizando a maior repercussão na rede, favorável ou contrária à sua figura. Outro dado importante extraído das análises diz respeito aos principais temas dos debates ocorridos nas redes sociais, que sugerem que a discussão política no ambiente digital esteve sintonizada com o sentimento real dos eleitores e com as questões que influenciaram sua decisão de voto. Segundo boletim divulgado no dia 1º de novembro, a corrupção foi o principal assunto discutido nas redes durante os três meses de campanha, seguido do tema segurança pública. Esses dois pontos foram justamente os de maior apelo da campanha vencedora. O terceiro tema mais relacionado aos candidatos foi economia. Os demais assuntos apareceram em um patamar inferior aos primeiros colocados. “A agenda de habitação, por exemplo, só obteve 19


destaques pontuais com a repercussão em falas de debates e a pauta de cultura manteve-se em quase ausência, afora a semana posterior ao incêndio no Museu Nacional”, destaca o boletim. “Educação e saúde, que geralmente mobilizavam as preocupações dos eleitores nas redes e sempre estão entre os temas de maior importância para os cidadãos, foram mais abordados no segundo turno. As discussões, porém, não abordaram de forma geral pautas específicas de cada tema, mas questionamentos diretamente ligados a ambas as campanhas e em vínculo com outras agendas, como as pautas de gênero”, completa.

Pixabay

RISCOS E AMEAÇAS Especialistas reunidos no VIII Fórum da Internet no Brasil, principal espaço de debates no país sobre temas relacionados à governança da internet, analisaram as conse-

quências desse uso intensivo das redes para a política brasileira. Com a reforma na Lei Eleitoral, em 2017, a utilização das mídias sociais pelas próprias candidaturas se tornou mais simples, mas também abriu espaço para muitas práticas não previstas. O principal alvo das preocupações foi o WhatsApp. A conselheira do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), Flávia Lefévre, citou pesquisas que teriam demonstrado que houve utilização da rede social para comunicação em massa, com disparadores maciços e, em sua opinião, desvirtuamento da utilização da plataforma. “Os algoritmos altamente sofisticados [utilizados pelas principais redes sociais] deixam os consumidores vulneráveis, são de um desrespeito profundo aos nossos dados pessoais, além de trazer danos coletivos, difusos, que podem comprometer a nossa democracia.

Redes de mobilização O ano de 2013 é considerado central para se compreender as novas dinâmicas de mobilização social por meio das redes sociais no Brasil. Como destaca o relatório da Sala de Democracia Digital, que fez um balanço das ações nas mídias durante as eleições brasileiras, “a era da sociedade em rede encontrou nas manifestações de 2013 a maior expressão da transição da esfera pública para esfera pública interconectada. As manifestações de junho de 2013 mostraram pela primeira vez que a internet se tornou um continuum da esfera pública tradicional”. No livro Redes de indignação e esperança: Movimentos so-

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ciais na era da internet, em que analisa os movimentos que eclodiram em todo o mundo a partir da Primaveira Árabe em 2011, com um capítulo dedicado às manifestações brasileiras, o sociólogo espanhol Manuel Castells afirma que as redes de comunicação são fontes decisivas de construção de poder. Para ele, a atividade mais importante da internet hoje se dá por meio das redes sociais, que ocupam lugar central nas conexões que são estabelecidas no ambiente digital e estendem as fronteiras antes visíveis até o limite das possibilidades, servindo de palco para o diálogo en-

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O Ministério Público deveria se envolver de forma pesada na investigação desses abusos”, afirmou. A chefe da missão de observadores internacionais da Organização dos Estados Americanos (OEA), Laura Chinchilla, chegou a afirmar que o uso massivo do WhatsApp para influenciar a eleição “não tem precedentes” no mundo. “É uma rede que gera muita confiança nas pessoas porque são pessoas próximas a elas que mandam as notícias”, disse, alertando também para o risco das notícias falsas presentes na rede. Segundo pesquisa do instituto Ibope Inteligência, nove em cada dez internautas receberam as chamadas fake news [notícias falsas, em tradução literal] durante o processo eleitoral, especialmente por meio do WhatsApp e do Facebook. De acordo com o estudo, realizado entre os dias 18 e 22 de outubro, em todas as regiões brasileiras, 90% dos usuários de internet do Brasil

tre diferentes culturas e povos. “São espaços vivos que conectam todas as dimensões da vida das pessoas. Se tornam plataformas para todos os tipos de atividade, não apenas para amizades ou bate papos pessoais, mas para marketing, e-commerce, educação, criatividade cultural, distribuição de mídia e entretenimento, aplicações de saúde e, sim, ativismo político”, acentua. Castells, considerado o principal formulador das teorias sobre as redes sociais digitais, defende que o mundo passa por um processo de transformação estrutural desde as últimas duas décadas, associado à emergência de um novo paradigma tecnológico que se difundiu por todo o mundo, embora de maneira desigual. As tecnologias não criam uma nova sociedade, mas possibilitam um novo formato para a antiga forma de organização social, as redes. “A comunicação entre computadores criou um novo sistema de redes de comunicação global e horizontal que, pela primeira vez na história, permite que as pessoas comuniquem umas com as outras sem utilizar os canais criados pelas instituições da sociedade para a comunicação socializante. A autocomunicação de massa fornece a plataforma tecnológica para a construção de autonomia do ator social, seja ele individual ou coletivo, em relação às instituições da sociedade”, afirma. As manifestações de junho de 2013 marcam o início de uma fase mais intensa de uso da internet como difusor de informações e mobilização social. Desde então, a percepção das redes como influenciadoras do debate político vem se ampliando e, a cada novo episódio, os debates sobre os desafios desse novo momento se impõem com mais força.

RUMOS

O Facebook, em comunicado publicado ainda no início do ano, em sua própria página, admitiu que redes sociais podem ser usadas para “corroer a democracia e disseminar desinformação”

afirmam já ter recebido notícias falsas. Destes, 76% tinham conteúdo com informações enganosas e falsas, 57% eram notícias antigas utilizadas como se fossem recentes, 45% continham conteúdo manipulado, 37% tinham um título que não condizia com o restante do conteúdo e outras 37% eram 100% falsas. O próprio Facebook, em comunicado publicado ainda no início do ano, em sua página, admitiu que redes sociais podem ser usadas para “corroer a democracia e disseminar desinformação”. “Desde a Primavera Árabe até eleições robustas em todo o mundo, as redes sociais pareciam positivas. A última campanha presidencial dos Estados Unidos mudou isso, com uma interferência estrangeira, que o Facebook deveria ter sido mais rápido para identificar, até o crescimento tanto das notícias falsas quanto das bolhas”, avaliou a diretora do Facebook para Política Global, Katie Harbath. “Se há uma verdade fundamental sobre o impacto de mídias sociais na democracia, é que elas amplificam as intenções humanas – tanto as boas quanto as ruins. Em seu melhor, elas permitem que nós nos expressemos e tomemos alguma atitude. Em seu pior, elas permitem às pessoas disseminarem desinformação e corroerem a democracia”, completou. Outra ameaça que tem sido identificada é a utilização exponencial de contas automatizadas nas diversas redes, os chamados “robôs”, que agiram especialmente para a disseminação de informações e para influenciar as discussões com intuito de beneficiar determinados atores políticos. A Sala de Democracia Digital afir21


Especialistas alertam para o risco de censura ao se construírem regulamentações e medidas criminalizantes para tentar coibir a disseminação de fraudes nas redes

mou, em 19 de outubro, que o debate influenciado por robôs chegou a ser responsável por 10,4% das discussões no Twitter, favoráveis e contrários a ambas as candidaturas, ainda que com maior proeminência em um lado. Um estudo publicado pela DAPP no início do ano, intitulado “Robôs, redes sociais e política no Brasil”, já havia apontado que esses mecanismos que geram artificialmente conteúdo atuam cada vez mais com fins maliciosos. “Eles buscam criar discussões forjadas e interferir em debates e, dessa forma, criam desinformações que podem interferir nos rumos de políticas públicas ou até mesmo em processos políticos e democráticos”, destacou o relatório. O QUE FAZER? Durante a Conferência Internacional sobre a “Desinformação na era digital e seu impacto na liberdade de expressão e nos processos eleitorais da região”, realizado em Montevidéu, no Uruguai, em outubro, representantes de diversos países latino-americanos apresentaram recomendações para que os canais digitais não sejam utilizados para enfraquecer os mecanismos democráticos – ao contrário, para que possam fortalecê-los, como sempre foi a expectativa dos estudiosos das redes. O analista de políticas da Associação Latino-americana de Internet (Alai) considerou ser fundamental criar capacidades para o usuário distinguir o que é verdadeiro e falso, por meio de diferentes ferramentas. Ele e outros especialistas apontaram que é necessário promover uma “alfabetização midiática” para que os cidadãos possam lidar melhor com esse novo ambiente. “Sem isso, não vamos ter êxito no combate à desinformação”, comentou o conselheiro de Informação e Comunicação para a América do Sul da Unesco, Guilherme Canela, que afirmou que a regulação estatal não é o melhor caminho para se resolver a questão, pois implica riscos para a liberdade de expressão. 22

A opinião foi compartilhada por participantes de um seminário realizado pela Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo, na capital paulista, que também teve como tema as notícias falsas e a influência das redes sociais no debate político. A representante do Coletivo Brasil de Comunicação Social Intervozes, Bia Barbosa, alertou que medidas criminalizantes ao compartilhamento de notícias falsas podem incorrer em censura política, e que já existem crimes definidos por lei, como injúria, calúnia ou difamação, capazes de coibir a prática. Da mesma forma, o desembargador Waldir Nuevo Campos sustentou que a solução para o problema das notícias falsas não passa pela criminalização. “É um erro tentar definir um conceito jurídico de fake news e criminalizar a conduta de quem simplesmente compartilha essas informações”, afirmou. O coletivo Intervozes aponta ainda outra questão como ponto importante no debate sobre as notícias falsas: o fenômeno da desinformação encontraria um ponto de partida no cenário de concentração dos meios tradicionais e digitais, que cria condições ideais para que se reproduza facilmente a desinformação. “As plataformas se empoderaram ao ponto de remover ou diminuir a circulação de certas informações. Quem são as empresas privadas para definirem o que circula e o que não circula?”, questionou Iara Moura, representante do coletivo no evento do Uruguai. Outros especialistas, no entanto, acreditam que o Estado deve, sim, ter uma atuação de maior impacto na regulação das redes, para evitar que se transformem em uma ameaça à democracia. Em artigo publicado no portal Jota, especializado em temas jurídicos, Tatiana Trícia de Paiva Revoredo, especialista em Direito Digital e representante do European Law Observatory on New Technologies no Brasil, defendeu a necessidade de um amplo debate entre cidadãos, governos, empresas e reguladores para possíveis mudanças nas legislações. Ela argumenta que é preciso um mínimo de regulamentação para “evitar abusos, proteger os cidadãos e consumidores, para garantir o funcionamento adequado e eficiente dos ecossistemas em torno dessas novas tecnologias”. A especialista destaca que os órgãos reguladores e os legisladores, assim como toda a sociedade, ainda estão aprendendo a lidar com todas as novas tecnologias, e lembra das dificuldades de se atuar nesse campo, entre elas a velocidade das inovações, a diluição das fronteiras nacionais, no que se refere à internet, e a própria natureza descentralizada NOVEMBRO | DEZEMBRO 2018


Valter Campanato/Agência Brasil

A presidente do TSE, ministra Rosa Weber, sobre o combate às fake news: “Nós ainda não descobrimos o milagre”

das tecnologias emergentes, como o blockchain. “É insensato propor uma proposta legal que busque regular os novos tempos com pesos e medidas aplicadas ao sistema baseado na sociedade industrial, sem considerar que os ‘valores’ econômico-sociais mudaram”, advoga. Ela sugere que a regulação incida mais sobre o “entorno” do que sobre a tecnologia em si. “É salutar que exista regulamentação, mas apenas o ambiente ao redor das inovações tecnológicas, como regras para proteger clientes e impor penalidades àqueles que prejudicam a confiança na indústria, bem como a definição de diretrizes para as melhores práticas por corretores etc.”, exemplifica Tatiana. Em entrevista ao portal Consultor Jurídico, Diogo Rais, fundador da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), defendeu que a tarefa do Judiciário é decidir diante do conflito e não “regular a verdade”. “Os melhores lugares para se debater a matéria são a academia, a imprensa e as iniciativas da sociedade”, afirmou. Para ele, ou o Direito não deve interferir, ou deve interferir apenas no caso concreto. “Existe um espaço interpretativo enorme diante de questões como a da desinformação. Por isso, não é possível fazer uma lei que seja eficiente e, ao mesmo tempo, protetora da liberdade de expressão”, argumenta. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) possui um Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições, formado por RUMOS

membros da sociedade civil e de órgãos estatais, que iniciou os trabalhos ainda em 2017. Ao longo das eleições, o grupo se reuniu para discutir o impacto das fake news na campanha eleitoral, entre outros temas. O coordenador do Conselho e secretário-geral da Presidência do TSE, Estêvão Waterloo, apresentou a visão do tribunal sobre a necessidade de regulamentação sobre o tema. “Na linha tênue entre controle ou não, regulação ou não, nós vamos sempre privilegiar a liberdade de expressão”, afirmou. A presidente do tribunal, ministra Rosa Weber, avaliou que a atuação do órgão foi eficaz, mas que o fenômeno das notícias falsas é mundial e não possui soluções simples. “Se tiverem uma solução para que se coíbam fake news, por favor, nos apresentem. Nós ainda não descobrimos o milagre”, declarou.

Nas próximas páginas, um cientista político e um especialista em análise de dados digitais debatem o que esse novo momento pode significar para a democracia e o futuro do debate público brasileiro. 23


Comunicação individual de massa e comunicação pública JOSÉ MAURÍCIO DOMINGUES

Há evidentes mudanças na forma pela qual indivíduos e coletividades se formam e se relacionam. Novas tecnologias digitais e as redes sociais vêm tendo enorme impacto nisso, mediante o que se pode chamar de meios de comunicação de massa individuais, para utilizar uma expressão de Manuel Castells. No processo político e em particular eleitoral isso é claro, como pudemos ver nas eleições presidenciais de 2018, nas quais elegeu-se presidente Jair Bolsonaro, formando bancada surpreendentemente ampla no Congresso com o até então inexistente PSL, e puxando também candidaturas a governador. É preciso ter cuidado para não exagerar o efeito desses meios novos de comunicação. Os grandes meios de massa seguem sendo importantes, em particular a televisão e o rádio (a entrevista dada pelo candidato Bolsonaro à Record no momento do debate eleitoral da Rede Globo e a cobertura sobre seu esfaqueamento tiveram peso decisivo no processo eleitoral). Mas é inegável que mudanças importantes estão em curso. Podemos destacar três aspectos. Primeiramente, a responsabilização individual que advém do compartilhamento de material pelas redes sociais, Facebook e em especial o WhatsApp. Ao menos uma sensação de participação o cidadão comum tem com esse processo, pois, se grande parte do conteúdo é produzido de forma centrali24

zada e distribuído profissionalmente, parte da disseminação das mensagens é de iniciativa de usuários individuais. Isso faz com que quem propaga as mensagens se sinta não apenas participante de um processo político mais amplo; passa a sentir-se responsável pelo que propaga. Isso pode ter como consequência uma cristalização do voto, porquanto, tendo feito campanha junto a amigos e conhecidos, é difícil uma mudança brusca em termos de candidaturas. Uma cumplicidade entre emissor e receptor se produz, gerando uma cadeia bastante sólida. Por outro lado, a velocidade com que os processos de comunicação e formação de “opinião pública” se desdobram é grande. Ondas de opinião podem se formar mais rapidamente. Podem ser fugazes, sem dúvida, mas a questão da responsabilização e da cumplicidade assinalada acima pode emprestar a essas ondas densidade. Como se sabe, o que se chama de “bandwagon effect” é fenômeno importante, seja no consumo, na política ou em outras esferas de opinião. Ou seja, a onda se retroalimenta, uma vez que se supõe que as pessoas gostam de estar de acordo com a maioria e mesmo sentirem-se espertas, além do mais, atribuindo-se pioneirismo na escolha de um candidato, opinião ou produto. Isso ajuda também, a partir de certo momento, a consolidar a cadeia que está na base mesmo do “bandwagon”. Há, porém, o mais preocupante elemento relaNOVEMBRO | DEZEMBRO 2018


É preciso ter cuidado para não exagerar o efeito desses meios novos de comunicação. Os grandes meios de massa seguem sendo importantes. Mas é inegável que mudanças importantes estão em curso cionado às já infames “fake news”. Exatamente aquela produção e disseminação centralizada de informações pode se pôr assim como rebaixamento de processos de formação de opinião e/ou eleitorais, como efeitos altamente deletérios para a democracia. A eleição de 2018 foi marcada claramente por isso, embora não se deva dar peso a essas notícias fajutas na vitória de Bolsonaro, algumas muito bizarras, mas sobretudo ao desgaste do sistema político – que se suicidara –, e em especial do PT, com quem disputou o segundo turno. Em particular na Europa a preocupação com o sequestro da democracia por essas formas de comunicação já é grande e projetam-se controles que protejam a democracia. Os meios individuais de comunicação de massa podem e têm tido grande efeito democratizador, participativo. As manifestações, por todo o mundo, de inícios dos 2010 são exemplo cabal disso. Mas eles não produzem uma esfera pública de discussão e formação de opinião política, especialmente, tal qual enfatizaram Jürgen Habermas e Gabriel Cohn. Somente um debate aberto, controlado pelo escrutínio da população em seu conjunto – e não atomizada até certo ponto e anonimizada, como a que esses meios proporcionam –, é capaz de garantir uma comunicação robustamente democrática. Será a combinação desses dois tipos de processo que no futuro, espera-se, garantirá e ampliará a democratização de nossos sistemas políticos, eles mesmos extremamente exclusivistas e fechados.

Livia Marques

JOSÉ MAURÍCIO DOMINGUES

RUMOS

Doutor em Sociologia e pesquisador no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

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Debate Público nas Mídias Sociais: uma questão de letramento midiático digital TARCÍZIO SILVA

Completaram-se dez anos, em 2018, desde a histórica campanha que elegeu Barack Obama pela primeira vez. Analistas, profissionais de marketing e cientistas estudaram a fundo a campanha com um otimismo – me incluo – que fazia jus a tudo que as mídias sociais poderiam oferecer a estudiosos da sociedade e opinião pública: campo virtualmente infinito para oferecer informações e discussões sobre os mais variados temas e ao mesmo tempo um modo de medir aquelas opiniões em suas granularidades no mundo complexo. Nos últimos anos, porém, Reino Unido, EUA, Guatemala, México, Myanmar, Nigéria e o nosso Brasil, entre outros países, testemunharam os perigos e impactos que uma mistura da radicalização política e a inflamação de discurso de ultradireita podem ter com uma internet plataformizada. A percepção de que Facebook, Twitter, YouTube e outras plataformas democratizam a comunicação é errônea, apesar de ser o discurso hegemônico. Elas criam novas possibilidades, sim, mas não necessariamente são positivas e podem gerar ainda mais concentração dos meios de comunicação do que conhecíamos antes. Ativistas, pesquisadores, parlamentares e até 26

consultores de mercado têm usado internacionalmente o termo “Big Five” em referência às cinco gigantes da tecnologia – Apple, Alphabet, Microsoft, Facebook e Amazon. Juntas elas dominam não só as principais mídias sociais e ambientes de comunicação online, mas também tecnologias de acesso, inovações quanto a robótica, cloud computing e inteligência artificial. Estas tecnologias possuem impacto não só na comunicação, mas na economia mundial e também na democracia – pesquisadores do próprio Facebook já publicaram artigos científicos sobre a capacidade de direcionar propensão a voto e estados emocionais de milhões de pessoas com pequenas mudanças nos algoritmos de visibilidade de conteúdo. Entretanto, todas têm em comum o fato de que seriam apenas “tecnologias neutras”. A capacidade de influenciar esta ou aquela esfera pública seria responsabilidade apenas de seus usuários. Não é o que pensam legisladores e pesquisadores que estão pressionando estas corporações em inúmeros casos de influência negativa, venda de dados e vazamentos. Sobre o uso das mídias sociais para articulação com a população sem mediação do jornalismo, o NOVEMBRO | DEZEMBRO 2018


É necessário um esforço coletivo do Estado, universidades públicas e privadas, empresários, startups, ativistas e cidadãos para colocar o Brasil em pé de igualdade no debate sobre a tecnologia

caso de bloqueio de usuários no Twitter pelo presidente americano Donald Trump é emblemático. Depois de bloquear milhares de cidadãos críticos à sua administração, a corte federal estadunidense concluiu que bloquear cidadãos fere a primeira emenda da constituição. Quanto aos perigos do uso nocivo das plataformas em relação à democracia, vimos o escândalo do uso massivo de dados de forma favorável à eleição de Trump. A empresa responsável pela campanha foi processada, o Senado americano realizou audiências com o Facebook, mas, a rigor, pouco foi feito. A plataforma aproveitou a oportunidade para fechar mais o acesso aos dados, deixando pesquisadores e ativistas a ver navios. E qual a relevância disso tudo para o Brasil e perspectivas sobre desenvolvimento? Todas! É necessário um esforço coletivo do Estado, universidades públicas e privadas, empresários, startups, ativistas e cidadãos para colocar o país em pé de igualdade no debate sobre a tecnologia. Há décadas se fala, nos campos da Educação e da Comunicação, sobre “letramento midiático”: conhecimentos necessários aos cidadãos para consumir mídia de forma inteligente. Hoje, com o excesso informacional digital este letramento se torna indispensável não só para os cidadãos, mas para o futuro do país.

Divulgação

TARCÍZIO SILVA

RUMOS

Diretor de Pesquisa em Comunicação no Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD). Mestre em Comunicação. 27


OPINIÃO

Cumprir a Constituição

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“mais do mesmo” dos últimos 20 anos. Propõe a volta do crescimento mais robusto e livre do incesto público-privado que tanto mal fez ao Brasil. O desenvolvimento econômico, isto é, o aumento do que produz cada trabalhador, é condição necessária para a construção de uma sociedade civilizada onde a plena liberdade individual deve ser acomodada ao aumento persistente da igualdade de oportunidades. A mitigação de todas as formas de desigualdade deve ser o resultado de políticas públicas que tornem irrelevante o local do nascimento de cada cidadão que, ao nascer, precisa de cuidados mínimos e de atenção especial nos primeiros anos de vida que lhe deem a mesma capacidade de apreensão do mundo, ou seja, saúde (inclusive saneamento) e educação. Não gratuitos, como alguns supõem, mas pagos por toda a sociedade na forma de impostos proporcionais à renda de cada um. Por outro lado, é um fato empírico incontornável que o aumento do que produz cada trabalhador (isto é, o desenvolvimento econômico) depende do aumento do estoque de bens de produção (inclusive infraestrutura) posto à sua disposição. Isso exige que a sociedade poupe (deixe de consumir) uma parcela do que ela produziu para recompor (e aumentar) o estoque de capital físico depreciado pelo seu uso na própria produção. A conquista de um desenvolvimento robusto e inclusivo exige, portanto, muito mais do que a boa administração da Justiça e da Economia, que parecem asseguradas. Há dúvidas maiores na sugerida “decadência do Ocidente”, no campo da Educação (a “escola sem partido” que recusa a teoria da evolução!) e no da Saúde, sobre o qual pouco se sabe. Esperemos que na “infraestrutura” encontremos uma solução acima de qualquer suspeita, que permita a recuperação do enorme tempo perdido.

ANTONIO DELFIM NETTO Marcelo Correa

Não foi a Constituição de 1988, com seus admiráveis Princípios Fundamentais (Direitos Individuais e Coletivos e Direitos Sociais), que produziu o desastre fiscal que emergiu lentamente desde 1989. Ao contrário, foi o sistemático descumprimento do Art. 167 pelo poder Executivo, com alegre cooperação do Legislativo, que causou a tragédia. Ao longo desses 30 anos – “tempo” do PSDB e do PT – cursou-se a escola “risonha e franca” da fraude orçamentária. Nunca, nem o Executivo, nem o Legislativo (a despeito da excelente Lei de Responsabilidade Fiscal) levaram a sério a restrição orçamentária. O Legislativo sempre fixou primeiro a despesa e, depois, “inventou” a receita para cobri-la, com déficits fiscais sistemáticos financiados pela dívida pública. Enquanto a dívida crescia em termos nominais, o mesmo que crescia o Produto Interno Bruto (PIB) nominal, o problema foi ignorado. Só quando o voluntarismo da política econômica para a reeleição a qualquer custo acabou no impeachment da presidente é que se pensou no assunto. O desastre foi de tal ordem que a equipe econômica do governo Temer levou seis meses para corrigir o imbróglio da contabilidade “criativa”. Agora é pacífico que sem uma reforma (séria!) da Previdência e sem um programa que permita a recuperação conjuntural do PIB, não teremos a volta do crescimento. Aí está o maior problema do novo governo. Mesmo com sua vigorosa vitória contra o sistema político, este ainda detém o poder de procrastinar a reforma da Previdência e tentar diluir o entusiasmo e o apoio popular de que hoje dispõe. Bolsonaro tem experiência parlamentar e conhece que o Congresso tem leis “éticas” internas: por exemplo, um “líder” partidário que não cumpre a palavra empenhada perde sua credibilidade e torna-se inservível! Em compensação, o “regimento” proíbe que um parlamentar vote em seu próprio benefício, o que é solenemente ignorado! A experiência de trabalhar com “bancadas” em lugar de partidos pode até dar certo. Ele sabe, entretanto, que no Congresso é preciso o “convencimento”, não a “blitzkrieg”. O presidente eleito está montando uma administração voltada para resolver os problemas que sensibilizaram a sociedade brasileira a ponto de ter lhe dado uma vitória confortável. As escolhas do juiz Sérgio Moro e do economista Paulo Guedes, somadas à liberdade que lhes concedeu para controlarem livremente a formação de suas equipes, indica a disposição de ter um governo capaz de vencer o movimento entrópico do

Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento. NOVEMBRO | DEZEMBRO 2018


ARTIGO

Desafios e oportunidades da inovação das pequenas empresas

RUMOS

papel das políticas de apoio à inovação em pequenas e médias empresas a difusão de tecnologia industrial básica, especialmente por meio de programas de extensionismo industrial. Esses programas possuem o importante efeito de difundir técnicas de produção junto às pequenas empresas, o que pode exercer efeitos importantes sobre os seus níveis de produtividade. Além disso, os programas de extensionismo podem ser executados por meio do aproveitamento de sistemas de governança específicos em Arranjos Produtivos Locais (APL), e das instituições locais de apoio e prestação de serviços às empresas locais (Suzigan, Garcia & Furtado, 2003).

Referências Nogueira, M. O. (2017). Um pirilampo no porão: um pouco de luz nos dilemas da produtividade das pequenas empresas e da informalidade no Brasil. Brasília, IPEA. SEBRAE (2016). Indicadores de Crédito das Micro e Pequenas Empresas (MEP) no Brasil, Brasília, Sebrae. Garcia, R., & Madeira, P. (2013). Uma avaliação da difusão de práticas de gestão da produção entre pequenas empresas em sistemas locais de produção. Produção, 23(1). Suzigan, W., Garcia, R., & Furtado, J. (2003). Governança de sistemas produtivos locais de micro, pequenas e médias empresas. Pequena empresa: cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 67-83.

RENATO GARCIA

Divulgação

No último encontro da Associação Brasileira de Economia Industrial e da Inovação (Abein), realizado em setembro, em Uberlândia (MG), foi realizada uma sessão especial com uma mesa-redonda sobre o tema: “O Papel das MPMEs no Desenvolvimento Econômico Brasileiro”. A mesa contou com especialistas de diversas instituições no Brasil. No debate, foram discutidos diversos temas relacionados com as características desse importante segmento de empresas dentro da estrutura produtiva brasileira. É inegável a importância das pequenas empresas na geração de oportunidades de emprego e de empreendedorismo, como se pode verificar pela participação das pequenas empresas no total de empresas e de empregos gerados. Na ocasião, um dos principais problemas das empresas de pequeno porte, que diz respeito às suas dificuldades de financiamento e de acesso a recursos, foi objeto do debate. O acesso ao financiamento é uma das desvantagens relativas ao tamanho das empresas, que pode dificultar processos de crescimento, expansão ou diversificação no médio e longo prazos. Uma solução para o entendimento desse problema foi apresentada em um estudo amplo sobre o crédito para pequenas empresas realizado no Brasil (Sebrae, 2016). Com dados de 2015, o estudo aponta uma muito baixa inadimplência das pequenas empresas, apesar das taxas de juros mais altas das operações. Outro tema bastante discutido ao longo da conferência diz respeito à importância da inovação para as empresas de pequeno e médio porte. Dados da Pintec, apontados por estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) (Nogueira, 2017) e apresentados no encontro, mostram que é significativa a porção de pequenas empresas que mantêm esforços inovativos permanentes. Além disso, deve-se ressaltar o papel das pequenas empresas de base tecnológica na geração e difusão de inovações tecnológicas de ponta, pois muitas vezes essas empresas são responsáveis por lançar novas tecnologias que rompem com as trajetórias tecnológicas vigentes. Todavia, para o maior conjunto de empresas de pequeno porte, as demandas tecnológicas mais importantes estão relacionadas com problemas associados aos seus processos produtivos cotidianos (Garcia e Madeira, 2013). Nesse sentido, é

Professor do IE/Unicamp; sócio-fundador da Associação Brasileira de Economia Industrial e Inovação (Abein)

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SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO

Ascom/Desenbahia

DESENBAHIA FACILITA ACESSO A CAPITAL DE GIRO Ao remodelar todo o processo de financiamento de operações para capital de giro, que estabeleceu tempo menor para análise e liberação do empréstimo, a Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) facilitou o acesso dos empresários baianos que desejam investir em seus negócios. Os recursos podem ser utilizados para a compra de mercadorias, reformas, entre outras ações. De acordo com o gerente de Desenvolvimento de Negócios, Sérgio Silva, 120 empresas já tiveram acesso à linha, que não exige garantia e permite o parcelamento em até 36 meses, com seis meses de carência. “Decidimos criar uma linha que exige do empresário apenas garantia de aval, algo que é muito difícil de conseguir em instituições privadas, por exemplo”, explicou.

GOIÁSFOMENTO LANÇA LINHA PARA EMPREENDEDORES NEGROS A Agência de Fomento de Goiás (GoiásFomento) anunciou, em novembro, duas novas linhas de crédito que serão oferecidas aos micro e pequenos empresários goianos. Os produtos vão beneficiar os afroempreendedores e os profissionais que trabalham com transporte escolar. De acordo com o presidente da agência, Alexandre Tocantins, as novas linhas de crédito, com juros subsidiados e nos moldes em que estão sendo ofertadas, são pioneiras no Brasil. “O Crédito Produtivo Afroempreendedores tem o objetivo de estimular e promover os empreendedores negros, auxiliando-os na consolidação de seu negócio no mercado. Já o Crédito Produtivo Transporte Escolar vai permitir a renovação da frota, com aquisição de veículos novos para os pequenos empresários que atuam nesse ramo”, destacou. O presidente do Coletivo de Empresários e Empreendedores Afrobrasileiros de Goiás, José Eduardo da Silva, destacou que a linha deve beneficiar, inicialmente, mais de 450 pessoas no estado. “Essa é uma importante vitória, que contribui para o fortalecimento do mercado dos afroempreendedores brasileiros, que já somam 13 milhões em todo o país”, ressaltou. 30

FOMENTO PARANÁ E SEBRAE REÚNEM AGENTES DE CRÉDITO Com a participação de mais de 300 pessoas de diferentes regiões do estado, a Agência de Fomento do Paraná (Fomento Paraná) e o Sebrae-Paraná promoveram, nos dias 30 e 31 de outubro, o Encontro Estadual de Agentes de Crédito e Desenvolvimento, na cidade de Pontal do Paraná. O objetivo do encontro foi promover a capacitação e proporcionar a conexão de boas práticas do uso do microcrédito para a competitividade dos pequenos negócios nos municípios. “Essa troca de ideias e informações é muito importante para os negócios e para o desenvolvimento nas pequenas comunidades”, destacou o presidente da Fomento Paraná, Vilson Ribeiro de Andrade. Por meio da rede de agentes de crédito, a agência contratou mais de R$ 281 milhões em financiamentos de microcrédito desde 2011, beneficiando mais de 27.700 empreendimentos. O agente é responsável pelo contato direto com os empreendedores por meio de parcerias com os municípios, associações comerciais e empresariais. NOVEMBRO | DEZEMBRO 2018


Ascom/Bandes

FÓRUM DE INOVAÇÃO REÚNE STARTUPS DO ESPÍRITO SANTO Com o objetivo de fomentar um ambiente de incentivo à inovação, o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) promoveu, nos dias 5 e 6 de dezembro, a segunda edição do “Fórum de Inovação Bandes”, que recebeu mais de cem empreendedores e startups de todo o estado. O evento é uma oportunidade para empreendedores e pesquisadores terem acesso a mecanismos financeiros como fundos de participações e linhas de crédito destinadas ao setor. O Fórum é uma plataforma de conexão de startups e Fundos de Investimento em Participações (FIPs), onde as gestoras desses fundos avaliam e identificam empresas, com foco em gerar oportunidades de negócio. “É um grande momento para as empresas e para os investidores conhecerem as startups e decidirem se têm interesse em investir no negócio, conversar com os fundadores e fazer networking”, destaca o diretor-presidente do banco, Aroldo Natal.

RURAL: SICREDI DISPONIBILIZA R$ 8,2 BI

BRDE FORMALIZA CONTRATO COM BANCO EUROPEU DE INVESTIMENTOS

Apenas nos quatro primeiros meses do Plano Safra 2018/2019, de julho a outubro, o Banco Cooperativo Sicredi disponibilizou R$ 8,2 bilhões em crédito rural entre custeio, comercialização, industrialização e investimento, valor 22% superior ao liberado no mesmo período da safra anterior. Para operações de investimentos, o banco liberou, entre julho e outubro, R$ 1,3 bilhão, montante 85% superior ao mesmo período da última safra. Mais de 80% das operações realizadas foram direcionadas aos pequenos e médios produtores rurais, que são o principal foco de atendimento do banco. “Os dados não só ilustram a forte atuação que o Sicredi possui no agronegócio brasileiro, como também sinaliza a confiança dos produtores associados à instituição na retomada da economia, para investirem nos seus negócios”, destacou Antonio Sidinei Senger, superintendente de Crédito Rural e Direcionados.

O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e o Banco Europeu de Investimentos (BEI) assinaram, no dia 26 de novembro, em Curitiba, um contrato financeiro no valor de 80 milhões de euros (R$ 353 milhões) para financiar projetos com foco em energia renovável, eficiência energética e mobilidade urbana no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. O contrato com o Banco Europeu é resultado dos entendimentos que foram iniciados em 2017, quando o BRDE recebeu a visita técnica da instituição europeia. A aproximação se deu especialmente pelo reconhecimento da Política de Responsabilidade Socioambiental do BRDE na contratação de operações financeiras através de programas como o BRDE PCS (Produção e Consumo Sustentáveis). “A nossa parceria só pôde ser concluída porque o banco cumpre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os projetos a serem financiados devem seguir essa linha, que é uma das prioridades do BEI na região”, disse o executivo sênior do banco, Alexandre Varela. O presidente do BRDE, Orlando Pessuti, afirmou que a parceria é um importante avanço no objetivo estratégico de diversificação de fundings do banco, além de reafirmar o compromisso da instituição banco com o desenvolvimento sustentável. “Com mais este recurso, poderemos investir ainda mais em projetos de energias renováveis”, exemplificou.

RUMOS

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LIVROS

INDÚSTRIA E INOVAÇÃO

Imperativo do fortalecimento da competitividade industrial no Brasil Bernardo Cabral, Felipe Queiroz, Fernanda Perin, Mauricio C. Pinheiro, Paulo C. Negreiros Figueiredo, Rubia Wegner FGV Editora, 2018, 284p.

Como a indústria brasileira poderia fortalecer sua competitividade por meio da inovação tecnológica? A resposta a essa questão é o que guia uma pesquisa inédita no país, realizada no âmbito do Programa de Pesquisa em Aprendizagem Tecnológica e Inovação Industrial no Brasil, da Fundação Getulio Vargas, e que é tema desta obra. Sob a liderança do professor Paulo C. Negreiros Figueiredo, os autores apresentam os principais resultados da pesquisa e debatem a importância do fortalecimento da competitividade industrial no Brasil. A pesquisa apresentada no livro gerou novas evidências e explicações sobre variações entre empresas da mesma indústria e entre áreas tecnológicas da mesma empresa (nível micro), em termos de acumulação de capacidades

tecnológicas para inovação, suas fontes e seus impactos em competitividade. As análises e os resultados da pesquisa trazem clareza sobre questões importantes que vêm interessando economistas, empresários, cientistas e formuladores de políticas públicas. Servem ainda de potencial insumo para tomadores de decisão sobre o fortalecimento da competitividade da indústria brasileira. Os autores defendem que o desenvolvimento tecnológico e a inovação são fatores decisivos para que os países avancem para a categoria de alta renda per capita. De acordo com a obra, a história mostra que nações que se desenvolveram industrialmente por meio da acumulação de capacidades tecnológicas para inovação também obtiveram significativo desenvolvimento socioeconômico.

ECONOMIA EM SÍNTESE

Métodos de Análise Econômica Fernando Nogueira da Costa Editora Contexto, 2018, 288p.

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Neste livro, o economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Fernando Nogueira da Costa, apresenta, de forma simples, uma introdução à Economia e aos principais conceitos econômicos, sintetizando o conteúdo essencial para a formação teórica sobre a área. A obra discorre sobre os diversos pensadores e linhas de pensamento da economia em diálogo com diferentes áreas do saber, examina a situação econômica nacional e mundial a partir de dados concretos e reflete sobre o papel dos economistas hoje. Assim, o autor defende que é necessário ter conhecimento plural de todas as correntes de pensamento econômico, aliado a um conhecimento interdisciplinar que in-

corpore os métodos de todas as demais ciências afins. Dividido em três partes – Teoria Pura, Teoria Aplicada com Outras Áreas de Conhecimento e Arte de Tomada de Decisões Econômicas Práticas – o livro passa por temas como os métodos de análise equilibrista, neoliberal e da economia política, a história e a sociologia econômica, a geopolítica e a geoeconomia, a economia comportamerntal e os instrumentos da política econômica. Para Costa, que aplicou o método proposto no livro aos estudantes de graduação, é necessário “estudar e trocar ideias entre várias áreas de conhecimento para entender o mundo contemporâneo através de seus diversos métodos de análise”. NOVEMBRO | DEZEMBRO 2018


CONCENTRAÇÃO À BRASILEIRA

Uma história de desigualdade: a concentração de renda entre os ricos no Brasil, 1926-2013 Pedro H. G. Ferreira de Souza Editora Hucitec, 2018, 421p.

Vencedor de dois importantes prêmios concedidos às teses de doutorado mais relevantes na área de sociologia (Capes e Anpocs, no ano de 2017) e comparado à pesquisa que levou o economista francês Thomas Piketty ao topo dos livros mais vendidos em todo o mundo, o trabalho “A desigualdade vista do topo: a concentração de renda entre os ricos no Brasil, 1926-2013”, publicado em 2016 pelo pesquisador Pedro Guimarães Ferreira, ganhou edição em livro neste ano de 2018. Com base em tabulações publicamente disponíveis do Imposto de Renda de Pessoas Físicas (IRPF), o autor apresenta estimativas para a desigualdade de renda no Brasil ao longo de nove décadas. Ao contrário do previsto por teorias da industrialização e mo-

dernização, a pesquisa demonstra que não houve nenhuma tendência secular clara. Entre 1926 e 2013, as frações recebidas pelos mais ricos combinaram estabilidade e mudança em um padrão distinto do observado nos países ricos no mesmo período. Ao contrário, a concentração no topo teve idas e vindas que, mesmo temporárias, foram significativas, coincidindo com os grandes ciclos políticos do país. As estimativas apresentadas, por meio de material empírico e vasta análise teórica, permitem recontar a história do país desde a década de 1920 do ponto de vista da concentração de renda, o que, segundo o autor, seria “algo impossível de ser realizado com outras fontes de dados mais conhecidas, como as pesquisas domiciliares amostrais”.

MERCADO SUSTENTÁVEL

Sistema Financeiro e Desenvolvimento Sustentável Luciane Moessa de Souza Lumen Juris Editora, 2018, 821p.

RUMOS

Doutora em Direito, Estado e Sociedade, Luciane Moessa descreve nesta obra a doutrina brasileira e internacional mais aprofundada e atualizada sobre sustentabilidade socioambiental no sistema financeiro, além de identificar o estágio atual do mercado bancário e do mercado de investimentos na matéria, com base em farta pesquisa empírica desenvolvida no Brasil e na Europa. O grande norte da obra, segundo a autora, é a “crença de que o Sistema Financeiro necessita cumprir plenamente sua missão de contribuir com o atendimento das necessidades sociais, ambientais e econômicas da sociedade”. Para realizar um diagnóstico sobre a atuação do sistema brasileiro

neste campo, ela enfocou os dois setores mais relevantes do mercado financeiro – os mercados de crédito e o de investimentos. Ao longo de nove capítulos, o livro, disponível em formato impresso e em ebook, apresenta uma análise da autorregulação e da regulação no sistema financeiro internacional e nacional; detalha o resultado de ampla pesquisa empírica realizada no Brasil, que abrangeu o mercado bancário (bancos comerciais, de desenvolvimento e cooperativas de crédito), a área de investimentos e fundos de pensão; e trata das melhores práticas, na expectativa de contribuir com órgãos reguladores e fiscalizadores para a criação de guias, normas e metodologia para a supervisão. 33


EXPEDIENTE

Sede: SCN – Qd. 2 - Lote D, Torre A Salas 431 a 434 Centro Empresarial Liberty Mall - Brasília - DF - CEP 70712-903 Telefone: (61) 2109.6500 E-mail: abde@abde.org.br Escritório: Avenida Nilo Peçanha, 50 – 11º andar Grupo 1109 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-906 Telefone: (21) 2109.6000 E-mail: gecom@abde.org.br CONSELHO DOS ASSOCIADOS Presidente: Dyogo Oliveira DIRETORIA Presidente: Marco Aurélio Crocco Afonso 1º Vice-Presidente: Perpétuo do Socorro Cajazeiras 2a Vice-Presidente: Jeanette Halmenschlager Lontra Diretores: Antônio Gil Padilha B. Silveira, Aroldo Natal Silva Filho, Ênio Mathias Ferreira, Luiz Corrêa Noronha, Valdecir Tose, Vilson Ribeiro de Andrade e Weberson Reis Pessoa. Secretário-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima

INSTITUIÇÕES ASSOCIADAS À ABDE

AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A. AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A. AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco AGÊNCIA DE FOMENTO DO ESTADO DE TOCANTINS AGERIO – Agência Estadual de Fomento AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A. BADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A. BADESUL – Badesul Desenvolvimento S.A. – Agência de Fomento BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A. BANCO SICREDI – Banco Cooperativo Sicredi S.A. BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A. BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A. BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A. BB – Banco do Brasil S.A. BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. BNB – Banco do Nordeste S.A. BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul BRB – Banco de Brasília CAIXA – Caixa Econômica Federal CRESOL - Cresol Confederação DESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A. DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A. DESENVOLVE MT – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A. DESENVOLVE RR – Agência de Desenvolvimento de Roraima S.A. DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento Paulista FINEP – Inovação e Pesquisa FOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A. GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A. PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

Redação e Administração Avenida Nilo Peçanha, 50, 11º andar Grupo 1109 Rio de Janeiro RJ CEP: 20020-906 Telefone: (21) 2109.6041 E-mail: rumos@abde.org.br

Gerente de Comunicação & Editora Thais Sena Schettino Equipe Jader Moraes, Livia Marques Pimentel, Noel Joaquim Faiad, Joyce Ponteiro (estagiária)

Revisão Mariana e Renato R. Carvalho

Distribuição Powerlog Serviços e Manipulação

Capa Pixabay/Noel Joaquim Faiad

Publicação bimestral ISSN 1415-4722

Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas

Ano 41 - nº 302 - Novembro/Dezembro 2018 Tiragem: 5.000 exemplares

As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte.

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NOVEMBRO | DEZEMBRO 2018



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