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informe


apresentação A Raimunda é uma revista anárquica, o que significa que ela não visa abrir espaço para opressão e que ela tende a publicar obras não-opressivas. Contudo, determinar um limiar entre o opressivo e o não-opressivo é um mistério: não cabe a opressor algum dizer se o outro está ou não oprimido. Sendo assim, como editar/integrar uma publicação e ter a certeza de que o material nela veiculado não oprime algum leitor? Impossível ter certeza. Por isso reconhecer que se trata de uma tentativa e considerar a publicação de materiais não-opressivos como uma t e n d ê n c i a d a r e v i s t a : s e r í a m o s o p r e s s ivo s s e defendêssemos que a Raimunda é absolutamente anárquica, que ela é totalmente não-opressiva. Não nos cabe tal feito, mas nos cabe a tentativa de fazer uma revista não-opressiva. Essa tentativa envolve, através da arte, expor e lutar contra o que oprime. Esse é o objetivo e a motivação da revista Raimunda. A principal característica desta revista não é a sua cara, tampouco a sua bunda ou o seu vasto mundo, Raimundo, Raimunda, pouco importa. Interessa mais a sua abertura, o espaço livre-anárquico que ela oferece à pessoa artista, qualquer esta seja e o que quer que isto seja. Ela não tem dona nem é dona. A revista quer obra, quem faz obra, quem torna experiência obra. A Raimunda é uma qualquer, ela não tem norma não conversável, não é fixa, é elástica, cambiável, aberta às selvagerias da vida. Recebe sem julgar, circula, divulga, sai berrando tudo o que cabe dentro dela. Se tem um limite é o seu espaço cada vez mais largo. A revista Raimunda é toda dada. A Raimunda prioriza a produção artística, destacando a obra e o obrar artístico. Com periodicidade semestral, ela objetiva compartilhar e divulgar material feito pelas pessoas integ rantes, bem como ag reg ar novas companheiras para produções e prosas afins. Editores: Bruno Nepomuceno Clayton Marinho Diego Guimarães Jéssica Barbosa

ano 6 | número 11 | 2018 ISSN 2358-7342 [virtual] ISSN 2358-7350 [impressa]


sumário em todo bruno nepomuceno

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na pele danilo ferreira da fonseca

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seção temática - MANUAL DE POÉTICA URBANA pelos de todo corpo em pote de geleia de jabuticaba 12 diego guimarães a hora dos assassinos jéssica barbosa

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resistir/poeira/dizer/potência clayton marinho

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em todo bruno nepomuceno Em todo o canto, o que virá Será visto, revisto, tragado, E talvez digerido. É visita! Dirão alguns. É assalto! Calarão outros. Nada demais ou nada de menos Tudo com o que já nos acostumamos Nem é surpresa! É rotina. Em todo o pranto, o que virá Será vício, suplício, escalabro, E talvez conforto. É mania! Gritarão nus. É amargo! Sentirão incautos. Nada fugaz ou nada serena Toda lágrima que vem, permanece. Nem é intrusa! É poema. Em todo o espanto que virá Será difícil o néscio escapar Xadrez perdido! Certo o dia que conduz Sob o laço, medo e abraço. Cada sombra e cada luz Pelas sendas, estilhaço. Sem se opor É traço.

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na pele

danilo ferreira da fonseca Não sinto na pele a cor da minha pele Não passo pela violência do estado Que assassina a juventude negra brasileira

Não sinto na pele A dor da minha pele Não sei o que é o antigo chicote, o novo cassetete O antigo tronco, o novo camburão Não sinto na pele A força da minha pele Não tenho a sensibilidade de Machado E o amor de Pixinguinha Não sinto na pele A resistência da minha pele Não tenho a determinação de Zumbi e Dandara E nem a paixão de Marielle O que sinto na minha pele é o dever: O dever de total solidariedade e o comprometimento Com quem sente na pele A cor da sua pele

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secao tematica

manual de poética

urbana

Como pensar uma poética em tempos que exigem nosso silêncio? Como fazer uma poética com o que não há? A página em branco responde a isso. Se nada há a dizer, deixemos que o veículo seja o dito. A página em branco não é simplesmente uma página em branco. É um espaço de latência, à espera de que se dê qualquer coisa que a tire de não-potência e transforme-a em potência (de vida, de não, de basta, de grito apenas). A página em branco é uma boca arreganhada pronta a engolir os incautos, a rir, a morder ou a gritar.



pelos de todo corpo em pote de geleia de jabuticaba diego guimarĂŁes



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a hora dos assassinos jéssica barbosa

A vida pede coragem Admita o que queres Admita isso em que estás se tornando [ – Monstruoso quem sabe Monstruoso mesmo é se esconder novamente Os índios que morrem aos montes E você se escondendo Também encobertando Sim, Todos os covardes são assassinos Pois a vida A vida mesma Não é para os covardes O que ela quer é coragem [ – Por quem você chora?

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resistir/poeira/ dizer/potência clayton marinho RESISTIR Poeira suspensa, Poeira sobre as coisas, Poeira, marca do tempo, Poeira, matéria do ar. POEIRA Resiste à vassoura, Resiste à vida burguesa, Resiste ao enquadramento, Resiste à força. RESISTIR Dizer apesar de tudo, Dizer com as palavras mais precárias, Dizer quando se quer calar, Dizer a existência. DIZER Resistir ao silêncio, Resistir ao ódio, Resistir ao medo, Resistir ao poder. RESISTIR Potência de viver, Potência de alegrar-se, Potência de fazer amigos, Potência de pensar. POTÊNCIA Resistir ao axioma, Resistir à reatividade, Resistir ao fechamento, Resistir ao individualismo.

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artistas (?) bruno nepomuceno. uma tentativa de promo(ver) a vida leve pela filosofia, teatro e poesia. Professor por insistência, artista por coragem e youtuber por modinha. @brunoluftballon clayton marinho. cansado. faz capas e faxinas. E-mail: claytonrfmarinho@gmail.com danilo ferreira da fonseca. professor e historiador que risca e arrisca versos. diego guimarães. autor de enfrentamento (2015) e de instabilidade (2016), livros de poemas publicados de maneira independente, artesanal e de impressão sob demanda. um dos editores da revista raimunda e da revista filosofia de dunas. jéssica barbosa. Cada vez menos. Variando os gestos e os passos da dança.


chamada para material artístico Abrangência | A Revista Raimunda oferece um espaço para a divulgação de trabalhos de artistas, o que quer que estes sejam e quaisquer sejam os seus campos, concedendo-lhes total liberdade sobre a obra a ser publicada. Extensão | Não há limite de páginas para as obras, desde que a extensão de uma obra não comprometa a edição da revista. Ocupe o quanto quiser da Raimunda. Sugestão temática | Cada edição conta com uma sugestão temática, que tem a intenção apenas de agrupar tematicamente algumas das obras publicadas na edição em questão, sem, no entanto, limitar as demais; ou seja, permanece a total liberdade do artista na escolha do tema do material a ser enviado. Aquele que estiver seguindo a sugestão de determinado número precisa apenas indicá-lo junto ao envio do material, com vista à organização da revista. A sugestão temática da 11a edição é LAVAGEM. O prazo de envio para a Raimunda 12 termina em 12 de JUNHO de 2019. Os interessados devem entrar em c o n t a t o a t r av é s d o e - m a i l : revistaraimunda@gmail.com. ----------------------------------------


chamada para material artístico Encarte Raimunda Manifesta O encarte, que vem a acompanhar algumas das edições da revista, nasceu para suprir uma demanda de artistas (o que quer que estes sejam) interessados em publicar obras mais extensas na Raimunda, que vem se caracterizando por circular trabalhos mais breves. Portanto, o encarte se destina a trabalhos artísticos que destoam da extensão dos até então divulgados pela revista, por precisarem, pelo menos a princípio, de um percurso mais longo de leitura/observação. Ele visa a atender a tal demanda, e, apenas quando esta se fizer presente, haverá um encarte acompanhando determinada edição. Também aqui, o autor é o responsável pelo conteúdo e pela correção de sua obra. Interessados em participar de tal maneira em alguma edição devem entrar em contato dentro do prazo de envio da mesma. Observação - Apesar de contar com edição impressa, o principal meio de circulação da revista é o virtual. Os editores não se comprometem a enviar cópias impressas para os colaboradores por correio, pois dependem da disponibilidade de recurso para tanto (mesmo assim, sugerem que sempre que haja o interesse em ter as edições impressas, o leitor/artista entre em contato para saber se no momento há a disponibilidade de envio). Já nas cidades sede, as edições impressas estarão sempre disponíveis enquanto houver estoque. A Revista Raimunda é gratuita e sem fins lucrativos.


expediente Revista RAIMUNDA - Esta publicação é independente. ano 6 | número 11 | 2018 Editores Bruno Nepomuceno Clayton Marinho Diego Guimarães Jéssica Barbosa Realizadores da décima-primeira edição Clayton Marinho, Jéssica Barbosa, Diego Guimarães, Bruno Nepomuceno . Diagramação e arte Clayton Marinho Capa e contra-capa Clayton Marinho sobre obra Seabrook, Justine in Mask; atribuída a Man Ray e Jacques-André Boiffard. Sedes Belo Horizonte – Minas Gerais Natal - Rio Grande do Norte João Pessoa - Paraíba Site revistaraimunda.wix.com/revistaraimunda Contato revistaraimunda@gmail.com cada autor foi responsável pelo conteúdo e correção de seu próprio texto.




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