Revista Gente Centro-Oeste XI

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DISLEXIA

Informação é a principal arma contra o transtorno

A

aprendizagem do ingressante na esfera da educação escolar é uma das primeiras preocupações dos pais nos anos iniciais de uma criança. Problemas de adaptação nesse começo de vida geralmente são logo solucionados, mas há obstáculos persistentes e incompreendidos, que causam uma avalanche no meio familiar. A dislexia, por exemplo, está entre os distúrbios de aprendizagem com pouca informação disseminada no meio social. Uma gama de profissionais tem chamado a atenção para a falta de debate em sociedade sobre o transtorno que afeta pelo menos 7,8 milhões de pessoas. Para o neurologista Clodoaldo Pirani Júnior, a barreira entre a informação e a sociedade é o que tem causado o sofrimento dos disléxicos e seus familiares. Especialista em Clínica Médica e Neurologia Clínica, pelo Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas, para ele, é fundamental que se comece a discutir o assunto para que as famílias e outros do meio de aprendizagem das crianças passem a ter ciência do problema. “Muitas pessoas sequer conhecem o termo dislexia, ou sabem vagamente do que se trata. Por isso contribuem para a propagação de informações errôneas e de preconceito para com disléxicos”, afirma o neurologista, que atua em Barra do Garças. No fim de maio, ele participou do III Simpósio sobre Dislexia, que reuniu mais de 800 pessoas no Teatro Zulmira Canavarros, em Cuiabá. O neurologista foi acompanhado do Grupo de Estudos em Linguística Funcional do Araguaia da Universidade Federal de Mato Grosso (Gelfa-UFMT), representado pela coorde-

nadora professora Lennie Aryete Pereira Dias Bertoque e da fonoaudióloga Beatrice Lacerda Costa Leal. O evento discutiu o tema “Educação, Inclusão e Qualidade” e segundo seu coordenador, o deputado estadual Wilson Santos (PSDB), levar informação a um número significativo de pessoas foi o objetivo alcançado. De acordo com o neurologista, a dislexia trata-se de um “transtorno específico da aprendizagem da leitura”, também chamado de distúrbio. Compõe um grupo de condições cerebrais que incluem a disortografia e a discalculia. Ao contrário das “dificuldades de aprendizagem”, que decorrem de condições ambientais inadequadas ou falhas pedagógicas, o transtorno tem origem no cérebro e se caracteriza por alterações na formação neurológica. Segundo o especialista, a dislexia, que afeta 4% da população brasileira, pode estar relacionada à genética. “É uma dificuldade inesperada para aprendizagem da leitura em uma criança com inteligência, motivação e adequadas oportunidades na escolaridade”, explica. O distúrbio reconhecido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ocorre desde os primeiros anos de vida, embora se torne mais perceptível quando a criança inicia o período escolar. Apesar de dificultar a aprendizagem, o transtorno não O neurologista impede que o disClodoaldo Pirani léxico aprenda a diz que a barreira ler e a escrever. entre a informação O desafio vai dee a sociedade é o pender de uma que tem causado série de variantes, o sofrimento dos segundo o neurodisléxicos e seus logista, como a defamiliares

Mesa do simpósio de dislexia, ocorrido em maio, em Cuiabá e, acima, o neurologista Clodoaldo Pirani

manda de atividades de leitura e escrita ao longo da vida e a oferta de intervenções que propiciem um bom desenvolvimento. O especialista também ressalta que a elaboração de estratégias próprias para compensar as dificuldades é uma característica dos disléxicos, decorrente da maneira diferente de processar as informações. “Quanto mais precoce for o diagnóstico, menores serão os impactos negativos na vida da pessoa disléxica”, afirma. De acordo com ele, a falta de conhecimento dos pais, professores, empregadores e cidadãos afeta a autoestima de crianças, jovens e adultos com dislexia. O resultado é a falta de confiança, a ansiedade e, em casos extremos, até a depressão. O diagnóstico é feito por uma junta de profissionais de diversas especialidades. Segundo Clodoaldo, a avaliação multidisciplinar precisa de, no mínimo, um psicólogo ou neuropsicólogo, um fonoaudiólogo, um psicopedagogo e um médico (geralmente pediatra ou neurologista). Edição nº 11 de GENTE Centro-Oeste 25


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