Revista Gebio | Ano 2 | Edição 7

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Revista de Controle Biológico

Avanços no uso de bioinsumos nos canaviais Manejo biológico do bicudo da cana-deaçúcar Sphenophorus levis

AVANÇOS NO USO DE BIOINSUMOS NOS CANAVIAIS

Tecnologia de aplicação nas operações de corte de soqueira e vinhaça localizada

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ANO
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Agosto de 2023
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Editorial

Chegamos no mês mais importante da Occasio: agosto! Mês da realização do evento técnico mais importante da América Latina, o 11º Tecnobio CANA Sudeste. O evento, que será realizado em Ribeirão Preto, em 16 de agosto, consagra todas as realizações do ano vigente. Todos os avanços no manejo biológico de pragas, doenças, plantas daninhas e nutricional da cana-de-açúcar. Nessa edição, a número 7, as palestras do 11º Tecnobio CANA Sudeste estarão assinadas pelos renomados palestrantes do evento. São artigos sobre os avanços no uso de bioinsumos nos canaviais, com dicas do bom uso deles, manejo biológico de Sphenophorus levis e no manejo geral de migdolus, as boas práticas de aplicação de bioinsumos e pesticidas químicos e exemplos de manejo biológico em grandes áreas.

Além dos artigos do Tecnobio, temos, nessa edição, um lindo texto sobre a polinização do cipó de São João, planta ornamental e daninha ao mesmo tempo, e o ilustre Dr. Santin Gravena nos contemplará com seus conhecimentos num artigo sobre a “mosca-branca” dos citros.

Com tantas novidades e avanços, que venham os eventos Tecnobio CANA Nordeste e Tecnobio CANA-GRÃOS Centro-Oeste, em 2024!

Me parafraseando, saímos de um controle biológico poético e sem técnicas do século anterior para uma prática aprimorada, tornando o controle biológico técnico e com uma pitada de poesia, visto que é a vida manejando a vida e trabalhando pela vida!

Boa leitura a todos!

Gebio Revista de Controle Biológico

Agosto de 2023 ANO 2 . NÚMERO 7

EDITOR

Alexandre de Sene Pinto alexandre@occasio.com.br

ADMINISTRAÇÃO

Fabio Bueno fabio@occasio.com.br

VENDAS DE PUBLICIDADE

Ligia Rizzo gebio@occasio.com.br

PROJETO E ARTE-FINALIZAÇÃO

Senha Assessoria em Comuninação sac@senhaonline.com.br

Diagramação

Rodrigo Ferreira Iwahashi

FOTO DA CAPA:

Adobestock

GRÁFICA

Grupo Saint Edwiges de Artes Gráficas

OCCASIO editora e análises técnicas

Ltda-ME

Rua do Trabalho, 396

Vila Independência, Piracicaba, SP 13.418-220

Distribuição Gratuita

Todo o conteúdo dos artigos é de responsabilidade dos autores que assinam.

Tiragem dessa edição: 2.000 exemplares

Dúvidas, opiniões ou sugestões, escrever para contato@occasio.com.br

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Sumário

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CAMPO GRAVENA

Mosca-branca

Tetraleurodes sp. Em citros, como pode ser o controle biológico sob tolerância zero ao psilídeo

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TECNOBIO

Manejo da cana-de-açúcar com bioinsumos em grandes áreas

12

TECNOBIO

Avanços no uso de bioinsumos nos canaviais

TECNOBIO

Manejo biológico do bicudo da cana-deaçúcar Sphenophorus levis

39

PÓLEN

E as flores do cipó de são joão, são polinizadas por abelhas?

46

PESQUISA

Metabólitos microbianos - Uma nova geração de biodefensivos para agricultura

23

TECNOBIO

Tecnologia de aplicação de nas operações de corte de soqueira e vinhaça localizada

51

SEMIOQUÍMICOS NA AGRICULTURA

Manejo de Migdolus

29

TECNOBIO

Manejo biológico das cigarrinhas e da brocada-cana em canaviais no estado de Goiás

Campo Gravena

MOSCA-BRANCA TETRALEURODES SP. EM

CITROS, COMO PODE SER O CONTROLE

BIOLÓGICO SOB TOLERÂNCIA ZERO AO

PSILÍDEO

6

No início era assim como na Figura 1. Desde os anos 70 do século passado, quando nós começamos a pesquisa, desenvolvimento e implementação do sistema MIP (Manejo Integrado de Pragas) em citros e outras culturas a partir da FCAV/ Unesp de Jaboticabal, as plantações de citros exibiam este tipo de estrutura: uma escama espiralada de cor

preta circundada por um halo branco, formado por cerdas de cera branca, supondo ser protetora do inseto, macho ou fêmea, que o circundava. Não sabíamos do que se tratava porque era isso e nada mais. Mais tarde desconfiávamos que era a pupa, parte do ciclo de vida da mosca-negra, Aleurocanthus spinipherus. Encontrávamos sempre essa estrutura e

mais nada nas proximidades dela e da folha em que estava. Somente podíamos supor que ninfa de primeiro estágio (“crawler”) aterrizou aí vinda pelo vento (maior processo migratório) sobreviveu até a fase de pupa, emergiu (eclodiu) adulto(a), pode ter tido sucesso no acasalamento, ao procurar por um parceiro que chegou da mesma forma, ou por partenogênese, efetuando posturas em brotação próxima. Mas, como naquela época, tínhamos certo equilíbrio biológico nos pomares, certamente os ovos e ninfas seriam presas fáceis de crisopídeos, coccinelídeos (Figura 2) que eram abundantes. Ninfas também estariam

expostas a parasitoides de outras moscas-brancas. Portanto, jamais decolariam com populações crescendo em várias gerações a ponto de causar desequilíbrios severos como vamos ver agora, que estamos há muitos anos sob regime de calendários mensais, quinzenais, semanais de inseticidas por tolerância zero ao psilídeo, vetor do greening.

DANOS, BIOLOGIA E COMPORTAMENTO

Até a três anos atrás sob controle natural (Figura 1), explode agora em alguns pomares em que calendário de aplicações estão em vigor (Figura 3) há vários anos. Ela veio devagar aumentando suas populações, aparecendo em Ubirajara (SP), Tetraleurodes mori, e em Medeiros (MG), Tetraleurodes sp., pelo que sabemos e lidamos com elas, mas pode ter havido em mais locais como tiveram relatos de produtores na região de Itajobi-SP em Limão Tahiti e laranja. Os danos delas são evidentes na deformação e descoloração de folhas novas (Figura 3). O dano indireto é o fungo fumagina que cresce nas bolhas de seiva em excesso ou sobre as folhas onde caiu a seiva em excesso.

7
Campo Gravena
Figura 1. Tetraleurodes isolada e em infestação inicial. Figura 2. Pupa de Azya luteipes associada a mosca-branca. Figura 3. Folha muito infestada.

Campo Gravena

A B C

O gênero Tetraleurodes que contém mais de 50 espécies é citado como hospedeiro de cerca de 200 espécies de plantas cultivadas em todo o mundo. Entretanto, poucas estão identificadas.

Assim, a biologia que vamos apresentar aqui é baseada na espécie T. perseae, que ocorre em abacate

e citros no Brasil. As colônias têm o ciclo iniciado a partir de brotações novas com ovos. Como toda mosca-branca os adultos (Macho e Fêmeas) eclodem das pupas (puparias) e se dirigem imediatamente para as brotações novas num ato imperceptível para nós. Eles povoam as folhas herbáceas onde se dá também acasalamento, geralmente à noite e iniciam

as posturas. O ciclo é: ovo, 11 dias; ninfas de primeiro estágio, 10 dias.

Essa duração maior do primeiro estágio (crawler) é uma saída da natureza no sentido de dispor a esta fase mais dias de procura de local ideal para se fixar com o estilete e iniciar sugamento de seiva. Deste lugar o primeiro estágio já muda de pele para o segundo e não sai mais até o estágio de pré-pupa (pára de se alimentar) e da pupa (se transformando em adulto).

fendas

O excesso de seiva sugado aparece como bolhas sobre os insetos (Figura 4). Depois desses 21 dias, vêm os estágios 2, 3 e 4 com duração mais rápida, de quatro, cinco e três dias, seguindo-se a pupa preta com franja branca de cera: seis dias e o adulto dois dias (Figura 5), que ao sair da pupa deixa uma fenda (Figura 6) longitudinal visível. Vive só para acasalar e ovipositar. Todos estes dados foram a 25oC. Até a pupa, são 39 dias, tempo de envelhecimento dos brotos. Um comportamento interessante é a não exposição na face superior das folhas mais velhas. Aparentemente, não se vê nada, mas se virarmos a folha pode estar toda infestada de ninfas e pupas (Figura 4). Esta posição a torna de difícil controle por inseticidas de contato, inclusive os biodefensivos à

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Figuras 4. Comportamento da mosca-branca ao longo de uma infestação em surto de desequilíbrio biológico. Abordagem inicial de adultos na brotação nova tenra para acasalamento e postura (A); os brotos mais baixos em posição horizontal, próximo ao solo, parecem sem infestação (B), porém ao invertê-los, notamos alta infestação de ninfas e pupas(C). Figura 5. Adulto da mosca-branca. Figura 6. Colônia de pupas com os adultos emergidos.

Campo Gravena

A B C

base de fungos.

CONTROLE BIOLÓGICO NATURAL E ARTIFICIAL

O processo migratório é um tanto complexo no grupo das moscas-brancas (Aleyrodidae). Podemos classificar em duas categorias: 1. Adultos ao vento. A curta e médias distâncias, mas o processo tem que ser muito rápido uma vez que a duração de vida é de apenas de 2 dias.

A fêmea deverá estar acasalada ou a reprodução no destino, iniciada por postura, deverá ser por partenogênese (desconhecida na pesquisa ainda), ou acasalando-se no destino por proximidade de macho na migração, sendo isso muito raro de ocorrer; 2. Ninfas do primeiro estágio. Mais garantido, pois é dotada, como já foi dito, de condições para tanto. É uma fase mais resistente ao meio e mais duradoura (10 dias) podendo iniciar o ciclo no destino que dependendo do índice inicial de outros migrantes poderá ter condições de desenvolver em colônias, porém sujeitas aos ini-

migos naturais se fossem abundantes no destino (Figura 2). Tetraleurodes sp. não se desenvolvia em função da riqueza de inimigos naturais de outros aleirodídeos da época sem cigarrinhas da CVC e psilídeo do greening, agora sob mais intensa tolerância zero ao vetor e à bactéria causadora da doença. Como seria se não estivéssemos bob calendários de aplicação de inseticidas de largo espectro de ação a fauna benéfica principal.

Insetos Predadores. O predador mais presente e símbolo da fauna benéfica na citricultura é o grupo dos crisopídeos com as espécies Ceraeochrysa cubana e C. everes

Como eles aparecem na situação atual da citricultura sob calendários de inseticidas? Infelizmente, as larvas que encontramos entre pulverizações quinzenais, como exemplo, são resultados de aparições furtivas de adultos imigrantes pelo vento, vindas das páreas naturais de APPs (Áreas de Preservação Permanentes) obrigatórias na legislação brasileira

e deixam seus ovos de onde nascem essas larvas como a da foto (Figura 7), muito nova ainda que sobrevive entre uma pulverização e outra.

O mesmo ocorre como os outros predadores de mosca-branca em geral que são as joaninhas Azya luteipes, que é especialista de insetos com larvas sem carapaças, as joaninhas especializadas em pulgões e psilídeos mas que também predam larvas de moscas-brancas como Cycloneda sanguinea, Curinus coelureus, Hippodamia, convergens, Harmonia axyridis etc.

Insetos Parasitoides. Eretmocerus sp. e Encarsia spp. (Hymenoptera: Aphelinidae) são os dois parasitoides mais importantes de Tetraleurodes spp. Na California, se cria massalmente a espécie Eretmocerus eremicus (Figura 8). As fêmeas localizam os hospedeiros da mosca-branca, em parte, pelo olfato e depositam seus ovos entre a ninfa da mosca-branca e a superfície da folha. As fêmeas irão ovipositar em todos os estágios imaturos da mosca-branca, exceto ovos,

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1Informação extraída de: Mark Hoddle, Departamento de Entomologia, Universidade da Califórnia, Riverside. Eretmocerus eremicus (=Eretmocerus sp. nr. californicus , linhagem Arizona) (Hymenoptera: Aphelinidae), 2010. https://biocontrol.entomology.cornell.edu/parasitoids/eretmocerus.php. Figuras 7. Como chega a fêmea adulta (A) no talhão sob tolerância zero ao psilídeo? Só pode ser pelo vento e casualmente. De onde que vem? Só pode ser das áreas naturais próximas ou APPs. Algumas consegue botar ovo (B) de onde nasce a larva conhecida como bicho lixeiro (C) que durante parte da vida, antes da pulverização do calendário chegue, atua predando presas dentre elas a mosca-branca preta.

Campo Gravena

mas os segundos ínstares são os preferidos.

Essa espécie tem comportamento interessante: ela é ecto-endo parasitoide. O ovo de E. eremicus eclode cerca de 4 dias após a postura e a larva se desenvolve como um parasitoide externo-interno, pois recém-emergida prende as peças bucais em forma de gancho na parte inferior da ninfa da mosca-branca e abre um pequeno orifício na “barriga”.

Após 3-4 dias de sugamento, a larva do parasitoide entra no hospedeiro, onde permanece dormente até que a mosca-branca se transforme em pupa. Ao se transformar em pupa, a larva da vespinha libera enzimas digestivas e começa a ingerir os conteúdos da pupa o que leva a mosca-branca à morte. A vespinha mastiga a pele da pupa ao sair, deixando um orifício redondo típico e vive de 6 a 12 dias.

A fêmea mata ninfas para se alimentar antes de ovipositar sendo pois duplamente efetiva, chegando a 40% de ninfas mortas só na autoalimentação1.

Encarsia formosa seria a outra espécie comum de mosca-branca em geral e de Tetraleurodes spp. em particular, porém é menos explorada, como também a espécie Cales noacki. De qualquer forma são duas outras opções disponíveis e estudadas para uso no controle biológico de Tetraleurodes spp. Nas condições fitossanitárias atuais dos nossos pomares, o uso de parasitoides e insetos predadores generalistas liberados massivamente (inundativamente) é inoportuno, pois entre duas pulverizações sequenciais de calendário, não haveria tempo de liberação, busca, postura e desenvolvimento dentro do hospedeiro. Somente Trichogramma pretiosum está sendo possível para o bicho-furão, porque se trata de ovo-no-ovo por drone, em poucos dias de atuação, entre duas pulverizações quinzenais.

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Figuras 8. Eretmocerus eremicus

Fungos Entomopatogênicos. Esse é o controle biológico possível referido no título do artigo. Pois, se trata de pulverização como qualquer defensivo, basta ter o produto bem formulado e bem manipulado desde a fábrica até o alvo biológico.

Além dos cuidados necessários com o produto que é um ser vivo que as pessoas que lidam no fitossanitário desde a fábrica até a pulverização é preciso atentar para alguns aspectos muito importantes: 1. Lembrar que se está lidando com material vivo; 2. Que o produto precisa atingir o alvo;

3. Que a água que vai junto é impor-

Campo Gravena

tante para manter a umidade por algum tempo e auxiliar na infecção dos conídios que estão na formulação;

4. Que ao contrário dos químicos o biológico pode ser repetido quantas vezes puder, pois comprovou-se que não causa resistência na praga combatida; 5. Que as repetições ajudam a formar o inóculo e atingem gerações sucessivas; 6. Quanto mais se usa biológico mais barato fica o custo do uso; 7. Conhecer como agem os fungos em insetos e ácaros é muito importante. (Ver: Fungos: Como Agem contra Insetos e Ácaros. Citricultura Atual, n° 131, p.14-16, 2021); 8. As nin-

fas de primeiro estágio são as mais vulneráveis à infecção; 9. É por elas que se avalia com mais segurança a eficácia.

Pelas pupas e pelos adultos pode haver engano, pois as pupas que exibem a fenda já não contêm mais nada dentro porque o adulto emergiu, portanto não haverá infecção e os adultos nas brotações, muitos podem ser imigrantes de última hora, e das proximidades, juntando-se aos residentes infectados ou não.

É preciso notar que existem fungos de ocorrência natural também (Figura 9A). Esporulação marrom-escuro-a-preta é por fungo natural Myriangium duriaei, cor marrom é por Aegerita webberi, cor vermelho-vivo é Fusarium coccophilum, cor amarelo é por Aschersonia aleyrodes e rosa é por Cordyceps (Isaria) fumosorosea o qual é único de todos esses, que temos disponível comercialmente, para pulverizar formando inóculo. É um produto formulado em óleo mineral. Na foto a infecção é resultado de uma única aplicação experimental em pomar de laranja na Serra da Canastra-Medeiros-MG (Figura 9B). O que ocorreu foi que fizemos uma epizootia artificial (Figura 9B) mais eficaz que a natureza (Figura 9A) uma vez atingido o alvo a infecção é garantida e o crescimento posterior também. As partes brancas aparentemente não infectadas na o foram porque os adultos jã saíram das carapaças das pupas.

Para finalizar, os microbiodefensivos vieram para ficar e servem para substituir ou ser associado aos inseticidas químicos seletivos, se possível, aos inimigos naturais. Desta forma, serão participantes de programas de manejo ecológico de pragas do agronegócio vindo de encontro ao apelo para a sustentabilidade ambiental mesmo em tempos de greening (HLB), enquanto não vem a solução pelo lado da bactéria impactante Candidatus Liberibacter

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asiaticus. Figura 9 A. Aspecto de uma epizootia natural sobre Tetraleurodes sp. em condições ótimas de estufa de produção de mudas provavelmente de Cordyceps (Isaria) fumosorosea Figura 9 B. Aspecto de uma epizootia artificial, de aplicação de Cordyceps (Isaria) fumosorosea, comercial de formulação em óleo (Challenger da Koppert), aplicado sobre mosca-branca preta Tetraleurodes sp. Gilberto Tozatti (GCONCI)

AVANÇOS NO USO DE BIOINSUMOS NOS CANAVIAIS

Muitas novidades vêm surgindo no manejo biológico de pragas, doenças, plantas daninhas e na nutrição de plantas. Chego a ter pena dos líderes de fazendas e de Usinas sucroalcooleiras com tantas opções para o manejo biológico das culturas. Difícil tomar decisões!

Nesse cenário, ainda continua a desinformação a dominar. É muito “achismo”, pseudosabedoria e oportunismo. Para ajudar o setor canavieiro, seguem aqui algumas dicas sobre bioinsumos:

1. Nem todos os bioinsumos são de qualidade. Além de confiar na empresa que comercializa os bioinsumos, você também precisa avaliar a eficácia deles, especialmente quando ainda não observou os resultados em outra fazenda da sua região. Para se produzir bioinsumos de qualidade, além

de laboratórios de alta tecnologia, também são necessárias formulações de alta tecnologia.

2. Prefira bioagentes específicos e conhecidos do que mistura de muitos sem identificação de espécies. Avançamos tanto na compreensão das atividades de micro e macrorganismos, que hoje é preferível utilizar organismos com funções definidas a apenas povoar nossos agroambientes com milhões de seres desconhecidos. O bioagente estudado tem conhecidas algumas de suas funções, que geralmente são muitas. Um ambiente bem manejado também é naturalmente muito diverso.

3. Nem toda mistura de microrganismos é confiável. O grande avanço no uso de microrganismos foi a formulação deles. Hoje, uma formulação envolve de 11 a 15 inertes com funções e doses específicas para maximizar a ação e

sobrevivência dos agentes de controle. É muito difícil existir uma formulação que consiga manter vivos e funcionais todos os microrganismos misturados. Por isso, especialmente nesse caso, use produtos de empresas idôneas e, mesmo assim, os experimente avaliando as funções de cada microrganismo envolvido. Na dúvida, prefira você mesmo fazer suas misturas em tanque.

4. A relação dose-eficácia é bem estreita para a maioria dos bioagentes. Existe dose certa a ser utilizada para o manejo de pragas, doenças, plantas daninhas e nutricional de plantas. Se usa menos do que a dose definida pela Ciência, não há organismos suficientes para exercer a função desejada. Se usa mais, há formas de regulação populacional entre os bioagentes, diminuindo muito a população de micro e macrorganismos, ao ponto de serem insuficientes para a

12 Tecnobio
Por Dr. Alexandre de Sene Pinto Sócio e Consultor em Manejo Inteligente de Pragas da Occasio, Piracicaba, SP Professor da Agronomia do Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto, SP Adobestock

função desejada. Para produtos “on-farm”, esse é um ponto muito importante a ser observado e a dose de cada lote produzido precisa determinada para uso em campo.

5. Se pretende substituir fertilizantes minerais por microrganismos, precisa diminuir ou até anular a dose do adubo. Utilizar um microrganismo para disponibilizar nutrientes para plantas só funciona bem se empobrecer o solo desses nutrientes. Em excesso, os microrganismos que deveriam disponibilizá-los simplesmente não o fazem. Seguem para outras atividades, visto que todos são multifunções.

6. Bioagentes são seres vivos e são prejudicados em ambientes fechados desfavoráveis às suas sobrevivências. Os micro e macrorganismos utilizados no manejo biológico na agricultura têm recursos para sobreviver aos mais

diversos ambientes desfavoráveis, desde que estejam livres para isso. Num recipiente ou num tanque de pulverização, eles não conseguem superar a maioria dessas dificuldades ambientais.

7. Vale mais a formulação do que a quantidade de microrganismos num frasco. O grande avanço no uso de microrganismos dessa última década foi a formulação do produto, que garantiu a sobrevivência deles em situações adversas e a melhor performance dos produtos. Por exemplo, alguns formulados de Metarhizium anisopliae, que empresas idôneas desenvolveram, têm inertes que desfazem a espuma da cigarrinha-das-raízes e melhoram a chegada ao alvo. Sem formulação, voltamos ao passado, onde os bioagentes precisavam ser aplicados em condições muito limitadas e com acerto muitas vezes inferior a 50%. Portanto, a quantidade do microrganismo no

frasco fica menos importante com uma boa formulação.

8. As cepas e linhagens são importantes no momento da aplicação, mas com o passar das gerações, se modificam. Descobrir uma cepa de microrganismo ou linhagem de macrorganismo exige esforço, dedicação e dispêndio de muitos recursos. As espécies apresentam uma grande variabilidade genética, que caracterizam cepas e linhagens. Entretanto, basta esses organismos estarem num ambiente complexo, como o agroecossistema, para que, em poucas gerações, se adaptem às necessidades locais. Mas para ação pontual, imediata, uma cepa ou linhagem ainda é bastante importante.

Para ajudar o leitor, vamos conhecer as principais funções dos micro e macrorganismos mais utilizados nos canaviais.

MICRORGANISMO FUNÇÕES PRINCIPAIS E ATUAIS

Bactérias

Azospirillum brasilense Bioestimulante (especialmente no aumento da raiz-cabeleira); Fixação de nitrogênio atmosférico.

Bacillus amyloliquefaciens

Bionematicida (especialmente no controle de Meloidogyne); Biofungicida (especialmente podridão-abacaxi); Disponibilização de nutrientes.

Bacillus ayrabhattai Resistência a seca.

Bacillus licheniformis

Bionematicida (especialmente no controle de Meloidogyne); Degradação do palhiço.

Bacillus megaterium Solubilização de fósforo.

Bacillus pumilus Biofungicida (especialmente no controle de Colletotrichum); Biobactericida (especialmente no controle de estria-vermelha.

Bacillus subtilis Bionematicida (especialmente no controle de Meloidogyne); Biofungicida (especialmente no controle de ferrugens)1.

Bacillus thuringiensis Bioinseticida (controle de lagartas pequenas); Bionematicida (especialmente no controle de Meloidogyne).

Bacillus velezensis

Nitrospirillum amazonense

Bionematicida (especialmente no controle de Meloidogyne); Bioestimulante.

Bioestimulante (especialmente no aumento da raiz-cabeleira); Fixação de nitrogênio atmosférico.

13 Tecnobio

Fungos

Beauveria bassiana

FUNÇÕES PRINCIPAIS E ATUAIS

Bioinseticida (especialmente no controle de Sphenophorus, broca-da-cana, pão-de-galinha, cochonilhas das bainhas); Bionematicida.

Cordyceps fumosorosea (=Isaria fumosorosea)

Metarhizium anisopliae

Trichoderma asperellum

Bioinseticida (especialmente no controle de Sphenophorus, broca-da-cana, cigarrinhas-das-raízes).

Bioinseticida (especialmente no controle de cigarrinhas-das-raízes, pão-de-galinha, broca-da-cana, cochonilhas das bainhas, pulgões).

Biofungicida; Resistência a seca; Degradação do palhiço.

Trichoderma harzianum

Bionematicida (especialmente no controle de Pratylenchus); Biofungicida (especialmente no controle da podridão-abacaxi); Disponibilização de nutrientes (especialmente fósforo e potássio); Bioestimulante (especialmente no aumento de raízes profundas); Sequestro de carbono atmosférico.

MICRORGANISMO FUNÇÕES PRINCIPAIS E ATUAIS

Nematoides entomopatogênicos

Steinernema carpocapsae Bioinseticida (controle de pragas de solo e broca-da-cana).

MACRORGANISMOS FUNÇÕES PRINCIPAIS E ATUAIS

Parasitoides

Cotesia flavipes Bioinseticida (controle de lagartas grandes da broca-da-cana).

Tetrastichus howardi Bioinseticida (controle de pupas da broca-da-cana).

Trichogramma galloi Bioinseticida (controle de ovos da broca-da-cana).

Trichogramma pretiosum Bioinseticida (controle de ovos de elasmo e broca-peluda)2

MICRORGANISMO
14
1Para as ferrugens da cana-de-açúcar, precisa de pesquisas; 2Em caráter emergencial, pois ainda faltam estudos mais específicos.
Tecnobio

Existem muitos outros microrganismos e poucos macrorganismos que estão registrados para a cana-de-açúcar, mas ainda não estão sendo muito utilizados. É o caso das bactérias do gênero Pseudomonas, de múltiplos usos, mas especialmente para a solubilização de fósforo, e Bacillus methylotrophicus, no controle de nematoides.

Manejo de solo no plantio e nas soqueiras

Para o tratamento de solos no plantio, hoje tem-se utilizado bactérias

Azospirillum brasilense e Bacillus de várias espécies, o fungo Trichoderma de algumas espécies (predominando T. harzianum), extrato de algas e

ainda fipronil. Esse pacote envolve bioestimulantes, biofungicidas, bionematicidas e inseticida. O fipronil talvez seja substituído pelo nematoide Steinernema carpocapsae (no futuro, várias outras espécies complementares), que controla as pragas de solo, em geral.

Entretanto, a entrada do nematoide no lugar do fipronil deverá ocorrer se esse bioagente controlar mais de 80% das espécies de cupins predominantes em canaviais, o que ainda não se conhece. E a aplicação dele deverá ocorrer por volta dos 60-100 dias após o plantio, quando as pragas de solo começam a repovoar a rizosfera.

Nas soqueiras, os tratamentos podem ser os mesmos do plantio, especialmente usando bionematicidas, bioinseticidas e bioestimulantes. Mas uma grande preocupação surge para as socarias: resistir à seca. Nesse caso, Trichoderma harzianum, Azospirillum brasilense, Bacillus ayrabhattai e extratos de algas têm ações nesse sentido. Pouco se sabe sobre doses, misturas e momentos de aplicação para essa função, ações que devem ser conhecidas para melhor aproveitamento dos bioinsumos.

Entretanto, Trichoderma entra no início do desenvolvimento dos perfilhos, assim como Azospirillum. O extrato de algas entra em dois momentos, antes do início da seca (pré-seca) e no início das chuvas.

Bioinsumos Funções na resistência à seca

Azospirillum brasilense Aumento no tamanho das plantas; Produção de osmólitos que favorecem a resistência à seca.

Bacillus ayrabhattai Diminuição da desidratação das plantas na seca; Controle de abertura de estômatos nas folhas.

Extrato de algas Ascophyllum nodosum Regulação da expressão de genes de resistência a seca.

Trichoderma harzianum Aumento na quantidade de raízes profundas.

Controle de nematoides

Hoje, o mercado de bionematicidas superou o de nematicidas químicos e isso seguirá como tendência. No geral, os produtos à base de fungos, especialmente Trichoderma, controlam ovos e os próprios nematoides, sendo mais rápidos para Pratylenchus.

Os produtos à base de bactérias, especialmente Bacillus, são ovicidas e produzem um biofilme ao redor das raízes, protegendo-as de infecções e tirando o cheiro delas, essencial para que os nematoides as localizem. São mais rápidos para o controle de Meloidogyne.

A aplicação de bionematicidas é indicada para plantios e socarias, pois, mesmo na ausência de nematoides, esses produtos mostram resultados. Os bionematicidas têm aumentado entre 5 e 20 toneladas por hectare, independente se por ação contra nematoides, contra patógenos, como bioestimulantes ou disponibilizando nutrientes. Em situações bem especiais chegam a aumentar mais de 40 toneladas.

São vários os bionematicidas comerciais com ação rápida e eficaz sobre nematoides. Mas essa ação rápida nem sempre é desejada, pois os bionematicidas à base de bactérias protegem as raízes com o biofilme que

formam e os nematoides não conseguem penetrá-las.

Os bionematicidas podem ser aplicados no período seco do ano, mas somente aqueles à base de bactérias que atuarão, nesse período, como ovicidas. Aqueles à base de fungos, ao secar completamente o ambiente, entram em forma de resistência e só voltam à atividade no período das chuvas.

Controle de pragas de solo

Com a entrada dos nematoides entomopatogênicos no mercado, carinhosamente chamados de NEPs,

15 Tecnobio

surgiu uma grande possibilidade de controle da maioria das espécies-praga de solo. A grande vantagem dos NEPs é que eles são caçadores e caminham em busca de suas vítimas, sendo mais eficazes que a maioria dos excelentes inseticidas químicos que, geralmente, são mal aplicados.

O fungo Cordyceps fumosorosea tem mostrado bons resultados no controle das cigarrinhas-das-raízes, ovos da broca-gigante, cupins e de larvas e adultos de Sphenophorus levis. Para essa última espécie mais pesquisas serão necessárias, mas os resultados iniciais são bem otimistas.

O fungo Metarhizium anisopliae continua sendo muito importante no manejo de pragas da cana-de-açúcar, especialmente para diminuir a pressão de suas populações, de uma forma geral.

Ele tem sido utilizado tradicionalmente no controle de ninfas e adul-

Número médio de larvas por touceira, 20 dias após a aplicação dos produtos (VALDEVITE, 20211).

Produtos

tos das cigarrinhas, mas também no controle de larvas do pão-de-galinha, cochonilhas das bainhas e larvas de Sphenophorus

O fungo Beauveria bassiana vem sendo utilizado no controle de larvas e adultos de Sphenophorus, larvas do pão-de-galinha e cochonilhas das bainhas. Também são reportados casos de controle de ninfas das cigarrinhas. É um bom fungo para ser utilizado para diminuir a pressão de pragas em canaviais, em aplicações sistemáticas.

Produtos à base de óleo ou extrato da planta neem (Azadirachta indi-

ca), especialmente os misturados com substâncias extraídas da própria planta e purificadas, tem controlado larvas e adultos de Sphenophorus e ninfas e adultos das cigarrinhas. Para o primeiro, esses produtos ainda precisam de mais estudos.

Controle da broca-da-cana

Tradicionalmente, o uso de Cotesia flavipes, uma vespinha parasitoide de lagartas grandes, tem sido mantido, mas cada vez mais como tática complementar de controle, após outras táticas biológicas, químicas ou, quando sozinha, em canaviais prestes

à reforma ou no período seco do ano. Para a liberação com drones, o horário de liberação pouco importa, mas em períodos com manhãs mais frias (menos do que 22ºC), evitar aplicações antes das 9h00. Nesse período, o drone ao arremessar os tubetes de liberação sobre as plantas acabam por lançar muitos adultos sobre as gotas de orvalho, que morrem.

Na mesma linha, surgiu recentemente no mercado as vespinhas Tetrastichus howardi, que parasitam lagartas grandes e, preferencialmente, pupas da broca-da-cana. Tem a vantagem sobre Cotesia por viverem

1VALDEVITE, G.T. Estratégias química e biológicas no controle inicial de pragas de solo, com foco em Sphenophorus levis, em cana-de-açúcar. 2021. 26f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Agronomia) – Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto, 2021.
Sphenophorus levis (larvas) Migdolus Pequenas Grandes (larvas) Beauveria bassiana 0,5 0,2 0,2 Fipronil 0,7 1,7 0,2 B. bassiana + Metarhizium anisopliae 0,3 0,5 0,5 Steinernema carpocapsae 0,2 0,2 0,0 Testemunha 1,0 0,5 0,2
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mais tempo no campo, mas também deixam a praga causar danos nos colmos para depois ser controlada.

Vespinhas como essas têm sido substituídas pela microvespa Trichogramma galloi, um parasitoide de ovos da broca-da-cana. Como ela tem ação ovicida, não deixa a praga entrar no colmo, o que é uma grande vantagem.

Ela tem sido liberada em três ou cinco semanas seguidas, em intervalo de uma semana entre cada, sempre na dose de 50 mil vespinhas por hectare. Doses maiores são menos eficazes do que a recomendada.

A liberação em três semanas seguidas tem mostrado um período de ação de 60 dias, mas a liberação em cinco semanas, tem garantido 120 dias sem necessidade de controle. Essa nova opção de liberação estendida, por mostrar grande período de ação, tem eliminado a necessidade de monitoramento da praga. Ideal para áreas de restrição, áreas de intensos atoleiros ou que são muito distantes da sede da fazenda ou da Usina.

Para parasitoides, há uma tendência de se fazer o manejo externo. Libera-se 50.000 Trichogramma galloi por hectare apenas na bordadura de talhões em intervalos semanais, por pelo menos cinco semanas. Tática

simples de ser executada. Esse tipo de estratégia ainda precisa de mais estudos, mas, validada, se caracterizará como uma tática bem interessante e econômica.

Além dos parasitoides, dentre os microrganismos também há boas opções para o manejo da broca-da-cana. Dentre eles, os fungos Beauveria bassiana e Cordyceps fumosorosea são opções com períodos de ação superiores a 40 dias. O fungo Metarhizium anisopliae, apesar de ter uma ação ovicida muito eficaz, é apenas recomendado para diminuir a pressão dessa praga.

A bactéria Bacillus thuringiensis volta ao cenário agrícola e agora para

Período de ação de inseticidas (dias) mantendo a infestação de ponteiros pela broca-da-cana abaixo de 1,5%, em diferentes meses de aplicação.

o controle de lagartas novas (e até ovos) da broca-da-cana. Sozinha e em misturas ela tem se mostrado eficaz e com período de ação de cerca de 45 dias.

Os NEPs também têm ação eficaz sobre as lagartas da broca-da-cana. O que se pergunta hoje é se aplica-

dos de forma aérea, controlariam a broca dentro do colmo e depois as pragas de solo? Alguns ensaios estão em campo para responder a essa pergunta.

São muitos avanços! Ouso dizer que o mercado de inseticidas químicos deverá ser superado pelo de bioinse-

ticidas entre os anos de 2027 e 2030. É um caminho sem volta.

Antes, os biológicos eram poéticos, mas sem técnica. Hoje, são técnicos! Mas vamos falar bem a verdade que para eles usamos técnicas com um pouquinho de poesia, pois é vida a favor da vida.

Inseticidas Novembro Dezembro Janeiro Abril (dias após a aplicação) Bacillus thuringiensis 69 42 - 45 Beauveria bassiana 98 70 49 45 Cordyceps fumosorosea 69 42 70 45 Clorantraniliprole 69 91 63 90 Diflubenzurom 98 - 42Metoxifenozida + espinetoram 69 42 70 90 Triflumurom 48 70 63 45 17 Tecnobio

MANEJO BIOLÓGICO DO BICUDO DA CANADE-AÇÚCAR SPHENOPHORUS LEVIS

Obesouro da família Curculionidae é uma praga que tem causado grandes prejuízos para a cultura canavieira, principalmente no Estado de São Paulo, destruindo as soqueiras e causando a morte desta. As larvas perfuram o rizoma da cana ao longo de seu ciclo biológico, causando diminuição na produção da cana. A espécie mais conhecida é Sphenophorus levis, mas já se sabe que existem mais três espécies atacando dos canaviais e ainda é importante se determinar melhor a bioecologia

dessas espécies, as variedades mais preferidas e outros pontos importantes para que se consiga fazer um manejo adequado.

Já se sabe que a vinhaça é um dos subprodutos da produção de etanol que possui compostos que atraem os adultos de S. levis, principalmente no início da fermentação, o que demonstra a necessidade de estudos sobre o manejo da vinhaça na cana, inclusive a que é aplicada “in natura” sem um processo de fermentação ou concentração.

O controle químico ainda é o mais utilizado, sendo aplicado em iscas de toletes de cana cortados previamente eram tratados com inseticidas como carbaril 850 PM ou um fosforado, sendo aplicadas 200 iscas/ha. A aplicação do inseticida fipronil e ou tiametoxam com imidacloprido em área total ou com disco de corte na soqueira é uma estratégia que tem proporcionado algum controle, formando uma barreira química, porém ainda é uma técnica que tem sido usada de maneira única, o que pode

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levar a populações da praga resistente e contaminações ambientais.

A destruição de soqueiras com exposição dos rizomas é outra estratégia importante a ser adotada, principalmente em áreas onde a perda chega a mais de 10 toneladas/ha devido à alta infestação.

O controle biológico com fungos e nematoides entomopatogênicos também é outro importante insumo a ser aplicado, visto que podem permanecer por mais tempo na área e com a associação de técnicas de controle, consegue-se conviver com esta praga sem que chegue ao nível de dano. Atualmente tem se pesquisado o uso de fungos entomopatogênicos, Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae selecionados para essa praga em iscas ou em área total e nematoides entomopatogênicos tais como Heterorhabditis spp.

O início do controle microbiano de Sphenophorus levis na cana-de-açúcar foi através da seleção de isolados de M. anisopliae (ESALQ 259) e B. bassina (ESALQ 447) na ESALQ/USP.

A estratégia utilizada foi a aplicação de 500 g de conídios/ha em iscas feitas de caules de cana-de-açúcar partidos longitudinalmente e impregnados com os conídios dos fungos, distribuindo 200 iscas por hectare. Os insetos adultos são atraídos pelas iscas, contaminam-se com o fungo

aplicado e morre na isca ou próximo, disseminando a doença na área, devido à elevada densidade de iscas.

A aplicação de nematoides entomopatogênicos também foi estudada, produzindo resultados satisfatórios no controle de S. levis, podendo ser aplicado de forma combinada com fungos. O Instituto Biológico em parceria com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e a UFSCar realizaram pesquisas com os nematoides He-

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Adobestock

terorhabditis indica e Steinernema spp. e fungos entomopatogênicos, M. anisopliae e B. bassiana. Sob condição de laboratório, Steinernema sp. causou mortalidade de 70% de adultos na dosagem de 1x108 junenis infectivos/ha. Em condições de campo, a aplicação de nematoides produziu ganhos de 15 toneladas/ha de cana-de-açúcar.

Foram realizadas pesquisas de seleção de isolados de nematoides entomopatogênicos, onde Steinernema braziliense IBCBn 06 foi o mais virulento. Da mesma maneira, a associação com insericida químico thiamethoxam 250 WG também produziu ganhos em peso da cana de até 28 ton/ha, onde o nematoide foi aplicado com uma sub dosagem de 500 g thiamethoxam 250 WG/ha.

O isolado IBCBn 06 de S. braziliense é produzido pelo método da esponja em produção in vitro numa parceria do Instituto Biológico com a empresa Bio Controle Métodos de Controle de Pragas Ltda. de Indaiatuba, São Paulo, Brazil, com o registro no Ministério da Agricultura e Pecuária –MAPA de Bio NEP® com dosagem recomendada de 1 kg/ha em 400 Litros de água (aplicação terrestre) (BRASIL, 2015).

O Instituto Biológico possui cepas de B. bassiana e M. anisopliae selecionadas para S. levis e a partir de experimentos de campo, foi possível verificar que M. anisopliae aplicado em soqueira com disco de corte, causou a redução de larvas e danos nos rizomas de até 80% de controle em relação ao fungo B. bassiana e o inseticida fipronil. O controle de adultos foi mais eficiente quando se aplicou 1x1013 conídios/ha de B. bassiana, em pulverização ou em grãos de arroz, com avião, pois esse fungo atua em adultos de coleópteros com mais eficiência. Além disso, B. bassiana pode translocar de forma endofítica na planta de cana-de-açúcar, produzindo um efeito de repelência

a insetos e ácaros, porém ainda são necessários mais estudos para comprovação. Os isolados IBCB 383 de M. anisopliae e IBCB 170 de B. bassiana para S. levis. Observou que na aplicação combinada o nematoide S. braziliense em condições campo, o efeito com M. anisopliae foi antagônico e

com B. bassiana houve um efeito sinergético no controle de S. levis em cana-de-açúcar. (Figura 1)

O fungo M. anisopliae é encontrado em solo, por isso é mais frequente se encontrar larvas mortas com esse agente de controle biológico. Algumas cepas desse fungo possuem a condi-

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ção de se aliar ao rizoma da cana e estimular o crescimento das plantas.

A falta de conhecimento para uso de fungos entomopatogênicos para o controle biológico de pragas da cana ainda é um fator importante da baixa aplicação desses agentes de controle biológico, sendo importante a divul-

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cos, sendo que basicamente são três moléculas tóxicas que se tem usado para o controle desses insetos. A contínua aplicação desses defensivos químicos irá causar contaminações ambientais e populações das pragas resistentes a essas moléculas, causando prejuízos ainda maiores.

O uso de agentes de controle biológico depende de produtos disponíveis no mercado em condições de atender a essa demanda. Atualmente, são 75 empresas que produzem fungos entomopatogênicos e aproximadamente 20 empresas que produzem parasitoides para a cana, sendo necessários mais.

O Estado São Paulo tem dado suporte nessa área de conhecimento, apoiando o desenvolvimento de novas produções ou aumento de quantidade de fungos entomopatogênicos. O Instituto Biológico (SAA-SP/APTA), possui um programa de assessoria técnica para produção de bioinseticidas a base de fungos entomopatogênicos, com fornecimento de cepas selecionadas para essas principais pragas da cana. Há 20 anos, o IB já assessorou 150 empresas. Além disso, desenvolve pesquisas para métodos de produção por fermentação líquida e formulações, imprescindíveis para o desenvolvimento do controle biológico. Porém, é necessário que as empresas e governo estimulem inovações nessa área, tanto para pesquisa como comercialização e aplicação. A cepa IBCB 66 de B. bassiana do Instituto Biológico também está na referência para uso na agricultura orgânica do Ministério da Agricultura e Pecuária – MAPA.

gação de técnicas de aplicação desses fungos em área total ou através de iscas ou sistemas avançados, de modo a atingir as pragas da cana, já que os fungos atuam por contato no corpo do inseto. Pois, é importante que haja uma reflexão sobre a aplicação contínua de inseticidas quími-

Ainda são necessárias pesquisas para o desenvolvimento de novos isolados, formulações, armadilhas, iscas ou outras estratégias adequadas para o controle das principais pragas da cana, mas sem dúvida, os fungos entomopatogênicos já são uma importante ferramenta para o Manejo Integrado de Pragas da cana-de-açúcar.

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Assuma o Controle

foi o ano em que Glen Brandt, aos 27 anos de idade, inovou ao aplicar fertilizantes nitrogenados líquidos no solo da sua lavoura. Os produtores vizinhos se interessaram pelos resultados do novo manejo, e assim, Glen e sua irmã, Evelyn, deram início à uma das empresas familiares que mais cresce nos Estados Unidos: a BRANDT.

1953

Com sede em Springfield/EUA, desde 1995 é liderada pelo filho de Glen, Rick Brandt. Presente em mais de 80 países, a BRANDT tem o propósito de respeitar o investimento do produtor entregando resultados reais no campo por meio de tecnologias inovadoras, as quais estão disponíveis numa grande rede de distribuidores. No Brasil desde 2015, temos sede em Cambé/PR e filial em Olímpia/SP, com nossas tecnologias que atuam na fisiologia vegetal, tecnologia de aplicação e biosoluções para diversas culturas.

Presença em + de 80 países

Fábricas

1 Pleasant Plains, IL (EUA)

2 Visalia, CA (EUA)

3 Fresno, CA (EUA)

4 Logan, UT (EUA)

5 Avon Park, FL (EUA)

6 Carmona, Sevilha (ES)

7 Olímpia, SP (BR)

8 Cambé, PR (BR)

Presença e distribuição

O NOSSO SITE
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Complexo Industrial Glen Brandt Cambé / PR - Brasil
ACESSE
www.brandtbrasil.com
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TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO NAS OPERAÇÕES DE CORTE DE SOQUEIRA E VINHAÇA LOCALIZADA

Dou início a esta matéria, enfatizando que, diante de inúmeros desafios que surgem a cada dia, em especial, no setor canavieiro, com foco ao combate às pragas, tais como Migdolus fryanus, Sphenophorus levis, e as cigarrinhas-das-raízes, a TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO é sim, a grande responsável pelo sucesso da decisão do controle químico ou biológico.

Uma vez tomada a decisão de se aplicar, utilizando-se dos métodos de aplicação via liquida, temos que admitir que estudos de entomologia, estudos de doses de produto, e outros estudos já foram realizados, para a tomada desta decisão. No entanto, pouquíssimos trabalhos cientificamente conduzidos, em Tecnologia de Aplicação, foram realizados e estão sendo realizados neste sentido.

Visando ao combate das pragas acima citados, em especial, o Sphenophorus levis, temos hoje no mercado o Cortador de Soqueira, com algumas modalidades de aplicação:

• Filete contínuo aplicado dentro do corte feito pelo disco, chamado 100% via filete contínuo;

• 70/30, onde 70% do volume de calda, e, portanto, a dose, é aplicada no corte realizado pelo disco, e

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Por MSc. Glauberto Moderno Costa Diretor da Alvo Consultoria, Consultor em Tecnologia de Aplicação e Diretor Técnico da AGSOLUTION. Adobestock

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30% pulverizado sobre a linha da cana.

Atualmente, o maior desafio é colocar esta calda no corte, na profundidade correta. Os equipamentos possuem sistemas mecânicos, sendo alguns ineficientes, como a tradicional “Botinha”; pingentes reguláveis com o jato na tangente do disco; Semi Botinha, com o jato na tangente do disco; Disco Duplo Descentrado; Disco Duplo Paralelo. Destas opções, afirmo que o sistema com botinha, do ponto de vista da Tecnologia de Aplicação e operacional, é o pior de todos, baseados em condições de campo.

Neste sistema, é notável, embucha-

mento de palhas no disco, aplicação sobre a palha, pois a mesma volta para o lugar, e danificação de soqueira. Vide as fotos abaixo. Temos identificados no primeiro e último modelo citado, muito embuchamento de palha, quando não a retirada da palhada da linha, causando ainda, o envelopamento da palha, e a calda ficando por cima desta palha.

Obviamente, que a retirada da palha, da linha da cana, ajudará no sentido de eliminar este problema. No entanto, ainda temos o risco de a “Botinha” danificar a soqueira, mesmo com os conjuntos do hidráulico do trator, sensibilidade e outros pontos bem

ajustados. Quanto ao conjunto de disco duplo, temos também maior dano da soqueira, quando os mesmos não são bem ajustados e regulados.

Infelizmente, não temos um trabalho com metodologia científica, afirmando qual o melhor sistema. Temos que respeitar as opções, porém, temos que observar no campo, a operação, e tomar as decisões para as correções e melhorias das aplicações. Nesta operação, outro ponto muito discutido no setor, refere-se ao volume de calda. Qual volume é o mais eficaz? Então, complemento à pergunta feita, com algumas considerações a seguir:

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Figuras: Sistemas Mecânicos de aplicação no corte de soqueira. Disco Duplo Descentrado. Sistema com Botinha original de fábrica. Sistema com Pingente, aplicando na tangente do disco, com conector para aplicação de 70/30 – modelo DRS Pulverizadores.

• Com qual sistema mecânico, destes 05 acima citados?

• Com qual modelo de ponta de pulverização, mesmo em filete?

• A pressão de trabalho na operação, interfere no resultado de aplicação?

• Qual a velocidade ideal, mínima e máxima, que os sistemas acima citados devem operar para que o disco corte a palhada e o solo, e não o contrário?

Observem, que são tantas incógnitas desconhecidas, que a Tecnologia de Aplicação tenta decifrar, mas pela fal-

ta de respostas científicas, mas sim, pelos métodos de tentativa de erros e acertos, o setor está aplicando de todas as formas.

Reitero aqui, alguns pontos fundamentais que atuam diretamente no sucesso desta operação, tais como: a importância da calibração do equipamento; da dose do produto; do momento de aplicação; do preparo de calda, da qualidade de água, da tecnologia embarcada, das condições do trator e implemento, do domínio do operador na operação; da agitação de calda; da limpeza dos filtros; da aferição diária ou por turno; do equi-

pamento; da velocidade; da interação entre os produtos; das formulações dos produtos; entre outros tantos pontos que ainda podem ser enumerados neste parágrafo.

Outra operação, em destaque no setor, chegando em alguns casos, até eliminar a operação de corte de soqueira, é a aplicação de inseticida, químico ou biológico na operação de aplicação de vinhaça localizada, ou de adubação liquida, como muitos chamam, uma vez que a vinhaça é enriquecida, e, portanto, entra substituindo a adubação sólida, em soqueira.

Nesta operação, o inseticida é aplica-

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Sistema com jato na tangente do disco, apoiada pelo suporte que sustentava a botinha. Adaptação feita nas oficinas automotivas. Como vai acertar o alvo da aplicação, com o sistema desta forma?

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do das seguintes formas:

• Injetado na Vinhaça, junto ao carregamento, nas carretas de transporte;

• Injetado nas Carretas Aplicadoras, no momento do abastecimento de vinhaça;

• Aplicado separado, com filete líquido à frente do jato de vinhaça localizada.

Dificilmente podemos afirmar, na atualidade, qual destes três sistemas é o mais eficaz, e muito menos, se é melhor ou pior do que o Corte de Soqueira. Obviamente, que o setor tem dados positivos, negativos e até mesmo, de respostas que oscilam. Vide algumas fotos abaixo, dos sistemas hoje montados.

Aplicação conjugada com a ponta de inseticida à frente da lâmina de vinhaça. Aplicador de Vinhaça, com Tanque de Inseticida acoplado ao sistema, com a aplicação em separado.

O que tínhamos no passado recente, até meados dos anos 2022, equipamentos que aplicam vinhaça localizada, que eram preparados para garantir assertividade no volume de calda, pois são dotados de controladores de vazão, que servem para manter a taxa de aplicação constante, em função da variação da velocidade. Estamos tratando do sistema dosador. No entanto, há limites. Contudo, os equipamentos não possuíam um sistema de distribuição do volume aplicado, uniforme, entre as linhas. Através da avaliação, das coletas entre linhas, pelo

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Sistema de Injeção Fertilizante e Inseticida, no carregamento. Sistema de aplicação do inseticida na mesma calda. Sistema com tanque de inseticida conjugado ao tanque de vinhaça, em fibra, injetando a calda de inseticida na calda de Vinhaça. Neste caso, em mistura com água, para fins de treinamento.

método linear, em caixas plásticas, o setor entendeu que aplicar inseticida com variação entre as linhas acima de 35% de variação, jamais iria conseguir controlar ou combater alguma praga de solo. Neste sentido, surge a opção da aplicação na mesma operação, portanto, conjugada, porém em separado da calda de vinhaça enriquecida ou natura. O conjunto de aplicador é dotado de um tanque, bomba, filtros, comando, mangueiras e bicos. Desta forma, consegue-se aplicar o inseticida uniformemente aplicado nas linhas.

Atualmente, os fabricantes avançaram em ajustar estes equipamentos, e com algumas adequações, é possí-

vel conseguir variação entre as linhas, a partir de 5% chegando a 10%. Estas adequações abrem espaço para desenvolvermos pesquisas para entendermos melhor quais os benefícios da aplicação em mistura com a Vinhaça, ou aplicado separadamente, mas na mesma operação, e até mesmo para comparar os resultados com a operação de corte de soqueira.

Da mesma forma, aplicar junto ou separadamente, consistem em saber se os produtos são degradados junto a Vinhaça, se solubilizam e ficam estáveis quimicamente e fisicamente na vinhaça, enriquecida ou não; além de que os equipamentos aplicadores precisam ser calibrados, limpos, aferi-

dos, com os componentes bem ajustados. E, se aplicados separadamente, teremos um pulverizador, no qual os mesmos cuidados deverão ser tomados, como já citados anteriormente.

Encerro este artigo, citando a definição de Tecnologia de Aplicação, escrita em 1985, por Tomomassa Matuo. Tecnologia de Aplicação é o Uso correto de todo conhecimento tecnológico para colocação do produto biologicamente ativo no alvo correto, em quantidade adequada, de forma econômica, sem contaminar o homem e o meio ambiente.” Complemento esta frase, que para termos sucesso, nestas operações citadas, é necessário realizar Gestão da Aplicação.

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Adobestock

MANEJO BIOLÓGICO DAS CIGARRINHAS E DA BROCA-DA-CANA EM CANAVIAIS NO ESTADO DE GOIÁS

CONTROLE DE CIGARRINHA-DAS-RAÍZES COM A UTILIZAÇÃO DE Metharizium anisopliae

Acultura da cana de açúcar é de extrema importância para a economia do estado de Goiás e do Brasil como um todo. No entanto, uma das principais ameaças à pro-

dutividade desta cultura é a cigarrinha-das-raízes (Mahanarva spp.), um inseto que causa danos significativos às plantações. Realizar o levantamento populacional da cigarrinha-das-raízes é essencial para embasar a tomada de decisões no controle dessa praga. Esse processo envolve o conhecimento do ciclo biológico da praga, sua distribuição geográfica e a

quantificação da população presente no campo.

Com essas informações, é possível identificar o momento ideal para a aplicação de medidas de controle, como o uso de bioinseticidas ou o manejo adequado das lavouras. A tomada de decisão para o controle da cigarrinha-das-raízes deve consi-

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Por Dr. Antônio Carlos de Oliveira Junior Adobestock

derar não apenas os aspectos biológicos e fisiológicos dessa praga, mas também os impactos socioeconômicos para os produtores de cana-de-açúcar.

O dano econômico causado por essa praga pode ser significativo, resultando em perdas na produtividade e na rentabilidade do negócio. Por isso, é fundamental avaliar os custos e benefícios das diferentes estratégias de controle, buscando alcançar o equilíbrio entre a eficácia e a viabilidade financeira, como também conhecer o ciclo biológico da praga.

O ciclo biológico da cigarrinha-das-raízes é um assunto de grande relevância para a agricultura, especialmente para os produtores de culturas como a cana-de-açúcar e o milho. Compreender esse ciclo e seus efeitos é essencial para mitigar os danos e proteger a produtividade das lavouras. A infestação da cigarrinha-das-raízes pode ocorrer em diversas fases do ciclo da cultura.

Durante seu ciclo biológico, as cigarrinhas passam por diferentes estágios, desde a eclosão dos ovos até a fase adulta. O inseto se alimenta sugando a seiva das raízes das plantas, causando danos significativos aos tecidos e prejudicando a absorção de nutrientes.

Os danos causados pela infestação de cigarrinhas podem ser substanciais. Além do prejuízo direto causado à cultura, a presença desses insetos pode levar ao enfraquecimento das plantas, tornando-as mais suscetíveis a doenças e pragas secundárias. Isso resulta em perdas de produtividade e aumento nos custos de produção, como o investimento em defensivos agrícolas para seu controle.

A cigarrinha-das-raízes é conhecida por ser uma praga difícil de ser controlada. A utilização de defensivos agrícolas é um dos principais métodos de controle adotados pelos agricultores, mas seu custo pode ser alto

e afetar a margem de lucro dos produtores. Além disso, as cigarrinhas têm a capacidade de desenvolver resistência aos produtos químicos utilizados, dificultando ainda mais a sua erradicação. Para minimizar os danos causados pela infestação de cigarrinhas, é fundamental adotar estratégias integradas de controle.

Essas estratégias envolvem a combinação de métodos preventivos, como a escolha de variedades resistentes e a adoção de boas práticas agrícolas, com o uso criterioso de defensivos agrícolas quando necessário. Outra medida importante é o monitoramento constante da presença desses insetos nas lavouras. A identificação precoce da infestação possibilita a

tomada de ações imediatas, evitando que os danos se agravem. Além disso, o conhecimento do ciclo de vida da cigarrinha-das-raízes contribui para a definição de estratégias de controle adequadas em cada estágio do inseto.

A aplicação de agrotóxicos convencionais tem sido uma estratégia comumente adotada pelos agricultores para controlar a cigarrinha-das-raízes. No entanto, o uso excessivo desses produtos pode trazer riscos à saúde humana e ao meio ambiente, além de gerar custos adicionais para os produtores. É neste contexto que o controle biológico se destaca como uma alternativa promissora e sustentável.

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O uso do fungo entomopatogênico Metharizium anisopliae tem se mostrado eficiente no controle da cigarrinha-das-raízes na cultura da cana de açúcar. Este fungo é capaz de infectar e matar as cigarrinhas, reduzindo sua população e, consequentemente, os danos causados às plantas.

Para entender melhor como o controle biológico com Metarhizium anisopliae pode ser aplicado na cultura da cana de açúcar, é necessário considerar aspectos relacionados à biologia e fisiologia dessa praga. A cigarrinha-das-raízes tem um ciclo de vida composto por diversas fases, durante as quais o Metarhizium anisopliae pode ser aplicado de forma estratégica. Além disso, é importante

conhecer as condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento do fungo, bem como as melhores práticas de aplicação.

O controle biológico, através do uso de inimigos naturais, como o Metharizium anisopliae, apresenta diversas vantagens em relação ao uso de agrotóxicos. Primeiramente, é uma alternativa mais segura para a saúde humana e para o meio ambiente, uma vez que não contaminam o solo, a água e os alimentos. Além disso, o controle biológico é uma estratégia duradoura, uma vez que o fungo pode se multiplicar nas cigarrinhas e infectar novos indivíduos, mantendo a população sob controle.

Outro aspecto relevante a ser considerado é o impacto socioeconômico do controle biológico. A utilização de Metharizium resulta em menor dependência de agrotóxicos sintéticos, reduzindo os custos de produção para os agricultores. Além disso, a maior produtividade resultante do controle efetivo da cigarrinha-das-raízes contribui para o aumento da rentabilidade das lavouras de cana de açúcar.

É importante ressaltar que o controle biológico não é uma solução isolada para o manejo de pragas na agricultura, mas sim uma ferramenta que faz parte de uma estratégia de Manejo Integrado de Pragas (MIP). O MIP combina diversas técnicas, como o

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uso de inimigos naturais, manejo do ambiente, rotação de culturas, entre outras, visando minimizar o uso de agrotóxicos e promover uma agricultura mais sustentável.

Em suma, o controle da cigarrinha-das-raízes na cana de açúcar, no estado de Goiás, pode ser eficientemente realizado com o uso do fungo Metharizium anisopliae. Esta técnica de controle biológico proporciona não apenas benefícios econômicos, mas também impactos positivos do ponto de vista socioambiental. Portanto, é de fundamental importância que os produtores e pesquisadores considerem o uso do MIP como uma estratégia eficaz e sustentável para o manejo de pragas na agricultura.

CONTROLE BIOLÓGICO DE Diatraea Saccharalis COM UTILIZAÇÃO DE PARASITOIDES E FUNGOS ENTOMAPATOGÊNICOS

Diatraea saccharalis, também conhecida como broca-da-cana-de-açúcar, é uma praga significativa que afeta a produção de cana-de-açúcar em todo o mundo. Essa praga é particularmente prejudicial porque as larvas da broca se alimentam do colmo da cana, causando danos graves à planta e reduzindo sua produtividade.

Neste item, discutiremos os danos econômicos causados pelo seu índice de infestação e os custos asso-

ciados a essa praga que pode ter um impacto severo na indústria da cana-de-açúcar. As larvas da broca diminuem a área fotossintética da cana, prejudicando sua capacidade de produzir energia e crescer adequadamente. Além disso, uma população alta pode levar à perda de sacarose e à diminuição da qualidade do caldo da cana, afetando diretamente a produção de açúcar e etanol.

Os danos econômicos causados pela praga são substanciais. Estudos mostram que a perda de produtividade devido ao ataque dessa praga pode variar, estando entre 0,77% à 2,90% em relação ao índice final de infestação, isso significa que, em uma safra com uma produção esperada de 100

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toneladas de cana-de-açúcar com 1% de intensidade de infestação final de broca causa perdas de 770 a 2.900 kg de colmos por hectare.

Em uma indústria que depende fortemente do volume de produção, essas perdas podem ter um impacto significativo no resultado. Além disso, os custos associados ao controle da infestação desta praga também devem ser observados, requerendo a implementação de estratégias de manejo integrado de pragas, como o uso de inseticidas específicos e a aplicação de armadilhas para determinação do momento correto para o controle.

Todo o processo de controle de pra-

gas implica em custos adicionais, desde a aquisição dos produtos químicos até a contratação de mão de obra especializada. Seu controle é um desafio enfrentado pelos produtores de cana-de-açúcar em todo o mundo. É fundamental que os produtores adotem medidas preventivas e estratégias eficazes de controle para minimizar os impactos dessa infestação em suas plantações.

Em resumo, grandes infestações de Diatraea saccharalis representa um desafio econômico para a indústria da cana-de-açúcar. A redução da produtividade, as perdas de sacarose e os custos de controle são alguns dos impactos negativos dessa praga. Portanto, é essencial que os produto-

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res se mantenham atualizados sobre as melhores práticas de manejo integrado de pragas para proteger sua plantação e garantir a rentabilidade de seus negócios.

O controle biológico da broca surge como uma alternativa sustentável e eficaz para minimizar os danos causados por essa praga. Ao utilizar organismos vivos naturais como predadores, parasitoides ou patógenos, é possível reduzir a população da broca e manter a saúde e produtividade da plantação.

Os custos associados ao controle biológico são, geralmente, menores quando comparados aos métodos de controle químico convencional.

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Além disso, o controle biológico promove a redução do uso de pesticidas químicos nocivos ao meio ambiente e à saúde humana, tornando-se uma opção ambientalmente amigável e sustentável. A adoção de estratégias de controle biológico requer a identificação e o monitoramento adequados da população da “broca” no campo.

É importante conhecer o nível de dano econômico tolerável, ou seja, a quantidade de dano que a planta pode suportar sem comprometer a sua produtividade e rentabilidade.

Ao estabelecer um programa de controle biológico, é crucial avaliar os custos envolvidos, como a aquisição de organismos benéficos, bem como o monitoramento regular da população de brocas e dos organismos benéficos. O controle biológico da praga pode resultar em inúmeros benefícios para os produtores de cana-de-açúcar, no entanto, vale ressaltar que o controle biológico não deve ser utilizado como a única medida, mas sim como parte de um manejo integrado de pragas.

A combinação de diferentes estratégias, como o controle cultural, o uso de variedades resistentes e o monitoramento regular, permite uma abordagem mais eficiente e sustentável no controle.

A utilização de Beauveria bassiana, um fungo entomopatogênico, tem se mostrado uma alternativa promissora para o controle de Diatraea saccharalis, além de oferecer uma alternativa mais segura e com menor impacto ambiental, o controle biológico apresenta vantagens como a preservação dos inimigos naturais, a redução da resistência da praga a inseticidas e a possibilidade de aplicação integrada com outras técnicas de Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Assim como o uso de Trichogramma galloi, um parasitoide de ovos, tem se mostrado uma opção promisso-

ra o emprego desse tipo de controle biológico, também está alinhado aos princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP).

A biologia do Trichogramma galloi, que consiste em parasitar os ovos da praga e impedir sua eclosão, permite que seu desempenho seja efetivo na redução populacional da broca. Além disso, seu uso tem demonstrado melhorias significativas na produtividade dos canaviais, aumentando a rentabilidade dos agricultores.

Uma alternativa é a utilização do fungo entomopatogênico Cordyceps fumosorosea que tem sido estudado como uma possível ferramenta de controle biológico para várias pragas de insetos, incluindo a Diatraea saccharalis, também conhecida como broca-da-cana-de-açúcar. No entanto, é importante ressaltar que as informações disponíveis sobre o uso

específico de Cordyceps fumosorosea no controle da Diatraea saccharalis podem estar limitadas, uma vez que meu conhecimento foi atualizado pela última vez em setembro de 2021.

Por fim, é importante ressaltar que o sucesso do controle biológico na cultura da cana-de-açúcar depende da identificação correta das pragas-alvo, da seleção adequada dos organismos de controle e da implementação de estratégias de manejo integrado de pragas. Além disso, fatores como o clima, a localização geográfica e as práticas agrícolas também podem afetar a eficácia do controle biológico. Portanto, é recomendado que os agricultores consultem especialistas ou empresas especializadas para obter orientações específicas sobre o controle biológico de pragas na cana-de-açúcar.

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MANEJO DA CANA-DE-AÇÚCAR COM BIOINSUMOS EM GRANDES ÁREAS

Acana-de-açúcar passa, nos últimos anos, por uma estagnação nos ganhos de produtividade. Mesmo com todos os avanços tecnológicos, nesse mesmo período, que auxiliaram usinas e produtores. Grande parte destes ganhos estão ligados a mecanização, otimização de equipamentos, mão de obra e utilização de resíduos industriais (vinhaça localizada e torta de filtro). Estes fatores foram fundamentais, principalmente, para redução de custos.

Porém, estes não foram suficientes para impulsionar ou alavancar as produtividades de forma expressiva nas regiões tradicionais de cana de açúcar. Isso se deve, em grande parte, pelo desconhecimento técnico e poucos investimentos no setor de pesquisa.

Criamos um modelo, que isolou os setores de produção dentro das usinas, deixando de integrar os pilares fundamentais para a potencialização da produtividade (TCH).

Sendo assim, paralelamente temos observado saltos expressivos no uso de bioinsumos, tanto para controle de pragas, como para fixação biológica de nitrogênio, solubilizadores de fósforo e tantas outras finalidades.

Com tudo isso, precisamos destacar que muito antes deste tipo de prática, é fundamental trabalharmos a parte física e química do solo e da planta. Não podemos mudar as ordens no campo, ou seja, primeiro trabalhamos a parte física, para depois

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trabalhamos a química, para só então colhermos os resultados do manejo biológico. Quando invertemos essa sequência, perde-se a grande oportunidade de potencializar os resultados dos bioinsumos e deixamos de maximizar nossa produtividade.

O que fica cada vez mais claro, nos resultados de campo, é a importância da utilização dos bioinsumos e o quanto esses macro e microrganismos têm auxiliado nas diferentes etapas da produção agrícola.

É possível observarmos, entre diversos exemplos, a melhoria na biofísica do solo. Esta que promove o aumento da aeração, disponibilizando mais oxigênio para as raízes, aumentando a área de exploração das mesmas, elevando a absorção de água, dimi-

nuindo ou retardando o efeito do estresse hídrico e absorvendo mais nutrientes. Além de ativar os processos metabólicos das plantas, com a solubilização de minerais, fixação de nitrogênio e outros processos mais complexos e extremamente importantes.

É o começo do que chamamos de “Ciclo Virtuoso da Produtividade da Cultura”.

Esse chamado “Ciclo Virtuoso” tem mostrado que a planta possui uma “memória biológica”, ou seja, uma planta, que é limitada em sua produção, irá traçar algumas estratégias químicas e fisiológicas para garantir sua sobrevivência. E mesmo depois que os estímulos positivos sejam aumentados, ela manterá algumas

destas estratégias, o que limitará sua produção.

São assuntos complexos e que estão sendo desenvolvidos por vários centros de pesquisa no mundo inteiro.

Mas, e na prática, como podemos utilizar todas essas informações?

Na prática, devemos mitigar ao máximo as limitações da produção, adotando diferentes técnicas de manejo agronômico. E para isso, se apoiar em um pilar principal, que é a produção de raízes. Condicionar o solo e a planta para o seu maior potencial de aprofundamento e quantidade de raízes deve ser um dos nossos maiores objetivos.

Um exemplo prático, que o avanço da tecnologia trouxe nos últimos anos, é

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a adoção do uso do penetrômetro digital. Este instrumento nos permitiu medir a compactação nas áreas de produção. Uma ferramenta de análise rápida, prática e barata. O equipamento mensura a profundidade da compactação, a quantidade (MPa) e gera um histórico e um comparativo dentro da própria área.

Iniciamos a recomendação no “controle” deste fator, quando ao abrirmos algumas trincheiras dos ensaios com os bioisumos, observávamos problemas crônicos de compactação e adensamento do solo, fazendo uma barreira física, dificultando o aprofundamento das raízes e alterando os resultados dos ensaios. E sabendo das dificuldades dos produtores e usinas em abrir trincheiras (mão-de-obra e maquinário), passamos a re-

comendar o seu uso no dia a dia.

O uso do penetrômetro digital tem solucionado problemas com a falta de mensuração e obtenção de números que auxiliam no entendimento do nível de compactação, possibilitando um comparativo ao longo de sucessivos anos de cultivo.

Uma das primeiras áreas que começamos a trabalhar na prática, com as informações geradas, foi na região de Olímpia, SP. Em áreas próximas umas das outras, mas com diferenças expressivas de danos nas soqueiras, causados por Sphenophorus levis, e com o mesmo tratamento

de controle. As áreas mais afetadas, invariavelmente, foram as de maior compactação.

Essas informações nos auxiliaram na tomada de decisão, de reformar o canavial nas áreas mais compactadas, além de direcionar um preparo de solo mais profundo, em que a compactação estava nas camadas de 35 a 55 cm de profundidade.

Mostrando outro exemplo, ligado agora a físico-química do solo, foi um trabalho realizado em 2004, publicado pelo Prof. Paulo Marçal, na Universidade Federal de Goiás. O ensaio mostra que, o uso da torta de filtro

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no fundo do sulco foi o melhor tratamento para o controle de nematoides, sendo superior aos tratamentos químicos daquela época.

Explicitando que a torta de filtro proporcionou um aumento do volume de raízes, aumento da exploração de água e nutrientes para a planta e melhor condicionamento físico, químico e biológico na região em que se encontrava a torta.

O estudo nos alerta que, muitas vezes, a melhor estratégia de controle de uma praga, doença ou nematoides, pode estar nas condições nutricionais da cultura.

Em 2022, fizemos ensaios para controle da broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis), na região de Barretos, SP, trabalhamos em duas áreas semelhantes fisico-quimicamente, variando apenas a recomendação da calagem e gessagem, na correção do solo. Além do efeito químico, com maior aporte nutricional de cálcio, magnésio e enxofre, que impactou diretamente nas produtividades.

Verificamos que nas áreas em que

trabalhamos a recomendação para um aumento maior da saturação de bases (V%) e principalmente no aumento do pH do solo, que ficou em torno de 6,6 (utilizando assim doses maiores dos corretivos).

Obtivemos maior eficiência no controle da broca da cana-de-açúcar e maior resposta de controle com produtos biológicos, nas áreas de maiores doses dos corretivos. Estas áreas especificamente obtiveram 2% a menos de Índice Infestação Final de broca (IIF) e 25% de ganhos de produtividade em relação à recomendação padrão.

Sabemos que neste tipo de campo experimental dificilmente conseguiremos isolar os fatores de variação e a conclusão é ainda muito mais complexa. Como o efeito do cálcio isoladamente, ou do magnésio e enxofre.

Por isso, precisamos de uma equipe multidisciplinar discutindo e estudando todos estes sistemas integrados, evitando erros de interpretação dos dados. Não podemos afirmar que essa prática diminui o IIF, mas nos direciona a novos estudos.

Contudo, a operação e a parte técnica das usinas precisam estar atentas a esses dados e informações que compõem os processos de produção.

Apesar de estarmos direcionando os ensaios no manejo integrado de pragas e doenças, é necessário entender o Manejo Agronômico como um todo.

Acreditamos que o crescimento do uso de bioinsumos promoveu a diversificação na adoção de ferramentas, que auxiliam a maximização da produtividade agroindustrial. A resposta tem sido muito mais rápida do que pressupúnhamos. É importante salientar que o emprego destes produtos exige uma constância, em seu uso e no seu manejo.

Até mesmo os resultados aparentemente insatisfatórios são extremamente importantes, nesse contexto de desconhecimento de todos os fatores que influenciam no potencial produtivo das plantas.

E por fim, os bioinsumos sozinhos, não são a solução da lavoura, porém, para sairmos da estagnação da produtividade do setor, são indispensáveis.

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E AS FLORES DO CIPÓ DE SÃO JOÃO, SÃO POLINIZADAS POR ABELHAS?

Por Profa. Dra. Darclet Teresinha Malerbo-Souza

Setor de Apicultura e Meliponicultura, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE

Por André Carlos Silva Pimentel Professor Substituo, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE.

Por Carlos Frederico Silva da Costa Zootecnista, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE.

Por Camila Malerbo-Souza

Graduanda em Ciências Biológicas, Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, SP.

Por Júlio César de Souza Professor da Faculdade de Tecnologia (FATEC), Centro Paula Souza, Jaboticabal, SP.

Apolinização exerce um papel fundamental nas espécies vegetais, pois tem influência direta no fluxo gênico entre populações. A flora apícola e meliponícola de uma região é um fator primordial no desenvolvimento e a manutenção das colônias de abelhas, tanto africanizadas quanto abelhas nativas. Malerbo-Souza et al. (2008) relataram que os polinizadores podem visitar espécies de plantas para coleta exclusiva de néctar, outras para coleta exclusiva de pólen e outras espécies para coletar tanto néctar quanto pólen.

Mesmo a flor oferecendo esses dois recursos alimentares, observa-se que alguns visitantes florais visitam apenas para coleta de um ou de outro. Então, conhecer as flores, seus visitantes florais e o que eles coletam se torna importante para os apicultores e meliponicultores, em todas as épocas do ano.

Na natureza, a distribuição das floradas obedece a um sequencial crescente inverno-primaveril, uma estabilização ou diminuição no verão e um aumento razoável no outono,

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Flor do cipó de São João (Pyrostegia venusta), com detalhe para os estames voltados para baixo e estigma. Estigma Estames

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seguido de uma drástica indisponibilidade de flores no inverno.

Dentre as plantas que florescem no inverno e/ou período seco do ano, destaca-se uma espécie pertencente à família Bignoniaceae, de origem brasileira, vulgarmente chamada de flor de São João ou cipó de São João, com o nome científico Pyrostegia venusta. É uma planta semilenhosa de ramagem densa, encontrada com muita frequência em campos e margens de estradas, muitas vezes, é considerada como invasora em cultivos e pastagens.

Entretanto, é uma trepadeira muito utilizada na decoração das festividades de São João, em todo o Brasil. Produzem muitas inflorescências, compostas de pequenas flores

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Porcentagem dos visitantes florais no cipó de São João (Pyrostegia venusta), em 2019 e 2022.

alongadas e alaranjadas, em pleno inverno. É uma planta interessante quando queremos ter flores vistosas nos meses frios do ano. Cobre muito bem pérgolas, cercas, treliças, muros e caramanchões.

O início do período de floração do cipó de São João ocorre entre junho e julho, no início da estação seca e em época das temperaturas mais amenas, enquanto a frutificação e a liberação das sementes prosseguem até o fim da estação seca.

As flores são tubulares com lobos livres e pelos protetores internos, que evitam a pilhagem de néctar por insetos pequenos, coloração vermelho-alaranjado, inodoras, nectaríferas, bem como a sua posição ligeiramente pendente, relacionam-se, principalmente, à síndrome de ornitofilia, principalmente, por beija-flores (MALERBO-SOUZA et al., 2008).

Então, é uma flor tubular que apre-

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Número médio de abelhas Apis mellifera coletando néctar e pólen, nas flores do cipó de São João (Pyrostegia venusta), em 2019 e 2022. Abelha Apis mellifera com carga de pólen na corbícula (seta branca).

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senta os órgãos reprodutivos posicionados para baixo, o que facilita a dispersão do pólen por meio da cabeça de beija-flores, que ao introduzir o bico para sugar o néctar, tocam os estames com a cabeça. Os grãos de pólen aderem na cabeça do pássaro, que ao visitar outra flor, transferem esses grãos para o estigma, realizando a polinização.

Num ensaio desenvolvido em Colina, SP, avaliou-se quem eram os polinizadores e como se dava a polinização no cipó de São João. A florada dessa planta ocorreu nos meses de maio a junho, em 2019, e entre maio e setembro, em 2022. As flores são ofertadas em inflorescências terminais, são hermafroditas, com antese ocorrendo ao longo de todo o dia. O cálice é verde, com sépalas unidas (gamossépala), a corola é vermelho-alaranjada, com pétalas em forma de unha e caduco ao final da vida da flor. Os estames possuem filete simples (sem ramificação), livres, inclusos. O gineceu é completo, com ová-

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Abelha Apis mellifera coletando néctar da base da flor. Abelha Tetragonisca angustula coletando pólen da flor.

rio, estilete e estigma, gamocarpelar, pluricarpelar. O estilete é cilíndrico e terminal, enquanto o estigma é foliáceo, indiviso.

As características da morfologia floral do cipó de São João, tais como: disposição das flores na planta, das pétalas, e a coloração, correspondem as da síndrome da ornitofilia (FAEGRI; VAN DER PJIL, 1980, MALERBO-SOUZA et al., 2008). As anteras das flores liberam o grão de pólen desde a abertura do botão. O estigma encontra-se em posição para receber os grãos de pólen apenas uma a duas horas depois. O estigma permanece receptivo o dia todo, enquanto os grãos de pólen tornavam-se escassos com o final do dia (PROCTOR et al., 1996).

De acordo com Hortenci et al. (2012), a flor dessa espécie produziu maior quantidade de néctar entre 6h00 e 11h00. A concentração de açúcares do néctar não variou durante o dia (em média, 21,9%). Com relação à viabilidade do pólen, 66,9% apresentaram viabilidade. Isso indica que há possibilidade de autofecundação, mas há elevado número de abortos, fato que pode estar relacionado com a baixa viabilidade do pólen.

Os visitantes florais observados no cipó de São João, em 2019 e 2022, foram abelhas Apis mellifera africanizadas (84,38%), seguida por abelhas Trigona spinipes (8,70%), coleópteros (2,68%), beija-flores (2,23%), abelhas Tetragonisca angustula (jataí) (1,12%), abelhas Xylocopa frontalis (mamangavas) (0,67%) e lepidópteros (0,22%). Houve visitas esporádicas de abelhas da família Halictidae, vespas e formigas.

Observou-se que as abelhas africanizadas visitaram essas flores das 8h00 às 17h00, preferindo coletar néctar (55,03%) comparado ao pólen (44,97%). Para coleta de néctar, essas abelhas apresentaram um pico de frequência às 12h00, diminuindo em seguida até às 17h00. Para coleta de

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Abelha da família Halictidae visitando a flor. Formigas e vespa se alimentando de néctar na base da flor.

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pólen, as abelhas africanizadas apresentaram dois picos de frequência, às 8h00 e às 14h00.

Nesse experimento, os visitantes florais foram observados entre às 8h00 e 17h00, preferindo o período da manhã. Malerbo et al. (1998) constataram a ocorrência de maior abundância dos insetos nas plantas durante o período da manhã, como ocorreu no cipó de São João, em especial, para coleta de pólen. Provavelmente devido ao período de coleta ter sido concentrado na estação do inverno, as visitas dos insetos ocorreram, predominantemente, até meio do dia, momento mais favorável à atividade de voo, pois nesse horário a luminosidade e temperatura estão favoravelmente altas.

Entretanto, como as flores de P.

venusta são tubulosas e apresentam pelos internamente, as abelhas africanizadas apresentaram dois comportamentos de coleta de pólen: na maioria das vezes, essas abelhas começavam a coletar pólen em flores iniciando a abertura, praticamente, fechadas ainda, ou então, pousavam sobre as pétalas das flores abertas e penduravam-se nas anteras extraindo os grãos de pólen. Logo após, tentavam entrar no tubo floral, mas não conseguiam, devido à presença de pelos e estreitamento na base do tubo floral. Então, as abelhas coletaram néctar da base das flores quando essas começavam a cair. Esse comportamento a caracteriza como pilhadora de néctar, como também foi observado por Polatto et al. (2007).

Outras espécies de insetos também visitam a flor do cipó de São João

como Tetragonisca angustula (jataí), abelhas da família Halictidae, formigas e vespas.

Também foram observadas visitas esporádicas de vespas nas flores de P. venusta, entretanto, as vespas não tocavam as partes florais nessas visitas e não foram considerados polinizadores efetivos das flores do cipó de São João. As flores tubulares do cipó de São João são adaptadas para a polinização por pássaros e beija-flores, que ao coletarem o néctar com o pico alongado, tocam os estames com a cabeça onde são aderidos os grãos de pólen, que serão, então, transferidos ao estigma de outras flores.

Os beija-flores foram observados das 9h00 às 15h00, visitando várias flores em cada voo, quando então, eles pousavam próximos às flores, observavam e retornavam a coletar néctar, após alguns minutos.

Foi observado que as flores expostas ao sol são as mais visitadas pelos insetos e beija-flores, sendo necessários novos estudos sobre a interação flor-polinizador nessa espécie vegetal.

A predominância das abelhas africanizadas nas flores do cipó de São João também foi observada por Polatto et al. (2007) e Silva et al. (2008). Constatou-se que, em períodos com temperaturas mais baixas e em indivíduos próximos à estrada (maior incidência de ventos), houve diminuição no número de visitantes.

Polatto et al. (2007), estudando os visitantes florais em P. venusta, em Ivinhema, MS, considerou quatro espécies predominantes em visitas às flores, sendo duas espécies de abelhas eussociais, Apis mellifera e Trigona spinipes, e duas espécies de formiga, Camponotus sp. e Cephalotes sp. De acordo com esses autores, T. spinipes desenvolveu intensa atividade entre 12h00 e 13h00, com temperatura de 27°C, umidade relativa do ar 52%, luminosidade 78.700

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Vespa visitando a flor sem tocar os órgãos reprodutivos dela.

lux e velocidade do vento 3 m/s. Na base do tubo floral, essa abelha agarrava-se com auxílio das pernas e iniciava o recorte da parede usando as mandíbulas; em seguida, introduzia as peças bucais no orifício e sugava o néctar, comportando-se como pilhadora de néctar. As abelhas Oxaea flavescens, Augochlora esox e Xylocopa spp. também apresentaram comportamento de pilhagem de néctar. Além disso, flores já pilhadas eram visitadas por outras abelhas, vespas e formigas que sugavam o néctar pelo orifício produzido durante a pilhagem anterior.

Além dos insetos, foram observadas a presença dos beija-flores Phaethornis eurynome (Phaethornithinae) e Hylocharis chrysura (Throchilinae), coletando néctar. Buzato et al. (2000) registraram a deposição de pólen no topo da cabeça e/ou na testa dos beija-flores Phaethornis eurynome, Clytolaema rubricauda e Leucochloris albicollis ao visitarem P. venusta e incluíram os mesmos na categoria de polinizadores efetivos.

Já Hortenci et al. (2012), observando os visitantes florais de P. venusta em São Carlos, SP, observaram que os beija-flores foram os visitantes mais frequentes das flores, com um total de 53 visitas durante quase todo o dia, com maior intensidade entre 7h00 e

10h00. As abelhas realizaram 45 visitas (com pico entre 11h00 e 13h00), e as borboletas (37 visitas, com pico entre 12h00 e 14h00). Os beija-flores realizaram apenas visitas legítimas, introduzindo o bico na abertura da corola, tocando o estigma com o alto da cabeça e recebendo os grãos de pólen. Os autores consideraram os beija-flores como visitantes legítimos e polinizadores devido ao seu comportamento e frequência de visitas às flores. As abelhas e borboletas introduziam suas probóscides na abertura da corola ao pousarem nas pétalas, em geral, sem tocar nos órgãos reprodutivos das flores. Esses autores classificaram abelhas e borboletas como pilhadores de néctar e pólen e concluíram que os beija-flores são o principal polinizador, e que a plan-

ta investe em néctar para atraí-los e economiza na produção de pólen. Podemos concluir que várias espécies de abelhas e outros insetos visitam as flores do cipó de São João, com destaque para as abelhas africanizadas. Essa abelha coletou néctar da base da flor apresentando característica de pilhadora de néctar. Entretanto, ao coletar o pólen pode ter efetuado, eventualmente, a transferência de grãos de pólen.

Os beija-flores são os mais adaptados ao tipo de flor dessa espécie vegetal, entretanto, foram pouco frequentes nas flores. Flores expostas ao sol são mais as visitadas pelas abelhas e beija-flores.

Literatura consultada

BUZATO, S., SAZIMA, M., SAZIMA, I. Hummingbird-pollinated floras at three Atlantic Forest sites. Biotropica, v. 32, p. 824-884, 2000

FAEGRI, K., VAN DER PIJL, L. The Principles of Pollination Ecology. 3 ed. Pergamon Press: London. 1979 244p.

HORTENCI, L.; TEIXEIRA, R.C.; ROGERI, P.K.; LOPES, X.M.; VALENTE-NETO, F.; KOROIVA, R.; SCATOLLINI, T.L.C. Biologia floral de Pyrostegia venusta (Bignoniaceae) em uma área de cerrado stricto sensu. Disponível em: http://www.simposioppgern.ufscar.br/resumos-simposio/004 Acesso em: Set 2012.

MACHADO, I.C.; LOPES, A.V. A polinização em ecossistemas de Pernambuco: uma revisão do estado atual do conhecimento. In: M. Tabarelli; J.M.C. Silva (orgs.). Diagnóstico da Biodiversidade de Pernambuco. Recife: Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio-Ambiente, Fundação Joaquim Nabuco e Editora Massangana. p. 583-596. 2002

MALERBO-SOUZA, D. T., TOLEDO, V. A. A., COUTO, L. A., NOGUEIRA-COUTO, R.H. Uso de tela excluidora de rainha no alvado e seus efeitos na atividade de coleta e no desenvolvimento de colônias de Apis mellifera. Acta Scientiarum, v.20, n.3, p.383-386, 1998

MALERBO-SOUZA, D. T.; TOLEDO, V. A. A.; PINTO, A. S. Ecologia da Polinização. Piracicaba: CP2, 2008

McGREGOR, S.E. Insect pollination of cultived crop plants. Washington, Agric. Res. Serv. United States Dept. of Agric., 1976. 411p.

POLATTO, L.P.; DUTRA, J.C.S.; ALVES JUNIOR, V.V.. Biologia reprodutiva de Pyrostegia venusta (Ker-Gawl) Miers (Bignoniaceae) e comportamento de forrageamento dos visitantes florais predominantes. Rev. Biol. Neotrop. 4(1): 46-57. 2007

POTT, A., POTT, V.J. Lista preliminar de plantas invasoras atuais e potenciais de pastagens do Centro Oeste. [S. l.: s. n.], 2000.16p.

PROCTOR, M., YEO, P., LACK, A. The Natural History of Pollination. British Wildlife Publishing: Rotherwick, Hampshire, 1996. 479p.

SILVA, M.G., HEFLER, S.M., PAULA, M.C.Z., ZIMMERMANN, M.L. Estudo das interações entre insetos e Pyrostegia venusta (Ker Gawl.) Miers (Bignoniaceae) em um remanescente de floresta estacional semidecidual,no Campus da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Toledo, Brasil. Estud Biol., v. 30, n. 70/71/72, p. 71-6, 2008.

45 Pólen
Beija-flor coletando néctar em flor.

Pesquisa

METABÓLITOS MICROBIANOS - UMA NOVA GERAÇÃO DE BIODEFENSIVOS PARA AGRICULTURA

Por

Leandro S. A. Gonçalves

Docente da Universidade Estadual de Londrina na área de Genética e Biotecnologia

Matheus F. de L. Andreata

Doutorando em Microbiologia e Pesquisador da AgBio

Mirela Mosela

Doutoranda em Microbiologia e Pesquisadora da AgBio

Lycio S. Watanabe

Doutor em Química Analítica e Pesquisador da AgBio

Rafael de Assis

Doutor em Genética e Biologia Molecular e Pesquisador da AgBio

Eduardo A. F. Ivan

Engenheiro Agrônomo e Gerente de Produtos Biológicos – BRANDT

Renata R. Robaina

Doutora em Nematologia e Diretora Comercial da AgBio

Introdução

Oagronegócio é um importante setor da economia brasileira, representando 25% do produto interno bruto (PIB) e 47,6% (US$ 159,09 bilhões) das exportações em 2022, sendo 33% acima do registrado em 2021. Dentre esse segmento, aproximadamente 38% do faturamento externo vem do complexo soja (grão, farelo e óleo). Além de ser o maior exportador e produtor de soja no mundo, o Brasil é também considerado um dos principais produtores mundiais para outras culturas de importância econômica, tais como a cana-de-açúcar, milho, café, algodão, feijão, laranja e banana (http://www.ibge.gov.br). No entanto, apesar do cenário positivo agrícola apresentado por essas

culturas, os fatores bióticos (pragas e doenças) e abióticos (efeitos ambientais) provocam grandes preocupações, causando grandes perdas de rendimento e qualidade.

As perdas globais de produtividade ocasionadas por pragas e doenças nas culturas agrícolas representam uma das principais ameaças para economia e segurança alimentar, principalmente, em países em desenvolvimento (Ristaino et al., 2021; Singh et al., 2023). Estima-se que as perdas de produtividade ocasionados por pragas e doenças nas principais culturas agrícolas são em média de 21,5% (10,1 - 28,1%) para trigo, 30,3% (24,6 - 40,9%) no arroz, 22,5% (19,5 - 41,1%) no milho, 17,2% (8,1 - 21%) na batata e 21,4% (11 - 32,4%) na soja. Essas maiores perdas estão associadas

a regiões com déficit alimentar com rápido crescimento populacional e frequentemente com pragas e doenças emergentes e reemergentes (Savary et al., 2019). O custo anual para a economia global da perda ocasionada por pragas e doenças está estimado em mais de US$ 220 bilhões (FAO, 2021).

O manejo para controle de doenças e pragas de plantas é um importante componente de custo na produção agrícola e, portanto, a adoção de medidas integradas de controle (Manejo Integrado de Pragas e Doenças – MIP e MID, respectivamente) é considerada uma importante estratégia, visando uma maior efetividade de controle (Dara, 2019; Deguine et al., 2021; Richard et al., 2021). O MIP e MID é um processo de tomada de decisão

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sustentável, baseado na ciência, que combina ferramentas culturais, biológicas, comportamental, genético e químico para identificar, gerenciar e reduzir o risco de pragas e doenças. Entre essas ferramentas, o controle biológico tem sido cada vez mais utilizado devido à sua eficiência, baixo impacto ambiental e efeitos diretos na planta, como indução de resistência local/sistêmica e promoção de crescimento vegetal (Collinge et al., 2022). Além disso, desenvolver um produto biológico comercial custa 75 vezes menos do que desenvolver um químico sintético (Ram et al., 2018).

Segundo os dados da consultoria Blink, o mercado de biodefensisvos microbiológicos no Brasil foi de 3,3 bilhões de reais (valor pago pelos produtores) na safra 2021/22, representando 6% do mercado de defensivos. Separando por segmentos, os bionematicidas, bioinseticidas e biofungicidas representaram por 46,9, 35,5 e 17,6% do mercado de defensivos biológicos, respectivamente, e

com projeções de crescimento de 63, 101 e 97%, respectivamente, para a safra 2026/27. Esse crescimento é sustendo por fatores como o aumento da adoção dos biodefensivos pelos agricultores no MIP e MID, visando maior eficiência e rentabilidade, nos investimentos em pesquisa e desenvolvimento de produtos biológicos, e na modernização dos processos de registros. Atualmente no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - https://agrofit. agricultura.gov.br) há 280 produtos registrados para bioinseticidas, 96 para biofungicidas e 64 para bionematicidas.

Recentemente, o Brasil modernizou o processo de registro de produtos biológicos por meio da Portaria Conjunta SDA/Mapa - Ibama - Anvisa nº 1/2023 publicada no dia 04/04/2023, com o objetivo de desburocratizar o procedimento para registro e garantir eficácia e seguranças dos produtos biológicos. A legislação de biológicos está alocada na “Lei de agrotóxicos”

publicada em 1989, que inicialmente citavam a regulamentação de “produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos”, mas sem qualquer caracterização desses agentes. Em 2002, a definição de agente biológico de controle foi adicionada à lei, além da regulação do registro destes produtos, incluindo a declaração de dados como rótulo, bula, classificação taxonômica do agente, modo de ação, concentração e estabilidade do produto. No mesmo ano, uma resolução da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estabeleceu procedimentos de avaliação quanto à toxicidade e patogenicidade. A partir deste marco, o Brasil atualizou a lei para produtos microbiológicos, além de estabelecer normas para bioquímicos, semioquímicos e macrobiológicos, por meio de instruções normativas orientadas conjuntamente entre o MAPA, IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) e ANVISA, publicadas entre os anos de 2005 e 2006, realizando alte-

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Figura 1. Etapas para o desenvolvimento de biodefensivos microbianos com foco em produção de metabólitos e microencapsulamento. Essa figura foi gerada usando Biorender (https://biorender.com/).

rações em nova instrução normativa quanto a bioquímicos e microbiológicos em 2014. A principal mudança, publicada na atual portaria, alterou a definição dos produtos microbiológicos, considerando não somente o próprio microrganismo, como também os compostos produzidos no seu metabolismo, facilitando o registro de produtos com microrganismo inativo. É provável que ocorra uma crescente na oferta desses produtos nos próximos anos, o que pode elevar a eficiência do controle biológico na agricultura brasileira, aumentando o espectro de mecanismos de ação e possibilidades de formulação.

Os microrganismos possuem uma ampla gama de moléculas que podem ser consideradas benéficas para

as plantas, uma vez que atuam em diversos mecanismos, incluindo antibiose direta (relação ecológica interespecífica onde uma espécie prejudica o desenvolvimento da outra por meio da liberação de substâncias no ambiente), promoção de crescimento e a indução de resistência nas plantas (Dimkic et al., 2022; Ayilara et al., 2023). Por exemplo, os Bacillus spp. produzem uma vasta gama de compostos biologicamente ativos, como a fengicina, inturina e surfactina que possuem ação de biocontrole contra diversos fungos fitopatogênicos. Além disso, os lipopeptídeos, policetídeos e os compostos voláteis produzidos pelos Bacillus spp. podem estimular a expressão de genes que codificam as proteínas relacio-

nadas à patogênese (PR-proteínas) e outras proteínas relacionadas à defesa nas plantas por meio da ativação das vias de sinalização de ácido jasmônico, ácido salicílico ou etileno.

O gênero Pseudomonas possui diversas espécies com alto potencial biotecnológico de biocontrole e promoção de crescimento de plantas (Dimkic et al., 2022; Lahlali et al., 2022). As moléculas mais comuns envolvidas na antibiose são, 2,4-diacetilfroroglucinol, fenazina-1-ácido carboxílico, fenazina-1-carboxamida, pioluteorina e pirrolnitrina. Os lipopeptídeos cíclicos das Pseudomonas spp. como a nunamicina, nunapeptina, brasmicina e braspeptina vêm sendo amplamente estudados como importantes agentes de bio-

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Figura 2. Otimização de bioprocesso para produção de metabólitos de Bacillus spp. com ação de biocontrole para Macrophomina faseolina

controle (fungos fitopatogênicos e insetos-pragas) e de promoção de crescimento de plantas. As fenazinas, sessilinas e orfamidas mostraram também ter papéis aditivos na supressão de doenças fúngicas. Além disso, Bacillus spp. e Pseudomonas spp. produzem quitinases, glucanases e proteases envolvidas na supressão de muitas doenças fúngicas. Diversos outros gêneros microbianos (fungos e bactérias) também vêm sendo amplamente estudados e diversos metabólitos apresentam alto potencial biotecnológico para controle de pragas e doenças, como os gêneros Burkholderia spp. (Adaikpoh et al., 2022), Chromobacterium spp. (Marrone, 2023), Streptomyces spp. (Silva et al., 2022), Trichoderma spp. (Alfiky e Weisskopf, 2021), entre outros.

Diversas etapas são necessárias para o desenvolvimento de biodefensivos microbianos (com a presença de microrganismos + metabólitos ou somente metabólitos) (Figura 1). A primeira etapa é a prospecção de isolados microbianos com bioatividade contra determinados alvos (pragas e/ou doenças), sendo essas prospecções realizados em diferentes habi-

tats e nichos ecológicos. Em seguida, análises bioquímicas e de bioatividade são realizadas para definir os isolados com potencial biotecnológico. Nessa mesma etapa, são realizados os sequenciamentos parciais dos genomas dos isolados pré-selecionados para sua identificação genética. Com base nos resultados in vitro, os isolados pré-selecionados são avaliados com potencial de biocontrole em diversos estudos em condições de câmara de crescimento, casa de vegetação e campo, dependendo do objetivo do projeto.

Os isolados microbianos que apresentarem potencial biotecnológico passam para a fase de sequenciamento do genoma total e de bioprocesso. Para o sequenciamento, são utilizadas variadas ferramentas de bioinformática para caracterização genética do microrganismo e identificação de genes úteis com ação de biocontrole e de promoção de crescimento de plantas. Por sua vez, o bioprocesso visa otimizar o rendimento tanto do microrganismo quanto dos seus metabólitos durante o processo fermentativo. Nesses estudos, os nutrientes e os parâmetros fermentativos (por exemplo, agitação, pH,

aeração, temperatura, entre outros) são definidos com o objetivo de maximizar o potencial do microrganismo (Figura 2). Nesses estudos, equipamentos como a cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massa (LC-MS) são utilizados buscando uma maior efetividade na otimização dos metabólitos durante o bioprocesso. Dependendo da finalidade do produto biológico, estudos de downstream serão necessários para desenvolvimento do produto.

A formulação é considerada uma importante etapa no desenvolvimento final dos biodefensivos. No Brasil, existe uma ampla variedade de formulações de produtos biológicos disponíveis no mercado, sendo a grande maioria formulações básicas de pó-molhável (WP) e suspensão concentrada (SC). A maioria dessas formulações não são focadas na proteção dos microrganismos e de seus metabólitos frente aos fatores ambientais, tais como pH, temperaturas extremas, variações de umidade e radiação ultravioleta (Riseh et al., 2022). Além disso, a introdução de microrganismos diretamente no ambiente do solo pode influenciar na sua capacidade colonização e competição

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Figura 3. Imagens de microscopia do microencapsulamento de Bacillus spp. com objetivo de proteção do microrganismo e seus metabólitos.

Pesquisa Adobestock

com a microbiota nativa do solo e os efeitos ambientais que ocorrem nessas regiões. Nesse contexto, estratégias de encapsulamento dos microrganismos e seus metabólitos vêm sendo cada vez mais estudadas para criar um sistema de proteção celular contra condições ambientais adversas, oferecendo armazenamento e transporte eficiente e garantindo altas taxas de sobrevivência (Figura 3).

A AgBio é uma startup com foco 100% no desenvolvimento de novas tecnologias biológicas e naturais. Atua desde bioprospecção, sequenciamento e mineração de genomas, bioprocessos (upstream e downstream), formulações e análise de validação em laboratório, casa de vegetação e campo. A empresa está localizada dentro do complexo industrial Glen Brandt da BRANDT Brasil, na qual, desenvolve tecnologias disruptivas com altos potenciais para serem lançadas ao mercado global.

Referencial Teórico

ADAIKPOH, Barbara I.; FERNANDEZ, Hannah N.; EUSTÁQUIO, Alessandra S. Biotechnology approaches for natural product discovery, engineering, and production based on Burkholderia bacteria. Current opinion in biotechnology, v. 77, p. 102782, 2022

ALFIKY, Alsayed; WEISSKOPF, Laure. Deciphering Trichoderma–plant–pathogen interactions for better development of biocontrol applications. Journal of Fungi, v. 7, n. 1, p. 61, 2021

AYILARA, Modupe S. et al. Biopesticides as a promising alternative to synthetic pesticides: A case for microbial pesticides, phytopesticides, and nanobiopesticides. Frontiers in Microbiology, v. 14, p. 1040901, 2023

COLLINGE, David B. et al. Biological control of plant diseases–What has been achieved and what is the direction?. Plant Pathology, v. 71, n. 5, p. 10241047, 2022.

DARA, Surendra K. The new integrated pest management paradigm for the modern age. Journal of Integrated Pest Management, v. 10, n. 1, p. 12, 2019.

DEQUINE, JEAN-PHILIPPE et al. Integrated pest management: good intentions, hard realities. A review. Agronomy for Sustainable Development, v.41, n.38, 2021

DIMKIĆ, Ivica et al. Plant-associated Bacillus and Pseudomonas antimicrobial activities in plant disease suppression via biological control mechanisms-A review. Physiological and Molecular Plant Pathology, v. 117, p. 101754, 2022.

FAO. (2021). Climate change fans spread of pests and threatens plants and crops, new FAO study. FAO. https://www.fao.org/news/story/en/item/1402920/ icode/

LAHLALI, Rachid et al. Biological control of plant pathogens: A global perspective. Microorganisms, v. 10, n. 3, p. 596, 2022.

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RICHARD, Benjamin; QI, Aiming; FITT, Bruce DL. Control of crop diseases through Integrated Crop Management to deliver climate‐smart farming systems for low‐and high‐input crop production. Plant Pathology, v. 71, n. 1, p. 187-206, 2022.

RISEH, Roohallah Saberi et al. Nano/microencapsulation of plant biocontrol agents by chitosan, alginate, and other important biopolymers as a novel strategy for alleviating plant biotic stresses. International Journal of Biological Macromolecules, 2022.

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SAVARY, Serge et al. The global burden of pathogens and pests on major food crops. Nature ecology & evolution, v. 3, n. 3, p. 430-439, 2019. SILVA, Guilherme da Cruz et al. The potential use of actinomycetes as microbial inoculants and biopesticides in agriculture. Frontiers in Soil Science, v. 2, 2022.

SINGH, BRAJESH et al. Climate change impacts on plant pathogens, food security and paths forward. Nature Reviews Microbiology, 2023

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MANEJO DE MIGDOLUS

Achave para o manejo bem-sucedido de pragas está numa correta identificação do inseto-alvo e no entendimento de sua bioecologia e danos associados com a fenologia de sua planta hospedeira. Para controlar eficientemente Migdolus fryanus, é necessário, portanto, compreender sua reprodução, hábitos alimentares e dispersão em áreas de cana-de-açúcar. A partir daí, é possível adotar estratégias eficazes de manejo dessa praga.

Reconhecimento da praga

As espécies do gênero Migdolus são nativas da região centro-sul da América do Sul. No Brasil, há relatos de ocorrência de ao menos nove espécies de Migdolus. Todas essas espécies são consideradas raras, com exceção de M. fryanus, que é a mais conhecida e estudada. Machos e fêmeas podem apresentar diferenças marcantes no tamanho e na coloração. Os machos possuem asas membranosas desen-

volvidas e funcionais, com as antenas atingindo, um pouco mais que a metade do corpo, apresentando em sua maioria coloração preta, seguida de castanho-escura ou castanho-avermelhada e medindo entre 12 e 37 mm de comprimento. As fêmeas, por sua vez, apresentam asas reduzidas e não funcionais (não voam), possuem antenas menores e em sua maioria são de coloração castanho-avermelhada ou castanho-escura e medindo entre 17 e 35 mm de comprimento.

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SEMIOQUÍMICOS NA AGRICULTURA

Bioecologia

Este inseto possui metamorfose completa (holometabólico), passando por quatro estágios: ovo, larva, pupa e adultos. O ciclo de vida é longo e pode durar dois ou três anos (Figura 1). As fêmeas depositam entre 29 e 34 ovos em média, com viabilidade superior a 80%. A eclosão das larvas ocorre com 21 dias em média (17-25 dias), sendo de coloração branco-leitosa, ápodas e com a parte anterior do corpo mais alargada do que o restante. No final do desenvol-

vimento, as larvas podem medir até 60 mm de comprimento. As larvas são as responsáveis pelos danos durante sua alimentação, destruindo o sistema radicular de diversas famílias de plantas, sendo a cana-de-açúcar a principal delas. Durante a fase larval, que corresponde ao maior período de vida deste besouro, ocorrem as maiores movimentações no solo, tanto horizontalmente quanto verticalmente, graças à sua mobilidade, podendo atingir profundidades de até 5 m, alcançadas por meio de inúmeras galerias no solo. Entre o final

de outono e boa parte do inverno, que coincide com a estação do ano com meses mais frios e secos (maio a agosto), ocorre a maior concentração de larvas nas camadas mais superficiais do solo (0 a 30 cm). Porém, do final da primavera ao término do verão, ou seja, entre novembro e março, em plena estação chuvosa, ocorre o inverso, uma diminuição da população larval nestas mesmas camadas do solo. Neste último período. coincide também com o aparecimento dos adultos para o acasalamento conhecido como ‘revoadas’.

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Adobestock

Ambos machos e fêmeas de Migdolus não se alimentam e vivem às custas de suas reservas energéticas armazenadas durante a fase larval. Após o início das ‘revoadas’, os machos vivem cerca de cinco dias (414 dias). As fêmeas geralmente são copuladas no primeiro dia em que surgem na superfície do solo, e vivem em média 26 dias (13-41 dias). Os acasalamentos de Migdolus são muito característicos e ocorrem em dias quentes e úmidos, precedidos por chuvas, entre outubro e março na região centro-sul do Brasil. Nos dias

SEMIOQUÍMICOS NA AGRICULTURA

de acasalamento, os machos surgem primeiro na superfície, nas primeiras horas da manhã, permanecendo na vegetação rasteira – nas folhas e ramos de plantas silvestres e daninhas – ou sobre o próprio solo. Quando aparecem, as fêmeas permanecem com a cabeça e o tórax discretamente expostos ou, em alguns casos, caminham sobre a superfície do solo – já que não são capazes de voar. Atraído pelo feromônio sexual liberado pela fêmea, o macho voa a baixa altitude, em direção contrária ao vento, e pousa próximo a ela. A partir daí caminha sob forte excitabilidade, com vigorosos movimentos das antenas – cuja função é detectar o feromônio sexual – até localizar sua parceira. Geralmente, nota-se mais de um macho disputando uma mesma fêmea, e múltiplas cópulas podem ocorrer no curto espaço de tempo em que a fêmea permanece exposta. Após a cópula, a fêmea penetra imediatamente no solo, onde irá realizar a postura em diversas profundidades.

Num mesmo local, as revoadas podem ocorrer durante vários dias consecutivos. Aparentemente, a duração dessa fase depende de vários fatores, como o tipo de solo, a intensidade de chuvas nos dias anteriores, a população dos insetos e sua distribuição no perfil do solo, além das condições climáticas nos dias em que ocorrem.

Apesar de associados com maior frequência aos solos de textura arenosa, é comum encontrar Migdolus nos demais tipos de solo. O sintoma típico de secamento das plantas quando fortemente atacadas por Migdolus parece estar mais relacionado com solos de textura arenosa, principalmente, nos meses mais frios e secos do ano (maio a agosto para a região centro-sul do Brasil), que coincide também com o maior número de larvas nas camadas mais superficiais do solo. Isso ocorre devido à perda de boa parte do sistema radicular das plantas e, consequentemente, uma menor capacidade de

retenção de água.

Manejo e controle sem o uso de inseticidas

Pesquisadores e técnicos reconhecem que não existe um único método eficiente para o controle de Migdolus, dadas as inúmeras dificuldades de se atingir as fases biológicas desse inseto no solo. Considerando sua bioecologia, a fase de seu ciclo de vida mais vulnerável é o adulto. Porém, muitas vezes passam despercebidos, pois permanecem poucos dias na superfície do solo em acasalamento (‘revoadas’).

Monitoramento e amostragem

O monitoramento de Migdolus pode ser realizado basicamente por três formas distintas. A primeira e mais prática, é a instalação de armadilhas ao nível do solo contendo o feromônio sexual. Recomenda-se utilizar no mínimo uma armadilha por talhão (12 a 20 ha) no início das chuvas a partir de outubro, até o final das ‘revoadas’ em fevereiro/março, efetuando-se a troca do feromônio a cada trinta dias. A segunda forma durante o levantamento regular de pragas de solo, antes da reforma dos canaviais. Geralmente, a amostragem é realizada, no mínimo, em duas trincheiras por hectare, com dimensões de 0,5 m x 0,5 m na profundidade de 0,3 m, avaliando-se a população das pragas presentes e classificando-as quanto as espécies e danos causados. Uma infestação de até 2 larvas por touceira poderia ser considerado como suportável pela cultura, e que acima de 3 ou 4 larvas por touceira, seria considerado uma alta infestação. A terceira forma é aquela efetuada nos meses mais frios e secos do ano (maio a agosto para a região centro-sul do Brasil), observando-se e mapeando-se os focos de infestação com sintoma de secamento causado pelas

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SEMIOQUÍMICOS NA AGRICULTURA

larvas. Este modo de monitoramento é pouco eficiente no caso de áreas com baixas a médias infestações, uma vez que os sintomas descritos não se tornam visíveis. As formas de levantamento mencionadas servem de base para o mapeamento e a recomendação de controle onde for constatada a presença das formas biológicas da praga.

Controle por comportamento

Embora poucos estudos tenham sido conduzidos com o feromônio sexual, existem boas perspectivas para a coleta massal de Migdolus, considerando-se que o período de acasalamento é restrito a alguns dias do ano, e se

interrompido, pode afetar sua nova geração. Para tanto, após a captura dos primeiros machos nas armadilhas utilizadas para o monitoramento, deve-se instalar uma armadilha a cada 30 metros nos carreadores principais, com o propósito de se coletar o maior número de machos na área. Estudos recentes em grandes áreas onde esta estratégia foi adotada, demonstraram que desse modo foi possível reduzir a população de Migdolus nas áreas atacadas. Este método de controle, apesar de sua grande utilidade na redução populacional dos adultos, exige uma especial atenção, com o monitoramento das áreas antes das ‘revoadas’ e a instalação de muitas armadilhas. Porém, os benefícios são a redução no uso de in-

seticidas no solo, a preservação dos inimigos naturais e a quebra do ciclo de vida desta praga, reduzindo as gerações futuras e seus danos.

Um outro método de controle por feromônio conhecido por confusão sexual tem sido proposto para este besouro, o que evitaria o uso de armadilhas para coleta massal, ou mesmo o emprego de inseticidas nas áreas de reforma. Este método consiste na liberação do feromônio em quantidades suficientes para ‘confundir’ os machos com falsas trilhas químicas das fêmeas e evitar o acasalamento, reduzindo sua próxima geração. Entretanto, sua implementação ainda está em fase de desenvolvimento.

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Figuras 1. Ciclo de vida de Migdolus fryanus em cana-de-açúcar (Bento et al. 1995).
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Revista de Controle Biológico

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