Revista Gebio | Ano 2 | Edição nº6

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Revista de Controle Biológico

A CANA VAI BISAR ESSE ANO? E AGORA?

A fauna maravilhosa que o pólen abundante do milho atrai Qual é o tempo médio para que um macroorganismo seja lançado no mercado de controle biológico? As abelhas produzem mel do sansão-docampo?

ANO 2 | n° 06 | Maio de 2023
Distribuição gratuita

Editorial

Tivemos uma época na Ciência mundial em que o controle biológico era basicamente o levantamento de espécies e suas eficácias como agentes de biocontrole de pragas. Foi uma época muito importante, pois foi lá atrás que descobrimos todos os parasitoides e predadores que usamos hoje na agricultura.

Na edição número 5 da Revista de Controle Biológico Gebio destacamos os crisopídeos como importantes predadores na agricultura. Nessa edição, a número 6, voltamos ao passado, com os levantamentos de espécies benéficas na cultura do milho, com destaque a vários desses agentes de controle biológico.

Além desse momento de boas lembranças, temos um assunto muito atual: o manejo da cana-bisada. Nessa safra da cana-de-açúcar, muitas Usinas e Destilarias não conseguirão colher toda a cana produzida, pois a produtividade será maior do que em anos anteriores, devido às boas condições de clima. Quando não se colhe a cana, ela “bisa” e fica para o início da próxima colheita. Por isso, esse artigo destacado será assunto por muitos meses.

Juntos no manejo biológico crescente em todo o mundo, nós estaremos sempre aqui preparando um bom conteúdo para o aprimoramento intelectual de cada um de vocês. Boa leitura!

Gebio Revista de Controle Biológico

Maio de 2023

ANO 2 . NÚMERO 6

EDITOR

Alexandre de Sene Pinto alexandre@occasio.com.br

ADMINISTRAÇÃO

Fabio Bueno fabio@occasio.com.br

VENDAS DE PUBLICIDADE

Ligia Rizzo gebio@occasio.com.br

PROJETO E ARTE-FINALIZAÇÃO

Senha Assessoria em Comuninação sac@senhaonline.com.br

Diagramação

Rodrigo Ferreira Iwahashi

FOTO DA CAPA: Adobestock

GRÁFICA

Grupo Saint Edwiges de Artes Gráficas

OCCASIO editora e análises técnicas Ltda-ME

Rua do Trabalho, 396

Vila Independência, Piracicaba, SP 13.418-220

Distribuição Gratuita

Todo o conteúdo dos artigos é de responsabilidade dos autores que assinam.

Tiragem dessa edição: 2.000 exemplares

Dúvidas, opiniões ou sugestões, escrever para contato@occasio.com.br

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gebio@occasio.com.br

Sumário

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PESQUISA

Uso de biológicos no tratamento de sementes e de muda

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PARRA FALA

Qual é o tempo médio para que um macroorganismo seja lançado no mercado de controle biológico?

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CAMPO GRAVENA

A fauna maravilhosa que o pólen abundante do milho atrai

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NO CAMPO

A cana vai bisar esse ano? E agora?

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HOMENAGEM

Uma mulher exemplo para o controle biológico

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PÓLEN

As abelhas produzem mel do sansão-do-campo?

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EVENTO

Siconbiol 2023, um reflexo da expansão do controle biológico!

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SEMIOQUÍMICOS NA AGRICULTURA

Possibilidades de uso desta tecnologia no manejo de pragas

USO DE BIOLÓGICOS NO TRATAMENTO DE SEMENTES E DE MUDAS

6
Pesquisa
Adobestock

Ouso de produtos microbiológicos para o controle de pragas e patógenos causadores de doenças em plantas é uma realidade e vem crescendo vertiginosamente no mundo, mas especialmente no Brasil, que lidera tecnologias para grandes áreas.

Geralmente, os biodefensivos microbiológicos são aplicados sobre as folhas ou no solo, dependendo de onde esteja o alvo, com o objetivo de diminuir a incidência da praga ou doença ou para inibir o desenvolvimento da doença. São os usos mais comuns de

biodefensivos.

Entretanto, a maioria dos microrganismos induzem a resistência das plantas a doenças e até a pragas, levando a planta a produção de substâncias deletérias aos organismos que prejudicam as plantas. E essa resistência é sistêmica.

Por isso, o uso de microrganismos específicos no tratamento de sementes e de mudas tem um potencial grande de minimizar danos de pragas e doenças em plantas tratadas.

na sua dissertação de mestrado1 pela Esalq/USP, em Piracicaba, SP, verificou que a inoculação de fungos entomopatogênicos em sementes de soja afetou o consumo de folhas, o desenvolvimento e até a sobrevivência das lagartas desfolhadoras Chrysodeixis includens e Helicoverpa armigera e a sobrevivência da mosca-branca, Bemisia tabaci, até dois meses após a inoculação.

O mesmo autor publicou outro artigo demonstrando o mesmo efeito de fungos entomopatogênicos inoculados em sementes sobre lagartas des-

1 VINHA, F.B. Potencial da inoculação de fungos entomopatogênicos no plantio da soja para o manejo de pragas. 2018. 96p. Dissertação (Mestrado em Entomologia) – ESALQ/USP, Piracicaba, 2018.

2 VINHA, F.B. et al. Negative effects on the development of Chrysodeixis includens and Spodoptera cosmioides fed by peanut plants inoculated with entomopathogenic fungi. Frontiers in Fungal Biology, v.3, 10.3389/ffunb.2022.968528, 2023.

3 PINTO, A. de S. et al. Tratamento de sementes de feijoeiro com Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae visando ao manejo de pragas de folhas. In: SIMPÓSIO DE CONTROLE BIOLÓGICO, 16., Londrina, 2019. Resumos... EMBRAPA Soja: Londrina, 2019. p.53.2

4 VIAN, L.S. Manejo biológico de pragas e doenças do tomateiro (Solanum lycopersicum) com tratamento de mudas com fungos. 2018.

7 Pesquisa
32f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Agronomia) – Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto, 2018. poucos anos, Fernando B. Vinha, Desfolha (%) causada por Diabrotica speciosa após tratamento de sementes de feijoeiro com diferentes concentrações de Beauveria bassiana Plantas (%) com presença de minas de Liriomyza sp. após tratamento de sementes de feijoeiro com diferentes concentrações de Beauveria bassiana Plantas (%) com presença de minas de Liriomyza sp. após tratamento de sementes de feijoeiro com diferentes concentrações de Metarhizium anisopliae Desfolha (%) causada por Diabrotica speciosa após tratamento de sementes de feijoeiro com diferentes concentrações de Metarhizium anisopliae

8 Pesquisa

folhadoras do amendoim2.

O grupo de pesquisa Gebio, ligado a Occasio e ao Centro Universitário Moura Lacerda, tem estudado bastante esse assunto e alguns resultados mostraram possibilidades bastante positivas quanto ao uso dessa estratégia.

Para o feijoeiro, a redução de desfolha causada por crisomelídeos, especialmente Diabrotica speciosa, quando Beauveria bassiana ESALQ PL63 foi aplicado nas sementes, foi evidente até pelo menos três semanas. O fungo Metarhizium anisopliae ESALQ E9 reduziu por menos tempo a desfolha causada por D. speciosa, destacando a menor concentração de conídios, que reduziu por três semanas a infestação de larva-minadora, Liriomyza sp. Há uma tendência da menor concentração ser mais efetiva, sendo dessa pesquisa de 73,3 conídios viáveis por semente ou 1x108 conídios viáveis por hectare3

Para hortaliças, resultados expressivos foram conseguidos para berinjela e tomate. No caso das mudas de to-

Figura 1 Produtividade média de frutos de berinjela por planta após tratamento de mudas com diferentes fungos. Adobestock

mateiros tratadas com Trichoderma harzianum IB19/17, houve grande redução da larva-minadora até dois meses e de plantas com septoriose até 45 dias depois do transplantio. O fungo B. bassiana IBCB66 reduziu as folhas com presença de mosca-branca e plantas com septoriose até 45 dias após o transplantio4

Em estudos com berinjela, além da diminuição da ocorrência de cochonilhas sem carapaça, de lagartas desfolhadoras e da mancha-de-estenfí-

lio, especialmente com M. anisopliae ESALQ E9, também se conseguiu aumento expressivo de cerca de um quilo de frutos por planta.

Outras culturas começam os estudos para esse tipo de uso de produtos microbiológicos. Na cana-de-açúcar, a redução da ocorrência de carvão e até de ninfas das cigarrinhas parece estar associado ao tratamento de mudas ou soqueiras com diferentes fungos, bactérias e até associação delas.

Alguns pesquisadores acreditam que

os microrganismos induzem a planta a produzir toxinas que causariam a morte de insetos ou inibiriam o desenvolvimento de fitopatógenos ou a emissão de compostos voláteis pela planta tratada com o microrganismo poderia modificar o comportamento dos organismos fitófagos.

Independentemente de como ocorram os processos, o tratamento de sementes e mudas é uma nova fase do controle biológico, mais simples e econômica que os métodos tradicionais.

9 Pesquisa

A FAUNA MARAVILHOSA QUE O PÓLEN ABUNDANTE DO MILHO ATRAI

Alguém do Agronegócio brasileiro, acostumado ou novato, no plantio do milho, híbrido, transgênico Bt ou não, grandes áreas ou pequenas propriedades não imagina que a cultura do milho tem uma característica especial na sua fase de crescimento e florescimento. Para isso a natureza fez com que a evolução chegasse à sincronia perfeita entre os órgãos masculino e feminino,

embora separados, muito diferente de muitas outras espécies e suas flores. Para entender melhor temos que ir à classificação botânica e depois na cronologia do ciclo de plantio para virmos até à polinização que é o tema do artigo.

Onde o milho se situa na Botânica

Vamos partir da divisão principal ente Gimnosperma e Angiosperma. A primeira corresponde às Araucárias como exemplo. Mas é na segunda, Angiosperma, que estão as monocotiledôneas e as dicotiledôneas. As monocotiledôneas são formadas apenas por um cotilédone na semente. Os exemplos podem ser: alho, cebola, grama, arroz, trigo, aveia, cana-de-açúcar, milho, aspargo, aba-

10 Campo
Gravena

caxi, bambu, gengibre, coco-da-baía, babaçu etc. As dicotiledôneas são os constituídos de dois cotilédones na semente. Exemplos: pera, maçã, feijão, ervilha, goiaba, eucalipto, abacate, rosa, morango, batata, mate, tomate, jacarandá, jabuticaba, algodão, cacau, limão, maracujá, cacto, mamona, mandioca, seringueira, café, abóbora, melancia etc. Os cotilédones são folhas ainda na fase embrionária nas sementes, modificadas, responsáveis pelo transferência de nutrientes para as plantas, durante os estágios iniciais de seu desenvolvimento. [baseado em (https://www.todamateria.com.br/angiospermas/ )].

Do plantio ao florescimento do milho

Bom, o plantio do milho atualmente já obedece às tecnologias mais modernas possíveis de cultivares, fertilidade, tratos culturais, manejo fitossanitário etc, como todo o Agro brasileiro e logo estaremos em primeiro lugar no mundo em produtivi-

dade, sem aumentar a área agrícola ocupada proporcionalmente. Seja cultivar normal de safra ou precoce para exploração de safrinha também se tem um período de germinação e crescimento que fica muito vulnerável ao clima e ao ataque de pragas e doenças. No nosso caso, principalmente por pragas diversas de solo e parte aérea, que em muitas plantações ainda se utilizam inseticidas.

O Estágio VT da safra do milho (ou do momento do pendoamento) ocorre quando o último ramo do pendão está completamente visível e a “cabeleira” não tenha ainda emergido da espiga. A duração deste estágio até o R1 depende da cultivar ou do híbrido cultivado. Esse é o mecanismo inicial e demora de 2 a 4 dias até a saída total dos cabelos. Quando passarem 10 a 12 dias após o aparecimento do pendão, cerca de 70% das espigas terão as cabeleiras expostas. O período de liberação do pólen estende-se por uma a duas semanas.

Em suma, o florescimento se inicia

quando a cabeleira sai para fora da palha da espiga, sendo que os primeiros que emergem são os que polinizam os grãos da base da espiga. Os “cabelos” se mantêm ativos até a polinização total. O pólen cai do pendão, gruda no cabelo, desce pelo duto até o grão e fertiliza o óvulo, transformando-o em embrião. Explicada como se procede a polinização do milho vamos para a surpresa ecológica.

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Campo Gravena
1 Lebia sp. (Coleoptera: Carabidae) no "cabelo" da espiga. 2 Grão de pólen do milho (https://brasilescola. uol.com.br/biologia/grao-polen.htm).

Campo Gravena

O pendão, profusão de pólen nutritivo e atrativo

Os grãos de pólen são estruturas formadas na parte masculina da flor, as anteras, que no caso do milho, e também no caso da taboa, por curiosidade, é separada da feminina. Só que no milho é bem separado e na taboa é uma peça só, sendo que o masculino é na parte de cima, como no milho. Ambos têm que jogar o pólen para fertilizar os estigmas da fêmea mais abaixo, que é a espiga. Eles são jogados aos trilhões ao vento no período de formação que vai até duas semanas, chegando à distâncias de até 500 metros. Algumas centenas caem casualmente para baixo, em direção às cabeleiras das espigas, para fecundar os grãos do milho.

As folhas largas e horizontais da planta abaixo do pendão ficam “empoeiradas” de pólen e é aí que a fauna rica de insetos, catando pólen para diversos propósitos, aparecem em cena. Esta riqueza de pólen no ambiente é vista facilmente nas bordas das plan-

tações.

Entretanto, a visita da diversidade de insetos benéficos, como descreverei aqui, pode não estar ocorrendo igualmente em todas as áreas por alguns fatores tais como: uso de defensivos químicos na fase de crescimento do milho até o pendoamento; escassez de áreas naturais ao redor de algumas propriedades, nas quais os insetos benéficos costumam se abrigar e se proteger; nas que tem áreas naturais haverá maior repovoamento nas áreas limítrofes da plantação.

A quantidade de visitas e depois possível permanência na plantação por atração pelo pólen ou migração para outras áreas de produção vai depender do tamanho dessas áreas naturais da redondeza.

Por que os insetos procuram o pólen?

Os insetos e ácaros, principalmente os que trazem benefícios ao homem

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Adobestock
3 Folha com grãos de pólen.

como os que exercem o controle biológico de pragas e os que produzem mel, são ávidos por pólen. Os insetos predadores usam o pólen como alimento alternativo, no caso de falta ou escassez que durante um ano inteiro sempre podem ocorrer. Os ácaros fisoteídeos predadores, por exemplo, podemos até criar em laboratório com pólen de taboa ou de mamona como alimento.

Portanto, na Natureza, eles têm esse alimento facilmente na presença de plantas florindo. Uma restrição seria para os ácaros, que não sendo alados, não teriam esta fonte de alimentos facilmente, mas eles estão nas plantas por migração pelo vento. Portanto, são sim usuários desta fonte.

Não são benéficos outros tipos de organismos como cochonilhas, moscas-brancas, lepidópteros na forma de lagartas etc., que são pragas. Talvez não estejam também os adultos sugadores de seiva das plantas que também são pragas. As vespas e abelhas coletam o pólen para diversos usos em seus ninhos: produção de cera, de favos de mel, de paredes dos ninhos etc.

Principais benéficos que eu vi buscando pólen

Vespa Brachygastra sp. as operárias buscam 3 tipos de comida: pólen e néctar nas floradas e insetos, principalmente pragas minadoras. Na foto, essas estavam sobre as folhas largas e entre as anteras do pendão.

Tesourinha Doru luteipes fêmea cuidando dos próprios ovos, conforme acompanhei que com a eclosão das ninfas, estas foram vistas se alimentando também do pólen.

Orius insidiosus, pequeno percevejo eficiente predador de tripes, ácaros, ovos e larvinhas de lepidópteros e de pólen alternativamente.

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Gravena
Campo
4 Abelha Apis visitando flores. 5 Vespa Brachygastra sp. 7 Pequeno percevejo predador, Orius insidiosus 6 Tesourinha Doru luteipes fêmea, cuidando dos ovos.

Campo Gravena

Geocoris sp., pequeno percevejo pouco maior do que Orius, predador eficiente de ácaros, ovos e larvinhas de lepidópteros, de outras pragas e de pólen alternativamente. Na foto está predando uma vaquinha.

pendoando e jogando o pólen para alguns caírem no cabelo, penetrando pelo duto até o óvulo de cada grão do milho. Estava aí não só pelo pólen, mas também pelo pulgão que iniciava colônias na ocasião.

Alguns percevejos, como reduviídeos, podem aparecer, mas para caçar outros eventualmente benéficos. Povoam estes momentos também as moscas oportunistas, como a mosca-do-milho, que gostam do pólen, mas são inofensivas para lavoura. E estavam presentes também a cigarrinha-do-milho, lagarta-do-cartucho, lagarta-da-espiga etc. É claro que todas estas pragas têm que entrar num sistema de manejo com o qual encerramos o artigo.

As minhas palavras finais são com o MEP-MILHO

reunindo uma fauna biodiversa de insetos, em sua maioria benéficos à sociedade.

Mas a transformação que o nosso Agro está experimentando com novas tecnologias substituindo rapidamente grande parte do uso de defensivos químicos do passado por outros mais modernos e seguros ecologicamente, além do real crescimento da indústria dos bioinsumos e da aceitação visível dos agricultores, esta fauna que fica em festa com o pendoamento do milho deve acontecer em todo o Brasil nas lavouras de milho, em maior ou menor grau, dependendo da extensão das plantações e das características das áreas de preservação.

Mosca Sirfídea, onde as larvas são predadoras vorazes de pulgões, mas os adultos vivem se alimentando de pólen. Aqui vi uma espécie não conhecida.

Harmonia axyridis, joaninhas representadas pela espécie H. axyridis também estavam de visita ao milho

É claro que a situação dessa plantação de milho estava numa privilegiada ecologicamente, de certa forma.

Os contornos eram ricos em biodiversidade e sem aplicação de defensivos, porém inserido numa vasta região de monocultura cana-de-açúcar. Mesmo assim, o período do descarregamento do pólen exerceu atração aos insetos das proximidades,

Tudo ficaria bem melhor se o sistema de MEP fosse adotado e empregado, que consiste basicamente em ter inspetores de pragas, manual ou sensorialmente, para inspeção e monitoramento de pragas; seguido de ações de controle aos níveis de ação e não-ação; com foco em preservação e aumento de inimigos naturais através do uso de micro e macrobiodefensivos (obtidos em biofábricas ou em on-farm); programado desde o plantio até a colheita e entressafra.

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10 Adulto da joaninha Harmonia axyridis. 8 Pequeno percevejo-olhudo, Geocoris, predando uma vaquinha. 9 Adulto de sirfídeo. Adobestock

UMA MULHER EXEMPLO PARA O CONTROLE BIOLÓGICO

HOMENAGEM A MARIA APARECIDA VICENTE CANO

No dia 13 de abril de 2023, um pouco depois das 9h00, a nossa querida Maria (Maria Aparecida Vicente Cano), uma das fundadoras da Biocontrol, nos deixou.

Maria Aparecida Vicente Cano nasceu em 5 de janeiro de 1956. Conheceu a Elitamara Morsoletto em 1984 e, desde então, as duas sempre trabalharam juntas. Em 1994, em uma viagem, as duas tiveram a ideia de montar a Biocontrol, para ajudar os produtores rurais a controlar as pragas de suas plantações.

Conhecida pelo amor ao seu trabalho, a Maria espalhou alegria por onde passou. Com um jeito simples, divertido e peculiar, a Maria fez história no controle biológico no mundo. Junto a Elitamara, criaram uma empresa conhecida pela inovação e qualidade dos bioagentes que pro-

duziam. Foram inovadoras e empreendedoras na época da Biocontrol, empregando muitas pessoas, especialmente mulheres.

A Maria passou por esse mundo e deixou sua marca em todos nós. Impossível esquecer seu sorriso, sua empolgação e as formas que ela achava para resolver problemas, sempre amável e dinâmica. Amamos muito a Maria e, nós da Occasio e do Gebio registramos aqui nossa profunda admiração por ela e expressamos nossos sinceros sentimentos para seus familiares, especialmente ao seu marido Jaime e sua filha Mariana, e amigos, especialmente a nossa querida Elitamara.

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Homenagem

SICONBIOL 2023, UM REFLEXO DA EXPANSÃO DO CONTROLE BIOLÓGICO!

Entre os dias 23 e 27 de julho de 2023 ocorrerá o 17º Simpósio de Controle Biológico (Siconbiol) e 2º Latino-Americano de Controle Biológico (Slacb), em Juazeiro (BA) - Petrolina (PE). O Siconbiol se consolidou como o maior evento das Américas sobre o controle biológico, porém, há pouco tempo o Simpósio atraía basicamente o público acadêmico. Poucas empresas buscavam o evento como vitrine para seus produtos. Nos últimos anos observamos o controle biológico decolar na agricultura brasileira, número crescente de empresas e produtos no mercado e o interesse cada vez maior por parte dos produtores. Esse cenário que já observamos no campo poderemos também agora ver refletido no Siconbiol 2023. O evento contará com a presença de 22 empresas na área de bioinsumos expondo suas mais recentes tecnologias, um número recorde para o Siconbiol. O público também se torna mais plural, além da parte acadêmica, agora há uma demanda de pessoas interessadas em se capacitar para o uso de bioinsumos ou para se tornar um investidor na área. Dentre estes, temos produtores, consultores, agrônomos e diversos profissionais associados ao setor.

A Comissão Organizadora do Siconbiol 2023 se preocupou também em ter uma programação diversificada para atender um público com diferentes interesses. Durante os cinco dias do evento, serão realizadas 18 palestras, 16 mini-palestras e 27 mesas-redondas, com até cinco sessões

simultâneas. Serão 125 palestrantes provenientes de quase todos os estados brasileiros e de países como Chile, México, Uruguai, Colômbia, Estados Unidos, Portugal, França, Espanha e Áustria. A palestra de abertura ficará a cargo da Júlia Carlini, líder da área de Qualidade e Segurança Alimentar do Grupo Carrefour Brasil, com o tema “A produção de alimentos seguros, do campo à mesa do consumidor: uma visão do mercado varejista”. A ideia é trazer uma discussão mais global em que o controle biológico está inserido como uma ferramenta essencial, em busca de produções mais seguras e com qualidade.

O Siconbiol/Slacb também terá o Siconbiol Startup, um espaço para

estimular novos empreendimentos do setor. A iniciativa irá selecionar 10 startups para apresentarem suas ações para um público selecionado de empresários do setor agrícola e de grandes empresas de bioinsumos. O evento ainda terá concurso para estudantes de graduação e pós-graduação e concurso de fotografias e vídeos.

A realização de inscrições e submissão de trabalhos são feitas pelo site www.siconbiol.com.br, onde também podem ser encontradas mais informações sobre a programação e o evento. Não deixe de participar desta edição do Siconbiol, que ficará como um marco para o controle biológico no Brasil!

16 Evento
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Parra Fala

QUAL É O TEMPO MÉDIO PARA QUE UM MACRO-ORGANISMO SEJA LANÇADO NO MERCADO DE CONTROLE BIOLÓGICO?

Quando um agricultor está aplicando um inseticida no campo, ele nem imagina quanto tempo foi necessário com pesquisas biológicas, processos legislativos e ambientais, estudos econômicos (custo/benefício) para que o produto chegasse ao mercado.

São poucos os trabalhos que abordam os aspectos econômicos do lançamento de um produto químico no mercado. Imaginem o que falta para produtos biológicos...

Existem, no entanto, relatos que falam que hoje para se lançar um pro-

duto químico são gastos cerca de 350 milhões de dólares. Para que uma planta geneticamente modificada (planta transgênica) chegue ao “homem do campo” seriam necessários 150 milhões de dólares. E para os biológicos alguns sugerem valores variáveis de 2 a 10 milhões de dólares para

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Por Dr. José Roberto do SPARCBio
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que haja a disponibilidade do produto no mercado.

Para os químicos, os estudos ambientais e de registro consomem uma boa parte do tempo, bem maiores do que os biológicos, que hoje, especialmente os macro-organismos levam 9 meses para serem registrados.

Para o lançamento de um macro-organismo, assunto de nossa especialidade, tudo começa com a prospecção de um agente biológico, seja ele inseto ou ácaro e que podem ser parasitoides ou predadores. Esta prospecção é baseada na literatura e na coleta de tais agentes no campo. E aí já se inicia a procura de um taxonomista do grupo ao qual pertence o parasitoide ou predador.

O Brasil tem uma biodiversidade fantástica, com grande número de agentes de Controle Biológico, pouco conhecidos e pouco explorados.

Uma vez conhecido o agente, vão ser feitos os estudos bioecológicos do mesmo, envolvendo a influência de fatores bióticos (acasalamento, oviposição, alimentação de adultos, diapausa) e abióticos (efeito da temperatura, umidade relativa, fotoperíodo), pois o “domínio” sobre o organismo (seja ele parasitoide ou predador), depende destes estudos.

Para a área agronômica, ao lado dos estudos mencionados, temos que conhecer a fenologia da planta e a praga, para associá-las ao inimigo natural em estudo. Para os casos de sucesso de Controle Biológico, já existem estudos que permitem o tal “domínio” sobre a vida de um inseto ou ácaro e o seu comportamento.

No nosso grupo de pesquisa, na ESALQ, erramos em poucas horas, o momento da emergência de espécies de Trichogramma, baseando-se no conhecimento de suas exigências térmicas em graus-dia.

Seguem-se outros estudos, em laboratório, semi-campo e a validação

destes resultados no campo.

A criação do inseto ou ácaro é fundamental para estudos de controle biológico; é necessário criarem-se 2 espécies de organismos (a praga e o inimigo natural). Existem hospedeiros naturais e/ou alternativos, na maioria das vezes, criados em dietas artificiais. Esta é uma etapa desconhecida e, portanto, difícil de ser aceita, pois a população, de um modo geral, está acostumada a matar e não criar insetos.

Inicialmente é uma população pequena para conhecer a biologia e comportamento do inseto. Depois, se avoluma, pois dependendo da área, surgem as criações massais (milhões de insetos são criados) para atender às demandas das grandes áreas da Agricultura Brasileira. São milhões de insetos ou ácaros a serem criados para serem liberados nos milhões de hectares da nossa Agricultura. O número de insetos a ser criado depende da automação (com auxílio da robótica e da inteligência artificial), pois tais criações têm na mão-de-obra, o maior custo, o equivalente a 70-80% do total da produção de insetos/ácaros.

É uma fábrica com gastos com pessoal treinado, equipamentos, manutenção destes equipamentos, controle de salas com temperatura e umidade relativa (UR) controladas; logística de armazenamento e transporte. O ajuste da passagem de uma pequena criação para uma criação massal pode exigir alguns anos. Produzimos, em nossos laboratórios, 10 g de ovos da traça Ephestia kuehniella por dia para criar espécies de Trichogramma, o equivalente a 360.000 ovos. Uma grande empresa chega a produzir 40 Kg de ovos da traça, diariamente.

Antes de chegar ao agricultor, existem ainda estudos para se saber o número de inimigos naturais a ser liberado, época, forma e número de liberações. Os drones para liberação já são uma realidade no país. E, finalmente, a eficiência e custo do produto.

Muitas culturas têm várias pragas e há necessidade de aplicação de agroquímicos para outras pragas que não a visada pelo Controle Biológico. Neste caso, produtos seletivos são estudados para, se aplicados, matarem a

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Parra Fala

praga e preservarem o inimigo natural.

Modelos matemáticos hoje associam esta relação parasitoide (predador)/ praga com uma demora média de registro de 9 meses, conforme comentado anteriormente.

Seguem alguns exemplos.

Trichogramma galloi é hoje liberado em cerca de 3-4 milhões de hectares para controlar a broca-da-cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis. O projeto começou no Departamento de Entomologia e Acarologia da ESALQ/ USP em 1984 e foi entregue ao agricultor em 2000, com uma demora, portanto, de 16 anos.

O controle de Phyllocnistis citrella, o minador-dos-citros, foi feito por Ageniaspis citricola, após a importação

do parasitoide da Flórida, EUA, e por nós trazido para o Brasil, em 1998, dois anos após a introdução da praga no Brasil.

O inseto foi liberado em todo o estado de São Paulo, em 2002. Neste caso, a demora para transferência da tecnologia, foi de 4 anos, pois foi feita apenas uma adaptação às condições brasileiras (estado de São Paulo), do que havia em outros países.

Um outro sucesso é o controle de Diaphorina citri (psilídeo) pelo eulofídeo Tamarixia radiata, este liberado externamente aos pomares, no chamado Manejo Externo, em áreas onde o psilídeo se contamina com a bactéria (áreas de murta, áreas cítricas de fundo de quintal, áreas orgânicas, pomares abandonados). O greening (HLB) transmitido por D. citri foi registrado no Brasil em 2004 e 10

anos depois iniciou-se a liberação do parasitoide nas áreas mencionadas, externas ao pomar. Como o registro do HLB, foi em 2004 no Brasil, época em que se iniciaram os estudos, foram necessários 10 anos para o produtor poder utilizar T. radiata produzido em 10 biofábricas em São Paulo a partir de 2014.

Hoje, na nossa opinião, os tempos deverão ser menores, pois já existem empresas estruturadas para grandes criações, o que não ocorria no início do “boom” de Controle Biológico, em nosso país.

Assim, instalações, gente treinada, questões relacionadas à logística de armazenamento e transporte, já se encontram disponíveis, o que permitirá a redução do tempo para lançamento de um macro-organismo no mercado!!

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A CANA VAI BISAR ESSE ANO? E AGORA?

Acultura da cana-de-açúcar apresenta ciclos de desenvolvimento bem típicos, dependendo de como está sendo conduzida. Na região centro-sul do país, quando plantada pela primeira vez é conhecida como cana-planta, de ano, quando isso ocorre, normalmente, entre os meses de setembro a novembro, ou de ano e meio, quando plantada entre os meses de janeiro a abril.

A colheita da cana é realizada nos meses mais secos do ano, tentando atingir o máximo acúmulo de sacarose nos colmos. Mas nem sempre é possível realizar a colheita a tempo e quando isso ocorre a cana é deixada para a próxima janela de colheita. Essa cana não colhida é chamada de cana-bisada ou cana-bis.

Nessa safra, de 2023-2024, muita

cana vai bisar pelo Brasil, pois os canaviais têm superado todas as estimativas de produção e não será possível colher isso tudo, ainda mais em um ano com tantas datas chuvosas. Por isso, muitos cuidados devem ser tomados com essa cana especial, que deverá, se possível, entrar na fila de colheita em datas antecipadas em 2024.

No Campo
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Por Dr. Alexandre de Sene Pinto Consultor em manejo de pragas da Occasio e Professor do Centro Universitário Moura Lacerda Adobestock

No Campo

A cana-bisada, por permanecer no campo por mais de uma safra, além de poder perder açúcar industrializável devido à inversão da sacarose, pode ter mais impurezas vegetais e minerais, pois ocorrem tombamento e enraizamento aéreo. Com isso, a colheita mecanizada pode levar mais impurezas para a indústria, o que pode ser bem grave.

Se há formação de brotação lateral, que seria a planta a ser colhida na próxima safra, há um esgotamento das reservas do colmo que deveria ter sido colhido. As brotações vêm mais fracas e os colmos mais pobres em reservas. A cana-bisada precisa ser suplementada com nitrogênio e fósforo, para que não origine uma rebrota fraca e comprometa a próxima colheita.

Uma forma moderna de se fazer isso é aplicar bioestimulantes nas plantas, que disponibilizem nutrientes diversos, entre eles os mencionados no parágrafo anterior. As bactérias Azos-

pirillum brasilense mais o fungo Trichoderma harzianum ou a bactéria Bacillus megaterium seriam misturas interessantes para esse fim, sempre respeitando as doses de bula, ou seja, nem menos e nem mais, para não anular a performance desses microrganismos. Preferir sempre produtos formulados, pois para esse fim nutricional, são os que nos dão maior garantia de eficácia.

Mas o problema da cana-bisada não é só esse. Imaginem que ambiente interessante é esse canavial para as pragas que ocorrem normalmente na cultura.

Para as pragas de solo, o ambiente do canavial bisado é de estabilidade. Pouco movimento no solo e umidade são as principais características que favorecem a permanência e multiplicação desses organismos. Nesse cenário, o gorgulho-da-cana, Sphenophorus levis, e as larvas de pão-de-galinha são os que mais chamam a atenção.

As cigarrinhas-das-raízes e a broca-da-cana são as pragas mais favorecidas pelo cenário cana-bisada, pois além do microambiente favorável, com umidade alta e temperatura mais baixa do que a do meio externo, elas serão pouco perturbadas por atividades humanas, pois o canavial está muito fechado, e por terem ciclos de vida mais curtos (para a broca-da-cana é de cerca de 45 dias e para as cigarrinhas, de 60 dias), conseguirão desenvolver várias gerações até a cana ser colhida.

Por esses problemas, essas pragas precisam ter suas populações diminuídas de alguma forma, para que não venham piorar ainda mais a qualidade dessa cana-bisada e, o que é pior, infestar os canaviais da próxima safra.

Mas como manejar pragas em um canavial tão fechado? Essa é uma situação bastante desfavorável para os inseticidas químicos sintéticos, que precisam ser aplicados de forma bas-

22 Shutterstock

tante homogênea para serem efetivos, especialmente os de contato ou de ingestão, como as benzoiluréias, diacilhidrazinas, espinosinas, neonicotinoides, diamidas (em baixas do-

ses), piretroides e pirazois.

Pelo contrário, um canavial bisado é muito interessante para os biodefensivos, que se beneficiam desse

No Campo

microambiente e que a maioria não precisa ser aplicada de forma homogênea pelas plantas ou sobre o solo.

Para o controle da broca-da-cana, pode-se utilizar de pulverizações aéreas sistemáticas dos fungos Beauveria bassiana ou Cordyceps fumosorosea ou da bactéria Bacillus thuringiensis. As cepas dos fungos e da bactéria podem ser muito importantes para a escolha do produto comercial e as mais conhecidas para o controle da broca-da-cana em áreas extensas são, respectivamente, ESALQ-PL63, ESALQ-1296 e variedade kurstaki da linhagem HD-I. Entretanto, essas aplicações seriam mais recomendadas em épocas chuvosas. O período de ação desses produtos é de 40-50 dias, mas pode chegar a 70-100 dias.

Para quaisquer épocas do ano, as liberações das vespinhas Trichogramma galloi ou Cotesia flavipes, em área total (faixas de aplicação via drone recomendadas ou bem maiores) ou nas bordaduras dos talhões são práticas recomendadas. Também se pode utilizar das liberações de Tetrastichus howardi, um parasitoide de lagartas e pupas que começa a ganhar espaço no setor canavieiro (ler o capítulo 13 do livro Controle Biológico com parasitoides e predadores na agricultura brasileira).

1 CORRÊA, L.E. Eficácia e período de ação de inseticidas no controle de Diatraea saccharalis em cana-de-açúcar em Cachoeira Dourada, GO. 2023. 55 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Agronomia) – Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto, 2023.
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1 Eficácia e período de ação no controle de lagartas da broca-da-cana de bioinseticidas (CORRÊA, 2023 ). Adobestock

No Campo

Para a liberação da vespinha Trichogramma é recomendado o voo do drone em faixas de 30 metros em todo talhão, em velocidade de vento inferior a 15 Km h-1. São ao menos três liberações em semanas consecutivas, na dose de 50 mil vespinhas em cada liberação. Não se deve usar doses menores ou maiores em nenhuma liberação, pois isso comprometeria a eficácia de controle. Essa

prática garante um período de ação de 45 dias da última liberação. Também se pode realizar cinco liberações de Trichogramma, em intervalos de 7 a 10 dias, para se obter um período de ação de 120 dias.

Para Cotesia, a faixa de liberação é de 50 metros em todo o talhão. É realizada apenas uma liberação de 6 mil vespinhas, mas essa dose é vari-

ável de acordo com a quantidade de lagartas maiores do que 1,5 cm de comprimento presentes na área. O período de ação dessa prática é de 45 dias.

A consorciação dos dois parasitoides é uma prática interessante, pois o que escapa do parasitismo de ovos realizado por Trichogramma pode ser parasitado por Cotesia, que é um

Quantidade liberada de Cotesia flavipes (copos de 15 massas por hectare) em área total por dois sistemas de levantamento populacional da broca-da-cana.

Broca por hectare Hora-homem Copos (15 massas) por hectare 800 – 1.500 8-15 12 1.500 – 5.000 15-50 8 5.000 – 10.000 50-100 16 > 10.000 >100 24 24
2 Esquemas de liberação de Trichogramma galloi em canavial e quantidades liberadas em cada talhão de 20 hectares por semana.

parasitoide de lagartas grandes. Para variedades como CTC9002, que é muito infestada pela broca-da-cana, é uma ótima opção.

Mas esses parasitoides também podem ser liberados apenas na bordadura do canavial bisado, quando a intenção é apenas diminuir a pressão da praga. O drone fará a liberação apenas no perímetro do talhão (entrando 20 metros para dentro dele) e a dose a ser liberada será 20% da dose recomendada para Trichogramma e 25% para Cotesia que se usaria em todo o talhão. Com a diminuição da quantidade de parasitoide liberado e de área aplicada pelo drone, a economia é superior a 50%. Nessa modalidade de liberação, que ainda precisa ser mais bem estudada para canaviais não bisados, o controle demora um pouco mais para começar, mas parece ser mais duradouro.

Nesse caso de canavial bisado, o monitoramento da broca-da-cana nem

é tão importante, visto que se pretende apenas dificultar a infestação da praga, mas pode-se fazer uso de armadilhas de feromônio para a tomada de decisão do início das liberações.

Se desejar continuar monitorando a broca-da-cana, novas armadilhas deverão ser colocadas apenas quando acabar o período de ação da tática de controle escolhida.

No Campo
25
3 Períodos de ação de inseticidas químicos ou biológicos após aplicação baseado em monitoramento com armadilhas de feromônio.

No Campo

Para minimizar os surtos populacionais das cigarrinhas, pode-se utilizar os fungos Metarhizium anisopliae ou Cordyceps fumosorosea. Para o primeiro há muitas cepas comerciais de eficácia, como as bem estudadas ESALQ-E9 e IBCB 425. A vantagem de Cordyceps é que ele serve para controlar tanto as cigarrinhas, quanto a broca-da-cana. Recentemente avaliou-se também a ação desse fungo no controle de larvas e adultos de Sphenophorus e de ovos de Telchin licus licus (broca-gigante) e os primeiros resultados foram bem promissores.

Os fungos devem ser aplicados em área total, de forma aérea, mas aplicações sistemáticas do fungo nas bordaduras dos talhões devem ser bem interessantes, preferindo os atomizadores, que conseguem levar o produto a distâncias maiores do que outros métodos de pulverização.

4 Eficácia de controle das diferentes fases de desenvolvimento das cigarrinhas-das-raízes após 60 dias da aplicação de dois fungos distintos (AMOROZO, 20212).
26
2AMOROZO, T.S. Controle microbiano das cigarrinhas-das-raízes utilizando Metarhizium anisopliae e Cordyceps fumosorosea em cana-de-açúcar. 2021. 24 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Agronomia) – Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto, 2021.

Os inseticidas químicos sintéticos, como tiametoxam, acetamiprido + bifentrina e piriproxifem, também podem ser usados em pulverização aérea para controlar as cigarrinhas-das-raízes, mas com melhor eficácia para adultos nas folhagens do que para ninfas no solo, em canaviais bisados, que são bem fechados.

As demais pragas de solo também têm suas populações reduzidas com

as aplicações de alguns dos fungos mencionados. Mas a aplicação de nematoides entomopatogênicos para todas as pragas de solo deverá ser a principal tática nas áreas convencionais e bisadas. Como esses organismos também controlam lagartas da broca-da-cana, quando aplicados de forma aérea deverão primeiro controlar essa praga e depois as de solo. Mas ainda os resultados de experimentos da Occasio deverão ser ava-

liados para essa conclusão.

A cana-bisada pode, muitas vezes, nem afetar a produtividade e até a qualidade de algumas variedades, mas os danos e as infestações de pragas diversas certamente são afetados por essa prática. Não se preocupar com isso pode comprometer todas as áreas ao redor do canavial bisado. Pense nisso!

No
Campo
3VALDEVITE, G.T. Estratégias química e biológicas no controle inicial de pragas de solo, com foco em Sphenophorus levis, em cana-de-açúcar. 2021. 26 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Agronomia) – Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto, 2021. 6 Eficácia de controle de migdolus após 20 dias da aplicação de fungos e nematoide entomopatogênico com cortador de soqueiras no sistema 70:30 (VALDEVITE, 2021 ).
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5 Eficácia de controle de Sphenophorus levis após 20 dias da aplicação de fungos e nematoide entomopatogênico com cortador de soqueiras no sistema 70:30 (VALDEVITE, 20213).

AS ABELHAS PRODUZEM MEL DO SANSÃO-DO-CAMPO?

Por Darclet Teresinha Malerbo-Souza, André Carlos Silva Pimentel, Carlos Frederico Silva da Costa

Departamento de Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE

Por Julio Cesar de Souza

Centro Paula Souza – Fatec, Jaboticabal, SP

Por Leonardo Gabriel Cabral de Melo Souza

Graduando em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco

Sempre ressaltamos, nos nossos artigos, que conhecer as espécies vegetais que são visitadas pelas abelhas é um dos fatores mais importantes na produção apícola e meliponícola. É importante porque as abelhas utilizam o néctar das flores para a elaboração do mel, utilizam o

pólen das flores para a manutenção das colônias, e as resinas das plantas, de brotações, folhas e caules, para a elaboração da própolis ou da geoprópolis, no caso de abelhas melíponas.

Com relação à fonte de alimento, muitas vezes, as flores visitadas fornecem apenas néctar aos visitantes

florais; às vezes, apenas pólen, e, outras vezes, fornecem néctar e pólen para as abelhas e outros visitantes.

O sansão-do-campo (Mimosa caesalpiniifolia) é uma espécie da família Fabaceae e é citado como planta melífera, por alguns autores, mas, em nossas observações, de vários anos,

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Cerca viva formada de sansão-do-campo (Mimosa caesalpiniifolia), no campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco, em Recife, Pernambuco.

as abelhas visitam as inflorescências apenas para a coleta de pólen.

Mas vamos, inicialmente, descrever essa planta de múltiplas funções.

O sansão-do-campo é uma árvore brasileira natural da caatinga e do cerrado do Brasil, sendo muito frequente no nordeste do país, onde também é conhecida como sabiá, principalmente, em Pernambuco. Possivelmente, o nome sabiá se dá pela cor da sua casca, que se assemelha à plumagem do pássaro do gênero Turdis, o sabiá (TIGRE, 1970). Em outros estados tem diferentes nomes: unha-de-gato, angiquinho-sabiá, sansão gigante, cebiá, sabiazeiro, sabiá-de-espinho, sansão-de-espi-

nho e Cerca-Viva-Sansão-do-Campo.

De acordo com Burkart (1979), o nome específico Mimosa vem do grego mimein, que significa fazer movimento, e meisthal, imitar, em referência a muitas espécies cujas folhas e folíolos se fecham ou se contraem ao se roçarem entre si ou ao serem tocadas por qualquer corpo estranho.

Utilizada para proteger ambientes, devido ao seu aspecto robusto, por ter espinhos e por sua floração abundante, o sansão-do-campo é uma planta utilizada como cerca viva, útil para marcar caminhos, passagens de carros e demarcação de limite de vários ambientes. É muito vista em casas, sítios, condomínios, escolas, shoppings, entre outros. Além de servir como cerca viva, embelezando

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Cerca viva formada de sansão-do-campo (Mimosa caesalpiniifolia), em propriedade rural, em Pernambuco.

os caminhos, ainda impede a invasão de pessoas e de animais. Além disso, as espécies de árvores nativas são muito indicadas para ações de reflorestamento, preservação ambiental, arborização urbana ou plantios domésticos. O reflorestamento, por exemplo, corresponde a implantação de florestas em áreas que já foram degradadas, seja pelo tempo, pelo homem ou pela natureza.

O sansão-do-campo é utilizado para

o reflorestamento por se tratar de uma planta pioneira, decídua, heliófita, de rápido crescimento e que contribui para a incorporação de matéria orgânica e nitrogênio para o solo (ALVES et al., 2004; SILVA et al., 2009). No caso de arborização urbana ou paisagismo, é necessário avaliar o espaço em que a muda será plantada, para que não haja problemas com a fiação elétrica ou rachaduras na calçada. O crescimento dessa planta é acelerado e dentro do período de 2

anos, já é possível ter uma cerca resistente e grande.

De acordo com Augusto e Souza (1995), o sansão-do-campo é uma espécie utilizada na formação de quebra-ventos em diversas regiões do Brasil. Essa espécie também vem sendo utilizada para tutorar plantações (Vitis vinifera) nas áreas irrigadas do Vale do Rio São Francisco (RIBASKI; LIMA, 1997). Além de todas essas utilidades, ainda suas folhas são utilizadas como forrageira, isto é, como alimento para o gado, em épocas de escassez hídrica. E por possuir características ornamentais, pode ser utilizada em projetos de paisagismo.

Sua madeira é pesada, dura, compacta, de superfície lisa e de grande durabilidade, mesmo em ambiente exposto à umidade. Apropriada para usos externos como mourões, estacas, postes, esteios, lenha e carvão (CARVALHO, 2007).

Em um inventário florestal realizado em Quixadá, CE, o sansão-do-campo representou 10,7 % da frequência das espécies e 14 % do volume de madeira (TAVARES et al., 1969)

As árvores podem alcançar 8 a 10 metros de altura e 20 a 30 cm de diâmetro de tronco. Possui tronco espinhento e folhas compostas bipinadas, sendo uma planta bastante adequada às áreas rurais ensolaradas, que suporta podas e que fornece madeira forte e resistente. O sansão-do-campo ocorre, naturalmente, em terrenos profundos, em solos de textura arenosa. Por sua baixa exigência em fertilidade e umidade do solo, desenvolve-se bem, inclusive em áreas muito degradadas, onde tenha havido movimentação de terra e exposição do subsolo. Entretanto, nesses casos, é importante suprir as plantas, por meio de adubação orgânica ou química, para obter melhor resultado em termo de produção de madeira (RIBASKI et al., 2003).

As folhas são alternadas, espiraladas,

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Abelha africanizada Apis mellifera coletando pólen nas inflorescências do sansão-do-campo (Mimosa caesalpiniifolia), em Recife, Pernambuco. Abelha sem ferrão irapuá (Trigona spinipes), coletando pólen nas inflorescências do sansão-do-campo (Mimosa caesalpiniifolia), em Recife, Pernambuco.

compostas bipinadas, geralmente, com 3 pares de pinas opostas, glabros de 3-8 cm de comprimento. O sistema sexual dessa espécie é monoico, isto é, as flores são hermafroditas. O vetor de polinização são, essencialmente, a abelha africanizada Apis mellifera (NORONHA, 1997).

As inflorescências são em espigas cilíndricas, medindo de 5 cm a 10 cm de comprimento, axilares e ordenadas em panículas terminais. As flores são bissexuais, brancas, pequenas, com longos estames, e suavemente perfumadas. Dutra et al. (2020), no Flora do Brasil (Reflora) e no projeto Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo (FFESP) afirmaram que a espécie não apresenta nectários extraflorais, mas não apresentaram dados sobre a existência de nectários florais.

A floração varia de acordo com a região e é irregular, ao longo dos anos, sendo de março a abril, no Maranhão; de abril a junho em Pernambuco (CARVALHO, 1976); de outubro a dezembro, no Ceará e de novembro a março, em Minas Gerais (BRANDÃO et al., 2002). Em Sergipe, o sansão-do-campo introduzido floresceu de novembro a dezembro; no Estado do Rio de Janeiro, de março a junho, e no Estado de São Paulo, de abril a maio (BARNEBY, 1991).

Os frutos secos de coloração marrom são do tipo legume (vagem), com cerca de 9 cm de comprimento e 5 a 6 sementes.

Alguns autores citam que o sansão do campo é rico em néctar, atraindo borboletas e insetos polinizadores, como é o caso das abelhas. De acordo com a Embrapa, o sansão-doc-campo é uma planta apícola por excelência, produzindo grande quantidade de pólen e abundante néctar, de que as abelhas são muito ávidas (CARVALHO, 2007). De acordo com Aires e Freitas (2001), M. caesalpiniifolia estava presente em 12 das 14 amostras (85,71 %) de méis do

Estado do Ceará, sendo considerada como planta importante na composição do mel cearense (FREITAS, 1991; NORONHA, 1997).

Entretanto, nossas observações mostraram que as abelhas só coletam pólen nessas inflorescências, como pode ser observado nas figuras do artigo. Nossa afirmação concorda com Ferreira (2022), que apresentou uma tabela das plantas fornecedoras apenas de pólen, para as abelhas, e

citou o sansão-do-campo.

Nós acreditamos que a percepção de alguns apicultores de que as abelhas produzem mel do sansão-do-campo, quando inicia seu florescimento, pode ser explicado pela relação positiva que existe entre a coleta de pólen e a oviposição da rainha. Isto é, quanto mais pólen as abelhas coletam e armazenam, mais a rainha é estimulada a fazer a oviposição (botar ovos). A rainha botando mais

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Abelha sem ferrão iraí (Nannotrigona testaceicornes), coletando pólen nas inflorescências do sansão-do-campo (Mimosa caesalpiniifolia), em Recife, Pernambuco. Abelhas sem ferrão uruçu nordestina (Melipona scutellaris), coletando pólen nas inflorescências do sansão-do-campo (Mimosa caesalpiniifolia), em Recife, Pernambuco.

ovos, vai aumentando a população da colônia e aumentando o número de abelhas campeiras coletando néctar, de outras espécies vegetais. O que se percebe, então, é o aumento na produção de mel quando o sansão-do-campo inicia o florescimento. Além disso, a observação de pólen

de sansão-do-campo, em análise polínica de amostras de mel, pode ser explicada pela capacidade das abelhas carregarem pólen nos seus pelos, e que podem ser transferidos na elaboração do mel. A análise polínica do mel pode garantir que as abelhas, realmente, visitaram aquelas flores,

mas não garantem que elas coletaram néctar daquela espécie.

O mesmo ocorre com plantas da família das mirtáceas, como a goiaba, a uvaia, o araçá, a jabuticaba e a pitanga, cuja flores fornecem apenas pólen aos visitantes florais e seu pólen é encontrado em amostras de mel. Muitos apicultores apresentam erroneamente seu mel como sendo de goiaba, como ocorre com o sansão-do-campo. Mais uma vez, ressaltamos a importância da observação das espécies de abelhas, nas diferentes flores, bem como, o tipo de coleta que cada espécie está efetuando, se néctar ou pólen, para entender essa relação inseto-planta.

O sansão-do-campo é uma importante espécie para compor jardins amigáveis para as abelhas, principalmente em áreas rurais, sendo visitado por várias espécies de abelhas, que coletam pólen nas suas inflorescências.

Nas nossas observações, realizadas em Recife, Pernambuco, desde 2017, as abelhas africanizadas A. mellifera

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Abelhas sem ferrão irapuá (Trigona spinipes) coletando resina nas brotações das inflorescências do sansão-do-campo (Mimosa caesalpiniifolia), em Recife, Pernambuco. Abelha da família Halictidae visitando as inflorescências do sansão-do-campo (Mimosa caesalpiniifolia), em Recife, Pernambuco.

visitaram as flores apenas nas primeiras horas da manhã, das 6h00 às 8h00, para coleta exclusiva de pólen. Outras espécies de abelhas também foram observadas, coletando pólen, principalmente de manhã, como irapuás (Trigona spinipes), iraí (Nannotrigona testaceicornes), uruçu nordestina (Melipona scutellaris), mosquito ou mirim (Plebeia sp.), além de abelhas Bombus e abelhas da família Halictideae. Também foram observadas moscas e, discordando de alguns autores, não observamos borboletas nas inflorescências do sansão-do-campo. Foram observadas abelhas irapuás coletando resina, nas brotações das inflorescências.

Então, respondendo à pergunta inicial, pela nossa experiência, as abelhas não produzem mel do sansão-do-campo, mas visitam, intensamente, essas inflorescências para coleta exclusiva de pólen.

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TIGRE, C. B. Silvicultura para as matas xerófilas. Fortaleza: DNOCS, 1970. 176 p. (DNOCS. Publicação, 243).

33 Pólen
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POSSIBILIDADES DE USO DESTA TECNOLOGIA NO MANEJO DE PRAGAS

Os insetos possuem um sofisticado sistema sensorial para detectar sinais químicos (‘odores’) a curta e longas distâncias na natureza. Os semioquímicos – feromônios e aleloquímicos (vide esses conceitos na primeira matéria desta série) – são moléculas químicas capazes de interferir no comportamento dos insetos, promovendo ou afetando sua reprodução, alimentação ou dispersão. Na agricultura, os semioquímicos podem ser utilizados de diferentes formas, visando monitorar, atrair ou repelir pragas, melhorar a polinização, incrementar o controle biológico por meio de inimigos naturais (parasitoides, predadores e entomopatógenos), induzir a resistência das culturas ao ataque de herbívoros e incrementar a biodiversidade.

Nesta segunda matéria veremos algumas das possibilidades de utilização dos semioquímicos na agricultura e florestas:

Armadilhas

Uma estratégia das mais utilizadas pelos semioquímicos. Pode ser empregado tanto com atraentes (aleloquímicos) ou com feromônios. Os atraentes naturais ou sintéticos a base de voláteis de plantas ou atrativos alimentares Os feromônios sexuais ou de agregação sexual costumam ser os mais empregados nas armadilhas devido sua alta capacidade de atrair os parceiros sexuais a longas distâncias, mesmo em baixas populações. Com isso, é possível de-

tectar o início das infestações, estimar a densidade populacional ao longo do tempo, o horário de voo e acasalamentos, além do nível de infestação das pragas. Conhecendo-se de antemão o nível de controle da praga (NC), é possível ainda estabelecer o momento mais propício e eficiente para adoção de um método eficiente de controle (Figura 1). Esta estratégia é conhecida como ‘monitoramento’ e evita o controle sem necessidade da praga, resultando em economia de recursos e preservação dos organismos benéficos no meio ambiente. Mais recentemente, este sistema tem sido aprimorado com a inclusão de armadilhas inteligentes, que registram as capturas por meio de imagem ou vibração das asas dos insetos, que enviam estes dados em tempo real para uma central de dados. Se conjugado a um software

pode gerar mapas das áreas das fazendas indicando a necessidade ou não de controle.

As armadilhas contendo feromônios sintéticos são as mais utilizadas, em razão da praticidade, eficiência e menores custos; entretanto, fêmeas virgens na falta destes compostos comerciais podem ser empregadas com algumas limitações. O uso combinado de feromônios e aleloquímicos (voláteis de plantas) em armadilhas em muitos casos podem potencializar as capturas de insetos, incluindo de ambos os sexos o que torna o método ainda mais eficiente. Adicionalmente, armadilhas iscadas com feromônios podem ser empregadas numa técnica conhecida como ‘coleta massal’, que consiste no uso de um grande número de armadilhas instaladas na área de uma cul-

SEMIOQUÍMICOS NA AGRICULTURA
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Adobestock

SEMIOQUÍMICOS NA AGRICULTURA

tura que se deseja remover o maior número possível do inseto-alvo. Esta estratégia é útil para culturas de alto valor agregado, ou ainda que exigem a ausência de agroquímicos como produtos orgânicos ou sem resíduos de produtos químicos. Eventualmente, em casos específicos numa dada cultura e praga onde não se tem um outro método de controle eficiente, também pode ser uma alternativa viável.

Confusão sexual

Essa técnica consiste em liberar ou pulverizar grandes quantidades de feromônios sintéticos no ambiente para interferir na localização dos parceiros sexuais pelos insetos. Isso diminui a probabilidade de acasala-

mento e consequentemente a oviposição e o desenvolvimento da fase imatura. Essa técnica é muito eficaz para o controle de pragas que têm uma distribuição homogênea e uma baixa densidade populacional. Tradicionalmente, utilizam-se liberadores ou granulos sintéticos que liberam o feromônio por longos períodos no campo. Em certas situações são capazes de durar por até 6 meses no campo. Neste caso, por se tratar de produtos obtidos por meio de síntese química e utilizados em altas doses (ex. 300 a 400 gramas/ha) podem ser caros. Por esta razão são utilizados em culturas com alto valor agregado. Nos últimos anos, uma nova técnica de obtenção de feromônios por meio de leveduras que recebem a mesma enzima que os insetos usam

e passam a produzir o feromônio por fermentação, baretearam o custo de produção de alguns compostos químicos. Do ponto de vista prático há economia no produto, porém exige que seja pulverizado na cultura com certa frequência, normalmente a cada 2 ou 3 semanas. Para ambas as técnicas (liberadores ou em pulverização) uma grande preocupação para sua eficiência é com a migração de fêmeas virgens de outras áreas para a área tratada. Isto pode ocorrer pois somente os machos são afetados pela confusão sexual, enquanto as fêmeas podem circular livremente entre as áreas e realizar as posturas normalmente.

Uma outra possibilidade desta técnica é a utilização de dispersores de liberadoração controlada (‘sprays’)

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Figura 1. Uso do monitoramento de um inseto-alvo por meio de armadilhas com semioquímicos para a tomada de decisão de uma estratégia de manejo com base no nível de controle (NC).

que são instalados estrategicamente nas áreas da propriedade e de tempos em tempos previamente definidos, liberam uma dose específica do feromônio sintético de modo a manter a confusão sexual sempre presente na área. Neste caso os equipamentos são programados para este fim e reabastecidos com o feromônio de acordo com a necessidade.

Atrai e Mata

Essa estratégia combina semioquímicos atrativos com inseticidas para formar iscas que atrai os insetos-alvo que entram em contato com o atrativo levando-os a morte. Desse modo reduz o uso indiscriminado de agroquímicos (inseticidas), pois elimina seletivamente as pragas sem afetar os inimigos naturais e os polinizadores. Esta técnica pode ser utilizada em diferentes pontos ou mesmo em locais estratégicos da cultura ou das plantas, ou ainda nas bordaduras. Sua aplicação pode ser manual ou mecanizada. Recentemente, novos produtos têm surgido na modalidade de aplicação em faixas, especialmente em grandes culturas extensivas como o uso de tratores, motos, drones ou aviões. Desse modo é possível grandes extensoes de áreas onde os insetos são atraídos para estas faixas, entram em contato com o produto e morrem em grande quantidade, permitindo sua redução populacional. Estes produtos podem em certas situações conter também repelentes específicos para abelhas e inimigos naturais, tornando-os mais seletivos.

Push-pull

Consiste, originalmente, em usar semioquímicos repelentes em uma cultura principal (push) e semioquímicos atrativos em uma cultura secundária (pull), criando um gradiente que desvia as pragas da cultura principal para a cultura secundária. A cultura secundária pode ser usada como

uma planta armadilha ou como uma fonte de renda alternativa. Por exemplo, o milho pode ser protegido do ataque da lagarta-do-cartucho usando plantas repelentes como o capim-cidreira ou o nim na bordadura do campo (push) e plantas atrativas como o sorgo ou o milheto no entorno do campo (pull). Alternativamente, plantas atrativas aos inimigos naturais do inseto-alvo também podem ser intercaladas com a cultura principal visando um aumento do controle biológico natural. Inicialmente esta estratégia foi introduzida em pequenas propriedades de países africanos, dado a limitação econômica de muitos produtores locais. Entretanto, se bem manejada pode ser ampliada para outras culturas e pragas, desde que se disponham de plantas sabidamente atrativas ou repelentes aos insetos-alvo e/ou inimigos naturais. Diversos compostos sintéticos com efeito de repelência (push) aos insetos-alvo ou atração (pull) aos inimigos naturais também podem ser empregados nesta técnica.

Indução de resistência nas plantas

Esta técnica visa o uso de semioquímicos que estimulam as defesas das plantas contra o ataque de pragas permitindo o aumento da produção e a qualidade das culturas. Esses semioquímicos podem ser produzidos pelas próprias plantas com ou sem a interação com outros organismos, como rizobactérias, fungos ou insetos. O ácido jasmônico, ácido salicílico e etileno, por exemplo, são moléculas importantes na regulação dos voláteis induzidos após o ataque dos herbívoros e estão conectados à preparação da defesa das plantas a futuros ataques. Rizobactéiras, fungos e insetos podem de acordo com sua interação com a planta, tanto na parte área quanto nas raízes induzir as defesas diretas e indiretas das plantas ao ataque de herbívoros. Já foi demonstrado que a aplicação exóge-

na de elicitores, como os compostos descritos anteriormente e seus derivados em versões sintéticas com dispersores de liberação controlada têm potencial para atrair inimigos naturais e promover o controle biológico em áreas agrícolas.

Conservação da biodiversidade e incremento da polinização

Consiste em usar semioquímicos que favoreçam um incremento da biodiversidade no agroecossistema, promovendo o equilíbrio ecológico e a sustentabilidade da produção agrícola. Esses semioquímicos podem atrair polinizadores, predadores e parasitoides para as culturas, aumentando a polinização, o controle biológico e a resiliência das plantas. Por exemplo, os compostos voláteis emitidos pelas flores podem atrair abelhas, borboletas e outros insetos polinizadores, melhorando a fecundação e a formação de frutos e sementes.

Recentemente, duas estratégias estão em uso na otimização da polinização de cultivos agrícolas. A primeira consiste no uso de um atrativo sintético, que se assemelha química e funcionalmente aos compostos produzidos pelas operárias de abelhas melíferas (Apis mellifera), ao local desejado. A segunda estratégia consiste no uso de biomoléculas sintéticas que mimetizam odores das flores da cultura agrícola de interesse. Assim, ao prover alimento perfumado às abelhas, elas memorizam o odor e se direcionam mais eficientemente ao cultivo. Estas estratégias visam otimizar as visitas as flores pelas abelhas, incrementando a produção e a qualidade do produto final. Sabendo-se cerca de 85% das plantas cultivadas dependem de polinização realizada por animais, essas e outras estratégias com semioquímicos ainda representam bem pouco do potencial de mercado.

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