Revista Gebio | Ano 1 | Edição nº2

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Revista de Controle Biológico

Café: vespas predadoras do bicho mineiro em extinção? Preservação e aumento possível?

AS INCRÍVEIS DEFESAS

DAS FORMIGAS

PREDADORAS

CONTRA FUNGOS

ENTOMOPATOGÊNICOS

Os desafios estão sendo superados e o controle biológico avança no Brasil

Jardim amigável às abelhas: calabura (Muntingia calabura)

ANO 1 | n° 02 | maio de 2022
Distribuição gratuita

Editorial

O controle biológico avança sem limites em números surpreendentes. Se na edição anterior eram mais de 400 produtos comerciais, hoje rompemos a casa dos 500! É um caminho sem volta.

Essa edição da Revista de Controle Biológico Gebio traz um pouco do que está acontecendo nos campos brasileiros e na pesquisa desse setor. A cana-de-açúcar continua nosso destaque, pois os avanços para essa cultura são impressionantes. Também iremos nos deliciar com as informações sobre a polinização da calabura. E teremos as reflexões dos professores Parra e Gravena sobre assuntos importantes.

O 10º Tecnobio CANA está chegando e na próxima edição ele será destacado, pois esse é o maior evento técnico de controle biológico do nosso país. O evento será realizado, como sempre, em Ribeirão Preto, SP, em 17 de agosto de 2022, no luxuoso Espaço Golfe e contará com a parceria das principais empresas do setor.

Que todos tenham uma ótima leitura!

Gebio Revista de Controle Biológico

Maio de 2022

ANO 1 . NÚMERO 2

EDITOR

Alexandre de Sene Pinto alexandre@occasio.com.br

ADMINISTRAÇÃO

Fabio Bueno fabio@occasio.com.br

VENDAS DE PUBLICIDADE

Ligia Rizzo gebio@occasio.com.br

PROJETO E ARTE-FINALIZAÇÃO

Senha Assessoria em Comuninação sac@senhaonline.com.br

Diagramação

Rodrigo Ferreira Iwahashi

FOTO DA CAPA: Shutterstock

GRÁFICA

Grupo Saint Edwiges de Artes Gráficas

OCCASIO editora e análises técnicas

Ltda-ME

Rua do Trabalho, 396

Vila Independência, Piracicaba, SP 13.418-220

Distribuição Gratuita

Todo o conteúdo dos artigos é de responsabilidade dos autores que assinam.

Tiragem dessa edição: 2.000 exemplares

Dúvidas, opiniões ou sugestões, escrever para contato@occasio.com.br

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gebio@occasio.com.br

Sumário

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CAMPO GRAVENA

Café: vespas predadoras do bicho mineiro em extinção? Preservação e aumento possível?

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NO CAMPO

O difícil manejo das pragas de solo nos canaviais

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NO CAMPO

Os mecanismos de imunidade social em formigas predadoras expostas aos fungos entomopatogênicos

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PESQUISA

O papel da modelagem computacional no controle biológico

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EMPRESA

O uso de bioinsumos impulsionando a agricultura regenerativa, possibilitando menor uso de insumos tradicionais e potencializando os resultados no campo!

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PÓLEN

Jardim amigável às abelhas: calabura (Muntingia calabura)

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PARRA FALA

Os desafios estão sendo superados e o controle biológico avança no Brasil

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NO CAMPO

Em busca do resíduo zero: o controle biológico como forte aliado da fruticultura tropical brasileira

Campo Gravena

CAFÉ: VESPAS PREDADORAS DO BICHO MINEIRO EM EXTINÇÃO? PRESERVAÇÃO

E AUMENTO POSSÍVEL?

Verdadeiras operárias estariam a serviço dos cafeicultores trabalhando diuturnamente na caça e depredação das larvas do bicho mineiro em troca do alimento preferido que são os conteúdos delas. Os seus filhotes nos ninhos necessitam da proteína das larvas de insetos pragas para se desenvolverem que passam coletar nos cafezais e outras culturas, ervas daninhas etc. Isso ocorre depois das floradas até as colheitas onde também coletam néctar para produção de mel e polem para produzir os ninhos. Vamos conhecer um pouco destes maravilhosos insetos sociais que vivem em castas como os humanos.

AS Vespas sociais são muitas espécies que ocorrem na flora brasileira e estão agrupadas na família Vespidae. Portanto, diferem das abelhas Apis mellifera (abelha europeia) que integram a família Apidae. Ambas as famílias são da Ordem Hymenoptera onde estão também as formigas e os parasitoides. É na família Apidae que estão também as Abelhas-sem-ferrão que conhecemos como Jataí e a que se atribui o ato de “amarrar cabelo”, Trigona spinipes que é de-

nominada também de Arapuá ou Irapuá. Voltando na família Vespidae que agrupa as Vespas, como o próprio nome familiar sugere, são referidas várias espécies associadas ao Bicho Mineiro do Café (BMC) que inclui o grande grupo do gênero Polybia e outras várias espécies menos conhecidas. Entretanto, pelas nossas andanças e vivência nas áreas cafeeiras e adjacências, em São Paulo e Minas Gerais, sobram somente duas espécies que realmente poderíamos

considerar como chaves do ponto de vista do MEP – Manejo Ecológico de Pragas do Café (MEPCa): Brachygastra lecheguana e Protonectarina sylveirae. A primeira tem várias espécies como B. augusti, B. mellifica e mais 15, divididas em 3 grupos: Lecheguana, Smithi e Scutellaris. B. lecheguana é mais conhecida como Enxu-verdadeiro (colmeia próximo ao solo). A segunda, a P. sylveirae é chamada de Enxu-mirim (colmeia em galhos), sylveirae é a espécie úni-

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ca do gênero. Ainda existem a Protopolybia sedula (Enxuí, faz colmeia em galhos) e a Polybia scutellaris (Enxu-da-beira-do-telhado ou camoatim). Nós vamos abordar aqui apenas a Brachygastra spp. e a P. sylveirae que são as de maior relevância econômica para o sistema de MEP e que em algum momento alguém considerou ambas como muito intimamente ligadas. São mesmo porque até dividem o modo de aproximação na caça às larvas do BMC: A Brachygastra ataca rasgando a película mais grossa e rígida da face inferior da folha e a Protonectarina ataca as lesões na parte superior da folha onde a película é mais fina e sensível, por escarificação. Portanto, o trabalho das duas são complementares, mas competitivos.

Vespa ENXU-VERDADEIRO Brachygastra lecheguana (Latreille)

Na verdade, a partir deste artigo nós vamos nos referir à Vespa Enxu-verdadeiro como Brachygastra spp. o que significa que no campo é difícil distinguir as diferentes espécies que estariam ocorrendo (lecheguana,

Campo Gravena

melifica e augusti, principalmente, das 17 existentes). Os ninhos que encontramos foram em pasto na várzea (Marília-SP), Subarbusto em eucaliptal (Jaboticabal-SP), copa do café em Dois Córregos (SP) e Luiz Eduardo Magalhães (BA), Pingo de Ouro (Jaboticabal-SP) e mata ciliar (Jaboticabal-SP). Encontramos forrageando (caçando) BMC em plantação de café em assentamento rural em Jaboticabal-SP e em plantação experimental de citros atacado por larva-minadora-dos citros também em Jaboticabal-SP. Operárias foram vistas forrageando polem em milho pendoando, em vegetações como beldroega, amendoim bravo e outras. São consideradas também como predadoras do bicudo do algodoeiro, Anthonomus grandis e até a broca do café Hypothenemus hampei, mas isso fica como mera curiosidade, porque como predador chave a considerar no MEP, na nossa opinião só vale mesmo para BMC, embora eventualmente prede também Traça do Tomate, Tuta absoluta1 e minadora dos Citros, Phyllocnistis citrella entre outras minadoras. Há relatos também vindos do México que são excelentes predadoras de ninfas de Psilídeo dos citros, Diaphorina ci-

tri e encontramos ninho em planta cítrica em Pomar quando em consultoria para uma grande empresa no México.

O ninho: como é, onde encontrar e como proteger. Em geral é globular, oval, 40 a 50 mm quando adulto, feito de fibras vegetais em forma de papel cinza e quase sempre é encontrado em arbustos na margem das plantações do café, em capoeiras, nos subarbustos de florestas vizinhas do café, em campos (pastagens abandonadas). Às vezes nas copas dos pés de café, em geral no ponteiro e às vezes na “saia”. Ninhos, nas copas são efêmeros, pois constantemente estão sendo pulverizados com inseticidas de largo espetro de ação e atua no espanto das colônias. Somente em Café em MEP e orgânicos conseguem conviver com ninhos nas próprias plantas. É preciso que os proprietários sejam alertados para não destruírem esses ninhos e instruírem seus colaboradores a não matarem os ninhos que encontrarem durante o serviço, pois são benéficos ao cafezal. Nas pulverizações cercar com faixas zebradas para não atingir diretamente, embora mesmo assim não evita a morte das operárias com pulverização durante a forragem e o efeito residual dos inseticidas aplicados, mas garante a formação de enxames e a fundação de novos ninhos

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Brachygastra em hibisco Brachygastra em beldroega 1BACCI, L., SILVA, É.M., SILVA, G.A., SILVA, L.J., ROSADO, J.F., SAMUELS, R.I. and PICANÇO, M.C., 2019. Natural mortality factors of tomato leafminer Tuta absoluta in open‐field tomato crops in South America. Pest Management Science, v.75, n.3, p.736-743, 2019. 2REYES-ROSAS, M.A., LÓPEZ-ARROYO, J.I., BUCK, M., LOERA-GALLARDO, J. First Report of a Predaceous Wasp Attacking Nymphs of Diaphorina citri (Hemiptera: Psyllidae), Vector of Hlb. Florida Entomologist, v.94, n.4, p.1075-1077, 2011.

Campo Gravena

na proximidade. Manter áreas naturais próximo aos cafezais, criar áreas naturais no meio das plantações, já são mantidas as áreas de preservação permanentes (APPs) que permitem essas vespas morarem com segurança, desde que os colaboradores também não façam incursões com roçadeiras nas margens onde crescem gramíneas, que são as preferidas para as brachygastras nidificarem.

O trabalho: as castas, o comportamento e a caça de presas. As rainhas e operárias medem 7,5 a 9 mm e machos medem 7,5 a 8 mm. A olho nu é impossível distinguir, mas podemos dizer todas são iguais no tamanho, mas diferem na forma. São pretas em geral com abdome metade preto na frente e final com listras amarelas. Os ninhos das brachygastras são divididos em fêmeas que são as rainhas numa quantidade de 1 a 17% da colônia que pode conter de 13800 a 15000 indivíduos. A proporção entre macho e fêmea ativos é de zero em maio, 1:15 em janeiro e 1:1 no outono. As castas são de 3 tipos: rainhas, trabalhadoras e intermediárias. As rainhas têm os ovários desenvolvidos e são em geral 1% de um ninho. Na análise de um ninho adulto por pesquisadores descobriram que há a casta de intermediárias que têm o ovário moderadamente desenvolvidos e correspondem a 60% da colônia. O restante, 39% são as trabalhadoras, as que vão caçar as presas que são principalmente as minadoras de folhas. Na época das floradas o trabalho inclui também a coleta de néctar para produção de mel, consumido por humanos, principalmente pelos mexicanos alegando ter propriedades medicinais e polem como alimento alternativo. As larvas do BMC e outras presas são fontes de proteínas necessárias para as vespas, Vespidae, se desenvolverem e se reproduzirem. Isso não ocorre com Apidae como as Jataís, as Arapuás e as Europas que só se alimentam do mel que produzem. Todas ainda ajudam o Agro na poli-

nização de muitas culturas agrícolas de alto valor. Dos 26 estados brasileiros as Brachygastras foram encontradas em 16, incluindo os que produzem café: SP, MG (Cerrado e Sul) e BA (Oeste). As brachygastras são semi-agressivas, são do tipo que liberam o ferrão solto com substância irritante no corpo do inimigo. A casta de vespas intermediárias (60%) na verdade estas são da reserva, pois apresentam capacidade de reprodução em potencial que libertam para a defesa em caso de condições adversas de clima, fogo, cultivo, desmatamento, homem etc. É assim que em frente a inseticidas por exemplo ou por perturbação do ninho ou por agitação do local, rainhas individuais partem da colmeia com algumas dessas vespas intermediárias e machos férteis e fundam novas colmeias.

Tentativa de domesticação, preservação e uso no MEP. No trabalho de livre docência fizemos a transposição de e um ninho da Brachygastra lecheguana de uma plantação de Eucalipto próximo à UNESP-Jaboticabal a 2 km, depois de adaptar uma armação de ferro ao ninho, em 06 de abril de 1978, onde se fixou por duas semanas. Pouco mais de 1 ano depois encontramos um ninho, provavelmente originário deste transportado, situado na “saia” de um pé de café a 14 ruas abaixo da rua que estava instalado o ninho transferido do eucalipto. O ninho encontrado no café de Wagner Dinato, de Dois Córregos-SP também se mudou para outro lugar não muito longe. O ninho encontrado na Fazenda dos Uemura no Oeste Baiano, devido aplicação de inseticida contra a broca, mesmo demarcando o local do ninho, provocou a mudança do enxame para outro lugar mais seguro. Os vários ninhos encontrados na Chácara Paulista da empresa Gravena, Jaboticabal-SP, também tiveram mudança de lugar ao ser incomodado pelas pessoas, mas se estabelecem próximo sem problema. O problema é a agressividade de pessoas que não sabendo

da utilidade dessas vespas, às vezes, levam à completa destruição por fogo ou inseticida, não bastassem a extinção natural percebida nos últimos anos por conta de outros fatores incontroláveis. A recomendação é sempre pensar na manutenção e aumento da biodiversidade interna das plantações que assim o permitem como citrus, café, frutíferas em geral. E vegetações intercalares dessas mesmas perenes e de culturas anuais como cereais e hortaliças. No MEP basta considerar, no caso do café em que as vespas são consideradas predadoras chaves do BMC, nas fichas de inspeção as colunas relativas à contagem em ramos com folhas com sinais de predação nas lesões da face inferior, depois virando as folhas para lesão na face superior para predação por vespa Protonectarina que abordaremos a seguir. No MEP consideramos então o Nível de Não-Ação também. Assim, mesmo que no nível de ação tenha atingido (40% de folhas atacadas ou 20% de folhas com larvas vivas) e a predação estiver em 40% ou mais de folhas com sinais de predação, não é necessário pulverizar. O controle biológico por vespas chega a ser de 90% entre junho e setembro quando o ninho é mantido próximo do café. Meses de junho a setembro é a maior atividade e outubro a maio a menor atividade das vespas na predação.

Vespa ENXU-MIRIM Protonectarina sylveirae (Saussuré)

Sua presença, importância, comportamento e uso no MEP. Ao contrário de Brachygastra que tem os ninhos próximo do solo, estas na maioria das vezes nidificam no alto das árvores altas, portanto, preferem regiões da mata atlântica, mas estão presentes em todos os estados cafeeiros (SP, BA, MG, ES e PR). Ela está menos sujeita à extinção porque estão no alto das árvores. Essas vespas, como já referido, são de uma única

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espécie do gênero Protonectarina ao contrário também de Brachygastra que engloba 17 espécies. A outra grande diferença já mencionada no artigo é o comportamento na hora da forragem: elas vão diretamente na face superior das folhas onde as lesões das minas do BMC são de epidermes mais finas e fáceis de romper para retirar as larvas. Protonectarina preda qualquer larva minadora e seu ninho sempre pode estar próximo a residências porque supõe-se ter hortas onde concentram-se insetos onde possam estar caçando para alimentar sua prole de proteína. Assim

Campo Gravena

também em matas ciliares, ou matas ao redor de plantações comerciais onde supõe-se haver muitas larvas para serem predadas. Seus ninhos abrigam 3.500 a 18.700 indivíduos. Enquanto Brachygastra é pouco agressiva ao ser importunada, Protonectarina é extremamente agressiva avançando de longe a palmas ou mero assobio. Sua aparência é muito semelhante à Brachygastra, porém um pouco menor e a face frontal da cabeça é amarela. No MEP é apresentada junto com a Brachygastra como lesões predadas.

Para encerrar, a preocupação é que

está mais difícil para encontrar ninhos de Brachygastra pelo chão e de Protonectarina pelos galhos das árvores. Convidamos a todos que estão relacionados ao cultivo do café que iniciem uma campanha de preservação e aumento dessas maravilhosas vespas que para se alimentarem fornecem um serviço de controle biológico gratuito ao cafeicultor e de quebra manter os empregos dos trabalhadores humanos nessa cultura tão dependente de inseticidas para o controle do BMC e outras culturas que minadoras atacam como o tomate e os citros.

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Vespa Protonectarina Lesão predada, face superior da folha Lesão predada, face inferior da folha

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O estado da arte do controle biológico no Brasil.

Dr. José Roberto P. Parra (ESALQ/ USP)

Como usar microrganismos para substituir fertilizantes químicos?

Dr. Fernando Dine Andreote (ESALQ/USP)

Quais os avanços no manejo biológico de solo e fitossanitário?

Dr. Alexandre de Sene Pinto (Centro Universitário Moura Lacerda, Occasio)

Como manejar biologicamente cupins e formigas?

Dr. José Eduardo Marcondes de Almeida (Instituto Biológico)

O que esperar de Trichoderma nos canaviais?

Patrícia Elias Haddad (Instituto Biológico)

Como fazer manejo biológico em grandes áreas?

MSc. Thiago de Paula e Silva (BPBunge)

Premiação e encerramento.

OS MECANISMOS DE IMUNIDADE SOCIAL EM FORMIGAS PREDADORAS EXPOSTAS AOS FUNGOS ENTOMOPATOGÊNICOS

Os fungos entomopatogênicos são organismos vivos e importantes inimigos naturais de muitas espécies de insetos e ácaros e, portanto, são empregados frequentemente como ingredientes ativos de bioinseticidas e bioacaricidas para aplicações em programas de controle biológico e no âmbito de Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Entre os produtos licenciados e disponíveis no mercado para o contro-

le biológico de pragas, formulações com Beauveria bassiana, Metarhizium anisopliae, Metarhizium brunneum e Cordyceps fumosorosea, são as que mais foram estudadas globalmente, representando, até hoje, o grupo de fungos mais usado no controle biológico de pragas em agroecossistemas.

Na maior parte, a aplicação dos fungos é inundativa (aplicação via pulverização terrestre ou aérea em

grandes quantidades e altas concentrações de conídios), ou seja, tecnicamente a sua aplicação não difere muito do uso de inseticidas químicos sintéticos. Aliás, frequentemente são escolhidos como alternativa para os químicos usando formulações com uma concentração seis vezes maior do que aquela que ocorre naturalmente no ambiente.

Nos tratos culturais da cana-de-açúcar a aplicação de fungos é comum

11 No Campo
MSc. Claudia Weise Escola de Economia de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, SP Dr. Alexandre de Sene Pinto Professor da Agronomia do Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto, SP Sócio e Consultor em Manejo Inteligente de Pragas da Occasio, Piracicaba, SP
Shutterstock

No Campo

no controle de diversas pragas da cultura, como por exemplo M. anisopliae no controle da cigarrinha-das-raízes (Mahanarva spp.) ou B. bassiana para o controle do gorgulho-da-cana (Sphenophorus levis), do besouro-rajado (Metamasius hemipterus) e dos ovos e lagartas neonatas da broca-da-cana (Diatraea saccharalis).

Contudo, deve-se considerar que tanto B. bassiana como M. anisopliae são fungos generalistas e facultativos, que causam infecções em diversos insetos, ou seja, não obstante de serem biológicos e, sendo assim, menos agressivos ao meio ambiente do que os inseticidas químicos, esses fungos podem impactar as interações entre os organismos que convivem no mesmo ecossistema agrícola.

Portanto, no âmbito de desenvolvimento de estratégias e programas de controle biológico usando fungos é importante determinar quais são os hospedeiros suscetíveis a um determinado fungo, incluindo os insetos alvos e não-alvos, e qual é a agressividade desse fungo (virulência). Além disso é essencial saber como os fungos interagem direta e indiretamente com outros organismos (plantas, microrganismos no solo) em ambientes tróficos complexos.

Nesse contexto vale salientar também que existem inúmeros fatores bióticos e abióticos que impactam a eficácia, viabilidade e persistência dos fungos em campo. Entre os fatores abióticos estão radiação solar (raios UV-A e UV-B), temperatura, umidade relativa do ar, disponibilidade de nutrientes (alimentação na fase saprófita), características da planta (área foliar, estrutura e química da superfície da folha) características do solo, além de aplicação ou

residual de fungicidas. Mais vale destacar que as variedades de cepas dos fungos diferem em sua virulência e que cepas mais raras geralmente causam mortalidade maior.

Apesar de que se trata de uma monocultura, caracterizada por uma comunidade vegetal uniforme, a complexidade da comunidade biológica em um canavial é razoavelmente alta. Vários artrópodes, algumas pragas e seus inimigos naturais, além de microrganismos, coexistem nesse habitat.

Um grupo que merece atenção especial é o das formigas predadoras, pois essas pequenas criaturas são responsáveis por diversos serviços essenciais para todo o ecossistema, e para agroecossistemas em especial.

As formigas influenciam a distribuição, a evolução e a densidade populacional de inúmeros animais e plantas. Muitas espécies são onívoras (se alimentam de muitas coisas) e necrófagas (se alimentando de animais mortos), além de predadoras de outros insetos, muitas vezes consideradas pragas agrícolas e urbanas, e pequenos invertebrados.

Formigas são altamente sociais (eus-

sociais). Isso significa que as suas sociedades (colônias), muitas vezes chamadas superorganismos, combinam as seguintes três características:

a) elas vivem em sistemas de castas complexas, divididas em uma real reprodutiva (rainhas) e uma operária não reprodutiva, e empregam uma divisão de trabalho bem-organizada;

b) duas ou mais gerações de adultos coexistem na mesma colônia; c) a casta não reprodutiva cuida da progênie. Formigas mostram comportamentos altruístas e usam uma ampla gama de semioquímicos (feromônios) em um sistema de comunicação sofisticado.

Baseado em pesquisas conduzidas em canaviais de São Paulo1 , os gêneros Pheidole, Solenopsis, Dorymyrmex, Crematogaster, Brachymyrmex e Ectatomma são os mais abundantes.

Os gêneros mais comuns em canaviais constroem ninhos subterrâneos, adotam uma dieta generalista (onívora) e desenvolvem diversas estratégias comportamentais, como eficiência em fazer recrutamento, agressividade em forragear, poliginia2 , capacidade em mudar rapidamente toda a colô-

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1 ROSSI, M.N.; FOWLER, H.G. Predaceous ant fauna in new sugarcane fields in the state of São Paulo, Brazil. Brazilian Archives of Biology and Technology, v.47, n.5, p.805-811, 2004.
2Poligenia: a colônia possua mais do que um órgão reprodutivo (rainha) o que garante, além de uma rápida reprodução, uma probabilidade maior de sobrevivência da colônia após exposição aos diversos fatores externos adversos. Shutterstock
Crematogaster

nia de local ou criar ninhos secundários. Essas estratégias as permitem sobreviver em ambientes altamente antropizados (onde as características originais foram alteradas), além de se recuperarem relativamente rápido após terem as suas populações diminuídas em virtude das diversas práticas agrícolas que ocorrem ao longo do ano-safra.

Nos canaviais, essas formigas desempenham um papel importante no controle da broca-da-cana, pois se alimentam de ovos e larvas de primeiros ínstares (até 1,5 cm de comprimento). Portanto, a preservação desses inimigos naturais vorazes nos nossos canaviais é importante e desejada, o que torna a questão referente à suscetibilidade de formigas a diversos fungos relevante.

Alguns fungos foram bastante estudados para o controle de formigas-praga, que são desfolhadoras, e de formigas onívoras ou até predadoras que são consideradas invasoras exóticas nocivas aos ecossistemas onde foram introduzidas. Esses estudos nos ajudam a compreender como as formigas predadoras são ou não afetadas

pelos fungos usados na agricultura.

As formigas desenvolveram uma série de estratégias individuais e coletivas para combater os patógenos, como os fungos, e lidar com a rica e frequentemente infecciosa comunidade microbiana que habita os seus ninhos e locais de alimentação. Entre os mecanismos de controle de doenças se destacam secreções glandulares de antibióticos, limpeza individual e mútua e necroforese, que é a remoção de indivíduos infectados e mortos da colônia.

Essa capacidade de adaptação ao risco de infecção de bactérias patogênicas, fungos e outros microrganismos que se desenvolvem no seu ambiente, é chamada de imunidade social, que é um dos motivos que explica a extraordinária diversidade e o sucesso ecológico dos insetos sociais.

Alguns ensaios mostraram que formigas predadoras expostas ao fungo aumentaram a limpeza individual e foram limpas com mais frequência pelos membros da colônia. Em outros casos, as formigas evitaram o contato com outras formigas e aumentaram apenas a limpeza individual. As formigas contaminadas também ficam mais tempo fora do ninho, reduzindo o contato com larvas e ovos, e ficam mais agressivas frente a formigas de outras colônias. Pouco antes da morte, formigas expostas ou não a fungos se afastam da colônia dias ou horas antes de morrerem. São comportamentos altruístas, que visam reduzir o risco de contaminação coletiva da colônia.

Formigas que efetuam a autolimpeza apenas apresentam mais conídios de fungos aderidos à pele do que aquelas que também foram limpas por outras formigas. A limpeza mútua, então, garante menor contaminação de formigueiros.

Apesar disso, as formigas que mais realizam a autolimpeza são as que mais morrem pela ação de fungos, o

13 No Campo
As formigas predadoras não se contaminam com os fungos aplicados nos canaviais utilizando secreções glandulares de antibióticos, limpeza individual e mútua e a remoção de indivíduos infectados e mortos da colônia.

No Campo

que indica que existem outros fatores de suscetibilidade delas aos fungos dentro de uma colônia.

Algumas formigas levam para dentro de seus ninhos pedaços de resina de coníferas solidificadas, que possuem propriedades antimicrobianas e que combatem fungos e bactérias. Também usam o ácido fórmico produzidos pelas suas glândulas para o mesmo fim.

A formiga lava-pé ou formiga-de-fogo, Solenopsis invicta, reduz muito a viabilidade do fungo B. bassiana com os gases produzidos pelo ácido fórmico presente em suas glândulas.

Uma pesquisa recente3 revelou um comportamento de defesa e higiene, até o momento desconhecido. Os

pesquisadores observaram que operárias de Lasius neglectus detectam a infecção fúngica em pupas infectadas com Metarhizium brunneum ainda no período de incubação não contagiosa do patógeno e iniciaram um processo chamado desinfecção destrutiva, que consiste em desempacotar a pupa, perfurar sua cutícula com as mandíbulas e injetar diretamente o ácido fórmico produzido nas glândulas das operárias, no corpo da pupa, provocando a morte dela e do fungo.

Outra pesquisa4 mostrou que Myrmica rubra, uma espécie onívora e necrófaga, é capaz de identificar a infecção fúngica em diferentes níveis de infecção no corpo da presa. Os autores observaram que o nível de rejeição, em geral, aumentou com o

nível de infecção. Isso pode explicar por que cadáveres de insetos cobertos pelo fungo aparentemente ficam em campo por muitos dias, sem serem consumidos, enquanto cadáveres em decomposição, sem infecção, são consumidos rapidamente.

Algumas operárias de espécies de formiga conseguem filtrar os conídios dos fungos quando estes são aplicados via pulverização líquida, o mesmo não acontecendo quando esses são aplicados de forma sólida. Essas operárias acabam contaminando as larvas com os fungos retidos em seus aparatos bucais, mas formigas mortas com fungos são logo identificadas, picadas para a injeção de ácido fórmico, que inviabiliza o fungo, e lançadas fora do formigueiro.

3 PULL, C.D.; UGELVIG, L.V.; WIESENHOFER, F.; TRAGUST, S.; SCHMITT, T.; BROWN, M.J.F. et al. Destructive disinfection of infected brood prevents systemic disease spread in ant colonies. eLife, p.1-29, 2018

4 PEREIRA, H.; DETRAIN, C. Pathogen avoidance and prey discrimination in ants. Royal Society Open Science, v.7, n.2, p.1-16, 2020

5 WEISE, C. Impacto de tiametoxam + lambda cialotrina e Beauveria bassiana sobre populações de formigas predadoras e da broca-da-cana, Diatraea saccharalis (Lepidoptera: Crambidae), em cana-de-açúcar. Dissertação de Mestrado, Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, São Paulo, 2021

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Dose e modo de aplicação Características físicas Comportamento

• Níveis de infecção significantes ocorrem apenas com doses > 106

• A cutícula do inseto é hidrofóbica; Aparelho bucal funciona como

• Formações de aglomerações no ato da aplicação via pulverização

Suscetibilidade de formigas aos fungos entomopatogêncios

• Formigas são fortemente adaptadas a ambientes com temperaturas altas.

Resumo dos fatores que determinam a suscetibilidade de formigas predadoras aos fungos. As formigas formam aglomerações quando o fungo é aplicado na forma líquida e isso reduz a mortalidade nas formigas mais protegidas. Quando o fungo é aplicado em pó, essas aglomerações não ocorrem.

Resumindo os resultados das várias pesquisas detalhadas nessa seção, pode-se concluir que, de um modo geral, as formigas são suscetíveis aos fungos entomopatogênicos. Porém, a probabilidade para que uma infecção fúngica se manifeste, causando letalidade em nível individual ou até erradicando colônias completas, depende de vários fatores como dose, modo e metodologia de aplicação, espécie da formiga, densidade populacional de formigas na hora da apli-

cação, presença e tipo do solo, além dos comportamentos de defesa individuais e coletivos.

Diante disso, pôde-se supor que da forma como os fungos entomopatogênicos são aplicados em cana-de açúcar (pulverização) não deverá causar um impacto supressivo significativo nas populações de formigas predadoras nos canaviais e que as formigas, consequentemente, continuarão exercendo o seu papel como inimigos naturais da broca-da-cana.

Uma pesquisa conduzida pela Cláudia Weise5 , em 2021, com a colaboração do grupo Gebio, visou aprofundar esse assunto. Por meio de ensaios, instalados em dois canaviais

comerciais localizados no estado de São Paulo (Vista Alegre do Alto e Sertãozinho), essa pesquisa teve como objetivo avaliar o quanto as populações da broca-da-cana e das formigas predadoras são impactadas pela aplicação do inseticida químico tiametoxam + lambda-cialotrina (TMX + LCT), ou do fungo B. bassiana (BB) e como essas aplicações afetam as interações tróficas nessa comunidade biológica, considerando também as condições climáticas locais.

Aplicou-se os produtos por meio de um pulverizador terrestre realizado com jato dirigido a base da planta, pulverizando 70% do produto nesse local e 30% no solo usando as concentrações comerciais.

15 No Campo

No Campo

Os resultados mostraram que as populações da broca-da-cana diminuíram ao longo da linha do tempo dos ensaios, o que era esperado baseado nos resultados anteriormente obtidos por diversos pesquisadores, que revelaram que particularmente os ovos e larvas dos primeiros instares são suscetíveis ao fungo B. bassiana no caso em que o fungo foi aplicado em concentrações altas (> 1 x 106 conídios mL-1).

Surpreendentemente também as populações de formigas predadoras tenderam a diminuir significativamente após a aplicação de B. bassiana, o que não era esperado, consi-

CLAUDIA WEISE é natural da Alemanha, onde se formou em Administração. Veio para o Brasil em 2010 por motivos profissionais, que, curiosamente, não tem nada a ver com a Agronomia, apesar de sempre ter gostado muito dessa área. Por esse gosto, ela decidiu fazer o Mestrado em Agronegócio na FGV. Na aula do Prof. Alexandre se apaixonou pela Entomologia e, sendo assim, dedicou a sua Dissertação às formigas, os insetos prediletos dela.

Pegou o gosto em conduzir pesquisas e, em breve, lançará o seu segundo projeto, cujo objetivo é analisar a SITUAÇÃO ATUAL E AS

derando os resultados das pesquisas detalhados no início desse trabalho.

Analisando a atividade dos formigueiros no ensaio conduzido em Vista Alegre do Alto observou-se, aos 10 dias após aplicação, uma queda expressiva da atividade dos formigueiros no tratamento com B. bassiana, enquanto a atividade dos formigueiros na testemunha aumentou. Considerando que no delineamento experimental, a testemunha ficou entre as parcelas com os tratamentos, pôde-se supor que houve um fluxo migratório das formigas dos tratamentos para a testemunha, criando aí colônias novas.

TENDÊNCIAS NO MANEJO DE PRAGAS NOS CANAVIAIS BRASILEIROS. Como o levantamento dos dados ocorrerá por meio de um questionário online ela precisará muito da colaboração de Usinas, Destilarias e Fornecedores para que essa pesquisa seja bem-sucedida.

Mais informações referentes à pesquisa podem ser consultadas no site do projeto onde podem ser encontrados todos os detalhes referentes ao acesso ao questionário, segurança dos dados e confidencialidade da informação.

Ficou curioso? Então, segue aqui o link: http://www.euleprojects.com/

Entretanto, se não foi o fungo entomopatogênico por si só que causou um impacto direto e significante na dinâmica populacional das formigas, fica a questão do que foi responsável por isso.

Analisando outros fatores, concluiu-se que o clima e os inseticidas químico e biológico afetaram negativamente a população da broca-da-cana e, por conseguinte, afetou as populações das formigas predadoras. Geralmente as altas ou baixas temperaturas não afetam muito as populações de formigas, o que reforça mais ainda a ação da falta de alimento.

Ou entre em contato para mais informações:

Claudia Weise

+55 (31) 99853-9331

claudia.weise.pt@gmail.com

16
N Tratamento Produto Concentração Dose em kg ou L p.c. ha-1 Volume de calda 1 Tiametoxam
(TMX
Engeo PlenoTM S 141 g L-1 (TMX) 106 g L-1 (LCT) 1,5 L 150 L ha-1 2
= = = =
Boveril WP (ESALQ
0,5 x 1011 conídios viáveis ha-1 500 g 200 L ha-1
+ lambda-cialotrina
+ LCT)
Testemunha (T)
3 Beauveria bassiana (BB)
PL63)
Relação dos tratamentos aplicados nos ensaios.

O mundo pede transformação conscientização sustentabilidade!

Para a Agrivalle, a agricultura regenerativa é o futuro por isso nos preocupamos e atuamos diretamente com os 5 princípios do sistema regenerativo de produção meio-ambiente, água, socioeconomia e biodiversidade!

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Com nossos 4 pilares da produtividade acreditamos que

regenerar é gerar vida, produtividade e economia.

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O PAPEL DA MODELAGEM COMPUTACIONAL NO CONTROLE BIOLÓGICO

Durante o período de pandemia, a modelagem matemática e computacional tornou-se essencial, fornecendo respostas para os tomadores de decisão. Modelos preditivos foram capazes de identificar os momentos das ondas de COVID-19 na população, assim como os efeitos de diferentes estratégias de controle da doença, como o isolamento social. Apesar dos holofotes estarem voltados para questões relacionadas à saúde humana, os modelos preditivos podem dar suporte ao manejo integrado de pragas e à liberação de inimigos naturais.

Um dos sistemas modelados que merece destaque dentro do controle biológico envolve o psilídeo Diaphorina citri Kuwayama (Hemiptera: Liviidae) e seu inimigo natural Tamarixia radiata (Waterston, 1922) (Hymenoptera: Eulophidae). O psilídeo é transmissor de uma das principais doenças dos citros, o HLB ou greening, que é responsável por devastar pomares inteiros. A liberação do inimigo natural T. radiata é uma das estratégias para o manejo do psilídeo e, consequentemente, do greening.

Em 2019, um modelo baseado em

Lógica Fuzzy foi desenvolvido pelo Laboratório de Biologia de Insetos da ESALQ/USP para identificar as localidades mais favoráveis ao controle biológico de D. citri por T. radiata . Tal abordagem permitiu o uso de informações qualitativas (subjetivas) e climáticas (quantitativas) para prever o sucesso da interação em diferentes áreas, o que representou um grande avanço no desenvolvimento de modelos na área de controle biológico, visto que tanto o conhecimento agronômico sobre o plantio, quanto dados numéricos foram utilizados como variáveis de entrada.

18
Pesquisa
no 1 GARCIA, A.G., DINIZ, A.J.F., PARRA, J.R.P.2019. A fuzzy-based index to identify suitable areas for host-parasitoid interactions: Case study of the Asian citrus psyllid Diaphorina citri and its natural enemy Tamarixia radiata. Biological Control. 135: 135-140 2 GARCIA, A.G., JAMIELNIAK, J.A., DINIZ, A.J.F., PARRA, J.R.P. 2021a. The importance of Integrated Pest Management to flatten the huanglongbing (HLB) curve and limit its vector, the Asian citrus psyllid. Entomologia Generalis. 10 1127/entomologia/2021/1247

Estrutura do modelo criado para simular o sistema tritrófico composto por plantas de citros, psilídeos e a vespinha T. radiata. Cada malha de células representa uma população que é modelada de acordo com suas próprias regras biológicas1

O sistema foi modelado novamente em 2021, mas com um novo objetivo: quantificar a contribuição do manejo externo na redução do número de plantas infectadas por HLB. Considerando um sistema mais complexo, o modelo contemplou diferentes estratégias de manejo dentro e fora das fazendas. Os cenários simulados indicaram que estratégias aplicadas externamente, como a liberação de T. radiata e a erradicação de plantas, podem reduzir o número de plantas

infectadas em até 75%, quando combinados em um programa de MIP (Manejo Integrado de Pragas) .

Além do sistema mencionado, as perspectivas para aplicação de modelos na tomada de decisão em outros cenários de liberação de inimigos naturais são excelentes. Recentemente, uma dissertação de mestrado do Departamento de Entomologia e Acarologia da ESALQ/ USP trouxe um modelo que permite

determinar a melhor estratégia de liberação de Telenomus podisi Ashmead (Hymenoptera: Scelionidae) para controle de Euschistus heros (F.) (Hemiptera: Pentatomidae) . O recém-publicado livro “Controle Biológico com Parasitoides e Predadores na Agricultura Brasileira” traz de maneira inédita, um capítulo dedicado somente à modelagem matemática e computacional como ferramenta analítica em programas de controle biológico .

3 WEBER, Igor Daniel. Modelo computacional para determinação de estratégia de liberação de Telenomus podisi Ashmead, 1893 (Hymenoptera: Scelionidae) para o controle de Euschistus heros (Fabricius, 1974) (Heteroptera: Pentatomidae). 2021. Dissertação (Mestrado em Entomologia)Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2021. doi:10 11606/D.11 2021.tde-13092021-135107. Acesso em: 2022-05-25

4 GARCIA, A. G.; REIGADA, C.; NAVA, E. D.; GODOY, W. A. C. 2021b. Modelos matemáticos e computacionais como ferramenta analítica e preditiva em programas de controle biológico. In: J. R. P. Parra; A. S. Pinto; D. E. Nava; R. C. Oliveira; A. J. F. Diniz (Orgs.); Controle Biológico com Parasitoides e Predadores na Agricultura Brasileira. p. 549–543, 2021b. Piracicaba: FEALQ

19 Pesquisa

20 Pesquisa

Apesar de seu crescimento, a área possui vários desafios para sua expansão, tais como a formação de profissionais interdisciplinares e dados de monitoramento de longo prazo para validação dos modelos. Superar esses desafios é a chave para que a contribuição de modelos matemáticos e computacionais resultem em programas de controle biológico mais eficientes e com melhores resultados.

O livro “Controle Biológico com Parasitoides e Predadores na Agricultura Brasileira” trouxe de maneira inédita um capítulo dedicado à modelagem matemática e computacional aplicada ao controle biológico, intitulado “Modelos matemáticos e computacionais como ferramenta analítica e preditiva em programas de controle biológico”.

OS DESAFIOS ESTÃO SENDO SUPERADOS E O CONTROLE BIOLÓGICO AVANÇA NO BRASIL

Sustentabilidade é a palavra “mágica” nos dias de hoje. Todo agricultor gostaria de fazer uma Agricultura Sustentável. Dentro dessa filosofia ou ideologia, o Controle Biológico de Pragas ocupa posição de destaque. E não se trata apenas de filosofia, mas sim de uma exigência real, pois o Brasil, em particular, por ser uma país exportador de “commodities”, tem que atender às exigências do mercado externo, ou seja, produzir produtos agrícolas isentos de resíduos de agroquímicos.

Este é um dos motivos de se falar tanto hoje em dia de Sustentabilidade e Controle Biológico.

O Controle Biológico vem aumentando no Brasil mais do que no resto do mundo, pois enquanto em outros países o aumento da utilização chega a ser de 10-15% ao ano, no nosso país este aumento é de 30-35%, segundo dados oficiais. Já somos líderes em Controle Biológico na América Latina e a tendência é sermos, em pouco tempo, líderes mundiais nesta prá-

tica. Entretanto, é conveniente lembrar que o tipo de Controle Biológico desenvolvido no Brasil é típico de regiões tropicais, com enormes áreas plantadas com soja, milho, cana-de-açúcar, algodoeiro etc. Assim, é um novo modelo de “Controle Biológico para Regiões Tropicais”, e é este o modelo que estamos desenvolvendo. Entretanto, nesta fase de implantação, temos que tomar cuidado e não ter pressa, para evitar que esta prática de Controle Biológico perca a credibilidade por parte do agricultor.

21 Parra Fala
Shutterstock

Usam-se mais os microrganismos do que os macrorganismos, pois embora existam alguns milhões de hectares tratados com parasitoides, como em cana-de-açúcar para controlar a broca-da-cana, os microrganismos são mais aceitos pelo agricultor, pela similaridade com os produtos químicos na aplicação e pelo chamado “tempo de prateleira”, ou seja, como os agroquímicos, os microrganismos podem ser comprados e armazenados até o uso, às vezes, alguns meses depois.

Para este aumento de utilização do Controle Biológico, foi necessário vencer alguns obstáculos (desafios) que se antepuseram no início desta prática no Brasil. Em 20141 escrevi um artigo no qual enumerei os desafios do Controle Biológico no Brasil, como sendo:

1.“Cultura” do agricultor;

2. Transferência de tecnologia;

3. Monitoramento de pragas para liberação de agentes biológicos;

4. Disponibilidade do insumo biológico;

5. Qualidade do insumo biológico;

6. Logística de armazenamento e transporte;

7. Legislação;

8. Utilização de produtos químicos seletivos;

9. Tecnologia de liberação.

Além desses, a pouca utilização do Controle Biológico em refúgios (hoje bastante reduzidos) de áreas com plantas geneticamente modificadas (plantas transgênicas), que ocupam cerca de 50 milhões de hectares no

Brasil, e das características da Agricultura dinâmica que o país possui, com sucessão de culturas e a permanência das pragas no campo ano após ano, pois temos, para algumas culturas, duas a três safras anuais.

Já se passaram 8 anos desde a publicação do artigo e a “cultura” do agricultor, acostumado com agroquímicos nos últimos 80 anos, começou a mudar e ele passou a utilizar o Controle Biológico, tendo como marco a chegada de Helicoverpa armígera em 2013 no país. Não existiam produtos químicos para a referida praga que ataca mais de 250 hospedeiros e o agricultor utilizou Trichogramma pretiosum, parasitoide de ovos, e Baculovirus para o controle da lagarta. Deu certo! O agricultor passou a acreditar no Controle Biológico. Foi o início de uma nova era!

22 Parra Fala
1PARRA, J.R.P. Biological Control in Brazil: an overview. Scientia
Shutterstock
Agricola, v.71, n.5, p.420-429, 2014

A transferência de tecnologia ainda é pobre, mas existem treinamentos e ainda mais devemos valorizar os serviços de extensão, pois o Controle Biológico não é tão fácil como “pensam” e esta transferência de tecnologia demanda “gente treinada”. Não só é carente de pessoal de extensão, mas temos de aumentar a massa crítica na pesquisa sobre Controle Biológico.

O monitoramento de pragas avança de uma forma mais sofisticada, ao lado dos feromônios específicos, com armadilhas inteligentes com sistemas próprios com envio para o banco de dados para liberar o inimigo natural no momento certo. Muitas “startups” desenvolvem este trabalho.

A disponibilidade do agente de controle biológico ainda é um problema, pois se todos os agricultores quisessem utilizar Controle Biológico não há insumos biológicos para todos.

O aumento de empresas competentes e idôneas poderá aumentar esta disponibilidade, que deve ter a qualidade dos produtos biológicos

acompanhada por Órgãos Oficiais. Este é um grande problema! Não adianta ter muitos macro ou microrganismos disponíveis, mas eles não serem de qualidade. Este é um dos grandes gargalos do Controle Biológico no Brasil. Para a produção de macro ou microrganismos há necessidade de instalações adequadas e conhecimento tecnológico em maior quantidade.

Um dos grandes problemas no Brasil é que como as áreas são muito grandes, há necessidade de muitos insetos serem produzidos. Neste caso, o custo aumenta muito, pois 70-80% do custo total de uma criação massal é representado pela mão-de-obra. Portanto, há necessidade de automatização das criações, que hoje começa a ser feita com auxílio da robótica e da inteligência artificial.

A logística de armazenamento e do transporte para o Brasil, com sua grande extensão territorial, é um problema, especialmente para macrorganismos, pois se não forem tomados cuidados, os inimigos naturais poderão chegar mortos no local de liberação (às vezes, em regiões mais

quentes, os insetos são colocados no porta-malas dos veículos, evidentemente, em condição pouco adequada). Domínio dos insetos com o conhecimento das exigências térmicas para preverem a sua emergência, são fundamentais.

A legislação, copiada dos agroquímicos, ainda é deficiente e deve ser melhorada.

O agricultor aprendeu que o Controle Biológico não resolve tudo sozinho. A sua utilização em programa de Manejo Integrado de Pragas, usando produtos seletivos, sem sendo perseguida.

E talvez o que mais avançou na Agricultura 4.0 foi a tecnologia de liberação, com a utilização de “drones” para liberar os inimigos naturais em cana-de-açúcar. Trichogramma galloi é liberado quase na sua totalidade com “drones” (várias empresas de “drones” provenientes de “startups” surgiram nos últimos anos).

Assim, felizmente o Controle Biológico avança no Brasil e as perspectivas são cada vez mais auspiciosas.

23 Parra Fala
Shutterstock

O DIFÍCIL MANEJO DAS PRAGAS DE SOLO NOS CANAVIAIS

Os canaviais do Brasil sofrem com o ataque de pragas de solo, especialmente no período seco, quando as raízes são escassas e as plantas estão muito estressadas. São várias espécies nesse grupo de pragas e a maioria com o manejo mal desenvolvido. Mas algumas espécies ou conjunto delas se destacam.

O gorgulho-da-cana ou bicudo-da-

-cana, Sphenophorus levis, e as cigarrinhas-das-raízes, Mahanarva spectabilis, M. fimbriolata, M. liturata e outras, são as duas pragas-chaves de solo. Migdolus, especialmente Migdolus fryanus, pão-de-galinha (várias espécies, mas entre elas espécies do gênero Phyllophaga) e broca-gigante, Telchin licus, são consideradas pragas regionais importantes. Cupins, formigas cortadeiras e ne-

matoides dos gêneros Pratylenchus e Meloidogyne são pragas importantes gerais. Elasmo, Elasmopalpus lignosellus, é considerada praga ocasional. E algumas espécies de curculionídeos, especialmente Naupactus, larva-arame, percevejo-castanho, pérola-da-terra, Metamasius hemipterus (besouro-rajado) entre outros são pragas de solo secundárias.

24 No Campo
Professor da do Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto, SP Sócio e Consultor em Manejo Inteligente de Pragas da Occasio, Piracicaba, SP
Shutterstock

Das espécies citadas, somente as cigarrinhas criam um BANCO DE OVOS no solo. Cada fêmea das cigarrinhas coloca cerca de 500 ovos, mas nem todos darão origem a ninfas logo após colocados. Alguns deles ficam dormentes (quiescentes) no solo por pelo menos um ano, em

cerca de 20, 50 e 100% dos ovos, respectivamente, em cada uma das três gerações da praga durante uma safra. As demais espécies ou grupos de pragas colocam ovos que darão origem a larvas na mesma safra.

Essa formação de um banco de ovos pelas cigarrinhas complica muito

o manejo delas, pois uma área que teve a presença de adultos já pode ser considerada infestada na safra seguinte, mesmo que haja replantio do canavial ou rotação com outras culturas. Ou seja, a cana-planta já pode começar a desenvolver com infestações das cigarrinhas, mesmo sem presença de palha sobre o solo.

Aliás, as cigarrinhas cada vez menos dependem da palhada, pois as ninfas aprofundam cerca de 5 cm no solo, quando ocorre 3 dias sem chuva (variável com a textura do solo), ou se localizam abaixo das touceiras, em profundidades variáveis no solo, quando os períodos secos se prolongam.

As larvas de migdolus ou da broca-gigante conseguem sobreviver no solo por muito tempo sem a cana-de-açúcar, mas o mesmo não acontece com o gorgulho-da-cana ou com a broca-peluda. Mas todas elas têm hospedeiros diversos ao redor das áreas agrícolas, que as mantêm com alto potencial de infestação dos canaviais. Dentre as plantas hospedeiras estão outras gramíneas, muitas delas plantas daninhas de canaviais,

25 No Campo Prováveis ciclos de vida e longevidade de adultos de algumas das pragas de solo em canaviais do Brasil (exceto Paraná e Mato Grosso do Sul, onde os valores são maiores na maioria dos meses). Praga Ciclo de vida (ovo-adulto) Longevidade do adulto (dias) Elasmo 20 8 Nematoides 21-30 30 Broca-peluda 21 10 Cigarrinhas-das-raízes 60 21 Gorgulho-da-cana 77 200 Pão-de-galinha 100 10 Broca-gigante 150 14 Migdolus 300-900 14
Cigarrinha-das-raízes adulto

14 machos/armadilha/semana 3.500 brocas grandes/ha/mês infestação de 0,7% I.I.I.

Cigarrinha-das-raízes

2,0 ninfas/m/mês

Broca-gigante

2% de tocos atacados

Cupins subterrâneos

1,4 cupins/trincheira

Nematoides

Planta: 25-250/50g raiz

Soca: 90-1.000/50g raiz

Queda de na produtividade 1%

Saúva

14 machos/armadilha/semana 3.500 brocas grandes/ha/mês infestação de 0,7% I.I.I.

Migdlous

1,1 adultos/armadilha/mês

2 larvas/touceira (?)

Sphenophorus

0,5% de tocos atacados

Pão-de-galinha

1 larva/m2

Cochonilhas-sem-carapaça

3 cochonilhas/planta

devido à facilitação da entrada de Colletotrichum (aumento de 20%)

Níveis de infestação de algumas pragas responsáveis por causar cerca de 1% de queda na produtividade de canaviais.

bananeiras, palmeiras, bromélias, abacaxizeiros e orquídeas.

Muitos inseticidas são eficazes para essas pragas de solo, mas as tecnologias de aplicação desses produtos são muito ineficazes. Dentre as tecnologias, a mais comum é a aplicação dos inseticidas cortando as soqueiras. Essa estratégia, além da baixa eficácia, por dificilmente conseguir colocar o produto em contato com as pragas, pela baixa vazão utilizada atualmente (cerca de 150 litros por hectare), ainda pode causar o ar-

ranquio de touceiras em solos pouco estruturados e espalhar doenças entre as plantas tratadas.

A aplicação dos inseticidas com jatos dirigidos para as linhas com plantas (chamado de drench) tem garantido melhores resultados, desde que realizada em períodos úmidos, que normalmente são muito limitados numa safra, pois assim que começa a chover as plantas crescem rapidamente e a altura delas impede a utilização dessa tecnologia.

Para áreas irrigadas, a mistura dos inseticidas na água da irrigação é uma das melhores opções de aplicação, seja no gotejo ou pivô central ou linear. Aproveitar a aplicação de água por aspersão em irrigações de salvamento também é uma ótima forma de aplicação de inseticidas.

Na atualidade, tem-se utilizado a mistura de inseticidas na vinhaça que será aplicada de forma localizada nas linhas com plantas. Para os inseticidas que já foram estudados para aplicação nessa modalidade a

eficácia de controle tem sido superior do que para aqueles que foram aplicados em corte de soqueiras. Isso serve também para os inseticidas e nematicidas biológicos, mas a maioria deles precisa ser colocada em tanque adicional e aplicada junto com a vinhaça em com baixa vazão.

O uso de barreira química no solo contra migdolus é uma tática de difícil aplicação e, por isso, pouco eficaz. Entretanto, dificilmente algum produtor fica sem essa prática, pois as consequências foram muito graves sem a barreira. É o mesmo caso do tratamento químico do sulco de plantio, que basicamente é feito com o inseticida fipronil. Quase ninguém faz o plantio sem esse recurso, pois quem deixou de fazer geralmente teve problemas com migdolus, gorgulho-da-cana ou cupins.

Há muito para se evoluir em tecnologia de aplicação de inseticidas no controle de pragas de solo. A aplica-

ção junto com a vinhaça localizada tem se configurado como uma boa estratégia, assim como junto à água de irrigação. Mas a entrada de novos bioinseticidas, como os nematoides entomopatogênicos, deve mudar o rumo do manejo de pragas de solo nos canaviais do Brasil.

Os nematoides dos gêneros Steinernema e Heterorhabditis deverão mostrar controle superior a 80% da maioria das pragas de solo (ovos, larvas e adultos) e um pouco menos para pão-de-galinha, broca-peluda e cupins. Para o gorgulho-da-cana, além do controle ser superior a 80% de larvas pequenas e 60% de larvas grandes, isso ocorreu em menos de 20 dias após a aplicação, na região de Ribeirão Preto, SP.

Nessa década, os bionematicidas superaram, em área aplicada, os nematicidas químicos na cana-de-açúcar. Os bionematicidas, à base de Trichoderma harzianum ou de Bacillus

de várias espécies, especialmente B. subtilis, têm controlado eficientemente altas infestações de Pratylenchus e de Meloidogyne nos canaviais, não perdendo dos nematicidas químicos ou até os superando. Outras vantagens dos bionematicidas são os efeitos adicionais no controle de patógenos que causam doenças de solo, como bioestimulantes e como disponibilizadores de nutrientes.

Além de todas essas considerações, não se pode monitorar as pragas de solo apenas na reforma do canavial, como sempre foi feito. Esse monitoramento precisa ser realizado em todas as fazendas ao menos uma vez ao ano, logo após a colheita, e nas áreas que serão reformadas. As técnicas de monitoramento evoluíram bastante nesses últimos anos e, hoje, são necessários dois funcionários para realizarem o levantamento de todas as pragas de solo em 7.000 hectares por mês.

27 No
Campo
Migdolus
Pão
galinha
Elasmo
IRRIGAÇÃO
JANEIRO FEVEREIRO MARÇO ABRIL MAIO JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO
ADULTOS LARVAS ADULTOS LARVAS LARVAS ADULTOS NINFAS
Sphenophorus
de
Cigarrinhas DEBAIXO DO SOLO ADULTOS LAGARTAS
DEBAIXO DO SOLO CORTE DE SOQUEIRAS
DRENCH OU AÉREA OU BARRA DRENCH OU BARRA
PLANTIO PLANTIO PLANTIO ADULTOS LAGARTAS Broca gigante
VINHAÇA LOCALIZADA OU EM ÁREA TOTAL E ABAIXO DA TORTA DE FILTRO DRENCH NA COLHEITA Épocas de ocorrência (Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte do Brasil) de diferentes fases de desenvolvimento de algumas pragas de solo e modalidades de aplicação de inseticidas e nematicidas biológicos em canaviais.

O USO DE BIOINSUMOS IMPULSIONANDO A AGRICULTURA REGENERATIVA, POSSIBILITANDO MENOR

USO DE INSUMOS

TRADICIONAIS E POTENCIALIZANDO OS RESULTADOS NO CAMPO!

Dr. Marcos Fava Neves

Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio

Dr. Vinícius Cambaúva

Associado na Markestrat Group, formado em Engenharia Agronômica pela FCAV/UNESP e mestrando na FEA/USP em Ribeirão Preto, SP

Dr. Beatriz Papa Casagrande

Consultora na Markestrat Group e graduanda em Engenharia Agronômica pela ESALQ/USP em Piracicaba, SP

Sobre a Agrivalle

Há 19 anos no mercado, a Agrivalle, indústria de bioinsumos agrícolas, é referência em sistemas regenerativos e propõe soluções inovadoras, transformadoras e sustentáveis baseadas em um amplo portfólio multicultura e multifuncional. Localizada em Indaiatuba (SP), possui 80 mil m² de área total e capacidade

produtiva superior a 35 milhões de quilo/litros por mês.

Um dos maiores investimentos da Agrivalle é na área de pesquisa e desenvolvimento. A empresa conta com um dos maiores bancos genéticos de microrganismos do país, com mais de 800 cepas próprias e potencial biotecnológico ilimitado. São mais de 300 funcionários que

trabalham com o objetivo de impulsionar a produtividade no campo, promover uma agricultura mais lucrativa para o agricultor e de forma sustentável. O portfólio contempla defensivos biológicos e bioestimulantes. A Agrivalle acredita na vida como fonte geradora de vida e quer colaborar com o aperfeiçoamento da qualidade dos solos, da planta, do ecossistema e sua regeneração.

28
Shutterstock
Empresa

Aalta na demanda por alimentos e o crescimento populacional trazem inúmeros desafios e oportunidades para a produção agrícola. Tornar as práticas agropecuárias mais eficientes ao mesmo tempo em que se preserva e, inclusive, se recupera o meio-ambiente é o principal anseio da sociedade atual. As mudanças climáticas, degradação dos solos e perda da biodiversidade tem sido alguns dos danos ocasionados pelo mau uso da terra, o que torna imprescindível a restauração e preservação do ambiente para enfrentar possíveis crises no ecossistema.

Técnicas de manejo utilizadas sem discriminação podem impactar a fertilidade do solo e a resiliência das atividades agrícolas. Nesse sentido, a perda de solos produtivos traz grande prejuízo para a produção de alimentos e a segurança alimentar. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), existem cerca de 130 milhões de hectares de pastagens degradadas que precisam de restauração. Além disso, o Painel Intergovernamental de

Mudanças Climáticas (IPCC) calcula que a temperatura média global do planeta pode sofrer um aumento 1,8°C e 4,0°C nos próximos 100 anos, configurando um impacto significativo para o meio-ambiente e para a sociedade.

Isso significa que os esforços de conservação por si só não são suficientes para evitar o uso indiscriminado de recursos naturais e a perda da biodiversidade. Para tanto, temos visto com certa frequência a adoção de práticas agrícolas de regeneração, que são adotadas para se produzir mais com menos, ou seja, incrementar a produtividade e, ao mesmo tempo, utilizar menos recursos do nosso planeta - menos terra, água e energia; menos produtos químicos; menor emissão de gases de efeito estufa e menor risco de degradação do solo.

Trazendo para um contexto mais recente, apesar de o agronegócio brasileiro ter alcançado recorde histórico nas exportações em 2021, movimentando mais de US$ 120 bilhões, os custos de produção nesse período

configuraram aumento significativo. O balanço apertado de oferta e demanda global dos insumos agrícolas, taxa de câmbio e aumento dos preços do petróleo e gás natural foram alguns dos entraves de grande impacto nesse cenário. Os principais países produtores de defensivos agrícolas e fertilizantes reduziram a oferta e a dependência do Brasil pela importação desses produtos, e o produtor sentiu as consequências na pele; vale lembrar que o nosso país importa cerca de 70% dos fertilizantes e 60% dos defensivos agrícolas que consume anualmente.

Além disso, a continuidade da pandemia da covid-19, com o surgimento de novas variantes em diversos países, intensificou ainda mais essa situação, limitando a distribuição de alguns produtos e afetando de forma direta diversas cadeias de suprimentos. Como resultado, os custos dos insumos chegaram a dobrar em alguns casos; destaque para a categoria de fertilizantes. Em relatório divulgado pelo Rabobank, os preços da Ureia cresceram 150% entre janeiro

29 Shutterstock Empresa

e outubro do último ano, enquanto que os do Cloreto de Potássio registraram alta de 206%!

Esses números refletem uma piora na relação de troca entre insumos e produtos agrícolas, considerando que quanto maior o índice, menor é o poder de compra do produtor brasileiro – e maior terão que ser os preços pagos pela produção, para poder compensar o investimento. A alta demanda por insumos em virtude da expansão de área plantada; problemas logísticos pela falta de embarcações e contêineres; e fatores geopolíticos também foram empecilhos que contribuíram para tal condição.

Diante dessa instabilidade no mercado de insumos, uma boa estratégia a ser utilizada por você produtor, para equilibrar os custos e ajustar o fluxo de caixa, é a diversificação no manejo. Novas tecnologias estão ganhando espaço rapidamente na produção agrícola para a mitigação desses riscos e ampliação das práticas sustentáveis.

O mercado de bioinsumos, chamados a serem protagonistas da agricultura do futuro, atingiu R$ 1,7 bilhão em negócios na safra 2020/2021, configurando aumento de 37% em relação ao volume comercializado na safra anterior, segundo pesquisa divulgada pela Spark Inteligência Estratégica. Tal crescimento apenas reforça a consolidação desses produtos como importantes ferramentas de manejo nas principais culturas agrícolas.

Os insumos biológicos podem ser compostos e/ou fabricados com microrganismos, materiais vegetais, naturais e utilizados nos sistemas de cultivo agrícola para combater pragas e doenças, além de melhorar a fertilidade do solo e a disponibilidade de nutrientes para as plantas. Esses produtos são caracterizados por otimizar o desenvolvimento, crescimento e o mecanismo de resposta de animais, plantas e microrganismos.

Os bioinsumos são complementares ao manejo convencional e possuem um grande diferencial de reduzir a exposição do trabalhador e consumidor a compostos químicos. Se baseia em um método de controle racional e sadio, por fazer uso de inimigos naturais que não deixam resíduos em alimentos; e também preservam o ecossistema, proporcionando o desenvolvimento de sistemas de produção cada vez mais sustentáveis.

A tecnologia de alto padrão empregada pelos bioinsumos é importante aliada nos sistemas de produção com o nosso clima tropical, pois os microrganismos são capazes de otimizar o aproveitamento dos fertilizantes. Dessa forma, auxiliam o produtor a obter alta produtividade e rentabilidade, extraindo ao máximo o potencial dos insumos ao mesmo tempo em que favorece a margem de lucro do negócio rural.

Esse assunto estará em grande evidência nos próximos anos em todo o planeta, uma vez que os agricultores têm percebido a importância de

conciliar a produção agrícola com a preservação do meio-ambiente. Já é possível observar o avanço na adesão de produtos de base biológica para controle de pragas e doenças, além do aumento significativo da adoção de práticas de agricultura regenerativa, como o sistema de plantio direto na palha (SPDP). A agricultura regenerativa caminha em conjunto com a demanda mundial por tecnologias mais sustentáveis e que atendam às necessidades de produção alimentar com redução de impactos.

Considerando o contexto atual de problemas com a disponibilidade e os altos preços de insumos tradicionais; da crise energética global; do aumento nos custos de produção dos alimentos; e do não menos importante apelo por práticas de preservação do meio-ambiente – os bioinsumos devem ser um grande aliado da nossa agricultura! Sou um torcedor deste mercado, porque sei que ele tem muito a somar para o desenvolvimento sustentável do agro brasileiro!

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JARDIM AMIGÁVEL ÀS ABELHAS: CALABURA (MUNTINGIA CALABURA)

As abelhas ocupam uma posição-chave na manutenção da diversidade vegetal, por serem os principais agentes polinizadores e, consequentemente, são importantes na produção de frutos e sementes, mas já pensaram o que as abelhas comem? As abelhas são totalmente dependentes das flores. Elas elaboram o mel a partir do néctar das flores, que será a fonte de energia. O pólen, coletado das flores também, será a fonte de proteínas, lipídeos, vitaminas e minerais, para o desenvolvimento das abelhas. Além disso, as plantas fornecem resinas e óleos que as abelhas vão utilizar para a elaboração da própolis, principalmente.

É extremamente importante que os apicultores e meliponicultores conheçam as espécies de plantas, no entorno das suas colônias, e o período de florescimento delas, no decorrer do ano, bem como, as espécies de abelhas que realmente visitam essas flores, além de saber o que elas coletam, se néctar ou pólen. Isso é importante porque temos espécies que fornecem apenas pólen para as abelhas, como é o caso das mirtáceas, como goiaba e pitanga, ou como o sabiá ou sansão do campo. Já outras espécies são visitadas apenas para coleta de néctar. Ainda temos as espécies vegetais, onde algumas espécies de abelhas coletam apenas néctar e outras espécies de abelhas coletam apenas pólen.

Mesmo em áreas urbanas, podemos introduzir espécies vegetais com-

pondo um jardim amigável para as abelhas. Pensando em espécies que podem ser inseridas nesse jardim amigável, que tem florescimento prolongado, temos a calabura (Muntingia calabura) que é uma árvore da família Muntingiaceae, também conhecida como pau-seda. É nativa do sul do México, do Caribe, América Central, Ocidental, América do Sul, também no sul de Peru e Bolívia, as primeiras mudas foram introduzidas no Brasil, em 1962, pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) com intuito de recuperar áreas degrada-

das. Além da recuperação de áreas degradadas é considerada fonte alimentar para diversas espécies de pássaros, aves, insetos e morcegos.

As flores são brancas, com dezenas de estames com anteras amarelas, emitindo um aroma doce e suave. Seus frutos são comestíveis e, quando maduros, apresentam coloração rosa-avermelhada, com polpa suculenta, doce e de aroma agradável, sendo consumido com casca e sementes, tanto “in natura” quanto como geleia ou compota. Os frutos são ricos em vitamina C, ferro e cálcio.

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Planta de calabura (Muntingia calabura).

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Na América Central, a calabura produz grandes quantidades de frutas todos os meses do ano. Essa planta apresenta autocompatibilidade, que permite que a calabura desenvolva grande quantidade de sementes, ao longo do ano, mesmo em áreas de degradação, onde os agentes polinizadores são escassos. O doce odor e cor esbranquiçada das flores de calabura são muito atraentes para himenópteros e dípteros, o que pode contribuir para a polinização cruzada desta espécie, mesmo sendo autocompatível.

A autora observou preferência de abelhas africanizadas Apis mellifera pelas flores de calabura, plantadas próximas aos maracujazeiros, mostrando seu potencial como alternativa em ocasiões que haja a necessidade do controle de pilhagem, promovido por essas abelhas, como, por exemplo, em cochos de bovinos alimentados com cana-de-açúcar ou em rações animais à base de milho.

Devido ao rápido crescimento e intensidade de frutificação, a calabura vem despertando grande interesse em programas de manejo de fauna, em áreas silvestres, como uma espécie de enriquecimento da flora. Ela é muito utilizada em projetos de reflorestamento, por crescer em solos pobres e de sua propagação por meio de semente, sendo também dispersas por meio de aves e morcegos.

Um experimento foi realizado com o objetivo de avaliar a frequência, comportamento e tipo de coleta das abelhas nas flores de calabura, presentes no Setor de Meliponicultura, do Departamento de Zootecnia, na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), campus Dois Irmãos, localizado em Recife, PE. Além disso, avaliar o potencial da calabura, como fonte de forrageamento para as diversas espécies de abelhas e o seu papel na manutenção da diversidade e conservação do meio ambiente.

Durante 12 meses, uma planta de ca-

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Abelha africanizada Apis mellifera coletando néctar e pólen, na flor da calabura. Abelha africanizada Apis mellifera coletando néctar na flor da calabura.

labura, próxima ao meliponário, foi monitorada com relação às espécies de insetos, principalmente, abelhas que visitavam essas flores. Em agosto de 2018, nessa área, foi avaliada a frequência das visitações e o tipo (néctar e/ou pólen) de coleta das abelhas nas flores da calabura, no decorrer do dia. Observou-se que a calabura floresceu e frutificou durante o ano todo, com alguns períodos de maior floração, como em agosto de 2018. Nesse mês, as abelhas mais frequentes nas flores da calabura foram as africanizadas Apis mellifera (65,80%), abelhas sem ferrão Tetragonisca angustula (jataí) (26,09%) e Trigona spinipes (irapuá) (8,12%), coletando néctar e pólen. Outra abelha sem ferrão observada foi Melipona scutellaris (uruçu-nordestina) e, também, a abelha solitária Pseudaugochlora graminea. Além das abelhas, foram observados lepidópteros, dípteros e vespídeos utilizando as flores como recurso alimentar.

As abelhas africanizadas coletaram néctar e pólen nas flores da calabura, apresentando dois picos de frequência, às 13h e às 16h00. As abelhas jataís coletaram pólen nas flores da calabura, aumentando sua frequência até às 11h00, diminuindo em seguida. As abelhas irapuás coletaram pólen nas flores da calabura, com oscilações no decorrer do dia. Essa abelha pertence ao grupo dos meliponíneos, entretanto, não se utilizam seus produtos (mel, pólen, geoprópolis) devido ao seu hábito de coletar fezes e materiais em putrefação para a construção de seus ninhos. Apesar disso, essas abelhas são muito frequentes nas flores de diversas plantas, sendo generalistas e consideradas polinizadoras do chuchuzeiro.

Também foram observadas abelhas sem ferrão uruçu-nordestina coletando néctar nas flores da calabura. A planta estudada ficava bem próxima ao meliponário da Instituição. Essa abelha é considerada a espécie de Melipona criada pelo homem com a

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Abelha sem ferrão jataí Tetragonisca angustula coletando pólen na flor da calabura. Abelha sem ferrão irapuá Trigona spinipes coletando pólen na flor da calabura.

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maior distribuição nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, com registros do Rio Grande do Norte até a Bahia. Seu mel tem sabor agradável, menos doce do que o mel das abelhas africanizadas e é uma abelha muito dócil, de fácil criação. A abelha Pseudaugochloropsis graminea pertence à família Halictidae que é uma das mais diversificadas no Brasil. Abelhas desta família apresentam brilho metálico verde, azul, avermelhado ou mesmo negro.

Este estudo foi desenvolvido em área urbana, onde se localiza a Universidade, mas fica próxima à uma área preservada, remanescente de Mata Atlântica (Parque Estadual de Dois Irmãos), em Recife, Pernambuco. Estudos têm mostrado que as cidades poderiam ser reservatórios de polinizadores, com maior biodiversidade de insetos, em comparação com o campo. Portanto, as áreas urbanas são favoráveis aos polinizadores silvestres. Plantas ornamentais com floração em diferentes períodos, se manejados intensivamente, produzem flores e recursos (néctar e pólen) que estarão disponíveis de forma mais consistente às abelhas, mesmo em tempos de seca. Entre as diferenças entre a paisagem rural e urbana, observa-se que a rural é caracterizada por ser um ambiente pouco transformado quando comparada com a alta biodiversidade de espécies vegetais no ambiente urbano, uma vez que as espécies da paisagem rural, comumente, se associam à agricultura, silvicultura e pecuária.

Portanto, a calabura pode ser utilizada como espécie ornamental, em áreas urbanas e rurais, e deve ser plantada próxima à meliponários e apiários, sendo importante fonte de recursos alimentares para as abelhas. É considerada boa indicadora de preservação do ambiente e da diversidade de abelhas.

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Abelha sem ferrão uruçu-nordestina Melipona scutellaris coletando néctar na flor da calabura. Abelha Pseudaugochloropsis graminea coletando pólen na flor da calabura.

EM BUSCA DO RESÍDUO ZERO: O CONTROLE BIOLÓGICO COMO FORTE ALIADO

DA FRUTICULTURA

TROPICAL BRASILEIRA

Afruticultura tropical brasileira

é um exemplo de sucesso no Semiárido nordestino. No período de menor precipitação, as áreas de produção irrigadas formam verdadeiros oásis que se contrastam com a vegetação seca da Caatinga. No Submédio do Vale do São Francisco, o destaque principal fica com a produção de manga e uva de mesa, responsáveis pela quase totalidade das exportações dessas frutas pelo Brasil. Já no Ceará e Rio Grande no Norte, o carro chefe é a produção de melão, com 20 mil ha. O clima da região, aliado à água de irrigação, permite elevadas produtividades que surpreendem todos que visitam as fazendas no Semiárido. No entanto, um parâmetro vem recebendo cada vez mais atenção dos principais exportadores de frutas, o limite máximo de resíduo de pesticidas (LMR), que determina a segurança de um alimento para consumo humano. Isso porque muitos compradores já apresentam exigências superiores ao LMR. Por exemplo, na Alemanha 10 redes de supermercados exigem LMR inferiores aos da

Comissão Europeia, assim como restringem entre três e cinco o número máximo de moléculas que podem ser detectadas, mesmo que todas estejam dentro do LMR requerido.

As áreas irrigadas do Semiárido podem ser consideradas verdadeiros paraísos dos insetos, com elevada temperatura média e produção contínua ao longo de todo o ano. Mesmo neste cenário, as exportações não podem parar após tanto esforço para conquistar diferentes mercados ao redor do mundo. Desta forma, como conseguir manter o nível populacional das pragas baixo, dentro de um cenário com elevada restrição de uso de diversos inseticidas e fungicidas sintéticos? Uma das alternativas de sucesso tem sido a adoção do controle biológico com macro e micro-organismos. A estratégia é benéfica pois pode ser utilizada até na época de colheita sem risco de deixar resíduo nos frutos. A seguir descrevemos a situação atual de uso de agentes de controle biológico na fruticultura tropical brasileira.

Macrorganismos

O parasitoide de ovos de mariposas e borboletas, Trichogramma pretiosum, tem sido utilizado por produtores de uva, melancia e melão no Semiárido. No caso da uva de mesa, a adoção iniciou após pesquisas da Embrapa Semiárido, que demonstraram a capacidade desse parasitoide controlar uma nova praga da cultura, a traça-da-videira-sul-americana (Lasiothyris luminosa). A mesma pesquisa também verificou que T. pretiosum também foi capaz de parasitar ovos de outra praga da videira, a traça-dos-cachos (Cryptoblabes gnidiella). Atualmente, há liberação de T. pretiosum em aproximadamente 1.000 ha de uva de mesa. Nos plantios de melancia e melão no RN/ CE, o parasitoide também é usado no controle da broca-das-cucurbitáceas (Diaphania spp.) e lagartas desfolhadoras do gênero Spodoptera, Helicoverpa e Chrysodeixis. Atualmente tem-se aproximadamente 4.000 ha de melancia e 1.500 ha de melão com liberações de T. pretiosum.

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Dr. Tiago Cardoso da Costa-Lima Dr. Carlos Alberto Tuão Gava Dra. Beatriz Aguiar Jordão Paranhos Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa Semiárido, Petrolina, PE
No Campo
Dr. Fernando Rodrigues da Silva Topbio Sistemas Biológicos, Icapuí, CE

No Campo

Em 2021, houve o registro no MAPA do primeiro agente de controle biológico da mosca-minadora (Liriomyza sativae) no Brasil, o parasitoide larval, Neochrysocharis formosa. Estudos em parceria da Embrapa Semiárido, USP/ESALQ e Emparn auxiliaram a disponibilizar um método de criação massal de parasitoides de mosca-minadora. A empresa Topbio Sistemas Biológicos adotou a metodologia e aprimorou com novas etapas adaptadas para uma escala industrial possibilitando a multiplicação do parasitoide N. formosa. Atualmente, o parasitoide de mosca-minadora está sendo liberado em aproximadamente 10 mil ha de melão e 2 mil ha de melancia no Rio Grande do Norte e no Ceará. Para o melão, essa área representa em torno de 50% da área total da cultura. De acordo com o monitoramento da mosca-minadora em campo, as taxas de liberação de N. formosa são ajustadas, variando de 2.500 a 5.000 parasitoides/ha.

Para a mosca-da-fruta, Ceratitis capitata, praga-chave de várias frutíferas, estudos liderados pela Embrapa Semiárido já demonstraram a eficácia do uso do parasitoide larval, Diachasmimorpha longicaudata,

no Semiárido. Este inimigo natural encontra-se na fila de registro e será mais uma opção aos produtores de frutas. Da mesma forma, estudos demonstraram que o parasitoide de ovos, Fopius arisanus, pode ser uma ótima opção de macro-organismo para o controle de C. capitata

Os predadores também já são uma realidade na fruticultura tropical. Em 2021 houve registro de dois ácaros predadores, Neoseiulus idaeus e Neoseiulus barkeri. O primeiro tem como alvo ácaros fitófagos tetraniquídeos, como o ácaro-rajado, e o segundo visa o controle do ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus), do ácaro-vermelho-das-palmeiras (Raioella indica) e de espécies de tripes. O predador N. idaeus tem sido avaliado em mamoeiro para o controle de Tetranychus urticae e em áreas de uva de mesa, para T. urticae e Oligonychus mangiferae. O ácaro predador, N. barkeri, tem sido utilizado em larga escala em cultivos de banana, mamão, melancia e uva para controle de diferentes espécies de ácaros e imaturos de tripes e mosca-branca. As liberações deste predador têm demonstrado resultados satisfatórios, especialmente, quando

são inseridas em manejos integrados de pragas que priorizam o uso de bioinsumos e são cautelosos quanto ao uso de pesticidas sintéticos. Já o ácaro predador, Neoseiulus californicus, tem demonstrado resultados promissores no controle de ácaros fitófagos em regiões de maior altitude e menor temperatura, como a Serra da Ibiapaba (CE) e Garanhuns (PE), em cultivos de plantas ornamentais e hortaliças. Estes resultados são condizentes com os registros de sua ocorrência natural, que sugerem que esta espécie se limita a regiões de maiores precipitações e com temperaturas mais amenas. Para as principais regiões produtoras de frutas do Semiárido esta espécie ainda não demonstrou potencial para uso em programas de controle biológico.

Em 2022, mais um predador obteve registro no MAPA, o crisopídeo Chrysoperla externa. Testes preliminares estão sendo conduzidos no VSF em áreas de uva de mesa e manga, tendo como principais alvos, as cochonilhas. Considerando-se a capacidade de predar diferentes espécies, espera-se em breve uma ampliação de uso deste predador para diferentes culturas e pragas.

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Adultos de Trichogramma pretiosum sobre botões florais de videira. Seta indica ovo da traça-da-videira-sul-americana (esquerda) e cartela fixada ao arame de condução de videira para liberação dos parasitoides (Foto: Tiago C. da Costa-Lima).
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No Campo
Adulto de Neochrysocharis formosa, parasitoide larval da mosca-minadora (Foto: Tiago C. da Costa-Lima). Diachasmimorpha longicaudata (Foto: Tiago C. da Costa-Lima) e Fopius arisanus (Foto: Fernanda Birolo), parasitoides de larvas e de ovos de moscas-das-frutas, respectivamente.

No Campo

Microrganismos

Os microrganismos possuem maior quantidade de casos práticos de biopesticidas já sendo adotados por produtores de frutas do Semiárido, como bactérias, fungos e vírus. Bacillus thuringiensis é o caso mais antigo, em virtude da disponibilidade de diferentes produtos no mercado, sendo aplicado em diferentes culturas no controle de lagartas. Há alguns anos, diversas formulações de Bacillus subtilis e de espécies de Trichoderma também têm sido utilizadas para o controle de patógenos. Inicialmente para controle de doenças causadas por patógenos do solo, mas B. subtilis também passou a ser usado no controle de podridões pós-colheita e, em alguns casos, até mesmo para o controle de patógenos foliares. Mais recentemente, o número de produtos contendo espécies de Bacillus aumentou significativamente com a oferta de formulações contendo B. pumilus, B. amyloliquefaciens e B. velezensis. Todos com aplicação no controle de um amplo grupo de patógenos de solo e parte aérea.

Outro grupo de agentes biológicos que teve seu uso ampliado foram os fungos entomopatogênicos, principalmente Beauveria bassiana. Em meloeiro, o alvo tem sido a mosca-branca, Bemisia tabaci Isaria fumosorosea também tem sido adotado por produtores de melão para o controle da mosca-branca. Em videira, B. bassiana tem sido usada visando o controle de cochonilhas Pseudococcidae, com destaque à Planococcus citri. Pesquisa recente, desenvolvida pela Embrapa Semiárido demonstrou a viabilidade de aplicação de B. bassiana via irrigação para o controle das pré-pupas e pupas da mosca-do-mediterrâneo, C. capitata. Por último, os vírus também estão chegando no mercado como opção de CB. Em videira, o Baculovirus Spodotera tem sido usado para o controle de lagartas de Spodoptera frugiperda, que podem causar desfolha na cultura.

Nos últimos anos, a multiplicação de microrganismos “on-farm” ganhou muitos adeptos entre os produtores, até mesmo entre os grandes empreendimentos. Inicialmente, utilizando sistemas artesanais foram multiplicados principalmente estirpes comerciais de Bacillus, predominantemente B. subtilis e B. thuringiensis Mais recentemente estes produtores passaram a multiplicar cepas de outras bactérias, actinobactérias e, até mesmo, fermentação líquida de fungos, como espécies de Trichoderma spp., B. bassiana e M. anisopliae Apesar da evolução dos equipamentos, apenas alguns sistemas disponíveis são capazes de reduzir significativamente o risco de contaminação por bactérias indesejáveis. Chama a atenção, também, que um grupo de bactérias ainda não registrados no país como agentes de controle biológico vêm sendo comercializadas como inóculo e multiplicadas “on-farm”. Os produtores veem essa alternativa como uma estratégia para redução dos custos de aquisição de bioinsumos. No entanto, destaca-se a importância em investir no controle de qualidade visando reduzir os riscos de contaminação e aumentar a qualidade dos agentes de controle biológico.

Deve-se compreender que os micro e macrorganismos são complementares. Em muitos casos, o uso de um parasitoide ou predador só é viável com a redução do uso de inseticidas sintéticos. Neste caso, em vários cenários os micro-organismos podem ser a resposta para essa redução e podem ser usados juntamente com os macrorganismos.

Perspectivas

A adoção do CB na fruticultura advém da pressão dos consumidores aliado à eficiência da técnica em campo, o que tem atraído até mesmo os produtores que não são exportadores. Em ambos os casos isto se

deu com o avanço do conhecimento gerado nas pesquisas e no avanço na tecnologia de formulação e aplicação dos produtos. No entanto, os custos de produção de frutas são muito elevados e, de forma geral, as pesquisas desenvolvidas mostram que a aplicação dos agentes de CB, tanto macro quanto micro-organismos, deve ser realizada dentro de uma estratégia de controle própria para cada sistema de produção. O CB chega na fruticultura para compor o manejo integrado de pragas e doenças, aliado com outras estratégias de controle. Mesmo que seja necessário eventualmente fazer uso das ferramentas sintéticas para controle de pragas e doenças, a obtenção de uma produção de frutas com zero resíduos dentro dos melhores padrões agronômicos será um grande triunfo. Para alcançar tal objetivo, a principal chave é o conhecimento. Neste sentido, a Embrapa Semiárido junto com seus parceiros vem realizando regularmente um Curso de Controle Biológico direcionado a esse público, com o intuito de capacitar os trabalhadores das fazendas para o uso adequado de agentes de controle.

Assim como para a agricultura em geral, o cenário de crescimento contínuo para o uso de CB na fruticultura do Semiárido é promissor. Há, inclusive, uma tendência de que as empresas comecem a buscar linhagens de agentes de CB adaptadas para diferentes regiões do País, como o caso do clima quente e seco do Semiárido. No caso dos macrorganismos, há necessidade de instalação de um maior número de biofábricas na região Nordeste, visando tornar a logística de distribuição mais eficiente. Também se torna essencial o treinamento dos técnicos e produtores para uso do CB no campo, evitando assim que a falta de conhecimento do uso dos agentes de CB reduza a eficiência de controle e, consequentemente, a sua adoção.

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Revista de Controle Biológico

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