Superando o Lockdown - Revista Empreende 10ª Edição

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Maio/Junho 2020 | Ano 02 | Edição 10

PANDEMIA

SUPERANDO O ‘LOCKDOWN’

IMPACTOS NA ECONOMIA Entenda como o COVID-19 está impactando todos os setores da economia e o que podemos esperar do pós pandemia

SUPERANDO A CRISE Gustavo Cerbasi, Cristiana Arcangeli e Maurício Benvenutti, exemplificam estratégias para empreenderoes superarem o “Lockdown”

SISTEMAS FINANCEIROS Para ajudar na sobrevivência das empresas, Bancos e Fintechs flexibilizam novas condições para captação de recursos


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Agronegócio, Energia e Petróleo

Energia, petróleo, etanol, soja e café. E agora?

Apesar das incertezas, especialistas em agronegócio, energia e óleo avaliam o cenário atual e arriscam palpites para o pós-pandemia.

26 Varejo, Turismo e Vestuário

De uma hora para outra o Brasil parou e a economia foi parar na UTI Para minimizar o avanço do novo Coronavírus todos os estados brasileiros adotaram o isolamento horizontal. O que parecia ser a única solução para preservar vidas ocasionou uma crise econômica sem precedentes.

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Superando a Crise

Vamos superar esse momento, mas não voltaremos ao estado de antes. Três visionários dos negócios opinam sobre como sair dessa e dão dicas estratégicas para empresas superarem os impactos da pandemia.

16 Consumo, Têxtil, Imóveis e Veículos

Indústria de bens de consumo passa por transformações Durante a pandemia, brasileiro troca produtos que leva à mesa, se preocupa mais com higiene e limpeza e valoriza a necessidade de morar bem.

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Mudanças Comportamentais

Vida a.c. e d.c.: antes e depois do Coronavírus?

Isolamento imposto pelo Coronavírus afeta não apenas nossa maneira de viver, como também influencia mudanças em comportamentos e valores da sociedade.

Startups: As novas Small Caps

Empresas e Trabalhadores

Digitalização é palavra-chave para empresas durante a pandemia Isolamento social mudou a rotina de trabalho e aumentou a procura de empresas por auxílios, desde empréstimos até novas tecnologias.

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Sistemas Financeiros

#Crowdfunding

Inovar para Continuar

O que esperar dos sistemas financeiros, durante e após o Coronavírus? Crise da saúde global suscita questionamentos sobre o sistema financeiro brasileiro, eficiência de medidas emergenciais e relações diplomáticas.

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Descubra as semelhanças das Small Caps e Startups e como investir em startups gera maior probabilidade de altos retornos.

Papel da Liderança na gestão de crises

Desde a Grande Depressão em 1929, estamos presenciando a maior crise econômica, por isso um bom posicionamento estratégico dos líderes das empresas será fundamental para salvá-la.

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Expediente

Déborah Dorascienzi Diretora de Conteúdo

abeeon.com.br/deborah.dorascienzi

Thiago Luzzi

Diretor Executivo

abeeon.com.br/thiago.luzzi

Angelo Davanço Jornalista e Revisor

abeeon.com.br/angelo.davanço

Camila Rodrigues

Jornalista

abeeon.com.br/camila-rodrigues

Renata D’ Elia Jornalista

abeeon.com.br/renata-delia

Isabella Grocelli Jornalista

abeeon.com.br/isabella-grocelli

Delcy Mac Cruz Jornalista

abeeon.com.br/mac-cruz

José Manuel Lourenço

Jornalista

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Henrique Moretto

Projeto Gráfico e Diagramação

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Lia Verônica Dorascienzi

Social Media

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Influencers

Revista

Av. Wladimir M. Ferreira 1660 sl 607 Jd. Botânico – Ribeirão Preto CEP 14021-630

@crisarcangeli @ clovisdebarros @gustavocerbasi @mesaetiqueta @mauriciobenvenutti @samydanaoficial

Colunistas Amanda Salomão Pedro Deitos Francisco Perez Leopoldo Andretto Thiago Franco

Site: revistaempreende.com.br Sugestões e Críticas: contato@revistaempreende.com.br Perfil na Rede Social de Negócios: abeeon.com.br/revistaempreende

Publicidade e Anúncios: comercial@revistaempreede.com.br Thiago (16) 99766-5152 Impressão: Grafilar Gráfica e Editora Circulação: Ribeirão Preto (SP)

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Conteúdos elaborados por empresas que anunciam na revista estão referenciados por expressões como “apresenta”, “apresentado por”, “oferecimento”, “especial publicitário”, “conteúdo publicitário”, publieditorial”, “publi” e “promo”. A Revista EMPREENDE é uma publicação bimestral. Todos os direitos são reservados. É proibida a reprodução total ou parcial. As colunas e matérias assinadas são de inteira responsabilidade dos autores, bem como conteúdos dos anúncios e mensagens publicitárias.


Editorial

O Ano em que Resetamos o Planeta I

niciamos o ano de 2020 com entusiasmo e muitas expectativas positivas. Acreditávamos que 2020 seria o ano de realizar tudo aquilo que nós não conseguimos nos anos anteriores devido à crise econômica que o Brasil vinha enfrentando desde 2015. Janeiro passou, fevereiro acabou, e com ele o Carnaval. Março chegou e este seria o mês que de fato as coisas começariam a melhorar no país. Mas, como popularmente costumamos dizer, “só que não!”. Uma pandemia se consolidou em março de 2020 e o ano que era para ser incrível, está sendo o pior ano da vida de todos os presentes nesta data. Isso porque, mesmo com toda tecnologia de ponta, informação abundante, grandes especialistas, a humanidade não estava preparada para uma pandemia deste porte, pois a principal ferramenta que nós carecemos, para lidar com problemas como este, é a inteligência emocional. O medo de não sobreviver ao vírus dominou a mente de toda população mundial e não fomos capazes de raciocinar com clareza. Todo bom empreendedor sabe que o pensamento racional, livre de emoções, é a maneira mais inteligente para encontrar as melhores soluções de um problema de alta complexidade. No caso de uma pandemia, essa solução

depende de inúmeras variáveis, mas nada impossível de se resolver com as ferramentas que temos nessa era. Fomos dominados pelo medo e nosso instinto de sobrevivência nos cegou. Com nossa capacidade intelectual reduzida, a melhor solução que pudemos encontrar para diminuir o número de mortes pela COVID-19, foi deixar a população do planeta inteiro em casa e isolada. Certamente essa não era a melhor saída. Uma boa solução não causa graves efeitos colaterais, mas uma solução ruim, sim! Podemos enumerar vários efeitos colaterais negativos que essa “solução” ocasionou, mas vamos focar em três principais fatores que foram impactados gravemente por ela, são eles: saúde mental, liberdade e trabalho.

Saúde Mental A maneira como estamos lidando com a pandemia, nos fez interromper nossa jornada, ou seja, nossa vida mudou profundamente. Nossas emoções estão alteradas, muitos de nós estão incapacitados de focar e pensar racionalmente devido ao medo de não sobrevivermos ao vírus. Estamos com dificuldades de sentir prazer com as coisas que nos davam prazer antes. Estamos mais reativos,

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Editorial nossas relações estão ficando desgastadas e estamos mais intolerantes do que nunca. Nosso cérebro não é capaz de lidar com tamanho estresse. Somos apenas seres humanos, não super-heróis. Mas como atravessar esse momento com mais equilíbrio emocional? Até retomarmos a vida, um pouco mais parecida do que tínhamos antes da pandemia, devemos respirar fundo, cuidar da nossa alimentação, evitando alimentos e bebidas que aumentam o cortisol – hormônio do estresse – no organismo. Praticar atividades físicas ao ar livre, tomar sol. Conversar regularmente com as pessoas que você ama. Não ver notícias constantemente, escolha apenas um momento do dia para se atualizar. Faça coisas que te dão prazer, para liberar endorfina, dopamina e serotonina – hormônios do bem-estar. O equilíbrio emocional é essencial para atravessarmos esse problema com o mínimo de dor e obter clareza nos pensamentos.

Liberdade

A quarentena – solução encontrada para a pandemia – fez com que nossa liberdade de sair de casa ficasse restrita. Não podemos “passear” no clube, na praia e no parque. Não podemos jantar em nosso restaurante favorito. Não podemos ir ao shopping, não podemos nos encontrar com amigos numa festa de aniversário. Não podemos viajar nas férias. Aliás, muitos foram obrigados a sair de férias e passar por toda ela dentro de casa. Muitas pessoas foram impedidas de retornarem ao seu país de destino. Nossa liberdade de ir e vir foi abalada e o sentimento de impotência nos deixou ainda mais ansiosos e estressados.

Trabalho

E como se não bastasse ter nossa liberdade restringida, muitas pessoas foram impedidas de trabalhar. Apesar dos governos tentarem bancar financeiramente o trabalhador que foi impedido de exercer seu trabalho, ele se esqueceu de uma classe muito importante, o empresário. Ao obrigar as empresas – de todos os tamanhos – a suspenderem suas atividades, o empresário deixou de receber o seu pró-labore, o seu sustento. Você, leitor da Empreende, sabe que uma empresa é capaz de gerar receita para sustentar seus funcionários, fornecedores e sócios. Mas se ela está fechada, não há faturamento, logo não há receita para pagar todos aqueles que dependem dela. Milhões de pessoas são impactadas por essa medida a ponto de não terem recursos financeiros para fazerem as compras do mês no supermercado.

E o que podemos fazer?

Diante de tantos efeitos colaterais negativos, é evidente que nossos governantes não estão tomando decisões inteligentes para passarmos da melhor maneira por essa pandemia. Mas podemos aprender muito com essa expe-

riência inusitada e dessa maneira encontrar soluções que sejam inteligentes e suficientes para gerar o mínimo de impactos negativos para os próximos grandes desafios da humanidade. Além disso, devemos aprender a dominar nosso medo e a pensar racionalmente, temos que nos reinventar e descobrir como vamos trabalhar, nos relacionar e viver neste novo normal.

Novo Normal

Fato é que o novo Coronavírus não vai deixar de existir. Para se ter uma ideia, o H1N1, vírus da pandemia de 2009, existe até hoje e, mesmo com uma vacina, mata mais de mil pessoas todos os anos no Brasil. Portanto, teremos que nos adaptar a essa nova realidade para conviver de maneira satisfatória com o Coronavirus. Pensando nisso, a Empreende, preparou esta edição especial para que você, empreendedor, possa compreender os impactos da COVID-19 nos principais setores da economia e ao mesmo tempo saber o que os grandes especialistas pensam sobre esse novo normal. Dessa maneira você poderá refletir sobre essa nova realidade e agir inteligentemente em sua carreira ou empresa afim de superar, com o mínimo de dor, esse momento sem precedentes.

Digitalização dos Negócios

Para os negócios fechados, que sumiram do dia para a noite, o custo de oportunidade deixou de existir. É muito importante olhar além do horizonte, ou seja, além da sua capacidade de ver o momento imediato, pois é preciso se questionar para entender o que virá depois. Mesmo com tantas incertezas, podemos dizer que temos uma certeza, depois da pandemia, o que conhecemos será diferente do que era, portanto não precisamos proteger nossos negócios do jeito que eles são, mas sim pensar em como eles deverão ser no pós-Coronavirus. Diante desse cenário, a digitalização tornou-se, para muitos negócios, a única maneira de manter-se ativo nessa fase. De repente, todos precisamos aprender sobre como trabalhar, fazer reuniões e vender, tudo de forma on-line. A barreira tecnológica foi quebrada, e com ela surgem novos comportamentos. Ainda não sabemos como será daqui para frente, mas podemos tentar novos modelos, pois se esperarmos que tudo volte ao normal, pode ser fatal para sua empresa. Nesta edição especial da Empreende, entrevistamos grandes nomes dos principais setores da economia, que compartilharam conosco o que estão fazendo em suas empresas para ajudar você, leitor, a encontrar um horizonte para seu negócio e, mais do que isso, para a vida nos pós-pandemia. A boa notícia é que podemos reescrever nossa história de um jeito melhor, colocando em prática tudo aquilo que um dia gostaríamos de fazer, mas não fazíamos porque estávamos confortáveis.

Boa leitura!

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Superando a Crise

Vamos superar esse momento, mas não voltaremos ao estado de antes

por Renata D’Elia

Três visionários dos negócios opinam sobre como sair dessa e dão dicas estratégicas para empresas

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esde que a pandemia do coronavírus chegou ao Brasil e colocou o país em uma quarentena, um estado de apreensão tomou conta de vários empresários e estratos da sociedade. Qual o potencial de letalidade do vírus? Por que devemos nos preocupar tanto com ele? Qual a diferença entre essa e outras pandemias que já vivemos e que não causaram tantos estragos, como a de H1N1, em 2009? Precisamos mesmo desse isolamento? Quando isso vai acabar? Quais os efeitos econômicos desse fechamento e quais os impactos para diferentes mercados e empresas? Será que nossos negócios vão sobreviver? Oscilando entre estados de negação e aceitação, confiança e desconfiança, além de diversos níveis de aderência operacional à quarentena, grandes empresários, pequenos e médios empreendedores e gestores organizacionais foram rapidamente tomados por sensações extremas nessas novas condições de pressão e temperatura. Houve pânico em certas plagas, mas também espaço para novas ideias e otimismo sobre o futuro em outras. A pandemia acelerou mudanças comportamentais, culturais e econômicas que demorariam anos para acontecer naturalmente. Isso assusta, mas também traz seus benefícios. Todos estamos em fase de adaptação. A implantação massiva do home office, antes tão desafiadora para muitas empresas, teve de ser concluída em poucos dias. A adoção de novos turnos de trabalho também. A transformação tecnológica e a automação de processos deixaram de ser coisas do futuro e vieram para ficar no presente. Em paralelo a tudo isso, a sociedade é forçada a rever suas prioridades, mudar drasticamente seus hábitos de consumo e realocar seus recursos financeiros em resposta aos riscos e oportunidades do momento. Mais do que apenas improvisar e acompanhar essas mudan-

ças reativamente, as empresas estão sendo chamadas a inovar, se antecipar e se preparar agora para o futuro pós-pandêmico. Os propósitos e valores das organizações também estão sendo testados. O distanciamento social obrigatório tende a demorar um bom tempo. Cientistas da Universidade de Harvard apontam períodos de abertura e confinamento alternados até 2022, a depender de fatores que ainda precisam ser comprovados, como a imunização natural das pessoas já contaminadas pelo vírus, a aprovação de uma vacina para uso em larga escala e mesmo as provas da eficácia de determinados tratamentos para a Covid-19. Mesmo que algumas organizações estejam focadas na urgência de sobreviver a curto prazo e que a maioria delas esteja renegociando para lidar com a retração econômica, é preciso ter em mente que nada será como antes depois que o terremoto passar. As coisas podem melhorar, e muito, mas até lá, estaremos em constante e intenso aprendizado. A falta de previsibilidade é universal. Manter a racionalidade na gestão e uma postura flexível ao mesmo tempo é apenas um dos desafios do momento. Convidamos três feras da gestão e das finanças empresariais para comentar o cenário atual, as perspectivas para o futuro pós-pandêmico e trazer seus insights, dicas e estratégias para repensar os negócios. Fizemos a eles as mesmas perguntas: sobre como superar a crise do momento e seguir em frente, como arcar com a responsabilidade social sobre empregos, geração de renda e seus impactos econômicos em cadeia e de que modo o comportamento empresarial de agora vai afetar o nosso futuro. Confira o que Gustavo Cerbasi, Maurício Benvenutti e Cris Arcangeli têm a dizer.

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Superando a Crise

Compartilhamento, União e Pensamento Coletivo Gustavo Cerbasi: Especialista em Inteligência Financeira. @gustavocerbasi

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o 4momento, há dois tipos de orientações a considerar. Primeiro, do ponto de vista estratégico, é o momento de rever todos os processos, entender as necessidades e limitações do consumidor e adaptar os processos e a comunicação do negócio a essa nova realidade. As pessoas estão se adaptando a uma urgência que envolve restrições no convívio social, home office e uma brusca redução na renda média que exigem uma intensificação das relações on-line e otimização dos gastos que, por sua vez, resultarão na percepção de que existem formas mais eficientes de consumir e de viver. Após os efeitos mais drásticos da pandemia, certamente uma parte significativa da economia adotará esses novos hábitos de forma definitiva. Os negócios devem, portanto, entender que vendas on-line, delivery, drive-thru e atendimentos à distância são adaptações à realidade que vieram para ficar. Os ajustes devem ser feitos pensando no longo prazo e não apenas em uma situação provisória. O segundo conjunto de orientações se baseia em ajustes na estratégia financeira dos negócios. Empresas mais impactadas pela queda no faturamento devem cortar radicalmente os custos, baixar o ponto de equilíbrio (arrendar ou desfazer-se de ativos), negociar com credores, aproximar-se dos clientes para antecipar vendas futuras e aproveitar as linhas de crédito de incentivo. Enxugar para sobreviver. Uma das medidas mais importantes é limitar sua operação às linhas de produtos e serviços mais rentáveis ou com maior margem de contribuição, eliminando temporariamente as linhas de menor margem. Foco na rentabilização e não no giro de estoques. Já as empresas impactadas favoravelmente pela crise (negócios on-line e especializados em delivery, por exemplo) devem estudar o mercado e aproveitar o bom momento de caixa para firmar parcerias com outros negócios fragilizados e ampliar o alcance de suas atividades. Eu dividiria as empresas em três grupos: 1) Empresas que não tinham reservas financeiras significativas e que tiveram seu faturamento severamente reduzido. 2) Empresas que tiveram redução no faturamento, mas que contavam com bom capital de giro ou que conseguem se desfazer rapidamente de estoques e de ativos subutilizados.

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3) Empresas que se beneficiam das mudanças de comportamento no consumo. As empresas do grupo 1 e 2 devem, na medida do possível, refazer suas estratégias com criatividade, disponibilizar sua mão de obra para iniciativas emergenciais, adaptar seu trabalho e seu preço para medidas de proteção mais rigorosas (caso de quem presta serviços essenciais) e firmar parcerias com outros negócios também fragilizados, para que cada parceiro ofereça aos clientes somente os produtos ou serviços em que cada um é especialista (e ganha mais). Com essas iniciativas, consegue-se equilibrar a responsabilidade social com a sobrevivência do negócio. As iniciativas de bancos e governos no sentido de financiar o capital de giro são fundamentais para que as empresas consigam evitar demissões. Empresários devem se unir, nesse momento, para disseminar essas soluções e os canais de acesso, com o objetivo de manter a teia empreendedora de sua região saudável. Certamente haverá situações em que o esforço para manter os empregos pode levar o negócio à ruína. Nesses casos, as demissões são necessárias – cortar na carne para sobreviver. Mas, é importante que esse movimento de união entre empresários e empreendedores provoque também uma rápida recolocação dessa mão de obra disponibilizada, já que há aumento da necessidade de profissionais nos negócios que se enquadram na situação 3. Por fim, a coordenação é essencial. Negócios menos afetados no curto prazo sentirão o impacto da recessão em um segundo momento se houver uma queda forte no emprego, na renda e no consumo. Esse efeito cascata é pior e mais duradouro do que a interrupção de negócios causada pelo isolamento social. Empreendedores que mais perderam tendem a estar mais ansiosos e pouco atentos a oportunidades, e por isso cabe principalmente aos menos afetados provocar essa coordenação e união, sugerindo caminhos e alardeando as necessidades que surgem nesse processo de transformação da maneira de consumir. Se eu tivesse que sugerir uma única medida a todos que vivem dos negócios, seria: Compartilhe energicamente suas ideias, suas necessidades e suas soluções. O caminho para superar mais rapidamente essa crise é através da união e do pensamento coletivo.


“Compartilhe energicamente suas ideias, suas necessidades e suas soluções. O caminho para superar mais rapidamente essa crise é através da união e do pensamento coletivo.”

foto: Divulgação

Gustavo Cerbasi

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Superando a Crise

Valorização dos Negócios Locais, Cooperação e Retomada Gradativa Cris Arcangeli: Empreendedora Serial e Investidora. @crisarcangeli

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momento pede calma e planejamento para chegarmos a uma retomada gradativa. Só assim conseguiremos superar esses desafios. Por isso propus, no meu Instagram, o movimento #juntosnaretomada. Creio que assim possamos nos ajudar e ajustar para seguir em frente. Vamos precisar nos cuidar física e mentalmente, tomando cuidado com a ansiedade e com a pressa para que as coisas voltem ao normal. É importante que todos nós, como cidadãos, valorizemos mais as pequenas empresas, compremos mais do comércio do nosso bairro, que precisa disso para retomar seus negócios e seu faturamento. Juntas, essas empresas sustentam mais de 10 milhões de famílias brasileiras. Precisamos pensar na economia de forma sustentável, com mais colaboração. É o momento de protegermos uns aos outros e valorizarmos as empresas nacionais, que mantêm os lucros no Brasil. O primeiro passo para essa retomada gradativa é analisar o fluxo de caixa da empresa, checar o balanço do estoque, reveja seu marketing, além de rever a demanda e a precificação dos produtos e serviços. O preço certo faz toda a diferença. O segundo passo é analisar o cenário. Bons observadores costumam ser os maiores inovadores. O que mudou? O que apareceu de oportunidade? O que você pode fazer diferente? Quais as novas necessidades e as que deixaram de existir? Quais as novas dores dos clientes? Onde está esse cliente? O que a concorrência está fazendo? Quais os pontos fortes e fracos do negócio? Os processos atuais atendem à nova realidade ou precisam mudar? Flexibilidade e adaptação são palavras de ordem! É

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inteligente quem se adapta! Empresas inovadoras conseguem mais margem e fidelidade de recompra. Muitas mudanças vieram para ficar. E como eu sempre digo, se o seu negócio não passa pelo celular, ele vai deixar de existir. Planejar é mapear, entender, conhecer o mercado e os clientes para poder se adiantar. É importante desenhar todos os cenários, possibilidades e oportunidades, preparando-se para absolutamente tudo. Antecipar as oportunidades geralmente traz dinheiro e faz parte do caminho para sair de qualquer crise. Por fim, o terceiro ponto é remover as barreiras impostas pelas nossas mentes! Precisamos destravar nossos medos! Não é hora de desculpas, as ações precisam ser rápidas. Desequilibrar e voltar alguns passos para trás acontece, mas precisamos usar isso como mola propulsora, como treino para fazer melhor na próxima vez! Habilidades comportamentais como foco, força, resiliência, determinação e clareza sobre os objetivos são extremamente importantes. Como estão as vendas? Sua empresa já tem uma persona definida? Trabalha com funil de vendas? Analisa corretamente o seu tráfego? É mandatório usar o que está ao seu alcance para alavancar as vendas e sair da crise. Por fim, é importante ressaltar que demitir, só em último caso. Muitas empresas que demitiram ou fecharam no primeiro mês da crise já tinham doenças prévias. Empreendedores devem ser responsáveis e comprometidos com o país, pois romper a cadeia produtiva acarreta em perdas para todos e dificulta a retomada da economia.


foto: Divulgação

“Precisamos destravar nossos medos! Não é hora de desculpas, as ações precisam ser rápidas. Desequilibrar e voltar alguns passos para trás acontece, mas precisamos usar isso como mola propulsora, como treino para fazer melhor na próxima vez!” Cris Arcangeli

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Superando a Crise

Corte de Gastos Desnecessários, Valorização do time Maurício Benvenutti: Sócio da StartSe, ex-sócio da XP Investimentos. @mauriciobenvenutti

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ara comentar como as empresas podem contornar essa situação e superar a crise, prefiro dar como exemplo as nossas ações na StartSe, que é uma empresa de educação. Essas ações seguem a mesma linha do que fizemos durante a crise de 2008, quando eu era sócio da XP Investimentos. Em primeiro lugar, fomos extremamente prudentes com os custos. É preciso se tornar um maníaco, uma maníaca por custos. Não podemos criar romances com nossos mimos! Precisamos ser frios para cortar gastos supérfluos. Quando vai à Lua, um astronauta não leva objetos que provavelmente não vai usar, apenas os itens imprescindíveis para a sobrevivência. Esse é o nosso raciocínio. No último mês, nós entregamos a sede da empresa e abrimos mão do espaço físico, pois não precisamos dele para trabalhar. Estamos todos atuando remotamente. Por mais que ainda existam as memórias de coisas positivas que construímos naquela sede, precisamos nos desapegar. O corte de itens aparentemente insignificantes e pequenos luxos, como cápsulas de café e coisas do tipo, pode representar alguns meses de sobrevivência para uma pequena empresa. A segunda questão é o custo de oportunidade. Se eu atuo bem no que faço, ofereço um bom valor agregado e tenho sucesso com os meus clientes, as mudanças de rota representam um risco em situações normais de pressão e temperatura. No entanto, em momentos de crise, para a grande massa de empresas, o custo de oportunidade é zerado e as operações atuais deixam de gerar receitas. Nesse contexto, se você tem uma loja em um shopping center e que está totalmente parada nesse período, não tem mais porque não tentar outras frentes! A pior coisa, nesse cenário, é não fazer nada! É melhor tomar uma decisão errada do que não tomar decisão alguma. A mentalidade do empreendedor deve ser de expansão, não de contração. É hora de abrir novos canais, construir uma nova relação com o consumidor, propor serviços diferentes, caminhos diferentes. A receita da StartSe caiu drasticamente no início da crise, mas começamos a testar novas possibilidades imediatamente e em três semanas a empresa voltou a ser positiva. Não foram as primeiras ideias que vingaram, mas aquelas oriundas das primeiras. Por isso é importante tentar, mesmo errando no começo. Afinal, mais vale se preocupar com o que está por vir do que tentar proteger o que você tem. Na maioria das vezes, o que você oferece hoje está sendo pouco ou nada demandado. Consultórios médicos, academias, empresas de eventos presenciais, cinemas, escolas de educação presencial, todos estão passando por isso. Ao invés de erguer um muro para

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proteger um business que perdeu a relevância, é melhor derrubar os muros e se adaptar, se abrir ao futuro. Seja pelo cinema em streaming, por vídeo-aulas, treinos à distância, entretenimento on-line, entre outras questões. Por fim, minha última dica é: follow the money, siga o dinheiro. Se as pessoas estão gastando menos e realocando suas compras, é preciso entender esse trajeto e o destino final. Ao rastrear isso, o empreendedor pode pensar em soluções plausíveis e propostas de valor de acordo com as necessidades do consumidor. Momentos de crise são excelentes oportunidades para se aproximar da sua equipe, especialmente de quem está no front. Essas pessoas vão trazer os melhores insights e oferecer os melhores aprendizados sobre aquilo que o seu cliente quer. É preciso ouvir e compreender essa mensagem, empoderando o seu time. Sua organização vai sempre depender das pessoas. Costumo usar o acrônimo HOPE (esperança em inglês) para explicar essa necessidade. H de humildade para reconhecer os próprios erros e corrigi-los, mudando os cursos da empresa se necessário. O de otimismo, para que a gente não seja um corredor de más notícias e para compartilhar ideias e entender as crises como oportunidades. A crise de 2008 fez surgir a economia compartilhada e propiciou posteriormente o boom de empresas disruptivas como a Uber. O P significa protagonismo e fala justamente de empoderar a sua equipe e criar protagonistas. As pessoas precisam tomar decisões por conta própria, não há tempo para tantas barreiras, nem para lideranças controladoras, que engessam as ações do time. O E de execução significa botar a mão na massa e executar! O excesso de planejamento sem prática pode prejudicar o seu negócio! É melhor planejar na prática do que demorar demais para agir. Enquanto sociedade, precisamos que cada um faça a sua parte para superar essa crise. Temos problemas econômicos, sociais e de saúde pública para lidar. Todos os efeitos negativos e de instabilidade que a pandemia trará por um certo período precisam ser enfrentados coletivamente. Olhando para as crises do passado, conseguimos notar que os profissionais e empresas que se reinventarem agora sairão muito mais resilientes no futuro pós-pandêmico. Esse aprendizado todo nos blindará para desafios futuros, independentemente do que sejam. O mundo pós-pandemia trará novas oportunidades e poderá ter uma sociedade muito melhor. Precisamos tomar as nossas decisões de hoje visando esse mundo melhor lá na frente e sempre olhando para o coletivo.


foto: Divulgação

“O mundo pós-pandemia trará novas oportunidades e poderá ter uma sociedade muito melhor. Precisamos tomar as nossas decisões de hoje visando esse mundo melhor lá na frente e sempre olhando para o coletivo.”

Maurício Benvenutti

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Agro, Energia e Petróleo

Energia, petróleo, etanol, soja e café. E agora? por Delcy Mac Cruz

Apesar das incertezas, especialistas em agronegócio, energia e óleo avaliam o cenário atual e arriscam palpites para o pós-pandemia

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ntes e depois da COVID‑19. Como será a volta do consumo, do uso de veículos e do emprego com a retomada do dia a dia? Não há bola de cristal que explique, mas é certo que no caso do Brasil a pandemia do novo coronavírus altera tudo entre antes de março de 2020 e depois dele. Café, soja, suco de laranja, etanol de cana-de-açúcar e de milho e proteína protéica. Esses são representantes do que sai da terra e se torna em produtos, na cadeia chamada de agronegócio. Em 2019, essa cadeia representou 21,9% do PIB, que soma tudo de valor produzido pelo Brasil, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Em síntese, significa que a cada R$ 10 gerados por produtos feitos no país, R$ 2,2 saíram do agro. Para avaliar as tendências do agronegócio na pós-COVID, a Revista Empreende entrevistou Francisco Matturro, vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). Todos os fundamentos do agronegócio brasileiro são positivos neste 2020 afetado pela pandemia de COVID‑19 é o que afirmou Matturro, durante a entrevista. Ele ainda destacou por que o novo coronavírus não deverá frear o ritmo positivo do agro brasileiro em 2020. Matturro também é diretor da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). E preside a Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação, a Agrishow, realizada anualmente em Ribeirão Preto (SP) entre o fim de abril e começo de maio. Nesse ano, por conta da pandemia, o evento teve a data suspensa. Mas ainda poderá ser realizado no segundo semestre, segundo o executivo conta nesta entrevista.

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Agro, Energia e Petróleo Empreende: O Brasil segue grande produtor de grãos neste ano na qual a COVID‑19 afeta o mundo? Francisco Matturro – Finalizamos em abril a colheita da maior safra de grãos da história do Brasil. São 252 milhões de toneladas. O Brasil é uma fábrica de alimentos. Levando-se em conta que um ser humano consome em média 200 quilos anuais de grãos e carnes, entre outros, o país produz quatro vezes todo o alimento que o brasileiro precisa. Em aves e pecuárias suína e bovina o Brasil também é um grande produtor mundial. Assim como é em sucos de modo geral. Em café já somos os maiores do mundo. Empreende: Como estão as vendas de grãos e produtos da cadeia do agronegócio? Francisco Matturro – Os produtos do agro estão no mercado internacional. A pandemia de COVID‑19 ajudou produtos como o suco de laranja, cujas exportações cresceram 25% nos últimos meses. Isso decorre do fato de que os consumidores que podem pagar compram mais suco para reforçar a vitamina C. Empreende: Em sua avaliação, a situação do agronegócio é positiva? Francisco Matturro – Todos os fundamentos do agro são positivos. Novamente o agro deverá fracionar a economia do Brasil [ou seja, terá peso representativo no PIB brasileiro]. E isso não apenas na produção de grãos e de fibras, mas na agroindústria, que inclui produtos decorrentes da transformação, como óleo, leite, iogurte e queijos). O Brasil tem pelo menos duas safras de grãos por ano. Sendo assim, a cada 120 dias há giro na economia. Por exemplo: o produtor de soja faz a colheita em 120 dias. E se a variedade do grão é super-precoce, pode colher em 100 dias. O agro tem payback (retorno) mais rápido. Empreende: A pandemia de COVID‑19 não afetou o agro? Francisco Matturro – Não. O mundo continua demandando muitos alimentos como soja. Essa demanda prossegue, mesmo de forma mais equilibrada. A demanda é gigantesca no caso da agroindústria, que integra bases da alimentação de proteínas como carnes, como farelos de soja e de milho e rações. A pandemia não muda isso. Ela aumenta a demanda. O agro entrou na lista de serviços essenciais, quando da decretação da pandemia pelo governo. Isso garantiu o abastecimento das gôndolas dos supermercados. O agro não parou e prepara-se para a chamada safra de inverno, a segunda do ano. Empreende: Os países asiáticos, caso da China, não podem produzir internamente para suprir suas demandas? Francisco Matturro – A China não tem mais para onde crescer. Onde possui áreas não disponibiliza de chuvas, quando a média necessária para a agricultura é de 600 milímetros por ano. Enquanto isso, a população cresce,

avançando a urbanização. O Brasil, como se diz, é abençoado por Deus e estamos no cinturão tropical do globo. Mesmo o inverno não é rigoroso, em termos de temperatura, nas principais regiões produtoras. Por isso consegue produzir grãos durante todo o ano. Empreende: Em sua opinião, como o agronegócio seguirá pós-COVID‑19? Francisco Matturro – O agro avançará no que chamo de terceira grande revolução. A primeira dessas revoluções foi a produção inicial de grãos pelos imigrantes, a maioria europeia. Eles chegaram com hábitos de países de clima temperado em estados como o Rio Grande do Sul, que tem clima temperado, mas no inverno é tão quanto, por exemplo, Ribeirão Preto. Para adequar isso veio a segunda revolução. Foi o plantio direto, que é a plantação de grãos sobre palha. Não é experimento, mas fruto de resultado científico. Esse plantio permitiu conquistar os solos então pobres do cerrado brasileiro. Nesse sistema, o solo é protegido, fica resfriado, enquanto a semente é germinada. Como resultado, os estados do Centro-Oeste hoje produzem grãos o ano inteiro. E tem a terceira revolução do campo. Ela oferece a integração de lavoura, pecuária e floresta, na sigla ILPF. Essa revolução é formada pela cultura agrícola e pelo plantio de forrageiras, que servirão de alimento para o gado, que fica no próprio local. Tem ainda eucaliptos ou outras madeiras plantadas na mesma área. O gado precisa de sombra enquanto rasteja, mas a lavoura precisa de sol. Sendo assim, o plantio de eucalipto precisa ser feito nos sentidos leste e oeste. De todo modo, o eucalipto é uma poupança para o produtor rural. A cada sete anos, que é o tempo de maturação, ele arranca e vende como matéria-prima para secagem de cereais, como postes ou para a indústria moveleira. Esse modelo do agro deu tão certo que já está em 15 milhões de hectares agrícolas do Brasil. Não é pouco. Representa 22% dos 69 milhões de hectares do país utilizados por lavouras. E deverá avançar mais pós COVID‑19. Empreende: A Agrishow, prevista para ser realizada entre o fim de abril e começo de maio, foi adiada pela pandemia. A feira terá nova data? Francisco Matturro – Em princípio, a ideia é a de realizar a Agrishow ainda no mês de agosto. Mas irá depender das flexibilizações que o governo estadual promoverá ao longo do tempo. Pode ser que aglomerações como as da feira sejam vetadas. A Agrishow é feira a céu aberto. Não pode ser realizada muito depois de agosto porque entra o período de chuvas. Empreende: Há outros desafios para a realização da feira? Francisco Matturro – Teremos de mobilizar 800 expositores novamente e isso exige operação gigantesca. Será preciso, também, checar os orçamentos dessas empresas, se estarão disponibilizados pós COVID‑19. Há, ainda, as restrições internacionais de voos, e mesmo as nacionais.

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E como fica a eletricidade durante a pandemia? Em média conservadora, o consumo de eletricidade caiu 10% em abril, por conta da desativação temporária da indústria e do comércio.

foto: Freepik

Agro, Energia e Petróleo

A energia integra um complexo universo com geradores, distribuidores e comercializadores entrelaçados pelos consumidores. A tarefa é árdua, mas a economista Gláucia Fernandes, pesquisadora da FGV Energia, traduz o nó e apresenta suas projeções.

“Os consumidores devem arcar com maior parte dos custos da crise”

Gláucia Fernandes

Empreende: Como deverá ser a retomada do setor de energia (geração, distribuição e comercialização) na pós-COVID‑19? Gláucia Fernandes – O confinamento devido ao COVID‑19 levou à redução da demanda de energia elétrica, ocasionando uma queda em torno de 15% do montante total consumido. O comércio e a indústria foram os setores mais impactados e sofrerão as consequências futuras da quarentena. Porém, como o setor elétrico é demandado de acordo com a atividade econômica, a retomada da economia implicará num aumento da demanda por energia. De forma geral, a princípio os contratos de longo prazo não tendem a ser afetados. Também, vamos ter um PLD (Preço de Liquidação das Diferenças) mais baixo, devido à redução da demanda por energia e condições climáticas favoráveis. Além disso, como alguns dos canteiros de obras que atualmente estão com restrição de circulação voltarão à “normalidade”, então deve haver o retorno das atividades de obras. Por outro lado, como houve atraso desses projetos, vamos ter um atraso na entrada em operação de uma série de empreendimentos de geração, que poderão acabar coincidindo com a retomada da curva de carga.

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Empreende: Em sua opinião, como se dará o reequilíbrio econômico-financeiro? Gláucia Fernandes – O efeito combinado da retomada, ainda que lenta, do consumo de energia, os reposicionamentos tarifários aderentes à evolução dos custos com compra de energia e a utilização do mecanismo de bandeiras tarifárias poderão aumentar as receitas e reduzir os custos financeiros das distribuidoras, implicando em um reequilíbrio econômico-financeiro. Quanto ao segmento de distribuição, este é o que mais foi impactado pela crise da pandemia de COVID‑19, pelo fato de estar sobrecontratado e ainda com falta de liquidez em caixa. Contudo, esse setor é rentável e dispõe de oportunidades de retorno no futuro. Com relação ao mercado livre, alguns contratos precisarão ser rediscutidos. Os contratos no mercado livre envolvem as condições de take or pay, ou seja, o consumidor fica encarregado de pagar pela energia contratada. Será preciso haver uma renegociação desses contratos com as comercializadoras em caso de extensão da quarentena. Neste caso, algumas comercializadoras abrem balcões de negociação em que recebem a energia de volta em percentuais maiores que a flexibilização e tentam distribuir esse


Agro, Energia e Petróleo volume não consumido pelas flexibilizações de outros meses, podendo incluir também renegociação de valores de energia e prazos de contrato. Caso não se tenha uma conversa adequada na renegociação dos contratos, uma outra possibilidade é a judicialização. Empreende: O prejuízo da cadeia energética será compensado pelas iniciativas tomadas pelo governo? Gláucia Fernandes – Existe um descasamento no fluxo de caixa das distribuidoras. De um lado, o governo não autorizou o corte da energia dos consumidores de baixa renda que deixarem de pagar. Por outro, a energia gerada e distribuída precisa ser paga. O governo já deu um socorro na MP 950, que trata de empréstimos para as distribuidoras de energia e subsídio para os consumidores de baixa renda por três meses. Parte desse prejuízo, será absorvido pelas distribuidoras. Mas a outra parte vai ser rateada entre toda a cadeia (consumidores do mercado cativo e do mercado livre através do aumento da cota da CDE – Conta de Desenvolvimento Energético). Os consumidores devem arcar com maior parte dos custos da crise. Empreende: Como se dará isso? Gláucia Fernandes – O impacto na tarifa vai depender de vários fatores, mas números iniciais, calculados pela associação dos grandes consumidores de energia (Abrace), apontavam uma alta de 20% nas contas de luz, a ser diluída ao longo de alguns anos. O movimento do governo para socorrer as distribuidoras é apenas o início das ações necessárias. Ainda é preciso que sejam tomadas outras medidas para as questões econômicas das empresas no que diz respeito a ativos que deixam de ser utilizados por conta da demanda e impactos com as perdas não técnicas. Empreende: Especialistas dizem que na pós‑COVID‑19 muito será mudado na economia, do consumo – que não terá mesmo ritmo – a readequações (avanço da tecnologia, desemprego, efetivação de home offices e de aulas on-line) que irão interferir também no mercado de energia. Como a sra. avalia isso? Gláucia Fernandes – O setor energia vai retornar aos mesmos patamares de antes, uma vez que está associado à saúde financeira e econômica de um país. A queda do consumo de energia não é uma tendência, estamos passando por um período circunstancial de redução do consumo de energia. Assim, quando a economia voltar a crescer, a curva de crescimento de carga voltará a se normalizar. Por outro lado, o distanciamento social das pessoas pode trazer a mudança de alguns paradigmas, principalmente pelas mudanças do tecido social e pela ampliação dos trabalhos de home office. A ampliação do trabalho

remoto pode aumentar o consumo doméstico e, por consequência, também beneficiar a elevação da geração de energia solar. Podemos ter um aumento da geração distribuída justamente por conta da pandemia. Empreende: Fontes geradoras, como eólicas e fotovoltaicas, que cresceram muito nos últimos anos no Brasil, em detrimento de outras, como a da biomassa, deverão voltar a ganhar atratividade de investimentos? Qual sua avaliação? Gláucia Fernandes – Avançar com uma transformação baseada em energia renovável é uma oportunidade para cumprir as metas climáticas internacionais, ao mesmo tempo em que promove crescimento econômico. Até o momento [final de abril], não houve impacto significativo nos parques em construção nem na cadeia de suprimentos eólicos e solares, com exceção de atrasos nas obras. Além disso, houve a proposta emergencial do BNDES, que permite às empresas negociarem diretamente com o banco a suspensão temporária por prazo de até seis meses de amortizações de empréstimos contratados junto ao banco, o que ajuda a manter a boa percepção sobre o futuro da expansão das fontes alternativas no país. A manutenção dos investimentos é uma boa alternativa para o setor elétrico estar preparado para a retomada do consumo de energia, após os impactos do COVID‑19. Numa fase pós-pandemia, podemos ter um cenário mais favorável para a geração distribuída, na medida em que esse isolamento possa indicar que se trata de uma boa opção para geração de energia pela descentralização de pessoas e inclusive da própria geração de energia em zonas rurais. A energia solar é uma tendência atual por conseguir gerar energia de forma mais econômica, além de outras vantagens, como vantagens locacionais e de escalabilidade dos empreendimentos. Isso traz autossuficiência na geração, segurança no suprimento, e pode inclusive trazer uma economia de energia. Empreende: De que maneira o setor energético poderá se reequilibrar? Gláucia Fernandes – É momento de se pensar no day after, em como acelerar a economia e o setor elétrico após o fim da pandemia. É momento de se ter um plano estratégico e consistente. Precisamos criar mecanismos conjuntos, envolvendo todos os elos da cadeia (distribuidoras, geradoras, transmissoras, comercializadoras e operadoras de geração solar distribuída, Aneel, MME e outros órgãos do governo), para que possam ajudar o setor produtivo a se reequilibrar. Neste momento é importante manter a disciplina de capital, fazer o acompanhamento da evolução da crise, e dar ainda mais suporte aos clientes, como reforço aos atendimentos nos canais digitais. Também, é importante dar apoio à cadeia de fornecedores, principalmente de pequeno porte.

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Agro, Energia e Petróleo

Óleo e Etanol

O mercado mundial de petróleo entrou em colapso por conta de dois fatores: o avanço da pandemia de COVID‑19, a partir de março, e a ruptura entre a Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) e a Rússia. Inicialmente, no início de março, a Arábia Saudita, via Opep, articulava uma redução da produção para manter os preços da commodity mais altos. Não deu certo. Os russos não concordaram, alegando que um corte deles beneficiaria outros produtores mundo afora – especialmente os norte-americanos. Os sauditas, que sozinhos representam 10% de todo petróleo produzido no mundo, decidiram, em movimento inesperado, em retaliação, ampliar a produção, inundando o mercado com óleo barato. Diante isso, a oferta explodiu enquanto a demanda global

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pelo óleo e derivados descia ladeira abaixo. Os preços do petróleo derreteram. Essa é a primeira parte da crise. A segunda, tem a ver com a pandemia. Em abril, a comercialização de gasolina e de óleo diesel no Brasil teve forte retração nos postos brasileiros, em percentuais entre 20% e 30% menores que em períodos normais. Assim, o estrago mundial da produção foi sentenciado e a pergunta que não se cala é: quando deverá voltar à normalidade no curto prazo na pós-COVID‑19? Para responder a essa e a outras perguntas, a Revista Empreende entrevistou Marcelo Gauto, especialista em petróleo, gás e energia. Ele avalia o também muito afetado mercado de etanol. E opina sobre como ficarão os veículos elétricos, que começavam a ganhar espaço no Brasil. Autor de livros técnicos sobre o setor de petróleo e gás, Gauto faz questão de destacar: Fazer previsões é exercer “a arte da adivinhação.”

Imagem: Kristina Kasputienė por Pixabay.com

O Brasil está no auge da produção de óleo e de gás natural nas bacias da camada présal. E as players em produção mundial se voltavam para entrar em leilões de exploração em bacias a serem leiloadas pelo Governo. Isso ficou para depois.


Agro, Energia e Petrรณleo

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Agro, Energia e Petróleo Empreende: Como deve ficar o mercado mundial de petróleo? Marcelo Gauto – A pandemia de COVID‑19 é quem irá ditar o ritmo da recuperação. Há, também, a questão geopolítica entre Arábia Saudita e Rússia, com certas incertezas a respeito dos interesses de cada agente na reorganização dos mercados. Isso tudo gera muita volatilidade. Empreende: A readequação terá conduções distintas nos países? Marcelo Gauto – Sim, a demanda por petróleo e derivados terá de ser ajustada à realidade de mercado de cada país, não há uma receita pronta universal, cada um deles adotará medidas específicas e pertinentes à sua realidade. Não há vacina para o novo coronavírus e não se sabe o tempo que será preciso esperar por ela. Empreende: Significa que a oferta de petróleo seguirá em alta? Marcelo Gauto – Sim, haverá sobreoferta de capacidade de produção de petróleo e derivados por algum tempo, já que o consumo estará menor. A tendência é de que os preços do óleo e dos combustíveis sigam abaixo dos valores da pré-crise. A retração no consumo de petróleo irá se refletir lá na ponta, na bomba dos postos. Sairemos mais pobres desse afundamento econômico mundial [pela COVID‑19] e isso vai se refletir num menor consumo de combustíveis no curto prazo. Empreende: Com isso tudo, como deve ficar a produção brasileira de petróleo? Marcelo Gauto – De modo geral, vai diminuir, pelo menos enquanto durar a pandemia. Os estoques mundiais estão cheios, a oferta abundante e os preços baixos. Diante dos preços atuais [de fim de abril], a viabilidade de produção precisa ser avaliada caso a caso. Na camada pré-sal, por exemplo, há poços nos quais o barril é produzido a um custo perto dos US$ 10, portanto, inviáveis economicamente. Mas existem outros que, por características técnicas, são mais caros, ou ainda, por serem mais antigos, têm custo de produção acima de US$ 30 por barril. Empreende: Entre outras decisões para conter a crise, a Petrobras decidiu cortar a produção. Qual o impacto disso? Marcelo Gauto – Parar a produção é uma decisão difícil, requer uma análise técnica detalhada sobre a economicidade de cada ativo em operação. O corte anunciado pela Petrobras, de aproximadamente 200 mil barris por dia, equivale a pouco menos de 10% de sua produção diária. São campos mais antigos, alguns dos quais já estavam, inclusive, em processo de desinvestimento.

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É preciso colocar na balança os custos fixos, de hibernação da unidade, o fluxo de caixa, os contratos com os compradores do óleo, entre outros fatores, até que se decida quais unidades irão parar. No atual cenário, qualquer ativo de produção que represente perda de receita será revisto. Empreende: O sr. também acompanha o mercado de etanol. Como avalia a retomada dele no pós-COVID‑19? Marcelo Gauto – Neste 2020 e em 2021 haverá queda na demanda por etanol, possivelmente. Podemos ter recuperação rápida, mas não tenho certeza, depende muito de como se comportará o preço do petróleo. Como a expectativa é de um valor mais baixo, o setor de etanol vai sofrer muito com a concorrência da gasolina mais barata. O consumo de etanol vinha em crescimento nos últimos cinco anos, mas deve perder força na atual conjuntura. Empreende: E o que deve acontecer com a indústria sucroenergética? Marcelo Gauto – Para 2020 a projeção era de maior produção de etanol pelas usinas no país. Mas isso acabou. O setor sucroalcooleiro estará em aflição nesse ano. Mesmo com vantagem tributária que o etanol tem ante a gasolina, com menor incidência de Pis, Cofins e ICMS, além de não ter a cobrança de CIDE, não será fácil manter a competitividade. Sem apoio do Governo Federal, o setor dificilmente se mantém como está hoje. A gasolina está barata e, nesse cenário, é difícil manter o etanol de pé. O governo federal avaliava [na última semana de abril] propostas do setor para aliviar a crise, como financiamento para estocagem de etanol, adiamento do PIS/Cofins e ampliar a CIDE sobre a gasolina. Está terrível porque as usinas têm que colher a cana-de-açúcar, moer e no máximo estocar etanol. Mas é preciso dinheiro para financiar essa estocagem. No segmento de petróleo, você pode parar os poços, plataformas, mas no de etanol não, se você não colher a safra ela se perde, não há como recuperá-la.

“O setor sucroalcooleiro estará em aflição nesse ano” Marcelo Gauto


Agro, Energia e Petróleo Empreende: Neste ano também entrou em vigor o programa RenovaBio, que valoriza o etanol e o biodiesel como redutor nas emissões de gases poluentes. Com ele, as distribuidoras de combustíveis terão de adquirir créditos de descarbonização no mercado, gerados pelos produtores, ao que venderam de gasolina e diesel. A situação afeta o RenovaBio? Marcelo Gauto – Fica difícil para o RenovaBio. As distribuidoras até pediram a suspensão [das metas delas de descarbonização]. O programa já vivia fase de muitas dúvidas. Os créditos vendidos serão tributados? Como? Quanto? Este assunto tramita ainda no Congresso. E não se sabe também nem qual será o valor desses créditos. Como a venda de combustíveis reduziu, o caixa das distribuidoras também teve queda. Na prática, você tem que comprar algo que não faz ideia de quanto custará em meio a um cenário de redução de receitas.

Empreende: E nesta conversa toda, como ficam os veículos elétricos? Marcelo Gauto – Eles integram um nicho de mercado. Quem os compra hoje não pensa em economizar no litro do combustível, mas sim em ter uma experiência com mobilidade a partir de uma fonte de energia mais limpa. Na próxima década, serão pouco significativos na nossa frota, do mercado brasileiro. Existem muitos entraves na adoção massiva dos elétricos, tem a questão da infraestrutura de recarga, que está incipiente, o preço elevado de aquisição do veículo, a durabilidade das baterias, entre outros. E há a tributação, que é fonte de arrecadação dos governos. Os elétricos têm isenções, enquanto a incidência de ICMS, por exemplo, é muito forte na gasolina e no etanol. Se houver muita venda de carro elétrico, cairá a arrecadação. E o Fisco, para ter a conta fechada no final do mês, irá tributar algo associado ao elétrico, tornando-o menos atrativo.

“Teremos períodos de muita volatilidade”

foto: Divulgação – Usina São Martinho - Pradópolis - SP

Marcelo Gauto

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Consumo, Têxtil, Imóveis e Veículos

Indústria de Bens de Consumo passa por Transformações por Angelo Davanço

Durante a pandemia, brasileiro troca produtos que leva à mesa, se preocupa mais com higiene e limpeza e valoriza a necessidade de morar bem

A

crise mundial provocada pela pandemia do novo coronavírus trouxe uma realidade comum para dentro da casa de cada pessoa: a necessidade de adaptação imediata a um novo modo de trabalho e de convivência social e a reflexão de como serão os hábitos daqui para frente, com forte impacto sobre toda a cadeia de produção e circulação de bens de consumo, como alimentos, itens de higiene e limpeza, vestuário, veículos e imóveis. Necessidade básica de toda a população, o setor alimentício recebe especial atenção em momentos de crise como o que estamos vivendo. Neste cenário, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) criou um comitê de crise em parceria com a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) e a Associação Paulista de Supermercados (APAS) para acompanhar diariamente a situação do abastecimento de alimentos em todo o território nacional. De acordo com a entidade, a logística de abastecimento seguia dentro da normalidade para o mês de abril, assim como os estoques, e não havia, até aquele momento, nenhum risco de falta de alimentos no país. Em seu monitoramento do mercado brasileiro, a Euromonitor International constatou que os alimentos embalados eram os mais beneficiados no curto prazo no início das medidas restritivas [em março], com os consumidores ficando em casa e substituindo as ocasiões de “comer fora” por comida caseira. Segundo levantamento da Kantar Brasil Insights, produtos como linguiças, embutidos e carne de frango, itens mais básicos, ganharam espaço em meio à crise. Este comportamento reflete fatores como o fim do processo de estocagem inicial de alimentos e a diminuição da renda das famílias, com a crise econômica ficando mais severa. “Sem dúvida, será um período de sacrifícios e adaptações, mas

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Consumo, Têxtil, Imóveis e Veículos não muito diferente de outras crises que nós, brasileiros, estamos acostumados”, avalia o consultor econômico e financeiro José Rita Moreira, sócio diretor do grupo BLB Brasil. Na área de higiene, limpeza e cuidados pessoais, logo nos primeiros sinais da COVID-19, o Brasil experimentou uma corrida por produtos como papel higiênico e álcool em gel, o que levou à alta de preços e ao fim dos estoques. Um dos símbolos da crise sanitária mundial, o álcool em gel apresentou um crescimento de 260% em volume de vendas em fevereiro de 2020 em relação ao mesmo período do ano anterior, chegando a aproximadamente 100 toneladas consumidas, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC). Este crescimento refletiu apenas parte da corrida pelo produto no mercado brasileiro, considerando 26 de fevereiro o dia em que o primeiro caso de coronavírus foi confirmado no Brasil.

A partir do anúncio das medidas de restrição em todo o país, o comportamento de consumo do brasileiro, que impacta toda a cadeia de produção e distribuição, pode ser dividido em três fases: 1. As duas primeiras semanas foram marcadas pelo momento em que se sentiu o impacto maior do fechamento do comércio, em que os consumidores priorizaram os itens de alimentação, medicação, higiene pessoal e limpeza em suas compras; 2. A partir da terceira semana, com as pessoas mais ambientadas com o distanciamento e o home office, começaram as buscas por artigos de saúde e bem-estar, como os itens para a prática esportiva em casa; 3. Depois dessas fases, o consumidor passa a se apropriar do comércio eletrônico, adquirindo confiança nas novas ferramentas e mudando os hábitos de compra. Fonte: Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX)

foto: Anna Shvets no Pexels

Para dar conta da demanda e normalizar a oferta, a ABIHPEC adotou iniciativas junto aos governos para a simplificação dos processos de produção. Antes da crise pandêmica, o Brasil era importador de carbômeros (espessantes utilizados para conferir textura de gel no produto) para a produção do álcool

As fases de consumo durante os primeiros meses do novo coronavírus no Brasil

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Consumo, Têxtil, Imóveis e Veículos em gel, o que também impactava no acesso da população ao produto. No entanto, segundo a entidade, toda a cadeia produtiva reagiu de forma rápida para o enfrentamento à crise sanitária, desenvolvendo espessantes alternativos. Com isso, o ingrediente passou a ter maior produção nacional e sua disponibilidade aumentou, favorecendo a regulação entre oferta e demanda. Com as pessoas ficando mais tempo em casa, a preocupação com os cuidados pessoais também sofreu impacto. Segundo balanço divulgado pela Unilever, umas das maiores empresas de produtos de higiene do mundo, as quarentenas em diversos países diminuíram em até 25% a procura por produtos como xampus, condicionadores, desodorantes, cremes hidratantes, lâminas e espumas de barbear. Por outro lado, com mais gente preparando suas próprias refeições e fazendo a faxina em casa, houve aumento na procura por produtos de limpeza em geral, com alta nas vendas de 10% para detergentes, desinfetantes, desengordurantes e alvejantes, segundo a Unilever.

Novos hábitos de consumo Medida pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a Intenção de Consumo das Famílias (IFC) caiu 2,5% entre março e abril. Com o recuo, o indicador foi para 95,6 pontos, em uma escala de zero a 200 pontos, o menor nível [naquele momento] desde novembro de 2019. De acordo com a pesquisa, todos os níveis de consumo apresentaram queda nos dois primeiros meses de coronavírus no país: nível de consumo atual (-2,4%); perspectiva de consumo (-5,5%) e momento para a compra de bens duráveis (-5,9%). Os dados levantados pela pesquisa refletem a situação comum em muitos lares brasileiros. “Como evitamos sair de casa durante a quarentena, diminuímos as idas ao supermercado, mas quando é preciso, compramos um volume maior, uma quantidade suficiente para um mês ou mais”, diz Andréia Moreno, jornalista de 45 anos, sobre a rotina de compras dela, do marido e do casal de filhos, de 11 e 6 anos. Mas, mesmo com um volume maior de produtos na hora de passar no caixa, a variedade diminuiu. “Neste momento, não compramos nada além do necessário em alimentos e produtos de higiene”, garante. Antes mesmo da crise sanitária e econômica, a moderação na hora de consumir já fazia parte da rotina da família do professor Vitor Gabriel Coelho Ribeiro, de 35 anos. Ele e a esposa Monica já tinham o hábito de abastecer a despensa somente conforme a necessidade, mas agora, a precaução se tornou ainda maior. “Diminuímos muito as saídas de casa e só compramos o que é realmente necessário. O único item que acrescentamos em nossa lista foi o álcool em gel, embora seja algo raro de se encontrar em qualquer mercado”, afirma Vitor, pai de uma menina de 1 ano e 10 meses.

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O que esperar do comportamento do consumidor? Independentemente do setor, denominadores comuns importantes devem impulsionar o comportamento do consumidor no Brasil nos próximos meses, de acordo com a Euromonitor International: • Gargalos nas cadeias de produção e distribuição: Forças de trabalho reduzidas podem criar ou piorar cenários préquarentena; • A concentração de vendas em alguns setores no primeiro e segundo trimestres de 2020 pode não ser mantida durante todo o ano: O nível de estoque de produtos é inédito para a indústria brasileira e os fabricantes não estavam preparados para gerenciar a produção inesperada; • Teste de resistência para o varejo: As estruturas omnichannel se tornaram mais importantes do que nunca e serão consistentemente testadas em um cenário em que lojas não essenciais devem passar por períodos fechados; • Reestruturação de ocasiões de consumo: Enquanto há novas ocasiões que impulsionam a demanda por produtos como streaming e videogame, outros, como restaurantes, hotéis e entretenimento, estão sendo prejudicados por oportunidades perdidas; • Coisas mais importantes primeiro: A priorização de itens essenciais pode compensar os sinais tímidos de recuperação que muitos setores tentavam realizar após a crise econômica de 2014-2018 - resultado de gastos governamentais insustentáveis, instabilidade política e falha do modelo econômico. Fonte: Euromonitor International

Para José Rita, o comportamento das famílias de Andréia e Vitor refletem o atual cenário de incertezas gerado pela pandemia. “O consumidor tem que se reinventar, preocupando-se em gastar somente o necessário, pois tem dúvidas sobre o processo de retomada, com respeito ao ambiente econômico e de empregos e quanto tempo levará para se estabilizar”, avalia o economista.


Consumo, Têxtil, Imóveis e Veículos

Setor têxtil aproveita momento para se reestruturar O setor de produção têxtil, de confecção e da indústria química, mercado que no Brasil possui mais de 25 mil empresas e emprega cerca de 1,5 milhão de pessoas, também está sentindo os efeitos da crise do novo coronavírus. Segundo pesquisa feita pelo Instituto Senai de Tecnologia Têxtil e de Confecção, a maioria das empresas (51,6%) sofreu os efeitos da pandemia no fechamento da produção. Para outras (24,2%), o maior impacto foi observado no fornecimento de produtos a clientes, enquanto 6,5% foram afetadas no abastecimento de materiais e insumos. Do total de entrevistados, 49,2% tiveram seus pedidos reduzidos; para 47,5%, as datas de entrega foram postergadas. As informações são da Agência Brasil. A pesquisa aponta, ainda, que 20% das empresas do setor não souberam informar como será seu modelo produtivo depois da pandemia. As restantes apostam na valorização

dos produtos nacionais e na compra em mercados locais, além da automação da produção e implementação de tecnologias 4.0 para conseguir trabalhar remotamente. Segundo Edmundo Lima, diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX), que representa as principais redes de varejo de moda do país, neste momento, o foco do setor está na preservação do emprego e renda, buscando caminhos alternativos e seguros para a economia voltar a operar normalmente. Para o futuro, a entidade também aposta em uma mudança nos hábitos de consumo. “As marcas estão se reestruturando durante a pandemia para melhorar a experiência do consumidor no e-commerce e esta é uma das lições para o varejo de moda: ampliar a atuação no comércio eletrônico, com maior disponibilidade de produtos e melhores condições de entrega e troca”, finaliza Edmundo.

foto: Divulgação

Edmundo Lima, diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX)

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Consumo, Têxtil, Imóveis e Veículos

Indústria da construção civil aposta na valorização do ‘morar bem’ Ricardo Telles, Diretor Presidente da PERPLAN

depender da indústria da construção civil, o sonho de Andréia e família pode não demorar muito para ser realizado. “Percebemos que o interessado em adquirir imóveis deixou de ir a plantões de vendas durante a pandemia, porém notamos um aumento das consultas de comercialização de imóveis pela internet”, avalia Odair Garcia Senra, presidente do SindusCon-SP (Sindicato da Construção). “O que fizemos neste momento foi buscar o consumidor por meio das mídias e do marketing digital. Lançamos campanhas promocionais que podemos chamar de ‘ações de tiro rápido’. São oportunidades de negócio, principalmente, para quem já vinha negociando conosco”, destaca Ricardo Telles, diretor presidente da Perplan Urbanização e Empreendimentos.

Antes da pandemia de COVID-19, a jornalista Andréia Moreno e o marido planejavam comprar um imóvel. “Agora, vamos ter que adiar esta aquisição até que a situação econômica volte ao normal”. Mas, no que

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Outra aposta do setor é que, durante a pandemia, o consumidor passou a valorizar mais a necessidade de se morar bem. “No isolamento social, um imóvel que proporcione conforto ao seu usuário passou a ser tão importante quanto, por exemplo, a internet. O imóvel adquiriu este valor intrínseco. E não tenho dúvida de que, quando passar a pandemia, quem puder mudar de residência e ir para um imóvel maior, por exemplo, irá fazê-lo”, avalia Odair. “Tenho a convicção que comprar um imóvel sempre será um desejo ao longo da vida das pessoas. Não importa o momento da vida que elas estejam, sempre estarão procurando algum imóvel diferente do que têm hoje, seja pelo excelente investimento que sempre foi e será, ou pelas mudanças em seus ciclos de vida”, completa Ricardo.


Consumo, Têxtil, Imóveis e Veículos

Caminhões e máquinas agrícolas compensam produção de veículos em queda A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informou que a produção nacional de veículos automotores em abril teve queda de 99,4% em relação ao mesmo período do ano passado. O número é o pior da história da indústria automobilística nacional desde 1957, quando os dados começaram a ser computados. De acordo com a entidade, os resultados foram consequência direta da pandemia da COVID-19. Com quase todas as fábricas paradas ao longo do mês de março, apenas 1.847 veículos foram produzidos, entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, um tombo de 99% sobre o mês anterior e de 99,4% sobre abril do ano passado. De acordo com a entidade, com as medidas de distanciamento social, 63 fábricas do setor interromperam as atividades até o início de abril, afetando 123 mil trabalhadores em dez estados. “O momento é de priorizar a saúde da população, e todas as nossas associadas deram sua contribuição no combate ao Coronavírus, seja reparando respiradores, seja produzindo e doando máscaras, ou mesmo cedendo suas frotas para as mais diversas finalidades. Mas também é hora de uma conscientização de todas as esferas do governo, bancos e sociedade para criar mecanismos que permitam à cadeia automotiva atravessar esse período de retração com a preservação das empresas e dos empregos”, alerta o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes.

Caminhões e máquinas agrícolas As vendas de caminhões apresentaram pouca oscilação quanto a fevereiro deste ano. Em março, manteve-se o mesmo desempenho, de cerca de 6,4 mil unidades emplacadas. “As empresas de transporte e os caminhoneiros autônomos não deixaram de trabalhar a fim de garantir o abastecimento de alimentos, medicamentos e outros itens essenciais para as famílias, hospitais e unidades de saúde. Além disso, seguem fazendo o transporte de cargas e produtos da nossa indústria e de outros setores da economia”, aponta Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil & CEO América Latina da companhia. As máquinas agrícolas observaram um saldo positivo para março, já que a maioria das fábricas funcionou até o começo de abril, e as vendas estavam aquecidas em função da época de colheitas. Na comparação com o mês anterior, as vendas avançaram 46%, as exportações, 19% e a produção, 15%. As fabricantes de máquinas agrícolas garantem ter estoque para atender os produtores rurais, atividade considerada essencial, com ou sem crise na saúde. “Quando o pico da pandemia passar e as coisas começarem a voltar a um novo normal, o setor de transporte certamente será um dos primeiros a puxar a retomada. A colheita da nova safra de grãos já começou, assim como a de cana-de-açúcar, além de outras atividades do agronegócio. Esperamos que tudo se ajeite na saúde e, claro, também na economia do País”, finaliza Philipp Schiemer..

foto: Divulgação

Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil & CEO América Latina da companhia

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Varejo, Turismo e Vestuário

De uma hora para outra o Brasil parou e a Economia foi parar na UTI por José Manuel Lourenço

Para minimizar o avanço do novo coronavírus todos os estados brasileiros adotaram o isolamento horizontal. O que parecia ser a única solução para preservar vidas ocasionou uma crise econômica sem precedentes

E

m novembro de 2019, um dos 11 milhões de moradores da cidade de Wuhan, na região central da China, começou a sentir sintomas semelhantes aos de uma gripe: febre, cansaço e tosse seca. Aparentemente, esse homem de 55 anos, de acordo com informações do governo chinês, foi o chamado paciente zero de uma doença devastadora que, até abril deste ano, já tinha infectado mais de três milhões de pessoas no mundo todo e provocado a morte de mais de 200 mil. Em menos de três meses, a COVID-19 – como ficou conhecida a pandemia provocada por um novo tipo de coronavírus – já tinha se espalhado por praticamente todos os países do mundo. Entre eles, o Brasil, onde seis de cada dez cidades já tinham registrado casos de infecção. Uma delas, localizada no noroeste do Estado de São Paulo e a 18 mil quilômetros de Wuhan, foi Ribeirão Preto. O primeiro caso do novo coronavírus no Brasil foi registrado em 26 de fevereiro deste ano, em São Paulo. Desde então, até o final de abril o país já tinha registrado quase 70 mil casos confirmados da doença e cerca de cinco mil mortes. A principal arma contra o avanço do vírus foi ficar em casa. Todos os estados brasileiros adotaram o isolamento horizontal, uma quarentena sanitária sugerida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como a melhor forma de reduzir o avanço do vírus. De uma hora para a outra o Brasil literalmente parou. Para combater a disseminação da doença, em poucos dias foram fechadas lojas, restaurantes, shopping centers, salões de beleza, parques e proibidas missas, cultos religiosos e atividades artísticas e esportivas, como shows e o campeonato brasileiro de futebol. Voos foram cancelados e diversos setores industriais, como vestuário, calçado, construção civil e automotivo tiveram a produção interrompida. E, assim como milhares de brasileiros, a economia do país foi parar na UTI.

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Varejo, Turismo e Vestuário

Impacto Devastador Um relatório do Banco Central, divulgado no início de abril, mostra que o tamanho do estrago provocado pela pandemia na economia do país não é – e não será – pequeno: o documento cita projeções do Núcleo de Inteligência da revista inglesa de negócios “The Economist”, que apontam para uma queda de 5,5% do PIB brasileiro em relação ao de 2019. Antes do vírus, a projeção era de 2% de crescimento em 2020, embora diversos economistas já apontassem números menores, em função, sobretudo, das estripulias políticas do governo Bolsonaro. Se confirmada a queda do PIB, o Brasil estará em 3º lugar entre os piores desempenhos da economia, em uma relação de 19 países, à frente apenas de Alemanha (-6,8%) e Itália (-7%). Outro levantamento, desta vez feito pelo serviço norte-americano de notícias de economia Bloomberg, mostra que o Brasil foi quem registrou a maior perda de valores dos ativos em bolsas, em uma relação de 18 dos principais países. Nessa lista, a Europa foi considerada como um país.

imagem: Av. Faria Lima em São Paulo - 24 de março de 2020 – foto: @gabinolasco

Até o início de abril, a bolsa brasileira atingiu o pico negativo de 49,7 pontos percentuais, à frente de países como Argentina, Colômbia, Indonésia, África do Sul, México, Austrália, Rússia, Reino Unido e Europa.

8%

Um estudo feito no início de abril mostrou que as notificações existentes podem representar apenas 8% dos casos de COVID-19 no país. O documento mostrou uma realidade aterradora: para cada caso conhecido de infecção pelo novo coronavírus haveria outros 12 não notificados. Participaram do estudo entidades como o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz, Departamento de Engenharia Industrial e Instituto Tecgraf da PUC-Rio, Barcelona Institute for Global Health, Divisão de Pneumologia do InCor, Hospital das Clínicas FMUSP, Universidade de São Paulo, Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro e Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino.

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Varejo, Turismo e Vestuário

Carta a Brasília De modo geral, comércio e serviços estão entre os setores mais atingidos pelo vírus. Responsáveis por cerca de 70% do PIB (Produto Interno Bruto) e mais de 26 milhões de negócios, de acordo com informações de entidades como o Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV) e a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNL), as duas áreas representam cerca de cinco milhões de negócios no Brasil. No final de março, quando os primeiros efeitos da quarentena aos serviços não essenciais começaram a deixar marcas, IDV, CNDL e outras três entidades nacionais enviaram uma carta ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para alertar sobre os efeitos que a quarentena poderia provocar nos negócios, se não houvesse contrapartidas urgentes do governo. A ideia da reunião das entidades responsáveis por R$ 7 de cada R$ 10 do PIB brasileiros pode ser resumida em uma pequena frase da carta: “... mensurar os impactos e buscar meios de evitar um colapso das pequenas e médias empresas e dos milhões de empregos que dependem da cadeia varejista”. Entre as propostas sugeridas, sobretudo a Paulo Guedes, estava a utilização de empréstimos para capital de giro e folha de pagamentos via operadoras de cartões de crédito, como forma de se ter mais agilidade e fugir das altas taxas de juros cobradas pelos bancos. O documento cita “o aumento expressivo das taxas, com médias superiores a 50% e, alguns casos superiores a 70%, em operações habituais do varejo, tais como capital de giro, conta garantida, antecipação de recebíveis, risco sacado, empréstimos 4131, entre outras operações. ” A carta também pede ao governo que crie linhas de crédito específicas para o varejo e para o setor de franquias, a serem utilizadas como capital de giro e pagas em 60 meses, com carência de 24 meses para o início dos pagamentos e juros reduzidos. Também foi sugerida a criação de outras linhas de crédito que possam ser acessadas após a crise e utilizadas para a retomada das atividades.

70%

É o percentual que os setores de comércio e serviços têm dentro da composição do PIB brasileiro 36

Por fim, as entidades pediram a Paulo Guedes a liberação dos recursos do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas, mantido pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para utilização como capital de giro por micro e pequenas empresas que operem no varejo e no setor de franquias. O empresário Glauco Humai foi um dos signatários da carta enviada ao Banco Central e ao Ministério da Economia. Presidente da Abrasce (Associação Brasileira de Shoppings), ele afirmou que a entidade vem recomendando aos shoppings a negociação com os lojistas de custos como aluguel, por exemplo, como forma de reduzir o impacto da crise. Nesse caso, em especial, a sugestão é o adiamento da cobrança até que a situação melhore. Para outras despesas, como taxas condominiais e fundo de promoção, a recomendação da Abrasce é a aplicação de descontos de 30% e 40%, no primeiro caso, e a isenção do fundo de promoção. Segundo Humai, esse movimento já trouxe um benefício de R$ 1 bilhão para os lojistas durante a crise. “O setor de shoppings foi 100% atingido com a crise da COVID-19. Os 577 estabelecimentos localizados nas 222 cidades do Brasil estão fechados, seguindo as determinações dos decretos estaduais e municipais. Estamos em diálogo constante com as autoridades e com as enti-

Quem assinou a Carta de Brasília a) Abrasce (Associação Brasileira de Shoppings) – 577 shoppings no Brasil e 105.592 lojas em operação. Em 2019, faturou R$ 192,8 bilhões; b) IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo) – reúne as maiores empresas do varejo do país, como Magazine Luíza, Centauro, Renner, Riachuelo, entre outras; c) ABF (Associação Brasileira de Franchising) – entidade que congrega 1,1 mil marcas e 161 mil postos de venda; d) CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas) – É formada por mais de 1,5 mil Câmaras de Dirigentes Lojistas do país, que representam cerca de 450 mil empresas, com cerca de um milhão de pontos de vendas; e) CACB (Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil) – reúne mais de 2,3 mil Associações Comerciais e 2 milhões de empresários;


“O setor de shoppings é conhecido pela sua resiliência. Já passamos por outras crises e essa será mais uma que iremos vencer. Esse momento reforça a importância da operação omnichannel, algo que os shoppings já investem.”

Glauco Humai, presidente da Abrasce

dades do varejo e dos lojistas e solicitamos ao governo, por exemplo, o adiamento dos impostos que impactam na folha, visando manter o fluxo de caixa dos lojistas. Também estamos negociando com os municípios o adiamento da cobrança do IPTU, enquanto a crise durar, e com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), para se negociar os contratos feitos antes da crise. A preocupação é manter o fluxo de caixa. A responsabilidade de todos nesse momento é resolver a crise sanitária, mas não podemos esquecer a economia”, afirmou. Juntos, os 577 shoppings que fazem parte da Abrasce, geraram, em 2019, 1,1 milhão de empregos, de acordo com informações do relatório “O Setor de Shopping Centers no Brasil – 2019”, produzido pela associação.

Varejo, Turismo e Vestuário

Franquias Além de Glauco Humai, quem também assinou a carta enviada ao Banco Central e Ministério da Economia foi o presidente da ABF (Associação Brasileira de Frachising), André Friedheim. Aliás, franquias e shoppings têm uma ligação bastante forte. Atualmente, o sistema de franchising tem cerca de 40% das lojas satélite dos shoppings centers, desconsiderando as lojas-âncora, segundo dados da ABF. Por isso, o impacto provocado pelo fechamento dos centros comerciais foi grande. Mas, como lembra Friedheim, atingiu de forma desigual o setor. “O impacto foi grande, não só pelo fechamento dos shoppings, mas também pela quarentena ao comércio de rua. No entanto, o setor de franquias é multissetorial, ou seja, ao mesmo tempo em que tem segmentos que estão sofrendo de forma terrível com o fechamento das lojas, há outros que registram crescimento, como é o caso de supermercados, farmácias, lojas de conveniência e de alimentação”, afirmou. Ainda não há números a respeito do estrago provocado pela COVID-19 no setor de franquias. No entanto, segundo Friedheim, até o final de maio a ABF deveria

Raio X do setor de Franquias no Brasil

Desempenho do Franchising Brasileiro em 2019 Faturamento: R$ 186,7 bilhões Crescimento em relação a 2018: 6,8% Dimensão: 160.958 un. instaladas no país Crescimento em relação a 2018: 4,7% Número de redes existentes: 2.918 Média de unidades por rede: 55,2 Crescimento em relação a 2018: 1,4% Empregos gerados: 1.358.139 Crescimento em relação a 2018: 4,6% Fonte: relatório produzido pela ABF

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Varejo, Turismo e Vestuário concluir uma pesquisa junto aos seus associados para saber exatamente o tamanho do prejuízo no setor e de que forma a pandemia afetou os principais setores da área de franquias do país.

Transformação Digital

Para Friedheim, já é possível identificar alguns caminhos que poderão se tornar permanentes na economia nacional, em especial no mercado de franquias. “Todos os franqueadores estão fazendo algum tipo de transformação digital nas suas empresas e começando a atender os seus clientes de uma maneira diferente, seja através do e-commerce, delivery, Instagram ou telefone. Enfim, não importa a forma, mas descobriu-se que as vendas podem ser feitas, de maneira eficiente, de outras formas”, disse. “As empresas franqueadoras estão se adaptando a esta nova realidade do consumo e criando novos canais, novos formatos, e muitos deles vieram para ficar. Outros podem ser até uma solução-tampão, temporária para esse momento de crise, mas vejo muitas empresas adotando novas tecnologias e criando novos modelos de negócios para um novo mercado”, concluiu. Não foi apenas na relação com o cliente que a digitalização das relações acabou por se tornar a regra: a própria interação franqueador/franqueado também já começa a passar por outras formas de relacionamento.

Reinvenção e Racionalidade

De acordo com Friedheim, a pandemia acelerou um processo de reinvenção das empresas, que vai além do aumento dos investimentos em ferramentas e soluções digitais. A pandemia, segundo ele, vai tornar as empresas mais profissionais, fazer que busquem o máximo de eficiência, cortando o supérfluo e “aquela gordurinha que passava meio que ao largo”. Para o presidente da ABF, tanto franqueadores como franqueados estão olhando com mais atenção para a questão dos custos e do aumento da eficiência. Segundo Friedheim, esse deverá ser um dos principais aprendizados da crise: com a COVID-19, as empresas tiveram de se tornar mais eficientes, eliminar aqueles pequenos custos que, muitas vezes representam pouco, mas que somados a outros pequenos custos geram uma bola de neve que, ao final, torna-se difícil de pagar. Na área do franchising ligada à construção civil, o impacto da pandemia do novo coronavírus em abril já provocou queda nos negócios estimada de 30% a 40%, em relação ao mês de março. Os números foram apresentados pelo empresário e ex-presidente da ABF, Altino Cristofoletti, e dizem respeito a regiões onde o isolamento é mais restrito. Em locais onde a COVID-19 ainda não entrou, a queda foi de cerca de 20%.

foto: Anna Shvets no Pexels

“Antigamente, eu viajava fisicamente até o meu franqueado para dar consultoria de campo. A crise e o uso de ferramentas de reuniões virtuais mostraram que a gente pode se reunir com muito mais frequência, identificar, atacar e resolver um problema de maneira muito mais rápida de forma virtual. A crise mostrou que essa relação virtual permite que nos encontremos mais vezes e que podemos ser tão ou mais eficientes em relação às reuniões presenciais”, disse.

Um dos sinais já detectados por ele nessas reuniões foi a busca de novos canais de distribuição. “Vejo uma preocupação muito grande dos franqueadores em criar esses novos canais, envolvendo os franqueados naquela omnicanalidade que a gente tanto fala. Talvez agora ela seja colocada em prática e o que antigamente podia ser um conflito entre os franqueadores e franqueados pode proporcionar hoje uma integração maior entre os dois lados”, disse.

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Varejo, Turismo e Vestuário Cristofoletti é sócio-fundador da Casa do Construtor, a maior rede de aluguel de equipamentos de pequeno porte para os mercados de construção civil, limpeza e jardinagem da América Latina. A rede possui atualmente 280 lojas espalhadas pelo Brasil.

57%

Empresas entrevistadas disseram que a principal medida trabalhista para tênar lidar com os efeitos da crise foi a adoção de férias para a maioria dos funcionários; reduzir salário e jornada de trabalho foi a segunda medida trabalhista mais adotada (53%) e a terceira foram as demissões (37%).

Para o empresário, dois pontos chamam a atenção quando se fala sobre o impacto da pandemia na economia nacional: o descompasso entre as políticas nacional e estaduais de combate ao vírus e a certeza de que a forma de se trabalhar será diferente após a pandemia.

Segundo ele, é praticamente impossível que a economia volte a funcionar pós-pandemia sem que o governo injete diversos bilhões de reais no financiamento de soluções para pequenas, médias e grandes empresas, principalmente em setores que estão sendo muito impactados, como a própria construção civil. Outro ponto destacado pelo empresário são as novas formas de trabalho que deverão surgir pós-COVID-19. Segundo Cristofoletti, a pandemia está impondo não apenas novas formas de relacionamento entre as pessoas, mas também com o trabalho e os negócios. “Esse tempo acelerado de reacomodação está exigindo de todos uma mudança de mindset. Uma nova forma de pensar e de se relacionar no mundo do trabalho, que está sendo testado nesse momento, como o home office, vai promover mudanças no modus operandi de todos. Também por isso, o Brasil não poderá ficar preso a um arcabouço jurídico e trabalhista do século passado e talvez esteja aí uma grande oportunidade de se rever as relações de trabalho e capital”, completou.

Impacto Econômico no Brasil

Na primeira semana de maio, o sistema Fiesp/Ciesp, divulgou uma pesquisa sobre como a pandemia está atingindo economicamente as industrias do Brasil. O documento previu que 92% das indústrias esperam uma redução nas vendas entre abril e junho, principalmente devido à queda e cancelamento de pedidos e problemas de recebimento de clientes. A redução média prevista nas vendas para esse período, de acordo com a pesquisa, é de 55% e seis de cada dez empresas relataram que simplesmente pararam de receber novos pedidos.

O levantamento mostrou ainda um quadro bastante negro em relação à sustentabilidade financeira das indústrias: 63% têm caixa disponível para bancar as suas dívidas só por um mês, 17% têm caixa para até dois meses e 11% para até três meses. Ou seja, de cada dez indústrias paulistas, nove tem dinheiro em caixa para aguentar 90 dias e dessas, seis só conseguem ficar em pé por um mês. Por isso, 73% das empresas destacaram que vão precisar de crédito para capital de giro nos próximos 3 meses e que 89% desses recursos financiados serão usados para honrar a folha de pagamentos.

Raio X

A pesquisa Fiesp/Ciesp revelou que os efeitos do novo coronavírus foi especialmente devastador para as empresas de pequeno porte: 100% das micro, 94% das pequenas, 90% das médias e 86% das grandes empresas previram queda na vendas; além disso, a redução média esperada nas vendas das microempresas é de 74%, para as pequenas empresas a previsão de queda é de 57%, para as médias, de 51%, e por fim, as grandes têm uma expectativa média de redução de 47% nas vendas; foto: Divulgação – Sede da FIESP na Avenida Paulista

“Entendemos que é uma situação complexa, mas a falta de sintonia entre as esferas de governo traz ruído e insegurança. Cuidar da saúde das pessoas e um olhar cuidadoso para as empresas não são coisas binárias, mas devem ter soluções harmônicas”, afirmou.

457

Foi o número de empresas entrevistadas para a realização da pesquisa Fiesp/Ciesp, realizada entre 9 e 14 de abril de 2020

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Varejo, Turismo e Vestuário Com o brasileiro em terra, o céu ficou sem os seus maiores pássaros. Com sede em Ribeirão Preto (SP), a VOEPASS Linhas Aéreas – antiga Passaredo - atua desde 1995 e é a mais antiga empresa de aviação brasileira em atividade no país. Desde o dia 23 de março, as 15 aeronaves da companhia estão paradas, por causa de um período de hibernação decretado pela empresa, que também provocou a suspensão do contrato de cerca de mil colaboradores. Até que o horizonte esteja mais limpo, não há previsão de a empresa restabelecer as rotas para os atuais 47 destinos onde atua. “O setor da aviação foi um dos primeiros a ser impactado pela paralisação (ou redução acentuada) da atividade econômica. O cenário atual de crise envolve toda a cadeia de turismo, incluindo as viagens corporativas e um conjunto de variáveis simultâneas que colocam em risco as atividades do setor como um todo”, afirmou Eduardo Busch, CEO da VOEPASS. Segundo o executivo da companhia aérea ribeirãopretana, não há expectativas de retomada do setor a curto prazo. No entanto, assim como André Friedheim e Altino Cristofoletti, Busch entende que, após o fim da pandemia, o modo de se trabalhar será diferente. “Acreditamos que a retomada será gradativa. A previsão de recuperação econômica dependerá do resultado das

32,8%

Foi o percentual de queda na demanda por viagens aéreas no mercado doméstico em março deste ano, de acordo com levantamento da Associação Brasileiras das Empresas Aéreas (Abear). É o pior desempenho desde 2009. A Abear reúne as empresas Gol, Latam, MAP, VOEPASS e Two Flex.

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Como a pandemia afetou o turismo no Brasil Participação no PIB: 3,71% (IBGE) Principais atividades que compõem o setor: hotéis e pousadas; bares e restaurantes; transporte rodoviário; transporte aéreo; outros transportes e serviços auxiliares dos transportes; atividades de agências e organizadores de viagens; aluguel de bens móveis; e atividades recreativas, culturais e desportivas. Previsão de faturamento em 2020: R$ 165,5 bilhões Previsão de queda em relação a 2019: 39% Previsão de reequilíbrio do setor: 12 meses a partir do fim do Isolamento. Fonte: FGV (Fundação Getúlio Vargas)

ações de contenção da pandemia e de uma redução do nível de incertezas. Acreditamos que passado o período mais crítico e a vida sendo retomada em sua normalidade ocorram realmente algumas mudanças de comportamento na forma de se trabalhar, como por exemplo, necessidade de flexibilização de horários, de processos e da presença física no escritório - que durante este período tem sido uma solução eficaz em diversas empresas”, disse. foto: Divulgação – VoePass

Aviação


Varejo, Turismo e Vestuário

Alimentação Se o setor da construção civil sentiu razoavelmente os efeitos da pandemia no bolso – mesmo após a decisão do governo federal em considerar a atividade como essencial – imagine quem foi simplesmente proibido de vender fisicamente aos seus clientes, desde os primeiros momentos da crise. Foi o que aconteceu com o setor de alimentação no país, que foi dormir com filas de clientes para almoçar ou jantar e acordou com um decreto permitindo vendas apenas pelo sistema de entrega. Clientes nas mesas, nem pensar, por causa do potencial de transmissão do vírus provocado pelas aglomerações. A proibição atingiu em cheio os negócios do grupo Bloomin’ Brands, detentor das marcas Outback Steakhouse e Abbraccio que, desde março, mantém fechados os 115 restaurantes das duas marcas. De acordo com o presidente do grupo no Brasil, Pierre Berenstein, a nova situação provocada pela pandemia tem feito com que todos os esforços sejam direcionados para o delivery. O projeto de entregas, que já havia sido iniciado em agosto do ano passado - e que tinha um plano de expansão previsto para ser aplicado em dez meses - saiu do papel em dez dias.

“E, para isso ser possível, foi necessário o fim da burocracia. Propusemos uma abertura na comunicação entre os funcionários, independentemente de hierarquia e foi tudo um sucesso. Nós estamos levando uma experiência de altíssima qualidade para dentro da casa dos nossos consumidores”, afirmou. Segundo Berenstein, um dos pontos que o delivery fez questão de manter, no caso do Outback, foi fazer com que os clientes continuem tendo acesso a um dos símbolos da marca, entregue ao cliente com uma espécie de manual para a sua produção dentro das normas adotadas nos restaurantes. “A gente sabe o quanto os clientes do Outback amam o nosso pãozinho australiano, que é dado como boas-vindas nos nossos restaurantes antes da refeição, e nós fizemos questão de manter isso no nosso delivery. Estamos enviando como cortesia, em todos os pedidos, o famoso pão e a manteiga, explicando como aquecê-lo para deixar igual ao do restaurante. Além disso, para o cliente ter a verdadeira experiência Outback em casa, enviamos uma carta com instruções, sugerindo que ele acesse o aplicativo Spotify e busque pela playlist “Outback Brasil”, que tem todas as músicas que tocam no salão das lojas”, disse. Berenstein é um dos poucos executivos que relativizam o espaço que o delivery irá ocupar, pós-pandemia,

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Varejo, Turismo e Vestuário

Na avaliação do CEO da Bloomin’ Brands, o que parece estar fora de dúvida é que a forma de trabalhar

“A principal lição que podemos tirar dessa pandemia é que estamos aproveitando esse momento para reaprender como nos reconectar com o consumidor, manter o link com a sociedade e com as pessoas. Descobrimos que digitalizar não quer dizer afastar.”

vai mudar, pelo menos no seu setor. Segundo ele, os clientes vão valorizar ainda mais o momento de consumo e passar a exigir mais das empresas. “Se hoje nós já estamos atentos às necessidades do consumidor, vamos ficar ainda mais, porque a experiência será priorizada em todas as frentes, seja para quem vem até o restaurante ou para quem pede de casa. O que vai importar para o novo consumidor é ter uma boa experiência, independentemente de onde ele esteja. É importante pensar nos detalhes, embalagem, apresentação e, claro, qualidade”, concluiu.

foto: Divulgação

nas receitas de empresas como as que preside. “Eu acho que algumas coisas vão mudar depois que este período passar. Quando pensamos em receita e faturamento, talvez a porcentagem de delivery aumente no pós-crise. Hoje, por causa do momento em que vivemos, o delivery ganha uma aceleração enorme, mas não significa que não conseguiremos retomar as atividades com força. Isso porque o delivery não concorre com os restaurantes”, afirmou.

Pierre Berenstein, presidente da Bloomin’ Brands no Brasil

Vestuário Na última semana de março, a consultora técnica do Instituto Senai de Tecnologia Têxtil e de Confecção, Michelle Souza, coordenou um estudo destinado a avaliar de que forma os efeitos do novo coronavírus impactaram na indústria têxtil. Os resultados foram preocupantes, mesmo levando-se em conta que a pesquisa envolveu apenas 62 representantes da cadeia produtiva dos setores de moda, têxtil e de confecção. Entre outros números, o trabalho conduzido por ela mostrou, por exemplo, que 70% das empresas consultadas estavam com a produção parada e que 66% não trabalham com o mercado externo. Mas, o dado mais inquietante é o que mostra que sete em cada dez empresas (70%) disseram não estar preparadas financeiramente para situações inesperadas, como foi o caso da pandemia do novo coronavírus. Além disso, uma em cada cinco (20%) não tem a menor ideia de como será o seu modelo produtivo após a COVID-19.

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Mas, para Michelle, apesar de ter um impacto evidente no setor, a chegada da pandemia pode ter sido a gota d’água em uma área que já mostrava problemas. “Eu acredito que a pandemia tornou visível uma situação que já existia e isso ficou mais evidente em todo o sistema que a gente tem. O setor ficou muito dependente, por anos, da cadeia produtiva da China. Então, quando a pandemia se tornou uma realidade, houve uma desestabilização geral, porque as fábricas na China foram os primeiros lugares a fechar e isso acabou com o fornecimento do mundo, especialmente no setor de moda”, afirmou. Mas se os problemas causados pelo novo coronavírus são de conjuntura, a estrutura já apresentava alguns problemas mais antigos. De acordo com a consultora do Senai, a crise deixou bem evidente que as empresas não estavam preparadas para ter o capital de giro para lidar com riscos como o que aconteceu. “Essa situação deu uma chacoalhada nas empresas, de pensarem em ter um capital de risco para situações parecidas


Varejo, Turismo e Vestuário como essa que a gente está vivendo agora. O problema é que como há muitos anos não se passava por uma situação como essa, acho que podemos dizer que houve um pouco de despreparo, imaturidade empresarial”, afirmou. Formada em engenharia têxtil com especialização em moda e coordenadora do curso de pós-graduação MBI em Indústria Avançada: Confecção 4.0 no Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Senai Cetiqt), ela acha que a relação com a China deverá ser um dos itens a serem repensados, após o fim da crise. “Eu vejo que muitas empresas estão revendo a própria cadeia de suprimentos para não ficar dependentes de um só lugar, que foi o que aconteceu agora”. Outro ponto que, segundo Michelle, deverá mudar na indústria têxtil, é uma provável transformação do modo de se trabalhar. Segundo ela, é inevitável que o setor invista tanto na automação da produção e na implementação de tecnologias 4.0, que vão exigir que os profissionais se adaptem a essa nova realidade, voltada para a digitalização dos processos de confecção.

conhecimento que precisam ter. Ou seja, assim como as empresas, os funcionários também terão de se reinventar. “Vou dar um exemplo. A gente trabalha muito com modelagem manual, mas está havendo um movimento grande de migração para a modelagem digital. Então, o que se percebe é que muda a qualificação da pessoa e, normalmente, quem sabe mexer hoje com o digital ganha até um pouco mais. Então, eu acho que vai haver essa migração da exigência do conhecimento e isso vai valorizar serviço e salário”, concluiu.

Voluntários fazem mutirão para produzir máscaras no RS – foto: Leonardo Andreoli - Divulgação

Para ela, no entanto, isso não significa que parte dos cerca de 1,5 milhão de empregados na cadeia produtiva têxtil, de confecção e da indústria química vão perder os seus empregos. Segundo Michelle, o que deverá ocorrer é a necessidade de os atuais profissionais transformarem o

98%

É o percentual de empresas da área têxtil que afirmam que foram afetadas pelo cancelamento ou adiamento de pedidos, de acordo com um levantamento feito entre 16 e 26 de março pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit)

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Varejo, Turismo e Vestuário

E agora, para onde vai o Brasil?

A

Revista Empreende entrevistou o economista e ex-ministro da Fazenda, durante o período de hiperinflação na década de 1980, Maílson da Nóbrega, para saber o que pode acontecer com o país durante e após a crise causada pela pandemia da COVID-19. Entre as previsões feitas pelo economista estão o estabelecimento de uma relação de dependência menos profunda em relação a China, o surgimento de novos polos internacionais de negócios e, por fim, os riscos de Jair Bolsonaro na Presidência da República.

Empreende: O governo de Jair Bolsonaro talvez tenha sido o que mais questionou o papel do Estado na economia, de todas as administrações que o país teve praticamente desde a Segunda Guerra Mundial. No entanto, a ocorrência da pandemia do novo coronavírus e os seus impactos na economia deixaram claro que dificilmente sairemos da crise sem a aplicação de um pacote de medidas muito semelhante ao New Deal americano, da década de 1930. O senhor concorda com isso? É a vingança de Keynes contra Guedes? Como avalia as medidas adotadas pelo ministério da Economia até agora para tentar retardar a retração causada pelas sucessivas quarentenas impostas à economia? Maílson da Nóbrega – Você tem certa razão. Um governo partidário do estado mínimo se revelou o mais intervencionista da história. Não creio que Keynes tenha se vingado de Paulo Guedes. Em situações como essa, o Estado cresce em tamanho e atuação, pois somente ele tem a força para mobilizar vastos recursos e capacidade operacional para salvar vidas, manter o máximo possível a renda dos segmentos menos favorecidos, preservar empregos e manter as empresas funcionando muito próximo do normal, evitando a desorganização que dificultaria a recuperação que virá quando a pandemia acabar. As medidas do governo se assemelham às adotadas em outros países, principalmente nos mais ricos. Em resumo, o governo demorou, mas terminou agindo na direção correta. Empreende: A COVID-19 mostrou um mundo e um Brasil despreparados para enfrentar os efeitos de uma crise que

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afetasse as economias de forma tão intensa. No caso do Brasil, que lições podemos tirar da pandemia? Em sua opinião, o que muda no país após o fim da doença? Creio que o Brasil, a exemplo do que ocorrerá em outras partes do mundo, vai se preparar melhor para uma nova pandemia, que fatalmente ocorrerá. A crise intensificou a percepção da gravidade da desigualdade em todo o mundo e revelou a inconveniente dependência do suprimento de produtos médicos pela Ásia, particularmente a China. Muito provavelmente, o Brasil e outros países buscarão produzir esses bens internamente, ainda que ao custo de menor eficiência e produtividade. Nessa mesma linha, haverá uma reconfiguração das redes mundiais de suprimento, excessivamente centradas na China e em outros países asiáticos. Se o Brasil se preparar para essa nova realidade, poderá ganhar com investimentos de multinacionais interessadas em diversificar suas fontes de suprimento de partes, peças, componentes e até de produtos finais (caso, por exemplo, de celulares e outros aparelhos eletrônicos). Empreende: O economista do IDP, José Roberto Afonso, defendeu a tese de que Estados e municípios não tenham a rolagem de suas dívidas suspensa, em função da pandemia. Em vez disso, ele sugere que os pagamentos sejam feitos em serviços sociais e de saúde. Como avalia essa tese? Em tese, o Zé Roberto está certo, mas creio que a realidade impôs a solução que está sendo buscada no Congresso. Trata-se de uma emergência. Não dá tempo para que se espere para tipificar e pagar por serviços sociais e de saúde.


Maílson da Nóbrega economista e ex-Ministro da Fazenda do governo de José Sarney – foto: Divulgação

Varejo, Turismo e Vestuário

Empreende: Depois da saída dos ministros Luiz Henrique Mandetta e Sérgio Moro, em um intervalo de duas semanas, já se especula que o até agora homem-forte do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, também está com o cargo em risco. Caso isso aconteça em meio ao cenário de pandemia que efeitos pode causar na economia do país? Por ora, não vejo Paulo Guedes ameaçado de perder o cargo. Já chega, para Bolsonaro, o desgaste da demissão de Sérgio Moro. Ele viu a repercussão nos mercados e os efeitos negativos em sua popularidade. Se demitir Guedes, a crise de confiança será gigantesca e dificilmente conseguirá encontrar um substituto à altura. Não se pode, contudo, descartar esse risco. Passada a pandemia, ficará o estrago na economia, que poderá encolher 4% a 6% ou mais. O desemprego pode saltar para 15%, agregando mais quatro a cinco milhões de trabalhadores sem emprego. Bolsonaro pensa essencialmente na reeleição e por isso

pode querer um plano que gere milhões de empregos, ainda que com financiamento do Tesouro. Guedes, naturalmente e com razão, deve opor-se a essa aventura. O confronto pode levá-lo à demissão. Também pode ser que Bolsonaro se contente com a má sorte de presidir o Brasil na maior crise econômica de sua história, renuncie ao projeto de reeleição e fique com o Guedes até o fim de seu governo. A ver. Empreende: Se fosse ministro da Economia do Brasil, que medidas teria tomado e que a atual equipe econômica ainda não fez? Dificilmente teria mais a fazer do que já saiu e vai sair de medidas, caso do auxílio aos governos estaduais e municipais. Talvez tenha faltado uma garantia do Tesouro para evitar o empoçamento, nos bancos, dos recursos liberados para a concessão de crédito, resultante das medidas do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central, mas parece que as operações começaram a fluir.

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Empresas e Trabalhadores

Digitalização é palavra-chave para empresas durante Pandemia por Isabella Grocelli

Isolamento social mudou a rotina de trabalho e aumentou a procura de empresas por auxílios, desde empréstimos até novas tecnologias

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ome office, Zoom, e-commerce, EAD, abertura parcial. A pandemia causada pela COVID-19 mudou não apenas nossa maneira de viver, como também de trabalhar. A linguagem utilizada nas reuniões virtuais ganhou novas palavras – e essa foi a menor das mudanças ocorridas. No Brasil, o isolamento social imposto pelos Governos Federal desde março fez com que comércios tivessem que fechar as portas, casas se transformarem em escritórios, restaurantes se adaptarem para entregar os alimentos nas casas dos clientes e supermercados ganharem filas quilométricas para evitar o contato entre as pessoas. “A realidade é que os tempos são difíceis e o novo cotidiano exige maior adaptação de alguns segmentos”, afirma Marina Mendonça Marinzeck, analista de negócios sênior do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Mas mesmo com as adaptações, algumas áreas seguem com extrema cautela nesse momento. De acordo com um mapeamento realizado pelo Sebrae, a quarentena afetou o entretenimento, turismo, beleza e bem-estar, economia criativa, eventos, moda, logística e transportes e alimentação fora do lar. Para Nelson de Souza, presidente da Desenvolve SP - O Banco do Empreendedor, esse cenário negativo é especialmente assustador para as micro, pequenas e médias empresas, que sofrem os impactos econômicos que acompanham a pandemia de forma ainda mais veloz que as demais.

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Empresas e Trabalhadores A instituição financeira do Governo de São Paulo que, por meio de linhas de crédito de longo prazo, fomenta o crescimento planejado das micro, pequenas e médias empresas e dos municípios paulistas, recebeu, entre os meses de março e abril, mais de 13 mil pedidos de financiamento. Para auxiliar os empreendedores foram disponibilizados R$ 475 milhões, além dos R$ 175 milhões do Banco do Povo, que atende ao microempreendedor. “Desde março estamos com condições especiais de financiamento para que as empresas paulistas consigam honrar seus compromissos mais urgentes e passem por esse momento adverso, mas temporário. As empresas dos setores de turismo, cultura e economia criativa e comércio, que são os que mais sofrem e que apresentaram o maior número de pedidos de financiamento, contam com condições ainda mais diferenciadas de crédito”, explica Nelson. De acordo com o professor de economia da Escola de Administração de Empresas da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Samy Dana, medidas assertivas como a facilidade de crédito, redução de juros e alongamento de prazos são importantes nesse momento. “Claro que isso depende do perfil do tomador, afinal, nenhum banco deve ser obrigado a emprestar para quem acha que não vai pagar”.

Já o Governo Federal, segundo o especialista, está agindo bem nas ações de ajudar os mais vulneráveis e as empresas, como com o Auxílio Emergencial de R$ 600 para os informais e autônomos. “Acredito que a ajuda deverá ser feita até as pessoas e empresas voltarem a trabalhar”, complementa.

Samy Dany – foto: Gui Gomes

Entretanto, Samy alerta que apesar da facilidade e variedade de créditos nesse momento, é importante não esquecer que o empresário está adquirindo um empréstimo, que possui suas amarras. “As linhas de crédito são boas opções para quem precisa. Obviamente, empresas que conseguem andar sozinhas não devem pegar, pois esse dinheiro não é gratuito, sobretudo quando vem via banco”, explica o professor.

“As linhas de crédito são boas opções para quem precisa. Obviamente, empresas que conseguem andar sozinhas não devem pegar, pois esse dinheiro não é gratuito, sobretudo quando vem via banco”

Samy Dana

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Empresas e Trabalhadores

Inovar é Preciso Para Samy, tecnologia é uma das palavras-chave para esse momento de crescente instabilidade socioeconômica. Não apenas nos computadores ou celulares, ela também pode ser usada na criação de uma nova maneira de lidar com os possíveis problemas e solucionar as necessidades. O professor de economia frisa que esse é um momento de refletir, fazer novas estratégias e tornar as empresas mais eficientes. “O mundo será diferente em um cenário pós-coronavírus. Ele será mais remoto e as empresas devem se preparar para isso”.

Com o propósito de ajudar varejistas a acelerarem suas vendas, a startup trabalha com as 13 principais marketplaces do Brasil, como Mercado Livre, Americanas, Via Varejo e Amazon, além de montar vitrines virtuais dos produtos dos comerciantes, lhes dando mais visibilidade. “Sabemos que muitos comerciantes não atuam vendendo no on-line e acabam perdendo muitas oportunidades de vendas nesse universo gigantesco de clientes. Neste contexto, nós facilitamos a venda no ambiente on-line ajudando driblar a crise, conectando quem quer vender com quem tem interesse em compra”, explica Tiago Dalvi, CEO do Olist. Mas mesmo com o trabalho do Olist, depende do comerciante apresentar um produto atraente. Por isso, a dica para quem pensa em vender on-line é redobrar a atenção no cadastro das mercadorias. “É primordial que você tenha uma boa foto, um bom título, uma descrição detalhada e um preço competitivo”, reforça Tiago. Dorival Balbino, presidente da Acirp (Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto), afirma que a transição para o e-commerce fazia parte do cenário do comércio antes mesmo da pandemia. “A transição impôs um cenário de mudanças profundas com o qual as grandes redes têm muito mais condições de se adaptar e competir do que o pequeno varejista”. Segundo Dorival, dados de adquirentes de cartões de crédito e débito indicam queda de 53% do comércio no mês de março. “Contudo, é importante notar que dentro dessa média há empresas que não faturaram absolutamente nada. O comércio de bens duráveis, por exemplo, caiu 80% na quarta semana de março”. O presidente também não tem dúvidas de qual será o principal impacto dessa crise: o aumento do desemprego, da pobreza e da desigualdade social. “E para piorar, a previsão é a mais pessimista possível, de uma retomada muito lenta e ainda sem data para acontecer”, lamenta. Para auxiliar os empreendedores nessa retomada, o Sebrae disponibilizou uma gama ainda maior dos servi-

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Tiago Dalvi, fundador e CEO do Olist. foto: Julia Yazbek-Endeavor Brazil

E unir a tecnologia com uma nova maneira de trabalhar é o objetivo de startups como o Olist, que em um mês registrou um aumento de mais de 1.500 lojistas na plataforma.

ços on-line prestados. Além de intensificar o atendimento remoto, o órgão está oferecendo cursos gratuitos on-line, além de realizar transmissões ao vivo nas redes sociais na tentativa de auxiliar o empreendedor a passar a crise. Para Ricardo Lemos, CEO (Chief Executive Officer) da Ally, dar dois passos para trás permitiu que a empresa desse três passos para a frente. O Ally foi incubado pelo Supera Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto em 2016 como um software para agências de intercâmbio e escolas internacionais, oferecendo valores das escolas e também ferramentas que conectam as agências, fornecedores e escolas. “Nós sempre quisemos disponibilizar a ferramenta para outros segmentos, mas precisava de uma boa desculpa para parar a pesquisa na área de agências de intercâmbio e escolas e investir nessas outras possibilidades”.


Empresas e Trabalhadores

“Sabemos que muitos comerciantes não atuam vendendo no on-line e acabam perdendo muitas oportunidades de vendas nesse universo gigantesco de clientes” Tiago Dalvi

A oportunidade de inovar surgiu a contragosto, quando eles viram em um período de duas semanas a quantidade de voos diminuir, países fechando fronteiras e o número de clientes cair 80%. “Quando vimos isso acontecer, nos perguntamos se valia a pena continuar desenvolvendo algo específico para um mercado incerto. Em três semanas, criamos um produto genérico para pequenas empresas”, completa Ricardo. E em apenas uma semana de vendas (no momento em que a entrevista foi realizada), o Ally já havia conquistado oito novos clientes, como um escritório de advocacia, uma loja de peças automobilísticas e uma produtora de vídeos. “No fundo, acho que foi positivo. Era algo que já devíamos ter feito há muito tempo e precisávamos desse empurrãozinho”, avalia o executivo.

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Empresas e Trabalhadores

Novas Maneiras de Trabalhar De nada serve uma empresa sem funcionários. Mas com as portas fechadas, muitas instituições tiveram que adaptar sua maneira de trabalhar e gerir as equipes à distância. Entretanto, para Maurício Carvalho, CTO (Chief Technology Officer) da Husky, tentar replicar o ambiente do escritório no trabalho remoto é frustrante e desvantajoso. 100% remota desde sua fundação, a Husky baseia seu trabalho na confiança de deixar bons profissionais executarem seus trabalhos. Por ser 100% remota, seus serviços de câmbio, abertura de empresa, emissão de notas fiscais e custos da empresa também são oferecidos para as empresas nessa mesma modalidade.“É melhor estar aberto a novas técnicas de gestão, medir performance por entregas e adotar a comunicação efetiva de maneira clara e assíncrona. O trabalho remoto precisa dessa adaptação”. Já para as empresas que pensam na redução de gastos no quadro de funcionários, Samy alerta que essa ação pode acabar causando um prejuízo ainda maior ao longo do ano. “O ideal é tentar manter o quadro e renegociar o salário usando as opções do Governo Federal. Demitir não só gera um clima ruim na empresa, como também é custoso recontratar funcionários”. E para quem se depara com a necessidade de ter profissionais de outras áreas, os trabalhadores autônomos se tornam cada vez mais uma opção viável. Eles representam a possibilidade de ter um especialista para complementar o trabalho realizado pela equipe ou para realizar projetos pontuais com menores custos operacionais. A Workana é uma das principais plataformas atuais que age como ponte entre autônomos e empresas. Fundada em 2012, ela já teve mais de um milhão de projetos postados e mais de 3 milhões de freelancers cadastrados. E a tendência é que esses números sigam crescendo com a pandemia. De acordo com Daniel Schwebel, country manager da Workana no Brasil, a área de suporte administrativo registrou um crescimento de 10% entre os meses de fevereiro e março de 2020, enquanto TI (tecnologia da informação) e programação teve 3% mais projetos publicados, ou seja, demanda por parte das empresas. O country manager explica que esse aumento se deve especialmente às adequações que as empresas tiveram que realizar no trabalho remoto, adaptando desde plataformas de trabalho até novas ferramentas de atenção ao cliente, por não estarem atendendo de forma presencial. “E esta demanda maior e temporária de atendimento on-line, como telefone, e-mail e chat on-line pode ser suprida por freelancers”, completa.

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Para quem busca uma renda extra nesse período, o trabalho freelancer é uma opção cada vez mais fácil, principalmente com o auxílio de plataformas como a Workana. O primeiro passo para investir no trabalho freelancer, segundo Daniel, é buscar quais são as especialidades e principais qualificações que o profissional possui e estruturar um planejamento daquilo que ele pode oferecer: para quem, quais serviços/ produtos, quanto cobrar. “(Para trabalhar de maneira autônoma) obrigatoriamente a pessoa precisa saber ter autogestão. Isto significa ser organizado com seu tempo, suas tarefas, saber quais são os entregáveis”, alerta Daniel. O country manager conclui que a tendência nos próximos meses será um fortalecimento das empresas ao perceberem os ganhos do trabalho remoto, além de profunda reflexão de que as relações de trabalho serão diferentes em um mundo pós-coronavírus. “Ainda que o contexto de COVID-19 tenha forçado as empresas a implementarem o home office obrigatoriamente da noite para o dia, acredito também que muitas vezes é assim que as empresas também aprendem, de formas mais duras”.

Direitos e Colaboração Decio Daidone Junior é advogado, professor, mestre em Direito e Processo do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Com 46 anos, ele afirma que a sociedade já passou por outras crises, mas nenhuma como a que estamos enfrentando. “As crises que passamos foram econômicas e assolaram o país, mas elas foram crescendo então tivemos mais tempo e cautela para saber lidar com elas. Elas não vieram de forma tão abrupta, como essa”. A crise causada pela COVID-19 chegou no país, segundo Decio, num momento em que a economia estava voltando a retomar força. Após a votação da Reforma da Previdência, foi possível ver um reaquecimento econômico, o que significa que essa nova crise aconteceu “em um momento que as turbinas estavam ligadas”.

“Demitir não só gera um clima ruim na empresa, como também é custoso recontratar funcionários”

Samy Dana

Por ter acontecido com a rapidez que aconteceu, muitas empresas não tiveram tempo hábil para se programar, podendo causar frustração de alguns funcionários. Porém, Decio alerta que esse é um momento de conversa, bom-senso e boa-fé entre os empregados e as empresas. “Do colaborador, deve vir sempre a verdade e do empregador deve existir a compreensão e confiança”. Desde a carga horária trabalhada até uma suspeita da doença, é importante encontrar alternativas que funcionem para ambas partes. Decio exemplifica usando uma experiência própria. Uma


Empresas e Trabalhadores colaboradora da sua empresa teve pneumonia durante a pandemia e a orientação é de evitar ao máximo os hospitais. Ela foi afastada pelo próprio empregador, mesmo sem ter apresentado atestado.

OMS (Organização Mundial de Saúde), como a ventilação do espaço, distanciamento e fornecimento de máscaras, entre outras condições.

Outro exemplo é a antecipação das férias individuais. De acordo com o advogado, o empregador pode antecipar essas férias ainda que o colaborador não tenha trabalhado o tempo necessário para adquiri-la, pagando os valores que são de direito do funcionário.

“Importante deixar claro que a CLT diz que nenhum empregado é obrigado a trabalhar em ambiente que lhe coloque a vida em risco. Se estou indo trabalhar em um local em que o empregador não está preocupado, não sou obrigado a colocar minha vida ou integridade em risco”, explica Decio.

“É importante deixar claro que no momento que essas férias são antecipadas, o empregado não poderá usufruir desse tempo com viagens, por exemplo. Ele sofre nesse sentido. Mas é um momento emergencial, excepcionalíssimo, em que todas as partes precisam ceder um pouquinho”.

Já para os funcionários de empresas que adotaram um sistema home office, a atenção é para os instrumentos necessários para o trabalho. “Quando o empregado chega para trabalhar, o que oferece é tempo, capacidade mental e física. Ele não pode trazer instrumentos”.

Entretanto, também é essencial que o trabalhador se lembre e cobre seus direitos. Segundo a Constituição Federal e a CLT (Consolidação das Leis de Trabalho), o empregador tem a obrigação de manter um ambiente de trabalho salubre – no caso da pandemia, que siga as normas da

A sugestão do advogado neste momento é que empregado e empregador façam um acordo para entender o que é necessário, de um notebook até uma cadeira para trabalhar.

“E esta demanda maior e temporária de atendimento on-line, como telefone, e-mail e chat on-line pode ser suprida por freelancers”

“O empregado pode afirmar, por exemplo, que a internet dele é lenta e para fazer esse trabalho precisaria aumentar a velocidade. Isso é colocado em um acordo onde ficará bem definido esse custo que a empresa está reembolsando. Por ser de natureza indenizatória, não há nenhum encargo social que o empregador tenha que pagar”. Caso não haja condições de trabalho e/ou se a pessoa estiver trabalhando sob risco eminente, a orientação é buscar o sindicato para dialogar com a empresa, fazer uma denúncia no Ministério Público do Trabalho ou ajuizar uma ação trabalhista.

foto: ShutterStock

Daniel Schwebel

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Empresas e Trabalhadores

Novas Medidas Trabalhistas Durante a pandemia, o governo colocou em vigor as medidas provisórias 927 e 936 com o objetivo principal, segundo Decio, de manutenção do salário e do emprego, evitando que o número de desempregados aumentasse ainda mais – até fevereiro de 2020, o número era de 12,3 milhões de pessoas – além de ajudar os empresários a sobreviverem. Um dos principais pontos da MP 936 é a redução e suspensão salarial. A redução de salário só pode acontecer se o empregado continuar trabalhando, mas com diminuição proporcional da jornada, sem alteração no valor da hora trabalhada. Se, por exemplo, o empregado que trabalhava 8 horas por dia passa a cumprir jornada de 4 horas, ele receberá metade do salário. Em nenhuma hipótese a redução pode deixar o empregado com salário menor que o mínimo (R$ 1.045). Já na suspensão do contrato, o empregado fica sem trabalhar por até 60 dias e deixa de receber salário. Durante esse tempo, receberá ajuda do governo e, em alguns casos, também da empresa. O limite da redução de salário, da suspensão e o valor do benefício oferecido pelo governo dependem de quanto o trabalhador ganha.

Decio Daidone Junior

desse período. Para o advogado, apenas após essa fase que será possível apurar se as medidas foram eficazes ou se adiaram um problema. “O objetivo é de preservação do emprego, mas será que o empregador já estará recebendo dinheiro para voltar a pagar o salário cheio? E pode ser ainda pior para o empresário, pois quando o empregado volta, seja suspensão ou redução salarial, ele volta com estabilidade de 2, 3 meses. Quer dizer, o empregador vai receber ele de volta e ter que garantir o salário integral, mas não sabemos se ele terá condições”.

foto: ShutterStock

Todavia, Decio explana que as MPs trazem um limite máximo de atuação e que ainda não se sabe como as empresas estarão para receber os trabalhadores depois

“As crises que passamos foram econômicas e assolaram o país, mas elas foram crescendo então tivemos mais tempo e cautela para saber lidar com elas. Elas não vieram de forma tão abrupta, como essa.”

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Vida a.c. e d.c.: Antes e Depois do Coronavírus por Isabella Grocelli e Camila Rodrigues

Isolamento imposto pelo coronavírus afeta não apenas nossa maneira de viver, como também influencia mudanças em comportamentos e valores da sociedade

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queles que estão lendo ouvirão muitas vezes que o mundo vai mudar, que não será o mesmo depois da pandemia. É verdade, o mundo não será o mesmo, como nunca foi o mesmo desde que existe. Talvez, com a pandemia, ele apenas mude de maneiras mais nítidas que em outros tempos”. Vivemos em um mundo que passa por constantes evoluções e mudanças. Então por que as transformações que vivemos nesse momento de uma pandemia nos assustam? O que causou essa mudança na reação das pessoas em frente à mudança? Indaga o professor e palestrante Clóvis de Barros Filho. São noites mal dormidas, aumento do apetite, discussões com familiares, crises de ansiedade e depressão, dificuldades em se concentrar no trabalho. Seria tudo isso causado apenas pelo medo do coronavírus, ou seria a pandemia o ponto de ruptura de um antigo estilo de vida? Clóvis enxerga nesse momento, “muito atípico e particular”, uma oportunidade de se distanciar, avaliar e colocar em xeque quais eram os grandes valores que moviam a vida até então. “É possível, através dessa nova experiência, identificar um dispêndio de energia exagerado para manter um padrão de consumo que talvez seja entendido nesse momento como exagerado, ou fútil ou indevido. No lugar da ratificação dos valores, haja talvez uma retificação dos valores”, analisa o professor doutor e livre docente pela ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo). Para o professor doutor, a cobrança que muitos se fazem nesse momento é incorreta, pois os critérios e padrões usados para comparar a produtividade – ou falta dela – é de tempos vividos até antes à pandemia. “É claro que a vida avaliada a partir desses critérios parecerá uma vida menos intensa, menos profícua, menos rentável, menos eficiente. Como estamos condicionados a superação e a bater metas, evidentemente qualquer redução parece um fracasso. Enquanto não tivermos condição e lucidez para avaliar

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foto:Divulgacao

Mudanças Comportamentais

“Enquanto não tivermos condição e lucidez para avaliar a nova vida a partir de novas réguas, certamente sofreremos” Clóvis Barros Filho

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Mudanças Comportamentais a nova vida a partir de novas réguas, certamente sofreremos”, reflete. Já o outro lado dessa impensada moeda é a valorização de experiências. Momentos de conhecimento de si, dos próprios afetos, aprendizados, inclinações e sensações podem se tornar prioridade em uma nova sociedade. “A oportunidade também de ter experiências que seriam impensáveis em época de labor normal e que são, eu diria, muito mais ligadas ao ócio que ao negócio, que enriquecem a alma ao invés do bolso”, diz. Clóvis, por exemplo, se viu durante o período de isolamento social reforçando convicções como o gosto pela simplicidade. Para o homem de 53 anos, os últimos meses lhe confirmaram que os desejos mais nobres devem ser pelas coisas simples, intensificando uma tendência própria de desapego pelo que é de distinção e status. Com a tendência de desprendimento pelo luxo, ele pôde se ver também disposto a ganhar menos, aceitar uma vida mais singela e “menos escravizada pelas ambições econômicas”. Além disso, esse período lhe apresentou uma nova paixão: a narrativa oral. O comunicador lançou o podcast Inédita Pamonha como um projeto pessoal durante a quarentena, mas a data de encerramento já não existe mais. “Gostei tanto que não tem prazo para acabar, curti e pretendo continuar fazendo”, confessa. Apesar de Clóvis ter lançado uma maneira própria de se comunicar, informando e alegrando o público, quando o assunto são as mídias tradicionais, ele reconhece o sentimento entristecedor no cotidiano informativo. Porém, reforça a importância do conhecimento em um momento tão delicado. “O conhecimento a um país, um coletivo e a gravidade da situação que atinge pessoas que pertencem a esse mesmo coletivo quase determina um poder cívico de informação no sentido de saber o que está acontecendo com pessoas que participam do mesmo tecido social que nós, que estão sofrendo, morrendo”, afirma.

Tecnologia e Inovação são Protagonistas E não é apenas na facilidade de informar que a tecnologia comprova sua importância. No cenário atual, ela é representada por voluntários que usam impressoras 3D para criar matérias de proteção para profissionais de saúde, vídeos ensinando pessoas a costurarem suas máscaras e aplicativos de meditação para ajudar no controle das angústias durante a pandemia. E ainda mais importante, como diz Cristiano Kruel, da StarSe, é o protagonismo que ela exerce no combate à doença. Entre os exemplos do head de inovação estão uma startup canadense chamada Blue Dot, que lançou um dos primeiros alertas da COVID-19 e a Butterfly IQ, que desenvolveu um dispositivo portátil de ultra-sonografia

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que acelera o número de diagnósticos diversos. “COVID19 é um problema inesperado e inédito e o mindset e as ferramentas antigas tendem a ser ineficazes. Somente a inovação é capaz de nos ajudar”. A StartSe é uma escola de (novos) negócios e nos últimos anos, segundo Kruel, a empresa já vinha conversando com empreendedores, empresários, executivos e gestores sobre a necessidade de “reaprender a fazer negócios”. “Antes da crise, todos percebíamos que as mudanças estavam aceleradas, mas o que aconteceu parece ter sido um ‘salto quântico dissimulado’, num instante fomos obrigados a mudar”. Para Cristiano, quem não sabia que existia uma alternativa, hoje sabe que existe. Quem sabia e não queria mudar, hoje está tentando mudar. Quem sabia e fazia de conta que não sabia, hoje está encurralado. Ele ressalta ainda, que a grande mudança de comportamento das pessoas ainda não foi percebida, mas tende a ser imensa. Devido ao isolamento social, as compras on-line foram uma boa alternativa para as pessoas manterem o consumo dos produtos que já estavam acostumadas a comprar ou até mesmo consumir novos produtos, especialmente aqueles que se viram obrigados a comprar artigos para escritório demandado pelo trabalho home office. Segundo Kruel, há dois aprendizados para as empresas sobre o e-commerce: “(1) Mais pessoas passaram a adotar esta prática e possivelmente vão manter este hábito pós-crise. (2) Talvez a melhor estratégia não é discutir se você deve ser uma loja física ou loja on-line; o que interessa mesmo é ‘ser obcecado pelo cliente’. Os modelos de negócios que vão perdurar são aqueles que se definem pelo cliente e não pelo formato operacional do negócio. Se definir hoje pelo ‘o que’ você faz é um limitador estratégico e a maneira de lutar contra isso é se definir por “por que” você faz. É sutil, mas isso muda tudo e faz muitas empresas criarem soluções incríveis ”, avalia. Para Cristiano, a tecnologia também amplia as possibilidades para a sociedade. Um exemplo são as visitas on-line ao Museu do Louvre, que, segundo ele, saltaram de 40.000 para 400.000. “A experiência humana completa nunca será totalmente substituída e, realmente, não tem por quê. Entretanto, as pessoas vão entender os diversos outros benefícios destas outras modalidades”.

Emoções x Dinheiro: quem ganha? Vera Rita de Mello Ferreira, doutora em psicologia social pela PUC de São Paulo, com tese em psicologia econômica, é categórica. “A gente não se deixa levar pelas emoções quando falamos de dinheiro. As emoções que mandam em nós o tempo todo”. Antes mesmo de existir a razão no ser humano, as emoções e instintos já faziam parte das pessoas, tornando a razão precária e sujeita a cair quando as emoções tomam conta. E quando dinheiro é incluído na equação, ele se


Mudanças Comportamentais

“COVID-19 é um problema inesperado e inédito e o mindset e as ferramentas antigas tendem a ser ineficazes. Somente a inovação é capaz de nos ajudar”.

Cristiano Kruel – foto:Divulgacao

Cristiano Kruel

transforma em uma extensão da nossa personalidade. Cada pessoa possui uma personalidade atrelada ao dinheiro, desde os que amam, os que o veem como uma fonte de conflito e até os que o enxergam como algo inalcançável – o que, segundo Vera, é uma realidade para muitos. Portanto, as emoções terão algum peso nessa relação, mesmo que pequeno. “O dinheiro serve como veículo para expressar. Em especial, podemos citar o poder, segurança, conforto e outros mais que estão associadas a dinheiro. Quando falta, fica mais complicado, porque serve como veículo para frustações, angustias, ansiedade e medo, coisas que acompanham a falta do dinheiro”, explana. Quando falamos do cenário atual, de perdas de empregos, investimentos e projetos, todos estão perdendo algo. E, segundo a psicóloga econômica, graças à aversão à perda, as pessoas acabam abraçando o risco. “Quando temos a possibilidade de um ganho certo, todo mundo prefere ‘um pássaro na mão do que dois voando’, como diz o ditado popular. Em um cenário de perda certa, ou está com medo, aí vai ter aversão à perda e um apetite por risco maior do que em circunstâncias normais. Ou seja, as pessoas estão dispostas a correr mais riscos”, avalia Vera Rita. A falta de informações e a incerteza do futuro também podem influenciar decisões equivocadas, como o comportamento de manada. Vera Rita explica que por não saber o

que está acontecendo, a pessoa se sente mais desesperada e tenta imitar o que imagina que os outros estão fazendo, desconhecendo a probabilidade dessa ação ser errônea. Portanto, para tomar uma decisão racional, a doutora afirma que as alternativas devem sempre ser analisadas com mais calma e estar embasada com as emoções e que, caso seja necessário, deve ser buscada a ajuda de um especialista. “Cuidado com ideias mirabolantes que possam surgir. Se não for cuidadosamente testada antes podem fazer que as pessoas saiam de uma situação ruim, para uma pior. É preciso analisar com cautela todas as opções e ver qual é a mais viável”, alerta. No ponto de vista de Vera, os vulneráveis são os que mais sofrerão durante a pandemia, “pois são os primeiros a sofrerem as consequências e os últimos a se reerguerem – caso isso aconteça”. Por isso, ela espera que o governo cesse o envio de mensagens contraditórias e monte uma estrutura sólida para ajudar a população mais carente. “O ideal é que qualquer governo faça política pública a partir de evidências científicas. Não pode ser na base do achismo e no sucesso das redes sociais. O governo precisa tomar decisões assertivas para conter os malefícios dessa pandemia, dando auxílio para as pessoas que mais precisam e que estão desassistidas nesse momento de crise”, afirma Vera.

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Mudanças Comportamentais

Um Futuro de Novos Comportamentos Assim como Clóvis, a doutora em psicologia econômia Vera Rita prevê que muitos perceberão que podem viver com um consumo menos supérfluo. Ela também diz torcer para que haja uma valorização financeira, já que quem tem uma reserva de emergência, nesse momento, está passando pela crise de um jeito e quem não tem está passando de outro. “Tomara que haja dinheiro depois da crise para que todos consigam se organizar para guardar dinheiro regularmente”. Além disso, a vivência apenas dentro de casa em isolamento social e a responsabilização por uma série de afazeres domésticos também pode deixar ensinamentos positivos, como uma reavaliação das relações com essas tarefas – possivelmente incentivando uma valorização das pessoas que desenvolvem essas ações. “A pandemia pode deixar marcas, mas não necessariamente ruins. A dificuldade geral é quando tudo isso deixar de ser agudo. É possível que as pessoas deem outros significados a tudo isso, com o intuito de distorcer tudo o que aconteceu” avalia Vera.

Vera Rita de Mello Ferreira

existência menos asfixiada, menos submersa ao clamor da eficiência, do lucro e, portanto, uma vida mais acostumada à reflexão sobre si mesmo, sobre o que é de fato valor existencial, do que é bom para si”, reflete. Já quando falamos das próximas gerações, o professor doutor vê esse momento como uma experiência educativa e preparatória para o futuro. “Eu, por exemplo, nunca vivi nada semelhante. Mas há quem diga que, por situação científica que ignoro, isso pode voltar a acontecer com mais frequência. Os mais jovens terão tido a oportunidade de uma educação para isso e penso que isso é um aspecto muito positivo”, conclui.

foto: ShutterStock

Para Clóvis, o futuro próximo será de um grande hibridismo entre os que buscam retomar o que acontecia antes e os que terão enxergado um vislumbre de um novo tipo de vida. “Talvez haja ganho de sabedoria de alguns. Uma

“Cuidado com ideias mirabolantes que possam surgir. Se não for cuidadosamente testada antes podem fazer que as pessoas saiam de uma situação ruim, para uma pior”

“A gente não se deixa levar pelas emoções quando falamos de dinheiro. As emoções que mandam em nós o tempo todo” Vera Rita de Mello Ferreira

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Sistemas Financeiros

O que esperar dos Sistemas Financeiros durante e após o coronavírus? por: Isabella Grocelli e Camila Rodrigues

Crise da saúde global suscita questionamentos sobre o sistema financeiro brasileiro, eficiência de medidas emergenciais e relações diplomáticas

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or todo o globo, a COVID-19 tem infectado milhões de pessoas e derrubado economias. Sistemas financeiros sofreram grandes quedas nas bolsas de valores. Durante o mês de março, a Ibovespa, por exemplo, caiu 30% e ativou seis circuit breakers em apenas oito pregões. Esse foi o pior tombo em mais de 20 anos. Quedas histórias também foram registradas em países europeus e nos EUA. Cada choque econômico deixa uma herança de feridas, mas também de mudanças. É inegável que essa nova experiência causada pelo coronavírus trará consequências, mas ainda é cedo para saber exatamente quais. O que analistas acreditam é que este é o momento de instituições e órgãos provarem seu valor por meio de créditos, incentivos e inovação. O Chief Executive Officer (CEO) da Stone, Augusto Lins, vê nesse momento um movimento do empreendedor ajudando o empreendedor. “Eu sei o que os pequenos empreendedores estão passando, porque eu já estive no lugar deles”.

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Augusto Lins

Sistemas Financeiros Augusto Lins – foto:Divulgacao

“Eu sei o que os pequenos empreendedores estão passando, porque eu já estive no lugar deles”

Criada em 2013 visando transformar o mercado de pagamentos no Brasil, a Stone oferece a proposta de digitalizar todas as etapas e simplificar a experiência do pequeno negócio. Na visão de Augusto, as empresas já existentes não tinham inovação, transparência na hora dos pagamentos e atendimento eficaz para solução de problemas dos clientes. O diálogo, que já era realizado com os clientes, foi intensificado durante a pandemia e incerteza econômica. Em seu home office, Augusto relata ter passado entre 30% e 40% do dia conversando com clientes para saber quais soluções práticas e eficazes sanariam as dores deles. “Temos que deixar claro que a travessia não é fácil, mas estamos querendo passar para os nossos clientes que ela tem começo, meio e fim. Vamos passar por tudo isso, mas temos que nos reinventar”, afirma. Aliás, Augusto não enxerga esse momento como um home office, mas sim um home life, já que as mudanças afetaram todo o cotidiano da sociedade e apresentaram um novo jeito de viver. Após uma primeira semana caótica de isolamento social, Augusto aplicou na sua vida pessoal o empreendedorismo, reformulando o dia, separando um espaço próprio para o trabalho e desenvolvendo tarefas que não fizessem parte do seu cotidiano. “Montei o meu planejamento diário com trabalho e outras atribuições. Usar esse momento para nos reinventar como pessoa, profissional e cidadão, diante desses novos hábitos que estamos sendo obrigados a passar”. Um dos principais propósitos do planejamento é a calma. Com ela, segundo o CEO, você retoma a inteligência e volta a ter boas ideias para solucionar adversidades. Ideias como links de cobrança, que a empresa criou para ajudar os empresários que precisavam receber, mas, por conta do isolamento, estavam impossibilitados. A Stone também investiu R$ 30 milhões em incentivos aos clientes com dificuldades financeiras e R$ 100 milhões em microcrédito para as empresas varejistas, além de isenção de mensalidade, ferramentas de vendas on-line e redução nas taxas de antecipação. “Para aqueles pequenos empresários, criamos uma plataforma em que é possível colocar seus produtos para a

“Temos que deixar claro que a travessia não é fácil, mas estamos querendo passar para os nossos clientes que ela tem começo, meio e fim. Vamos passar por tudo isso, mas temos que nos reinventar” Augusto Lins

venda on-line. Precisamos incentivar o pequeno negócio a ficar vivo, já que eles são os que vão mais sofrer nesse período, pois têm pouco capital de giro e pouca formação de gestão”, comenta Augusto.

Renegociação de Empréstimos

Entre 16 de março e 17 de abril, o primeiro mês da crise, os cinco maiores bancos do país – Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa – emprestaram R$ 265,7 bilhões, segundo levantamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

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Sistemas Financeiros As novas operações de crédito somaram R$ 177 bilhões enquanto a soma das parcelas já suspensas de contratos com operações em dia totaliza R$ 22,2 bilhões. De acordo com a Federação, esses valores trazem alívio financeiro imediato para empresas e pessoas físicas, que passaram a ter uma carência entre 60 a 180 dias para pagar suas prestações, conforme o banco e a operação. Além disso, foram feitas renovações de operações no total de R$ 66,5 bilhões. Já as renegociações de 3,8 milhões de contratos somam um saldo devedor total de R$ 230,6 bilhões. De acordo com Isaac Sidney, presidente da Febraban, durante esse período as instituições financeiras, juntamente com o Governo Federal – Banco Central, Tesouro e BNDES - viabilizaram a disponibilização de uma linha emergencial de R$ 40 bilhões voltada para o financiamento das folhas de pagamento das empresas com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões. Estima-se que a medida irá beneficiar até 1,4 milhão de empresas e 12,2 milhões de trabalhadores. Esses recursos, segundo a Federação, serão concedidos à taxa fixa de 3,75% ao ano, sem quaisquer spreads adicionais para as empresas ou custos para os empregados. Porém, para as pessoas ou empresas que buscam uma renegociação ou financiamento, é preciso cautela. Thaís Cíntia Cárnio, especialista em Banking, afirma que essas possibilidades são um bom começo, mas que os juros ainda chamam a atenção.

E mesmo com essas novas medidas de financiamentos emergenciais, Thaís acredita que sem a implementação de um programa governamental amplo, sério e contínuo para recuperação das empresas de todos os tamanhos, os números de pedidos de recuperação judicial e falência de empresas crescerão. Mas ela confessa ser uma “realista com viés de alta”, acreditando que serão tomadas mais medidas de saneamento e fomento à economia. “Não porque confio cegamente em nossos representantes, e sim pois a quebradeira generalizada afetaria enormemente a arrecadação de tributos e ampliaria o desemprego, o que seria altamente indesejável para eles e poderia comprometer seus planos de futuro político”. A professora ainda complementa o pensamento frisando que este é um ano de eleições municipais, que poderá ser um bom termômetro do sentimento geral da população. Mas já adianta que a equipe econômica do Governo Federal entendeu rapidamente que não há tempo a perder. Joseph Stiglitz, ganhador do prêmio Nobel de Economia, afirma que o caminho do investimento para recuperação econômica é apontado como a melhor alternativa em face de grandes crises, como a que o mundo passa nesse

Auxílio Emergencial – foto:Divulgacao

“É um bom começo, até porque está claro que haverá aumento da inadimplência, e essas medidas podem dimi-

nuir esse incremento e fidelizar o cliente. É importante frisar que os juros dos empréstimos bancários ainda são altíssimos. Para que tenhamos um sistema financeiro cooperativo e uma economia saudável eles necessitam baixar e muito”, explica a Thaís, que também é professora de Direito das Relações Econômicas Internacionais, Direito Empresarial e Mercado Financeiro da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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Sede do BNDS - Brasília - DF – foto:Divulgacao

Sistemas Financeiros

momento. Olhando para o Brasil, Thaís afirma que este é o momento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social justificar sua existência. “Creio que o caminho mais adequado seja o direcionamento de recursos públicos para variados segmentos econômicos, principalmente para pequenas e médias empresas, que empregam a maior parte dos trabalhadores com carteira assinada e apresentam menor turnover”.

Cuidados com os mais afetados Em abril, o Governo Federal anunciou o Auxílio Emergencial destinado a trabalhadores informais, Microempreendedores Individuais (MEI), autônomos e desempregados. O benefício, no valor de R$ 600, será pago até junho para até duas pessoas da mesma família – as famílias em que a mulher seja a única responsável pelas despesas da casa, o valor pago mensalmente será de R$ 1.200. De acordo com a Caixa, desde o dia 9 de abril, quando teve início o pagamento do Auxílio Emergencial, até 30 de abril, 50 milhões de pessoas tiveram o benefício creditado pela instituição, totalizando R$ 35,5 bilhões. Thaís vê as medidas emergenciais para o enfrentamento do estado de calamidade tomadas pelo Governo Federal, como linhas de crédito, flexibilização trabalhista e o Auxílio Emergencial como um passo certo em uma ainda longa caminhada. Para ela, é essencial que o fluxo de

“Mesmo nos Estados Unidos, nascido em berço liberal, foi necessária a adoção de várias políticas assistenciais para a regeneração econômica e social pós-crises” Thaís Cíntia Cárnio

medidas de reabilitação econômica continue com muita intensidade ou os efeitos não apenas serão desastrosos, como sentidos ainda neste ano. “A escola liberal, que inspira a equipe de Paulo Guedes, prega o Estado mínimo, e não o Estado indiferente ou ausente. Mesmo nos Estados Unidos, nascido em berço liberal, foi necessária a adoção de várias políticas assistenciais para a regeneração econômica e social pós-crises. Há hora certa para esse tipo de política”, reflete.

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Sistemas Financeiros

Relações com o exterior Neste atual momento de pandemia, com corridas para insumos, Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e respiradores, muitos se preocupam com as relações entre o Brasil e seus parceiros comerciais. Thaís acredita que, pelo cenário ser mundial, todos estão conscientes de que o problema ultrapassa fronteiras. Portanto, enquanto o Governo Federal realize ações governamentais destinadas ao combate da COVID-19, ela não vê motivos para que as relações sejam afetadas.

Entre os parceiros comercias está a China, berço do coronavírus e nação responsável por aproximadamente 60% do superávit da balança comercial brasileira em 2019. Com a interrupção de linhas de produção e a diminuição de pessoas em centros de compras por causa do isolamento social, a especialista em Banking prevê um efeito cascata, com menos produção, menos importação de insumos, de matérias-primas e assim por diante. “É muito provável que esse decréscimo afete, principalmente, o agronegócio, pois o Brasil exporta muita soja, carne bovina e de frango, açúcar, dentre outras commodities”.

foto: FreePik

Mas alerta que esse é um momento de extremo cuidado, especialmente na comunicação entre países. “O que devemos evitar é que pessoas que façam parte do governo, ou sejam próximas dele, façam declarações preconceituosas e

simplistas sobre outras nações e seus governantes, pois isso sim pode causar abalo nas relações internacionais”.

Decisões racionais durante momentos de pânico No mercado de capitais, foi possível ver muito pânico diante das incertezas que ainda pairam no ar. Então como tomar decisões racionais sobre dinheiro em um momento de movimentos irracionais? O que evitar em um momento de incerteza? Segundo a professora, não há uma resposta única. O investidor deve basear suas escolhas considerando se precisará ou não dos recursos que pretende aplicar a curto e médio prazo. Caso a resposta seja afirmativa, a melhor alternativa é a renda fixa pois, apesar dos rendimentos não serem expressivos, o risco de perda é mínimo.

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“Por outro lado, caso só necessite de capital a longo prazo, é hora de ir às compras no mercado de ações. Há ótimas opções a preços muito atraentes”, sugere. Agora os investidores que já adquiriram ações antes da crise e sua carteira perdeu valor são aconselhados a não vender os ativos nesse momento, pois essa ação materializaria a perda. Se possível, mantenha as ações até uma mudança de cenário e recuperação dos valores. “Enquanto isso, manter a calma e acreditar que a crise vai passar, mesmo que demore mais do que gostaríamos”, conclui.



#LookdoDia

Cuidados com a imagem profissional digital Amanda Salomão Consultora de Moda, Imagem e Estilo. @amandasalomao Mais informações de contato: abeeon.com.br/ amanda-salomao

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ocê já parou para pensar que nos próximos meses muitos dos seus encontros profissionais serão digitais? Provavelmente, esse será um dos novos hábitos que muitas empresas irão adotar após a pandemia da COVID-19, o novo coronavírus. Sendo assim, os cuidados com a sua imagem digital serão indispensáveis para você passar aquela mensagem de empreendedor(a) exemplar. Então vamos lá? Separei algumas dicas infalíveis para você arrasar com a imagem nesse período de isolamento social. Inicialmente, olhe com carinho as fotos das suas mídias sociais. Verificando se a sua foto do WhatsApp, Instagram, LinkedIn, Facebook e outras plataformas estão de acordo com a impressão que você gostaria de passar. Não é recomendável foto em trajes de banho ou no barzinho com a turma. Tente evitar também imagens que não valorizem você, como, por exemplo, fotos com cachorro, crianças ou familiares. Pense na sua foto do perfil como uma imagem 3x4, na qual você deve estar em evidência. Vai fazer videoconferência com o cliente? Verifique, principalmente, se a sua parte de cima está ok. Cheque o tamanho do decote para não se constranger diante da câmera e o amassado do tecido. Se você estiver trabalhando de casa nesse período, confira o cabelo, use um acessório para disfarçar fios fora do lugar. No caso dos homens, passem um gel para disfarçar o cabelo amassado.

Para complementar o cuidado com o visual, passe uma maquiagem de leve, pois ninguém merece aparecer na videoconferência com cara de quem acabou de acordar. E mesmo estando em videoconferência, preste atenção nas partes de baixo do seu look. Sim, elas podem ser mais confortáveis, porém, evite peças curtas (você pode precisar se levantar e ser pego(a) de surpresa, evite também as muito modernas, com rasgos e tecidos muito justos. A dica de ouro para você arrasar na sua imagem digital é pensar sempre no público alvo do seu negócio, ou seja, quem está vendo a sua imagem para contratar os seus serviços e comprar os seus produtos? Por exemplo, se você atuar em um cenário mais formal, vale a pena tirar o terninho do armário, pôr o cabelo para trás e fazer aquela cara de pessoa elegante e séria. Já se o seu público for mais descontraído e o seu nicho de atuação tiver um nível de formalidade leve, as cores mais vibrantes são bem-vindas e produções mais modernas também. Lembrando que vale a pena ficar de olho também no que você está colocando à sua volta nessas imagens. Verifique se a cama bagunçada não está aparecendo ao fundo das suas reuniões on-line e tente escolher um ambiente clean também para fundo de fotos. Fique de olho na sua imagem digital, daqui para frente ela será muito importante para você!

Um beijo, boas produções e bons negócios!

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#VamosInvestir

Alguns motivos para manter a calma em tempos de incerteza O

cenário que vivemos atualmente é, de fato, uma situação nunca vista na história, pela sua característica e velocidade de disseminação, a COVID-19 trouxe uma deterioração do cenário econômico global muito forte e aprofundada. No mercado financeiro, o apetite por risco dos investidores teve uma queda pronunciada e isso afetou fortemente todos os ativos brasileiros, com impactos sobre a nossa moeda e sobre as nossas commodities. Logo, isso vem trazendo um tom bastante pessimista para o mercado, mas algumas medidas do Banco Central podem de fato trazer algum alívio para aqueles que estão sendo mais afetados. O choque econômico, assim como em outros países, ocorre por ondas. Na primeira onda, temos a restrição de movimentação, fechamento de locais de trabalho, escolas e serviços não essenciais. E todas as consequências deste ato que, apesar de necessário, gera ainda mais um clima de preocupação em investidores e na população em geral.

Como já sabemos que agora haverá uma busca por liquidez, o Banco Central está se disponibilizando a facilitar e garantir através de debêntures a liquidez de uma boa parte deste crédito, e como ele não pode realizar esta operação diretamente, os procedimentos serão distribuídos através dos bancos que já possuem um profundo know-how desta intervenção. Assim, teremos um pouco menos de incertezas à frente, facilitando expressivamente o acesso ao crédito. Mesmo que não haja uma operação de compra de dívidas, há uma expressiva tentativa do Banco Central em manter uma linha de crédito facilitada para que, principalmente os pequenos e médios empresários, possam ter garantias mínimas, conservando ainda mais uma relativa segurança do mercado.

A segunda onda, que estamos começando a viver agora, é a redução de demanda e postergação de decisões, ou seja, uma impactante redução de atividades econômicas. E é neste momento que temos o efeito indireto da redução de renda e algumas perdas de valores financeiros. Então, passamos a ter uma busca no mercado por liquidez e aqui a incerteza gera também uma considerável elevação de custo no crédito.

Quanto à recuperação, a expectativa é que ela deve ser um pouco mais lenta do que as crises que já tivemos, compreendendo que o setor mais afetado agora é justamente o de serviços, que responde por 63% do PIB nacional. Este impacto, infelizmente, é mais difícil de ser recuperado pela característica dos serviços que, diferente dos produtos, não possuem compensação após a recuperação, ou seja, uma pessoa que precisa cortar o cabelo hoje não irá cortar o cabelo três vezes na mesma semana quando o quadro de isolamento acabar. Por isso que, diferente da indústria, não deverá ocorrer um consumo compensatório ao final da crise, mesmo assim haverá uma melhora espontânea.

Como todos estes fatos já ocorreram e já foram mapeados em outros países, foi possível ao Banco Central ter uma visão dos fatos, compreender tudo que está acontecendo no mundo e trazer algumas soluções que realmente podem significar um novo fôlego para o mercado.

Uma parte positiva sobre o mercado de serviços é o fato de muitos deles terem a capacidade de serem executados de forma remota. Estes tendem a sofrer um impacto menor durante a crise e ainda devem ter igualmente um aumento de suas atividades após o fim do período de isolamento.

Francisco Perez Head de investimentos da Glebba, uma fintech que capta investimentos imobiliários via crowdfunding. Além disso, é Matemático e Engenheiro Eletricista, com pós-graduação em Negócios pela EAESP-FGV e Finanças Corporativas pela FDC. Gestor de recursos pela CVM, possui mais de 20 anos de experiência em gestão de investimentos e desenvolvimento de novos negócios como diretor da Oi, Banco Alfa e da Inseed Investimentos.

Mais informações de contato: https://glebba.com.br

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#Etiqueta&Negócios

A Etiqueta da Pandemia por Andréa Staciarini

Andréa Staciarini

Consultora de Etiqueta @mesaetiqueta Mais informações de contato: mesaetiqueta.com.br

Tudo mudou. O mundo apenas parece o mesmo, mas não é. Sob o céu azul e ensolarado do Brasil, uma ameaça constante e silenciosa paira. Estamos nos reinventando à velocidade da luz, para manter nossa cultura e sociedade parecidas com o que conhecemos. Nesse cenário, quais são as condutas esperadas e os comportamentos impecáveis nas corporações e no trabalho?

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e repente o mundo foi obrigado a isolar-se, as pessoas foram separadas e a forma de existir precisou ser reinventada...como no famoso e romântico poema do brasileiro Vinicius de Moraes, Soneto da Separação: “De repente não mais que de repente (...) Fez-se do amigo próximo, distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. ” Diante de abruptas mudanças, as fragilidades humanas são expostas com mais veemência e os sentimentos de insegurança, medo e até hostilidade brotam com facilidade, hora em que, a cultura, a educação e a racionalidade se fazem urgentes para acalmar o bicho instintivo que nos habita. E é nesse aspecto que a etiqueta, como forma de molde do comportamento humano, nos vem a ser um útil instrumento de contenção dos instintos primitivos. Isto posto, temos visto um show de horrores em todos os âmbitos da vida (na política, nas redes sociais, entre familiares, artistas... enfim...) que poderia ser evitado com regras simples da boa educação, da etiqueta e da gentileza. Em tempos de “lives”, vídeo conferências e declarações nas mídias, tanta divergência poderia ser evitada com base no respeito e empatia ao próximo.

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foto: Pexels

#Etiqueta&Negócios

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ensando nisso, listamos as premissas básicas para o bom relacionamento em tempos desafiadores como os que vivemos, afinal, em tempos de crise ou evoluímos, ou morremos. Respeite a opinião alheia: Seja na família, na empresa ou na vizinhança, respeite posicionamentos políticos ou conceitos divergentes dos seus. A diferença é importante para a manutenção da liberdade e a tolerância é um dos cernes da etiqueta. Mantenha-se positivo: Cuide da sua aparência pessoal, faça seu trabalho home office com disciplina, mantenha suas vídeo conferências sem interferência familiar e evite aparecer alimentando-se, arrumando-se ou com ar de desleixo. Proteja-se físico e mentalmente: Manter-se saudável requer o esforço de seguir as políticas públicas de saúde, como usar máscara, lavar as mãos, evitar aglomerações e contato físico, mas além disso, é preciso manter o equilíbrio interno, o bom tratamento com as pessoas e a higiene mental, não vociferando xingamentos e alarmismo.

Seja ético em seu comportamento: Querer, dever e poder são premissas deontológicas importantes que nos fazem ter empatia pelo próximo. Fazer pequenos sacrifícios pessoais em prol da coletividade. Por exemplo, fazer uma festa nesse momento de pandemia é correto? Você até pode querer, entretanto não deve, pois coloca em risco a saúde da coletividade. Por isso a conclusão para este dilema ético é NÃO. Você não pode colocar sua vontade acima da segurança dos outros. Ajude em todos os sentidos que puder, sendo apoio para amigos, familiares e idosos isolados. Doando o que pode ou simplesmente prestando um serviço para alguém que necessite. Ajude a não propagar nem o vírus, nem pânico ou fake news. Devemos isso à sociedade em que vivemos e nas belas palavras do poetinha Vinicius de Moraes, para encerrar, “A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.”

Até a próxima.

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#Crowdfunding

Startups: As novas Small Caps Paulo Deitos Co-fundador da CapTable e da Cap Rate (investimentos coletivos no mercado imobiliário) e diretor da ABFintechs.

@paulodeitos Mais informações de contato: https://www.captable.com.br/

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nvestir em startups talvez seja algo novo para você, mas e se eu te disser que o investimento se assemelha muito a um tipo de investimento realizado na Bolsa de Valores?! Naturalmente, quando se pensa na B3, pensamos em Vale, Petrobras e outras gigantes, mas é válido destacar que há outras ações menos conhecidas e que podem propiciar bons lucros. São as chamadas Small Caps. As empresas na bolsa são divididas por sua capitalização, sendo as Small Caps as ações de empresas de baixa capitalização, também conhecidas como ações de segunda ou terceira linha. Algumas ações também são consideradas Small Caps por não terem a mesma liquidez de grandes empresas da Bolsa. Apesar dessas características, as Small Caps são atrativas pois podem oferecer retornos mais altos, mesmo que para isso ofereçam risco maior. Isso ocorre pelo fato destes ativos terem capitalização de mercado inferior, possuindo maior potencial de crescimento e valorização que empresas Large Caps. Outro fator que gera potencial de lucro maior nas Small Caps é o seu maior potencial de se tornar alvo de aquisição por empresas maiores. Quando ocorre uma aquisição, é comum que ocorra forte alta no preço das ações, já que a união das empresas gera ganhos de escala nas operações da empresa e potencializa seu poder de mercado. Mas afinal, o que as Small Caps têm a ver com startups? Ocorre que muitas das características se repetem nos dois investimentos. Assim como nas Small Caps, investir em startups gera maior probabilidade de altos retornos, já que startups têm grande potencial de crescimento e também há a chance da empresa ser comprada por uma maior. Os papéis das startups possuem baixa liquidez, da mesma forma que as Small Caps, mas as semelhanças não param por aí. Os riscos dos dois tipos de investimento são muito semelhantes e os cuidados necessários para fazer bom negócio, também. É importante entender bem o momento da empresa e o setor em que ela está inserida. A qualidade da comunicação da companhia com seus acionistas é imprescindível. Outro fator importante é analisar a saúde econômica, qualidade da gestão e a capacidade de crescimento da companhia. Na CapTable, fazemos boa parte desse trabalho de análise das startups, com intenção de proporcionar as melhores oportunidades de investimento em startups, de forma desburocratizada e digital. Nascemos com a intenção de que pessoas comuns possam ter a oportunidade de aplicar seus recursos em projetos que julguem ser promissores e sustentáveis no longo prazo, visando participações interessantes em seus resultados.

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Faça Acontecer

Todos ao mesmo tempo Thiago Franco

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m mendigo me pediu uma moeda no farol. Não disse para que e, neste momento com a crise da COVID-19, acho que nem precisa. Estendi a mão com a moeda para que ele a pegasse, já pronto para desejar “Boa sorte!”, como sempre faço. Mas ele não pegou a moeda. Estendeu a mão aberta embaixo da minha para que eu a soltasse sem o risco de tocá-lo. O “Boa sorte!” travou na minha garganta e apenas acenei com a cabeça. “Ele está com nojo de mim?”, pensei. Não, medo, porque não sabe o que pode acontecer. Se você teve vários prejuízos e não sabe o que fazer, não se sinta sozinho, incerteza é o tom em que todos vivemos hoje. Além do problema em si, ela abre espaço para vários sentimentos perigosos: medo, raiva, ansiedade, pânico e outros que minam nossa capacidade de pensar claramente. Faz diferença tocar minha mão se a moeda que ele pegou já estava nela? Provavelmente não, mas naquele momento ele não sabia exatamente o que fazer, só sabia que precisava sobreviver. Quando ativamos o “modo de sobrevivência” nosso cérebro cria um foco bem mais estreito, limitando-se à ameaça imediata. Nos ajuda a resolver o que é mais urgente, mas ao mesmo tempo nos torna mais reativos, impulsivos e contraproducentes. Nesse estado a razão não prevalece.

Especialista em liderança e CEO da Turnus, startup de gestão de escalas de trabalho. Atua como coach, professor e consultor, desenvolvendo pessoas para pensar de maneira mais estratégica e se conectar melhor com outras pessoas.

@thiagofranco.coach Mais informações de contato: abeeon.com.br/ Thiago-Franco

Para tomar decisões mais complexas precisamos de toda a carga cognitiva bloqueada pelo “modo de sobrevivência”. Mais do que nunca, as habilidades de desarmar esse modo são vitais e você não deve exitar em usar aquilo que funciona para você. Meditação, exercícios, leitura, café, não importa o método, o importante é conseguir se manter calmo e tomar as decisões mais assertivas dentro do possível. O que há de comum entre todas as soluções? Elas são ações. É muito improvável que você se acalme simplesmente pensando a respeito; na verdade, é mais provável que sua traiçoeira imaginação te afunde criando em sua mente o pior cenário possível. Ao invés de “Quando a vida volta ao normal?” ou “Vou recuperar o que perdi?” tente “Quando a certeza se sustentou por muito tempo?”. Provavelmente vai chegar na mesma conclusão que o escritor Walt Whitman: O futuro não é mais incerto do que o presente. Aceite o que não é possível fazer neste momento e foque onde seu poder de influência – suas ações – alcançam e trazem algum resultado significativo: ajude alguém, lave as mãos, tenha paciência. Todos já fomos atingidos pelo infortúnio; a novidade é sermos todos ao mesmo tempo.

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Inovar para Continuar

Papel da Liderança na Gestão de Crises Prof. Leopoldo

Andretto

Graduado e pósgraduado pela FGV, com cursos de especialização na Universidade da Califórnia, San Diego, que possui 16 Prêmios Nobel (dois em Economia), onde é palestrante convidado e coordenador dos cursos de Gestão Estratégica e Inovação para executivos do Brasil. Foi coordenador dos MBAs da FGV Management, sendo atualmente consultor empresarial nas áreas de Estratégia e Gestão de Inovação.

Mais informações de contato: abeeon.com.br/ andretto

Bem-vindo ao “novo normal”

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rovocada pela pandemia, estamos presenciando a maior crise econômica mundial desde a Grande Depressão de 1929, quando os ativos financeiros das empresas e pessoas praticamente derreteram. Os analistas de plantão afirmam que o futuro “não será mais como antigamente” e estaremos assistindo ao que eles chamam de “novo normal”, algo que deverá suceder a 4ª Revolução Industrial. E mais que nunca é tão oportuna a célebre frase de Jack Welch, ex-CEO da GE: “Quando o ritmo de mudança de uma empresa for ultrapassado pelo ritmo de mudança fora dela, o fim está próximo”. A crise, mais cedo ou mais tarde vai passar e ninguém (pessoas e empresas) será mais o mesmo depois dela.

Posicionamento do Líder No atual cenário não existe solução pronta. Além do básico e imprescindível que é ficar de olho no fluxo de caixa, um importante fator para a empresa sair menos arranhada desse momento caótico e surreal, com muita pressão, medo, insegurança e estresse, é a otimização da interação entre líderes, colaboradores, clientes, fornecedores e demais “stakeholders”. Várias dicotomias (aparentemente antagônicas, mas que podem coexistir dependendo do “timing” da empresa) se descortinarão na mente do líder: Digita-

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lização x humanização, simplicidade x complexidade, inovação x conservadorismo e muitas outras. Se Jim Collins (Stanford University) tivesse escrito hoje seu célebre best-seller, “Empresas Feitas para Vencer”, ed. HSM, certamente mudaria o título para “Empresas Feitas para Durar”. Traduzindo, o ambiente atual exige dos líderes pensamento estratégico com visão de longo prazo, o que não é muito comum na maioria do perfil dos gestores brasileiros, fato confirmado por pesquisa da FGV Management junto aos seus ex-alunos de MBAs.

Pensamento Visionário e Estratégico Essas são as principais habilidades necessárias do líder para o enfrentamento da crise e do novo posicionamento após a mesma. Grandes líderes visionários como Lincoln, Roosevelt, Churchill e Mandela não apenas reagiram fortemente às ameaças que confrontavam, mas também olharam para além do horizonte sombrio. A crise não traz oportunidades e sim mudanças que permitem às organizações e pessoas criarem oportunidades. Ou seja, devemos mudar o foco da rotina do hoje para “o que queremos ser amanhã”, sempre com o propósito de aumentar a competividade e a longevidade da empresa.


Inovar para Continuar

Estratégias Sugeridas para o Líder a) Inteligência Emocional e “SWOT”: Precedendo todas, o Equilíbrio Emocional é fundamental para o líder “ler” bem o cenário atual e suas implicações atuais e futuras, com o objetivo de sair da crise com a empresa mais forte e mais resiliente que antes. A boa notícia é que a Inteligência Emocional pode ser desenvolvida ou melhorada. Essa leitura deve ser feita simultaneamente com a matriz “SWOT” (forças e fraquezas, oportunidades e ameaças) da empresa para melhor posicioná-la no ambiente de negócios. b) Conexão: Aumentar a conexão com os colaboradores procurando identificar suas reações, lembrando que “uma corrente é tão forte como seu elo mais fraco”. O feedback assume papel importante nessa conexão. c) Antenado: Atenção total ao mundo dos negócios através do “benchmarking” e ao comportamento do consumidor, que está mudando exponencialmente, especialmente a geração “Millennials”, que deve ter atenção especial. O compartilhamento de informações cresce exponencialmente e com ele o processo de desenvolvimento de mudanças e de inovações, regra de ouro das empresas do Vale do Silício. d) Orientação para pessoas: Ram Charan, um dos gurus mundiais preferidos dos empresários, afirma: “Você sabe se um líder é de fato orientado para pessoas olhando sua agenda e vendo quanto tempo ele investe em conversar com pessoas (liderados e clientes) e não apenas em processos e metas” e) Visão de oportunidades: Muitas empresas líderes nos seus segmentos praticamente sumiram porque suas lideranças não entenderam a nova dinâmica dos negócios. Exemplos: Kodak, Nokia, Olivetti, Sears, dentre muitas que sofreram de “miopia de mercado”. Ao passo que, em plena crise de 2008, os fundadores das startups Uber e Airbnb perceberam a grande oportunidade de mercado que se descortinava com a utilização, a preços mais competitivos, da capacidade ociosa dos automóveis e das residências. Sem investimento em ativos fixos, hoje possuem a maior frota de automóveis e a maior oferta de quartos do mundo. f) Criação de “Comitê de Crise”: Com colaboradores de vários perfis e hierarquia, devendo ser coordenado pessoalmente pelo líder principal da empresa e reunido com intensa regularidade. g) Energização e Comunicação: Nesse cenário de incertezas cabe ao líder não apenas ter energia positiva como também transmiti-la intensamente aos seus liderados. A

positividade do líder deve ser maior que toda negatividade do cenário. A comunicação assertiva, ampla e transparente gera um ambiente de segurança junto aos colaboradores, contribuindo para “elevar o moral do time”. h) Celebração: Muito comum no Brasil é o fato dos gestores preocuparem-se obsessivamente com a cobrança dos seus subordinados, relegando a celebração para um plano secundário, esquecendo-se que uma das maiores expectativas dos colaboradores é o reconhecimento do seu desempenho, especialmente quando atingem objetivos e metas. Esta atitude forma times pró-ativos e motivados. i) Trabalho remoto: Opção que foi inevitável durante a crise, o “home office” veio para ficar devido aos seus inúmeros benefícios. Empresas como a XP Investimentos (uma das maiores corretoras de investimento do Brasil) e muitas outras de vários setores da Economia afirmam que essa mudança provocada pelo isolamento vai se tornar prática permanente, já realizando estudos para reduzir substancialmente suas áreas de escritório físico, gerando importante economia e aumento de produtividade tanto para a empresa como para seus colaboradores. Mesmo antes da atual crise as empresas norte-americanas já se utilizavam em grande escala da prática do trabalho remoto. j) Transformação Digital e Inovação: A crise atual é o empurrão definitivo para as empresas que ainda não se preocuparam com suas transformações digitais, optando pelos vários modelos existentes, desde o e-commerce total até o “Omnichannel”, que é a fusão entre o formato digital e o físico. Certamente existem setores em que a “experiência de compra” possa ser a preferida pelo cliente, mas mesmo neste caso a experiência pode ser enriquecida com o reforço digital pré e pós-venda, contribuindo para maior fidelização do cliente. Empresas inovadoras que já atuavam fortemente no formato digital estão colhendo os frutos mesmo no atual cenário de recessão da Economia. Como é o caso da Amazon, que faturou no primeiro trimestre deste ano US$ 80 bilhões voltando a integrar o seleto grupo das empresas que valem mais de um trilhão de dólares, ao lado da Alphabet (grupo Google), Apple e Microsoft. Jeff Bezzos, fundador da Amazon, dá a receita para o sucesso da empresa e que serve como importante dica para os líderes: “Nós inovamos começando pelo cliente, trabalhando de trás para a frente. Essa é a pedra fundamental da empresa. Inovação não é sobre tecnologia, é sobre servir melhor. Tecnologia é o meio, não o fim”.

Desafio do Líder O líder tem o grande desafio de comandar a adaptação e transformação da empresa para sobreviver e se diferenciar no “novo normal”. Com a certeza de que tudo vai passar e que o futuro da empresa vai depender da rapidez e lucidez de sua leitura das transformações ocorridas que vieram para ficar, e como inserir sua empresa com êxito nesse novo contexto.

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