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EM EVIDÊNCIA NA TV - Jorge Pozzobom

“EU AJO TECNICAMENTE E TENHO ORGULHO DISSO, PORQUE ISSO É A NOVA POLÍTICA”

Jorge Pozzobom, Prefeito de Santa Maria

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Entrevista: Claudio Andrade e Lucio Vaz Edição: Patrícia Poitevin

Os prefeitos sempre falam nesses pilares: Saúde, Educação, Segurança e Infraestrutura. Como está a Saúde em Santa Maria?

Eu conversei com a minha equipe de Saúde sobre o índice de mortalidade, por conta do Covid-19, na proporção de 100 mil habitantes. Santa Maria é o segundo menor índice de mortalidade do estado do Rio Grande do Sul. Se pegar as dez maiores cidades, Santa Maria é o segundo menor índice, quem está em primeiro lugar é Caxias do Sul. Nós tínhamos zero leitos SUS, para o Covid-19. Eu me lembro, em 18 de março, no Palácio Piratini, com o governador Eduardo Leite, onde nós conseguimos os primeiros 20 leitos, dez no Hospital Universitário e dez no Hospital Regional. Nós tive-

mos que mudar todo o planejamento para atender a pandemia, ficou um hospital 100% Covid-19. Em torno de 900 pessoas morreram no município, evidentemente, que não queríamos que ninguém morresse, mas sem o Hospital Regional, passaria de quatro mil mortos. Durante a crise gigantesca em Manaus, com a falta de oxigênio e do anestésico para entubar, nós recebemos 20 pacientes de lá. Eu fui amplamente criticado, me xingaram e falaram horrores. Não deu 30 dias, saíram todos vivos e voltaram para casa. O próprio governador Eduardo Leite quando me ligou, perguntou se eu conseguiria suportar, respondi que daria um jeito e mandei vir, esse é o espírito da solidariedade. A pandemia tornou pessoas boas, muito melhores, mas também transformou pessoas ruins, piores ainda. Eu lembro que me xingavam de manhã, de tarde, de noite e quando dormia sonhava que estava sendo xingado também. Aquilo que nós preparamos durante a pandemia permanece agora. É claro, dos 38 leitos de UTI do Hospital Regional, ficam só 20 agora, porque os outros 18 foram desativados, pois não tem mais a demanda. Teve um personagem muito importante nessa história, que foi o empresário Samir Frazzon Samara, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Santa Maria. A iniciativa privada nos ajudou muito. Tinha que fazer umas alterações no hospital, com parede de gesso e outras questões que nós não sabíamos como fazer, não tinha tempo de licitar, não tinha como fazer nada. A iniciativa privada veio e ajudou todos nós. Eu consegui recuperar um dinheiro de dez anos atrás, que por questões políticas abandonaram, para fazer uma Unidade de Saúde. Estou com ela pronta, licitada, mas seis meses depois a empresa diz que não tem condições de fazer, porque a pandemia afetou o valor do material da construção civil em 60%. Uma conta bem a grosso modo, se uma Unidade de Saúde custava um milhão, ela passou a custar um milhão e seiscentos mil. Hoje, nós não temos um regramento absoluto do equilíbrio financeiro dos contatos, por isso já conversei com o presidente do Tribunal de Contas (TCE-RS), Alexandre Postal; o procurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles; o próprio General Mourão, vice-presidente da República; e o Ministério Público de Santa Maria. Nós temos que ter um regramento específico para buscar o equilíbrio financeiro. O Hospital Universitário é do estado inteiro, nós temos um fluxo muito grande, mas o que importa é que nós não tivemos problemas, não ficamos com o sistema hospitalar saturado durante a pandemia. O próprio Instituto Masper, que administra o SAMU lá, nos ajudou muito. Nós temos uma

ambulância da SAMU exclusiva para o Covid-19, para transportar pessoas que estão infectadas. Funcionou bem, porque não tínhamos o risco de deixar as outras ambulâncias contaminadas. Quero mandar um abraço muito especial para o Milton Mattana, do Instituto Masper, porque Santa Maria tem algo extremamente importante e diferenciado, com a regulação do SAMU, que é atendida pelo médico das sete horas da manhã até uma da madrugada. Antes quando a regulação era por Porto Alegre, nós levávamos até 30 minutos para fazer o serviço. Nós baixamos de 30 para três minutos, me perguntaram, porque não são 24 horas e apenas 18. A equipe do Masper orientou que entre uma da madrugada e sete da manhã é o menor índice de ocorrência, então não é necessário gastar dinheiro público nesse período, se algum momento aumentar, faremos esse investimento. Tudo é planejamento, eu tenho uma expressão, que adoro: ninguém planeja fracassar, mas fracassa por não planejar. Então, a nossa SAMU continua salvando vidas em Santa Maria. Eu me lembro claramente, quando a primeira pessoa morreu em Santa Maria. Confesso, que desabei. Eu sabia que nós tínhamos um problema, em janeiro não existia Covid-19, no Brasil. Eu sabia que ia chegar em Santa Maria também. Teve uma situação, talvez uma das mais tristes para mim, quando inaugurei uma creche na Vila Brenner, uma comunidade muito carente. Eu inaugurei às oito horas da manhã, com 180 crianças, e às dez horas mandei fechar tudo. Não foi fácil essa decisão, mas não me arrependo de nada que fiz. A pandemia trouxe muitas lições. Nós contratamos na sexta-feira, dia 13 de março, 80 merendeiras, era a primeira vez na história de Santa Maria que cada escola e creche da cidade teriam uma merendeira, porque antes era a professora, a diretora, ou a responsável pelos serviços gerais que faziam a alimentação para as crianças. Nós sabemos que muitas vezes, a única alimentação completa de uma criança é dentro da escola. Não demiti nenhuma. Nós pegamos as 80 merendeiras, concentramos elas num local, preparamos as cestas básicas e levamos a comida para casa dos alunos. Os estagiários foram levados para outros locais e o pessoal da limpeza foi para as Unidades de Saúde. Nós não demitimos ninguém, nesse trabalho que nós fizemos, salvamos 500 empregos durante a pandemia.

CHICO PINHEYRO/REVISTA EM EVIDÊNCIA

Hoje, nós temos 1.200 câmeras de vigilância dentro da cidade de Santa Maria, qualquer carro roubado, furtado, ou clonado que adentrar na cidade, imediatamente dispara o dispositivo e nós conseguimos pegar o veículo imediatamente

A educação é fundamental para o desenvolvimento de uma cidade, estado ou país. Qual a importância que ela tem para o seu governo?

Eu sempre falei, durante a pandemia, que a vacina era o único cami-

EVIDÊNCIA EM PINHEYRO/REVISTA CHICO

Tudo é planejamento, eu tenho uma expressão, que eu adoro: ninguém planeja fracassar, mas fracassa por não planejar

nho, como a educação. Cada criança dentro de uma creche é um pai e uma mãe podendo trabalhar. Nós tínhamos umas dez creches para o município, por questões políticas perderam o dinheiro. Nós conseguimos entregar duas creches e temos mais cinco para fazer. Duas que foram rescindidos os contratos, por conta da pandemia, também serão feitas e até março estarão prontas. Uma está com mais de 70% da obra concluída, o engenheiro disse que em até 60 dias entrega ela pronta. No dia 11 de agosto, saiu a licitação de mais uma creche, no bairro Medianeira. Até o final do ano, teremos outra creche, no bairro Residencial Lopes. São áreas bem vulneráveis que tem em toda cidade. Eu chamei a minha equipe da Educação e a Lúcia Madruga, a nossa secretária da pasta, para saber onde tinha a maior demanda e qual lugar daria para abrir mão de três creches. Eu ajo tecnicamente e tenho orgulho disso, porque isso é a nova política. Nós contratamos entre o primeiro mandato, em 2017, até agora, mais de mil professores. Quando eu falo em Educação, não falo só em professor, mas também de merendeira, monitor, estagiário e do pessoal que faz a limpeza. Eu trato a Educação como um todo e sabendo da importância que ela tem, uma vez por mês, nós fazemos uma capacitação com todos. Eu percorro esses locais e nos reunimos. É o projeto: cuidando de quem cuida. Eles cuidam dos meus alunos e eu cuido deles. Eu assinei uma ordem de serviço para aumentar uma sala de aula no interior do município e para fazer mais uma quadra coberta, custando um milhão e 500 mil reais. Entre as creches que estou fazendo e uma escola nova que eu construirei, o investimento será de quase quatro milhões. Hoje, nós temos 20 milhões de reais só em obras da Educação. Eu tenho uma equipe na Secretaria de Finanças, que 99,99% é composta por servidores. Eles me ajudam a ter uma responsabilidade financeira e têm um comprometimento comigo. Nós pagamos à vista, a recomposição de 21,05% no salário de todos professores. O nosso salário, que é uma média de quatro mil e quinhentos reais, é quase o dobro do salário do governo do Estado. Tudo isso, fruto da responsabilidade financeira que a minha equipe técnica trabalha.

A Prefeitura de Santa Maria diminuiu a burocracia para os empreendedores?

Nós temos o efeito da Boate Kiss, que foi um problema gigantesco. Eu era deputado estadual e contribuí muito

com uma lei, que criei junto com o deputado Adão Villaverde, um grande amigo e parceiro. Nós montamos a lei, busquei orientação no próprio Ministério Público (MP). Hoje nós conseguimos, efetivamente, ter uma fiscalização melhor, porque diminuímos o número de estabelecimentos que tínhamos que fiscalizar e, por consequência, é possível dar mais agilidade para os empreendimentos. Nós sabemos que quanto mais investimento, mais trabalho. Somos 5.570 prefeitos no Brasil, duvido que tenha um prefeito mais feliz do que eu e que trabalhe com tanto amor.

O caso da Boate Kiss é uma ferida para todo o estado. O julgamento caminhava para o final, fechando esse capítulo, mas foi anulado. Como é que o senhor vê essa situação?

Eu sou advogado criminalista, trabalho muito no júri, agora como prefeito não posso trabalhar em razão de uma determinação da OAB. Eu não tenho dúvida, o júri tinha que ser anulado, houve várias nulidades absolutas no processo, não foram relativas, o que é muito ruim. Eu entendo que boa parte daquilo que ocorreu poderia ter sido revisto, inclusive na hora do próprio julgamento, mas não vou questionar o trabalho de ninguém. É ruim, porque no momento que o julgamento é anulado, para as pessoas leigas passa um sentimento de impunidade. Eu não faço juízo de valor, nem de mérito. A Boate Kiss deixou uma marca muito forte. Nós criamos uma comissão e recebemos a Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria. Desapropriamos o prédio da boate e depois de demolir, será feito um memorial no local, mas isso é para o futuro. O que nós nunca podemos fazer é se omitir, pode até errar, mas não se omitir. Como eu sempre digo: só não erra, quem não faz.

O que o senhor acha da atual gestão da Famurs, realizada pelo prefeito Paulinho Salerno? de amigo. Ele é prefeito de Restinga Sêca, uma cidade que eu tenho o maior carinho. Em 2010, quando eu fui candidato a deputado estadual, fiz mais de 900 votos lá. Fui o deputado mais votado na história de Restinga Sêca. Na minha reeleição, eu fiz 2.387 votos. Eu tenho um carinho muito especial, quando chego em Restinga Sêca, ninguém me chama de prefeito, ou de deputado, me chamam de Jorge, acho que é para demonstrar esse carinho. O Paulinho Salerno, não foi indicado, ele conquistou, passou por uma disputa, teve a ampla maioria de votos. Dá muito orgulho desse representante da nossa região.

Conte-nos como funciona o Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (CIOSP) de Santa Maria.

Quando eu disse em 2016, que faria o cercamento eletrônico de Santa Maria, fui motivo de deboche, perguntaram se cercaria a cidade de taquara, arame farpado ou corda. Hoje, nós temos 1.200 câmeras de vigilância dentro da cidade de Santa Maria, qualquer carro roubado, furtado, ou clonado que adentrar na cidade, imediatamente dispara o dispositivo e nós conseguimos pegar o veículo imediatamente. Eu estive aqui com a delegada Rosane no nosso CIOSP de Porto Alegre, eles têm 350 câmeras. No nosso Centro Integrado, está a Brigada Militar, a Polícia Civil, a Defesa Civil e todos os órgãos militares. No mesmo prédio, tem a Delegacia de Pronto Atendimento, então é tudo interligado. Se o Ministério Público precisa de uma imagem, antes tinha que fazer um ofício, hoje vai direto. Essas imagens são tão importantes, tanto para o MP, como para o advogado. O nosso sistema é um dos melhores, em qualidade, que têm no Brasil. Antes, o calçadão era objeto de vandalismo quase todos os dias, agora acabou.

A Escola de Sargentos (ESA) não foi para Santa Maria, mas ainda existe a possibilidade disso se tornar possível? conhece sabe que não me acomodo só com luz, eu quero um holofote inteiro. A possível vinda da Escola de Sargentos para Santa Maria, mobilizou o estado inteiro, era gremista e colorado torcendo. O pessoal da bancada do PT foi no meu gabinete, com o deputado Paulo Pimenta que é de Santa Maria. Teve um amigo meu lá de Santa Maria, que disse: “prefeito, eu nem sei o que é a ESA, mas eu quero a ESA”. Eu acolhi a decisão do Alto Comando, mas não me conformei, até porque Recife tinha o menor contingente militar e aqui na Região Sul é maior. De acordo com o documento assinado pelo general Paulo Sérgio de Oliveira, que era o Comandante do Exército brasileiro e agora é o ministro da Defesa, a Escola de Sargentos fica em Recife, mas os compromissos feitos pelas autoridades municipais e estaduais, se não forem honrados, as cidades concorrentes não estão descartadas. Eu não perdi a esperança ainda, pois a infraestrutura temos e estamos prontos para isso. Não foi Santa Maria ou o Rio Grande do Sul que perdeu a ESA, foi a ESA que perdeu o RS e Santa Maria.

Quais são as suas considerações finais?

Eu quero reiterar como nós estamos governando, pois respeitamos as questões técnicas durante a pandemia. Na educação, ouvimos os professores e o conjunto do complexo de profissionais. Na Segurança Pública, temos o nosso CIOSP, com 1.200 câmeras de vigilância. Eu não coloco a mão, não me meto no esquema e no trabalho da Segurança Pública, pois ela tem uma equipe completa. Sandro Nunes, que é um tenente aposentado do setor de Inteligência da Brigada Militar, coordena o CIOSP. Nós estamos atacando a base também. Sempre me disseram: “quem bota dinheiro embaixo da terra, não ganha voto”. Nós temos hoje mais de 38 milhões de reais embaixo da terra, para resolvermos problemas crônicos definitivamente.

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