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EM EVIDÊNCIA NA TV - Rui Pires
ENGENHARIA DE TRÁFEGO É O CAMINHO
Em Evidência entrevista Rui Pires, CEO da RVP Tecnologia Em Engenharia LTDA Entrevista: Voltaire Santos | Edição: Patricia Poitevin
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Um dos temas que mais tem chamado atenção dos gestores municipais é a Engenharia de Tráfego. Conceito básico nas chamadas “cidades inteligentes”, um planejamento técnico na área pode influenciar diretamente na infraestrutura e o consequente desenvolvimento de um município, além disso, um trânsito inteligente pode salvar vidas e trazer mais qualidade de vida aos cidadãos, como pesquisas recentes têm demonstrado. O programa Em Evidência Na TV (RDC TV sábados e domingos às 19 horas) entrevistou com exclusividade, o engenheiro Rui Pires, CEO da RVP Tecnologia Em Engenharia LTDA, que abordou este importante assunto. Confira a seguir ou acesse o QR Code para assistir na íntegra a entrevista Qual o panorama geral do trânsito no estado e no país? Como solucionar os principais problemas de tráfego?
É uma satisfação estar aqui no programa Em Evidência na TV, falando um pouco sobre a Engenharia de Tráfego, os seus objetivos e as contribuições para a melhoria da qualidade de vida dos nossos municípios. Nós te-

mos uma população de 215 milhões de habitantes, no Brasil, e uma frota com o crescimento extraordinário de, praticamente, 85 milhões de veículos circulando nas nossas vias. A maioria das nossas cidades do Rio Grande do Sul e do Brasil, não foram dimensionadas para tanto, ou seja, carecemos muito de infraestrutura. Esse crescimento desordenado acaba ocasionando problemas de circulação. Nós temos um elevado número de veículos circulando, um aumento de poluição e congestionamento, principalmente nos horários de pico. O pior de todos os problemas é o sinistro, que são os acidentes de trânsito. No ano passado, pelas estatísticas ocorreram 60 mil mortes no trânsito, matando mais que qualquer guerra. Nós precisamos trabalhar com Engenharia de Tráfego, Esforço Legal e Educação para o Trânsito, que são os três “E” fundamentais do tripé do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Várias alterações foram feitas durante todos esses anos de implantação do CTB, desde 1998, mas nós temos muito a crescer. Hoje nós estamos com 977 Resoluções do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). Os municípios precisam estar sempre atualizados e esse é um trabalho diferenciado, que nós fazemos, no sentido de melhorar a qualidade de vida, proporcionando segurança, reduzindo a velocidade, que é o que mais mata no trânsito. A Engenharia de Tráfego ajuda muito no ordenamento dos fluxos e na redução, dando mais segurança aos usuários das nossas vias.

Por que nós não conseguimos avançar no desenvolvimento de outros modais para ajudar a desafogar um pouco o trânsito?
Primeiramente, a questão do investimento é muito importante. Dos três “E”, colocaria mais um quarto, no que se refere a trânsito, a mobilidade precisa de investimentos, portanto, o outro “E” seria das Estatísticas, ou seja, dos números. Nós precisamos avaliar o sinistro de trânsito pontualmente para ter esses números e depois elaborar um projeto de Engenharia de Tráfego para tal. Hoje 80% da nossa frota, no Brasil, são de veículos leves. Nós precisamos investir em novas tecnologias, em outros modais, realmente falta a questão da exploração do ferroviário que nós tínhamos há uns anos atrás. Atualmente, pouco se utiliza esse meio de transporte, mesmo sendo um meio seguro. Na BR-163, do Mato Grosso, estava ocorrendo muitos acidentes, portanto, eles estão fazendo um projeto de ferrovias, que ajudará muito a diminuir esse número exorbitante de veículos circulando. O investimento
De cada R$ 1,00 investido em Educação no Trânsito, Engenharia de Tráfego e Esforço Legal, se economiza R$ 5,00 na Saúde

para fazer um quilômetro de asfalto é de um milhão e meio de reais, dependendo da situação, dois milhões de reais. Muitos municípios dependem desse transporte, então nós ainda temos que evoluir neste sentido, e começar essas discussões através dos planos de mobilidade, para implantar novos sistemas, menos poluentes. Estamos um pouco defasados em relação aos países mais desenvolvidos, na questão do veículo elétrico, que polui menos. Nós temos o problema do custo, que ainda é muito alto, mas obviamente que não queremos ficar para trás, temos que buscar novas tecnologias, que sejam não poluentes, e investir no transporte público, que hoje é deficiente. Em Porto Alegre, nós temos um modal de transporte público, que é referência no estado, mas os municípios pequenos não têm um meio de transporte confiável, seguro e econômico. O próprio plano de mobilidade nos municípios é uma realidade que começa a repensar a cidade daqui a 15 ou 20 anos. Em outros países estão mudando esse foco do veículo. Nós precisamos mudar a nossa cultura. Hoje, não podemos pensar só em carro, temos que pensar em outros meios, onde o transporte é de massa, como o metrô, por exemplo.
O que o senhor acha do sistema de ciclovias, em sua opinião, demorou para ser valorizado no nosso estado?
Quando eu estive em Amsterdã, pude constatar o respeito pela ciclovia. O interessante é que todo o trânsito é compartilhado, ou seja, um respeita o outro. Nós caminhamos por lá e paramos para olhar uns prédios, em cima da faixa exclusiva para ciclistas. Imediatamente fomos alertados que ali é lugar para a circulação de bicicletas, exclusivo para isso. O lugar do pedestre é na calçada, então cada um deve ocupar o seu espaço. O mais importante é que funciona e tem esse respeito. Ainda estamos engatinhando nesta cultura, precisamos projetar esta cultura aqui, agora com o novo manual que foi instituído pela Resolução 973/2022, que começou a vigorar no dia primeiro de agosto. O próprio Contran, através da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), elaborou um manual específico para projetos cicloviários, com padronização e normatização para justamente dar mais segurança, para quem gosta da bicicleta e utilizá-la como meio de transporte. A maioria da população de Amsterdã utiliza a bicicleta nos seus deslocamentos, até para ir para uma festa. Eles vão de bicicleta usando ter-
no e gravata e as mulheres bem vestidas. Para eles, é uma coisa normal. Nós precisamos transformar, mas ainda falta muito espaço, muita ciclovia e ciclofaixa, para dar mais segurança.
Como a RVP – Tecnologia em Engenharia, pode ajudar o município nos seus projetos de tráfego?
A nossa empresa atua há 18 anos no estado do Rio Grande do Sul e em todo o país. Recentemente, realizamos um projeto de sinalização turística para as cidades de Sinop, Querência e Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso. Nós atuamos em diversos municípios, fazendo uma consultoria técnica, para melhorar a qualidade de vida no que se refere ao aspecto de sinalização, porque uma cidade bem sinalizada evita sinistro de trânsito. De cada um real investido em Educação no Trânsito, Engenharia de Tráfego e Esforço Legal, se economiza cinco reais na Saúde. Você terá menos sinistro de trânsito. O trabalho que nós fazemos é extremamente técnico, por exemplo, existe o estudo do sentido único. A maioria dos municípios no interior ainda têm vias com sentido duplo, num cruzamento onde você tem sentido duplo, chega até a ter 32 pontos de conflitos, propícios a ocorrer acidentes, sem falar na segurança do pedestre. Muitas vezes as faixas de segurança estão mal posicionadas, muito próximas às esquinas, onde o veículo tem que adentrar para ter visibilidade em relação a outro veículo. No sentido duplo, o pedestre tem que fazer a travessia olhando para os dois lados, causando insegurança. Quando nós propomos sentido único do sistema binário, isso reduz praticamente a pouquíssimos pontos de conflitos. Para eliminar os pontos de conflitos é preciso fazer uma rotatória. Nós usamos muito nos nossos projetos, em vários municípios, inclusive tivemos uma audiência pública em Tapejara, onde participaram o prefeito Evanir Wolff, o vice-prefeito Rodinei Bruel e a comunidade. Mais de 200 pessoas participaram desse evento, onde nós queremos mudar o trânsito na área central, em duas vias, implantaremos o sentido único do sistema binário. Nos pontos de conflitos, usaremos rotatórias. Muitos órgãos de trânsito não têm orçamento próprio, para implantar uma placa de sinalização que custa quase R$ 600. Na rotatória vai até 12 placas, tanto de advertência, quanto de regulamentação. O investimento é alto, hoje a implantação de um tachão custa R$ 50. Então, é preciso investir, pois sem investimento, não é possível fazer a implantação de um projeto de Engenharia de Tráfego. Nós estamos sentindo o clamor da sociedade, o envolvimento, a melhoria e a busca por um trânsito seguro. Está no Artigo 21 do CTB, que é obrigação do órgão ou do gestor de trânsito investir também no que se refere a melhoria e segurança no trânsito.
A educação de trânsito e mobilidade não deveriam ser assuntos mais recorrentes no cronograma das escolas?
O programa de educação para o trânsito está caminhando ainda, precisamos que seja implantado nas escolas, desde as séries iniciais até a Universidade. Agora fomos surpreendidos com a consulta pública que a Senatran colocou, sugerindo a opção para as pessoas fazerem as aulas teóricas fora de um Centro de Formação de Condutores. Veja, se com as aulas práticas e teóricas, ainda nós temos deficiência imagina sem ter essas aulas, é um problema muito sério que vai causar também desemprego, pois são 111 mil instrutores de trânsito no Brasil. Isso vai causar um problema muito sério, nós precisamos melhorar e avançar na formação do nosso condutor. Eu vejo que principalmente a parte mais frágil do trânsito é a motocicleta, sempre digo para os meus alunos, que ela foi feita para cair, pois só tem duas rodas, ou seja, um equilíbrio dinâmico, diferente do veículo que o equilíbrio é estático. Ele possui toda uma área de proteção, enquanto a motocicleta não, o próprio condutor é o para-choque. Hoje, de cada dez sinistrados no trânsito, sete são com motocicleta. A facilidade que você tem para comprar uma moto agora é impressionante, com R$ 100 já sai com uma moto, mas sem pensar na preparação e nos equipamentos que têm que usar. A segurança não é vista como um investimento e para andar de moto tem que ter um equipamento adequado. Nós temos essas questões, que precisam ser avaliadas para termos um trânsito mais seguro, cada um tem que fazer a sua parte, juntos salvamos vidas.
Para o gestor que deseja desenvolver um projeto de tráfego, qual a melhor maneira para entrar em contato com o senhor?
Nas Redes Sociais, tem o endereço da RVP e o WhatsApp, também é possível digitar o meu nome no Google: Rui Valdinei Pires, que vai mostrar toda a trajetória dos trabalhos que nós desenvolvemos ao longo desses 18 anos. Nós estamos com vários municípios prestando esse trabalho de consultoria, melhorando as questões referentes à redução de velocidade, que está dentro do Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans), do governo federal. O programa quer reduzir até 2031, em 50% o número de óbitos e lesões corporais. Nós estamos no caminho certo, os pilares que trabalhamos estão contemplados dentro do Pnatrans, que é a segurança viária, a educação para o trânsito e também a capacitação dos servidores, na implantação de melhorias na segurança do trânsito.
Quais são as suas considerações finais?
Agradecemos o espaço e nos colocamos à disposição da comunidade gaúcha, prefeitos e empresas privadas. Nós fazemos consultoria há mais de três anos para a Tramontina, em Carlos Barbosa, e para o município também. Eu quero agradecer pela confiança no nosso trabalho e estamos sempre a disposição, no sentido de melhorar cada vez mais e qualificar os nossos usuários de trânsito, para termos um tráfego mais seguro e com fluidez, sempre levando em consideração o nosso respeito ao dom mais precioso que nós possuímos, que é a vida.