Revista Educação - Outubro 2022 - Edição 289

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Jovem precisa de incentivo financeiro para concluir o ensino médio

revistaeducacao.com.br

Educação sexual Silêncio das escolas priva crianças de autoproteção

EDUCACAO

Formação contínua tem que se tornar realidade

Viciados digitais

Tecnologias tóxicas para cérebros em formação

Exposição precoce a telas, uso não supervisionado de dispositivos digitais e maior vulnerabilidade aos gatilhos emocionais das plataformas online preocupam especialistas. Entidades renomadas da saúde já possuem grupos voltados aos dependentes de tecnologia digital

ANO 26 Nº289

Professor

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Prioridade deve ser o Sistema Nacional de Educação

Em breve teremos o começo de novas gestões nos níveis federal e estaduais. É o momento de se propor novas linhas de ação que permitam ganhos de qualidade expressivos para as crianças e jovens brasileiros.

Em condições normais, melhorar nossos indicadores educacionais já seria um desafio que exigiria uma grande articulação entre os governos federal, estaduais e municipais. Os impactos da pandemia na aprendizagem tornam este desafio ainda mais complexo.

Nesse sentido, deve ser prioridade absoluta a aprovação da lei do Sistema Nacional de Educação, definindo de maneira mais clara o papel de cada esfera governamental, criando regras para a articulação necessária para gestão integrada da educação.

Além disso, observar experiências exitosas de regime de colaboração já existentes, como o caso do Pacto pela Alfabetização do Ceará, pode inspirar novas formas de atuação dos governos para superar as imensas desigualdades entre os entes federados e buscar maior equidade nos resultados educacionais.

Examinar os resultados dos Arranjos de Desenvolvimento Educacionais, fruto de um Parecer do Conselho Nacional de Educação de 2011, revisado em 2020, também pode demonstrar como a sinergia gerada entre gestores e professores de diferentes municípios permite uma atuação mais solidária e integrada para um ensino e aprendizagem mais eficaz.

Finalmente, um maior alinhamento de esforços permite uma aplicação de recursos mais responsável nos fatores que realmente importam para a qualidade da educação.

A Plataforma Educação, composta por edições digitais e impressas, site, redes sociais e eventos, é publicada por RFM Editores

Ano 26 - Nº 289 outubro de 2022

ISSN 1415-5486 www.revistaeducacao.com.br

Conselho editoral

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Parcerias Institucionais

Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) Undime SP (União dos Dirigentes Municipais de Educação) Jornal Joca - para jovens e crianças

Sua Escola Ideal

Two Sides

Colaboraram nesta edição

Alexandre Sayad

Damaris Silva

Fernando José de Almeida

Gustavo Lima

Javeria Salman/The Hechinger Report

João Jonas Veiga Sobral

José Pacheco

Karen Cardial

Leticia Scudeiro

Marcelo Daniel Paulo de Camargo

Redação revista Ensino Superior

Sandra Seabra

Vanderlei Campos

Simône Midori Maki (diagramação)

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Gerente de comunicação e eventos: Margarete Rios Silva margarete@rfmeditores.com.br

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é membro do conselho editorial da revista Educação. É professor na Universidade Regional de Blumenau e conselheiro do Conselho Estadual de Educação de SC

Educação é uma publicação mensal da RFM Editores destinada a mantenedores, educadores e interessados em educação. Esta publicação não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressam apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. A publicação se reserva o direito, por motivo de espaço e clareza, de resumir artigos.

ATENDIMENTO

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Revista Educação 4 CARTA AO LEITOR
EDUCACAO REVISTA
Eduardo Deschamps

20 VICIADOS DIGITAIS

Atenção redobrada

Exposição precoce a telas, uso não supervisionado de dispositivos digitais e maior vulnerabilidade aos gatilhos emocionais das plataformas online preocupam especialistas em saúde. Eles propõem mais intervenção dos educadores junto a regulações de proteção a crianças e adolescentes na rede

ENTREVISTA

EDUCAÇÃO SEXUAL 30

Segurança 8

Ricardo Henriques

Coordenador da implantação inicial do Bolsa Família, o economista se preocupa com a permanência do aluno, sobretudo os negros e pobres. Para a promoção da equidade, defende a criação de ações afirmativas intersetoriais entre educação, assistência social e saúde, sendo o apoio financeiro um dos caminhos

e mais

Crença equivocada de que a educação sexual pode erotizar crianças e jovens e acelerar a iniciação sexual inibe escolas de utilizar a melhor arma contra a violência sexual infantil

RUBEM ALVES 36

Espinha dorsal

Crônicas do educador organizadas cuidadosamente pela filha caçula se transformaram em e-book que será lançado em breve pela RFM Editores com prefácio de José Pacheco

PROFESSOR 62

Conhecimento pedagógico

Formação continuada de professores assume contornos de um desafio global. Esgotados e desvalorizados, a profissão que é sinônimo de esperança precisa de comprometimento dos gestores para a aprendizagem contínua se tornar realidade

14 Mosaico 17 Transformação 26 Midiática 38 Ensaio 40 Leitura 43 Top Educação 68 SOS Educação 72 Futuro da escola 74 Ensino superior 78 Internacional 80 Diálogos 82 Entre margens SUMÁRIO
Eren Li /Pexels

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Ricardo Henriques

Combatente das desigualdades

Coordenador da implantação inicial do Bolsa Família, Ricardo Henriques se preocupa com a permanência do aluno, sobretudo os negros e pobres. Para a promoção da equidade, defende a criação de ações afirmativas intersetoriais entre educação, assistência social e saúde, sendo o apoio financeiro um dos caminhos

Ricardo também é a favor de

revisão estrutural da formação inicial em licenciaturas e em pedagogias

Revista Educação 8
ENTREVISTA
uma

Oeconomista e superintendente executivo do Instituto Unibanco Ricardo Henriques é uma das pessoas mais aclamadas quando o assunto é política pública educacional. Consciente dos problemas estruturais que dificultam a garantia do desenvolvimento pleno e integral das crianças e jovens brasileiros, em entrevista ele defende estratégias que tratem desigualmente os desiguais. Nesta entrevista, destaca a importância e os efeitos de bons diretores e diretoras escolares. Para isso, diz: “temos que ter estratégias de uma escola nacional ou escolas estaduais de formação de gestores adequadas [às competências que todos os líderes escolares devem ter]”. Escola em tempo integral também foi pauta da conversa. Confira.

Por que diretores escolares da rede pública brasileira ainda são indicados por aproximação e não por competência? Como acabar com o interesse político nessa função que é primordial para a escola?

Em todas as experiências exitosas do mundo temos não só uma carreira de direção com parâmetros e critérios de acesso à responsabilidade de ser um diretor ou ser um coordenador pedagógico, como também de permanência nessa função.

A existência de um contingente ainda alto de indicações políticas para a função de diretor de es-

colas expressa um cotidiano de relação da sociedade brasileira com a educação ainda muito frágil. Expressa que a sociedade brasileira ainda não explicitou a educação como prioridade, em particular, não explicitou a ideia de que a educação com qualidade para todos é vital para poder fazer a transformação da sociedade brasileira.

É claro que há estados com iniciativas coerentes em regimes de colaboração se alinhando a seus municípios, que têm a responsabilidade explícita de cuidar de todos os habitantes daquele estado e, portanto, é possível produzir um campo de concertação com os municípios sensível a qualquer criança, qualquer adolescente ou qualquer jovem que é estudante, independentemente se há provisão da rede municipal ou estadual, e aumenta a probabilidade de que as indicações dos diretores de escolas se deem por critérios técnicos e democráticos.

Precisamos ter diretores competentes e compromissados, por isso as duas coisas são importantes, a técnica e a democracia. O que define a liderança é ter competência de gestão, competência pedagógica, capacidade de engajamento e de mobilização dos atores. Esses quatro atributos são essenciais para que uma diretora ou diretor de escola tenha êxito.

Não falta uma lei nacional contra a indicação política em cargos como esse, de gestão escolar?

Acho que o caminho da regulação é positivo. Temos a Base Nacional Comum de Competências do Diretor Escolar, aprovada recentemente. Mas há que ter estratégias de uma escola nacional ou escolas estaduais de formação de gestores adequadas a isso. É preciso ter essa formação nos eixos que falei anteriormente. Tem que ter capacidade de formação para esses profissionais de educação, para os professores virarem diretores. E deveria ser feita simultaneamente uma revisão estrutural da formação inicial em licenciaturas e em pedagogias, incorporando os desenvolvimentos dessas competências na formação inicial. O que precisaria é um marco regulatório que estipulasse os parâmetros de seleção, que proporcionasse formação continuada nas escolas, formação inicial sobre o marco da Base Nacional. Associado a isso, seria importante ter uma política decentralizada, mas com normativas nacionais de carreiras tanto para professores como coordenadores pedagógicos e diretores e que tenham um marco regulatório referencial também.

Revista Educação 9 Divulgação

ENTREVISTA Ricardo Henriques

Não basta fazer formação continuada. Tem que revisitar a formação inicial. Um bom pedagogo, um bom licenciando, tem que ter competência nessa área porque no futuro pode ser que ele venha a exercer funções de direção de escola e não genéricas.

O ensino médio em tempo integral na escola pública não aumenta a evasão, já que muitos jovens precisam trabalhar ou ajudar nas tarefas de casa?

A expansão da escola em tempo integral é fundamental para a estratégia do país. Precisamos ter uma expansão das matrículas em escolas no tempo integral, pode ser de sete horas, de oito horas ou nove horas. O caso mais consolidado de avaliação é de Pernambuco, que tem tanto uma oferta de sete horas como de nove horas e vemos vetores positivos em ambas as experiências. Agora, não é suficiente a ideia de colocar em marcha uma estratégia de expansão do ensino em tempo integral. Ele deve vir desde o fundamental 1, fundamental 2 e ensino médio. Os marcos históricos de desigualdades que temos e as configurações específicas da nossa realidade socioeconômica geram pressão sobre estudantes. Em particular jovens que estão no final do ciclo pós-adolescência para saírem de uma escola que seria em tempo integral. Precisamos de uma expansão sólida, intensa da escola em tempo integral combinada com oferta por territórios de escolas de tempo parcial, incluindo uma regra de transição que a sociedade deveria construir, uma década, duas décadas, talvez o número mágico seja 15 anos, dado que o ciclo educacional é de 12 anos. E com essa janela de 15 anos criar as condições em que todos os estudantes pudessem estar em tempo integral.

O Bolsa Família ajuda na retenção escolar, mas não é suficiente. Sendo assim, o país não deveria

pensar em uma política pública de apoio financeiro às famílias dos estudantes?

É preciso políticas que reconheçam o desafio social, nossas desigualdades, nosso racismo estrutural e sejam capazes de fazer, explicitamente, por cada território, para cada arranjo local, políticas de financiamento no mínimo da permanência dos estudantes. Mas permanência qualificada, em que o equivalente ao Bolsa Família pode ser um elemento. Portanto, enquanto não há renda universal, é fundamental que as rendas tenham condicionalidade para a saúde e para a educação - porque isso aumenta a probabilidade de permanência na escola. Mas o Bolsa Família é um elemento importante, só que insuficiente. É preciso também ter apoios segmentados em função das condições de vulnerabilidade objetiva de cada família e de cada estudante para que os jovens sigam na escola. Talvez tenha que ter um valor maior no ensino médio, mas há várias arquiteturas, uma já é testada: é ter uma bolsa mensal para os jovens no ensino médio e um valor ao final da conclusão, que é um valor extra além da bolsa de permanência como sinal de incentivo para não só ficar na escola, mas estudar e concluir o ciclo. Mas isso são políticas de permanência análogas à política de assistência educacional que se deve ter no ensino universitário quando você faz política de cotas.

Quando pensamos a oferta das redes públicas de ensino do infantil ao médio é fundamental termos explicitamente estratégias de ações afirmativas. Estratégias que tratam desigualmente os desiguais. Não basta a oferta ser universal porque ao longo do ciclo educacional a gente vai perdendo os alunos. De cada 100 alunos que entram no ensino fundamental 1, só 66 concluem o ensino médio. Já o recorte por gênero e raça, de cada 100 meninos negros que entram na escola, só 53 terminam o ensino médio, portanto, é quase metade; 47 em cada 100 não concluem.

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A existência de indicações políticas para a função de diretor de escolas expressa um cotidiano de relação da sociedade brasileira com a educação ainda muito frágil

Divulgação

“A expansão da escola em tempo integral é fundamental para a estratégia do país.” Contudo, o economista acrescenta que essa política deve vir acompanhada de escolas em tempo parcial

Enquanto 74% dos jovens brancos concluíram o ensino médio com até 19 anos, 53,9% dos negros e 57,8% dos pardos atingiram o mesmo objetivo, aponta levantamento do Todos Pela Educação de 2019. Como resolver um problema estrutural como esse?

Com incentivo financeiro que é complementar a uma estratégia educacional, porque ele explicita esse imperativo numa sociedade tão desigual como a nossa. O país precisa gerar igualdade de oportunidades ao longo do ciclo educacional como um todo e não somente na largada. Em vários momentos, as pessoas confundem isso achando assim: se na creche, na pré-escola ou no primeiro ano do fundamental alinho igualdade com oportunidades, estaria criando um jogo justo. Não é verdade. O nosso padrão de desigualdade é tão estrutural e os marcadores de território, de raça, de gêneros são tão fortes que é preciso ter ao longo do tempo educacional obrigatório, que são os 12 anos de formação da educação básica, estraté-

gias explícitas de ação afirmativa, tudo incluindo apoio financeiro. Isso gera igualdade e oportunidade. Para enfrentar o problema de brancos e negros tem que existir uma contrarreferência na política social, na política de saúde. É preciso construir um arcabouço regulatório e de governança sem substituir as funções de ninguém. Portanto, uma diretora de escola não é responsável pela política social, mas uma diretora de escola é responsável pelos seus estudantes. A questão-chave é que o governo, em uma visão intersetorial, deveria estar responsável por esses estudantes e endereçar para os estudantes mais vulneráveis não só políticas de ação afirmativa a partir da educação, como bolsa permanência, mas também política de ação afirmativa a partir da assistência social, a partir da área da saúde e olhar a integralidade da vulnerabilidade desses estudantes nos territórios concretos.

Para ter uma política universal, com educação de qualidade e para todos, é preciso redesenhar a política educacional nessa direção e redesenhar a política social também com essa ambição. É óbvio que teremos outros ganhos, como aumentar em muito a probabilidade de que os estudantes concluam o seu ciclo com êxito, ou seja, aprendendo aquilo que é esperado que eles aprendam. Quando a gente fala de educação de qualidade para todos significa que todos com a idade adequada aprendam aquilo que é esperado naquela faixa etária. Quanto mais tempo essa criança, esse adolescente passar na escola, melhor, mas não para fazer só repetição de exercícios de matemática, mas tendo uma abordagem integral e integradora de seu desenvolvimento, como de competências emocionais, sociais, morais e de cidadania.

Em 2004, você criou a Secretaria Nacional de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad*) dentro do MEC. Foi a primeira vez que o MEC passou a ter uma secretaria voltada exclusivamente à redução das desigualdades educacionais de indígenas, quilombolas, população do campo, escolas em presídios, para jovens e adultos e com viés para a diversidade étnico-racial. Mas a pasta foi extinta no governo Bolsonaro.

A Secad tinha explicitamente essa intenção de trazer para dentro da política educacional a responsabilidade de enfrentar as desigualdades. Para isso, era fundamen-

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ENTREVISTA Ricardo Henriques

tal reconhecer e valorizar a diversidade, a diversidade dos públicos que estão sendo colocados, a diversidade regional, identitária, diversidade local. A intenção dessa completude era consoante com a ideia de que as configurações específicas de vulnerabilidade e pobreza são distintas e, portanto, preciso endereçar a política educacional para que ela tenha diálogo específico e não genérico com os vários componentes dessa desigualdade, para de forma explícita reduzir essa estratégia. O que a gente vê ao longo do ciclo, fazendo um recorte, é que foram fortalecidos os núcleos de estudos afro-brasileiros nas universidades públicas. Associado a isso, uma outra política, que não era da Secad, é a política de cotas, que conseguiu colocar a estratégia de cotas nas redes públicas e depois universidades públicas, criou uma nova geração de intelectuais negros e de intelectuais indígenas absolutamente relevantes na produção de conhecimento e na própria política dos últimos anos.

É um governo [do Bolsonaro], em particular no Ministério da Educação, que desmontou quase todos os ganhos do processo democrático pós-constituinte. Portanto, não só a agenda da Secad - em várias outras dimensões eles desmontaram -, me pareceu coerente diante dessa visão obscurantista e negacionista, interromper estratégias educacionais que tinham uma visão explícita de enfrentar a desigualdade.

Independentemente se vai existir ou não uma nova Secad, o desafio democrático é reconfigurar as trajetórias de uma política educacional efetiva e compromissada com todos. Tem uma frase da Cláudia Werneck fundamental: Quem cabe no seu todos? [título de um livro dela]. A grande função é que para indivíduos, e de forma muito mais grave para os atores da política pública e da política educacional, quando se anuncia a palavra ‘todos’, nem todos lá estão. E para que todos lá estejam é

fundamental uma estratégia explícita de enfrentamento da desigualdade. Tornar tangível essa estratégia explícita de enfrentamento de igualdade passa por caminhos de ações afirmativas, passa por estratégias que estavam na Secad e a gente precisa recuperar isso.

*Em 2011 foi adicionado o eixo ‘inclusão’ e a sigla se transformou em Secadi

Hoje, qual é a principal preocupação do Instituto Unibanco na educação e o que estão fazendo para reverter o quadro?

O Instituto Unibanco está dedicado ao desenvolvimento de lideranças educacionais, com estratégias de gestão na sua plenitude, que tem a ver com gestão administrativa e financeira, gestão de logística, gestão relacional, gestão de pessoas, mas, sobretudo, com ênfase na gestão pedagógica. E nessa visão de gestão como um todo desenvolvendo competências e habilidades nos gestores do sistema, nas secretarias, nas regionais e dentro da escola - o que não quer dizer só a diretora ou diretor da escola.

O que a gente faz é trabalhar focados em redes estaduais de ensino, portanto, ensino médio. Estamos em 11 estados, atingindo quase 20% da matrícula do ensino médio do país. Em todos os estados em que a gente já fez avaliações de impacto, vimos aumento da aprendizagem naquilo que é possível medir em português e matemática, vimos resultado de redução da evasão. Em todos os estados que são heterogêneos, tanto do ponto de vista socioeconômico como institucional, vimos redução da desigualdade entre escolas e redução da desigualdade intraescolas, ou seja, conseguimos ser parceiros de redes públicas de modo a tornar efetivo e demonstrável que a boa gestão a partir de bons líderes é capaz de incidir sobre todas as dimensões relevantes do desenvolvimento pleno e integral do estudante.

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O que define uma liderança escolar é ter competência de gestão, competência pedagógica, capacidade de engajamento e capacidade de mobilização dos atores

Na corda bamba, só quem dança se equilibra

“Educar através da dança”, princípio vital do Ballet Paula Castro, com mais de 43 anos de tradição, eleita a melhor escola de ballet brasileira. Com a dança a criança respeita seu corpo e seus limites, se posiciona em sala de aula em relação às outras crianças, desenvolve a segurança, a atenção e a criatividade, explica Paula Castro, pedagoga, educadora física e fundadora da escola. “Esse é o objetivo principal do meu trabalho, é o que levo para dentro das escolas parceiras.”

Com três unidades em São Paulo, o Ballet Paula Castro é representante oficial da Escuela Nacional de Ballet de la República de Cuba (ENBC) no Brasil e também cuida das áreas de dança de grandes escolas regulares participando de todo o calendário festivo. O estudo do ballet se estende também aos meninos e há grande receptividade do público masculino nas aulas de hip hop, sucesso nas escolas parceiras. Vale destacar que a modalidade estará presente nas próximas olimpíadas.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) determina que as habilidades da dança estejam presentes na educação básica, pois é um instrumental poderoso, condutor da educação, uma vez que trabalha a criatividade, a desinibição e a autoconfiança nos alunos.

“É pouco para mim ensinar a dança apenas como técnica, o que eu quero é trabalhar com a criança ensinando-a a se tornar uma pessoa melhor e, ainda, a dançar bem.” O Ballet Paula Castro faz parte do período integral das escolas e também atua no contraturno das aulas.

“A arte em geral é a saída para que as pessoas possam aflorar a sua individualidade. A dança é a busca do equilíbrio, a luta contra a lei da gravidade e, mais do que isto, potencializa a nossa sensibilidade e nossa expressão”, declara Paula Castro.

APRESENTADO POR studio
“Ensinar é uma arte, e a dança, como tal, potencializa nosso equilíbrio, sensibilidade e expressão”, defende Paula Castro A dança possibilita que a criança respeite seu corpo e seu limite, tenha segurança e criatividade
Fotos: Nanah Dluize

MOSAICO

Escolas públicas brasileiras em prêmio internacional

Cada instituição vencedora receberá 50 mil dólares. País concorre com duas escolas municipais, uma gaúcha e outra pernambucana

Duas escolas brasileiras chegaram à última etapa do Prêmio Melhores Escolas do Mundo (na tradução). A EMEB Profª Adolfina J. M. Diefenthäler, em Novo Hamburgo, RS, na categoria Colaboração da comunidade, e a EM Evandro Ferreira dos Santos, em Cabrobó, PE, na categoria Superando a adversidade. A iniciativa internacional da T4 Education seleciona e premia com cerca de R$ 250.000,00 a vencedora de cada categoria.

A premiação World’s Best School Prizes identifica, reconhece e celebra as práticas líderes e inovadoras das escolas que tiveram um impacto real na vida de alunos e da comunidade. A proposta é buscar democratizar a experiência escolar, oferecendo às instituições a oportunidade de compartilhar e celebrar as conquistas e contribuições para um progresso social mais amplo, ao tempo em que incentiva o compartilhamento de histórias para que possam inspirar outras.

São cinco categorias: Colaboração comunitária; Ação ambiental; Inovação; Superação de adversidades; e Apoiando vidas saudáveis.

CONHEÇA AS FINALISTAS

A escola de Novo Hamburgo, finalista na categoria Colaboração da comunidade, que reconhece as escolas que colaboraram e desenvolveram parcerias com seu entorno para ter uma abordagem integrada da criança baseada na equidade e na inclusão. A instituição tem 605 alunos e se destacou pelo modelo de gestão comunitária, chamado de Gestão Democrática, onde famílias, alunos e professores são parte do processo de educação e têm suas demandas escutadas por meio de processos participativos.

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Escola Municipal Prof. Adolfina J.M. Diefenthäler, Novo Hamburgo Lu Freitas/PMNH Escola Municipal Evandro Ferreira dos Santos, Cabrobó Pedro Kaio/Arquivo pessoal

“Um ponto muito interessante é que o projeto traz grande repercussão na aprendizagem dos estudantes à medida que eles têm participação direta nas decisões e isso reflete também na presencialidade, isto é, o aluno não evade, ele vem para a escola, ele quer estar ali, se sente importante e participativo”, conta a dirigente municipal de Educação de Novo Hamburgo, Maristela Ferrari Ruy Guasselli, que também é presidente da Undime/RS.

A Escola Municipal Evandro Ferreira dos Santos, em Cabrobó, concorre na categoria Superando a adversidade, que reconhece as instituições que, enfrentando desafios e obstáculos, apoiam e desenvolvem nas crianças competências socioemocionais para assegurar o seu crescimento pessoal e da escola enquanto comunidade. Foi desenvolvido um projeto de ação de alfabetização e motivação de mães, o que acabou resultando também na melhora do desempenho dos filhos, pois elas passaram a se interessar mais pela educação das crianças.

O projeto surgiu durante a pandemia da covid-19, segundo explica Pedro Kaio. Intitulada Distantes sim, desconectados não”, a proposta foi conectar mais os estudantes e os responsáveis e uma das ramificações desse projeto foi a ação com as famílias. A escola atende 150 alunos do 6º ao 9º do ensino fundamental e está localizada em um bairro carente do município. De acordo com o dirigente, com a iniciativa, houve uma mudança de perspectiva da comunidade escolar sobre o envolvimento no processo de educação das crianças.

*Com informações da Undime

Seis a cada 10 jovens estão com ansiedade

Na terceira edição da série Juventudes e a pandemia: e agora?, seis a cada 10 participantes passaram ou vêm passando por ansiedade nos últimos seis meses e 50% sentem o cansaço e exaustão frequentes como efeitos da pandemia. No levantamento, 18% dos jovens relataram depressão e 9%, automutilação ou pensamento suicida.

Divulgada em setembro, a terceira edição da pesquisa ouviu mais de 16 mil jovens de 15 a 29 anos de todo o país e é coordenada pelo Atlas das Juventudes e realizada em parceria com Conselho Nacional da Juventude (Conjuve), Em Movimento, Fundação Roberto Marinho, Rede Conhecimento Social, Mapa Educação, Porvir, Unesco e Visão Mundial, com apoio de Itaú Educação e Trabalho, GOYN-SP e Unicef.

Em termos de aprendizagem, 55% sentem que ficaram para trás como consequência da pandemia. E 11% ainda pensam em deixar de estudar nos últimos seis meses,

enquanto 34% já pensaram, mas não querem mais parar. Durante os anos da pandemia, parte deles chegou a interromper os estudos em algum momento: em 2020, foram 28%; em 2021, 16% e em 2022, 3%.

Além disso, 52% sentem que desenvolveram ou intensificaram a dificuldade de manter o foco, 43% de se organizar para os estudos e 32% para falar em público, em função do período remoto.

Quase 5 a cada 10 jovens consideram que os conteúdos mais importantes para a escola estão relacionados à preparação para o mundo do trabalho e atividades para trabalhar as emoções. Para 1/3, as estratégias para organizar o tempo de estudo são essenciais. Pensando no futuro da educação e nas prioridades para apoiar jovens a lidar com os efeitos da pandemia, são destacados, novamente, o apoio psicológico, desta vez para toda a comunidade escolar, a bolsa de estudos e auxílio estudantil e a ampliação de oportunidades para a educação profissionalizante.

Capes elege tese de indígena como a melhor do país

O doutor em antropologia social João Paulo Lima Barreto, indígena do povo Tukano, no Amazonas, teve sua tese Kumuã na kahtiroti-ukuse: uma ‘teoria’ sobre o corpo e o conhecimento prático dos especialistas indígenas do Alto Rio Negro eleita a melhor de Antropologia e Arqueologia de 2022 pela Capes. João Paulo é o primeiro doutor indígena pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

A tese se transformou no livro O mundo em mim - uma teoria indígena e os cuidados sobre o corpo no Alto Rio Negro, que dá voz ao pensamento dos povos Tukano e o confronta com o pensamento antropológico. Média de preço: 60 reais.

João Paulo Barreto é o idealizador do Centro de Medicina Indígena Bahserikowi, que oferece à população em geral benzimento dos povos indígenas Tukano, Dessano e Tuyuca do alto Rio Negro e que em conjunto com as plantas medicinais trata das enfermidades tanto de cunho físico como psicológico.

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MOSAICO

Projeto de vida na prática

Composto por 19 atividades desenvolvidas com estudantes do ensino médio em 2021, o e-book Projeto de vida na escola: práticas pedagógicas de professoras(es) da rede estadual da Bahia é gratuito.

“Falar de projetos de vida é falar que nós nos queremos vivas e vivos, e que temos possibilidades de construir e transformar as nossas comunidades, os lugares em que vivemos e o nosso país”, afirma a professora Macaé Evaristo nas primeiras páginas iniciais do material.

Entre as atividades apresentadas está a Espelhos e selfies - o que vejo quando me vejo? da professora Márcia Maristela Gusmão, do Complexo Integrado de Educação de Itabuna, e que traz uma reflexão sobre autoimagem na contemporaneidade. A aula foi ministrada em formato presencial para estudantes do 1º ano do ensino médio.

“Na atividade inicial, as(os) estudantes estavam sentadas(os) e as luzes da sala apagadas e com uma música de fundo, enquanto a professora caminhava com uma lanterna acesa e um espelho. Parava diante de cada estudante, iluminando para que pudesse ver o próprio reflexo”, destaca um trecho do e-book.

O material é uma iniciativa entre a Fundação Telefônica Vivo e a Secretaria da Educação do Estado da Bahia.

Baixe gratuitamente e confira as atividades completas e detalhadas: https://bit.ly/3Sm7zju

Nas práticas pedagógicas, tecnologia e inovação

O nome da professora Débora Garofalo já está marcado na história. Isso porque ela foi a primeira pessoa sul-americana finalista do Global Teacher Prize, prêmio que a colocou entre os 10 melhores professores do mundo. Com pouco mais de 10 artigos, ela é colunista no site da revista Educação.

Em um de seus últimos textos, escreveu sobre desigualdades de acesso no ambiente digital e traçou pontos para reverter esse quadro.

Confira um trecho do artigo.

“A desigualdade de acesso [digital] não reflete apenas na disparidade socioeconômica do país, mas reflete no desenvolvimento da sociedade como um todo. Para reverter esse quadro, também já conhecemos a solução, que passa por:

Parcerias público-privadas: união entre o público e o privado com base na resolução dos problemas e solidificação de um ecossistema interconectado, comprometido com essa agenda e o fortalecimento das competências digitais, com políticas de incentivo e indicadores de desempenho e acesso;

Políticas públicas: impulsionamento de políticas públicas de acesso, principalmente na esfera educacional, com políticas públicas de incentivo à tecnologia e inovação e continuidade, além de investimento nas políticas públicas conhecidas.

Devemos repensar iniciativas que contemplem a educação digital, democratizando o acesso e permitindo que durante a escolarização os estudantes tenham a oportunidade de vivenciar experiências de acesso, já que sabemos os benefícios da integração do uso da tecnologia e inovação no processo de ensino e aprendizagem. Temos potencial para reverter essa disparidade de acesso, precisamos de compromisso para isso.”

Revista Educação 16
Débora Garofalo é coordenadora do Centro de Inovação da Educação Básica Paulista (CIEBP) pela SEDUC-SP Arquivo pessoal

TRANSFORMAÇÃO

Criança de 13 anos autista escreve diário sobre o seu cotidiano

A autoaceitação de ser ‘diferente’ pede acolhimento

É por meio de uma gama de recursos diversificados que se promove a superação de obstáculos impostos às crianças e jovens portadores do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Marguerite, personagem do livro A diferença invisível, descreve bem esse percurso. Uma jovem de 27 anos que não se encaixa em suas relações interpessoais por sua dificuldade em lidar com o barulho, as distrações excessivas e as alterações repentinas em sua rotina. Aos poucos, a personagem descobre que é autista e, a partir desse percurso de autoaceitação, preenche a lacuna da ‘normalidade’ que sempre foi imposta à sua existência. A história constata que as dificuldades de Marguerite permanecerão, entretanto, a forma de encará-las mudou completamente após ser diagnosticada com a síndrome de Asperger 1 , a partir disso, ela conseguiu se conhecer e se amar nesse lugar. A ficção, narrada por meio de uma história em quadrinhos, é o relato da vida da autora Julie Dachez, cujo diagnóstico, ainda que tardio do autismo, a fez viver plenamente em sua diferença.

Por sorte, Thales Lima Valêncio, um jovem estudante de uma escola pública de São Paulo, percebeu seu próprio caminho bem antes da personagem da ficção e aos 13 anos entregou aos seus professores o seu Diário de um autista, obra autoral inspirada no best-seller juvenil O diário de um Banana. A narrativa se apresenta como uma história que espera ser lida com muito deleite por todos que a receberem. Nela, o personagem descreve seus feitos cotidianos, como o auxílio a seu pai nas tarefas de casa, os dias de aula, festividades na escola e viagens com a família. Enfim, um livro de memórias de um adolescente que está trilhando seu próprio caminho, abraçando sua singularidade.

De acordo com o documento que atualiza a prevalência do Transtorno do Espectro Autista do CDC 2, em 2020 havia uma pessoa com autismo para cada 54 crianças de oito anos, em 11 estados dos EUA. No Brasil, estima-se que haja cerca de 2 milhões de autistas. Desses, muitos matriculados em escolas regulares de todo o país. A definição de Trans-

torno do Espectro Autista engloba diversos transtornos, tais como: o autismo infantil, autismo de alto funcionamento, autismo atípico, transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação, transtorno desintegrativo da infância, síndrome de Asperger etc. Dentre os desafios enfrentados estão a falta de informação sobre as especificidades englobadas no espectro, os erros de diagnóstico e as dificuldades relacionais entre o autista, seus familiares e amigos.

O diário de Thales e a história de Marguerite são retratos da importância do diagnóstico, da aceitação e do acolhimento de toda a comunidade escolar frente ao desafio da diferença, fazendo dela um caminho para ampliar e desenvolver as habilidades sociais desses alunos.

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Fotos: Arquivo pessoal Damaris Silva mestre em letras e especialista em gestão escolar 2 Centro de Controle e Prevenção de Doenças, agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos. 1 Forma leve de autismo, que não causa prejuízos de linguagem nem deficiência intelectual.

Transformando a Educação há 120 anos

Há anos, estamos presentes no dia a dia da escola, apoiando, criando pontes e estimulando famílias, estudantes e colaboradores a experimentar suas melhores versões.

Esta relação de proximidade e confiança atravessa gerações e ajuda a formar, dia após dia, as mudanças que queremos ver no mundo. É com essa vivência e uma visão atual das novas oportunidades que fomentamos o debate e lideramos a inovação. Porque nós sabemos que a Educação é o ponto de partida para todas as grandes transformações da sociedade.

Para guiar a nossa jornada, nos apoiamos em quatro pilares principais:

Inovadora

Sempre atentos à evolução das necessidades dos nossos públicos, desenvolvemos soluções inovadoras – digitais ou analógicas – que facilitam a aprendizagem dos estudantes.

Flexível

Somos flexíveis e capazes de acompanhar e evoluir com as mudanças, considerando diferentes contextos e pontos de vista.

Parceira

Há mais de 120 anos, temos disposição para solucionar problemas complexos, por meio de um relacionamento muito próximo com escolas, professores, estudantes e responsáveis.

Humana

Temos muito cuidado com todas as pessoas envolvidas em nosso ecossistema e atuamos em favor da formação humana e da construção de valores.

Conectamos histórias. Construímos futuros.

O futuro da Educação não está distante. Ele já é realidade. Vamos conhecê-lo juntos?

A geração dependente de tecnologia digital

Exposição precoce a telas, uso não supervisionado de dispositivos digitais e maior vulnerabilidade aos gatilhos emocionais das plataformas online preocupam especialistas em saúde. Eles propõem mais intervenção dos educadores junto a regulações de proteção a crianças e adolescentes na rede

Segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2021, 22,3 milhões dos brasileiros com idades entre nove e 17 anos são usuários de internet. São 93% das pessoas nessa faixa etária, um índice maior do que a média da população (85%). Os efeitos do uso excessivo ou indevido entre adolescentes já chegam aos consultórios e núcleos de atendimento especializados. Os casos incluem a história de uma adolescente induzida à subnutrição pelas redes sociais, além de dezenas de pacientes com graves dificuldades de interação pessoal e de lidar com contextos reais. E as estatísticas deixam de fora cerca de 30 milhões de crianças, que, na prática, também estão expostas a produtos digitais.

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Productions/Pexels
VICIADOS DIGITAIS Rodnae

“Deixar as crianças e adolescentes sem mediação é como ficar sentado à beira de um vulcão esperando o que vai acontecer. Criança não é miniadulto e a exposição às telas influencia de forma diferente o comportamento”, adverte Evelyn Eisenstein, coordenadora do GT de Saúde Digital da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). “Os malefícios vêm por uma porta que se abre por dentro. Os pais entregam celulares e tablets para crianças sem saber como isso afeta o desenvolvimento das interações e da linguagem”, observa Cristiano Nabuco, coordenador do Núcleo de Dependências Tecnológicas do PRO-AMITI do Ipq-HC-FMUSP.

Pediatras, psicólogos e neurocientistas, como mostram as recomendações das sociedades científicas, são praticamente unânimes em descartar o uso de dispositivos eletrônicos por crianças de até três anos. Em vez de simplesmente ‘acalmar’, esses produtos concorrem por recursos mentais na hora em que o indivíduo mais precisa deles para se desenvolver. “O gatinho na tela é feito para reter toda a curiosidade e a criança deixa de olhar o resto”, nota a pediatra Evelyn. Para as demais faixas etárias, os manuais da SBP escalonam limites de uso.

Fernando Louzada, neurocientista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), aponta alguns efeitos mais evidentes, como a piora do sono. Embora ratifique as recomendações gerais dos pediatras, o pesquisador pondera que uma avaliação não se esgota com os indicadores quantitativos. “Ainda faltam parâmetros para definir os marcadores de transtornos. O tempo excessivo é preocupante, mas o foco deve ser o impacto nas interações e no comportamento. Um jovem pode ser um usuário intensivo do digital e ainda assim ser ativo e espontâneo em outras interações e eventos”, diz. “Quem vai para o céu ou inferno se define pela margem de erro. Antes de tentar categorizar, é preciso olhar o contexto”, observa.

“Um jovem pode ser um usuário intensivo do digital e ainda assim ser ativo e espontâneo em outras interações e eventos...Antes de tentar categorizar, é preciso olhar o contexto”, orienta o neurocientista Fernando Louzada

DOENÇA OU MAU COMPORTAMENTO –QUANDO

E QUEM DEVE INTERVIR

Em 2018, a 11ª edição da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde, a CID-11, incluiu o uso abusivo de jogos eletrônicos (gaming disorder) na seção de transtornos que podem causar vício. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM-5, também passa a abranger problemas relacionados à dependência digital. “Conforme a demanda no atendimento clínico, as classificações de transtornos vão se inserindo nos manuais. Em pouco tempo, devem entrar outras coisas relacionadas a redes sociais ou celulares”, explica Anna Lucia Spear King, do Instituto Delete. Anna Lucia é especialista em saúde mental e autora de livros sobre dependência digital e explica que os casos atribuídos ao ‘vício tecnológico’ trazem histórias mais amplas. “Os leigos chamam de ‘viciado’ quem é só mal educado. Os casos patológicos trazem transtornos associados”, esclarece. “Tive um paciente que não conseguia se desvencilhar do celular e ficava paralisado com a bateria baixa porque tinha transtorno do pânico. Outro jovem veio porque seria ‘dependente’ do computador e vimos que tinha fobia social. A dependência patológica geralmente vem associada a um transtorno primário”, exemplifica.

Além da atuação em atendimento clínico, a especialista do Instituto Delete também é autora de Etiqueta digital, focado em aspectos comportamentais. Ela destaca a importância de um papel mais ativo dos educadores, para corrigir distorções danosas, mesmo que não configurem doença mental. “Quem libera o Wi-fi e os dispositivos não pode reclamar de falta de condições para dar limites”, constata.

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Arquivo pessoal
Secretário-geral da ONU alerta que a inteligência artificial pode comprometer a integridade de sistemas de informação, a mídia e até a democracia

VICIADOS DIGITAIS

“Há premissas importantes, que chamo de ‘5+1’. A primeira é a idade e o tempo de uso adequado. Também é preciso ver com que conteúdo a criança interage. Outro critério é o contexto; com quem e por que a criança usa as telas. Como educadores de saúde, temos ainda que enfatizar o que a criança faz fora das telas; e saber quais as atividades necessárias para o desenvolvimento psicomotor, de linguagem e social”, enumera Evelyn

O item adicional (externo à ação direta dos educadores) é regulação. “Temos que ter marcos legais que responsabilizem as empresas. Os algoritmos estão fora de controle”, diz a pediatra. Ela defende uma agenda que envolva profissionais de educação, saúde pública, justiça e as próprias famílias. “Tem que se ter consciência da necessidade de mediação parental”, enfatiza.

“Não dê um smartphone para pessoas com menos de 13 anos”, afirma a médica. A linha de corte converge com critérios jurídicos. “Os termos de uso (das plataformas online) colocam essa idade mínima até pelo desafio de tratamento de dados pessoais”, lembra Patrícia Peck, advogada especializada em direito digital. “Eu mesma fiz meus filhos esperarem até os 13 anos, mas com a pandemia os parâmetros podem ter mudado”, especula.

Com bagagem tecnológica (de quem programava aos 12 anos), formação humanística e décadas de trabalho focadas nos efeitos da transformação digital, a advogada aproveitou o interesse do filho de sete anos por um game como um ‘experimento psicológico controlado’. “Depois de ver o jogo, avisei que havia zumbis

“Temos que ter marcos legais que responsabilizem as empresas. Os algoritmos estão fora de controle”, diz a coordenadora da Sociedade Brasileira de Pediatria, Evelyn Eisenstein

e outras coisas que o assustavam. Ele criou um plano, com metas para superar esses temores, só para se mostrar preparado para jogar”, conta. “É preciso que os responsáveis leiam os termos de uso e verifiquem se os conteúdos são condizentes, até porque cada um tem temperamento e maturidade diferentes”, observa. “Criança navegando sozinha é menor abandonado digital”, define.

ENGENHARIA DO VÍCIO COM RISCOS AGRAVADOS

Enquanto eram reunidas as contribuições dos especialistas ouvidos nesta reportagem, o pronunciamento de António Guterres na Assembleia Geral da ONU, em 20 de setembro, elencava o saneamento digital junto a urgências como as crises climáticas e de abastecimento. “As plataformas de mídias sociais baseadas em lucros estão causando um dano imenso às comunidades e à sociedade… Os nossos dados estão sendo usados para influenciar o nosso comportamento. A inteligên-

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“No Vale do Silício é comum os engenheiros matricularem seus filhos em escolas sem tecnologia”, esclarece Cristiano Nabuco, pósdoutor em psiquiatria
Arquivo pessoal Anna Lucia Spear, especialista em saúde mental: a dependência patológica geralmente vem associada a um transtorno primário Arquivo pessoal

cia artificial pode comprometer a integridade de sistemas de informação, a mídia e até a democracia”, disse o secretário-geral.

“Grande parte das plataformas se estabeleceram com práticas de manipulação e as consequências são ampliadas em crianças, que junto aos adolescentes totalizam um terço dos usuários de internet”, constata Gabriel Salgado, coordenador de educação do Instituto Alana. Ele observa que, além das técnicas de rolagem automática, reforço positivo, premiação por uso contínuo e acesso irrestrito a jogos com log de redes sociais, há métodos de condução ocultos (dark patterns), que se tornam cada vez mais personalizados.

“Publicidade infantil é abusiva e ilegal. Menores de 18 anos não podem ser alvo de microssegmentação publicitária”, afirma Maria Mello, coordenadora do programa Criança e Consumo no Alana. “A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) exige um tratamento especial a informações pessoais de crianças e adolescentes, mas o uso e muitos serviços são condicionados a um cadastro em rede social”, lembra Gabriel.

Segundo a TIC Kids 2021, 81% dos usuários de internet de 11 a 17 anos viram divulgação de produto ou marca. Influenciadores abrindo encomendas ou dando dicas de produtos correspondem a pouco mais de 60% dessas visualizações.

As advertências da ciência e das organizações de defesa de direitos, apesar de graves, soam com menos veemência do que as revelações de ex-funcionários das grandes plataformas digitais. “No Vale do Silício é comum os engenheiros matricularem seus filhos em techless schools [escolas sem tecnologia]”, menciona Cristiano Nabuco. Em consonância a especialistas de outras disciplinas, o terapeuta descarta qualquer benefício dos dispositivos eletrônicos na primeira infância. “Fujam da pré-escola com educação digital; 90% dos aplicativos supostamente educativos jamais foram testados”, prescreve.

No processo de aprendizado, Cristiano Nabuco avalia que o modelo de ‘economia da atenção’ vai de encontro à forma natural de se desenvolver conhecimento. “A engenharia direciona à navegação contínua. São capturados dezenas de parâmetros para entregar informação facilmente assimilada (tanto pela superficialidade quanto por afinidades conscientes ou não). Isso concorre com o raciocínio, que requer cadência”, diz. Na leitura ou nas interações tradicionais, seja qual for o canal, as pausas correspondem ao tempo que o cérebro necessita para ativar seus recursos de consolidação da memória. “É um cobertor curto. O que se ganha em quantidade (de informação) tem um preço neurobiológico na hora de entender textos mais longos ou assuntos um pouco mais complexos”, explica.

O PARADOXO DO VÍCIO TECNOLÓGICO COMO SINTOMA DA EXCLUSÃO DIGITAL

Ainda segundo a TIC Kids, em 2021, 11,9 milhões das pessoas entre nove e 17 anos têm alguma conexão à internet em casa, mas não têm computadores, enquanto 2,1 milhões não têm nenhum acesso. O celular é o principal meio de acesso para a grande maioria e para 53% é o único, o que chega a 78% nas classes D e E.

Além do tamanho das telas, o próprio modelo de design dos produtos para mobile reduzem a relativa flexibilidade da navegação na web. As políticas tarifárias das operadoras, por sua vez, acabam estimulando o uso restrito a plataformas de oligopólios.

Orientação e limites de tempo no uso da tecnologia, reforça a advogada

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Efeitos do uso excessivo ou indevido entre adolescentes já chegam aos consultórios e núcleos de atendimento especializados
Patrícia Peck Arquivo pessoal

VICIADOS DIGITAIS

“A garantia de conexão com qualidade, gratuita e neutra (sem privilegiar esse ou aquele aplicativo) é muito importante. Se ignoramos essa condição técnica, vamos segregar e excluir”, avalia o coordenador de educação do Instituto Alana. “As vulnerabilidades relacionadas a renda, escolaridade e assistência à saúde influem nas condições de se apropriar de forma crítica. Por isso a importância de acesso de qualidade e livre, para escolhas conscientes”, enfatiza.

“Com a tecnologia, temos oportunidades de horários escolares mais flexíveis, melhoria do sono, liberação de tempo para atividade física e vários outros benefícios”, reconhece Fernando Louzada.

“Se não houvesse liberdade no acesso, não teríamos chefes de cozinha com nove anos”, menciona Patrícia Peck. “Toda tecnologia, até uma tesoura, tem algum risco. O problema é quando pais e educadores atribuem uma capacidade irreal de autoaprendizado à criança. É fato que só se aprende usando, mas sempre com uso orientado e limites de tempo. O aprendizado sem supervisão e crítica não contribui para um uso ético, seguro e sustentável”, argumenta.

“Os educadores precisam entender e orientar o uso da tecnologia com intencionalidade pedagógica”, resume o coordenador de educação Gabriel Salgado. Ele avalia que o uso impróprio é um risco generalizado, agravado por atividades comuns a praticamente todas as grandes plataformas. “Mas, quando olhamos efeitos de uso desenfreado, percebemos que são acentuados entre os mais vulneráveis. Há dificuldades estruturais para as famílias e para os próprios educadores estabelecerem a

“Fujam da pré-escola com educação digital; 90% dos aplicativos supostamente educativos jamais foram testados”, critica o psicólogo Cristiano Nabuco

mediação pedagógica”, reconhece. “Estimular os vínculos emocionais com a natureza e as pessoas, com brincadeiras livres e autônomas, sem algoritmos de indução de comportamento, é um contraponto importante”, lembra.

“As atividades online que exigem mais criticidade têm menor adoção do que as que exigem habilidades operacionais”, nota Luísa Adib, coordenadora da pesquisa TIC Kids Online. Enquanto mais de 70% usam redes sociais, sites de games e vídeos, apenas 22% buscam notícias regularmente e 15% entram em discussões sobre temas gerais da conjuntura. “Quanto mais aprofundado for o uso, mais se conhece o ambiente. Por isso a restrição não é o melhor caminho”, pondera.

Nas faixas etárias mais altas da amostragem, de jovens que começam a entrar no mercado de trabalho, o uso consciente é tão ou mais importante do que as habilidades tecnológicas em si. “As empresas buscam pessoas com capacidade de autonomia e foco”, diz Mirella Pedrol Franco, coordenadora da área trabalhista do GBA Advogados.

A coordenadora da Criança e Consumo no Instituto Alana, Maria Mello, alerta sobre a ilegalidade da publicidade infantil

O cyberloafing (ou vagabundagem digital) é a faceta mais óbvia da inversão de valores no uso de tecnologia. A advogada destaca, todavia, que o aprendizado sem orientação crítica dificulta a adaptação a contextos que exigem concentração, objetividade e colaboração. “A infantilização da linguagem e a informalidade típica de algumas plataformas trazem riscos. Até o corretor ortográfico pode criar ambiguidades inaceitáveis em alguns contextos”, adverte.

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As diversas linguagens para a educação

O

canadense Marshall McLuhan, o mesmo que definiu o termo aldeia global como um sinônimo da globalização, definia que “educar significava produzir imunidade contra a televisão”. Ele não era discípulo direto, mas adotou uma postura da Escola de Frankfurt, corrente sociológica que reagiu criticamente à técnica da comunicação de massa. Com a disseminação dos computadores portáteis na década de 1990, a computação entrou, aos poucos, no mundo que antes era ocupado pela linguagem da TV e do rádio, mas apresentando outros paradigmas de técnicas e também de possibilidades.

A linguagem computacional e a possibilidade de ser aprendida e realizada em casa começaram a gerar rumores da necessidade de uma nova alfabetização nos idos dos anos 2000. Foi esse o mote da primeira gestão do presidente estadunidense Barack Obama que, por meio de uma campanha popular, despertou a consciência sobre o tema para o mundo todo. Currículos escolares de educação básica no mundo, desesperadamente, começaram a incorporar elementos de cidadania digital, programação e outros. As diretrizes de que o Brasil dispunha, antes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), foram traídas pelo olhar extremamente instrumental da tecnologia.

Não precisa estar muito atento para perceber que o universo digital media a comunicação e interação humana com o mundo à nossa volta - isso abre possibilidades infinitas, ao mesmo tempo nos impõe conhecimentos es-

pecíficos para não serem engolidos por ele. Por isso, me parece tardio, mas extremamente necessário, que o Brasil tenha aprovado recentemente as Matrizes Curriculares de Computação para a BNCC. Trata-se de um importante documento liderado pelo Cieb (Centro de Inovação para a Educação Brasileira) e outras organizações da sociedade civil como o Instituto Palavra Aberta.

É um documento que precisa ser lido por todos os educadores. Traz elementos curriculares para o desenvolvimento de competências da educação infantil até o ensino médio, respeitando a matriz da BNCC. Explora desde a discussão de como a distribuição desigual de recursos de computação em uma economia global levanta questões de equidade e até estimula a compreensão do conceito de criptografia, na prática.

O olhar sobre técnica se mistura muito bem à abordagem da linguagem e cultura digitais (que é uma competência-base da BNCC). Se por um lado dominar aspectos técnicos pode significar interferir, analisar e mixar o mundo digital, por outro é na organização do pensamento e na produção cultural que o estudante encontra sentido e conexão com o que está aprendendo e sua realidade de vida. Assim, é proposto que na educação infantil a ludicidade não deixe de existir quando se esboça uma visão sobre o que significa a linguagem computacional. Até o ensino médio, quando é possível pensar com mais profundidade em temas complexos como a inteligência artificial e seu impacto no universo do trabalho.

Há duas questões, entretanto, cujo debate é fundamental para gerar mais significado a esse documento.

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Me parece tardio, mas extremamente necessário, que o Brasil tenha aprovado recentemente as Matrizes Curriculares de Computação para a BNCC
| POR Alexandre Le Voci Sayad
MIDIÁTICA

A primeira é como o desenvolvimento dessas atividades pode chegar ao chão da escola pública brasileira. A segunda é como separar as diversas realidades digitais. Pois nem tudo que é digital, é igual, ou seja, funciona sob a mesma premissa. Refiro-me especificamente aqui ao universo da inteligência artificial.

Sobre a primeira, além dos prejuízos cognitivos e socioemocionais indicados no último Ideb, houve também perdas estruturais nas escolas públicas. Isso inclui equipamento e sobretudo o atraso na chegada de internet banda larga. É possível trabalhar conceitos tecnológicos sem conexão, como realizam algumas lideranças educacionais criativas como o professor Renato Hendrigo, que desenvolveu uma experiência de checagem de notícias sem usar a internet. Mas banda larga é ponto pacífico para uma educação que procure explorar as possibilidades de trilhas de aprendizagem digitais.

Por outro lado, o princípio da computação, que prevalece na maioria do documento, é bem diferente daquele dos algoritmos que conhecemos e que predomina em nossas vidas. Os primeiros computadores e muitos softwares, hoje, realizam tarefas específicas com a utilização de poucos dados (como o Word ou Excel). O princípio da inteligência artificial funciona não como a programação; trata-se de um sistema estatístico de probabilidade que utiliza uma quantidade imensa de dados para seu funcionamento, segundo a cientista em inteligência artificial e ética Dora Kaufman, da PUC de SP. O algoritmo utiliza essa base para tarefas diversas, inclusive aquelas preditivas; e se modifica, ou seja, aprende conforme é utilizado em um

ciclo de aperfeiçoamento que depende de diversos fatores. Quando conversamos com um algoritmo IA, como em algum chatbot, temos uma mediação diferente do que aquela da computação dita ‘tradicional’. Isso acaba implicando outros impactos éticos na solenidade como uso de dados, privacidade, recorte arbitrário da realidade por algoritmos de recomendação (como no Facebook e Netflix), dentre outros. Trata-se de uma outra linguagem, também digital. O que torna o desafio do Brasil ainda maior para escolas é a onipresença de diversas mediações. A televisão e o rádio, alvos da crítica da Escola de Frankfurt, estão mais vivos do que nunca: segundo pesquisas feitas durante a pandemia, esses foram os principais veículos de comunicação pelos quais a população obteve informação. A computação clássica é presente há tempos no cotidiano dos serviços públicos e privados. Já a inteligência artificial, queiramos ou não, ocupa os processos de transformação digital cada vez mais. Olhar para a tecnologia no Brasil no sentido de educar estudantes, professores e famílias deve significar e considerar essa miríade de linguagense eliminar, de vez, qualquer olhar instrumental sobre ela. Esta coluna Midiática vai explorar mais profundamente aspectos do impacto da inteligência artificial na educação durante as próximas edições.

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Alexandre Le Voci Sayad é jornalista e educador, diretor da ZeitGeist e co-chairman da UNESCO MIL Alliance Shutterstock
A linguagem computacional e a possibilidade de ser aprendida e realizada em casa começaram a gerar rumores da necessidade de uma nova alfabetização nos idos dos anos
2000

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Silêncio das escolas priva crianças de autoproteção

Crença equivocada de que a educação sexual pode erotizar crianças e jovens e acelerar a iniciação sexual inibe escolas de utilizar a melhor arma contra a violência sexual infantil

SEXUAL É

direito dos alunos e alunas e responsabilidade da escola incluir temas de educação sexual no currículo, determina a Constituição brasileira e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Mas a visão distorcida sobre a educação sexual e as notícias falsas contribuem para a reprodução do mito de que ela erotiza as crianças e facilita o acesso de abusadores aos seus corpos.

Dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos apontam que cerca de 75,9% dos casos de abuso sexual infantil ocorrem no ambiente domiciliar, onde 40% dos episódios são cometidos pelos próprios pais ou padrastos. Esse estudo mostra que, se a educação sexual continuar reservada à esfera familiar, crianças não terão acesso à informação que pode protegê-las dos abusos.

A prevenção da violência sexual e o caminho para a proteção das infâncias e das juventudes acontecem através do diálogo de qualidade, com profissionais preparados e materiais didáticos adequados. Segundo Caroline Arcari, pedagoga e mestra em educação sexual pela Unesp e consultora na área de educação sexual e enfrentamento à violência sexual contra crian-

ças e adolescentes, foi comprovado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio da análise de mais de 1.000 relatórios sobre os efeitos da educação sexual no comportamento de jovens, que quanto mais informação de qualidade sobre sexualidade, mais tarde os adolescentes iniciam a vida sexual. “A educação sexual não se refere apenas ao conhecimento dos genitais e de onde vêm os bebês, mas aos conceitos de autoproteção, consentimento, integridade corporal, sentimentos, emoções, sonhos, identidade, tipos de toques que adultos estão autorizados ou não em relação ao corpo da criança e do adolescente, esco-

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EDUCAÇÃO
Cerca de 75,9% dos casos de abuso sexual infantil ocorrem no ambiente domiciliar, aponta o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos

A rede pública de Itumbiara, em Goiás, oferece aula de Prevenção e Qualidade de Vida com Amor Exigente

lhas, higiene, saúde, relações - tudo isso é educação sexual”, ensina Caroline, que trabalhou na formação de educadoras(es), psicólogas(os), profissionais de saúde, conselheiras(os) tutelares e assistentes sociais no Brasil, na Inglaterra, em Portugal, na Espanha, nos Estados Unidos e em Cabo Verde.

Em todas as escolas da rede municipal de ensino da cidade de Itumbiara, em Goiás, do 1º ao 9º ano do ensino fundamental 1 e 2, há uma disciplina chamada PQV-AE (Prevenção e Qualidade de Vida com Amor Exigente), ministrada uma vez por semana, onde são trabalhados os temas da educação sexual. Sentimentos (identificar as emoções e conseguir verbalizar o que sente), prevenção ao abuso sexual com material especializado, toque do sim e toque do não (toques de amor trazem sensação boa; toques abusivos são desconfortáveis e tristes), violência, prevenção às drogas, mídias, empoderamento feminino, entre outros. No início do ano a escola identifica o professor apto a trabalhar essa disciplina com crianças e adolescentes e inicia a formação para capacitá-lo, de acordo com a faixa etária dos alunos. “Desde 2008, quando foi criada a disciplina para dar educação sexual aos alunos, todo ano é realizada a formação de novos professores, para que sejam preparados para o cargo”, conta Tânia

Regina Martins e Sousa, coordenadora pedagógica na Secretaria Municipal de Educação de Itumbiara. De acordo com a última contagem das escolas da rede municipal de Itumbiara, Tânia Martins relata que foram identificados 132 casos de abuso sexual de crianças, e, em 99,9% dos casos, o agressor era homem. Em apenas um caso a agressora era a mãe da criança. Esse número deu credibilidade ao trabalho de prevenção realizado e ganhou o apoio da população.

Pesquisa do Datafolha divulgada este ano revela que 73% dos brasileiros apoiam a presença da educação sexual nas escolas. Já sobre a importância de abordar o tema em aula para a prevenção de abuso sexual, nove entre 10 pessoas concordam.

A EDUCAÇÃO SEXUAL NÃO DEVE

SER APENAS REATIVA

Existe a crença de que se deve responder apenas o que a criança pergunta, mas Caroline Arcari alerta para o fato de que não se sabe o motivo de a criança não perguntar. Ela é a autora do best-seller Pipo e Fifi: proteção contra violência sexual (ed. Caqui), que recebeu o prêmio internacional de melhor material didático de prevenção à violência sexual da Univer-

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A prevenção da violência sexual e o caminho para a proteção das infâncias e das juventudes acontecem através do diálogo de qualidade, com profissionais preparados e materiais didáticos adequados Fotos:Divulgação

EDUCAÇÃO SEXUAL

sidade do Minho, Portugal, o prêmio de Direitos Humanos Neide Castanha e foi contemplada com a medalha Zilda Arns, cedida para iniciativas de cuidados com a primeira infância.

Nem sempre uma criança que não pergunta de onde vêm os bebês não tem dúvida e curiosidade sobre como isso acontece. É provável que já tenha demonstrado interesse, mas nota que os adultos se esquivam, mudam de assunto, prometem responder depois (torcendo para que a criança esqueça). A criança pode ter passado por algum constrangimento na escola e, ao receber uma resposta que não foi positiva, deixa de perguntar.

Caroline explica que a educação sexual deve operar como a educação no trânsito: “não esperamos o pequeno perguntar, para a sua segurança o ensinamos a atravessar a rua, a respeitar os faróis de pedestres, a como andar na calçada para que saiba agir diante de qualquer situação. Ou seja, é preciso fornecer as ferramentas de autoproteção antes de a criança precisar, para que saiba dizer não, para que detecte um ato abusivo, para que ela peça ajuda assim que esse ato se apresentar, para que consiga reagir. Essas informações vêm antes de as coisas acontecerem”, alerta Caroline.

DEMANDAS DA IDADE

Sexualidade nada mais é do que a busca pelo bem-estar, seja na relação consigo mesmo ou com o outro. E essa busca se dá desde o nascimento: pelo toque dos pais, pela amamentação, como o bebê sente segurança, o embalar de um colo, a percepção do seu corpo, a descoberta das cores, das texturas, dos sons e do mundo. Segundo Tânia Martins, a sexualidade é o tema mais

A coordenadora pedagógica Tânia Martins afirma: “a sexualidade é o tema mais difícil de trabalhar na escola porque as mães e os pais têm medo do que será ensinado aos seus filhos sobre sexo”

difícil de trabalhar na escola porque os responsáveis pelos alunos têm medo do que será ensinado aos seus filhos sobre sexo. Reuniões para esclarecer dúvidas, apresentar os materiais que serão utilizados, indicar literaturas sobre o tema são essenciais para o apoio da família, explica.

Caroline Arcari orienta que a educação sexual precisa levar em conta as demandas de cada faixa etária e que deve começar na primeira infância. “Mais do que falar sobre de onde vêm os bebês, de genitalidade, anatomia e fisiologia, a educação sexual fala de sentimentos, de emoções, da construção da identidade, da busca do bem-estar, do respeito ao consentimento, do prazer do afeto, das pessoas de confiança, questões presentes desde a primeira infância”, assegura.

Nessa fase a educação sexual acontece na interação da criança com seu meio e com outras pessoas, nas experiências afetivas, na construção da sua imagem corporal, ao aprender as partes do corpo e as diferenças anatômicas. A partir daí, em cada faixa etária, a criança apresentará demandas e curiosidades diferentes e a função da escola e da família é responder com honestidade a todos os seus questionamentos.

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Arquivo pessoal
“Crianças e adolescentes que têm educação sexual na escola e em casa estão seis vezes mais protegidos contra a violência sexual”, afirma Caroline Arcari

EXEMPLOS DO QUE SE PODE TRABALHAR NA CRECHE

Os adultos devem falar sem constrangimento sobre as partes do corpo e ensinar os nomes corretos, inclusive das partes íntimas, explicando que são especiais. Isso ajuda a criança a se apropriar de seu próprio corpo e a crescer com uma perspectiva positiva em relação a ele. Ela precisa saber quem é que pode dar banho nela (a professora da creche ou um adulto de confiança de sua casa, por exemplo). Tudo isso é educação sexual, pois oferece ferramentas para que crianças e adolescentes façam escolhas responsáveis, percebam quais são os limites, saibam qual é a forma saudável de os adultos se relacionarem com elas e detectem situações de violência sexual, ao descobrirem, por exemplo, que aquilo que achavam corriqueiro, que o pai ou o avô fazia, era na verdade um toque abusivo.

“Este ano, durante a aula em que a professora ensinava sobre os toques do sim e os toques do não, uma criança de seis anos falou para a professora que o avô, quando a avó dormia, a levava para fora de casa e fazia, nela, os toques do não.”, relata Tânia. Depois de conversas com a criança e análise dos desenhos feitos por ela, a escola conversou com a mãe da criança que se negou a denunciar o avô, por não acreditar na história contada. O Conselho Tutelar foi chamado e foi feito o boletim de ocorrência. Por fim, descobriu-se que o mesmo avô havia abusado da mãe da criança e que a criança era filha dele.

Caroline explica que, para as crianças e adolescentes, os temas trabalhados são: gravidez, namoro, masturbação e relacionamento e que a educação sexual desempenha papel determinante no combate ao machismo, sexismo, violência, preconceito, na prevenção da gravidez, no combate ao abuso sexual, além de aju-

dar no desenvolvimento da afetividade. É o espaço para que expressem suas dúvidas, angústias e sentimentos em relação ao corpo e ao sexo, podendo desfazer mitos, preconceitos e tabus.

“Quando ministrada com qualidade e material adequado a cada faixa etária, a educação sexual é excepcional como ferramenta de autoproteção. Crianças e adolescentes que têm educação sexual na escola e em casa estão seis vezes mais protegidos contra a violência sexual”, conclui Caroline.

VISÃO POSITIVA

A Unesco publicou em junho de 2010 a Orientação Técnica Internacional sobre Educação em Sexualidade e um dos propósitos do documento é que crianças, adolescentes e jovens, respeitando as especificidades de cada faixa etária, possam ter uma visão positiva da sexualidade, percebam a importância de uma comunicação clara nas relações interpessoais, desenvolvam espírito crítico e reflitam a cada tomada de decisão relativa à sua vida sexual e reprodutiva, garantindo assim o seu bem-estar.

“Precisamos fornecer as ferramentas de autoproteção antes de a criança precisar, para que ela saiba dizer não e detectar um ato abusivo”, orienta Caroline Arcari, consultora de enfrentamento à violência sexual

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Os adultos devem falar sem constrangimento sobre as partes do corpo e ensinar os nomes corretos, inclusive das partes íntimas, explicando que são especiais
Arquivo pessoal

A implementação de um sistema bilíngue na prática

Conheça os desafios e avanços de uma escola gaúcha que inseriu para seus alunos do ensino fundamental uma metodologia bilíngue que integra idioma, conteúdo e competências socioemocionais

O ano era 2019 e o tradicional Colégio Marista Aparecida, em Bento Gonçalves, RS, à época prestes a completar 80 anos de história, se preparava para mais um passo em sua proposta educacional: a implementação de um sistema bilíngue em sua grade curricular.

Começava ali o desafio do Vivências Bilíngues, projeto que nasceu do desejo da ins�tuição de trazer mais fluidez para a aprendizagem da língua inglesa. “O obje�vo era quebrar o padrão de ensino por meio da gramá�ca e focar em uma metodologia mais vivencial e próxima da realidade dos estudantes”, explica a vice-diretora Adriane Bussolo�o.

Confira, a seguir, as etapas do projeto, o planejamento para sua execução e a recep�vidade do corpo docente e dos estudantes.

Sinapses

De acordo com os estudos desenvolvidos pelo neurocien�sta francês Stanislas Dehaene, o cérebro da criança é extremamente recep�vo à aprendizagem em geral e especialmente apto para o desenvolvimento de linguagens. Sendo assim, ele sugere que os alunos sejam expostos ao ensino das línguas adicionais o mais cedo possível.

“É a famosa plas�cidade cerebral: ao submeter uma criança a uma imersão em um idioma adicional, estamos proporcionando uma extraordinária transformação em seu cérebro”, comenta a mestre em educação, especialista em

Fotos:Divulgação

Adriane Bussolo�o, vice-diretora do colégio: “o obje�vo era quebrar o padrão de ensino por meio da gramá�ca”

A interdisciplinaridade é a base da Systemic Bilingual, que tem como fundadoras as irmãs Fá�ma Tenório e Vanessa Tenório

neurociências e comportamento e cofundadora da Systemic Bilingual, Vanessa Tenório.

A implantação do Vivências Bilíngues teve início para as salas do 1º ano ao 8º ano do ensino fundamental. No entanto, obedeceu a uma estratégia em que a proposta foi inserida na forma curricular, naquele momento, ao 1º ano e 2º ano, sendo que do 3º ao 8º ano esteve como extracurricular.

No início deste ano, foi concluída a implementação no currículo de todos os anos do fundamental 1 – sendo que, do 6º ao 8º ano, o colégio segue com a oferta extracurricular.

Preparação da equipe

Durante uma semana, professores e a coordenação pedagógica do Colégio Marista Aparecida receberam formação e materiais. “No decorrer do processo, �nhamos sempre a assessoria em pedagogia da empresa parceira responsável pelo sistema bilíngue, observando as aulas e fazendo os ajustes necessários”, detalha a vice-diretora.

A observação com feedbacks dessas dinâmicas é semanal. “Isso faz com que os processos sejam corrigidos no início e as assessoras, junto com a coordenação, organizem os treinamentos necessários durante o andamento”, diz.

APRESENTADO POR studio

“How do you say?”

Desde que o programa passou a fazer parte do dia a dia das aulas, a frase em inglês acima integra a rotina dos estudantes. “Além do uso de conteúdos e assuntos que sejam de conhecimento e interesse desse público, eles aplicam esse questionamento para perguntar algo que não saibam expressar em inglês”, relata a vice-diretora Adriane Bussolotto.

A gestora conta que esse recurso ajuda os alunos a criarem repertório e compreenderem o funcionamento da língua. “Sempre fazemos um paralelo com o nosso idioma: um estudante já sabe conjugar verbos mesmo antes de saber que existem conjugações, porque ele entende esse funcionamento”, acrescenta.

O Vivências Bilíngues foi desenvolvido com o propósito de ampliar e qualificar os diferenciais oferecidos pelo colégio e valorizar, ressalta, o inves�mento feito pelas famílias. “O projeto tem o intuito de formar estudantes mais proficientes nas línguas estrangeiras, conectados com os desafios e demandas do mundo atual e mais preparados para as oportunidades que surgirem no mercado”, conclui Adriane Bussolo�o.

“Em 2002, quando começamos a disseminar a ideia de um sistema bilíngue para escolas regulares, �nhamos a clara percepção de que as pessoas não entendiam exatamente o que queríamos dizer”, recorda-se a também mestre em educação Fá�ma Tenório que, naquele momento, colocava em operação ao lado de sua irmã, Vanessa Tenório, a metodologia Systemic Bilingual.

A proposta é a de educar os alunos em inglês, como um todo, envolvendo-os em situações naturais dentro de sala de aula, tendo o idioma como mais um meio de comunicação para que diversos obje�vos possam ser alcançados, desde a aprendizagem de assuntos específicos até a apreensão de competências socioemocionais.

BNCC

“Os temas interdisciplinares trabalhados no programa estão, não apenas alinhados às habilidades da BNCC [Base Nacional Comum Curricular], mas tagueados em nível de micro-habilidades, um trabalho minucioso e especializado”, reforça Vanessa Tenório

Todo o programa está sendo colocado em uma plataforma que classifica cada aula de acordo com as micro-habilidades que serão exercitadas. “Sabemos detalhadamente o que deve ser desenvolvido no estudante – isso é crucial para a intenção pedagógica e o processo avalia�vo”, afirma.

Há 20 anos no cenário educacional, a metodologia está em mais de 100 escolas, alcançando 30 mil alunos de quase todos os estados brasileiros. “Estamos formando gerações de sujeitos bilíngues e isso, certamente, terá um impacto posi�vo na sociedade”, reforça a cofundadora, Fá�ma Tenório.

Fundado em 1940, Colégio Marista Aparecida possui metodologia bilíngue há três anos

RUBEM ALVES

O homem que semeou uma educação sem gaiolas

Um e-book que é a espinha dorsal dos pensamentos de Rubem Alves, um dos principais educadores contemporâneos. É assim que sua filha mais nova, Raquel Alves, define a obra Entre o saber e o sabor: o dilema da educação, cujas crônicas antes podiam ser encontradas de forma fragmentada nas colunas que escreveu para a revista Educação entre 2007 e 2012. O prefácio é de José Pacheco, reconhecido mundialmente pelas críticas ao modelo tradicional escolar. “Num encontro que viria a mudar a minha vida”, inicia Pacheco sobre quando conheceu Rubem Alves.

Última foto de Rubem e Raquel

Responsável pela organização do livro, Raquel Alves encontrou em uma das várias crônicas a mensagem de Rubem sobre três coisas que sonhava para uma escola – sabedoria de viver juntos; a arte de pensar; e o prazer de ler – e foi a partir desses pontos que ela organizou a obra. Um desafio, já que de início se deparou com crônicas organizadas por cronologia.

“Acima de qualquer coisa, de qualquer pensamento, esse livro traz o todo ao alinhar a sustentação da espinha dorsal”, acredita. Para ela, a obra é mais contemporânea do que nunca: “não importa se foi escrita há 10, 20, 30 anos, porque ele aborda os desafios da educação de hoje. Seja qual for o assun -

Com pouco mais de 60 páginas, o prefácio é de José Pacheco

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Crônicas do educador organizadas cuidadosamente pela filha caçula se transformaram em e-book que será lançado em breve pela RFM Editores
Arquivo pessoal
“Não importa se foi escrita há 30 anos, porque ele aborda os desafios da educação de hoje”

to e a vertente da educação, meu pai sempre se reporta ao lado do ser humano e se tem uma coisa que não muda ao longo do tempo são as pessoas. Porque a ciência, tecnologia evoluem, mudam. Mas o ser humano é e sempre será humano. Se queremos olhar para o futuro, o que temos de certeiro é olhar para o ser humano, por isso que a obra do meu pai nunca vai ficar obsoleta”.

Questionada sobre algum momento marcante entre pai e filha – dentre tantos –, Raquel se recorda de quando criança ter ‘acordado com as galinhas’ e ido à cama em que sua mãe e pai dormiam e dizer: “’papai, quando você morrer você vai sentir saudade?’ Ele ficou em silêncio. Não soube responder e eu o acalmei ao falar que não era para ele se preocupar porque quando ele morresse eu iria abraçá-lo”. Raquel complementa que o momento foi tão marcante para seu pai que o inspirou a escrever o livro A montanha encantada dos gansos selvagens.

“Todas as minhas iniciativas de manter vivo o legado do meu pai sinto que são uma forma de abraçá-lo. Sinto que estou cumprindo a minha promessa”, completa Raquel.

QUANDO A SENSIBILIDADE AFLOROU

No Grande Encontro da Educação de 2021, evento organizado pela revista Educação e naquele ano online por conta do isolamento social, Rubem Alves foi um dos educadores homenageados, sendo representado por Raquel. Na conversa mediada pelo nosso antigo editor, o jornalista Sérgio Rizzo, Raquel Alves contou que seu pai começou a escrever textos não acadêmicos a partir de seu nascimento, em 1975. “Eu teria que ser operada nos primeiros dias de vida e dentro dessa reflexão ele percebeu que, para eu viver, tanto eu quanto meus pais teríamos que lutar. E o que faz a pessoa querer lutar é a vontade de querer estar na vida, sendo que temos essa vontade quanto encontramos a beleza da vida”, conta a caçula.

“Ele entendeu que teria de tirar de dentro dele essa beleza da vida e em linguagem sensível e não acadêmica. Eu fui só o ponto de partida. E aí percebi que a história era comigo. Quando ele faleceu decidi que não continuaria como arquiteta paisagista para cuidar do legado dele.”

Compromisso com a emoção

Rubem Alves nasceu em 15 de setembro de 1933, em Minas Gerais. Defendia uma educação da sensibilidade, cujo tempo abraçasse a liberdade do brincar. Educador, escritor, teólogo, filósofo e psicanalista, faleceu em 19 de julho de 2014, em São Paulo, aos 80 anos.

Foi pastor perseguido pela ditadura e em seu autoexílio morou com a família nos Estados Unidos. Alguns especialistas o colocam como a primeira pessoa a escrever sobre Teologia da Libertação. Retornou ao Brasil nos anos 70 como doutor em filosofia. Segundo o Instituto Rubem Alves, deixou um legado de 138 obras escritas, sendo 12 publicadas em países como Argentina, EUA, França, Alemanha e Romênia. Rubem Alves completaria 89 anos em 15 de setembro deste ano.

Acompanhe na internet

O Instituto Rubem Alves foi criado em 2012 – dois anos depois, o homenageado faleceu – e por meio de projetos dissemina o pensamento do educador. A partir das obras de Rubem, por exemplo, atua com formação de educadores. Acesse: www.institutorubemalves.org.br. Instagram: @institutorubemalvesoficial.

Raquel Alves já foi presidente do instituto. Hoje continua disseminando as contribuições de seu pai para a educação e sociedade por meio de palestras, geralmente para educadores, e de seus livros, alguns, inclusive, adotados em bibliotecas escolares. É colunista no site da revista Educação . Acesse: www.raquelalves.com.br. Instagram: @ raquelalvesescritora ou mande e-mail para raquel@raquelalves.com.br

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ENSAIO

Professa professor, professa

Dramaturgia, ritualidade e celebração. Assim é a aula. E não apenas um conjunto de atividades sem sentido para formar habilidades para o mercado de trabalho

| Por Fernando José de Almeida

Oque causou tanto encantamento na minha infância pela figura do ‘meu’ professor ou da ‘minha’ professora? O sentido de dignidade da sua pessoa? A investidura de uma sabedoria que é só dela? O sentimento de que ela vai me acompanhar para sempre, mesmo que o esqueça?

Eu morava numa estreita rua sem saída. As montanhas de pedra que cercavam a cidade me davam segurança. Com pais amorosos, eu ficaria ali, sempre, bem quieto e feliz com a leveza do verde e as brincadeiras de caçar sapos ou de jogar futebol na rua, ainda de terra.

Um dia inauguram-se a escola e os professores. Eles entraram na minha vida e trouxeram mundos que meus pais, vizinhos ou parentes nunca me trariam.

D. Jandira, D. Ítala, alfabetizadoras. D. Conceição Abicalil – diretora da escola, que respeito! Professor Cláudio, de matemática, ia de bicicleta para a escola.

De terno e presilha na calça para não prender a bainha na corrente da bicicleta. De pasta e cabelo milimetricamente dividido com régua.

Depois veio o ginásio, com professores aos montes, de idades e conhecimentos diferentes. Eram como mágicos que abriam livros, exalavam seres coloridos, exóticos, traziam um zumbido de espanto, certa tontura e encantamento.

Regiões novas na Terra. Espaços interestelares, literaturas, canções bélicas ou românticas, maldades das fábulas, riquezas e guerras, fratricidas e imbecis...

Os professores tinham humores diversos e abriam-me os mistérios de seus baús. Cada um deles, nos 50 minutos de aula, nos desenrolava inesperadamente um mapa, uma canção, um jogo ou uma oficina. Espaço sideral em que as constelações pareciam centauro ou escorpião. Hino de outro país que contava uma revolução havida na Europa: “Vamos, crianças da pátria, chegou um dia de glória – os tiranos querem cortar nossas

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gargantas, levantando uma bandeira ensanguentada!” Eu ficava impressionado com tais histórias de soldados, de reis, de batalhas, de ditos heroísmos e de outros povos, outras línguas, outras músicas, outras roupagens. Com eles, aprendi onde estou. Aprendi também que há outros lugares onde outros estão. Aprendi que há pontos cardeais (?). Para quê quero saber isso? (A pergunta já é parte da função da aprendizagem!)

As coisas existem e têm nomes, podem ser medidas e tais realidades nomeadas podem ser descritas e narradas. Eu percebi que as coisas podem não ter fim nunca, um, dois, 20, ...5 milhões trezentos e vinte nove mil e seiscentos... os números, nunca, nunca acabam. E eu posso ir desenrolando esta fita de números sem fim e junto com eles torno-me um pouco infinito.

Cada coisa tem seu correspondente nome. Entrei num mundo simbólico. Nele posso escrever e contar coisas a outras pessoas.... aprendi que existem ideias, pensamentos e imaginação. As pirâmides e os dinossauros, o broto de feijão que nasce quando fica um tempo num algodão com água. Mistérios do cristal que refrata e abre as cores da luz branca nas cores do arco-íris e que se transportam no universo inteiro até chegar a distâncias infinitas. Perdi um amigo (meus pais disfarçaram), a escola contou para mim o mistério da perda.

As histórias se multiplicam num ambiente que me abriu mundos. Deles, nem tudo me lembro, mas de tudo fica um pouco. Mesmo que não lembrado, tudo conformou as nossas entranhas cognitiva e valorativa. Por exemplo, os gregos queriam saber a origem da matéria e seus componentes últimos. E formularam a noção de átomo. Nossos professores, quando chegam à química, nos apresentam a tabela periódica de Dmitri Mendeleiev (1834-1907), que vai criar uma espécie de mapa celeste de todos os elementos químicos conhecidos. O espetáculo causado na inteligência de um aluno quando percebe a beleza do quadro que engloba toda a matéria do universo, nomeando cada elemento e apresentando-lhes as características, é milagre, no meu modo de ver. Toda a riqueza do trabalho do professor não está na memoriza-

ção da tabela (é claro!), mas na síntese de vida que se faz ao compreender o significado deste longo trabalho de conhecimento construído socialmente.

Perguntarão os mais pragmatistas e acumuladores:

“Mas ninguém se lembra do peso atômico do carbono?” Eu responderia: “Assim como não me lembro do que almocei na semana passada, mas o resultado da tal refeição está incorporado em meu sangue, nos ossos e compõe agora minhas células cerebrais”.

O professor, como agente social, tem a teatralidade ao narrar, ritualizar, comemorar, imaginar e trazer o que os alunos nem tinham pensado ainda. Ele parte do que o aluno viveu e vai trazendo às crianças, aos jovens, a outros adultos o que eles não sabiam ainda. Suas aulas têm origem no saber próximo da comunidade escolar que inaugura mundos da necessidade imediata. Mas o mundo de que ele precisa nem sempre é aquele de seu querer imediato.

Dramaturgia, ritualidade e celebração. Assim é a aula. E não apenas um conjunto de atividades sem sentido para formar habilidades para o mercado de trabalho.

A circulação do professor pelo espaço da ‘aula’ (pátio interno dos antigos palácios) traz a animação dos teatrólogos, a provocação dos vendedores ambulantes, a alegria de um espetáculo em que todos aportam ideias que correspondem às que os ouvintes admiram, mas ainda não sabiam. O professor pergunta, provoca, articula o que os aprendizes já sabem e mostra-lhes o que não sabem. Faz jogos de palavras, une áreas do pensamento: biologia com arte, física com a corporeidade, história com química, mitos com astronomia, metafísica e cotidiano, luto e transcendência....

Celebram a vida.

Comemorar o dia 15 de outubro.

Fernando José de Almeida é professor de pós-graduação em educação: currículo na PUC-SP e foi secretário municipal de Educação da cidade de São Paulo (2001-2002).

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Toda a riqueza do trabalho do professor não está na memorização da tabela, mas na síntese de vida que se faz ao compreender o significado deste longo trabalho de conhecimento construído socialmente

Na rede pública, bibliotecas escolares não funcionam corretamente

Falta de profissionais especializados é um dos entraves. Além disso, a lei que pretendia universalizar as bibliotecas em 10 anos não foi regulamentada e sua implantação tem sido adiada

Pouco mais da metade das escolas do país têm uma biblioteca, aponta o Inep. Quando têm, é corriqueiro haver cadeados separando crianças, jovens, adultos e toda a comunidade escolar e a do bairro de milhares de livros. O que seria uma biblioteca se transforma em depósito de acervo ou até almoxarifado. Com raras exceções, a falta de bibliotecários provoca o funcionamento precário e improvisado desses ambientes de leitura. “Aqui na cidade tem uma escola em que a biblioteca funciona, inclusive, com ‘Hora do conto’, realizada pela bibliotecária. É o meu sonho”, conta Marizete Goulart, diretora da Escola Estadual Demétrio Ribeiro, localizada no centro da cidade de Alegrete, RS.

De fato, uma biblioteca com espaço físico acolhedor, aberta a alunos de todos os períodos, com livros devidamente catalogados e, nela, a presença do bibliotecário regendo atividades para envolver crianças e jovens na leitura é o sonho de muitos diretores e professores de escolas públicas. A lei nº 12.244, de 24 de maio de 2010, tinha o objetivo de tornar esse contexto realidade, ao determinar às redes de ensino – públicas e privadas – esforços progressivos no sentido da universalização das bibliotecas escolares, no prazo máximo de 10 anos, respeitando as normas que regem a profissão de bibliotecário. O prazo chegou ao fim e a universalização não aconteceu. A lei não foi devidamente regulamentada e sua implantação tem sido adiada. A Comissão de Educação da

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LEITURA
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Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 4003/20, que ampliou o prazo para 2024 e alterou a definição de biblioteca escolar para abranger outros suportes além do livro impresso: livros digitais, materiais videográficos, áudios, fotos e documentos registrados em qualquer suporte destinados à consulta, pesquisa, estudo ou leitura.

De volta a Alegrete, Marizete até tentou concretizar seu sonho: “formalizei o pedido de um profissional à Coordenadoria Regional de Ensino (CRE) e recebi a orientação de aproveitar os professores readaptados. O último docente com desvio de função e que trabalhava na biblioteca saiu em julho”, conta. Atualmente, o funcionamento da biblioteca conta com a boa vontade da secretária da escola, que consegue mantê-la aberta nos períodos da manhã e da tarde. Os alunos do ensino médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do período noturno são privados do espaço. A bibliotecária à qual Marizete se refere na escola que ela tem como referência para o bom funcionamento da biblioteca é na verdade uma professora readaptada que recebeu formação específica em biblioteca escolar. Marizete acredita que essa é uma saída. Pelo menos é o que também funciona na Escola Estadual Municipalizada Dona Thereza Odette, em Ipu, cidade a 280 km de Fortaleza, CE, onde uma professora readaptada, por causa de problemas nas cordas vocais, comanda a biblioteca há mais de 10 anos. Conforme explicou o professor de matemática Antonio de Souza, a escola atende alunos do ensino médio e o que mais funciona ali é o empréstimo de livros.

No centro da capital paulista, a biblioteca da Escola Estadual Fidelino de Figueiredo permanece aberta graças à professora Regina Mello. Ela lecionava história até 2018, atualmente está readaptada. O desejo de não ficar ‘encostada’ e o gosto pela literatura a levaram a aceitar a tarefa em 2019. “Quando eu era professora de história, sempre levava os alunos para fazerem algum trabalho na biblioteca, mas, à época, os diretores achavam que a biblioteca não era lugar para trânsito de alunos e ela permanecia trancada a maior parte do tempo”, conta. Livros não faltam. Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, Drácula, de Bram Stocker, literatura infantil e até livros de autores recentes abordando o racismo compõem a grande diversidade de gêneros literários à disposição. “Quando eu peguei a biblioteca, descobri diversos livros em um armário trancado. Por exemplo, havia quatro exemplares

“Quando peguei a biblioteca, descobri diversos livros em um armário trancado.

Os alunos nunca tiveram acesso a ele”, conta a professora

da edição especial da Mafalda, de capa dura, e nele estava escrito ‘cuidado com este livro, que é caro’. Os alunos nunca tiveram acesso a ele. Descobri pérolas, um acervo muito grande, coisas que algumas bibliotecas não têm. Coloquei todos os livros para circular.”

O espaço é pequeno, com quatro estantes, anexo a uma sala maior com projetor onde os alunos assistem a filmes. Essa configuração espacial não facilita a criação de um ambiente propício à leitura. A escola aguarda uma reforma. E ganhará um reforço: estagiários do curso de Biblioteconomia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) se propuseram a ensinar a catalogar e a limpar o espaço da biblioteca.

“O bibliotecário é essencial para que uma biblioteca escolar tenha vida”, sentencia Galeno Amorim, ex-presidente da Biblioteca Nacional e do Cerlalc/Unesco (Cen-

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Fotos: Arquivo pessoal/Regina Mello Acervo com pérolas literárias na EE Fidelino de Figueiredo, em SP

LEITURA

tro Regional de Fomento à Leitura na América Latina e no Caribe) e atual presidente da Fundação Observatório do Livro e da Leitura. Mais do que garantir uma boa organização e gestão do espaço, o bibliotecário é um mediador entre livros e leitores. Ele atua em parceria com professores e coordenadores pedagógicos, transformando o espaço da biblioteca numa extensão da sala de aula: “esse profissional apresenta livros, autores, coleções e se envolve com o comportamento leitor do aluno, indicando e ampliando possibilidades”. Essa tarefa é a que faz com que o leitor em formação ganhe autonomia.

Galeno acredita que, com raras exceções, por mais boa vontade que se tenha, é difícil um professor readaptado substituir um bibliotecário. Lauri Cericato, especialista em políticas públicas educacionais, concorda. Para Lauri, o nó está na falta de formação de bibliotecários escolares. “Precisamos regulamentar a lei e criar mais cursos de graduação ou técnico de curta duração para formar esses profissionais.” Ele enfatiza: “é preciso uma formação específica para atuar no ensino básico. Enquanto a política pública não der espaço para a formação de alguém que estimule o aluno, não vamos ganhar esse jogo”.

Sobre a importância de um espaço próprio para a leitura, cabe lembrar: “É a biblioteca escolar que valoriza a prática da leitura literária no cotidiano da população escolar e propicia as condições para que os professores utilizem, nos seus processos educativos, os livros e outros materiais da cultura escrita. O uso adequado da biblioteca escolar significa dar acesso aos pequenos e jovens leitores em processo de formação às diferentes

práticas leitoras”, diz Galeno Amorim. Mas não só: “é nesse ambiente da biblioteca escolar que se ensina e cultiva o uso coletivo dos bens públicos; parece pouco, mas é superimportante, é fundamental para ajudar a desenvolver na criança e no jovem as noções de solidariedade, cooperação, cidadania e as próprias habilidades socioemocionais”, completa.

Uma biblioteca escolar em pleno funcionamento alcança a comunidade para além dos muros da escola. Regina, por exemplo, menciona um aluno que levou para casa um livro sobre alcoolismo. Ela questionou a escolha e o aluno respondeu: “é para minha mãe”. Galeno reforça esse aspecto: “a abundância da cultura letrada é importante, com livros que se espalham pela cozinha, sala, banheiro, em cima da cômoda, da televisão, do sofá, por toda parte. Isso faz com que os livros se tornem parte do DNA da família, e isso a Unesco diz que é uma possibilidade extraordinária”.

Ele afirma que é importante a presença de um acervo físico com quantidade mínima de 5 mil exemplares. Por outro lado, a biblioteca digital pode, num prazo curto, oferecer 20, 30 mil exemplares para escolas distantes dos centros urbanos e que ainda não têm suas bibliotecas. Os novos suportes são bem-vindos: “a maior quantidade possível de suportes torna a biblioteca mais adequada. O livro digital, o audiobook, o braille, ainda muito importante, se complementam e são usados de acordo com as necessidades dos alunos”.

Galeno Amorim, presidente da Fundação Observatório do Livro e da Leitura: “o bibliotecário é essencial para dar vida à biblioteca escolar”

Recursos financeiros para instalação e manutenção de bibliotecas escolares são advindos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), mas as ações nesse sentido dependem da vontade política dos gestores públicos. A regulamentação da lei e sua implantação, ao que tudo indica, dependerá de uma mobilização mais efetiva da sociedade civil.

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Arquivo pessoal
O bibliotecário atua em parceria com professores e coordenadores pedagógicos, transformando o espaço da biblioteca numa extensão da sala de aula
Revista Educação

TOP EDUCAÇÃO 2022 Vencedores

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ACAMPAMENTOS – NR Acampamentos

BRINQUEDOS EDUCATIVOS – Grupo Pimpão

CONSULTORIA EDUCACIONAL – Avalia Educacional

EDITORA DE LIVROS DIDÁTICOS – Editora do Brasil

EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA – Nave à Vela

ESCOLAS DE IDIOMAS – Cel.Lep

FABRICANTE DE VEÍCULOS ESCOLARES – Mercedes-Benz

FABRICANTE DE COMPUTADORES / TABLETS E NOTEBOOKS – Lenovo

INSTITUIÇÃO DE ENSINO PARA FORMAÇÃO DE DOCENTES – Uninter

LITERATURA INFANTOJUVENIL – Editora Moderna

PROJETOS EDUCACIONAIS – Faber-Castell

FACILITIES (CANTINAS ESCOLARES, SEGURANÇA E TERCEIRIZAÇÃO) – Sodexo On-site Brasil

SEGURO EDUCACIONAL – MAPFRE Seguros

SISTEMA DE ENSINO BILÍNGUE – International School

SISTEMA DE ENSINO PARA REDE PRIVADA – FTD Sistema de Ensino

SISTEMA DE ENSINO PARA REDE PÚBLICA – SIM Sistema de Ensino

SOFTWARES ADMINISTRATIVOS/GESTÃO/HORÁRIOS – Sponte

SOFTWARES EDUCACIONAIS – Árvore

TECNOLOGIA DE AUDIOVISUAL – Epson

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ÍNDICE

É NECESSÁRIO SE

FORTALECER NO SEU NICHO

Mal completara 10 anos que a internet fora aberta para uso público no Brasil, a então revista Educação, hoje Plataforma Educação, lançou o Top Educação, em 2006. Foi uma forma de prestar um serviço ao marketing das empresas clientes, mas na votação acabaram entrando todas as empresas citadas, anunciantes ou não. O objetivo era avaliar o recall de cada marca junto ao público especializado em educação.

O tempo passou e agora divulgamos o resultado da 16ª edição. Ao lembrar o alcance da mídia e compará-la com o presente, constatamos uma diferença abissal. Mas os princípios que nortearam a criação do Top continuam válidos, talvez mais ainda. Com a profusão de conteúdos à disposição, nas mais variadas plataformas, quem se lembra de alguma coisa vista há algum tempo?

Nossa memória, hoje mais liberada por conta dos gadgets de tecnologia, continua sendo disputada por empresas e produtos. Então é preciso lembrar de sempre renovar a comunicação para o público-alvo desejado.

Às empresas ganhadoras, os parabéns de toda a equipe da Plataforma Educação, e a certeza de que a vida corporativa pede avaliação anual para que a estratégia seja alterada para a obtenção dos resultados traçados. Imaginamos que os premiados estejam bem no tocante à imagem e que isso se traduza em novos negócios.

A revista Educação está caminhando para os seus 27 anos, e o que nos orgulha é que nosso propósito continua válido desde a fundação. Fazer jornalismo isento para ajudar o país a melhorar a educação.

Aos ganhadores, nossa saudação.

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TOP EDUCAÇÃO 2022 Vencedores

ACAMPAMENTOS

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

Mais do que critérios, acredito que o perfi l dos serviços buscados mudou bastante. As escolas voltaram seu olhar para questões importantes na formação humana dos alunos e a busca por atividades que trabalhem habilidades socioemocionais de maneira efetiva e prática trouxe uma demanda inédita. A valorização dos relacionamentos, da autonomia e de habilidades pessoais fez com que muitas escolas buscassem o equilíbrio entre tecnologia e desenvolvimento socioemocional.

BRINQUEDOS EDUCATIVOS

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

Espaços para a criança socializar, desestressar e sair dos ambientes de telas, sempre priorizando o brincar e o aprender como atividade principal para o seu desenvolvimento; produtos que otimizem os espaços já existentes; e produtos que permitam apoiar a diversidade e a inclusão de todas as crianças.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

Temos percebido que muitas escolas têm conseguido criar canais de comunicação mais efetivos entre escola, pais e alunos. Por mais desafi ador que seja, notamos que, através das experiências fora da sala de aula, as interações surgem mais facilmente e temas importantes, e até sensíveis, encontram um fluxo adequado de comunicação. O exercício da empatia e busca pelo diálogo tem trazido resultados excelentes e aproximado escolas e famílias.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

O reconhecimento pelos gestores, professores e sociedade é que se devem desenvolver habilidades socioemocionais e atividades práticas para o desenvolvimento das habilidades comportamentais que incentivam a flexibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida e não somente para o período da vida escolar.

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Kito Vivolo diretor de novos projetos do NR Acampamentos Cristiane Rocha CEO do Grupo Pimpão

10a Pela vez a Editora Moderna é eleita

marca mais lembrada de LITERATURA infantojuvenil.

Proporcionar a experiência de leitura a uma criança é dar a ela a chave de entrada para o mundo da imaginação. Desta forma, as editoras Moderna e Salamandra que fazem parte da Santillana Educação, trazem mais de 1000 títulos de literatura para crianças e adolescentes desde a educação infantil até o ensino médio.

Revista Educação 47 TOP EDUCAÇÃO 2022
Vencedores
Conheça o catálogo completo de literatura.

TOP EDUCAÇÃO 2022 Vencedores

CONSULTORIA EDUCACIONAL

Para adquirir um produto/ serviço, quais são os critérios que os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

A pandemia causou efeito heterogêneo na aprendizagem dos alunos, provocado pelo ensino remoto. Nesse cenário, nossa experiência com o Avalia Educacional mostra que as escolas passaram a ter outro olhar para os dados, buscando soluções que tragam avaliações com relatórios que as ajudem a caminhar no cenário atual, além de apresentarem um olhar diferente para o digital. A comunidade escolar foi obrigada a construir uma nova relação com

EDITORA DE LIVROS DIDÁTICOS

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

Os representantes escolares, hoje, buscam melhor curadoria das soluções educacionais digitais, físicas ou híbridas. Essas soluções precisam ter total adesão à realidade escolar, mas precisam também atender às expectativas dos pais e principalmente as dos alunos, que ganham cada vez mais protagonismo no processo de aprendizagem.

as novas soluções, o que considero um caminho positivo e sem volta.

Quais são as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

O que se observa é uma maior preocupação com a harmonia das relações sociais, que ganhou mais força após a pandemia, pois os estudantes voltaram com mais dificuldade na interação e socialização, gerando transtornos emocionais. As escolas que têm transformado a preocupação em trabalho estão experimentando ambientes mais saudáveis e inclusivos.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

As escolas têm procurado ouvir mais seus estudantes, suas demandas e expectativas, construindo um processo de aprendizagem em torno de problemas e desafios da realidade, transitando para um processo mais colaborativo entre os alunos e buscando, desse modo, soluções educacionais com maior possibilidade de customização de conteúdos.

Revista Educação 48
Márcia Carvalho diretora de projetos e produtos da Santillana Educação Bernardo Musumeci diretor comercial da Editora do Brasil

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EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

As escolas levam em consideração, atualmente, soluções para o desenvolvimento de habilidades, algo que vai além do cognitivo e que foque o desenvolvimento integral do aluno. Elas buscam uma diferenciação real, que faça sentido e que possa mostrar o seu valor para as famílias. Uma solução completa que se conecte com a proposta pedagógica da instituição e que faça sentido para o momento e desafios que o mundo nos impõe agora.

ESCOLAS DE IDIOMAS

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

Uma coisa que ficou muito clara durante a pandemia é que inovar é uma postura permanente. A partir desse entendimento, a procura dos gestores educacionais tem sido por parceiros e propostas (soluções) que tenham convergência com o projeto político-pedagógico (PPP) da escola, programa de capacitação inicial e formação continuada docente, e credenciais da instituição parceira.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

Escolas nesse perfi l tendem a ser organizações que colocam o aluno no centro, como um protagonista no processo de ensino e aprendizagem. Então, os principais diferenciais podem ser vistos a partir da oferta de mais ferramentas para manter o aluno engajado, de um ambiente motivador e encorajador, e de um olhar para o indivíduo, permitindo que ele possa viver as transformações do mundo de forma mais ativa.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

Hoje em dia, há um movimento claro das escolas no sentido de que a educação deve ser abrangente e baseada no desenvolvimento de competências por meio de vivências que se transformam em experiências de aprendizagem para a vida. Nesse cenário, a proposta de desenvolvimento bilíngue a ser acoplada ao PPP da escola deve trazer oportunidades para que os alunos e professores façam escolhas no decorrer das trilhas de aprendizagens propostas.

Revista Educação 49
Edil Amorim CEO do Nave à Vela Silvia Fiorese diretora acadêmica Cel.Lep

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FABRICANTE DE VEÍCULOS ESCOLARES

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

Os representantes escolares têm buscado ônibus com elevado padrão de qualidade, conforto e segurança para os estudantes que transitam, diariamente, em percursos que intercalam trechos de terra e asfalto. Os ônibus da MercedesBenz para o programa Caminho da Escola apresentam, em sua composição, bloqueio entre rodas para facilitar o trânsito e a transposição de obstáculos em áreas rurais, pneus especiais, suspensão reforçada, porta-materiais escolares e mais acessibilidade para

crianças com mobilidade reduzida.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

Para nós a educação é um dos pilares da estratégia de responsabilidade social. Não é à toa que nós temos uma parceria com o Senai há mais de 64 anos. Temos também o projeto Estrelas do Amanhã, que promove cursos profi ssionalizantes para jovens de comunidades carentes. Portanto, é primordial que as escolas brasileiras abracem programas como esses a fi m de garantir a qualidade e a eficiência dos estudos no Brasil.

FABRICANTE DE COMPUTADORES/TABLETS E NOTEBOOKS

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

Qualidade do equipamento, agilidade e praticidade e solução fi nanceira. A Lenovo tem uma atuação consultiva estruturando a execução pensando no antes, durante e depois da aquisição. Ajudamos a implementar a tecnologia para as escolas oferecendo e direcionando soluções para que as barreiras sejam superadas e a tecnologia passe a ser um diferencial para o aprendizado.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

Em termos de flexibilidade, exige-se uma mudança de postura no sentido de entender que a tecnologia é parte do processo de aprendizado e não uma ferramenta de distração. Além disso, a estruturação de aulas híbridas/virtuais, que oferecem a oportunidade de acesso de qualquer lugar, é um fator importante para que o conhecimento possa ser acessado sem barreiras, considerando diferentes realidades de acesso.

Revista Educação 50
Luiz Carlos Moraes diretor de comunicação corporativa e relações institucionais da Mercedes-Benz do Brasil Carlos Almeida engenheiro de soluções educacionais na Lenovo Brasil

LEVE A MELHOR TECNOLOGIA PARA SUA ESCOLA

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Você não precisa mais fazer grandes investimentos para ter a melhor tecnologia. O novo programa de locação de projetores Epson oferece acesso aos melhores equipamentos para sua escola com planos acessíveis, além de um serviço completo on site, com manutenção e peças para reposição inclusas.

Só quem já foi TOP nove vezes pode proporcionar inovação na educação.

Revista Educação 51
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INSTITUIÇÃO DE ENSINO PARA FORMAÇÃO DE DOCENTES

Para adquirir um produto/serviço, que critérios as instituições de ensino superior estão levando em conta e que antes não consideravam?

O Grupo Uninter sempre pautou a sua atuação na ética e transparência e está, ao longo dos anos, atualizando suas políticas em busca dos melhores produtos/ serviços de qualidade, alicerçados na livre concorrência e com parâmetros éticos bem defi nidos. Neste sentido, as instituições estão cada vez mais atentas às regras de ‘compliance’, muitas vezes, formatando áreas específicas para tratar dessas situações a fi m de evitar transgressões éticas e legais.

LEITURA INFANTOJUVENIL

Para adquirir um produto/ serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

Em nossas experiências na Santillana Educação, notamos uma demanda por objetos educacionais digitais que agucem a curiosidade dos estudantes, que despertem neles o prazer pelos estudos. Além disso, os gestores escolares estão mais atentos à formação de professores. Nesse sentido, as soluções podem ajudar na capacitação e conhecimento desses profissionais de modo que eles possam mudar comportamentos e práticas em sala de aula, aproximando as escolas das famílias e dos estudantes.

Quais as mudanças mais visíveis nas instituições de ensino superior quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida? Ao pensar na educação superior, é preciso que se compreenda a nova realidade do aluno contemporâneo, que na maioria das vezes precisa conciliar trabalho, vida privada e estudos. Com a hiperconectividade e a pandemia da covid19, tendências foram potencializadas, como a educação EAD. Por isso, a Uninter está constantemente investindo em capacitação profi ssional e novas tecnologias, visando tornar seus ambientes de aprendizagem virtuais ainda mais intuitivos e inclusivos.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

O objetivo da escola é criar cidadãos para o mundo. Notamos um interesse em mostrar para os alunos qual o seu papel em uma sociedade como a nossa, com várias camadas. Esse jovem deve ter dimensão do alcance de sua voz, assim como o poder e a responsabilidade de ser e de dar voz a parcelas menos favorecidas. Esse é um ponto extremamente sensível e que, felizmente, as escolas têm olhado com carinho e atenção.

Revista Educação 52
Wilson Picler presidente do Grupo Uninter Eny Muniz diretora acadêmica da Santillana Educação

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PROJETOS EDUCACIONAIS

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

Durante a busca por soluções educacionais adequadas à realidade de cada escola, notamos um aumento crescente de procura por programas que desenvolvem habilidades socioemocionais. Além disso, devido aos últimos dois anos de pandemia, os representantes escolares têm buscado soluções desplugadas que potencializam a interação social entre as crianças. Preço e condição de pagamento também são critérios durante o processo de aquisição.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

O desenvolvimento de propostas educacionais que engajam e estimulam crianças e jovens tem sido uma das mudanças mais visíveis nas escolas quando falamos de flexibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida. Nesse contexto de engajamento, crianças e jovens sentem-se mais protagonistas do seu próprio aprendizado, gerando a oportunidade de desenvolverem a capacidade de flexibilidade, de inclusão em todos os espaços da escola e o gosto por aprender.

FACILITIES (CANTINAS ESCOLARES, SEGURANÇA E TERCEIRIZAÇÃO)

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

Após a pandemia, as instituições de ensino têm se mostrado mais exigentes em relação a aspectos técnicos e processos aplicados na execução de serviços. Nós, da Sodexo, temos células técnicas especializadas em cada trabalho oferecido, bem como softwares de gestão e processos de segurança que direcionam os nossos times. Isso nos traz a tranquilidade de entregar aos nossos clientes serviços eficientes, seguros e de qualidade.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

As instituições de ensino estão atendendo às demandas de uma sociedade cada vez mais exigente de serviços customizados. Na Sodexo, adaptamos nossos serviços a esta crescente busca pela “personalização” por parte de nossos clientes. Um bom exemplo são as adaptações de cardápios para crianças com algum tipo de intolerância alimentar por meio da substituição de ingredientes como glúten do “prato principal”. Desta forma, essas crianças não se sentem excluídas, pois recebem o “mesmo” prato dos colegas.

Revista Educação 53
Carolina Luvizoto gerente de educação da Faber-Castell Sérgio Caires diretor comercial e operações de educação da Sodexo On-site Brasil

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SEGURO EDUCACIONAL

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

A pandemia da covid-19 resultou em um crescente interesse por seguros que garantam a proteção das pessoas e de seus projetos de vida, e isso não foi diferente para os seguros educacionais. As escolas, cientes desse interesse e embasadas pela alta evasão escolar nos últimos dois anos, se tornaram mais conscientes da importância que o seguro educacional – e os serviços atrelados a ele – tem, tanto para a manutenção do ensino, quanto para a situação fi nanceira da instituição.

SISTEMA DE ENSINO BILÍNGUE

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

Podemos destacar a inovação, o valor agregado do produto, o suporte prestado na relação com as famílias e o suporte pedagógico para a equipe. Outros pontos são os indicadores de resultados de sucesso, tais como: desenvolvimento linguístico dos alunos e aprovações em exames, além dos produtos e serviços online oferecidos (plataformas digitais de acesso aos materiais para alunos, responsáveis e professores) e o auxílio para validação da marca (e.g. suporte marketing).

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

O principal organismo de toda sociedade produtiva e consciente é a escola. As dificuldades que tivemos nesses últimos dois anos fi zeram as instituições compreenderem que, além da função de aprendizagem, precisam criar um espaço seguro para alunos e professores. Ela é um dos locais mais plurais e inclusivos com o papel de ensinar as pessoas a terem a sua particularidade e subjetividade respeitadas com amor, empatia e liberdade de expressão.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

Podemos falar sobre a inclusão trazida por meio dos personagens com características físicas e comportamentais que oportunizam a identificação das crianças com os mesmos, assim como conteúdos que trazem a reflexão e criticidade em sua relação com o mundo. Sobre a aprendizagem para a vida, os alunos podem, por meio de projetos, abordar inclusão, sustentabilidade, empreendedorismo, identificar problemas e criar soluções para auxiliar a comunidade.

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Hilca Vaz diretora de vida, previdência e capitalização Alessandra Medeiros gerente de formação da International School

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SISTEMA DE ENSINO PARA REDE PRIVADA

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

Hoje as escolas procuram uma solução educacional completa. Além do material impresso, é necessário que a solução ofereça um ambiente digital e uma matriz de serviço significativa, formação aos gestores, educadores e famílias, e entregas voltadas para o desempenho educacional, como simulados e avaliações educacionais. Tudo isso atrelado a uma produção de conteúdo com rigor conceitual. Além disso, buscam uma marca que seja forte, inovadora, parceira, flexível e humana.

SISTEMA DE ENSINO PARA REDE PÚBLICA

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

Na educação pública, os gestores escolares levam em consideração alguns pontos diferenciais, como buscar elementos estruturados (material didático, consultoria educacional e de gestão, entre outros), para integrar pessoas, articular equipes e ordenar processos. Também analisam se o sistema em questão contribuirá para trazer coerência pedagógica na execução do plano escolar e se, efetivamente, proporcionará a equidade de aprendizado às crianças e jovens da rede.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

Vivemos um momento em que as escolas têm buscado ressignificar o espaço educativo. Habilidades socioemocionais, projeto de vida, educação fi nanceira e inclusão são temas essenciais para serem discutidos e trabalhados com a comunidade escolar. Ao abordar estes tópicos, propiciamos um ambiente onde os alunos tornam-se protagonistas no seu desenvolvimento pessoal. A mudança de mindset e o uso de novas metodologias têm fortalecido esse ressignificar.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

Quando se fala em inclusão escolar, devese admitir que, num mesmo grupo de crianças ou jovens, teremos pessoas com realidades e contextos de vida diferentes, que resultam num desnivelamento da capacidade de aprendizado e de habilidades essenciais para o exercício pleno da cidadania. É o atributo da flexibilidade que leva um bom educador a buscar formas de proporcionar aos estudantes uma aprendizagem mais equitativa e justa para a concretização de seus projetos de vida.

Revista Educação 56
Cintia Cristina Bagatin Lapa diretora-adjunta educacional da FTD Educação Fernando Maluf gerente área pública FTD Educação

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Vencedores

Revista Educação 57

TOP EDUCAÇÃO 2022 Vencedores

SOFTWARES ADMINISTRATIVOS/GESTÃO/HORÁRIOS

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam? Espera-se que a parceria traga um pacote de soluções que facilite a vida de quem está à frente e no operacional do negócio. Um exemplo são os sistemas de gestão escolar, que por muito tempo se limitaram a entregar apenas a gestão acadêmica e fi nanceira básica. Hoje, um bom sistema precisa entregar uma experiência completa, que vai desde a digitalização do processo de matrícula até as automações fi nanceiras que ofereçam segurança e resultados.

SOFTWARES EDUCACIONAIS

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

A avaliação dos resultados de aprendizagem não é recente, mas tem se intensificado. Os gestores escolares têm acesso a um número crescente de ofertas e isso eleva o nível de exigência das escolas, que também estão mais atentas a questões de implementação, avaliando como um novo produto pode se integrar ao seu projeto pedagógico, e também alinhando mais expectativas sobre atendimento da comunidade escolar na implementação de novas iniciativas.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

Para mudar, muitas vezes é preciso inovar. Quanto a isso, as escolas podem e devem contar com o apoio da tecnologia, gerando algumas mudanças como a automação de processos, que traz consequências favoráveis como: mais tempo para se dedicar a questões inclusivas; ao ensino de qualidade; e ao relacionamento com os alunos e familiares, demonstrando flexibilidade por parte da escola e, na grande maioria das vezes, garantindo a satisfação da comunidade escolar.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida?

Um aspecto-chave é a comunicação com as famílias e estudantes. A escola precisa estabelecer uma relação de confi ança com as famílias para uma construção conjunta, conectada com expectativas dos pais sobre como seus fi lhos se preparam para o futuro - seja o vestibular ou além. A comunicação com os estudantes não apenas fomenta o protagonismo destacado na BNCC, mas contribui também para criação de ambientes acolhedores e com maior senso de pertencimento para todos.

Revista Educação 58
Cristopher Morais diretor de negócios da Sponte Danielle Brants cofundadora da Árvore

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TECNOLOGIA DE AUDIOVISUAL

Para adquirir um produto/serviço, que critérios os representantes escolares estão levando em conta e que antes não consideravam?

A Epson conquistou em 2022 o Prêmio Top Educação pela 9ª vez na categoria Tecnologias de Audiovisual. Nos últimos anos, sentimos a aceleração de algumas tendências na gestão escolar, como a demanda por modelos de adesão a tecnologias ‘as a service’ e por formas de investimentos proporcionais ao uso. A partir desta observação, o Programa de Locação de Projetores Educacionais, que inclui a instalação, uso e suporte dos equipamentos em plano de mensalidades sob medida, foi criado.

Quais as mudanças mais visíveis nas escolas quando se exigem exibilidade, inclusão e aprendizagem para a vida? As escolas têm assimilado a transformação digital por meio da digitalização e da interatividade dos conteúdos e das ferramentas de aprendizagem em sala de aula. Mais recentemente, com o distanciamento social, foi notável o investimento na implementação de plataformas próprias de avaliação e comunicação com os estudantes e com os pais.

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AS EMPRESAS VENCEDORAS NO ENSINO SUPERIOR

BIBLIOTECA DIGITAL: Grupo Uninter

CRÉDITO ESTUDANTIL: Pravaler

EMPRESA DE COBRANÇA: Cobra x

GERENCIAMENTO DE SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO: Cisco

LMS – SISTEMA DE APRENDIZAGEM: 2DL

OUTSOURCING DE IMPRESSÃO: Epson

SEGURADORAS: Porto Seguro

SOFTWARE DE GESTÃO EDUCACIONAL: Gennera

TECNOLOGIAS PARA EAD: Intersaberes, Grupo Uninter

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Glauco Ferreira diretor de vendas de projetores profissionais na Epson

a estrutura em tecnologia na educação

para 11 mil pessoas

Conheça as rotinas diárias e as boas práticas da Unicap para manter a gestão administrativa e os laboratórios de computação em operação para toda a comunidade acadêmica

Apesar das dificuldades socioeconômicas e dos desafios de acesso e infraestrutura, em um contexto mundial, os países da América Latina mostram-se mais propensos a utilizar recursos tecnológicos nas rotinas educacionais do ensino superior.

As informações partem de um relatório global produzido em 2021 pela desenvolvedora de sistemas estadunidense Instructure, que tem como objetivo mensurar os níveis de sucesso e engajamento de estudantes desse segmento.

De acordo com esses dados, cinco países do continente, incluindo Brasil, Colômbia, Peru, Chile e México, refletem uma forte tendência ao uso de tecnologia para a educação. Nesse recorte, 83% das instituições educacionais ouvidas utilizam tais recursos para comunicação e 82%, para ministrar aulas. Detalhe: os números brasileiros são os maiores da região.

Seguindo as leis, os documentos na Unicap são digitalizados, como as pastas dos alunos

O cenário descrito mostra uma realidade que foi intensificada com os tempos de ensino e atividades gerenciais 100% remotas durante a pandemia do coronavírus, e que agora consistem no dia a dia dessas universidades. Esses números revelam, também, um outro contexto importante para os dias atuais, como veremos a seguir, que é uma exigência cada vez maior sobre o setor de infraestrutura, que se mostra fundamental para a operação cotidiana desses processos.

Como se fosse uma pequena cidade

Suprir as necessidades acadêmicas e gerenciar os dados de cerca de 11 mil pessoas, entre estudantes da graduação e pós-graduação, professores e funcionários. Esse é o desafio do setor de infraestrutura da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Existem centenas de municípios brasileiros com população inferior a esse número. De acordo com o analista da divisão de suporte do Departamento de Tecnologia da Informação da instituição, Eduardo Rêgo, os recursos tecnológicos são “fundamentais quando se precisa administrar um volume tão grande de indivíduos, desde um sistema de controle de acesso aos diversos ambientes a uma interface de controle acadêmico que suporte acompanhar a vida escolar do aluno da graduação até o doutorado”.

Para o técnico, há tempos essa temática faz parte das

APRESENTADO POR studio
Sem desfalque:
Carlos Almeida, da Lenovo: os dispositivos são feitos e pensados para a educação

Laboratório da Universidade Católica de Pernambuco. Os investimentos em tecnologia são necessários para amparar os novos modelos educacionais, acredita o analista da instituição, Eduardo Rêgo

Reprodução

dinâmicas internas das instituições de ensino. “Estamos cientes de que a utilização da tecnologia é indispensável para o futuro institucional, sendo que os investimentos nessa área se fazem necessários para amparar os novos modelos educacionais”, ressalta.

Tradição e inovação

A história da Unicap remete a meados do século passado, e sua longa jornada tem sido preenchida com iniciativas inovadoras nas mais diversas áreas. Recentemente, um amplo sistema de digitalização de documentos foi implementado, se transformando rapidamente em case entre os demais processos de mediação tecnológica.

“As pastas dos alunos são categorizadas, digitalizadas e enviadas para um sistema em nuvem e, quando se precisa resgatar uma informação, o acesso é imediato”, explica o analista de suporte.

Outra estrutura que está constantemente no alvo das atenções da universidade são os laboratórios de computação, que encaram uma utilização praticamente diária, de segunda a sexta-feira, ininterruptamente, das 7h30 às 22h; e aos sábados, das 7h30 às 12h.

Nesses ambientes podem ser ministradas aulas, mediante um agendamento prévio, ou, então, pesquisas e trabalhos acadêmicos, com a utilização de softwares específicos. Todos os cursos oferecidos podem fazer uso da rede de laboratórios.

“Na medida em que esses equipamentos são utilizados por muitas horas diárias, é fundamental que tenhamos uma baixa taxa de parada para manutenção, para não desfalcar esses ambientes, que são extremamente utilizados”, explica Rêgo, que salienta: “robustez e durabilidade são fundamentais”.

Na escolha dos equipamentos para o setor administrativo e a utilização dos estudantes, as equipes gerenciais se preocupam com pontos que vão garantir um resultado melhor e mais duradouro para o uso diário desses devices. “Analisamos principalmente a solidez da empresa, a qualidade do suporte no pós-venda e o reconhecimento da qualidade do produto pelo mercado”, afirma.

Atualmente, a Unicap possui parceria com a Lenovo para o fornecimento de equipamentos.

Equipamentos pensados para a educação

Segundo o engenheiro de soluções para educação da Lenovo, Carlos Almeida, os dispositivos tecnológicos da marca foram feitos e pensados para o segmento educacional, com linhas específicas para a sala de aula, laboratórios, setor administrativo e ensino híbrido. “Todo serviço de suporte e garantia é feito pela marca, com engenheiros e engenheiras próprios, em cobertura nacional”, complementa.

Para estabelecer essa rede de contato existem canais telefônicos, via e-mail, chat ou aplicativo de mensagem. Se o problema não puder ser resolvido remotamente, há atendimento local, com o fornecimento de peças sobressalentes para substituição.

Danos acidentais

Outra característica de cobertura do fornecimento de infraestrutura, ressalta Carlos Almeida, é a modalidade ADP, sigla em inglês para Proteção Contra Danos Acidentais.

“Caso ocorra uma quebra de tela, pois a máquina caiu do mezanino de 5 metros de altura, entre outros exemplos, esse serviço chamado cobre o que chamaríamos de mau uso, pois sabemos que acidentes podem e vão acontecer, e precisamos estar preparados”, diz.

Quem ensina deve aprender

Formação continuada de professores assume contornos de um desafio global. Esgotados e desvalorizados, a profissão que é sinônimo de esperança precisa de comprometimento dos gestores para a aprendizagem contínua se tornar realidade

São 80 milhões de pessoas em todo o mundo. Acordam todos os dias pensando o que e como ensinar para dezenas, centenas de alunos. A cada longa jornada, viverão os receios, dúvidas e esperanças de crianças e adolescentes. Buscarão novas formas de educar, criarão vínculos de afeto que podem durar uma vida inteira, vão se sentir responsáveis pelo futuro de cada um. Ao final do dia, frequentemente esgotados, voltarão para casa pensando nas lições vividas – e no quanto precisam, eles mesmos, estudar, descobrir, aprender, dominar novas ferramentas e metodologias, mas que falta tempo, dinheiro e apoio. Estes são os professores e professoras, profissionais sobre os ombros dos quais se depositam boa parte das esperanças da humanidade no desafiador século 21.

Em um tempo em que todos os riscos pelos quais o mundo passa assumem dimensões planetárias, as Nações Unidas também dedicaram uma seção especial do evento Transforming Educacion Summit 2022, em setembro, em Nova York, para a urgência de se investir na formação dos professores, em âmbito global. “A transformação da educação só acontecerá se os professores forem profissionalizados, treinados, motivados e apoiados para liderar o processo e guiar seus alunos para alcançar seus objetivos e o bem-estar”, diz o documento que embasou as discussões.

Mas, lembra a ONU, não se pode pensar que professores são super-heróis. Necessitam de apoio para um trabalho cuja importância extrapola os limites institucionais da escola. Isso significa que o planeta precisa mais do que docentes que assegurem às novas gerações o direito de aprender sobre ciências, matemática, linguagens. Pela sala de aula passam os desafios da diversidade, da sustentabilidade, da igualdade de gênero, do antirracismo, da cultura da paz e dos direitos humanos.

Falta gente para tudo isso. Estima-se que, para atingir as metas estabelecidas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), faltem até 44,4 milhões de novos professores na educação primária e secundária. E não há espaço para leigos. É necessário que sejam

Revista Educação 62
Divulgação | Por Paulo de Camargo
PROFESSOR
João Alegria, da Fundação Roberto Marinho: ainda há muito a avançar na oferta de modelos mais eficientes de formação continuada de educadores

profissionais com condições dignas de trabalho, salário, equilíbrio do tempo dedicado ao ensino, infraestrutura para desenvolver sua função. Encerrar um tempo em que o trabalho do professor foi visto como uma missão de abnegados para tratar com decência um profissional do qual o mundo depende. No tempo do lifelong learning, da consciência de que aprender é algo para toda a vida, o professor tem que se desenvolver continuamente.

REALIDADE BRASILEIRA

No Brasil, as demandas têm o tamanho de um dos maiores países do mundo. Aqui, os docentes da educação básica representam uma categoria com 2,1 milhão de pessoas. Evidentemente, há muitos desafios no campo da formação inicial. Mas é preciso cuidar dos que já estão nas salas de aula. Dados extraídos dos questionários do Saeb 2019, 23% dos docentes de ensino fundamental e médio não realizaram sequer uma atividade formativa com menos de 20h, naquele ano, e 68% não fizeram nenhum curso de aperfeiçoamento com mais de 180h.

Há muitas razões para que isso aconteça. Conforme a última edição do estudo Talis, realizado pela OCDE, para quase 60% dos professores de ensino fundamental, anos finais e ensino médio no Brasil, uma das principais barreiras para o desenvolvimento profissional é como arcar com esses custos. Para 71,1% dos professores do ensino médio, falta apoio do empregador.

Segundo Kátia Smole, ex-secretária da Educação Básica do MEC e diretora executiva do Instituto Reúna, embora tenham acontecido avanços institucionais importantes, como a homologação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Continua-

“A escola precisa se tornar uma comunidade de aprendizagem”, defende Patrícia Almeida, da Fundação Carlos Chagas

da de Professores da Educação Básica, em outubro de 2020, ainda não se pode dizer que exista uma política de educação continuada dos professores. Mas, por iniciativa própria, os professores buscam cada vez mais oportunidades.

“Os docentes continuam demandando informação, e agora com necessidades específicas. Desafios da recomposição da aprendizagem, a saúde emocional e até mesmo trazer os alunos de volta”, diz Kátia. Ao mesmo tempo, os professores querem processos formativos que os auxiliem na implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e mesmo na compreensão de novos conceitos, como o de competências. Há mais problemas do que a falta de oportunidades articuladas de formação. “Os professores estão sobrecarregados e é preciso também entender que eles precisam de apoio”, finaliza Kátia.

Como vem ocorrendo em diversos campos da educação, os vazios deixados pelo Estado acabam preenchidos pela ação de organizações sociais, inclusive institutos e fundações de origem empresarial, bem como assessorias pedagógicas e casas de formação.

É o caso do próprio Instituto Reúna, que desenvolveu os Mapas de Foco, uma abordagem que permite priorizar conteúdos e competências da BNCC na recomposição de aprendizagem. “Há muito conhecimento disponível sobre o que precisa ser feito, é preciso que as secretarias e escolas organizem as ações para que a formação possa acontecer”, diz.

Revista Educação 63
Pela sala de aula passam os desafios da diversidade, da sustentabilidade, da igualdade de gênero, do antirracismo, da cultura da paz e dos direitos humanos
Arquivo pessoal

PROFESSOR

Para o historiador João Alegria, secretário-geral da Fundação Roberto Marinho (FRM), embora os professores manifestem grande interesse, o desenvolvimento da carreira docente esbarra em desafios, como a baixa atratividade, e condições como jornadas longas e muitos alunos. “É difícil o professor encontrar momentos para estudar, investindo tempo e energia para a aquisição de conhecimento”, analisa.

A FRM atua, segundo João Alegria, em duas estratégias paralelas: de um lado, a oferta de conteúdo online, com tópicos específicos que atendem a necessidades imediatas do professor, como ensino híbrido ou saúde mental. Ao mesmo tempo, a fundação também oferece projetos de maior duração para redes públicas, com momentos presenciais de práticas docentes e intercâmbio de experiências. Atualmente, estão em curso parcerias com estados como Pernambuco e Goiás, e cidades como Salvador e Rio de Janeiro. Mais de 3 mil professores já tiveram acesso a essa formação.

Para João Alegria, ainda há muito a avançar na oferta de modelos mais eficientes de formação continuada de educadores, inclusive pelo caráter híbrido que as estratégias ganharam, após a reabertura das escolas, ao fim de dois anos de pandemia. “A experiência da educação a distância ainda é muito passiva”, considera.

ESTRATÉGIAS MAIS EFICIENTES

Entre lives, palestras, cursos rápidos, aperfeiçoamento, há uma grande diversidade de modelos for-

mativos. Do ponto de vista formal, ou seja, dentro do que é reconhecido pela legislação para progressão funcional, os tipos de formação continuada se dividem em um leque que vai dos cursos de atualização, com carga horária mínima de 40 horas, aos cursos de especialização lato sensu, com carga horária mínima de 360 horas. Claro, sem contar os programas stricto sensu, cuja procura também vem crescendo, como mestrado e doutorado.

Mas, evidentemente, não é a contabilidade das horas que define a qualidade dos cursos, e sim o quanto se traduz em práticas transformadoras de sala de aula. É por isso que diferentes estudos tentam definir quais são as características essenciais dos modelos mais eficazes. O mais citado desses trabalhos foi realizado pela Fundação Carlos Chagas e publicado em 2017. Analisando a literatura existente sobre o assunto, o estudo apontou que as formações que produzem mais impacto têm, entre outras características, foco no conhecimento pedagógico do conteúdo, métodos ativos de aprendizagem, participação coletiva, duração prolongada e coerência. Para Kátia Smole, é importante também que tragam atividades mão na massa e metodologias ativas, de forma homóloga ao que acontecerá depois na sala de aula.

Na visão de Patrícia Almeida, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, é muito importante que a escola também seja um espaço de formação, com

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Arquivo pessoal
Estudo da FCC aponta que as formações que produzem mais impacto têm, entre outras características, foco no conhecimento pedagógico do conteúdo, métodos ativos de aprendizagem, participação coletiva, duração prolongada e coerência
A professora da rede pública Márcia Januária revela que reaprendeu a ler

tempo de trabalho coletivo. “A escola precisa se tornar uma comunidade de aprendizagem, no dia a dia, compartilhando entre pares os problemas que são da mesma realidade, articulando a formação e a prática”, considera.

Para a pesquisadora, existe uma demanda crescente por formação, na medida em que os profes sores sentem ser necessário aperfeiçoar suas práticas em um mundo desafiador. A pandemia veio também ampliar as possibilidades, ao introduzir o online no cotidiano do educador, e isso deve ser articulado com as práticas. “A perspectiva híbrida é importante, as lives facilitam muito, mas as práticas precisam estar presentes”, diz.

PLANEJANDO A PRÓPRIA FORMAÇÃO

Há consenso entre os especialistas de que, idealmente, as políticas públicas deveriam garantir acesso e apoio ao professor na formação em serviço, com um cardápio diverso para atender às necessidades dos

educadores. Mas, o mundo real é feito do esforço de milhares de professores e professoras que optam por investir tempo, trabalho e até mesmo recursos próprios em processos formativos dos mais diversos.

É o caso de Márcia Januário da Silva, professora de educação infantil na rede pública municipal, que participa até mesmo de um clube de leitura, chamado Diálogos Embalados, da Casa Diálogos, em São Paulo. Todos os meses, 2 mil professores recebem kits que incluem o livro do mês, no maior clube de leitura voltado para a educação do país – foram embalados 115 mil livros em seis anos. “As leituras são úteis, pois provocam, instigam o educador a pensar e repensar o seu cotidiano. Estudar nos conecta com o mundo”, diz Márcia, que até a pandemia não gostava de ler e raramente passava da metade do livro. Com o fechamento das escolas, os livros que recebia passaram a fazer parte de sua cabeceira. Por isso, conta, a experiência com o clube de leitura foi a de quem reaprendeu a ler.

A pandemia foi, de fato, um estímulo importante para os educadores. A comunidade virtual de aprendizagem da Diálogos saltou para 60 mil educadores, que participam de lives, ouvem podcasts, realizam formações, cursos presenciais, oficinas e cursos de especialização.

Para a fundadora Telma Holanda, os professores que fazem parte da rede, em geral, sentem o desejo de transformar uma educação que consideram engessada, e se angustiam por ver que em suas escolas prevalecem visões empobrecidas e genéricas do que é ser criança. “Os tempos pedem novos olhares e ações, e os professores percebem que, na troca com outros educadores, conseguem expandir suas possibilidades”, diz Telma. “Os professores precisam de referências de carne e osso, com teoria, prática, acolhimento e sensibilidade”, finaliza.

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Podem faltar até 44,4 milhões de novos professores na educação primária e secundária
“Os professores precisam de referências de carne e osso, com teoria, prática, acolhimento e sensibilidade”, alerta Telma Holanda, fundadora da Casa Diálogos Arquivo pessoal
Segundo Katia Smole, que já trabalhou no MEC, ainda não se pode dizer que exista uma política de educação continuada dos professores

Aprendendo o que teria de ensinar

Seria um equívoco pensar que a formação de professores no Brasil esteja estagnada. Tema da meta 16 do Plano Nacional de Educação (PNE), os números mostram evolução significativa. A porcentagem de professores com pós-graduação (especialização, mestrado ou doutorado) passou de 18,1%, em 2007, para 49,6%, em 2020, segundo dados do Observatório do PNE. Da mesma forma, o grupo de docentes que realizou pelo menos uma ação de educação continuada por ano foi de 13,3% em 2007 para 39,5%, em 2020. É pouco, mas vem crescendo.

Segundo especialistas na área, a formação continuada no Brasil tem um caráter compensatório em relação à precária estrutura da graduação dos professores – ou seja, oferta aquilo que deveria ter sido aprendido ainda na formação inicial. Assim também, durante a pandemia, muitas atividades de formação tiveram de partir do desenvolvimento de competências digitais básicas e focar os temas trabalhados em sala – ou seja, dar a chance ao professor de aprender o que teria de ensinar, no modelo remoto.

Mas, com mais habilidades digitais, os professores também puderam buscar novas possibilidades do estudo a distância, inclusive em cursos online de formação de longa duração – validados pelo Conselho Nacional de Educação, em 2020.

O impacto desses cursos começou a ser analisado por pesquisadores. A última edição da Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores publicou um estu-

do de caso de pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) sobre o envolvimento de 120 professores de redes municipais em uma pós-graduação cujo tema eram as neurociências aplicadas à educação, com duração de seis meses. Os docentes assistiram a aulas síncronas e assíncronas, fizeram exercícios, fóruns, mapas conceituais e ouviram podcasts, com resultados considerados positivos. “O curso se apresentou como uma oportunidade para os profissionais da educação refletirem sobre seus saberes experienciais e também a percepção de que existem muitos caminhos que podem ser percorridos dentro da formação continuada”, diz o trabalho. O mesmo ocorreu no curso lato sensu Cartografias da Diversidade e das Singularidades na Atuação Coordenadora, das instituições A Casa Tombada e Diálogos. Segundo um estudo da professora Ana Paula Piti, especialista em inovação, os 60 participantes conseguiram encontrar nesse curso online de 18 meses experiências que acreditavam ser possíveis apenas no mundo presencial. “Decidir-se por um curso de pós-graduação online passa, principalmente, pela confiança no modelo. Entram na balança não apenas conseguir ou não conseguir fazer um curso, mas saber que se fez uma opção de qualidade”, considera a educadora. A assessora pedagógica e aluna do curso Maria Clara Garcia Tonhatti concorda: “A qualidade de um curso vem da maneira como os professores pensam educação, de forma mais aberta e questionadora, com isso cursos online não deixam nada a desejar em relação aos presenciais”, acredita. (PC)

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PROFESSOR
Segundo especialistas na área, a formação continuada no Brasil oferta aquilo que deveria ter sido aprendido ainda na formação inicial
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10 LEITURAS ESSENCIAIS SUA CARREIRA EM 20 MINUTOS INTELIGÊNCIA EMOCIONAL UM GUIA ACIMA DA MÉDIA www.editorasextante.com.br
Ideias inspiradoras para ajudar você a encarar oportunidades e desafios profissionais.

Influenciadoras da educação firmam parceria SOS EDUCAÇÃO

As criadoras do site SOS Educação acreditam em uma aprendizagem cooperativa. Para disseminar essa e outras práticas em prol da educação

brasileira se juntam à Plataforma Educação

Roberta Bento e Taís Bento, mãe e filha, são especialistas na relação família e escola. Seus artigos, palestras e postagens no Instagram – a página delas possui quase 300 mil seguidores – vêm ganhando espaço entre os responsáveis pelas crianças e adolescentes, mas também entre escolas e empresas que atuam no segmento educacional. Possivelmente, porque as iniciativas do SOS Educação estão pautadas em estudos e experiências, sem desassociar do carinho que elas possuem pelo setor.

E é diante do empenho em comum da Plataforma Educação e de Roberta e Taís para a escola cumprir o seu papel social que anunciamos parceria com o intuito de expandir conteúdos e projetos voltados à educação básica. Acompanhe nossos sites e redes sociais e fique por dentro: www.revistaeducacao.com.br e Revista Educação nas redes sociais. www.soseducacao.com.br e SOS Educação nas redes.

Roberta é graduada em letras, com especialização em formação de professores de línguas. Também é especialista em aprendizagem baseada no funcionamento do cérebro e em aprendizagem cooperativa.

Pedagoga, Taís também é especializada em aprendizagem baseada no funcionamento do cérebro e aprendizagem cooperativa.

Confira a entrevista que fizemos com mãe e filha.

Vocês defendem a importância de olhar para o aluno, acreditar e respeitar o tempo de aprendizagem de cada um. Que conselho podem dar para coordenadores que buscam criar junto a professores um ambiente verdadeiramente inclusivo?

Um bom ponto inicial é lembrar que, dentro de uma escola inclusiva de fato, dificilmente um professor vai

sentir falta de apoio para os desafios que certamente irá enfrentar. Quando a inclusão faz parte dos pressupostos básicos da escola, a formação dos professores, e de toda a equipe que trabalha na escola, será um contínuo desaprender e aprender novamente.

Quando a equipe de coordenadores consegue manter um clima de suporte e sentimento de equipe, as dúvidas são compartilhadas pelos professores, sem medo de serem julgados a partir do que não estão conseguindo fazer ou das frustrações que fazem parte desse processo. É na coordenação que nasce o sentimento de que os alunos não são de um professor, mas de toda a escola, sempre.

Diante de experiências que vocês têm em escolas e empresas que atuam com educação, quais habilidades gestores e gestoras precisam ter frente a esse mundo dinâmico? Onde tirar suporte para se aperfeiçoarem?

Comunicação é sem dúvida uma das habilidades fundamentais para o gestor escolar. Muitos dos conflitos e situações de estresse que acontecem dentro de uma escola têm sua base em falhas no processo de comunicação. E isso vale tanto para a comunicação com a equipe, internamente, como, e especialmente, com as famílias que fazem parte da comunidade escolar.

Resolução de problemas e habilidades de mediação também fazem parte das competências que vão tornar a escola um espaço mais harmônico, visto que dentro desse leque está também a capacidade de antecipar problemas e não esperar que conflitos eclodam para que sejam resolvidos.

Flexibilidade e habilidade para estabelecer prioridade, junto com a tranquilidade necessária para delegar tarefas e formar equipes coesas, também fazem parte de um amplo leque de competências necessárias para a gestão em tempos tão desafiadores!

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E a sugestão que deixamos para os gestores é não tentar enfrentar tantos desafios sozinho: formar parcerias é fundamental para o sucesso da gestão escolar.

Ambas são especializadas em aprendizagem baseada no funcionamento do cérebro. O que chamou a atenção de vocês durante o curso?

Um dos momentos mais impactantes para nós foi descobrir que a neurociência conseguiu comprovar, a partir de diversas pesquisas, que eu, Roberta, sou o resultado da parceria família e escola, mesmo quando esses estudos ainda não existiam. Tive sorte de ter nascido dentro de uma família que sempre manteve o foco em meu potencial, e não na minha deficiên cia. Apesar das sequelas de uma paralisia cerebral que tive no momento do nascimento e de ter

sido rejeitada pela primeira escola em que meus pais tentaram me matricular, consegui superar todos os desafios que enfrentei.

A neurociência cognitiva mostra que a expectativa positiva que família e escola passam para um aluno em relação à capacidade que ele tem de superar desafios de aprendizagem gera um enorme impacto para a criança e adolescente.

O que é uma aprendizagem cooperativa? Conhecem escolas ou iniciativas que atuam com esse princípio? Quais?

Desde 1987, os pesquisadores David Johnson e Roger Johnson coordenam o Instituto para Aprendizagem Cooperativa, que fica dentro da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. Os irmãos Johnson conseguiram comprovar que a forma como os professores organizam e estimulam as interações entre os alunos durante as aulas gera enorme impacto no quanto esses alunos conseguem se motivar para aprender e nos resultados da aprendizagem. Além disso, a forma como os alunos interagem afeta também o sentimento que os estudantes desenvolvem em relação à escola, aos professores, aos colegas e, especialmente, na própria autoestima.

Na prática, descrita de forma bem simples, a aprendizagem cooperativa propõe, por meio de estruturas cuidadosamente criadas para cada etapa da aula, que os alunos possam estudar e aprender em equipe, com foco em atingir objetivos comuns.

Em um processo de aprendizagem em grupo, há quatro características que, invariavelmente, se apresentam: estudantes competindo entre si; algumas duplas eventualmente colaborando; resultado individual no aprendizado e na nota e, o fator que fica mais aparente, alguns “trabalham”, outros esperam.

Na aprendizagem cooperativa, o cenário é totalmente diferente: o sucesso de cada um depende do esforço da equipe; o objetivo de cada atividade é sempre compartilhado entre todos; o resultado final é compartilhado entre os membros e prevalece a mentalidade de “um por todos e todos

Infelizmente, ainda existe pouquíssima referência sobre aprendizagem cooperativa em língua portuguesa. Taís e eu fomos alunas dos irmãos Johnson ao longo de quatro anos de curso na Universidade de Minnesota.

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Arquivo pessoal
por um”. Roberta e Taís: “que nossas crianças e adolescentes encontrem na educação o caminho para o futuro que sonharem construir”

Escola Passos Firmes,

Família ajuda a criar educação do futuro

Gestora e coordenador colocam o apoio familiar e a formação cidadã como pilares para uma aprendizagem com resultados

Se debruçar sobre o futuro da escola pode levar às mais diversas reflexões. Na cidade de Santa Inês, MA, a Escola Passos Firmes trilha um caminho de constante transformação. Fundada há 26 anos, a instituição particular conta com um total de 30 funcionários e contempla da educação infantil ao 9º ano.

Impulsionada pela pandemia, a busca por inovação é um compromisso firmado pela gestora da Passos Firmes, Raimunda Cavalcante de Freitas. A profissional conta que, diante dos últimos

anos, houve a necessidade de um aprofundamento tanto nos estudos quanto na praticidade tecnológica. “A gente ‘penou’ um pouquinho, mas já estamos ampliando esse conhecimento”, garante. Destaca a oferta de capacitação aos professores, pais e alunos como fundamental para a boa condução da instituição. “E está dando certo”, salienta.

O ambiente virtual se tornou indispensável para ministrar aulas no período mais alarmante da pandemia. Na Passos Firmes, a plataforma iônica foi a escolhida para o cumprimento do desafio e, mesmo com a retomada do formato presencial, se faz presente para a aplicação de atividades e simulados na rotina escolar. O professor de matemática e coordenador da escola Douglas Wangles Melo afirma que, na atualidade, não se pode estar distante do mundo digital. “Os meios utilizados [no ensino remoto] continuam e, pelo jeito, não vamos voltar atrás”, diz.

Raimunda aponta que, nesse contexto, o principal desafio é a inserção dos pais nas plataformas. “Mas, aos poucos, vamos inserindo também, porque nas séries iniciais os pais precisam estar nesse patamar de ajuda”, explica. Segundo a gestora, os responsáveis pelos estudantes têm se mostrado abertos à participação na rotina dos filhos, mas o surgimento de dificuldades no uso dos aparelhos eletrônicos, instabilidade na conexão com a internet e falta de tempo são alguns dos empecilhos que dificultam a integração. “Moramos em uma cidade pequena, distante da capital, o financeiro ainda é muito apertado”, acrescenta. Apesar dos contratempos, o que prevalece é a boa vontade das famílias que, em sua maioria, acompanham as atividades publicadas na iônica.

PASSOS DIFERENCIAIS

A gestora avalia que a escola possui um ‘patamar de projetos’ e atribui a característica como o maior diferencial da instituição no setor. Projetos como

Revista Educação 72 FUTURO DA ESCOLA Série apoiada pela
Fotos: divulgação Escola Passos Firmes “Educadores são como camaleões”, analisa o coordenador Douglas. Ao seu lado a gestora Raimunda e a professora Maria José Sousa

feiras culturais, saraus, rodas de leitura, olimpíadas de conhecimento e atividades esportivas são recorrentes. As cerimônias também marcam uma participação direta dos familiares que, para Raimunda, são parte essencial da escola do futuro. “Acredito firmemente. É notório que, quando a família acompanha, o aluno se destaca melhor em todos os sentidos. Na questão da educação, da cidadania. A gente vê um ajuste de valores”, detalha.

“Em sala de aula eu observo o seguinte: aqueles filhos que estão acompanhados, que os pais vêm constantemente à escola e que entram em contato com a gente, são filhos que tiram notas boas e que têm uma assimilação de conteúdo melhor do que outros alunos”, frisa o coordenador. “É fundamental, não tem como a escola trabalhar sem o apoio da família”, completa.

FORMAÇÃO CONTINUADA

Na Escola Passos Firmes há ainda um olhar direcionado para a formação continuada do corpo docente, que conta com 25 professores. O processo, que ocorre bimestralmente, acontece de forma particular, dentro da escola, e também por fora a convite de terceiros.

“Vejo que é uma questão já pessoal de cada um. Que-

rer inovar, querer participar de capacitações fora”, assegura a gestora.

Figurinha carimbada nas capacitações, Douglas relembra de uma ocasião que o marcou. “Fomos a São Luís, MA, assistir ao [Leandro] Karnal e eu fiquei apaixonado, nunca tinha visto uma palestra dele. Aproveitei, já conheci o escritor e até comprei livros dele”, lembra o professor de matemática. “A educação é assim, a gente não pode ficar parado porque ela não para. Porque hoje nós temos uma novidade, amanhã já é uma outra e precisamos ser como camaleãos, nos adaptando ao ambiente.”

Para o coordenador, o profissional deve estar presente na capacitação para que não perca espaço no mercado. “E a escola tem nos premiado com isso. Quando surgiu a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), por exemplo, nós tivemos várias capacitações, relacionadas ao meio ambiente, a nós enquanto humanos. Alguns professores saíram doentes desta pandemia e tivemos capacitações direcionadas para a parte psicológica do professor, para prepará-lo para enfrentar a sala de aula novamente. Isso é extraordinário”, enfatiza.

PARA A FRENTE

Há 40 anos no setor, Raimunda olha com otimismo para o futuro. “Particularmente, já vejo um futuro mais preparado. Em relação ao aluno que entra aqui na educação infantil e sai no 9º ano, a gente já vê uma preparação e uma postura melhor de cidadã, como também na família e na comunidade”, explica.

Douglas complementa: “acredito que a tendência [da escola] é crescer cada vez mais. Crescer, inovar, transformar, qualificar mais profissionais para o mercado de trabalho, porque a nossa função é essa mesmo. E, claro, bons profissionais. Como sempre digo em sala de aula: ‘não adianta me formar e ter um diploma, preciso de um currículo de bom profissional’ e a escola tem esse papel. Nosso sonho é que cada vez mais a escola possa trabalhar isso”.

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Feiras culturais, saraus, rodas de leitura, olimpíadas de conhecimento e atividades esportivas são recorrentes

ENSINO SUPERIOR

Conexão com as expectativas do mercado

Marca, tecnologia, atenção às oportunidades e qualidade dos cursos garantem a expansão. A gestão é feita com informações de várias fontes

| Da revista Ensino Superior

Ofuturo é mais rápido do que você pensa é título do livro de Peter Diamandis e Steven Kotler, que aborda as profundas transformações que a convergência tecnológica está provocando nas empresas e na vida das pessoas. Esse também é o título e tema da aula magna que abriu o trimestre no Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB). Se o futuro sempre vem, e rápido, o que antes parecia ficção científica se torna realidade: o IESB lança curso de pós-graduação sobre o metaverso na própria plataforma que promete tornar o mundo virtual cada vez mais imersivo.

Uma conjunção de fatores, entre eles a flexibilização nas regras para os cursos a distância, uma gestão atenta às novas oportunidades e, em seguida, a crise sanitária, fez o IESB participar do crescimento exponencial do mercado de ensino a distância no Brasil. Em 2017 eram 400 alunos e hoje são cerca de 7 mil. O reitor do IESB, Luiz Claudio Costa, conta que a primeira providência para o IESB conquistar esses números foi ampliar o portfólio de cursos: de sete para os 55 oferecidos este ano, entre os 100% EAD e híbridos. A qualidade, diz Costa, também explica não só a expansão como a taxa de evasão baixa, beirando os 12%.

As aulas magnas acontecem trimestralmente, de maneira síncrona. Nela, participam reitor, vice-reitor, mantenedora e os coordenadores. Em seguida, os alunos têm um momento com seus respectivos coordenadores. Em todo curso há uma aula síncrona com o professor, uma vez por semana, oportunidade em que o aluno pode interagir. Ou assistir à aula posteriormente, participando nos fóruns. Nos cursos híbridos, a metodologia privilegia a prática nos momentos presenciais. A proximidade com o aluno e a mediação são características fundamentais

para a qualidade do ensino. “Queremos nossos alunos bem próximos. Eles podem ter contato, inclusive, com a equipe gestora por celular”, menciona Costa.

A formação de professores tem sido fundamental para a qualidade mencionada. “Nosso professor de EAD tem mestrado e doutorado. Se não tem experiência anterior de como usar o blackboard, recebe treinamento. O professor se especializa no ensino a distância e não ministra aulas na modalidade presencial. Ele recebe acompanhamento e é avaliado mensalmente pelos estudantes e equipe gestora”, detalha Costa, que cita, ainda, a tradição e a marca forte no mercado de educação como fatores de sucesso. São 18 mil alunos no total, considerando graduação e pós, na modalidade presen-

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Luiz Claudio Costa, reitor do IESB: “A vida, hoje em dia, é híbrida”

cial – nos campi Ceilândia, Asa Norte e Asa Sul – e EAD.

Em 2002, quando pouco se falava de educação a distância no Brasil, a fundadora do IESB e atual mantenedora, Eda Machado, foi quem trouxe ao país a plataforma blackboard, “um dos melhores ambientes virtuais de aprendizagem, traduzindo-a para o português”, diz Costa. Em 2019, a instituição disponibilizou a versão ultra da plataforma, mais dinâmica e intuitiva, segundo ele. A história do EAD no IESB se confunde com a sua própria trajetória, assim como a biografia de Eda Machado traz o lastro de confiabilidade na instituição.

“Eda é educadora, foi professora da Unicamp, da UnB, fez doutorado nos EUA, trabalhou na Capes, CNPq, MEC. Concebeu o Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (Paiub), que antecedeu o atual Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). O IESB sempre teve tecnologia e conhecimento de como fazer educação a distância de qualidade em função do background da Eda.”

Mais recentemente, foi a primeira instituição a oferecer o curso de ciência de dados e inteligência artificial.

“Nem todo mundo está percebendo, mas a inteligência artificial está transformando a humanidade tanto quanto a invenção da energia elétrica. E não adianta ter dados e não conhecer a inteligência artificial ou vice-versa. Para o currículo dessa disciplina, ouvimos até o pessoal do Vale do Silício, além de especialistas locais.”

Na educação, em especial a distância, o metaverso é uma ferramenta interessante. “Em termos pedagógicos, a experiência imersiva que o metaverso proporciona permite que, nos cursos de saúde, o aluno manipule o corpo humano, verifique órgãos e até simule uma operação. Na engenharia, já trabalhamos com laboratórios virtuais, onde o aluno recebe toda a concepção teórica. No metaverso poderá manipular uma má-

quina. Há vários níveis de experiência imersiva, mas a vantagem do metaverso é permitir maior proximidade e prática do estudante.”

Assim como o metaverso promete vivências inovadoras na educação, os cursos EAD continuam a gerar expectativas e oportunidades. Costa acredita na contínua expansão do ensino a distância, principalmente na educação híbrida, e aponta o já inescapável uso da tecnologia na educação. “Mesmo o aluno presencial precisa ter essa experiência, porque a vida, hoje em dia, é híbrida.” Além disso, no Brasil, são cerca de 20 milhões de pessoas que não têm curso superior e não podem viver a experiência de estar no campus. “Não vamos resolver a vida delas montando salas para 50 pessoas.”

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Eda Machado: pioneirismo aliando tecnologia e qualidade Metaverso: experiências imersivas aprimoram o aprendizado Fotos: Divulgação

Edif y Education tem projetos especiais para dar suporte e tornar mais evidente o trabalho desenvolvido

por professores de inglês

Dar visibilidade ao que o aluno já aprendeu apoia educadores no processo de ensino-aprendizagem e permite um lugar de maior protagonismo na escola

Quer saber o que mais despertou o inter ao longo do 1º semestre do ano?

Criamos uma retrospectiva para você conhecer cada detalhe da evolução de seu pequeno grande bilíngue e se orgulhar ainda mais dele.

Aprender uma língua adicional é um processo dedicação, persistência e paciência. Quem ensina um segundo idioma sabe: às vezes, o trabalho é afetado pelas ansiedades e incertezas que o aprendizado gera entre estudantes e noite.

de inglês é mostrar às famílias dos alunos o quanto, aprendizagem, como também dá mais visibilidade e credibilidade ao projeto desenvolvido em sala

de aula. Ao expor seu trabalho, o professor ganha

E como tornar o aprendizado e o trabalho desenvolvido mais visíveis? É importante estabelecer momentos-chave para evidenciar o progresso dos alunos e, consequentemente, os resultados obtidos na escola.

O Edify, edtech de soluções de ensino de inglês, tem ferramentas e projetos próprios para os professores colocarem suas realizações nos holofotes. A empresa, que está presente em quase 300 escolas pelo país, oferece apoio pedagógico e tecnologia para auxiliar o professor de inglês e, com isso, potencializar a posição de evidência e protagonismo que ele pode ter dentro da escola e na comunidade escolar.

Crescer em inglês. Capa do Seu Ano com Edify, um compilado visual dos principais destaques desenvolvido pelos professores de inglês em sala da aula

Um dos projetos para dar mais visibilidade ao trabalho do professor e consequente desenvolvimento dos alunos é o Seu Ano Com Edify, que visa gerar um compilado visual dos principais destaques das aulas nas escolas parceiras. O projeto foi implementado pela

de cada semestre. Além de gerar visibilidade, Seu Ano Com Edify trabalha um dos pilares da docência: a documentação do aprendizado.

focal é o educador, que tem a oportunidade de registrar as atividades feitas com suas turmas e submetê-las num template personalizado. Depois, as escolas enviam o PDF produzido pelos professores aos responsáveis dos alunos. O melhor: é uma ferramenta que não dá trabalho extra e não atrapalha o cronograma de aula.

“O projeto apresenta as inúmeras atividades que são realizadas na sala de aula pelo professor, dessa forma serve também como portfólio”, diz Ariadne Maia, do Colégio Servita Nossa Senhora Rainha dos Corações, no Rio de Janeiro. Além de compartilhar com os familiares dos alunos, ela publicou o documento em sua rede social contatos da comunidade escolar.

Ariadne lança mão de outras estratégias disponibilizadas pelo Edify para dar visibilidade ao seu trabalho: “uso atividades mais visuais e lúdicas, assim como as lições de casa extras com QR code e momentos de show & tell na sala de aula”, conta. O professor das escolas parceiras do Edify conta com acompanhamento pedagógico, o que o ajuda a planejar e executar esses momentos em que as crianças apresentam seus trabalhos, assim como fazer melhor uso

das atividades complementares e dos recursos digitais do material didático. “Isso faz com que os alunos levem um feedback para as famílias e também mostrem o que foi aprendido”, completa a professora.

Outra estratégia importante é a mensuração do progresso dos alunos. Os resultados apontados pela mensuração ajudam a escola, o professor e os responsáveis a entenderem o quanto o aluno

positivamente a percepção do desempenho do professor.

O Edify tem um sistema avaliativo exclusivo, construído para promover a sensação de progresso nos alunos, professores e responsáveis. Combinamos testes diagnósticos semestrais, que embasam o apoio pedagógico aos professores, com provas de mensuração. Essas provas investigam a competência comunicativa e linguística em inglês conforme os alunos atingem

níveis A1 , A2, B1 e B2 do padrão internacional CEFR (Quadro Comum Europeu de Referências para Línguas).

Apesar de ter objetivos diferentes, tanto o Seu Ano com Edify quanto a mensuração de resultados são parte de um conjunto de recursos que auxiliam ganha com a adoção do programa bilíngue pela

a carga horária é estendida e o formato da aula sai do tradicional devido à adoção de novas abordagens pedagógicas. O professor ganha mais segurança para planejar o processo de ensinoaprendizagem de inglês e mais visibilidade para suas conquistas em sala de aula.

Apresentado por

Por que a escola funciona dessa maneira?

Livro lançado nos EUA se utiliza da observação da pandemia, da polarização e dos levantes de justiça racial para propor um novo modelo para as escolas

| Por Javeria Salman, The Hechinger Report, Estados Unidos

Em 2020, quando a pandemia, a polarização e os levantes de justiça racial derrubaram o status quo, os apelos para usar o momento para construir um sistema educacional melhor para lidar com as desigualdades do país se tornaram onipresentes. Mas, nos dois anos seguintes, essa vontade de reinventar se dissipou em grande parte.

Frustrado ao ver tantas pessoas voltarem às velhas formas de escolarização, Michael B. Horn, cofundador do Clayton Christensen Institute for Disruptive Innovation (tradução para Instituto de Inovação Disruptiva), criou um plano para escolas e educadores reinventarem o sistema educacional atual. “Eu queria propor um modelo de como eles poderiam escapar disso e o que eles podem fazer diferente.”

No início da pandemia, Michael e Diane Tavenner, cofundadora e CEO da Summit Public Schools, criaram o podcast Class Disrupted (classe interrompida, na tradução) para ajudar pais e educadores a navegarem no ensino e na aprendizagem durante a crise. Este ano, ele deu um passo adiante nesse projeto com o livro From Reopen to Reinvent: (Re)Creating School for Every Child, publicado em julho e que na tradução livre seria Da reabertura à reinvenção: (re) criando a escola para todas as crianças. Leia a entrevista com Michael sobre como “recriar” o sistema educacional para melhor atender todos os alunos. Confira os principais trechos.

No livro, você fala sobre como o sistema escolar que temos atualmente não é construído para que o aluno realmente tenha sucesso. Você pode explicar seu argumento?

A grande ideia do livro é que estamos presos nesse sistema de soma zero, em que assumimos que para

cada vencedor deve haver um perdedor. Ou os que têm recursos estão conscientemente jogando o jogo da escolarização. Os que não têm, não conhecem esse jogo e estão sendo deixados de fora. De qualquer forma, o jogo da escolarização distrai do objetivo real, que é preparar os alunos para viverem em um mundo tão complexo quando se formarem. Precisamos de um sistema de soma positiva que escape dessa mentalidade de soma zero e permita que as pessoas realmente descubram quem são e desenvolvam sua mistura específica de potencial apaixonado.

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INTERNACIONAL
Reprodução
Michael B. Horn: é preciso recriar as formas tradicionais de escolarização Da reabertura à reinvenção, obra pontua as lições da pandemia

Qual é a diferença entre o sistema de soma zero e o sistema de soma positiva?

Em um sistema baseado em tempo, ensinamos o tópico e passamos para o próximo, independentemente dos resultados de um aluno nos testes. Assim, alguns alunos ficam cada vez mais para trás e outros alunos “ganham” e aprendem a jogar o jogo da escola. Em um sistema baseado em maestria, dizemos que todo aluno alcançará a maestria.

Devemos mudar para um sistema em que os professores não sejam os avaliadores. Que não façam julgamentos sobre a capacidades dos alunos, mas podem ser os treinadores, e ajudá-los a descobrir propósito, paixão e potencial. Essa é uma segunda grande mudança que o livro propõe. Obviamente, há toda uma conversa sobre o que os pais estão tentando priorizar e como eles se acostumaram a ver a escola como um jogo de status. Um sistema de soma positiva tenta dizer que podemos fazer parte dessa mudança social em direção a uma cultura mais saudável que não está julgando os pais ou seus filhos, mas apoiando ambos.

O que você ouviu das famílias e o que eles querem da escola?

O que a pandemia fez foi acabar com um senso de status quo ou tê-lo como uma coisa que te mantém no lugar. E acentuou todas as razões pelas quais poderia ser ótimo se você mudasse. Pais que procuram ajudar seus filhos a escapar de uma situação ruim; ou pais que desejam fazer parte de uma comunidade com ideias semelhantes; ou pais que tentam desenvolver seu filho; ou até mesmo pais que estão dizendo: “Siga esse plano para meu filho”. Todos estão mais conscientes de que o status quo, por qualquer motivo, não está atingindo o que precisavam alcançar. E são mais propensos a falar sobre seu descontentamento ou realmente mudar de escola.

O que isso significa para escolas e educadores?

Você tem que mudar essa mentalidade de tamanho único de que todas as crianças se saem melhor no aprendizado físico. Que os alunos se mostrem melhor com exatamente a mesma experiência de sala de aula. Ou que precisam exatamente da mesma lição exatamente no mesmo dia. É necessário um sistema que reconheça que alunos e pais têm circunstâncias específicas, situações diferentes e precisam de outros modelos de escolarização. Os distritos escolares necessitam conhecer os pais, se estão com visão de portfólio em vez de uma mentalidade de tamanho único.

No livro, você também fala em criar algo que funcione melhor para os professores, principalmente saindo da pandemia.

Independentemente da opinião sobre a atual falta de professores – seja resultado de esgotamento ou fruto de mais cargos de professores – não temos apoiado bem os professores há muito tempo. Temos ignorado o conjunto bastante claro de pesquisas sobre o que motiva os funcionários à medida que projetamos a profissão de professor. Argumento que precisamos mudar para modelos de ensino em equipe e não modelos em que os professores tenham uma comunidade de aprendizado profissional com a qual se encontrem talvez uma vez por dia, se tiverem sorte. Mas onde eles realmente estejam ensinando juntos nesses ambientes, e eles são capazes de diferenciar os papéis. Agora podemos pensar sobre a formação de pessoal nas escolas de maneira muito diferente e permitir que esses educadores se relacionem de várias formas.

Esta história sobre  educação de soma positiva foi produzida pelo  The Hechinger Report, uma organização de notícias independente e sem fins lucrativos focada em desigualdade e inovação na educação.

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Os professores podem ser totalmente dedicados a serem os treinadores e ajudar os alunos a descobrir propósito, paixão e potencial

Sublevação dos mortos

Incidente em Antares, de 1971, faz paralelo com o Brasil de hoje

rico Veríssimo, em 1971, na ditadura militar, em seu último livro, Incidente em Antares, deu voz à morte e permitiu a ela uma vingança dura, putrefata e mordaz contra toda sorte de desmando, mesquinharia e estupidez reinante na alegórica cidade.

Antares, pequena cidade do Rio Grande do Sul, que mal consta no mapa, serve de microcosmo para a realidade fantástica e absurda que pairava por essas bandas tupiniquins. O ano é o de 1963, com todos os seus temores. Na primeira parte da narrativa, as famílias mais tradicionais da cidade, os Campolargo e os Vacariano, digladiam-se pelos privilégios oligárquicos e, ironicamente, entram em embate,

ao mesmo tempo e juntos, contra as novas ideias políticas que estavam surgindo - o fantasma do comunismo, crescente na classe operária de Antares, e que assombrava os privilégios das famílias rivais.

Na segunda parte, o realismo fantástico dá as caras. Uma greve geral sacode os pilares do confronto comezinho da burguesia em Antares e, à vista disso, uma paralisação total dos trabalhadores entra em curso. Para alargar o drama, neste mesmo dia, sete pessoas morrem; e insepultas esperam que providências sejam tomadas para seus corpos encontrarem o destino final. No entanto, como os coveiros também entram em greve, não havia como enterrar os mortos. Indignados com o descaso, à noite, os defuntos saem de seus cai-

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Shutterstock DIÁLOGOS
| Por João Jonas Veiga Sobral
É
“Ou nos enterram dentro do prazo máximo de 24 horas ou nós ficaremos apodrecendo no coreto”

xões e, juntos, decidem voltar a Antares para reivindicar seu direito à sepultura e para denunciar a miséria fétida deles e a moral pútrida dos vivos e viventes.

Os mortos-vivos convocam uma assembleia ao meio-dia de uma sexta-feira, 13 de dezembro de 1963, no coreto da praça, onde falariam todas as verdades engasgadas e sabidas sobre suas mortes, sobre os políticos desonestos, sobre as autoridades corruptas e sobre os moradores da cidade, vivos-mortos que distraídos não supunham a tragédia do ano e das décadas seguintes. Protegidos pela morte, sem temer represália ou castigo, os insepultos chacoalham a distração e o horror daquela cidade.

A denúncia na praça pública – espaço democrático – torna-se uma alegoria de um levante contra o desatino. O leitor encontra, na cidade tacanha e de valores corrompidos, absurdos maiores e mais apodrecidos do que o espanto de ver seus mortos indignados a acusar os malfeitos de um sistema político e social colonizado, degenerado e arraigado num primitivismo tosco fomentador de desvios e de corrupção.

A praça e a cidade, tomadas pelos cadáveres, tornam-se metonímias de um país insepulto.

—“Simples. Descemos juntos pela Rua Voluntários da Pátria ruma da Praça da República. Lá nos dispersaremos, cada qual poderá voltar à sua casa… Para isso teremos algumas horas. O essencial (prestem a maior atenção!) é que quando o sino da matriz começar a dar as doze badaladas do meio-dia, haja o que houver, todos devem encaminhar-se para o coreto da praça, sentar-se nos bancos em silêncio e ficar à minha espera.

— E que é que você vai fazer? – quer saber João Paz.

— Vou primeiro à minha casa buscar uns papéis importantes… Depois me dirigirei à residência do prefeito para lhe entregar um ultimato verbal… ou nos enterram dentro do prazo máximo de vinte e quatro horas ou nós ficaremos apodrecendo no coreto, o que será para Antares um enorme inconveniente do ponto de vista higiênico, estético… e moral, naturalmente.”

Imaginemos, no final do ano da graça de 2022, se nossos quase 700 mil mortos acometidos pela covid, dessepultos, resolvessem denunciar suas agruras, suas dores, seus sofrimentos, seus abandonos, suas crenças e o nosso atraso em dar conta da tragédia avassaladora anunciada que poderia ser, em números, evitada. Afinal, somos 3% da população mundial e aproximadamente 10% dos mortos pela covid.

Apilhados nas ruas e nas redes sociais, vociferariam suas verdades, transformando o país em um imenso coreto

sombrio. À beira da floresta amazônica, revelariam a dor da asfixia pela falta de oxigênio medicinal em Manaus e a indignação do enterro em vala comum, sem direito a velório. Revoltados se voltariam contra aqueles que incentivavam aglomerações em tempos de novas e mortais cepas e contra os que se opunham ao uso de máscaras nas ruas e nos locais públicos. Constrangidos, ver-se-iam mortos acreditando neles próprios e em quem os convenceu de que a covid era apenas mais uma das gripezinhas inocentes que assolam nossos trópicos ensolarados e imunes. Ouviriam, tardiamente, o regente do coreto nacional dizer-se arrependido por ter, nas palavras dele, “aloprado” na pandemia ao alardear que “não era coveiro” diante do aumento vertiginoso de mortos e, irônico, responder a pedidos de compra de vacina “só se for na casa da tua mãe”.

Haveria também entre os mortos as mesmas contendas que há entre os vivos – uma disputa absurda pela verdade particular e pela violência da interpretação. De um lado, haveria mortos culpando-se pelo uso de remédios sem comprovação de sua eficácia contra a covid, e outros lamentando a fatalidade – apesar de continuarem em morte a defender a eficácia da cloroquina e similares. E, entre eles, haveria quem batesse no peito um “mea-culpa” por cair no conto mais antigo da humanidade e aceitar de pronto o que a Europa já refutava com sabedoria. E, por fim, haveria o engasgo da dor da perda que nem um morto-livre seria capaz de dizer.

Levantados do chão, em insurreição, gritariam contra o atraso na compra de imunizantes, contra a recusa em aceitar a vacina chinesa em bom tempo; lamentariam a propagação de fake news e a crença em muitas delas. Colocariam os dedos mortos e em riste no nariz dos vivos e diriam, como os cadáveres falantes de Antares: “cada um de nós tem nas suas mais remotas cavernas interiores um troglodita adormecido que, submetido a um certo tipo de estímulo, vem rapidamente à tona de nosso ser e se transforma num déspota totalitário capaz de todas as bestialidades”. E nunca faltará um falso humanista para inventar uma teoria filosófica com o objetivo de coonestar todas as monstruosidades cometidas pelo “homem das cavernas”. (...)

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João Jonas Veiga Sobral Escritor, professor de língua portuguesa e orientador educacional

ENTRE MARGENS

Teberosky e Magda provaram que ‘letrar’ era mais do que alfabetizar

Ribeirão Preto, 25 de agosto de 2042

Dissera Mia Couto que ensinar a ler era sempre ensinar a transpor o imediato:

”É ensinar a escolher entre sentimentos visíveis e invisíveis. É ensinar a pensar no sentido original da palavra ‘pensar’ que significa ‘curar’ ou ‘tratar’ um ferimento. Temos de repensar o mundo no sentido terapêutico de o salvar das doenças pelas quais padece”.

Fora a Ribeirão Preto participar de uma homenagem mais do que merecida à Magda Soares. Poucos dias depois, a Magda iria completar 90 anos de uma vida dedicada ao estudo da psicogênese da língua escrita. Ferrero iniciara os seus estudos em finais da década de 70. Teberosky e Magda a haviam seguido, provando que ‘letrar’ era mais do que alfabetizar. Era aprender a ler em contextos onde a leitura tivesse sentido, fizesse parte da vida do aluno.

Vinculando a aprendizagem da língua a condições políticas, sociais, econômicas e culturais em que ocorre, Magda produziu teoria útil sobre a alfabetização e letramento.

Letramento era um processo contínuo da alfabetização, viver na condição de quem sabia ler. Isto é: um processo de aquisição de habilidades específicas (visuais, verbais, espaciais…), harmonizadas com o contexto cultural onde ocorre, habilidades sociais desenvolvidas colaborativamente, em rede.

Aos 90 anos, a Magda tinha subido ao chão de uma escola mineira, para tentar entender por que tanta teoria não conseguira melhorar os índices de alfabetização. Para vos explicar o que aconteceu com a Magda, procurei uns papéis, que havia escrito nessa altura. Eu sabia que havia guardado alguma coisa, no regresso de Ribeirão. Mas, quando tirei a poeira do velho baú, apenas encontrei um livro de poemas da filha do amigo Kika e uma coleção de crónicas da minha amiga Tina. Uma delas fazia referência à alfabetização.

A Tina dizia que alfabetizar era um ato de encantamento, “sensação de deslumbramento, admiração, grande prazer que se tem como reação a alguma boa qualidade

do que se vê, ouve ou percebe”. A minha sábia amiga dizia que os livros são portas para o universo da imaginação. E citava José Gamo:

“Para aprender, o cérebro precisa se emocionar”

A Tina fora educadora voluntária no Projeto Âncora, responsável por uma oficina de leitura. E se questionava:

“Como se faz possível ainda encontrar professores desencantados, que acreditam numa alfabetização mecânica, repetitiva, e sem sentido do Ba-Be-Bi-Bo-Bu, e do Ta-Te-Ti-To-Tu? É possível se encantar por algo quando a professora, com uma voz ríspida e ameaçadora, grita que é hora de fazer silêncio e escutar a história? Claro que não”.

Pela ausência de repreensão, as crianças à guarda da Tina ganhavam autoconfiança e ficavam cada vez mais empolgadas. Na oficina, convidava as crianças com dificuldade de leitura para lerem para ela. A maioria das crianças apresentava insegurança. Aproximavam o livro de rosto da Tina, com o dedinho fixo em uma palavra ‘estranha’, pedindo para ela ler.

A Tina não lia. Sorria, elogiava tudo que a criança havia lido e a convidava a ler bem devagarzinho mais aquela palavra. Também convidava crianças de seis a oito anos para ler histórias para as crianças mais pequenas.

Os livros emocionavam, despertavam curiosidade. Se assim era, por que razão se alfabetizava à revelia dos ensinamentos da Magda? Por que destruíam a curiosidade, o desejo de ler, o amor pelos livros?

“Como se encantar pela leitura?” – perguntava a Tina. E como só pergunta quem sabe a resposta, respondia:

“A resposta é escandalosamente simples: escutando alguém lendo de forma prazerosa”.

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José Pacheco Educador e escritor, ex-diretor da Escola da Ponte, em Vila das Aves (Portugal) josepacheco@editorasegmento.com.br
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SER PROFESSOR É DESPERTAR TALENTOS E TRANSFORMAR VIDAS.

15 de outubro Dia dos Professores

Confira a homenagem de Santillana Educação

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