Neurociência
Aulas de felicidade
começam a chegar a escolas do país
Novo Ideb



Debate sobre atualização no formato do Ideb ganha força entre especialistas

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Debate sobre atualização no formato do Ideb ganha força entre especialistas
Apesar da grande contribuição à educação do país, Lauro de Oliveira Lima (1921-2013) e Maria Nilde Mascellani (1931-1999) continuam ausentes nas formações docentes. Família, ex-alunos e pesquisadores relatam o método do mestre cearense e da mestra paulista, ambos distintos, mas em diálogo na busca pela prática, humanização e liberdade
Conflitos escolares
Pressão das redes sociais coloca gestores em crise
ANO 26 Nº290
Lado a lado com a educação brasileira.
Sabe aquela sensação de ganhar estrelinha dourada do professor?
É assim que nós estamos nos sentindo!
É com muita alegria que celebramos a conquista do Prêmio Top Educação 2022 como a editora de livros didáticos mais lembrada no país.
Esse resultado só foi possível graças aos professores e gestores escolares que caminham lado a lado com a Editora do Brasil com o propósito de levar educação de qualidade para nossas crianças e nossos jovens.
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Lado a lado com a educação brasileira.
Oescândalo de propina - com barras de ouro - envolvendo o então ministro da Educação da gestão Bolsonaro, o pastor evangélico Milton Ribeiro, marcou 2022. Em conversas com a editora ao longo dos últimos quatro anos, especialistas de ponta e das mais variadas áreas dentro da educação, inclusive de partidos diferentes, foram unânimes ao resumir o MEC de Jair Bolsonaro: retrocesso.
Também foi um período em que entidades, como o Todos pela Educação, por exemplo, ganharam ainda mais respeito ao estampar o seu compromisso por um país menos desigual e com mais equidade, tornando-se um símbolo pela aprovação do Fundeb.
Na busca pelo equilíbrio em meio aos desafios potencializados com a pandemia, mais uma novidade no ano: a implementação inicial do novo ensino médio em todas as escolas do país, com experiências exitosas e outras, preocupantes. E é diante dessas transformações no currículo educacional, vinculadas à BNCC, que o desenho do novo Enem se mostra urgente – está atrasado por instabilidade no MEC, segundo Maria Helena Guimarães de Castro, ex-presidente do Inep e uma das criadoras do Enem.
Afinal, os alunos têm aprendido em uma proposta diferente, o que obriga a atualização do exame que é hoje a porta de entrada para o ensino superior. Outro implicante é que a formação inicial e continuada precisa dialogar com as novas leis. Não basta exigir, os educadores e educadoras precisam de preparo.
Já a saúde mental e emocional não pode ser colocada de lado nas escolas, uma vez que seis a cada 10 jovens passaram ou vêm passando por ansiedade nos últimos seis meses, revelou em setembro a terceira edição da série Juventudes e a pandemia: e agora?, que ouviu mais de 16 mil pessoas de 15 a 29 anos. Focando uma região, pesquisa deste ano da Secretaria da Educação do Estado de SP com o Instituto Ayrton Senna dialoga com essa realidade preocupante: depressão e ansiedade estão presentes em 70% dos jovens paulistas. Inclusive, o acolhimento não deve ser apenas para os alunos e alunas, mas para todo o corpo escolar.
Sobre futuro e saindo da área específica da educação, o Brasil ganhará com a criação no governo Lula do Ministério dos Povos Originários, povos que foram invadidos e massacrados e que hoje resistem em 305 etnias. Somos um país plural e não falamos apenas o português.
Por fim, que a matéria de capa sobre Lauro de Oliveira Lima e Maria Nilde reacenda em cada um a certeza da quantidade de pessoas e iniciativas brilhantes que temos em nosso país.
Boa leitura e um excelente final de ano: 2023 chegará pulsando e pedindo que as ideias sejam colocadas em prática.
Laura Rachid, editoraA Plataforma Educação, composta por edições digitais e impressas, site, redes sociais e eventos, é publicada por RFM Editores
Ano 26 - Nº 290 novembro e dezembro de 2022 ISSN 1415-5486 www.revistaeducacao.com.br
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Para a diretora da Faculdade de Educação da USP, apenas especialistas na história da educação reconhecem autores da Escola Nova. Diz que Vygotsky talvez seja hoje mais estudado do que o próprio Piaget. Sobre autores negros, destaca o reconhecimento, ainda que pequeno, de Nilma Lino Gomes e Sueli Carneiro
Lauro de Oliveira Lima e Maria Nilde Mascellani marcaram a educação nacional. Mesmo desvalorizados, suas propostas continuam vivas e em diálogo com os tempos atuais. Nesta reportagem, família, pesquisadores e ex-alunos compartilham os métodos desses grandes brasileiros
Atenta ao que torna as pessoas infelizes, sociedade sabe pouco sobre a felicidade. O tema é um dos mais concorridos entre alunos de Harvard. No Brasil, escolas começam a incluir o bem-estar nas atividades
Recentes ataques aos que ensinam história têm contribuído para o êxodo de educadores
Para a diretora da Faculdade de Educação da USP, apenas especialistas na história da educação reconhecem autores da Escola Nova. Diz que Vygotsky talvez seja hoje mais estudado do que o próprio Piaget. Sobre autores negros, destaca o reconhecimento, ainda que pequeno, de Nilma Lino
Gomes e Sueli Carneiro | Por Sandra Seabra MoreiraCarlota Boto é professora titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), e desde julho deste ano exerce o cargo de diretora. É graduada em pedagogia e história, mestre em história e filosofia da educação e doutora em história social. Nesta entrevista, ela aponta os principais autores brasileiros e estrangeiros que na atualidade estão presentes na formação dos docentes. Como historiadora da educação, contextualiza o momento atual e a chegada da tecnologia digital à sala de aula, apontando a urgência de políticas públicas para o enfraquecimento do abismo digital no Brasil. Confira.
Como historiadora da educação, como a senhora descreve o momento atual da educação brasileira?
A educação brasileira avançou no tocante à expansão das oportunidades de ensino e avançou também na qualidade. Eu sei que parece contrário à perspectiva geral que se tem sobre o assunto, mas nós precisamos tomar cuidado para não termos uma visão anacrônica da rea-
lidade. No momento em que a escola era tida como melhor, muita pouca gente ia para essa escola. Há uma falsa percepção de que teria havido uma queda nos padrões da qualidade de ensino. Porém, nunca tivemos um ensino tão abrangente como o que temos hoje. É claro que é preciso avançar, sim. São inúmeros os desafios em direção a uma escola de qualidade. Mas não podemos entrar na lógica desse discurso de terra arrasada. A educação brasileira não é um fracasso, embora haja muito a ser feito por ela. O nosso desafio hoje é, tendo todas as crianças e adolescentes nas escolas, aprimorar o padrão de qualidade dessa escolarização.
Eu penso que, do ponto de vista do governo federal, a atual política é sim de terra arrasada. Qual é o projeto pedagógico do governo Bolsonaro? Ele fala em alfabetizar por um aplicativo, ele disse isso recentemente em um debate; e tem a política de homeschooling. Ou seja, como política de escolarização, ele propõe a desescolarização. É uma contradição nos termos. Além do homeschooling, há as escolas militares. Quando se propõem escolas militares desconsidera-se todo o debate sobre as teorias pedagógicas e pensa-se em reinstalar um modelo autoritário e ultrapassado de educação escolar. Nesse sentido, considero a atual política federal um retrocesso.
Quais são os principais desafios na formação dos docentes?
Oferecer um tipo de formação que possibilite uma perspectiva de integração transdisciplinar dos conteúdos curriculares. Acredito que devem ser combinados a formação geral, ou seja, os fundamentos da educação – a história, a filosofia, a psicologia, a economia da educação – e a formação específica, que abarca, por um lado, a didática e as metodologias de ensino, e por outro lado, também a gestão escolar. Precisamos formar pedagogos capazes de alfabetizar e de gerir um sistema de ensino. Precisamos formar professores que conheçam a psicologia do desenvolvi-
mento, a filosofia e a história da educação, mas que saibam também preparar a aula do dia seguinte. Nesse sentido, a formação tem de ser integral nessa dinâmica de combinação da formação geral com a formação específica.
Quem são os autores mais estudados? Paulo Freire, Vygotsky, Piaget?
Paulo Freire é hoje um ícone dos estudos da educação no Brasil, portanto, um autor bastante presente nos cursos de formação de professores. Vygotsky talvez seja hoje mais estudado do que o próprio Piaget. Há alguns autores brasileiros que são muito trabalhados, como, por exemplo, o Dermeval Saviani. Mas eu diria que há hoje uma primazia dos estudos que tomam a educação como uma variável política. Eu não poderia, entretanto, deixar de mencionar Magda Soares nos estudos sobre alfabetização, Diana Vidal na história da educação, Vitor Paro na política educacional, José Sérgio Fonseca de Carvalho e Julio Groppa Aquino na filosofia da educação. Penso que esses são os autores que estão no repertório do discurso da educação no Brasil, atualmente.
Quais perderam espaço nos últimos anos?
Acredito que os autores da Escola Nova perderam espaço. Depois de reinarem durante muito tempo, hoje praticamente não se fala mais deles. O governo federal, por exemplo, discute o método fônico, mas não menciona em momento algum o papel da Maria Montessori na constituição desse método. Jean-Ovide Decroly é outro autor completamente esquecido. Fala-se da democracia na escola, mas nos esquecemos de nos reportar ao pensamento de John Dewey. No tocante à Escola Nova no Brasil, acontece a mesma coisa: apenas os especialistas na história da educação brasileira trabalham autores como Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho ou Paschoal Leme. Foram esquecidos. A meu ver é uma perda.
Precisamos formar professores que conheçam a psicologia do desenvolvimento, a filosofia e a história da educação, mas que saibam também preparar a aula do dia seguinte
Quais novos autores vêm ganhando mais pertinência? O que trazem de novo?
Há três autores de quem gosto muito: o português António Nóvoa, que aborda a questão da profissionalidade docente, a história da profissão professor e seus desafios na contemporaneidade; François Dubet, francês, que indaga sobre o discurso pedagógico e o lugar que pode haver nele para a temática da escola justa; e o belga Jan Masschelein, que, em defesa da escola, traz um debate que resgata os significados de uma escola na qual “há sempre algo sobre a mesa” – para usar as palavras dele. E esse algo que existe sobre a mesa são os conteúdos culturais que uma determinada sociedade entende por bem transmitir às gerações mais novas. Concordo com a visão de Masschelein, exposta no belo livro intitulado Em defesa da escola [ed. Autêntica]. Esses três autores têm ganhado bastante espaço no debate pedagógico.
Fale mais sobre a visão de François Dubet.
Em O que é uma escola justa? [ed. Cortez], Dubet diz que ela reproduz, em seu interior, as injustiças da sociedade. Ele se coloca contra a ideologia do mérito, da meritocracia, e vai dizer que o grande problema da escola é que ela acaba por excluir pessoas que têm a responsabilidade de formar. É preciso pensar qual seria o tipo de escola que poderíamos caracterizar como justa. Uma escola cooperativa, que substitua a competição pela integração, cooperação. Ele vai apontando vários modelos do que seria essa escola justa.
No Brasil, há tensões étnico-raciais em sala de aula. E a resposta para isso tem sido a de que na sala de aula se reproduz o comportamento geral da sociedade. Mas não é para reproduzir em sala de aula. Há mecanismos que trabalham aquilo que é uma tendência e que vai na contramão, justamente para produzir o diferente, a contraideologia.
Os autores negros e negras vêm ganhando espaço?
Sim. Nilma Lino Gomes e Sueli Carneiro são autoras importantes no debate da educação hoje. São lidas menos do que merecem, do que seria necessário, mas são autoras que vêm ganhando pertinência no debate.
Os grandes pensadores parecem estar submersos em meio ao alarido acerca das tecnologias digitais na educação. Essa percepção procede?
Sim, hoje o debate pedagógico recebe muita concorrência de teóricos de outras áreas que se prestam a falar sobre o ensino. Assim, muitos autores irão problematizar as novas tecnologias digitais e seus usos em sala de aula. Porém, penso que os mais poderosos discursos externos à educação são aqueles provenientes do campo das neurociências e da economia. São muito fortes os discursos dos economistas e neurocientistas discorrendo sobre educação. São áreas correlatas, mas que não dialogam propriamente com o campo da pedagogia, no sentido mais clássico. Já os discursos sobre as tecnologias, embora partam de outro lugar, dialogam mais diretamente com as produções no campo da educação.
A partir de uma perspectiva histórica, qual a magnitude das transformações provocadas pelas tecnologias digitais na educação?
É uma revolução. A escola moderna surge com a tecnologia do livro impresso. A imprensa, de uma certa maneira, criou a ideia da escola como a concebemos hoje. A escola veio diretamente como uma resposta ao desafio que era a leitura do livro impresso, que expandiu por completo as oportunidades de leitura. Os trabalhos de Roger Chartier mostram, por exemplo, que na França houve um movimento de alfabetização espontânea, e do mesmo modo que hoje se tem medo dos conteúdos nebulosos que vêm pela internet, as pessoas tinham medo do que vinha pelo livro. A escola surgiu para regrar a lei-
Paulo Freire é hoje um ícone dos estudos da educação no Brasil, portanto, um autor bastante presente nos cursos de formação de professores
tura. Com o advento dos computadores e sobretudo da internet, pela primeira vez a tecnologia do livro impresso foi efetivamente posta em causa. O lugar do conhecimento se deslocou. Trata-se de uma mudança que não é apenas de forma, mas também de conteúdo. Os modos de acessar o conhecimento foram substancialmente deslocados, transformados. A escola terá de aprender a lidar com isso. Hoje, não se trata apenas de discutir se vai usar o computador em sala de aula e qual técnica será utilizada. Trata-se de que as novas gerações aprendem de uma nova maneira. Elas estão acessando o saber por outros registros. Até que façamos, como educadores, que essas novas gerações se sintam atraídas pela tecnologia do livro, precisamos dialogar com as tecnologias digitais.
Sim, porque implica a adequação do currículo e das formas de organização da aula, tendo em vista essa nova dimensão. Um autor que aborda muito bem essa questão é o António Nóvoa. Ele fala em como se dará uma certa metamorfose da escola tendo em vista a incorporação dos novos registros que estão postos pelo mundo contemporâneo. A questão da tecnologia vinha vindo, mas foi com a pandemia que vimos como temos dificuldade em lidar com ela. É uma questão geracional, os jovens lidam com isso com mais facilidade. As mudanças curriculares são sempre bem-vindas. Precisamos, entretanto, tomar alguma cautela com os modismos. Creio que sim, os currículos precisam mesmo incorporar o debate sobre
os usos das novas tecnologias em sala de aula. Mas eu espero que as antigas tecnologias, que historicamente perfizeram a história da escola, não sejam postas de lado por causa do recurso à internet. Deve-se acessar a rede? Sim, mas o contato com o livro persiste sendo fundamental.
As tecnologias digitais aumentaram o abismo entre as classes sociais. Há escolas sem sinal de internet disponível aos alunos; em uma minoria delas, os alunos já trocaram seus cadernos por tablets e laptops. Ao mesmo tempo, a demanda por profissionais da área de tecnologia só aumenta. Quais serão as consequências dessa exclusão? Nós vimos a exclusão no momento da pandemia. Mesmo na universidade era diferente a questão dos acessos, seja aos tablets e laptops ou à utilização da banda larga por crianças, jovens e, no caso da universidade, por adultos de baixa renda. Os governos precisam investir na concessão de tablets e laptops, bem como facultar a internet banda larga para crianças e jovens de baixa renda. Tem de haver investimento e políticas públicas nessa direção. Precisa haver ainda esforços encetados em direção à formação de professores. Eu tendo a achar que esse será um problema provisório. Com o tempo, o custo desses aparelhos vai diminuir e talvez daqui a 10 anos os professores e professoras estejam plenamente habilitados a lidar com o circuito digital. Porém, é preciso que o estado dê condições para que todas as camadas da sociedade possam acessar esses recursos, do contrário cria-se um abismo digital.
Iniciativa da edtech Edify Education tem parceria com a Ação da Cidadania
Os dados mais recentes da Rede PENSSAN revelam que, em 2022, 58,7% da população brasileira convive com algum dos três graus –leve, moderado, ou grave – de insegurança alimentar. Neste último, o mais severo, encontram-se 33,1 milhões de pessoas. E foi pensando nisso que o Edify Education, empresa de soluções educacionais em inglês presente em mais de 270 escolas, decidiu unir professores e alunos em uma grande campanha de doação. Chamada de Estimule a Empatia 2022, a iniciativa traz uma parceria com a Ação da Cidadania, maior ONG de combate à fome no país.
“Levar a pauta da fome, um tema tão atual e relevante, para dentro das nossas salas de aula é algo que está em perfeita harmonia com os princípios pedagógicos do Edify. Afinal, acreditamos que nosso papel vai muito além do ensino do inglês. Enquanto educadores, queremos formar indivíduos completos e
empoderados para a construção de um futuro cada dia melhor. E isso passa por estimularmos habilidades socioemocionais importantes, como o senso crítico, a cidadania e, é claro, a empatia", explica Marina Dalbem, co-CEO do Edify.
Alunos do Ensino Fundamental criam frases em inglês relacionadas ao combate à fome, uma das atividades da campanha Estimule a Empatia 2022.Para desenvolver a empatia nas aulas de inglês, a empresa criou atividades para os alunos do 1º ao 6º ano do Ensino Fundamental, segmentadas de acordo com a faixa etária. O plano de aula está disponível para todas as escolas que queiram participar da campanha, inclusive aquelas que não fazem parte da rede do Edify, na página https://bit.ly/empatia22. Para cada aluno envolvido nas atividades, o Edify Education vai doar 10 pratos de comida à ONG Ação da Cidadania. A meta é chegar a 100 mil pratos.
“Foi muito legal o envolvimento dos alunos. Eles realmente abraçaram essa causa e fizeram a atividade com muito carinho”, conta Renata Miranda, professora do Centro de Ensino Charles Darwin, em Vitória, Espírito Santo. A escola foi uma das primeiras a realizar a atividade, em que envolveu 720 alunos. O mentor pedagógico do Edify Rogerio Azeredo, que acompanhou a atividade, assina embaixo: “tenho visto tanto professores quanto alunos profundamente engajados em entender o cenário e, mais importante, agir. Essa é uma oportunidade que a campanha Empatia 2022 nos dá”, reforça.
A campanha será concluída no próximo dia 24 de novembro, dia do Thanksgiving Day, ou Dia de Ação de Graças. Comemorado nos EUA, Canadá e ilhas do Caribe, o feriado é um momento em que as pessoas se reúnem para celebrar a gratidão e retribuí-la com boas ações. Nesse sentido, os alunos poderão ajudar com doações a partir das aulas de inglês.
“É algo muito especial que, além da possibilidade de impactar 100 mil pessoas com a doação, o Edify esteja mobilizando escolas brasileiras com um tema tão importante que é a fome, diante da gravidade da situação em que vive mais da metade da população brasileira. Acreditamos que a campanha vai contribuir para a formação de crianças e adolescentes, além de estimulá-los a
serem mais ativos como agentes de transformação social”, diz Rodrigo "Kiko" Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania.
Esta é a segunda edição da iniciativa, que no ano passado teve foco no etarismo e nas consequências emocionais da pandemia. O Edify foi a casas de repouso em Niterói (RJ) e ouviu histórias de idosos que estavam afastados de suas famílias. A atividade feita em sala de aula com 850 alunos promoveu um encontro de gerações que ganhou novos significados por meio de desenhos, reunidos em um livro e entregue aos idosos em comemoração ao dia dos avós e com imagens projetadas em importantes pontos da cidade.
Um dos objetivos da campanha Empatia 2022 é estender essa sensibilização para além dos muros das escolas. Para isso, o Edify está envolvendo também os responsáveis dos alunos na campanha. Ao longo do mês, a empresa publica conteúdos nas redes sociais e site com dicas para ajudar os pais e as mães a conscientizarem as crianças sobre a fome, contribuírem para o desenvolvimento socioemocional delas e as inspirarem a serem cidadãs mais ativas.
“Esta é uma das maiores ações coletivas contra a fome entre as escolas nacionais e desejamos impactar ainda mais pessoas com o trabalho desses estudantes. Isto porque, em nossos programas, o inglês passa a ser parte integrante de todos os momentos da vida, inclusive aqueles de reflexão e debate sobre temas atuais importantes. Acreditamos que fomentar esse debate nas aulas e depois levar para além da escola reforça o potencial do idioma para o desenvolvimento de habilidades e vivência de novas experiências”, finaliza Marina Dalbem.
Mapeamento da Ashoka com juventude da Amazônia Legal aponta barreiras sistêmicas que dificultam ações de reversão e princípios direcionadores, incluindo métodos escolares, que os apoiam no fortalecimento da justiça climática
Como as juventudes da Amazônia estão se organizando para enfrentar o aquecimento global e promover a justiça climática? Como engajam outros atores sociais, como governos, organizações da sociedade civil, escolas, universidades, empresas e mídia em suas ações? Que barreiras encontram nessa articulação? E como inovam para superá-las?
Essas indagações são o eixo do Mapeamento juventudes e justiça climática - jovens transformadores pelo clima, realizado pela prestigiada entidade Ashoka por meio de oficinas e entrevistas com 45 pessoas, entre jovens transformadores, empreendedores sociais e líderes de organizações que trabalham com juventudes da Amazônia Legal.
“Um modelo que vê a natureza como um recurso a ser usado para alimentar o crescimento sem limites não resulta apenas no esgotamento e no empobrecimento de algumas localidades exploradas ou em ambientes profundamente modificados. Na atual escala de consumo e desperdício, as crises já não são mais específicas, de um setor ou região. Estamos lidando com uma crise estrutural, que vai perdurar por muito tempo e mudar — queiramos ou não — o modo como vivemos. Uma das tarefas
mais importantes nesse processo será ajudar as pessoas a identificar o papel que podem desempenhar, sem deixar ninguém de fora das soluções. Devemos centrar atenções especialmente naqueles que serão mais rapidamente atingidos pelos impactos das mudanças climáticas, assim como os que têm mais responsabilidade ou poder de decisão sobre o que precisa mudar. A inação nos custaria muito caro”, alerta um trecho do prefácio. O documento investigou quais são os estímulos que têm engajado os jovens em favor da justiça climática e as barreiras que os dificultam de chegar a tal feito. Entre os apontamentos, o material indica que é comum escolas e outras estruturas sociais de governos (locais, estaduais e nacionais) não acreditarem que as juventudes possam fazer a diferença, além da desconexão do ensino médio com a educação ambiental e ações transformadoras das juventudes. Em relação à universidade, notou-se um modelo de ensino pouco participativo. Contudo, também aponta princípios norteadores positivos de escolas e instituições de ensino superior. Clique aqui e acesse o mapeamento completo.
Restos mortais de dois indígenas foram encontrados no início de novembro nos sítios Pedra do Tubarão e Alcobaça, em Pernambuco. Ambos viveram na região por volta de mil anos atrás. Por meio de análise do DNA, cientistas acreditam que eles tinham um parentesco relativamente próximo a outros povos que viviam em uma longa faixa que pega Minas Gerais até o Uruguai, próxima ao litoral atlântico sul-americano.
Já em relação aos habitantes précolombianos do litoral do Pacífico e dos Andes, as semelhanças genéticas foram menores, indicando que a América do Sul pode ter sido povoada em duas ondas, primeiro pelo lado andino e depois pelo Atlântico.
Com informações da Folha de S.Paulo.
Quando a pandemia deixou todo mundo em casa, assim como tantos outros setores, a arte e a cultura também precisaram se reinventar para continuar existindo durante o período. A plataforma #CulturaEmCasa e o Teatro Sérgio Cardoso, equipamentos da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do governo de São Paulo, deram vez e voz a centenas de artistas e profissionais da cultura que, de cima de um palco e respeitando as medidas sanitárias da época, conseguiram levar arte para dentro da casa das pessoas.
Foi assim que aconteceram as batalhas de rima realizadas em 2020 no Teatro Sérgio Cardoso e que acabam de ganhar uma série inédita. Uma batalha por dia conta em seis episódios de 25 minutos cada a trajetória de cinco MCs que vivem na região metropolitana de São Paulo. A série aberta estreou em 2 de novembro com a história do MC WinniT. A partir daí, toda quarta-feira, no mesmo horário (às 20h), é disponibilizado um novo episódio com as histórias dos MCs Magrão (9/11), Gabi Nyarai (16/11), Youngui (23/11) e WM (30/11). Os episódios ficam salvos na plataforma para o público assistir a qualquer momento.
O último episódio da série, “Largo da Batalha”, será transmitido em 7 de dezembro e vai trazer os cinco MCs se preparando para uma batalha realizada no Largo da Batata, região oeste de São Paulo.
Os Mcs tiveram participação fundamental na produção da série. Os locais das filmagens foram escolhidos pelos personagens, que também apresentaram suas ‘quebradas’, abriram suas casas e permitiram, à equipe de produção, entrevista com familiares e amigos.
Clique aqui para acessar a plataforma e assistir à série.
A quantidade de jovens brasileiros de 18 a 24 anos que nem estudam e nem trabalham, os “nemnem”, é tamanha (35,9%) que colocou o país em segundo lugar em ranking sobre o tema. O relatório Education at a Glance 2022, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), foi divulgado em outubro. A média dos países da OCDE é de 16,6%. Em primeiro lugar está a África do Sul, com 46,2% de seus jovens sem alguma atuação. Já a Holanda possui apenas 4,6%, ficando em último lugar.
O relatório aponta que: “É essencial que os países tenham políticas para prevenir que os jovens se tornem parte desse grupo ou que busquem ajudá-los a encontrar um emprego ou voltem a estudar”.
Foram avaliados 38 países-membros do OCDE, além do Brasil, Argentina, Índia, África do Sul, Indonésia, China e Arábia Saudita.
Ao analisar o relatório, o Estado de Minas divulga que o Brasil também é o segundo país com a maior proporção de jovens por mais tempo na condição de “nemnem”. Dos que estão sem emprego e sem estudar no país, 5,1% se encontram nessa situação há mais de um ano, o que indica uma falta crônica de oportunidades para essa população.
Clique aqui e acesse o relatório completo.
Em seis episódios de 25 minutos cada, especial gratuito conta a trajetória de cinco MCs da região metropolitana de São PauloMC Gabi Nyarai está no terceiro episódio Divulgação
“Macaco imundo, feio, urubu, neguinho perigoso…” Esse é um resumo das agressões sofridas em outubro de 2022 pelo humorista Eddy Jr., morador de um condomínio na zona oeste de São Paulo. As ofensas racistas foram proferidas por sua vizinha, Elisabeth Morrone, no momento em que ela se negou a entrar no mesmo elevador que Eddy Jr. A ação foi filmada e ganhou repercussão nacional; com isso, dias após o incidente, um grupo de manifestantes fez um protesto em frente do prédio. Dos diversos cartazes contra o racismo estampados ali, um deles deixava claro que “Agora é assim!”, explicitando que esse tipo de violência não passará despercebido.
O debate sobre as questões étnicas em nosso país é antigo, por vezes considerado enfadonho e excessivo por aqueles que são alheios aos impactos que elas causam. Entretanto, o racismo se mostra violento e invasivo e bate à nossa porta todos os dias. A cena descrita acima aconteceu no condomínio onde moro, Eddy Jr. é meu vizinho, Elizabeth também. Por isso ressaltamos aqui o esforço de tornar a escola um espaço acolhedor e adequado à convivência equitativa.
Eliane Cavalleiro, autora do livro Do silêncio do lar ao silêncio escolar (ed. Contexto) a partir de sua experiência na educação infantil, destaca que as crianças negras, desde a mais tenra idade, atribuem uma identidade negativa à sua etnia. Em paralelo, as crianças brancas revelam um sentimento de superioridade, que muitas vezes se revela por meio de xingamentos e ofensas às crianças negras, todas com caráter pejorativo da cor da pele. A autora chama a atenção para um dos fatores que fazem com que esse conflito se perpetue na escola: o silêncio dos professores diante das incidências. Eliane afirma que os educadores não percebem o conflito que se delineia, corroborando, desse modo, a legitimidade de procedimentos preconceituosos e discriminatórios no espaço escolar.
Há uma dificuldade imensa entre sofrer as violências cons tantes do racismo e seguir ileso aos ocorridos. Às pes soas negras a dor dessa convivência com o racismo é inevitável. O que Eliane nos mostra, bem como o caso de Eddy Jr., é que há uma falha no processo de socialização de nossa sociedade, que interioriza um embate entre negros e brancos. Na escola, mostra-se indispensável atuarmos cotidianamente em programas educacionais antirracistas que a todo momento digam à comunidade escolar que as relações multiétnicas harmônicas são um caminho para a transformação de nossa sociedade.
Até o momento, seguimos aguardando o retorno da justiça e a responsabilização dos culpados no incidente ocorrido com Eddy Jr., na esperança de que nossa luta nunca mais será silenciada.
1 “Não seremos mais derrotados”: homens negros lançam manifesto contra ataques racistas. Disponível em: https://mundonegro.inf.br/nao-seremos-mais-derrotados-homensnegros-lancam-manifesto-contra-ataques-racistas/
Lauro de Oliveira Lima e Maria Nilde Mascellani marcaram a educação nacional. Mesmo desvalorizados, suas propostas continuam vivas e em diálogo com os tempos atuais. Nesta reportagem, família, pesquisadores e ex-alunos compartilham os métodos desses grandes brasileiros
| Por Maria Cláudia BaimaDesenvolver a humanidade nas pessoas –esse foi o sonho de dois grandes expoentes da educação brasileira: Lauro de Oliveira Lima e Maria Nilde Mascellani. Viveram com imensa paixão e coerência, imunes às circunstâncias sociais ou políticas, colhendo dissabores e plantando amores. Ele nasceu em Limoeiro do Norte, Ceará, em 1921. Ela em 1931, no bairro
do Brás, na capital paulista. Não ficaram conhecidos e estão ausentes nas formações para docentes, talvez porque ousaram enfrentar um sistema contrário à humanidade que pulsa no coração homo sapiens Foram perseguidos e humilhados durante a ditadura militar imposta em 1964. Mas, do sofrimento, as sementes de uma educação libertária foram lançadas. Décadas depois, é possível recorrer aos ensinamentos de Lauro e Maria Nilde. Não por meio de vagas teorias, mas por testemunhos de vivências concretas, por métodos registrados em livros, teses acadêmicas, relatos, fotos e filmes.
Entre 1961 e 1969, Maria Nilde coordenou seis Ginásios Vocacionais (GVs) em escolas públicas do estado de São Paulo - em Americana, Batatais, Barretos, Rio Claro, São Caetano do Sul e São Paulo. Em 1969, todas foram invadidas, simultaneamente, pelo Exército. No céu, helicópteros verdes intimidavam enquanto professores eram trancados em salas, materiais confiscados e queimados. Por que tanto alvoroço? Porque os jovens dos GVs aprendiam a pensar por si mesmos, a buscar a verdade dos fatos em diferentes fontes e a tirar suas próprias conclusões, a fazer conexões, a interpretar e considerar diferentes contextos, a compreender fenômenos pela experimentação. Para alguns, os GVs educavam jovens para serem agentes transformadores - homens e mulheres livres, donos de seus destinos. Para outros, formavam subversivos.
Paulista, Nilde se eternizou por conta de sua coordenação nos Ginásios Vocacionais, barrados na ditadura
“Pelos seis GVs, passaram cerca de 10 mil jovens”, afirma Luiz Carlos Marques (Luigy Marks), hoje responsável pela Memória da Associação de Ex-Alunos
e Amigos do Vocacional (GVive), fundada em 2005. Os depoimentos emocionam e trazem indagações: ‘como pôde acabar?’. Considerando os tempos de repressão, melhor perguntar: ‘como ela conseguiu implantar?’. Com a coragem de sua personalidade inquieta e criativa. No final dos anos 1940, a jovem Maria Nilde ainda cursava a Escola Normal Padre Anchieta, na capital paulista, e era conhecida por gostar de chegar o mais perto possível do objeto do conhecimento. Deu aulas para crianças no quintal da casa dos pais, no Brás. Observou que aprenderiam melhor se usasse elementos do cortiço onde moravam. Com as mães, discutia uma pauta all inclusive : higiene pessoal das crianças, em que momento faziam as lições de casa, de que brincavam...
Em 1957, graduada em pedagogia pela USP, ela vai trabalhar em Socorro, em uma das 50 escolas do país onde havia as Classes Experimentais, criadas pelo Ministério da Educação entre 1959 e 1962, que seriam o embrião dos Ginásios Vocacionais. O personalismo de Emmanuel Mounier (1905-1950), a Escola de Sèvres, na França, e Escola Compreensiva Inglesa ajudaram nessa formatação. Maria Nilde foi convidada para coordenar os GVs, como projeto piloto de ensino renovado no estado de São Paulo.
Daniel Chiozzini é professor doutor da PUC-SP e filho de ex-professores dos GVs. Movido pela memória afetiva dos pais, abraçou o tema e fez dele sua tese de doutorado. Ele conta que um dos pilares dos GVs era a formação e regime de trabalho dos professores. Todos faziam um curso preparatório de seis meses e só eram contratados após avaliação. A jornada semanal de 40 horas tinha mais da metade do tempo destinado às reuniões semanais de planejamento, preparo de aulas e aplicação das técnicas pedagógicas. Muito do que hoje se considera metodo -
Entre os bordões de Lauro: “professor não ensina, ajuda o aluno a aprender”
“O prof. Lauro é o mentor pedagógico da minha vida de professor. Devo ao seu paradigma a capacidade de reforçar o protagonismo da educação física na escola, continuar o trabalho na Escola do Futuro da USP e criar o Centro Esportivo Virtual (http://cev.org.br), produto da primeira tese da Unicamp transmitida pela internet, há 26 anos no ar como ONG.”
(Laércio Elias Pereira, doutor em educação física e criador do CEV)
“Estudava psicologia e a escola A Chave do Tamanho era atrás da PUC. Precisei fazer umas fotos de escola e me encantei com as crianças se divertindo com atividades pedagógicas na hora do recreio. Era a escola em que eu gostaria de ter estudado. Logo estaria trabalhando lá, como supervisor pedagógico. Foram três anos inesquecíveis de convívio com Lauro – uma pessoa interessada no outro, no bem-estar social, sensível, humanista. Seu método não ensina, mas cria condições para que o aprendizado se dê. Passei a perceber o ser humano como uma unidade, sem separar o cognitivo da afetividade.”
(Irineu E. Jones Corrêa, doutor e mestre em letras pela UFRJ, psicólogo pela PUC-Rio, e pesquisador sênior da Fundação Biblioteca Nacional-FBN)
Em 1969, os Ginásios Vocacionais foram invadidos pelo Exército, e professores eram trancados em salas, materiais confiscados e queimados
Alunos dos Ginásios Vocacionais em atividade. À esq. praticam banco vocacional e na foto à dir. estudo de meio
logia inovadora já era praticado nos GVs, tais como interdisciplinaridade, período integral, estudo de meio, avaliação ao longo dos anos letivos, formação contínua do professor, trabalho em equipe, vínculo entre escola e comunidade, etc. O planejamento começava com um diagnóstico político, econômico e cultural de cada cidade e culminava com a definição de temas centrais a serem integrados em todas as disciplinas: artes industriais, práticas comerciais, práticas agrícolas e educação doméstica - para meninos e meninas. Os conteúdos eram praticados na horta, na cantina, no banco escolar e no governo estudantil, administrados por alunos e professores.
Em meio às densas nuvens da ditadura, ela foi chantageada para declarar uma mentira sobre uma de suas professoras. O chantagista disse: “se a senhora não falar, sua cabeça vai rolar”. Ela responde: “então, a cabeça vai rolar”. Foi demitida, presa e torturada psicologicamente, pois tinha um laudo médico que atestava artrite severa, desde a infância. Mantevese firme e sã, trabalhando com educação até o fim, quando seu coração descansou aos 68 anos, em 1999.
Foi na criação de várias escolas que Lauro praticou as ideias organizadas no seu Método Psicogenético. Seus 32 livros são uma herança preciosa, mas foi no dia a dia que o carisma de sua presença mais brilhou. Antes de ter notícia da Teoria Cognitiva de Jean Piaget, Lauro já estava em sintonia com suas descobertas, na rotina do Colégio Agapito dos Santos, que fundou em Fortaleza, em 1952, quando descobriu a paixão pela capacitação de professores. Começa a defender uma ideia que virou seu bordão: “professor não ensina, ajuda o aluno a aprender”.
Lauro soube das pesquisas de Jean Piaget porque assinava todos os jornais franceses. Encantou-se pela teoria do conhecimento como construção individual via experiência direta, e direcionou suas pesquisas para o universo da didática ativa e operatória. Man-
Um dos pilares dos Ginásios Vocacionais era a formação e regime de trabalho dos professores. Todos faziam um curso preparatório de seis meses e só eram contratados após avaliaçãoFotos: Arquivo GVive
dou carta para Piaget contando que aplicava os ensaios piagetianos em sala de aula. Piaget respondeu com reconhecimento e congratulações. Anos depois, aceitaria o convite de Lauro para vir ao Brasil e deu-lhe autorização para o uso de seu nome no Centro Experimental e Educacional Jean Piaget, fundado em 1972, quando vai com a família para o Rio de Janeiro e abre a escola A Chave do Tamanho.
Antes de ir ao Rio, Lauro, sua esposa Elisabeth e os sete filhos viveram alguns anos em Brasília, onde trabalhou com Anísio Teixeira, que soube dele por meio do livro Escola Secundária Moderna. Envolveu-se com as Escolas Parques e foi um período produtivo, até que chega o golpe de 1964. Sem qualquer vínculo com a esquerda, mas conhecido por criticar o sistema educacional, Lauro foi perseguido por militares. Perdeu o emprego e Elisabeth assumiu o papel de provedora. Não quis sair do Brasil, mas isolou-se em casa. Desse retiro nasce Dinâmica de Grupo, livro que gerou palestras em empresas por todo o país.
Em 1994, funda o Colégio Oliveira Lima, em Fortaleza. “Trabalhei 16 anos no Colégio Oliveira Lima, como coordenadora pedagógica. Hoje dou assessoria para a Escola Nova, em Fortaleza, onde três de meus filhos trabalham, continuando o legado de meu pai e refazendo o material pedagógico”, diz Adriana Oliveira Lima, filha de Lauro. Ela descreve seu pai como um homem poderoso, forte, potente na oratória, do tipo encantador mesmo. “As pessoas saíam de suas palestras encantadas pelo jeito peculiar que ele tinha de filosofar sem ser filósofo. Lembro dele sempre cercado de livros. Era um apaixonado por educação e fazia a gente se apaixonar.”
“Fui feito pra essa escola e ela pra mim. Éramos trabalhados para despertar nosso potencial, com atividades em equipe, sem precisar competir ou derrubar o outro. Uma vez por mês a escola se reunia para lidar com os projetos. Cada aluno procurava se aproximar de seus interesses e vocação. Creio que o forte da professora Maria Nilde era a generosidade. Ela permitia e esperava que cada professor desse tudo de si e entrasse de cabeça. E esperava o mesmo dos alunos.”
(Luiz Carlos Marques/Luigy Marks, atuou por mais de 25 anos em educação, é responsável pela Memória da GVive)
“Os anos no GEVOA (Ginásio Estadual Vocacional Oswaldo Aranha – São Paulo) ajudaram a moldar minha personalidade, meu caráter, minha forma de pensar e agir. Se sou contestador, é porque lá aprendi a perguntar o porquê das coisas; se sou solucionador de problemas, é porque lá aprendi a analisar situações, buscar respostas em várias fontes e tirar conclusões; se sou democrático, é porque lá aprendi que há o tempo de falar e o de ouvir, o de liderar e o de ser liderado.”
(Paulo Ricardo Simon, ex-aluno, engenheiro e atual presidente da GVive)
Lauro mandou carta para Piaget contando que aplicava os ensaios piagetianos em sala de aula. Piaget respondeu com reconhecimento e congratulações. Anos depois, aceitaria o convite de Lauro para vir ao BrasilArquivo pessoal
Adriana Oliveira Lima, filha do aclamado cearense, revela momentos em família durante a produção das obras do pai
Maria Nilde Mascellani
(links nos sublinhados)
• Site da GVive e canal no YouTube GViveVideos
Documentários dirigidos por Toni Venturi:
• Vocacional – Uma aventura humana, 2h34min.
• Vocacional – o choque de uma escola libertária, 1h17min.
Documentário dirigido por José Maurício de Oliveira, 25 min.:
• Sete vidas eu tivesse...
Lauro de Oliveira Lima
• Bibliografia completa no Blog da família
• Discurso em formatura
• Centenário em 13.08.2021
• Entrevista de Adriana Oliveira Lima
• Coluna de José Pacheco, educador português e ex-diretor da Escola da Ponte, intitulada Lauro de Oliveira Lima tinha um sonho, integrar escola e comunidade
“Sinto-me um cavalo selvagem preso na cocheira” (Lauro de Oliveira Lima)
A produção de Dinâmica de Grupo revela bem a união da família. “As páginas eram datilografadas e empilhadas em várias cadeiras. Cada filho grampeava e fazia uma linha de montagem”, conta Adriana. Segundo ela, três obras marcam momentos diferenciados. A primeira é Escola Secundária Moderna – no capítulo 22 há um grande resumo do Método Psicogenético; a segunda é Dinâmica de Grupo na Empresa, no Lar e na Escola, que traz as práticas de socialização; e Mecanismos de Liberdade, sobre como a liberdade se dá.
Como ele dizia, “o fundamental é fazer com que a inteligência chegue em sua plenitude”. Por isso seu método concilia os vários níveis de desenvolvimento da inteligência com ações que favoreçam a evolução contínua da inteligência. Os três pilares são: situação-problema – desafio que, aos poucos, ganha complexidade; dinâmica de grupo – interação em todas as situações; tomada de consciência – o alcance do conhecimento depende da consciência.
Foi professor de latim, português, francês, alemão, filosofia, criador da Dinâmica de Grupo, atuou como jornalista, bacharel em direito, contador e ativista apartidário pela educação que emancipa seres humanos. Ele dizia: “é preciso logicizar o amor e amorizar a lógica”. Intenso, sem meias palavras. Assim viveu Lauro de Oliveira Lima.
Os GVs de Maria Nilde e as obras de Lauro podem reacender a vocação de educadores desmotivados. São referências para promover boa educação nas escolas - públicas ou não, mas comprometidas com a liberdade do pensar. Se ainda não existe apoio nas esferas de governo para isso acontecer, façamos acontecer. O primeiro passo é reanimar o vocacional no próprio coração. É a partir desse espaço que toda transformação é possível.
A base do Método Psicogenético é: situação problema; dinâmica de grupo; tomada de consciência
Iniciativa já impactou quase 1 milhão de estudantes
Na atividade do dia, o docente propõe o seguinte desafio: como levar água saneada para a sua comunidade? A resolução dessa proposta em sala de aula é, obrigatoriamente, multidisciplinar: envolve estudo de relevo, biologia, matemática, entre outras.
A descrição acima é uma das inúmeras possibilidades da abordagem STEM, modelo de ensino cuja sigla em inglês se utiliza dos termos Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Ou seja, a proposta é unir essas quatro áreas na aprendizagem dos alunos.
Com foco na transformação e autonomia do jovem, além do preparo para o mercado de trabalho, a abordagem é um dos pilares da organização não governamental internacional Educando. “Atuamos com a capacitação de professores para desenvolver habilidades do estudante na elaboração de projetos de forma colaborativa, resolvendo problemas a partir dos conteúdos estudados na aula e fora dela, tendo o educador como ‘ponte’”, explica a Diretora Brasil da Educando, Marisa Cesar.
Presente em sete estados brasileiros, o trabalho da Educando já impactou, ao todo, 23 unidades da federação, atingindo 1.676 escolas, 13,5 mil professores e quase 1 milhão de estudantes, desde 2002.
De acordo com Marisa Cesar, essa formação é alinhada à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e envolve etapas presenciais e remotas para classes do ensino fundamental 1 e 2 e ensino médio das redes públicas estadual e municipal. “Levamos todo esse percurso para cada escola, dando continuidade no processo com workshops, aulas em vídeo e atendimento virtual para tirar dúvidas”, complementa.
Para colocar propostas como a plataforma STEM Brasil
No STEM, o educador é a ponte, enxerga Marisa Cesar, da Educando
A formação é voltada a educadores de matemática e ciências naturais
em prática, a Educando conta com recursos de parceiros apoiadores e de fomentos das respectivas secretarias educacionais. Os colégios participantes recebem caixas (os chamados kits) com materiais necessários para a prática transmitida, que incluem desde itens específicos como vidrarias e reagentes químicos para a experiência, até componentes como sal, açúcar, bicarbonato de sódio etc.
A Lenovo é uma das colaboradoras da iniciativa, com atuação em momentos estratégicos, como nas necessárias adaptações durante a pandemia do coronavírus.
Inclusive, em 2022, a marca de notebook da Lenovo ThinkPad completou 30 anos de seu lançamento, com uma trajetória marcada pela inserção de novas funcionalidades ao dispositivo, como o primeiro leitor de DVDROM, a abordagem do conceito de ultrabook, tela dobrável, o uso de titânio, entre outras características atreladas à leveza e resistência.
O engenheiro de soluções para educação da Lenovo, Carlos Almeida, compara a tecnologia com a abordagem STEM, ressaltando a capacidade de oferecer ferramentas que, de fato, funcionam. “Na prática, o ThinkPad, assim como o STEM, carrega essa premissa de fomentar a curiosidade para mostrar o quão importante é a inovação nessa jornada de aprendizagem e performance”, acredita Carlos.
Clique aqui e acesse o ebook gratuito elaborado pela Lenovo Como a tecnologia pode impulsionar a educação STEM para que os estudantes tenham melhores resultados.
Fique por dentro: em 2020, a Lenovo foi a primeira fabricante de computador do mundo a lançar um computador dobrável. Já em 2022, é a primeira a lançar um computador com 5G no Brasil e também um protótipo conceito de computador e celular enroláveis . Para a educação, há um computador 2 em 1 que vira tablet, possibilitando escrever direto na tela por meio de um lápis.
O que o acadêmico estadunidense Henry Jenkins chamou de narrativas transmidiáticas, exemplificando o carnaval brasileiro como uma delas, é a força da Turma da Mônica hoje
| POR Alexandre Le Voci Sayad
Quem presenciou o senhor de 86 anos sendo ovacionado com convicção por uma plateia de educadores no Theatro São Pedro, na capital paulista, não pode imaginar o duro que Mauricio de Sousa deu para chegar prestigiado a essa homenagem. A Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e a Cultura) no Brasil, a Cátedra de Leitura Unesco da PUC-Rio e a Academia Paulista de Letras concederam recentemente ao criador da Turma da Mônica um reconhecimento público como educador - algo de que ele
mesmo parece não estar muito convencido. Abundam depoimentos de pessoas que se alfabetizaram lendo suas tirinhas. Esse motivo já seria suficiente para provar que ele deveria estar mais seguro. Afinal, quando começou a carreira, aos 17 anos, a alfabetização no Brasil ostentava índices bem piores que os de hoje; nem era considerada um ‘valor republicano’ para o desenvolvimento da nação. Foi por meio da educação informal - tirinhas nos jornais e os clássicos gibis - que crianças, jovens e adultos que não tiveram acesso à escola (longe de ser universal até então) aprenderam a ler e a escrever.
Para além de juntar vogais e consoantes, o letramento
em um sentido amplo tornou-se possível a esse público graças à principal característica de Mauricio de Sousa: a conexão das histórias com situações cotidianas. Assim, os leitores do Brasil imergem nos mais diversos contextos sociais e a leitura ganha significado. Algo faz com que as antigas, mas ainda atuais, disputas acadêmicas sobre métodos de alfabetização pareçam ‘histórias para boi dormir’.
Ele conta que, em seu processo de criação, tudo nasce na coloquialidade e síntese da linguagem verbalque caiba nos balõezinhos de diálogo. A partir daí a história se desenvolve e o desenho ganha forma.
Entretanto, as auguras da vocação tradicionalista da educação do Brasil fizeram desse percurso da diversão até a aprendizagem algo tortuoso e recheado de preconceitos. A força e o desafio da aceitação de Mauricio de Sousa como um educador pelo universo acadêmico residem na mesma questão. O acento caipira do personagem de Chico Bento (que hoje se sabe, é fruto das raízes indígenas e portuguesas arcaicas do povo brasileiro) e as trocas de letras do Cebolinha - somados ao papel secundário atribuído aos gibis fizeram com que sua entrada na escola sempre se desse pela porta dos fundos. A mesma Escola de Frankfurt, que relegou o papel da televisão e da cultura de massa ao chorume do capitalismo, atrasou a implementação de gibitecas como ponto de encontro dos estudantes nas escolas.
Mesmo assim, a força implacável do tempo parece não ter envelhecido Mônica e sua gangue. Pelo contrário, olhando em perspectiva, é difícil hoje negar o elemento formativo da obra de Mauricio de Sousa. Não se pode ocultar que isso se deve a alguns fatores que derivam do fato de o autor ter criado uma estrutura profissional que acompanhou os passos de sua carreira. A Mauricio de Sousa Produções é um estúdio de criação de histórias, espetáculos teatrais, produtos licenciados, projetos multimídia, parques de diversão, séries de TV, filmes e livros.
Como resultado, as histórias e personagens não ficaram estagnados. As narrativas, que são ainda aprovadas uma a uma pelo criador, podem até nascer nos gibis. Mas con-
tinuam em séries da Netflix, longasmetragens, games, livros ou fanfics (histórias criadas pelos fãs que ganham vida na internet ou até em publicações oficiais). O que o acadêmico estadunidense Henry Jenkins chamou de narrativas transmidiáticas, exemplificando o carnaval brasileiro como uma delas, é a força da Turma da Mônica hoje. Mauricio acompanhou a evolução das linguagens digitais e a produção cultural das gerações de fãs de seus personagens, e assim não perdeu a oportunidade de navegar sempre nos mesmos mares de seu público.
Paralelamente, quando se mudam os tempos, mudam-se as vontades. A equipe do criador fez questão de abrir duas frentes de personagens relevantes para a manutenção de suas histórias no contemporâneo. Na primeira, ‘envelheceu’ Mônica e seus amigos e conseguiu um sucesso ainda maior de vendas com os mangás de Mônica Jovem e os toy arts animados especialmente para a internet. Na segunda, abriu espaço para a diversidade de causas e culturas, criando personagens que dialogam com um Brasil múltiplo e desigual.
Estava mais que na hora de Mauricio de Sousa ser reconhecido como um educador - inclusive dentro da escola. Afinal, ele conecta o mundo dos estudantes ao conhecimento; capaz de criar um arco de aprendizagem poderoso, inclusive para a recomposição da aprendizagem pós-pandemia. Se as narrativas explodiram sua lógica em formas, linguagens e tecnologias, é importante que continuemos a acompanhá-las desde as histórias em quadrinhos nas revistas de papel, da Turma do Penadinho, por exemplo, até as latas de extrato de tomate do Jotalhão, o licenciamento mais antigo dos estúdios.
Mauricio de Sousa é a personificação da força da indústria criativa de um país que enxerga na diversidade seu combustível de crescimento.
A mesma Escola de Frankfurt, que relegou o papel da televisão e da cultura de massa ao chorume do capitalismo, atrasou a implementação de gibitecas como ponto de encontro dos estudantes nas escolas
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Atenta ao que torna as pessoas infelizes, sociedade sabe pouco sobre a felicidade. O tema é um dos mais concorridos entre alunos de Harvard. No Brasil, escolas começam a incluir o bem-estar nas atividades
| Por Karen CardialEm 1998, pesquisas no campo da psicologia constataram que, para cada estudo sobre felicidade e prosperidade, foram conduzidos 17 estudos sobre depressão e distúrbios. Esses dados revelam que a sociedade sabe muito bem como é estar mal e tão pouco sobre como ser feliz.
Shawn Achor, autor e palestrante estadunidense conhecido por sua defesa da psicologia positiva, conta em seu livro O jeito Harvard de ser feliz (ed. Benvirá) que isso ficou claro quando foi convidado a dar uma palestra na “Semana do bemestar” em uma das escolas mais elitistas da Nova Inglaterra, cujos tópicos eram: transtornos alimentares, depressão, drogas, violência e comportamento sexual de risco. Shawn pensou que aquela era, na verdade, uma semana do mal-estar.
Distanciando-se do foco tradicional da psicologia, que se concentra nos fatores que tornam as pessoas
infelizes e como elas podem voltar ao ‘normal’, também em 1998, Martin Seligman, então presidente da American Psychological Association, revolucionou a abordagem tradicional da psicologia, concentrando-se no lado positivo da curva. Seligman sabia que era preciso estudar o que funciona e não só o que emperrou. E assim nasceu a psicologia positiva.
Quatro de cada cinco alunos da Universidade Harvard sofrem de depressão pelo menos uma vez durante o ano letivo, e aproximadamente metade de todos os alunos sofre de uma depressão tão debilitante que não conseguem exercer suas atividades, é o que revelou, em 2004, um levantamento do The Harvard Crimson (jornal estudantil diário da Universidade Harvard, fundado em 1873). E foi exatamente ali, lar de muitos jovens cronicamente infelizes, que surgiram as aulas de felicidade mais concorridas de Harvard até hoje, ministradas pelo professor Tal Ben-Shahar. Em seguida outras universidades do país, como Stanford e Yale, colocaram
em suas grades curriculares a disciplina da felicidade. No Brasil, as aulas de felicidade também adentraram as universidades, com grandes polos de estudo da psicologia positiva e trilhas de felicidade, como a PUC do Rio Grande do Sul e a Universidade Cruzeiro do Sul.
A felicidade depende da pessoa que a vivencia. Tudo depende de como a pessoa se sente em relação à sua própria vida, então, só ela pode saber até que ponto é feliz. Dessa forma, para estudar a felicidade, os cientistas se baseiam na autoavaliação das pessoas. Após anos de testes com milhões de pessoas ao redor do mundo, os pesquisadores desenvolveram métricas de autoavaliação que mensuram a felicidade individual com precisão e segurança.
Sérgio Amad, docente do Hospital Albert Einstein e pós-graduado pela FGV e pela Universidade de Ohio, explica que a neurociência define a felicidade como a capacidade de o cérebro ativar a sensação de prazer por meio da dopamina, serotonina, endorfina e ocitocina, neurotransmissores que representam o quarteto da felicidade e que ativa estas substâncias para desfrutar de seus benefícios.
Há um conjunto de ferramentas que qualquer pessoa pode utilizar para elevar a cada dia seu nível de realização. Uma atividade rápida que a faça sorrir e, por mais trivial que possa parecer, seus benefícios são inquestionáveis. Até as menores descargas de positividade podem proporcionar uma vantagem competitiva substancial.
Para Tal Ben-Shahar, o professor da aula mais concorrida de Harvard, a felicidade é a combinação de cinco elementos: bem-estar físico, emocional, intelectual, relacional e bem-estar espiritual, conta Gustavo Arns, professor da pós-graduação em psicologia positiva da PUC-RS e PUC-PR e coordenador da primeira graduação em ciência da felicidade do Brasil pela Unicesumar. “Nutrir este estado interno positivo é importante ao longo da nossa vida em todas as esferas – na escola especialmente, seja pela equipe gestora, pelos professores e pelas crianças e jovens”, afirma Gustavo.
O padrão de manter foco no negativo permeia não apenas as pesquisas e a sociedade, mas também as escolas. Quando se fala de psicologia positiva e estudo da felicidade nas escolas, a referência são os estudos que o professor Martin Seligman levou para a escola australia-
Kethlin Melo: com o nível de bem-estar aumentado, crianças em extrema vulnerabilidade conseguiram aprender a ler, escrever e resolver contas básicas de matemática, o que antes não faziam
na Geelong Grammar School (GGS), a primeira escola do mundo a implementar os princípios da psicologia positiva em toda a instituição de ensino. Por meio de pilotos, conseguiram comprovar o aumento do nível de bem-estar no momento em que o piloto rodava e também por um longo período de tempo (quatro, cinco, seis meses). No Brasil, há escolas que aplicam aulas de felicidade por meio da psicologia positiva sistematizada. O Colégio Anglo São José dos Campos, Colégio Anglo Taubaté e o Colégio Agostiniano Mendel, por meio do Método Happiness, contam, por exemplo, com material didático para o aluno, professor e família. O método foi implantado pela primeira vez no Instituto Melo Cordeiro, ONG fundada pela especialista em psicologia positiva e educação moderna pela PUC-RS, Kethlin Melo. Os resultados demonstraram que com o nível de bem-estar aumentado, as crianças em extrema vulnerabilidade conseguiam aprender a ler, escrever e resolver contas básicas de matemática, o que antes não faziam.
A compreensão de que ensinar felicidade na escola é absolutamente relevante é a principal dificuldade, expõe Kethlin. “Espalhar a notícia de que existe comprovação científica de que o aumento do nível de bem-estar contribui para os resultados como um todo na vida da criança e do jovem, é o primeiro impacto desse processo”, enfatiza.
Sérgio Amad, que também é CEO da Fiter (tecnologia de neurociência aplicada às pessoas) e especialista em felicidade no ambiente de trabalho e na educação, afirma que a felicidade na educação é a capacidade cerebral de ativar a sensação de prazer em quatro gatilhos de dimensão: pessoa certa no curso certo; o orgulho de per-
tencer à escola; o clima favorável de estudo; sensação de autoaprendizado. Para ele a junção desses fatores fecha o gabarito do conceito de felicidade no cérebro.
Quando o cérebro dos alunos trabalha com favorabilidade e com dopamina (neurotransmissor e um dos hormônios da felicidade), ele ativa a sensação de prazer e cria vínculos de aprendizado, explica Sérgio. “Além do bem-estar, a felicidade gera alta performance no aprendizado”, acrescenta.
Sérgio realiza medição de pulso de felicidade nas escolas utilizando métodos científicos. São oito perguntas feitas uma vez por mês, pelo computador ou celular e com o apoio de um responsável. Mês a mês, os professores e a coordenação têm acesso às taxas de felicidade para montar um plano de desenvolvimento da felicidade para o aluno.
“Com essa informação junto ao responsável, o aluno pode descobrir, por exemplo, que o clima na sala de aula é o fator que precisa ser desenvolvido naquele mês por meio de semânticas psicopedagógicas”, explica Sérgio, fundador da Happiness Brasil (evento de inovação e tecnologia em neurociência e recursos humanos).
Sérgio Amad: “além do bemestar, a felicidade gera alta performance no aprendizado”
Para outras crianças, o resultado pode apontar o aprendizado como ponto-chave para ser desenvolvido. Do outro lado, há os professores e a coordenação pedagógica que, de uma forma simples, utilizam a ciência de dados para obter o diagnóstico e se antecipar - para acessar a plataforma e ter acesso aos dados, o professor e o coordenador precisam de uma certificação que os habilite a interagir da forma correta.
O olhar para a saúde mental foi intensificado após a pandemia, quando crianças e jovens retornaram para a escola com os aspectos emocionais abalados. “A escola percebeu que não dá para separar a parte cognitiva da emocional e deixar de falar dessas questões em sala de aula”, expressa Kethlin.
Para Tal Ben-Shahar, o professor da aula mais concorrida de Harvard, a felicidade é a combinação de cinco elementos: bem-estar físico, emocional, intelectual, relacional e bem-estar espiritual, conta Gustavo Arns
Quando se mede a felicidade dos alunos, ocorre uma antecipação e se olha para o futuro, diminuindo a evasão escolar. A taxa de felicidade aumenta e cresce também a sensação de prazer na escola, o centro de aprendizagem e o desempenho dos alunos. “Quando olharmos daqui a 10 anos ou 15 anos, veremos adultos no mercado de trabalho com histórico cerebral de alto índice de dopamina no cérebro, evitando esgotamento e doenças psíquicas no futuro. Aumenta desempenho, reduz evasão e contribui nas próximas gerações com mais índice de dopamina cerebral”, conclui Sérgio Amad.
Será ela uma proteção e/ou uma rede de convívio? Será ela uma ‘parede’ prisioneira ou uma ‘rede’ de mentiras e enganos – indução ao consumo ou ao fechamento em bolhas?
| Por Fernando José de Almeida
Há sempre múltiplas formas de comparar a escola com algumas de suas finalidades, com suas práticas e seus resultados. Escola ‘guardiã’ da cultura, ‘celeiro’ de cérebros, ‘patrimônio’ da sociedade, ‘estrada’ da sabedoria, a ‘castradora’ da criatividade, a ‘morte’ da liberdade...todas são metáforas do que podem ser as escolas.
Só que as metáforas são sempre imperfeitas. Elas são ricas, mas trazem falhas e por isso é bom mostrar-lhes as suas induções a erros conceituais. Não se trata de dizer que não se deva criar metáforas para entender a vida. A rosa é sempre uma bela metáfora do amor, mas não esgota a inteligibilidade do amor. A metáfora é uma forma de sermos cativados pela beleza, ironia, pungência ou pela violência, pois as metáforas nos permitem reviver algo perdido no cotidiano.
No caso deste artigo sobre educação escolar, o título nos aproxima da crise da escola entre sua dimensão de parede – velha crítica à escola, nascida nos meados do século passado e intensificada com a chegada massiva das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) como suporte ou modo de pensar. De outro lado, numa visão mais moderna e leve, dizem que a escola deveria se entender como uma rede. Uma rede como símbolo de articulação e extensão sem fim e de total diálogo sem quebras nem hierarquias. Ambas as metáforas são ótimas de um lado e enganosas de outro.
O aspecto de parede da escola tem duas fundamentações diversas: a violência coercitiva de seus métodos disciplinares e o seu caráter reprodutivista pelo qual sua função única (ou preponderante) é o reforço e manutenção de dado modelo econômico que a abriga.
O uso de ‘paredes’ em instituições sociais como prisões, manicômios, hospitais e escolas foi classificado marcadamente por Michel Foucault (1926-1984) como representação arquetípica de suas idênticas dimensões ideológicas de coerção, de gradeamento e de perda de liberdade.
No entanto, ‘parede’ pode ser também proteção, abrigo, intimidade, além de um local para juntar pessoas e festejar ou dar segurança contra as feras, ou ainda como abrigo do frio. As paredes podem ser de palha, de bambu, de papel, de vidro ou de tijolos. Elas podem ser metáforas de proteção e intimidade e também opostamente metáforas de coerção e prisão. A escola, afinal, é o quê?
A ‘rede’ como metáfora também pode ser entendida como embaraço, prisão e engano.
Rede de mentiras, arapucas, enovelamento, enredamento em enganos...Ou pode ser uma rede que permite o acesso a muitas localidades de maneira colaborativa e com ligações múltiplas e cheia de opções. A escola, afinal, é o quê?
De fato, a escola e as redes virtuais de conhecimento trazem essas duas dimensões, como quase todas as instituições humanas. A perspectiva deste artigo é trazer questões para um exercício crítico de análise do projeto pedagógico e curricular de uma escola: será ela uma proteção e/ou uma rede de convívio? Será ela uma ‘parede’ prisioneira ou uma ‘rede’ de mentiras e enganos –indução ao consumo ou ao fechamento em bolhas?
Um bom roteiro para diagnosticarmos a crise ou os acertos da escola (e do seu currículo) está na clareza de seu escopo e de sua origem – dos sentidos das metáforas que a constroem.
Quais as várias formas de entender os acertos e as crises da escola assim como da educação formal?
A crise da escola se deve a ela não ser universal (nem todos estão nela)? De que não há condições de trabalho para alunos e professores? Ou a crise é evidenciada pelo fato de que não se está aprendendo adequadamente ou sobre sua falta de sentido? Qual é a dimensão de educação que se está desenvolvendo na escola? A quem servem as
relações que se estabelecem na escola? O que a escola vem fazendo pela tecnologia, para que ela se torne humana e com sentido social?
Embora possa parecer que as frases acima são de efeito meramente lógico, elas parecem importantes como forma de mudar o rumo da conversa: a pergunta a ser feita não é “o que as modernas tecnologias podem fazer pela escola, mas o que a escola pode fazer para educar as tecnologias? Ou o que a escola pode fazer pelas redes sociais?”
A perspectiva da vigilância e as fake news criadas nas redes sociais vão trazer uma dimensão assustadora à inocência e ao descuido com que todos nós nos debruçamos sobre o uso das TICs em nossas casas e escolas. Esse é um dos efeitos da escola como rede. Rede como ‘prisão’, como enredamento para um mundo questionável. Tudo vai acontecendo sem percebermos os imensos e refinados dados que estamos entregando para o uso de um controle que cria um novo e difuso Estado transnacional de controle assentido. É uma pandemia envenenadora com que o vírus da abertura de todos os dados íntimos são entregues irresponsavelmente a um grande irmão que se estende em rede e que não respeita ‘paredes’.
De outro lado, a função da escola como ‘parede’ esconde um mundo de desafios, de criatividade, de percepção de novas realidades as quais o jovem e a criança têm que conhecer. Mas, como parede, precisa se abrir a outras realidades tais como os desafios do mundo digital, da inteligência artificial, das questões do alongamento da vida e dos inventos genômicos, e das novas formas de energias. Só que a parede se quebra, ou se torna transparente, quando a partir do seu abrigo vemos as causas dos problemas do mundo concreto, e não apenas do mundo virtual. A protetora parede da escola se complementa com as redes sociais e de aprendizagem coletiva no sentido de enfrentar a realidade da economia, da distribuição das riquezas, das questões da destruição ambiental, das delicadezas das relações humanas, da fome, das guerras, assim como do futuro de toda a humanidade.
Fernando José de Almeida é professor de pós-graduação em educação: currículo na PUC-SP e foi secretário municipal de Educação da cidade de São Paulo (2001-2002).
Quando foi lançado, no primeiro semestre de 2007, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb, surgiu aliando dois fatores de suma importância para a gestão educacional pública. Representava, então, um balizamento para se atingir uma educação de qualidade, equiparável à dos países desenvolvidos. Para isso, foi estabelecida uma meta de que todos na educação básica – redes estaduais, municipais, federais e escolas alcançassem no mínimo 6 no Ideb, uma nota composta pelo resultado de avaliações de larga escala, multiplicado pelo índice de aprovação das redes e escolas. Ou seja, uma escola que tivesse média 6 na prova e 80% de aprovação, teria Ideb de 4,8%.
Hoje, 15 anos depois de o ministro da época, Fernando Haddad (PT), tornar público o indicador que era o carro-chefe do Plano de Desenvolvimento da Educação, gestores e especialistas em avaliação discutem quais ajustes devem ser feitos no índice e na avaliação que gera as no-
tas para sua composição. Ambos podem ter problemas ou imperfeições, mas o certo é que a educação brasileira ficou aquém do almejado para o ano do Bicentenário da Independência do país. Na média, o ensino médio brasileiro obteve 4,2 no Ideb de 2021 (3,9 na rede pública); o ensino fundamental 2, 5,1 (4,9) e o fundamental 1, 5,8 (5,5).
Por mais entusiasmo que a introdução do Ideb tenha causado à época, já havia então alertas de que as metas tinham de estar em sintonia com ações capazes de torná-las exequíveis. É o que dizia Célio da Cunha, doutor em educação e assessor da Unesco. “É preciso melhorar a infraestrutura das escolas, investir na formação do corpo docente, cuidar de todos os fatores associados ao sucesso do ensino” (revista Educação, maio de 2007).
Sem dúvida, o índice não é milagroso. Havia e ainda há muito mais a fazer. Francisco Soares, ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pela condução do processo de avaliação, lembra desde sempre que, por mais furos que pudesse ter o indicador,
Indicadores educacionais compostos por: Taxa de Aprovação, Saeb e Ideb por rede de ensino - Brasil - 2021.
Nota SAEB - 2021
Após 15 anos de sua instituição, indicador da qualidade da educação pública é objeto de debates em relação ao formato
ele representava uma informação relevante para redes e escolas conhecerem a aprendizagem de seus alunos.
Hoje, Chico Soares defende que o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) tem de levar em conta, em primeiro lugar, novas descobertas científicas sobre o processo de aprendizagem, vide artigo recente de sua autoria ( Inovar nas avaliações para melhorar o ensino e a aprendizagem, veiculado em Educação em pauta 2022: Desafios para a Educação Básica no Brasil, publicação da OEI).
Tratando especificamente de avaliar melhor a competência leitora, base para todo o ensino, o ex-presidente menciona questões como as descobertas em relação ao papel da memória e a nova visão da ciência cognitiva. Em resumo bastante simplificado, tratase
Ensino fundamental regular - anos finais
da constatação de que a memória de trabalho (ou de curto prazo) retém informações por um tempo limitado, não as transformando em aprendizado. Isso só se dá, segundo os autores Kirschner, Sweller e Clark, com a ativação da memória de longo prazo, por meio da exposição contínua do indivíduo ao mesmo objeto de aprendizado. Ou seja, a repetição de um mesmo conteúdo ou variações dele é o que garante o entendimento e sua fixação efetiva.
Chico Soares defende também a adoção do modelo de Planejamento Centrado em Evidências, que permite que a “avaliação da aprendizagem pode ser planejada de tal modo que permita, com as respostas dos estudantes aos itens dos testes e outros instrumentos, fazer afirmações sobre seu domínio em alguma competência específica”.
Indicadores educacionais compostos por: Taxa de Aprovação, Saeb e Ideb por rede de ensino - Brasil - 2021.
Fonte: MEC/Inep
Indicadores educacionais compostos por: Taxa de Aprovação, Saeb e Ideb por rede de ensino - Brasil - 2021.
Para isso, tem de haver forte coesão entre o que estudar, como ensinar e como avaliar. O artigo menciona três passos para esse caminho: é preciso determinar o sentido preciso das competências e o que se quer avaliar com cada uma delas; identificar as evidências de pesquisa que sustentem a etapa anterior; coletar evidências por meio do estabelecimento de textos adequados para os alunos.
Nos debates em torno do novo Ideb/Saeb, Chico orienta que os resultados da escala sejam agrupados em quatro níveis diferentes e que a nota dos ausentes entre no cômputo da escola, para que se evite que estas e as redes usem artifícios para que os alunos de mau desempenho não participem da prova e, com isso, prejudiquem a nota do município.
Ernesto Martins Faria, diretor do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) alerta inclusive que, por uma distorção provocada pelo medo de notas ruins, “o Ideb virou incentivo para matricular alunos de baixo desempenho em EJA”, a Educação de Jovens e Adultos. Na prática, isso pode levar ao abandono da vida escolar, pois o número de alunos aptos a cursar EJA só cresce, enquanto as matrículas decrescem.
Outro ponto de distorção da prova é que algumas avaliações têm se mostrado muito fáceis, não medindo efetivamente o que interessa, como no caso daquelas ministradas aos estudantes do 5º ano, coincidentemente a faixa com melhor desempenho e que obteve mais ganhos ao longo dos anos.
“Uma avaliação de sistema nacional não pode ter um número grande de alunos gabaritando a prova. Isso não é crível”, defende Martins Faria, para quem as provas deveriam trazer questões mais complexas, algumas delas abertas, e não todas de múltipla escolha. Esse modelo híbrido seria ancorado em recursos tecnológi-
cos, podendo utilizar perguntas com mais de uma resposta, para aferir o raciocínio do estudante.
Mas, apesar da visão de que o indicador deve ser aprimorado, o diretor do Iede diz que não faria sentido mudálo totalmente, pois isso significaria perder um histórico importante em termos de comparabilidade de resultados. “O Ideb tem de dialogar com o Saeb e as deficiências dele. Se a gente olha o efeito do Saeb entre 1997 e 2003, quando era amostral, e a partir da introdução da Prova Brasil e do Ideb, quando virou censitário [e atribuiu índices para escolas e redes], isso gerou mobilização, incentivo. A accountability [responsabilização] é importante para a gestão.”
Para Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP e coordenador do Gepave (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Avaliação Educacional), o Ideb pode não ser o indicador ideal, mas cumpre bem sua função. A principal virtude do Ideb é o fato de ser um indicador simples, fácil de ser entendido, portanto, acessível a professores e gestores.
“O maior desafio é fazer com que os resultados sejam utilizados pelas escolas. Os professores aprendem muito pouco sobre avaliação. E, quando você analisa as notas das provas padronizadas e aquelas atribuídas pelo docente, é comum haver um descompasso, pois na escola levam-se muito em conta os fatores comportamentais. Os bonzinhos que não aprenderam acabam sendo bem avaliados”, destaca.
Assim como Francisco Soares, Ocimar Alavarse também enfatiza a importância da interpretação pedagógica dos resultados. Só que acredita que o problema não esteja no índice, mas em questões como infraestrutura escolar e formação docente, que não têm permitido aproveitar melhor as informações geradas ao longo desses anos.
Chico Soares: Saeb precisa se atualizar e dialogar com as descobertas em relação ao papel da memória e a nova visão da ciência cognitiva
Ocimar sugere duas mudanças: a primeira delas é expressar o resultado da prova por meio de faixas ou intervalos de aprendizagem e não de uma escala contínua de 0 a 500. Isso porque, explica, todo instrumento de medição tem uma margem de erro, que não é fixa. Então, às vezes é difícil dizer que o aluno ou a escola atingiu 215 pontos. Seria melhor situá-lo na faixa de 200 a 225. A outra sugestão se refere ao estabelecimento de metas futuras. “Elas poderiam ser ajustadas a cada edição, por meio dessas faixas, isso seria melhor para a escola se olhar em relação à meta.”
Com ou sem ajustes no indicador, o mais importante agora é criar as condições objetivas para que professores, escolas e redes consigam trabalhar em melhores condições. Sem pandemia e sem professores ameaçados.
Instituição mineira busca equilíbrio mental e emocional de sua equipe docente, pois sabe da importância do bem-estar para a aprendizagem acontecer
OColégio CEC atende crianças e adolescentes do maternal ao 9º ano do ensino fundamental. Neste ano, comemora 30 anos. Seu ensino médio foi suspenso em 2020, em decorrência da pandemia do coronavírus, devido à queda na renda das famílias. Localizado em Contagem, Minas Gerais, o trancamento de matrículas não faz parte unicamente da realidade da instituição mineira. Por conta da crise financeira gerada pela pandemia, diversas escolas de pequeno e médio porte sentiram as dificuldades diante das saídas dos alunos para a rede pública.
A diretora pedagógica Marina Vieira Costa sinaliza o desejo por parte da gestão e das famílias dos estudantes formandos do 9º ano do reestabelecimento do ensino médio na unidade, entretanto, o CEC entende ser necessário superar os desafios da implantação das novas leis em vigor, no caso, do novo ensino médio.
Lideranças do CEC, ou como são conhecidas, as três meninas: Marinês Vieira, Marilda Knaip e Marina Vieira (da esq. para a dir.)
Marina tem um perfil de gestão acolhedora que possivelmente faz parte dela antes mesmo de se tornar educadora – missão de escutar e orientar o próximo, que se potencializou no ambiente escolar. Tanto que como diretora pedagógica no Colégio CEC há 15 anos, para além do cuidado com o ensino e aprendizagem de maneira mais direta, está sempre atenta ao mental e emocional de seus alunos, educadores e demais funcionários – atitude existente mesmo antes da pandemia, quando a ansiedade se escancarou em diversos ramos profissionais. “A nossa teoria é: uma pessoa debilitada, seja física ou mentalmente, não consegue amparar ou acolher as necessidades dos nossos estudantes, muitas vezes fragilizados. Então estamos cuidando do nosso corpo docente com palestras, consultas psicológicas, atendimento individualizado com profissionais da área e, inclusive comigo, em uma troca
humanizada. Fazemos isso dia após dia e não paramos. E dizemos: ‘calma, tudo vai dar certo’.”
Formada em psicopedagogia, conta que o Colégio CEC possui alunos cadeirantes, com síndrome de Down e com diferentes tipos de autismo.
De maneira geral, o Colégio CEC possui 347 alunos nos períodos manhã, tarde e integral, sendo que a criança mais nova tem um ano e meio. São 39 professores, 10 monitores, três porteiros, três secretárias e três diretoras: Marina Vieira Costa, responsável pelo pedagógico, Marinês Vieira, diretora administrativa, e Marilda Knaip, diretora acadêmica.
“Para lidar com todas essas crianças que possuem sentimentos diferenciados, e realidades distintas, como pais separados, duas mães, dois pais, crianças que perderam mãe e pai na covid, preciso da integridade física e mental, tanto minha, como de todos os colaboradores em primeiro lugar, com todas as ações e intervenções voltadas para isso.”
A gestão e o corpo docente como um todo têm como marca a escuta ativa, disponibilizando tempo de qualidade para os estudantes, suas famílias e toda a equipe CEC. “É necessário buscarmos terapias que possam nos curar de dentro para fora”, orientam as três diretoras.
O Colégio CEC se propõe a uma educação inovadora e constante nos temas atuais, visando incluir os discentes nos acontecimentos que os rodeiam e os preparando para a vida: ‘’temos uma sala multimídia para provas, diferentes atividades com as mais diversas metodologias para os alunos usarem materiais impressos, plataforma, robótica, manusear - sair da teoria e do ensino tradicional, visando aplicar metodologias ativas e significativas”, explica Marina.
Diante desse posicionamento, acredita que as metodologias ativas são o forte do CEC. Outro diferencial é escutar as famílias, que são ouvidas por meio de enquetes e constantes encontros.
Uma das recentes ações, essa voltada para os mais novos, é o projeto Faz de conta que acontece, iniciado com a simulação de uma eleição. De maneira segmentada e orientada à faixa etária, as crianças criaram propostas, divulgaram e captaram votos. A eleição ocorreu nos moldes tradicionais, com cada estudante exercendo seu voto – em sigilo – e escolhendo a proposta que mais o agradava.
As crianças tinham as seguintes opções de voto: dois recreios durante uma semana, dia do brinquedo a semana toda, dia de cinema com pipoca, visita dos super-heróis e um dia de piscina.
A pressão das redes sociais pede que as escolas aprimorem seus mecanismos de escuta da comunidade. A transparência é um dos pilares da área multidisciplinar chamada gestão de crises
| Por Paulo de CamargoAcusações de racismo e bullying, protestos contra o suposto proselitismo político dos docentes, ameaças de violência física, denúncias de assédio e até mesmo a ocorrência de grandes tragédias, como a de alunos que atentam contra a própria vida.
O noticiário de educação nos últimos meses se distanciou dos conteúdos pedagógicos para retratar uma nova face da vida escolar que vem atemorizando diretores, professores, alunos e famílias – a difusão instantânea de fatos que, comprovados ou não, abalam as relações com as famílias. Por isso, ao seu repertório de desafios, os gestores e gestoras precisam também desenvolver competências para gerir crises avassaladoras, viralizadas pelas redes sociais, das quais ninguém está livre.
É possível se preparar para isso? A resposta é sim. Em outros segmentos econômicos, a gestão de crises sempre fez parte das estratégias internas, da comunicação à alta direção. É o caso das companhias aéreas, que precisam dar explicações às famílias, às autoridades, à sociedade e à imprensa quando ocorrem acidentes.
Mas no mundo das escolas a administração de eventos inesperados sempre foi tratada de forma interna e até sigilosa – até que chegaram as redes sociais e os aplicativos de mensagem como o WhatsApp. Da noite para o dia, a postagem de uma denúncia pode romper fronteiras até mesmo internacionais, o que traz uma complexidade inédita ao desafio.
Os casos se multiplicam em todas as regiões e ganharam tonalidades ainda mais fortes no período eleitoral, quando as disputas políticas polarizadas contaminaram o ambiente escolar e levaram até a manifestações de rua e porta das instituições, como aconteceu em es-
Um movimento na internet estimulou jovens a acusar publicamente pessoas que um dia possam tê-las assediado. “Conheci uma escola, no Distrito Federal, que demitiu todos os professores homens por causa disso”, conta a relações públicas Erika Pessôa
colas tradicionais e catarinenses. Mais recentemente, o fenômeno ganhou a configuração de uma onda em Curitiba, onde alunos de três diferentes escolas envolveram-se em ações do que foi chamado de ‘bullying político’, com postagens ameaçadoras nas redes sociais e perseguições a quem, a seu ver, se alinhava com o partido vencedor do pleito.
Não se trata de julgar se as redes sociais são ou não nocivas. Em muitas perspectivas, ao democratizar a possibilidade de expressão, as escolas são empurradas a se atualizarem em relação aos direitos e aos costumes. Da mesma forma, possibilitam denúncias que muitas vezes ficariam ocultas no silêncio das salas de direção. Assim também, nem sempre as informações incorretas são geradas ou difundidas intencionalmente.
Mas, é inegável, da mesma forma que as novas formas de comunicação criaram um novo universo, em que versões verdadeiras ou falsas, úteis ou oportunistas, se misturam e viralizam – fazendo terra arrasada em comunidades baseadas em relações de confiança, como é o caso das escolas, inclusive dificultando as chances de posicionamento e defesa de todas as partes envolvidas. Para o pesquisador Felipe Soares, que realiza seu pós-doutorado na Toronto Metropolitan University estudando o impacto das teorias conspiratórias e da desinformação no mundo digital, muitas vezes as redes sociais se prestam à destruição da confiança. Segundo explica, a desinformação pode ter o objetivo de gerar o discurso do ‘nós contra eles’. “Esse tipo de antagonismo acaba influenciando a comunidade escolar. E isso se dá tanto na relação entre alunos e alunos, quanto na relação entre alunos e professores”, explica o pesquisador.
O efeito que isso causa é o da desestabilização. “Quando a desinformação toma conta de uma comunidade, menos os membros dessa comunidade percebem o que têm em comum uns com os outros. Dessa forma, o potencial desagregador é enorme, inclusive nas instituições de ensino”, diz Felipe.
Outro aspecto que torna o fenômeno complexo é que, pelo menos até o momento, as escolas não sabem o que fazer para educar as novas gerações para o uso crítico e consciente das novas possibilidades de comunicação, seja para se informar, seja para produzir informação. É o que os especialistas chamam de literacia informacional ou educação midiática. Se isso é assim no ambiente mais característico da escola, a sala de aula, o que dizer da formação das famílias e dos professores? Na expressão da escritora Januária Alves, pesquisadora e autora de Como não ser enganado pelas fake news (ed. Moderna), é preciso cuidar de todo o ecossistema informacional. Com essa expressão, Januária define o espaço virtual composto por todos os que acessam e utilizam as redes sociais e a internet. “Portanto, todos fazemos parte dele. Envolver as famílias no processo de educação midiática é fundamental porque as crianças e jovens são educadas também pelo exemplo. Sem falar que os adultos também estão aprendendo a usar essas mídias, portanto, todos nós precisamos ser midiaticamente educados”, explica. Os mais jovens demonstram cada vez maior dificuldade em separar o que é fato e o que é opinião – o ponto básico
Nenhuma crise é igual a outra, o que significa dizer que cada uma vai exigir estratégias e respostas específicas, orienta Claudio Stringari, diretor de uma agência focada em gestão de crises
No mundo da educação, a administração de eventos inesperados sempre foi tratada de forma interna e até sigilosa – até que chegaram as redes sociais e os aplicativos de mensagem como o WhatsApp
de toda proposta de educação midiática. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2018 mostrou, segundo Januária, que menos de um em cada 10 alunos dos 80 países avaliados foi capaz de fazer essa distinção.
Trata-se de uma discussão essencial, que chega em um momento em que as escolas têm os olhos voltados para outras demandas regulatórias, como a implantação da reforma do ensino médio. Mas, como fechar os olhos para um mundo, segundo dados de 2020, em que 41 milhões de mensagens são trocadas a cada minuto, via WhatsApp, e 347 mil novos stories são postados no Instagram? Há um longo caminho a percorrer, e, enquanto isso, os acontecimentos atropelam a realidade da educação.
É o que diz o diretor de uma grande escola particular do Centro-Oeste do país – que, como todos os demais que passam por essa experiência, não quer ser identificado. Da noite para o dia, passou de defensor da pluralidade para defensor de um dos candidatos à presidência, simplesmente por uma palavra interpretada erroneamente por um influenciador digital. “Isso é algo muito sério, tão grave que precisa ser discutido imediatamente por todas as escolas”, conta o gestor.
Se há razões para o medo contra as acusações infundadas – como a de assédio sexual que destruiu a Escola Base e seus diretores, nos anos 1990, e agora será tema de um documentário que entra em cartaz na Globoplay –, também é verdade que o poder das redes sociais vem estimulando que as escolas aprimorem seus mecanismos de transparência, de escuta e de resposta à comunidade. Esse é um dos pilares da área multidisciplinar chamada gestão de crises para a qual todos precisam estar atentos.
Segundo a relações públicas Erika Pessôa, diretora de uma agência especializada no tema, um dos marcos dos problemas vividos pelas escolas foi a pandemia – a partir desse momento, diz, os casos se multiplicaram. Isso levou a dois movimentos, acredita Erika. “Até pelo novo perfil das relações entre as escolas e as famílias durante e no pós-pandemia, as escolas passaram a demonstrar atenção maior para prevenir a tensão com os pais, mesmo nas menores coisas”, acredita. “Da mesma forma, as escolas ficaram muito vulneráveis, diante das possíveis queixas das famílias, que imediatamente se tornam públicas e são replicadas”, diz.
Segundo a especialista, contribui com o cenário a difusão dos valores chamados ‘politicamente corretos’, que passam a ser cobrados pelos alunos e também por seus pais, bem como o avanço da consciência de direitos por todos, inclusive crianças e adolescentes – o que, evidentemente, é positivo. “Hoje, não é mais admissível brincadeiras que um dia pareciam normais, como elogios inapropriados, tapas e outros gestos”, lembra.
Erika vem auxiliando muitas escolas a enfrentar crises, que na maioria das vezes partem de tendências globais. Há pouco tempo, por exemplo, o movimento Exposed estimulou jovens mulheres a acusar publicamente pessoas que um dia possam tê-las assediado. No Brasil, isso gerou também uma onda de denúncias contra professores, durante a pandemia. “Conheci uma escola, no Distrito Federal, que demitiu todos os professores homens por causa disso”, conta.
Em outro estado, dessa vez no Nordeste, foi a vez de uma instituição com milhares de aluno se ver atrope-
Em muitas perspectivas, ao democratizar a possibilidade de expressão, as instituições escolares possibilitam denúncias que muitas vezes ficariam ocultas no silêncio das salas de direção“Todos nós [adultos e crianças] precisamos ser midiaticamente educados”, alerta a escritora Januária Alves Arquivo pessoal
lada por denúncias semelhantes. Era fake news, mas o trauma que gerou produziu transformações profundas na forma de escuta das famílias, com a criação de um departamento específico para ouvir as críticas dos pais, o investimento em formação dos professores, regras de compliance, entre outras providências.
Erika orienta que muitas vezes as escolas precisam começar justamente por conversas com suas próprias equipes, tanto da esfera administrativa como da área pedagógica. O resultado foi um sentimento de orgulho dos professores por ver que a escola não quis esconder o problema, mas optou por enfrentá-lo. Para ela, essa é uma oportunidade importante gerada pelas crises. “Nada pode ficar sem resposta, mesmo que sejam milhares de mensagens e posts”, recomenda. Ela se lembra de uma escola em que passou toda a madrugada respondendo posts no Instagram para publicar o posicionamento de uma instituição de ensino.
Para a profissional, as escolas precisam amadurecer para processos de prevenção dentro do cotidiano escolar. “Fortalecer a cultura interna é o melhor antídoto contra crises”, diz. Outra providência importante é garantir formas de escuta imparcial. “Sempre que acontece algo, há muita emoção envolvida, e as famílias precisam ser acolhidas de forma objetiva e sem expor aquele que denuncia”, acredita.
Da mesma maneira, as escolas precisam separar reclamações simples de fatos potencialmente geradores de crises. Como diz Erika, é necessário que os gestores e educadores fiquem mais atentos às mudanças na sociedade e estudem os grandes temas sociais. Por isso, temas como ações antirracistas, igualdade de gênero, diversidade precisam ser mais bem compreendidos pelos gestores.
Para o jornalista Claudio Stringari, diretor da agência Central Press, também especializado na gestão de crises, é importante compreender que nenhuma crise é igual a outra, o que significa dizer que cada uma vai exigir estratégias e respostas específicas. Para ele, que atuou em diversas instituições de ensino e é um dos autores do premiado Como agir em momentos de crise (ed. Positivo), é fundamental que as escolas ajam preventivamente.
Para Claudio, as redes sociais deram uma dimensão inédita para as crises vividas nas escolas. “Toda crise é difícil de controlar, mas agora tudo se tornou muito imprevisível”, diz. Por isso, a maior agilidade possível na resposta, no uso estratégico das mídias sociais e o dimensionamento correto da extensão da crise se tornam fatores essenciais. Em sua visão, o contexto atual torna ainda mais importante o trabalho preventivo. “Agir quando a crise já está instalada deixa menos alternativas”, considera.
Na visão do jornalista, de forma geral esse movimento aponta para um avanço social em que as instituições se tornem mais prontas para o diálogo. Por isso mesmo, as instituições que demonstram mais dificuldade em administrar crises são as mais fechadas, uma vez que são menos flexíveis. “É preciso dialogar com aqueles que fazem parte da comunidade, não apenas os pais. Profissionais de outras áreas, educadores, alunos, comunidades, todos os que se relacionam com a instituição devem ser cuidados”, finaliza.
Escolas não sabem o que fazer para educar as novas gerações para o uso crítico e consciente das novas possibilidades de comunicação, seja para se informar, seja para produzir informaçãoO pós-doutorando Felipe Soares destaca o poder da desestabilização da desinformação Arquivo pessoal
Oregon, EUA: Como muitos dos meus colegas superintendentes e professores certamente podem se identificar, o último ano letivo foi o mais desafiador da minha carreira de 23 anos. Nossa profissão lutou para se recuperar dos impactos do aprendizado virtual e das preocupações com a saúde mental.
Além disso, professores e administradores foram forçados a lidar com uma enxurrada de ataques de políticos alegando falsamente que nossas escolas estavam ensinando teoria racial crítica ou CRT [sigla em inglês para critical race theory], uma estrutura acadêmica muito incompreendida sugerindo que o racismo sistêmico é parte da sociedade estadunidense, não apenas o projeto de preconceito e o preconceito individual.
Como superintendente, era difícil ver os professores tentando administrar o incontrolável enquanto narrativas falsas sobre CRT se espalhavam como fogo. Os ataques aproveitaram a desinformação para espalhar o medo com o objetivo claro de motivar a base de extrema-direita e aprovar leis extremas e fora de alcance – sem considerar os custos que teriam para nossos educadores, nossos alunos e nossa nação.
Os ataques contribuíram para o êxodo de educadores experientes da profissão. Além disso, essa dura realidade está fazendo com que muitos jovens professores em potencial ingressem em outras profissões. Como resultado, são nossos alunos, nossos filhos, que sofrem. Esses ataques devem parar.
O que está por trás dessa raiva sobre um conceito que na verdade nem é ensinado nas escolas? Do que é
que tantas pessoas estão realmente com medo e tentando parar?
Parece se resumir a uma única palavra: vergonha. Na comunidade de extrema-direita, há uma crescente convicção de que os esforços para falar sobre racismo ou equidade nas escolas farão com que as crianças brancas ‘sintam culpa’ ou vergonha.
Legisladores republicanos em mais de 40 estados propuseram leis que baniram ou baniriam conversas em sala de aula e treinamento de funcionários sobre ‘tópicos divisivos’, com base na ideia de que nossos filhos não deveriam sentir “desconforto, culpa, angústia ou qualquer outra forma de sofrimento psíquico por causa de sua raça ou sexo”.
Ensinar sobre racismo e intolerância em nossa história não é fazer as crianças se sentirem mal, culpadas ou desconfortáveis. Ensinar essa história é reconhecer as verdades de nosso país e orientar nossos alunos a entender e crescer a partir dessas verdades.
Trata-se de construir empatia e entender uns aos outros para que possamos nos unir e construir uma nação melhor para todos. Ensinar história não deve ser escolher o que fazemos e não dizemos aos nossos filhos, com base no medo de que eles possam ficar um pouco desconfortáveis.
Imagine o governo britânico instruindo suas escolas a discutir apenas os impactos positivos de seu colonialismo, como a construção de ferrovias, escolas e outras infraestruturas e o desenvolvimento do governo e dos sistemas de saúde.
As aulas de história devem ser um lugar onde podemos assumir todo o nosso passado.
Agora imagine se eles ensinassem os alunos a ignorar os aspectos negativos do colonialismo – a perda de cultura, identidade e terra, exploração, impostos pesados, conflitos constantes e muito mais – simplesmente porque isso pode causar desconforto em alguns alunos.
Seria tão ridículo para eles quanto para nós não falar sobre raça e racismo nos ambientes de aprendizagem.
As repercussões da narrativa falsa do CRT foram reais e rápidas dois distritos escolares em Oklahoma receberam recentemente credenciamentos rebaixa-
dos por violar a lei antiCRT do estado depois de fornecer treinamento implícito para seus funcionários. E um professor na Pensilvânia pediu demissão depois de ser acusado de violar a lei estadual ao “ensinar CRT” por dizer a seus alunos que a Guerra Civil foi travada por causa da escravidão.
Nosso chamado como adultos é ajudar nossos filhos a desenvolver um senso de si mesmos e transmitir nossos valores e ideais mais elevados. Como nação, os EUA passaram por várias evoluções, mas as crianças devem aprender tanto o bom quanto o ruim dessa história – que algumas pessoas tiveram que lutar e ainda estão lutando.
Essas histórias são importantes e precisam ser contadas, para que, quando a história dos EUA for ensinada, seja a história completa de nós, não a história de alguns de nós. As aulas de história devem ser um lugar onde podemos assumir todo o nosso passado. Proibir os professores de reconhecer que o racismo existiu em nosso passado e continua existindo hoje só serve para nos dividir ainda mais.
Precisamos de funcionários eleitos nos níveis local, estadual e federal para parar de lutar contra a verdade em nossas escolas e implementar políticas que apoiem o aprendizado preciso e inclusivo. Ao fazer isso, eles podem promover a cura e a empatia e encorajar a nós e nossos filhos a seguir em frente como um povo unificado.
Esta história sobre o ensino de história foi produzida pelo The Hechinger Report , uma organização de notícias independente e sem fins lucrativos focada em desigualdade e inovação na educação.
Brad Capener é o superintendente do Jefferson School District em OregonHá uma crescente convicção de que os esforços para falar sobre racismo ou equidade nas escolas farão com que as crianças brancas ‘sintam culpa’ ou vergonha
Padre Vieira, para entender a fé de hoje
| Por João Jonas Veiga SobralPadre Antônio Vieira (1608-1697) é, sem dúvida, um autor cânone em língua portuguesa. Não à toa, Fernando Pessoa, outro cânone, o chamava de imperador da língua portuguesa. Retórico por excelência, orador sarcástico, pregador exímio e jesuíta na essência, Vieira imortalizou-se como autor das literaturas brasileira e portuguesa por conta de sua prosa sermonística privilegiada, cuja linguagem meticulosamente trabalhada foi testemunho dos valores morais do Brasil colônia e também da alma de nossa gente.
Em seus sermões, padre Antônio Vieira não se limitou à pregação factual, à conversão dos cristãos ou à manutenção da fé; sua obra abordou temas políticos e sociais caros para seu tempo.
Polêmico e mordaz, Vieira encontrou dificuldades para fazer valer sua fé e seus princípios. No sermão do Quinto Domingo da Quaresma, Vieira questiona a fé hipócrita que é contrariada pelas próprias obras do suposto crente “...os cristãos erram em não concordar a sua vida com a sua fé: e qual é maior erro e maior cegueira? (...) Porque a fé é das coisas que não se veem (...) — e o não crer pode ter alguma desculpa nos olhos; po-
rém, crer uma coisa, obrar a contrária, nenhuma desculpa pode ter”.
Para ilustrar, o incômodo com essa crença frouxa que não se ajusta aos atos e às falas dos cristãos, o autor nos convida a entrar em um palácio nobre onde os ouvintes (e os leitores) testemunharão uma vida em desconformidade com a fé.
“Como estamos na corte, onde das casas dos pequenos não se faz caso, nem têm nome de casas, busquemos esta fé em alguma casa grande e dos grandes. Deus me guie (…) Entremos e vamos examinando o que virmos, parte por parte. Primeiro que tudo vejo cavalos, liteiras e coches; vejo criados de diversos calibres, uns com libré (uniforme de criados de casas nobres), outros sem ela; vejo galas, vejo joias, vejo baixelas; as paredes vejo-as cobertas de ricos tapizes; das janelas vejo ao perto, jardins, e ao longe, quintas; enfim, vejo todo o palácio e também o oratório; mas não vejo a fé.”
“E por que não aparece a fé nesta casa: eu o direi ao dono dela. Se o que vestem os lacaios e os pajens, e os socorros do outro exército doméstico masculino (a vestimenta dos outros serviçais) e feminino depende do mercador que vos assiste, e no princípio do ano lhe pagais com esperanças e no fim com desesperações, a risco de quebrar,
como se há de ver a fé na vossa família? Se as galas, as joias e as baixelas, ou no Reino, ou fora dele, foram adquiridas com tanta injustiça ou crueldade, que o ouro e a prata derretidos, e as sedas se espremeram, haviam de verter sangue, como se há de ver a fé nessa falsa riqueza?(...) Se as pedras da mesma casa em que viveis, desde os telhados até os alicerces estão chovendo os suores dos jornaleiros (trabalhadores que recebiam pagamento ao final do dia) , a quem não fazíeis a féria (a quem não concedíeis dias de folga), e, se queriam ir buscar a vida a outra parte, os prendíeis e obrigáveis por força, como se há de ver a fé, nem sombra dela na vossa casa?”
Padre Vieira, em seu discurso duro, mostra que a fé cristã não pode ser encontrada em casa onde reina a injustiça. Segundo o presbítero, não há crença sólida onde a riqueza é costurada na exploração do pobre. Em um jogo antitético, o sermão opõe o discurso de quem alia o poder a uma prática predatória e desumana. Assim, o eclesiástico condena fortemente os que dizem ter fé, mas não oferecem em vida um gesto razoável ao outro que corresponda ao discurso religioso professado. Para o clérigo, fé sem obras é o vazio, a mentira, a falácia, o engano.
Como jesuíta, Vieira condena o discurso jansenista em que a fé por si basta para salvar o homem. Para ele, não bastam a confissão de fé, o rito fervoroso, a presença nas missas e nos cultos, os cantos de louvores e as orações. Era preciso mais do homem de fé; era necessário que seu modo de vida se ajustasse ao valor cristão, que seus atos não condenassem o discurso.
Suas críticas encontram eco na obra do historiador Sérgio Buarque de Holanda, que chama atenção para a mesma noção de fé vazia e instrumentalizada. Chamavaa de “religiosidade de superfície, menos atenta ao sentido íntimo das cerimônias do que ao colorido e à pompa exterior,(...); transigente e, por isso mesmo, pronta a acordos”.
Nesses novos tempos digitais, proliferam nas redes e na vida pública essa fé de superfície e de pompa, pouco séria e bastante instrumentalizada. Com gente se arvorando cristão, propondo que Deus esteja acima de tudo, mas com uma biografia incoerente com o discurso.
Gente que bate no peito o orgulho cristão com a mes-
ma força que elogia torturadores. Gente que não junta as duas pontas, a do gesto e da intenção, e não enxerga nessa fé oblíqua o cristo torturado e apaziguador.
Em recente reportagem da BBC News Brasil, colheram-se essas pérolas da fé instrumentalizada e colérica: “é como se nós, cristãos, estivéssemos vivendo a própria ditadura dentro do templo”; “não reconheço mais a igreja hoje”; “o pastor abandonou a Bíblia pra falar de comunismo”; “é triste ver um lugar sagrado sendo corrompido”; “a perseguição contra os cristãos já começou no Brasil, só que dentro da própria igreja”.
Nessa superfície de fé flácida boiam também os que personalizam a fé e Deus. Lançam nas contas do Redentor os seus anseios e suas particularizações da crença. Se desejam uma vida próspera e abundante, creem que estejam em consórcio com o Altíssimo; se esperam que seus times ou seus candidatos vençam suas contendas, é porque estão comungados com o Todo-Poderoso nessas disputas. Se escolhem uma fé religiosa é porque o Senhor está nela, se largam um vício ou conseguem um emprego, foi obra da Providência Divina. Se detestam raivosamente um grupo social, é porque o Salvador não está com os inimigos. E assim, vão ajustando suas fés e anseios às suas bênçãos, tornando Deus um títere de suas convicções menos religiosas do que oportunistas. Instrumentalizam a fé e o discurso, em um autoengano fervoroso.
Em muitos casos, nessa contemporaneidade confusa, a fé genuína se mistura à carregada de ódio e à coberta de particularização utilitária.
Padre Vieira - fora do púlpito e da vida, mas nas páginas dos livros perguntaria com indignação: “Cristãos, se não obramos o que devemos, a quem adoramos? A quem cremos? A quem seguimos? (...)Se esta é a minha fé, e a minha fé é a verdadeira, as minhas obras por que são tão alheias dela, e tão contrárias?”
Não bastam a confissão de fé, o rito fervoroso, a presença nas missas e nos cultos.
É necessário que o modo de vida se ajuste ao valor cristão
Ainda vivos e lúcidos, conheci alguns dos vultos da educação, embora não me perdoasse de, nos meus tempos de África, ter estado paredes-meias com Freire e não o ter encontrado.
Para compensar essa perda, recebi na Escola da Ponte dos idos de noventa, a Fátima, sua filha. Acompanhada do marido Ladislau, identificaram nos mais discretos movimentos e artefactos da Ponte a presença do mestre.
Fui até à Escola da Vila, em demanda da filha Madalena. Mas só chegaria a ter ensejo de a encontrar, quando com ela partilhei a mesa de um congresso. Foi em Mairinque, lembro bem, e era como se tivéssemos nos conhecido há mil anos.
A filha do mestre o invocava. Nela Freire se manifestava. Até o momento em que o senso comum de um professáurio a interpelou. Fazíamos referência à práxis freiriana da Ponte. Poupo-vos ao teor da intervenção da criatura. Dir-vos-ei somente que carregava meia dúzia de lugares-comuns do discurso pedagógico, para rematar com uma disparatada afirmação.
Serenamente, a Madalena retorquiu:
“Faça o favor de fundamentar o que acaba de dizer”.
O professáurio titubeou alguns dos jargões mais conhecidos das ciências da educação.
“Fundamente a sua afirmação” – repetiu a Madalena.
O indivíduo apresentou credenciais de ‘doutor’, mas… não fundamentou.
No final da sessão, fraternalmente, me acerquei dele e mantivemos uma conversa afável, sem que ele manifestasse consciência de que tagarelara decoreba de tratado acadêmico, sem contrapartida praxeológica. Era mais um representante da estranha e perniciosa espécie dos freirianos não-praticantes.
Nesse tempo, a dialética freiriana manifestava-se de três modos. A primeira era a ‘tradicional’: reflexão-ação-reflexão.
A reflexão e o planejamento só fariam sentido se agíssemos. A reflexãonaação manifestavase num saber-fazer transformador da realidade e produção da histó-
ria. A reflexão na ação acontecia quando concomitante com a vivência, a situação, ou quando retrospetiva. Nesse sentido, interpretávamos a dialética freiriana de outro modo: açãoreflexãoação.
Zarpávamos da ação, de práticas já testadas e consideradas criações úteis, para conseguirmos operar mudança. Consolidada a mudança, empreendíamos caminhos de inovação. Íamos em demanda de algo efetivamente inédito.
Ao produzir inovação, novos modos de ensinar e de aprender, questionávamos práticas hegemônicas, demonstrávamos a origem socioinstitucional do insucesso escolar, interpelávamos o discurso da ‘naturalização’ de fenômenos educacionais, como o da exclusão escolar e social.
Adorno denunciou ‘determinações objetivas da subjetividade’, que considerava responsáveis pela perenização da formação social vigente. O mundo era movimento, transformação da realidade social, construção humana, mas a terceira versão da ‘dialética’ era estática, reduziase a uma monótona e supérflua sequência: reflexãoreflexãoreflexão.
Disso não saíam os não-praticantes. Eram teoricistas inveterados, perdiam-se no labirinto das citações de citações, na teorização de teorias teorizadas, e ‘inventando’ novas designações para velhos conceitos.
Apesar dos pesares, Freire era celebrado, dialogicamente praticado. E Gadotti, um dos grandes reintérpretes de Freire, advertia que a prática dialógica se situava nos antípodas da pedagogia metafísica. Dizia-nos que a constituição do homem acontecia pela ascensão da consciência coletiva efetivada de maneira concreta na ação, numa interação que dava existência ao próprio homem.
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