Entrevista
Ameaças e gritos para controlar crianças em 10,8% das turmas
revistaeducacao.com.br
Só teoria não vale Formação de docentes tem que ter mais prática
Entrevista
Ameaças e gritos para controlar crianças em 10,8% das turmas
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Só teoria não vale Formação de docentes tem que ter mais prática
Projeto de vida Não é só escolha da profissão, mas também emoções e autoconhecimento
ANO 26 Nº286
Sejam de elite ou não, escolas constatam a necessidade de incorporar mudanças nos espaços de aprendizagem para integrar professores e alunos em vários ambientes e também buscam aproximar seus alunos da natureza
Vários dados chamam a atenção na pesquisa que a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal realizou na Avaliação da qualidade da educação infantil: um retrato pós-BNCC . Das quase 4 mil turmas avaliadas, apenas 9% possuem planejamento diário e somente 10% oferecem acesso livre aos livros. Sem contar a infraestrutura predial, que foi melhor avaliada que práticas pedagógicas. Quem acompanha a vida política, econômica e educacional sabe que é comum se licitar novas escolas tendo tantas outras com obras paralisadas, ou precárias.
Contudo, a pesquisa também denuncia a infraestrutura, uma vez que há ‘situações que colocam em risco a vida das crianças e dos profissionais que estão ali, como, por exemplo, a presença de fios desencapados dentro de uma sala’. Temos que combater o desleixo com que é tratada a escola pública brasileira.
A permanente luta da sociedade para que os diretores e diretoras de escolas sejam concursados entre excelentes profissionais, mostra o acerto. A pesquisa constatou que as turmas com melhor qualidade nas práticas pedagógicas são as de escolas cujo diretor é concursado. Isso tem uma razão de ser: ele é um técnico, mais preparado e com alto nível de profissionalização.
Este é um documento que deve ser usado em todo o universo que se discute educação – para que a partir dos dados, se criem políticas públicas. Para fechar com uma nota interessante, o levantamento da Fundação mostra que a pandemia aproximou a família da escola, e isso tem ajudado a melhorar o nível de ensino e aprendizagem. Segundo Beatriz Abuchaim, família é o agente externo que questiona, contribui, traz informações sobre a criança, sobre seu desenvolvimento e cotidiano.
Saindo da educação infantil, deixamos nosso agradecimento ao nobre trabalho do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, assassinados em junho no Vale do Javari, AM. A atuação de ambos visava a proteção dos povos indígenas, da natureza e, consequentemente, de toda a sociedade.
Boa leitura.
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Ano 26 - Nº 286 junho / julho de 2022
ISSN 1415-5486 www.revistaeducacao.com.br
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Muito além da sala de aula, novos projetos arquitetônicos de escolas investem em áreas flexíveis, arejadas, menos estruturadas, sustentáveis, que permitam o convívio, a interação, o trabalho cooperativo
O nível da educação infantil brasileira é regular, com avanços na infraestrutura, porém com desafios importantes e complexos na prática pedagógica, destaca estudo inédito da Fundação
Maria Cecilia Souto Vidigalnos cursos
A partir deste ano, as instituições de ensino superior precisam implementar as novas diretrizes nos cursos de pedagogia e licenciatura. E a principal inovação, considerada um grande avanço, é a ênfase da prática docente
Autoconhecimento, habilidades socioemocionais, atitude empreendedora: o Projeto de vida, eixo transversal do novo ensino médio, vai muito além da escolha da profissão
Veiga Sobral
Machado de Assis fala da educação que destina ao fracasso social e moral, por ser frouxa e inconsistente
14 Mosaico
17 Transformação
26 Ensaio
34 Midiática
41 Futuro da escola
44 Evento
48 Entre margens
O nível da educação infantil brasileira é regular, com avanços na infraestrutura, porém com desafios importantes e complexos na prática pedagógica, destaca estudo inédito da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
Beatriz: o objetivo maior de fazer um estudo como este é dar subsídio para a melhoria dos processos de gestão
Qual é o caminho o Brasil tem trilhado na educação infantil? Como garantir a qualidade na aprendizagem das crianças? Para responder a essas e a tantas outras questões é preciso um olhar atento na situação que estamos hoje. Por isso, a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV) promoveu um estudo, em 2021, com 12 municípios e 3.467 turmas, em 1.807 unidades educacionais, e apresenta um retrato dessa situação com destaque também para a aplicação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “Ainda que não seja uma amostra representativa do Brasil, é o maior estudo já realizado sobre esse tema. Em 2009, a professora Maria Malta Campos coordenou uma pesquisa, da qual participei como assistente, e publicada pela Fundação Carlos Chagas. Quando olhamos o panorama de 2009 e os resultados obtidos pelo estudo atual, infelizmente vemos dados muito semelhantes”, comenta Beatriz Abuchaim, gerente de conhecimento aplicado da FMCSV, formada em psicologia, com mestrado e doutorado em educação. Confira, a seguir, entrevista exclusiva com Beatriz.
Quais são os aspectos relevantes da pesquisa Avaliação da qualidade da educação infantil: um retrato pós-BNCC, recémdivulgada?
tra uma grande diversidade. Apesar de poucas turmas atingirem os patamares propostos pela BNCC, percebemos que eles são possíveis. Temos diferenças dentro de uma mesma rede. Se uma escola consegue avançar nesse sentido, ela pode servir de modelo para outras escolas.
Por que algumas escolas da mesma rede avançam e outras não?
Constatamos que, geralmente, temos uma infraestrutura predial melhor em relação a resultados referentes às práticas pedagógicas. Esse é um ponto que chama bastante atenção, e é muito semelhante ao levantamento de 2009. Esperávamos encontrar mais avanços nas questões pedagógicas no contexto da educação infantil, já que, neste tempo, tivemos dois importantes documentos lançados no Brasil: as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e a BNCC. Foram poucos os avanços relativos às práticas que visam boas oportunidades de aprendizagem para as crianças. São dados que nos preocupam bastante. Porém, encontramos nessa amos-
É uma pergunta difícil de responder. Provavelmente é um conjunto de fatores. O que vimos no estudo é que quando cruzamos os dados referentes às pontuações das práticas pedagógicas e os relacionados à infraestrutura e gestão vemos fatores interessantes. As turmas com melhor qualidade nas práticas pedagógicas provêm de escolas cujo diretor é concursado. Parece, então, que ele é um técnico, com mais profissionalização. Nesse mesmo sentido, turmas de professores que se declaram altamente identificados e motivados a trabalhar com educação infantil tendem a ter pontuações maiores. E esse é um dado que se repete em inúmeros estudos dentro e fora do Brasil. A qualidade está muito relacionada à possibilidade dar atenção individualizada à criança. Quando a turma é muito grande, com um adulto apenas, é mais difícil implementar a BNCC e dar às crianças oportunidades de aprendizagem interessantes de fato. Esses indicativos são alertas aos secretários de Educação. Por que em uma mesma rede há escolas beirando a excelência e, em outras, o que se vê é inaceitável? Como estimular redes de cooperação entre essas escolas?
O que é inaceitável e o que é o mínimo aceitável?
Inaceitável é tudo o que viola os direitos das crianças. Infelizmente, algumas turmas de escolas que visitamos nos relataram casos de violência verbal e física. Isso não deveria acontecer. As pessoas devem ser punidas. Elas violam a lei dentro da escola, dentro da própria sala de aula, na presença de um observador externo. Esse tipo de comportamento do adulto é naturalizado de alguma maneira. Observamos violência verbal em 10,8% das uni-
violência verbal em 10,8% das unidades estudadas e interações físicas negativas em 3%; isso é inaceitável
dades estudadas. Encontramos 3% de interações físicas negativas, que é um ponto de atenção para a gente. Isso é inaceitável. Em termos de infraestrutura, há condições precárias que colocam em risco a vida das crianças e dos profissionais, por exemplo, fios desencapados dentro da sala. Rodas essas situações são inaceitáveis. Quanto às práticas pedagógicas, consideramos condições mínimas aceitáveis as que dão boas oportunidades de aprendizagem às crianças. Ou seja, elas não passam o dia sem uma atividade planejada e mediada pelo professor.
Em relação ao poder público na educação infantil, como estão sendo feitos os investimentos, esforços e ações?
É notável o protagonismo dos municípios e a representação dos secretários de Educação. Durante o período da pandemia, notamos que era maior a articulação dos municípios do que do governo federal com os municípios. Na educação infantil, infelizmente, temos pouca participação dos governos estaduais. Seria muito importante que eles colaborassem mais nesse processo. Acreditamos nos modelos colaborativos, por exemplo, dos municípios com o estado. Em geral o governo federal passa os recursos para os estados e municípios; estes enfrentam o enorme desafio que é gerir a educação infantil: veja, somos um país diverso, com mais de 5.500 municípios e realidades muito diferentes. Um estudo de avaliação como esse é muito importante para o poder público. Eu diria que o objetivo maior de fazer estudos desse tipo é dar subsídio para melhorar os processos de gestão. Quando entramos numa escola observamos quais materiais estão presentes, como as salas estão dispostas, se tem área externa para as crianças utilizarem. Olhar para todas essas características ajuda o gestor na sua tomada de decisão, inclusive no investimento dos recursos públicos. Não vemos esse tipo de levantamento nos municípios brasileiros.
E como esse retrato da realidade da educação infantil pode ajudar o serviço público a melhorar a qualidade da educação?
Por exemplo, como é o concurso público para contratar professores, diretores e coordenadores pedagógicos para a educação infantil? Que tipo de conteúdo é incluído, pensando no alinhamento com a BNCC? Outro ponto muito importante é a formação continuada. Quão efetiva ela é? Se o gestor percebe que, em média, as escolas do seu município estão seguindo determinado caminho quanto à prática pedagógica, ele pode ajustar a formação continuada e obter os resultados esperados em relação à implementação da Base. Um dado que nos preocupa é que em 45% das turmas observadas não foram presenciados momentos de brincadeira livre. Isso nos surpreendeu, pois é um dos eixos estruturantes das Diretrizes Curriculares. Se sou secretário de Educação e estou a par desse dado, como faço para mudar essa realidade? Como crio formações que permitam aos professores oferecerem momentos de brincadeira livre, mediados por eles, com propostas de atividades, envolvimento na dinâmica e seleção do material? Há todo um planejamento a ser feito. Não é porque é livre que não deva ser planejada e intencional.
Segundo o estudo, apenas 9% dos professores fazem planejamento diário…
Essa questão é fundamental. A educação infantil e a Base preconizam isso. Tem de ser uma educação com intencionalidade pedagógica. O professor tem objetivos a serem alcançados com as crianças e ele vai em busca disso, preparando uma prática pedagógica que contemple as necessidades e os interesses das crianças. Ele tem de planejar. Não é uma atividade espontânea, e isso é uma virada de chave que, às vezes, é difícil fazer, principalmente no caso de crianças muito pequenas. Tudo fica aberto, muito livre e desestruturado, e parece que não há uma linha de aonde se quer chegar.
Turmas com melhor qualidade nas práticas pedagógicas são as de escolas cujo diretor é concursado.
Parece, então, que ele é um técnico, com mais profissionalização
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Nesse cenário, incluindo a pandemia e as ações do poder público, qual é a importância das ações intersetoriais?
Apesar de esse estudo não ter levado em conta a gestão e a relação das secretarias municipais, percebemos que, principalmente nas creches, estão as crianças mais vulneráveis, mais pobres, negras, residentes de áreas não urbanas. Mas muitas continuam fora da educação infantil. Isso gera um alerta para a importância de trabalharmos com a Assistência Social e Saúde a fim de localizarmos essas crianças e incluí-las. Isso é prioritário. Sabemos que a demanda por creches é grande, mas defendemos fortemente na Fundação os critérios de priorização. Porque se olharmos para as crianças mais ricas da nossa população, a meta do Plano Nacional de Educação já está batida. Temos mais de 50% dessas crianças matriculadas em creches. Porém, quando se trata de crianças mais vulneráveis, esse percentual é muito baixo. Por isso, acreditamos na integração dos serviços, principalmente no caso da garantia de direito dessas crianças mais pobres.
Como o estudo apresentou a relação com as famílias e como você acha que ficou essa relação no contexto atual?
Escolas que envolvem famílias e comunidades tendem a ter pontuações mais altas nas práticas pedagógicas e avaliações. Esse envolvimento é importante para melhor a qualidade. A família é o agente externo que questiona, contribui, traz informações sobre a criança, sobre seu desenvolvimento e cotidiano. Essas interações têm de ser potencializadas dentro da escola. É preciso buscar estratégias para isso. No Brasil temos um paper de 2016, do Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), A importância dos vínculos familiares na primeira infância. Os resultados são ruins: pouco diálogo, pouca interação, as famílias se sentem à parte do universo escolar e, muitas vezes, os próprios profissionais de educação afastam as famílias da escola. Com a pandemia, temos vários depoimentos muito bonitos sobre essa aproximação, tanto de famílias quanto de professores. É diferente receber só a criança na escola e o processo de interação virtual, entrar na casa das famílias e ter uma conversa mais frequente com elas. Foram criadas estratégias nesse sentido e a expectativa é de que essas práticas se mantenham e a família passe a entender a importância da escola.
“Escolas que envolvem famílias e comunidades tendem a ter pontuações mais altas nas práticas pedagógicas e avaliações”, diz a gerente de conhecimento aplicado
Na sua visão, onde estamos e para onde vamos depois desse retrato atual da educação infantil? Sou otimista. Desde a Constituição de 1988 tivemos muitos avanços, como o aumento do número de matrículas e o percentual da população atendida. Tivemos a inclusão da educação infantil no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que garantiu sua expansão e financiamento. Também o aumento do percentual de professores formados, que hoje é bastante significativo. Todos esses indicadores são crescentes. Temos documentos importantes lançados, como as Diretrizes e a Base, alinhados com currículos internacionais de ponta. As concepções pedagógicas são muito relevantes e visam de fato o desenvolvimento integral das crianças. Quando olhamos para os municípios vemos um atendimento estruturado. Precisamos avançar mais na formação de professores, pois isso tem impacto direto na prática pedagógica. Precisamos avançar também em processos de avaliação da educação infantil, que é justamente o foco do estudo. Enquanto não tivermos os dados, não conseguiremos direcionar as nossas ações visando o melhor. A educação infantil no Brasil está no caminho bom. E, comparando com políticas internacionais, o país se destaca no que diz respeito à garantia do direito. Agora precisamos exercer esse direito com qualidade. Esse é o desafio.
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A versão Pisa para Escolas teve sua aplicação piloto em 2018 e, neste ano de 2022, foi lançado oficialmente para escolas públicas e particulares. Vale lembrar que o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) é uma das principais avaliações mundiais, desenvolvido pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e aplicado no Brasil pela Fundação Cesgranrio.
A avaliação é voluntária e não se limita a verificar se os alunos podem reproduzir conhecimentos. Examina também a forma como eles conseguem extrapolar os conhecimentos a partir do que aprenderam e assim aplicar os aprendizados em contextos não familiares, tanto dentro como fora da escola.
O Colégio Pentágono, localizado na capital paulista, é uma das instituições particulares do Brasil que participou da iniciativa em 14 de junho por meio de seus alunos na faixa dos 15 anos - nesta idade, os jovens da maioria dos países da OCDE estão próximos do fim da escolaridade obrigatória.
A partir dos resultados, as escolas participantes recebem um rela-
tório do Pisa-S que utiliza as mesmas matrizes de referência e escolas do Pisa. O relatório permitirá comparar os níveis de proficiência dos alunos do Pentágono globalmente de forma inovadora.
“O ensino básico aponta para um futuro em que os conhecimentos de um indivíduo deverão ser abrangentes e adaptáveis. Muitas faculdades hoje em dia já mudaram seus processos de seleção e procuram avaliar o estudante além da nota no vestibular, realizando entrevistas e conhecendo outras habilidades como trabalhar, viver e conviver em grupo”, conta Guiomar Namo de Mello, membra do Conselho do Colégio Pentágono.
O Pisa é mais conhecido por ser a principal avaliação da educação de mais de 80 países, criando um ranking internacional do desempenho escolar. O Pisa-S contribui para o desenvolvimento de uma avaliação dos conhecimentos, competências e habilidades que são relevantes no mundo atual. Ao mesmo tempo, incentiva experiências inovadoras
Envato elements
de aprendizagem por meio da solução colaborativa de problemas, potencialização da criatividade, autonomia e do pensamento crítico dos estudantes. Após a avaliação, as instituições participantes recebem um relatório que indica as melhorias que podem ser feitas para sintonizar o aprendizado com as competências e habilidades que serão necessárias para viver no século 21. “O relatório detalhado apresenta evidências sólidas acerca dos fatores que afetam o desempenho e também indica como promover a melhoria da aprendizagem para todos os alunos. Desta forma conseguiremos fazer as intervenções necessárias e assertivas no ensino fundamental e até ao final do ensino médio.”
De olho em lapidar a aprendizagem, Patrícia acrescenta: “Com a aplicação do Pisa-S, o Pentágono terá dados de qualidade, que orientará decisões importantes para melhorar os resultados de aprendizagem e compreender como as habilidades socioemocionais afetam o aprendizado e como desenvolvê-las na sala de aula. Enfim, promover um aprendizado de excelência em todos os âmbitos”.
Para prevenir o abuso e exploração infantil, o município de Itumbiara, GO, criou há mais de 12 anos para suas escolas públicas o Projeto Prevenção e Qualidade de Vida com Amor Exigente (PQV- AE). A iniciativa visa apresentar aos alunos os limites do toque “sim” e “não”. O livro Pipo e Fifi: Ensinando Proteção contra Violência Sexual (ed. Caqui), de Caroline Arcari, serviu de apoio para uma professora abordar o tema, quando uma de suas alunas, de 12 anos, contou que seu avô – segundo o portal UOL -, a tocava com o toque do “não”. A professora pediu para a menina desenhar e assim trouxe mais detalhes. O Conselho Tutelar foi acionado pela educadora e o criminoso, preso no início de junho.
Também em Itumbiara, em março, um “avôpadrasto”, de 86 anos, foi preso. Durante aula de educação sexual, uma criança começou a chorar. A professora conversou com a pequena no particular e descobriu o abuso.
Na decisão, o juiz alegou: “A educação sexual é uma das formas mais eficazes de prevenir e enfrentar o abuso sexual contra crianças e adolescentes. Ensinar,
desde cedo e com abordagens apropriadas para cada faixa etária, conceitos de autoproteção, consentimento, integridade corporal, sentimentos e a diferença entre toques agradáveis e bem-vindos, dos toques que são invasivos e desconfortáveis, é fundamental para aumentar as chances de proteger crianças e adolescentes de possíveis violações”.
Com o propósito de discutir a relação entre a criança e o espaço em que está inserida, a websérie Infâncias, Cidade e Meio Ambiente, desenvolvida pelo Instituto da Infância (IFAN), discorre sobre aspectos relevantes que devem estar presentes no radar da família e responsáveis. Dividida em quatro episódios, a produção aborda, por meio de especialistas, assuntos como o emparedamento da infância e a importância do contato com espaços verdes na vida dos pequenos.
Também traz um recorte sobre o cenário sociocultural de municípios como Fortaleza, CE, e convida à reflexão sobre meios de tornar a cidade mais segura para o desenvolvimento infantil.
No decorrer dos episódios, os especialistas apresentam os direitos da criança enquanto cidadãs. No quarto episódio,
intitulado “planejamento urbano”, a arquiteta Alana Aragão aponta que, como assegura o Artigo 227 da Constituição Federal, além de possuírem “prioridade absoluta” em relação à segurança, educação e proteção, as crianças têm direito à fala e expressão. Infâncias, Cidade e Meio Ambiente tem acesso gratuito e está disponível no canal oficial do IFAN.
Clique aqui e assista o primeiro episódio. https://www.youtube.com/ watch?v=oQcNmdqIadY&t=4s
A heterogeneidade das aprendizagens em sala de aula é parte do cotidiano na prática docente, o que inclui todos os alunos com a mesma idade e matriculados no mesmo ano letivo. À parte todos os desafios nesse cenário, há outro: as salas de aula multisseriadas.
Originalmente criadas para atender as populações rurais, as salas multisseriadas consistem em uma organização que contempla alunos de diversas faixas etárias com um único professor, responsável por planejar e aplicar conteúdos diferentes em um mesmo ambiente.
Ana Sueli Pinho, professora, doutora em educação e formadora de professores de diversas redes públicas de ensino do estado da Bahia, considera que o desafio das aulas multisseriadas está posto em todos os municípios de nosso país. Garantir que os sujeitos ali inseridos tenham acesso a novos conteúdos é um compromisso social dos educadores, que levam em conta não só o que precisa ser ensinado, mas a perspectiva emancipatória das comunidades. O trabalho docente desenvolvido em turmas multisseriadas exige, a todo momento, a criação de estratégias capazes de lidar com as diferenças dentro de um mesmo espaço. No que diz respeito à formação docente, Ana diz que deve ser pautada no trabalho colaborativo entre os professores com base nos saberes e experiências dos alunos. A meta é enriquecer as interações de ambas as partes, para que todos possam contribuir no processo de construção das aprendizagens.
Ana propõe, ainda, um olhar atento na elaboração de material didático, que de acordo com ela deve ser concebido da perspectiva segundo a qual a diferença é potência, não obstáculo. Assim, é possível desenvolver trilhas pedagógicas diversificadas que começam e terminam com o envolvimento de toda a turma em várias interações. Esse processo permite a ramificação em grupos produtivos, de alunos cujos conhecimentos ora se assemelham, ora se diferenciam.
O objetivo do professor deve ser organizar esses diferentes grupos para desenvolver a melhor aprendizagem possível.
Formação inicial e continuada para classes multisseriadas da educação escolar indígena e ribeirinha, em Lábrea, AM, realizada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam) de Lábrea
O universo das salas multisseriadas é um convite a um olhar para um movimento pedagógico alocado na periferia das práticas educacionais regulares. Trata-se de uma experiência escolar inovadora e alinhada com as raízes culturais das populações apartadas dos grandes centros. Neste sentido é altamente inspiradora. Ser criança é diferente de ser adolescente ou adulto. Tratar esse(s) aluno(s) como sujeitos históricos, respeitando sua idade, gênero, etnia, temporalidades, enfim, sua diversidade, é imprescindível para construir uma educação verdadeiramente criativa e democrática.
APRESENTADO POR
Os desafios das escolas em atender às expectativas de pais e alunos no pós-pandemia são muitos. Porém, resultados podem ser potencializados com o ensino híbrido e a otimização do tempo dedicado ao autodesenvolvimento. Nesse sentido,
pois incluem formato híbrido, com tecnologias que facilitam a interação e aceleram a aprendizagem. Além disso, abrangem as certificações dos alunos como forma de garantir que os resultados sejam visíveis e tragam reais benefícios no futuro. Portanto, famílias deixam de investir em cursos de idiomas separados do período escolar, o que significa que os alunos podem ter tempo livre para outras atividades e lazer.
As certificações internacionais trazem foco de motivação e propósito que orienta os alunos com estudos dirigidos ao desenvolvimento das competências de leitura, escrita, audição e fala em língua inglesa.
Possibilitam ainda que o professor seja mentor desse processo com atividades diárias dos programas I.S. e simulados que familiarizam o aluno com os exames internacionais. Com a família engajada neste processo, investindo nos exames e acompanhando os resultados de desempenho junto com a equipe pedagógica, temos um ciclo completamente voltado ao desenvolvimento do aluno..
Ainda, uma das principais competências interpessoais do aluno na Educação 5.0 é a comunicação. Por meio das práticas de familiarização com os exames internacionais, nossos alunos têm a oportunidade de se preparar para desafios do cotidiano, como interagir com pessoas de diversos lugares e falar outro idioma, de forma natural, em diversas situações. Nossos alunos trouxeram resultados em 2021 que provam como isso funciona de maneira eficaz em nossas aulas: 98% dos nossos alunos dos Anos Iniciais nas provas Cambridge Young Learners Starters, Movers, Flyers obtiveram resultados excelentes - acima de 3 escudos dos 5 totais - na competência de Speaking.
DOS NOSSOS ALUNOS
QUE INDICA O RESULTADO B1, A ESCALA MÁXIMA DO EXAME.
RESULTADOS COMPROVADOS DA EFICÁCIA DO PROGRAMA DA INTERNATIONAL SCHOOL, REFERÊNCIA EM ENSINO BILÍNGUE NO BRASIL
As certificações internacionais fazem parte de uma parceria da International School com Cambridge e Michigan Language Assessment, que, desde 1913, tem a tradição de desenvolver e aplicar exames internacionais que atestam a proficiência linguística dos estudantes de língua inglesa. Esses exames são produto de extensa pesquisa que auxilia na compreensão do estágio de aprendizagem e do ponto de partida para o desenvolvimento contínuo das competências envolvidas.
Para a International School, mediar essa parceria com as escolas e oportunizar a aplicação dos exames com nossos alunos no espaço escolar contribui para a consolidação de fatos e dados que também comprovam que o ensino em inglês por meio do nosso programa bilíngue atende a altos padrões de qualidade, que são reconhecidos internacionalmente e possibilitam aos alunos oportunidades de qualificação profissional e empregabilidade. Os resultados obtidos permitem às escolas traçar estratégias de ensino mais específicas para seus alunos e personalizam o desempenho dos estudantes por meio de relatórios detalhados.
Por fim, trazendo inovação por meio do desenvolvimento das versões digitais dos exames MET Go! e MET, a Michigan Language Assessment oportunizou às nossas escolas a realização de exames em versão digital trabalhando o letramento tecnológico. O ano de 2021 foi o primeiro de aplicação do exame Met Go! de Michigan na versão digital. É um exame multinível que atesta a proficiência do nível A1 ao B1 do CEFR, mediado pelo Centro Aplicador com a escola.
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Éverdade, o cenário geral não está para muito otimismo nas escolas privadas. Ainda impactadas pelo longo período de fechamento na pandemia e pela vida econômica do país, ligaram o sinal amarelo. Mas, em um aparente contrafluxo, pipocam pela cidade, e país afora, investimentos expressivos de infraestrutura. Em São Paulo, o Colégio Bandeirantes finaliza uma nova torre, com 12 pavimentos e 12,3 mil metros quadrados. Também na cidade de São Paulo, surgem outros novos edifícios de escolas renomadas como Beacon, Lourenço Castanho, Pueri Domus, bem como projetos recentes pré-pandemia, como o novo Colégio São Luiz e a biblioteca do Colégio Santa Cruz.
Divulgação
A esse ritmo de mãos à obra, somam-se pequenas e grandes reformas para adaptar as instituições ao contexto dos protocolos sanitários. Tudo isso traz à tona uma discussão que há tempos acompanha a pedagogia: as relações entre edu-
cação e espaços de aprendizagem – e por isso chamado de o terceiro educador.
Até poucas décadas atrás, construir escolas era projetar salas de aula de forma a caber mais alunos, colocar uns laboratórios aqui e acolá com as tradicionais bancadas, um pouco de pátio, quadras. Não é mais assim. A ideia de espaços flexíveis, arejados, menos estruturados, sustentáveis, que permitam o convívio, a interação, o trabalho cooperativo, a cocriação nas várias áreas do conhecimento vêm ganhando vez e voz na arquitetura educacional.
Há muitas razões para isso, como as transformações pedagógicas em curso, gerando demanda por ambientes diferenciados, há a necessidade de dividir os alunos em grupos menores, em um movimento de maior personalização da aprendizagem. Mas, não se pode ignorar o reconhecimento de um avanço na consciência da fundamental relação entre espaço e aprendizagem. Essa é a visão de uma das estudiosas do tema no país, a arquiteta de origem alemã Doris Kowaltowski, hoje professora na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, onde orienta diversas pesquisas sobre arquitetura e educação. “A nova dinâmica da educação é impressionante, e o arquiteto tem de correr atrás. A arquitetura, as pessoas e a pedagogia têm de andar em conjunto”, diz.
Com mestrado e doutorado na Universidade de Berck-
ley, na Califórnia, a pesquisadora decidiu cedo investigar as relações entre espaço e aprendizagem, e logo percebeu como a ideia da centralidade da sala de aula era importante para o professor. Ela se recorda da experiência de um projeto de espaço amplo, sem divisões, como um barracão. “Tão logo chegaram lá, os professores recriaram suas salas com a mobília. Histórica e psicologicamente, a sala de aula é uma presença muito forte”, diz.
Para ela, a ideia da sala de aula ainda não desapareceu, mas não deve ter mais exclusividade. “A escola precisa de espaço para que os alunos trabalhem sozinhos, em grupo, e em grupo com o professor”, exemplifica. Mesmo a classe normal pode ter novos formatos, fragmentada em diferentes atividades, com uma área maior do que anteriormente. Outros espaços também ganham novas funções, como o corredor. “A gente está vendo que o corredor assume certas atividades, como um espaço mais livre que está conectado com o espaço da sala de aula, com nichos, mesas de reuniões, trabalhos dos grupos”, conta.
A linha de pesquisa de Doris priorizou uma dimensão essencial para a educação contemporânea – a que ela chamou humanização. “Normalmente, as instituições eram distantes, frias, com cara de prisão”, lembra Doris, autora de Arquitetura Escolar: o projeto do ambiente de ensino (ed. Oficina de Textos, 2011).
Para que as escolas sejam lugares mais acolhedores, afetivos, a arquiteta acredita que devem oferecer conforto do ponto de vista da temperatura, da iluminação e da funcionalidade. Devem, também, incorporar o elemento da natureza em espaços abertos – uma tendência que se torna cada vez mais forte no mundo pandêmico, que pede arejamento e situações de retorno à convivência. “A natureza não pode faltar no espaço escolar, e não é vasinho com plantinha, três violetas na beira da janela. Tem de ser algo, um verde presente, um landscape”, recomenda.
Nessa mesma direção, a busca por construções mais sustentáveis também é uma tendência importante. No caso do Bandeirantes, a proposta é que os estudantes dos mais diversos níveis possam conviver em um ambiente que prioriza o conforto ambiental e a sustentabilidade, com aproveitamento de iluminação natural, ventilação, captação de água pluvial, tratamento de esgoto cinza para reuso de água e acessibilidade. Segundo conta o diretor de operações do Colégio, Eduardo Tambor, as salas de aulas também foram repensadas
para trazer mais dinamismo e inovação. Os espaços poderão ser personalizados de acordo com o perfil e faixa etária dos alunos, com tecnologia embarcada e possibilidade de reconfigurações.
As relações entre arquitetura e educação não se resumem a questões puramente arquitetônicas e métodos construtivos, mas especialmente em um entendimento compartilhado do uso do espaço – do qual os alunos também podem participar. No caso do novo edifício do ensino médio da Beacon School, na zona oeste paulistana, além de coordenadores, professores, os alunos também foram convidados a contribuir. De um grupo de jovens e de suas pesquisas veio a ideia de um lounge para estudos, um refeitório com varanda, a forma do mobiliário, o tamanho dos lockers, entre outros. Serão dedicados dois andares para os espaços de aula, um para o encontro dos alunos, um para a biblioteca e laboratórios diversos, além de um pátio coberto e quadra. “A articulação entre o projeto pedagógico e as
necessidades dos alunos do ponto de vista individual e como coletivo são elementos considerados com muito cuidado quando planejamos os espaços educativos”, diz a diretora Maria Eduarda Sawaya.
Outras vezes, mesmo que o espaço seja cuidadosamente desenhado e mobiliado para o desenvolvimento do projeto educativo, as próprias crianças se encarregaram de ressignificá-lo. Foi o que aconteceu na nova unidade da High Line, na zona norte da capital paulista. O buraco em uma grande árvore virou uma casa de dinossauros, com direito a lago de papel machê. A cozinha externa virou uma “cozinha de lama”, onde brincam com terra e água. “O espaço é realmente essencial para o desenvolvimento pedagógico, mas sempre é preciso que a criança tenha liberdade de exploração”, diz a diretora Roberta Mardegam.
É preciso ter em conta também que o investimento dos espaços não se refere apenas ao aspecto arqui-
Ideias e materiais simples traduzem o encontro inspirador entre os princípios educativos e a arquitetura. O projeto do Lycee Schorge, no país africano Burkina Faso, é do arquiteto Francis Kéré, que recebeu por esse e outros trabalhos o mais importante prêmio da área, o Pritzker Architecture Prize
tetônico, mas ao que se coloca dentro da escola – por exemplo, os parques infantis. Esse é o campo de trabalho da arquiteta Adriana Freyberger. Em sua atividade de consultora, escolheu trabalhar com a rede pública, especialmente as prefeituras, a quem cabe a responsabilidade constitucional pela educação infantil. “Tenho tido a chance de discutir com os gestores e técnicos municipais, entender a forma como eles pensam, mostrar a importância de discutir espaço e investir em recursos que devem durar muitos anos”, conta. Nessa área, também há avanços importantes. Adriana procura estimular as creches a renovar parques pensando não apenas nas possibilidades motoras, mas nos aspectos sensórios, e também criando espaços de estar dentro dessas áreas. “Normalmente, os parques são muito áridos. Os educadores dizem que as crianças ficam correndo sem parar, mas precisam ver que não resta nada mais para fazer além disso”, explica. Ela ajuda as equipes a pensarem na reorganização dos espaços para acolher crianças menores que chegam às creches, com atividades desafiadoras.
Segundo Adriana, é essencial que as escolas públicas evoluam para oferecer o período integral a todos, como já acontece nas privadas, e que as crianças possam ter um tempo rico de atividades que promovam a interação e a criatividade. “A escola deve ser um espaço onde as crianças possam ter maior contato com espaços mais naturais, que não sejam tão preparados, que tragam desafios. Hoje, as crianças não sabem mais cair, porque tudo é mais emborrachado, arredondado, e perdem a ideia de se proteger, mas isso é também importante”, finaliza.
Poucas décadas atrás, construir escolas era projetar salas de aula de forma a caber mais alunos, uns laboratórios aqui e acolá com as tradicionais bancadas, um pouco de pátio e quadrasFotos: Iwan Baan
Há várias gerações, estamos presentes no dia a dia da escola, apoiando, criando pontes e estimulando famílias, estudantes e colaboradores a experimentar suas melhores versões.
Com tantas vivências, completamos 120 anos de história e a sensação é de que apenas iniciamos. Hoje, uma nova era começa para a FTD Educação e ela só é possível porque você caminha com a gente: apresentamos a evolução da nossa marcaainda mais próxima, inquieta e em constante movimento.
Conectamos histórias. Construímos futuros.
O futuro da Educação não está distante. Ele já é realidade. Vamos conhecê-lo juntos?
Dois mitos esquisitos que estão sendo vendidos na bula do chamado ensino híbrido: o progresso e a inovação imediata
| Por Fernando José de Almeida
Muitas das novidades em educação chegam a galope, anunciam-se como disruptivas, inventam-se como nunca pensadas e como a solução definitiva dos mais graves problemas. Elas se apresentam sempre como um avanço incontornável.
Vamos falar aqui do progresso sem fim e do atendimento imediato dos desejos.
Tal ideologia da rapidez das inovações e do progresso contínuo é recorrente também na história da economia, da ciência e da cultura. Cada época da história, da cultura e da ciência se entende como a mais avançada e como se jamais pudesse ser superada por algo diferente.
Aqui vamos nos debruçar sobre dois mitos que estão sendo vendidos na bula do chamado ensino híbrido: o progresso e a inovação imediata.
O primeiro – presente como dístico em nossa bandeira – é comumente entendido como o aumento sempre maior do conhecimento e das capacidades humanas que visa a dominação cada vez mais universal do meio humano e natural. O resultado desse progresso, promete-se, é a riqueza social crescente. No entanto, o desenvolvimento, crescimento e progresso constantes ditados pela produtividade não só são feitos pela exploração constante da natureza (ela mesma esgotável) como a partir da dominação universal dos seres humanos, para os quais a produtividade pouco reverte.
É dentro deste cenário de ‘progresso’ que as tecnologias da informação e da comunicação se oferecem aos usuários. Elas são suportadas pelas big data, pelos aparelhos de comunicação como os smartphones, pelas redes universais da internet ou pelas redes de serviços de atendimento ao consumidor. A indústria, a agroprodução massiva, o comércio e a indústria as veneram.
E por que tenho a suspeita que essa ideia é um ‘mito’ quando se trata de educação? Porque o tal progresso inovador promete, mas não consegue entregar valores educacionais que são de outra dimensão que não a exploração constante da natureza nem das pessoas para um progresso e trabalho sem fim. Esse ciclo ininterrupto de produção e consumo leva-nos a todos à desvalorização da felicidade e do prazer, substituindo-os pela satisfação ligada à produtividade social abstrata e infindável.
O outro mito, trazido no bojo do ensino dito inovador, que vê na tecnologia a sua máxima esfinge inspiradora é o mito da velocidade. O senso da rapidez é marcado pela busca do eterno. O mito de um tempo sempre presente. Todos os momentos adensados em um só e constante. Como nenhum ser humano tem esse poder atribui-se aos deuses os poderes da ubiquidade e da sincronicidade constante. É um atributo dos deuses a velocidade instantânea.
Vejamos o papel das velocidades no ensino e na aprendizagem. Vamos às operações da memória e da velocidade do acesso aos dados que aguçaram em nós o desejo de percorrermos os fenômenos humanos nas franjas da velocidade da luz. E os dados fazem estes trajetos impulsionados pelos padrões da velocidade da luz. No entanto, o acesso vertiginoso ao mundo dos dados não significa que nossos processos mentais completem neles o complexo fluxo da aprendizagem. O acesso aos dados é um primeiro passo estimulante, fundamental, mas impreciso e incompleto – quando se fala de conhecimentos complexos e articulados. As operações orgânicas de um raciocínio ou de uma experimentação sinestésica-corporal, emotiva ou estética se completam guiadas não pela instantaneidade, mas pela atenção, reflexão e assimilação para as quais acorrem as ações de um conjunto de órgãos. Por isso, as promessas embutidas no uso massivo de ensino online trazem um mito para resolver rapidamente o problema
de longa duração, às vezes necessária para assimilar os processos cognitivos, mas não o fazem. Dentro da sociedade marcada pela ideologia de que tempo é dinheiro, defende-se como necessária a rapidez para o atendimento dos resultados estudos. Equivocadamente se atribui o prazer do aluno à satisfação imediata das respostas do mesmo às suas questões. Que questões são essas? O que significa resolução rápida e motivações rápidas do desejo de aprender? Aprender muitas operações ou desfrutar das delicadezas de uma aprendizagem compreendida e vivida?
A aprendizagem, como a amizade, a alimentação, o carinho e a segurança se constroem com o fator tempo.
A aprendizagem não é um ato solitário (ninguém aprende sozinho), dizia Paulo Freire, mas também ninguém ensina a ninguém (a aprendizagem não é imposta). E ele continua, “os homens se educam mutuamente mediatizados pela realidade”. As mediações necessárias à aprendizagem são múltiplas, específicas e duradouras nos territórios, nas culturas, nos corpos e mentes dos aprendizes. O tempo é um mestre nesse processo.
Os professores são mediadores especiais desses ritmos e momentos. Pacientes, eles podem definir o bom tempo. Conhecem o dia a dia da classe, das crianças e dos territórios. Eles acompanham a postura corporal, as alegrias, as desconcentrações, os êxitos, a relação com a classe.... são todas mediações a serem consideradas no tempo próprio da aprendizagem de cada um no contexto do mês letivo, da relação com os outros, nas condições psicológicas e das tensões sociais em que nossos alunos vivem.
Por isso, a ideia de eficácia da urgência temporal para aprender assim como a aprendizagem para a produção carecem de uma contextualização não apenas da sua adequação a um currículo humanizado, como da sua inserção no território e de sua perspectiva de ter no currículo e no professor dois dos grandes articuladores do ato de ensinar e aprender.
A aprendizagem, como a amizade, a alimentação, o carinho e a segurança se constroem com o fator tempo
APRESENTADO POR
O Edify Education, empresa de soluções bilíngues para escolas, esteve presente na maior feira de educação da América Latina, a Bett Brasil 2022, realizada em maio, em São Paulo. Com um estande de 252m², a marca ofereceu ao público a sua experiência de aprendizado por meio de cinco etapas – institucional, mensuração de resultados, formação de professores, apresentação do material didático e um espaço para palestras e debates. Os visitantes tiveram a oportunidade de conhecer mais sobre a história e metodologia da empresa, além de experimentar, em primeira mão, a mais nova plataforma da marca – o Teacher’s Toolkit, criado para professores parceiros. Durante a Bett, o público que esteve no estande pôde navegar pela ferramenta e entender a proposta do produto digital que une educação, inovação e inteligência artificial.
Totalmente desenvolvido pelo time tech do Edify, o Toolkit chegou para simplificar o planejamento das aulas. Seu processo de criação demorou aproximadamente um ano após muitas análises no segmento. Segundo Gilson Cavalcanti, CTO do Edify Education, a equipe estava disposta a criar algo para os alunos, mas durante o período de estudo foi possível perceber que, apesar de ser o vetor principal do aprendizado, o professor é pouco assistido pelas plataformas digitais. “Diante disso, nosso time pensou em algo que facilitasse a elaboração de um planejamento semanal de aulas”, conta Gilson. O especialista explica que as análises realizadas pela equipe
Além de otimizar o tempo do professor durante o planejamento de aula, a plataforma oferece a possibilidade de filtrar materiais condizentes com idade, turma e habilidades socioemocionais dos alunos
apontaram que o corpo docente gasta, em média, quatro horas e meia por semana para preparar aulas e a ferramenta pode reduzir o tempo pela metade. “O Toolkit funciona como um facilitador inteligente”, aponta.
Dinâmica e interativa, a plataforma oferece ao professor a possibilidade de filtrar materiais condizentes com idade, turma e habilidades socioemocionais dos alunos. Mas é através da inteligência artificial contida no software que é possível disponibilizar ideias e conteúdos que podem ser compartilhados com professores parceiros de todo o país. Isso acontece porque, mesmo possuindo modelos de plano de aula predefinidos, a inteligência artificial da ferramenta agrega conteúdos extras interessantes para o plano de aula que está sendo criado. “Se um professor usa algum vídeo do Now United para ilustrar a aula ou realizar algum complemento, a mídia aparecerá na ferramenta como uma sugestão para outros professores que estão criando um plano de aula similar. É intuitivo”, pontua Gilson.
No campo pedagógico, a inovação chega para o mercado com a ideia de unir tecnologia a propostas que funcionam em sala de aula. De acordo com Ana Leonardos, head de sucesso do cliente do Edify Education, através da ferramenta, os professores podem compartilhar ideias e alimentar a plataforma com atividades novas. “Essa troca de informação e conteúdo é muito válida não apenas para o corpo docente. Com essa movimentação entre todos os professores parceiros, os alunos têm acesso a um planejamento rico e dinâmico”, conta. Para Ana, a ferramenta também ajuda na questão da customização em sala de aula. “Por meio do filtro do software, os profes sores podem buscar exercícios e atividades que aquela turma específica esteja precisando praticar, como: listening ; reading ; writing ; e speaking .”
De acordo com Ana, habilidades socioemocionais bem trabalhadas e aliadas ao uso da tecnologia possuem um resultado efetivo na vida do estudante. A especialista pontua que ferramentas tecnológicas oferecem
práticas inovadoras que proporcionam a evolução do aluno. “Métodos interativos deixam o processo de aprendizagem mais dinâmico para todos os envolvidos, e no caso do Toolkit a troca de experiências entre o corpo docente oferece à turma inteira muitos benefícios no processo de aprendizagem.”
A proposta da criação de um novo software para professores, composto por inteligência artificial, consolida o Edify no mercado como uma empresa de soluções bilíngues que investe em tecnologia e foca o desenvolvimento de todos os presentes dentro de um ambiente escolar. A marca, que apresentou o lançamento do Toolkit na Bett Brasil 2022, atualmente, é detentora de uma estrutura tecnológica tão robusta quanto as big techs que possuem um tráfego intenso em datas como Natal e Black Friday – e isso também só é viável por conta do time especializado em tendências e práticas educacionais. “Para muitas empresas, o uso de softwares ou plataformas era apenas um projeto para o futuro. No caso do Edify Education, o time já tinha em seu planejamento metas ousadas de crescimento nessa área. Queremos investir, trazer novos talentos, fazer nosso time crescer e difundir nosso propósito por meio do processo de aprendizagem. O Toolkit vem para mostrar que podemos ser um diferencial por meio da inovação e educação”, ressalta Gilson.
A aceitação dos visitantes da Bett Brasil diante da novidade foi um termômetro positivo para a equipe, que promete desenvolver mais produtos digitais para coordenadores, gestores, professores e alunos. “Durante a pandemia vimos o quanto a tecnologia é necessária, principalmente na área de educação. Estar presencialmente na Bett apresentando algo que criamos em um momento difícil e de tantas mudanças é algo recompensador”, pontua Ana. Para Gilson, CTO da marca, o portfólio de softwares e plataformas ganhará novos produtos em breve. “Nossa ideia é sempre trazer novidades que sejam um diferencial para os usuários, sempre focando nossa missão, que é fazer dessa geração uma geração bilíngue”, finaliza Gilson.
A partir deste ano, as instituições de ensino superior precisam implementar as novas diretrizes nos cursos de pedagogia e licenciatura. E a principal inovação, considerada um grande avanço, é a ênfase da prática docente
Aresolução CNE/CP nº 2, de 20 de dezembro de 2019, que define as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica ressalta a necessidade da prática na formação desses profissionais. Há muita teoria e pouca prática e o aluno sai da universidade despreparado para exercer o magistério.
O foco no ensino deve estar nas competências que o professor precisa ter para desenvolver as habilidades que os alunos necessitam aprimorar em cada uma das etapas da educação básica alinhadas com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
A partir de 2022, essas novas diretrizes apresentadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) precisam ser implementadas pelas instituições de ensino superior. E a principal inovação é a perspectiva da teoria com a prática docente e estabelece também um novo perfil do egresso, a partir do estabelecimento de uma matriz de competências profissionais que o professor recém-formado precisa saber e ser capaz de fazer, denominada Base Nacional Comum para a Formação dos Professores da Educação Básica (BNC-Formação).
Algumas instituições particulares, e também da rede pública, já preparam a reformulação dos currículos para iniciar a implantação a partir deste ano. Várias entidades serão convidadas para discutir a implantação das novas Diretrizes Nacionais Curriculares de Formação Inicial.
O documento estabelece que o curso de pedagogia se divida em duas licenciaturas, uma para educação
infantil e outra para os anos iniciais do ensino fundamental. São dois cursos, cada um com 3.200 horas, de tal modo que o aluno saia com dois diplomas. As licenciaturas podem ser cursadas simultaneamente desde que se cumpra a carga de 800 horas de formação básica, mais 1.600 horas específicas para educação infantil ou para os anos iniciais e mais 800 horas de prática pedagógica, distribuídas em 400 horas para estágios supervisionados em situação real de trabalho, e 400 horas para práticas dos componentes curriculares.
“Trata-se de um grande avanço em relação aos cursos atuais de pedagogia. A inovação de ter uma base de formação docente com foco na articulação permanente de teoria e prática, onde se separa a formação da educação infantil e a formação dos anos iniciais. Cada habilitação representa um campo de conhecimento e uma prática específica que exige um tempo adequado de preparação”, consagra Maria Helena Guimarães de Castro, presidente do Conselho Nacional de Educação desde 2018.
Há uma mudança relevante nos cursos de pedagogia para formar profissionais para os anos iniciais e para a educação infantil, e também na formação de gestores. “Para ser um bom professor de formação de educação infantil, é preciso compreender todas as pesquisas, investigações e evidências que existem sobre a importância da educação infantil, como se dá o desenvolvimento socioemocional da criança, o desenvolvimento cognitivo, além dos estudos da neurociência”, defende Maria Helena, que já foi presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e secretária executiva do Ministério da Educação (MEC).
“Deve-se incluir o estágio no currículo desde o início do curso”, diz Beatriz Ferraz
O objetivo do novo documento é estabelecer as diretrizes para uma formação que dialogue com as necessidades do século 21, a partir do projeto político-pedagógico da instituição formadora. E que traga competências e habilidades que os professores precisam desenvolver na sua formação inicial.
“Procuramos, a partir dessas Diretrizes Curriculares Nacionais, trazer e orientar as instituições no que concerne a uma carga horária mais compatível com a realidade atual de um cenário disruptivo. Acabar com a ótica de quanto mais tempo e conteúdo, melhor, pois não terá mais fim. Vamos estudar ao longo da vida”, esclarece Mozart Neves Ramos, membro do Conselho Nacional de Educação.
Um capítulo importante é a necessidade de mudança no modelo de avaliação das licenciaturas, para dialogar com as habilidades e competências previstas, e de fato avaliar se o aluno que sai futuro professor, desenvolveu as competências esperadas. “O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) para as licenciaturas não deve ser conteudista, mas capaz de captar se os alunos desenvolveram as competências que constam na resolução”, explica Mozart, titular da cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados da USP – Ribeirão Preto.
“Foi um esforço hercúleo especificar as matrizes de competências, e fazer um documento norteador para todas as licenciaturas. De um lado, havia uma comunidade mais ligada ao setor público que queria a lógica de uma carga horária de mais e mais horas. De outro lado, o setor privado do ensino superior achava um absurdo a quantidade da carga que havia na Resolução CNE/CP nº 2, de 1º de julho de 2015”, conta Mozart.
Conhecer os conteúdos, mas conhecer também como a criança aprende bem, identificar a fase de desenvolvimento que ela se encontra e conhecer de qual realidade parteArquivo pessoal
I - dominar os objetos de conhecimento e saber como ensiná-los;
II - demonstrar conhecimento sobre os estudantes e como eles aprendem;
III - reconhecer os contextos de vida dos estudantes;
IV - conhecer a estrutura e a governança dos sistemas educacionais.
Quando se fala na formação de professores da educação infantil, a importância da qualidade dos educadores nos resultados de aprendizagem e no desenvolvimento das crianças é ainda mais basilar. A ênfase é dedicar mais tempo na prática e menos na formação teórica. Conhecer os conteúdos, mas conhecer também como a criança aprende bem, identificar a fase de desenvolvimento que ela se encontra e de qual realidade parte.
Há que se considerar que trabalhar com bebês e crianças pequenas demanda especificidades e um trabalho junto às famílias e à comunidade. E garantir ao longo da formação do professor, oportunidades de escolhas entre disciplinas especializadas, a partir de um módulo básico, contando com especializações por faixa etária.
I - planejar as ações de ensino que resultem em efetivas aprendizagens;
II - criar e saber gerir os ambientes de aprendizagem;
III - avaliar o desenvolvimento do educando, a aprendizagem e o ensino;
IV - conduzir as práticas pedagógicas dos objetos do conhecimento, as competências e as habilidades.
Beatriz Ferraz, doutora em educação pela USP e fundadora e diretora-executiva da Escola de Educadores, expõe que as evidências indicam que os benefícios da interação com bons professores se estendem por toda a vida dos indivíduos, com efeitos que vão de influência na visão de mundo até ganhos salariais futuros.
“A qualidade da interação é elemento crucial para promover aprendizagem e desenvolvimento na primeira infância, o que implica professores atentos, responsivos às necessidades das crianças e engajados em promover o desenvolvimento integral”, ressalta Beatriz, especialista em liderança em políticas para a primeira infância pela Universidade Harvard.
I - comprometer-se com o próprio desenvolvimento profissional;
II - comprometer-se com a aprendizagem dos estudantes e colocar em prática o princípio de que todos são capazes de aprender;
III - participar do projeto pedagógico da escola e da construção de valores democráticos;
IV - engajar-se, profissionalmente, com as famílias e com a comunidade, visando melhorar o ambiente escolar.
*Resolução do CNE/CP nº 2, de dezembro de 2019, que define e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação)
Ser criativo, inovador, resiliente, perseverar, ter pensamento crítico e se abrir para o novo são competências necessárias para viver no século 21. O mundo inteiro está de olho no desenvolvimento de tais competências em qualquer cidadão, não só no profissional de educação. “Se a gente não tiver um professor inovador, ele não vai conseguir desenvolver nos seus alunos as competências urgentes para viver nesse cenário disruptivo, que exige criatividade, pensamento crítico, pensar fora da caixa”, assegura Mozart.
“Quando conversava num evento, a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos disse que hoje ainda contratam pelo cognitivo, mas que demitem pelo socioemocional, quer dizer, um profissional que não seja capaz de trabalhar em time, colaborativamente, está arruinado. E isso tudo você pode desenvolver num novo ambiente educacional, que é o que essa resolução invoca - repensar a sala de aula”, conclui.
As competências específicas da dimensão da prática profissional compõem-se pelas seguintes ações:
As competências específicas da dimensão do engajamento profissional podem ser assim discriminadas:
As competências específicas da dimensão do conhecimento
Informações pessoais digitais são tidas como o “petróleo” da contemporaneidade e, mesmo com leis como a LGPD, estão suscetíveis a violações
| POR Alexandre Le Voci Sayad
Aplicativos e plataformas online foram em grande parte responsáveis por mitigar as perdas de aprendizagem durante a pandemia. Sem esses instrumentos, a situação seria ainda pior. A crise sanitária trouxe para a escola uma aceleração do uso desse tipo de aplicação que pode encurtar distâncias, facilitar as relações entre escola e comunidade, auxiliar diretamente na aprendizagem ou então organizar agendas, estudos ou fluxos de trabalho.
Entre educadores, pais e estudantes há quem veja esse cenário como um copo meio cheio, outros como meio vazio. A diversidade de opiniões não poderia ser diferente diante das variáveis presentes na realidade desigual do Brasil, tais como qualidade de conexão, disponibilidade de aparelhagem, projetos pedagógicos e níveis de fluência digital. Assim, as experiências foram as mais diversas possíveis dentro da realidade de um ensino remoto emergencial e, posteriormente, nos projetos mais estruturados.
O que chama a atenção é que o debate público, muitas vezes de natureza instrumentalista como tem ocorrido na mídia, tem ocultado pontos importantes sobre o uso de plataformas online. O combustível que torna possível a personalização do ensino via plataformas, a segmentação das buscas por temas, a análise preditiva ou de tendência de determinadas áreas de ensino são menos os bits, e mais os dados dos usuários.
A pesquisa TIC Educação 2020, organizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), apontou que o uso massivo dessas tecnologias fez aumentar significativa-
mente o uso de dados de crianças, adolescentes e jovens. Para aprofundar a delicadeza do tema, um relatório recém-lançado da Human Rights Watch, que analisou a realidade de centenas de países em 2021, apresentou um resultado contundente: dos 164 produtos de educação digital analisados, 89% estavam envolvidos em práticas de dados que colocam os direitos das crianças em risco, contribuem para prejudicá-los ou violam ativamente esses direitos. Estes produtos monitoravam ou tinham capacidade para monitorar as crianças, na maioria dos casos secretamente e sem o consentimento das crianças ou dos seus pais, em muitos casos recolhendo dados sobre quem são, onde estão, o que fazem na sala de aula, quem são a sua família e amigos, e que tipo de dispositivo suas famílias poderiam pagar para eles usarem.
No caso do Brasil, dentre muitos produtos estão aqueles das gigantes Google e Facebook e alguns menores, utilizados, por exemplo, pelos alunos da Secretaria de Educação do Estado de S. Paulo.
É importante lembrar que, legalmente, há proteções suficientes para a privacidade dos dados tidos como “sensíveis”. A Convenção Internacional dos Direito da Criança (1989), o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), de 1990, e a mais recente a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), de 2018, inspirada no modelo europeu, são alguns dos mecanismos disponíveis. Mas fiscalizar se estão sendo seguidos à risca é um outro assunto, como prova a investigação da HRW, que também constatou que dados eram vendidos a terceiros com finalidades comerciais.
Há duas questões básicas que precisam ser esclarecidas para que o debate ganhe profundidade. A primei-
ra é: por que devemos nos preocupar tanto assim com nossos dados? E a segunda: se eu não digitei nenhuma informação minha em determinado site, então não devo me preocupar?
Em primeiro lugar, dados pessoais, dizem alguns autores, são o “petróleo” da contemporaneidade. São caros e muito visados para prever comportamentos políticos, sociais e de consumo por algoritmos de inteligência artificial. A IA, como é chamada, só foi se desenvolver mais amplamente entre 2006 e 2012 com a ampliação da banda da internet e o maior acúmulo de dados disponíveis. Em outras palavras, além de deixar os usuários em vulnerabilidade (um ponto de atenção à adolescência), o uso de dados pessoais sem a autorização prévia é como vender algo de propriedade de alguém sem remunerá-lo por isso. Vale lembrar que pagamos os serviços ditos “gratuitos” na internet, como os de e-mail, com nossos dados.
O segundo ponto é a compreensão do que são dados. Com a possibilidade de digitalização de imagens e filmes, dados não se resumem apenas a informações em letras ou números. Pelo contrário: fotos, filmes, rotas de navegação na internet, comportamento de usuários durante videochamadas, tempo gasto em determinada página, filmes, sons, cliques, geolocalização de celular. Tudo isso são dados úteis para sistemas de inteligência artificial. Dessa maneira, a maioria dos dados que deixamos em nossa na-
vegação são involuntários, ou seja, não realizamos nenhuma ação ativa para isso, como digitá-los no teclado.
Na linha do horizonte, a pergunta que fica é: para determinada finalidade, vale a pena eu deixar meus dados no caminho? Essa equação é vantajosa para mim? Na prática, é imprescindível a leitura dos herméticos e pouco simpáticos “termos de adesão” de sites e aplicativos, pois eles são obrigados, segundo a LGPD, a esclarecer como utilizam os dados dos usuários. No caso de menores de 18 anos, os responsáveis devem autorizar esse uso.
A questão do uso de dados é ainda incipiente no debate das políticas públicas, mas é urgente que gestores abram os olhos mais atentamente. O Marco Legal da Inteligência Artificial no Brasil (PL 21/20) que tramita no Senado, não contribui para a causa, pela superficialidade e equívocos.
A escola, por sua vez, deve atentar que não há pensamento crítico sem que a questão da IA e do uso de dados pessoais seja debatida com os estudantes; inclusive com a escuta ativa por parte dos adultos. O importante é tratarmos nossos dados pessoais com o devido respeito; como nossa propriedade.
A Human Rights Watch constatou que plataformas de educação online, em diversos países, compartilham dados dos estudantes de maneira irregular. São dados que indicam quem são, onde estudam, o que fazem nas aulas e até se suas famílias teriam condições de pagarem por outros aplicativos”
Arquivo pessoal
Autoconhecimento, habilidades socioemocionais, atitude empreendedora: o Projeto de vida, eixo transversal do novo ensino médio, vai muito além da escolha da profissão
Dentre as mudanças promovidas pelo novo ensino médio, atualmente sendo implantado em escolas de todo o país, está o Projeto de vida – presente também na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) –, eixo transversal dos conteúdos de todas as etapas do ensino e disciplina específica na grade curricular. O objetivo é propiciar ao aluno momentos de reflexão acerca de si mesmo, de suas decisões pessoais, profissionais e de seu futuro. Uma profissão que traga realizações é uma excelente meta, mas não é o único fator a determinar uma vida satisfatória. Além disso, ao desafio de fazer escolhas, soma-se a complexi-
dade do atual mundo do trabalho, repleto de incertezas, com a tecnologia que gera novas profissões, elimina e transforma outras.
Nesse contexto, a educação integral, bastante citada no BNCC, é valiosa. “É aquela que busca o desenvolvimento harmônico de todos os potenciais do aluno”, afirma Simone Cristiane Azevedo, professora e psicanalista. Ela ministra aulas para crianças do 2º ano do ensino fundamental, no Colégio da Companhia de Maria, no bairro Vila Nova Conceição, capital paulista. Ela conta que não houve mudanças significativas em sua atuação, pois a educação integral, a formação humanística, sempre foi o fundamento da metodologia aplicada no colégio.
Trabalhos em grupo são fundamentais para desenvolver as habilidades socioemocionais, compreende
Simone Cristiane Azevedo
“No ensino fundamental, nos anos iniciais, trabalhamos o reconhecimento do eu, do espaço físico ao qual pertenço e das próprias emoções. Isso vem como uma base, é uma construção, para quando chegar o momento de tomar decisões o jovem tenha maturidade emocional.” Os trabalhos em grupo e os projetos propiciam o autoconhecimento e o desenvolvimento das habilidades socioemocionais. “Por exemplo, vamos fazer uma maquete: uma criança tem mais facilidade para elaborar a sequência das etapas do trabalho, outra desenha, outra é mais hábil na construção. As habilidades ficam visíveis. As crianças também já se percebem – ‘Ah, vou fazer o cartaz, eu gosto de desenhar’
, elas vão se conhecendo e conhecendo as demais. Nesse contexto, percebem, também, que não pode ser tudo como elas querem.”
Por meio de projetos desenvolvem-se também a responsabilidade, a autonomia e o empreendedorismo. Simone estava com esses mesmos alunos no ano anterior, com os quais tratou do tema animais domésticos. A conversa levou à questão da adoção de animais. A responsável pela ONG Anjo dos Bichos esteve com as crianças e contou que a organização se sustenta por meio de doações. Como ajudar? As crianças fizeram releitura de obras, fabricaram brinquedos e casinhas de gato. Essa produção foi colocada à venda na escola durante sua feira cultural anual e os recursos arrecadados foram entregues à ONG: “foi um projeto simples, mas muito enriquecedor na perspectiva do Projeto de vida e uma de suas competências, o empreendedorismo”.
A disciplina Cultivo da Interioridade cria mais oportunidades: “eu estava falando sobre as várias histórias acerca do início do mundo e trouxe um conto indígena sobre o dilúvio. Quando perguntei quem sabia o que era dilúvio, um aluno que veio do
Recife mencionou as inundações em sua cidade
‘Estou muito triste com o que aconteceu lá’. As crianças conversaram, prestaram solidariedade; elas são muito afetuosas. Aqui, são as emoções que estão sendo trabalhadas, além do aspecto social”’.
O Colégio Inovar Veiga de Almeida, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, passou por reestruturação em 2018. Antecipando as premissas do novo ensino médio, introduziu o programa Humanamente, para alunos do 1º ao 8º ano e a disciplina Projeto de vida, a partir do 9º ano até o fim do ensino médio. Luinha Magaldi, diretora pedagógica, detalha: “o Humanamente conta com uma disciplina na grade curricular; uma vez por semana, a professora entra na sala de aula para promover reflexão, debate, escuta, investigação e questionamento. O objetivo é desenvolver nos alunos as competências e habilidades socioemocionais”. Nesse momento, o aluno é orientado para reconhecer suas emoções, pensamentos, sua maneira de escutar e o posicionamento do outro. Já nos anos finais do ensino fundamental, o conhecimento se amplifica, graças à abordagem da consciência social e das habilidades de relacionamento. “Fazemos certas provocações, por exemplo, ‘como o consumismo impacta meu projeto de vida?’”
A partir do 9º ano e no ensino médio, um profissional da área de psicologia positiva, comportamental, com formação em orientação vocacional, reúne-se uma vez por semana com os alunos. O objetivo é desenvolver o projeto de vida. “Não é só orientação vocacional, os encontros semanais abordam ansiedade, resiliência, personalidade e, também, carreira profissional.” Uma das atividades
O aluno é orientado para reconhecer suas emoções, pensamentos, maneira de escutar e, para se o posicionar-se diante do outro. Já nos anos finais do fundamental, habilidades de relacionamento e consciência social são estudados
ministradas no ensino médio tem como ferramenta a linha do tempo, quando o adolescente projeta sonho para dali 20 anos e o que ele precisa fazer para alcançá-lo. As frustrações, as mudanças de rumo num mercado de trabalho cada vez mais em ebulição também são discutidas. “A ideia é que os alunos estejam preparados para tomar decisões quando estiverem próximos ao vestibular. Gosto de dizer que o educamos para que estejam preparados, mas não prontos. Não fazemos vassouras, educamos gente, e gente nunca está pronta”, ressalta Luinha.
O empreendedorismo, competência também relacionada ao Projeto de vida, pode ser exercitado nas festas juninas, quando as barracas ficam sob a responsabilidade dos alunos. São momentos para aprender a relação custo/benefício, precificação, partilha de dividendos, com direito, inclusive, a aulas gratuitas disponibilizadas pelo Sebrae. O 9º ano conta, ainda, com aulas de educação financeira.
Fernando Damián Cruz Lopes é pedagogo e teólogo, coordenador da Formação Cristã e Pastoral do Colégio São Francisco Xavier, no Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo. Mexicano, está há 10 anos no Brasil. Para ele, “o contexto brasileiro e o da maioria dos países da América Latina desanimam a juventude, que deixa de ter esperanças, sonhos, ideais; os jovens ficam à deriva. Não é mais como nas gerações passadas, em que abraçávamos os ideais e lutávamos por eles. O que podemos fazer é utilizar ferramentas sólidas para que o jovem descubra o seu verdadeiro e mais profundo desejo e, com ele, fazer sua opção fundamental”.
Responsável por estruturar o novo eixo transversal para todas as faixas etárias, Fernando detalha as etapas: descoberta da história pessoal, compreensão da realidade social e histórica, revisão da atuação – como estou agindo agora? – e das relações pessoais, tomada de consciência dos sonhos, desejos, vocação e, finalmente, a descoberta de um horizonte, do futuro. No colégio, os exercícios espirituais, legado do fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola, é a base da pedagogia e da ação educativa, portanto, também norteiam o Projeto de vida.
No ensino fundamental, os temas são contemplados na disciplina Educação para a Cidadania. No ensino médio, a disciplina Projeto de vida, uma vez por semana, traz para os alunos do 1º e 2º ano do ensino médio os elementos contidos nos exercícios espirituais. O professor da disciplina é o educador mais antigo, que conhece os alunos desde o ensino fundamental; com ele, podem estabelecer um laço de confiança e honestidade. “Eu gosto muito da imagem do peregrino; o projeto de vida se inicia com uma peregrinação interna.”
“Ser magis é ser uma pessoa melhor”, diz
Fernando Damián
Cruz Lopes
A meta é alcançar o autoconhecimento e a compaixão. “Uma palavra bem interessante é magis; de origem latina, significa ‘mais, maior, melhor’. Ser magis é ter a capacidade de se questionar, de saber seus desejos mais profundos e, com esse entendimento, tornar-se uma pessoa melhor”, diz Fernando Damián.
Três unidades de uma mesma rede que se apoiam e ainda enaltecem mutuamente a própria individualidade
Aunião na elaboração de projetos, currículos e formação do corpo docente é um dos diferenciais da Rede de Educação Cabriniana, constituída por três colégios de educação básica: Boni Consilii e Madre Cabrini, na cidade de São Paulo, e Regina Coeli, localizado em Rio Pomba, Minas Gerais. A Rede atende do ensino infantil ao ensino médio e apresenta bons resultados de colaboração por respeitar as suas diferenças, como destaca Ascânio João (Chico) Sedrez, diretor pedagógico do Colégio Boni Consilii há cinco anos. “Ao mesmo tempo que tentamos aproximar os três colégios em projetos comuns, eles são pensados globalmente para a rede,
Para Marisa Ester, a escola precisa olhar para o mundo; não deve se fechar nos muros
primeiro da Rede a ser fundado, está no Antigo Palacete da Chácara do Carvalho, nos Campos Elíseos, São Paulo
mas levando em conta as nuances e os aspectos da realidade local. Por exemplo, nos itinerários formativos temos o mesmo desenho, mas a aplicação final é feita por cada unidade respeitando as suas possibilidades, custos e pessoal. Em algumas redes o processo é assim: você escuta todo mundo, faz um único formato e o aplica uniformemente, isso normalmente não funciona.”
Soraya Azevedo da Silva Furtado, diretora pedagógica educacional há quatro anos do Colégio Regina Coeli, também destaca a união das unidades como uma potência que traz benefícios. “Cada unidade agrega à Rede a sua potencialidade, e isso fortalece a todos, desde o corpo diretivo até os colaboradores docentes e não docentes.”
“Eu e o Chico trabalhamos na mesma cidade, mas o bairro dele difere do meu. Temos propostas macro, mas entendemos do micro, e isso é muito legal. A grande vantagem desta Rede é ter uma sintonia, uma unidade nos princípios, valores e particularidades, respeitando a localização e a comunidade. Quando estamos
“Digo aos professores: quem não é aprendiz não condiz com esta função”, conta Chico Secrez
com problemas, o Chico me liga ou eu ligo para a Soraya. Nós três, que somos diretores, temos esta troca e, se alguém precisar, já sabe a minha força e vice-versa. Temos ganhado bastante com isso; é um crescimento para a Rede”, particulariza Marisa Ester Rossetto, diretora pedagógica do Colégio Madre Cabrini desde 2018.
A primeira unidade da Rede de Educação Cabriniana é o Boni Consilii, fundado em 1903, porém reinaugurado com esse nome em 1937. Completando 120 anos, o colégio conta com 60 professores e 900 alunos, e cobra em média 1.500 reais de mensalidade.
Entre os destaques apontados pelo diretor Chico, além da infraestrutura da escola que carrega uma bagagem histórica, está a formação linguística, com a construção de um projeto bilíngue: os alunos do infantil ao 9º ano têm cinco aulas de inglês por semana. Segundo Chico é necessária a formação profissional para criar um futuro melhor. “Digo aos professores: quem não é aprendiz não condiz com esta função. Não dá para exigir do adolescente e da criança que aprendam se você não tem esta vontade de aprender, pois eles percebem. O professor e a professora são testemunhas de que vale a pena ser adulto, de que vale a pena estudar.”
A segunda unidade, Madre Cabrini, localizada na Vila Mariana, foi inaugurada em 1926 e conta com 140 colaboradores, dos quais 60 são do corpo docente. A mensalidade está na faixa de 2.300 reais. Marisa destaca a interação das famílias com a escola: além
“Em algumas redes o processo é assim: ‘você escuta todo mundo e faz um único formato que se aplica uniformemente’, isso normalmente não funciona”’, diz Chico SedrezFotos: Divulgação
da capacitação dos docentes em rede, provemos formação para as famílias. “Temos reuniões periódicas com os professores, em que trabalhamos o projeto pedagógico, as inovações metodológicas, as mudanças no currículo, além da abordagem sobre o ser humano. Quando acaba o trimestre, tratamos de um assunto específico;no caso de nossa última reunião, por exemplo, falamos de comunicação não violenta e sua importância. Os pais amaram. Costumamos reservar algum tempo, uns 40 minutos, e conversamos com eles sobre um assunto que vai ajudá-los.”
As duas unidades de São Paulo atendem no período regular, integral e semi-integral; já o Regina Coeli, somente em período regular. Fundado em 1928, conta com 400 alunos e 45 professores. A mensalidade está em torno de 350 reais a 900.
A diretora pedagógica Soraya vê como diferencial de sua instituição o desenvolvimento socioemocional aplicado não somente aos alunos, mas também ao corpo docente. “Os professores trabalham com os alunos para potencializar seus talentos, ajudar na construção da aprendizagem. É um corpo docente qualificado com relacionamento de mediação neste protagonismo do aluno.”
Tanto Chico quanto Marisa acreditam que a melhor maneira de pensar a educação do futuro é olhar para o presente. “A escola do futuro é aquela que olha para o mundo, que não se fecha nos muros, que trabalha para que as crianças possam enxergar o que está acontecendo lá fora. Ela vai preparar os indivíduos, dar o melhor de si, acompanhar a tecnologia, e fazer as pessoas serem melhores como bem coletivo. Não é competitiva, deve ser colaborativa, acreditar no ser humano”, defende Marisa.
Soraya Azevedo: a escola do futuro precisa ser desde já interativa, participativa, coletiva, socioemocional e tecnológica
Soraya complementa e finaliza: “Penso que precisa ser trabalhada a partir do presente. Para construí-la temos de fazê-la desde já interativa, participativa, coletiva, socioemocional e tecnológica. Desta forma conseguiremos uma escola não só do futuro, mas uma escola do agora com visão de futuro”.
Principal evento da revista Educação acontece de 16 a 19 de agosto em formato híbrido e gratuito
Atransformação da educação, dos primeiros passos ao ensino superior é o tema da 8ª edição do Grande Encontro da Educação (GEE), evento anual e gratuito da Plataforma Educação em parceria com a Plataforma Ensino Superior e que conta com certificado. Acontece nos dias 16 e 17 de agosto de forma híbrida no Inteli (USP Butantã, em SP), das 9h às 18h30, e 18 e 19 de agosto de forma online das 9h às 18h.
O GEE é voltado a educadores, gestores e demais profissionais envolvidos ou interessados no mundo da educação básica e superior. Mais de 30 especialistas qualificados participarão de painéis e papos rápidos.
Será abordada uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que destaca a importância de a criança construir uma maneira de agir, sentir e pensar, além da rediscussão do papel do ensino médio e do técnico que gerem empregabilidade – sem esquecer de desenvolverem habilidades humanas. Falaremos também do abandono dos 8 milhões de jovens com ensino médio que nunca chegarão a uma faculdade – a falta de mecanismo de financiamento mostra a indiferença do Estado na inclusão dessa geração perdida.
‘O que você vai ser quando crescer?’ Hoje já quase não se pode falar disso. Ninguém sabe as novas profissões que virão. À frente do prestigioso Instituto Mauá há seis anos, o reitor José Carlos de Souza Jr falará sobre como vê o desenvolvimento da sociedade e suas necessidades futuras de mão de obra. En-
genheiro em elétrica e eletrônica, tem contato com as principais empresas brasileiras que normalmente solicitam ajuda da faculdade para resolver problemas operacionais.
Hoje, quem fizer uma busca na internet vai achar as principais profissões do futuro, criadas por pessoas e instituições bem intencionadas, que são meras listas. No Grande Encontro da Educação, José Carlos vai esquadrinhar o horizonte empresarial e, no que chamamos papo rápido, trará dados importantes para os educadores.
Qual a preocupação da família e da escola sobre o encaminhamento futuro do jovem para o mercado de trabalho? E mais do que isso, como criar um arcabouço coerente com as novas necessidades? Isso explica a proposta do encontro, dos primeiros passos ao ensino superior.
Os curadores se propuseram a criar um evento para discutir todas as etapas da educação. Então se falará sobre o ensino infantil, o novo ensino médio, Enem, neuroeducação e todos os temas necessários para a compreensão da criança e jovem na sua integralidade. E para isso contará com os mais diversos especialistas. Imperdível.
As 400 primeiras pessoas que se inscreverem no formato híbrido e comparecerem, receberão no período da tarde a coleção História da pedagogia. Todos os inscritos recebem e-book com crônicas de Rubem Alves.
9h Abertura
9h10 Homenagem
9h45 BNCC e educação infantil
10h45 Coffee break
11h15 Painel oferecido pelo Cel.Lep
12h00 Neuroeducação
13h00 Almoço
14h30 Papo rápido - Educação viva
15h05 Diretor escolar transformador: criatividade para superar desafios
16h10
16h50 Coffee break
17h20 O que as escolas aprenderam com a pandemia
18h25 Encerramento
9h Abertura
9h10 Homenagem
9h45 Quem tem medo do novo ensino médio
10h45 Coffee break
11h15 Painel oferecido pela International School
12h00 Um Enem diferente. Vai ser melhor?
13h00 Almoço
14h30 Não existe matemática sem criatividade
15h35 Talk show - oferecimento Editora do Brasil
15h55 Coffee break
16h25 A urgência da saúde mental na escola
17h30
18h15 Encerramento
9h Abertura
9h10 Homenagem
9h45 Com queda no investimento, vamos superar o atraso?
10h50
11h35 Muita informação, pouca verdade
12h35 Almoço
13h15 Papo rápido – Professor também sofre bullying
13h50
13h35 Como formar novos leitores
14h40
15h25 Intervalo
15h30 Papo rápido - Marketing escolar
16h05 Como incluir uma educação antirracista
17h10
17h55 Encerramento
19 DE AGOSTO, SEXTA-FEIRA, ONLINE
9h Abertura
9h10 Homenagem
9h45 A redescoberta do ensino técnico
10h50
11h35 Inclusão
12h35 Almoço
13h15 Papo rápido - Do papiro ao digital: sua biblioteca acompanha essas mudanças?
13h50
13h35 Gerações perdidas: jovens fora do ensino superior
14h40
15h25 Intervalo
15h30 Papo rápido - Profissões do futuro
16h05 Quem prepara para o trabalho: universidade ou mercado?
17h10
17h55 Encerramento
Machado de Assis fala da educação que destina ao fracasso social e moral, por ser frouxa e inconsistente
| Por João Jonas Veiga SobralNo capítulo O menino é o pai do homem, de Memórias póstumas de Brás Cubas, o protagonista credita grande parte de seu caráter à educação que teve em casa – uma mãe pouco participativa na formação moral do filho e um pai benevolente. Pais inconsistentes, que geraram uma criança inconsistente. “Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; e verdadeiramente não era outra cousa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. (Meu pai) às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particu -
lar dava-me beijos. (...) mas entre a manhã e a noite fazia uma grande maldade, e meu pai, passado o alvoroço, dava-me pancadinhas na cara, e exclamava a rir: Ah! brejeiro! ah! brejeiro!”
Havia na família de Brás quem reprovasse a educação inadequada e de moral frouxa dada ao menino, no entanto as recomendações do tio ao pai não tinham efeito. “Meu tio cônego fazia às vezes alguns reparos ao irmão; dizia-lhe que ele me dava mais liberdade do que ensino e mais afeição do que emenda; mas meu pai respondia que aplicava na minha educação um sistema inteiramente superior ao sistema usado; e por este modo, sem confundir o irmão, iludia-se a si próprio.”
Machado relativizava com sabedoria a educação cheia de amor, de carinho e de poucas regras. Percebia claramente que essa formação moral, responsabilidade fundamental da família, destina o filho ao fracasso social e moral, por ser frouxa e inconsistente e também por transformar o filho em um imperadorzinho irresponsável, imune às frustrações da vida, como se evitar decepções fosse possível e bom.
O Bruxo do Cosme Velho sabia que os jovens são bons observadores e intérpretes dos adultos que os cercam. Percebem com tranquilidade a incongruência do que está sendo professado com o que se pratica na vida cotidiana. Observava que, muitas vezes, não havia na educação, dada em casa, aconselhamentos para adoção de comportamento que produzissem algum valor moral razoável. Reforçava-se sempre o mimo. Educava-se um mimado e um príncipe, nunca um jovem responsável e sujeito a frustrações e responsabilidades.
Evidentemente que educa mal um pai ou mãe que, com o filho dentro do carro, ultrapassa o semáforo vermelho ou fala ao celular enquanto dirige, ou estaciona em lugar proibido ou para em fila dupla. Se a mãe abraça o filho depois de uma repreensão paterna ou o pai abraça depois de uma reprimenda materna, eles estão ensinando-o a manipular os afetos.
Os filhos aprendem em casa com os valores que veem e presenciam em sua vida diária. Se percebem frouxidão moral ou inconsistência de autoridade, herdarão exatamente o que presenciam. Se os filhos observam que pais preferem negociar valores morais para não deixar de ser amados, rapidamente entenderão a regra do jogo e farão uso dela. Se observam que os pais desejam ser os seus melhores amigos, percebem que a assimetria dançou e manobrarão os afetos de acordo com a relação posta.
A escola também não passou impune sob a pena do mestre: “Demos um salto por cima da escola, a enfadonha escola, onde aprendi a ler, escrever, contar, dar cacholetas, apanhá-las, e ir fazer diabruras, ora nos morros, ora nas praias, onde quer que fosse propício a ociosos”. Ou como aponta em O Conto de escola: “Raimundo e Curvelo, que me deram o primeiro conhecimento, um da corrupção, outro da delação”.
Uma escola que ensina fórmulas, a memorizar nomes de países, dados da natureza, regras gramaticais, fatos
históricos não contribui para a formação de um jovem. Uma escola que não problematiza questões do mundo e da vida reforçará a tal da moral frouxa. Não é incomum um aluno obter nota excelente em uma redação sobre valores éticos, mas ser preconceituoso com tranquilidade, furar filas e defender na vida prática o contrário do que entrega no texto escolar.
Se os pais, associados à escola, impõem como castigo a uma criança o estudo, a leitura de um livro ou algo com valor cultural e pedagógico, não haverá dúvida de que ela entenderá que aprender ou apropriar-se de um bem cultural é uma chatice, um incômodo ou uma punição. Frases do tipo “Leia, será bom para você um dia” vêm carregadas do subtexto “agora é ruim, eu também concordo, mas não tem jeito, somos obrigados a fazer isso”.
No consórcio família e escola, Machado via, muitas vezes, o fracasso da formação de uma criança e de uma juventude transformadora, porque via nos dois processos formações repletas de vicissitudes e de formação de verniz oco, sem nenhum valor moral ou transformador razoável. Colocava em xeque o papel da escola e da família na manutenção e nos questionamentos dos valores morais e sociais:“Minha mãe doutrinava-me a seu modo, fazia-me decorar alguns preceitos e orações; mas eu sentia que, mais do que as orações, me governavam os nervos e o sangue, e a boa regra perdia o espírito, que a faz viver, para se tomar uma vã fórmula”. “Não digo que a universidade me não tivesse ensinado alguma; mas eu decorei-lhe só as fórmulas, o vocabulário, o esqueleto. Tratei-a como tratei o latim; embolsei três versos de Virgílio, dois de Horácio, uma dúzia de locuções morais e políticas, para as despesas da conversação. Tratei-os como tratei a história e a jurisprudência. Colhi de todas as coisas a fraseologia, a casca, a ornamentação...” E, com isso, via o fracasso monumental da educação nas duas principais instâncias de formação de um indivíduo: em casa e na escola. Uma lustrando o verniz da ornamentação da outra.
Crianças aprendem em casa com os valores que veem e presenciam em sua vida diária
A minha “carreira” foi subitamente interrompida quando o país precisava de “carne para canhão”. Eram três as frentes da guerra colonial. E, sabendo o regime que o vosso avô era “contra a ditadura”, fez de um jovem estrábico um atirador de infantaria.
Sempre que me perguntavam por que trocara a engenharia pela educação, eu respondia:
“Quando decidimos ser professor, fazemo-lo por uma de duas razões: ou por amor, ou por vingança. Fui para a educação por vingança. Nela fiquei por amor”.
Fracassou a intenção de me fazer morrer em terras africanas. E quem se “vingou” fui eu. Militar pacifista, no “25 de abril” de 74, vesti farda de combate, para ajudar a fazer a “Revolução dos Cravos”, extinguir o fascismo, recuperar a democracia.
Educador consciente de que ninguém adormecera “fascista”, no dia 24 de abril, nem acordara “democrata”, no dia 25, me lancei na senda de uma educação libertária. Pois, como diria o amigo Marcos, “os “dias D” não passam mesmo de uma efemeridade, de um analgésico para entorpecer a responsabilidade nossa de todos os dias”.
A ditadura durara 48 anos. O “25 de abril da Educação” demorou 48 anos a chegar, o tempo em que vigorou uma espécie de “ditadura da burocracia”.
O 25 de abril de 2022 me encontrou em Braga. Na mesma cidade onde, no “28 de maio” de 1970, o dia comemorativo da implantação da ditadura de Salazar, eu estivera.
Era um jovem impulsivo. Intervim no evento, criticando o regime. E experimentei as consequências desse irresponsável ato. Nada que se comparasse ao sofrimento daqueles que pagaram com a vida a ousadia de defender ideais democráticos.
48 anos depois, os presos políticos do tempo da ditadura lutavam pela preservação de uma memória coletiva. Nos jornais, alertavam para o branqueamento do fascismo e recordavam a dura ditadura: Maria e José, presos políticos durante o Estado Novo, pagaram com o corpo por lutarem pela liberdade, contra a censura, contra a guerra colonial, pelos direitos dos jovens e das mulhe -
res. Por ser visto como um líder nas ruas, José foi muito torturado.
“Acreditem, foi realmente muito duro. Eu já devia estar praticamente a morrer quando eles desistiram. Portanto, viram que eu não falava ” – conta, incapaz de conter as lágrimas. Foi interrogado durante 21 dias e só dormiu uma noite. Foram mais de 500 horas de tortura, que deixaram marcas no corpo e na memória.
Nos idos de 20, quando assisti à ascensão ao poder de alguém que venerava torturadores e à ascensão da extrema-direita na França, deparei com uma mensagem de WhatsApp, que dizia assim:
“Madame Le Pen pode ganhar na próxima. Tem projetos nacionais, embora todos horrorosos. Mas já tem 41,2% dos votos. Em Portugal, a extrema-direita passou de um para 12 deputados na Assembleia da República”.
Comentei o “post”:
“Na França, em Portugal, como nos EUA ou na Rússia, basta ficar atento ao que se fez (e se continua a fazer) da educação familiar, social e escolar, para encontrar uma primeira explicação para esse fenômeno.
Com paliativos pedagógicos mantemos um instrucionismo que agoniza, desde há mais de um século. Nem sequer criamos práticas fundamentadas no paradigma da aprendizagem (são escassas as iniciativas, são particulares e, quase todas, caricaturais). Urge conceber uma Nova Construção
Social de Educação, síntese dos dois paradigmas e acrescentada de contribuições do paradigma da comunicação. Se o não fizermos, novas ucrânias surgirão. Os extremismos se consolidarão, a barbárie se instalará”.
Como dissera a Mónica, “quando o Homem para de se questionar, a humanidade para de evoluir”.