Entrevista
Silvio Gallo: BNCC é um desastre para a educação brasileira

revistaeducacao.com.br
Alfabetização
Prejuízo infantil com aprendizagem enfraquecida nos últimos anos


Personalidade Anseio pelo perfeccionismo afeta corpo e a saúde mental
Entrevista
Silvio Gallo: BNCC é um desastre para a educação brasileira
revistaeducacao.com.br
Alfabetização
Prejuízo infantil com aprendizagem enfraquecida nos últimos anos
Personalidade Anseio pelo perfeccionismo afeta corpo e a saúde mental
ANO 26 Nº285
Com a radicalização dos debates na sociedade, professores(ras) veem os princípios educacionais ameaçados quando famílias passam a querer pautar temas que os jovens devem ou não aprender
VAMOS JUNTOS CRIAR O
Transamerica Expo Center 10 a 13 de Maio Stand na Rua D 80
REFERÊNCIA EM ENSINO BILÍNGUE NO BRASIL:
· +DE 320 ESCOLAS
EM TODOS OS ESTADOS BRASILEIROS
· +DE 130MIL
ALUNOS ATENDIDOS
· ALUNOS COM CERTIFICADOS INTERNACIONAIS COM AS
MELHORES NOTAS
5 DIFERENCIAIS
· PODER CONTAR COM A MARCA REFERÊNCIA EM EDUCAÇÃO BILÍNGUE NO BRASIL
· TER SEMPRE O MELHOR E MAIS COMPLETO SUPORTE
QUE AJUDA A TRANSFORMAR AS ESCOLAS
· ALUNOS UTILIZANDO TECNOLOGIAS MAIS CRIATIVAS E AVANÇADAS PARA APRENDER O IDIOMA
· TER ACESSO AOS MELHORES CONTEÚDOS E PARCERIAS
INTERNACIONAIS PARA CERTIFICAÇÃO
· MARCA PENTACAMPEÃ DO PRÊMIO TOP EDUCAÇÃO, O MAIS IMPORTANTE DO BRASIL
GANHE UM BRINDE ESPECIAL!
Quer um brinde exclusivo da International School, a maior referência de educação bilíngue no Brasil? Escaneie o QR Code e receba diretamente na sua casa!
Promoção válida por tempo limitado ou enquanto houver estoque disponível, exclusivo para respostas completas com nome, endereço e dados básicos de contato para viabilizar envio do brinde com entrega em domicílio.
Aeducação no Brasil não anda bem. Os dados, aliás, são alarmantes. Na edição de abril desta revista fizemos uma compilação de algumas “pérolas” dos ex-ministros da Educação. O quadro é de uma pobreza atroz, que vai desde o uso do português de forma equivocada a interferências de bispos no butim do FNDE (Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação), o que ocasionou a troca do quarto ministro, em três anos.
Esse quadro propiciado pelo governo federal trouxe também a tonitruante Escola sem Partido que transformou até mesmo as novas orientações da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) em querelas ideológicas. Isso está presente na matéria desta edição, que aborda o medo dos professores de tratarem em sala de aula de temas da atualidade e das transformações sociais. É empobrecedor. Além disso nos traz a censura, aliás, a pior dela, a autocensura. Se o país não se livrar dessas amarras que servem a grupelhos, estaremos formando gerações com pouca autonomia intelectual, convergindo para um país desqualificado.
Nesse quadro institucional, a pandemia teve um peso além do que seria concebível, a exemplo de outros países. Um mapeamento feito pela Secretaria da Educação de São Paulo em parceria com o Instituto Ayrton Senna identificou que 69% de mais de 642 mil estudantes da rede estadual relatam ter sintomas ligados a ansiedade e depressão.
O Instituto Unibanco e o Insper divulgaram pesquisa que constata que “em um cenário mais favorável, considerando o avanço da vacinação no Brasil e no mundo, em especial a de crianças e adolescentes, 2022 pode ser um ano para recuperação da aprendizagem. O caminho ainda é longo, mas é possível reverter. Será necessário buscar um retorno seguro, tendo a vacina como grande aliada, e também considerar o ensino híbrido, o uso das tecnologias e a garantia de que os estudantes tenham acesso à educação nesse contexto de retomada”.
Num debate realizado em Harvard, Paulo Lemann assegurou que a educação brasileira teve o pior desempenho em anos recentes. “A principal coisa que estou tentando fazer é melhorar a educação em termos de tornar as pessoas capazes de participar da economia das startups ou mesmo ser competitivas no mundo.” Agora é esperar que a partir de 2023 tenhamos de novo políticas públicas para a educação que sejam a continuidade de tantos projetos interrompidos nos últimos três anos.
Que isso passe logo e possamos proporcionar para crianças e jovens condições melhores para enfrentar um mundo tão surpreendente.
Boa leitura.
A Plataforma Educação, composta por edições digitais e impressas, site, redes sociais e eventos, é publicada por RFM Editores
Ano 26 - Nº 285 maio de 2022
ISSN 1415-5486
www.revistaeducacao.com.br
Conselho editoral
Clara Cecchini
Eduardo Deschamps
Fernando José de Almeida
Iracema Nascimento
Mozart Neves Ramos
Publisher: Edimilson Cardial edimilson@plataformaeducacao.com.br
Editora: Laura Rachid laura@plataformaeducacao.com.br
Diretora administrativa: Rita Martinez rita@editorasegmento.com.br
Diretora de marketing: Carolina Martinez carolina@plataformaeducacao.com.br
Parcerias Institucionais
Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) Undime SP (União dos Dirigentes Municipais de Educação) Jornal Joca - para jovens e crianças
Sua Escola Ideal
Two Sides
Colaboraram nesta edição
Alexandre Sayad
Damaris Silva
Fernando José de Almeida
Jalveria Salman /The Hechinger Report
João Jonas Veiga Sobral
José Pacheco
Karen Cardial
Leticia Scudeiro
Luciana Alvarez
Revista Mente e Cérebro
Sandra Seabra
Simône Midori Maki (diagramação) Maria Stella Valli (revisão)
COMERCIAL
Gerente de comunicação e eventos: Margarete Rios Silva margarete@rfmeditores.com.br
Cel.: (11) 99995-1284
Correspondências
Rua Oscar Caravelas, 334 - Vila Madalena, SP CEP 05441-000
Os Editores
INTERNET
Visite a página online da Educação www.revistaeducacao.com.br
Nos siga nas redes sociais @revistaeducacao
Errata
Edição anterior, 284, seção Futuro da Escola: a gestora e diretora do Colégio Passionista Nossa Senhora Menina é a Irmã Mercedes Scortegagna. Já Rossana Marchiori de Souza Ramos é coordenadora do fundamental 2 ao médio e supervisora pedagógica.
Para falar sobre assinaturas: assinaturas.plataformaeducacao@gmail.com
WhatsApp: 11 98878-8745
Ideias inspiradoras para ajudar você a
Professores relatam problemas que já tiveram com aulas que desagradaram famílias dos alunos – em muitos casos, direção e coordenação devem servir de blindagem
Para o doutor em educação e referência em pedagogia libertária, Brasil vive desde 2018 a interrupção da produção de políticas públicas educacionais que teve início na LDB de 1996 e alerta: BNCC e novo ensino médio esvaziam o papel da filosofia
Indispensável para a aquisição de todas as aprendizagens escolares, especialistas constatam que a alfabetização não ocorreu, depois de praticamente um biênio, no ensino remoto
Cuidado básico para proteção de dados pessoais gerados em ambiente educacional digital é deixar isso estabelecido no contrato com empresa fornecedora
O PRÊMIO, QUE CHEGA À SUA 16 ª EDIÇÃO, É UMA INICIATIVA DAS PLATAFORMAS EDUCAÇÃO E ENSINO SUPERIOR.
As indicações para o prêmio começam na BETT BRASIL 2022, entre 10 e 13 de maio, no Transamerica Expo Center.
Indique suas marcas favoritas e ganhe um e-book de crônicas escritas por José Pacheco. Você pode indicar acessando o site premiotopeducacao.com.br
Não deixe de participar!
Para saber mais sobre o regulamento do prêmio e conhecer as categorias concorrentes, acesse premiotopeducacao.com.br
Para o doutor em educação, Brasil vive desde 2018 a interrupção da produção de políticas públicas educacionais que teve início na LDB de 1996, e alerta: BNCC e novo ensino médio esvaziam o papel da filosofia
Propulsor da pedagogia anarquista, Silvio Donizetti de Oliveira Gallo é filósofo, pedagogo, doutor em educação e professor da Faculdade de Educação da Unicamp. É contra a atual Base Nacional Comum Curricular (BNCC): “é o grande desastre para a educação brasileira contemporânea”, afirma. Ele acredita que sua implantação não trará pontos positivos, entre as críticas, por conta de a estrutura educacional brasileira ser disciplinarizada. Decreta ainda que o projeto de vida gerará frustrações aos jovens, sobretudo os periféricos.
Autor de livros como Deleuze e a educação (ed. Autêntica) e Metodologia do ensino de filosofia: uma didática para o ensino médio (ed. Papirus), nesta conversa feita por videoconferência, destaca também os principais pontos dessa pedagogia tida como libertária. Confira a entrevista.
É a teoria e a prática pedagógica criada pelo movimento anarquista desde a segunda metade do século 19 que procurou propor uma outra escola. Temos um contexto no âmbito do movimento operário, em princípio europeu, depois se espalhando pelo mundo, de várias tendências de pensamento dentro desse movimento operário e uma delas é a dos anarquistas, que faziam crítica à sociedade capitalista e defendiam uma superação da sociedade capitalista. Para esses militantes operários, sem pensar a educação, e aqui de forma bem ampla, a gente não transforma. Por exemplo, trabalhadores precisam ser instruídos e naquela época muitos nem eram alfabetizados. E eles tinham cursos de alfabetização para os trabalhadores lerem os jornais, revistas que o próprio movimento operário publicava para disseminar as informações. Para eles
um trabalhador que não é instruído, educado, não vai tomar consciência de que é explorado e da necessidade de lutar para superar essa condição de exploração.
Além disso, partindo do princípio de que a escola capitalista não daria para eles a educação que achavam que deveria ser dada, começaram a propor processos de criar novas escolas que fossem produzidas pelos próprios trabalhadores para seus filhos e filhas e que nelas se operasse uma série de transformações em relação à escola existente no momento, ou seja, à escola pública e também nas privadas que normalmente pertenciam a congregações religiosas. Então eles queriam mudar toda a metodologia de trabalho, técnica de ensino, e aí produzem uma teoria pedagógica composta por uma concepção do que é educar, como educar, o que produzir com educação, e uma prática pedagógica, porque eles vão criar escolas e desenvolver na prática esse processo de educação.
Qual a diferença de uma educação tradicional para a libertária?
Importante dizer que essas escolas libertárias, anarquistas, foram produzidas em um momento histórico em que começou a crescer no mundo um movimento das pedagogias alternativas.
Por exemplo, havia uma crítica forte entre eles de que a educação capitalista, que eles chamavam de tradicional, era uma educação muito intelectualizada no sentido de que ela se limitava a uma transmissão de conteúdo. Então defendiam o que depois passou a ser chamado de pedagogia ativa. Outra feição disso veremos depois com o construtivismo, com Piaget, por exemplo. A educação científica também ganha importância muito forte, isso no final do século 19. Eram atendidos filhos de trabalha-
Silvio Gallo: polarização política também está presente em outros países
dores, classes mais pobres, e as escolas eram superequipadas com laboratórios complexos porque a ideia era que as crianças tinham que ir para o laboratório e lá não era só espaço de exemplificação do que aprendiam na sala de aula, o movimento era o contrário. Eles costumavam levar crianças para o laboratório de química, por exemplo, e supervisionados faziam experimentos, anotavam os procedimentos, os resultados e depois iam à biblioteca pesquisar o que acontecia. É uma tentativa de você seguir o próprio método científico.
Também davam importância à educação profissional para que essas crianças pudessem, na escola, aprender os mais variados ramos profissionais, porque depois conseguiriam se colocar no chamado mercado de trabalho e escolher algo que as satisfazesse e não apenas pensar em trabalhar para sobreviver. Tinham de um lado o laboratório e do outro oficinas em que as crianças aprendiam muita coisa. Tinham oficinas de marcenaria, metalurgia, de gráfica, cozinha, costura.
A BNCC e o novo ensino médio são necessários? O senhor concorda com a forma como estão sendo implantados?
Como alguém que tem vivido esse momento, acho que nunca se produziu tanta política pública na educação do Brasil como depois de 96, da LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional] até os nossos dias. Foi uma produção intensa, com diferentes governos e por isso uso a ideia de governamentabilidade de Foucault [que Silvio Gallo propõe chamar de governamentalidade democrática], porque não é um programa de um determinado partido ou presidente da República, mas é uma política de Estado, uma forma do Estado brasileiro de funcionar. Não importa quem está na presidência, o partido, a lógica é essa. E no caso da BNCC, ela é decorrência de tudo isso que se produz a partir da LDB. O Ministério da Educação abria consultas, fazia debates, chamava especialistas, fazia primeira versão do documento [da Base] e circulava, havia revisões. Só que aí temos um atravessamento importante com o governo
Temer em 2017-2018 que resolve acelerar o processo e de algum modo finalizar o documento. Antes havia debate com os mais variados campos sociais e, em 2018, Temer fecha isso em uma pequena comissão que faz a redação final, aprova e coloca em vigor.
Mas o Ministério da Educação não foi o único influente para a aprovação da BNCC.
O que vemos sendo recuperado na BNCC é uma lógica que estava presente no Ministério da Educação logo depois da LDB, quando se produziram os Parâmetros Curriculares Nacionais, que são a lógica das competências e habilidades. De 2001, 2002 para a frente, a lógica das competências perde força na produção de políticas públicas educativas e ela não estava tão presente nos debates em torno da BNCC até 2015, 2016. Só que um grupo influente e que defende a pedagogia das competências estava lá fazendo o trabalho político deles; em um determinado momento não tinham muito eco e com o governo Temer encontram esse eco e finalizam a BNCC retomando o viés da pedagogia das competências que vem do final da década de 1990, e que do meu ponto de vista é um grande desastre para a educação brasileira e vai se refletir no chamado novo ensino médio que também passa pelo mesmo movimento.
O ensino médio vinha sendo debatido intensamente e com o governo Temer se fecha com determinado grupo, uma supostamente nova concepção de ensino médio se aprova e se implementa. Acho desastroso porque temos no Brasil uma tradição disciplinar muito forte nas escolas e sou crítico dessa tradição, não gostaria de ter uma escola disciplinarizada. Inclusive, porque na pedagogia libertária já temos toda uma lógica de desmontar a disciplinarização da educação. Só que aqui, em termos de educação brasileira, nunca fomos na direção de desmontar a disciplinarização. E quando entramos com a lógica da pedagogia das competências e habilidades, enfatizan
-
Anarquistas criticavam que a educação capitalista, chamada de tradicional, se limitava à transmissão de conteúdo
do não o conhecimento, mas as competências e habilidades, isso vem com força. Por exemplo, o que teremos via BNCC e no novo ensino médio é a organização da escola não em disciplinas, mas em áreas do conhecimento absolutamente falsas porque, falando da minha área, ciências humanas, os professores de ciências humanas não são professores de ciências humanas, são professores de história, geografia, filosofia, sociologia. E impor a esses professores que eles não deem aulas das suas disciplinas, mas da área, é um engodo.
Será muito ruim para a formação dos nossos jovens justamente por esses problemas de formação dos professores. Não me parece modelo adequado. Mas, se a gente considerar coletivamente que é o modelo adequado, a implantação dele deveria se dar primeiro com uma mudança nas licenciaturas, formações de professores para que a gente tivesse professores efetivamente formados de acordo com essa lógica. Mas fizemos o movimento contrário.
Num momento em que a questão socioemocional ganha peso na educação, qual o papel da filosofia no ensino médio no desenvolvimento de autoconhecimento dos estudantes?
Não sei se concordo que essa educação socioemocional ganha peso e se com a BNCC isso é enfatizado. As pessoas afirmam que sim, mas tenho dúvidas. Por exemplo, o projeto de vida vai produzir muita frustração em nossos estudantes, especialmente os de baixa renda. Meu incômodo com a BNCC é que acho que ela vai aprofundar o
fosso que temos entre a educação das classes mais favorecidas e menos favorecidas. Porque nas classes mais favorecidas cujas escolas privadas têm dinheiro, coisas interessantes poderão ser feitas, garantindo uma formação que não vai prescindir das disciplinas e dos conteúdos. Você pode colocar ênfase nas competências, habilidades, mas os conteúdos estarão lá. E quando a gente entra nessa questão do projeto de vida no contexto de uma sociedade neoliberal vemos que se enfatiza o protagonismo e empreendedorismo, por exemplo, e que viram palavrachave para tudo: você tem que empreender, tem que ser protagonista da sua vida. Dizemos a um aluno pobre de periferia que ele tem condições de fazer um projeto de vida e ele vai investir emocionalmente nesse projeto de vida que a escola pede e o mobiliza a construir, e muitas vezes – em alguns casos se realiza – isso não vai se realizar e produziremos muita frustração emocional.
Vejo essa atual política educativa esvaziando o papel da filosofia. Ela está um pouco em tudo e tudo diz respeito a ela também. Então a filosofia está em diálogo com a matemática, física, biologia, história, sociologia. Só que o grande problema que temos no Brasil é a nossa estrutura escolar disciplinar; por que a filosofia não funcionou lá nos Parâmetros Curriculares Nacionais, por exemplo? Porque temas filosóficos apareciam de forma transversal e nossos professores das disciplinas específicas não eram formados para trabalhar esses temas transversais e muitos desses temas eram filosóficos, como a ética, por exemplo. Um professor de matemática, português não é formado para
O que teremos via BNCC e no novo ensino médio é a organização da escola não em disciplinas, mas em áreas do conhecimento absolutamente falsas“Governo Temer interrompe debate democrático que ocorria há pelo menos 30 anos” Arquivo pessoal
trabalhar com ética. E os Parâmetros diziam que a ética é um tema tão importante que ela não pode ser uma disciplina, tem que estar em todas. Legal, discurso bacana. Mas na prática ela simplesmente não aparece na escola porque cada professor vai trabalhar o seu tema, assunto, conteúdo. Lutamos muito para incluir a filosofia como disciplina na educação básica porque a lógica das nossas escolas é lógica disciplinar. Se você não tem uma disciplina de filosofia não tem como contratar professor de filosofia. Com isso tivemos que lutar para que a filosofia aparecesse como disciplina. No entanto, com a BNCC, quando a gente joga para as questões das áreas isso se dilui, a gente perde o que havíamos alcançado com a lei de 2008 da obrigatoriedade da filosofia como disciplina. Do meu ponto de vista, você precariza a presença da filosofia na escola.
O senhor afirma que, embora não se declarassem anarquistas, os filósofos Gilles Deleuze (19251995) e Michel Foucault (1926-1984) se enquadravam nessa categoria. Por quê?
É um tema polêmico porque esses filósofos nunca se colocaram como pensadores anarquistas. Mas do meu ponto de vista, eles têm uma postura anarquista em relação ao pensamento. Por quê? Justamente porque em cada um deles isso é distinto. No caso do Deleuze, por exemplo, afirma em alguns momentos que temos o nosso pensamento controlado pelo Estado, o Estado define formas de pensar e somos moldados por essas formas de pensar. Ele defende que nós escapemos dessas formas de pensar, que nós façamos o combate desse controle do pensamento e sejamos capazes de pensar de modo autônomo. Do meu ponto de vista isso é uma postura estritamente anarquista. Já Foucault argumenta de outra maneira; ele tem um diálogo talvez mais forte em seus textos com o anarquismo porque foi alguém que se dedicou com ênfase a estudar o fenômeno do poder, mas a diferença do Foucault em relação aos anarquistas - e isso ele deixa claro - é que os anarquistas procuram combater o poder e
Foucault vai dizer: é impossível uma sociedade humana que não seja permeada pelas relações de poder. Para ele o que tem de mais básico na sociedade humana são as relações de poder. Então, se os anarquistas combatem o poder, Foucault não pode ser considerado anarquista, mas, ao mesmo tempo, a forma como ele concebe o poder o aproxima do pensamento anarquista.
No começo do ano, foi publicado na França um livro que li rapidamente de uma filósofa francesa contemporânea [Catherine Malabou*] que trata justamente das relações entre filosofia e anarquistas e ela trata desses autores da segunda metade do século 20 que têm relação com o anarquismo, mas que explicitamente dizem que não são anarquistas.
*Obra Au voleur! Anarchisme et philosophie (ed. PUF, 2022)
Pensando no momento político brasileiro atual, pode-se dizer que a sociedade vai sempre marchar dividida em dois blocos de pensamento?
Não sei, difícil dizer. Diria que necessariamente a sociedade é dividida. Acho que o problema se agudiza quando essa divisão se faz em dois blocos. Penso, e aí tem muito a ver com a minha forma de ver a realidade, que devemos enfatizar o múltiplo, as diferenças, as possibilidades. Cada um deve ter condições de pensar por si mesmo, de ter suas próprias posições, de tomar suas decisões e de participar do debate. Não defendo uma sociedade que se baseia em consensos, que a gente chega a ideias únicas, muito pelo contrário. Quanto mais plural for a sociedade, melhor. O problema é que assistimos nos últimos anos a uma polarização que se fez de forma absolutamente improdutiva porque cada um dos lados se fechou em si mesmo e um ataca o outro. Com isso não conseguimos produzir um projeto comum, esse é o nosso grande problema. O problema é que também não vejo muita saída. Costumo ser uma pessoa otimista, mas estou muito pessimista tanto em relação à política educacional quanto à política brasileira em geral. E também não é uma situação exclusiva do Brasil. A polarização não se dá apenas aqui, está presente em outros países.
Mudanças educacionais atuais deveriam se dar primeiro nas licenciaturas, nas formações dos professores.
Mas fizeram o contrário
Recuperado do incêndio que o destruiu totalmente em dezembro de 2015, o Museu da Língua Portuguesa, em SP, apresenta até 12 de junho a exposição Sonhei em Português!, que tem como um de seus núcleos principais a experiência de imigrantes de várias nacionalidades em São Paulo – uma cidade cuja história e cujo presente são indissociáveis da imigração. O título da mostra vem de um dos depoimentos exibidos e alude ao momento simbólico em que o imigrante concretiza sua ligação pessoal com a terra que o recebeu. “As línguas são diferentes porque refletem ideias, valores, conhecimentos e visões do universo também diferentes entre si. Cada língua é uma visão do cosmo, com seus provérbios, suas sonoridades, seus ritmos e sua poética própria. Cada uma delas organiza a seu modo a experiência do mundo”, explica a curadora Isa Grinspum Ferraz.
Os ingressos vão de 10 reais (meia) e 20 reais (inteira). Aos sábados a entrada é gratuita. Na entrada, os visitantes são recebidos na sala Deslocamentos Cruzados, em um ambiente que tematiza as pessoas e as línguas em trânsito. Por meio de instalações visuais e sonoras, o público terá o impacto de se perceber em um mundo no qual cabem diversos universos, expressos pela variedade de idiomas em uso. A sala tem como destaque
uma vitrine em que “flutuam” letras e caracteres de alfabetos de várias línguas, como árabe, coreano, chinês, hebraico e cirílico.
O ambiente é preenchido por cantos em vários idiomas, em diferentes ritmos e sonoridades, reunidos pela cantora e pesquisadora Fortuna, em uma trilha sonora pensada especialmente para a exposição. Em uma das paredes, uma instalação visual concebida por Solange Farkas, da Associação Cultural Videobrasil, apresenta retratos de imigrantes de várias partes do mundo residentes de São Paulo, enquanto, em outra, uma grande tapeçaria do artista Edmar de Almeida alude às bandeiras como símbolos nacionais. Na proposta da exposição, elas estão entrelaçadas. Ainda neste espaço há um grande mapamúndi, realizado pelo Estúdio Laborg, em que são projetados os fluxos migratórios contemporâneos.
Tanto mar é o título da segunda sala da mostra. A maior galeria do espaço expositivo é totalmente ocupada pela instalação inédita Travessia, criada pelo artista Leandro Lima. A obra cinética, feita de luzes, sons e movimentos, evoca em uma experiência sensorial a travessia de um oceano, com seu mistério. Há ainda textos poéticos, projetados nas paredes, que falam sobre o partir, em instalação criada pelo Coletivo Bijari.
Terminada essa jornada, o visitante chega à sala Para esta cidade, dedicada à complexa vivência dos imigrantes que se estabeleceram na cidade de São Paulo. Doze caixas apresentam objetos que tematizam de forma poética a experiência migratória. Elas estão articuladas a vídeos criados pelo documentarista Marco Del Fiol, nos quais imigrantes de várias nacionalidades contam suas histórias sobre os países de origem e o Brasil e também falam sobre como se relacionam com a língua portuguesa.
Ainda nessa sala, em um miniauditório, serão exibidos vídeos que problematizam a imigração do século 21, com curadoria de Solange Farkas, também a partir do acervo do Videobrasil. Uma instalação com animações de dois poemas de Augusto de Campos, SOS e Sol, de Maiakóvski, lidos pelo próprio poeta, encerra a exposição. “Gente é para brilhar”, diz o poeta.
Na saída da mostra, na sala Do Brasil, há monitores que apresentam depoimentos de brasileiros que vivem em outros países, como o Japão, a Austrália e os Estados Unidos. Eles falam de suas experiências como imigrantes em outras terras, destacando as questões linguísticas implicadas nesse trânsito, além de abordar o desejo ou a necessidade de migrar, o “estar” migrante e a saudade do Brasil.
Ao abordar a imigração do século 21, Sonhei em Português! faz um importante complemento ao que o Museu da Língua Portuguesa apresenta em sua exposição principal, uma abordagem histórica dos fluxos migratórios anteriores na construção do português falado no Brasil. (Informações extraídas do site do MLP)
Há várias gerações, estamos presentes no dia a dia da escola, apoiando, criando pontes e estimulando famílias, estudantes e colaboradores a experimentar suas melhores versões.
Com tantas vivências, completamos 120 anos de história e a sensação é de que apenas iniciamos. Hoje, uma nova era começa para a FTD Educação e ela só é possível porque você caminha com a gente: apresentamos a evolução da nossa marcaainda mais próxima, inquieta e em constante movimento.
Conectamos histórias. Construímos futuros.
O futuro da Educação não está distante. Ele já é realidade. Vamos conhecê-lo juntos?
Censura aos educadores pode aumentar com as eleições. Profissionais relatam problemas que já tiveram com aulas que desagradaram famílias dos alunos – em muitos casos, direção e coordenação devem servir de blindagem
| Por Sandra SeabraAcensura aos professores por parte das famílias e de algumas escolas é uma realidade no Brasil e cresceu com o avanço do movimento Escola sem Partido. A suposta existência do “kit gay” e de uma “ideologia de gênero” nas escolas detonou uma onda de perseguições a partir de 2016. Três anos depois o movimento sofreu derrotas jurídicas e dissensos, enfraqueceu, mas cravou seus pressupostos no imaginário de parte da população.
Fernando Penna, diretor da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, acompanhou o Escola sem Partido desde sua origem. Para ele, “o movimento refluiu, mas a perseguição aos professores não arrefeceu; a adesão a essas práticas reacionárias foi muito grande, não depende mais
da articulação de um movimento, está no país inteiro”. Sobre professores que acreditam no aumento da censura com a proximidade das eleições de outubro, Penna concorda e explica: “Bolsonaro mobiliza sua base por meio da manipulação política do pânico moral”. Os relatos a seguir, inclusive com nomes fictí cios, evidenciam as dificuldades que os educadores vêm enfrentando nos últimos anos.
O temor da perseguição, de sofrer violência física, ou de perder o emprego podem levar o professor à autocensura e essa “é a consequência mais grave da censura”, afirma Penna. “Não se trata de responsabilizar os professores, é um problema político, coletivo, que demanda uma resposta de toda a sociedade. O grande prejudicado é o aluno, que não tem acesso pleno ao seu direito de educação.”
Envato elements
Danilo dos Santos é professor de história na rede pública, atua na zona rural de Camanducaia, MG, e aponta a dificuldade de apresentar a cultura afro-brasileira: “Uma aula para o 7º ano resultou em acusação de exaltação ao diabo”. Também enfrentou um pai militar depois de falar sobre a influência do racismo científico do século 19 na criminologia brasileira para alunos do 3º ano do ensino médio. Para sua defesa, Santos utiliza o plano de aula, onde detalha suas fontes.
Cláudio Ferreira, professor de filosofia na rede pública paulista, na zona norte da capital, conta que nunca sofrera censura em mais de duas décadas de atuação até ser chamado à direção da escola, em 2017. A reclamação: falar muito de política. “Uma aula foi gravada, o que é ilegal; avisei que tomaria providências.” Ele explica que no currículo do 2º ano do ensino médio há questões relacionadas à identidade, à origem da política nas sociedades grega e romana, além das relacionadas à ideologia e à alienação. A polêmica não foi adiante, mas a atuação da diretoria gerou forte constrangimento. O professor lembra que “graças à luta de educadores e da sociedade civil, a educação alcançou status importante na sociedade, inclusive com a liberdade de cátedra”. E completa: “Vou continuar professando”.
Uma festa literária gótica resultou em ameaça de processo contra professores em um campus do Instituto Federal do Amapá. Fernanda, professora de sociologia, conta que um dos pais soube do evento por meio de foto nas redes sociais em que sua filha estava deitada num caixão: “Ele chegou à escola com a Bíblia e o ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] nas mãos, querendo nomes”. Os alunos são
orientados a detalhar aos pais as atividades, mas, nesse caso, Fernanda avalia que houve falha na comunicação entre eles. “Conversei com o pai; apesar do conservadorismo e do fundamentalismo religioso, conseguimos nos entender muito bem; às vezes, as coisas ficam inflamadas quando acontecem nas redes sociais.”
Para ela, num contexto em que a educação se transformou na principal trincheira ideológica, o respaldo vem do plano de ensino, da BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Em outro campus do mesmo Instituto, neste ano de 2022, Waiapi, professor de história, em sua primeira aula do ano a alunos do ensino médio, apresentou os temas transversais abordados na sua disciplina. Abordou a origem de opressões como o machismo, o racismo e a homofobia. E falou sobre sexualidade: “Em meio à conversa, mencionei a série Sex education [ educação sexual em tradução livre] “. A menção reverberou nas famílias: “Os pais foram à coordenação pedagógica dizendo que eu já tinha marcado a data para exibir a série. Expliquei que foi apenas uma menção, que eu sabia que a série era imprópria para a faixa etária, e que isso tinha sido explicado a eles”. Waiapi considera que tem sido vigiado pelos pais por ser novo no campus e tratar de temas considerados polêmicos. O fato de ser homossexual também prepondera. Há alunos gravando suas aulas e ele sabe quais são.
A censura das famílias aos professores está vinculada a conteúdos que fazem parte da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) ou a fatos contemporâneos que são discutidos na escola. Ao conservadorismo e fundamentalismo religioso somam-se versões distorcidas nas redes sociais, em fake news ou no “ouvir falar”, gerando reações contra os professores, na maioria das vezes, infundadas. A lista de conteúdos que se tornaram polêmicos na sala de aula vem crescendo:
Questões de gênero e sexualidade: machismo, feminismo, homofobia, transfobia; uso de preservativos, DSTs, saúde reprodutiva da mulher, linguagem
“Professores têm medo de perder o emprego”, alerta
Professora de história por 19 anos e coordenadora por cinco, em escola estadual na área central da cidade de São Paulo, Vanda conta que, ali, a comunidade é avançada e tolerante, “há pelo menos 15, 20 anos. Muitos professores homossexuais não disfarçam, inclusive já trabalhei com uma professora travesti, concursada, muito respeitada pelos alunos”. Mas as coisas mudaram e surpreenderam, diz ela: “por exemplo, em 2018, uma mãe que sempre foi participante, parceira da escola, pediu que uma professora homossexual, superprofissional e confiável, se afastasse de sua filha”. Como coordenadora, Vanda lembra que em episódios assim a primeira preocupação é com os alunos, mas que é preciso também apoiar os professores. No caso relatado, aluna e professora se afastaram.
Juliana foi professora de redação num colégio particular de Alphaville, em São Paulo. Inaugurou o ano letivo de 2021 de forma remota, enviando proposta de atividade para uma turma de 3º ano do ensino médio,
não binária;
Cultura afro-brasileira, mitologias africanas, principalmente a mitologia Iorubá, com a apresentação dos Orixás. A censura a esse conteúdo já existia antes do Escola sem Partido e permanece; Culturas indígenas, povos originários; retrocessos na política de demarcação de terras indígenas; Marx, comunismo;
Pautas consideradas progressistas, por exemplo, relacionadas ao meio ambiente: exploração de minério e desmatamento da Amazônia; Aspectos biomédicos e epidemiológicos da pandemia, vacina, cloroquina.
saudando-os: “Querides alunes”. Foi chamada à coordenação. “Trabalhava nessa escola há 10 anos, o coordenador era novo, não me conhecia; ele me proibiu de usar o gênero neutro e pediu que eu parasse de militar.” Na aula seguinte, para trabalhar introdução na redação, Juliana apresentou o curta Escola sem partido, da Cia do Latão, que denuncia a relativização de verdades históricas como a escravidão e a ditadura militar. O coordenador se sentiu afrontado. Houve reunião com as famílias e demais coordenadores; Juliana soube, então, que apenas três famílias reclamaram e que tinha o apoio dos demais coordenadores. Ela considera que se contrapor à censura é uma decisão pessoal que nem todos os professores podem tomar, pois temem perder o emprego.
Foi com o apoio da escola que Fábio Nunes, professor de produção textual e linguagem audiovisual, pôde trabalhar com seus alunos numa escola particular católica na região central de São Paulo. Lá, os alunos produziram documentários sobre gênero, pluralidade religiosa, retrataram refugiados do centro da cidade e os skatistas da Praça Roosevelt. “Isso incomodou alguns pais, mas a própria instituição me blindou”, conta. Entretanto, anos antes, em outra escola da mesma região, Nunes vivenciou situação bem diversa. Seus alunos exercitaram técnica de construção de parágrafos com um tema dialético. “Apenas orientei, não sugeri tese nem antítese.” Sua demissão foi a resposta da escola à pressão das famílias por causa do tema da redação: “Foi legítimo o processo de impeachment?” Nunes explica que não carrega bandeiras em sala de aula ou nas redes sociais, mas o papel do professor é inequívoco: “Ser provocador”.
Professores argumentam, com razão, que a falta de conhecimentos na área da sexualidade resulta em riscos à
Para Diane Cundiff, “cabe à direção esclarecer o papel social da escola”
Danilo dos Santos: “Minha defesa é o plano de aula”
Valéria Delbem: ambiente seguro e preservação da vida
saúde dos alunos. Também a ignorância da sociedade em geral resulta em riscos à vida, como no caso das pessoas trans. “Nós temos alunos não binários, trans, e em transição; eles informam como querem ser chamados e fazemos mudanças internas na comunicação”, conta a professora Valéria Delbem, do particular Colégio Santa Maria, na zona sul de São Paulo. Ela conta que há resistência das famílias, há relações complexas entre os jovens, mas é um ambiente em que esses alunos se sentem seguros. “Nem sempre foi assim, a equipe mudou ao longo dos anos, aprendemos uns com os outros.” O apoio da direção garante o ambiente inclusivo e plural. Diane Cundiff, diretora-geral do Colégio Santa Maria e educadora há 54 anos, diz que pouca coisa a assusta, mas a hostilidade contra a educação a desagrada. “Também esse movimento da ‘ideologia de gênero’ é antigo, agora está levantando a cabeça, mas se a pessoa pesquisar e estiver aberta a saber, vai perceber que é uma mentira.” Ela afirma que à direção escolar cabe esclarecer o papel social da escola. “Para os pais que acreditam que a escola é um órgão propagandista que vai formar cérebros fechados, eu digo: você não conhece o jovem. Pais, escola e governo não conseguem dizer o que o jovem tem que pensar. O papel da escola é ajudar o aluno a buscar verdades que sempre estão, historicamente, em processo de mudanças.”
Programas bilíngues que combinam com a proposta pedagógica da sua escola.
Projetos de literatura para aumentar a prática da língua.
Mensuraçãodo aprendizadopara melhoria constante.
Formação continuada de professores.
Nosso sonho é fazer dessa uma geração bilíngue.
Vamos construir isso juntos?
Editoraprópriaepremiada em2020peloELTons na categoria“Excellence in course innovation”.
Indispensável para a aquisição de todas as aprendizagens escolares, especialistas constatam que a alfabetização não ocorreu, depois de praticamente um biênio, no ensino remoto
Oatraso na alfabetização gera impactos na vida escolar da criança, na relação que ela cria com o saber, afeta sua autoestima, dificulta o acesso a outras áreas do conhecimento, como matemática, história, geografia, ciências, e passa a depender de um adulto leitor para interpretar exercícios e localizar informações num texto. A escola espera que o aluno detenha esse conhecimento, logo, não saber ler e escrever passa a ser um entrave na vida escolar”, afirma Giulianny Russo, mestra em escrita e alfabetização pela Universidad Nacional de La Plata, Argentina.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece a alfabetização como foco principal da ação pedagógica nos dois primeiros anos do ensino fundamental. Fabya Alves, coordenadora geral do Colégio Anísio Teixeira, em Feira de Santana, na Bahia, conta que quando os conteúdos começaram a ser ministrados, no retorno às aulas 100% presenciais, as crianças, então com difi-
culdades, perceberam que alguns colegas estavam mais avançados. Essa desarmonia em sala de aula causou ansiedade, insegurança, desmotivação e indisciplina.
Para Giulianny Russo, que também é pedagoga pela USP e que possui experiência como professora na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, o aumento de crianças brasileiras de seis a sete anos que não sabem ler e escrever, principalmente entre as residentes de domicílios mais pobres, segundo levantamento do Todos pela Educação, não é surpreendente, visto que estas crianças não têm acesso à cultura da escrita fora da escola, parte fundamental do processo de alfabetização.
“Um adulto que lê para a criança ou que a convida a ler e a escrever, crianças que contem com livros em casa e que sejam estimuladas a explorá-los, que possuam exemplos de pais leitores, façam passeios em livrarias, etc. vivem um contexto que desperta a função social da escrita, auxiliando o processo de alfabetização”, esclarece a pedagoga Giulianny. “Ao ver a mãe fa-
zer a lista de compras do mercado, a criança percebe que a escrita serve para guardar uma memória. Quando o pai consulta a lista telefônica e descobre onde há uma oficina mecânica, ela aprende que com a escrita descobrimos algo que antes não sabíamos. Quando o irmão escreve uma carta para o tio que mora longe, en-
tende que a escrita serve para se comunicar com alguém que não está presente”, descreve. Sem acesso a esses contextos, dependem exclusivamente da escola para ter contato com a função da escrita.
No Brasil há dois polos: os que trabalham a educação infantil como preparo para o ensino fundamental, trazendo os prérequisitos para a alfabetização, e no extremo oposto, os que não permitem qualquer traço de leitura e escrita nas salas de aula. “Tenho visitado várias escolas que seguem a normativa de que não se pode alfabetizar na educação infantil, e não há marcas da escrita em sala de aula, e isso é muito sério”, relata Giulianny Russo, que atua no Centro de Estudos da Escola da Vila, em São Paulo, e é integrante da equipe pedagógica da Comunidade Educativa CEDAC (voltada ao apoio, formação e desenvolvimento de profissionais da educação pública brasileira). Ela explica que ao contrário das concepções mais tradicionais em que a alfabetização se define por aprender quais letras servem para escrever determinadas palavras, e a empregar a
“Não basta saber codificar e decodificar, a criança precisa ler e compreender o que foi lido, e isso tudo faz parte do processo de alfabetização”, diz
Giulianny RussoEnvato elements
ordem correta dessas letras, a proposta que a psicóloga e pedagoga argentina Emília Ferreiro traz é de que a alfabetização é o processo pelo qual a criança passa a refletir sobre a linguagem escrita. “Quando uma mãe lê e conversa com seu bebê na barriga, é iniciado o processo de alfabetização, uma vez que ela aproxima o bebê do universo do escrito”, ilustra Giulianny.
Ao atender crianças no consultório e como formadora em oficinas de linguagem, Giulianny, que também é fonoaudióloga, notou que as questões que grande parte trazia não eram patologias da fonoaudiologia, tampouco se tratava de entraves para aprendizagem decorrentes, por exemplo, de dislexia ou atraso de linguagem. Eram questões relacionadas ao processo de escolarização. “Entendese que uma criança sabe ler e escrever quando consegue se comunicar por escrito. Não basta saber codificar e decodificar, é preciso ler e compreender o que foi lido, e isso tudo faz parte do processo de alfabetização.”
“Minha filha não conhece o a, e, i, o, u e na tarefa de casa a professora pede que ela junte as letras para formar as sílabas. Isso faz uma confusão na cabeça dela”, expõe Keyla Cristina Holanda, de Goiânia, mãe de Helloísa de seis anos. “Estão atropelando a Helloísa e ela está com muita dificuldade para aprender”, reclama a mãe.
A diversidade de saberes dentro de uma sala de aula é vista como positiva para que as trocas aconteçam.
Giulianny Russo: “É imprescindível enxergar o que a criança sabe sobre o sistema de escrita, para planejar a ação educativa”
Com a pandemia da covid-19 essa heterogeneidade foi acentuada e há muitas salas de aula onde metade das crianças estão na fase alfabética e as demais na fase présilábica. Diante de um cenário tão diverso, a escolha de uma proposta para a sala de aula se torna um desafio muito grande, principalmente quando a professora trabalha sozinha como ocorre na rede pública.
Helloísa é aluna de uma escola pública e a mãe explica que ela conta de um a 10, mas não reconhece o símbolo numérico quando o vê.
Giulianny Russo ensina a trabalhar com grupos heterogêneos, orientando os professores para que conversem com as crianças sobre como elas podem ajudar os colegas. O professor faz as intervenções usando principalmente as palavras estáveis da sala de aula, como os nomes próprios, a escrita da rotina e outras listas. “A criança precisa escrever a palavra macaco. Neste caso eu não preciso ditar a letra “m” e a letra “a”, eu posso levá-la a pensar sobre a palavra, instigando-a, chamando-a a olhar para o nome da sua amiga Mariana, por exemplo”, ensina. O aluno que precisa avançar na leitura e na escrita se beneficia dessa estratégia, já o que é alfabético vai se tornando mais consciente do procedimento e passa a usá-lo em outros contextos, esclarece.
Fabya
Alves: “Passamos a analisar o que cada aluno tinha de aprendizado, para então trabalharmos a adaptação dos conteúdos e recuperarmos a autoestima e a motivação”
“Através da cultura maker, do planejamento reverso e das metodologias ativas, que se baseiam na transmissão de informações entre pessoas e que sugerem estratégias para alcançar aprendizagens, colocamos nossos alunos como protagonistas, de modo que os estudantes que estavam mais avançados auxiliavam os colegas dentro da sala de aula”, legitima Fabya Alves, mestra em ciências da educação, sobre o plano de recuperação das salas de 1° e 2º anos do ensino fundamental do Colégio Anísio Teixeira.
A avaliação ou sondagem mostra o que a criança já construiu como saber para que aconteça a intervenção
do professor e assim avançar. “Essa avaliação é essencial, pois é imprescindível enxergar o que ela sabe sobre o sistema de escrita, para que eu possa pensar nas minhas propostas e intervenções, para planejar a ação educativa”, ressalta Giulianny.
“No dia da reunião pude notar que todos os pais estão na mesma situação que eu, aflitos em relação às tarefas”, desabafa Keyla. “A maioria das mães e pais trabalha fora de casa e não consegue dar nenhum respaldo com a lição”, continua a mãe de Helloísa, que se angustia com a quantidade de tarefas que a filha não consegue realizar, e que nem sempre sabe orientar. “A escola diz que não é meu papel ensinar a lição para a Hellô, mas continua enviando para casa lições que ela não teve a oportunidade de aprender, pois ficou dois anos em casa, sem aulas”, lamenta Keyla.
“Eu não vou recuperar uma casa que nunca comprei, uma joia que não ganhei, eu só vou recuperar aquilo que já tive”, argumenta Giulianny. “A ideia da recuperação é assim: a criança fez, não conseguiu, então ela tem a oportunidade de recuperar algo a ela teve acesso”, continua a pedagoga, lembrando que as crianças que ficaram dois anos sem aulas não tiveram acesso a nada, portanto, não estão recuperando a aprendizagem. “Faz mais sentido falar de oportunidades de aprendizagem, já que não tiveram essa oportunidade em 2020 e em 2021”, associa.
Ao encontrar uma sala de aula heterogênea em relação às aprendizagens dos alunos, os professores do Colégio Anísio Teixeira, na Bahia, decidiram atuar no nivelamento da classe e pararam imediatamente o trabalho com o livro didático e com o andamento pedagógico e curricular destinados àquela determinada série. “Passamos a analisar o que cada aluno tinha de aprendizado para nos trazer. Feito o diagnóstico, trabalhamos na adaptação dos conteúdos, voltando para o ponto onde haviam parado para que acompanhassem o que era ministrado e se motivassem novamente”, expõe Fabya.
“A escola diz que não é meu papel ensinar a lição para a Hellô, mas continua enviando para casa lições que ela não teve a oportunidade de aprender”, desabafa Keyla Cristina Holanda
A coordenação pedagógica, a gestão da escola e as secretarias de educação também são responsáveis pelo processo de recuperação das aprendizagens dos alunos. Essa atuação deve ser compartilhada. Redução do número de alunos em sala, um assistente na classe para auxiliar o professor, materiais de apoio dentro da sala de aula e formação continuada para os docentes compõem melhores condições de trabalho. “A grande questão da alfabetização são as políticas públicas. É preciso uma política pública que seja consistente, que permaneça por um tempo, que não mude a cada governo”, propõe Giulianny. “O papel do professor é essencial, mas a escola precisa garantir condições para que o professor consiga realizar um bom trabalho. A alfabetização é algo desafiador”, finaliza.
“Minha filha não conhece o a, e, i, o, u e na tarefa de casa a professora pede que ela junte as letras para formar as sílabas. Isso faz uma confusão na cabeça dela”, conta
Keyla Cristina Holanda
é uma plataforma que reúne os principais dados de escolas em todo o país, levando praticidade para os pais e/ou responsáveis e visibilidade para as escolas.
Mais de 120 mil famílias já acessaram a Sua Escola Ideal.
Além das escolas participarem gratuitamente desta grande vitrine de divulgação para as famílias, a plataforma oferece um plano premium com diversos serviços de marketing digital:
Página exclusiva da escola na plataforma com logotipo, imagens e vídeos da escola e painel estatístico com dados de visitações;
Ferramenta tipo “Canva”, muito simples e intuitiva, que oferece diversas soluções para profissionalizar o marketing da sua escola;
Artes e textos prontos sobre datas especiais como Dia Internacional da Mulher, Dia Mundial da Água, entre outras;
Edite as artes direto na plataforma, colocando imagens, textos e o logotipo de sua escola;
Baixe templates e ilustrações exclusivas para usar em seus materiais de marketing;
Arquivos abertos para Campanha de Matrícula (outdoor, folheto, camiseta, entre outros materiais de marketing);
Anúncio de sua escola no . Alcance entre 150 a 300 famílias/mês; Matéria sobre a escola na revista digital Família & Educação e no Blog da Sua Escola Ideal; Formações para gestores, mantenedores, profissionais de marketing, entre outros.
R$ 250,00/mês
www.suaescolaideal.com.br
Acompanhe-nos nas redes sociais:
Entre em contato conosco!
WhatsApp: (11) 96822-3914
e-mail: atendimento@suaescolaideal.com.br
Mais de 270 marcas expositoras
6 mil congressistas
30 mil visitantes
5 Auditórios Simultâneos
Arena Startups Fórum de Gestores
Mais de 200 Palestrantes Nacionais e Internacionais
E muito MAIS!!
Parceiro global Chancela ParceirosEnvato elements
Tecnologia pode viciar no sentido de que supre periodicamente necessidades humanas. Mas essas necessidades podem ser supridas por educadores e familiares
|POR Alexandre Le Voci Sayad
Oretorno dos estudantes às escolas – a uma rotina física após dois anos de confinamento compulsório tem se mostrado um momento delicado, sensível, e, até certo ponto, desconcertante. Pudera, um adolescente que tinha 14 anos em 2020, e se abria para o convívio social, ficou isolado até os 16 anos.
Em tempos outrora mais estáveis, isso poderia significar uma idade de relativo amadurecimento em relação a questões comportamentais, em que o ensino nédio se torna um cenário não tão estranho. Pelo contrário, de súbito, ele se vê de volta à escola… no segundo ano do ensino médio, como num voo sem escalas. O que ficou para trás? É provável que nem mesmo ele faça a mínima ideia.
A recuperação do atraso no aprendizado é relevante, e um ponto crucial para políticas públicas, mas as consequências socioemocionais têm sido mais marcantes aos educandos – basta atentar ao noticiário. Inquietude, ansiedade e explosões de violências física e mental são situações rotineiras hoje nas escolas. Educadores e gestores têm se encontrado em mais uma encruzilhada em que as competências ligadas à emoção se mostram fundamentais. E como desenvolvê las no contexto escolar? Esse é um ponto que aparece anualmente na agenda escolar e que os criadores de políticas parecem procrastinar.
Acolhimento tem sido uma palavra de ordem, mas há pouco debate sobre o que isso pode significar mais profundamente. Em situações de impermanência e incerte-
za como a que vivemos, utilizandose do pensamento de Edgar Morin, a escuta e o bemestar físico e psicológico dos estudantes estão diretamente ligados ao gesto de “acolher” diante de uma situação.
A escola tem dever social de acolher. Quando isso não acontece, há uma válvula de escape de fácil acesso, envolvente, e que em alguns momentos pode ser útil, mas que se mostra também temerária: a vida digital.
Não é estranho que a polêmica do uso das “drogas digitais” tenha eclodido novamente, embora o primeiro artigo sobre esse arquivo de áudio tenha sido publicado ainda em 2008, nos Estados Unidos. Tratase de sons (às vezes acompanhados de vídeos) que podem ser encontrados facilmente na internet – em canais do YouTube e como sugestões de influenciadores do TikTok – que simulam alucinações causadas pelos efeitos de psicotrópicos como LSD. Isso traria ao adolescente relaxamento, fuga da realidade e vício.
A estridência do debate público não tem colaborado para o esclarecimento dessa questão. A começar pelo fato de que não se trata de uma droga, e tampouco se mostra viciante. Os I-dosers, como também são conhecidos, se utilizam de uma técnica criada há 200 anos chamada “bineural beats”, em que duas frequências de sons são interpretadas pelo cérebro como uma só. A posição da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre o fato é proporcional ao risco real: o cuidado que temos que ter diz respeito ao volume de som, e os consequentes danos ao sistema auditivocomo qualquer outra música.
A música sempre representou uma espécie de fuga para outro mundo. Nesse sentido, o importante neurocientista norteamericano Oliver Sacks nos deixou de legado a obra Alucinações Musicais, em que relaciona música e cérebro. Na introdução ele cita o filósofo alemão Arthur Schopenhauer: “a inexplicável profundidade da música, tão fácil de entender e no entanto tão inexplicável, devese ao fato de que ela reproduz todas as emoções do mais íntimo do nosso ser, mas sem a realidade e distante da dor”.
Em outras palavras, temos que notar como o I-doser e outros elementos de “bem-estar digital” podem masca-
rar a falta de acolhimento, escolar e familiar, neste momento de retorno.
É inegável que o uso de games, redes sociais e outros fóruns, por jovens e crianças, cresceu no Brasil durante a pandemia, como mostra a pesquisa Tics Kids Online, publicada ano passado e que analisou o primeiro ano e meio de crise sanitária. Entretanto, esse uso, segundo o mesmo estudo, está relacionado à escuta dos usuários, ou seja, ao compartilhamento das emoções.
A tecnologia pode sim viciar, no sentido de que supre periodicamente necessidades humanas. Mas a cortina de fumaça do “bem-estar digital” deve ser pensada com atenção. As mesmas necessidades buscadas no uso excessivo da internet podem ser supridas, agora de forma presencial, por educadores e familiares. Algumas ações se fazem imprescindíveis neste momento, como:
• Promover uma escuta periódica, individual e/ou coletiva, de grupos de estudantes por professores, coordenação e direção;
• Evitar julgamentos imediatistas sobre o desempenho escolar do estudante;
• Apostar no desenvolvimento de atividades lúdicas, de integração e de trabalho social para o desenvolvimento socioemocional, sobretudo, nos chamados “intinerários formativos” do ensino médio;
• Em casa, debater a qualidade do convívio escolar e sempre acompanhar a vida digital dos estudantes, limitando tempo de tela e ambientes digitais próprios para a faixa etária em questão.
Por fim, a verdadeira escuta parte do pressuposto de que o outro tem algo a sugerir de fato. É importante ampliar a participação dos próprios estudantes nas soluções que a escola pode dar ao acolhimento. O trabalho entre pares, a troca entre eles, pode ser até mais poderosa que a música.
A escola tem dever social de acolher.
Quando isso não acontece, há uma válvula de escape de fácil acesso: a vida digital
Especialistas alertam sobre atrasos no programa de escolha e distribuição de materiais didáticos para todo o país
| Por Luciana AlvarezCom mais de 30 anos de existência e sendo fundamental para a equidade do sistema público brasileiro, o Programa Nacional do Livro e Material Didático (PNLD) passa por um momento crítico. Ele foi ampliado em 2017 para incluir, além dos livros didáticos que os alunos recebem nas escolas de todo o país, também materiais digitais, obras literárias e de formação docente. As mudanças são vistas pela maioria dos educadores e editores como positivas, só que começaram a surgir problemas de cronogramas questionáveis e prazos apertados demais.
Neste ano letivo, os estudantes de ensino médio receberam novos materiais didáticos, já de acordo com a proposta da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Um dos problemas apontados pelos es-
Pexels
pecialistas, porém, é a demora para o envio do material para a formação de docentes para o novo ensino médio e dos recursos digitais. Foi a primeira vez que, além dos livros para os alunos, foram incluídos materiais para professores e recursos digitais.
“O PNLD é um programa exemplar para o mundo inteiro. Mas a gente precisa que os livros cheguem na hora certa”, afirma Lauri Cericato, especialista em PNLD e políticas públicas educacionais. Como a reforma do ensino médio entrou em vigor este ano, houve muitas mudanças na etapa, como a inclusão de projeto de vida. Além disso, os livros didáticos deixaram de ser seriados e divididos por disciplina e agora estão organizados por áreas de conhecimento. A ideia é promover o trabalho integrado entre as disciplinas tradicionais e dar mais flexibilidade para o professor, que pode trabalhar na sequência que fizer mais sentido para sua realidade.
“Os materiais didáticos que chegaram às escolas já são adequados para a BNCC, só que os professores não receberam formação para usá-los. O professor que sempre ensinou química vai encontrar o livro de ciências da natureza completamente diferente daquela a que estava acostumado. Ele deveria ter recebido o material com as orientações
Um dos problemas é a demora no envio do material de formação docente sobre o novo ensino médio
antes de tudo”, alerta Lauri. A previsão, contudo, é que cheguem só no meio do ano.
Silvia Panazzo, presidente da Associação Brasileira dos Autores de Livros Educativos (Abrale), defende que os livros para os docentes serão muito úteis em qualquer momento, pois a transição para o novo ensino médio está em processo. Mas ela também considera que o atraso trouxe prejuízos para as escolas. “O esforço em alinhar essa política pública às demandas inéditas trazidas pela reforma torna o PNLD ainda mais relevante, especialmente se considerarmos as condições adversas que se fazem presentes na realidade de muitas redes de ensino. Isto posto, idealmente, a entrega dessas obras no início do ano letivo tornaria acessível às equipes gestoras e aos professores essa ferramenta complementar que estudada e debatida pelos profissionais da rede tem potencial para impulsionar o processo de formação continuada em curso.”
Se esse é um problema que já chegou às salas de aula, as editoras e os autores preocupam-se ainda com o que pode acontecer em 2024, ano em que devem ser enviados os materiais para a segunda etapa do ensino fundamental, por causa de prazos excessivamente apertados. “O funcionamento do PNLD é uma grande “engrenagem” composta por etapas subsequentes, mas interdependentes. Dessa forma, a questão do cronograma precisa ser vista de maneira sistêmica para buscar soluções para pontos de estrangulamento que não necessariamente podem estar na fase de entrega das obras, mas que acabam por afetá-la, incorrendo em atrasos indesejáveis”, disse a presidente da Abrale.
O edital para 2024, que era previsto para ser publicado em dezembro, saiu apenas em abril, e deu às editoras apenas quatro meses para a elaboração das propostas,
Atraso prejudica escolas, acredita
Silvia Panazzo, presidente da Abraleum prazo considerado perigosamente estreito. “Historicamente, as editoras sempre querem mais prazo; é natural. Faz 26 anos que trabalho com PNLD e nunca houve uma situação como a atual. Para se ter uma ideia, o edital anterior para a mesma etapa tinha o dobro do prazo. E era de uma complexidade muito menor”, afirma Ricardo Tavares, vicepresidente da Abrelivros (Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais).
A maior complexidade se deve ao fato de que, além dos livros impressos, as editoras devem entregar uma versão em HTML 5, uma linguagem de programação que permite a inserção de recursos interativos.
O gargalo do tempo não pode ser contornado com contratações extraemergenciais, garante Ricardo. “Não existe mão de obra para contratar, parceiros ou fornecedores para atender o que as editoras gostariam de fazer. Não dá para produzir.” No momento, a Abrelivros pediu uma reunião com o Ministério da Educação (MEC) e espera conseguir negociar o cronograma. Se não for possível, a solução vai ser reduzir o número de obras que vão ser inscritas no programa, o que traz impactos em sala de aula ao diminuir a variedade da oferta. “Se uma editora gostaria de apresentar dois livros, vai preferir fazer só um. Haverá menor diversidade, e também maior susceptibilidade a erro”, avalia o vice-presidente.
Outra preocupação do setor no edital para 2024 é na parte das obras literárias. Houve uma mudança inesperada: cada editora só poderá inscrever um livro por etapa. Isso significa que muitos autores não vão chegar aos estudantes, porque as editoras de grande porte têm em seu catálogo vários autores de peso. A Salamandra, por exemplo, é quem publica Ruth Rocha, Pedro Bandeira, Ilan Brenman e Walcyr Carrasco. Com as novas regras, apenas um deles poderá ir para as escolas.
“Faz 26 anos que trabalho com PNLD e nunca houve uma situação como a atual”, diz Ricardo Tavares, da Abrelivros
Fontes do setor indicam que a mudança se deve à falta de avaliadores dentro do MEC. Em vez de reforçar a equipe, decidiuse por reduzir o número de obras no processo. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia do MEC responsável pelo PNLD, foi procurado pela reportagem para comentar o assunto, mas não respondeu.
Com cerca de 330 mil alunos e 11 mil colaboradores, a Ser Educacional, hoje um dos gigantes do mercado de educação superior, resolveu abrir um banco digital. A nova fintech já tem nome: b.Uni, que iniciou as atividades no mês de março, com 10 mil contas e apenas oito funcionários, mas contando neste momento com uma
“barriga de aluguel”, empresa terceirizada com autorização do Banco Central para iniciar a operação, enquanto espera a chancela oficial.
João Albérico Porto Aguiar, há quase sete anos na controladoria, é o CEO da nova instituição financeira. Deixa claro que inicialmente o público-alvo são os alunos, colaboradores e amigos.
“Um banco digital como o que estamos criando oferece 80% das atividades de uma instituição tradicional. Começamos com nossa folha de pagamento e vamos passar fase a fase, como mensalidade, seguros, créditos, alguns empréstimos pessoais, empréstimo consignado, crédito estudantil, produtos de aplicação financeira voltados para esse público que ainda não está acostumado a fazer aplicações mais estruturadas. Então, produtos que estejam mais prontos para que esse público possa de fato começar a testar, a ter o
gosto de estar no mercado financeiro, promovendo ganhos ou minimamente ajudando a sua jornada profissional, pessoal, acadêmica.”
João Aguiar conta que passou mais ou menos um ano pesquisando para entender como podia se posicionar em relação aos players de mercado. “Na educação não tinha ninguém. A gente começou a entender como seria montar um negócio que aderisse ao nosso ecossistema e agisse em prol desse ecossistema, não necessariamente fora dele. Então chegamos à conclusão de que precisaria abrir uma SCD, que é uma Sociedade de Crédito Direto ou o que eles chamam de uma instituição de pagamento não regulada. Isso daria a possibilidade de oferecer conta digital, produtos de crédito.
Foi contratado Marcos Teixeira como diretor de operações, que atuou em outras instituições e com experiência em montar produtos digitais e que ficará subordinado à área comercial. Segundo o CEO, que atua com mais dois diretores, Nathalie Cortes (jurídico) e José Alberto Silva (tecnologia), a abordagem deve ser discreta, “para atuar em benefício da jornada acadêmica desse aluno e co-
“Vamos oferecer mensalidade, seguros, créditos, alguns empréstimos pessoais, empréstimo consignado, crédito estudantil, produtos de aplicação financeira”, diz o CEO
laboradores, sem a utilização de outdoor, rádio ou televisão. Viveremos dentro do nosso ecossistema”. A ideia do banco surgiu há cerca de dois anos, quando o fundador do grupo Ser Educacional, Janguiê Diniz, circulou a sugestão na diretoria.
João Aguiar diz que a nova empresa traz benefício, por exemplo, na medida em que a emissão de boletos para alunos, ou pagamento por pix, transferência, débito automático não contarão com as tarifas bancárias, o que por si só já é um valor considerável. “A gente pesquisou, leu bastante, esse é um movimento natural do mercado financeiro brasileiro que vem acontecendo há alguns anos. O Banco Central está desconcentrando o mercado financeiro e trazendo a possibilidade de novos atuantes.”
O investimento inicial para a criação do banco é de 5 milhões de reais, sem contar o capital inicial, mas com o aumento da clientela esse valor deve subir. Segundo o CEO, isso é destinado à tecnologia e à largada, ou seja, toda a consultoria para poder fazer a integração, para ajudar nessa construção. “Em abril a expectativa é pagar todos os colaboradores pelo b.Uni
e, a partir de maio, incluiríamos os alunos. Já operamos com pix, boletos, vamos ampliando as atividades dia a dia”, diz João Aguiar.
Na verdade, atuar no mercado financeiro é um complemento desse ecossistema, não como sendo um dos negócios principais. “Mas tende a se tornar algo importante dentro do grupo, embora o core business continue sendo educação superior. Estamos focando um ensino e aprendizagem de qualidade, mas essa diversificação torna o grupo mais forte e capaz de melhorar a cada dia, para benefício da comunidade.”
Na questão do crédito estudantil, o b.Uni entra com a experiência do Educred, que a Ser Educacional criou em 2007 e que hoje, segundo o balanço, já tem quase 100 milhões de reais na carteira de crédito estudantil. De acordo com o CEO, a missão será encontrar investidores que sejam sensíveis a esse espírito de investir em jovens que de fato necessitem de um empurrão para buscar uma melhora na vida. Embora haja inadimplência, o Educred tem uma carteira de acordos para um curto prazo. “Vamos ter agente especializado e trabalhar isso junto a investidores que estão dispostos a propiciar que esse aluno seja vencedor.
“Na educação não tinha ninguém”, diz o CEO João Albérico Porto Aguiar
Existe um desafio muito grande, mas entendemos que vamos “matar no peito” e buscar o máximo possível, já que a gente acredita tanto na educação, e temos certeza de que há agentes suficientes para prover essa educação”, finaliza.
Missão será encontrar investidores que sejam sensíveis a esse espírito de investir em jovens que de fato necessitem de um empurrão para buscar uma melhora na vida
A excelência de ensino da melhor escola de idiomas do Brasil* alinhada às diretrizes da BNCC e habilidades do século XXI.
Tudo isso totalmente integrado à sua escola!
Solução intracurricular e seriada para as escolas regulares.
Formação bilíngue de verdade, da Educação Infantil ao Ensino Médio.
Ampla oferta multicultural para seus alunos aprenderem inglês enquanto exploram suas paixões!
Recursos físicos e tecnológicos mais inovadores e atualizados do mercado.
Acompanhamento constante do time de especialistas em educação bilíngue da Cultura Inglesa.
Cursos de extensão da Faculdade Cultura Inglesa para os professores.
Carga horária flexível, para deixar a Plataforma Bilíngue do jeito que a sua escola precisa!
Agende uma apresentação! parcerias@culturainglesa.com.br
(11) 4005-1511 e 0800 780 0688 culturainglesa.com.br/parcerias
*A Cultura Inglesa foi eleita por sete anos consecutivos a melhor escola de idioma de São Paulo pelo prêmio Datafolha.
A tarefa da educação é abrir na alma das crianças a curiosidade, a concentração, a valorização de dimensões sociais, da solidariedade, da compaixão e da busca da sua identidade
| Por Fernando José de AlmeidaNossa conversa de hoje nasceu das páginas de outubro de 2021 desta revista Educação. Falávamos, então, de como as novas gerações se engajaram de forma inocente no mundo de consumo dos ambientes digitais como se ele fosse um paraíso de horizontes criativos e libertadores para a garotada no século 21. As tecnologias digitais, entrando no mundo infantil pelos jogos e instrumentos de microeletrônica, fariam dos bebês e até dos adolescen tes uma nova geração de seres bem-aventurados e libertos das agruras dos estudos e do isolamento. Promessas de rapidez e facilidade
para obter os seus desígnios. Um admirável mundo novo com suas ofertas de redes de conhecimento, de união dos povos, de lazer criativo apresenta-se às nossas portas, e ainda mais, com custo perto do zero. Basta que lhe sejamos dóceis, disruptivos e dispostos a usá-lo em todas as dimensões do cotidiano e até em nossos projetos de futuro.
O que precisa ser esclarecido na dimensão de seu uso para a educação?
O mundo desenvolvido a partir do Vale do Silício não é neutro e tem suas artimanhas que nunca se esgotam e são para nós um desafio constante: decifra-me ou devoro-te! Vamos a uma dessas artimanhas: o desafio de compreender sua dimensão virtual.
O mundo digital é, sobretudo, um mundo de produtos virtuais. Do ainda não. Do poder ser. Da potencialidade. Só para lembrar: a ‘potência’ e a ‘virtualidade’, no sentido filosófico, significam “aquilo que não é, mas pode vir a ser, tem possibilidade de” ....
Uma laranja é. Ela existe. Posso vêla, tocála, medi-la. Ela tem cheiro e gosto. Um caroço de laranja não é uma laranja, mas tem possibilidade de ser laranja ou até de produzir uma laranjeira que frutifique, durante anos, milhares de laranjas. Mas o caroço não é uma laranja. É uma laranja em potência. Podese dizer uma laranja em ‘virtude’. Uma laranja virtual. Mas a fruta virtual não alimenta, não tem cheiro, não apodrece, nem morre. Enfim, não tem vida pois não é real. Não existe (ainda). Pode vir a existir. É uma espécie de apartamento na planta.
O que permite que um ser virtual se torne real é o movimento. A passagem da potência ao ser se dá pelo movimento. O movimento é dado por uma causa externa que viabiliza ao ‘ser em potência’ sua realização concreta. Se compararmos a um fenômeno físico, podemos dizer que a água de uma caixa d’água a 20 metros do solo, com 10 mil litros, tem uma força potencial para gerar energia. Estamos dizendo que ela ‘pode’ gerar. É energia potencial. O que faz que a quantidade de energia acumulada - nos tantos litros da caixa - de fato faça girar uma turbina ou produza um jato para regar um jardim é o movimento de sua descida até chegar ao estado de repouso (o fim da água na caixa ou o fechamento da torneira). O movimento que permite que o potencial acumulado de água se torne energia elétrica é dado pelo girar das pás das turbinas de uma usina.
Assim também, o potencial de informações acumulado num software educativo só se torna ‘realidade’ com um processo de movimentos que são construídos por mediações pedagógicas. Tais mediações mobilizam os estudantes de seu estado de latência (ou potência) para as ações exigidas para a aprendizagem. O processo de passagem da potência ao ato da aprendizagem é uma atividade pedagógica intencional, planejada, que tem metodologias, avaliações de acompanhamentos, e não apenas um mecanismo espontâneo e autômato.
Falamos aqui da aprendizagem escolar, orgânica, civilizatória, cidadã e fruto de projeto de coesão social
– no caso do Brasil, de preceitos de nossa Constituição Federal, em seus artigos 1º e 205º.
A criança que se fascina pelas luminosidades, ou o adolescente que vê um livro de Machado de Assis que pode ser explicado em 15 minutos em um softwa re, ou por uma palestra relâmpago ou em um videoclipe, não tem a possibilidade de viver uma leitura atenciosa, comentada, participada com outros seres presentes e reais que constituem a vida. Rabiscos, diálogos, incertezas, contradições, contraexemplos, visões interdisciplinares.
A vida não se vive apenas como uma potência, mas como risco, perdas, convívio com o outro, agruras, paladares, frios, acalantos, ternuras, cafunés, enxaquecas, tremores, responsabilidades, ócios e negócios.
Nada disso é virtual. Os amigos são reais, os filhos são reais, a morte é real. É real o arroz, como o tijolo que sustenta a casa, como a água que pode acabar realmente e a guerra que pode chegar a cada um de nós.
O ser é e o não ser não é.
Coisas assim para nos ajudar a pensar em como o tal ‘nativo digital’ precisa ficar esperto para não ser apenas um inocente útil dentro de um projeto fascinante de ‘smart society’, mas um projeto de vida pouco humano.
Cabe ao educador, formal ou não formal – aos pais, à sociedade toda –, desnaturalizar o tal encantamento original que as mídias eletrônicas causam sobre o ser curioso e encantado que é a criança e o jovem. A tarefa da educação é exatamente de abrir na alma das crianças e das novas gerações a curiosidade, a atenção, a concentração, a valorização de dimensões sociais, da solidariedade, da compaixão e da busca da sua identidade, o encantamento, a indignação para além dos mecanismos do consumo e isolamento individualistas. A escola é um lugar importante nesse processo. Viva a escola!
O mundo desenvolvido a partir do Vale do Silício não é neutro e tem suas artimanhas que nunca se esgotam
PELA INTERNATIONAL SCHOOL AJUDAM
ALUNOS A DESENVOLVER HABILIDADES COMO AUTONOMIA E PENSAMENTO CRÍTICO E MELHORAM O APRENDIZADO DO INGLÊS NAS ESCOLAS
A inovação e a tecnologia têm sido aliadas essenciais para o avanço da educação em todo o mundo. No Brasil, soluções digitais garantiram o acesso dos alunos às aulas durante a fase mais crítica da pandemia e, mesmo depois do retorno às atividades presenciais, estão cada vez mais integradas à rotina escolar.
Especializada em ensino bilíngue, a International School - I.S. utiliza recursos tecnológicos desde que foi criada e prioriza o modelo de educação que posiciona o estudante no centro da jornada do aprendizado. “Como especialistas em educação, precisamos estar atentos às mudanças de comportamento das novas gerações. Os estudantes de hoje são nativos digitais, eles já nasceram na era da internet e se sentem confortáveis com ferramentas eletrônicas, aplicativos e jogos virtuais, por exemplo”, diz Virginia Garcia, VP of Lifecycle & Innovation na I.S.
Com mais de 300 escolas parceiras em todo o Brasil e mais de 100 mil alunos atendidos, é este equilíbrio entre o uso da tecnologia e o cuidado com as necessidades do processo de aprendizagem que direcionam o trabalho da International School e a tornam líder entre os programas de ensino bilíngue no país.
“Nós desenvolvemos sistemas de ensino bilíngue com base em estudos, vivências, conhecimento técnico e experiência de uma equipe extremamente competente. Estamos atentos às tendências do mercado, mas também temos o cuidado de avaliar o que está alinhado à realidade brasileira e, principalmente, o que atende às necessidades de toda a comunidade escolar, passando pelos alunos, professores, gestores e familiares”, pontua o fundador e CEO da I.S., Ulisses Cardinot.
Neste contexto e em resposta à demanda de mercado por soluções digitais associadas ao aprendizado, a I.S. está lançando na Bett Brasil este ano uma coleção de ensino bilíngue que tem como base o modelo híbrido, para o Ensino Fundamental. Chamada Hybrid Edition, a coleção será direcionada para alunos do 3º ao 9º anos do Ensino Fundamental.
O objetivo é oferecer mais uma solução para colégios e famílias que possuem cultura digital e necessitam de modelos de ensino mais flexíveis e que podem ser facilmente adaptados a diferentes rotinas. Na prática, o conteúdo das cinco aulas semanais - que já faz parte do Programa Essential - será
mantido, porém passa a ser organizado em três aulas com mediação do professor e duas sem mediação ou interferência mínima do professor.
O modelo já está em implementação em algumas escolas parceiras e conta com diversas ferramentas digitais e atividades interativas para garantir o engajamento dos alunos e a eficiência no aprendizado da língua inglesa.
Além da flexibilidade, o modelo de ensino híbrido também coloca em prática um dos principais pilares da educação 5.0: o desenvolvimento da autonomia do estudante. “Para que o ensino híbrido funcione na prática, os alunos precisam ser estimulados de acordo com a sua faixa etária e perfil. Dessa forma, a tecnologia atua como condutor e facilitador do aprendizado, mas não é a peça central. O protagonista continua sendo o aluno”, explica Virginia Garcia.
Com a coleção Hybrid Edition a família também pode se envolver ainda mais no processo de aprendizado dos estudantes, participando de jogos e projetos propostos nas atividades da plataforma digital de aprendizado com base em atividades realizadas dentro e fora da sala de aula.
Para os professores e gestores escolares, o sistema ainda possui um dashboard de monitoramento, que permite acompanhar a frequência e o desempenho dos estudantes a partir de relatórios e análises. Essa ferramenta está integrada a uma outra solução lançada pela International School no ano passado, o I.S. Generations – aplicativo que conecta familiares, escolas e gestores dos colégios parceiros do sistema, um exemplo prático de inovação e de interconectividade entre as diferentes soluções oferecidas pela empresa. Os cursos híbridos são uma grande tendência mundial, como vimos na BETT Londres deste ano. Mas é importante sinalizar que esta proposta não tem nada a ver com as aulas remotas emergenciais que vivenciamos durante a pandemia. O foco, aqui, é o desen-
volvimento de cidadãos globais – principal meta da educação e que só é possível com o suporte da tecnologia”, finaliza Virginia
Além do lançamento do Hybrid Edition, a Bett Brasil também será palco para o anúncio de outras novidades da International School. Uma delas é a apresentação do Legacy, material didático da coleção The Game Changers voltado para alunos do 3º ano do ensino médio e que, como o próprio nome diz, promete deixar um legado para estes jovens. Seguindo as diretrizes propostas para o Novo Ensino Médio, com foco nos projetos de vida, o Legacy desenvolve competências e habili-
Cuidado básico para proteção de dados pessoais gerados em ambiente educacional digital é deixar isso estabelecido no contrato com empresa fornecedora
| Por Laura RachidNão é novidade que algumas empresas de tecnologia digital, principalmente as multinacionais, estão utilizando os dados pessoais de seus usuários como bem entendem – sendo isso correto ou não. Por exemplo, hábitos de navegação na internet para identificarem o comportamento individual ou em grupo das pessoas, bem como suas preferências de comida e até posição política. É o chamado capitalismo de vigilância, com os dados da população deixados nas redes cibernéticas vendidos sem consentimento. Mas, e no mundo da educação, o que se pode fazer para proteger os dados dos alunos, educadores, gestores e colaboradores no que parece ser a ‘terra de ninguém’?
O brasileiro Rodrigo Barbosa e Silva é Ph.D. em tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pósdoutor pela Universidade Stanford e pesquisador associado de política pública do TLTL (Transformative Learning Technologies Lab) – laboratório da Universidade Columbia referência mundial em tecnologia na educação. Ele afirma que é impor-
tante gestores e gestoras de educação se perguntarem: o que fazer quando recebo a proposta de uma plataforma ‘supostamente gratuita’ para uso na rede? Quais devem ser os pontos de atenção? Quais as linhas de defesa que já tenho na legislação atual?
Segundo o especialista, a função primária da gestão pública é regular os contratos para ficarem o mais transparente possível, colocando explicitamente a privacidade como regra. No caso, secretarias de educação e direções escolares, incluindo as particulares, devem começar a se preocupar se pelo menos a garantia de privacidade e tratamento de dados em ambiente educacional estão presentes em contratos e se o tema está claro para a comunidade.
Rodrigo Barbosa e Silva também defende como fundamental a inclusão de professores da educação básica e representantes do movimento estudantil na ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados), ligada ao órgão federal, que tem representante do ensino superior.
Vale lembrar que a prática de proteção de dados de crianças e adolescentes ainda não está consagrada na educação privada e tampouco na educação pública. A recente Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) estabelece que para menores acessarem plataformas é necessária a autorização de seus responsáveis, como pai e mãe. Segundo Rodrigo, essa medida é impraticável no ambiente escolar porque fica inviável ‘controlar’, por exemplo, cada cookie (tecnologia de rastreamento na internet) que o filho encontrar em um site na escola. “É por isso que propomos [no laboratório de tecnologia TLTL] que os contratos públicos sejam muito explícitos e assegurem a privacidade e o não uso de dados infantis e de jovens para qualquer ação de perfilamento. E, principalmente, que esses dados não acabem nas mãos do que internacionalmente é conhecido como centros que comercializam dados das pessoas. Mesmo na Europa, que é a região do mundo que inaugurou o conceito
de privacidade e direitos humanos na internet, dados das crianças acabaram nas mãos de firmas de apostas de jogos online. Isso é muito grave.”
Enquanto na União Europeia rastreamento e reconhecimento facial de crianças na escola geram multa, no Brasil o modelo ganha força. “Essa prática ajuda as empresas a treinarem seus algoritmos. O poder público não pode oferecer uma base de usuários de milhões de crianças para o treinamento e para o que vai dar lucro para entes que não estão diretamente relacionados à educação. Nosso principal conselho na gestão pública é não aceitar o acesso a uma plataforma no tipo de contrato ‘clique aqui para aceitar’ porque vai beneficiar a empresa que está fornecendo a plataforma e a gestão pública deve estabelecer quais são os requisitos, o fornecimento mesmo em plataforma gratuita.”
Ele explica que as secretarias de educação não podem ficar sozinhas nesse processo, necessitando do auxílio de órgãos como o Tribunal de Contas da União,
Existem as plataformas chamadas abertas, como de softwares livres, cujo código é aberto de tal forma que a auditoria se dá no momento em que os dados são coletados e tratados. “É por isso que a regra no poder público, quando possível, deveria ser a contratação de plataformas abertas e softwares livres. No caso de plataformas comerciais em que elas dão respostas individuais, o que vai garantir isso é o contrato porque, quando não se pode abrir o código, não podemos olhar como os dados estão trafegando no sistema e como estão indo”, explica Rodrigo Barbosa e Silva.
Na Europa, dados das crianças acabaram nas mãos de firmas de apostas de jogos online
Tribunais de Contas dos Estados, Ministério Público, dos Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comdica), Observatórios Sociais, Movimentos de Softwares Livres e universidades.
Outro ponto de destaque entre especialistas é que o Brasil seja protagonista na criação de tecnologias que ‘conversem’ com a tradição social do país. “Hoje, na maioria, as plataformas são condizentes com a tradição social norte-americana, que tem valores diferentes da sociedade brasileira, apesar de muitas vezes serem comuns, mas há pontos conflitantes. As plataformas sim, pela vantagem tecnológica e econômica, pelo aspecto popular em termos de uso, têm vantagem perante a regulação e perante o governo. Isso não vai eximir o órgão, enquanto contratante, e aqui estamos falando que quando se é contratante de um serviço, principalmente no Brasil, o governo é um contratante muito forte, ele pode estabelecer as condições de contratação.”
Importante ressaltar que Rodrigo é um defensor da tecnologia na educação, mas quando é empregada a favor do aprendizado. “A única garantia que hoje essas plataformas comerciais podem oferecer é auditoria de contrato. É preciso garantia de que os dados não estarão nas mãos de terceiros, sendo utilizados somente para dar retorno, feedback ao estudante sobre seu desempenho escolar. E que os dados não serão, em caso de venda da empresa, utilizados pela empresa que a comprou de outra forma não prevista no contrato. Então, a única forma em tecnologias comerciais e fechadas de ter essa garantia é contratual. É uma relação de vontade entre entidades privadas que pode ser a família, escola e a plataforma.”
Na Universidade Stanford, EUA, antes de 2018, ética não era a primeira preocupação de projetos tecnológicos, lembra Rodrigo Barbosa e Silva. Até que a instituição criou naquele ano um centro de estudos chamado HAI (HumanCentered Artificial Intelligence, traduzido como experiência artificial centrada em humanos) e criou a disciplina que na época se chamava ética, política pública e computadores, hoje a mais popular entre os cursos de graduação.
“Antes, a pessoa era treinada para coletar o máximo possível de dados, mesmo não sabendo o que seria feito com eles. Hoje isso mudou. Os departamentos de ciência da computação no mundo têm debatido: será que é assim que devemos prover educação para as tecnologias? Atualmente, a ideia de que se deve fazer coleta mínima de dados já entra na formação das pessoas da ciência da computação e a importância de se garantir a privacidade e proteção individual também entra no centro dos projetos.”
Rodrigo critica que em 2022 o Brasil ainda discute como prover internet nas escolas públicas enquanto isso já deveria estar superado e alerta que estudar pelo celular não dá certo. “Então, ao lado da discussão de como trazer internet para todas as crianças, precisamos fornecer computador, que faça parte do material escolar básico. É necessário equipamento com tela adequada, e com mouse.”
Função primária da gestão pública é regular os contratos para ficarem o mais transparente possível, colocando explicitamente a privacidade como regraRodrigo Barbosa e Silva: coletar o mínimo de dados possíveis hoje entra na formação das pessoas da ciência da computação Arquivo pessoal
Objetivo é estabilizar financeiramente a escola ao cobrir o valor total das mensalidades dos alunos. O gerenciamento de cobrança com a família passa a ser da empresa, que promete só em 2022 recebíveis às escolas parceiras acima de 300 milhões de reais
Mensalidade atrasada e mesmo assim se comprometer com o salário dos educadores e colaboradores. Melhorar a estrutura escolar, ficar de olho na evasão e captação de alunos, conversar com famílias, professores e ainda se atentar à aprendizagem dos estudantes. Diante de um turbilhão de tarefas é fato que recursos que chegam para otimizar o tempo e ainda solucionar problemas escolares – oportunizando ao gestor ou gestora focar o que considera prioridade –, vieram para ficar.
A plataforma kedu, voltada exclusivamente ao setor da educação, acaba de chegar ao mercado e em seu leque de serviços oferece soluções para a área de gestão administrativa, contábil, financeira, jurídica e de marketing, sendo que o seu comprometimento principal é estabilizar financeiramente a escola. Tanto que em 2022, seu primeiro ano de atuação, a empresa pretende atingir mais de 220 escolas e assim garantir a essas instituições contas a receber acima de 300 milhões de reais.
A kedu pertence ao mesmo grupo da Meireles e Freitas Cobrança Digital, empresa com mais de 30 anos de história e que tem entre seus clientes escolas particulares de todo o país.
Esses recebíveis funcionam da seguinte forma: a escola apresenta à kedu o valor de seus recebíveis e, todo mês, recebe de forma antecipada os valores das mensalidades mediante uma pequena taxa. Com isso, a inadimplência deixa de ser um problema, a previsibilidade de caixa se torna real e o contato sobre questões
kedu, nova plataforma de gestão financeira escolar, surge de grupo com mais de 40 anos de carreira
“Temos uma causa e um propósito: elevar o patamar de gestão financeira e administrativa para entregar uma educação de qualidade para a sociedade”, diz o CEO da kedu, Venâncio Freitas
financeiras com os responsáveis dos alunos passa a ser papel da empresa.
Para focar essencialmente o setor educacional, o CEO da kedu, Venâncio Freitas, e sua equipe mergulharam ainda mais na realidade do segmento. Indagado sobre as principais dores da gestão escolar, Venâncio destaca: “elevada inadimplência; imprevisibilidade de caixa; pouca profissionalização na realização das atividades administrativas e financeiras; falta de acesso a linhas de crédito e financiamento; concorrência predatória; plano de mídia e comunicação deficientes; inadequação à LGPD [Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais]; ausência de treinamentos específicos para elevar o nível da equipe administrativa”.
O lançamento da plataforma kedu aconteceu no início de abril, por meio de um evento híbrido, em que o evento presencial ocorreu em Fortaleza CE, e contou com a participação de Maria Inês Fini, ex-presidente do Inep e uma das criadoras do Enem, e de Eduardo Deschamps, que presidiu as comissões do Ensino Médio e BNCC [Base Nacional Comum Curricular] no Conselho Nacional de Educação. Os dois especialistas falaram aos convidados sobre A escola que temos e a escola que queremos: desafios da gestão escolar para enfrentar a evasão e preparar para o Enem de 2024.
é o tema escolhido pelos próprios alunos para estar em todas as áreas dos itinerários formativos – decisão ocorreu após imersão no presente e passado
Com 122 anos, o Colégio Imaculada Conceição, localizado no bairro Santa Felicidade, em Curitiba, Paraná, é a primeira unidade do Sagrado Rede Educação no Brasil. Fundado por Madre Clélia Merloni, na Itália, que enviou ao Brasil quatro irmãs pioneiras para trabalhar na escola, o colégio foi se adaptando às demandas e pedidos da comunidade ao longo dos anos e em 2002 aderiu ao ensino médio, comportando hoje todos os níveis da educação básica.
A relação com o seu entorno é um de seus maiores diferenciais: “O colégio responde muito bem à comunidade, por ser uma escola com muita tradição, reconhecida pela excelência acadêmica, pelos valores éticos, morais, cívicos; pelo carisma e espiritualidade legados pela Fundadora, que perpassam todas as ações educativas. Ele possui uma parceria grande com outras instituições (educação, saúde, comércio) e com as famílias, que são muito participativas, por exemplo, quando tivemos a comemoração dos 100 e dos 120 anos do colégio, a comunidade e as famílias participaram ativamente, porque muitos foram alunos, seus filhos também e hoje muitos netos das primeiras famílias da comunidade são alunos do colégio e eles confiam na educação de qualidade e nos valores praticados pela instituição”, conta a gestora Ana Lúcia Langner.
Ana Langner trabalhou no Sagrado Rede Educação por 20 anos como educadora, tendo inclusive passado pelo Colégio Imaculada Conceição, e apesar de ter se desligado da rede em 2007, voltou em fevereiro deste ano ocupando o cargo de gestora pedagógica de todo o Sagrado Rede Educação Sul, que conta com 14 unidades entre o Paraná e o Rio Grande do Sul. Segundo ela, 2022 trouxe grandes mudanças para a rede, como a inclusão de material didático 100% digital para as turmas
Cuidado com alunos, educadores, colaboradores e comunidade faz parte do DNA da instituição
do primeiro ano do ensino médio. Dentre as 14 escolas, apenas três continuam com o uso do material físico. Outra novidade é início do novo ensino médio, que para a gestora oportuniza grandes desafios. No Colégio Imaculada Conceição, os alunos realizaram uma pesquisa na comunidade, no bairro Santa Felicidade, e observaram a presença de imigrantes, como haitianos e venezuelanos, além de um histórico imigratório, por exemplo, de italianos. Como resultado, os jovens optaram por incluir o contexto imigração nas quatro áreas de conhecimento de seus itinerários formativos. “É muito interessante a proposta dos alunos estudantes, mediados pelos educadores. Sugerimos e propomos que todas as unidades olhem para os seus contextos e vejam aquilo que hoje é necessário, que olhem realmente para o que está de fato ao seu lado, porque todos temos
que dar as mãos para o mundo, para responder à própria realização e formação pessoal e aos problemas sociais deste momento, deste século 21”, relata Ana.
Cada unidade da rede conta, além dos professores, com diversas equipes que facilitam os processos de aprendizagem. Por exemplo, o SIS (Serviço de Integração Social), tem como objetivo: escutar, mediar e agir possibilitando maior interação nas relações e conflitos do cotidiano. O SOE (Serviço de Orientação Educacional), acolher, atender e orientar as famílias e os alunos em relação à aprendizagem. O SOP Serviço de Orientação Pedagógica, acolhe, atende, orienta e acompanha os professores, assegurando a filosofia e a proposta pedagógica e os valores da Instituição.
Além do cuidado interno com os alunos, oferecendo educação com rigor acadêmico e atenção para as necessidades individuais e coletivas dos discentes, a gestora acredita que a escola precisa ter um olhar também para os professores, tanto que a rede investe em formação constante, contando ainda com palestras que integram as famílias e a comunidade. “Dia 11 de abril fizemos uma formação online para todas as 14 escolas e convidamos para participar: famílias, alunos, professores, amigos, colaboradores e pessoas que gostam das nossas unidades. O tema foi tema: A arte do cuidado e do acolhimento, porque a pandemia ainda não terminou, precisamos cuidar das relações e uns dos outros. Então pensamos e nos antecipamos nessas questões e oferecemos para todo mundo essas possibilidades de cuidar de si e do outro”, detalha a gestora Ana Langner. Algo fundamental para o desenvolvimento da educação, que deve ser pensado por todos, segundo ela, é
o preparo do estudante para as demandas do mundo, porém sem deixar de lado a sua formação como ser humano. “A educação é a porta de entrada para a transformação da humanidade, então ela precisa estar aliada com tudo aquilo que de fato vai responder às necessidades de hoje e do futuro. Hoje é difícil fazer educação, estar na educação, porque estudamos e pesquisamos, mas a evolução é muito rápida e o que antes levava 50 ou 100 anos para evoluir, hoje não leva nem cinco anos. Percebo que precisamos formar os estudantes para a resolução de problemas, para o trabalho em equipe e para a questão da tecnologia sem esquecer do ser humano. Precisamos ter consciência de que somos todos responsáveis por este planeta e que a nossa aprendizagem, seja ela na educação infantil ou no ensino médio, precisa ser pensada para tornar nossa vida e este mundo melhor”, finaliza.
“Hoje é difícil fazer educação, estar na educação, porque estudamos e pesquisamos, mas a evolução é muito rápida e o que antes levava 50 ou 100 anos para evoluir, hoje não leva nem cinco anos”
“Propomos que todas as unidades olhem para os seus contextos e vejam aquilo que hoje é necessário, que olhem realmente para o que está de fato ao seu lado”
O relato de uma escola no Espírito Santo que busca se afastar de modismos e aplicar, de fato, inovação junto a seus professores
A tecnologia passa a fazer parte do processo de aprendizagem quando a cultura se transforma dentro da escola e gera práticas inovadoras. Essa premissa tem sido alardeada repetidamente por especialistas. Henrique Romano Carneiro, gerente de operações da Escola São Domingos, em Vitória, Espírito Santo, sabe disso. “Apesar de ser um grande entusiasta, antes da pandemia eu via a tecnologia na escola com algum ceticismo, percebia escolas muito ‘novidadeiras’ e pouco inovadoras.” Para ele, poucas escolas no Brasil e no mundo estavam fazendo um trabalho mais profundo com a adoção de tecnologia para potencializar o aprendizado. “Mas colocar uma lousa virtual ou oferecer tablets apenas para as crianças mexerem, sem alinhamento muito claro com a proposta pedagógica, era uma perda de tempo e esforço da escola em detrimento do aprendizado.”
Formado em engenharia civil e com especialização em administração, Henrique conhece a Escola São Domingos, literalmente, desde bem pequeno. “Quando nasci, minha avó mandou confeccionar um uniforme da escola no tamanho bebê”, conta. Ele é a terceira geração a conduzir a escola, fundada em 1973 por Margarida Santos Daher Carneiro, a avó citada. Se as transformações foram muitas ao longo dessas décadas, coube à geração de Henrique um dos maiores desafios: implantar a cultura digital na escola.
A transformação começou em 2016, a partir da ideia de que a tecnologia é aliada no aprimoramen-
to das estratégias de aprendizagem e com a certeza de que era necessário um tempo para que a real inovação ocorresse. Em 2017, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) oficializou o início da transformação. “Nesse ano, a BNCC trouxe o eixo de letramento digital, pensamento computacional e cidadania digital; todas as disciplinas foram mais levadas a contextualizar a tecnologia digital no conteúdo”, lembra.
O futuro é a personalização da aprendizagem, acredita o gerente de operações Henrique Romano Carneiro
A escola, então, investiu em sala com estrutura diferenciada, pensada com intencionalidade pedagógica, como parte de uma nova metodologia, o The Box. Ali, Henrique Romano treinou a primeira turma de professores: “Hoje são 120 professores capacitados para dar aula no The Box, mas não começou assim. Eu capacitei um grupo de interessados, e eles começaram a utilizar o espaço. Os outros professores foram percebendo as boas práticas. Criamos um sistema de incentivos, com premiações, oferecemos brindes para quem faz certificações de tecnologia, desde mochilas personalizadas a bótons; crachás com bótons expondo conquistas. Abrimos a possibilidade de certificações para professores e colaboradores em geral” O resultado, diz o gerente de operações, é que “o próprio aluno começa a cobrar do professor a tecnologia que outro professor já utiliza. Isso cria um sistema bacana”. Durante a pandemia, o processo de implantação da tecnologia foi acelerado. A Escola São Domingos ofereceu um notebook de alta qualidade para cada um dos professores. “Adquirimos 140 notebooks da Lenovo; mesmo depois da pandemia, continuamos com essa prática. Quando chega um professor ou um funcionário gestor, ele ganha o equipamento.” Henrique enfatiza o cuidado com a escolha dos equipamentos, pois a negligência gera fricções no processo. Por exemplo, notebooks lentos para iniciar ou muito frágeis podem roubar minutos preciosos das aulas. “Vale lembrar que cinco minutos equivalem a 10% de uma aula inteira, que tem 50 minutos.”
Fotos: Divulgação
A implantação da tecnologia tem seguido os pilares preconizados pela Microsoft, em seu manual Estrutura de Transformação da Educação. Na plataforma Teams estão interligados os cerca de 2 mil alunos e seus professores. A escola é reconhecida como showcase da Microsoft. Hoje em dia, afirma Henrique, os professores dão aulas com o notebook aberto na sala, mesmo que não estejam transmitindo; “eles estão ali fazendo chamada, uma anotação na pauta, conversando com a coordenação ou supervisão, pedindo apoio ou informação”. Uma área de processos internos da escola também já funciona de maneira totalmente digital. “Nessa rede social interna, a equipe posta atividades pedagógicas realizadas e os próprios colaboradores comentam, curtem, trocam boas práticas.”
Carolina Gomes, gerente de desenvolvimento de negócios para educação da Lenovo, destaca que a parceria com a Microsoft faz a empresa ver, pensar, entender e entregar soluções que fazem sentido para as instituições de ensino. “Pensamos em todos os interlocutores (pais, alunos, professores, gestores, etc.). Acreditamos no poder da educação e quando o Henrique nos procurou com alguns desafios abraçamos a causa e confiamos no sucesso do projeto. Assim é a nossa atuação: apoiamos e fazemos acontecer as ideias de nossos clientes, pois, para dar certo, o projeto precisa ser pensado além do dispositivo”, explica a gerente.
ser pensado além do dispositivo
Os recursos que potencializam o aprendizado são muitos e começam a ser explorados na São Domingos. Por exemplo, a ferramenta de leitura digital com inteligência artificial. “O aluno lê um texto, a ferramenta conta quantas palavras ele repetiu, pulou, quantas pronúncias erradas fez e gera um relatório individual ao professor”, explica Henrique Romano. Essa ferramenta está sendo utilizada por crianças de sete anos, em casa, junto com a família. O gerente de operações conta que essas inovações são usadas com critério: “Fazemos isso com muita responsabilidade; nossa equipe de tecnologia trabalha em parceria com a supervisão da série e tenta fazer com o mínimo de impacto possível na rotina da sala de aula, para que possamos, de fato, trazer inovações que agreguem valor ao processo educacional”. O futuro, diz ele, é a integração total do aluno aos seus dispositivos e a personalização da aprendizagem.
E quando a violência está cercada pelos muros da escola? Sabese que todas as experiências vividas ao longo dos quase dois anos de isolamento social tiveram, e ainda terão, grande impacto dentro do espaço escolar. Muito se tem falado sobre esse aspecto a partir dos danos à aprendizagem, ao prejuízo tido pelo afastamento de professor e aluno e suas relações, bem como todas as outras que acontecem no espaço escolar. À parte a gravidade dessas questões, há outro ponto que ganhou destaque no retorno às atividades presenciais na escola, que é o agravamento das violências sofridas pelos estudantes no ambiente familiar e dos casos de violência dentro da escola. Se, por um lado, estar na escola é um fator de proteção para crianças e jovens, por outro, tem-se ali também um ambiente perigoso.
A Secretaria de Educação de São Paulo registrou um aumento de 48% nos casos de agressões físicas nas escolas da rede, em uma análise que compara 2019 a 2022. No Distrito Federal, o tema também tem preocupado educadores e famílias. Um levantamento da Polícia Militar mostra que, somente em 2022, registrou 108 ocorrências em colégios públicos.
ambiente colonial – e nele, o intelectual discorre sobre a inevitabilidade da violência, uma vez que o que está posto é uma arena de contradições pautada em relações distintas articuladas pela brutalidade de cada um dos atores envolvidos. Trazendo a discussão para o nosso contexto, há também no espaço escolar um ambiente de contradições onde pode se instaurar uma permanente tensão – seja em forma de bullying, negligência, exclusão a até violências física, psicológica, emocional etc. – a qual não podemos ignorar. Infelizmente, essa é uma reflexão inconclusiva. Precisamos manter o olhar atento à promoção da diversidade e tolerância. Para a escola ser um espaço seguro para todos, devese recorrer à valorização exaustiva da diferença: de gênero, de orientação sexual, de etnias, de religião, de nacionalidade e tantas outras possibilidades que a riqueza da diversidade nos traz. Tratase de uma corresponsabilidade, a ser pactuada entre todos nós, na sala de aula e no mundo.
LEIA MAIS:
Não se pode ignorar que uma das principais causas de violência na escola são reproduções de ambientes violentos, provocadas por fatores socioeconômicos ou relacionais. Entretanto, não se trata apenas de fatores externos, a violência está presente dentro do espaço escolar. Frantz Fanon, psiquiatra e militante político anticolonialista, traz em seu livro Os condenados da terra o conceito de “violência atmosférica” – ao descrever e analisar o
A educação que protege contra a violência. Realização do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Disponível em https://www.unicef.org/brazil/ media/4091/file/Educacao_que_protege_contra_a_violencia.pdf
Precisamos manter o olhar atento à promoção da diversidade e tolerância. Para a escola ser um espaço seguro para todos deve-se recorrer à valorização exaustiva da diferençaDamaris Silva mestre em letras e especialista em gestão escolar Envato elements
São Paulo registrou um aumento de 48% nos casos de agressões físicas nas escolas da rede, em uma análise que compara
A constante autocobrança, o anseio por ser impecável e manter a vida sob controle podem surtir efeito contrário
Ocandidato a uma vaga de trabalho que opta pelo caminho (aparentemente) seguro de dizer que seu principal “defeito” é o perfeccionismo, na tentativa de impressionar o entrevistador, certamente não sabe que pode estar escolhendo um caminho perigoso. Afinal, exigir excelência máxima de si mesmo (e frequentemente também dos outros) costuma deflagrar expectativas vinculadas ao medo do fracasso e da perda. Ansiosa, a pessoa tende a se desencorajar por não atender aos padrões que se impõe, já que o alto grau de exigência aparece aliado à baixa tolerância à possibilidade de cometer erros. Resultado: reluta em completar tarefas e assumir desafios.
Na prática, o excesso de autocobrança costuma produzir ineficiência, causar atrasos, dificuldade de cumprir prazos, sobrecarga de trabalho e até mesmo resultados medíocres, em comparação ao que poderia produzir se a tranquilidade fosse mantida. Embora a constante sensação de insatisfação não caracterize, por si só, um quadro que possa ser diagnosticado, aparece como sintoma que merece receber atenção e um processo psicoterápico. Não raro, a busca constante pela excelência pode ainda prejudicar relacionamentos e faz mal não só à saúde mental, mas também ao corpo, causando aumento de pressão, enxaqueca e dores musculares associadas ao estresse.
O comportamento tem sido associado a anorexia, distúrbio obsessivo-compulsivo, ansiedade social, blo-
Em casos extremos, esse tipo de comportamento pode gerar ansiedade patológica, síndrome do pânico, distúrbios alimentares e depressão
queio criativo, depressão, compulsões e alcoolismo. Apostando que tendências perfeccionistas podem ser usadas de maneira saudável, nos últimos anos alguns pesquisadores têm se empenhado em desenvolver ferramentas para analisar e medir tanto benefícios quanto aspectos prejudiciais da constante preocupação de atingir (o que a pessoa supõe ser) a perfeição
Mas não é de hoje que o perfeccionismo chama a atenção de psicólogos. No artigo O script perfeito para a autoderrota, de 1980, o psiquiatra David D. Burns escreveu que, quando alguém busca desesperadamente atingir um objetivo e acertar (em geral tomando como parâmetro um referencial alheio), a qualidade da vivência propriamente dita pode se perder. Segundo ele, o “tiro costuma sair pela culatra”; as pessoas medem o seu próprio valor inteiramente em termos de produtividade e realização, comparandose com outras pessoas, sem se voltar para os próprios desejos, história e condições em dado momento.
Vulneráveis à perda da autoestima e às dolorosas mudanças de humor após qualquer contratempo, os perfeccionistas correm o risco de se dedicar aos objetivos de forma inconsistente, adotar hábitos ineficientes que prejudicam seu real desempenho e trabalhar lentamente, sofrendo para definir cada detalhe e gastando muito mais tempo em um projeto do que ele merece – e, muitas vezes, sem nenhum benefício adicional.
Eles adiam atividades porque os projetos que deveriam ser perfeitos, muitas vezes, parecem assustadores. Há, em alguns casos, uma lógica defensiva nessa atitude: ao investir pouco tempo e energia em algo (como estudar para uma prova ou preparar uma apresentação de projeto, por exemplo), a pessoa pode dar a si mesma a justificativa de que se tivesse se empenhado mais poderia atingir seu objetivo. Talvez isso até se comprovasse, mas o que se tem, concretamente, é a frustração.
Um estudo de 2003 apontou para os perigos psicológicos de aspirações irracionais, que podem levar as pessoas ao fracasso. Uma equipe liderada pelo psicólogo Peter J. Bieling, da Universidade McMaster, em Ontário, avaliou características de personalidade de 198 estudantes. Em seguida, os pesquisadores pergunta-
ram a nota que gostariam de alcançar em médio prazo. Aqueles que apresentavam traços perfeccionistas traçaram objetivos mais altos que os demais, embora os destes últimos não fossem necessariamente melhores. Os perfeccionistas, porém, eram muito mais propensos a ficar aquém de suas ambições e, em vez de ajustar suas expectativas à realidade quando não conseguiram alcançar as notas planejadas, insistiram em manter ou até mesmo aumentar a dificuldade para o próximo exame – o que fortalecia a sensação de insatisfação.
Diferentemente do que muitos imaginam, ninguém é perfeccionista em todas as situações ou áreas da vida. Algumas pessoas são muito exigentes a respeito da limpeza da casa, outras se concentram no trabalho ou na aparência física, por exemplo. Essas tendências podem ser especialmente evidentes quando as apostas são altas. Há alguns anos, o psicólogo Randy O. Geada, da Smith College, e sua então aluna Patricia Marten DiBartolo (atualmente também psicóloga da Smith College) pediram a 51 estudantes universitárias, algumas com altos escores em uma escala que mede perfeccionismo, que reescrevessem um parágrafo de um livro.
Os pesquisadores acompanharam as variações do estado emocional das participantes antes e depois da tarefa. As voluntárias muito perfeccionistas realizaram a tarefa tranquilamente no momento em que a pressão estava baixa. Mas, quando foi dito a elas que o trabalho seria corrigido e comparado com o de outras pessoas, as participantes do experimento passaram a considerar a tarefa mais importante e se sentiram mais angustiadas que as demais participantes.
Em geral, a escrita das perfeccionistas foi inferior, provavelmente porque, temendo críticas, elas evitaram a oportunidade de ter um feedback e, consequentemente, procuraram se expor o mínimo possível. Essa constatação corrobora a opinião de outros psicólogos: à medida que aumenta a diferença entre as expectativas e os resultados, os perfeccionistas perdem cada vez mais a autoconfiança, o que os leva a evitar novos desafios.
Ironicamente, quanto maior ênfase colocam na excelência, mais se sentem perseguidos e podem minar
Diferentemente do que muitos imaginam, ninguém é perfeccionista em todas as situações ou áreas da vida
oportunidades de sucesso. Os pesquisadores Paul L. Hewitt, da Universidade de British Columbia, e L. Gordon Flett, da Universidade de York em Toronto, chamam o fenômeno de “paradoxo do perfeccionismo”. Como disse Voltaire: “O melhor é o inimigo do bom”.
A autoexigência extrema tem raízes na infância. Muitas vezes aparece como resultado da forte cobrança dos pais ou à sobrecarga emocional a que foram expostas. Embora não seja uma regra, é muito frequente que primogênitos encarregados pelas figuras parentais
de responsabilidades, muitas vezes excessivas para sua idade, tendam a se sentir incapazes de dar conta do que lhes foi atribuído e a carregar essa marca para a vida adulta, o que acarreta grande sensação de insuficiência – ainda que os dados concretos contradigam essa impressão. Por outro lado, filhos de pais negligentes podem imaginar que se fizerem tudo certo terão maiores chances de serem notados – e amados. Há ainda casos de crianças que vivem em um lar caótico e podem tentar ser perfeitas como uma forma de estabelecer algum controle sobre um ambiente imprevisível e, não raro, assustador. Além disso, costumamos reproduzir modelos: pais perfeccionistas têm grandes possibilidades de criar filhos com a mesma característica.
“Inicialmente, as crianças podem descobrir que o perfeccionismo é útil e se tornam, por exemplo, excelentes alunos para serem recompensados e, de fato, quanto mais se dedicam, mais se tornam meticulosos e melhores no que fazem”, diz a psicóloga Roz Shafran, pesquisadora da Universidade de Reading, na Inglaterra. Mas, então, a situação muda: as crianças crescem, vão para a universidade, para o mercado de trabalho, e descobrem que há variáveis demais para controlar; percebem que às vezes vão se dar bem, mas não sempre. “É aí que surge o sentimento de que não são bons o suficiente e, para tentar ‘arrumar’ a situação, alguns podem ficar acordados a noite inteira, outros somatizam e muitos caem em depressão”, afirma Roz.
O perfeccionismo também pode atrapalhar as pessoas quando aparece em áreas “inadequadas” da vida. Quando uma jovem decide colocar todo seu foco no objetivo de fazer dieta, por exemplo, é possível que, em certas condições, essa devoção a leve ao desenvolvimento de anorexia. Além disso, algumas manifestações de perfeccionismo podem ser especialmente problemáticas para relacionamentos.
Hewitt e Flett desenvolveram uma escala que identifica perfeccionistas orientados socialmente (socially prescribed), que se sentem atormentados pelas altas expectativas daqueles com quem convivem e temem desapontar, e os perfeccionistas orientados pelos outros (other-oriented), que observam as pessoas ao redor para intimidá-las e superá-las e, assim, se sentirem mais capazes. A ferramenta Adaptação da Escala (quase) Perfeita, um teste sem pretensão de oferecer diagnósticos, pode ajudar as pessoas a entenderem como lidam com a próprias autoexigências.
A autoexigência extrema tem raízes na infância.
Muitas vezes aparece como resultado da forte cobrança dos pais ou à sobrecarga emocional a que foram expostas
O perfeccionismo inclui elementos úteis, mas também destrutivos. As pessoas que lidam de forma saudável com essa característica tendem a obter bons resultados naquilo que se propõem fazer, gostam desse esforço e se permitem comemorar suas conquistas. Por outro lado, perfeccionistas insatisfeitos costumam ser assombrados pelo medo do fracasso – em geral, mais fantasiado que concreto. Duvidam que são capazes de cumprir as metas que estabeleceram para si e raramente se sentem satisfeitos com suas realizações. O teste (*)
1 Tenho padrões altos em relação ao meu desempenho no trabalho ou na escola. ( )
2 Muitas vezes me sinto frustrado por não conseguir cumprir meus objetivos. ( )
3 Se você não espera muito de si, nunca terá sucesso. ( )
4 “Meu melhor” parece nunca ser bom o suficiente para mim. ( )
5 Tenho grandes expectativas para mim. ( )
6 Raramente aproveito o resultado dos meus padrões elevados. ( )
7 Fazer o “meu melhor” parece nunca ser suficiente. ( )
8
Eu defino padrões muito altos para mim. ( )
9 Nunca estou satisfeito com minhas realizações. ( )
10
Espero o melhor de mim. ( )
a seguir é usado em trabalhos de pesquisa para avaliar a relação das pessoas com o próprio grau de autoexigência. É importante levar em consideração o “pode ser”, porque o teste – e aqui vale o trocadilho – não é perfeito, trata-se de uma ferramenta informal, sem poder de diagnóstico. Pontue as declarações indicando o que é verdade para você, usando uma escala de 1 a 7, em que 1 é “discordo totalmente”, 2 “discordo”, 3 “discordo ligeiramente”, 4 “não concordo nem discordo”, 5 “concordo um pouco”, 6 “concordo” e 7 “concordo plenamente”.
11 Frequentemente não me preocupo em medir minhas expectativas. ( )
12 Meu desempenho raramente reflete meus padrões. ( )
13 Não fico satisfeito mesmo quando sei que fiz o melhor que podia. ( )
14 Tento fazer o melhor em tudo que realizo. ( )
15 Raramente sou capaz de dar conta dos meus próprios padrões elevados de desempenho. ( )
16
Quase nunca estou satisfeito com o meu desempenho. ( )
17
Quase nunca sinto que aquilo que faço seja bom o suficiente. ( )
18
Tenho forte necessidade de buscar a excelência. ( )
19
Muitas vezes me sinto decepcionado após completar uma tarefa por saber que poderia ter feito melhor. ( )
*Da revista Mente e Cérebro
Preocupada com a sustentabilidade e reconhecida como inovadora, a African Leadership University pretende desenvolver 3 milhões de líderes éticos e empreendedores até 2035
AEllen MacArthur Foundation, que mantém a African Leadership University (ALU) nas Ilhas Maurício e Ruanda, trabalha para acelerar a transição da sociedade para uma economia circular. “Desenvolvemos e promovemos a ideia de uma economia circular e trabalhamos com empresas, academia, formuladores de políticas e instituições para mobilizar soluções de sistemas em escala global.” Visa desenvolver 3 milhões de líderes éticos e empreendedores para a África e o mundo até 2035. Ela usa uma abordagem personalizada, orientada para o aluno, baseada em projetos e pautada na missão de criar aprendizes ágeis e duradouros que possam se adaptar a um mundo em mudança. No seu estudo sobre o futuro do ensino, os pesquisa-
dores da Faculdade de Direito da Fundação Getulio Vargas de São Paulo focaram a ALU como estudo de caso, já que está em uma missão para catalisar a transformação da África. Ao preparar novas gerações de líderes éticos e empreendedores, pretendem provocar uma onda de impacto em todo o continente africano. Com uma visão totalmente inovadora, vale enfatizar que a economia circular é um modelo de produção e de consumo que envolve a partilha, o aluguel, a reutilização, a reparação, a renovação e a reciclagem de materiais e produtos existentes, enquanto possível. Desta forma, o ciclo de vida dos produtos é alargado.
A abordagem inteiramente nova permite que a ALU tenha dezenas de empresas e governos que a apoiam –do Brasil, a cidade de São Paulo é uma delas. Na prática, a economia circular implica a redução do desperdício
ou dos resíduos ao mínimo. Quando um produto chega ao fim do seu ciclo de vida, os seus materiais são mantidos dentro da economia sempre que possível, podendo ser utilizados uma e outra vez, o que permite assim criar mais valor.
Além de ser um estudo de caso na publicação Uncharted Territory – Stanford 2025, a ALU foi eleita em 2019 a empresa mais inovadora do continente africano e está na 39ª posição dentre as empresas mais inovadoras do mundo.
O estudo da FGV-SP informa que o campus físico tem vagas para 250 estudantes ao mesmo tempo. Assim, para várias disciplinas, os estudantes assistem a aulas de outras universidades, no formato online. Ao final da graduação, há ainda previsão de um estágio em forma de intercâmbio de 12 meses.
Para proporcionar integração com a comunidade local, na graduação os estudantes escolhem missões para seguir durante seu curso relacionadas ao desenvolvimento do continente africano. Segundo o site da instituição, além de trazer melhorias concretas para a comunidade, isso permite que os estudantes já pensem e criem oportunidades de trabalho para eles mesmos.
A ideia de missão a ser seguida está baseada na cida-
dania, uma vez que a missão visa promover o desenvolvimento sustentável no continente africano.
Em relação à contratação de pessoas, a ALU entende que não é necessário produzir novos conteúdos no mundo, uma vez que todos já foram produzidos. A posição institucional é de contratar pessoas que organizem estes conteúdos, mais do que pessoas que os produzam. Portanto, a ALU contrata especialistas em aprendizagem que fazem uma curadoria de experiências educacionais e mentores, tutores, que possam apoiar os projetos dos estudantes. A instituição prefere contratar pessoas que demonstram habilidades em determinadas funções, ao invés de focar a qualificação formal.
A universidade é de baixo custo e com um modelo de financiamento flexível. Isso se dá devido ao seu modelo de negócio democrático, que prevê acordos de participação nos lucros com os estudantes, fazendo com que paguem menos no início por sua educação, combinado com o “pay-it-forward”, no qual eles quitam seus estudos de volta aos investidores depois que encontram um emprego.
A ALU foi estudo de caso de pesquisadores da Faculdade de Direito da Fundação Getulio Vargas de SPAlunos participam de bate-papo no campus
Recursos educacionais acessíveis: a ALX é uma plataforma e comunidade que oferece cursos ainda mais baratos do que a graduação. Esta plataforma tem um modelo de ensino para a vida toda, voltada para o desenvolvimento de liderança, sendo acessada por pessoas em todo o continente africano. Há cursos de 6 meses de duração que podem ser feitos por graduandos ou trabalhadores que querem ascender na carreira e aumentar sua empregabilidade, contando com um modelo de financiamento que permite uma maior acessibilidade.
Com foco na aprendizagem ao longo da vida, a ideia é formar líderes em qualquer momento. Inclusive, há programas voltados para pessoas que trabalham e querem se atualizar na carreira. Com formação integral e
transdisciplinar, a instituição tem a missão de formar estudantes ágeis e focados em resolver problemas, que, se graduando em Global Challenges ou Entrepreneurial Leadership, a IES entende que este modelo faz com que eles se adaptem melhor ao mundo no qual a inteligência artificial e automação estão em alta.
Personalização e flexibilidade: cada um escolhe sua própria missão para seguir durante a graduação e vai fazendo disciplinas e projetos baseados nela.
Protagonismo e cocriação: a instituição utiliza o Innovative Learning Model, baseado em descoberta, individualidade, aprendizagem com os pares e facilitação da aprendizagem em grupo. Somente 10% da aprendizagem dos estudantes acontece na sala de aula, 20% com os pares e mentores. Todo o restante da experiência se dá em estágios e projetos reais, o que permite que construam uma rede de contatos profissionais. A faculdade age como um guia, e considera a experiência dos estudantes, por meio de um tutor que trabalha individualmente com cada um.
Como cada aluno na ALU tem mentores/tutores que os guiam e apoiam nos projetos, o contato é bem próximo. Durante a pandemia a IES garantiu, por reuniões virtuais, que alunos e tutores estivessem conectados. Além das medidas de isolamento e aulas online, a universidade tem fornecido apoio à saúde a todos os membros da comunidade acadêmica.
A ALU utiliza a tecnologia existente ao seu favor, não investe na construção de bibliotecas ou cursos novos, mas aproveita aqueles que estão disponíveis online com plataformas como Coursera, edX e Udacity. Durante a pandemia usaram a plataforma Canvas para integrar plataformas e recursos educacionais existentes.
A economia circular implica a redução do desperdício ou dos resíduos ao mínimo.
Quando um produto chega ao fim do seu ciclo de vida, os seus materiais são mantidos dentro da economia sempre que possívelInterior do campus nas Ilhas Maurício, África Oriental Nicolas Michael Malachie
EVENTOS QUE VOCÊ NÃO PODE PERDER!
AGOSTO
O Grande Encontro da Educação está em sua 8ª edição e em 2022 apresentaremos um evento híbrido.
Serão dias de conversas com grandes pensadores e especialistas em educação.
Evento gratuito e com emissão de certi cado.
Para maiores informações, acesse nosso site: grandeencontrodaeducacao.com.br
Esse ano chegamos à 17ª edição do Prêmio Top Educação
O prêmio é concedido às empresas detentoras das marcas mais lembradas no setor de produtos e serviços do mercado educacional brasileiro.
O edital para participação será divulgado em breve.
NOVEMBRO
Em sua 5ª edição, o Congresso Internacional de Educação e Inovação será híbrido, no formato digital e presencial, mantendo o papel de levar aos participantes as mais inovadoras e exitosas experiências do cotidiano escolar do Brasil e do mundo.
Evento gratuito e com emissão de certi cado.
Para maiores informações, acesse nosso site: congressoeducacaoinovacao.com.br
Os líderes escolares que olham para o futuro devem enxergar a covid como uma constante; se preparar para o imprevisto é uma norma
| Por Javeria Salman | The Hechinger Report
Dos EUA | Quando essa pandemia vai acabar? É a pergunta na mente de todos. Mas e se não acabar? Muitos especialistas preveem que o vírus circulará de alguma forma no futuro próximo. Seja uma pandemia ou uma mudança climática, o futuro da educação parece uma disrupção.
Como, então, as escolas planejam esse futuro sombrio?
Na Carolina do Norte, Estados Unidos, Andrew Smith, diretor administrativo e de planejamento estratégico do Distrito Escolar de RowanSalisbury, vem pensando nessa questão há algum tempo. Seu cargo pode existir em muitos distritos, mas poucos funcionários da escola com esse título passam seus dias como ele: focado em como ajudar seu distrito a inovar e se preparar para uma infinidade de incógnitas, incluindo desastres.
“Isso pode ser ousado e um tanto controverso, então vou apenas dizer: apenas reconheça a covid como uma constante”, diz Andrew. “E que talvez não vá embora.” Seu trabalho é ser a pessoa “que meio que obtém inovação e disrupção. Ter alguém exclusivamente dedicado a esse espaço é importante”, afirma. “Quem em sua equipe está acordando pensando no futuro da educação todos os dias e como chegaremos lá?”
Andrew conta que, uma vez que os líderes escolares possam aceitar que o vírus será uma constante, eles podem se preparar para interrupções contínuas. “É normalmente quando a mente humana assume o controle. Restrições… é quando os humanos começam a resolver. Reconheça e comece a resolvêlo, como se você tivesse que resolvêlo para sempre”, completa.
Os preparativos de Andrew Smith começaram antes mesmo de a variante ômicron ter um nome. No ano passado, o Distrito Escolar RowanSalisbury lançou as bases para a metamorfose da pandemia, tirando a poeira de alguns de seus planos anteriores e revisando o que funcionou melhor para os alunos nos últimos 18 meses. Enquanto outros distritos se esforçam para realizar testes de covid em casa e lidar com a escassez de pessoal, Smith disse que seu distrito já construiu sistemas, caso seus alunos tenham que ficar remotos novamente.
O distrito está continuando a instrução presencial, por enquanto. Mas, se o conselho escolar pedir o fechamento, o distrito está pronto para relançar seu modelo de ensino híbrido, com Dias A/B, em que metade da população estudantil frequenta a escola presencialmente às segundas e terçasfeiras. “Tivemos um dia de bemestar de limpeza na quartafeira. E então quinta e sexta foram o dia B”, explica Andrew.
“A pandemia nos ensinou muito sobre modalidades de aprendizagem”, acrescentou. A equipe do distrito aprendeu que a escola totalmente remota não funciona-
va para crianças ou educadores. “E sabemos, neste momento, como podemos voltar ao [aprendizado misto] se for necessário. Nossa equipe é… felizmente ou infelizmente, treinada para poder voltar a eles rapidamente.”
Os especialistas preveem que, à medida que os distritos planejam uma infinidade de desafios no futuro, eles precisarão investir em funcionários – em funções como a de Smith – que ajudarão a antecipar esse futuro. Alguns distritos já fizeram o investimento, incluindo aqueles que são membros da Digital Promise’s League of Innovative Schools [Liga de Escolas Inovadoras da Digital Promise].
Dewayne J. McClary, diretor sênior de redes e parcerias da Digital Promise – também conhecida como Centro Nacional de Pesquisa em Informações Avançadas e Tecnologias Digitais , disse que a maioria das escolas da Liga tem algum tipo de líder de inovação, ou alguém que faz o trabalho de análise de risco. Dewayne, que anteriormente atuou como diretor da Liga de Escolas Ino-
vadoras, disse que a Liga reúne esses líderes escolares para compartilhar as melhores práticas e colaborar. Em agosto de 2020, Andrew Smith fez uma apresentação sobre planejamento de contingência durante um painel sobre como centrar a equidade nos planos de reabertura das escolas organizado pelo grupo.
Dewayne destaca que, em qualquer distrito, os líderes devem compartilhar o trabalho de pensar no futuro. “Acho que está além de apenas uma pessoa”, afirma. “Isso tem que ser um esforço colaborativo do distrito. Tem que ser do superintendente à liderança, ao conselho escolar, até os professores e diretores.”
É assim que funciona em RowanSalisbury. Em abril de 2020, Andrew Smith incentivou os líderes distritais a construir um diagrama com a probabilidade de diferentes cenários e atribuir a cada um “índice de risco”. Os líderes perguntaram: Qual é a pior coisa que pode acontecer? Qual é o risco para escolas, professores e alunos? Em seguida, indagaram se o distrito estava preparado para lidar com cada cenário. Smith disse que eles consideraram perguntas como: O que acontece se as crianças nunca voltarem? Ou se os funcionários não puderem entrar nos prédios? Eles até pediram ideias para os veteranos no planejamento de cerimônias de formatura socialmente distantes.
Esse tipo de planejamento ajudou imensamente o distrito de Rowan-Salisbury, acredita o diretor administrativo. “O que isso nos permitiu fazer, no que parecia ser o dia do juízo final todos os dias, foi nos antecipar e dizer que não vamos ser tão reativos”, conta Andrew. “Ele fornece esse processo proativo muito estruturado para resolver qualquer coisa.”
Na primavera de 2020, o distrito previu que os alunos talvez não pudessem retornar à escola após as férias de primavera por causa de um surto de covid na Carolina do Norte. Foi exatamente o que aconteceu: em meados de abril, o governador Roy Cooper anunciou que as escolas do estado não poderiam reabrir para instrução presencial pelo restante do ano letivo. Naquela primavera, quando os líderes distritais de Rowan-Salisbury perceberam que o aprendizado remoto pode não ser temporário, Smith disse que o distrito desenvolveu planos para todo o sistema para ajudá-lo a passar do modelo temporário de aprendizado remoto que começou em março para um modelo mais robusto de instrução online. Os líderes do distrito aplicaram as lições aprendidas na primavera aos planos para a escola de verão. Eles pesquisaram o que as escolas na Alemanha e na Finlândia estavam fazendo. Em seguida, usaram o
Nos EUA, especialistas acreditam no investimento de profissionais que saibam prever problemas futuros na educaçãoReprodução/Rowan-Salisbury Schools Estudantes do Henderson Independent High School criando pinturas e monólogos em aquarela
que aprenderam sobre mascaramento, distanciamento social e quarentena da escola de verão para planejar uma reentrada no semestre de outono.
“A escola de verão realmente nos ajudou a desenvolver o modelo de como trazer de volta todas as 20.000 crianças no outono”, relata Andrew Smith. “Foi um pouco de planejamento de contingência e, em seguida, a construção de novos modelos com base no que estávamos vendo nas escolas [naquele verão].”
Smith aprendeu sobre planejamento de contingência e análise de risco quando fez algumas aulas na escola de negócios enquanto fazia pósgraduação em educação na Wake Forest University. “Lembrome de sentar na sala de aula [e] não haver pessoas da educação, mas todas as pessoas de negócios, e pensar: ‘Não tenho certeza se vou usar isso, mas é muito legal. Eu gosto do conceito’.”
Para o diretor, tomar emprestado do modelo de negócios a inclusão de análise de risco e planejamento de contingência nas operações diárias do distrito escolar permite que os líderes escolares tomem decisões mais lógicas e cuidadosas – “com bastante antecedência”. Quando um vírus, um desastre natural, um déficit orçamentário ou mesmo uma eleição para o conselho escolar interrompe um sistema escolar, já existe um plano na prateleira para ser retirado e promulgado, pontua Smith.
Para o futuro da educação pública, os distritos escolares “realmente precisam tomar emprestadas algumas das ideias de negócios”, defende Andrew Smith. “Se queremos inovar no K12 temos que tirar isso de outro setor para ver o que eles estão fazendo”, disse ele.
“Vamos voltar, vamos fazer as coisas diferentes porque essa pandemia vai acabar e, quando terminar, voltaremos diferentes”, Smith lembra de ouvir de educadores de todo o país. O problema era que “a pandemia não acabou”. Algumas escolas e distritos usaram a pandemia como uma oportunidade para repensar seus sistemas, mas, na pressa de resolver os problemas do dia a dia relacionados à pandemia, muitos educadores e líderes escolares não tiveram tempo para inovar. Mas McClary lembra aos líderes escolares que os distritos sempre tiveram que fazer esse trabalho em circunstâncias difíceis.
“Tivemos outras pandemias de desigualdade. Tivemos outras pandemias em que crianças estavam tendo problemas de comportamento. Essa pandemia apenas incluiu uma camada extra e colocou as desigualdades que existiam antes na rua da frente”, disse McClary. “Agora estamos em uma situação em que o proble-
ma da covid é de escolas com falta de pessoal, onde os distritos estão tendo que fazer coisas inovadoras para descobrir como manter as portas abertas.”
McClary acredita que, em geral, “os distritos sempre farão o que é melhor para seus alunos, sempre encontrarão uma maneira de oferecer oportunidades para as crianças”. O trabalho agora é “como nós ajudamos a manter rigorosas, equitativas e poderosas oportunidades de aprendizagem para as crianças nos vários modos para os quais elas podem ter de ‘pular ou girar”’.
Andrew Smith completa que, se as escolas não arranjarem tempo para “sair da covid”, seja contratando alguém para um novo cargo ou dando aos líderes existentes recursos e tempo para planejar, o ciclo de caos e experimentação cega continuará. “A disrupção nunca terá, na minha opinião, um resultado realmente positivo … [e] realmente transformará a educação, a menos que sejamos proativos na maneira como a abordamos.”
A ômicron e os recentes desastres relacionados ao clima enfatizaram a necessidade desse tipo de planejamento avançado. “É imperativo que os distritos não esperem que a pandemia avance”, afirma McClary. Em sua experiência, a natureza dos distritos escolares é sempre girar e ser inovadora, “essa pandemia apenas tornou um pouco mais difícil”.
As escolas não podem ficar esperando o fim da pandemia para que os problemas desapareçam, a solução “tem que ser agora, não depois”, coloca Smith. “Porque toda vez que você fica esperando o fim... quantas horas as crianças estão esperando por você?”
Esta história sobre planejamento de contingência nas escolas foi produzida pelo The Hechinger Report , uma organização de notícias independente e sem fins lucrativos nos Estados Unidos focada em desigualdade e inovação na educação.
A da sua escola ou do sistema didático que você utiliza?
Acreditamos que, quando você oferece uma educação humana e equilibrada, a sua marca é a que realmente importa para seu estudante. Por isso, oferecemos um Sistema de Ensino que oferece todo o suporte necessário para você oferecer uma educação sólida, equilibrada e atenta às três dimensões do estudante: intelectual, social e emocional, focada na construção do conhecimento desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.
100% do material reformulado de acordo com a BNCC; Programa socioemocional utilizado em mais de 70 países do mundo, por mais de 15 milhões de crianças;
Projeto de meditação organizado para educação básica;
Mais 9 projetos importantes para agregar com sua escola, como por exemplo: Bilíngue, Maker, Storytelling, Empreendedorismo;
Projeto de Vida e protagonismo;
Projetos interdisciplinares e Itinerários formativos.
Converse com nosso consultor pelo WhatsApp:
(11) 96308-1190 | Acesse: www.jpiaget.com.br
Não esconda a sua marca atrás do seu sistema de ensino. Busque um parceiro que valoriza a sua escola e proporciona um crescimento sustentável e duradouro!
No Sistema Piaget, oferecemos soluções completas e inovadoras que valorizam a sua marca!
Singramos em mundo que se bifurca em certezas e em incertezas. Nesse sítio frágil, tentamos alcançar com as mãos as espumas da realidade que boiam na superfície. No entanto, mesmo na ilusão, sabemos que tudo escorre. O certo e o duvidoso se esvaem quase sempre, como bolhas de sabão, porque o entendimento absoluto das coisas, raramente, vem à tona.
Algo sempre nos escapa, e fica a sensação de que a verdade sempre flutua em alguma ausência, porque quase tudo é encontro e desencontro, ajuntamento e dispersão, tristeza e exaltação. Lygia Fagundes Telles soube como poucos passear à flor d`água e mergulhar nas profundezas com a delicadeza que escamoteia a irrequietude de quem se sabe também à deriva. Por isso, talvez, Paulo Rónai a tenha definido assim: “A atmosfera de Lygia Fagundes Telles é sempre de mistério e serenidade, equilíbrio e sortilégio”.
Nascida em 1918, a escritora premiada faleceu aos 103 anos, em SP
Sua literatura intimista repleta de monólogos interiores e de conflitos existenciais busca uma consciên cia possível, dura e alentadora na vacuidade da vida. Em seu livro A disciplina do amor, sugere “... é preciso um peito de ferro para enfrentar essa luta na qual entra não só fervor mas uma certa dose de cólera, fervor e cólera. Não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos com linha dupla todas as feridas abertas. E tem muita ferida porque as pes soas estão bravas demais (...) Sem chorar, aprendi bem cedo os versos exemplares, não chores que a vida/é luta renhida . O importante é a intensidade do empenho nessa busca e em outras. Falhando, não culpar Deus, oh! por que Ele me abandonou? Nós é que O abandonamos quando ficamos mornos. (...) Romper
com a falsa harmonia, com o falso equilíbrio e assim, depois da morte – ainda intensos – seremos um fantasminha claro de amor” (Da vocação).
É nessa nervura tensa e doce que os fios de vida formam a tessitura de seus textos que nos envolve e enovela. Ela compreendeu que se o controle é falso tentamos nos equilibrar nessa corda bamba de sombrinha, como propunha a canção. Por isso a disciplina canina, por isso a ordenação de quem espera alguma volta amorosa que nos arranque do sem sentido apelo do não (...) Pensa que o cachorro deixou de esperá-lo? Continuou a ir diariamente até a esquina, fixo o olhar naquele único ponto, a orelha em pé, atenta ao menor ruído que pudesse indicar a presença do dono bem-amado. Assim que anoitecia, ele voltava para casa e levava sua vida normal de cachorro, até chegar o dia seguinte. Então, disciplinadamente, como se tivesse um relógio preso à pata, voltava ao posto de espera. O jovem morreu num bombardeio, mas no pequeno coração do cachorro não morreu a esperança. (...) Todos os dias, com o passar dos anos (a memória dos homens!) as pessoas foram se esquecendo do jovem soldado que não voltou. (...) Só o cachorro já velhíssimo (era jovem quando o jovem partiu) continuou a esperá-lo na sua esquina. As pessoas estranhavam, mas quem esse cachorro está esperando?… Uma tarde (era inverno) ele lá ficou, o focinho voltado para aquela direção.”
do é doloroso e belo, porque nele há as complexidades todas dessas certezas e incertezas. E se o labirinto pode ser uma metáfora da condição humana, perder-se nele ou transpor as suas esquinas é alegoria de nossa existência.
Há em nossos tempos muita cólera e muitas fés virulentas que tentam na mão grande se impor às imprecisões da vida. Há bem mais hesitações na lida do que fianças. As relações humanas são jogos de cenas, são interlúdios entre a verdade e a mentira, entre a intenção e o gesto. A vida corre nos interstícios dos desejos e dos ressentimentos. E toda literatura é um imenso véu. E nisso a boa fábula passa a ser mais verossímil, no trato das nuances e dos meandros, do que o prosaico: “A beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da noite, está no crepúsculo, nesse meio tom, nessa incerteza”.
Lygia não traz a verdade nem mesmo se propõe a se fazer lanterna que nos arranque das cavernas labirínticas de nossas asseverações. Pelo contrário, ela reafirma que quase tudo é mistério, porém nem tudo precisa ser sombra, solidão e medo. Sim, porque também ao pé da instabilidade e do cansaço repousam em vigília a constância e a persistência. Ela sabia que o medo acovarda e também encoraja. “Quero te dizer que nós, as criaturas humanas, vivemos muito (ou deixamos de viver) em função das imaginações geradas pelo nosso medo.”
O equilíbrio é falso, é verdade. A guerra é coisa dos homens, e o esquecimento também. O estranhamento de quem insiste em esperar Godot, Deus, o seu dono ou algum alento é humano, contudo, a espera persistente o é também. E, sim. A vida é luta renhida; todavia Lygia nos convoca em meio às horas nuas da vida, às cirandas de pedra que nos machucam, às caçadas que sangram a contar com as luas crescentes, a ver o pôr do sol, a dançar no baile verde e a esticar nossos focinhos para única direção plausível.
A leitura de Lygia é uma expedição às cavernas que nos habitam - esses caminhos insondáveis e inesperados do espírito. Incursionar por esse enre -
Empresto dela uma passagem do conto Os gatos para devolver, com gratidão e amor, o meu encontro assombrado e misterioso com sua literatura. “Não sabia ainda que ela permaneceria infinita na memória da minha finitude.”
João Jonas Veiga Sobral Escritor, professor de língua portuguesa e orientador educacionalPaulo Rónai, a atmosfera da escritora “é sempre de mistério e serenidade, equilíbrio e sortilégio”
Foram anos e anos de andarilhagem, anos a fio a cuidar de outros, sem tempo para cuidar do próprio. É verdade, netos queridos. E, quando me dei conta de que o corpo vacilava, quando precisava de mim cuidar, deparava com uma lista de compromissos sem fim, para cumprir. Muitos educadores, muitas escolas e autarquias despertavam de uma longa letargia.
Num dia de abril de há vinte anos, fui até Guimarães, ao encontro dos amigos do “Tempo Livre”. Como em outros lugares, essa foi mais uma oportunidade de conhecer gente boa: o Rodrigo, o Miguel, o Luís, o José… sobravam os bons educadores, escasseavam as iniciativas de boa educação.
Com esses educadores e com alunos da Secundária de Caldas das Taipas, dialoguei. No mesmo dia o velho Zoom permitiu-me dialogar com outros educadores e permitiu ao amigo Antônio esclarecer algumas dúvidas sobre leis e regulamentações. Tratavase de identificar artigos das leis que as escolas não cumpriam e outros que permitiam inovar… para cumprir a lei.
Decorridos 36 anos sobre a aprovação portuguesa da Lei de Bases do Sistema Educativo, seria oportuno fazer um “balanço” do cumprimento da lei, começando pelo artigo 48.º (45º no original), que rezava assim:
“O funcionamento dos estabelecimentos de educação e ensino, nos diferentes níveis, orienta-se por uma perspectiva de integração comunitária, sendo, nesse sentido, favorecida a fixação local dos respectivos docentes”.
A primeira pergunta surgiu clara e natural:
Cadê a “integração comunitária”, se os professores, sobretudo em início de carreira, eram “colocados” longe da sua… comunidade?
As condições impostas pelo sistema de concursos e colocações impedia que se estabelecesse um vínculo afetivo e efetivo com as comunidades de pertencimento. As escolas onde eram colocados não passavam de “apeadeiros”, lugares de passagem de professores, que ansiavam ficar “colocados” perto de casa.
Me condoía com a sorte daqueles que passavam por
mudanças de domicílio e de vida, em condições, por vezes, desumanas. Coloquei esse sentimento numas cartinhas, que enviei à Alice:
“Nos anos que se seguiram ao teu nascimento, à semelhança de outros professores em início de carreira, os teus pais não tinham pouso certo. Ano após ano, viviam a incerteza da “colocação”, o final feliz de uma angustiada espera .
A “colocação” dava aos vossos pais a certeza de amea lhar sustento, assegurar futuro. Eles se conheceram, se amaram e quiseram que viésseis ao mundo num tempo incerto. Não esperaram por tempos seguros, que, nestas coisas do amor como nas de aprender e ensinar, o que é urgente não deve esperar. E aceitaram a sina de levar a casa às costas para onde o acaso do “concurso” os atirava.
“Concurso” era um estranho jogo de acasos que os professores eram obrigados a jogar naquele tempo. O ‘concurso’ era impiedoso e, no final de cada ano letivo, impunha a violência da separação àqueles que se começavam a conhecer. O ‘concurso’ era cego, pouco se importava com os afetos e nada entendia de criar laços. Impedidos de concretizar o sonho de fazerem as crianças mais felizes, afastados daqueles que aprenderam a amar, os teus pais mudavam de casa e dentro da casa, levavam o teu berço para longe das paragens habitadas pelos teus avós.”
Perante o não cumprimento da lei, ousei lançar um repto: por que razão os professores eram obrigados a percorrer enormes distâncias, quando, no mesmo bairro, na mesma rua, no mesmo prédio, havia alunos que poderiam aprender com eles?
E uma singela pergunta: o que teria isto a ver com a criação de “círculos de vizinhança”?
INTERNATIONAL SCHOOL É REFERÊNCIA EM ENSINO BILÍNGUE NO BRASIL