Entrevista


Pandemia aumentou tentativa de suicídio entre crianças


Crise ambiental Preparar as novas gerações para as mudanças no planeta

Entrevista
Pandemia aumentou tentativa de suicídio entre crianças
Crise ambiental Preparar as novas gerações para as mudanças no planeta
Fusões
Educação básica cada vez mais atrativa para investimentos
ANO 26 Nº284
EDITORA DO BRASIL:
SUA MELHOR ESCOLHA
NO PNLD 2021!
Assista ao vídeo e saiba mais sobre como estamos presentes em todos os níveis da Educação Básica na rede pública de ensino.
OBJETO
OBJETO 5 – Obras Literárias para professores e estudantes
pnldensinomedio.editoradobrasil.com.br
pnldensinomedio.editoradobrasil.com.br
atendimento@editoradobrasil.com.br
facebook.com/editoradobrasil
youtube.com/editoradobrasil
instagram.com/editoradobrasil_oficial twitter.com/editoradobrasil
WhatsApp (11) 99329-5316
Não bastasse a pandemia que se abateu sobre a humanidade, no Brasil sofremos com ela e, na educação, também com a falta de políticas definidas pelo MEC, que simplesmente deixou rolar esperando que as coisas voltassem ao lugar certo de forma espontânea. E aí assistiu-se, como diria Sérgio Porto, a um festival de besteira que assolou o país, o tal do Febeapá. O retrocesso foi no ensino e aprendizagem, com reflexo na destruição de caminhos institucionais que o Estado tem e que cabe ao governo preservá-lo para dialogar com a sociedade.
O MEC passou por quatro ministros em três anos, fora alguns convidados e logo desconvidados, de acordo com a reação do bolsonarismo nas redes sociais. E como a fritura de pessoas é uma especialidade deste governo, muitos talentos foram deixados à margem, prescindindo da colaboração de notórios especialistas.
O MEC retroagiu e com ele os órgãos que o compõem. Dezenas de servidores-pesquisadores e com larga experiência deixaram seus cargos por absoluta incompatibilidade com um modo de agir como nunca se viu na República. No fechamento desta edição Milton Ribeiro enviou uma carta de demissão após escândalo de propina. Faz alguma diferença para a educação? Não faz, o método é o mesmo.
O MEC passou a agir atendendo a uma agenda de costume implantada em todos os órgãos, por isso a troca de ministro não vai alterar nada, principalmente faltando nove meses para o término do mandato. O que fazer? As organizações não governamentais com atuação no ensino evidenciaram que o Brasil vai necessitar delas para sempre, trabalhando em defesa do legado das últimas três décadas de avanço efetivo da educação brasileira.
A mobilização deve continuar e essas entidades, seja qual for o governo, estarão prontas para ajudar na inovação das escolas públicas, conforme expusemos na edição de março da revista Educação. Chega de interrupções nas políticas adotadas em governos anteriores e que vinham dando certo. O Brasil só poderá prosperar quando puder cuidar da educação sem precisar de estar de olho nos cofres do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).
Boa leitura
A Plataforma Educação, composta por edições digitais e impressas, site, redes sociais e eventos, é publicada por RFM Editores
Ano 26 - Nº 284 abril de 2022
ISSN 1415-5486 www.revistaeducacao.com.br
Conselho editoral
Clara Cecchini
Eduardo Deschamps
Fernando José de Almeida
Iracema Nascimento
Mozart Neves Ramos
Publisher: Edimilson Cardial edimilson@plataformaeducacao.com.br
Editora: Laura Rachid laura@plataformaeducacao.com.br
Diretora administrativa: Rita Martinez rita@editorasegmento.com.br
Diretora de marketing: Carolina Martinez carolina@plataformaeducacao.com.br
Parcerias Institucionais
Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação)
Undime SP (União dos Dirigentes Municipais de Educação) Jornal Joca - para jovens e crianças
Sua Escola Ideal
Two Sides
Colaboraram nesta edição
Alexandre Sayad
Anderson Andrade
Dal Marcondes
Damaris Silva
Fernando José de Almeida
Fernando Louzada
Gustavo Lima
Gustavo Santos
João Jonas Veiga Sobral
José Pacheco
Leticia Scudeiro
Luciana Alvarez
Mariah Gomes
Sandra Seabra
Simône Midori Maki (diagramação) Maria Stella Valli (revisão)
COMERCIAL
Gerente de comunicação e eventos: Margarete Rios Silva margarete@rfmeditores.com.br
Cel.: (11) 99995-1284
Correspondências
Rua Oscar Caravelas, 334 - Vila Madalena, SP CEP 05441-000
INTERNET
Visite a página online da Educação www.revistaeducacao.com.br
Nos siga nas redes sociais @revistaeducacao
Para falar sobre assinaturas: assinaturas.plataformaeducacao@gmail.com
WhatsApp: 11 98878-8745
Efeitos da pandemia nos pequenos têm sido diversos: do atraso no desenvolvimento da fala nos bebês a um aumento de doenças mentais nos mais jovens
Engajamento do jovem em causas como a defesa de cotas raciais, políticas ambientais ou de minorias também é uma maneira de engajamento político. Saiba como a escolha também pode trabalhar com esse tipo de formação
Sistemas de educação também têm seu papel no enfrentamento das mudanças climáticas; tema deve ser abordado em todas as séries e levar em conta que as alterações no meio ambiente já fazem parte da rotina
Consolidadores devem continuar na busca por escolas com tíquetes médios e premium
Ministério da Educação sofre no governo Bolsonaro o maior cerco já visto para a busca de uma “purificação”, que é a pauta de costumes, ideológica e do balcão de negócios coordenado por pastores. Depois de quatro ministros, o que virá?
Efeitos da pandemia
nos pequenos têm sido diversos: do atraso no desenvolvimento da fala nos bebês a um aumento de doenças mentais nos mais jovens
Nos últimos nove anos, 70% das pesquisas da neuropsicóloga, fonoaudióloga e professora titular/pesquisadora da PUCRS, Rochele Paz Fonseca, são voltadas à neuropsicologia e neurociências escolares. Presidente da SBNp (Sociedade Brasileira de Neuropsicologia) e membra da Coordenação da Rede Nacional de Ciência para a Educação, em conversa exclusiva à Educação, ela fala sobre a importância do professor na aprendizagem do aluno segundo a neurociência, define o aumento de suicídio entre os jovens como um “fenômeno multidimensional”, além de alertar sobre os riscos do vício com a tecnologia digital e o quanto a pandemia tem afetado o desenvolvimento socioemocional e cognitivo das crianças.
E faz um alerta: “secretarias municipais, estaduais de educação e governo federal devem rever e distribuir o conteúdo, não podem cobrar em 2022 o que seria esperado para um ano normal”. Confira a entrevista.
O que tem de novo na neurociência sobre aprendizagem?
O que estão descobrindo ou o que você pode apontar como algo que já foi consolidado, no sentido da aprendizagem?
O papel das funções executivas na aprendizagem escolar, que são as funções mais nobres da cognição humana, age como se fossem a diretora da escola. A nossa mente é uma escola, então o diretor ou diretora desta escola são as funções executivas. Elas ajudam a gente a planejar, a aplicar recursos da inteligência para as tarefas, a regular o nosso humor, a sustentar a nossa atenção, a controlar impulsos e a flexibilizar o nosso pensamento, que é a base da criatividade. As funções executivas se desenvolvem de zero anos até 20, 30 anos de idade. De todas as funções cerebrais, são as que têm um caminho mais longo de desenvolvimento. E o papel da escolarização é fundamental, porque os professores são inspiradores e são modelos destas funções executivas.
Então, por um tempo, o professor e a professora vão ter que ser as funções executivas-modelos da criança. Ela vai se inspirar nessas funções executivas-modelos dos pro-
fessores para descobrir o seu próprio caminho. Quanto mais autônoma e independente funcional no seu cotidiano escolar essa criança for, mais funções executivas ela vai desenvolver. Nós temos que associar a transição da brincadeira livre para brincadeira com objetivo pedagógico e para tarefas sistemáticas mesmo mantendo o lúdico, para que essas funções executivas sejam recrutadas.
Os cursos de pedagogia e licenciatura já compreenderam a importância da neurociência? Por que a discussão, por exemplo, sobre o cérebro e o processo de aprendizagem ainda tem pouco destaque nessas formações?
Por culpa dos neurocientistas. Vou te dizer o porquê. Por muito tempo os pesquisadores falavam em uma linguagem difícil em cima do seu altar de ciência, e também deixaram uma falsa crença se estabelecer no meio da educação de que nós somos reducionistas. O que eu quero dizer com isso? “Tudo é cérebro, o cérebro manda na aprendizagem.” Não. O cérebro é como se fosse um GPS com tracejados que nem aquelas cartilhas antigas, aquelas atividades de preencher o pontilhado para psicomotricidades. Então eu tenho caminhos tracejados e é a vida, é a experiência, é a vivência que vão modelar o cérebro.
O cérebro é um terreno fértil pré-programado para dar certo, mas para ele dar certo eu preciso plantar sementes, regar, deixar florescer, fazer poda. E o professor e o processo de escolarização, ambos têm um papel fundamental.
É possível apontar as causas do aumento de suicídio entre os jovens? E se, além disso, o estado e as escolas estão sabendo lidar com isso?
É um fenômeno multidimensional, como se fosse um monte de flechinhas e fatores. Primeiro lugar, por muito tempo as crianças estão sendo incentivadas pela sociedade, e isso inclui pais e não só escola, a serem imediatistaseu preciso ter prazer logo após fazer algo. Tudo que eu faço tem que ter um ganho. A prova disso é a gameficação e o uso e abuso de telas e de eletrônicos. Com isso, qualquer minifrustração, qualquer não que eu encontre na minha
De todas as funções cerebrais, as executivas são as que têm um caminho mais longo de desenvolvimento
vida me causa uma percepção de tristeza e de fracasso muito maior do que a realidade. Eu tenho uma percepção aumentada dessa tristeza. Hoje também tem muitas fontes de informação em tela sobre como se matar.
A pandemia, o isolamento social, escolas fechadas e instabilidade dos pais foram quatro fatores, junto com o abuso de telas e de eletrônicos, que aumentaram a ideação e tentativas de suicídio em crianças e adolescentes, principalmente em meninas, porque nós somos um ser dependente de interação social.
E eu acredito que tanto o estado quanto as escolas têm que investir em formação de pais e de professores para dar conta desse recado. Nós precisamos retomar a motivação intrínseca de todos os atores da educação: professores, gestores, pais e as próprias crianças e adolescentes.
A tecnologia digital vem transformando a maneira de o homem pensar e agir? De que forma?
Muito. Hoje tem aplicativo para te lembrar de ir ao banheiro, para lembrar de ter relações sexuais com o marido, para lembrar de tomar água, para ajudar a dormir, para ajudar a acordar, tem aplicativo para tudo. Conheci um adulto jovem que usava 36 aplicativos para controlar sua vida pessoal e sua vida profissional, ou seja, ele dedicava um dia da semana só para preencher os aplicativos. Ele não mandava mais na própria vida, os aplicativos mandavam. E isso é muito prejudicial, porque cria uma terceirização de esforço mental para as máquinas e faz com que fiquemos menos automonitorados e mais dependentes de uma regulação externa.
Este é o principal vício que as crianças desta geração estão adquirindo facilmente. Vamos ter que resgatar alguns valores do passado para que os recursos tecnológicos, que não têm mais volta e vão seguir conosco, prestem serviço para nós e não nós prestemos serviços a eles.
As pessoas estão lendo menos textos grandes e complexos por conta das redes sociais ou é um mito?
Elas estão sim. O perfil de hábitos de leitura e escrita está se reduzindo gradativamente. Com a pandemia, diminuíram na ordem de 30% os hábitos de leitura e escrita dos pais e das criancinhas.
Pensando nas crianças pequenas e talvez adolescentes, ficar quase três anos se relacionando com pessoas com máscara, evitando abraços e toques mais diretos, tende a gerar algum prejuízo no desenvolvimento socioemocional e cognitivo?
Já temos evidências internacionais de que há prejuízos específicos da união de pandemia, escolas fechadas e máscaras. Porque as crianças precisam. Há um funcionamento cerebral que se chama neurônios espelho, e esses neurônios trabalham por imitação motora. Se eu estou te vendo, se você sorrir eu tenho vontade de sorrir. A máscara tampa 2/3 do rosto, então eu não consigo ter a pista socioemocional. Tem estudos mostrando que adultos e outras crianças de máscara não conseguem perceber a emoção tão bem quanto sem máscara.
Que outros tipos de danos a pandemia tem gerado nas crianças?
O desenvolvimento socioemocional. A maioria desenvolveu medos, fobias e angústias diversas que têm a ver com a ideação das tentativas de suicídio. Então tivemos um aumento de 20% a 66% de quadros de doença mental: entre estresse pós-traumático, depressão e ansiedade. Esses dados são de uma coletânea de artigos científicos. São estudos do exterior, nós não temos no Brasil. Os dados são principalmente da Itália, Espanha e Inglaterra.
O segundo maior impacto da pandemia foi na aprendizagem escolar: leitura, escrita e matemática, com aumento de aproximadamente 60% no analfabetismo infantil. Então tem escolas que começaram a ser reformadas na pandemia e juntando greve, recessos escolares, período pandêmico e reformas, estão há mais de dois anos fechadas.
Cérebro não manda na aprendizagem.
Há caminhos tracejados e é a vida, é a experiência, é a vivência que vai modelar o cérebro
Secretarias municipais, estaduais de educação e governo federal devem rever e distribuir o conteúdo, não podem cobrar em 2022 o que seria esperado para um ano normal. Tem que revisar as bases, não dá para pular o conteúdo que não foi visto; por mais que os professores tenham se esforçado, isso tende a alterar a motivação e a saúde mental, inclusive dos professores, e a desmotivação intrínseca nas crianças.
Depois é aumentar muito os hábitos de leitura em casa e nas escolas para as crianças darem conta e diminuir, dentro do possível, o período de exposição a telas e a eletrônicos.
Os professores têm que entender que pelas evidências neurocientíficas o ideal é dar exemplos, pensar em voz alta e dar um norte de estratégias, então é fazer um ensino explícito, dirigido, por mais significativo, lúdico e motivador que seja. É dar um dos ‘caminhos de pedras’ para as crianças, porque quando uma criança está com um atraso cognitivo e sociocultural, uma vulnerabilidade e atraso de aprendizagem, depois desses dois anos de pandemia fica muito difícil para ela ter criatividade logo de cara, ela precisa ter umas pedrinhas para poder trilhar o caminho.
Nesse período de isolamento social, tem notado atraso no desenvolvimento da fala dos bebês?
Os bebês atuais da geração pandêmica, geração C, geração coronavírus, têm tido muito atraso em habilidades comunicativas e habilidades linguísticas e expressivas, ou seja, a fala como popularmente chamamos. Principalmente porque o cérebro funciona sob demanda, então eu preciso ter demanda de interação social com os meus pares, não só com adultos, com crianças da minha faixa etária, para eu ver que para sobreviver eu preciso falar.
Com escolas fechadas, os pais também não botaram seus filhos na educação infantil porque estavam trabalhando em casa. O aporte econômico da família diminuiu, então cai muito o número de matrículas em escolas privadas de educação infantil e as escolas públicas estavam fechadas. Com isso, observa-se um atraso de fala tão grande que combinou contribuindo para um atraso no marco do desenvolvimento do CDC, que é o órgão de controle de doenças e prevenção dos Estados Unidos. Hoje eles estão atrasando oficialmente seis meses o início de fala de palavras e frases para as crianças.
O que antes era pedido com dois anos agora passa a ser pedido com dois anos e meio, e isso implica a diminuição de intervenção de acesso a serviços públicos nos Estados Unidos e aqui diminuição de indicação de serviço privado.
Pandemia, isolamento social, escolas fechadas e instabilidade dos pais, junto com o abuso de telas e de eletrônicos, foram fatores que aumentaram a ideação e tentativas de suicídio em crianças e adolescentesSegundo maior impacto da pandemia foi na aprendizagem escolar, alerta a neuropsicóloga Arquivo pessoal
Ensino de qualidade impacta a vida dos alunos, aponta estudo liderado por professor do Insper
Um novo índice de qualidade no ensino básico nos municípios, chamado Ideb-Enem, se correlaciona com diferentes indicadores de saúde, segurança, empregabilidade e acesso ao ensino superior.
Como resultado geral, o estudo mostrou que um aumento de um ponto no indicador Ideb-Enem nos municípios está associado a uma queda de 25% nas taxas de homicídios e óbitos por causas externas; um aumento de 200% nas taxas de empregos entre os jovens; e ampliação de 15% no número de matrículas no ensino superior.
O indicador mede quanto cada munícipio contribui para a progressão e o aprendizado dos jovens no seu sistema escolar. Para tanto, usa como base a proporção en-
Em consequência do novo ensino médio, o novo Enem passa a valer a partir de 2024. No meio de março deste ano, o MEC anunciou que o exame contará também com perguntas abertas ou discursivas, passando a valorizar a produção escrita do estudante. Como previsto, a primeira etapa dialogará com o que pede a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a segunda com os itinerários formativos, na área em que cada estudante escolheu durante o ensino médio. Nessa segunda etapa, as opções definidas para o candidato estão ligadas à área em que ele quer ingressar no ensino superior: Linguagens e Suas Tecnologias + Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, Matemática e suas Tecnologias + Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias + Ciências Humanas e Sociais Apli-
tre estudantes de seis e sete anos matriculados no início da educação básica que aos 17/18 anos prestaram o Enem e suas notas alcançadas no exame. Apoiado pelo Instituto Natura e liderado por Naercio Menezes Filho, professor da Cátedra Ruth Cardoso do Insper e da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), e por Luciano Salomão, aluno de mestrado da FEARP-USP, o estudo demonstra que uma boa gestão de ensino permite que a maior parte dos alunos de uma geração continue na escola até o ensino médio, sem atraso, e que se sintam motivados para realizar o Enem, impactando, assim, outras áreas.
cadas e Ciências da Natureza e suas Tecnologias + Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
As instituições de ensino superior decidirão quais áreas serão cobradas para ingressar em cada um dos cursos ofertados.
Outra novidade é em relação aos cursos técnicos. “Estamos introduzindo a proposta de bonificação para
estudante que fez formação técnica. Ele não está dispensado, vai fazer o bloco [das questões] de acordo com o curso superior que deseja e a instituição aponta. A nota dele vai ter uma ponderação de acordo com aderência da formação técnica dele ao curso superior pretendido”, disse o secretário de Educação Básica do MEC, Mauro Rabelo.
Quando o assunto é educação básica, as mulheres são uma maioria “esmagadora”. Segundo dados do MEC, representam 96,4% na educação infantil, 88,1% nos anos iniciais do fundamental e 66,8% em seus anos finais. Além de 57,8% do total de docentes no ensino médio. Mas qual a razão dessa maioria? Para Marcia Gobbi, professora da Faculdade de Educação da USP, isso não se dá por predestinação.
A docente enfatiza a existência de uma construção cultural em que foram forjadas, ao longo de décadas, ideias de que a mulher possui certa inclinação aos cuidados com outras pessoas. Marcia, no entanto, salienta que não se trata de um determinismo biológico. “É importante sublinhar isso, pois remete ao pensamento de que, por tais feitos, não somos profissionais e, portanto, não carecemos de salários compatíveis com nossa formação e atuação”, diz.
Ao mencionar a desigualdade sa-
larial no mercado, a professora parafraseia a escritora e filósofa Silvia Federici: “Sobretudo na educação básica, é um trabalho que, embora remeta a afeto e amor, não se trata apenas de amor e paixão. Isso também é trabalho não pago, ou mal pago, nesse caso específico”, afirma.
“A opressão feminina, da qual o capital se beneficia e com a qual se reproduz, alastra-se também à docência. Esse cenário repercute na existência da maioria de mulheres na educação básica, ou seja, há uma combinação entre baixos salários e a naturalização da propensão aos cuidados”, completa.
NO CHÃO DA ESCOLA
Coordenadora pedagógica da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) José Pedro Leite Cordeiro, em SP, Margarida de Sousa Barbosa atribui tais ideias, bem como a feminização da profissão, à
desvalorização do trabalho docente. A profissional, que trabalhou durante 20 anos como professora na educação infantil, conta sobre as desigualdades notadas por ela.
“Percebi que os homens que ocupavam esse lugar eram desvalorizados por estarem atuando em uma profissão ‘feminina’. Questionavam suas capacidades e, inclusive, sua orientação sexual. Por vezes as famílias se mostraram desconfortáveis ao terem suas crianças sob cuidado e orientação de um professor”, explica Margarida.
Contudo, a perspectiva muda quando se trata dos cargos de gestão. “Os homens são tratados de maneira diferente, como se fosse ‘natural’ estarem ali. Percebo também que muitos professores buscam logo esses cargos em sua carreira, ou são os primeiros a serem indicados, enquanto que grande parte das professoras que ficam em sala de aula se recusam ou não acham que são competentes para isso”, argumenta. Essa diferença no olhar para diferentes posições dentro da área também é apontada por Patricia Rossi Torralba Horta, doutora em educação e psicopedagoga e professora no Instituto Singularidades.
Horta, que em dois momentos assumiu o cargo de direção, relata a dificuldade em se ver e ser vista na função. “Na primeira vez que assumi o cargo, da educação infantil até o ensino médio, foi uma experiência muito válida. Mas aí eu senti que ainda não era fácil essa função de ser olhada por uma mulher. Pelos pais e talvez até por mim mesma”, avalia.
“Tive que lutar e cuidar muito para desconstruir esse lugar tão masculino na minha cabeça”,diz Patricia Horta Arquivo pessoal
Ministério da Educação sofre no governo Bolsonaro o maior cerco já visto para a busca de uma “purificação”, que é a pauta de costumes, ideológica e do balcão de negócios coordenado por pastores. Dessa sanha não escaparam as universidades federais, Inep e Capes, afastando diversos servidores com experiência na educação brasileira. Depois de quatro ministros, o que virá?
Não surpreendeu que em agosto de 2021 o pastor e então ministro da Educação até março deste ano, Milton Ribeiro, tenha dito na TV que a universidade deveria ser para poucos. Já o primeiro ocupante do MEC na gestão Bolsonaro, o colombiano naturalizado brasileiro Ricardo Vélez Rodrigues foi o autor da mesma frase em seu mandato que durou menos de 100 dias. É do mesmo Vélez a determinação para que as escolas filmassem os alunos cantando o Hino Nacional e proclamando o slogan da campanha do presidente “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Abraham Weintraub, o segundo a ocupar a pasta, destravou a língua com vários impropérios: “tenho ódio do termo povos indígenas” e “há uma série de fake news envolvendo meu nome, algumas calúnias nas quais eu insitaria (sic) a violência”, trocando o c pelo s. Carlos Alberto Decotelli foi um quase ministro que não assumiu quando incluiu no currículo
um doutorado na Universidade de Rosário, na Argentina, e um pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha. Ambas as instituições se manifestaram alegando que as informações eram inverídicas.
“Nefasta” é o adjetivo que o ex-ministro no governo petista Renato Janine Ribeiro usou para descrever a administração do MEC do atual governo. Não se trata apenas de divergência política, garante o presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). “No governo Temer houve corte de verbas para o ensino superior, mas a autonomia das universidades foi mantida. Na educação básica, nessa época, havia pessoas comprometidas, que queriam melhorar a educação, ainda que eu não concordasse com os caminhos”, afirmou, citando que nesse período foram continuadas pautas importantes para a educação, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a Reforma do Ensino Médio.
Um MEC sem ação e instrumentalizado para concretizar a ideologia de um governo que é, muitas vezes, antieducação: é assim que especialistas em políticas públicas de educação avaliam a gestão da pasta durante os anos de Jair Bolsonaro.
Entidades não governamentais, especialistas, todos criticam a falta de um projeto que aproveitasse a evolução no ensino. “Desde que Murílio Hingel foi ministro no governo Itamar Franco, houve um caminho para a educação, com bastante convergências entre os diferentes governos. Com Bolsonaro, foi a primeira vez que um governo se elegeu sem projeto para a educação no plano de governo. Não ter ações na educação está no DNA deste governo”, critica Renato Janine Ribeiro. A falta de projeto para a educação provocou situações como o alheamento a tudo que se passava nas escolas durante os dois anos de pandemia. A doença afetou a educação global, fechando escolas no mundo inteiro. A crise, contudo, parece não ter mobilizado o governo federal. “Não houve nenhuma orientação do MEC. Se a União não entrar na educação básica, ela não funciona direito só com os estados e municípios”, alerta Janine Ribeiro, explicando que a coordenação deveria ter sido semelhante ao esquema de distribuição dos livros didáticos, em que o governo federal, com mais recursos e expertise, elenca uma lista de materiais adequados e faz a compra, mas cada escola tem a autonomia para escolher quais vai usar. Mais do que simples “frases malcolocadas”, são ações graves, acredita Janine Ribeiro. “Quando se sai de uma crise econômica, a primeira coisa que falta são profissionais bons. A solução é melhorar a economia, não fe-
char vagas de universidades. Há falas preconceituosas, mas além disso, erradas.”
Milton Ribeiro pediu exoneração do MEC no final de março de 2022, após divulgação pelo jornal O Estado de S.Paulo de um gabinete paralelo que favorecia pastores evangélicos na liberação de verbas para as prefeituras –a polícia federal abriu inquérito para investigação.
Ribeiro também responde na Justiça à acusação de homofobia por dizer em uma entrevista também ao Estadão que “homossexualismo” é fruto de famílias desajustadas. Novamente, em agosto de 2021, falou que há crianças com “grau de deficiência que é impossível a convivência” e que, como citado no início, as universidades deveriam ser para poucos. “Tenho muito engenheiro ou advogado dirigindo Uber porque não consegue colocação devida (...) De que adianta você ter um diploma na parede, [se] o menino faz inclusive o financiamento do Fies, que é um instrumento útil, mas depois ele sai, termina o curso, fica endividado e não consegue pagar porque não tem emprego?”, questionou.
Quando encampava alguma agenda, a administração de Milton Ribeiro acabava caindo em questões insignificantes para a sociedade. “Quando tivemos de fechar as escolas por causa da covid, como poderíamos ter garantido aulas para os alunos mais pobres, sem banda larga, sem tablet? O governo federal deveria ter usado os recursos do Fust [Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações] para comprar e distribuir. Além de não tomar a iniciativa, o presidente ainda vetou o projeto de lei”, lembra Janine Ribeiro.
Depois de mais de um ano de pandemia, Bolsonaro de fato vetou o projeto de lei da conectividade, que
previa internet gratuita a alunos e professores da rede pública. O Congresso, contudo, derrubou o veto e estados deverão receber, ao todo, R$ 3,5 bilhões para investir em ações de conectividade escolar, como compra de chips, tablets e pacote de dados.
Para muitos estudantes, a espera pode ter sido longa demais. “A marca deste governo é o abandono e a evasão escolar. Foi um MEC que, no meio de uma pandemia, não gastou um centavo para estruturar as escolas, garantir o acesso à internet. Não é uma omissão, é uma ação: o governo resolveu dessa forma tirar milhões de adolescentes e crianças da escola”, afirma Rozana Barroso, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).
Olavo Nogueira Filho, do Todos Pela Educação, destaca: “É um MEC que lavou as mãos. Em 2021, com os impactos brutais da pandemia, o governo elenca como prioridade a agenda do ensino domiciliar. Algo que serve apenas para alimentar a agenda ideológica de costumes que mantém a base ativa. Um MEC inerte é parte do projeto bolsonarista”. O Brasil tem 56 milhões de estudantes no ensino básico, sendo que 26% na rede particular. O ensino domiciliar é uma questão relevante para apenas 5 mil, segundo estimativas.
Se de um lado atende a interesses políticos, a regulamentação do ensino domiciliar é considerada prejudicial por muitos, contrária aos interesses das crianças. “Em termos mais filosóficos e dialogando com as ciências sociais, os seres humanos constroem a sociedade em que vivem e os Estados modernos são consolidados e funcionam através de pactos e de uma estrutura de governança institucional. Até aqui, o papel da escola enquanto instituição de convivência, de
“Estamos diante de um governo que tem na promoção da guerra cultural um objetivo prioritário de ação. A educação, junto com outros setores, foi absolutamente engolida por essa lógica”, afirma
Olavo Nogueira FilhoAndressa Pellanda sobre o Enem: tentativas de censura, interferência nas provas e uso do exame para aparelhamento ideológico
aprendizado sobre a vida em sociedade e sobre valores democráticos, sobre alteridade, sobre respeito ao diferente e da promoção da diversidade e da não discriminação já é insubstituível”, afirma Andressa Pellanda, coordenadora-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
Outro tema “marginal”, com peso pequeno para a realidade, mas tratado com grande entusiasmo retórico é a militarização das escolas. Marginal porque se dirige a um universo reduzido dentro do sistema educacional brasileiro. Escolas militares, há apenas 14 no país, de 184 mil escolas. A meta para as cívico-militares era chegar a 216 unidades até o fim do mandato de Bolsonaro.
Nem tudo são más notícias para a educação brasileira nos últimos três anos e meio. Após anos de discussões e negociações, o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) tornou-se lei. A vitória, contudo, deveu-se principalmente ao trabalho da sociedade civil, à capacidade de mobilização da chamada “bancada da educação” no Congresso e a entidades como Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e Undime (União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação).
O MEC e o governo federal só entraram na discussão quando o texto estava em vias de aprovação - e para atrapalhar, segundo Nogueira Filho. “O governo não tem como prioridade de ação olhar para a realidade, operar de maneira objetiva. Durante um ano e meio, a agenda do Fundeb foi ganhando força sem interessar ao MEC”, lembra ele. O representante do Todos Pela Educação pondera que a ausência do debate tenha sido inclusive por falta de capacidade técnica dos quadros de liderança do MEC. Apenas a pasta da economia tinha algum envolvimento.
Fundamental para que a educação brasileira melhore, o Fundeb não vai operar milagres, nem terá seus efeitos positivos sentidos imediatamente. Mesmo que no próximo governo
É fato que as escolas militares do Brasil costumam oferecer um ensino de maior qualidade. Mas se deve aos investimentos maiores, e não ao fato de serem militares. Os colégios militares, parte da rede federal, têm mais verbas que escolas estaduais ou municipais; há um investimento direto federal e um indireto que é a utilização de estrutura e recursos humanos do Ministério da Defesa. Os professores dos colégios militares do Brasil ganham um bom salário e têm condições de trabalho melhores, especialmente por serem concursados federais, segundo explica Andressa, que estudou no Colégio Militar do Rio de Janeiro, do 6º ano do fundamental ao 3º ano do ensino médio.
um MEC mais capaz seja constituído, há muito a ser recuperado, pondera o ex-ministro Ribeiro. “Vamos ter uma situação com muita demanda e recursos escassos. Vai ser preciso reequipar escolas, laboratórios, reajustar salários e bolsas. Tudo isso sem dinheiro porque há um calote nos precatórios, que ficará para a próxima administração pagar”, explica.
“Sempre quando conto sobre minha experiência, lembro que tínhamos a oportunidade de escolher durante as aulas de educação física entre uma dezena de esportes - da natação em piscina olímpica à esgrima e equitação -, que tínhamos aulas de química e física em laboratórios bem equipados, e que nossos professores tinham condições de trabalho muito melhores que em outros colégios públicos. Mas a qualidade da rede de colégios militares não acontece porque é gerida por militares. Acontece porque tem investimento adequado. Inclusive, nossos melhores professores eram, geralmente, aqueles concursados civis”, lembra.
“Estamos diante de um governo que tem na promoção da guerra cultural um objetivo prioritário de ação. A educação, junto com outros setores, foi absolutamente engolida por essa lógica”, afirma Olavo Nogueira Filho, diretor executivo do Todos Pela Educação, citando o livro Guerra cultural e retórica do ódio: um Brasil pós-político (ed. Caminhos) de João Cezar de Castro Rocha. “Sem essa guerra, o bolsonarismo não consegue manter seus fiéis mobilizados. Isso implica a negação de dados e da realidade, a busca constante e até a invenção de inimigos a serem combatidos, a violência retórica.”
Sob essa lógica, qualquer governo se torna ineficiente quando se trata da educação brasileira, que tem responsabilidades compartilhadas entre as esferas federal, estadual e municipal. Todo avanço na área depende de grande articulação, mas o que tem sido visto é o confronto.
Talvez o melhor exemplo da guerra cultural na educação seja o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Desde a campanha presidencial, Bolsonaro atacava o exame, dizendo que havia “questões esquisitas” e de “ativismo comportamental”. Quando foi eleito, mas ainda antes de tomar posse, criticou a prova durante live no Facebook. “Podem ter certeza e ficar tranquilos. Não vai ter questão desta forma ano que vem, porque nós vamos tomar conhecimento da prova antes. Não vai ter isso daí”, afirmou, referindo a uma questão sobre expressões da comunidade LGBTQIA+.”
Até onde se sabe, o presidente nunca chegou a ver a prova antes, mas disse em 2021 que o Enem começaria a ter a cara do governo. “A frase do Bolsonaro colocou a educação em alerta. Havia tentativas de censura e interferência nas provas, mas agora há uma sinalização de que, mais grave, há tentativa de uso do Enem para aparelhamento ideológico. O Enem é a principal porta de entrada do acesso ao ensino superior e deveria ser uma avaliação científica”, afirma Andressa Pellanda.
O Inep informou à reportagem que aplica, pelo segundo ano consecutivo, o questionário Resposta educacional à pandemia de covid-19 no Brasil. “O levantamento, feito pela primeira vez na edição de 2020, tem o objetivo de apurar informações sobre as estratégias de ensino e aprendizagem das escolas no contexto da pandemia durante o ano letivo de 2021.”
Nota: a repórter Luciana Alvarez entrou em contato com o Ministério da Educação, mas não obteve retorno.
É fato que as escolas militares do Brasil costumam oferecer um ensino de maior qualidade. Mas se deve aos investimentos maiores, e não ao fato de serem militares“Um MEC inerte é parte do projeto bolsonarista”, diz Olavo Nogueira Filho
Os atos de ler e escrever incorporam, como nenhuma outra função, a capacidade quase milagrosa do cérebro de ir além de suas capacidades originais, geneticamente programadas
| Por Damaris SilvaA leitura e a escrita são saberes fundamentais que se impõem à vida na sociedade contemporânea. De acordo com a neurocientista Maryanne Wolf, no livro O cérebro no mundo digital, o que lemos, como lemos e por que lemos são fatores de mudança do modo como pensamos. A qualidade da nossa leitura não apenas qualifica nosso pensamento, como também se mostra como o melhor meio para que nosso cérebro desenvolva novos caminhos. Nesse ponto, quando olhamos para as variadas facetas dos danos causados pela pandemia na educação, o impacto do isolamento social e do ensino remoto no processo de alfabetização das crianças é assustador.
Um estudo encomendado ao Datafolha pela Fundação Lemann, o Itaú Social e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), divulgado em junho de 2021, mostra que mais da metade (51%) das crianças em processo de alfabetização na rede pública brasileira ficaram no mesmo estágio de aprendizado, ou seja, não aprenderam nada de novo durante a pandemia.
Gerviz Fernandes de Lima Damasceno, formadora do ciclo de alfabetização na Secretaria Municipal de Educação de Tianguá, no Ceará, conta que o processo de alfabetização das crianças foi um dos grandes desafios encontrados pela rede. Entre as limitações tecnológicas e as adaptações dos métodos de ensino, foi necessário repensar as propostas pedagógicas que seriam possíveis, de modo a oferecer uma diversidade de estratégias para atender a todos os alunos. A grande preocupação enquanto gestão era ressignificar o processo de aprendizagem, garantindo o acesso à educação, entre tantas realidades distintas. Das estratégias implementadas, dois projetos se
dedicaram exclusivamente à consolidação da leitura e escrita: o projeto Sexta Literária, que visa contribuir para a formação de alunos leitores por meio do resgate à cultura cearense, com a leitura de obras escritas e ilustradas por autores do estado; e o projeto Eu sou escritor, que propõe transformar o leitor iniciante em protagonista da escrita. Dentre os resultados alcançados, um exemplo é o da aluna Ana Clara, do 2º ano, cujo avanço, segundo a professora Naianny Costa, foi notável. Ao iniciar o ano letivo de 2021 ela realizava uma leitura silabada e ao final, já lia de modo fluente, conseguindo extrair do texto as informações mais importantes e interpretá-lo.
Gerviz e toda a equipe de Tianguá olham para o ano passado com alívio e satisfação, pois avançaram no processo de alfabetização das crianças atendidas, contando com a atuação dos professores, gestores da rede e com o engajamento das famílias como parceiras.
Os atos de ler e escrever incorporam, como nenhuma outra função, a capacidade quase milagrosa do cérebro de ir além de suas capacidades originais, geneticamente programadas. Para além disso, a mensagem que Tianguá nos deixa é que, apesar de todas as adversidades, há práticas exitosas nas redes públicas de ensino que demonstram que estão se formando cidadãos curiosos, críticos e protagonistas de suas histórias.
Mais da metade das crianças em processo de alfabetização na rede pública ficaram no mesmo estágio de aprendizado
PELO 4º ANO, A MARCA MAIS LEMBRADA ENTRE OS SISTEMAS DE ENSINO DO BRASIL.
nas escolas
Livros interativos, videoaulas, audiobooks e podcasts são recursos educacionais que estarão disponíveis para professores e alunos das 178 mil escolas das redes de ensino público em todo o país. É o que preconizam os editais lançados nos últimos anos pelo Programa Nacional do Livro e Material Didático (PNLD), que vem, de maneira gradativa, atendendo às demandas da transformação digital na educação. Os denominados recursos educacionais digitais (REDs) são componentes nesse processo de transformação em que a etapa final é a chegada e permanência definitiva da tecnologia digital às escolas públicas.
O decreto de nº 9.099, de 18 de julho de 2017, terminou com o Programa Nacional de Biblioteca da Escola, marcou a unificação da aquisição e distribuição de livros didáticos e literários e alterou a nomenclatura do programa, introduzindo as palavras “materiais didáticos”. Essas palavras, na verdade, já nomeavam a intenção de inovação tecnológica, segundo Lauri Cericato, especia-
lista em PNLD e políticas públicas educacionais: “foram incluídos livros digitais, arquivos digitalizados e uma série de recursos que extrapolavam o livro físico”. A mudança também propiciou que pequenas editoras entrassem para a concorrência.
Tutoriais e a digitalização de material impresso em arquivos PDF foram os primeiros recursos disponíveis. O arquivo PDF foi bastante utilizado, mesmo que de maneira precária, em meio à pandemia da covid-19, quando professores, alunos e suas famílias foram pegos de surpresa com o fechamento de escolas e a necessidade de aulas remotas. Embora a simples digitalização de material impresso não seja uma inovação propriamente, ela traz a vantagem da flexibilidade de acesso.
Lauri Cericato: “tablets precisam estar nas mãos dos alunos”
O PNLD 2021, para a aquisição de materiais didáticos para o ensino médio, avançou ao apresentar os REDs em seu Objeto 4. Outra inovação foi o material de formação, para professores e gestores. “A ideia era coincidir com a implantação do novo ensino médio, mas esses materiais ainda não chegaram às escolas, ainda estão em processo”, conta Izabel Castilho,
O HTML 5 é uma linguagem de programação que permite a inserção de diversos objetos, inclusive recursos de avaliação em livros interativos
“Material impresso ainda permanece”, alerta Izabel Castilho
especialista em gestão escolar e na prestação de serviços para editoras relativos ao PNLD. Ela também explica que a partir do PNLD 2021, todos os demais trouxeram materiais digitais, inclusive o PNLD 2022, para a educação infantil.
No PNLD 2023, relativo à aquisição de materiais para os anos iniciais do ensino fundamental, a proposta digital se expandiu ainda mais: “Houve também um objeto inteiro com os REDs, audiovisual, PDFs, HTML 5, além do material impresso”, diz Izabel. O HTML 5 é uma linguagem de programação que permite a inserção de diversos objetos, inclusive recursos de avaliação em livros interativos. Então, “já não é apenas uma conversão de código; criar um material na internet exige o estudo de linguagem instrucional para que o aluno possa interagir”. O PNLD 2024, referente a materiais didáticos do 6º. ao 9º ano, traz o livro interativo, além de todo o material impresso ter seu correspondente em HTML 5. Os editais descrevem o que tem de constar nos recursos digitais: questões de avaliação, sequências didáticas, planos de desenvolvimento, sempre relacionados a uma área de conhecimento ou componente curricular.
Izabel Castilho não tem dúvidas de que o PNLD vem dialogando cada vez mais com a transformação digital, mas opina: o impresso tem que permanecer ainda por muito tempo, porque em muitos lugares ainda será o único recurso de aprendizagem. O Brasil é extremamente diverso na questão de acesso à tecnologia, há famílias em que o acesso à internet se dá por meio de um único celular”.
Cericato confirma: “a política-mãe está prevista, o PNLD evolui rumo à transformação digital”, mas, para ele, falta política pública específica que atenda a dois desafios principais. “É preciso garantir o acesso aos dispositivos, os tablets precisam estar nas mãos dos alunos e a escola precisa ter um equipamento de conectividade de qualidade.” Ele menciona dados da pesquisa TIC 2020, publicada em agosto de 2021, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR – NIC.br. Por exemplo, em 2020, 94% das escolas tinham conexão sem fio, mas apenas 45% liberavam o acesso aos alunos. Além disso, Cericato afirma que os professores precisam de formação para o uso de novas tecnologias, para que possam potencializar o uso desses recursos digitais.
Gerar o engajamento do aluno às telas com os conteúdos didáticos é um desafio. Para Thuinie Daros, especialista em sala de aula digital e metodologias ativas, a simples transposição de um formato para outro não gera aprendizagem. É necessário a modelagem pedagógica:
“é um trabalho artesanal, em que o professor estabelece o conteúdo, as estratégias e os recursos que irão criar condições para o estudante aprender”. Para isso, “o professor pode selecionar materiais, atuando como um curador de conteúdos ou mesmo produzi-los em um processo autoral digital”.
Em 2020, 94% das escolas tinham conexão sem fio, mas apenas
45% liberavam o acesso aos alunosThuinie Daros: professor se torna um curador Arquivo pessoal Fabiano Scheck
O país possui cerca de 40 mil escolas particulares que se debruçam para manter sua essência. Conversamos com algumas instituições que destacam suas escolhas na aderência de empresas do segmento para a apoiá-las nessa jornada
Quando uma escola é criada, naturalmente carrega um compromisso social de oferecer uma educação de qualidade para seus alunos. Só esse detalhe já é de grande responsabilidade. E é com a busca de um ensino e aprendizagem eficazes e transformadores que muitas instituições recorrem a empresas que atuam no setor educacional para apoiá-las em sua missão. Educação conversou com escolas que aderem a sistemas de ensino, livros didáticos, programas de idioma e bilíngue para entender o que as leva a essa escolha. Confira, a seguir.
Aderir a um sistema de ensino não significa que a escola perde a sua identidade e que os professores deixarão de ter liberdade para planejar suas aulas. Com
unidades no Distrito Federal, a Escola Rede Projeção adota desde 2016 o Projeto UNO, sistema de ensino da Santillana Educação voltado a metodologias ativas, cultura maker, educação bilíngue e produções midiáticas. O UNO atinge quase três mil alunos de todas as etapas do Projeção, do infantil ao médio. A assessora da educação básica da instituição Denilva Barbosa esclarece que os professores têm autonomia para usar a metodologia que lhes agrada. “O Projeção adota o planejamento de ensino trimestral que deve ser embasado no seu projeto político-pedagógico, proposta pedagógica e o Projeto UNO. Esse planejamento consiste em duas etapas: plano de ensino - comum entre todas as unidades da educação básica -, e a partir dele cada professor elabora o seu plano de aula adaptando à realidade da sua turma e da sua unidade.”
A cultura maker faz parte da identidade do UNO, oferecido pela Santillana, sendo que as unidades da Escola Rede Projeção possuem ambiente específico para esse tipo de prática. “Os projetos são realizados em sala de aula e também na sala maker que é um ambiente próprio para a criação e desenvolvimento de protótipos, estimulando os alunos a realizarem atividades práticas que irão contribuir para a solução de problemas, desenvolvendo a criatividade e o pensamento, além de proporcionar o trabalho colaborativo. Para que este trabalho seja realizado com eficácia, os professores são preparados e treinados”, detalha a assessora Denilva Barbosa.
Fundado em 2006, o Colégio SES, em Belo Horizonte, Minas Gerais, adota o sistema de ensino da FTD Educação praticamente desde o início. Começou com parte dos livros didáticos e em 2017 aderiu ao sistema para os anos iniciais ao médio e hoje a educação infantil também faz parte do pacote. “Esse serviço contempla práticas educativas inspiradoras. Por meio dele o estudante aprende a aprender, a fazer e a compartilhar saberes.” A frase é das coordenadoras do Colégio SES, Raquel Faria Alves da educação infantil, Kellem Cristina de Magalhães Cota do fundamental 1 e de Joyce da Silva Botinha do fundamental 2 e médio.
As coordenadoras do Colégio SES destacam o material didático organizado por módulos bimestrais como fundamentais e definem como “xodó” a Iônica, plataforma digital e interativa da FTD que disponibiliza avaliações com relatório personalizado, vídeos e orientações aos alunos e educadores.
Saindo de Minas e indo ao interior de SP, em Araraquara, a diretora pedagógica do Colégio Natureza, Maria Teresa Outeiro Fernandes, explica que a opção por ado-
tar um sistema de ensino partiu da necessidade de se ter um suporte nos âmbitos pedagógico e administrativo, que promovesse uma otimização das atividades escolares. “O maior benefício trazido pelo Sistema Piaget é a rapidez na atualização de toda a proposta pedagógica à legislação vigente e aos contextos da atualidade. Esta ‘despreocupação’ com as adequações legais nos permite investir na rotina diária e na promoção de uma aprendizagem significativa, além de oportunizar o uso de diferentes abordagens de conteúdos sem que percamos de vista o projeto pedagógico.” O Piaget está presente no colégio desde 2003 e, atualmente, atinge do infantil ao médio.
Dentre os suportes e/ou materiais oferecidos pelo Sistema Piaget, Maria Teresa cita o Manual do Professor. “É fundamental para a organização da rotina. Além do conteúdo, o manual traz muitas orientações de metodologia, de tópicos a serem aprofundados e revistos.”
A autonomia do professor também permanece com quem adota livros didáticos. Em Augustinópolis, Tocantins, a Escola Herdeiros do Futuro atende da creche ao ensino fundamental. Abriu em 2011 e no ano seguinte fechou parceria com a Editora do Brasil que perdura até hoje. Os livros são utilizados todos os dias, respeitando também a realidade de cada turma. Sobre a escolha da empresa, a fundadora e gestora Claudeilma Oliveira Gomes, que já foi secretária municipal de educação no município, conta: “o material da Editora do Brasil é o único até o momento que condiz com a filosofia da escola no que tange a conteúdos atualizados, segmentação, e atividades que levam os alunos a pesquisarem, interpretarem; além da formatação, por exemplo, tamanho da letra, grafia, estruturação dos textos e atividades, gravuras entre outros“.
Aderir a um sistema de ensino não significa que a escola perde a sua identidadeLivros didáticos da Editora do Brasil fazem parte do dia a dia da Escola Herdeiros do Futuro, TO Claudeilma Oliveira, que já foi secretária municipal de educação, enxerga o livro didático como um leque de oportunidades
Deixando de lado os serviços específicos para o setor e refletindo sobre os propósitos da educação que tendem a não mudar, Claudeilma Oliveira, da Escola Herdeiros do Futuro, coloca: “A busca pelo conhecimento, o despertar pelo novo, a sede de aprender, ler, escrever; são muitos os propósitos escolares que não mudaram e acreditamos que não mudarão nunca com o passar dos anos”.
Já em relação ao que está sendo transformado nos últimos 30 anos, Maria Teresa, do Colégio Natureza, destaca: “acredito que a transformação do papel do professor, como detentor do saber, é algo que não mais se sustenta e abre espaço para um profissional que indica caminhos e constrói, com os alunos, as hipóteses para solução dos problemas”.
Sobre o apoio docente, Maria Teresa conta que este ano estão investindo nas questões socioemocionais. “O contexto da pandemia, que provocou o afastamento dos alunos da escola, fez com que eles passassem a ter dificuldades no convívio com os colegas, na capacidade de concentração e organização. Essa realidade provoca também um desgaste emocional nos profissionais docentes.”
Denilva Barbosa, do Projeção, lembra que antes o ensino era centrado apenas na informação. “No mundo digital e globalizado temos a oportunidade de uma educação mais crítica, participativa, comunicativa, com metodologias ativas, aulas invertidas com ferramentas adequadas ao processo formativo dos estudantes deste século, nativos digitais.”
Capacitação direcionada para a aprendizagem e inclusão é lembrada pelas coordenadoras do Colégio SES, que alertam: “Ainda não temos um material didático que atenda os estudantes TEA [transtorno do espectro autista] e DI [deficiência intelectual]”.
Sendo o inglês a língua oficial global, muitas são as escolas que se preocupam em oferecer o ensino do idioma com qualidade, recorrendo, inclusive, a empresas reconhecidas. Localizado em Benevides, Pará, o Colégio FAAMA é um desses – possui o sistema bilíngue da International School – e tem notado crescimento na fluência do inglês entre os alunos. “Percebe-se que as habilidades sociais e cognitivas das crianças estão cada vez mais perceptíveis. Acreditamos que o ensino bilíngue veio para revolucionar as práticas do ensino de língua estrangeira de maneira consistente e operante. Entre os projetos realizados no ano passado, um destaque foi o Thanksgiving, peça com a participação de 30 alunos, cantando e atuando em inglês”, conta Débora Batista de Oliveira, coordenadora e professora do bilíngue do FAAMA. O serviço faz parte do currículo do 1º ano do ensino infantil ao 2º ano do médio. Já na cidade do Rio de Janeiro, o Colégio e Curso Aplicação Cívico-Militar é parceiro do CNA Idiomas do maternal ao 7º ano do fundamental.
“No mundo digital e globalizado temos a oportunidade de uma educação mais crítica, participativa, comunicativa, com metodologias ativas”, diz
Denilva BarbosaAtuação em inglês de alunos do Colégio FAAMA, PA, cliente da International School
“O principal benefício é o desenvolvimento de nossos alunos com relação ao idioma, além do fato de ter uma marca de excelência atrelada à nossa comunidade escolar, podendo receber o conhecimento dentro do horário escolar”, afirma a diretora de unidade, Vania Moreira. O CNA utiliza a modalidade curricular, em que seu próprio material pedagógico é repassado ao colégio. A modalidade extracurricular também é fornecida dentro da própria instituição. Nas aulas de inglês, são utilizadas metodologias ativas como PBL (aprendizagem baseada em problemas), sala de aula invertida, STEAM (Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática), gamificação, entre outras.
“Os estudantes precisam desenvolver a habilidade e o domínio de outras línguas cada vez mais cedo, por isso, compor uma parceria com instituições especialistas é fundamental para as escolas tradicionais. Existe uma grande sinergia entre os nossos processos pedagógicos e a didática utilizada na metodologia do Cel.Lep”, relata Liany Cavalaro, diretora administrativa do Colégio Jean Piaget, na capital paulista. A metodologia Cel.Lep está inserida do maternal ao 9º ano do fundamental. O material didático é fornecido pela empresa e os professores do colégio são capacitados pelos docentes do Cel.Lep.
Elisabete Borges de Oliveira, coordenadora de inglês no Colégio Piaget, conta que nas aulas de inglês são desenvolvidas habilidades de audição, escrita, leitura e interpretação de texto. Dialogando com as necessidades atuais, letramento digital, decodificação e análise, por exemplo, estão presentes nas atividades educacionais também. “Isso ajuda nossos estudantes a se tornarem pensantes, indo em busca de respos-
tas”, acredita Elisabete.
O que todas as escolas parecem já ter clareza é que priorizar apenas o conteúdo já não faz mais parte da realidade atual. Liany Cavalaro, do Colégio Piaget, reforça esse posicionamento: “A proposta da nossa escola é formar cidadãos pensantes, críticos e criativos que se reconheçam como seres inteligentes e capazes de identificar seu papel nas questões sociais e ambientais da sociedade atual. Buscamos acompanhar um mundo mergulhado em um profundo desenvolvimento científico e tecnológico que escala as transformações de forma exponencial. Assim, mais do que nunca se faz necessário o desenvolvimento das competências e habilidades socioemocionais, as ‘soft skills’, que defendemos no Piaget há 40 anos”.
O engajamento do jovem em causas como a defesa de cotas raciais, políticas ambientais ou de minorias também é uma maneira de engajamento político, mesmo que os próprios estudantes não relacionem isso
| POR Alexandre Le Voci Sayad
Sempre foi imprecisa e preguiçosa a afirmação de que jovem não gosta de política. Pesquisas recentes são ambíguas e seus resultados não explicam por si sós o interesse ou a falta dela por parte da juventude. É preciso compreender um cenário mais amplo e, antes de tudo, partir do princípio de que não existe uma só juventude. O termo tem sido flexionado para o plural para dar conta da diversidade de perfis que o Brasil abarca.
Enquanto o DataFolha, por exemplo, mostra que boa parcela do eleitorado que tem opção de tirar o título de eleitor (entre 16 e 18 anos) demonstra um interesse crescente em votar, a Fundação Tide Setubal acaba de realizar um estudo que aponta que apenas 10% do mesmo público pretende fazê-lo este ano. Se votar parece algo distante, imagine então fazer parte dos quadros do Executivo e Legislativo, seja local ou nacionalmente.
O caráter cíclico de debater e exercer os direitos políticos na escola - o assunto tende a surgir apenas em anos eleitorais - não colabora na construção de um cenário de alfabetização política mais amplo. Entre o biênio em que as urnas eletrônicas são ligadas, o assunto da política se transforma em um muro de lamentações sem ação possível no campo da cidadania. A possibilidade de uma renovação no quadro político, por exemplo, se esvai junto com a ideia de que um futuro é construído hoje - não se encontra pronto.
Há uma série de fatores da contemporaneidade que não pode ser desprezada no papel da escola, da família e da comunidade na formação política dos jovens. O principal deles é a presença das mídias digitais - e sua mediação por algoritmos que se utilizam de inteligência artificial.
Nesse sentido, a mesma pesquisa da Fundação Tide Setubal aponta para um receio de “cancelamento” nas redes sociais caso o perfil se posicione politicamente com ênfase - a exemplo do que aconteceu recentemente com personalidades como a cantora Anitta, que teria perdido milhares de seguidores por conta de uma live. Por outro lado, e eis a complexidade da questão, perfis de influencers digitais que falam sobre política, como Gabriela Prioli, não param de crescer. A cientista política procura abordar o tema de maneira clara, sem perder profundidade.
Ou seja: há desconfiança, mas também ocupação do digital quando o assunto é política. A mais nova “ágora” talvez seja mesmo o Instagram ou o TikTok. Trata-se de uma oportunidade para desenvolver práticas políticas junto aos jovens estudantes nas escolas, utilizando-se das mídias e outros espaços cívicos que passam a substituir o sindicato ou a tradição familiar, por exemplo, como centro de formação de lideranças.
Confira alguns pontos que devem ser colocados em prática para que a escola trabalhe com a formação política de maneira constante e sólida:
É importante que o estudante compreenda a prática política como algo cotidiano, inclusive nas relações comunitárias e escolares
Política não é sinônimo de eleição. É importante que o estudante compreenda a prática política como algo cotidiano, inclusive nas relações comunitárias e escolares. Para que o ambiente da escola se torne um lócus democrático, a possibilidade de constituição de um grêmio ou outras instâncias de participação são importantes para esse exercício.
Além disso, o engajamento do jovem de causas, como a defesa de cotas raciais, políticas ambientais, ou de minorias, também é uma maneira de engajamento político, mesmo que os próprios estudantes não relacionem isso. Trazer esse fato para a consciência do jovem é possibilitar que os assuntos de seu interesse também sejam considerados no momento da escolha de representantes Executivos ou Legislativos.
Alfabetização política é algo relevante. Como funciona a Câmara dos Vereadores da cidade? Quais as responsabilidades de um senador da República? Compreender os conceitos básicos de funcionamento do modelo político brasileiro auxilia o estudante a se aproximar do tema. É importante explorar a comunidade para tanto: as câmaras de vereadores e assembleias de deputados são ambientes públicos abertos à visitação, e geralmente contam com visitas monitoradas.
Estimule o acompanhamento de políticos. Iniciativas como a do Plenarinho, de Brasília, contam com as redes sociais para explicar aos estudantes os trâmites democráticos e como o eleitor pode, e deve, acompanhar o desempenho dos políticos pela internet, propor pautas para debates públicos, entre outras ações.
Educação midiática é fundamental. Tornou-se impossível separar as vivências digitais daquelas físicas quando o assunto é política. A cada eleição o ambiente digital se torna decisivo para a propaganda política, inclusive no que tange a desinformação e uso de fake news. Além disso, as redes sociais são as principais fontes de notícias para os jovens, além de espaços de expressão.
Nesse sentido, é fundamental realizar na escola atividades que expliquem o que é a tal “cultura de cancelamento”, como escapar de notícias falsas, como realizar checagem de fontes e também examinar em profundidade casos recentes da política mundial em que foram utilizados robôs e inteligência artificial para poluir o ambiente informacional de uma eleição.
Estimule a obtenção do título de eleitor. A votação facultativa entre 16 e 18 anos foi um instrumento criado na década de 1990 justamente para que estudantes se iniciem na vida política antes da obrigatoriedade formal, após a maioridade. Assim, a possibilidade de voto antecipado oferece uma excelente oportunidade de se perceber, na prática, como o futuro do país, do estado ou da cidade é decidido pela população. Abre-se uma porta real de se compreender a estrutura de democracia representativa.
Sistemas de educação também têm seu papel no enfrentamento das mudanças climáticas; tema deve ser abordado em todas as séries e levar em conta que as alterações no meio ambiente já fazem parte da rotina
Nos últimos 200 anos, a humanidade transformou o mundo de muitas formas. Muitas vezes para melhor, no entanto, nem sempre essas transformações deixam um legado de benefícios para o futuro. As indústrias, os motores, navios, caminhões, aviões e tudo o que ajudou a tornar a vida mais confortável também deixam um rastro de destruição, principalmente no meio ambiente. Problemas que já afetam o presente e que prometem ser ainda mais graves no futuro.
Há muita diversidade na poluição que a sociedade industrial está deixando sobre a Terra. Algumas das
externalidades mais graves são as provocadas pelas alterações no clima do planeta. Dois dos principais causadores dessas mudanças, o CO 2 e o metano, permanecem na atmosfera respectivamente 800 anos e 100 anos. Ou seja, o problema vai cair no colo de pessoas que, ou são ainda muito jovens, ou ainda nem nasceram.
Como fazer para preparar essas pessoas do futuro para enfrentar a herança maldita que estamos deixando? Apesar da complexidade da questão, a resposta é relativamente simples: envolvendo os sistemas de educação para ajudar na construção de habilidades profissionais que hoje são campo de especialistas. No futuro,
O CO2 e o metano permanecem na atmosfera respectivamente 800 anos e 100 anos.
O problema cairá no colo de pessoas ainda muito jovens ou que ainda nem nasceram
qualquer profissional deve entender qual a relação entre sua atividade e a mitigação de problemas climáticos e suas consequências.
Desde os anos 60/70, cientistas e ativistas ambientais alertam sobre a existência das mudanças climáticas e seus impactos. Uma das primeiras reações foi a assinatura do Protocolo de Quioto, em 1997, quando 141 representantes de 175 países se comprometeram em reduzir suas emissões de carbono. O Protocolo do Quioto entrou em vigor em 2004, quando foi assinado pela Rússia. Com isso se completou um grupo de países responsáveis por mais da metade das emissões globais de CO 2 .
Até aquele momento o importante era conseguir a conscientização de cientistas e governantes sobre os perigos das mudanças climáticas a longo prazo. O mundo deveria manter o clima com aumento médio de até 1,5 Cº sobre as temperaturas médias anteriores à Revolução Industrial do século 19. Mais do que isso significa transformações no clima global, com mais furacões e tufões, mais chuvas concentradas, mais secas prolongadas e mais perdas de vidas, aumento dos fluxos de refugiados expulsos de suas terras por causa das secas e enchentes.
O alerta, 20 anos depois, não é mais sobre o futuro, explica o pesquisador e ativista Carlos Ritll, que durante mais de seis anos foi secretário executivo do Observatório do Clima no Brasil. “Os efeitos das mudanças no clima já batem às nossas portas com a violência de tempestades e enchentes.” Carlos cita os recentes eventos extremos com tempestades e inundações, na Bahia, em Minas Gerais e na região serrana do Rio de Janeiro como exemplos de que não se trata mais de eventos futuros, mas sim de uma emergência climática imediata. A esses eventos podem-se alinhar ainda as
O clima na Terra sempre passou por mudanças. A diferença agora é que essas mudanças estão muito aceleradas e os cientistas acreditam que as atividades humanas, principalmente o uso de combustíveis fósseis como o carvão mineral e o petróleo, estão no centro do problema. A queima desses combustíveis emite CO 2 na atmosfera, o que forma uma espécie de cobertor de gases na atmosfera, impedindo que o excesso de calor se dissipe no espaço.
O desmatamento de florestas também pode liberar dióxido de carbono. Aterros para lixo são uma das principais fontes de emissões de metano, outro gás que provoca o efeito estufa. Energia, indústria, transporte, edificações, agricultura e uso da terra estão entre os principais causadores das mudanças climáticas. No entanto, estas são as atividades que oferecem conforto à nossa moderna civilização tecnológica.
Em um relatório da ONU de 2018, milhares de cientistas e analistas de governos, reunidos em um painel internacional, concordaram que limitar o aumento da temperatura global a não mais que 1,5 °C ajudaria a sociedade a evitar os piores impactos climáticos e a manter um clima habitável. No caminho atual é possível chegar a um aumento médio da temperatura de 4,4 Cº, o que seria uma catástrofe em termos de enchentes, furacões, secas e elevação do nível do mar.
Para conseguir mudar o cenário futuro é importante que os conhecimentos específicos sobre as mudanças climáticas sejam apresentados aos estudantes de forma objetiva e criando condições para que possam atuar na profissão que escolham no futuro.
No futuro, qualquer profissional deve entender qual a relação entre sua atividade e a mitigação de problemas climáticos e suas consequências
severas secas no Rio Grande do Sul, que vêm piorando ano a ano e o aumento de queimadas por todo o país, em especial em regiões do Pantanal e da Amazônia.
Durante muito tempo negacionistas do clima afirmaram que a humanidade não é parte do problema climático e mesmo depois de 26 COPs (conferências internacionais) sobre o tema ainda há quem diga isso. Segundo Rittl “a questão não é mais se as alterações no clima são causadas pelas atividades humanas ou não, esse é um debate superado”. Para ele o importante é que os países, governos locais e as sociedades ao redor do mundo se preparem para enfrentar os eventos extremos e sigam eliminando o uso intensivo de combustíveis fósseis e outras atividades que despejam gases estufa na atmosfera.
Esse é um compromisso intergeracional, que deve ser assumido pela geração presente, mas que impõe deveres para as próximas gerações, que hoje estão nos bancos escolares.
O deputado Carlos Veras, do PT de Pernambuco, apresentou no final de 2021 um projeto de lei que inclui o tema mudanças climáticas nos currículos escolares através da alteração na lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, que passaria a vigorar com a seguinte redação: “Conteúdos relativos aos direitos humanos, às mudanças climáticas e à prevenção de todas as formas de violência contra a criança, o adolescente e a mulher serão incluídos, como temas trans-
Arquivo
Carlos Ritll: catástrofes na Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro
“são exemplos de que não se trata mais de eventos futuros, mas sim de uma emergência climática imediata”
versais, nos currículos com a produção e distribuição de material didático adequado a cada nível de ensino”. Essa mudança na lei, que ainda não foi aprovada na Câmara dos Deputados, pode oferecer a base legal para que o Ministério da Educação passe a criar os instrumentos necessários para preparar as escolas e os professores nessa abordagem interdisciplinar. Mas, aqui, vale lembrar que os outros itens constantes no parágrafo citado da LDB, apesar de já constarem da lei, ainda patinam em sua oferta universal aos estudantes.
A educadora ambiental Mônica Pilz Borba, fundadora do Instituto 5 Elementos, em São Paulo, concorda com essa linha de ação. Para ela a educação ambiental deve ser muito mais abrangente e trabalhar
Vítima da chuva em Sambaituba, Ilhéus, recebe doação em dezembro de 2021
O importante é que países, governos locais e as sociedades ao redor do mundo se preparem para enfrentar os eventos extremos e sigam eliminando o uso intensivo de combustíveis fósseis e outras atividades que despejam gases estufa na atmosfera
o conhecimento sobre os limites do planeta de forma transversal nos processos de educação. “É preciso mostrar que há uma relação entre os limites do planeta e todos os temas do conhecimento”, explica. E aponta a urgência de preparar as novas gerações para que atuem de forma efetiva na solução dos problemas ambientais presentes em todos os biomas terrestres. “Não podemos simplesmente ignorar que estamos deixando problemas graves que terão de ser resolvidos no futuro”, diz. Mônica defende que também devemos oferecer instrumentos e conhecimentos que permitam que os adultos de amanhã saibam o que estarão enfrentando e tenham uma visão multidisciplinar dos problemas.
A educadora, que já foi gestora da UMAPAZ – Universidade Aberta do Meio Ambiente, ligada à prefeitura de São Paulo, acredita que as organizações da sociedade civil que já atuam com a pauta ambiental e da educação ambiental podem ter um papel importante na criação de materiais e na capacitação de professores para ampliar a oferta dos conhecimentos necessários para levar essa pauta às salas de aulas das diversas séries. “Há muito conhecimento espalhado entre organizações sociais, academia e professores, é preciso sistematizar a oferta dessas informações para torná-las acessíveis aos planos de aulas”, explica.
O professor Pedro Jacobi, titular da Faculdade de Educação da USP e professor do Procam – Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, também da USP, reforça que o problema climático não será resolvido em pouco tempo ou pela atual geração de adultos. Para ele, compreender que essa é uma responsabilidade intergeracional é fundamental para o enfrentamento da emergência climática a longo prazo. “Preci-
Para Mônica Pilz, a educação ambiental deve trabalhar o conhecimento sobre os limites do planeta de forma transversal nos processos de educação
samos preparar os jovens para que se tornem adultos e profissionais conscientes de que o problema existe e precisa ser enfrentado em múltiplas frentes”, diz. Isso significa que profissionais de todas as áreas do conhecimento têm de atuar na adaptação e enfrentamento da crise climática.
Especialistas concordam que o sistema educacional tem um papel estruturante no combate a longo prazo das mudanças climáticas e no enfrentamento de suas consequências. “É preciso que o conhecimento sobre os sistemas climáticos e os problemas causados pelo aquecimento global sejam progressivamente conhecidos desde as primeiras séries do ensino fundamental até a formação nas universidades”, explica o professor, que vê nessa abordagem a ampliação da capacidade de resposta a longo prazo.
“A formação dos professores deve ser continuada, assim como o avanço dos conhecimentos sobre os problemas climáticos e ambientais”, diz Pedro Jacobi
Jacobi já escreveu vários artigos sobre a necessidade de se abordar problemas ambientais e climáticos nas séries dos ensinos fundamental e médio e, para isso, reforça que é necessário apoiar os professores com materiais didáticos e conteúdos que ajudem a construir os novos conhecimentos necessários nas salas de aula. “A formação dos docentes deve ser continuada, assim como o avanço dos conhecimentos sobre os problemas climáticos e ambientais”, diz. Ele reforça a importância do jornalismo na qualificação do diálogo multidisciplinar necessário para que o conhecimento em sala de aula tenha um caráter transversal e não fique restrito a uma caixinha de “educação ambiental”.
*Dal Marcondes
é jornalista especializado em meio ambiente e desenvolvimento sustentável há 27 anos
Conexão com o setor internacional da educação para estimular ideias e gerar impacto fez parte do roteiro da comitiva brasileira presente em um dos maiores eventos sobre educação, tecnologia e inovação do mundo, a Bett Londres, que aconteceu no final de março deste ano. Mais de 60 pessoas, incluindo educadores, gestores, secretários de educação e líderes educacionais compuseram a comitiva que contou com o apoio do governo britânico e patrocínio da Lenovo.
Antes dos três dias do evento, os integrantes brasileiros participaram de visitas técnicas às instituições britânicas de educação. E é a experiência de representantes de três escolas – sendo uma um grupo voltado ao ensino superior –, um revendedor e as fundadoras da SOS Educação que
abordaremos a seguir.
As aprendizagens que surgiram ou se intensificaram durante a pandemia bem como o modelo híbrido foram pontos quase unânimes entre os participantes. Contudo, Roberta Bento e Taís Bento, mãe e filha especialistas na relação família-escola e fundadoras da SOS Educação, afirmam que durante a viagem notaram “não existir educação pós-pandemia. O mundo olha para a educação como um processo contínuo, repleto de inúmeros desafios que precisamos ser ágeis o suficiente para superar”.
A quantidade de soluções de telas interativas chamou a atenção de Caroline Serqueira e Flavio Mariz, geren-
tes de tecnologias do Grupo Educação Básica Marista. O coordenador de TI no Colégio Pentágono, de SP, Marcelo Martins, observou o mesmo. “Vimos projetores interativos que transformam o chão ou a parede em locais vivos para auxiliar os alunos em diversas situações e muita aplicação de robótica e espaços makers.”
“As tendências mais claras estão no uso intenso de IA [inteligência artificial] em todo o processo de aprendizagem, na aproximação da universidade e escolas do mundo de games – principalmente com esporte –, coding para crianças e jovens, segurança da informação, saúde mental/cuidados com o bem-estar e privacidade digital”, aponta Henrique Puccini, gerente de inovação e parcerias na Ânima Educação, grupo detentor de 15 instituições de ensino superior no Brasil.
Qualidade sobrepondo quantidade foi a primeira coisa que Roberta e Taís, da SOS Educação, com quase 300 mil seguidores apenas no Instagram, notaram tanto nos expositores quanto nas propostas de empresas de tecnologia – segundo elas, a Lenovo é uma das que estão à frente desse processo. “Vimos, ao longo das últimas décadas, muitas empresas investirem em criar equipamentos baratos para que fossem comprados em grandes
“O discurso em relação às necessidades e o objetivo da educação é, hoje, muito parecido no mundo todo”, dizem Taís e Roberta Bento
Líderes educacionais se reúnem em Londres em busca de boas práticas. Nessa imersão, escolas apontam tendências observadas no segmento da tecnologia educacional
Tecnologia por tecnologia, não. Tem que existir compromisso com o gestor, educador e aluno
quantidades pela educação. A preocupação com o quanto poderiam de fato impactar de forma positiva o processo ensino e aprendizagem não existia, era discussão que não interessava. Hoje isso mudou. A busca é por qualidade e por impactos que sejam reais e mensuráveis.” Soluções para a inclusão de alunos com necessidades especiais também foram colocadas como tendência segundo SOS Educação, além de sistemas de gestão para apoiar no dia a dia escolar.
Segundo o coordenador de TI no Colégio Pentágono, a Lenovo se transformou nos últimos tempos. “Deixou de ser um player que entrega hardware para se tornar uma empresa completa e focada na área de educação. Hoje entendo como uma parceira que atende às necessidades do Pentágono, desde a entrega de um dispositivo até soluções educacionais e aplicativos de apoio aos professores.”
“A Lenovo Brasil é parceira da escola no sentido de entender quais são os reais desafios enfrentados e o
tamanho da complexidade que o dia a dia escolar representa. Quando uma empresa entende isso, passa a caminhar de mãos dadas com a gestão em busca de soluções”, defendem mãe e filha da SOS Educação.
Nas visitas técnicas às instituições de educação, Felipe Emerson, diretor da revendedora Seal Sistemas, presente no Brasil, América do Sul e Central, diz que os investimentos em tecnologia estão acelerados e com modelos educacionais direcionados ao ensino híbrido.
No dia a dia profissional, a Seal tem contato direto com as escolas. Indagado sobre o que elas estão buscando na área tecnológica, conta: “modelos financeiros sustentáveis, reset do modelo antigo, soluções cada dia mais baseadas em software e dispositivos um por aluno”.
Henrique, da Ânima, revela que nessas visitas teve a oportunidade de conferir como a produção científica da universidade foi relevante na bus-
ca pela vacina da covid-19. “A conexão entre academia e setores privados para a conquista desse objetivo foi um destaque.” Ainda sobre o que chamou atenção nesses ambientes, complementa: “o uso de recursos tecnológicos e de pesquisa foi um ponto de atenção, conferindo o nível de interesse e adoção de equipamentos de VR [realidade virtual] e realidade mista”.
A imersão nas possibilidades da tecnologia com a educação não acabou na Bett Londres. Encontros de líderes com quem participou da experiência internacional acontecerão no Brasil para discussão do que foi aprendido e o que é relevante levar para as escolas e grupos educacionais.
O propósito da Lenovo com a área de educação vai além da venda de equipamento. “A nossa ideia é ajudar a promover transformação digital nas escolas com venda de soluções customizadas. Educação é uma área social, então além de venda de equipamento e solução a gente tem o intuito de promover estudos, interação e networking para que possamos trocar boas práticas e aprender uns com os outros”, afirma Carolina Gomes, gerente de desenvolvimento de negócios para educação da
Osetor de educação fechou 2021 com 52 operações de fusões e aquisições, um aumento de 93% em relação a 2020. O maior volume de transações no setor foi muito próximo à marca histórica alcançada em 2008, quando foram fechados 53 negócios. Esses dados foram fornecidos pela KPMG, uma rede global de firmas independentes que prestam serviços de audit, tax e advisory.
Segundo o sócio da KPMG, Marcos Boscolo, “o início do processo de transações, fusões e aquisições no setor de educação aconteceu de forma estruturada a partir de 2008, ano seguinte aos primeiros processos de abertura de capital (IPO) das empresas na bolsa de valores. Já em 2020, o setor sentiu os impactos da pandemia e realizou apenas 27 operações. Em 2021, com os avanços da vacinação no Brasil e no mundo, o mercado retomou a confiança gerando uma forte retomada no volume de transações”.
Marcos Boscolo conta que foi responsável em 2021 por 11 transações na educação básica e 14 no ensino superior, os demais 27 negócios foram com escolas de idiomas, cursos preparatórios e outros. O cálculo para avaliação de uma escola considera de oito a 10 vezes a capacidade de geração de caixa. Há outros fatores que são considerados, mas em tese é esse o raciocínio.
Considerando os principais consolidadores, o Brasil já soma 81 transações de M&A no ensino básico desde de 2016 – só em 2021 foram 16 aquisições. Os dados são de um estudo elaborado pela RGS Partners, boutique de M&A focada em médias empresas. Em sua maioria, as transações contam com aquisições de 100% e o destaque do último ano é o grupo Eleva, que adquiriu 51 escolas da Cogna. A iniciativa deu ao grupo o título de maior operação de M&A já realizada no setor de educação básica, com valor transacionado de R$ 964 milhões.
“Início do processo de transações, fusões e aquisições no setor de educação aconteceu de forma estruturada a partir de 2008”, conta Marcos BoscoloSegundo Marcos Boscolo, o mercado retomou a confiança e os negócios crescem
De acordo com o estudo setorial feito pela RGS Partners, cada vez mais o segmento de ensino básico tem se mostrado atrativo para investimentos no Brasil. “Assim como na saúde temos um aumento na demanda por serviços por conta do envelhecimento populacional, na educação, apesar do número de filhos por família estar reduzindo ao longo do tempo, o valor disponível para investimento por filho aumenta, pois educação é prioridade no orçamento familiar. A educação básica privada ganhará espaço e deve passar por significativa consolidação nesta década”, pontua o sócio da RGS, Pedro Scharam.
O executivo ainda destaca que, com alto potencial de consolidação, o ensino básico no Brasil também conta com oportunidades ainda inexploradas em todas as regiões do país e possibilidade de expansão de marcas fortes – realidade acentuada pelo cenário da pandemia. À medida que muitas escolas demoraram a se adaptar às aulas virtuais e sofreram financeiramente, aquelas que se adaptaram rápido conseguiram recuperar alunos e se fortalecer, intensificando o potencial de consolidação dessas marcas em suas regiões.
De acordo com o estudo da RGS, atualmente o Brasil possui quase 9 milhões de alunos e R$ 80 bilhões transacionados por ano no segmento do ensino básico privado. “A educação básica passou de quatro para 12 consolidadores em um período de sete anos. Apesar dos impactos da pandemia no campo do ensino básico, neste período houve a entrada de novos consolidadores no segmento”, detalha Scharam. “Entre os consolidadores mais ativos estão a Bahema, Eleva, Grupo Seb, Inspira e Rede Decisão”, completa.
Desde 2016, mais de 50% de todas as transações de educação básica, considerando os principais consolidadores no Brasil, foram registradas na região Sudeste (53.1%). Em segundo lugar aparece o Sul (24.7%), seguido do Nordeste (9.9%), Norte (7.4%) e Centro-Oeste (4.9%).
São Paulo é o estado com maior volume de operações no segmento, com um total de 19 transações envolvendo os principais consolidadores (23.8%). Em seguida, o Paraná com 14 transações (17.5%) e em terceiro lugar está o Rio de Janeiro, com 13 operações (15.9%).
Pedro Scharam entende que o ensino superior já está consolidado, então as oportunidades serão das escolas médias e premium de educação básica. “Só interessa escola com ticket médio de 3 mil reais em São Paulo e de 1.600 em regiões como Goiás, por exemplo. Os valores de negociação levam em conta de sete a nove vezes o Ebtida em escolas pequenas e de 10 a 15 nas maiores.” Scharam não acredita que essas aquisições possam trazer prejuízo para a qualidade do ensino. “Elas vão cuidar da qualidade pois sabem que esse é o grande motor dos negócios na educação”, finaliza.
Aquisições vão cuidar da qualidade “pois sabem que esse é o grande motor dos negócios na educação”, diz Pedro Scharam
De acordo com o estudo da RGS, atualmente o Brasil possui quase 9 milhões de alunos e R$ 80 bilhões transacionados por ano no segmento do ensino básico privado
Substâncias presentes em maquiagens e produtos de cuidado pessoal podem afetar no diagnóstico de autismo, déficit de atenção e hiperatividade
aquiagens, cremes, perfumes, protetores solares e esmaltes fazem parte do cotidiano. O que não imaginamos é que o uso desses produtos pode afetar o desenvolvimento infantil. É o que têm mostrado estudos recentes de diversos centros de pesquisa. Em janeiro deste ano, pesquisadores estadunidenses publicaram estudo vinculado ao projeto CHARGE (Childhood Autism Risks from Genetics and Environment) relatando que maior exposição a fenóis e parabenos — substâncias que podem estar presentes na composição de cosméticos e produtos de cuidado pessoal — nos primeiros anos de vida estava associada a um maior risco de atraso no desenvolvimento e de diagnóstico de transtorno do espectro autista. Essas substâncias podem afetar o desenvolvimento do sistema nervoso e alterar o funcionamento do sistema endócrino. Pesquisadores canadenses já haviam identificado que a presença de parabenos no mecônio — primeiras fezes eliminadas pelo recém-nascido — estava associada ao dobro de chances de desenvolvimento de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
A lista de produtos que geram preocupação não é pequena. O fenoxietanol (EGPhE), por exemplo, compõe pelo menos a metade de todos os perfumes, cremes, loções, maquiagens e produtos de cabelo do mercado francês, destaque na indústria de cosméticos. Pesquisadores já identificaram uma associação entre o EGPhE e alterações de memória e aprendizado. Um estudo francês identificou que maiores concentrações de ácido fenoxiacético (PhAA), substância derivada do EGPhE, na urina materna durante a gestação estavam relacionadas a piores desempenhos de seus filhos em testes cognitivos de compreensão verbal aos seis anos de idade. Nanopartículas de dióxido de titâ-
nio (NPs TiO2), por exemplo, chegam a representar 1% a 10% da composição de filtros solares. Segundo estudos em animais de laboratório, são partículas neurotóxicas capazes de interferir no desenvolvimento placentário e nervoso, podendo atingir o hipocampo, estrutura cerebral importantíssima para a formação de memórias, gerando prejuízos ao aprendizado.
Os ftalatos também merecem atenção. Esses compostos normalmente estão presentes em embalagens plásticas, tornando-as mais maleáveis, mas também em produtos aerossóis, esmaltes, colônias, perfumes e cremes. A exposição a ftalatos tem sido associada a alterações do desenvolvimento cognitivo. Estudo realizado por pesquisadores da Anhui Medical University, na China, mostrou que concentrações mais altas de ftalatos na urina materna durante a gestação estavam ligadas a pior desempenho das crianças em testes de QI entre três e seis anos. Sabe-se que os ftalatos agem alterando a expressão de dezenas de genes envolvidos nos processos de formação das células nervosas e transmissão do impulso nervoso. Na verdade, a preocupação com possíveis efeitos sobre o funcionamento genético não se restringe aos ftalatos. Já se sabe que muitos componentes de cosméticos possuem a capacidade de alterar a expressão de genes envolvidos em eventos críticos do neurodesenvolvimento.
Esses achados representam um alerta para ficarmos mais atentos à composição de cosméticos e produtos de cuidado pessoal. Em países da União Europeia e da Ásia, a legislação prevê diversas restrições ao uso de parabenos. No final do ano passado, pelo menos cinco novas substâncias da classe dos parabenos foram incluídas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na lista de substâncias proibidas em cosméticos e produtos de higiene pessoal. Entretanto, fabricantes têm um prazo de até três anos para adequar seus produtos a essa norma. Uma das determinações da Anvisa é que os rótulos dos produtos apresentem a descrição de sua composição química, mas apenas no ano passado tornou-se
obrigatório que a descrição estivesse também presente em nosso idioma. Além de embalagens e rótulos, a segurança do consumidor depende de boas práticas de fabricação, que incluem processos como aquisição de materiais, produção, controle de qualidade, armazenamento e expedição. Apesar de não obrigatório para o funcionamento da empresa, a Anvisa emite Certificados de Boas Práticas de Fabricação àqueles que atendem à regulamentação, conferindo credibilidade. Segundo dados da Agência, hoje, no Brasil, pelo menos 49 fabricantes estão com seus certificados vencidos.
É preciso, portanto, investir em mecanismos para que pais, mães, cuidadores e educadores tenham acesso a essas informações, seja sobre possíveis efeitos da exposição a esses compostos no desenvolvimento infantil, seja sobre a composição dos produtos que consumimos ou ainda sobre a legislação vigente em nosso país. Como regra geral, recomenda-se, portanto, que gestantes evitem o uso excessivo de cosméticos, busquem formulações com poucos componentes químicos e evitem produtos de cuidado pessoal que contenham fragrâncias. Por mais que o incentivo à divulgação científica seja importante no que diz respeito a esse tema, existem outras ferramentas úteis. A plataforma CosDNA (www. cosdna.com), por exemplo, é um site que contempla centenas de produtos cosméticos com a descrição detalhada de seus ingredientes, a classe química a que pertencem, alguns índices de segurança e até avaliações de outros consumidores, mas ainda não está disponível em nosso idioma. O desenvolvimento de uma ferramenta semelhante em nosso país seria muito bem-vindo. E fica a recomendação: a preocupação que as gestantes têm com a composição de sua dieta deve ser ampliada aos cosméticos que utiliza.
O produto fenoxietanol, por exemplo, presente em perfumes e produtos para o cabelo está associado a alterações de memória e aprendizado*Mariah Gomes é acadêmica de medicina, Gustavo Santos é doutorando em fisiologia, Anderson Andrade e Fernando Louzada são professores do Departamento de Fisiologia, todos da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Apresentado por
Aos 38 anos de idade, Ulisses Cardinot é o que se pode chamar de um empreendedor serial. Montou seu primeiro negócio, uma empresa de fogos de artifício, aos 14 anos. Três anos depois, criou um curso de informática que deu origem a uma empresa de prestação de serviços. Mas foi em 2009 que deu sua grande tacada: criou a International School, uma solução para educação bilíngue que tem atualmente mais de 100 mil alunos em todo o Brasil.
Formado em Pedagogia, MBA em Economia e Gestão e Empresarial pela FGV, foi ALUMNI do Programa para executivos em gerenciamento e inovação pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology). Ulisses praticamente nasceu dentro de uma escola. Seus pais eram professores e donos do colégio Externato Campista, fundado há mais de 50 anos em Campos (RJ). Aos 13 anos, o garoto viajou para os Estados Unidos para estudar inglês a convite de uma família amiga, membro da Igreja Adventista, que ele frequentava juntamente com seus pais. Lá também estudou música na Universidade de Andrews, em Michigan. “O que mais me
chamou a atenção quando cheguei lá foi que, apesar de ter estudado inglês por três anos numa escola perto de casa, eu tinha muita dificuldade para me comunicar”, diz Ulisses. “Eu não sabia, mas aquela experiência seria o embrião do sistema que desenvolvemos anos depois.”
O primeiro passo de Ulisses nesse sentido foi a International School, que começou a operar na escola de seus pais. Para o empreendedor, os alunos deveriam aprender inglês de verdade, dentro da escola – e não frequentando cursos fora do colégio. Por isso, ele desenvolveu uma metodologia baseada no sistema CLIL (Content Language Integrated Learning), em que o idioma é aprendido junto com outras disciplinas.
Como o modelo, baseado em experiências que o empreendedor viu in loco em países como Portugal e Espanha, provou ser mais eficiente para o ensino do idioma, Ulisses decidiu que seria possível expandi-lo e transformá-lo num sistema escalável. Difícil era convencer donos de escola a adotar a ideia. Antes de obter seu primeiro grande
bilíngue dentro da sala de aula
contrato, ele bateu nas portas de mais de 50 colégios. Foi só em 2015 que a empresa faturou seu primeiro milhão de reais, atendendo naquele ano um total de 600 alunos de quatro escolas no Rio de Janeiro.
Uma das estratégias de Ulisses para multiplicar o número de clientes foi a Caravana International School. Ele convidou gestores da rede de colégios Damas – com várias unidades do Nordeste – para visitar os colégios que usavam a metodologia I.S. em Itaboraí e Macaé (RJ). Os gestores ficaram impressionados com o sistema e decidiram adotá-lo.
O crescimento da I.S. chamou a atenção da Arco Educação, gigante do setor. Em 2016, a empresa se tornou sócia da empresa, de olho em um mercado potencial de 9 milhões de
alunos e 700 milhões de faturamento. Ulisses se manteve CEO e vem trazendo retornos exponenciais para o negócio.
Hoje, a I.S. é a maior player de ensino bilíngue do país, presente em todas as regiões, com mais 100 mil alunos e 300 escolas parceiras. A rede de colégio Damas, que foi a primeira a participar de uma caravana da International School, permanece parceira e colhe frutos do trabalho realizado em conjunto com a I.S.
Livia Goldman, supervisora do programa bilíngue no Colégio Santa Madalena Sofia, da Rede Damas em Maceió, conta que o sistema já apresenta resultados visíveis. “Acredito que a forma como o bilíngue foi implementado na escola, dentro da matriz curricular e envolvendo todas as crianças, tornou a experiência ainda mais significativa. A cada ano observamos a desenvoltura e a naturalidade com que os alunos estão vivenciando a língua inglesa. Crianças que nunca tiveram contato com o idioma e conquistaram certificados de Cambridge”, relata. com o idioma e conquistaram certificados de
Ulisses Cardinot CEO e Sonhadorcomum, em tempos de guerra e de pandemia, os justos reclamos e as análises das perversidades e descalabros que se vivem. O céu sobre nossas cabeças fica a ponto de desabar pela tristeza e pelo pessimismo que nos invade.
São justas as denúncias contra os sub-reptícios ou escancarados desmazelos trazidos pelos resultados das pré-guerras e os covardes desumanismos das guerras reais.
As ondas de desinformação e mentiras trazidas por redes, por plataformas, por influencers e pelos TikTok “incineram os fatos pela virtualização1” e multiplicação da mentira ou do descrédito em qualquer realidade. Elas hibridizam o falso-verdadeiro e a autenticidade-mentira como se não houvesse critério seguro para nada. O resultado: descrédito generalizado da vida, “não acreditamos em mais nada”. Outro resultado desse “vale-tudo” é o descrédito lento nas ciências. Uma das almas do saber escolar.
A clareza dos problemas em que vivemos não necessariamente nos aponta a solução. Frequentemente tal clareza tem o condão de caotizar nossas mentes para entender suas origens e suas análises. Os passos da constatação para a sua compreensão e diagnósticos são mais sutis e exigem a criação de múltiplos e estratégicos passos.
Posto isso, chego agora às escolas na sua tarefa de receber os jovens e crianças depois de dois anos de promessas de retorno, de sustos, de agravamento, e de
perdas. É neste clima de perplexidade e insegurança que a escola abre suas portas e serviços.
O que venho propor à comunidade de educadores que voltam às aulas e ao convívio?
Uma grande celebração como forma de acolhimento a toda a comunidade. Uma espécie de relembrança histórica – que pode durar todo o ano com atividades planejadas e entremeadas – do tanto que foi conquistado por todos, durante os anos de 2020-2021.
O que se entende por comemoração? Trazer à memória coletiva todos os fatos que fazem a vida, esperança ou conquista. Comemorar é também celebrar (tornar célebre) para um grupo social, para um território ou para uma instituição, os fatos, pessoas, valores que se construíram e que se consolidaram como parte da vida e da cultura daquela comunidade.
Celebrar o quê da pandemia? Quem conquistou o quê?
Aí entram o conjunto da escola e as suas conquistas durante esse tempo. Professores, alunos, familiares, gestores, funcionários, comunidade. Todos tiveram vitórias e evoluções – mesmo no meio de perdas. Sobreviveram a tantas doenças e ameaças como escola e como pessoas. Algumas escolas públicas de São Paulo se tornaram centro de acolhimento, prestaram seus serviços à comunidade. Celebremos
Muitas famílias desempregadas uniram-se e criaram redes de solidariedade. Explicitem-se como foram construídas tais conquistas. Celebremos.
É possível fazer uma relembrança histórica – que pode durar todo o ano com atividades planejadas e entremeadas – sem esquecer do acolhimento ao aluno
| Por Fernando José de Almeida
Trazer à memória coletiva todos os fatos que fazem a vida, esperança ou conquista
Os alunos viram nas mídias o uso responsável das estatísticas em jornais televisivos e aprenderam o que é o pensamento probabilístico, estimativas e evolução histórica de fatos. Como os professores de matemática ou de geografia reconstroem isso como conhecimento? Fazer tal articulação é um ato de celebração. Publiquem-se nas paredes da escola. Envie-se pelo site da escola ou pelo Facebook. Celebre-se.
As comunidades criaram o “presidente de rua” durante a pandemia, cuja função era a proteção do bem comum e o cuidado com os mais desprotegidos. Sistematize-se e celebrem.
Alguns jovens produziram audiovisuais domésticos com os quais se comunicavam com outros colegas ou traziam ideias e contribuições para grupos de solidariedade.
Sentiram falta da escola como nunca. Em primeiro lugar pela falta dos colegas – uma das funções primeiras da escola é uma socialização em torno do trabalho intelectual, cognitivo e convivial. Afinal, o conhecimento é uma atividade social. Não é uma corrida competitiva e solitária para realizar um projeto individual de vida. Os alunos perceberam isso? Mostre-se o sentido profundo do que aprenderam. Celebrem. Afinal, a escola é um lugar do crescimento coletivo. Local da formação da política de vida do indivíduo. E eles desenvolveram durante estes dois anos uma série de percepções políticas (do bem comum e do viver junto). Celebremos.
Elenquem-se aquelas atividades que merecem ser discutidas, sistematizadas e propagadas que ganham sentido social quando sintetizadas como bem comum e construção coletiva.
Celebrar na escola toda, com toda a escola. Professores e gestores viveram angústias cotidianas nas suas famílias e com sua profissão que merecem ser relatadas sistematizadas e comemoradas. Sempre com publicações, em eventos próprios, em vídeos, documentando suas descobertas no meio de dores, inseguranças e riscos de saúde...
Os funcionários das escolas são também atores importantes do processo educativo. Eles não são sombras quase invisíveis, meros figurantes, seres folclóricos. Eles são atores com os alunos, os professores e as famílias, pois são mediadores do processo de conhecimento que exige condições de reprodutibilidade da aprendizagem. Refiro-me aqui à figura da merendeira, do pessoal da limpeza, da segurança, da manutenção. Todos têm o que dizer sobre o que aprenderam, viveram e sofreram. Eles estão todos aqui, de novo, na busca da construção a partir do que fizeram e não apenas do tal “novo normal”, conceito que só servia às propagandas de cervejas.
O retorno às aulas é antes de tudo um momento de acolhimento dos que chegam “envelhecidos” dois anos, mas sem a vivência coletiva escolar. Eles sentiram falta. A escola deve mostrar quanto sentiu falta deles. Celebrem-se as conquistas de todos.
O aperfeiçoamento constante impacta toda a equipe escolar, do corredor ao administrativo da instituição paranaense que também se preocupa em se aproximar das famílias e oferecer uma educação com significado
OColégio Passionista Nossa Senhora Menina completará 83 anos. Localizado em Curitiba, PR, atende do ensino infantil ao médio com a filosofia “bondade, competência e firmeza”, acompanha as linhas pedagógicas da fundadora Maria Madalena Frescobaldi Capponi e valoriza a formação continuada de seus funcionários para o desenvolvimento da educação. “Essa formação vai desde a área jurídica, entendimento de leis e práticas educacionais, até propostas educacionais para serem desenvolvidas com o aluno. A formação é constante, realizamos todo mês e às vezes mais de uma vez por mês. Estar na escuta e na preparação para esses educadores é fundamental”, comenta Rossana Marchiori de Souza Ramos, coorde-
Metodologias ativas têm sido destaque nas formações
nadora do fundamental 2 ao médio e supervisora pedagógica do infantil ao médio.
Rossana trabalha no colégio há 19 anos. “Na supervisão eu tenho esse olhar do todo, da orientação e da coordenação pedagógica para que possamos atingir o aluno, o professor e a família ao mesmo tempo.”
As formações e estudos da equipe escolar já aconteceram fora do Paraná, como Minas Gerais e São Paulo. “E na escola há incontáveis momentos em que paramos para conversar e dividir experiências e opiniões. Hoje acredito que o principal objetivo seja no campo das metodologias ativas e na formação, para melhor vivenciar esses métodos em que o educando é sempre o real protagonista”, conta Francis Elias Georges Bittar, professor de matemática no colégio há 27 anos.
Letícia Zanotto estudou no colégio, tem 35 anos na
instituição enquanto profissional e desde 2007 é responsável pela orientação educacional da educação infantil ao fundamental 1. “Essa formação continuada ocorre no próprio colégio, a distância ou em parceria com instituições e/ou sistema de ensino. A razão da importância da contínua formação como condição para as mudanças no modo de pensar e agir dos educadores promove a excelência no trabalho assumido e desenvolvido, refletido no sucesso pessoal e de forma ampliada no profissional dos alunos que participam ativamente dessa construção. Atualmente, estamos envolvidos com a formação continuada Educação Inclusiva para um “olhar” à pessoa de forma individualizada, contemplando suas habilidades, seus limites e desenvolvendo suas possibilidades.”
Outro ponto importante da formação, segundo a supervisora Rossana, está relacionado à captação de novos alunos. “A formação dos professores é como uma rede, uma coisa está muito ligada a outra. Não é um setor isolado, o educador tem que estar por dentro de tudo que acontece na área pedagógica para encantar as famílias.”
O colégio tem cerca de 550 alunos, conta com 48 professores e com uma mensalidade média de 1.300 reais a 1.400 reais. “O que vejo futuramente como um diferencial é a escola entender que não é mais voltada a conteúdos. Pensar na escola do futuro é pensar que nós temos que romper o paradigma de tudo que já fizemos até aqui. É o professor e a instituição entenderem que precisamos desenvolver habilidades, porque conteúdo você abre o Google e tem um monte,” comenta a Rossana.
Francis Elias, professor de matemática: já compreendeu que o protagonista é o aluno
A orientadora educacional Letícia Zanotto estudou no colégio e tem 35 anos como profissional da instituição
Rossana Marchiori, supervisora: educação do futuro é trabalhar com significação
Sobre habilidades que devem ser desenvolvidas, Rossana, que também é professora de língua portuguesa, exemplifica: “o aluno precisa entender que o seno e cosseno são para o avião não cair. Então tenho que compreender para o que eu vou usar tudo isso. Essa é a educação do futuro, é trabalhar com significação”.
A formação continuada não é apenas para os professores, mas para toda a equipe escolar: “Nós costumamos falar aqui que todos somos educadores. Temos os educadores docentes, sendo aqueles que estão mediando o conhecimento diretamente para os alunos, e os educadores não docentes, os funcionários que trabalham nos corredores e no setor administrativo, e todos nós temos essa responsabilidade de formação por estarmos atuando com pessoas, com os alunos e com as famílias”, finaliza a supervisora.
O que vejo futuramente como um diferencial é a escola entender que não é mais voltada a conteúdos... porque conteúdo você abre o Google e tem um monte”, diz Rossana Marchiori
Nas barricadas e nas ruas, na internet e nos campos de batalha, nas trincheiras e nos escritórios, vemos o desfraldar imenso de discórdias, de combate, de enfrentamento e de colisão
| Por João Jonas Veiga SobralStanley Kubrick e Arthur C. Clarke em roteiro, adaptação e filme primorosos, criaram no longa-metragem 2001 - Uma Odisseia no Espaço uma das elipses temporais mais impressionantes da história do cinema – um recorte no tempo entre um osso alçado ao ar e uma nave, em formato semelhante, que navega no silêncio noturno do espaço
O filme sugere a saga humana violenta desde seus primórdios, período em que homens-macacos encontram-se, em ambiente hostil e desértico, na base da pirâmide alimentar, carente de recursos vitais, lutando pela vida. Um dos nossos supostos ancestrais encontra, em meio a ossadas de um mamífero, um monólito bem lapidado. Curioso, começa a manejá-lo e percebe seu poder de destruição ao chocá-lo contra a ossada entre destroços de morte.
Na manipulação, bate a nova ferramenta no crânio de uma ossada e o vê espatifar ao meio. Eufórico, vê no osso instrumento que possibilitará a ele e ao grupo conseguir alimento e conquistar, por meio da brutalidade da vida, um poço de água que dividia em desvantagem com outro grupo de homens-macacos que não conhecia as possibilidades do monólito como aparato de força e de poder. Assim, o bando que transforma o osso em arma dá um passo à frente na evolução e garante, desta maneira, sua sobrevivência.
Em outra elipse narrativa fantástica, em forma de delírio, Brás Cubas, protagonista de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, em seu leito de morte e antes do último expiro é acometido por um delírio febril em que se vê, inicialmente, como um barbeiro chinês e, depois, como a Suma teológica de São Tomás de Aquino e,
seguida, se encontra em galope no dorso de um hipopótamo que o leva para as origens dos séculos, até ser pinçado pelos cabelos ao ar pela Mãe Natureza ou Pandora, que mostra a ele, do alto da montanha, em um fio de relâmpago, a passagem do homem sobre a Terra.
“Inclinei os olhos a uma das vertentes, e contemplei, durante um tempo largo, ao longe, através de um nevoeiro, uma cousa única. Imagina tu, leitor, uma redução dos séculos, e um desfilar de todos eles, as raças todas, todas as paixões, o tumulto dos impérios, a guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e das cousas. Tal era o espetáculo, acerbo e curioso espetáculo. A história do homem e da terra tinha assim uma intensidade que lhe não podiam dar nem a imaginação nem a ciência, porque a ciência é mais lenta e a imaginação mais vaga, enquanto que o que eu ali via era a condensação viva de todos os tempos.”
Nessas duas elipses temporais, nessas condensações de tempo, vemos aturdidos a evolução do homem e a sua capacidade criadora e destruidora. Nessas supressões de tempo e de espaço criadas na tela do cinema e nas páginas dos livros, inferimos que a trajetória humana na Terra é marcada pela violência e pela socialização, em busca da sobrevivência, de território, de poder, de domínio e de afeto. E arrebatados, saltamos da arte para vida e percebemos que essa força ambígua de socialização e de segregação, de amor e de ódio, de cobiça e de solidariedade, de glória e de miséria compõe com tintas fortes as imagens do caminhar do homem, bicho da Terra tão pequeno, em busca de si e de nada.
Não bastam todas as guerras que enfrentamos e enfrentaremos para que encontremos na vida algum refúgio tranquilo. Houve e haverá muitas contendas e nossa lida com a vida ainda. Cheias de narrativas e de nuances que a desaprovem e a reafirmem.
Quem vê, por exemplo, a guerra atual entre Rússia e Ucrânia, entre Israel e Palestina encontra nelas narrativas desse comportamento bélico do homem sob o domínio de forças criativas de ferramentas de destruição e de poder. Vê também, nas redes sociais e nas mídias, a batalha de versões narrativas em torno dessas
guerras. Vê o desfilar de força e de poder, de arma e de escrita que permeia todo e qualquer conflito, toda luta, todo confronto e toda escaramuça que envolve homens que dominam e homens que são dominados. Sabe-se que em guerra a primeira morte é a da verdade. Cada um a seu modo defende a sua com a força argumentativa e beligerante que tem. Isso vale para conflitos entre países e pessoas. Do osso ao impropério, do tiro à bomba há um saltar longo ou curto de elipses e de indisposições. A acepção de guerreiro ou de batalhador pode variar do aguerrido ao belicoso, do pelejador ao soldado. Vale a circunstância e a versão dadas ao confronto.
Nas barricadas e nas ruas, na internet e nos campos de batalha, nas trincheiras e nos escritórios, vemos o desfraldar imenso de discórdias, de combate, de enfrentamento e de colisão. Movidos pela ambição e pela cólera, variamos o tom e a proporção, mas não abrimos mão dessa evolução franca rumo ao confronto. Em tempos bicudos e de vale-tudo e de arminhas com as mãos como o que estamos vivendo, quase não há quem largue, no amor e na guerra, o osso de suas certezas
Ultimamente, cada um roendo seu osso defende ao seu modo a guerra do dia a dia. Paladinos da paz viram no cancelamento do estrogonofe e dos autores clássicos russos sua forma violenta e solidária de se opor à guerra, acreditam que o cancelamento estúpido, inválido e comezinho seria a forma saudável de boicotar a batalha que veem.
Chocalhados, neste vasto monólito da existência, pela mão da força, criaremos - no teclado e no gatilhoinstrumentos belicosos e marcaremos nosso território a qualquer preço; não feito bichos que dispõem de seus instintos e de sua fisiologia, mas como humanos astutos, criadores de instrumentos de paz e de guerra. Até quem sabe a elipse temporal do fim.
quem sabe a elipse temporal do fim.
João Jonas Veiga Sobral Escritor, professor de língua portuguesa e orientador educacionalSabe-se que em guerra a primeira morte é a da verdade. Cada um a seu modo defende a sua com a força argumentativa e beligerante que tem
Netos queridos,
Se, hoje, vivemos tempos de paz, nem sempre assim foi. Nos idos de 20, a humanidade parecia possuída pela pulsão da morte. Tudo recomeçou na antiga Ucrânia e deixou rastros de morte e destruição que apenas se apagaram no final da década.
Na terça-feira de Carnaval de há vinte anos, o exército russo aproximava-se de Kiev. Em terras brasileiras, apesar das proibições, foliões juntavam-se em bandos propícios ao contágio de um vírus, que teimava em não desaparecer.
A humanidade colhia os frutos de uma educação competitiva, causa indireta da ignorância e do egoísmo patente nas iniciativas bélicas e no desrespeito pelo próximo. Há mais de um século, Maria Montessori nos avisara:
“Todos falam de paz, mas ninguém educa para a paz. As pessoas educam para a competição e esse é o princípio de qualquer guerra”.
Num jornal de março de há vinte anos, o presidente da França dizia que o estado de guerra iria piorar. E um secretário de educação do Brasil, nestes termos, reconhecia que o estado da educação, também, iria piorar:
“Aquilo que já era ruim ficou pior. Estou usando uma frase que já foi muito publicizada para dizer que o ensino médio já estava no fundo do poço e a pandemia mostrou que podia piorar”
Perante os desanimadores resultados de sempre, efeitos de um sistema de ensino hierarquizado, autoritário, intelectual e moralmente corrupto, o Conselho Nacional de Educação admitia que a maioria dos alunos fora prejudicada e que estava ingressando no ensino superior sem estar devidamente preparada. Garantia que, para evitar novas perdas, seria necessário continuar ofertando atividades presenciais, deixando as escolas abertas. Mas, como garantir?
Se no ensino médio o cenário era de tragédia educacional, a situação no fundamental não era das melhores. Os resultados ficavam abaixo do adequado em língua portuguesa. Um aluno que estava no 5º ano apresentava uma proficiência de um estudante do 3º ano. Cerca de
51% desses alunos, por exemplo, não conseguiriam responder uma questão para identificar a finalidade de um texto. No 9º ano, os alunos tinham o conhecimento adequado para o 7º ano.
A notícia de onde extraí estes dados acrescentava que os estudantes dessa etapa chegavam ao ensino médio com “pelo menos dois anos de defasagem nos conteúdos”. E o que propunham os “especialistas” e os secretários de educação, para travar o avanço da ignorância? Impotentes, recomendavam o costumeiro tratamento da crise. Uma “especialista” alvitrava que se deveria estruturar “um programa de recuperação para alunos do ensino médio, que saíram da escola com tantas defasagens”. E um secretário de educação corroborava a afirmação da “especialista”. Os alunos que concluíam o ensino médio tinham ainda “a chance de cursar um quarto ano opcional, criado em 2020, a depender de vagas disponíveis” (sic). E que pretendia lançar um programa com aulas aos fins de semana, que poderia beneficiar ex-alunos e no preparatório do vestibular:
“A única maneira de recuperar essas defasagens é oferecendo programas de recomposição das aprendizagens”
A “única maneira”? Ledo engano! Essa era, na verdade, uma das piores das “maneiras”.
Para não correr risco de acabar no divã do psiquiatra, eu juntava as escassas forças de um idoso na tentativa de me abstrair das pedagógicas besteiras em que a administração educacional era pródiga. Empregava as já escassas energias no servir a quem delas precisava. Porque nem todas as escolas estavam controladas por burocratas e havia secretarias de educação geridas por educadores éticos.
A excelência de ensino da melhor escola de idiomas do Brasil* alinhada às diretrizes da BNCC e habilidades do século XXI. Tudo isso totalmente integrado à sua escola!
Ampla oferta multicultural para seus alunos aprenderem inglês enquanto exploram suas paixões!
Recursos físicos inovadores e Plataforma de Experiência Gamificada.
Acompanhamento constante do time de especialistas em educação bilíngue da Cultura Inglesa.
Cursos de extensão da Faculdade Cultura Inglesa para os professores.
Carga horária flexível, para deixar a Plataforma Bilíngue do jeito que a sua escola precisa!
Solução intracurricular e seriada
Agende uma apresentação!
parcerias@culturainglesa.com.br
(11) 4005-1511 e 0800 780 0688 culturainglesa.com.br/parcerias
INGLÊS CULTURA INGLESA, SÓ COM A CULTURA INGLESA.
O CNA na Escola oferece ferramentas que estimulam a aprendizagem com recursos tecnológicos, materiais atualizados e certificação internacional. O aluno se diverte e otimiza a sua experiência, praticando o idioma com aplicativos de realidade aumentada e atividades com QR Code.
SÃO 4 MODALIDADES PARA AULAS DENTRO OU FORA DA GRADE CURRICULAR DO COLÉGIO:
As OFICINAS LITERÁRIAS CNA 2.0 são online. Durante os encontros, o professor orienta os alunos na redação de textos em inglês ou espanhol sobre um tema específico. Depois, os alunos ilustram suas histórias com a ferramenta Book Creator.
Única escola de idiomas da América Latina a ter MATERIAL DIDÁTICO EXCLUSIVO EM PARCERIA COM A DISNEY, com direito a salas tematizadas para aulas ainda mais divertidas. Magia que vai além da sala de aula.
O INSTITUTO CNA tem o objetivo de promover educação, alimentação balanceada e cuidados básicos para crianças de 4 a 6 anos, com material didático e uniforme completo. Mais uma iniciativa do CNA para seguir no propósito de educar para o desenvolvimento das pessoas e a construção de uma sociedade melhor.
48 anos de atuação no mercado
635 escolas em todo Brasil
Mais de 400 mil alunos
Uma das redes mais premiadas do franchising brasileiro
Franqueador DO ANO pela ABF
Certificações Internacionais (Cambridge e SIELE)