AGOUROS DA ÁGORA
Foto de Cícero R. C. Omena no flickr2
OS SUBALTERNOS FALAM EM TORTO ARADO por Peterson Nogueira
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á um enorme fosso entre ser livre e se sentir livre no Brasil. Em inúmeros exemplos midiáticos, o cerceio da liberdade está atrelado à forma como têm sido tratados os negros no país. Sob a fábula de um suposto fim da escravidão da mão de obra negra, a realidade se revela contrária à História e a literatura descortina algumas atrocidades. É isso que Torto arado (2018), de Itamar Vieira Junior, faz.
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Para além da curiosidade que gira em torno de um livro vencedor de diversos prêmios literários, dentre eles, Leya (2018) e Oceanos (2020), em Portugal, e Jabuti (2020), aqui no Brasil, o arrebatador romance narrado sob a ótica das irmãs Bibiana e Belonísia, vivendo na Fazenda Água Negra, pode ser lido como o grito do subalterno. Por isso e por toda a representatividade desse livro no contexto nacional, é preciso, neste momento, discutir os assuntos que tocam o romance.
Com o intuito de fomentar essa discussão, vale enfatizar o seguinte raciocínio: se há, por um lado, uma crescente preocupação com a população negra, incluindo movimentos como o “Vidas negras importam”, aliados à mentalidade coletiva de que pessoas negras não são cidadãs de segunda categoria, por que ainda existem tanto preconceito e tanto cerceio sendo motivados na nossa sociedade com pessoas pretas? Por que não existe (ou parece não ter força) um movimento nacio-