CONTRARREGRA
O OLHAR BÁRBARO DAS CRIANÇAS por Raquel Zanini
Foto de Leroy_Skalstad no Pixabay
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Na roda do mundo, mãos dadas aos homens, lá vai o menino rodando e cantando cantigas que façam o mundo mais manso cantigas que façam a vida mais justa, cantigas que façam os homens mais crianças.
Thiago de Mello, Cantiga quase de roda
m mundo mais manso e uma vida mais justa compõem a cantiga das crianças, como nos ensina a perceber Thiago de Mello. Desde o princípio da vida social, os infantes desejam se relacionar com o outro e com os adultos, de modo igualitário, sendo reconhecidos como sujeitos. Seus passos iniciais nesse processo caracterizam o instante “um”, que o filósofo Walter Benjamin, em Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação, vai indicar como aquele que se repete durante toda a vida. São esses primeiros passos nessa “cantiga quase de roda” que nos indicam a importância de escutar as crianças, de estarmos atentos às suas percepções, pois, para Benjamin, o processo de descoberta do mundo e da vida possui um caráter revolucionário, que pode proporcionar uma reorganização e identificação do mundo. A cognição das crianças traz essa marca revolucionária porque é tátil, o que sinaliza sua ligação com a ação.