Relatório Cobertura edição de julho (número 23)

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economia brasileira é embasada no agronegócio, um dos mais importantes do mundo, e sua produção engloba desde produtos primários até elaborados e prontos para o consumo. Segundo o IBGE, a participação no PIB brasileiro em 2019 era de 21%, equivalente a R$ 7,3 trilhões, e para 2020 a expectativa é de 25% de participação, com um crescimento de 9,8% sobre o ano anterior. O setor conta com o apoio governamental por meio do Programa de Subvenção ao Prêmio de Seguro Rural (PSR), aprovado em junho no valor recorde de quase R$ 1 bilhão – exatos R$ 955.149.289,00 – de orçamento para apoio aos produtores na compra das apólices no Plano Safra, que prevê

ainda a concessão de R$ 236,3 bilhões em crédito para os pequenos, médios e grandes produtores durante o ano-safra 2020/2021. Atualmente, 14 seguradoras estão qualificadas pelo Ministério da Agricultura no Programa de Seguro Rural, que opera com seguros para 60 cultivos e atividades. Durante muitos anos, o mercado de seguros deu as costas para o campo e se preocupou somente com as demandas da cidade. Com a internacionalização dos mercados no final da década de 90, soluções, até certo ponto inovadoras, foram trazidas para o mercado brasileiro. Nesta mesma época, em outros países, o seguro agrícola já mostrava uma realidade diferente para o mercado segurador. O seguro rural privado tinha apoio dos produtores rurais, bem como dos governos com programas de subsídio. “Quando começamos a entender e a desenvolver este mercado no Brasil, descobrimos a grande capilaridade do campo. O produtor rural brasileiro estava investindo cada vez mais em tecnologia de ponta e as seguradoras e resseguradores também tiveram que investir e inovar dentro da realidade brasileira”, conta Laura Emília Dias Neves, CEO da AgroBrasil Seguros, ao frisar que foi um trabalho imenso devido às peculiaridades regionais e culturais do Brasil. Hoje, o mercado de seguros tem condições de proteger e diminuir os riscos dessa atividade de maneira ampla. Quando se fala no agronegócio engloba-se os riscos mais usuais, como o seguro agrícola (safra), os seguros de riscos diversos (RD) para cobrir as máquinas de plantio e colheita e de armazéns gerais. Estes dois últimos são os mais ofertados e procurados, pelo fato de o segurado ter uma percepção de exposição maior ao risco, ou por obrigações contratuais com os agentes financeiros. O seguro agrícola (safra) vem ganhando mercado ano a ano e há muito a ser feito. Historicamente, a soja é campeã de contratação, em 2019 representou 41,38% das apólices subvencionadas, seguida pelo milho (2ª safra) com 12,06%, uva (11,22%), trigo (9,19%), milho (1ª safra) com 5,76%, arroz (4,14%),

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3 café (2,74%) e as demais culturas com 13,51%. Mas a cadeia produtiva é grande e estende a outros setores, como o de serviços, com o transporte dos produtos e a indústria com o fornecimento de máquinas. Ainda dentro do agronegócio, existe o seguro PME para pequenos e médios empresários que atuam no setor tanto da parte de insumos, fornecendo sementes, adubo e tecnologia, quanto no momento da distribuição, por exemplo. Outro setor que gera oportunidades e é essencial para o desenvolvimento do agronegócio é o de cooperativas. “Na cadeia produtiva do agronegócio temos um círculo virtuoso, ou seja, não interessa apontar o início, mas as opções desta cadeia”, conta Anderson Cardoso, diretor da Acesso Brasil Corretora de Seguros, de Goiânia (GO). “O seguro de riscos diversos para cobrir máquinas e implementos, agrícola (safra) para cobrir as culturas, com incentivo do Governo Federal e/ou Estadual com a subvenção, na qual o Governo paga parte do prêmio, o seguro dos armazéns e grãos após colheita, o seguro de transporte rodoviário e, em muitos casos, o transporte marítimo. Saindo um pouco dos seguros de bens, se tratando de pessoas, temos o seguro de vida e acidentes pessoais para os funcionários, o E&O para alguns profissionais, como Engenheiros Agrônomos, Florestais e Mecânicos, por exemplo. Seguro viagem, nacional e internacional para aqueles que necessitam deslocar a trabalho, seguro saúde, veículos individuais, entre outros”, relata. A cadeia produtiva do agronegócio, desde a preparação do solo até o produto chegar na mesa do consumidor, é muito extensa e diversificada, e, ainda, se diferencia muito para cada tipo de cultura. “A gestão efetiva dos processos se faz necessária e primordial para obtenção de resultados positivos para os produtores, fornecedores e compradores. Sem este controle rígido de cada etapa processual certamente haverá prejuízos financeiros percebidos”, afirma Enzo Ferracini, vice-presidente de Specialty da THB Brasil. “O seguro entra neste cenário como um instrumento importantíssimo de mitigação de riscos

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da operação e, principalmente, como um facilitador de obtenção de créditos pelos produtores”, demonstra. Karine Barros, diretora de Negócios Corporativos da Allianz Seguros, lembra que, com tanta diversidade, “é muito importante que o produtor e os demais empresários do setor sejam suportados por um corretor de seguros, que é o profissional adequado para avaliar a necessidade de cada cliente, garantindo que as coberturas e os limites contratados sejam os mais adequados às suas necessidades”.

Sustentação para o país na crise

Destacando-se como um dos principais setores brasileiros, em tamanho e lucratividade, as perspectivas do agronegócio para 2020 se mantêm positivas. O segmento ainda conta com um plano de ações emergenciais para minimizar os efeitos da pandemia e impulsionar a agropecuária, apresentado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as federações de agricultura dos estados, as entidades do Conselho do Agro e a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). “O agronegócio é um segmento que historicamente tem uma relevância estratégica e que em determinados momentos ao longo de décadas tem

apresentado resultados superiores às demais áreas da economia. Um exemplo disso pode ser observado com os dados referentes ao ano passado. Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) como um todo ficou em 1,1%, o PIB do agronegócio cresceu 3,81% em 2019 na comparação com 2018 e representou 21,4% do PIB total do país no ano passado, segundo dados da CNA, Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq)”, diz Adailton Dias, diretor executivo de Produtos e Resseguro da Sompo Seguros. “Vale também destacar que o segmen-


4 Seguros que envolvem o segmento do Agronegócio

São bastante diversificados e muito dimensionados para cada risco inerente às etapas produtivas. A seguir, os grupos de seguros mais usuais e que facilitam o produtor para obtenção de crédito e em especial na proteção do seu patrimônio:

Seguro Penhor Rural | cobre perdas ou danos causados aos bens diretamente relacionados a atividades agrícolas, pecuárias, aquícolas ou florestais que tenham sido oferecidos em garantia de crédito rural. Seguro Benfeitorias e Produtos | cobre perdas ou danos

causados aos bens diretamente relacionados a atividades agrícolas, pecuárias, aquícolas ou florestais que não tenham sido oferecidas em garantia de crédito rural.

Seguro Agrícola | garante ao produtor danos causados

à sua lavoura decorrentes de fatores climáticos adversos e pragas que possam prejudicar a produção. Este é um seguro que também visa facilitar a obtenção de condições favoráveis ao produtor para obtenção de insumos agrícolas.

Seguro Prestamista | cobre o saldo devedor da dívida contraída pelo produtor para custeio de sua lavoura. É basicamente um seguro de vida do titular do seguro, neste caso o responsável pela lavoura. Normalmente este seguro é oferecido no momento de concessão do crédito e garante uma tranquilidade para a família do produtor e uma garantia para o financiador

Seguro Logístico | mitiga os riscos de transferência logística dos produtos transportados tanto para possível dano na carga decorrente dos riscos do transporte, até uma responsabilidade civil de danos causados a terceiros decorrentes de algum acidente. Seguro Empresarial | muitas vezes o produtor rural está

associado a uma cooperativa, que o suporta com investimentos em insumos necessários para a produção. Ele, por sua vez, vende uma parte da sua produção para essa cooperativa, que a beneficia ou armazena, por exemplo, em silos ou depósitos. Estes silos e depósitos são protegidos de eventuais incêndios ou outros tipos de situações, como vendavais, alagamentos, roubos e quebra de máquinas, por um seguro empresarial.

to de seguros também tem cumprido seu papel. Desde 1994, o setor de seguros em geral apresenta crescimento contínuo e sempre acima do PIB brasileiro”, frisa. Sidney Rodrigues, corretor de seguros de Campo Grande (MT), gestor da Rede Agro, da Rede Lojacorr, corrobora dizendo que “o agronegócio tem contribuído para o superávit da balança comercial (crescimento de 5,9% no acumulado do ano de 2020). “Os elevados investimentos em tecnologia no setor têm colocado o Brasil em posição de destaque no cenário mundial no que tange à produção e exportação de alimentos, o setor continua produzindo riqueza e prosperidade para a nação, além do pleno abastecimento interno”, afirma. Mesmo com a crise do coronavírus, o IPEA avalia que o PIB do agronegócio deve subir 2,5% em 2020. “Entre janeiro e abril as exportações de produtos agropecuários subiram 7% em comparação com o mesmo período anterior. Em se tratando de exportações de carne bovina, o percentual é 26,5% maior, isso justifica o papel relevante que o agronegócio brasileiro tem para a nossa economia e para a segurança alimentar de todo o mundo. Como falamos todos os dias, ‘o agro não para’”, defende Everton Todescatto, gerente comercial e agronegócios da Sancor Seguros. O CEO da THB Brasil reforça que as culturas brasileiras são muito bem aceitas e altamente demandadas pelo mercado internacional, o que concede segurança futura para melhorar a exploração do cultivo com garantias futuras de recebimento. “O ano de 2020 tem se mostrado de muita dificuldade econômica mundial frente à pandemia causada pela covid-19 e o agronegócio brasileiro vem na contramão deste

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Laura Emília Dias Neves AgroBrasil Seguros

cenário devido a uma super safra e à desvalorização cambial, o que irá ajudar no resultado do nosso PIB, que já tem definição de redução importante motivada pelos outros segmentos da economia”, enfatiza Ferracini. “O agronegócio é a locomotiva da economia brasileira. Hoje, com orgulho, dizemos que nossa grande indústria é o campo e continua gerando emprego, enquanto outros setores estão demitindo”, diz Laura. Segundo ela, a crise que hoje estamos passando mostra que o campo continuou forte colocando comida na mesa do brasileiro. “Como seria a quarentena caso faltasse comida? Fico feliz que o homem do campo tenha mostrado que continuou trabalhando e produzindo, assim como outros setores que permitiram que o alimento viesse do campo para a cidade e chegasse em nossas mesas”, reflete. As riquezas geradas a partir e através do agronegócio são de extrema importância para a manutenção da economia do Brasil. “É possível observar que nos últimos anos o país vem produzindo safras em quantidade nunca antes vistas, o que mostra a preocupação do setor em avançar na aplicação de tecnologias e melhorias sustentáveis”, analisa David Martin, diretor da Martplus Corretora de Seguros, de Ibiúna (SP). “Eu diria que o agronegócio é o pilar mais forte de sustentação do Brasil, porém nesse cenário de crise sanitária mundial,

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outros setores da economia e saúde também são importantes. A fortaleza do agronegócio vem pela constância de crescimento, de manutenção dos empregos, de investimentos no mercado interno e da atração de investimentos externos”, aponta. Felipe Michels Caballero, gerente de seguros RE da Corretora de Seguros Sicredi, explica que dentre os seguros estruturados e ofertados ao produtor, há que se destacar os seguros agrícolas em razão da performance bastante diferenciada que vem registrando em relação às demais modalidades. “Isso decorre basicamente do aprimoramento da oferta de produtos das seguradoras nos últimos anos, dos maiores volumes de subvenção federal disponibilizados e também a maior percepção de risco por parte dos produtores, decorrente do aumento na frequência e severidade dos eventos climáticos”. Segundo ele, uma das razões do aumento são as perdas climáticas em algumas regiões. “Sempre que isso acontece, o agricultor tem a percepção do risco, dá valor ao seguro e buscar contratar. Este é um ciclo que caracteriza todos os ramos de seguro. Tivemos há pouco a ocorrência do famoso ciclone bomba em alguns Estados do Sul, que trouxe severos prejuízos para o mercado de seguros. A tendência é de que nos próximos meses aumente a procura por seguro nas regiões afetadas”.

Anderson Cardoso Acesso Brasil Corretora de Seguros

Enzo Ferracini THB Brasil


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Oportunidades aos corretores

A diversificação de ramos de seguros e sua devida aplicação abre um espaço para a atuação de corretores do mercado nacional. Para muitos dos ramos não é necessário ter conhecimentos técnicos específicos. Por exemplo: um corretor que comercializa apólice de residência pode comercializar um seguro de propriedade rural. Aquele que comercializa um seguro de automóvel ou um equipamento no seguro de riscos diversos, vende com bastante facilidade uma apólice de equipamento rural, como um trator. Apenas no caso do cultivo é necessário o suporte de um agrônomo, para entender mais detalhadamente sobre a cultura comercializada. Para Catia Rucco Rivelles, superintendente de Seguros Agrícolas da Ma-

Felipe Smith Tokio Marine

pfre, “a cadeia produtiva do agronegócio envolve diversos agentes, cada um com sua especificidade. Um corretor especialista em seguro de transporte de grãos, por exemplo, pode não ter conhecimento em seguros rurais, mas ainda assim atuar com um seguro originado na cadeia produtiva do agronegócio”, explica. Anderson Cardoso concorda que alguns ramos de seguros ligados ao agronegócio não necessitam de conhecimento específico no meio rural, pois suas coberturas são as mesmas de outros riscos dos demais segmentos. Mas enfatiza que o corretor de seguros que conhece o meio rural e suas particularidades se destacará no segmento e terá maior amplitude dos produtos, ampliando seu mercado, já que em algumas modalidades de seguros são exigidos conhecimentos específicos. “A qualificação profissional é o diferencial competitivo do corretor de seguros. O segurado sempre dará preferência àquele que melhor conhecer do seu risco e trouxer mais tranquilidade. Sugiro aos colegas que não têm experiência neste setor, para não perderem negócios até se aperfeiçoarem, que procurem parceiros. Este modelo é cada vez mais comum entre os especialistas e não especialistas, parcerias em co-corretagem e regras de entrada e saída destes clientes, pois o melhor negócio é aquele que ambos sairão ganhando”, garante. David Martin também percebe que as parcerias podem ser o melhor caminho. “O corretor de seguros não especialista

no agrobusiness muito certamente tem clientes desse meio, porém pode não se sentir apto a atuar com esta especialidade pela complexidade dos seguros agrícolas. Os profissionais éticos e comprometidos com uma boa oferta de serviços fazem a opção de não ofertar certos produtos pelo reconhecimento da falta de capacidade de realizar uma venda consultiva. Essa prática é muito respeitável, pois hoje o segmento de seguros rurais batalha para refazer uma imagem construída em anos anteriores de vendas mal realizadas que resultaram em uma grande insatisfação dos segurados. Para isso, vemos a parceria entre corretores como uma excelente saída, para que o corretor não especialista atenda seus clientes por completo”, diz. Segundo ele, a venda apoiada em colegas especialistas auxilia com esse conhecimento. “Aproveitando essa parceria, esse corretor pode se capacitar e atuar, no futuro, de forma autônoma com seguro agrícola”. As oportunidades existem e estão disponíveis para serem coletadas pelos corretores de seguros. “Esse mercado possui um potencial de crescimento muito grande, no qual somente 10% da área plantada no Brasil é segurada. No entanto, deve-se entender que esta busca deve ser ativa e não passiva”, indica o especialista David Martin. “É importante conhecer o perfil do seu cliente, entender como ele pensa e como ele observa as necessidades para o seu presente e futuro. Muitas vezes é necessário mostrar para ele os riscos aos

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quais está exposto e avaliar junto com ele a possibilidade de arcar com os seus custos, se ocorrerem”. Felipe Smith, diretor executivo de Produtos Pessoa Jurídica da Tokio Marine, ressalta que o principal caminho para ampliar a participação do seguro no campo e aproveitar as oportunidades do setor é evidenciando aos agricultores a importância do seguro para a recuperação financeira no caso de ocorrência de sinistros. Não necessariamente todas as etapas do agronegócio compreendem atividades em campo, muitas delas, inclusive, são realizadas nos grandes centros, tais como o comércio internacional ou mesmo a industrialização dos produtos, essas etapas são oportunidades de negócio para o corretor de seguros, conforme lembra Everton Todescatto. “Evidentemente, o grau de especialização será determinante para a apresentação de soluções coerentes ao cliente. Costumo utilizar a filosofia do 360º, em que o produtor rural é o centro e dele derivam uma série de atividades que compreendem toda a cadeia do agronegócio. Buscar entender cada etapa levará à compreensão das reais necessidades em termos de proteção”, sugere. Na visão de Adailton Dias, nada impede que corretores que sejam mais especializados em outros ramos, como empresarial, transporte ou vida possam buscar oportunidades de negócios junto às empresas e empreendedores do agronegócio. “Esse também pode ser um caminho para começar a atuar nesse meio e, depois, expandir a atu-

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ação por meio do estudo e pesquisa sobre outros ramos do seguro ou por meio de parcerias com colegas que sejam especializados em agronegócio, mas que não disponibilizam seguros de outros ramos”. “O corretor pode começar com o property, vida, RD máquinas e equipamentos, que são produtos com os quais ele

já trabalha e que são bastante aderentes no meio do agro. Em relação aos seguros de grãos, se o profissional ainda não domina, o melhor é buscar o suporte de um especialista e fazer através co-corretagem”, aconselha o corretor Sidney. Para Felipe Caballero, ainda são poucos os corretores especializados no

Demais culturas

13,51%

Café

2,74%

Soja

41,38%

Brasil

Culturas subvencionadas*

Milho

(2ª safra)

12,06%

Uva

Arroz

11,22%

4,14% Milho

(1ª safra)

5,76%

Trigo

9,19% *Fonte: Ministério da Agricultura (2019)


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Karine Barros Allianz Seguros

Adailton Dias Sompo Seguros

produtor rural em razão da necessidade de grande conhecimento técnico, não somente de seguros, mas também do agro como um todo. O especialista argumenta que o atendimento qualificado é um dos requisitos de sucesso no segmento. “No Sicredi – Sistema de Crédito Cooperativo com mais de 4,5 milhões associados – temos a preocupação constante em atender os segurados de forma diferenciada, desde a cotação até o sinistro”, defende. Ele conta que no Sicredi o volume de prêmios emitidos na família de produtos rurais vem registrando crescimento ao longo dos últimos anos. “Nosso crescimento tem sempre superado os dois dígitos. Neste ano, mesmo com todo o contexto adverso gerado pela pandemia, fechamos o primeiro semestre com a marca de R$ 68 milhões de prêmios, o que representou um crescimento de mais de 18% em relação ao mesmo período do ano anterior”. A dica de Karine Barros para os corretores que desejam se especializar no seguro rural é consultar o Guia dos Seguros Rurais, documento elaborado pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que tem como objetivo principal proporcionar esse conhecimento aos produtores e demais agentes de interesse do setor agropecuário. “Esse documento foi elaborado com a participação de entidades que representam o setor produtivo e as seguradoras que atuam no mercado. É importante conhecer com propriedade

os Programas de Subvenção Federal e Estadual. Essas informações estão disponíveis no portal de cada Secretaria Estadual da Agricultura (PR e SP) e para o Programa Federal, por meio do site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)”.

Setor em constante crescimento

Seguindo a tendência do setor de seguros como um todo, os seguros voltados ao agronegócio também apresentam tendência de crescimento por diversos fatores. Em algumas modalidades, o índice de contratação está muito aquém do ideal, um exemplo é o seguro agrícola. Estimativas de mercado apontam que apenas 10% da área plantada no Brasil conta com apólices de seguros contratada. Em outras palavras, esse é um segmento de seguro ainda pouco explorado e com grandes oportunidades de expansão e desenvolvimento de negócios bastante expressivos. O outro é a própria expansão da atividade do agronegócio. “Como base, podemos considerar a expectativa de aumento da área plantada, que deve ser ampliada em 10,3 milhões hectares em dez anos, segundo levantamento da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e pela Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. O estudo Projeções do Agronegócio, Brasil 2018/19 a 2028/29 prevê que a área total plantada com lavouras no

Sidney Rodrigues Rede Lojacorr

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Catia Rucco Rivelles Mapfre

país passará de 75,4 milhões de hectares para 85,68 milhões. A expansão se dará, principalmente, sobre pastagens naturais e áreas degradadas. O grupo reúne os cultivos de algodão, arroz, feijão, milho, soja, trigo, café, mandioca, batata inglesa, laranja, fumo, cana-de-açúcar, cacau, mandioca, uva, maçã, banana, manga, melão e mamão”, diz Adailton Dias. Outro dado relevante é que as exportações do agronegócio brasileiro superaram pela primeira vez a barreira de US$ 10 bilhões em abril de 2020. O recorde anterior das vendas externas para os meses de abril ocorreu em abril de 2013, quando as exportações foram de US$ 9,65 bilhões. O valor de abril deste ano (US$ 10,22 bilhões) foi 25% superior ao de abril de 2019 (US$ 8,18 bilhões). “Esse recorde aconteceu por

conta do incremento dos embarques de soja em grão que cresceram 73,4%, com 16,3 milhões de toneladas, ou quase 7 milhões de toneladas a mais nesse mês em relação ao do ano anterior. A China foi o principal mercado importador do produto brasileiro, com a compra de 11,79 milhões de toneladas ou 72,3% da quantidade total exportada”, aponta o diretor da Sompo. Segundo ele, por isso o segmento realmente está no foco das seguradoras e também traz oportunidades de negócio bastante significativas para os corretores de seguros. Há um enorme espaço para crescimento. Os dados do quadro exprimem somente as áreas de plantio, o que mostra uma grande lacuna entre o que foi segurado e o total de áreas cultivadas. “Para os próximos 10 anos, esti-

Fonte: Ministério da Agricultura

Total das áreas cultivadas e seguradas em 2019

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ma-se um crescimento desta área próximo de três dígitos, ou seja, próximo de 100 milhões de hectares cultivados nos próximos 10 anos. Há muito a ser feito. Agregado a este crescimento, haverá também maior demanda em máquinas e implementos, armazenagem, transporte, pessoas, enfim, toda a cadeia produtiva do agronegócio crescerá exponencialmente, trazendo oportunidades para o mercado de corretagem de seguros e às seguradoras”, afirma Anderson Cardoso. “Assim como no ano passado, temos notado uma maior procura dos agricultores pelo seguro agro, principalmente as modalidades voltadas à proteção de safras”, revela Felipe Smith, dizendo que somente nos três primeiros meses desse ano, a Tokio Marine emitiu R$ 91 milhões em prêmio na carteira de Agro, que contempla os produtos Agro Safras e Agro Equipamentos. “Um crescimento bastante expressivo ante os R$ 15 milhões emitidos no mesmo período de 2019. Este movimento se deve principalmente a dois fatores: aumento da subvenção do governo federal, que este ano ficou na casa de R$ 1 bilhão, e a uma maior percepção dos agricultores em relação aos riscos”. Para ele, “o aumento da demanda se deve, entre outros fatores, à ampliação da cultura do seguro que impulsionou a procura pelos pequenos e médios mercados e


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Everton Todescatto Sancor Seguros

David Martin Martplus

Felipe Michels Caballero Sicredi

uma das sinistralidades mais baixas dos últimos tempos”. Enzo Ferracini reforça que os seguros que envolvem a cadeia do agronegócio vêm demonstrando aumento importante, principalmente pelo aumento dos limites segurados. “O que consequentemente aumenta os prêmios angariados pelas seguradoras, bem como também o aumento de exposição de risco com uma cadeia logística mais intensiva”. No primeiro trimestre de 2020, os seguros rurais da Mapfre cresceram em torno de 15% se comparado ao mesmo período em 2019. “Esse crescimento é dado pela preocupação do produtor em proteger sua lavoura e animais, que são sua fonte de renda, assim como suas máquinas e equipamentos que fazem parte do processo produtivo durante esse momento de incerteza”, ressalta Catia Rucco Rivelles. A Sancor também registrou incremento nos últimos anos, alavancado por fatores como aumento da produção agropecuária e pelo apoio governamental por meio do PSR. “Como podemos observar, a demanda por produtos do agronegócio brasileiro segue aumentando, fatores que irão impulsionar o setor de seguros consequentemente”, prevê Everton Todescatto. Laura Neves lembra que além do crescimento da população, a exigência dos consumidores em relação à produção de alimentos faz toda a indústria do campo melhorar processos e, com isso, tomar riscos. “E risco pressupõe soluções de seguros cada vez mais especificas e de qualidade”. “O seguro agrícola deve continuar com forte expansão principalmente com os aumentos das áreas cultivadas, da produtividade, do elevado investimento tecnológico, do consistente aumento das exportações que em volume foi de 5,9% e em faturamento de 13,6% no acumulado de 2020, mas também pelo consistente programa de subvenção do governo federal que já veicula a projeção de 1,5 bilhão para o ano de 2021”, pontua o corretor Sidney Rodrigues. “Aqui em nosso país, em especial, vemos o crescimento do interesse e das discussões relacionadas a novas moda-

lidades, que suportarão em alguma escala o crédito bancário, conhecido como seguro de Penhor Rural”, revela Karine Barros. A iniciativa vem sendo discutida no âmbito público e privado e tem como objetivo principal acelerar a penetração do seguro nesta parcela da economia. “Isso significa que novas opções ou mesmo condições que, viabilizem a construção e manutenção de propriedades rurais, aquisições de máquinas e compra de insumos para o plantio com a utilização de financiamento, devem encontrar mais facilidade na contratação de uma apólice de seguro, tendo como beneficiários os credores”. Por ser um mercado de grandes oportunidades e em franca expansão no Brasil, certamente será um dos setores que ajudará o País na retomada econômica, em especial por ter sido um dos menos

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afetados durante o período da pandemia, quando comparado com outros setores. Além disso, o uso da tecnologia e a oferta de linhas de crédito específicas, a ampliação do Programa de Subvenção ao Prêmio de Seguro Rural, somadas a uma maior demanda global e à vocação do Brasil para a agricultura, deixam claro que mais oportunidades devem surgir em todas as partes da cadeia. Segundo dados da Susep, o mercado de seguros agrícola arrecadou de janeiro a maio de 2020 o montante de R$ 1.192.203,00 e pagou em indenizações de sinistros R$ 1.632.632,00 o que representa a existência do risco. Corretores que estiverem atentos a estas oportunidades na sua carteira de clientes, com um trabalho em parceria com revendas de insumos e concessionárias de máquinas, devem também expandir os seus negócios.

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