Buzz # 36

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BUZZ

carta ao leitor

Estamos de volta!

Edição 36Ano IVJulho de 2014 Diretores Mauro San Martín Silvia Regina Evaristo Teixeira Diretora Comercial: Silvia Regina Evaristo Teixeira Aparecida Cristina de Almeida Editor-chefe: Mauro San Martín DRT 24.180/SP Repórteres: Mauro San Martín e Sandro Possidonio Revisão: Mauro San Martín e Sandro Possidonio

Críticas, Sugestões e Elogios E-mail - revistabuzz@gmail.com Sua opinião é essencial para nós. Participe! Tiragem: 5 mil exemplares Impressão: Resolução Gráfica

A revista Buzz é uma publicação mensal da Voz Ativa Comunicações. Artigos e colunas não representam necessariamente a opinião da revista Buzz. Proibida a reprodução total ou parcial sem prévia autorização escrita. Por favor, recicle esta revista!

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pós uma parada forçada de alguns meses, retomamos nosso esforço de levar informação de qualidade ao público de Jacareí e região. Pedimos desculpas para nossos leitores e anunciantes por tanto tempo longe de vocês. Nesse ínterim, muita coisa ocorreu em Jacareí e na Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte. Com objetivo de trazer novidades da região, optamos por tornar a Buzz mais identificada com assuntos regionais. Esperamos trazer a cada nova edição, de agora em diante, um tema regional. Uma novidade para compensar o tempo parado. Para iniciar nossa retomada, a reportagem da revista esteve em Paraibuna para falar com o cafeicultor Fabiano Margaritelli. É de lá que vem nossa reportagem de capa desta edição. O Fabiano produz dois dos melhores cafés especiais do Brasil - o Morro Alto e o Grão Mestre. Quem atesta essa informação é o renomado barista Francisco Júnior. Para quem ainda não sabe, baristas são os profissionais do café. Verdadeiros doutores em qualificação de café. Na conversa com Fabiano, soubemos dos diferentes tipos de grãos - os comuns encontrados nas gôndolas dos supermercados (Conilon) e os especiais (Arábica). Além do sabor diferenciado, o primeiro custa a metade do segundo, de acordo com as bolsas do produto. Outro assunto desta edição é a homenagem aos jacareienses que vivenciaram o regime militar - 1964-1985. Entrevistamos duas pessoas que sofreram poucas e boas durante os “anos de chumbo” em Jacareí e região. Como sabemos, o regime militar completou 50 anos em 2014. Mais que justa lembrança, um recado para aqueles que ainda querem a volta dos militares ao poder diante da corrupção reinante no governo. A situação dos motoristas nas estradas brasileiras. Alunos do curso de Logística, da Escola Agrícola, fizeram um trabalho sobre o assunto e resolvemos abordá-lo numa reportagem também nesta edição. É triste constatar que há lei exigindo que os caminhoneiros descansem, mas que não existem praças de descanso ao longo das rodovias. Um anacronismo tipicamente brasileiro. Enquanto isso, motoristas morrem, sofrem assaltos constantemente e, muito pior, ficam longe de suas famílias, devido a falta de leis que disciplinem de fato uma categoria profissional de extrema importância para o tão sonhado desenvolvimento de nosso país. Parabéns aos alunos do curso de Logística por tocar num tema delicado e necessário. A edição traz os fatos marcantes do mês passado, a crítica da cidade através do vai indo, vai bem e vai mal e um texto falando da volta da Corporação Musical de Jacareí. E isso! Boa Leitura!

Revista Buzz

Jacarei Revista Buzz

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Radar - o mês em revista Lei do solo aprovada Vereadores de Jacareí aprovaram em junho projeto de lei sobre uso, ocupação e urbanização do solo na cidade. Foram apresentadas 20 emendas ao texto original da lei. As normas estabelecidas na lei de uso, ocupação e urbanização tem como objetivos estabelecer critérios de ocupação e utilização do solo urbano e rural, orientar o crescimento da cidade, ordenar de modo sustentável a expansão urbana, viabilizar a proteção e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico. A lei aplica-se a aprovação de projetos, concessão de licenças de construção, licenças de funcionamento, ‘habite-se’ e certidões. Conheça a íntegra do projeto e suas emendas em: http://goo.gl/To4NbB.

A montadora Chery apresentou no início de junho o primeiro carro, modelo Celer, montado de forma artesanal na unidade de Jacareí. A cerimônia ocorreu apenas para funcionários e teve a presença do presidente da empresa, Roger Peng, e do vice presidente e CEO, Luís Curi. A empresa tem, atualmente, 250 funcionários contratados e está investindo US$ 400 milhões (R$ 892 milhões). Ao somar o investimento da fábrica de motores, esse valor sobe para US$ 530 milhões.

Paço da cidadania O prédio da Prefeitura de Jacareí passa a se chamar “Paço Municipal da Cidadania”. A mudança foi solicitada polo prefeito Hamilton Mota (PT) que trocou o antigo nome Palácio Presidente Castello Branco devido o país comemorar, neste ano, os 50 anos do regime militar. Ele condenou a ‘lembrança’ dos nomes dos presidentes militares em obras públicas. A mudança foi aprovada por sete vereadores na Câmara Municipal.

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plesmente Dom César, reuniu-se no dia 11 de junho, com os seis prefeitos das cidades de abrangência da Diocese de São José dos Campos. Ele recebeu o prefeito de São José, Carlinhos Almeida; Jacareí, Hamilton Mota; Igaratá, Elzo de Oliveira; Monteiro Lobato, Daniela Santos; Santa Branca, Adriano Pereira; e Paraibuna, Antônio Marcos de Barros. Segundo Dom César, ele acolheu cada um com grande alegria e disse que todos devem trabalhar para o bem comum, independentemente de partido.

Dia 19 de julho - Campanha da Medula Óssea A Cruz Vermelha de Jacareí realiza Campanha de Coleta de Sangue para Identificação de Doadores de Medula Óssea no dia 19 de julho, na Ativia Saúde, que fica na Avenida José Cristóvão Arouca nº 35, Centro, Jacareí, a partir das 9h30. Os doadores, com idade entre 18 e 54, preencherão um formulário com dados pessoais e será coletada amostra de sangue para testes, que determinará as características genéticas que são necessárias para a compatibilidade entre o doador e o paciente. As informações pessoais e o resultado dos exames vão para um banco de dados que realiza o cruzamento com pacientes que precisam do transplante.

Magela Borbagatto - cidadão benemérito O artista plástico Magela Borbagatto, e também pesquisador das imagens conhecidas como paulistinhas, foi homenageado com o título de “Cidadão Benemérito” pelos vereadores de Jacareí. O autor da homenagem é o vereador Edgard Sasaki (DEM). Magela lembrou que sua colaboração no processo de multiplicar a arte e a cultura, pois, mais do que formar novos artistas, seu papel fundamental foi o de ensinar arte e difundir a cultura regional. “Cada um de vocês aqui presentes nesta homenagem, são como lápis de cor na minha caixinha”, ressaltou.

Divulgação/Elton Rivas

Primeiro carro da Chery

NOVO BISPO E OS PREFEITOS - O bispo Dom José Valmor Cesar Teixeira, ou sim-


vai bem

BuzzImagens

vai mal

Novo espaço para lazer

Poste atrapalha pedestre

O Parque Brasil, em Jacareí, ganhou uma praça totalmente remodelada para pratica de esporte e lazer. A Prefeitura de Jacareí levou para a nova área do bairro quadra coberta, campo de futebol society, playground, minipista de caminhada e academia ao ar livre. A reinauguração do local ocorreu no final de junho. Os recursos para a melhoria vieram de emenda parlamentar no valor de R$ 700 mil, que também contemplou outro bairro da cidade.

Um bom trecho da Rua Antônio Afonso, entre o prédio do Sindicato Rural e o Largo do Riachuelo, não permite a passagem de pedestre devido postes de iluminação localizados no meio da calçada. O problema é antigo e nenhuma providência aconteceu até o momento. O transeunte disputa espaço com os carros para andar numa das vias movimentadas de Jacareí devido a existência de vários cartórios naquela região.

vai indo

Marco zero aparecerá? Dez anos após a última reforma, a Prefeitura de Jacareí iniciou nova revitalização da Praça Conde de Frontin. Segundo a administração, o local ganhará novos pisos, paisagismo e bancos, melhorando o aproveitamento das vias de circulação e com maior visibilidade. As grades de proteção ao longo das ruas também serão substituídas por um novo modelo. Será que, agora, haverá um espaço adequado para o marco zero da cidade, que foi enterrado noutra reforma?


A volta da Corporação Musical Afastada de seu público devido a falta de apoio, a Sociedade Musical União Operária de Jacareí, agora chamada de Corporação Musical de Jacareí, se apresentará no dia 26 de julho, na Praça do Rosário, como parte do Festival de Inverno da cidade. A volta atende um pedido da Fundação Cultural de Jacareí que a escalou para animar o tradicional festival jacareiense. A famosa

banda musical da cidade teve participação expressiva em Jacareí e no país, desde sua fundação, em1940. Ela animou de procissão a festa do aniversário do Rio de Janeiro. Foi regida pelo conhecido maestro Eleazar de Carvalho. Atualmente, a batuta está sob as ordens de Jorge Gilberto dos Santos. A Corporação Musical gravou três discos, sendo o primeiro em 1977, o segundo em

1976 (chamado “As duas faces da banda”) e o último em 1977, com o título de “Homenagem, agradecimento e despedida”. A banda possui hoje 24 músicos e também uma divisão - Orquestra Silver Star, com 16 músicos, que toca em bailes e eventos oficiais. A atual diretoria da banda é composta, entre outros, por Sérgio Esper e Antonio Nunes de Moraes Neto.


Entrevista |José da Silva Chagas, aposentado

Adorador do “credo vermelho” 50 ANOS DO REGIME MILITAR - Aposentado jacareiense foi perseguido e preso desde o início do golpe, em março de 1964, por ter participado do Partido Comunista em sua juventude

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mbora não militando no Partido Comunista, o aposentado jacareiense José da Silva Chagas, de 85 anos, foi perseguido politicamente durante o regime militar (1964-1985) por sua antiga ligação com o partidão. Ele foi definido por um delegado na época como “perigoso elemento que processa o credo vermelho”. As diversas prisões atrapalharam sua vida, pois ele não casou e perdeu vários anos nos porões da ditatura. Para tentar reparar esses danos, Chagas entrou na Justiça para buscar indenização baseada na Lei da Anistia. Na entrevista a seguir, ele revela que os militares sempre o prendia, embora existissem vários jacareienses que não compactuavam com o regime.

Buzz – Como foi a época da ditadura em Jacareí? José da Silva Chagas – Eles (os militares) estavam preocupados comigo. O capitão Pinheiro me seguia para tudo que é lado. Na opinião das pessoas em geral, eu era comunista. O ponto de encontro era a Praça Conde Frontin, onde ocorriam as discussões. Buzz – O senhor era comunista? Chagas – Eu pertenci ao Partido Comunista, na minha mocidade. Me desenvolvi politicamente. Daí, mudei para o Partido Socialista Brasileiro, com nomes como Alípio Correia Neto e Cid Franco. Nunca participei de baderna. Quando aconteceu o golpe, eu era conhecido como comunista. Eu escrevia para jornais e falava no rádio. Dava publicidade da minha opinião. Fui tachado de comunista, embora não fosse mais do partido. No momento do golpe, estava me identificando com o movimento social da igreja. Buzz – Como foi a primeira vez em que o senhor foi preso? Chagas – Eu fui preso quando estava trabalhando como representante comercial, em São José dos Campos, em abril de 1964. No primeiro cliente, havia pessoas discutindo sobre a situação do país na rua. Eles apontaram para mim dizendo que eu era comunista. O policial de trânsito me levou para delegacia e daí começou a perseguição política contra mim. Os policiais apoderaram-se de minha pasta de serviço e o que continha no seu interior, documentos, cheques e dinheiro da empresa e um “livro de ouro” destinado a obter ajuda para o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil para construir sua sede própria. Enquanto isso ocorria, agentes da polícia da repressão supervisionado pelo Dops. (Departamento de Ordem Política e Social) invadiram minha casa em Jacareí, saquearam tudo e reviraram os móveis. Fui levado para várias delegacias em São Paulo, inclusive num local conhecido como “chiqueirinho” ao lado de presos comuns. Esse lugar era muito sujo. Passei pelo Romão Gomes, Presídio do Hipódromo, onde havia presos políticos. Lá, eles tratavam a gente como se fosse animal e havia tanto presos que dormíamos em pé. Depois acabamos sendo transferidos para o Dops. Eu respondi um processo por ser comunista. O

“Enquanto houve repressão, fui perseguido. Fui preso algumas vezes por denúncias falsas de pessoas que se utilizavam do regime de exceção para perseguir e humilhar. As prisões só terminaram com a anistia”.

Chagas: “Tudo o que ele (delegado jacareiense) entendia de ideologia era o “credo vermelho”. delegado jacareiense da época disse que eu era um perigoso elemento e processava o “credo vermelho”. Tudo o que ele entendia de ideologia comunista era o “credo vermelho”. Devido minhas respostas durante os interrogatórios, o inquérito não prosperou nessa primeira prisão. Ao tentar retomar o que a polícia apreendeu ao ser preso, fui agredido verbalmente e o dinheiro e cheques do “livro de ouro” não foram devolvidos. Buzz – O senhor foi detido pelo conhecido tenente Joaquim Pinheiro do Prado? Chagas – No primeiro semestre de 1969, fui surpreendido pela presença de uma diligência do 6º RI (Regimento de Infantaria), sob as ordens do 2º tenente Joaquim Pinheiro do Prado, que adentrou minha casa, embora de forma pacífica, recolheu livros, jornais, documentos, dinheiros e até discos musicais. Ele me disse que eu estava sendo detido por “ordem superior”. Fui levado até o escritório dele e, em seguida, transferido para Caçapava, onde fiquei preso novamente. Sempre me dei bem com Prado. Sei que ele estava cumprindo ordens. Buzz – O senhor era um homem visado pelo regime militar? Chagas – Qualquer coisa que acontecia, sempre o primeiro acusado era eu. Isso faz parte da ignorância da polícia política porque havia outras pessoas em Jacareí, na época, que como eu se manifestava publicamente. A investigação era sempre em cima de mim. Fiquei preso no 6º RI, em Caçapava, porque trabalhava como inspetor de cobrança e venda. Conhecia e mantinha contato com clientes na região do Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira e Litoral Norte. Portanto, sabia muito bem o

movimento das empresas. Eles queriam saber da minha vida, das finanças. Eu mexia com dinheiro e a polícia do regime militar queria saber o que estava fazendo. Enquanto houve repressão, fui perseguido. Fui preso algumas vezes por denúncias falsas de pessoas que se utilizavam do regime de exceção para perseguir e humilhar. As prisões só terminaram com a anistia. Buzz – Qual foi o momento mais difícil para o senhor? Chagas –Os primeiros dias. A edição do AI-5. Sofri toda sorte de ameaças, pressões e de situações humilhantes. Fui transferido para a extinta Casa de Detenção do Carandiru. Até meados de 1970, a coisa não foi fácil. Fui tocando o barco enquanto estava em liberdade. O regime militar atrapalhou muito minha vida. Deixei de me casar por causa disso. Tinha um envolvimento sério para casar, mas mudou por causa das prisões. Minha vida tomou outro rumo. Buzz – O senhor está pleiteando indenização baseado na Lei da Anistia? Chagas – Estou pleiteando sim. Nem tanto porque sofri, mas pelo fato de ter perdido tempo da vida preso, sem condições de trabalhar. Também não é para tirar vantagem da lei. Buzz – O senhor gostaria da volta do militares? Chagas – Sou contra o militarismo, embora acredite que o Exército Brasileiro é identificado com o povo. Buzz – O senhor faria tudo de novo? Chagas – Sim. Tenho convicção de que tudo que fiz foi com a certeza de que estava correto e cumprindo com a minha obrigação e minha cidadania. Tenho convicção do dever moral cumprido.

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Entrevista | Ediberto Bernardo dos Santos, o Hiena, ex-sindicalista

sindicalismo nos “Anos de Chumbo” 50 ANOS DO REGIME MILITAR - Após participar da greve da Volkswagen com Lula, ex-sindicalista revela como foram os anos da ditatura militar no Vale do Paraíba

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ex-sindicalista, Ediberto Bernardo dos Santos, de 54 anos, o popular Hiena, sofreu muito durante os “anos de chumbo” devido sua militância no sindicato e movimentos sociais. Ele contabiliza 18 prisões nesse período. Por ter participado da greve da GM em 1985, seu nome entrou para uma “lista negra” e nunca mais conseguiu emprego registrado. Natural de Ilhéus, na Bahia, Hiena começou no sindicalismo ao lado do ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, na greve da Volkswagen, em 1979. Hoje, anistiado político, o ex-sindicalista cuida da saúde debilitada devido aos anos na prisão.

Buzz – Como foi sua participação no movimento sindical? Edberto Bernardo dos Santos – Comecei em Ilhéus, na Bahia, mas mudei para São Bernardo do Campo. Morei no Jardim do Lago e Ipê e fiz parte da associação de moradores desses bairros. Trabalhei na Volkswagen e participei de uma greve, em 1979, quando o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos era o ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva. Foi uma greve que durou 45 dias. O sindicato ficou sob intervenção federal. Buzz – Como você veio morar em Jacareí? Santos – Eu tinha parente aqui e sempre visitava a cidade nas minhas folgas. Meu primo tinha uma funilaria e resolvi mudar para cá após sair da fábrica em São Bernardo. Mudei e organizei minha família aqui. Em 1980, surgia a oportunidade de trabalhar na GM. Daí, entrei na GM um ano depois. Eu me associei ao Sindicato do Metalúrgico. Naquela época, não podia ler boletim abertamente na fábrica. A leitura ocorria somente no banheiro devido a repressão. Buzz – Como foi a greve da GM, em 1985, já no final do regime militar? Santos – Eu tive uma atuação destacada na primeira greve, em 1984, que durou 15 dias. Eu fiquei na portaria e acabei sendo muito visado. Na portaria, os carros dos chefes saiam livremente e sem vistoria. Eles levavam peças de carros para fora da fábrica. Eu exigi que todos fossem revistados para que não acusarem depois os funcionários. Isso me causou problemas. Eu fui candidato na eleição da Cipa e saí o mais votado da fábrica, com 747 votos. E havia campanha dentro da fábrica para não votarem em mim. Nós nos preparamos para a greve de 1985. Lutamos pela campanha salarial e por redução da jornada de trabalho para 40 horas. Na época, os funcionários da GM cumpriam 48 horas semanais. Nesse movimento, ganhamos as comissões de fábrica. Eu fui para comissão de fábrica, com 847 votos. Em 1985, foi a grande greve. Foram 28 dias de greve, sendo 17 de ocupação, enfrentando o endurecimento da GM e a Polícia Militar na porta da fábrica. Todos os outros sindicatos nos deixaram e ficamos sozinhos. Durante a greve, a gente cumpria o horário e ia embora, sem produzir nada. Quando fazíamos uma assembleia no gramado, chegou vários ônibus cheios de polícia para invadir a fábrica. Os funcionários da direção se trancaram dentro das salas. Daí, cancelou a greve de revezamento de turnos. Eles tentaram cortar os cadeados e nós seguramos. Nós encostamos os carros no portão e eles recuaram. Foi uma coisa espontânea. A polícia ficou o dia inteiro negociando com a gente. Os policias vieram pensando que iriam

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“Eu não levo mágoas de ninguém. Tem gente que sente algo contra mim até hoje. Tudo que fizeram comigo – tentaram me matar, me denegrir. Teve uma vez que me pegaram e deram uma facada no peito, tiro na garganta, etc”

Hiena: “O inimigo do governo, hoje, é os militantes de ontem”. fazer o mesmo que tinha ocorrido na greve da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) (Nota - O Exército invadiu a CSN e matou três funcionários). Eles chegaram para invadir a fábrica, acusando a gente de manter o pessoal da administração em cárcere privado. Na época, o ministro do Trabalho, Almir Pazziamoto, e o secretário Estadual do Trabalho, Luís Máximo, vieram negociar com a gente. A GM queria a fábrica, mas a gente resistia porque conhecia a empresa como ninguém. Veio a ordem de Brasília para invadir. Depois de muita negociação, uma assembleia decidiu pelo fim da greve. Nós decidimos sair, mas exigimos que a polícia fosse embora porque tínhamos receio de passar pelo “corredor polonês” preparado pelos policiais. Eu fui voto vencido para limpar a fábrica antes da desocupação. Ela ficou 15 dias parados. Eles (GM) destruíram tudo para incriminar a gente pelos estragos. Foi aberto o processo pela Polícia Federal contra os 33 grevistas. O único preso foi eu. O caso ficou conhecido como o “Processo dos 33”. Foram absolvidos 15, 18 foram condenados. Como eu já estava preso devido outro caso, acabei tirando um ano e sete meses de cadeia pela greve na GM. Não ganhamos essa greve. A GM demitiu 400 e poucos trabalhadores. Eu fui demitido na primeira listagem pela ocupação da fábrica. Foram mandados embora nessa primeira leva dirigentes, cipeiros e todos da comissão de fábrica. Buzz – Ocorreu perseguição após saída da GM? Santos – Ao saber que a gente era da GM, não conseguia nada. Nunca mais consegui trabalhar por ter participado da greve. O processo trabalhista demorou uns três anos. Eu continuei na militância. Sobrevivendo. Entrei numa chapa para presidente do sindicato. Fui dirigente sindical por quatro anos. Eu abri o sindicato para vários movimentos sociais como o sem-terra. Tive ação também no movimento do bairro Cecapinho. Participei das sociedades amigos de bairro. Me sento

realizado. Reconheço alguns erros. A linha que estava levando era a certa. Já esperava por algumas coisas. Sempre fui delegado nos sindicatos e sempre votei nas propostas. Buzz – Há pessoas que defendem a volta dos militares ao poder. O que você acha disso? Santos – Jamais! É um absurdo pedir a volta dos militares. Buzz – Como era a repressão em Jacareí na época do regime militar? Santos – Havia a repressão da polícia e também do Trovão Azul. O Trovão era tão repressivo que chegou a entrar em atrito com a polícia. Foram os grupos paramilitares. Buzz – Como conseguiu ser anistiado político? Santos – Nós, eu e meus advogados, entramos com processo por perseguição política e danos morais. No primeiro julgamento, já ganhei a causa. Eu sou anistiado político da iniciativa privada. Em qualquer lugar do Brasil, eu não conseguia emprego porque meu nome estava na “lista negra”. Nós ficamos marcados. Ganhamos uma indenização de R$ 300 mil e um salário mensal de R$2.500,00. Buzz – Como está sua saúde hoje? Santos – Senti muita friagem devido o chão frio das prisões. Fiquei em cela isolada. Levei muitas pancadas pelo corpo. Com chegada da idade, começo a sentir muitas dores. Gasto muito com remédio devido meu câncer de próstata. Todo mês faço exames para verificar o estágio da doença Buzz – Você perdoa quem te agrediu? Santos – Eu não levo mágoas de ninguém. Tem gente que sente algo contra mim até hoje. Tudo que fizeram comigo – tentaram me matar, me denegrir. Teve vez que me pegaram e deram uma facada no peito, tiro na garganta, etc. Muita coisa para tentar me desmoralizar até um ponto que a própria entidade que militava me julgava. O próprio sindicalismo me julgou antes da Justiça me julgar.


Comerciantes otimistas com novo shopping Comerciantes de Jacareí acreditam que novo centro de compras trará novos empregos e evitará que consumidores migrem para outras cidades. Após o anúncio da construção do novo shopping em Jacareí, vários comerciantes ouvidos pela reportagem da revista Buzz se mostraram otimistas com futuro empreendimento. Eles afirmaram que a cidade ganhará mais postos de trabalho e opções de compra, evitando que consumidores procurem pelos grandes centros comerciais das cidades vizinhas. A expectativa do empresário Youssef Taha, da Samara Móveis, é que o novo shopping traga desenvolvimento para a cidade, principalmente com criação de novas oportunidades de emprego no setor de serviço. Ele entende também que o comércio tradicional de rua deverá atualizar-se com a vinda do novo shopping para não perder clientes. Taha cita o exemplo de São José dos Campos que possui três grandes shoppings centers funcionando harmonicamente com as lojas de ruas. Essa opinião é compartilhada pela proprietária da Rose´s Embalagens e Cestas, Rosangela Barbosa, que afirmou que a cidade terá mais opções de compra. Rose possui sua loja há seis anos no Jacareí Shopping. Segundo ela, seus clientes só aumentaram desde a inauguração de sua loja e por isso recebeu a notícia do futuro empreendimento com otimismo. Rose acredita que o novo shopping, que

será construído entre a JTU (Jacareí Transporte Urbano) e o bairro Villa Branca, não diminuirá consumidores no Jacareí Shopping, localizado na região central. “As pessoas que se dirigem ao centro para resolver algum problema aproveitam para dar uma passada no shopping. O novo centro de compras ficará fora de mão para quem depende de ônibus”. Planejamento - Para Leopoldo Costa, superintendente do Jacareí Shopping, a inauguração do futuro shopping terá, no início, seu impacto, mas, com o tempo, a tendência é de uma acomodação dos consumidores. “Nosso maior desejo é que a concorrência seja local, evitando assim a migração para os shoppings de São José, principalmente nos finais de semana. A concorrência é sempre salutar, pois também temos nosso planejamento estratégico de crescimento para melhorar nossos serviços e qualidade do mix de lojas, inclusive aumentando nosso estacionamento. Inclusive, vamos sugerir ao Departamento de Trânsito que as vias se voltem para a cidade e não facilitando o fluxo para outras cidades”, afirmou. Costa destacou também a localização do Jacareí Shopping como “fator diferencial”. O superintendente explicou que a vinda de um novo shopping, pelo potencial de crescimento econô-

Youssef Taha: “Novo shopping precisa encher os olhos dos jacareienses. Equiparado com os de São José. Shopping fraco não adianta”. mico e populacional da cidade, já era esperada. Segundo ele, isso vai agregar em benefício para a cidade, pois ajudará a manter o consumidor no município e inibirá a migração para outras praças.


O proprietário da Nutry Action, Marcos Leite Ribeiro, também está otimista com a vinda de mais um shopping center para Jacareí. “Se daqui dois anos (prazo de inauguração do novo centro comercial) a economia estiver melhor, a tendência é agregar novos empregos para a cidade”. Ele também acredita que o novo empreendimento não afetará o público do Jacareí Shopping. “São independentes. O consumidor do Jacareí Shopping se habituou a fazer suas compras neste local”. O tradicional comerciante Akira Kawasaki, das Óticas Seiko, não é um entusiasta do novo shopping. Ele está convencido de que o novo empreendimento não será bom para a cidade como todos esperam. Segundo Akira, será mais um duro golpe no combalido comércio de Jacareí. O comerciante explicou que o primeiro foi a implantação da zona azul e o segundo será a vinda do novo shopping que, no seu entender, vai retirar os poucos clientes que ainda fazem suas compras nas lojas de rua. Empreendimento – O projeto do Plaza Shopping Jacareí, nome do novo shopping, prevê a construção de hotel com 180 quartos, edifício comercial com 7.500 metros quadrados e área residencial de 40 mil metros quadrados. O investimento será de R$ 300 milhões. O negócio pertence ao grupo português Ícone, de empresários de origem portuguesa, que anunciou a construção no dia 23 de junho ao prefeito de Jacareí, Hamilton Mota (PT). Segundo os investidores, a estimativa é gerar entre 600 e 800 empregos durante a construção e, após entrar em funcionamento, abrirá 2 mil vagas de emprego direto. As obras estão previstas para começar em 2015 e a expectativa de inaugurar no final de 2016 ou início de 2017. O Plaza Shopping Jacareí terá seis salas de cinema, lazer e praça de alimentação. Cerca

Akira Kawasaki: mais um duro golpe no comércio de rua de Jacareí de 150 lojas deverão funcionar no novo centro comercial. Desinteresse – Enquanto o Brasil ainda experimenta o boom dos shopping centers, o desinteresse do americano vem decaindo anos após ano. Segundo notícia da agencia Bloomberg, desde 1990 ocorre uma queda no investimento em shopping centers nos Estados Unidos. O ano de 2007 foi o primeiro, em quatro décadas, em que nenhum shopping foi aberto. Dede então, segundo a Bloomberg, somente um foi inaugurado em 2012. Uma rápida pesquisa no Google sobre os “dead malls” (centro comerciais mortos) surgem 14 milhões de resultados. Imagens desoladoras dessas mecas do varejo também servem de cenários para filmes de terror. A decadência fica mais clara ainda no site www.deadmalls.com.

Ele elenca o número de shopping abandonados ou em vias de fechar por estado norte-americano. Nova Iorque lidera com 42 locais; Pensilvânia em seguida com 28 centros em extinção; e Illinois e Ohio empatam com 27. A consulta foi feita pela reportagem da Buzz no último dia 11 de julho. A conhecida agência de notícia econômica explicou que o desinteresse ocorre devido dois fatores. Uma das causas seria as compras feitas online e ainda o fim dos chamados “centros comerciais” nos EUA. Os centros, segundo explicou a Bloomberg, dão lugar a espaços urbanos e sustentáveis, com edifícios e áreas para a convivência em comunidade e redução do tráfego. Maior do mundo – Enquanto isso em Dubai, nos Emirados Árabes, foi anunciado o maior shopping center do mundo, com 743 mil metros quadrados. O complexo poderá abrigar por ano 180 milhões de visitantes, pouco menos que a população do Brasil. Esse projeto terá setor de entretenimento e hotel assim como o Plaza Shopping Jacareí.


Entre melhores do país Duas marcas de cafés especiais, Grão Mestre e Morro Alto, produzidas pela Fazenda Valsugana de Paraibuna, foram avaliadas pelo barista Francisco Júnior como as melhores do Brasil

O cafeicultor Fabiano Margaritelli que retomou a produção de café a em 1996

Os cafés especiais, ou gourmet, conquistam cada vez mais o paladar dos brasileiros das classes A e B. Para atingir esse público seletivo e de alto poder aquisitivo, produtores de café preferem trabalhar com esses grãos selecionados às marcas tradicionais presentes nas gôndolas dos supermercados. Em Paraíbuna, a Fazenda Valsugana produz café deste 1963. A produção começou a ganhar destaque no mercado através dos prêmios recebidos de um dos mais renomados baristas na América Latina, Francisco Júnior, que atestou duas marcas da Valsugana – o Grão Mestre e o Morro Alto. Segundo ele, o Grão Mestre apresenta uma harmonia perfeita na sua parte físico-química quanto à palatabilidade. “Realmente, é um grão que faz jus ao nome”, afirmou. E, quanto ao Morro Alto, Junior disse tratar-se de um produto “bastante diferenciado”. O café Grão Mestre foi considerado pelo barista como “Melhor Café Premium”, em 2014. O Morro Alto, também avaliado por Júnior, foi premiado em 2012, 2013 e 2014 como “Melhor Café Especial”. Francisco Júnior é barista há mais de duas décadas e descobriu a Fazenda Valsugana através


das redes sociais. Num mercado exigente, ele aperfeiçoar-se constantemente junto ao melhor do mundo, o belga Kim Ossenblok ou Kim Barista. Arábica - Animado com os prêmios, o proprietário da Fazenda Valsugana, Fabiano Margaritelli, divulga sua produção para atrair novos consumidores. Atualmente, seus cafés são vendidos na Padaria Pão Perfeito, Restaurante Fazendão e Mercado Municipal, em Paraibuna. Em São Paulo, 22 endereços dispõem dos cafés da Valsugana para venda. A região do Vale do Paraíba ganhará outros 15 postos de venda nos próximos dias, adiantou Margaritelli. Ele também procura novos representantes para atender todo Estado de São Paulo. O telefone para contato está no final da reportagem. Segundo Margaritelli, o Grão Mestre é produzido com a espécie de café Arábica Mundo Novo, cuja planta atinge de 3,5 a 4 metros de altura. A produção é menor, porém a qualidade é inesquecível. O produtor paraibunense lembra que esse tipo de grão proporciona sabor, aroma e corpo equilibrados. Já o Morro Alto, explica Margaritelli, é produzido com o café Arábica Catucaí, cuja estatura da planta é a metade da Mundo Novo, mas produz o dobro. O Catucaí é resistente à praga da ferrugem – uma das doenças que mais atinge os cafezais. Ele também considera o sabor e o aroma desse café equilibrados. Produção - A maior parte dos cafés premiados da Valsugana, ou seja 97%, é produzida em Minas Gerais. Em Paraibuna, Margaritelli possui muito pouco café plantado devido falta de mão de obra es-

Barista Francisco Júnior durante avaliação dos cafés produzidos em Paraibuna

Museu do Café, um dos atrativos da Fazenda Valsugana


Identifique um café gourmet Grãos Os cafés gourmet ou especiais são 100% arábica (grão nobre colhido manualmente e isento de impureza ou defeito). O café comum é uma mistura do tipo arábica com o tipo Conilon (grão simples colhido por máquinas). Segundo os baristas, a colheita mecânica não separa grãos maduros de verdes, o que acaba afetando o sabor. Sabor Os baristas explicam que o gourmet possui sabor mais adocicado e intenso. Não apresenta o mesmo amargor dos cafés comuns, podendo ser consumido sem adição de açucar ou adoçante. Cor Sua coloração é mais esverdeada. O comum é mais escuro.

pecializada. Ele, no entanto, afirma que toda a tecnologia adquirida ao longo de mais de 51 anos em Paraibuna é aplicada

nos cafezais em solo mineiro. A Valsuagana possui 180 mil pés de cafés plantados e produz algo em torno de 1000 sacas por safra. Toda a produção é administrada sem adição de agrotóxicos. Margaritelli não descarta a possibilidade de ampliar sua produção em Paraibuna. Ele, inclusive, já possui local para plantio de Catucaí. Os premiados grãos de Paraibuna já foram exportados para o Japão. Ao retomar a produção de café em Paraibuna, a primeira colheita foi toda exportada para os japoneses. A exportação parou porque o mercado interno tornou-se mais atrativo. Segundo o cafeicultor, o excesso de marcas de especiais para exportação foi motivo para ficar apenas no mercado brasileiro. Público – A perfeição dos cafés gourmet é apreciado pelos paladares mais apurados. Para o Margaritelli, esse público encontra-se principalmente nas classes A e B. A bebida chama atenção pelo seu preparo, pois a água filtrada não pode levantar fervura e há uma quantidade exata de pó a ser colocado. A água deve ser despejada na beira do coador e jamais no centro. A qualidade e a temperatura da água podem danificar os melhores grãos, garantem os baristas. A última dica é que o café gourmet deve ser bebido sem açúcar para que se possa apreciar sua doçura natural e distinguir todas suas diferenças sensoriais. Um quilo do café produzido pela Fazenda Valsugana custa entre R$ 50,00 e R$60,00. Para comemorar os 348 anos de Parai-

buna, a Fazenda Valsugana lançou o café O Paraibunense. A embalagem de 250 gramas custa R$9,00. Ela está à venda nos mesmos postos dos cafés especiais. Segundo Margaritelli, O Paraibunense não é um café gourmet, mas possui qualidade superior. Visitação – A Fazenda Valsugana, que está localizada na Estrada do Itapeva, km 11,5, região rural de Paraibuna, também explora o turismo cultural. A visita custa R$ 10,00 por pessoa e inclui passeio pela casa sede original, Museu do Café, capelinha, terreiros de secagem de grãos, casas de colonos e degustação dos cafés premiados. Os visitantes apreciam ainda demais produtos do local como queijos, licores, doces, geleias, cachaça, mel e requeijão. A formação dos cafezais começou em 1963 e sua produção era destinado ao mercado paulistano. Depois de um tempo parado, o início da recuperação dos cafezais deu-se em 1996. A primeira colheita foi exportada para Japão. Em 2009, a fazenda começou a exploração do turismo cultural, implementando a visitação pública aberta a todo o patrimônio histórico e familiar, incluindo a construção de um museu na propriedade. A partir de 2011, o café passou a ser produzido principalmente em regiões mineiras, produtoras dos melhores cafés do mundo. Em 2012, o café Morro Alto ganhou o primeiro prêmio do barista Francisco Júnior. Mais informações pelo telefone (12) 3974-7205


Estudantes e a professora orientadora do TCC, Giseli Andreia Perreira.

Conscientizando

os motoristas

Alunos da Etec Cônego José Bento fizeram trabalho sobre a situação dos motoristas e a aplicação da Lei do Descanso. Pressão e insegurança dominam as estradas brasileiras. Alunos do curso de logística da Etec (Escola Técnica Estadual) Cônego José Bento, em Jacareí, fizeram um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) para conscientizar os caminhoneiros dos perigos da profissão. Eles basearam seus estudos na lei 12.619/12, conhecida como Lei do Descanso, para orientar uma das categorias profissionais que mais morrem em serviço no Brasil. Segundo estudo da economista e doutora em Engenharia de Transportes, Ieda Lima, a cada cinco minutos há um registro de acidente com veículos de carga no país. O estudante de Logística, Rodrigo Souza dos Santos, 24 anos, teve um tio que

morreu num acidente na Rodovia Dom Pedro I, trecho de Igaratá, em 2003. Um outro aluno do curso de Logística, Jhonny Hebert Generoso, 21 anos, também teve um parente que sofreu acidente, mas conseguiu sobreviver. Com base nestas experiências familiares, eles sugeriram aos demais alunos (Duane Fernanda de Paula, 23 anos; Bruno Silva, 26 anos; e Kleberson Santos, 23 anos) que elaborassem o TCC sobre a situação dos caminhoneiros. Todos gostaram do tema e o resultado será apresentado no dia 31 de julho de 2014. Souza Santos disse que o grupo preparou 50 cartilhas para serem entregues aos motoristas. Ele explica que a intenção é esclarecer aqueles que ainda desconhecem

a Lei do Descanso. Nesse livreto, foram colocadas informações também sobre cuidados com a saúde, pontos perigosos das rodovias e locais com risco de acidente. O grupo pretende imprimir novas cartilhas para entregar principalmente nos postos de gasolina e empresas de transportes. Os estudantes se interessaram muito pelo tema e pretendem aprofundar seus conhecimentos sobre a Lei do Descanso. Segundo Souza Santos, os motoristas sofrem muito com jornadas que ultrapassam as 18 horas/diárias, ficando longe de suas famílias e consumindo drogas (os famosos rebites) para manterem-se acordados no volante. Um dos principais pontos da lei diz que o motorista deve descansar 11 horas após


desses locais são inseguros para o descanso porque pode acontecer roubo de carga. Nas privatizações das rodovias, Faria lamenta a falta de exigência pelo governo de praça de descanso. “Então, aonde descansar?”, questiona o sindicalista. Faria entende que a lei protege a empresa porque joga a responsabilidade da entrega da carga nas costas dos motoristas. O vice-presidente do Sindicato dos Condutores afirmou que a classe não tem salário definido e ganha por aquilo que transporta. Por isso, diz, são obrigados a trabalharem cerca de 16 horas ou mais por dia para ganharem o sustento. “O baixo salário obriga o trabalho excessivo e o uso de rebite para manter-se acordado durante as jornadas de trabalho”. “Todos usam rebique e ficam dependentes”, denuncia Faria. A difícil vida dos trabalhadores das estradas do país é um problema enfrentado pelos seus representantes há vários anos. Além das péssimas condições para exercer profissão, a categoria não desfruta de vida social. Faria afirma que o caminhoneiro não tem como acompanhar a vida escolar de seu filho e a esposa acaba cuidando dos filhos sozinha. “Muitos ficam 20 dias fora de casa”, conclui. José Dailton de Faria: falta praça de descanso nas estradas concluir uma jornada de trabalho. Repercussão - O motorista carreteiro, Antônio Paulino, de 37 anos, trabalha na estrada há 18 anos e manifestou sua opinião sobre a Lei do Descanso. Segundo ele, a lei é vantajosa para quem trabalha numa empresa, mas atrapalha quem é autônomo. Paulinho explicou que os contratados de uma empresa podem ir para casa descansar após jornada de 8 horas. Porém, diz ele, aqueles que trabalham por conta necessitam chegar rapidamente no seu destino, uma vez que recebem pela viagem realizada, quilômetro rodado ou tonelada entregue. Segundo Paulino, o caminhoneiro para num posto de combustível, toma um banho, faz um lanche e dorme. A parada acontece por volta das 22 horas. No seu entender, a parada deveria ser das 22 às 5 da manhã, tempo suficiente para o profissional recuperar suas energias e seguir viagem. O experiente carreteiro alerta para um outro grave problema dos caminhoneiros - a falta de lugar para descansar nas rodovias brasileiras. Quem também denuncia esse problema é o vice-presidente do Sindicato dos Condutores do Vale do Paraíba, José Dailton de Faria. Segundo Faria, falta praça de descanso adequada para o motorista dormir nas rodovias. Muitos postos de combustíveis proíbem a parada do caminhoneiro, relata, que acrescenta ainda que muitos

Paulino: “Lei é vantajosa para quem trabalha numa empresa, mas atrapalha quem é autônomo”.



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