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Edição 33Ano IVSetembro de 2013 Diretores Mauro San Martín Silvia Regina Evaristo Teixeira Diretora Comercial: Silvia Regina Evaristo Teixeira Editor-chefe: Mauro San Martín DRT 24.180/SP Repórteres: Mauro San Martín e Sandro Possidonio Revisão: B. Veloso Colaboradores: Elaine Ribeiro e Kiko Sanches Foto da capa: Mauro San Martín Críticas, Sugestões e Comentários E-mail - revistabuzz@gmail.com Tiragem: 5 mil exemplares

carta ao leitor

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A praça

cantor e apresentador Ronnie Von gravou em 1967 a música chamada “A Praça”, uma composição de Carlos Imperial. A canção fala de um romance que começou numa praça, mas que não teve um final feliz. Imperial soube como ninguém captar o significado de um espaço público fundamental no convívio entre as pessoas – as praças ou largos das mais diversas cidades. Jacareí possui quatro praças centrais num único traçado: Largo do Riachuelo, Matriz, Rosário e Conde de Frontin. Locais de muita história como a canção de Ronnie Von e Carlos Imperial. A principal reportagem desta edição trata da reforma de uma delas – a conhecida Praça do Rosário, que leva esse apelido por causa da capela, mas sua verdadeira identificação é Barão do Rio Branco. A revista procurou comerciantes do local e usuários para ouvi-los a respeito da reforma desse símbolo jacareiense. O escritor e ex-prefeito Benedicto Sergio Lencioni não gostou da reforma, e você o que achou? Qual é a sua lembrança afetiva de uma das praças de Jacareí? Outro assunto desta edição é o abandono do marco zero da cidade. O músico,

compositor e artista plástico Mir Cambuzano denuncia que a cidade enterrou o seu marco zero literalmente. Ele encontrou uma fotografia de mais de 60 anos que mostra a existência do citado marco na Praça Conde Frontin. Mir conseguiu que a reforma da praça, na gestão do ex-prefeito Marco Aurélio, não destruísse o local da peça, mas lamenta que as autoridades não deem a devida importância para um ícone geográfico que atrairia vários curiosos ao local. Sem contar que distâncias de Jacareí a São Paulo, ou a qualquer outro ponto, são estabelecidas a partir do marco zero. A entrevista é com Francisco Arthur Gomes, um jacareiense que serviu ao país durante a Segunda Guerra Mundial. Interessantes as opiniões do ex-pracinha de 92 anos. Só para citar uma, que está bem atual, é o que ele pensa a respeito das guerras. Arthur comenta que nesses conflitos há sempre o interesse comercial. As guerras ocorrem pelo dinheiro. Uma opinião como essa, num momento em que o mundo aguarda os Estados Unidos invadirem a Síria, é atual e digna de reflexão. Boa leitura! Mauro San Martín - editor

Impressão: Resolução Gráfica A revista Buzz é uma publicação mensal da Voz Ativa Comunicações. Artigos e colunas não representam necessariamente a opinião da revista Buzz. Proibida a reprodução total ou parcial sem prévia autorização escrita. Por favor, recicle esta revista!

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Jacarei Revista Buzz

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RADAR O mês em revista ZÉ CUPIDO MORRE AOS 81 O sanfoneiro José Idelmiro Cupido, o Zé Cupido, morreu no dia 28 de julho aos 81 anos. Ele foi entrevistado pela revista Buzz - edição 13. O corpo foi velado na Câmara Municipal de Jacareí e sepultado no dia 29 em sua cidade natal – Quiririm. Com deficiência visual aguda desde os quatro anos de idade, o músico não se curvou diante do problema e construiu carreira de sucesso. Acompanhou à sanfona grandes nomes da música popular como Tonico e Tinoco, Chitãozinho e Xororó, Luiz Gonzaga, entre outros. Cupido era também diretor artístico da Seresta Darcy Reis, de Jacareí. DESENVOLVIMENTO HUMANO: JACAREÍ É 157ª

Jacareí ficou na posição 157ª do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal). Os dados, que medem saúde, renda e educação nas cidades, foram divulgados no fim de julho pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). São José dos Campos ocupa a 24ª posição e, Taubaté, a 40ª. A posição máxima é a 1ª. PEDÁGIO SOBE SOMENTE EM JACAREÍ O governo federal autorizou a concessionária Nova Dutra a reajustar o valor do pedágio somente em Jacareí. As tarifas passaram de R$4,40 (carro de passeio) para R$4,50 e de R$8,80 (caminhões leves) para R$9,00. As motocicletas terão valores reajustados de R$2,00 para R$2,25. Segundo a Agência Reguladora, o aumento ocorreu por arredondamento de valores. Nas outras praças, a tarifa permanece congelada. TCE CONDENA OBRA DA RODOVIÁRIA O TCE (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) manteve a decisão que considera “irregulares” a licitação e o contrato para construção do Terminal Rodoviário de Jacareí. Cabe recurso da sentença. O parecer foi publicado em 19 de junho último, após análise de recurso da Prefeitura de Jacareí. O então secretário de Infraestrutura, Dalton Assis, foi condenado a pagar multa de R$9.685,00. Segundo o conselheiro do TCE, Sidney Beraldo, as informações do município indicam “falta de planejamento e descumprimento dos princípios da eficiência e economicidade”. CIRURGIA À LANTERNINHA O médico Eduardo Capela Galeazzi, da Santa Casa de Jacareí, foi demitido depois de postar na rede social foto em que realizava cirurgia de

uma criança usando uma lanterna para iluminação. Segundo o médico, a lâmpada do aparelho de foco cirúrgico estava queimada. O hospital alega que Galeazzi poderia ter chamado o setor de manutenção para trocar a lâmpada. LEI FACILITA VIDA DO CONSUMIDOR A lei, que obriga postos de combustíveis do município a exibir informações do valor do litro do etanol comum em relação percentual ao litro da gasolina da mesma categoria, foi sancionada pelo prefeito Hamilton Mota (PT) e publicada no Boletim Oficial de Jacareí do dia 6 de junho, quando começou o prazo de 60 dias para que os estabelecimentos cumpram a nova regra. O vereador Hernani Barreto (PT), autor do projeto que gerou a lei, fez uma série de visitas esses estabelecimentos para orientar usuários e comerciantes. Com a nova lei, os postos deverão ostentar em local visivel os dizeres: “Neste estabelecimento o preço do etanol comum corresponde a (x)% ao da gasolina comum”. CADÊ O SÃO CRISTÓVÃO? O vereador Maurício Haka (PSDB) pediu informações ao Município de Jacareí sobre a construção de um santuário dedicado a São Cristóvão – santo padroeiro dos motoristas – que seria construído ao lado da capela de Nossa Senhora dos Remédios, próximo à divisa com Guararema. Segundo Haka, dez anos após o anúncio de sua construção, o santuário, prometido na primeira gestão do prefeito Marco Aurélio de Souza (PT), em 2003, ainda não saiu do papel. A imagem foi trazida de Roma, onde foi benta pelo papa João Paulo II, e recebida com alarido na cidade. Depois, foi guardada num armário da igreja matriz e nunca mais se soube dela. O tucano pergunta qual o local exato escolhido, como está o andamento das providências e qual o custo gerado para a municipalidade. SANTA CASA CONDENADA A Santa Casa de Jacareí foi condenada a pagar R$ 40 mil de indenização por danos morais à família de uma paciente que morreu ao cair da maca no hospital, em 2007. Após perder a ação em Jacareí, a família recorreu ao Tribunal de Justiça de São Paulo que lhe deu parecer favo-rável. A Santa Casa informou que vai recorrer. DIA DE VALORIZAÇÃO AO IDOSO A Câmara de Vereadores de Jacareí aprovou o projeto de lei de autoria do vereador Fernando Ramos (PSC) que instituiu e incluiu no calendário oficial de eventos da cidade o “Dia Municipal da valorização do idoso e de conscientização e combate aos maus tratos ao idoso”, a ser comemorado no dia 15 de junho de cada ano.

UM NOVO OLHAR Stress – Como vencê-lo em seu dia-a-dia Por Elaine Ribeiro*

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emos uma vida maluca na qual 24 horas não parecem, na maioria dos dias, sufi-cientes para realizar tudo o que precisamos, sem contar os temores e as ansiedades pelas quais todos passamos por conta de inseguranças, doenças, conflitos emocionais, crises financeiras e aborrecimentos na família. Existem pessoas que estão viciadas nesse tipo de vida e não conseguem se “desligar” dele. Como resultado, formamos uma geração que vive em uma verdadeira panela de pressão pronta para explodir. Esse estado de tensão cada vez mais comum se chama stress. Como definição, traduzido para o português, stress significa “forçar”. Dependendo do estado orgânico e do ambiente, seus neurotransmissores podem forçar para mais, o que chamamos de distress (distensão do stress), sendo os sintomas irritação, falta de sono e angústia constante. Em contrapartida, quando se força a menos temos o hipos-tress, em que sentimos muito sono, muita fome, um vazio sem fim e nada satisfaz. Para vivermos com saúde e vencermos o stress, temos que alcançar o eustress, ou seja, o equilíbrio para o bem estar, mesmo com os problemas e aflições do dia a dia; o saber conviver com eles sem que interfiram em suas atividades. E como alcançá-lo? Se-guem dicas: 1Adote um estilo de vida saudável. Durma cedo, não pule ou exceda refeições; tome sol, evite alimentos e bebidas nocivas e beba muita água. 2Reduza suas obrigações, aprendendo a dizer “não” às exigências que o sobrecarregam, e delegue responsabilidades. 3- Tenha bom humor e ame-se, observe suas qualidades, veja a vida com simplicidade e não a leve tão a sério. 4- Faça uma coisa de cada vez, estabelecendo prioridades e separando o que é importante do que urgente. 5- Aprenda a relaxar respirando profundamente e fazendo alongamentos ao acordar e ao deitar, ao som de músicas suaves. 6- Pratique atividades físicas, para que o cérebro oxigene e reflita melhor. 7- Tenha uma vida espiritual, independen-te de crença – meditação e oração melhoram muito nosso ânimo. 8- Valorize seus relacionamentos convivendo bem com familiares e colegas de trabalho, sendo amistoso e agradável. 9- Resolva seus conflitos: se eles têm solução, não há por que se preocupar; e se não têm solução, sua preocupação de nada adiantará, conforme diz provérbio tibetano. 10- Tire um dia na semana para descansar, passeie, veja pessoas, respire ar puro, pise na terra, você verá quanta diferença vai lhe tra-zer para reposição de energias. (*) Elaine Ribeiro é psicóloga formada na Universidade de Mogi das Cruzes, gestora pessoal e empresária em Jacareí


vai bem Aterro Sanitário recebe nota 10

O aterro sanitário de Jacareí recebeu nota 10 no Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Urbanos 2012, feito pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental). O inventário é produzido desde 1997 e se baseia no IQR (Índice de Qualidade de Resíduos). Os técnicos da companhia visitam os aterros sanitários e atribuem-lhes notas a diversos quesitos considerando duas categorias: inadequada (de zero à 7) e adequada (de 7,1 a 10). A previsão é que até 2014 não haja mais os conhecidos lixões – considerados inadequados. Além de investir no aterro, o município vai incentivar a separação do material reciclado.

vai indo Ruas do Imperial recapeadas

vai mal Acesso confuso e perigoso

O vereador Valmir do Parque Meia-Lua (PSD) enviou requerimento à CCR Nova Dutra em que solicita a melhoria da sinalização na alça de acesso à Rodovia Presidente Dutra, no bairro Rio Abaixo. Segundo o parlamentar, o trecho provoca trânsito “bastante confuso e até perigoso”. O requerimento, aprovado por unanimidade na Câmara de Vereadores de Jacareí, pede a colocação de semáforo próximo ao Km 60, no final da Avenida Presidente Humberto Castello Branco. Com o semáforo, vereador acredita que o movimento de carros será disciplinado, e vai evitar possíveis acidentes.

As 21 ruas do Parque Imperial estão sendo recapeadas. Segundo a Prefeitura de Jacareí, foram recapeados 7.300 metros quadrados de vias públicas por intermédio do projeto “Patrulha do Asfalto”. O projeto fornece máquinas e funcionários e conta com parceria do empreendedor responsável pelo loteamento, que investiu R$ 470 mil para compra do material necessário à obra. O bairro, localizado na zona oeste de Jacareí, vai ter seus imóveis valorizados com a realização da tão esperada melhoria.


Entrevista | Francisco Arthur Gomes, ex-pracinha jacareiense da FEB

A cobra fumou

No mês em que se comemora o Dia do Soldado e a explosão da bomba atômica em Nagasaki e Hiroshima, um ex-pracinha jacareiense lembra porque a cobra fumou

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o dia 25 de agosto comemorou-se o Dia do Soldado. Agosto também é lembrado pela explosão da bomba atômica nas cidades japonesas de Nagasaki (dia 6) e em Hiroshima (dia 8). E a cobra fumou. Um mês propício para conversar com um dos ex-combatentes jacareienses que participou da Segunda Guerra Mundial: Francisco Arthur Gomes. Próximo de completar 100 anos, a revista Buzz encontrou-o um homem lúcido e bastante ativo. Gomes, 92 anos, falou das aventuras de soldado de pouco mais de 22 anos à época de sua participação no conflito. Os céticos diziam, então, que o Brasil só iria à guerra quando uma cobra fumasse. E não é que o Brasil foi para a guerra?! Para desapontamento dos céticos, em algum lugar do país um ofídio acendeu um cigarrinho de palha. Gomes foi um dos 25.000 homens que se juntaram aos aliados para combater as potências do chamado Eixo. Não por acaso, o símbolo da FEB (Força Expedicionária Brasileira) é uma cobra fumando. Há outras versões, mas ele prefere esta. Nosso entrevistado é natural de Caçapava, mas, mudou para Jacareí com sete anos. Aqui, ele trabalhou como operário, prestou serviço militar no Tiro de Guerra, foi convocado e, a após o conflito, casou-se com Ruth Rico Gomes. Trabalhou na antiga Light (companhia de energia elétrica) até se aposentar. Gomes teve apenas uma filha – Maria Lúcia Gomes. Buzz – O que o senhor fazia antes de ser convocado? Francisco Arthur Gomes – Eu trabalhei em duas indústrias de meias em Jacareí. Buzz – Como o senhor recebeu a convocação para II Guerra Mundial? Gomes – Não recebi. Eu fui buscar a convocação. Na primeira chamada, a prefeitura distribuiu. Porém, na segunda leva, a turma ia buscar. Eu fui me informar se tinha sido convocado: estava lá um papelzinho me chamando (risos). Na época, éramos eu e outros dois irmãos (uma irmã e um irmão mais velho). Soldados do 6º RI (Regimento de Infantaria) de Caçapava, o 1º RI do Rio de Janeiro e o 11º RI de Minas Gerais foram os convocados para Segunda Guerra Mundial. Buzz – Como foram os preparativos para o combate? Gomes – Após a convocação, fomos para Caçapava para o treinamento, até seguirmos para o Rio de Janeiro, de onde embarcaríamos para a Itália. Fui convocado no fim de 1942, e fomos para a guerra em julho de 1944. Recebemos as últimas instruções no Rio. Buzz – E como foi o embarque? Gomes – Ocorreu em julho de 1944. Viajamos no navio norte-americano “USS General W.A. Mann”. Foram 13 dias de viagem. Nós fomos acompanhados pelos norte-americanos até o Equador, depois seguimos sozinhos. O navio parou por cerca de uma hora no Mar Mediterrâneo e fomos saber o que tinha ocorrido, mas ninguém informou. Depois ficamos sabendo que a parada ocorreu porque estavamos próximos à formação dos alemães. Ele sobrevoavam o navio para impedir a nossa chegada. Quando não havia mais ruido de avião, seguimos até Napoles, na Itália. Buzz – Como foi a chegada? Gomes – Estava muito calor. Tínhamos notícia de que o frio seria intenso na Europa. Cairia neve... Estava tão quente que era impossível permenecer embaixo das barracas nos primeiros dias no campo de batalha. Um calor danado. De vez em quando vinha aquela chuva de verão. A água passava por dentro da barraca. A gente estava sempre num local cheio de capim e que não tinha barro. Ficávamos em propriedades italianas com grandes pastos. Buzz – Como era o dia a dia? Gomes – Nós entramos em setembro no campo de batalha. Dali em diante, o 6º RI tomou parte em todos os embates. Desde que entrei

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no front, sempre me mantive em atividade. Na guerra, a gente não combate dia e noite. Há períodos tranquilos. Você chegava num terreno e fazia um foxhole (a famosa “toca da raposa”) para se enconder. Uns tinham picareta e outros pá. Usamos as ferramentas em conjunto. Era assim a vida no campo de batalha. O foxhole tinha uma profundidade de mais ou menos 40 centimentros. Era o suficiente para a gente ficar abaixo do nível do terreno. Buzz – E as batalhas? Gomes – Na guerra, existe a tomada de terreno. Não há batalha propriamente dita. Atravessamos a Itália de Pisa até o local onde acabou a guerra. Não nos fixamos no terreno para travar batalha. Nós, do 6º RI, tivemos nossos momentos de glória. Éramos do primeiro escalão da FEB. O comando da FEB sempre empurrava o 6º RI para todas as missões. Tivemos a felicicdade de cumprir as ordens com sucesso. Buzz – Qual foi sua graduação? Gomes – Eu me considero reservista paisano - um civil. Eu fiz o Tiro de Guerra de Jacareí, em 1937. O Tiro de Guerra lamentavelmente não forma um soldado. Ele fica duas ou três horas recebendo instrução militar e o resto do tempo é civil. Quando peguei o certificado do TG, estourou a guerra e fiquei na expectativa de ser convocado. Eu me apresentei e abriu um curso para cabo logo em seguida. Eu me inscrevi. Pretendia me livrar da responsabilidade de soldado e fiz o curso. Participei do serviço burocrático. Fiz o trabalho e recebi elogios por parte do comando. Fomos para a guerra. No campo de batalha, havia necessidade de graduados. Um companheiro de São José dos Campos não quis porque tinha problemas de saúde. Eu tambem não queria porque a responabilidade era grande, mas os comandantes não aceitaram minhas desculpas. Fiz toda campanha como 3º sargento. Ao final do conflito, dei baixa para não continuar como militar, uma vez que iria para o norte do país. Eu detesto calor e tinha compromisso com meu sogro, pois quando fui para o front era noivo. Daí, voltei e trabalhei por 20 anos na Light e me aposentei com 25 anos de serviço beneficiado por uma lei do presidente João Goulart que facultava a aposentaria aos ex-combatentes com 25 anos de serviço. Buzz – Qual foi seu “batismo de fogo”. Gomes – Não foi propriamente um batismo. A guerra é feita por grupos. Não havia trincheiras de combate. No regimento que participei havia somente o foxhole. Com tamanho do seu tama-

Francisco Arthur Gomes: “Deus colocou a mão na minha cabeça e me protegeu” nho. Faziamos um buraco e o abandonávamos quando nos deslocávamos para outro lugar. E faziamos novamente um outro abrigo, lá chegando. Era como uma içá que, ao cair no chão, já procurava fazer o buraco e entrar. A gente não pode considerar isso um batismo de fogo. A gente se deslocava entre 10 a 15 horas de um setor para outro. Assim era a vida na guerra. Buzz – Mas o senhor travou combate? Gomes – Praticamente, não. Não travei combate porque não encontrei com patrulhas alemãs. Deus colocou a mão na minha cabeça e me protegeu. Teve um deslocamento que fiz com meu grupo em que, no meio do caminho, havia um rio. Perguntei para os soldados: vocês querem tomar um banho? A turma gostou da ideia porque fazia tempo que o corpo não via um pouco de água. Eu dividi a tropa em dois grupos de seis pessoas. Enquanto um grupo ficava de prontidão, o outro tomava banho. Era um riozinho não muito fundo. A italianada comecou a rir da gente. Chamaram a gente de louco porque o frio já se aproximava. Diziam: “Hey! sono tutti matti!” (“Ei! São todos loucos!”). Nós convidamos eles para tomarmos banho juntos. Não vieram, claro. Essa foi uma das histórias dos deslocamentos que fizemos na guerra. Não tive necessidade de expor a minha vida. Em outra passagem, um soldado meu, o Arantes, ficou subterrado. Engraçado que ao ser içado para fora dos escombros foi que ele se feriu, e com uma pazada na testa. Esse soldado era “meio louco” porque abandonava o grupo, saia procurando vinho e outras coisas pelo campo de batalha e nunca lhe aconteceu nada. Sempre o alertava do perigo, mas ele respondia que sabia onde pisava. Buzz – Como as famílias recebiam notícias do front?


Gomes – As notícias para o Brasil eram todas censuradas. Às vezes, sobrava somente o cabeçalho da carta. Não havia jeito de fomar um sentido daquilo que foi escrito porque as cartas eram cortadas pelo censor. Não podia revelar onde nós estávamos. Tanto na Itália quanto no Brasil. Era tudo cortado. Buzz – Como era o revezamento para descansar? Gomes – A gente segmentava as 24 horas do dia em três partes. O meu grupo (um sargento, um cabo e dez soldados) era composto por fuzileiros e granadeiros. Se estávamos em 12, quatro deles ficam de prontidão e os demais descansavam. E assim por diante. O curioso era quando precisávamos saber as horas durante a noite. Nós nos cobríamos com cobertor, colocávamos o relógio no vão das pernas e o iluminávamos. Tudo isto para não denunciar nossa posição. Buzz – Vocês chegaram a passar fome na Itália? Gomes. Não. Se disser que passamos fome, eu minto. O norte-americano tinha organização para não deixar ninguém sem comida. As refeições eram servidas em duas etapas – os que não estavam em combate e os estavam no front. Os estáveis (fora de combate) recebiam 12 latinhas (seis de carnes e seis de guloseimas como bolachas e chocolates) pela manhã. A carne vinha misturada com batata. Nós gostávamos da “scaletta 2” que só tinha carnes. Os soldados em combate comiam numa cozinha distante das frentes de batalha. Tínhamos sempre mingau de aveia. Também, era sempre café com leite e jamais somente leite. Tudo preparado na retaguarda. Na guerra não havia como desertar porque o sujeito passaria fome se fugisse. Buzz – Quais eram as armas utilizadas? Gomes – Rifle norte-americano “Springfield M1903” e fuzil também norte-americano semi-automático “M1 Garand”. Os soldados usavam o primeiro e, os sargentos, o segundo. Buzz – O senhor falava com civis italianos? Gomes –A gente não passava por perto do povo, exceto quando saíamos de folga. Buzz – Como era a parte de higiene na guerra? Gomes – O maior problema foi a falta de banho. Quando a gente abria o pulso da farda, encontrávamos percevejo escondido. Eu tomei apenas três banhos durante um ano. Os banhos coletivos ocorriam num caminhão adaptado. O comando adaptou seis chuveiros num caminhão para que pudéssemos tomar banho. Este foi o primeiro banho. Depois ocorreu aquela passagem pelo rio, e quando tirei folga em Florença. As necessidades fisiológicas eram feitas em qualquer lugar. Quando ficavamos parados, havia banheiro. Ficamos todos barbudos porque era difícil encontrar água para fazer barba. As nascentes encontradas estavam geladas. Buzz – Qual foi sua relação com a morte na guerra? Gomes – Eu pensava que se dormisse poderia não acordar; se acordasse não dormiria, porque as possibilidades de bombardeio e combate eram constantes. Eu tive muita sorte. Teve um de Jacareí que era corneteiro e tocava qualquer hino militar. Por uma infelicidade, esse soldado perdeu o embarque. Ele disse ao pai dele que não iria para o Rio de Janeiro devido ao atraso, mas o pai insistiu que ele fosse para não manchar sua honra sendo desertor. Por perder o embarque, ele foi transferido do 6º RI para o 1º RI. Daí, jogaram ele como combatente. De corneteiro para combatente há muita diferença. Devido sua falta de experiência em combate,

ele acabou morrendo em 12 de dezembro. Ficou insepulto até a tomada de Monte Castelo pela FEB. Essa é a história do corneteiro João Américo da Silva. Buzz – Como foi a rendição dos alemães? Gomes – Em Fornovo Di Taro, 28 de abril, havia um contigente de alemães sitiados que se rendeream somente à FEB. Cerca de 20 mil alemães se renderam para 5 mil brasileiros. Eles podiam se revoltar e acabar conosco que estavamos em menor número, o que felizmente não aconteceu. Era média de 4 para 1. Teve outro episódio interessante em Fornoso Di Taro. Eu e meu grupo fomos destacados para certa missão. Porém, no caminho, em uma plantação de trigo, deparamos com o inimigo. Fizemos cada um seu foxhole e decidimos esparar. Era no entardercer. Acabamos dormindo naquele local. No dia seguinte, pela manhã, eu vi alguém fazendo uma curva longe – a uns 400 metros de onde estávamos. No segundo dia a cena se repetiu. Falei para o tenente e ele ordenou que eu atirasse assim que víssemos algum soldado porque poderíamos ser descobertos, o que comprometeria nossa missão. No terceiro dia, esperei o alemão surgir na curva. Quando as costas dele estavam na minha mira, atirei. Não o acertei de propósito; desejava apenas assustá-lo. Tanto que não apareceu mais. Assim, finalmente, pudemos terminar nossa missão. Buzz – Em Salesópolis, cidade vizinha a Santa Branca, comemora-se o Dia do Pracinha Salesopolense com grandes comemorações em praça pública. Jacareí não tem comemoração parecida. O que o senhor acha disso? Gomes – Isso depende dos vereadores. Quando chegamos da Itália houve reconhecimento dos jacareienses aos pracinhas. Porém, hoje quase não há festas porque estamos reduzidos a poucos. A única coisa que nos resta de parte do poder público é a colocação de nossos nomes na identificação das ruas após a morte de cada um. Buzz – O senhor chegou a se ferir? Gomes – Não. Repito que tive muita sorte. Buzz – Como era amizade com outros pracinhas? Gomes – A amizade era muito boa. Embora não faltasse nada, o sofrimento de estar longe dos familiares era muito grande. Só quem passou pela expriência pode saber como isso afetava a gente. Eu fui para a guerra com 22 anos. Eu fiz 24 anos na Itália. A gente deixou aqui a família, namoradas, esposas... A nossa única distração eram as folgas da frente de batalha. Buzz – O que o senhor sabe a respeito da neurose de guerra? Gomes – De modo geral, todos que voltamos trouxemos certa neurose da guerra, principalmente os mais atuantes. O meu concunhado (Nilo Máximo) tinha cinema e fez um festival com filmes sobre a guerra. Eu não perdi um. Eu era obrigado a ir porque necessitava vivenciar aquilo por que tinha passado. Em casa, ficava remoendo as passagens dos filmes. Lembro-me ainda de um rapaz que teve um estilhaço entrando pela boca e saindo pela nuca. Quando assistia aos filmes, era como se novamente estivesse atuando no front. De forma geral, todos saímos com marcas da guerra. Buzz – Você perdeu algum amigo mais próximo no front? Gomes – Não digo que perdemos “um amigo” porque todos éramos amigos. Então, esse soldado morto com estilhaço, de que falei, foi uma das grandes perdas. Observávamos muitas coisas que retalham nossa mente. A gente via ferido a todo momento. Havia as caronas para

cidade e eu dificilmente ia com brasileiros. Nem com os ingleses que não olhavam para ninguém. Eram “metidos”. Os ingleses passavam pela gente na estrada e nem respondiam a nossos acenos de mão. Quando a gente dava com a mão para um norte-americano, ele parava o veículo e a gente subia. Num determinado dia, eu subi num carro que levava um defunto. Ainda me lembro do som da cabeça do morto batendo no assoalho do veículo ao passar por irregularidades na estrada. Pensei: “Puxa vida, o cara está aí e eu ainda estou aqui.” O grupo, ali, no geral, não ligou muito. Apenas nos penalizamos com o caso. “Depois de morto, ainda levava aquelas batidas na cabeça”, penso ainda quando me lembro. Buzz – Como foi a volta para casa? Gomes – Estávamos cientes de que não havia mais perigo. A guerra estava no fim. Ficamos preocupados com as minas explosivas após o término da guerra. Na viagem de volta, foi liberado o convés do navio. Na ida, ninguém podia ficar lá, mas, na volta, podia-se ficar a noite inteira para aproveitar a viagem no convés do navio. Desembarcamos e ficamos uns dez dias no Rio para as festas. Depois viemos para São Paulo, mas eu não desfilei porque perdi o embarque. O povo ficou nas calçadas, mas avançou sobre a gente que desfilava na rua. Buzz – Teve a morte de um pracinha na volta para a casa, não? Gomes – Sim, e tenho uma passagem difícil nessa história. Aproveitei bastante as festividades por nossa chegada. Ainda no Rio, foi determinado que o 6º RI viria para São Paulo. Eu falei para alguns companheiros que viria para Jacareí, mas não vim. Ocorreu um desastre de trem entre Caçapava e Eugênio de Melo. Meu irmão foi até o local a minha procura e não me encontrou. Alguém deu informação de que havia sido eu quem tinha morrido. Meu irmão repassou a informação para minha mãe, de que não havia me encontrado e possivelmente seria eu o morto. Estava armado o mal-entendido. Fiquei ainda uns dias no Rio saracoteando. A turma que veio para São Paulo me alertou que minha mãe estava abalada porque acreditava que eu tivesse morrido no desastre de trem. Tudo porque falei que iria e não fui para casa. Eles disseram que eu precisava saber como chegar a Jacareí e desfazer o engano. “E, agora, como vou fazer?” – pensei. “Não morri e não matei ninguém na guerra, não posso matar justamente minha mãe porque ela estava transtornada e sob sedativos” – temia eu. Pensei nisso a viagem toda. Fui do trecho da antiga estação de trem (atual Praça Raul Chaves) até o Largo do Riachuelo só pensando nisso. Lá, encontrei um colega de fábrica. Eu não conversava, mas gritava. O trecho entre o lugar em que ele me deixou e a porta de minha casa não tem mais que 300 metros, mas levei mais de trinta minutos para atravessá-lo. A minha sorte foi que abriram a porta por causa do vozerio de fora e era meu irmão. Eu comecei a convesar com ele, daí, chegou minha mãe e desfez-se numa boa todo aquele mal-entendido. Um alívio. Buzz – A guerra resolve os conflitos? Gomes – Não. Ela só serve a interesses econômicos. Buzz – Qual foi seu papel no prédio da Associação dos Ex-combatentes? Gomes – Devemos preservar esse prédio pelo esforço dos pracinhas que trabalharam lá. Eu tenho um amor muito grande pelo local, assim como todos meus companheiros, eu acho. Eu instalei a parte elétrica do prédio.

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Entrevista completa com o Artur Gomes no site: WWW.REVISTABUZZ.COM

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Reforma agrada, mas gera discussão Comerciantes e usuários aprovaram a reforma da Praça do Rosário, mas ex-prefeito questiona “falta de vegetação” O taxista Walter de Azevedo Faria, de 70 nos, é um dos precursores do serviço de taxi na Praça Barão do Rio Branco, mais conhecida como “Praça do Rosário”, em Jacareí. No início de sua carreira, os taxistas ainda eram chamados de “chofer de praça”. Nesses mais de 45 anos de atividade, ele acompanhou a história de um dos mais queridos e aconchegantes pontos de encontro dos jacareienses, que passa por reforma geral desde junho passado. O experiente taxista aprovou o reformulado paisagismo e os novos bancos o que, segundo ele, inibe a presença de mendigos. Segundo Faria, os andarilhos ficavam abordando transeuntes, e isso acabava com a clientela dos taxis. O cenário era ainda pior. O comerciante Deliezer Fernandes, da Ótica Favorite, reclamou que já presenciou de seu apartamento, no Edifício Pioneiro, localizado em frente, andarilhos fazendo sexo no banco. Ambos acreditam que isso, agora, faz parte do passado, de antes da reforma da Praça do Rosário.

Faria diz que a prefeitura de Jacareí manteve o verde, pois acredita que “nem 10% da vegetação anterior foi retirada” para ceder espaço para o novo piso de ladrilhos. A nova Praça do Rosário lhe traz à lembrança o tempo em que começou na profissão, no final dos anos 60. Ele iniciou com um carro inglês, o Austin, modelo A-40, mas, no ponto havia ainda outras relíquias automobilistas como os sedans Skoda, checo, e Morris Oxford, também inglês. Era um charme utilizar o serviço de taxi na cidade, recorda. Ao longo do anos, a Praça do Rosário sofreu várias reformas. O tradicional comerciante Getúlio Marques dos Santos, da Ótica New Vison, lembra-se das mudanças. Segundo ele, ocorreram duas reformas, sendo uma feita pela indústria Rohn And Haas e outra pela Heineken. Ambas adotaram a praça em parceria com o poder público: elas ficavam responsáveis pelo espaço e, em troca, divulgavam suas marcas. Santos também gostou do novo visual. Ele cita a

Walter: “nem 10% da vegetação foi retirada”

Getúlio: “boa visibilidade e espaço maior”


maior visibilidade e a ampliação do espaço para os usuários como principais pontos positivos dessa reforma feita pela prefeitura. O comerciante Clayton Zanetti, do Restaurante Garibaldi (antigo prédio do Cine Rosário), é novo no local. Ele abriu as portas há apenas três anos. Zanetti afirma que a praça era escura, o que facilitava a ação de marginais. Agora, explica o comerciante, toda a área ficou mais clara e ainda há mais espaço para caminhar. “Ficou melhor para enxergar de um lado ao outro”. A reforma inibirá a criminalidade, acredita Zanetti, que destaca também o novo piso que vai melhorar a drenagem do local. Não existe praça sem uma boa banca de jornal e revista. Na do Rosário, esse serviço é prestado pelo jornaleiro Ovídio Silva Borges, que seus clientes em sua banca fixada bem no meio. Agora, a banca foi mudada para uma das laterais. Borges é taxativo: “melhorou 100%”. Ele disse que tudo por ali estava deteriorado e precisava de uma boa reforma como a que está sendo feita. Segundo Borges, os jardins estão amplos e o espaço, como um todo, ficou mais arejado. “O visual mudou para melhor”, diz. Borges, porém, lembra sobre a necessidade da manutenção e cuidado permanentes para coibir vandalismo e invasão de viciados. O jornaleiro afirma que o descuido, antes, era tanto que ele encontrava ratos dentro de sua banca. Cobranças - O comerciante Deliezer Fernandes sugere, para a Praça do Rosário ficar ainda melhor, atividades culturais para

Deliezer: “mais eventos na praça”

Obra da praça é estimada em R$ 200 mil

atrair público. É uma forma de movimentar o comércio da região, afirma. O ponto de taxi da Praça do Rosário possui 12 carros, mas dispõe de espaço suficiente para dez apenas. A situação se complica quando todos comparecem para trabalhar. “Alguns são obrigados a estacionar na zona azul”, diz o experiente Faria que, que já fez corrida com a apresentadora Xuxa, do antigo Trianon Clube até o Piazza Hotel. “Isso quando ela iniciava a carreira”, lembra. Faria explica que os motoristas particulares estacionam no espaço dos taxistas devido à falta de sinalização. Ele aproveita esta reportagem para solicitar a colocação de faixa e “olho-de-gato no ponto de taxis. Adequação - Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura de Jacareí, os novos canteiros foram adequados para a área de circulação de pessoas. “Todas as árvores foram preservadas e o local ganhou mais seis árvores de três espécies diferentes. O novo piso é permeável, o que deverá garantir a maior preservação das raízes”. Segundo a Secretaria do Meio Ambiente, a árvore em frente ao Banco do Brasil é um Flamboyant e, para acomodar a raiz, o canteiro foi ampliado. “Como se trata de uma árvore que já está consolidada não deverá crescer mais”. A prefeitura informou ainda que o investimento na obra do coreto é de R$ 45.930,33 e a revitalização da praça do Rosário é estimada em R$ 200 mil porque está sendo executado pelo próprio município.


Capela do Rosário: reforma urgente e restauro em 2014 Um dos patrimônios da praça, a Capela Nossa Senhora do Rosário, passará por mudanças. Porém, a princípio, apenas o telhado da capela e o salão Paulo VI estão sendo reformados pela empresa do engenheiro Ricardo de Souza Esper. As obras são coordenadas pela Paróquia Imaculada Conceição, que responde pelo templo. Segundo Esper, o restauro não tem prazo para começar porque se trata de uma obra com mão de obra especializada. A capela, informa, está recebendo um telhado metálico tipo sanduiche com proteção térmica, acústica e antichamas. A antiga Capela Nossa Senhora do Rosário e São Benedito era de puro estilo colonial-português. Foi construída de taipa pelos escravos por volta do século XIX. Em 1907, segundo registros da Matriz, ela foi demolida para dar lugar ao novo templo sobre a supervisão dos construtores italianos Armando Blois e seu irmão. Com estilo um pouco bizantino, pelos adornos arquitetônicos e pela torre única e centralizada, de cúpula arredondada de pintura metálica ressaltando o bronze, a nova igreja só foi finalizada anos mais tarde. O relógio com algarismos romanos foi colocado em 1928 pela família Martins, que tinha comércio na Praça do Rosário desde 1899.

Capela do Rosário: novo telhado para evitar infiltração nas paredes

Lencioni: “Falta mais estética”

Suellen: “agora é um calçadão”

EX-PREFEITO RECLAMA DA FALTA DE VERDE O escritor e ex-prefeito Benedicto Sérgio Lencioni não gostou da reforma da Praça do Rosário. Ele acha que ali se tornou “um pátio”, com menos vegetação e mais concreto. “Um local só de trânsito”. Segundo ele, ali não existem características históricas porque a praça sofreu várias mudanças, sendo a última na gestão do ex-prefeito Antônio Nunes de Moraes Júnior, nos anos 60. O ex-prefeito Lencioni entende que toda praça deveria possuir uma iluminação diferente devido suas características únicas. Ele se posiciona contra a padronização dos espaços públicos como ocorreu com a Praça do Rosário. Lencioni acha também que as praças necessitam ser agradáveis e aconchegantes para atrair público. “Falta mais estética e urbanismo na cidade. A praça precisar ser bucólica e atrair as pessoas pela beleza de sua vegetação”, diz. Lencioni realiza pesquisa sobre largos e praças de Jacareí para escrever seu próximo livro. Segundo ele, o estudo resgata histórias desses espaços que serviram de ponto de encontro para as mais diversas manifestações. “Muitas vidas e muitas histórias começaram nesses logradouros”, comenta. A estudante de engenharia, Suellen Fernandes, afirmou que a árvore em frente ao Banco do Brasil teve sua raiz coberta pelo concreto do novo piso. Segundo ela, isso não pode acontecer porque a raiz precisa de espaço para se desenvolver. Com relação à reforma, a estudante disse que “antes era uma praça, mas agora é um calçadão”. Ela também acredita que os novos bancos poderão ser retirados com facilidade por vândalos.


Marco zero de Jacareí está abandonado A principal identificação geográfica de Jacareí está enterrada na Praça Conde de Frontin Um dos principais elementos turísticos de Jacareí está abandonado. O marco zero da cidade, localizado na Praça Conde de Frontin, encontra-se a 40 centímetros abaixo do solo. Em muitas cidades, o marco zero é preservado e local de visitação obrigatória para turistas. O marco de Jacareí é objeto de estudo do fotógrafo, compositor e artista plástico Waldemir Cambuzano, de 76 anos, o Mir Cambuzano, que também se tornou uma espécie de guardião desse documento geográfico de Jacareí. “Várias pessoas passam pelo local diariamente e não sabem da existência do marco zero porque não há sinalização”, lamenta. Os estudos de Cambuzano começaram quando ele encontrou uma foto antiga que clicou aos 14 ou 15 anos de idade. Nela, o artista eternizou um grupo de amigos no banco da praça Conde de Frontin e, sem querer, ao lado a pirâmide que indicava o marco zero jacareiense naquele local. A família Cambuzano é conhecida em Jacareí pelo antigo estúdio de fotografia que funcionou na Rua Pompílio Mercadante, entre

1924 e 1992. Numa pesquisa pelas coordenadas de latitude (23º 18’ 10’’) e longitude (45 º 57’ 31”), Cambuzano ainda descobriu que a localização é a mesma do local da foto. Ele procurou os órgãos oficiais, porém poucos tinham informações a respeito. Cambuzano explica que o marco zero é um ponto tridimensional do centro de uma cidade. Segundo ele, é de ontem partem as coordenadas de latitude (distância em graus até a linha do Equador), longitude (distância em graus até o Meridiano de Greenwich) e a latitude (distância em metros da superfície média do mar até o centro do ponto). O escritor e ex-prefeito de Jacareí, Benedicto Sérgio Lencioni, não tem dúvidas de que o marco zero de Jacareí fica na Praça Conde de Frontin. Segundo ele, a importância do marco é o fato de ser a principal identificação geográfica da cidade. “Todas as distâncias partem desse ponto, mas, em Jacareí, ele permanece enterrado”. Lencioni diz que o marco é a maneira

de as pessoas conhecerem melhor a cidade. Ele acredita que o ponto geográfico pode virar uma atração turística em Jacareí se estiver, claro, visível e identificado. O escritor e ex-prefeito esclarece que o marco zero não é histórico. No caso de Jacareí, o povoamento da cidade ocorreu nas proximidades da Igreja Matriz Imaculada Conceição e Igreja do Avareí. Obras – Na primeira gestão do prefeito Marco Aurélio de Souza (PT) (2001 – 2004), a praça Conde de Frontin passou por uma grande reforma. Ao ver os tapumes em volta da praça, Cambuzano procurou desesperadamente o encarregado da obra. Ele pediu que o empreiteiro tomasse todo cuidado ao passar com a máquina pelo local em que tirou a fotografia há 61 anos. Cambuzano indicou direitinho o lugar e esperou pelo final das obras. Ao ser concluída a reforma, o marco zero de Jacareí foi deixado debaixo do piso da praça central da cidade. Interesse – O vereador Hernani Barreto (PT) disse que conhecia a história do marco, mas não tinha tomado providência porque havia outros vereadores interessados no assunto. Ao ser procurado pela revista, ele se comprometeu a inteirar-se melhor do fato para tomar possíveis providências. Hernani explicou que, se não tiver nada em andamento na Câmara Municipal, fará uma indicação ao prefeito Hamilton Mota (PT) para que a prefeitura reedifique o monumento.


Segundo Benedicto Sérgio Lencioni,, a importância do marco é o fato de ser a principal identificação geográfica da cidade. “Todas as distâncias partem desse ponto, mas, em Jacareí, ele permanece enterrado”.

Mir Cambuzano: “pessoas passam pela praça e não sabem da existência do marco zero de Jacareí”


afUNdaNdo o PedaL:

ciclismo conquistas bons resultados Jacareí quer retomar auge do ciclismo mesclando ciclistas experientes como Mauro Aquino com novos talentos Da esq.: Elton, Mauro, Matheus e Larissa: sonho de medalha olímpica

Os irmãos Larissa Castellari, 16 anos, e Matheus Germanio, 17 anos, mudaram da natação para o ciclismo. Eles foram atraídos pelo Projeto Ciclismo Futuro, do Clube Jacareí de Ciclcismo, que começa apresentar seus primeiros resultados. Em pouco mais um ano de trabalho, foram mais de 10 pódios conquistados nas diversas categorias do esporte como: estrada, velocidade, mountain bike e bicicross. Além disso, o Clube contabiliza ainda dois pré-selecionados para seleção brasileira, na modalidade pista. Larissa, um dos destaques da retomada do ciclismo em Jacareí, começou em 2012 no projeto. Desde então, ela foi bronze no Campeonato Brasileiro Júnior, campeã no GP São José dos Campos de Ciclismo, segundo lugar, na velocidade olímpica, e terceiro na velocidade individual, nos Jogos Regionais de 2013. Larissa diz que o bom momento deve-se ao planejamento e a estrutura oferecida pelo Projeto. Germanio começou junto com a irmã e já sagrou-se campeão do Jacareiense de Mountain Bike, foi sexto lugar na Copa Endurance, 6º nos Jogos Regionais e campeão da prova de Duathon do Vale, em São José dos Campos. Ele ocupa a quarta posição no Campeonato Paulista de Mountain Bike, que já teve duas etapas até o momento. Germanio pedala na modalidade mountain bike, além das provas de resistência em estrada. O presidente do Clube Jacareí de Ciclismo, José Eustáquio, diz que o objetivo


do Projeto Ciclismo Futuro é formar novos atletas e criar estruturas para a prática do esporte preferido dos jacareienses. Jacareí é referência no ciclismo desde os anos 80 com atletas de ponta como: Luciano Bruni, Mauro Aquino e Glauber Marques. Ao longo do período, a cidade conquistou 15 campeonatos nacionais de bicicross e dois de mountain bike, lembra Eustáquio. Um dos grandes campeões jacareienses de bicicross, Mauro Aquino, 24 anos, voltou a competir por Jacareí após ser convidado pelo Clube para integrar o Projeto. Ele estava correndo pela cidade de São Bernando do Campo. Aquino, que possui vários títulos brasileiros, paulistas e um mundial, estava parado devido a uma lesão nos joelhos. Em pouco tempo de treino, recuperou-se e já foi medalha de ouro nos Jogos Regionais. O experiente Aquino acredita que os atletas do Clube estarão nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. “A medalha é um sonho, mas todos estão no caminho certo para participar dos Jogos Olímpicos”, acredita o renomado campeão de bicicross. Elton Denner, 19 anos, estava sem bicicleta para pedalar. Sua bike foi roubada, porém a diretoria do Clube o trouxe também para competir através do Projeto Ciclismo Futuro. Com vários títulos no bicicross desde 2008, Denner conseguiu o nono lugar, na categoria velocidade individual, e a quarta colocação no bicicross nos Jogos Regionais. Ele figura entre os cinco melhores do Paulista de Bicicross. Segundo Denner, o convite do Clube de Ciclismo motivou-o novamente a participar das

competições. Segundo Eustáquio, o Clube Jacareí de Ciclismo possui 25 atletas. Ele ressalta ainda a participação de Rafael Alves (velocista), Felipe Custódio (mountain bike), Ozires Gatti, Douglas Nunes, e Geraldo Tadeu (todos masters), além de Rubens Valeriano, um dos melhores do mountain bike brasileiro com três titulos nacionais e duas participações em Olimpíadas, bem como Mauro Aquino que correu nos Jogos Panamericanos Rio 2007. O presidente do Clube de Ciclismo confia nos talentosos atletas em atividades para atrair cada vez mais interessados no pedal

como ocorreu com Larissa e Matheus. Segundo ele, o trabalho é feito com muita determinação dos atletas porque o clube é desenvolvido com orçamento modesto. Eustáquio diz que a equipe de São José dos Campos, um das potências nacionais do ciclismo, possui verba de mais de R$ 1,8 milhão, enquanto os recursos do time jacareiense não chegam a 5% desse valor. MELHORES DO MUNDO - Rubinho Valeriano, atleta do Clube Jacareí de Ciclismo, representará o Brasil na Copa do Mundo de MTB XCO em Pietermaritzburg, na África do Sul. Rubinho é três vezes campeão brasileiro e participou de duas Olimpíadas.

Ciclismo Futuro: Felipe Custódio, categoria sub-23 no mountain bike, se destaca no cenário nacional


JOGOS REGIONAIS: VICE-CAMPEÃO E CINCO MEDALHAS

Com a conquista de cinco medalhas (2 ouro/1 prata/2 bronze) o ciclismo de Jacareí obteve em Caraguatatuba a melhor atuação na competição dos últimos 20 anos. Graças ao trabalho de base que está sendo realizado na cidade unido ciclistas renomados como Mauro Aquino, Rubens Donizete e Thiago Aroeira a equipe conquistou o vice-campeonato no feminino e a terceira colocação no masculino. Muito expressiva a dedicação de Larissa Castelari, que disputou todas as provas (velocidade/resistência/ bmx/mtb) e conquistou duas medalhas. Fato marcante foi a vitória de Mauro Aquino no BMX. A conquista do piloto jacareiense reposicionou a equipe para a disputa da geral por equipes e possibilitou a conquista do bronze. A meta da equipe é estar entre as melhores nos Jogos Abertos, que serão disputados em outubro.

PODIUM - O ciclista da equipe Merida/TMP/ Jacareí, Rubens Valeriano, conquistou a medalha de bronze no Campeonato Brasileiro de MTB, disputado na cidade mineira de Juiz de Fora no fim de julho. Rubinho que defendia o título de campeão Nacional conquistado em 2012, enfrentou forte concorrência de Sherman Trezza e Henrique Avancini. Ao final, o ciclista de Jacareí firmou-se como uma das referências da elite do MTB brasileiro. Em agosto Rubinho participou da etapa canadense da Copa do Mundo, e da Copa Internacional, evento em que luta pelo título geral. LÍDER DA COPA BRASIL DE PARACICLISMO - O Paratleta Marcos Ribeiro (CJC/Cápua Engenharia/IPO-Brasil/Enfil/Veibrás), venceu a 2ª Etapa da Copa Brasil de Paraciclismo em Curitiba/PR. Com o resultado o jacareiense lidera o Ranking Nacional. CAMPEÃO VALEPARAIBANO DE DUATHLON João Viana foi Campeão Geral do Duathlon do Vale, em prova disputada na cidade de São José dos Campos no dia 28 de julho. Carlos Henrique (categoria MTB 16-19 anos) também sagrou-se campeão regional. Jeferson Standke conquistou o vice-campeonato regional (categoria 30-39).

LARISSA É CAMPEÃ DE ETAPA PARA RANKING NACIONAL Larissa Castellari afundou asfalto no GP São José dos Campos, em prova válida para o ranking nacional, e venceu a prova de 40 km frente às meninas do Centro de Excelência, mantido pelo Governo do Estado de São Paulo.

PODIUM NO PAULISTA DE MTB

O time Jacareiense disputou na cidade de Itatiba a segunda etapa do Estadual, no dia 4 de agosto. A prova, com distância de 75 km, reuniu cerca de 300 ciclistas. Felipe Custódio conquistou a segunda colocação na categoria sub-23. Geraldo Pimenta (máster F) foi 2º, e Matheus Germânio 4º na categoria Junior.



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