Revista Evidências - Edição 07

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o que contradiz a teoria de respeito à vida humana. Temos o dever de permitir que a vida se defenda ou termine por si só. Não temos o direito de terminar com a vida, quer sejamos o médico ou o paciente... O ponto que eu gostaria de ressaltar a respeito da eutanásia, do ponto de vista da ética médica, é que: Na ética islâmica, e provavelmente também na cristã, a religião, no sentido da vontade de Deus exercida por meio dos entendimentos que auferimos da cultura religiosa, não apenas protege o ser humano dos outros, mas também de si mesmo. Como não é permissível matar a outros, não é permissível matar-se. O princípio é o mesmo: Respeitar a vida, em ambos os casos. Ele não se aplica ao morto, às plantas ou às coisas inanimadas; proíbe matar um ser humano porque não é permissível exterminar a vida. Portanto, não há diferença entre a vida do outro e a minha própria vida. Essa vida não me pertence. Ela é uma dádiva de Deus e uma confiança depositada em mim e no outro. Não tenho permissão de me matar, bem como de causar a mim mesmo qualquer dano, porque estaria cometendo pecado contra mim mesmo, expondo-me a qualquer dano, físico ou não. É por isso que em nosso parecer jurídico proibimos fumar, o que pode causar câncer, mesmo depois de vários anos. Daí a sentença jurídica (fatwa) que proíbe tudo que causa prejuízo ao corpo.”(10)

se pratica contra si próprio. É uma questão de equilíbrio. Assim, quando se verifica o caso de uma pessoa que não sofre de doença fatal, ela está sendo morta de maneira cruel. E não há diferença entre matança negativa e positiva. O indivíduo tem de preservar a vida dos outros como a sua mesma.”(12)

“Da mesma forma que o Islã considera a sua vida, considera a vida dos outros e aplica em você o que aplica nele.”(11)

“Onde há morte para eu comprá-la, a vida é inútil”.

A partir desse princípio, rejeitamos a eutanásia como forma de misericórdia. A morte é por sua natureza física, cruel, porque tira a vida e transforma a pessoa em coisa. Ela confisca a vida e a existência. Portanto, existe, islamicamente, o direito de se matar, porque o suicídio é pecado: ‘Não cometais suicídio.’ (4:29). ‘...sem permitir que as vossas mãos contribuam para vossa destruição.’ (2:195). Não é permitido ao paciente pedir ao médico uma injeção para terminar com a sua vida, como não é permitido para o médico atender ao apelo, pois não ele tem autoridade sobre a (13) vida de seu paciente.”

Não é dever instalar sistema auxiliar se há certeza de que a pessoa está com morte cerebral

“A moral não pode ser dividida. Não é apenas o que se pratica contra os outros, mas o que

Então, quando aqueles que falam sobre a eutanásia justificam-na devido às dores físicas que atingem o paciente, se legalizarmos isso, como foi legalizado na Holanda, devemos também legalizá-lo para os que sofrem de dores psicológicas e acreditam que a morte para eles é melhor que a vida. É o que deduzimos das palavras do poeta árabe:

Se abrirmos a porta da eutanásia, devemos legalizá-la para a garota que ex-

10 - A Ética Médica e a Ética da Vida – Palestra proferida na Universidade Qadis Yussif, início de março de 2002. 11 - Id. 12 - Id. 13 - Id.

52 - Revista Islâmica Evidências


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