
Sonya Douglass
A luta pela equidade racial nas escolas
revistaeducacao.com.br

Política pública País precisa de um Sistema Nacional de Educação

Violência escolar
Engajamento, para combater o bullying


Sonya Douglass
A luta pela equidade racial nas escolas
revistaeducacao.com.br
Política pública País precisa de um Sistema Nacional de Educação
Violência escolar
Engajamento, para combater o bullying
Educadores divididos, governos de MG e PR confiantes
Neste Dia dos Professores, celebramos quem, com dedicação, paciência e amor, molda mentes e corações. São os professores que inspiram, despertam sonhos e nos mostram que aprender é um caminho sem fim.
Agradecemos a todos os educadores que, junto à Editora do Brasil, transformam o país pela educação!
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uando esta edição estiver em circulação, as eleições terão ocorrido. O ciclo democrático deve continuar e os avanços e recuos da educação integral devem ser considerados como um retrato da nossa sociedade, que certamente precisa melhorar. A mídia cumpriu seu papel, esclareceu com matérias, deu oportunidade de uma análise melhor com os debates. Devemos entender os resultados como o estágio que atravessamos.
Mas as bandeiras de uma educação com equidade, democrática, que forma cidadãs e cidadãos continuarão a ser empunhadas porque os avanços estão longe de incluir todas as crianças e jovens. As prefeituras têm papel primordial na formação das crianças, na alimentação para que possam estudar e assimilar. E as crianças com deficiência deverão receber atenção nas escolas que continuam despreparadas.
Destacamos que esta publicação tem colocado cada vez mais o gênero feminino em nossos textos, afinal, dos mais de 2,3 milhões de profissionais que compõem o corpo docente do ensino básico, 1,8 milhão (79,2%) são professoras. A presença feminina na educação infantil é ainda maior: 97,2%. As informações estão no Censo Escolar 2022 do Ministério da Educação.
Em setembro, realizamos presencialmente no Centro do Professorado Paulista, SP, a 9ª edição do Grande Encontro da Educação, evento da revista Educação que a cada edição fortalece o nosso compromisso com os profissionais da educação. Foi lindo encontrar gestores(as) e educadores(as) que, para além de São Paulo, saíram do Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, por exemplo, para aperfeiçoar o seu trabalho e levar o que foi aprendido para a sua equipe (leia mais na pág. 14).
Eleição, Mês do Professor(a), Enem e dois meses para o final do ano. Mês agitado e também instigante. Nossa equipe deseja um excelente começo de fechamento de ciclo. Nos encontramos em nosso site, redes sociais, podcast e, claro, na próxima e última edição do ano de 2024.
A revista Educação, composta por edições digitais e impressas, site, redes sociais e eventos, é publicada por RFM Editores
Ano 29 - Nº 307 outubro de 2024 ISSN 1415-5486
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Colaboraram nesta edição
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Para finalizar, a privatização de escolas inicialmente em Minas e Paraná, tratada nesta edição, será acompanhada por especialistas e pela nossa redação. Há certezas do lado desses governos, e apreensão por profissionais independentes. Buscaremos trazer esse embate que pode ser um divisor na educação brasileira. Redação
Crédito: Divulgação-SEE
Educação é uma publicação mensal da RFM Editores destinada a mantenedores, educadores e interessados em educação. Esta
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Serão necessários acompanhamento de especialistas externos e transparência na apresentação dos resultados dessas iniciativas de parceria público-privada nas escolas
Divulgação
Estudantes do Colégio Estadual Anibal Khury Neto, no Paraná, o qual faz parte da iniciativa público-privada Parceiro da Escola
Em passagem pelo Brasil, a fundadora do centro de pesquisa Black Education da Universidade Columbia, EUA, destaca que todos possuem um papel rumo à equidade racial e destaca o que pode fazer diferença nas redes de ensino e em cada comunidade
Estratégias coletivas de prevenção e reparação ativa com os estudantes melhoram o clima escolar
Nos EUA, reconhecendo que os estudantes precisam saber mais sobre as mudanças climáticas e agir, agências federais lançam guia sobre alfabetização climática; já o Colorado inaugurou um selo de alfabetização climática incluso nos diplomas do ensino médio
Se aprovado, Sistema Nacional de Educação deve articular esforços entre governo federal, estados e municípios para coordenar trabalhos e gerar resultados que vão da formação docente, infraestrutura e até aprendizagem dos estudantes
Sonya Douglass
Em passagem pelo Brasil, a fundadora do centro de pesquisa Black Education da Universidade Columbia destaca que todos possuem um papel neste enfrentamento e destaca o que pode fazer diferença nas redes de ensino e em cada comunidade
| Por Fernando Leal
Sonya atua também em um plano de equidade em escolas públicas de Nova York. “Mudanças de longo prazo dependem do desenvolvimento humano. São as pessoas que fazem diferença”
Ouvir a professora Sonya Douglass é, antes de tudo, aprender sobre como identificar e enfrentar as desigualdades sociais e raciais que afetam negativamente a educação em tantos países. Mais do que isso: ao final de uma apresentação ou de uma conversa com ela, é impossível não sair com a convicção de que, sim, podemos transformar a realidade atual.
Dedicada há mais de uma década a pesquisas e estudos sobre o tema, Sonya ressalta frequentemente a importância de se passar do diagnóstico à ação, com destaque especial para o trabalho feito dentro das escolas e em parceria com as comunidades. Sobre o atual momento da educação no mundo, a especialista enxerga com otimismo as perspectivas de mudanças, apesar dos desafios. “Eu tenho esperança porque já vejo esse debate acontecer, principalmente entre os mais jovens”, afirma.
Professora do Teachers College da Universidade Columbia, EUA, fundou e coordena o centro de pesquisa Black Education, vinculado à instituição. Publicou cinco livros e é coautora do The politics of education policy in an era of inequality: possibilities for democratic schooling (A política da política educacional em uma era de desigualdade: possibilidades para a escola democrática). Sonya atua no Plano de Ação para Equidade na Educação, financiado com US$ 25 milhões pelo Conselho da Cidade de Nova York, cujo foco é um currículo de estudos negros e um plano de aprendizagem profissional para as escolas públicas da cidade estadunidense.
Confira a entrevista exclusiva realizada no dia seguinte à sua participação.
Apesar de indicadores educacionais evidenciarem a desigualdade racial de acesso e aprendizado na educação brasileira, nem sempre o tema ganha o destaque devido. Como enfrentar o que você chama de discurso “cego para a cor” (colorblind), que adota uma perspectiva neutra em relação à questão racial?
Estamos observando esse movimento em bolsões dos EUA, como na Califórnia, com seu pacote de reparações para estudantes negros. Outros estados também avançam, inclusive com a descolonização do currículo
O primeiro passo é ampliar a consciência e o conhecimento da sociedade sobre o impacto bastante direto da desigualdade social sobre a educação, por meio de pesquisas que evidenciem a relevância do tema. Nos Estados Unidos também observamos uma lacuna de desempenho significativa entre estudantes brancos e negros. Pesquisadores, educadores e formuladores de políticas públicas devem estar conscientes desta questão para que possam apresentar propostas de iniciativas e legislações apropriadas. Mais importante ainda é que as pessoas que trabalham na escola, assim como as famílias das populações atendidas, tenham essa compreensão, para que sejam parte da solução. As comunidades que vivem às margens costumam ser foco de ações de equidade e reformas educacionais, mas raramente são envolvidas como parceiras no desenvolvimento e na implementação das iniciativas.
Qual o caminho para avançar do diagnóstico para a ação, de forma a transformar a realidade?
Também é integrante do Conselho Consultivo do Centro Lemann de Liderança para Equidade na Educação. Sonya Douglass esteve em agosto no Brasil para participar do evento Diálogos para a equidade na educação básica, realizado por Fundação Lemann, Centro Lemann e Núcleo de Estudos Raciais do Insper (Neri).
Quando se fala em equidade, é essencial assegurar que todos tenham garantido o direito básico à educação. Este é um dos valores centrais que devem orientar as decisões, que, por sua vez, será determinante para a abordagem utilizada e o impacto alcançado. Se a educação é um direito, como acontece no Brasil, é preciso discutir o que isso significa na prática, em termos do que cada criança
Sonya Douglass
“A democracia é como um músculo: se você não usa, acaba perdendo”, analisa Sonya Douglass
deve receber por meio do ensino. É preciso quantificar os recursos financeiros necessários, por exemplo, e discutir aspectos como qualidade dos conteúdos e do ambiente de aprendizado, que deve ser acolhedor e promover a criatividade e a inovação.
É desafiador e sei que não será fácil, mas acredito que há uma janela de oportunidade: as pessoas estão prestando atenção. Precisamos aproveitar essa oportunidade para pensar sobre por que os estudantes negros são segregados do sistema educacional, e ampliar a consciência pela transformação. Eu tenho esperança porque já vejo esse debate acontecer, principalmente entre os mais jovens.
Nesse sentido, a contratação e formação de professores é uma questão-chave: devemos avançar na direção da diversidade e da capacitação antirracista, de modo que os educadores tenham condições de incorporar o tema às práticas cotidianas em sala de aula.
E vamos conversar diretamente com as comunidades negras e descobrir o que as escolas devem fazer pelos seus filhos. Provavelmente, ouviremos que querem professores que entendam como ensinar seus filhos e apreciem e reconheçam sua cultura. De modo geral, estudantes negros, famílias, educadores, líderes comunitários e especialistas
devem ser engajados como parceiros no movimento de transformação educacional — para criar um ambiente em que possamos trabalhar juntos a favor das crianças. Mudanças de longo prazo dependem do desenvolvimento humano. São as pessoas que fazem diferença.
Qual o papel das lideranças políticas e dos gestores púbicos?
É preciso ter alguém que facilite, mobilize e organize a comunidade escolar. Para isso, a liderança deve ter visão clara do que se quer alcançar, seja no nível da escola ou do município. São pessoas preparadas para liderar a comunidade escolar com capacidade para analisar dados, compreender as questões que envolvem o currículo, saber como supervisionar professores de forma eficiente e perceber se alunos de certos grupos sociais não estão tendo acesso ao mesmo tipo de experiência que os demais. Por isso é tão fundamental desenvolver e treinar novos líderes, para que sejam aqueles que vão ajudar e dar apoio às comunidades negras, inclusive mobilizando as famílias para que defendam o que é importante para as crianças.
Ao mesmo tempo, há os obstáculos externos à escola. De que forma enxerga a relevância de fatores históricos, sociais e políticos?
Está tudo conectado e é por isso que a educação é uma área tão difícil. Envolve todo mundo, muitos grupos de interesse e outras áreas que de alguma forma interagem com a educação e impactam o processo de ensino.
Embora haja locais que, ao mesmo tempo, estejam proibindo certos livros e tópicos, é emocionante ver a mudança ocorrendo em vários estados
A educação é frequentemente vista como solução para os problemas da sociedade, mas, na verdade, é preciso criar um sistema e uma estrutura social que deem suporte ao trabalho das escolas.
Passando das políticas públicas para a sala de aula e pensando no professor em seu dia a dia: é possível implementar uma abordagem antirracista localmente?
Se você me pergunta se os professores podem fazer tudo sozinhos, não acho que seja justo pedir isso a eles. Mas, com certeza, as crianças em sala de aula vão se beneficiar de um posicionamento e de um compromisso antirracista do professor. É disso que se trata a educação: informar, impactar e moldar a forma de pensar das novas gerações, para que tenham uma visão crítica destas questões. Hoje temos uma geração que entende a história e seu papel na sua comunidade e no seu país,
É preciso ter alguém que facilite, mobilize e organize a comunidade escolar. Para isso, a liderança deve ter visão clara do que se quer alcançar, seja no nível da escola ou do município
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Sonya Douglass
e que pode vivenciar a experiência de contar com um professor que dá apoio e valida isso.
Cada um de nós tem um papel a desempenhar na luta pela equidade racial na educação. Trata-se de um desafio de grandes proporções que demanda o envolvimento de todos. Como no esporte, com jogadores diferentes com funções diferentes, mas trabalhando juntos para vencer o mesmo jogo.
À medida que esclarecemos o que constitui cada papel e desenvolvemos as pessoas para desempenhá-los, incluindo os professores, para serem antirracistas, e garantindo que sejam apoiados por lideranças também antirracistas, aí então aumentamos a chance de levar a educação numa direção de maior equidade.
Os professores e as escolas, muitas vezes, têm dificuldade em lidar com casos de racismo, até pela preocupação de educar antes de punir. Qual a melhor maneira de lidar com isso?
As medidas legais são, talvez, uma atitude extrema, mas necessária, para transmitir a mensagem de que o
A educação é frequentemente
vista como solução para os problemas da sociedade, mas, na verdade, é preciso criar um sistema e uma estrutura social que deem suporte ao trabalho das escolas
racismo não é tolerado. A solução também envolve articular um conjunto de valores que evidenciem que este não é o comportamento correto, que não é assim que se deve tratar as crianças ou lidar com as questões de raça. Mas isso requer uma abrangente mudança cultural e leva tempo. Este é um aspecto crucial que demonstra a dificuldade do trabalho antirracista e pela equidade racial na educação.
Como impulsionar a implementação de um currículo decolonial?
De fato, é importante desenvolver um currículo de estudos negros, seus valores, sua cultura e as contribuições importantes para o seu país. Esse processo começa por descolonizar o currículo no ensino superior, porque são as informações que professores e educadores utilizam na prática de sala de aula. É animador ter estudantes e jovens pesquisadores nas faculdades demandando a descolonização do currículo.
Que avaliação faz do momento atual das escolas nos Estados Unidos em relação aos temas raciais?
Há mudanças importantes no currículo da educação básica. Estamos observando esse movimento em bolsões dos Estados Unidos, como na Califórnia, com seu pacote de reparações para estudantes negros. O principal é o compromisso de ensinar a história afro-americana. Outros estados também avançam no compromisso com a igualdade e a diversidade, inclusive com a descolonização do currículo.
Embora haja locais que, ao mesmo tempo, estejam proibindo certos livros e tópicos, é emocionante ver a mudança ocorrendo em vários estados. E nossa esperança no centro de pesquisa Black Education é sermos capazes de fornecer o apoio às escolas e aos distritos que desejam descolonizar seu currículo, que desejam fazer algo diferente.
A ética democrática não é perfeita. Mas a democracia é como um músculo: se você não usa, acaba perdendo. Os momentos de mobilização, em que as pessoas dizem ‘eu posso participar e isso faz diferença’, é o que nos mantém esperançosos, animados e engajados. Isso é uma das coisas que ainda me entusiasmam nos Estados Unidos e espero que também inspire jovens de todo o mundo a lutar por equidade e justiça.
Com um público de diferentes estados e renomados palestrantes, evento presencial da revista Educação se fortalece enquanto parceiro da formação continuada
Como o nome diz, o evento foi um momento de encontro entre quem atua na área da educação. Na imagem, público tira foto com a escritora Madu Costa (blusa verde e de costas)
Profissionais da gestão, coordenação e docência de diferentes estados ouviram os alertas de Carlos Nobre, cientista e climatologista brasileiro Nobel da Paz — por meio de um trabalho coletivo de mudanças climáticas — durante a 9ª edição do Grande Encontro da Educação, que aconteceu em 25 e 26 de setembro. Organizado pela revista Educação, o evento presencial foi realizado no Centro do Professorado Paulista, sede central, em SP, e o certificado de participação tem o
nome da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, da USP de Ribeirão Preto. A psicanalista Vera Iaconelli e o educador referência em educação infantil Paulo Fochi também marcaram presença, além de outros renomados pesquisadores(as) e educadores(as).
Em seu painel, Carlos Nobre fez um panorama da situação atual e destacou a necessidade de mudanças rápidas: “O Brasil tem todas as condições de ser o primeiro país a zerar as emissões [de gás carbônico]. Mais de 70% das emissões globais são pela queima de combustíveis fósseis. Já no Brasil, em 2022, 50% das emis-
sões foram de desmatamento”, disse. Desta forma, o país pode chegar a zerar as emissões — isso porque a política brasileira é de zerar o desmatamento de todos os biomas até 2030.
Saúde mental docente também teve destaque no Grande Encontro. “Se acharmos que todos vão resolver os problemas da humanidade, a gente não vai sair do lugar.” É o que orientou Vera Iaconelli, psicanalista, mestre e doutora em psicologia, sobre a necessidade de os professores e professoras ouvirem os seus estudantes, mas terem a consciência de que não devem resolver todos os problemas sozinhos. Por exemplo, o professor deve articular e encaminhar a questão de um aluno para quem realmente possa ajudar a resolver essa situação, como a família e/ou profissionais de saúde.
Diante disso, Vera Iaconelli indicou que é importante ter espaços horizontais de escuta dentro das escolas. Ela ainda ressalta que um dos processos mais curativos da psicanálise é o de nomeação de nossos problemas, já que assim os legitimamos e nos sentimos reconhecidos.
Para a referência em IA
Dora Kaufman, a pior
medida é proibir o uso de tecnologia na sala de aula, pois, assim, os alunos são privados de aprender e interagir com ela da melhor forma possível
O doutor em educação Paulo Fochi falou no painel O pensar criativo na educação. Para educar para a criatividade é preciso criar espaços propícios para isso, incentivou. Um fator importante é o espaço para o silêncio e a contemplação — algo que, para os adultos, sobretudo com o uso das tecnologias, começa a ser algo incômodo. “A gente não tolera o vazio, o silêncio”, analisou Fochi. Carolina Luvizoto, gerente de educação da Faber-Castell, também destacou a importância da aprendizagem criativa, e incentivou o público a “pensar em projetos que permitam que eles [estudantes] imaginem; estou criando espaço para que eles criem efetivamente a partir de suas emoções?”
Na escola, há diferentes problemas de convivência –e tratar todos da mesma forma, considerando-os como violência, pode ser perigoso. Isso porque problemas como o bullying, por exemplo, possuem características próprias e exigem um olhar diferente e ações específicas para seu combate. Foi o que defendeu Luciene Tognetta, doutora em psicologia escolar, durante o painel Conviver em sociedade, sempre um desafio. Cesar Callegari, sociólogo e consultor educacional, também participou do painel com Tognetta. Em sua fala, destacou que a escola é um reflexo de um quadro de violências do país. “Essas violências nascem, no meu ponto de vista, principalmente de um processo de construção de desigualdades através de um sistema de exclusão social”, analisou. Destacou que o Brasil é muito desigual sob diversos pontos de vista — de distribuição de renda, racial e cultural, por exemplo. E que a exclusão também ocorre na educação. “O sistema educacional brasileiro é, no meu modo de entender, propositalmente um sistema
de exclusão. A escola reproduz o processo de exclusão da sociedade brasileira”, afirmou.
Diante dos avanços tecnológicos, inteligência artificial (IA) na educação não ficou de fora. “Nós, educadores, não temos outra opção; os alunos de qualquer que seja o nível estão usando essas tecnologias”, destacou Dora Kaufman, pós-doutora e referência em impactos éticos e sociais da IA. Para ela, a pior medida é proibir o uso de tecnologia na sala de aula, pois, assim, os alunos são privados de aprender e interagir com ela da melhor forma possível.
Já para Alexandre Sayad, consultor da Unesco em educação midiática, colunista na revista Educação e mestre em IA e ética, hoje, estamos rodeados por algoritmos, e na
escola não é diferente: “O primeiro ponto que todo educador deve pensar na escola sobre IA é o que ela é, e mais do que isso, onde ela está para os alunos e professores”.
Para o psicanalista e pedagogo Geraldo Peçanha de Almeida, vivemos em um mundo de incoerências, cujos adultos criaram as telas, mas desejam a rapidez e agilidade das outras gerações. Geraldo acrescentou em sua participação no evento: “Competências socioemocionais são importantes, mas todos os problemas que a geração de hoje tem são causados por nós”. Ele pontua que se queremos falar sobre essas competências é necessário entender quais são as dificuldades que encontramos dentro de cada um de nós, e que não podemos continuar brincando de fazer essas competências. “Como vou exigir que uma criança entenda o problema do outro, se o outro não entende o problema dela?”, questionou sobre o desenvolvimento dessas habilidades nas crianças e adolescentes.
Educação inclusiva, anticapacitista e antirracista: a importância de enxergar cada um e trazer todos(as) também foi destaque. Já a fundadora do Instituto Vidas Negras com Deficiência Importam e educadora Luciana Viegas reforçou que o trabalho conjunto é fundamental: “Educação inclusiva não se faz sozinha. E quem o faz adoece”. Já a literatura é a ferramenta antirracista da escritora Madu Costa: “De forma lúdica, a gente traz elementos das africanidades para trabalhar com as crianças na mais tenra idade”.
Avaliar as habilidades socioemocionais dos docentes é essencial para entender o panorama e fazer um mapeamento. Ouvir o professor, fazer entrevistas e aplicar instrumentos podem ajudar a formar melhor os professores e dar o apoio de que eles precisam, orientou Karen Teixeira, doutora e mestre em psicologia, gerente de pesquisa e membra do eduLab21, o laboratório de ciências para educação do Instituto Ayrton Senna. “Se eu não faço essa avaliação, não consigo apoiá-los no que eles precisam…a avaliação serve para dar a voz para o professor”, pontuou. Os dois dias de evento contaram com dois espetáculos da Uniu — escola de dança, movimento e arte, além de oficinas com a Faber-Castell, apoiadora principal do evento. Entre os apoiadores também estão as seguintes empresas: Prime Educational Solutions, VTest for Schools, Instituto Ayrton Senna, Ciranda Cultural, Bureau Vanguarda Empresarial, entre outros.
Professora autista defende que a educação de pessoas com TEA deve se distanciar das limitações e focar nas habilidades
| Por Damaris Silva
Em O cérebro do autista: pensando através do espectro (ed. Record), Temple Grandin nos convida a repensar o autismo, destacando a diversidade de formas de pensar e viver. Seu alerta contra rótulos rígidos, como os do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), é um ponto de partida fundamental para refletirmos sobre a inclusão no ambiente escolar. O autismo, nos lembra Grandin, é um espectro repleto de nuances, e compreender essa diversidade é essencial para que a educação realmente acolha todos os estudantes.
Entre 2022 e 2023, o número de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em salas de aula no Brasil cresceu 50%, chegando a 607.144 matrículas, segundo o Senso da Educação Básica. Esse aumento traz desafios e oportunidades: estamos, finalmente, abrindo espaço para que alunos neurodivergentes sejam parte integrante do ambiente escolar regular. Contudo, a inclusão demanda mudanças estruturais e estruturantes nas práticas pedagógicas.
Grandin, autista, professora universitária e Ph.D. em zootecnia, nos provoca a ir além dos estereótipos e focar nas habilidades. Sua própria experiência é prova de que, com apoio adequado, os estudantes com TEA podem não só participar, mas prosperar. No entanto, muitos sistemas educacionais ainda enxergam o aluno autista mais pelas suas limitações do que por suas potencialidades.
A transformação de uma escola regular em uma escola inclusiva não é um processo automático. Colocar essas crianças em salas regulares sem repensar as práticas de ensino, sem suporte adequado aos professores e sem adaptar o currículo às diferentes formas de aprendizado é, na verdade, uma exclusão velada. Para que a
inclusão seja significativa, é imprescindível investir em formação continuada e criar políticas que ofereçam apoio pedagógico especializado.
A psicóloga Luciana Elias, em entrevista ao Jornal da USP, ressalta que o diagnóstico deve ir além de identificar dificuldades, reconhecendo também os recursos e habilidades do indivíduo. Com essas informações, é possível direcionar intervenções que ofereçam tanto desafios quanto experiências de sucesso, essenciais para o bem-estar dos jovens autistas. Isso cria um ambiente em que eles podem desenvolver confiança e potencial, promovendo um crescimento equilibrado que vai além das limitações percebidas.
E aqui surge uma reflexão importante: criar espaços escolares adaptados para acolher estudantes com TEA não traz impactos negativos para os alunos sem deficiência. Pelo contrário. Um ambiente desenhado para ser acolhedor e respeitar as diferenças beneficia a todos. Quando criamos uma escola que valoriza a diversidade, construímos uma cultura de solidariedade, cooperação e respeito. Não se trata apenas de incluir o aluno neurodivergente, mas de criar um espaço em que todos se sintam parte.
A diversidade, longe de fragmentar, fortalece o aprendizado, ensinando os alunos — neurotípico ou neurodivergente — a conviverem com realidades distintas, plurais.
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No Paraná, 179 escolas serão incorporadas ao programa, que transfere a empresas da área da educação a gestão administrativa de escolas — a iniciativa começou em 2023 em três escolas. Fotos do Colégio Estadual Anibal Khury Neto
Serão necessários acompanhamento de especialistas externos e transparência na apresentação dos resultados dessas iniciativas de parceria público-privada nas escolas
| Por Marta Avancini
Em nome da melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem começa a ganhar espaço iniciativas de compartilhamento da gestão de escolas públicas com empresas ou organizações sociais, também chamadas de privatização, em pelo menos três estados brasileiros.
A partir de 2025, 80 escolas estaduais de Minas Gerais integrarão o Projeto Somar, criado em 2021 como piloto em três unidades, cuja gestão administrativa passou a ser feita por uma organização social que venceu o edital. No Paraná, 179 escolas serão incorporadas ao Parceiro da Escola, projeto de parceria público-privada que transfere a empresas da área da educação a gestão administrativa de escolas — a iniciativa começou em 2023 em três escolas.
Em São Paulo, por sua vez, o resultado da concorrência para o Novas Escolas deverá ser anunciado em novembro. A previsão é que a empresa vencedora construa 33 unidades escolares para atender 35 mil alunos dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio em 29 municípios do estado. As empresas vencedoras assumirão a gestão dessas escolas por 25 anos.
Cada iniciativa tem seu desenho específico, mas há aspectos comuns entre elas. Primeiro, a entrega da gestão administrativa a terceiros, a fim de torná-la mais eficiente. A tese é que, ao liberar o diretor das obrigações com manutenção e pessoal, há mais espaço para cuidar do pedagógico.
O segundo ponto comum é que, geralmente, os contratos preveem repasses com base em um valor per capita (ou seja, por estudante matriculado) e contra-
Em Minas, a equipe de gestão do Projeto Somar possui três vice-diretores: pedagógico, administrativo e relações comunitárias, que faz a ponte com as famílias e a sociedade
partidas relacionadas à melhoria do desempenho nos indicadores e avaliações oficiais, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). No Paraná, as empresas gestoras recebem R$ 800 por aluno. Em Minas, a remuneração per capita no primeiro semestre de 2024 foi de R$ 5.470,96.
Embora as parcerias público-privadas não sejam novas na educação — nos Estados Unidos, as escolas charter (instituições públicas administradas por entidades privadas) surgiram nos anos 1990 e há registros desse tipo de parceria no Brasil durante os anos 2000 —, a proposta é polêmica e divide o campo da educação.
De um lado, estão aqueles que defendem essas iniciativas sob a justificativa de que é preciso aprimorar a gestão das escolas e redes de ensino, tornando-as mais eficientes do ponto de vista administrativo e dos resultados nas avaliações. Do outro, há aqueles que veem nessas medidas um risco à escola pública, pois ela passa a ser submetida à lógica e a interesses privados, além do risco de elas ampliarem desigualdades.
Porém, em meio ao debate, o que já se sabe sobre essas experiências? Quais são as motivações das Secretarias de Educação para optar pelas parcerias? Já existem resultados? E quais as possíveis consequências e desdobramentos dessas iniciativas? Para responder essas perguntas, é preciso olhar mais a fundo os casos de Minas Gerais e Paraná.
Desde 2021, a Associação Centro de Educação Tecnológica do Estado da Bahia (Ceteb) assumiu a gestão de três colégios da rede estadual de Minas Gerais: a Esco-
“Temos necessidade de escolas grandes, que atendam a população de forma mais rápida. E o privado consegue entregar isso dentro do padrão”, pontua João
Luiz Giona, diretorgeral da Secretaria de Educação do Paraná
la Estadual Francisco Menezes Filho e Maria Andrade Resende, ambas em Belo Horizonte, e a Escola Estadual Coronel Adelino Castelo Branco, em Sabará, região metropolitana da capital mineira.
No Paraná, o Parceiro da Escola foi lançado no primeiro semestre de 2023, transferindo para empresas a gestão administrativa de duas escolas, o Colégio Estadual Aníbal Khury, em Curitiba, e o Colégio Estadual Anita Canet, em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba.
Tanto em Minas quanto no Paraná, os projetos foram implementados como piloto, ou seja, em poucas unidades escolares, com o objetivo de testar a metodologia. Sendo os resultados avaliados como positivos pelas Secretarias de Educação, nos dois estados as iniciativas foram transformadas em programas a serem implementados a partir de 2025.
Em Minas, as três escolas do Somar melhoram no Ideb 2023 em comparação com todas as edições anteriores e superam a média estadual de 4,0 pontos no ensino médio. Além disso, as taxas de aprovação superaram a marca dos 95%, a reprovação caiu e a frequência dos estudantes aumentou. Na escola Coronel Adelino, de Sabará, por exemplo, a frequência passou a 98%, segundo dados da Secretaria.
Outro resultado considerado positivo é o aumento da participação de estudantes, familiares e docentes nas atividades previstas no calendário escolar: na Francisco Menezes Filho, a participação da comunidade passou de 23% para 34% no ano passado.
Já a Secretaria de Educação do Paraná enfatiza o alto índice de aprovação das famílias dos estudantes, acima de 90%.
A principal explicação das Secretarias de Educação para esses resultados é a mudança da gestão. Embora cada experiência tenha suas especificidades, em Minas e no Paraná, um dos argumentos centrais em defesa da gestão compartilhada é a vantagem da separação entre a gestão administrativa e a gestão pedagógica.
No Paraná, o Parceiro da Escola surgiu de um diagnóstico sobre o papel do diretor escolar. “A gente sabe que o foco do diretor nas atribuições pedagógicas é determinante para os resultados de uma instituição de ensino. E o diagnóstico foi que, para dar espaço para o diretor se concentrar nessas atribuições específicas, a única alternativa seria desonerá-lo de encargos administrativos”, explica João Luiz Giona, diretor-geral da Secretaria de Educação do Paraná.
Claudenir:
“O diretor-geral passa a ter uma função estratégica. Não é mais aquele que tem que cuidar da merenda, da portaria e atender mãe”, diz Claudenir Machado, superintendente da Ceteb, que assumiu a gestão de três escolas mineiras
“Privatizar seria se alguém financiasse e gerenciasse as escolas. Mas não é isso que acontece. As escolas continuam sendo financiadas e funcionando segundo as normas do poder público”, diz a pedagoga
Em Minas, o Somar vai numa direção semelhante. “O diretor-geral passa a ter uma função estratégica. Não é mais aquele diretor que tem que cuidar da merenda, da portaria e atender mãe. Ele passa a ter uma visão estratégica do todo, atua como um apoiador dos processos”, relata Claudenir Machado, superintendente da Ceteb, que assumiu a gestão de algumas escolas.
Para assegurar esse lugar ao diretor, a equipe de gestão do Somar possui três vice-diretores, cada um responsável por um setor: pedagógico, administrativo (manutenção e funcionamento da instituição no dia a dia) e relações comunitárias, que faz a ponte com as famílias e a sociedade, busca parceiros estratégicos, entre outras funções. Completam a equipe gestora dois coordenadores pedagógicos, encarregados de fazer chegar na sala de aula o que está nas diretrizes curriculares e no planejamento, um psicopedagogo e um psicólogo, que circulam nas escolas para dar suporte aos estudantes.
Outro diferencial, na visão de Claudenir Machado, é o plano de trabalho, que prevê acompanhamento trimestral. “Coletivamente, as escolas construíram sua missão, sua visão, seus valores e começaram a trabalhar com um plano de ação associado às definições, permitindo que todos trabalhem na mesma direção”, detalha. Entre os objetivos definidos pelas escolas está tornarem-se referência nos estados, desenvolver os estudantes e serem reconhecidas internacionalmente.
O plano de ação se organiza em torno de objetivos trimestrais, sendo um para cada área: pedagógico, ad-
Escola Estadual
Francisco Menezes Filho, em BH, gerida desde 2021 pelo Ceteb, é uma das três instituições que funcionou como piloto Fotos:
ministrativo e comunitário. De acordo com o superintendente da Ceteb, essa lógica permite identificar rapidamente os problemas e buscar soluções — por exemplo, quando o número de alunos com nota abaixo da média é maior do que a meta do trimestre. “A gestão é ágil, não espera o final do ano. As intervenções são feitas durante o ano.”
Do lado da Secretaria de Educação mineira, o Projeto Somar é descrito como uma iniciativa inovadora, alinhada com uma concepção de gestão que atravessa diversas áreas do governo, seguindo um plano com metas e estratégias até 2030. Para a educação, uma das metas prevista é justamente a implementação de “parcerias inovadoras com outros setores”.
A ideia de eficácia também é o que mobiliza o programa Novas Escolas, de São Paulo, cujas empresas vencedoras do edital serão responsáveis pela gestão administrativa das escolas construídas por elas.
Para Vinicius Neiva, secretário executivo da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, o formato proposto torna mais ágil a construção e a administração das escolas, já que uma única empresa se responsabilizará por todos os serviços necessários no dia a dia.
“Hoje, temos um serviço fragmentado em quatro ou cinco contratos diferentes: o vigilante é com uma empresa, a limpeza é outro contrato, a merendeira outro ainda e assim por diante. Tudo gera um custo burocrático que prejudica as escolas. E a legislação não permite fazer uma licitação com vários objetos, o que torna o processo complexo e demorado”, explica Neiva.
Além disso, acrescenta o secretário executivo, os prédios escolares construídos pelas empresas vencedoras do edital deverão ser entregues entre nove e 12 meses, enquanto no formato atual, totalmente sob responsabilidade do poder público, uma escola pode levar até três anos para ficar pronta.
“Temos necessidade de escolas grandes, que atendam a população de forma mais rápida. E o privado consegue entregar isso dentro do padrão”, justifica Neiva, ao explicar que a demanda por escolas muda ao longo do tempo, dependendo das áreas em que a população se concentra.
Enquanto os gestores das Secretarias de Educação veem com naturalidade essa abertura para parcerias com empresas e organizações sociais, pesquisadores da área da educação questionam os efeitos desse tipo de medida, entendidos como formas de privatização e desresponsabilização do poder público em relação à oferta de educação, como estabelece a legislação.
“A chave de análise é que esses processos resultam na transferência da responsabilidade pela educação para organizações privadas, por meio da transferência de ativos, bens e serviços públicos ou pela simples indução à ampliação do mercado, com programas de crédito educativo ou renúncia fiscal para provedores privados”, explica Theresa Adrião, professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), considerada uma das principais especialistas no tema. Segundo ela, existem vários tipos de privatização, podendo assumir o contorno de convênios, parcerias público-privadas ou a transferência da gestão para organizações privadas ou sem fins lucrativos, entre outros.
Em linha com esta perspectiva, a pesquisadora Karine Morgan, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), reforça que a privatização de escolas se dá por meio de “processos de subordinação de interesses”. “No caso da
Para Karine Morgan, da UERJ, a privatização de escolas se dá por meio de “processos de subordinação de interesses”
Minas Gerais tem desde 2021 o Projeto
Somar; o Paraná começou em 2023 com o Parceiro da Escola. Já São Paulo anunciará o Novas Escolas em novembro deste ano
educação, ocorre quando os interesses da escola são submetidos aos interesses das empresas ou organizações às quais elas estão associadas”, complementa Karine, que é também professora da Faculdade de Educação da UERJ.
A subordinação dos interesses da educação, da formação das crianças e adolescentes, a uma visão de gestão caracteriza-se, por exemplo, nas metas estabelecidas nos contratos das organizações e empresas com as Secretarias de Educação. Afinal, um dos critérios para os repasses de recursos é o cumprimento dessas metas, geralmente associadas à melhoria do desempenho dos estudantes e das escolas nas avaliações e indicadores oficiais.
Como argumenta Theresa Adrião, a atividade pedagógica realiza-se em um lugar (espaço escolar) e em tempos que envolvem jornadas de trabalho adequadas aos fins pedagógicos. “Em uma organização complexa como a escola, os processos administrativos respondem aos objetivos que se quer alcançar”, afirma.
“Assim, uma escola que se quer pública, inclusiva e para todos e todas, como previsto na legislação e na Constituição brasileira, não poderia ser ‘administrada’ em resposta a interesses de corporações selecionadas em função do menor preço”, complementa. Por isso, embora seja possível separar a gestão pedagógica da administrativa, tal conduta coloca em xeque a efetivação da educação como um direito de todas as pessoas, analisa a professora da Unicamp.
Essa linha de raciocínio, contudo, não é consensual. A pedagoga Guiomar Namo de Mello questiona a visão de que o compartilhamento da gestão com organizações ou empresa seja uma forma de privatização. “Privatizar seria se alguém financiasse e gerenciasse as escolas. Mas não é isso que acontece. As escolas continuam sendo financiadas e funcionando segundo as normas do poder público”, enfatiza.
Além disso, Guiomar defende a existência de vários modelos de escola, que possibilitem tanto às instituições escolherem como querem se organizar, se querem aderir a determinado modelo de gestão, quanto às famílias decidirem qual é a melhor configuração de escola para seus filhos.
A visão de Claudia Costin, presidente do Instituto Singularidades e ex-diretora global de educação do Banco Mundial, aproxima-se da de Guiomar. “Eu considero bastante factível que exista uma parceria para a parte de construção e manutenção física das escolas. Em contrapartida, há modelos que interferem no pedagógico, mas não necessariamente são ruins, como os modelos que existem na Coreia e na Inglaterra”, defende a analista.
Na Coreia existem as master high schools com dois gestores: um diretor da escola pública que atua em conjunto com um diretor de uma área de tecnologia de ponta para o ensino técnico. “É bem interessante. A Inglaterra trabalha com parceria com as academies, que recebem verbas públicas e a gestão é repassada para uma organização sem fins lucrativos”, exemplifica Claudia.
Porém, usando como referência as escolas charter, Guiomar assinala que este modelo contribuiu para a melhoria de indicadores educacionais em Nova York, mas ela admite que é preciso cuidado na implementação, a fim de evitar, por exemplo, ampliação das desigualdades.
Este é um aspecto analisado por Karine Morgan, da UERJ. Para ela, a experiência das escolas charter demonstra que as parcerias público-privadas na educação contribuem para intensificar desigualdades, pois são geridas por empresas ou organizações que têm o
Theresa Adrião: “Esses processos resultam na transferência da responsabilidade pela educação para organizações privadas”, alerta Theresa Adrião, professora da Unicamp
compromisso contratual de atingir metas e melhorar indicadores. “As escolas charter são, em última instância, escolas públicas que se comportam como escolas privadas. Captam os melhores alunos, assim como as escolas privadas de elite. Não entra qualquer um numa escola de elite privada. Também não entra qualquer um nas melhores escolas charter”, explica.
No caso do Brasil, Karine vê o risco de se criarem ‘ilhas de excelência’ nas redes públicas que atraiam os alunos com desempenho mais alto nas avaliações e excluam aqueles que não se adequam aos padrões e à cultura dos gestores das escolas.
Nesse sentido, um desafio ainda sem resposta é se as parcerias público-privadas podem ser implementadas em larga escala nas redes de ensino, sustentando os bons resultados anunciados pelas Secretarias de Educação.
“O ideal, para saber se os resultados positivos obtidos numa amostra pequena de escolas podem ser projetados numa escala maior, é fazer um estudo controlado. Dessa forma, é possível saber se as conclusões são válidas para sustentar a generalização de um projeto. Também é preciso levar em conta os problemas novos, que surgem quando um número maior de escolas é incorporado”, pondera o professor titular aposentado da Universidade de São Paulo (USP), Romualdo Portela.
Ao mesmo tempo, há percepções positivas sobre as escolas de projetos de parceria público-privada. É o caso do estudante Daniel Aguiar Pacheco, do 2º ano do ensino médio de uma escola do Projeto Somar, o qual conta que adquiriu diversas habilidades: “como a capacidade de fala e melhora nas apresentações, aumento no empenho e dedicação a respeito do trabalho escolar. Uma experiência completamente nova e proveitosa para mim e meus colegas”.
Em Avaliação Socioemocional.
A FTD EDUCAÇÃO, em parceria com o INSTITUTO AYRTON
SENNA, atua junto à METODOLOGIA OPEE ao oferecer um instrumento de avaliação socioemocional* que permite o desenvolvimento dos estudantes a partir de uma metodologia BASEADA EM AUTORRELATO.**
*Exclusivo para escolas da rede privada.
**Avaliação socioemocional para Ensino Fundamental Anos Finais e Ensino Médio.
O crescimento dos jogos de apostas online, como as bets, reafirma a complexidade da regulação de telas no Brasil, discutida atualmente em forma de uma legislação nacional
| POR Alexandre Le Voci Sayad
Ahora do recreio se tornou uma preocupação para famílias e educadores não só por conta do ‘mergulho’ nas telas dos celulares. O pouco dinheiro que levam no bolso, para uma água ou um lanche, tem se dissolvido em jogos de apostas online. O fato de adolescentes menores de 13 anos não poderem, por regulamento interno, abrir conta em redes sociais não impede que o façam. Da mesma maneira, as apostas esportivas online, liberadas desde 2018, são proibidas para menores de 18 anos. Entretanto, o DataFolha registrou que 30% dos jovens do país entre 16 e 24 anos já realizaram algum desses jogos.
As bets, como são chamadas, estão aos poucos fazendo parte do cenário de mazelas sociais — e cabe ao Brasil enfrentá-las, seja com políticas públicas preventivas ou ações punitivas. Até a verba do Bolsa Família tem tido destino das bets. A mesma pesquisa do DataFolha mostrou que a média de valor de aposta por jogador é de R$ 263 por mês.
neon e o som da voz de cantoras como Adele. O crescimento do jogo nos Estados Unidos foi acompanhado de pujança econômica, mas não deixou de lado o fortalecimento do crime organizado, da prostituição, do tráfico de drogas, o endividamento pessoal e a decadência repentina de cidades inteiras, como Atlantic City.
Segundo um relatório da AGA (American Gaming Association), publicado pela revista Forbes, o mercado de jogos de azar ultrapassou nos últimos dois anos US$ 60 bilhões de faturamento nos EUA. Isso inclui roletas, jogos de cartas e, sobretudo, caça-níqueis. Entretanto, são outros dados da mesma pesquisa que aproximam o Brasil de um cenário também distópico. As apostas esportivas movimentaram US$ 7,5 bilhões em receita nos Estados Unidos durante 2022, um aumento de 72,7% em relação ao ano anterior. São justamente empresas norte-americanas e britânicas deste ramo que fixaram seus olhos no Brasil desde 2023. Por volta de 20 marcas nacionais devem mudar de mãos até janeiro de 2025, a partir de quando apenas empresas credenciadas pelo governo federal poderão operar no mercado brasileiro. A americana Flutter, por exemplo, pagou quase R$ 2 bilhões por 56% da brasileira NSX, dona da marca Betnacional.
O argumento de que retirar a tela da criança e do jovem no tempo da escola irá resolver todas as questões mostra-se cada vez mais frágil
A linguagem digital fez com que o glamour e a decadência, que por décadas caminharam juntos em Las Vegas, sejam agora encontrados nos celulares dos brasileiros. Desde 1931, a cultura de jogos ocupou as terras indígenas do deserto do Mojave, no estado de Nevada, Estados Unidos. Não é incomum encontrar por lá transeuntes embriagados pedindo esmolas para comprar uma passagem de ônibus para casa (com os bolsos vazios depois de tanto apostar), sob as luzes coloridas de
O crescimento das bets reafirma a complexidade da regulação de telas no Brasil, discutida atualmente em forma de uma legislação nacional. O argumento de que retirar a tela da criança e do jovem no tempo da escola irá resolver todas as questões mostra-se cada vez mais frágil. Com atrativos que não param de surgir, as questões ligadas ao uso de internet já são culturais. Tratá-las apenas com medidas restritivas é um convite explícito para justamente burlá-las.
Políticas públicas, práticas educativas na escola e ações sistêmicas no entorno da vida do estudante parecem ser uma boa combinação de ações. Para isso, há uma série de fatores interconectados que precisam ser examinados, entre eles:
• O Brasil não regulou as apostas online de maneira efetiva, faltam atribuições para fiscalização e punição, sobretudo no acesso de crianças e jovens. Falta também transparência nos processos de premiação e chances de ganho e na fiscalização de fraudes.
• A saúde pública deve fazer parte do quebra-cabeça: desde janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o comportamento obsessivo associado a jogos eletrônicos como transtorno mental, o chamado distúrbio de games (gaming disorder). Este passou então a ser diagnosticado e receber tratamento especializado.
• Compreender o universo digital como uma linguagem para expressão, mas também com ameaças tal qual o mundo físico, é uma atribuição das práticas de educação midiática na escola. Ações do tipo estão previstas dentro da competência de cultura digital da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), dentre outros, e não são restritas a uma única disciplina. Há um necessário e urgente plano de formação docente a cargo do Ministério da Educação e da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República).
• Também atrelado à questão das bets está a percepção, valorização, administração e compreensão do dinheiro no sistema capitalista, por parte dos estudantes; práticas de educação financeira também devem se debruçar sobre o tema. O Instituto DataSenado apurou que o percentual de apostadores com dívidas em atraso há mais de 90 dias é de 58% das pessoas que gastaram com bets.
• A questão começa a ser levada a sério até por países que têm mercados gigantes de games. A China, o maior deles, decretou um tempo específico para que crianças e adolescentes possam se dedicar a jogos digitais de maneira geral: três horas por semana, limitadas a uma hora por dia, das 20h às 21h, apenas nas sextas-feiras, fins de semana e feriados. A universidade brasileira, por sua vez, deve dedicar mais pesquisas sobre o comportamento de viciados em jogos e como o contato precoce com as bets pode influenciar a vida adulta.
Alexandre Le Voci Sayad é jornalista, escritor e educador. Mestre em inteligência artificial e ética, é consultor da Unesco e apresentador do programa Idade Mídia, no Canal Futura.
Estratégias coletivas de prevenção e reparação ativa com os estudantes melhoram o clima escolar
| Por Ana Gabriela Nascimento
Éprovável que se recorde do nome do colega valentão que importunava na hora do recreio, e se lembre do apelido que ele deu e do quanto você torcia para não ser notada sua presença no pátio. Talvez tenha deixado de ler sua redação em voz alta para a turma, desistido de se declarar para quem gostava ou parado de jogar bola para ter um pouco de paz naquele ano. Pode ser que tenha sido mais sério: sua mãe precisou ir à escola, você foi reprovado ou se machucou tentando brigar. Se isso aconteceu, você não é exceção: 33% das pessoas já sofreram bullying nas escolas brasileiras, segundo uma pesquisa do DataSenado, de 2023.
Mesmo as situações citadas tendo acontecido há anos e hoje podem não parecer relevantes, é importante considerar que a escola era quase o seu mundo inteiro àquela altura. Quantas possibilidades não deixam de ser exploradas quando ir à escola significa se encolher ao máximo para passar despercebido? Tanto que se encolher não estava mais adiantando para um menino de 14 anos que estava em sofrimento intenso por causa das violências homofóbicas, racistas e classistas vivenciadas em um colégio particular do qual era bolsista. Ele se suicidou em agosto deste ano, em São Paulo.
O caso aponta para problemas de saúde pública no Brasil. A taxa de suicídios na faixa etária entre 10 e 24 anos subiu 6,1% a cada ano entre 2011 e 2022 — quase o dobro da média da população geral, 3,7% —, de acordo com levantamento do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fiocruz Bahia (Cidacs). Em 2021, o Unicef estimou que um a cada seis meninos e meninas entre 10 e 19 anos vive com algum transtorno mental no Brasil, mas só cerca de 20% deles recebem tratamento.
Luciana Viegas, fundadora do Vidas Negras com Deficiência Importam: escola deve partir do orgulho e não do capacitismo, da misoginia e do racismo
“Precisamos lembrar que temos índices de violência comparáveis aos de países em guerra. Violência sexual e assassinatos de mulheres, negros e pessoas trans se repetem em intervalos de poucos minutos no Brasil. Digo isso para mostrar que o bullying não começa e nem termina na escola; a desigualdade e as violências do bullying têm eco no valor social. Nossa sociedade ainda precisa aprender a conviver com a diversidade e ser reeducada em termos de equidade”, analisa Rachel Nascimento, professora formadora da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro e mestra em relações étnico-raciais.
Apesar de não ser a origem e nem o destino final de toda a problemática do bullying, a escola ocupa lugar
Se você ou um conhecido estiver passando por um momento difícil, procure o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece atendimento gratuito e sigiloso por telefone (número 188) e pelo site (www.cvv.org.br).
estratégico para modificar a percepção sobre o tema. “Qual relação se estabelece com as diferentes identidades que habitam aquele espaço? A escola deve partir da premissa do orgulho, não da dor. Propor percepções sobre deficiência, sobre as mulheres e sobre a negritude que partam do orgulho e não do capacitismo, da misoginia e do racismo. Assim, apresentamos a potência dos diferentes grupos”, defende Luciana Viegas, pedagoga, especialista em direitos humanos e lutas sociais pela Unifesp e fundadora do Instituto Vidas Negras com Deficiência Importam.
Mas a construção deste caminho de mais equidade e harmonia passa pela superação de ideias que constituem o senso comum e que compõem a cultura de algumas instituições de ensino, voltadas prioritariamente a performance e a resultados individuais. “Se você só é reconhecido e elogiado quando acerta tudo ou atinge determinada nota, naturalmente você vai desejar se enquadrar para ser aceito. Quando a escola faz isso está passando uma mensagem de padronização”, argumenta Luciana Viegas, que é autista e mãe de uma criança autista e, em 2022, integrou a D-30 Disability Impact List da Diversability, lista que destaca líderes globais com impacto no campo da deficiência.
De acordo com a neuropsicóloga e educadora Adriana Fóz, é importante considerar que grandes mudanças estão em curso. “Temos a ingenuidade de achar que a escola vai mudar na velocidade da digitação, mas estamos falando de comportamentos, de novos aprendizados que não se resolvem em um clique.
Pensar em ações que reconectem as pessoas, estimula a professora Rachel Nascimento
“Não se trata de simplesmente instalar mais câmeras e sim de estimular o cuidado mútuo”, orienta a neuropsicóloga Adriana Fóz
As soluções passam por uma reeducação que vai além dos estudantes e tem a ver com toda a comunidade escolar. Desde os professores e técnicos até os trabalhadores da cantina e gestores, todos devem manter a atenção nos estudantes para criar ambientes verdadeiramente acolhedores”, propõe, ressaltando a diferença entre atenção e vigilância. “Não se trata de simplesmente instalar mais câmeras e sim de estimular o cuidado mútuo”, completa.
É nesta perspectiva de prevenção e acolhimento da diversidade que o professor e mestre em educação física Dionleno Rodrigues também acredita. Segundo ele, nas turmas de ensino médio do Colégio Pedro II, no RJ, em que dá aulas atualmente, situações de bullying têm sido cada vez mais raras. “Muitos dos alunos já estudam no colégio desde o ensino fundamental e vêm, de pequenos, aprendendo a enxergar a diversidade como um valor. O bullying perde o sentido nesse contexto” , conta o professor.
Dionleno, que estudou no mesmo colégio em que leciona hoje, destaca a evolução institucional da escola para melhor acolher todos os alunos, com a criação, por exemplo, de um setor interno de atendimento a casos de bullying, e comenta a mudança na percepção do tema trazida por sua atuação docente. “Passei a ter um olhar mais sensível porque me preocupo com o desenvolvimento integral dos estudantes e sei como isso pode afetá-los. Estou sempre aberto para ouvir e proponho trabalhos que estimulem eles a falarem, a se expressarem e se sentirem ouvidos”, explica.
Enquanto investem na prevenção ao bullying para colher resultados a médio e longo prazo, as escolas po-
dem agir nos casos atuais sob a ótica da reparação ao dano causado nas vítimas, em vez da punição genérica aos agressores. “A escola que produz apenas punição a partir do erro está fadada ao fracasso. É preciso exercitar a escuta ativa da vítima de bullying e entender o contexto em que a escola está inserida para pensar soluções melhores”, acredita Luciana Viegas. “Como é que quem pratica bullying repara o ato que fez? Para chegar a essa resposta, a gente não pode silenciar as vítimas, tem de ouvi-las. Nossa sociedade é muito punitivista e a punição, muitas vezes, só aprofunda a sensação de inadequação e de resolução pela violência. A escola precisa pensar junto em ações que reconectem as pessoas”, defende Rachel Nascimento.
Retomando o exercício do início da matéria, talvez você não precise puxar na memória o nome do valentão que importunava os colegas na hora do recreio porque ele era você mesmo. Mas você pode também ter ocupado o terceiro e fundamental papel nas dinâmicas de bullying da sua escola: o de quem assistia às violências acontecerem e não intervinha para que parassem.
“O primeiro passo para combater o bullying é não fingir que ele não existe e trazer o tema para debate. É convocar especialmente os alunos para falarem, porque eles são os principais envolvidos e, a partir disso, pensar estratégias coletivas de enfrentamento do problema”, sugere Dionleno.
Vi um projeto cujas
crianças depositavam em uma caixa as suas tristezas; professores liam e todos pensavam juntos em soluções. O projeto validava, desde cedo, as emoções difíceis que eles sentiam, conta Adriana Fóz
“Proponho trabalhos que estimulem os estudantes a falarem, a se expressarem e se sentirem ouvidos”, conta Dionleno Rodrigues, do Colégio Pedro II, no RJ
O artigo Bullying: comportamento agressivo entre estudantes, do médico Aramis A. Lopes Neto para o Jornal de Pediatria, afirma que “nas escolas onde estudantes tiveram participação ativa nas decisões e organização, observou-se redução dos níveis de vandalismo e de problemas disciplinares e maior satisfação de alunos e professores com a escola”.
Não faltam exemplos de ações que contam com a participação ativa dos estudantes e transformam o ambiente escolar. “Na educação infantil, vi um projeto em que as crianças depositavam em uma caixa as suas tristezas escritas no papel e, ao fim do dia, os professores liam o que estava na caixa e todos pensavam juntos em soluções para aquele incômodo. O projeto validava, desde cedo, as emoções difíceis que eles sentiam. Saber que seriam ouvidos e teriam ajuda estimulava a participação”, conta a neuropsicóloga Adriana Fóz.
Desde materiais didáticos que celebrem a diversidade, passando por oficinas para pintura da escola, saraus e slams, competições esportivas que engajem estudantes em diversas atividades para além dos jogos, excursões para aulas de campo; todas essas ações citadas pelos entrevistados podem ser oportunidades de trabalhar o senso de pertencimento. Para isso, é fundamental a participação de todos, desde responsáveis até a imprensa. “Precisamos trabalhar juntos, em comunidade, porque senão a gente continua culpando a escola por problemas que são estruturais e que não vão ser resolvidos apenas ali dentro. Antes mesmo do bullying, temos de nos preocupar com a formação cidadã de todos que passam pela escola”, orienta a professora Rachel Nascimento.
Nos EUA, reconhecendo que os estudantes precisam saber mais sobre as mudanças climáticas e agir, agências federais lançam guia sobre alfabetização climática; já o Colorado inaugurou um selo de alfabetização climática incluso nos diplomas do ensino médio
| Artigo por Anya Kamenetz, The Hechinger Report
Até os nove anos de idade, Aisha O’Neil cresceu no Parque Nacional de Zion, em Utah, Estados Unidos, onde seu pai era guarda florestal. “Aquele lugar me criou tanto quanto minha família”, conta. Seu amor pelos penhascos de arenito e cavernas do parque se tornou a base de sua paixão pelo meio ambiente e por garantir um futuro no qual seus próprios filhos pudessem desfrutar das mesmas experiências que ela.
Mas O’Neil nunca aprendeu muito sobre mudanças climáticas na escola. O que ela aprendeu veio das notícias, e foi “dramaticamente horripilante”, diz. “Comecei a ver artigos todos os dias — esta cidade está pegando fogo, essas pessoas foram evacuadas.”
Como veterana do ensino médio no ano passado, na zona rural de Durango, Colorado, O’Neil iniciou um grupo estadual de ação climática chamado Good Trouble. Ela e outros estudantes fizeram campanha por uma legislação estadual para criar um ‘selo de alfabetização climática’ que os formandos do ensino médio em todo o Colorado pudessem ganhar.
Graças em parte ao lobby deles, o projeto de lei foi aprovado com apoio bipartidário, e O’Neil se tornou parte do primeiro grupo de estudantes a ganhar o selo em seu diploma nesta primavera. “Uma educação sem fazer referência às mudanças climáticas não é completa”, defende a estudante. “Você não pode dizer que está educando crianças sobre o nosso futuro sem dizer a elas como será esse futuro.”
*Fonte: Inep 2005 a 2023.
_Confira os resultados de alguns parceiros FTD Educação no Ideb 2023:
(PR)
(SP)
(SP)
Melhora do desempenho nas avaliações.
Redução da evasão e reprovação.
Desenvolvimento de habilidades essenciais.
Fortalecimento da gestão escolar e formação de educadores.
Educação transformadora para o município ir além.
*Resultado dos municípios parceiros FTD Educação com base no Ideb 2023. Anos Iniciais Ensino Fundamental.
1° lugar no Estado de SP
Média Nacional Municipal Anos Iniciais Ensino Fundamental (Ideb total 2023)
5,8
*Escala de 0 a 10
A ONU e outras organizações globais identificaram a educação em todos os níveis e em todas as disciplinas como uma estratégia-chave para combater a crise climática. O mundo está passando por uma transição historicamente rápida para energia limpa e infraestrutura sustentável, e a força de trabalho está sedenta por pessoas com as habilidades para fazer o trabalho necessário de mitigação e adaptação climática. As comunidades também precisam de cidadãos capacitados para reagir contra os interesses dos combustíveis fósseis. Mas, até agora, poucos estados têm educação climática abrangente, e a maioria das lições que existem se limitam a aulas de ciências — carentes em áreas como justiça e soluções.
O selo de alfabetização climática do Colorado, que os formandos do ensino médio podem ganhar por meio de uma combinação de cursos e projetos extracurriculares, é uma tentativa de construir apoio para uma educação climática mais abrangente. Os alunos do Colorado precisam fazer pelo menos uma aula de ciências no ensino médio — o que atualmente não é um requisito geral de graduação — e pelo menos uma outra aula que satisfaça os princípios da alfabetização climática. Eles também precisam se envolver em algum tipo de aprendizado ou ação fora da escola. “O estado não pode dizer aos distritos quais aulas oferecer. Isso é para distritos que querem ter algo que seja facilmente reconhecível em todo o estado e além”, disse o senador estadual do Colorado Chris Hansen, que copatrocinou a legislação.
O’Neil, agora caloura na Universidade do Colorado em Boulder, relata que é um bom começo. Seu grupo de estudantes na faculdade está fazendo campanha por novos padrões curriculares estaduais. “Este é o único próximo passo lógico”. Embora o selo climático de alfabetização incentive o aprendizado climático, “precisamos que todos sejam educados, não apenas aqueles que se esforçam”.
Outra tentativa foi exibida no final de setembro. O US Global Change Research Program, com contribuições de agências como o Departamento de Estado, a Nasa e o Departamento de Transporte, lançou um documento chamado Alfabetização climática: princípios essenciais para entender e abordar as mudanças climáticas.
A definição de alfabetização climática a que seus autores chegaram, após 21 meses de trabalho, inclui oito princípios essenciais que estou resumindo aqui:
1. Como sabemos: ciência do clima, observações interdisciplinares e modelagem;
2. Mudanças climáticas: gases de efeito estufa moldam o clima da Terra;
3 Causas: queima de combustíveis fósseis e outras atividades humanas;
4. Impactos: ameaças à vida humana e aos sistemas ecológicos;
5. Equidade: justiça climática;
6. Adaptação: ambientes sociais, construídos e naturais;
7 Mitigação: redução de emissões, zero líquido até 2050;
8. Esperança e urgência: “Um futuro habitável e sustentável para todos é possível com uma ação climática rápida, justa e transformadora”.
Durante a Climate Week NYC, dezenas de educadores se aglomeraram em uma sala no subsolo sob o grande Museu de mármore do Índio Americano, no centro de Manhattan, para ouvir sobre o novo guia. De pé na frente da sala estava Frank Niepold, da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional. Ele atua na educação climática dentro do governo federal há 30 anos e está tão envolvido quanto qualquer um em ajudar esse esforço a ver a luz do dia. “Este é um guia para educadores, comunicadores e tomadores de decisão”, afirmou. “Não estamos falando apenas com professores de sala de aula.”
Esse guia é tecnicamente uma terceira edição. A primeira apareceu em 2008, durante o governo George W. Bush; foi rapidamente atualizada em 2009, quando o presidente Barack Obama assumiu o cargo. Então veio o governo Trump e, nas palavras de Niepold, o pensamento era: “Não tente fazer essa coisa realmente complicada naquela época”. Os esforços recomeçaram depois que Joe Biden foi eleito presidente, muitos novos funcionários que entraram como parte do Inflation Reduction Act deram contribuições para o novo guia — e agora estamos aqui.
*Anya Kamenetz é jornalista e consultora sênior da iniciativa estadunidense This Is Planet Ed do Aspen Institute.
**Esta coluna sobre alfabetização climática foi produzida pelo The Hechinger Report , uma organização de notícias independente e sem fins lucrativos nos EUA focada em desigualdade e inovação na educação.
EDUCAÇÃO E ENTRETENIMENTO. HÁ PRODUÇÕES INÉDITAS NO PAÍS, INCLUINDO DA BCC, VOLTADAS À APRENDIZAGEM EM INGLÊS
Um super streaming* para as crianças e adolescentes aprenderem inglês chega ao mercado pela International School, que de empresa de soluções bilíngue para escolas passa agora a oferecer também edutainment (conceito que une educação com entretenimento) por meio de sua plataforma, o IS Max — há também conteúdo audiovisual para a gestão escolar, professor e família. A fase piloto já aconteceu e o lançamento oficial será ano que vem apenas para as escolas parceiras da empresa.
“É o único streaming voltado à educação bilíngue que nós conhecemos [em nível global], procuramos em muitos lugares. O conteúdo será total-
mente em inglês, sem legenda em português, por exemplo”, conta empolgada Virginia Garcia, pedagoga e vice-presidente da International School.
Consolidada no mercado, a International School já ganhou oito vezes o Prêmio Top Educação, e com o novo produto busca agora chegar à casa das pessoas, construindo uma vivência em inglês para ser compartilhada entre as famílias por meio da TV, celular, tablet e qualquer outro dispositivo.
*O streaming se popularizou no mundo com a chegada da Netflix e desde então diferentes empresas, como as de televisão, estão sendo obrigadas a se atualizarem.
A plataforma IS Max oferecerá vivências em inglês por meio de séries, master classes, fun activities, live content e produções originais exclusivas. Todo conteúdo passa pela curadoria de pedagogos, o que garante que a plataforma seja alinhada à abordagem metodológica da International School. Com isso, outro ponto forte é que se torna um streaming seguro para crianças e adolescentes — com conteúdos sem violência e linguagens impróprias.
“Certa vez li um artigo o qual dizia que ‘crianças e adolescentes podem ser muito protegidos na vida real, mas são abandonados na internet’. O nosso objetivo é dar tranquilidade à família e/ou responsável de que seu filho ou filha não estará à mercê da violência extrema. Não é questão de moralismo, é garantir a parte cognitiva deles de maneira que não sofra choques e maiores problemas”, defende Virginia Garcia.
No IS Max, a produção é nacional e internacional de estúdios consagrados como BBC Learning, Deutsche Welle, Lionsgate, Lego, The Smurfs, TV Pinguim e Motion Pictures Association, entre outros. Há produções da BCC, por exemplo, que nunca foram exibidas no Brasil, sendo exibições exclusivas.
Na plataforma haverá, então, uma espécie de catálogo para que as crianças e adolescentes escolham os recursos que mais os atraem para desenvolver o seu inglês de forma divertida e longe de cobranças.
Educação bilíngue de qualidade em qualquer ambiente. Essa é a meta de Ulisses Cardinot, CEO da International School
Virginia Garcia, vice-presidente da International School: o streaming não será didático, mas pedagógico
Está previsto o lançamento de uma revista para fomentar a capacidade criativa do professor das escolas parceiras da International School. “O streaming não será didático; caso se torne, o sentido da obrigação pode suscitar no aluno a rejeição. Mas ele será pedagógico e com isso abre oportunidade para uso na sala de aula. É livre para ser usado e não será forçado”, explica a vice-presidente.
Haverá, por exemplo, master classes sobre marketing escolar. Para as famílias, Kiko Mistrorigo, cocriador do desenho Peixonauta, orientará sobre desenhos indicados para determinadas faixas etárias.
Inovação, qualidade e audácia estão no DNA da empresa. Tanto que Virginia Garcia conta que a plataforma foi construída e está sendo atualizada para se equiparar a grandes streamings do mercado.
O visionário Ulisses Cardinot, CEO da International School, chama o IS Max de segunda revolução bilíngue. A primeira seria a chegada de sua empresa para transformar uma escola em bilíngue, atuando diretamente sobre o currículo escolar e esquentando o mercado educacional. Agora a proposta não é estar necessariamente dentro do ambiente escolar, uma vez que o foco é a casa e qualquer outro local que possibilite acesso à plataforma. Ou seja, é oportunizar que a educação bilíngue esteja em qualquer lugar de forma leve e instigante.
Evento teve mais de 16 horas de debates, além de visitas a instituições recifenses para o conhecimento de novas experiências
Com a temática Inteligência artificial e inteligência emocional na educação: o que devemos aprender?, a cidade do Recife, PE, foi palco da Jornada Bett Nordeste 2024, versão itinerante da Bett Brasil que aconteceu em 4 e 5 de setembro com correalização do Sinepe-PE (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de Pernambuco).
Nos dois dias, o encontro recebeu dois mil participantes entre representantes de governo, gestores, professores, especialistas, provedores de soluções e mantenedores de instituições de ensino. Foram mais de 16 horas de conteúdo com palestras e painéis de debate que contaram com a presença de mais de 50 palestrantes.
A importância da direção escolar se compreender enquanto liderança e assim não ter sua atuação negligenciada foi destacada por Anna Penido, diretora executiva do Centro Lemann de Liderança para Equidade na Educação. “O foco não é colocar que o diretor pode resolver todos os problemas, mas a direção é figura-chave. Nunca vi uma escola boa — no que diz respeito à qualidade do clima escolar e desempenho escolar — sem uma boa direção, que é quem faz as coisas acontecerem”, destacou.
Intitulado Desenvolvimento socioemocional na formação de educadores e gestores, o painel de Anna também contou com a participação de Karen Teixeira, gerente de pesquisa e membra do eduLab21 do Instituto Ayrton Senna, o qual realizou uma pesquisa com mais de 40 mil docentes buscando saber quais são as competências que eles notam que precisam desenvolver. “Gestão emocional, ou seja, o que faço para regular minhas emoções, foi o mais citado. Como colaborar mais com as famílias e com os professores também foram destaques”, conta Karen.
Divulgação/Bett Brasil
Da esq. para a dir.: Fred Amancio, secretário de Educação do Recife; Claudia Valéri, diretora-geral da Bett Brasil; Andreika Asseker, presidente da Undime PE; e José Ricardo, presidente do Sinepe PE
Segundo Karen, a regulação emocional costuma ser maior entre professores com menos tempo de atuação do que com os mais antigos, provavelmente, devido ao alto estresse da profissão e que leva, inclusive, ao abandono do trabalho. “Professores com mais de 30 anos de carreira são sobreviventes. Não queremos isso, queremos apoiar nas emoções, nas competências socioemocionais”, pontua Karen Teixeira.
“Essa edição da Jornada Bett Nordeste no Recife foi incrível. O evento tem crescido a cada ano, sempre alinhado à nossa estratégia de oferecer cada vez mais conteúdos relevantes, oportunidades de networking, além da chance de conhecer novos produtos e soluções para o mercado de educação”, afirmou a diretora-geral da Bett Brasil, Claudia Valério.
A diretora de conteúdo da Bett Brasil, Adriana Martinelli, pontua que os temas desta edição dialogam com
o cenário atual da educação: “De um lado, temos a inteligência artificial, que levanta mais perguntas do que traz respostas; do outro, a inteligência socioemocional, que nos lembra da importância de focar no ser humano e como vamos lidar com essas transformações”.
Outro tema abordado durante a Jornada foi o suicídio entre jovens e adultos. “As pessoas dão sinais. Mas não vemos porque não nos observamos, muito menos observamos o outro. Não nos olhamos mais, não nos tocamos mais. As pessoas estão abandonando a si mesmas e abandonando o outro.” A frase reflexiva é do psicólogo e professor Rossandro Klinjey, que participou do painel Como saber como está minha autoestima?
Já o secretário de Educação do Recife, Fred Amancio, participou da abertura do evento e ressaltou que a pandemia consolidou a importância da tecnologia digital na educação, permitindo o ensino remoto e a continuidade das atividades escolares. “Foi durante a pandemia que realmente entendemos que, por mais que a tecnologia seja usada, nunca substituirá a importância dos relacionamentos, que são fundamentais para o aprendizado”, afirmou.
Fred enfatizou que a educação envolve não apenas a relação professor-aluno, mas também as interações entre professores e entre os próprios estudantes. “A educação é feita de gente e de relações, e isso é algo que a tecnologia não pode substituir”, disse.
O professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Luciano Meira esteve em um painel voltado à inteligência artificial (IA) e destacou que o ponto primordial é considerar os professores e os gestores escolares no centro do processo. “Qualquer implementação de tecnologia, especialmente algo tão sofisticado
Da esq. para a dir.: Danilo Lopes, analista do Sebrae PE; Bemfica de Oliva, repórter do O povo; Nadine Heisler, diretora do Instituto Domlexia; e Doug Alvoroçado, professor da rede pública do RJ
O psicólogo e professor Rossandro Klinjey participou do painel
Como saber como está minha autoestima?
como a IA, precisa colocar o professor e a gestão escolar no centro das decisões institucionais, garantindo que tudo faça sentido no contexto local”, afirmou.
DE ENSINO RECIFENSES
Uma nova iniciativa da Jornada Bett Nordeste 2024 foram as visitas técnicas guiadas às instituições de ensino do Recife para os participantes do evento, como à Escola Vila Aprendiz, dedicada à educação infantil, e ao Porto Digital, um dos principais parques tecnológicos e ambientes de inovação do Brasil.
“A visita técnica é uma ótima oportunidade de trocas. Pudemos mostrar nossos projetos acontecendo na prática, e ainda constatar que, assim como fomos inspirados ao longo desses 15 anos, também podemos ser inspiração para transformar a escola [em um ambiente investigador]”, comentou a diretora da Escola Vila Aprendiz, Paula Carneiro Leão.
Para o representante do Porto Digital e responsável pela condução da visita técnica, Henrique Steinberg, a experiência com o público da Jornada Bett Nordeste no Porto Digital mostrou a importância das conexões no universo da educação.
Se aprovado, Sistema Nacional de Educação deve articular esforços entre governo federal, estados e municípios para coordenar trabalhos e gerar resultados que vão da formação docente, infraestrutura e até aprendizagem dos estudantes
| Por Luciana Alvarez
Aeducação brasileira opera em redes, com responsabilidades atribuídas a diferentes esferas governamentais — municipal, estadual e federal — que muitas vezes se sobrepõem. Para articular todas elas, promovendo a colaboração e a aplicação mais eficiente de recursos, o Brasil precisa ter um Sistema Nacional de Educação (SNE). Sonhado por educa-
dores desde a década de 1930, sua criação está prevista no Plano Nacional de Educação (PNE) e, atualmente, há projetos em discussão no Congresso. A ideia central é que os destinos da educação nacional sejam decididos de forma conjunta, em um regime colaborativo organizado em câmaras. Enquanto o Sistema não chega, iniciativas pontuais mostram quanto o país ganharia com uma melhor coordenação das redes.
Se ficasse cada um sozinho seria impossível, mas, em conjunto, um grupo de quatro pequenos municípios do interior do Piauí conseguiu fazer avaliações diagnósticas, montar estratégias pedagógicas, dar formação para professores e gestores e, dessa forma, melhorar a qualidade da educação básica local. De 2013 a 2023, a média no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) das quatro cidades — Arraial do Piauí, Cajazeira do Piauí, Francisco Ayres e Santa Rosa do Piauí — subiu de 3,5 para 5,2. “São municípios com poucos recursos e o processo de formação continuada é caro. No sistema de colaboração, o financiamento é otimizado”, explica o professor Antonio Silva, coordenador de dois arranjos educacionais no estado.
A colaboração começou quando Silva era Secretário de Educação de uma rede municipal, conheceu um arranjo feito por um grupo de secretarias no oeste paulista e passou a convidar colegas de cidades vizinhas a fazer acordos. “Fui até os municípios próximos apresentando a proposta. Nossa primeira ação foi criar jogos estudantis regionais, para a gente perceber que era possível fazer um trabalho em conjunto e promover a integração. Depois partimos para o pedagógico propriamente dito”, recorda-se sobre o início do processo, em 2014.
Além do trabalho de convencimento à época, cada vez que há eleições municipais ou um quando um novo secretário de Educação toma posse, os acordos precisam ser repactuados. “Temos de apresentar os indicadores e impactos numa reunião técnica com quem assume, elencar as metas e obrigações, fazer assinar uma carta-compromisso. Num dos grupos, tivemos alteração de 100% dos prefeitos, mas conseguimos manter o trabalho”, comemora o coordenador. Porém, se houvesse um sistema instituído oficialmente, esse tipo de colaboração seria a regra, e não dependeria da boa vontade dos eleitos.
Outra vantagem se houvesse um sistema é que a rede estadual piauiense também entraria no acordo. Talvez o caso de maior sucesso de articulação na educação brasileira seja o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic) do Ceará, um programa de cooperação entre governo estadual e municípios que mais tarde serviu de inspiração para uma iniciativa federal, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic). Segundo o Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece) 2015, 86% das crianças encontravam-se alfabetizadas ao término do 2º ano; em 2007, esse percentual era de apenas 39,9%.
Eliziane Gorniak, diretora-executiva do Instituto Positivo: um espaço oficial de pactuação é importante. “Hoje, os acordos dependem de características regionais e interesses, não é uma política instituída”
“Com uma gestão coordenada, teríamos uma educação verdadeiramente nacional, com melhores condições de ensino e aprendizagem para todos”, defende Eduardo Deschamps, que já foi presidente do Conselho Nacional de Educação
“Hoje, os acordos dependem de características regionais e interesses; não é uma política instituída. Seria importante ter um espaço oficial de pactuação, com câmaras para os estados dialogarem com seus municípios e todos eles com o governo federal”, afirma Eliziane Gorniak, diretora-executiva do Instituto Positivo, que fomenta a criação de arranjos municipais enquanto o país espera pelo SNE. Embora seja um tema ligado à gestão, a instituição de um sistema teria impacto direto na vida dos estudantes e suas famílias. Na Grande Florianópolis, por exemplo, é comum que famílias migrem para o litoral no verão por causa de trabalhos temporários, fazendo com que as matrículas flutuem ao longo do ano letivo. Em conjunto, as redes municipais vêm tentando lidar com essas trocas para manter a sequência de aprendizados, independentemente da cidade em que estejam as crianças. “De forma geral, no Brasil, a gente não tem nem mesmo a unificação de currículos. Se uma criança muda no meio do ano, ela pode ser reprovada simplesmente por não ter visto certo conteúdo”, diz Eliziane Gorniak.
Arquivo pessoal
A instituição do SNE pode levar a um salto de qualidade na educação, defende a diretora, mas não se deve esperar que tenha efeitos práticos imediatamente. “Existem dois projetos em tramitação, mas há uma intenção no Congresso de compatibilizar os dois para podermos avançar. Depois de uma possível promulgação, o país vai então ter de organizar os conselhos, as câmaras, e pode demorar um pouco para os efeitos chegarem até a ponta, mas sem dúvidas será benéfico”, afirma.
Apesar de haver bastante apoio à criação do Sistema Nacional de Educação, na generalidade, a discussão do modelo em que ele vai operar não é simples. “Para uma medida ser aprovada, será preciso haver consenso, ou bastará contar com a aprovação da maioria? E qual vai ser o peso de voto de cada ente federado? Uma rede municipal vai ter o mesmo voto que uma estadual ou que o governo federal?”, questiona Eduardo Deschamps, professor da Universidade de Blumenau, ex-presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) e Secretário de Educação de Santa Catarina (2012-2018). Foi a discordância em torno do poder das câmaras em decidir sobre verbas discricionárias do orçamento (as que não vêm carimbadas para uma ação específica) que derrubou iniciativas anteriores de se criar o Sistema. “Algum lado vai sempre ter de abrir mão de poder, mas vai chegar uma hora em que haverá um acordo porque o país precisa”, defende Deschamps, que é conselheiro editorial da revista Educação. De acordo com ele, quem mais terá de abrir mão de poder será o Ministério da Educação (MEC), que hoje tem muita força econômica para definir projetos, passando aos estados e municípios apenas a execução.
Independentemente da queda de braço, o tamanho e a diversidade do país exigem políticas menos centralizadas, mas que garantam certa unidade. “Quanto mais próximo eu estiver da escola, do professor e do estudante, mais fácil fica fazer a aplicação dos recursos de forma bem direcionada, para aquilo que realmente faz diferença”, diz Eduardo Deschamps. A diversidade brasileira, contudo, não deve significar desigualdade de direitos. Portanto, não adianta apenas transferir a gestão, sem uma articulação nacional.
A aprovação do SNE parece mais próxima porque o país está chegando ao consenso de que o modelo atual está se tornando disfuncional. Nem a suposta divisão de atribui-
Arquivo pessoal
Antonio Silva (à esq.), coordenador de dois arranjos educacionais no Piauí, durante o II Seminário Avaliativo, encerramento do edital Melhorias da Educação, do Itaú Social
ções por esferas, com governo federal respondendo pelo ensino superior, os estaduais pelo ensino médio e os municípios pela educação infantil e fundamental, é uma realidade. O governo federal oferece ensino médio nos Institutos Federais, há governos estaduais e municipais que mantêm faculdades, sem contar a sobreposição estadual e municipal na educação básica, que acontece sobretudo em cidades grandes.
“Em muitos lugares, você tem uma escola municipal próxima a uma estadual oferecendo exatamente a mesma etapa de ensino. Como a população está caindo, elas começam a disputar alunos, porque mais matrícula significa mais verba do Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação]. Já vi casos de escola sorteando bicicleta para quem fizesse matrícula”, relata Deschamps. Mais do que uma competição saudável, essa duplicação gera um desperdício de recursos públicos, pois é necessário manter duas bibliotecas, refeitórios, etc. Para cidades pequenas, o SNE poderia ajudar a educação a operar segundo uma lógica regional. “Temos municípios pequenos em que sua escola de ensino médio tem só uma turma por ano, o que torna caro manter laboratórios, mas também professores. Um professor de sociologia precisa de 16 turmas para preencher a carga horária”, exemplifica o ex-presidente do CNE. Um olhar regional poderia concentrar estudantes e trazer os que moram mais longe. “Com uma gestão coordenada, teríamos uma educação verdadeiramente nacional, com melhores condições de ensino e aprendizagem para todos”, diz.
Atualize seus conhecimentos com as leituras da coleção Sua Carreira em 20 Minutos, elaborada pela Harvard Business Review Press
Maria Thereza Marcilio, da Avante - Educação e Mobilização Social: foco no território e na atenção integral e integrada
HOMENAGEADO – José Vicente
HOMENAGEADA – Fundação Itaú
ACAMPAMENTOS – NR Acampamentos
AÇÃO SOCIAL – Pequenos Leitores/ FTD Educação
BRINQUEDOS EDUCATIVOS – Pimpão
CONSULTORIA EDUCACIONAL – COC Plataforma de Ensino
EDITORA DE LIVROS DIDÁTICOS – Editora do Brasil
EDITORA DE LIVROS DIDÁTICOS DE IDIOMAS – StandFor
EDUCAÇÃO FINANCEIRA – Jovens for Schools
EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA – Nave à Vela
FABRICANTE DE COMPUTADORES/TABLETS E NOTEBOOKS – Lenovo
GESTÃO FINANCEIRA – Isaac
INSTITUIÇÃO DE ENSINO PARA FORMAÇÃO DE DOCENTES – Uninter
LITERATURA INFANTOJUVENIL – Editora Moderna
PROGRAMA AVANÇADO DE INGLÊS PARA ESCOLAS – CNA
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL – Escola da Inteligência
PROJETOS EDUCACIONAIS – Faber-Castell
FACILITIES (CANTINAS ESCOLARES, SEGURANÇA E TERCEIRIZAÇÃO) – Sodexo
SEGURO EDUCACIONAL – Bradesco
SISTEMA DE ENSINO BILÍNGUE – International School
SISTEMA DE ENSINO PARA REDE PRIVADA – FTD SE
SISTEMA DE ENSINO PARA REDE PÚBLICA – Aprende Brasil
SOFTWARES ADMINISTRATIVOS/GESTÃO/HORÁRIOS – Sponte
SOFTWARES EDUCACIONAIS – Árvore
TECNOLOGIA DE AUDIOVISUAL – Epson
TURISMO EDUCACIONAL – CI Intercâmbio e Viagens
Na noite do dia 29 de outubro de 2024 acontece a 17ª edição do Top Educação, um evento dedicado às marcas que estão na cabeça dos educadores brasileiros que acompanham a revista Educação. Este caderno especial do Top traz um olhar diferente: em vez de falar de seus produtos, de suas marcas, as empresas discorrem sobre a educação brasileira.
Os fornecedores de produtos e serviços que estão nesse caderno acompanham de fato o setor educacional — não apenas para o aprimoramento daquilo que oferecem — e a presença deles nas instituições de ensino permite perceber qual a realidade da escola. É sempre bom lembrar que um líder educacional não se impressiona com uma empresa que fala bem de si. Mas certamente respeita aquela que mostra entender de educação, estando pronta para ajudá-lo.
E por falar em ajudar, isso nos traz à lembrança do por que a revista Educação criou o Top Educação: um instrumento para que as empresas possam se medir conforme percebidas no mercado.
Convido todos e todas a lerem o que as marcas disseram à redação da revista sobre a educação brasileira.
Para finalizar, parabéns aos ganhadores, que estejam por aqui no próximo ano, tarefa dura, uma vez que para ganhar é preciso estar forte e capaz de permanecer lado a lado com o cliente e ainda ter recursos para mostrar sua marca — num mundo tão repleto de opções, entretenimentos e com tão pouco tempo para fazer tudo que queremos.
Continuaremos, de nosso lado, aprimorando as edições impressas e digitais da revista em 2025, cuidando do site que hoje tem uma comunidade expressiva, mostrando o que tem de mais relevância para as redes sociais, trazendo a voz de quem importa nos nossos podcasts e não esquecendo dos eventos presenciais.
Um abraço a todos
Edimilson Cardial Fundador e publisher da revista Educação
Ideb 2023: quase 90% dos municípios parceiros do Sistema de Ensino Aprende Brasil elevaram seus índices.
Os números comprovam:
o Sistema de Ensino Aprende Brasil é o parceiro ideal para as redes de ensino dos municípios.
Leve o Sistema de Ensino Aprende Brasil para o seu município. Entre em contato com a nossa equipe. aprendebrasil.com.br
Vencedores
Pela 11ª vez, o Aprende Brasil foi reconhecido como o sistema de ensino mais lembrado para a rede pública no Prêmio Top Educação.
Juntos podemos construir um futuro melhor por meio da educação.
UMA EMPRESA DO GRUPO POSITIVO
Nesta edição do Top Educação, a equipe editorial do prêmio homenageia enquanto personalidade o professor e advogado José Vicente. Já a entidade homenageada é a Fundação Itaú. Confira o impacto de ambos na sociedade.
OJosé Vicente, fundador da Universidade Zumbi dos Palmares
riundo de família rural e nascido em Marília, SP, José Vicente se tornou advogado e doutor em educação. Há quase 30 anos é uma das pessoas mais atuantes na quebra do racismo estrutural e das desigualdades brasileiras. Um de seus marcos é a criação, em 2001, da Universidade Zumbi dos Palmares, na cidade de SP, o qual é o reitor (o primeiro vestibular veio em 2003).
Confira, a seguir, a entrevista (leia a íntegra no site).
O que te levou a fundar a Universidade Zumbi dos Palmares?
Foi a constatação e o inconformismo da exclusão do negro no ensino superior público e privado e a total ausência de qualquer tipo de debate do impacto da discriminação e do racismo nos ambientes educacionais em São Paulo e no Brasil. Na época da fundação da Zumbi, por exemplo, os negros representavam 2% do corpo discente da Universidade de São Paulo (USP).
A criação da Universidade Zumbi dos Palmares foi o ponto de disrupção na condução dessas agendas no nosso país — sendo a primeira e ainda única universidade negra do país e da América do Sul. Foi a partir da sua constituição e experiência que as demais instituições e governo se encorajaram na institucionalização das cotas para negros e outras ações afirmativas. Nos seus 20 de existência, a Zumbi foi importantíssima na sustentação e consolidação do processo das ações afirmativas nas universidades, governos, nas instituições
da sociedade civil, e na arregimentação e sensibilização do ambiente corporativo público e privado.
O que a Sociedade Afro-Brasileira de Desenvolvimento Sociocultural (Afrobrás), criada por você em 1997, tem feito?
A Afrobrás é o organismo social instituidor de todas as ações estruturantes dessa agenda de empoderamento e fortalecimento do negro brasileiro. Por ela se criou e se instituiu a Universidade Zumbi dos Palmares, a Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, o Colégio Técnico Dandara dos Palmares, o Museu da História do Negro, a Virada da Consciência Negra, o Troféu Raça Negra, o Programa Televisivo Negros Em Foco, a FlinkSammpa – Festa Internacional da Literatura Negra, a Corrida da Consciência e o Concurso Estudantil Afrominuto. Além disso, realiza ações de advocacy perante os governos, campanhas e movimentos de transformação social.
Em parceria com a prefeitura, a Universidade Zumbi dos Palmares também integra o projeto do Museu da História do Negro, em São Paulo, SP. Qual a importância de se criar esses espaços?
De forma injustificada e incompreensiva, o país que escravizou os negros por quase 400 anos, nunca se interessou ou se preocupou em inventariar esse histórico que compõe a trajetória histórica e evolutiva do país. As contribuições dos negros para a formação do país e da sua cultura constituiu um legado de incomensurável valor e integra a própria essência do povo brasileiro. Ainda assim, não existe um equipamento museológico constituído com esse propósito. Não existe um Museu Nacional da Escravidão num país que escravizou mais de cinco milhões de pessoas por mais de 350 anos.
Assim, em parceria com a prefeitura e o governo do estado, iniciaremos este ano a construção do Museu da História do Negro de São Paulo que, além de peças e documentos, contará com um centro cultural para proporcionar o convívio, integração e reforço da identidade e da cultura negra com exposições, biblioteca, cinemateca, cursos e exibições de arte, dança, cinema, música e teatro.
AFundação Itaú tem atuado na melhoria da educação pública brasileira, bem como na valorização dos saberes e riquezas culturais brasileiras. Tais ações ocorrem por meio de seus três grandes pilares: Itaú Social, que existe há mais de 30 anos, Itaú Educação e Trabalho e Itaú Cultural. É devido às benéficas parcerias com as Secretarias de Educação e pela criação e lapidação do Rumos — um dos principais editais de cultura do Brasil — que a entidade está sendo homenageada este ano.
Quem aqui representa esta história é Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú e diretor do Itaú Cultural por 15 anos. Ele ainda é presidente do conselho da Fundação Bienal de SP, Conselheiro do Masp, Museu do Ipiranga, GIFE, Instituto CCR e Museu Judaico. A entrevista completa você encontra em nosso site.
Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú
De que forma o Itaú Social tem atuado pela equidade na educação pública?
Tanto a partir de parcerias com o poder público nos níveis municipal, estadual, federal e instituições do terceiro setor quanto na produção de conhecimento em prol da educação de qualidade. Em 2023, passamos a ter dois novos objetivos estratégicos com foco na educação infantil e nos anos finais do ensino fundamental. Historicamente, são etapas com desafios significativos na trajetória escolar. Portanto, incidir nelas é atuar pela equidade na educação pública. Três dimensões orientam o trabalho: a educação integral e de tempo integral, a gestão do acompanhamento pedagógico e a compreensão das dinâmicas das transições e sua gestão.
Atuamos, ainda, em parceria com o Ministério da Educação para a apresentação de estudos e evidências
sobre a política nacional Escola das Adolescências, e seguimos com programas longevos de sucesso, como o Leia com uma Criança, que no ano passado distribuiu um milhão de exemplares entre livros de literatura e conteúdos formativos.
O Itaú Educação e Trabalho tem alertado sobre a necessidade de o país investir nas juventudes, inclusive para o fortalecimento da economia futura.
O principal foco do Itaú Educação e Trabalho (IET) é a ampliação de matrículas em educação profissional e tecnológica (EPT) com qualidade e visando a inclusão produtiva digna dos jovens, por meio de pesquisas, apoio às Secretarias Estaduais de Educação para a construção e fortalecimento de políticas públicas para o campo e o fomento de parcerias e iniciativas com o setor produtivo.
Um dos eixos de atuação do IET é apoiar as Secretarias na elaboração de planos de comunicação sobre a EPT, contribuindo com a divulgação de oportunidades locais. Em outra frente de atuação, o IET acompanha Secretarias de Educação de todo o país na implementação da Política Estadual de Educação Profissional e Tecnológica (PEEPT).
Durante o tempo em que atuou no Itaú Cultural, compartilhe projetos que receberam suporte e financiamento do Rumos que te marcaram.
É bastante difícil responder a essa pergunta, pois o Rumos já recebeu mais de 75 mil inscrições de todos os estados do Brasil e financiou mais de 1.500 propostas. São trabalhos artísticos e culturais de alto grau de qualidade e criatividade.
Tentando destacar alguns entre os que mais me marcaram, falaria de BULAS – descritivo de montagem de toda a obra de Nuno Ramos, que trouxe um olhar inovador sobre o trabalho dele: a criação de descritivos e manuais de produção para 74 de suas obras, de forma a torná-las passíveis de montagem sem qualquer participação direta do artista. Outro projeto marcante, para mim, foi Huni Kuin: os caminhos da jiboia, que gerou um jogo eletrônico voltado para a cultura desse povo indígena. Por meio dessa nova linguagem tecnológica — o videogame —, o projeto facilitou, de forma lúdica, a passagem de conhecimento indígena para jogadores não indígenas, entre os cantos, grafismos, histórias, mitos e rituais desse povo.
Kito Vivolo, diretor do NR
Elizabeth Loureiro, gerente de negócios de RH/BP (business partner) da FTD Educação
Cristiane Rocha, CEO da Pimpão
Qual o benefício das crianças e jovens de se desligarem das telas digitais, ainda que por um curto período?
Permite que crianças e jovens redescubram o prazer de experiências reais e conexões humanas. No NR, vemos como esses momentos fora da sala de aula e longe do digital, especialmente em viagens, proporcionam oportunidades únicas de aprendizado e desenvolvimento. Ao interagir com a natureza e com outras pessoas de maneira mais próxima, eles exercitam a criatividade, fortalecem habilidades sociais e descobrem mais sobre si mesmos. Esse tipo de experiência não só enriquece o aprendizado como também cria memórias significativas, ampliando o olhar para o mundo.
Quais abordagens a escola pode adotar para incentivar a leitura desde criança?
É importante garantir o acesso de crianças de três a cinco anos à cultura escrita. É justamente este o foco de atuação do projeto Pequenos Leitores, que trabalha na formação de professores, além de envolver toda a rede de profissionais diretamente ligados à educação infantil. Em 11 anos, a iniciativa já beneficiou quase 23 mil crianças de três a cinco anos, mais de 820 educadores e doou aproximadamente 14 mil livros. Iniciado em 2013, o Pequenos Leitores é voltado para municípios localizados a até 300 km da capital paulista.
A cultura de paz pode ser desenvolvida durante um jogo/brincadeira?
Sim, a cultura de paz pode ser desenvolvida durante jogos e brincadeiras. Essas atividades proporcionam momentos de interação social, cujos participantes aprendem a conviver, colaborar e respeitar o próximo. Jogos cooperativos, atividades em playgrounds, atividades experimentais, por exemplo, promovem a empatia e a solidariedade, já que incentivam o trabalho em equipe em vez da competição acirrada. Além disso, brincadeiras ajudam a desenvolver habilidades como a resolução pacífica de conflitos, o diálogo e a tolerância. Ao promover a diversão e a colaboração, jogos e brincadeiras criam um ambiente propício para a construção de uma cultura de paz.
Com 60 anos de história, o COC é uma plataforma de educação que potencializa resultados ao longo da jornada escolar!
Essas conquistas são possíveis graças à consultoria pedagógica do COC, com especialistas que desenvolvem projetos e promovem a formação de educadores e secretaria.
94% de satisfação das escolas parceiras;
Saiba mais em:
@plataformacoc www.coc.com.br
97% das escolas fidelizadas em 2023; 60% dos alunos COC no TOP 10 do SiSU.
CONSULTORIA EDUCACIONAL
Dayana Aguillar, diretora-geral do COC
Como incentivar o aluno a estudar?
É preciso escutar e se conectar com os alunos. Ao conhecer suas referências, enxergá-los em sua totalidade e ampliar a conversa para além das lições e tarefas do dia a dia, é possível criar uma conexão genuína. De maneira prática, é essencial contextualizar o conteúdo com o universo dos estudantes, mostrando a aplicação do que está sendo trabalhado em situações cotidianas e criando links com outras disciplinas, além de utilizar exercícios para treinar e fixar o que foi aprendido. Vale também propor dinâmicas que estimulem a criatividade, a autonomia e a proatividade na busca por respostas, sempre focando o que é essencial e garantindo que os principais conceitos sejam transmitidos.
Regina C. Costa, diretora-presidente da Editora do Brasil
Como estimular a transdisciplinaridade entre os educadores(as)?
Integramos soluções educacionais que promovem essa colaboração. Livros didáticos e sistemas de ensino que conectam diferentes disciplinas incentivam atividades interdisciplinares. Além disso, plataformas digitais que permitem o compartilhamento de práticas entre professores e o desenvolvimento de projetos colaborativos com os alunos. A formação continuada também é fundamental, focamos práticas que mostram como aplicar a transdisciplinaridade em sala de aula. Essas ferramentas ampliam a visão dos alunos e enriquecem o ensino, tornando-o mais significativo e conectado ao mundo real.
EDITORA DE LIVROS DIDÁTICOS DE IDIOMAS
Renata Lara de Moraes, gerente editorial de bilinguismo e soluções suplementares da FTD Educação
Na aprendizagem de um segundo idioma, quais habilidades são desenvolvidas?
Aprender inglês é muito mais do que saber um idioma. Quando o estudante tem o contato com essa língua, ao longo do seu aprendizado, ele também tem acesso a outras culturas; exerce a empatia; abrem-se portas para o acesso à ciência (já que boa parte das publicações científicas estão em inglês), às artes, à tecnologia, à literatura e a outras áreas do conhecimento. Ou seja, para além de um conceito de língua inglesa com caráter elitista, o inglês é via para possibilidades e experiências, e isso faz do aluno alguém diferenciado. O propósito principal de aprender o segundo idioma, portanto, é poder aplicá-lo à vida, para performar na vida! Um estudante empoderado é também um ser humano melhor, um cidadão global e responsável nas diferentes dimensões em que atua.
Breno Perrucho, fundador e CEO da Jovens for Schools
A sociedade de consumo provoca um alheamento na estruturação de uma vida planejada?
Sim, pois incentiva escolhas imediatistas e o desejo por satisfação instantânea. No entanto, esse é o caso somente quando, no seu processo de formação, falta o desenvolvimento de pilares fundamentais para interação do indivíduo com o mundo à sua volta. Por exemplo, é possível sentir vontade de comprar algo ‘já’ e resistir a essa tentação, assim como é perfeitamente possível ressignificar e abrir mão do imediatismo e sentir prazer em investir para o longo prazo. Para isso, é preciso que haja educação financeira, empreendedora e socioemocional desde a educação de base.
Felipe Margall, gerente educacional do Nave à Vela
Critica-se a dissociação entre teoria e prática na educação. Como superar?
É fundamental criar oportunidades cujo aprendizado teórico se conecte diretamente com a aplicação prática. Isso pode ser alcançado através de projetos reais, resolução de problemas e atividades práticas que contextualizem o conteúdo acadêmico. Integrar essas práticas no currículo permite que os alunos experimentem e vivenciem o conhecimento de forma dinâmica e relevante. O Nave à Vela exemplifica essa abordagem ao articular atividades maker com o currículo escolar. Nosso programa permite que os alunos resolvam problemas reais e conectem suas aprendizagens teóricas a experiências práticas.
FABRICANTE DE COMPUTADORES/TABLETS E NOTEBOOKS
Carlos Almeida, gerente de vendas para educação Brasil
Como equilibrar o uso da tecnologia digital na educação?
A tecnologia deve ser um meio para o ensino e a aprendizagem, incentivando a interação e o diálogo entre estudantes, educadores e familiares. É essencial que haja um objetivo pedagógico claro, alinhado ao currículo e às capacidades de cada estudante e educador. Sem essa clareza, a adoção tecnológica pode falhar. Além disso, sem uma implementação eficaz, o potencial da tecnologia será desperdiçado. O treinamento dos educadores é fundamental para que consigam transpor seus conhecimentos, ideias e conceitos para o ambiente digital de forma eficaz e mais atraente. A tecnologia deve ser aliada na educação.
Uma
BICAMPEÃ DO PRÊMIO TOP EDUCAÇÃO.
Pioneira e líder de mercado, a EI segue impactando vidas e este prêmio é um reconhecimento do poder transformador da nossa solução.
A Escola da Inteligência antecipou-se às preocupações atuais sobre a saúde socioemocional e, há mais de 14 anos, estimula as principais competências do século XXI!
Ao reduzir nível de ansiedade dos estudantes, Brasil poderia melhorar desempenho em matemática em 50 pontos. (Pisa, 2022)
RESULTADOS COMPROVADOS*
Nossos estudantes desenvolvem:
Gestão dos pensamentos e das emoções
Tomada de decisão responsável
Programa alinhado às diretrizes da BNCC, ao CASEL e à ONU.
Relacionamento interpessoal
Mais de 80 HABILIDADES trabalhadas em sala de aula. A EDUCAÇÃO DO FUTURO COMEÇA PELAS EMOÇÕES. Faça parte dessa transformação! escoladainteligencia.com.br /escoladainteligencia @escoladainteligencia
Mais de 1400 ESCOLAS parceiras com mais de 350 MIL ESTUDANTES 1,2 MILHÃO de pessoas impactadas.
Vencedores
COMPROMISSO COM A TECNOLOGIA, A CRIATIVIDADE
E O APRENDIZADO PRÁTICO, EMPODERANDO JOVENS A SEREM CRIADORES DO AMANHÃ.
O Brasil ficou entre os piores no ranking do PISA sobre criatividade e pensamento crítico dos alunos. (PISA, 2024)
Com o Nave à Vela, nossos estudantes desenvolvem competências essenciais, como:
Pensamento complexo Intenção criativa
Construção colaborativa
Capacitamos os alunos para que eles não apenas entendam, mas criem e moldem o futuro com confiança e protagonismo.
JUNTE-SE A NÓS E FORME OS INOVADORES DO FUTURO! de 400 escolas parceiras de 120 mil alunos
Lucas Faleiros, diretor de sucesso do cliente no Isaac
Quais as bases da sustentabilidade financeira escolar e quais cuidados tomar?
São três pilares: gestão de receita, controle de inadimplência e gestão das despesas, custos e investimentos. Em receita o fator mais importante, que impacta significativamente uma escola, é a retenção dos alunos, seguido por uma boa estratégia de captação de alunos novos. A gestão da inadimplência, se bem feita, garante um fluxo de caixa estável e previsível, mas pode ser uma grande ameaça a este planejamento caso fuja do controle. Já o controle orçamentário é fundamental para ter um planejamento de gastos de forma que a escola consiga sustentar sua excelência sem fazer investimentos e despesas desnecessários ou desalinhados com as prioridades estratégicas.
Wilson Picler, presidente do Grupo Uninter e chanceler do Centro Universitário Internacional Uninter
O professor(a) recém-formado está apto a enfrentar desafios colocados pelos estudantes?
Analisando-se os resultados do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), dos últimos anos, percebe-se claramente que há um equilíbrio na qualidade da aprendizagem do ensino presencial e do EAD (ensino a distância), e que os modelos pedagógicos são bem-sucedidos nas duas modalidades. A diferença é que, além de formar bons profissionais, o EAD cumpre importantes funções sociais a mais, pois permite o acesso ao ensino de pessoas com menor poder aquisitivo, e ainda atua em todo o território nacional, o que é impossível para a educação presencial, devido às dimensões continentais do nosso país.
Lulcey Ribeiro, diretora de marketing e inteligência de mercado
Em tempos de internet em que ‘nunca’ se escreveu tanto, como incentivar o jovem a buscar na literatura uma formação mais sólida da escrita?
É fundamental resgatar a importância da leitura e da escrita como ferramentas de formação pessoal e crítica. A literatura infantojuvenil é uma porta de entrada para este universo formativo. Precisamos oferecer histórias que os envolvam e despertem sua curiosidade e imaginação. Nossos livros não apenas entretêm, mas também promovem reflexões sobre o mundo ao seu redor, sobre as suas vivências e envolvem a família como diferencial. A nossa premiação reforça a importância de investir em atividades que conectem os jovens à escrita — como oficinas literárias, concursos e clubes de leitura.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA, EMPREENDEDORA E SOCIOEMOCIONAL
O
que o aluno
A Jovens for Schools é um programa pioneiro com três soluções integradas, que estimula as potencialidades dos estudantes, enquanto desenvolvem habilidades inegociáveis para uma vida de sucesso, formando cidadãos protagonistas e líderes de um futuro vencedor
Alinhada à BNCC e às metodologias ativas de aprendizagem, a Jovens for Schools é o primeiro programa de Educação Básica do Brasil a utilizar a EntreComp, matriz de competências criada pela União Europeia, que integra as três soluções do programa.
DIFERENCIAIS EXCLUSIVOS
App 100% gamificado
Além do material físico, o estudante conta com um aplicativo gamificado com prêmios reais.
Pós-graduação para o professor
Alinhada à aplicação do programa, com certificado reconhecido pelo MEC.
Eventos on-line e presenciais
Momentos de formação para a equipe escolar e famílias com especialistas pedagógicos.
Livros de aprofundamento
As famílias recebem um livro de aprofudamento, de acordo com a faixa etária dos filhos.
Back-Office
Plataforma de acompanhamento da aplicação do programa, com relatórios e espaço de marketing para o gestor escolar.
Está comprometido em preparar seus estudantes para um futuro de protagonismo, autonomia e sucesso financeiro?
Eduardo
Murin, diretor de expansão e parcerias estratégicas
De que forma o mercado de idiomas/bilíngue tem se transformado?
Nas últimas três décadas, há uma forte aceleração no formato in school (soluções ofertadas em escolas regulares da educação básica). Dentre os principais aprendizados estão: necessidade de resultados consistentes e objetivos mensuráveis no curto, médio e longo prazo, e propostas construídas sob medida para cada instituição parceira, com respeito a seu projeto político-pedagógico, sua cultura educacional e abordagem, ao mesmo tempo que confere inovação, traz provocações positivas e agrega a o que a escola já oferecia. Nisso, cria-se uma solução que vai além de ensinar língua estrangeira, mas que transversaliza o conhecimento.
Heitor
Martins, CEO da ArcoPlus
PROJETOS EDUCACIONAIS
Carolina
Luvizoto, gerente de educação da Faber-Castell
O que tem provocado essa avalanche de preocupação sobre a saúde mental na escola?
O Brasil enfrenta um crescente desafio relacionado à saúde mental nas escolas. Estudo recente da Rede de Atenção Psicossocial do SUS relatou que os registros de ansiedade entre crianças e jovens superaram os de adultos. Somado a isso, levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou que 37% dos estudantes enfrentam bullying, agravando ainda mais o impacto emocional dos jovens. Esses dados destacam a urgência de intervenções eficazes para apoiar o bem-estar emocional dos alunos. A Escola da Inteligência, ciente da importância de desenvolver competências e habilidades socioemocionais, foi pioneira ao integrar esse enfoque nas escolas, há 14 anos.
Como incentivar a criatividade? Há um método ou é apenas aguçar a curiosidade?
Segundo Sir Ken Robinson, um dos maiores defensores de uma educação mais criativa, criatividade é o processo de ter ideias originais que tenham valor. E, como todo processo, ela pode ser desenvolvida, aprimorada e refinada. Para isso, é essencial criar um ambiente que inspire a imaginação, onde ideias, materiais e espaços possam ser explorados livremente. Oferecer essa liberdade para criar, refletir e compartilhar é o primeiro passo. Mitchel Resnick, com base na teoria construcionista de Seymour Papert, introduz os pilares da aprendizagem criativa: projetos, paixão, pares e pensar brincando.
Sérgio Caires, diretor de operações de escolas e universidades
Bernardo Castello, diretor da Bradesco Vida e Previdência
Como a escola pode educar os estudantes e até as famílias sobre a importância de uma alimentação saudável?
Sodexo visa proporcionar, através dos seus serviços, a melhor experiência para os seus consumidores. Desde a escolha dos alimentos, na produção das preparações e até na entrega dos produtos, tudo é planejado com muito cuidado e carinho. A nossa essência está na segurança. Do acender da lâmpada até a limpeza da sala de aula, todo o nosso facilities está presente e envolvido para que a escola funcione de forma orgânica e inclusiva. Essa gestão de negócios faz com que a escola, a Sodexo e as famílias se integrem dia a dia para um futuro melhor.
Como um gestor(a) deve trabalhar com as incertezas dos negócios?
Recorro ao ensinamento popular: “não devemos colocar todos os ovos na mesma cesta”. A diversificação do portfólio de produtos e serviços, com opções cada vez mais personalizáveis para atender diferentes perfis em diferentes momentos da vida, é um caminho sem volta. Em paralelo, é necessário manter uma análise de riscos permanente para acompanhar a volatilidade que nos surpreende o tempo todo. Somos bombardeados com tendências de consumo, novas formas de pagamento e preferências no recebimento de informações. Mitigar riscos e planejar situações inesperadas é um dos princípios básicos do seguro.
Virginia Maria Pessoa Garcia, vice-presidente da International School
Quando uma escola não nasce, mas se transforma em bilíngue, durante a fase de adaptação, como evitar prejuízos na aprendizagem?
É fundamental haver um acompanhamento pedagógico especializado, que inclui a definição de um plano de ação robusto. As ações iniciais incluem formação e treinamento para toda a equipe pedagógica, preparando-a para as mudanças necessárias, tanto dentro quanto fora da sala de aula. Quando o programa começa a ser operado, é comum a realização de visitas periódicas, que podem envolver reuniões de acompanhamento, formação continuada, observação de aulas e encontros com as lideranças escolares. Esse suporte contínuo é essencial para que a transição para o bilinguismo seja bem-sucedida.
Júlio Ibrahim, diretor adjunto de sistema de ensino da FTD Educação
Diante do novo ensino médio, quais atualizações vislumbra para o Enem? Aguardamos as definições ou diretrizes sobre as mudanças do Enem, que devem ocorrer apenas quando os estudantes que ingressarem no novo modelo de ensino médio concluírem seu percurso nesse segmento de ensino — previsto para 2027. Nisso, há mais expectativas do que certezas, a principal é a de que o novo Enem possa exigir conhecimentos relacionados à formação geral básica, mas também dos itinerários formativos. Há um desafio importante em relação ao formato da prova, que idealmente também poderia ser revisto, garantindo uma janela maior de aplicação, uso de tecnologias digitais e até mesmo questões discursivas nas avaliações das áreas do conhecimento.
Fábio Oliveira, diretor executivo da Aprende Brasil Educação
No que as redes de ensino devem se atentar sobre impactos na aprendizagem oriundos da desigualdade social e racial? Precisamos assegurar a equidade no trabalho pedagógico. Uma criança em situação de desigualdade social e racial enfrenta mais dificuldades de aprendizagem, uma vez que há algo mais forte que a desafia: a sobrevivência e a necessidade de ser inclusa no contexto escolar de maneira genuína. Políticas públicas como transporte escolar e merenda são exemplos de que não basta colocar a criança na escola: é preciso criar condições para a sua permanência e para a garantia da aprendizagem. Uma criança só aprende em um ambiente inclusivo, seguro e que a acolha considerando todas as suas necessidades.
Bernardo Craveiro, CEO da Sponte
Basta ter uma grande equipe para administrar bem uma escola? Equipe maior resulta em mais complexidade de comunicação e gestão. Times enxutos, coesos, capacitados e alinhados geram resultados em qualquer ambiente empresarial, inclusive em escolas. Equipes enxutas e capacitadas são frutos de um bom trabalho de gestão de talentos. Mas como construir um time coeso, onde 1+1 = 3? Três pilares compõem a fórmula de sucesso: propósito claro, ambiente seguro e foco. Estabelecer e ressaltar o propósito pelo qual fazemos um trabalho faz com que estejamos motivados a agir em prol de algo maior que o interesse individual. Um ambiente seguro é aquele em que a vulnerabilidade individual não é vista como fraqueza, e sim como um pedido humilde de ajuda. Isso acentua a confiança e a coesão.
Somos a maior plataforma de soluções financeiras feita para escolas, com:
R$4 bi garantidos +1800 escolas +650 mil alunos
Sabemos que cada escola é única. Por isso, nossas soluções se adaptam à sua realidade.
Carolina Pavanelli, head pedagógica da Árvore
Livros digitais têm aumentado o interesse de docentes e estudantes pela leitura?
Para além do suporte, o que aumenta o interesse em leitura é o incentivo por trás dela. Um jovem não vai se interessar mais ou menos por um livro por ele ser físico ou digital, mas pelo encantamento que esse livro desperta, e tem coisas que o digital consegue proporcionar que são mais difíceis no físico. Uma delas é a amplitude de gamificação. No digital, via Árvore, quanto mais o aluno lê, mais ele ganha pontos na liga, compra árvores e faz crescer sua floresta; incentivos do método de game based learning que são facilitados pelo meio digital. Outro fator é a possibilidade de autonomia de escolha.
Glauco Ferreira, diretor-executivo da Epson
Dizem que uma foto vale por muitas palavras. Isso também funciona na sala de aula?
Na sala de aula, o impacto visual é poderoso. Imagens, vídeos e gráficos são ferramentas importantes para transmitir conceitos complexos de forma rápida e eficiente, superando as limitações de explicações exclusivamente textuais. Ao integrar esses elementos, os projetores interativos transformam conteúdos estáticos em experiências dinâmicas e imersivas. Os alunos não apenas observam, mas também interagem com o material, visualizando conceitos abstratos de maneira clara e tangível, enquanto participam ativamente do processo. Os projetores interativos da Epson transformam a sala de aula em um ambiente de experimentação e criatividade, onde os alunos aprendem fazendo, vendo e tocando.
Celso Garcia, sócio-diretor da CI Intercâmbio
Com o alargamento das fronteiras do conhecimento, viagens e intercâmbios são uma forma de mostrar isso ao jovem?
Sim, são ferramentas educacionais valiosas para o desenvolvimento dos jovens. Acreditamos que a educação vai muito além da sala de aula. Atividades extracurriculares como o aprendizado de um novo idioma, no país em que ele é falado, a experiência de um intercâmbio durante as férias escolares, estágios, mentoria e empreendedorismo juvenil permitem aplicar o conhecimento em situações reais, desenvolvendo habilidades como liderança e trabalho em equipe. A educação experiencial, através de esportes, artes e atividades ao ar livre, também é essencial para a formação de competências socioemocionais.
Dois docentes compartilham suas experiências enquanto produtores de conteúdos educacionais na internet. Em parceria com a Unesco Brasil, o canal de ambos faz parte do YouTube Edu
| Por Patrícia Giuffrida
Uma cafeteira elétrica de 600 W de potência é utilizada 12 minutos por dia. Qual é o consumo mensal em KW/h?” Assim a professora Angela Maria Pereira da Silva começa seu vídeo em seu canal no YouTube, ensinando como calcular o consumo de energia de um eletrodoméstico. Este é apenas um exemplo dos mais de 1.500 vídeos que a docente tem no canal que leva seu nome: Professora Angela Matemática, e possui mais de 1,81 milhão de inscritos.
Assim como Angela, muitos professores youtubers — também chamados de edutubers ou influencers educativos — se tornaram protagonistas da educação digital ao utilizarem, por exemplo, ambientes online como o YouTube. Essa adequação se deve à realidade de uma geração de estudantes que está cada vez mais conectada com o mundo tecnológico.
Para alcançar uma grande audiência de estudantes, os professores youtubers têm usado uma linguagem acessível, fácil, ágil e criativa, oferecendo conteúdos em lives e videoaulas, que vão desde reforço escolar até dicas para passar em vestibulares. “No meu canal, as dúvidas de português costumam ter muitos acessos. O vídeo sobre o uso do ‘a’ ou ‘h’ teve mais de 150 mil visualizações”, conta Thiago Charme, professor de língua portuguesa, dono do canal Português com Charme, que tem mais de 22 mil seguidores.
Com seus canais, Angela e Thiago conseguem monetizar, complementando a renda mensal de seus salários como professores. “A monetização era maior antes da pandemia da Covid-19. Acredito que caiu porque teve
“A monetização era maior antes da Covid-19”, conta o professor Thiago Charme, dono do canal Português com Charme, com mais de 22 mil seguidores
um aumento no número de produtores de conteúdo. Mesmo assim, vale a pena”, diz o docente.
Todo esse sucesso conquistado por Angela e Thiago não aconteceu da noite para o dia. Cada um teve de construir sua trajetória de youtuber ao longo de anos até conseguir conquistar um número expressivo de seguidores. Angela teve a primeira ideia de gravar uma videoaula de reforço para seus alunos do 6°ano do ensino fundamental em 2015. Mas decidiu parar no ano seguinte.
“Um grupo de pessoas que estudava para prestar concurso para PM de Pernambuco pediu muito para eu voltar a publicar meus vídeos. Foi aí que me dei conta de que as videoaulas estavam ajudando muitas outras pessoas além dos meus próprios alunos”, conta a docente. E a partir daí, ela retomou suas produções e não parou mais. Hoje também é docente de uma escola pública da rede estadual de São Paulo e trabalha como professora especialista na aprovação de estudantes para o Enem e concursos públicos.
Já Thiago conta que, na sua adolescência, era fascinado pelo canal de televisão MTV e sonhava em trabalhar com vídeos. Mas resolveu ser professor de língua portuguesa. Começou a lecionar em escolas em 2009. Após dois anos criou um blog para seus alunos e começou a produzir videoaulas. Depois participou de um canal de coletivo de professores de cursinhos pré-vestibulares no YouTube. E em 2016, finalmente criou seu próprio canal. Hoje dá aulas presenciais no Instituto Federal Sul-Rio-Grandense, em Venâncio Aires, e no Centro de Ensino Integrado de Santa Cruz do Sul, ambos no Rio Grande do Sul.
O trabalho de Angela, Thiago e de muitos professores youtubers tem impactado o ensino e a aprendizagem de estudantes em todo o Brasil. Alunos, que antes dependiam exclusivamente de aulas presenciais e de material impresso, agora têm à disposição uma diversidade imensa de conteúdos digitais, tornando o processo de ensino mais dinâmico, democrático e inclusivo.
“Tenho muitos exemplos de estudantes que passaram no Enem e em vestibulares estudando matemá-
Muitos professores
youtubers — também
chamados de
edutubers ou influencers educativos — têm dialogado com a geração conectada por meio de seus vídeos
Os professores Angela Maria Pereira e Thiago Charme também estão participando do YouTube Edu, um canal gratuito de vídeos educacionais voltados à aprendizagem escolar. O canal foi fundado em 2013 e, 10 anos depois, foi totalmente reformulado por meio de um acordo de cooperação técnica entre o YouTube e a Unesco no Brasil (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), que fez a curadoria de seus conteúdos a partir da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Com os perigos das fake news e conteúdos impróprios, iniciativas como o YouTube Edu são formas de se reunir o que há de relevante e seguro na internet.
“Sua nova versão foi o resultado de um rigoroso processo de seleção, por meio do qual foram selecionadas mais de 1.000 videoaulas para apoiar o processo de ensino e aprendizagem de estudantes e professores dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio”, afirma Rebeca Otero, coordenadora de educação da Unesco no Brasil. “No âmbito da educação digital, esse projeto é bastante importante devido ao seu potencial para complementar e melhorar a qualidade e a relevância da aprendizagem”, completa ela.
Alinhadas à BNCC, mais de 1.000 videoaulas fazem parte da curadoria, destaca Rebeca Otero, coordenadora de educação da Unesco Brasil
tica através do meu canal. E já recebi muitos e-mails de agradecimento de internautas que conseguiram conquistar a vaga dos sonhos em um concurso público porque aprenderam comigo no YouTube”, relata Angela. Thiago destaca também duas experiências marcantes: “Uma vez recebi a mensagem de uma pessoa com deficiência visual que disse ter aprendido sobre língua portuguesa ao escutar minha videoaula. Isso me deixou muito feliz. Também recebi mensagem de um professor de uma universidade pública em Pernambuco, que disse ter usado meus vídeos em suas aulas. Fiquei emocionado. Meu trabalho está impactando alunos do ensino público”.
TAMBÉM SE TRANSFORMARAM
Toda essa revolução digital também invadiu as salas de aula das escolas. E a forma de ensinar vem mudando. “O professor de 15 anos atrás era diferente. Ele não tinha tantas ferramentas digitais à disposição como hoje. Em minhas aulas presenciais, sempre indico videoaulas (inclusive de outros professores) para complementar os estudos dos meus alunos. E isso é muito positivo. Temos de nos adaptar a essa geração conectada”, reflete o professor Thiago. A educadora Angela concorda e complementa: “Os meus alunos gostam muito de ter as minhas videoaulas como apoio, principalmente para rever os conteúdos para as avaliações.”
PROFESSORES E FAMÍLIAS
Além dos estudantes, os professores youtubers também estão impactando o trabalho de muitos docentes. “Minhas produções são sempre bem recebidas não só
“Os meus alunos gostam muito de ter as minhas videoaulas como apoio, principalmente para rever os conteúdos para as avaliações”, alegra-se Angela
Maria Pereira da Silva
pelos alunos. Quando divulgo meus vídeos para um grupo de docentes do qual participo, eles sempre incentivam suas classes a consumirem os meus conteúdos”, conta Thiago. Angela também fica feliz com o retorno de seus colegas. “Professores de matemática, ainda iniciantes em suas carreiras, já me procuraram para dizer que se inspiram em meus vídeos.”
As videoaulas do YouTube também estão impactando famílias, principalmente de estudantes do ensino fundamental. Thiago e Angela contam que já receberam em seus canais comentários de pais e mães agradecendo por usar as videoaulas como apoio para ajudar seus filhos nas lições de casa e também para apoiar nos estudos para provas e avaliações.
Com o constante crescimento do consumo de conteúdo digital, os professores youtubers terão um papel cada vez mais relevante na democratização do ensino, ao disponibilizarem materiais acessíveis para públicos de diferentes regiões e realidades socioeconômicas. Não é à toa que Angela e Thiago já têm projetos para ampliar suas atuações online. “Vou criar o Tercenem — lives semanais focadas no Enem e em concursos públicos”, conta a professora. Já o docente pretende produzir uma plataforma digital de cursos de língua portuguesa e literatura, além de produzir mais vídeos em seu canal no YouTube.
Instituição propõe simulações de Assembleias da ONU e Conferência do Clima a fim de desenvolver nos estudantes olhar crítico e responsável
Com o intuito de aprimorar as habilidades dos estudantes, atualizá-los sobre o que acontece na sociedade e, sendo assim, prepará-los para se tornarem seres críticos e empáticos, a Rede Marista de escolas desenvolveu a Simulação Internacional Marista (SIM), uma iniciativa que visa ampliar o repertório cultural dos alunos e propor reflexões sobre os temas da atualidade. O projeto promove diferentes iniciativas de simulação dos mecanismos da Organização das Nações Unidas (ONU), que são ajustados de acordo com a faixa etária e etapas de ensino dos colégios da rede.
O Colégio Marista Colatina, localizado no município de Colatina, no Espírito Santo, sedia as simulações das Assembleias dos Comitês da ONU e a Conferência do Clima, também chamada de Conferência das Partes (COP). Durante as Assembleias, realizadas desde o ensino fundamental até o médio, os estudantes passam a ter um olhar mais sensível sobre as diferentes realidades e buscam soluções por meio de reflexões, discussões e consensos.
“Como as decisões são coletivas, esses momentos fazem com que estudantes e professores dialoguem
Nas simulações, estudantes e professores dialogam e buscam, coletivamente, alternativas viáveis que contemplem a maioria, diz o diretor Jorge Vargas
e busquem, coletivamente, alternativas viáveis que contemplem a maioria. Nesse sentido, a participação nas Assembleias pode proporcionar experiência do trabalho em grupo, escuta ativa e a vez de fala, bem como a defesa de ideias”, explica Jorge Vargas, diretor do Colégio Marista Colatina.
Os estudantes dos anos finais do ensino fundamental e os que estão no ensino médio assumem o papel de representantes da ONU e ao integrarem comitês, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), por exemplo, discutem e procuram soluções para um tema geral proposto no projeto.
Para Aylton Angelo de Almeida, que atua no Marista Colatina como professor de história, filosofia e sociologia, e também como coordenador da área de ciências humanas e sociais aplicadas (CSHA) — responsável por organizar a SIM —, a simulação contribui para que o estudante realize pesquisas, participe de debates e escreva sobre temas da política contemporânea, além de desenvolver competências e habilidades da área de ciências humanas previstas na Matriz de Referência do Enem, na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e nas Matrizes Curriculares de Educação Básica do Brasil Marista.
ENSINO FUNDAMENTAL
Já as turmas do 2º ano ao 5º ano do ensino fundamental se dividem em comitês, inspirados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, e propõem intervenções que podem transformar a realidade. O Assan – água e saneamento, realizado com os alunos do 3º ano C do ensino fundamental, é um dos projetos que compõem a simulação.
Baseado no ODS 6 da ONU, que trata da temática água potável e saneamento, os estudantes participaram de palestras sobre a importância da água e o desperdício, e ainda coletaram dados, construíram gráficos e busca-
Experiências que preparam para a cidadania são estimuladas no colégio capixaba
ram maneiras de resolver o problema do desperdício. A iniciativa visou despertar a consciência sustentável, a promoção de hábitos saudáveis, do pensamento criativo e crítico, e da cultura de sustentabilidade nos alunos.
“Após o término do projeto, os estudantes se apresentaram mais engajados e preocupados com as práticas de sustentabilidade, demonstrando maior consciência ambiental. Além disso, mostraram-se com senso maior de pertencimento ao espaço e de corresponsabilidade pelo cuidado com o colégio em ações simples de monitoramento do desperdício da água”, conta Jorge Vargas, diretor do Colégio Marista Colatina.
Durante a SIM da Conferência do Clima, realizada nos anos finais do ensino fundamental, os estudantes são convidados a despertarem o senso de cidadania global e de responsabilidade com o planeta. No desenvolvimento do projeto, eles buscam informações sobre questões ambientais relacionadas aos blocos formados por países, empresas e ONGs e por meio de pesquisas direcionadas pelo professor em sala de aula.
“Guiados por um robusto guia de estudos elaborado pelos professores, os estudantes submergem em um mundo de informações que permitem a construção de opiniões e ideias sobre os problemas ambientais e as mudanças climáticas. Em suma, o projeto permite em um primeiro momento a sensibilização diante dos problemas apresentados e a oportunidade de exercer seu protagonismo ao apresentar sua proposta de resolução para as problemáticas expostas”, detalha o professor Aylton.
A simulação ainda exerce um papel importante na discussão de temas atuais e que envolvem o mundo inteiro. Para o diretor Jorge, o projeto é benéfico. Desenvolve a ampliação do repertório cultural por meio de uma reflexão sobre as representações políticas, sociais
Estudantes do fund. 2 e médio integram comitês da OMS, ACNUDH e OIT e procuram soluções para um tema geral proposto no projeto
As turmas do 2º ano ao 5º ano se dividem em comitês, inspirados nos ODS e propõem intervenções que podem transformar a realidade
e econômicas de cada nação e sua influência sobre as situações que repercutem em outras realidades, como é o caso das mudanças climáticas.
“Atualmente, é fundamental o trabalho com projetos que estimulem a formação de cidadãos conscientes, preparando os estudantes, ainda na infância, para uma vida adulta com hábitos sustentáveis bem estabelecidos, que promovam a preservação ambiental e a responsabilidade”, explica Jorge.
Para professores e colégios que querem implantar simulações e outros projetos de consciência sustentável, Jorge Vargas sugere que estes procurem promover a integração curricular, incorporando os projetos de disciplinas como matemática, geografia e ciências, tornando assim os temas mais relevantes e aplicáveis ao dia a dia dos alunos. Buscar a colaboração e parcerias com empresas, universidades e ONGs especializadas sobre os assuntos que serão abordados também é uma recomendação dada pelo diretor do Colatina.
“Outra dica é envolver toda a comunidade escolar (estudantes, professores, famílias e colaboradores) nos projetos, criando uma cultura de responsabilidade ambiental/social. Todos podem ser estimulados ao desenvolvimento de simulações práticas como hortas ou iniciativas de reciclagem e, assim, podem ver os resultados dos esforços coletivos”, finaliza o diretor Jorge Vargas.
Há questões em que famílias e algumas escolas têm negligenciado às crianças e jovens o acesso à educação midiática, ao letramento digital e até ao fortalecimento emocional
| Por João Jonas Veiga Sobral
Os celulares foram banidos em muitas escolas, sobretudo no ensino fundamental com respaldo e aplausos das famílias que estranhamente autorizam aos filhos a possibilidade de levar os aparelhos para as escolas. Embora o banimento tenha sido feito às pressas e sem um projeto muito claro e consistente, faz-se absolutamente necessário, porque não há dúvida de que o excesso de tela vinha sendo prejudicial para crianças e adolescentes, especialmente porque os celulares repletos de aplicativos duvidosos e atraentes distraem os estudantes nas aulas, tornam a rotina escolar um fardo pesado a ser carregado pelos estudantes e os lançam para um universo perigoso e incontrolável. Além dos males produzidos na saúde mental e física de uma geração, tão alardeados por médicos e especialistas.
A medida encontrou consenso entre profissionais da educação das escolas, das universidades, de órgãos governamentais e de ONGs, médicos e pais — o que por si é um feito bastante raro que acusa escancaradamente a trágica relação estabelecida entre a infância, a juventude e as redes sociais.
Não é vedado a ninguém o conhecimento de que elas (redes sociais) e outros aplicativos criam mecanismos para provocar dependência nos suscetíveis jovens e muitas horas dedicadas a essa relação. Com isso, são inevitáveis as consequentes perdas de sono e de aprendizagens, doenças advindas dessa contaminação e dificuldades em estabelecer vínculos afetivos e cognitivos com o mundo não virtual.
Não por acaso, o Ministério da Educação proporá projeto de lei para oficializar ações que visem o banimento dos celulares nas escolas ou em salas de aula e a redução do excesso de telas na vida dos alunos. Espera-se que o conjunto de propostas a respeito dos smartphones busque contemplar algumas nuances relacionadas a esse processo complexo estabelecido entre jovens, sociedade e celulares. Sobretudo porque os jovens conseguem com alguma facilidade burlar os bloqueios preexistentes nos computadores oferecidos e permitidos nas e pelas escolas.
Contudo, o banimento puro e simples adotado já por algumas instituições e provavelmente sancionado pelo MEC não dará conta de outras questões intrincadas e fundamentais que vêm sendo largamente negligenciadas por escolas e famílias. Entre elas a educação midiática, o
letramento digital, a educação financeira, o fortalecimento emocional e o desenvolvimento substancioso de habilidades de leitura das nossas crianças e dos nossos adolescentes e também a valorização dos discursos científico e acadêmico feitos pelos professores em sala de aula.
A educação financeira associada à emocional e ao letramento digital pode oferecer aos estudantes suportes e ferramentas para compreender as regras cruéis desses jogos e os riscos que levam à dependência e ao vício nessas relações. Não há como negar que um indivíduo frágil emocional e cognitivamente, por conta de sua faixa etária e da situação econômica, torna-se presa fácil para os discursos que envolvem dinheiro fácil em jogos do Tigrinho e nas bets de apostas. Ainda mais quando crianças, jovens e influenciadores admirados são os principais incentivadores dos desafios.
Resultados do Pisa apontam para dificuldades dos alunos de entender as relações de empréstimo, de investimento e de juros, como também pouca familiaridade na leitura de um simples extrato. Por isso, passa a ser urgente um trabalho consistente sobre o funcionamento dessas plataformas e também sobre a relação que se estabelece entre dinheiro, prazer, gasto, economia, desejo, investimento e trabalho. Fundamentalmente, em uma faixa social em que há pouca circulação de dinheiro, há raras oportunidades de obtê-lo com trabalho sem muita qualificação e parcas esperanças de acessar os bens de consumo amplamente divulgados nas redes sociais. Não é segredo que nossos resultados em interpretação de textos, de imagens e de dados são lastimáveis e desanimadores. Jovens (e adultos que também leem mal) são expostos à sucessão de conteúdos curtos, publicitários e ideológicos superficiais que os tornam consumistas, acríticos e incapazes de compreender os matizes interpretativos na conexão entre enunciado, enunciadores e receptores. Isso tudo somado às bolhas de radicalização geradas pelo algoritmo que promo-
vem com frequência negacionismo científico e climático, intolerância, violência e fanatismo político e religioso e fazem com que essa meninada seja tragada por situações comunicativas cada vez mais sofisticadas. Adiciona-se a esse caos de intelecção o descrédito que muitos influenciadores mal-intencionados, com milhões de seguidores, dão ao discurso consistente dos professores e também os riscos promovidos pelo mau uso da inteligência artificial, que cria imagens e referências mentirosas e convincentes que podem por sua vez ser espalhadas nas plataformas digitais com cortes que favoreçam determinada pessoa, grupo social e ideologia.
Se no Brasil 67% dos estudantes não distinguem fatos de opiniões nos textos lidos, segundo a OCDE, com quais recursos lerão os artifícios criados nas redes sociais, na Deepweb, propagandas, debates políticos e plataformas de apostas?
Se 67% (quase sete de cada 10) dos estudantes do Brasil não distinguem fatos de opiniões nos textos lidos, de acordo com um relatório divulgado pela OCDE, com quais recursos lerão os artifícios criados nas redes sociais, na Deepweb, no Discord, nas propagandas e nos debates políticos e nas plataformas de apostas? Com que ferramentas analisarão questões fundamentais sobre seus destinos como a emergência climática, a escolha de representantes políticos, os caminhos econômicos trilhados pelos governantes do país e o futuro da empregabilidade?
Banir os aparelhos celulares nas escolas é uma medida realmente imprescindível; todavia, banir (como estamos fazendo) o que neles há — como se o mundo virtual não interferisse na realidade presencial e vivida — é lançar os jovens num precipício obscuro da compreensão. E lá — nesse abismo — picaretas, outsiders, influenciadores, apostadores e enganadores os receberão de braços abertos.
orientador educacional
Meu amigo Rui Canário dizia que, quando assistíamos à degradação do ambiente natural e das relações humanas, raramente nos apercebíamos de que tais fenômenos eram consequências de uma determinada visão de mundo
| Por José Pacheco
Santos, 19 de setembro de 2044
Nas praias de Madagascar vivia um pássaro meigo de nome Dodô. Era uma ave estranha pois, contrariamente a outras espécies, não temia a proximidade dos homens. E, por não os temer, esta espécie foi extinta.
Homens ignorantes e cruéis — que também os havia nesse tempo — divertiram-se a persegui-los e matá-los. Um livro que nos fala das aventuras de uma Alice descreve o paradoxo do pássaro Dodô. Depois do dilúvio causado pelas suas próprias lágrimas, Alice chega a uma praia em que encontra vários animais, todos eles encharcados e com frio.
O pássaro Dodô sugere que façam uma corrida para se aquecerem. Todos começam a correr, cada qual para seu lado, cada qual escolhendo o seu próprio percurso, era fácil ver que todos os percursos eram diferentes. No final da corrida, todos estavam quentinhos e a salvo. Perguntaram ao pássaro quem teria sido o vencedor. Como cada um correu como e por onde quis, o pássaro Dodô declarou que todos tinham sido vencedores das suas próprias corridas.
Há 20 anos, atento à extinção de espécies e à degradação ambiental, o Papa Francisco asseverou ser necessária uma educação que respeitasse a diversidade e a inclusão:
“É necessário acelerar esse movimento inclusivo da educação, para combater a cultura do descarte, criada pela rejeição da fraternidade como elemento constitutivo da humanidade.
A educação é uma realidade dinâmica. Trata-se de um tipo de movimento orientado ao desenvolvimento pleno da pessoa em sua dimensão individual e social, uma educação que coloca a pessoa no centro de sua realidade e da Casa Comum em que é chamada a viver.
O movimento educativo construtor de paz é uma força que deve ser alimentada contra a ’egolatria’ que cria a falta de paz, fraturas entre as gerações, povos, culturas, populações ricas e pobres, homens e mulheres, economia e ética, humanidade e ambiente”.
A ‘costelinha ambientalista’ do Francisco o levou à con-
clusão de que “um novo pacto educacional deveria ser revolucionário (sic)”:
“É preciso coragem, a coragem de investir as melhores energias, a coragem de formar pessoas disponíveis para se colocarem a serviço da comunidade”.
Retomo metáforas das cartinhas que para vós escrevi no início do século:
“As gaivotas inventaram outros modos de viver e de voar. Contrariavam os porquenãos, pássaros com tendência para beber silêncios no degredo dos ninhos. As negrelas, escondidas nas árvores de troncos putrefatos, haviam deixado atrás do si um rasto de destruição.
Participei de um Grupo de Trabalho ministerial que deu visibilidade pública a 178 projetos considerados potencialmente inovadores. Decorrida meia dúzia de anos, poucos restavam em atividade. A maioria foi desvirtuada ou extinta, por efeito de sinistras ações de ‘porquenãos’ e ‘negrelas’.
No setembro de 2024, o espírito fundador desses projetos fê-los renascer como Fênix ressurgindo das cinzas. Reagindo insanidades, uma rede de comunidades emergiu do pântano em que a educação se encontrava.
O meu amigo Rui Canário dizia que, quando assistíamos à degradação do ambiente natural e das relações humanas, raramente nos apercebíamos de que tais fenômenos eram consequências de uma determinada visão de mundo. Nesse redentor setembro, fui até à cidade de Santos, a convite da Secretaria de Educação. Ali, senti que ‘uma nova visão de mundo’ despontava. Ali, escutei professores expressando a sua vontade de reelaborar a sua cultura pessoal e profissional. E à Cristina, à Rita, ao Bruno e a outros educadores deixei a promessa de voltar à Baixada Santista.