Revista Educação 298 outubro 2023

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Fernanda Pacobahyba

FNDE busca blindagem para evitar corrupção

revistaeducacao.com.br

Órfãos de escola

Cresce migração de jovens para a EJA

EDUCACAO

Cultura de paz

A importância de lidar com conflitos

ANO 28 Nº298 R$ 24,90

Primeira infância

Um ambiente escolar que desenvolva o cognitivo e o emocional da criança é fundamental nos primeiros anos de vida

Um educador é capaz de influenciar o amanhã mudando

o futuro de crianças e adolescentes.

Nós acreditamos que educar é nosso dever e encantar é nosso superpoder! Juntos, tornamos o processo educacional positivo e encantador e seguimos firmes no nosso propósito de transformar o país pela educação!

A Editora do Brasil celebra e homenageia todos aqueles que se dedicam a promover o desenvolvimento intelectual e pessoal das futuras gerações.

www.editoradobrasil.com.br

CARTA AO LEITOR

O que resta na mente é o que realmente foi objeto de aprendizado

Quando um professor tenta ensinar alguma coisa tem de pressupor que aquilo é importante e vai fazer uma diferença na vida do seu aluno. Caso contrário, seu trabalho não terá sentido. Assim, deve ter a curiosidade de saber sobre o destino das informações e habilidades que tentou ensinar. O que aconteceu com elas?

Quero sugerir um método, valendo-me para isso de uma metáfora. Imagine que você resolveu se dedicar ao negócio de fabricação de salsichas. Para transformar carne em salsichas há uma máquina. Numa das extremidades da máquina coloca-se a carne. Aperta-se um botão. A máquina se põe a funcionar. Na outra extremidade, saem as salsichas, prontinhas. Para avaliar se a máquina é comercialmente vantajosa basta comparar o peso da carne que foi colocada no funil de entrada com o peso das salsichas produzidas. Se 100 quilos de carne foram colocados na entrada e saíram 95 quilos de salsicha, a máquina é ótima. Mas se só saírem 10 quilos de salsicha, a máquina não presta.

...é muito tempo de vida nos bancos escolares. O que sobrou? O exame seria assim:

Primeiro: o programa seria constituído de tudo, absolutamente tudo que se pretendeu ensinar nesses 17 anos, do primeiro ao último ano.

Segundo: aqueles que farão o exame não assinarão os seus nomes porque o que se procura não é o desempenho individual, mas o desempenho da máquina escolar.

Terceiro: será proibido haver cursos preparatórios para tais exames. Será proibido também recordar a matéria. O propósito do exame seria abortado porque o aprendido é aquilo que fica depois que o esquecimento fez o seu trabalho. O exame que proponho quer saber o que sobrou depois do esquecimento.

...Acho que dos 100% de saberes que as escolas tentaram enfiar dentro de mim só sobrariam uns 10%. Você depositaria suas economias mensalmente, num fundo de investimento, por 17 anos, se você soubesse que depois desses 17 anos receberia só 10% do que você depositou?

Alguns concluirão que a culpa é dos professores. Outros que é dos alunos. Não creio que a culpa seja dos professores ou dos alunos. Acho mesmo é que a culpa é da carne que se põe na máquina: ela está estragada. As salsichas cheiram mal. O nariz as reprova. Concluo: a performance das escolas melhorará se a carne estragada for substituída por uma carne que produza salsichas apetitosas...

EDUCACAO

A revista Educação, composta por edições digitais e impressas, site, redes sociais e eventos, é publicada por RFM Editores

Ano 28 - Nº 298 outubro de 2023

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Outubro é enaltecido como o Mês do Professor(a). De presente, leia um trecho da crônica de Rubem Alves escrita quando foi nosso colunista.

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Revista Educação 4
REVISTA

20 PRIMEIRA INFÂNCIA

Direito

A importância do ambiente escolar para o desenvolvimento cognitivo e emocional é cada vez mais incontestável; interação com outras crianças e adultos potencializa vários aprendizados, sendo um direito da criança

ENTREVISTA

Fernanda Pacobahyba

Atenta às desigualdades sociais, presidente do FNDE tem feito reestruturações e quer o órgão valorizado pela sociedade. Também diz que o Fundo será uma grande plataforma de dados da educação básica e superior para pesquisadores e população

Pra dentro do currículo

Conheça o projeto premiado de uma professora da rede pública sobre tolerância e orientações de especialistas em como aproximar a escola dos estudantes

EJA 30

Ainda um descaso

Triste ironia que o país de Paulo Freire siga sem rumo na educação de jovens e adultos. Agora mais um desafio: quase 400 mil pessoas saíram de turmas do ensino fundamental e médio regular para classes de EJA, segundo o Censo Escolar

Em uma sociedade racista e machista, trazer esse conceito requer ampla compreensão: não se trata apenas da ausência de guerra e sim da busca de convivências harmônicas na sociedade

Revista Educação 5 17 Transformação 26 Midiática 34 Socioemocional na escola 42 Top Educação 2023 70 Futuro da escola 72 Diálogos 74 Entre margens SUMÁRIO e mais
CULTURA DE PAZ 38 Conviver com conflitos 8
DEMOCRACIA 14
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MAS ESSA VITÓRIA NÃO É SÓ NOSSA.

É DE TODOS QUE ACREDITAM

CONTINUAREMOS A NOS DESAFIAR, A INOVAR E A BUSCAR A EXCELÊNCIA EM TUDO O QUE FAZEMOS.

ESSA VITÓRIA É APENAS UM PONTO DE PARTIDA PARA VOOS AINDA MAIS ALTOS.

AFINAL, PROMESSAS FEITAS NÃO TRANSFORMAM VIDAS.

PROMESSAS CUMPRIDAS, SIM.

FNDE busca blindagem para evitar corrupção

Atenta às desigualdades sociais, presidente tem feito reestruturações e quer o órgão valorizado pela sociedade. Também diz que o Fundo será uma grande plataforma de dados da educação básica e superior para pesquisadores e população

Odinheiro para a merenda escolar, a garantia de transporte ida e volta até a escola, a produção e entrega de mais de 140 milhões de livros didáticos, além da construção e manutenção escolar são atribuições do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), criado em 1968, vinculado ao Ministério da Educação (MEC). Num país continental, com estudantes e educadores vivendo em aldeias e cidades, executar tudo isso é desafio, mesmo assim, há projetos que servem de exemplos para outros países, como o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), uma vez que estão entre os maiores do mundo. Repassar o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) aos estados e municípios também é da responsabilidade do órgão.

Desde o início de janeiro de 2023, o país tem como presidente do FNDE a cearense e auditora fiscal Fernanda Macedo Pacobahyba — primeira mulher secretária da Fazenda do Estado do Ceará, doutora em

Revista Educação 8 ENTREVISTA

“Os brasileiros não conhecem o FNDE, fica muito por trás da figura do MEC. E precisamos, sim, fazer o Brasil conhecê-lo a partir das boas práticas”

direito tributário pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), mestre em direito constitucional pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e MBA em gestão pública pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). Fernanda Pacobahyba assume a presidência do FNDE após escândalos na gestão Bolsonaro — o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro foi preso em 2022 pela Polícia Federal por tráfico de influência e corrupção na liberação de verbas do FNDE. Até barras de ouro serviram como propina. O FNDE é a ponte financeira do MEC com estados e municípios, tanto que tem uma das maiores verbas da pasta: começou o ano com 84 bilhões de reais. A presidente garante que seu comprometimento é com a transparência.

Leia, a seguir, a entrevista.

Educação: Além do alto orçamento, é a verba do FNDE denominada ‘voluntária’, cuja gestão tem autonomia de decisão, que provoca a cobiça dos políticos? Desde a sua entrada, quais mecanismos foram criados para evitar corrupção?

Fernanda: Essa questão é muito forte e simbólica pra gente, e tem sido um lema da nossa gestão. Como primeira iniciativa, procurei pessoalmente a CGU com o ministro Vinícius [Marques de Carvalho] para me voluntariar, porque estou inteiramente aberta para trabalhar com os órgãos de controle dentro do FNDE, para o acompanhamento em tempo real, com transparência. Hoje, o Programa Prisma [objetivo é combater a corrupção], da CGU, tem o FNDE como piloto e a gente está trabalhando a parte de integridade, de corregedoria, transparência, normas éticas e valores.

Além disso, no âmbito das diretorias, o FNDE ficou com uma característica meio apartada em termos de gestão. A presidência era muito distante do que estava acontecendo nas diretorias. Trouxemos o comando para a presidência e instauramos o Conex, um comitê de governança, e todas as nossas decisões são colegiadas, publicizadas, tomadas coletivamente, temos atas, fica tudo registrado. Há diversos processos que aconteceram ao longo desses últimos anos, em especial, que você diz: ‘gente, cadê o presidente?’ Então coisas que as diretorias iam fazendo e parecia que não tinha uma certa orquestração. É isso. Temos investido muito na transparência, que é o melhor antídoto para a corrupção.

Estamos com uma diretoria de TI com planejamento estratégico da melhor qualidade, muito bem estruturado. O

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Marília Camelo

ENTREVISTA

FNDE tem dados e outros pessoais protegidos pela LGPD, como os dos alunos do Fies. Fora isso, o restante é para escancarar. O FNDE tem como ser o grande reservatório de dados da educação básica brasileira. E também da educação superior, porque o Fies é estruturado no âmbito do FNDE. Esses dados estão muito desorganizados. A gente recebe dados tratados de forma muito primária, com planilha de Excel. Fazemos a catalogação, ordenação, governança desses dados para ficar um trabalho incrível. A ideia é o FNDE ser essa plataforma de dados para pesquisadores, estudiosos e a sociedade poder melhor acompanhar.

Que tipos de dados são esses?

Por exemplo, para o município de Saboeiro*, no Ceará, vão ocorrer grandes programas estruturados do FNDE: ele recebe dinheiro do Fundeb, do Salário-Educação, recebe ônibus pelo Caminho da Escola, vai receber pelo Pnate, Pnae. Hoje não há uma plataforma estruturada para extrair inteligência e permitir passear por Saboeiro e tentar compreender o que é essa educação básica em números, comparar Saboeiro com outros municípios, como Tefé no Amazonas, vamos imaginar que tenha a mesma população, mesmo número de redes e conseguir olhar indicadores de performance dos estudantes.

Hoje não há uma plataforma estruturada para extrair inteligência e permitir passear por um município, tentar compreender o que é essa educação básica em números e compará-lo com outros municípios

*O fundador da revista Educação, Edimilson Cardial, nasceu em Saboeiro. Por isso o exemplo

Secretarias de Educação criticam que há estudantes que precisam de dois tipos de canoa, além do transporte terrestre até chegar à escola, mas que a verba não considera isso, por exemplo. Como viabilizar individualidades regionais?

Às vezes vejo pessoas e até gestores se equivocando. São dois programas distintos, mas que têm sinergias. Uma coisa é o Caminho na Escola, em que você tem os veículos automotores tradicionais, normalmente rodoviários. Já houve no passado uma política não exitosa de aquisição

de barcos. Qual é o problema? Estamos agora em uma licitação nacional para adquirir ônibus, e isso requer tudo aquilo que tem de mais extraordinário em termos de segurança, ainda mais porque estamos falando de transporte de crianças, então tem que ser tudo perfeito. É muito complicado estruturar política pública trazendo um meio de transporte que é legítimo, culturalmente aceito, todo mundo sabe que faz parte daquela comunidade, como as carroças faziam parte no interior do Ceará. Mas quando você olha o requisito de segurança, como é que o governo federal vai atestar a compra de uma canoa que, se virar e o menino morrer, vão dizer: ‘por que o governo comprou essa canoa?

Essa questão é muito complexa. Então a nossa rota de fuga e única defesa é comprar o que tem de mais bem estruturado, mas certamente não é a realidade de muitos municípios brasileiros. Isso conecta com outro programa muito importante que é o Pnate, de atendimento ao transporte escolar. Designei uma comissão do FNDE para estudar essas peculiaridades locais, mas de cara, ao assumir, eu tinha digamos essa ‘visão equivocada’ de que não estávamos olhando realidades locais. A Universidade Federal de Goiás faz acompanhamento desses programas, tanto com o Caminho na Escola quanto com o Pnate há mais de 20 anos, inclusive é um professor que praticamente a vida dele é dedicada a isso. Eu digo: ‘professor, me mostra o que está por trás desse valor per capita que a gente está pagando para os nossos alunos’. O algoritmo é extraordinário e contempla, por exemplo, quando você vai pegar o custo do transporte do quilômetro no rio, ele é mais caro que o custo rodoviário e isso reflete no per capita. Então é possível olhar aquele valor e dizer que ainda é insuficiente tanto para a realidade amazônica como nordestina. Sempre pergunto a prefeitos: ‘quando a gente coloca 100 reais no Pnate, o senhor tem que colocar quanto a mais?’ As pessoas vêm muito pra cima do governo federal exigindo que

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Fernanda Pacobahyba assume a presidência após escândalos na gestão Bolsonaro — o ex-ministro Milton Ribeiro foi preso por tráfico de influência e corrupção na liberação de verbas do FNDE

banque o programa como um todo. O texto constitucional, notadamente a partir do artigo 205, diz que a alimentação escolar, o transporte escolar, a assistência em saúde, são programas suplementares em que o governo federal em tese, traz um aporte de recursos, mas os governos locais precisam aportar também. Por exemplo, o prefeito de Saboeiro diz que para cada 100 reais que o FNDE bota, ele bota pelo menos 300 reais. Não é muito diferente da realidade da Amazônia. Não é suficiente, até porque esse dinheiro federal não deve ser o único montante que banque. Mas tem sido suficiente para sudestinos, nordestinos, nortistas, absolutamente todos.

Sobre o Fundeb, os critérios de equidade serão aperfeiçoados? Secretarias estão com dificuldade nos critérios de habilitação para o VAAR (valor aluno por resultados) e há expectativa de alteração. O que pode adiantar?

Fundeb em 2024 vai aumentar 10 bilhões de reais em termos de complementação para estados e municípios. Hoje são 39.9 bilhões, vamos passar para praticamente 50 bilhões de reais. Esse complemento vai crescer até 2026. Existe uma portaria que foi designada pela secretária-executiva do MEC, Izolda Cela, instituindo um grupo de trabalho, porque há uma previsão normativa para fazer até outubro um aprofundamento e encaminhar alterações que sejam consideradas importantes. Compomos esse grupo e temos levado algumas sugestões. Mas, de fato, elas não estão finali-

zadas. Um dos focos é o VAAR, sabemos que é um montante de recursos, 2,5%, que não é aquela parcela extraordinária dentro do Fundeb, mas tem um foco meritocrático de realmente olhar boas práticas. É muito o exemplo do Ceará, de ter diretores que estão ali pela gestão e não por indicação de A, B ou C e que pode, eventualmente, desqualificar aquela gestão. Mas a gente também sabe que há uma cultura para ser desdobrada. A ideia é que, aumentando esse montante de complemento da União, essa parcela aumente e passe a ter um estímulo financeiro mais forte para que os entes tomem determinadas medidas. Também temos trabalhado muito, especialmente a secretária Zara Figueiredo, da Secadi, nas dificuldades dos estados e municípios, mas a gente tem muito firme, especialmente esse exemplo do Ceará, de que vale a pena colocar metas, e faz parte ter dificuldades para cumprir.

O Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) é importante, mas precisa de ajustes. Você defende um Sistema Nacional de Alimentação Escolar (Snae). Como executar um plano com continuidade?

Adoro esse tema. Mas, depois do artigo que publiquei na Folha, foi uma confusão, se chocou até com outros sistemas, como o de segurança alimentar. Só que a ideia não é sobrepor. Então eu mudei e publiquei no site do Conjur, com o chefe da procuradoria do FNDE, mas que tem basicamente a mesma finalidade que a da política nacional. Fizemos essa mudança também porque estamos agora em processo de recontratação da FAO, a agência da ONU para a alimentação, e braço superimportante do FNDE, especialmente na temática internacional. E temos hoje uma rede de alimentação sustentável em que o Brasil é líder na América Latina e Caribe. Na verdade, é o maior programa de alimentação escolar do planeta [Pnae], e levamos nossas boas práticas. O nosso foco, especialmente com a América Latina e Caribe, vai ser trabalhar modelos de políticas nacionais de alimentação escolar. Só que a lei do Pnae de 2009 não estabelece a política, ela estabelece um programa. Então eu apartei a ideia de sistema, porque estamos aqui para construir e não criar confusão, e vamos trabalhar a noção de política nacional. E o que é isso? A lógica é a mesma do Pnate. Os dados de hoje demonstram que 46% de todas as escolas que recebem o recurso do Pnae vão usar para a alimentação escolar unicamente o valor que o governo federal manda. Mas é um valor para ser, nos termos constitucionais, suplementar.

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ENTREVISTA

Fernanda Pacobahyba

O que queremos com essa política? Hoje, o prefeito olha para o programa e diz que por ser programa do governo federal não vai colocar dinheiro. Diria que só avança quando o cara está engajado, já entrou na lógica da importância da alimentação, que não existe educação com menino com fome. Queremos estruturar esse regime de colaboração e cooperação forte entre os entes e trazendo as responsabilidades de cada um.

Sou apaixonada pelo Pnae e a primeira pergunta ao assumir foi: ‘quanto que custa uma alimentação adequada para um estudante na região Nordeste? Quanto custa per capita no Norte, Sudeste e Centro-Oeste? O FNDE não tem esse dado estruturado. A conta da alimentação escolar sempre foi pegar o orçamento, ver o tamanho da rede e a partir daí dividir. Não é baseado na necessidade. Então queremos com a política trazer a noção de que para alimentar bem, por exemplo, um menino no interior do Ceará é preciso um real por dia. O governo federal oferta hoje 40 centavos, valor suplementar, e o prefeito precisa bancar com as verbas; podemos negociar, fazer uma escadinha. Mas o Programa Nacional de Alimentação Escolar precisa partir dessa grande pactuação e de uma assunção de responsabilidade também, porque não há educação com menino com fome.

Fizemos um projeto de lei, vamos ver como expor isso, para trazer a política nacional, continua o Programa Nacional de Alimentação Escolar e traz a participação social mais ativa. Mandei um ofício ao secretário do Tesouro Nacional e disse que um desafio já enquanto secretária da Fazenda do Ceará é que não há implementação de centro de custos na nossa contabilidade brasileira. É um avanço muito grande saber quanto é que custa, há algumas iniciativas, as pessoas juntam uma série de dados. Mas quanto custa com energia, água, professor, com absolutamente tudo? Você não tem uma base que diga quanto custa esse aluno dentro da contabilidade estruturada. Então nos voluntariamos para que o Pnae seja o primeiro programa do governo federal a usar centro de custos e já queremos mapear tudo. Porque hoje também o dinheiro federal está vocacionado a adquirir gêneros alimentícios. E a merendeira, quem paga? E a nutricionista? E o gás e a energia? Quem vai comprar panelas e fogão? Ou seja, fazer alimentação escolar é muito complexo e isso até hoje não tinha sido aprofundado.

Saiu na mídia que o governo federal investe pouco com merenda escolar e que não teve ajuste nos últimos seis anos. O que coloca é que o valor não é

único, e que os gestores políticos devem complementar.

Sim. Hoje temos um valor que não é individualizado por região, por exemplo. Há valor por escola urbana. No Crato, Oriximiná, em Porto Alegre será um valor só, não individualiza. Sabemos que há diferença de preços. Neste governo, uma das primeiras medidas anunciadas pelo presidente Lula foi o reajuste da merenda escolar em quase 40%. Só esse ano é um bilhão e meio de reais a mais. Não é pouco dinheiro, é muita grana, mas não pode ser o único dinheiro e é isso que defendemos. Os entes precisam compreender que não só a União tem um papel a cumprir, porque os dados dizem que 46% dos prefeitos não colocam um centavo a mais além do que é ofertado pelo governo federal. Então o que a gente quer é gerar esse movimento de compromisso para termos uma alimentação melhor.

Ao assumir o FNDE, qual a situação encontrada?

Foram feitas muitas alterações no quadro funcional?

Sou servidora de carreira, auditora fiscal. Uma das coisas que mais me surpreendeu foi a qualidade dos servidores do FNDE. Das notícias dos últimos anos de desvio no Fundo [escândalo de corrupção], dificilmente há envolvimento dos nossos servidores. Há envolvimento dos cargos comissionados, de pessoas que transitaram pelo órgão. Encontrei aqui uma equipe muito motivada, muito temerosa por conta, enfim; porque normalmente as pessoas que trabalham na educação gostam muito do que fazem. E quando há valorização do seu órgão e de seu trabalho, é óbvio que não querem ver sua organização sendo capa de jornal por desvio de conduta ou por atos não republicanos. Então estamos no movimento de construção de confiança para que as pessoas se sintam, de fato, seguras para atuar, que tenham liberdade e com mecanismos que assegurem às pessoas o direito de se comunicarem para evitar. Aqui não é uma casa de freiras, não é um mundo ideal. Mas é uma organização que tem pessoas e é importante termos mecanismos claros de contenção e de apuração de responsabilidade. Não adianta fazer de conta que não está vendo para evitar escândalo porque, quando vai para o externo, chamusca ainda mais a organização. Isso pra mim é uma prioridade absoluta no FNDE: trazer o tom de integridade, porque essa organização merece. O papel que cumpre na educação brasileira é extraordinário e encantador. Acho que os brasileiros não conhecem o FNDE, fica muito por trás da figura do MEC. E precisamos, sim, fazer o Brasil conhecê-lo a partir das boas práticas.

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Quer falar sobre o respeito às pessoas LGBTQIA+ em sua escola?

Chame uma Mãe pela Diversidade. Nós falamos com o coração.

Conheça nosso trabalho em maespeladiversidade.org.br

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Política se aprende na prática DEMOCRACIA

Exercitar a cooperação e o respeito desde cedo é fundamental. Conheça o projeto premiado de uma professora da rede pública sobre tolerância e orientações de especialistas em como aproximar a escola dos estudantes

Estudantes da Escola Estadual José Ferreira Maia, MG, conseguiram recursos para conhecer os Três Poderes, em Brasília

Educar sobre política, democracia, direitos e deveres é mais do que passar uma série de conceitos para os estudantes decorarem. Afinal, de pouco adianta um adolescente saber a função do Ministério Público se não souber ouvir um colega que discorda de suas ideias. A escola precisa permitir que os conceitos sejam colocados em prática, porque é somente no diálogo, no respeito à opinião dos outros e na construção coletiva que os estudantes podem aprender e praticar a cidadania.

Foi justamente ao perceber uma indisposição em aceitar a opinião alheia que a professora Karina Letícia Pinto, da Escola Estadual José Ferreira Maia, em Ti-

móteo, Minas Gerais, decidiu criar em 2019 um projeto para tratar de política para sua turma de 5º ano. “A gente estava com o clima tenso na sala por questões de política partidária. Crianças de 10 e 11 anos que viam as reações e ouviam palavras dos adultos levavam o mesmo comportamento para dentro da escola”, lembra ela.

Em vez de se amedrontar frente à intolerância presenciada e tentar apenas mudar o foco, Karina decidiu

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Fotos: Arquivo pessoal Visita à Câmara Municipal de Timóteo; projeto da professora Karina também incluiu a participação das famílias

enfrentar o problema. Para isso, sentiu a necessidade de buscar novas abordagens. “Vi necessidade de trabalhar a tolerância. Tive apoio do Plenarinho para trabalhar sobre o funcionamento dos poderes e a democracia de uma forma diferente”, conta. Plenarinho é uma iniciativa da Câmara dos Deputados com jogos, vídeos e desafios voltados à educação política de crianças.

As lições da ‘tia Karina’ chegaram até os adultos também, pois a professora passava como tarefa de casa às crianças conversar com os familiares sobre política. Claro que, inicialmente, alguns familiares se assustaram, mas logo ela e os estudantes explicaram que não se tratava de política partidária, mas sim de como agir em sociedade.

Durante o ano letivo, as crianças elegeram um líder de sala, foram à Câmara Municipal, redigiram um projeto de lei e, no final, conseguiram apoio de toda a comunidade para levantar recursos e viajar até Brasília, onde conheceram as sedes dos Três Poderes e participaram de uma simulação de sessão. Pelo projeto, Karina recebeu em 2021 da Bett Brasil e do Instituto Significare o prêmio de Professor Transformador.

Mesmo após 2019, as lições de democracia de Karina continuaram com as próximas turmas, embora com outras proporções e atividades. As discussões estão presentes sempre nas aulas de geografia e história, mas também em textos de português que tratam das fake news, em gráficos com pesquisas de opinião

A caminho de virar lei

Em 9 de agosto deste ano, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 1108/15, que estabelece como componente curricular obrigatório a educação política e os direitos do cidadão, desde o infantil até o ensino médio. Seria um acréscimo ao artigo 26, que determina o que se deve ensinar nas escolas. Estão neste artigo o português, a matemática, conhecimento do mundo físico, natural e social, o inglês a partir do 6º ano, as artes, a educação física, a história e a cultura afro-brasileira e indígena. O texto seguiu para o Senado, onde aguarda análise.

A tensão política em sua turma do 5º ano de 2019 não amedrontou a professora Karina Letícia Pinto, da Escola Estadual José Ferreira Maia, em Timóteo, MG

na matemática, cita a docente. A professora defende o poder das crianças para melhorar a política brasileira. “A democracia tem que reinar — e os meninos vão ensinando para as famílias”, diz.

Para Érica Catalani, coordenadora de projetos do Cenpec, ONG referência e que trabalha pela equidade na educação, o aprendizado sobre o respeito às diferenças não tem uma idade certa, assim como não há um componente curricular único para tratar da democracia: todo momento é oportuno. “Sou professora de matemática e até na hora de analisar as formas de resolver uma adição, posso colocar como discussão na sala o fato de estudantes encontrarem caminhos diferentes, mostrar que todos os pontos de vista e formas de pensamento devem ser respeitados”, exemplifica.

O exercício da cidadania deve começar próximo da realidade das crianças. Um grupo de pessoas reunidas para decidir algo em conjunto, por mais simples que pareça, já é uma forma de viver a política. “A gente pode discutir na mais tenra idade sobre limpar o espaço onde me alimentei. Reunir-se para discutir qual história vai ser lida. As crianças decidindo é um ato político”, afirma.

Mas a vivência precisa sempre ser orientada pelos professores, com a intencionalidade pedagógica de promover o respeito e a tolerância. Érica conta que muitas vezes as crianças querem definir regras autoritárias, pedem em assembleias a expulsão de colegas indisciplinados, por exemplo. “Cabe, nesses casos, discutir o que essa regra pode infringir no direito do outro, como ficariam as relações coletivas”, recomenda.

Também é importante que a escola vá além do discurso, que dê espaços, tempos e acolha realmente as propostas dos estudantes — coisas que, infelizmente, ainda são raras de encontrar. “É fácil falar, mas como se vive isso no cotidiano, com crianças e adolescentes?

Revista Educação 15 Reprodução

DEMOCRACIA

Na minha pesquisa vi que a educação infantil tem espaço para escuta e escolha, mas isso vai diminuindo com o passar dos anos, o que é incoerente. Como vão ter autonomia sem a gente permitir que façam escolhas?”, questiona Thaís Fazenda Coelho, professora da consultoria Trocando Ideias.

Dá, sim, muito trabalho promover o debate e acolher decisões coletivas, reconhece Thaís, mas é preciso que essas variáveis sejam sempre consideradas, ou as atividades acabarão sendo inócuas. “Muitas escolas têm a prática de líder de sala. Mas quantas oferecem momentos para ele escutar o grupo? Se a escola não dá espaço para conversarem, o líder vai representar quem? Democracia é representar um grupo e não decidir coisas da cabeça dele”, ressalta Thaís.

Na cidade de São Paulo, na particular Escola Nossa Senhora das Graças, o Gracinha, a política está no currículo desde os primeiros anos. As questões vão crescendo em complexidade até que os estudantes do ensino médio visitam Brasília, assistem sessões no legislativo e judiciário. Mas a política não está apenas no currículo: ela se faz no dia a dia da gestão da escola, explica Wagner Borja, diretor da instituição. “Temos grêmio estudantil, vários coletivos, fazemos assembleias. Embora a gente tenha uma

“A democracia faz parte da pedagogia ou não ensina, se limita a adestrar, sem o enriquecimento intelectual e moral”, orienta Cristovam Buarque, que já foi ministro da Educação

No Gracinha, em SP, a política está presente desde cedo e há uma ampla participação da comunidade escolar no dia a dia

hierarquia, há o cuidado de ouvir as pessoas e encaminhar as propostas”, garante.

Entre as decisões tomadas graças a negociações com a comunidade escolar estão o código de vestimenta dos estudantes, a criação de espaços temáticos na biblioteca para o protagonismo feminino, negro e LGBTQIA+, assim como regras para uso dos espaços. “Em 2015 a quadra não podia ser usada nos intervalos para o futebol. Foi por causa de uma negociação com o grêmio que os estudantes recuperaram esse direito”, lembra Borja.

A relação entre escola e democracia é intrincada e se manifesta de diversas maneiras. Para o ex-senador e ex-ministro da Educação (2003-2004) Cristovam Buarque, a democracia é um ponto de partida para toda a instituição de ensino. “Sem democracia, a escola não consegue ensinar democracia, nem qualquer outra disciplina plenamente. A democracia faz parte da pedagogia ou não ensina, se limita a adestrar, sem o enriquecimento intelectual e moral”, diz.

Ele lembra ainda que a verdadeira democracia nacional depende de que a educação com qualidade chegue democraticamente a todos. “Antes de discutir como ensinar sobre democracia na escola é preciso sugerir como a democracia deve influir para que o Brasil tenha escolas todas com qualidade e a mesma qualidade para todos, independentemente da renda e do endereço da criança”, afirma. O Brasil ainda tem um longo dever de casa para entregar.

Revista Educação 16
Pedro França/Agência Senado

TRANSFORMAÇÃO

Música dos Racionais é considerada obra literária

Lançada em 1997, Diário de um detento fala sobre violação de direitos no presídio do Carandiru, em SP

Para alguns de nós, por vezes é impossível entender o que é viver à margem da sociedade. Personificar o efeito da discriminação, violência ou da privação de liberdade pode parecer muito distante em determinados grupos sociais, quase intangível. No entanto, por seu caráter tão subjetivo, a música e a literatura são formas de expressão que podem nos aproximar de determinados contextos. É o que ocorre com a canção

Diário de um detento, composta por Mano Brown e Jocenir Prado como parte do álbum Sobrevivendo ao inferno, dos Racionais MC’s, que explicita o cotidiano daqueles que são privados de liberdade.

A letra é considerada um marco do rap nacional e uma denúncia da violência e das condições do sistema carcerário brasileiro. Nesse cenário, em setembro de 2023, ela foi reconhecida como obra literária para fins de remição de pena pelo juízo da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná. A decisão se baseou na Resolução Nº 391 de 10/05/2021, que prevê a possibilidade de remição de pena por meio de práticas sociais educativas em unidades de privação de liberdade, por exemplo, com atividades de leitura. Trata-se de uma decisão que reflete o potencial transformador da literatura, e suas mais variadas formas de expressão.

A literatura marginal ou periférica surgiu no início dos anos 2000, sobretudo a partir da obra Literatura marginal: talentos da escrita periférica

grandes periferias urbanas que retrataram o cotidiano das favelas, a violência, a falta de recursos, o descaso e abuso das autoridades, entre outros temas. O termo ‘literatura marginal dos marginalizados’ foi cunhado por Ferréz, e o ponto de convergência desses escritores está articulado às experiências de vida, criando uma identidade coletiva: ser morador da periferia urbana faz com que se vivencie a marginalidade social.

Esse novo movimento literário também tem sido reconhecido pelo meio acadêmico, um exemplo disso é a inclusão do livro Sobrevivendo no inferno, presente na lista de leitura obrigatória para quem deseja ingressar na Unicamp, uma das principais universidades do país. O livro aparece junto de obras clássicas de Olavo Bilac, Machado de Assis e Raul Pompéia.

Não é banal pensarmos sobre o potencial transformador da literatura. Por meio dos exemplos acima, vamos descobrindo novas formas de educação e ressocialização, num movimento de ensino e aprendizagem com atividades diversificadas, flexíveis e contextualizadas, que atendam às necessidades, interesses e potencialidades dos estudantes, independentemente de onde esse processo possa ocorrer.

A literatura marginal ou periférica surgiu no início dos anos 2000, sobretudo a partir da obra Literatura marginal: talentos da escrita periférica, organizada pelo escritor paulistano Ferréz. Uma coletânea de autores provenientes das

Damaris Silva mestre em letras e especialista em gestão escolar

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No Centro Educacional Pioneiro, os momentos de brincadeiras são valorizados e as crianças também possuem contato com a natureza

Bem-vinda, escola

A importância do ambiente escolar para o desenvolvimento cognitivo e emocional é cada vez mais incontestável; interação com outras crianças e adultos potencializa vários aprendizados, sendo um direito da criança

Divulgação

Meu pai não tinha vocação para o ensino, mas quis meter-me o alfabeto na cabeça. Resisti, ele teimou — e o resultado foi um desastre. Cedo revelou impaciência e assustou-me. Atirava rápido meia dúzia de palavras e ia jogar solo.”

Assim o escritor alagoano Graciliano Ramos relata a tentativa do pai para que ele se tornasse ‘um sujeito sabido’, como descreve em suas memórias no livro Infância , de 1945. Mestre Graça, mais do que documentar seus primeiros anos de vida, tenta, já maduro, reconstruir com as tintas da imaginação um pouco do que havia se passado ali: a transformação de um mundo que se abre por meio da oralidade para fixar-se no aprendizado do registro escrito, o que permite descortinar outros novos mundos.

Se em partes de Infância o tom é dado por um pai violento e as restrições do sertão e da pequena cidade que começa a se desenvolver, surgem também a professora compreensiva e os livros do caixeiro-viajante Jerônimo Barreto, muito mais divertidos que as cartilhas, eternas fontes de desânimo. Ensinamentos tortos que, mesmo com esforço, não destruíram a curiosidade de quem já havia se encantado pelo conhecimento.

Assim como Graciliano, diversos outros escritores e memorialistas deram novas cores a suas experiências antigas, pintando-as com os pincéis dos sentimentos marinados pelo tempo. Hoje, entretanto, a realidade do ingresso das crianças na escola é bem outra, apesar de ainda deixar a desejar não só quando comparada a outros países, mas também às metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação

Na pesquisa da FMCSV divulgada ano passado, ausência de brincadeiras foi registrada em 46% da pré-escola e 38% das creches

Professores têm dificuldade com a BNCC, diz Beatriz Abuchaim. Coordenadores devem estar preparados para auxiliar os educadores. “Essa figura é central para a implementação curricular”

(PNE) 2014-2024. Em sua Meta 1, o PNE estabeleceu que, até 2016, todas as crianças que completassem quatro anos no exercício letivo corrente deveriam estar matriculadas na pré-escola. Em 2019, último ano antes da pandemia de covid-19, 94,1% das crianças de quatro e cinco anos estavam matriculadas, um total de 5 milhões e 91 mil crianças. Por melhor que seja a evolução, principalmente se contabilizarmos o aumento do acesso a partir de 2001, quando 66,4% das crianças nessa faixa etária estavam na escola, ou mesmo em 2014, quando já havíamos chegado a um total de 89,1%, ainda restavam 330 mil crianças esperando por uma vaga em 2019. E, pior do que isso, a pandemia fez com que o número de matrículas em 2021 tivesse queda de outras 270 mil.

“Temos de afirmar o direito à educação infantil. Ela deve ser ofertada pelo Estado de forma gratuita, para que as crianças tenham acesso a um desenvolvimento integral, tenham a plenitude de sua infância”, enfatiza Beatriz Abuchaim, pesquisadora e gerente de conhecimento aplicado da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV), entidade que tem liderado grande parte dos projetos relacionados à educação infantil em nível nacional.

A garantia ao acesso é um dos principais instrumentos para que se minimizem as desigualdades sociais. Atender os mais vulneráveis dessa faixa etária é prioritário, não só porque eles são os que correm maiores riscos de não frequentar creches e pré-escolas, como

Revista Educação 21 Divulgação

PRIMEIRA INFÂNCIA

também porque isso amplia a possibilidade de essas crianças darem continuidade à sua vida escolar. Quem frequenta a pré-escola têm 88% mais chances de terminar o ensino fundamental e 73% mais probabilidades de concluir também o ensino médio, segundo a pesquisa Desigualdades na garantia do direito à pré-escola, estudo encomendado pela FMCSV, em parceria com o Unicef e a Undime, e publicado em 2022.

Além desses indicadores, pesquisas nacionais e internacionais apontam que frequentar a pré-escola — principalmente aquela de qualidade — permite que os futuros adultos tenham maiores taxas de empregabilidade, alcancem índices mais altos de escolarização e tenham mais cuidados com a própria saúde e a dos filhos e cônjuges. A pesquisa da Fundação indicou, ainda, as maiores e menores taxas de frequência na etapa: a maior é no Nordeste, com 96,7%, e a menor no Norte, com 88,5%.

Mas o trabalho pela primeira infância também contempla outras parcerias. Ao lado do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social (Lepes, da USP de Ribeirão Preto), a FMCSV finalizou, também em 2022, o estudo nacional sobre Qualidade da educação infantil, em que foi avaliado o bom funcionamento dos ambientes de aprendizagem em mais de 3,5 mil turmas de 12 municípios brasileiros das cinco regiões.

Esse levantamento nasceu da adaptação de um instrumento internacional de pesquisa, o Melqo (Medição da Qualidade e Resultados da Aprendizagem

Cursos de pedagogia são anacrônicos, desconsiderando aspectos biológicos e comportamentais; a etapa é desvalorizada e remunera mal; afirma o neurocientista

Fernando Louzada

O neurocientista Fernando Louzada lembra que quanto mais pobre é o ambiente do ponto de vista cultural, mais o desenvolvimento infantil pode ser comprometido

Precoce, em português), oferecido pela Unesco que analisa os ambientes e as interações entre crianças e seus pares e com o professor ou outros adultos, com os materiais e espaços disponíveis e a infraestrutura como um todo.

Segundo Beatriz Abuchaim, houve alta adesão das redes estaduais e municipais à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a educação infantil e os primeiros anos do ensino fundamental, documento sobre o qual se assentam os parâmetros para a avaliação. Mas, a despeito disso, dois fatores chamaram a atenção dos investigadores externos. “Nos surpreendemos com o fato de não vermos com a frequência que gostaríamos os momentos de brincadeiras mais livres. E também registramos uma baixa taxa de leitura”, revela Abuchaim.

Na pesquisa da FMCSV divulgada ano passado, ausência de brincadeiras foi registrada em 46% da pré-escola e 38% de creches. Beatriz Abuchaim também relata que os professores têm dificuldade de interpretar o que está na BNCC, ainda que os currículos locais estejam alinhados a ela. O problema de origem é aquele que sempre é mencionado e raríssimas vezes é atacado como política pública central para melhorar a educação em todos os níveis: as formações docentes inicial e continuada. Uma alternativa para minimizar essa deficiência, principalmente para os educadores que já estão na ativa, é o acompanhamento próximo e frequen-

Revista Educação 22
Gustavo Morita/revista Educação
Universidades, escolas e redes públicas devem fazer com que educadores tenham melhores referências teóricas e interajam com as crianças a partir de noções mais sólidas de psicologia e pedagogia

te de coordenadores pedagógicos bem instrumentados para orientar e explicar as práticas. “Essa figura é central para a implementação curricular”, diz.

ESTÍMULOS

O pediatra Fábio Ancona Lopes, com 60 anos de janela profissional, alerta que brincar é fundamental, na escola e em casa. “Há escolas que exigem demais, esperando coisas que as crianças ainda não conseguem fazer. Querem corresponder a um excesso de expectativas de pais e mães, de acelerar o desenvolvimento da criança.”

Ele alerta que as crianças têm o seu tempo. Até os três anos, mais ou menos, ainda estão muito voltadas a si próprias. Por isso é normal brincarem sozinhas. A partir de quatro anos, avalia Ancona, já se pode incentivar maior interação com o meio. O médico aconselha que a escola possibilite o convívio com pequenos animais, como tartarugas, para a criança ir percebendo o outro. E que possam mexer com terra e plantar numa horta, acompanhando o crescimento dos vegetais. “O contato com a natureza e o fato de saber de onde vem as coisas que ela come ajudam a diminuir a rejeição a alimentos, comum por volta dos quatro anos”, diz o professor aposentado da Escola Paulista de Medicina, que também é nutrólogo.

A ESCOLA COMO FATOR PROTETIVO

Se a obrigatoriedade da frequência escolar pela

Constituição Brasileira se dá a partir dos quatro anos, a vivência das crianças menores em creche pode representar um ganho em termos de alimentação, cuidados, proteção e educação, principalmente para aquelas que vivem em situação de vulnerabilidade social.

O psicólogo e neurocientista Fernando Louzada, coordenador do Laboratório de Cronobiologia Humana da Universidade Federal do Paraná (UFPR), lembra que quanto mais pobre é o ambiente do ponto de vista cultural, mais o desenvolvimento pode ser comprometido. “Isso ocorre em ambientes com menos conversas, menos histórias, menos livros e estímulos.” Mas, ainda mais importante é a frequência escolar para tirar a criança de situações de violência, negligência, abuso, fome e abandono crônicos, experiências que afetam a regulação emocional. Na escola, esses problemas são perceptíveis e permitem que o Conselho Tutelar seja acionado para proteger as vítimas.

“Esse tipo de episódio pode alterar o funcionamento cerebral da criança, provocar mudanças em suas redes neurais, deixando marcas estruturais na configuração do cérebro. Os circuitos de memória são consolidados pela experiência”, alerta Louzada. Por isso, a presença na escola e as atividades lúdicas estimulam o cérebro de maneira positiva. “O desenvolvimento cognitivo e emocional se dá por meio das interações sociais, em ambientes seguros”, completa.

Beatriz Abuchaim reforça essa defesa. Ela lembra que o brincar não só desenvolve, mas proporciona o aprendizado nas interações, na autorregulação da criança, estimula a criatividade, ajuda na percepção do tempo e do espaço e na construção da autonomia. “Na primeira infância, iniciamos esse processo de construção de identidade, o que acontece na relação com o outro. A escola proporciona um ambiente mais rico, com outras crianças e adultos. Nada substitui essa experiência em termos de socialização”, explica.

DESAFIO DA FORMAÇÃO

Para o neurocientista Louzada, os problemas são vários: os cursos de pedagogia são anacrônicos, desconsiderando aspectos biológicos e comportamentais; a etapa é desvalorizada e remunera mal; não se consegue multiplicar experiências bem-sucedidas de outros lugares, como as de Sobral, no Ceará.

É crucial, por exemplo, que os momentos de brin-

Revista Educação 23

PRIMEIRA INFÂNCIA

cadeira livre, muito necessários, sejam acompanhados e mediados pelos professores. Deixando, porém, a iniciativa de escolher com quem, com o quê brincar e como iniciar a atividade a cargo da criança.

Um alerta feito pelos educadores e pela Sociedade Brasileira de Pediatria: o contato com telas (somando todas elas, TV, celulares, tablets etc.) deve se restringir a uma hora diária a partir dos dois e até os cinco anos. Até dois anos, a recomendação é para que o contato seja evitado.

O professor de literatura Cláudio Leitão, analisa no posfácio de Infância o que significa na obra de Graciliano Ramos a aquisição da leitura, após a imaginação ser atiçada pelas histórias orais. “Adquirir a capacidade de ler resulta na descoberta de um oceano. Resulta em desejar fazer navegar a imaginação livremente até ilhas, reinos e fantasmas, de quantidade e distância ilimitadas.”

FAMÍLIAS LEVAM ANSIEDADE À ESCOLA

Pais que projetam nos filhos suas expectativas e o receio de que as crianças vivam os mesmos problemas e traumas que viveram na infância. Esse é um desafio cotidiano na educação infantil de escolas particulares de classe média. Para tranquilizá-los e livrá-los de uma angústia que pode prejudicar as crianças, a melhor saída tem sido o diálogo e a informação.

É o que faz a coordenadora pedagógica do Centro Educacional Pioneiro, escola situada na Vila Clementino, zona sul de São Paulo, com classes da pré-escola ao

Beatriz Abuchaim, da FMCSV: brincar não só desenvolve, mas proporciona o aprendizado nas interações, autorregulação, gera autonomia, estimula a criatividade, ajuda na percepção do tempo e do espaço

Coordenadora pedagógica do Centro Educacional Pioneiro, SP, o desafio de Débora Martins é tranquilizar as famílias, que chegam com medos e alguns traumas de suas próprias infâncias

ensino médio. Débora Martins se reúne com as famílias dos 159 estudantes a cada três meses. Muitos pais ainda têm uma visão da educação infantil descolada no tempo. “Entendem que é um lugar só de cuidado, superproteção e tentam evitar que os filhos passem por episódios que eles próprios passaram na infância. Tentamos trazer as famílias para perto e explicar que conflitos e frustrações acontecem, mas que não necessariamente os filhos vão sentir da mesma forma que eles sentiram”, explica a coordenadora.

A ansiedade pela aprendizagem, vista não só no âmbito dessa escola, é relatada também em outros países, como a China. Ela se deve à angústia de dar condições aos filhos para que tenham uma carreira profissional bem-sucedida.

Mas nem tudo é ansiedade. As famílias ficam felizes com a liberdade de que os filhos desfrutam e com conceitos diferentes daqueles da sua infância. “Se surpreendem que as crianças têm mais momentos de brincadeiras, usam o tanque de areia todos os dias e lidam com elementos da natureza. E admiram o fato de também fazerem rodas de conversa para resolver conflitos, quando há escuta das crianças e dos professores”, diz Débora Martins.

Pela fala da coordenadora, comum à experiência de muitos educadores, além de educar as crianças, as escolas também precisam ajudar no aprendizado da paternidade.

Revista Educação 24 Divulgação
Revista Educação 25 APRESENTADO POR

MIDIÁTICA

Inglaterra é inspiração na proteção de crianças no

digital

Lei inglesa de segurança online entra em vigor ainda este ano com punições financeiras e criminais às empresas de tecnologia. Proposta é “tolerância zero, e as crianças em primeiro lugar”

Após desenvolver um sistema público de comunicação referência em todo o mundo (a BBC, British Broadcast Company), e também se colocar na vanguarda no controle social de programação, agora a Inglaterra está voltando de vez suas políticas ao universo digital e algorítmico. Ao que parece, a ilha está determinada a tornar-se pioneira em uma legislação mais rígida no que diz respeito à proteção das crianças nas redes sociais.

Podemos entender como ‘rigidez’ não só o poder de coibição, investigação, perseguição, incriminação e prisão a quem gerar conteúdos que violem os direitos das crianças; a Online Safety Bill, que entrará em vigor ainda este ano, se consolida na base de um artigo de lei de proteção à infância de 1989 — que, por sua vez, foi validado com o mesmo peso e rigor no universo digital há alguns anos. Na prática, é uma lei que se desenvolve e se aprimora no processo de sua estruturação — um conceito conhecido como ‘by design’

No Brasil, o excesso de fisiologismo político impede que os próprios projetos de lei sejam desenvolvidos também ‘by design’, e acabam por incorporar exigências e demandas que os transformam em ‘jabutis’, distante da ideia inicial. De certa maneira, é o que presenciamos com o PL 2630. A lei poderia, juntamente com o marco civil da internet e a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, compor uma tríade promissora na garantia de direitos dos brasileiros — afinal, as transformações no mundo digital e seus impactos na educação exigem celeridade nas

legislações. Na prática, o PL 2630 caminha para se tornar um símbolo de gasto público inócuo.

O que está em jogo na Online Safety Bill são punições financeiras e criminais sem precedentes às empresas de tecnologia que não retirarem imediatamente conteúdos que estimulem ou provoquem ações de bullying, assédio ou desrespeite leis comerciais relativas às crianças e também adultos. As chamadas ‘big techs’ já estão se mexendo, porque o ônus será inteiramente delas: terão que alterar interfaces, algoritmos e ações de marketing digital que coloquem as crianças como alvo. O TikTok já modificou a programação de alguns serviços oferecidos às crianças, o Google habilitou novos controles parentais e o Facebook reforçou as camadas de proteção contra identidades falsas de usuários. O YouTube, por sua vez, desativou o ‘autoplay’ em contas de menores de 18 anos.

As ‘big techs’ já estão se mexendo, porque o ônus será inteiramente delas: terão que alterar interfaces, algoritmos e ações de marketing digital que coloquem as crianças como alvo
Revista Educação 26

A ideia do projeto de lei, que nasceu no Ministério de Ciências e Tecnologia e passou por diversas consultas públicas antes de chegar à aprovação no Parlamento inglês, é “tolerância zero e as crianças em primeiro lugar”.

Um dos pontos que geraram mais controvérsias na lei é o que obriga que sites com material pornográfico garantam que seus conteúdos não cheguem a crianças e adolescentes. Desde 2019, o governo britânico tenta requerer algum tipo de controle de idade para quem acessa conteúdo pornográfico, mas a questão da privacidade de dados tem sido um entrave para se exigir dados como identidade, ou outro documento. Há alguns sistemas em desenvolvimento e há um prazo para que sejam instalados.

No caso de material inadequado compartilhado em redes sociais como TikTok e Instagram, a lei exige uma camada especial de proteção nos buscadores quando crianças forem os usuários. Esse é também um ponto polêmico porque algumas empresas de tecnologia tendem a se defender abertamente como apenas ‘fóruns de compartilhamento’ e não produtoras de conteúdo, se esquivando de responsabilidades. Em outras esferas, a Online Safety Bill tratou de atualizar legislações anteriores e deixá-las mais severas, por exemplo, aquela que define punição a quem compartilhar conteúdo íntimo sem consentimento dos envolvidos.

Todo o debate global sobre como o universo digital impacta a qualidade de vida e os direitos das crianças e adolescentes estimulou também pesquisas no meio acadêmico da Inglaterra. Uma das mais ativas e influentes

pesquisadoras da London School of Economics (LSE), Sonia Livingstone, tem se dedicado a desenvolver técnicas de design de produtos digitais que, durante o processo, garantam os direitos das crianças. O princípio do ‘by design’ mais uma vez é aplicado, ou seja, acertar pontos durante o processo de desenvolvimento é mais eficaz do que consertar o produto já pronto.

Sonia, que é membro da Comissão de Futuros Digitais, acaba de lançar um guia prático para que o cotidiano, acesso e direito das crianças sejam garantidos nos produtos digitais. A ideia é que os modelos de negócios baseados em dados, que regem a economia digital, passem a dedicar aos usuários menores de 18 anos uma proteção especial.

São 11 os princípios do Children rights by design:

1. Equidade e diversidade;

2. Interesse das crianças em primeiro lugar;

3. Escuta às crianças durante o processo;

4. Adequação do produto às idades adequadas;

5. Responsabilidade com a legislação;

6. Participação das crianças no processo;

7. Respeito à privacidade de dados;

8. Respeito à segurança online;

9. Respeito ao bem-estar das crianças;

10. Atenção ao aprendizado e imaginação;

11. Ação contra o consumismo exagerado.

O aprofundamento de todos os pontos foi disponibilizado em forma de guias e infográficos para desenvolvedores e executivos de empresas. A criadora insiste para que as tabelas sejam fixas nas paredes de quem cria sites, algoritmos e outros produtos e sirvam como um mantra para esses desenvolvimentos. De fato, os ‘think tanks’ ingleses têm experiência e conhecimento de sobra para compartilhar com países como o nosso — no cenário internacional, a vaga para ‘párias digitais’ está vacante; é questão de tempo para alguém ocupá-la.

Alexandre Le Voci Sayad é jornalista, educador e escritor. Mestre em inteligência artificial e ética pela PUC-SP e apresentador do Idade Mídia (Canal Futura).

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10 p êmio s TopE caç ã o

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Órfãos de escola, cresce migração de jovens para a EJA

Triste ironia que o país de Paulo Freire siga sem rumo na educação de jovens e adultos. Agora mais um desafio: quase 400 mil pessoas saíram de turmas do ensino fundamental e médio regular para classes de EJA, segundo o Censo Escolar

| Por Paulo de Camargo

Ogoiano Valdir Vicente Nunes, de 62 anos, pintor de paredes, sempre teve poucas oportunidades de acesso à escola, impedido pela dura vida na roça e pela necessidade de trabalhar com o pai. Aos trancos e barrancos, terminou o ensino fundamental, mas nunca abandonou o sonho de continuar estudando. Há dois anos, incentivado pelo filho Mateus, Nunes se matriculou no Centro de Educação em Período Integral Arco-Íris, em Goiás, trazendo consigo sua esposa Cláudia. “No começo, tive vergonha de ficar no meio de garotos tão novos, mas agora estou realizado, com o coração cheio de alegria”, celebra. Quer seguir em frente, e sonha em realizar o Enem.

A história de Nunes, resumida em um parágrafo, é uma rapsódia de muitas outras histórias. Dá pistas sobre o direito à educação negado, fala sobre um contingente imenso de 57 milhões de jovens e adultos brasileiros fora da escola que não conseguiram completar a educação básica, mostra a vontade de aprender como um valor social e deixa claro a vital importância da boa educação de jovens e adultos (EJA), modalidade negligenciada em orçamentos e políticas públicas.

Mas, há um detalhe novo, que não pode passar despercebido, e funciona como (mais) um sinal de alerta: o espanto de Nunes ao entrar em uma sala de EJA repleta de jovens é o mesmo que vem intrigando pesquisadores da área: estudos indicam que, cada vez mais, a EJA é o espaço de jovens brasileiros de 19 a 29 anos — portanto, recente e precocemente saídos da escola regular.

Em Goiás, a diretora Orita de Souza Medrado vai às ruas convidar adultos a voltarem aos estudos. Sobre o ensino, diz que é preciso buscar elos com o mundo do trabalho

O Censo Escolar de 2022 mostra que metade dos estudantes de EJA do fundamental 2 e ensino médio possui menos de 25 e 24 anos, respectivamente, confirmando uma tendência verificada pelo menos desde o final da década passada (portanto, antes da pandemia, que agravou um quadro já instalado).

Conforme o sociólogo Felipe da Silva Santos, pesquisador na Fundação Roberto Marinho, há uma surpreendente migração de estudantes do ensino regular para a EJA: 230 mil alunos saíram do ensino Fundamental 2 e

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pessoal
Arquivo
EJA

160 mil deixaram o ensino médio. “É um número muito alto e precisamos realizar esse debate”, avalia Santos. “Há 9 milhões de jovens com idade entre 15 e 29 anos que estão fora da escola, e precisam de EJA”, diz.

RAZÕES DA DEBANDADA

O que leva um estudante a deixar a escola regular para, logo depois, buscar a EJA? As razões são diversas, como é diverso o público da EJA: as dificuldades econômicas, as tendências demográficas, o desencanto com a escola e fatores regionais influem na decisão dos jovens. Mas, o denominador comum dos que optam por esse caminho é uma história que a educação brasileira conhece bem: a exclusão. Repetências frequentes, evasão e abandono que desembocam em uma elevada taxa de distorção idade-série — termo técnico que define alunos que estão com dois ou mais anos de atraso em relação à idade esperada para a série que frequentam. A partir do 7º ano do ensino fundamental, pelo menos um em cada quatro alunos brasileiros encontra-se nessa condição.

A saída da escola torna-se, então, quase um caminho natural e a retomada do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), exame no qual o Enem se inspirou e promove a certificação dos estudantes na modalidade, abriu uma espécie de rota de retorno, ou de fuga, para jovens em uma errática jornada escolar. Não por acaso, o número de inscrições no Encceja vem atingindo recordes, tendo chegado a quase 3 milhões em 2019.

Para o pesquisador Roberto Catteli Jr., diretor do curso de EJA do Colégio Santa Cruz, em São Paulo, e coordenador da área na organização social Ação Educativa, trata-se de um fenômeno complexo e assustador. “São alunos que vão sendo excluídos da escola e voltam para tentar novamente ou buscar mais empregabilidade”, avalia.

Essa tendência é apenas a ponta do iceberg de um problema social que os governos fingem não ver. Lançado há menos de um ano, o documento Em busca de saídas para a crise das políticas públicas de EJA, realizado pela Ação Educativa, Cenpec e Instituto Paulo Freire, dimensiona o desafio.

A EJA vem registrando brutal queda de matrículas, acompanhada de não menos alarmante diminuição de recursos. As matrículas caíram de 4,3 milhões, em 2010, para 2,7 milhões, em 2022. Segundo o estudo, o gasto empenhado em 2022 representa 3% do que foi gasto em 2012. Foram destinados R$ 342 milhões em 2012 e apenas R$ 5,5 milhões 10 anos depois, registra o estudo. No

Estudantes de EJA do Colégio Santa Cruz, referência em SP. Entre os atuais problemas, BNCC não considerou educação de jovens e adultos ano em que mais se gastou com EJA, isso não representou sequer 2% das despesas nacionais com educação. Hoje, não atinge nem 0,04%.

O reconhecimento das especificidades da EJA passou ao largo também de políticas educacionais importantes, como a própria BNCC. “A Base teve diferentes versões para o ensino fundamental e médio, e em nenhum momento do processo de sua elaboração as especificidades do público jovem, adulto ou idoso foram consideradas. Pesquisadores, gestores públicos, educadores e educandos da modalidade também não foram consultados”, aponta o mesmo estudo. Assim, hoje faltam referenciais que pautem a produção de livros didáticos, plataformas educativas e a própria inclusão da EJA no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

NOVO PERFIL DO ESTUDANTE

O novo perfil do aluno de EJA traz impactos relevantes para a sala de aula, a começar do trabalho pedagógico. As escolas precisam de apoio para encontrar caminhos para se conectar com ele. “Para dar conta desse novo perfil, precisamos investir em formação de professores e metodologias ativas”, acredita a educadora Eliani Geralda de Oliveira Franca, diretora da Escola Estadual Padre João Botelho, em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Segundo Eliani, que vê dia a dia o rejuvenescimento das turmas de EJA, a necessidade de trabalhar e a desmotivação alimentam a nova onda. Entre outras características, o público jovem se mostra mais flutuante, e as taxas de evasão crescem. “Tenho turmas que começaram com 30 alunos e terminaram com 11”, exemplifica. Na sua visão, o futuro da EJA passa pela aproximação com modelos de profissionalização, e perto do local de trabalho do estudante.

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Arquivo pessoal

Diversidade precisa ser considerada na EJA EJA

André Lázaro é nome sempre lembrado nas discussões sobre os rumos da educação de jovens e adultos no Brasil. Entre 2007 e 2010, foi secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secadi) do Ministério da Educação, e hoje desenvolve diversas ações no amplo espectro da educação democrática, diversa e inclusiva na Fundação Santillana.

Para ele, o primeiro passo para entender os desafios dessa etapa é reconhecer que se trata de um universo não apenas numeroso, mas muito diverso. Diferentes contextos sociais e culturais devem ser considerados — do campo, urbano, das periferias, jovens, adultos e idosos, de diferentes gêneros, na educação indígena e quilombola, entre outros. “A EJA é sobretudo diversa e precisa haver diversidade também na oferta”, lembra Lázaro.

Mas, ainda é preciso vencer preconceitos: a própria visão de EJA necessita ser repensada. “Não podemos ficar focados em ressaltar as carências das populações, mas o enorme potencial que tem essa popula-

Uma enquete realizada pela revista Educação em setembro confirma esse cenário, sendo a maior parte dos participantes educadores de SP. “Na minha escola perdemos muitos alunos que foram promovidos sem estarem alfabetizados, perceberam que não conseguiam acompanhar e desistiram”, relata um dos participantes. “A prefeitura poderia fazer campanhas para chamar os estudantes que necessitam terminar seus estudos”, complementa outro. Contudo, 53,3% das escolas participantes da enquete que não possuem turma de EJA afirmam que este ano tiveram 15 pessoas ou mais interessadas em estudar.

Em Goiás, na mesma Arco-Íris que encantou o pintor Valdir Vicente Nunes, a diretora Orita de Souza Medrado também busca se adaptar. Conhecida na região como uma diretora dedicada, que saiu literalmente às ruas para convidar os adultos a voltarem à escola, durante e depois da pandemia, Orita estuda novos caminhos. “O modelo atual não funciona para os alunos mais jovens”, avalia. Com a alta evasão, agora, a escola tenta desenvolver um projeto de EJA a distância para estimular os estudantes a persistirem na trajetória escolar. Assim como Eliani, Orita também acredita que é preciso buscar elos com o mundo do trabalho.

ção”, lembra. Lázaro se refere ao próprio reconhecimento dos saberes que os diferentes públicos da EJA trazem consigo, inclusive os tradicionais. “O país certamente ganharia muito”, diz.

“Criar caminhos que fortaleçam a esperança de vida digna”, defende André Lázaro, que já comandou no MEC a Secadi

Para ele, ao mesmo tempo em que se assegura a elevação da escolaridade, a EJA deve buscar certificar a competência e os conhecimentos que as pessoas já trazem. “A escola deve permitir a inserção social dos indivíduos em um mundo desigual e excludente, mas não se pode esquecer de reconhecê-las, inclusive para estimular seu retorno à escola. A gente precisa criar caminhos que fortaleçam a esperança de vida digna”, finaliza.

Parece uma conclusão óbvia, mas não é tanto assim. O pesquisador Catteli Jr. estudou os questionários do Encceja e diz que, para os alunos, o desejo de aprender é tão importante quando o tema da empregabilidade. “Claro que a EJA profissionalizante pode ser um bom caminho, mas não é verdade que seja apenas isso que os alunos querem”, diz. Para ele, são necessários mais dados para compreender as aspirações desse público.

Além disso, lembra, muitas vezes a ideia de profissionalização se confunde com subemprego e trabalho menos qualificado, sem perspectiva de carreira. “Muitos desses estudantes para os quais se quer a educação profissional sofrem ainda com problemas de letramento, não conseguem dar conta da leitura e da escrita. Não adianta formação técnica sem base adequada”, alerta.

Na escola da diretora Eliani, é essa uma das razões da flutuação dos jovens na EJA: as persistentes dificuldades de leitura. Ou seja, mesmo no ensino médio, a EJA recebe estudantes que saíram da escola regular sem estarem alfabetizados, o que deveria ter acontecido ainda no fundamental 1. “Abrimos turmas para apoiar os alunos nessas defasagens, mas eles não se engajam”, lamenta.

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José Cruz/ABr

Frutos da prática do ballet clássico acompanham o aluno por toda a vida

Independentemente dos caminhos profissionais que nossos alunos e alunas sigam no futuro, o ballet traz benefícios físicos e comportamentais que são para a vida e, também, uma ponte para a construção do sucesso.

Por meio de um trabalho de conscientização corporal, o ballet trabalha os principais grupos musculares, desenvolve a disciplina, foco, determinação e a confiança, ajudando no desenvolvimento pessoal de cada aluno, sem comparações, pois entende que cada indivíduo é único e trilhará um caminho só seu.

O ballet clássico serve como base para diversas danças ao trabalhar o equilíbrio, alongamento, ritmo e coordenação motora. As aulas de ballet iniciam com atividades de aquecimento e alongamento, seguidas de movimentos de treino e repetição na barra, no centro e na diagonal da sala. Trabalhos técnicos que desenvolvem a consciência corporal e melhoram a qualidade dos movimentos, os exercícios de repetição são importantes e realizados da forma adequada, não cansam a turma.

O Ballet Paula Castro utiliza a metodologia da Escola Nacional de Ballet de Cuba (ENBC – BR), cujo trabalho em grupo é valorizado e permite que os alunos percebam a sua importância, respeitando as individualidades, limites e diferenças. Além disso, a metodologia dosifica o programa de acordo com as séries e habilidades do aluno.

Aluna do Ballet Paula Castro desde os quatro anos, Rafaela Freire fez ballet, jazz, sapateado e teatro musical até os 17 anos. Hoje, com 19, Rafaela estuda Administração nos Estados Unidos e trilha um caminho rumo a uma grande carreira.

“Eu danço desde os meus quatro anos. Hoje, nos Estados Unidos, sei que o ballet me trouxe muitas oportunidades, sociais e profissionais também. Ter o ballet em minha formação e em meu currículo me abriu várias portas”, conta Rafaela.

Mantendo o foco e a disciplina e aprendendo a controlar a ansiedade, Rafaela aprendeu a lidar com situações inesperadas, aprendizados importantes em seu caminho. Ser mais sociável e extrovertida ajudaram-na a desenvolver o carisma e a conquistar o público. “Quando estamos em uma apresentação e erramos, ou quando você está no palco e um laço cai da sua cabeça, precisamos saber agir, e às vezes trata-se de simplesmente ignorar o laço que caiu”, explica.

“Foi dançando que fiz muitas amizades e com os palcos aprendi a desenvolver o carisma. Agradeço por ter crescido no Ballet Paula Castro, que me ajudou a ser quem sou e espero que todo mundo possa ter a mesma experiência que eu tive”, declara Rafaela.

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Rafaela Freire, aluna do Ballet Paula Castro desde os quatro anos
APRESENTADO POR

SOCIOEMOCIONAL NA ESCOLA

Evento reúne Daniel Munduruku, Paulo Fochi, José Pacheco, Adriana Fóz e outros especialistas

O papel da escola no desenvolvimento das emoções e socialização foi destaque no evento da revista Educação, além do lançamento do e-book de Rubem Alves. Mais de 400 educadores estiveram presentes

Oevento Socioemocional na Escola buscou apoiar e inspirar gestores(as), coordenadores(as) e demais educadores(as) a implantarem iniciativas acolhedoras e em diálogo diante das necessidades atuais no ambiente escolar. A realização esteve a cargo da revista Educação e aconteceu em 14 de setembro, no Teatro Fecap, em SP, contando com mais de 400 educadores. Fique por dentro de alguns destaques.

PEDAGOGIA DO PERTENCIMENTO PARA FUTUROS PLURAIS

Com 57 livros publicados, o indígena Daniel Munduruku contestou o formato pedagógico hegemônico que prevalece no ensino do país desde a colonização para propor uma pedagogia do pertencimento que se faz a partir do sentido de ser parte da natureza. A inspiração para esta nova forma de ensinar e aprender é

o modo de vida indígena, que considera os elementos da natureza como parentes (terra mãe, rio avô, animais primos), o que torna o mundo uma comunidade única e solidária, uma espécie de família. Mas, segundo ele, para ser família é preciso cuidar. “Se você não abandona a natureza, se sente pertencente a ela. E é ela, o tempo dela que deve guiar nosso modo de viver, não o tempo do relógio, da produção. Mas a sociedade nos ensina que é preciso manter a ordem estabelecida pelo sistema: os muito ricos com todo o dinheiro e os muito pobres sustentando os primeiros. Se queremos manter essa ordem, não podemos reclamar do aquecimento global, da destruição do planeta”, provocou.

ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL: LUGAR DE ENCONTROS ENTRE AS CRIANÇAS E OS ADULTOS

Métodos da moda, equipamentos de alta tecnologia digital, mobiliário sofisticado: nada disso é necessário para

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Com ingressos esgotados, o evento também contou com sorteios de brindes. Revista ofereceu coffee break e almoço

Giro em fotos pelo evento da revista Educação, Socioemocional na Escola

Edilene Morikawa e Moisés Basílio Leal participaram do painel Escolas que atuam por meio das relações com a comunidade

“Pedagogia do pertencimento é educar para o presente”, alertou Daniel Munduruku. Na imagem, educadora aproveita para garantir um click

uma educação infantil que cumpra seu papel socializador. Adultos responsáveis e responsivos ao que as crianças precisam, por outro lado, são essenciais. Essa premissa guiou o painel conduzido por Paulo Fochi, professor e coordenador de curso na Unisinos. “Essa experiência de socialização das crianças envolve ter tempo dentro de uma instituição, tempo de encontro com os amigos e é de uma complexidade gigante para as crianças irem compreendendo um senso de comunidade, suas identidades, quem são os outros e o que é feito nesse lugar. Escola é um grande laboratório de cidadania”, comentou.

HOMENAGEM AOS 90 ANOS DE RUBEM ALVES

“Precisamos saber identificar a humanidade que existe dentro dos outros e só conseguimos fazer isso quando a gente tem a humanidade morando dentro de nós. Acho que é por isso que Rubem Alves é contemporâneo, ele nunca vai sair de moda, porque o ser humano não tem para onde fugir.

José Pacheco e filha de Rubem Alves, Raquel Alves, falaram de autovalorização e empatia

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Fotos: Thiago Carvalho e Alexandre Menezes/revista Educação

SOCIOEMOCIONAL NA ESCOLA

“Vida cotidiana é o espinho central da educação infantil”, defendeu Paulo Fochi Adriana Fóz falou sobre o papel do educador na saúde mental e na aprendizagem socioemocional

Suíte de Don Quixote, pela Cia. de Dança Paula Castro, abriu o evento

A gente é o que é e sempre vai continuar sendo”, refletiu Raquel Alves, escritora e filha caçula do educador falecido em 2014 e que completaria 90 anos em 15 de setembro deste ano.

A homenagem ao educador fez parte do lançamento do e- book Entre o saber e o sabor: o dilema da educação, organizado por Raquel, que conta com as crônicas de seu pai publicadas na revista Educação no período em que Rubem era colunista. O prefácio foi escrito por José Pacheco, ex-diretor da Escola da Ponte, Portugal, e também nosso colunista. No evento, Pacheco compartilhou experiências com o amigo Rubem e também enfatizou: “Enquanto tivermos sala de aula, o desenvolvimento socioemocional é impossível de se fazer. Não é com mecanismos introduzidos num modelo hierárquico e autoritário que você vai conseguir”.

PROGRAMAÇÃO ACOLHEDORA

Ao todo estiveram presentes mais de 10 especialistas divididos em diferentes painéis. Além dos citados acima, são eles: Carolina Luvizoto, gerente de educação da Faber-Castell; Marco Antonio Ferraz, educador há mais de 45 anos (painel oferecido pela SOMOS Educação); Ana Crispim, gerente de projetos do Instituto Ayrton Senna; Edilene Morikawa, diretora e fundadora da Escola Aberta de São Paulo; Moisés Basílio Leal, diretor da rede municipal de educação de SP; Ceciliany Alves Feitosa, diretora de plataformas, inovação e avaliação educacional da FTD Educação; Luis Fernando Gonçalves, especialista educacional da International School; Fabiola Falh, diretora pedagógica do Núcleo Socioemocional da Arco Educação; Daniele Degani, fundadora da MindKids; Taís Bento e Roberta Bento, SOS Educação; e Adriana Fóz, neuropsicóloga, educadora e diretora da NeuroConecte.

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REVISTA DO SINDICATO DOS PROFESSORES DE SÃO PAULO

Aguarde, está chegando a nova Revista GIZ

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CULTURA DE PAZ

Diversidade, eixo para a paz

Numa sociedade de desigualdades, trazer esse conceito requer ampla compreensão: não se trata apenas da ausência de guerra e sim da busca de convivências harmônicas

Acultura de paz não é um estado permanente, mas um processo, que se constrói no dia a dia, na relação com o outro, numa sociedade equitativa e com igualdade de direitos. A ONU a define como “um conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida, baseados no respeito pleno à vida e na promoção de liberdades fundamentais, propiciando o fomento da paz entre as pessoas, os grupos e as nações, podendo assumir-se como estratégia política para transformação da realidade social”.

O primeiro passo para compreender a noção de cultura de paz é a desconstrução da ideia romantizada do que é paz. Em qualquer sociedade democrática e múltipla, como a nossa, haverá conflito, pois ele é inerente às relações humanas. Pessoas possuem visões e necessidades diferentes e é essa diferença que nos caracteriza enquanto humanos. Não há sociedade sem conflitos. Se existisse, as diferenças seriam eliminadas. O conflito é a expressão da nossa diversidade e é positivo, nos leva para a frente, quando passamos a respeitar direitos de outras pessoas. Carolina Cassiano, facilitadora de comunicação não violenta (CNV) e de autocompaixão, além de especialista em gestão de pessoas pela Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), explica que paz não é a ausência de conflito, de incômodo, de desconforto, tampouco de emoções desagradáveis, como raiva, medo, tristeza, ansiedade, entre outras.

“A gente precisa se reeducar para entender que os incômodos são sábios e que não devem ser evitados, pois contam que há algo importante na relação, que precisa ser visto e cuidado”, esclarece. Carolina conta que não é atacando o sintoma, como uma expressão de raiva, por exemplo, que se constrói a paz. Deve-se ir na raiz para entender a razão do incômodo, do sentimen-

Arquivo pessoal

“Mudar a escola é impactar um sistema e isso requer cuidar da formação das pessoas que sustentam esse sistema, assim como cuidar dos processos que mantêm o sistema vivo”, orienta Carolina Cassiano, facilitadora de comunicação não violenta

to e de comportamentos desafiadores, pois, do contrário, toda solução que se tente construir será um paliativo com baixa sustentabilidade.

COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA E O DESAFIO DE SUSTENTAR O PROCESSO

A comunicação não violenta e a cultura de paz compartilham dos mesmos valores e intenções, portanto, a CNV é um caminho concreto para viver a cultura de paz na prática. Nos cursos, palestras e programas que realiza em escolas, Carolina Cassiano, que também atua como professora de mindfulness e autocompaixão nos EUA, nota a potência desse trabalho no ambiente esco-

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lar, quando abre espaço para que todos sejam vistos, ouvidos e que possam falar de suas dores e medos, construindo um ambiente psicologicamente seguro. “Um dos grandes desafios é formar as pessoas que ajudam a sustentar essa visão no dia a dia e o professor tem um papel essencial, assim como toda a direção da escola”, afirma.

Professores e equipes de coordenação e direção devem receber apoio para desenvolver sua própria habilidade em CNV, porque, para espalhá-la entre os estudantes e toda a comunidade escolar, não basta ensinar a técnica, é preciso sustentá-la, com suas próprias posturas e novos rituais. Espaços de mediação, salas de empatia para que as pessoas sejam ouvidas, construção de momentos de check-in (pausas para compreensão dos próprios sentimentos em relação a um determinado episódio) e rodas de conversas são exemplos de novos rituais na escola visando uma cultura de paz. “Mudar a escola é impactar um sistema e isso requer cuidar da formação das pessoas que sustentam esse sistema, assim como cuidar dos processos que mantêm o sistema vivo”, orienta Carolina.

FORMAÇÃO GLOBAL DO INDIVÍDUO

Existem múltiplas formas, metodologias e abordagens que contribuem com o processo de pensar a cultura de paz na escola, chamada de educação para a paz. São utilizados processos pedagógicos estruturados para alcançar objetivos: qualificação das convivências, mediação dos conflitos, valorização dos valores huma-

“Não adianta erguer muros e não trabalhar a paz dentro da escola; é uma construção, um processo, que precisa da colaboração de toda a comunidade escolar: gestão, professores, pais, alunos e funcionários”, diz
Michele Lupepsa

O coordenador Nei Alberto Salles Filho afirma que tudo o que impede o crescimento da criança e do adolescente é violência. Que pode ser direta, como o bullying, ou estrutural, como a pobreza

nos e direitos humanos. Algumas abordagens têm crescido no Brasil, como a CNV, as práticas restaurativas, a terapia comunitária integrativa, todas adaptadas para o campo educacional. Investir no autocuidado, seja com o apoio da escola ou pelos próprios meios, é tarefa do professor quando se quer educar para a paz.

Nei Alberto Salles Filho, mestre e doutor em educação e coordenador do Núcleo de Educação para a Paz da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), PR, observou em mais de 10 anos na luta contra o bullying e outras formas de violência que, além da prevenção, qualificar as convivências escolares entre estudantes, estudantes e professores, professores e equipe de gestão é fundamental para melhorar o processo de ensino e aprendizagem. “Tudo o que impede um melhor desenvolvimento do ser humano, nas suas capacidades, nos seus sonhos, nas suas disposições, ou seja, tudo o que impede o crescimento da criança e do adolescente, é violência. Seja a violência direta, como bullying, agressão, ou mesmo violências indiretas e estruturais, como a pobreza, a desigualdade social etc.”, aponta Nei. Michele Lupepsa, gestora da Escola Kamal Tebcherani, da rede municipal de Ponta Grossa, num trabalho conjunto com a coordenação pedagógica e com apoio da rede municipal de ensino, desenvolve um trabalho de formação de professores para implantar a ideia de uma escola de paz. No currículo da escola há a disci-

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Arquivo pessoal

CULTURA DE PAZ

plina de formação humana, em que são trabalhados os pilares da cultura de paz. “Estamos atentos a todas as problemáticas da escola: bullying, desrespeito, violências, etc., mas enxergamos que tais conflitos são oportunidades para desenvolvermos valores, diálogo e a comunicação não violenta”, esclarece Michele.

Como projetos que buscam desenvolver a cultura de paz na escola, há o Relaxamento, trabalho voltado para os valores e o autoconhecimento. O Conselho Mirim é um projeto pioneiro cujas crianças ajudam a resolver os conflitos do dia a dia da escola. Há também o Conselho Escolar, com a participação das famílias de toda a comunidade, e um projeto de Residência Pedagógica, em que acadêmicas do curso de pedagogia desenvolvem um trabalho na escola para desenvolvimento global do cidadão, ensinando às crianças que suas ações têm consequências no mundo.

Michele aponta o imediatismo que as famílias cobram como uma dificuldade no trabalho em busca de uma cultura de paz na escola. O exemplo recente dos ataques às escolas, em que se cobrou segurança, portões, muros e grades, para que o problema fosse solucionado é um exemplo da cobrança por uma resolução imediata. “Não adianta erguer muros e não trabalhar a paz dentro da escola. Que as famílias entendam que não existe uma solução imediata no combate à violência, é uma construção, um processo, que precisa da colaboração de toda a comunidade escolar: gestão, professores, pais, alunos e funcionários”, afirma Michele.

Não há sociedade sem conflitos. Se existisse, as diferenças seriam eliminadas. Conflito expressa a nossa diversidade e é positivo, nos leva para a frente quando passamos a respeitar direitos de outras pessoas

Na escola da gestora Michele Lupepsa, há um trabalho para implementar a ideia de uma escola de paz. Para ela, conflitos são oportunidades de diálogos

Ao trabalhar a criança de forma global, a escola precisa da participação da família, que muitas vezes é o berço da violência. Assim, os professores precisam, cada vez mais, se capacitar para tornar a escola um lugar de vivência de paz, estabelecer vínculos com os alunos e família, abrindo portas para que a educação flua como um todo, em todos os âmbitos. Reconhecer que as crianças são seres humanos integrais, com coração, consciência e emoção e que com elas, na sala de aula, está o tiroteio que presenciaram no bairro, a mãe que foi agredida na noite anterior, ou o pai embriagado. “Quando se trabalha a cultura de paz para desenvolver o ser humano de forma global, para que compreenda que suas ações têm consequências para si próprio e para o meio em que vive, ele passa a pensar antes de fazer o bullying e de agir por meio de uma comunicação violenta”, finaliza Michele Lupepsa.

*A lei 13.663/2018 determina que todos os estabelecimentos de ensino têm como incumbência promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, “especialmente a intimidação sistemática (bullying)” e ainda estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas

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Arquivo pessoal
Revista Educação 41 Cadastre-se e aproveite os conteúdos 2020, em meio uma pandemia global uma onda de protestos antirracistas inspirados pelo movisocial por meio do qual ela reconhece, seleciona apoia talentos políticos com ideias inovadoras para fortalecer democracia emOs participantes do programa podem explorar suas ideias, como, por exemplo, elaborar um projeto de lei para fortalecer pessoasdeterioração, incluindo crescente polarização política, populismo de extrema direita, injustiça social desigualdade, paraA sociedade civil tem se dedicado a solucionar problemas sociais há décadas, enquanto deliberadamente se abstém de um engajamento aberto com a política. Mas um novo campo de prática busca revigorar democracia emancipando inovação social desse con namento. O Campo Emergente da Inovação Política Por Johanna Mair, Josefa Kindt Sébastien Mena Ilustração: David Plunkert Caroline Weinmann fundou JoinPolitics em 2019, após trabalhar numa fundação alemã que trata de desafios sociais. Sua tranPara Weinmann, como para outros, inovação social tem de entrar política para destravar seu pleno potencial. JoinPolitics parterigir ou reconfigurar elementos no sistema político, efetivamente libertando inovação social da narrativa dominante que divorcioucontinentes, descobrimos onipresença das ameaças democracia das preocupações com desestabilização que pautam empreen-No ano passado, entrevistamos mais 50 especialistas agentes E

HOMENAGEADO – Instituto Ayrton Senna

ACAMPAMENTOS – NR AÇÃO SOCIAL – SOMOS Educação

BRINQUEDOS EDUCATIVOS – Pimpão

CONSULTORIA EDUCACIONAL – SOMOS Educação

EDITORA DE LIVROS DIDÁTICOS – Editora do Brasil

EDITORA DE LIVROS DIDÁTICOS DE IDIOMAS – Oxford University Press

EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA – Nave à Vela

ESCOLA DE IDIOMAS – CNA

FABRICANTE DE VEÍCULOS ESCOLARES – Mercedes-Benz FABRICANTE DE COMPUTADORES/TABLETS E NOTEBOOKS – Lenovo

INSTITUIÇÃO DE ENSINO PARA FORMAÇÃO DE DOCENTES – Uninter

LITERATURA INFANTOJUVENIL – Moderna

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL – Escola da Inteligência PROJETOS EDUCACIONAIS – Faber-Castell

FACILITIES (CANTINAS ESCOLARES, SEGURANÇA E TERCEIRIZAÇÃO) – Sodexo

SEGURO EDUCACIONAL – Bradesco

SISTEMA DE ENSINO BILÍNGUE – International School

SISTEMA DE ENSINO REDE PRIVADA – FTD Sistema de Ensino

SISTEMA DE ENSINO REDE PÚBLICA – Aprende Brasil

SOFTWARES ADMINISTRATIVOS/GESTÃO/HORÁRIOS – Sponte

SOFTWARES EDUCACIONAIS – Árvore

TECNOLOGIA AUDIOVISUAL – Epson

TURISMO EDUCACIONAL – CI Intercâmbio

Revista Educação 42 TOP EDUCAÇÃO 2023 Vencedores 46 47 48 50 52 54 56 57 58 60 62 63 64 66 ÍNDICE HOMENAGEADO – Mozart Neves Ramos

TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

Líderes da 17a versão:

busca pela longevidade

Quantas marcas você usava e hoje não existem mais? Ou quantas eram líderes e hoje se debatem na série B do campeonato de consumo? São muitas. Na área de educação, o Top, em sua 17ª edição, também mostra esse vaivém. As razões são diversas e cabe aos líderes estratégicos a busca pela longevidade da marca. Hoje, fala-se em longevidade; há duas décadas, a palavra em voga era perenidade.

As ofertas de produtos e serviços aumentaram e, certamente, terão preferência aqueles que tiverem visibilidade e entrega adequada às necessidades das escolas. Com tanta mudança no mundo, com um volume inusitado de informações, como proceder? Esse é o grande desafio que atormenta todos os dias os líderes das empresas do setor, que oferecem produtos úteis para melhorar a educação do país, mas que às vezes não têm oportunidade para expor as reais qualidades.

O papel da revista Educação, hoje também plataforma Educação, uma vez que inclui site, redes sociais, revista digital e eventos, é o de ajudar as marcas a se comunicarem de forma eficaz. Talvez a mudança mais efetiva que estamos procedendo é aproximar gestor de escola e marcas para uma troca de ideia do que podem fazer juntos. E certamente os eventos permitirão esse espaço de diálogo.

Assim como no passado, 2007 já está bem lá atrás, cabe a nós a tarefa de apresentar opções de comunicação para que as marcas que estão conosco possam cumprir a missão de levar sua mensagem com eficácia.

A 17ª versão do Top Educação é o retrato de um momento. É necessário buscar ações que possam garantir essa percepção do público-alvo por mais alguns anos. E fazer a chamada lição de casa, que é a batalha de todos nós.

É um retrato de um momento, mas mostra que o caminho está correto. Parabéns aos ganhadores e que esse Top sirva de inspiração para alcançar mais sucesso.

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TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

2x vencedor d o P r ê m io

Top Educaçã o n a c a t e g o r ai

oãçacudE eT c n o l ó g i c a !

O Nave à Vela é referência em cultura maker e inovação educacional, desenvolvendo habilidades para o futuro em mais de 100 mil estudantes por todo o Brasil.

Junte-se a nós nessa jornada por uma educação mais inovadora!

TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores Homenageados

Na edição deste ano, o Top Educação tem novidade: estamos homenageando o Instituto Ayrton Senna e o educador referência em políticas públicas Mozart Neves Ramos. Conheça mais sobre os homenageados e a dedicação de ambos para uma educação de qualidade.

Referência em políticas públicas educacionais e um grande defensor da valorização da formação docente, Mozart Neves Ramos tem atuado nos últimos anos com pesquisas e medidas para apoiar a qualidade da educação em municípios de médio porte por meio da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, do IEA da USP, da qual é o titular. Membro do conselho editorial da revista Educação, foi secretário de Educação de Pernambuco (20032007), professor e ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Também exerceu o cargo de presidente executivo do Todos Pela Educação, além de outras relevantes atuações. Confira a entrevista.

Mozart, de que maneira a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira tem contribuído para a educação brasileira?

A atuação da Cátedra tem contribuído para que 150 municípios de 10 estados do Brasil possam, não só ter políticas mais consistentes no campo da aprendizagem e também nessa redução da desigualdade, mas também na formação de pessoas dessa rede, tanto no campo da formação de professores, diretores e de técnicos em leitura de dados como em indicadores educacionais.

Os municípios recebem da Cátedra um relatório completo da situação do desempenho escolar em diferentes anos de atuação do Saeb. Para facilitar o tra-

balho do gestor da rede, portanto, do secretário ou da secretária, conseguimos envelopar esses resultados a partir de mapas de georreferenciamento escolar para ver se na prática o município está melhorando ou não em relação ao seu desempenho escolar.

Também estabelecemos um indicador que é capaz de medir o grau de desigualdade, então o gestor da rede e sua equipe podem compreender se a rede está aumentando. A gente também oferece para esses municípios cursos de formação.

O país ainda não possui um documento oficial das competências da direção escolar. Você foi relator no Conselho Nacional de Educação de uma resolução que supre justamente essa carência. Mas até o momento o MEC não homologou.

Nunca ficou claro para mim o motivo [de a resolução não ser homologada], eu tinha a uma certa expectativa de que com o atual Ministério esse parecer pudesse ser homologado...Tornar os diretores escolares lideranças eficazes é um fator importante para a melhoria da aprendizagem. Estamos observando que mesmo sem a efetivação da homologação, os próprios municípios já estão usando a resolução, eles estão interessados e muito envolvidos com o tema, mas estamos precisando que essa orientação seja oficial da parte do MEC.

Você se diz esperançoso com a educação brasileira e que o Brasil pode aprender com o Brasil. O que precisa ser feito? Para onde olhar?

O Brasil tem belos exemplos que podem ser seguidos e precisamos dar escala a eles e para isso tem que haver uma liderança conduzindo a educação. Quando eu falo em liderança não estou me referindo ao ministro da Educação, que sabemos que tem um trabalho às vezes muito mais político, mas a alguém que tome decisões com base em evidências, em pesquisas, em estudos.

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JuanGuerra

TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores Homenageados

Instituto Ayrton Senna

OTop Educação homenageará o Instituto Ayrton Senna (IAS) pelo esforço de disseminar há quase 10 anos aos educadores e educadoras do país o que são habilidades socioemocionais e como inseri-las nos espaços de aprendizagem. Lançado em 1994, o instituto é uma organização sem fins lucrativos que já atuou em todos os estados e em mais de três mil municípios.

Confira a entrevista com Ewerton Fulini, vice-presidente do IAS.

Em que momento a entidade percebeu a importância das habilidades socioemocionais e por qual motivo? É possível resumir o que já fizeram em relação a esse tema?

Em todas as iniciativas, o instituto já promovia uma educação que olhasse o indivíduo como um ser completo, desenvolvendo diversas habilidades, o que chamamos de educação integral. Devido à nossa experiência prévia na prática e os novos desafios que seriam enfrentados pelos estudantes no século 21, mostrou-se urgente entender mais sobre as competências socioemocionais e como elas poderiam ser desenvolvidas na escola como um direito de todos. A partir de 2015, essa atuação com o desenvolvimento socioemocional foi expandida ainda mais, momento em que aprofundamos nossa produção de conhecimento sobre o assunto e criamos um laboratório de inovação, que passou a embasar cientificamente e ativamente todas as nossas ações e soluções educa-

cionais. Nesse campo, o Instituto Ayrton Senna foi um dos pioneiros no Brasil a defender que o desenvolvimento das competências socioemocionais de forma articulada com as habilidades cognitivas e com todos os potenciais humanos capazes de serem desenvolvidos via políticas públicas é a chave para a promoção da educação integral.

Divulgado ano passado, estudo da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e Instituto Ayrton Senna alerta que depressão e ansiedade estão presentes em 70% dos jovens paulistas. O que mais pode falar sobre esse mapeamento?

O estudo permitiu analisar a evolução do desenvolvimento de competências socioemocionais, saúde mental e violência no contexto da pandemia. Do grupo avaliado, um em cada três estudantes afirmou ter dificuldades para conseguir se concentrar no que é proposto em sala de aula, outros 18,8% relataram se sentir totalmente esgotados e sob pressão, enquanto 18,1% disseram perder totalmente o sono por conta das preocupações e 13,6% afirmaram a perda de confiança em si, o que são considerados sintomas de transtornos de ansiedade e depressão. A avaliação mergulha nos danos severos à educação causados pela pandemia e reforça o desenvolvimento socioemocional como mola propulsora para a aprendizagem e outras conquistas ao longo da vida.

Ano que vem, o Instituto Ayrton Senna completará 30 anos. Qual o balanço desses anos e como está a programação para 2024?

Os 30 anos são uma oportunidade para celebrar o legado de Ayrton Senna e do próprio instituto por meio de todas as histórias que integram esse período. Durante todo o ano, nossas ações de celebração deste marco irão comemorar o legado, transformação e mudança promovidos pelo instituto, contando as histórias que fizeram parte dessa trajetória que já atendeu, ao longo desses quase 30 anos, mais de 36 milhões de crianças e jovens em todo o país.

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Divulgaçã o

TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

ACAMPAMENTOS

Marco Antonio

Vivolo Filho (Kito)

diretor do NR

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

A ênfase em abordagens experienciais, o foco no desenvolvimento socioemocional, aprendizado baseado em projetos e a promoção da inclusão e diversidade. Essas mudanças indicam um progresso significativo na maneira como a educação é conduzida, preparando os estudantes de forma mais abrangente para o futuro. Continuamos promovendo essas abordagens em nossas viagens educacionais.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Almejamos proporcionar experiências educacionais inovadoras que ampliem o horizonte dos estudantes cultivando habilidades socioemocionais, empatia e pensamento crítico por meio de viagens educacionais, camps e intercâmbios culturais. Buscamos inspirar as escolas a adotarem abordagens mais experimentais e inclusivas, capacitando os alunos a se tornarem cidadãos globais preparados para os desafios do mundo atual.

AÇÃO SOCIAL

Juliana Costa

Diniz Araujo diretora de unidade de negócio na SOMOS Educação

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

Muitas escolas têm despertado para a necessidade e caminhado a passos largos na direção da construção de um ecossistema educacional que atenda às necessidades do aluno de hoje com um olhar atento para o desenvolvimento socioemocional, bilinguismo, uso de metodologias ativas, a profissionalização da gestão, etc. E temos orgulho, enquanto SOMOS, de ser parceira estratégica de mais de 6 mil escolas nessas transformações.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Tenho orgulho ao dizer que possuímos um olhar atento à pluralidade das escolas brasileiras e as encaramos em suas individualidades, oferecendo sempre o suporte necessário para que gestores, corpo docente e alunos explorem suas máximas potências. Para os próximos anos, desejamos e fomentamos escolas cada vez mais potentes, acolhedoras, inclusivas, que sejam a porta de entrada para a formação de alunos globais e para a realização de sonhos individuais e coletivos.

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TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

BRINQUEDOS EDUCATIVOS

Cristiane

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

A tecnologia revolucionou a forma como aprendemos com aulas online, recursos interativos e educação personalizada. Além disso, a ênfase na aprendizagem contínua e habilidades do século 21 moldou um ambiente educacional mais flexível e adaptável. As mudanças continuarão a desafiar as normas tradicionais, preparando os alunos para um mundo em constante evolução. Isso é ideal para desenvolver a sua capacidade de adaptação aos meios de aprendizado atuais.

CONSULTORIA EDUCACIONAL

Juliana Costa

Diniz Araujo diretora de unidade de negócio na SOMOS Educação

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

Muitas escolas têm despertado para a necessidade e caminhado a passos largos na direção da construção de um ecossistema educacional que atenda as necessidades do aluno de hoje com um olhar atento para o desenvolvimento socioemocional, bilinguismo, uso de metodologias ativas, a profissionalização da gestão, etc. E temos orgulho, enquanto SOMOS, de ser parceira estratégica de mais de 6 mil escolas nessas transformações.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Acreditamos que os espaços de aprendizado são fundamentais para o desenvolvimento das crianças. Nossos produtos são projetados para estimular a criatividade, a interação social e o aprendizado ativo. Almejamos que cada instituição educacional no Brasil tenha acesso a ambientes escolares mais inspiradores e funcionais e que o investimento na educação se torne um pilar da cultura brasileira, promovendo assim um aprendizado mais envolvente e eficaz para as próximas gerações.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Tenho orgulho ao dizer que possuímos um olhar atento à pluralidade das escolas brasileiras e as encaramos em suas individualidades oferecendo sempre o suporte necessário para que gestores, corpo docente e alunos explorem suas máximas potências. Para os próximos anos, desejamos e fomentamos escolas cada vez mais potentes, acolhedoras, inclusivas, que sejam a porta de entrada para a formação de alunos globais e para a realização de sonhos individuais e coletivos.

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Aparecida de Andrade Ribeiro Rocha CEO da Pimpão
11 5090-7419

TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

EDITORA DE LIVROS DIDÁTICOS

Aurea Regina

Cavalcante Costa diretora-presidente da Editora do Brasil

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

A escola, muitas vezes, é percebida como resistente a mudanças. No entanto, nas últimas décadas houve várias transformações significativas no mundo educacional, como a utilização de tecnologias educacionais para a aprendizagem, o aprendizado baseado em projetos, mudanças curriculares, educação inclusiva e socioemocional, e muitas outras. A Editora do Brasil está atenta a essas transformações e oferece soluções que se adequam à realidade de cada escola.

EDITORA DE LIVROS DIDÁTICOS DE IDIOMAS

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

As escolas estão mais profissionalizadas tanto na área administrativa quanto nas áreas financeira e marketing sem perder o foco na excelência do serviço educacional. As famílias estão mais presentes no dia a dia da escola e em muitos casos acompanham de perto os resultados dos serviços prestados. Percebemos também a crescente adoção dos programas bilíngues, além da busca de parceiros que agreguem qualidade adicional neste quesito.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Estamos alinhando nossas estratégias para os próximos anos. A Editora do Brasil vai crescer cada vez mais impulsionada por projetos inovadores e alinhados ao nosso propósito: o de transformar o país pela educação.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

O Brasil ainda enfrenta desafios na área e a pandemia os evidenciou ainda mais, como acesso à tecnologia, lacuna de aprendizagem, alfabetização em tempo adequado e mais recentemente, segurança. Temos visto, contudo, esforços para reduzir essas diferenças entre o ensino público e o privado. Nós, da Oxford, temos como propósito oferecer recursos de alta qualidade e suporte a gestores, professores e famílias, para que os objetivos educacionais de cada escola se cumpram.

Revista Educação 52
Selma Trus head of regional marketing americas
Revista Educação 53

TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA

Felipe Margall

CEO do Nave à Vela

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

Cada vez mais a sociedade e o modelo empresarial vêm ditando quais são as profissões do futuro e as habilidades necessárias para exercê-las. Esse cenário gera a necessidade de o colégio trazer mais significado para o aprendizado do aluno, ressignificar a sala de aula e seus processos de ensino mais voltados para habilidades a serem desenvolvidas. Esse é um movimento que já estamos acompanhando nos colégios no Brasil inteiro.

ESCOLA DE IDIOMAS

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

Nosso compromisso é educar para o desenvolvimento das pessoas e a construção de uma sociedade melhor. Colocamos o aluno no centro do aprendizado e buscamos trazer flexibilidade e inovação nos nossos cursos com soluções em tecnologia e diferentes formatos para a aprendizagem tanto de inglês quanto de espanhol. Alguns exemplos incluem uma experiência imersiva para crianças (CNA Labs) e um curso híbrido para

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Almejamos ver os alunos mais protagonistas, confiantes, engajados e envolvidos com um aprendizado significativo. Buscamos promover esse protagonismo despertando a motivação e o empoderamento do uso da tecnologia como meio para construir soluções para desafios do mundo real. Nosso sonho é o de transformar a educação por meio da inovação, ajudando a formar alunos e cidadãos inovadores e protagonistas.

adultos iniciantes (CNA PRO).

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Com o avanço da tecnologia, hoje conseguimos atender alunos de forma remota em todo o país e no exterior. Para os próximos anos, nosso desejo é oferecer uma experiência ainda mais fluida e completa com soluções customizadas e que possibilitem aos nossos alunos conquistarem seus objetivos de forma ainda mais significativa, seja presencialmente nas escolas ou em nossas plataformas de ensino digital.

Revista Educação 54

TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

FABRICANTE DE VEÍCULOS ESCOLARES

Luiz Carlos Moraes diretor de comunicação corporativa e relações institucionais da Mercedes-Benz do Brasil

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

Assim como as empresas, as escolas tiveram que se adaptar para adotarem as tecnologias em suas metodologias educacionais, especialmente durante e depois da Covid-19. Também é possível observar a evolução das discussões da temática sobre diversidade e inclusão e a adoção de métodos de ensino inovadores. As personalizações do ensino estão se tornando mais comuns e também condizem mais com a realidade do mundo corporativo.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Acreditamos que a colaboração com o setor acadêmico é fundamental para o desenvolvimento de jovens talentos, futuros profissionais e o progresso do Brasil. Atualmente mantemos diversas parcerias de sucesso nesse sentido que servem para o desenvolvimento não apenas dos estudantes, mas também dos nossos próprios funcionários. Queremos e trabalhamos ativamente para sermos parte ativa na formação da próxima geração de talentos do nosso país.

FABRICANTE DE COMPUTADORES/TABLETS E NOTEBOOKS

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

Quando falamos de mudança nas escolas precisamos considerar uma transformação 360 graus, incluindo a formação, atualização do corpo docente e infraestrutura necessária para que a escola possa focar no ensino e aprendizado. Sendo a inserção de tecnologia, dentro e fora da sala de aula, um dos pilares dessa transformação e levando em conta que deverá sempre ser institucionalizada com soluções que atendam todo o ciclo de vida do produto: antes, durante e depois.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Construímos todo um ecossistema em parceria com outros fabricantes, além de termos em nosso ecossistema de canais parceiros que nos permitem maior capilaridade e entrega de soluções customizadas. Temos ciência de que a Lenovo e a Motorola possuem um papel fundamental nessa transformação. Não podemos deixar de mencionar a Fundação Lenovo e a parceria com o Instituto Ayrton Senna há alguns anos, direcionando parte do lucro das vendas para serem investidos diretamente na educação de hoje.

Revista Educação 56
Augusto Rosa channels sales director - SMB, public sector & education

TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

INSTITUIÇÃO DE ENSINO PARA FORMAÇÃO DE DOCENTES

chanceler do Centro Universitário Internacional Uninter

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

Como uma instituição de ensino superior, a Uninter tem a inovação no seu DNA e procuramos investir sempre em pessoas, programas e políticas que visam garantir a qualidade de ensino por meio de ferramentas como dispositivos móveis, softwares ou plataforma online, livros próprios, métodos como resolução de problemas, projetos e atividades que desenvolvem pensamento crítico e criatividade nos alunos.

LITERATURA INFANTOJUVENIL

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

Tornou-se evidente que a falta de mudança ou inovação na metodologia de ensino pode resultar em desinteresse e perda de foco dos alunos durante seu processo de aprendizado. Neste contexto, as instituições educacionais estão explorando novos métodos que proporcionem uma experiência mais atrativa. Isso pode ocorrer por meio da alteração da dinâmica em sala de aula, da implementação de tecnologias, da exploração de ambientes para além dos limites físicos da escola, entre outras abordagens.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Mais inclusão e equidade com valorização da diversidade e garantia de oportunidades iguais para todos. Queremos também inovação pedagógica com novas tecnologias e abordagens de ensino para uma aprendizagem ainda mais eficaz. Além disso, que a educação brasileira desenvolva habilidades socioemocionais, valores éticos e de cidadania. Pessoas com formação integral preparadas para desafios e soluções.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Juntos com diferentes atores do campo educativo, almejamos que a educação brasileira se desenvolva a cada dia respeitando as particularidades de cada criança. Queremos que o Brasil tenha mais indivíduos aptos para ler, escrever, dialogar com o mundo e que esses jovens possam se empoderar de suas trajetórias e realizar mudanças. Seguimos empenhados em buscar sempre formas de apoiar professores e gestores, e em ajudar a preparar os estudantes para a vida.

Revista Educação 57
Márcia Carvalho diretora de projetos e produtos da Santillana Educação

TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

Foco na educação integral e na promoção da saúde socioemocional nas escolas que visam o sucesso acadêmico dos alunos e uma vida emocionalmente saudável. Muitas escolas estão incluindo a saúde socioemocional em seu currículo com a adoção de programas que abordam habilidades como empatia, resolução de conflitos e autorregulação. Esses programas também trabalham com professores e famílias, integrando toda a comunidade escolar nessa transformação.

PROJETOS EDUCACIONAIS

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

O momento de sociedade que vivemos demanda o desenvolvimento de competências e habilidades que, como sabemos, vão muito além do conteúdo conceitual. Destaco duas transformações: o desenvolvimento do pensamento computacional desde a educação infantil — processo que já vem sendo discutido há alguns anos, mas que ganhou destaque a partir do complemento à BNCC; até transformações relacionadas ao desenvolvimento socioemocional que exigem envolvimento de toda a comunidade escolar.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

A Escola da Inteligência surgiu há 13 anos com o propósito de formar gerações emocionalmente saudáveis. Hoje é utilizada por mais de 1.100 escolas pelo Brasil, impactando milhões de estudantes. Nosso desejo é que todos os jovens tenham a oportunidade de aprender de forma sistematizada a gerenciar suas emoções e a construir relações saudáveis tornando, assim, o ciclo da aprendizagem completo e preparando a nova geração para viver em sociedade.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

É essencial que o setor público e o setor privado estejam de mãos dadas em prol da educação brasileira e que tenhamos iniciativas efetivas que garantam o desenvolvimento cognitivo tendo como base o bem-estar de professores(as) e estudantes. A educação precisa se adequar às necessidades atuais e promover habilidades cognitivas, sociais e emocionais para permitir que os estudantes compreendam o mundo, tenham consciência de seu papel na sociedade e alcancem todo o seu potencial.

Revista Educação 58
Carolina Luvizoto gerente de educação da Faber-Castell

TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

FACILITIES (CANTINAS ESCOLARES, SEGURANÇA E TERCEIRIZAÇÃO)

Quais transformações o segmento de educação tem vivido e o que a empresa pode destacar?

A alimentação saudável e sustentável tem ganhado cada vez mais relevância. Nesse sentido, seguimos as melhores práticas de saudabilidade e sustentabilidade, além de oferecer um espaço lúdico que incentiva as crianças a se alimentarem de forma divertida com cardápio equilibrado e atrativo para os jovens. Também disponibilizamos tecnologia para atender às expectativas das novas gerações — aplicativos, totens de autoatendimento, entre outras soluções.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Temos a ambição de que a Sodexo seja líder global em alimentação sustentável e em experiências que geram valor em todos os momentos da vida: aprendizado, trabalho, saúde e diversão. Estamos contribuindo para a construção da memória afetiva de milhares de alunos e integrantes da comunidade escolar diariamente. Além de nutrir as crianças em um ambiente agradável e seguro, queremos proporcionar experiências de carinho e cuidado dentro do ambiente escolar.

SEGURO EDUCACIONAL

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

A realidade e os desafios mudam de acordo com cada ambiente, mas essa é uma jornada necessária para um futuro mais inclusivo.

A educação a distância é um dos maiores exemplos disso. Nesse cenário, o seguro educacional é um instrumento financeiro importante que proporciona tranquilidade e proteção às famílias nessa vertente de formação de cidadãos que é a educação.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Acreditamos que a educação é a chave para um futuro melhor. Nesse sentido, um dos papéis do seguro educacional é garantir a continuidade dos estudos mesmo em períodos de imprevistos como a perda de renda do responsável pelo pagamento, seja por desemprego ou doença. Por isso, a Bradesco Vida e Previdência está sempre atenta e investindo em produtos e soluções cada vez mais aderentes às necessidades da população.

Revista Educação 60

Como gerar um círculo virtuoso para a educação?

PENSANDO SEUS DADOS EM 1º LUGAR

Conheça escolas parceiras que obtiveram resultados positivos com soluções da SOMOS Educação.

TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

SISTEMA DE ENSINO BILÍNGUE

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

A educação reflete comportamentos da sociedade e por isso as mudanças são inevitáveis. Os jovens demandam cada vez mais por uma educação interativa e conectada com a realidade fora das salas de aula. A inteligência artificial, por exemplo, é uma tendência que invadiu as escolas e não deixou escolha aos educadores a não ser se adaptarem. Os jogadores que anteciparam esse movimento saíram na frente, outros terão que correr atrás — é um caminho sem volta.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Nascemos com o propósito de democratizar o acesso de crianças e jovens ao ensino bilíngue e essa continua sendo a nossa maior ambição. Para isso, acreditamos em um modelo de educação interativo guiado por soluções inovadoras e conectadas com a realidade. Hoje já alcançamos mais de 150 mil alunos em 370 escolas em todo o país, mas ainda temos um longo caminho a percorrer para que cada vez mais brasileiros saiam da escola, de fato, falando inglês.

SISTEMA DE ENSINO REDE PRIVADA

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

Mudar apenas por mudar não conta. A escola cumpre a nobre função de criar e preservar espaços protegidos com um tempo próprio e também férteis, estimulantes. Dentro da escola convivem preservação e transformação. Sobre transformação no âmbito digital, destaco o uso de dados nas tomadas de decisão. Um outro aspecto é a perspectiva socioemocional, fundamental para o desenvolvimento integral e segurança das crianças.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Queremos que cada vez mais crianças, da escola pública ou privada, tenham acesso a uma educação transformadora que lhes possibilite serem pessoas críticas, criativas, cheias de sonhos, capazes e protagonistas das suas vidas. Para isso, precisamos garantir, entre outras coisas, como um bom material didático, que exista respeito entre todos os envolvidos nessa causa: crianças, educadores, trabalhadores da educação e famílias.

Revista Educação 62
Cayube Dias Galas diretor de conteúdo e negócios da FTD Educação

TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

SISTEMA DE ENSINO REDE PÚBLICA

Fábio de Oliveira diretor-executivo da Aprende Brasil Educação

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

Quando falamos de educação, falamos principalmente de mudança e transformação. Embora os recursos tecnológicos brilhem aos olhos, a relação entre as pessoas é o que dá sentido a essa trajetória de aprendizados, além da possibilidade de apoiar o desenvolvimento de outras habilidades dos estudantes a partir das competências socioemocionais. Acreditamos em uma educação que respeita e valoriza as pessoas, com foco na progressão

SOFTWARES ADMINISTRATIVOS/ GESTÃO/HORÁRIOS

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

Digitalização: extensão do ambiente de aprendizagem para o digital, catalisada pela pandemia. Personalização: ensino considerando a realidade específica de cada estudante. Soft skills: cada vez mais esforços são direcionados ao desenvolvimento das capacidades socioemocionais dos alunos. Currículo internacional: apesar de ainda tímido, é notável o crescimento do ensino internacional nas escolas brasileiras.

de aprendizagens no tempo certo.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Atuamos para que nos próximos anos a educação brasileira seja constituída de mais equidade. Temos no Brasil aproximadamente 50 milhões de estudantes, desses, 40 milhões estão na rede pública. Investir na educação pública é acreditar no desenvolvimento do país, por isso, a Aprende Brasil Educação trabalha para potencializar indicadores educacionais e garantir mais oportunidades para todos os estudantes.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Desejamos que as escolas brasileiras consigam abraçar sem medo as mudanças de forma dinâmica e proativa. Para isso, contar com parcerias estratégicas será fundamental para elevar cada vez mais a qualidade do ensino. E nós, da Linx Sponte, estamos prontos para ser o apoio essencial na gestão escolar.

Revista Educação 63
Bernardo Craveiro diretor na Linx Sponte

TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

SOFTWARES EDUCACIONAIS

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

Comparada a outras áreas, a educação pode ter um ciclo maior para absorver algumas mudanças. No entanto, grandes transformações já estão acontecendo, sobretudo, no âmbito da inovação e da tecnologia. Recursos como gamificação, inteligência artificial e neurociência têm ganhado cada vez mais espaço nas salas de aula. Destaco também a relevância que a inserção de educação socioemocional tem ganhado nos currículos escolares.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Nossa grande aspiração é a construção de uma geração mais empática e preparada para o futuro e acreditamos que a leitura seja a ponte para isso. É comprovado: alunos leitores organizam melhor suas ideias, ganham contexto e imaginação, desenvolvem habilidades, entre outros benefícios. Por aqui, estamos desenvolvendo a ferramenta mais inovadora de formação leitora que, unindo inteligência artificial e neurociência, apoiará muito as escolas nesse processo.

TECNOLOGIA AUDIOVISUAL

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

Acredito que os gestores estão mais atentos às novas tendências de tecnologias voltadas para a educação, pois o ensino híbrido trouxe grandes desafios às instituições de ensino. Vemos um investimento das empresas em soluções que estimulam a colaboração dos alunos e aprimoram o trabalho do professor. Este movimento é importante para que os educadores tenham o máximo de ferramentas possíveis para estimular a criatividade dos alunos.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Almejamos maior inovação e conectividade para as salas de aula Brasil afora. Nós, da Epson, temos diversas iniciativas voltadas para a educação como o Programa de Locação de Projetores Interativos, que foi lançado em 2021 e permite que as instituições de ensino se equiparem com uma variedade de equipamentos de projeção, com mensalidades acessíveis. Além disso, nossas soluções de impressão e scanners também auxiliam no processo de gestão de documentos das instituições.

Revista Educação 64
Carolina Pavanelli head pedagógica da Árvore Glauco Ferreira diretor comercial da Epson

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TOP EDUCAÇÃO 2023

Vencedores

TURISMO EDUCACIONAL

Criticam que a escola tem dificuldade de mudar. Mas sabemos que há transformações importantes acontecendo. Quais destaca?

Cada vez mais as escolas precisam estar abertas a parcerias com empresas estruturadas e responsáveis para atender com qualidade às demandas dos seus clientes (pais e alunos), dentro de um mundo com mudanças e demandas cada vez mais diversas. O Grupo CI existe para oferecer às escolas um grande diferencial no atendimento destas demandas, tanto na área de educação internacional como em programas de férias no Brasil e exterior, viagens pedagógicas e outros.

O que a empresa almeja para a educação brasileira nos próximos anos?

Ser o parceiro certo para as escolas e instituições em todo o Brasil, ajudando a fazer a diferença no competitivo mercado de educação.

TOP EDUCAÇÃO 2023 CONHEÇA AS EMPRESAS VENCEDORAS NAS CATEGORIAS RELACIONADAS AO ENSINO SUPERIOR

BIBLIOTECA DIGITAL: Pearson

CRÉDITO ESTUDANTIL: Pravaler

EMPRESA DE COBRANÇA: Grupo Cobrafix

GERENCIAMENTO DE SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO: McAfee

LMS – SISTEMA DE APRENDIZAGEM: D2L

OUTSOURCING DE IMPRESSÃO: Epson

SOFTWARE DE GESTÃO EDUCACIONAL: Lyceum

SOFTWARE DE GESTÃO DE PESSOAS: TOTVS

SEGURADORAS: Porto Seguro

TECNOLOGIAS PARA EAD: Pearson

Revista Educação 66

Pela 11ª vez, a MODERNA é eleita a

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Proporcionar a experiência de leitura a uma criança é dar a ela a chave de entrada para o mundo da imaginação. Por isso, as editoras Moderna e Salamandra, que fazem parte da Santillana Educação, trazem um catálogo de obras premiadas de grandes autores nacionais e internacionais. São mais de 900 títulos para crianças e adolescentes desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.

Tudo para fazer da leitura uma atividade de novas descobertas e despertar a imaginação!

Autores

250 + de Títulos em catálogo

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@santillanaeducacao

/@santillanaeducacao

@editorasalamandra

FUTURO DA ESCOLA

Colégio Marista Pio XII, Rio Grande do Sul

Meninas avançam na área de robótica

Instituição tem inserido essa área do conhecimento no dia a dia escolar: projeto se divide entre equipe representativa e robótica curricular

Aparticipação das mulheres no campo das exatas tem aumentado. Cada vez mais projetos e campanhas são realizados para despertar o interesse das meninas para essa área. Este é o caso do Colégio Marista Pio XII, localizado na região central de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, que trabalha com robótica há aproximadamente 15 anos.

“Sempre tivemos um número interessante de meninas na robótica. Elas se deram conta de que novas tecnologias e mudança do mercado de trabalho são fatores que impulsionam mais mulheres a trabalhar na área das exatas”, analisa o vice-diretor pedagógico Pedro Manfroi.

Presente desde a educação infantil até o ensino médio no período regular, a robótica é trabalhada em duas dimensões: equipe representativa e robótica curricular. Na primeira dimensão, estudantes a partir do 6º ano podem escolher as aulas para participar no extraclasse, como música, esporte, dança ou robótica. Aqueles que se interessam pela robótica

têm a oportunidade de entrar para o grupo que participa de competições.

A equipe intitulada Under Control se classificou para a competição educacional mundial de robótica do ano que vem, a First Robotics Competition (FRC), que acontece anualmente nos Estados Unidos. Na equipe, dos 28 estudantes, 16 são mulheres. A Under Control já conquistou quatro vezes a premiação da competição Chairman’s Award — voltada aos que se dedicam a disseminar a ciência e a tecnologia —, sendo reconhecida como uma das três melhores equipes do mundo.

GIRLS IN CONTROL

Desde 2019, a equipe de robótica do colégio tem um subgrupo composto apenas por meninas, as Girls in Control. A iniciativa foi pensada pelas próprias estudantes. Além da participação em competições, o objetivo é incentivar a participação feminina na área. “Desde que esse movimento aconteceu, hoje nós temos um número maior de meninas no extraclasse [de robótica] do que de meninos”, ressalta Pedro Manfroi.

Equipe feminina Girls

In Control trabalha na divulgação da representatividade de mulheres na robótica

Revista Educação 70
Série apoiada pela
Divulgação

Equipe do Colégio Marista Pio XII se classificou para o Mundial de Robótica de 2024, nos EUA

Segundo Pedro, durante os eventos escolares, a equipe tem um espaço destinado para atrair novas estudantes a participarem das aulas de robótica. “Elas têm o espaço para dialogar com as estudantes, apresentar a robótica e sempre tentar desmistificar que não é algo masculino.”

Os estudantes que fazem parte da equipe representativa têm a possibilidade de se tornarem mentores dos alunos de robótica após se formarem, inclusive, os cinco educadores responsáveis por ensinar robótica são todos ex-alunos do colégio.

ROBÓTICA CURRICULAR

A segunda dimensão é a robótica curricular. O colégio aplica uma metodologia de projetos da educação infantil até o 5º ano, ou seja, a cada semestre os estudantes possuem uma temática trabalhada como plano de fundo das aulas. Há três anos um projeto piloto insere na grade curricular do 5º ano aulas semanais obrigatórias de robótica que podem ser trabalhadas de forma transversal. O projeto será expandido para as outras etapas do fundamental 1.

“Digamos que a temática seja relacionada à sustentabilidade, então eles vão selecionar alguns conteúdos de habilidades de matemática e natureza, e nas aulas de robótica com a professora vão trabalhar isso envolvendo programação, a temática da pesquisa e a apresentação. Então a robótica entra no currículo de uma forma mais orgânica”, explica Pedro.

SEQUÊNCIA DIDÁTICA

Já a partir do 6º ano, no período regular, é seguida a metodologia de sequência didática, que trabalha com base em quatro áreas do conhecimento: matemática, linguagens, humanas e natureza. A cada semestre, os estudantes

desenvolvem trabalhos individuais de cada área, além de projetos interdisciplinares. Com isso, ao longo do ano são desenvolvidos oito trabalhos voltados à sequência didática. Nos trabalhos interdisciplinares, a robótica é inserida pelos conhecimentos dos estudantes que fazem parte do extraclasse. Segundo Pedro, ela acaba se encaixando de diversas formas nas áreas das sequências didáticas. “Neste semestre, está acontecendo, na sequência didática das linguagens, um trabalho voltado a Machado de Assis, os estudantes têm que produzir curtas-metragens em língua inglesa. Então eles fazem a leitura do livro em português e têm que se preparar em inglês para fazer a apresentação. Geralmente alguns dos alunos estão na robótica, e aí na programação, montagem e edição dos vídeos eles auxiliam”, detalha o vice-diretor pedagógico.

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO

O colégio faz parte da Rede Marista Brasil, possui 1.100 estudantes, em média 65 professores e uma mensalidade em torno de 1.300 a 1.700 reais. Para Pedro, o desafio da educação nos próximos anos é trabalhar as habilidades socioemocionais e interpessoais, sendo a robótica um caminho para isso acontecer.

“Pegando o exemplo da robótica, a gente percebe uma mudança nos alunos que acabam entrando nas nossas equipes. Às vezes eles são bem tímidos, mas são eles que apresentam hoje [o trabalho desenvolvido no mundial de robótica] em inglês. Então percebemos que mudaram muito seu desempenho acadêmico e interpessoal, porque na robótica se forma muita confraria, as famílias convivem no final de semana, eles desenvolvem a questão da proximidade e têm as viagens onde acontecem trocas. Acredito que esses movimentos são alguns dos principais desafios da educação nos próximos tempos”, conclui Pedro Manfroi.

Revista Educação 71
Pedro Manfroi, vice-diretor pedagógico: “robótica entra no currículo de uma forma mais orgânica”
Divulgação
Fotos:

A ilusão da transparência e do conhecimento

Shutterstock

A avaliação do estudante ainda é voltada aos resultados obtidos. Nisso, trabalha-se pouco para reverter processos que não caminham bem e para avançar os satisfatórios e os excelentes

As escolas vêm conduzindo melhor os processos avaliativos. Práticas antigas que tomavam como medições apenas provas dissertativas, testes, simulados e um ou outro ‘trabalhinho’ estão sendo abandonadas. O cuidado aparece na diversificação dos instrumentos, dos sistemas de menções e dos pesos diversificados para as variações das possibilidades de mensuração.

Alguns colégios encaminham projetos interdisciplinares, transdisciplinares, com transversalidade que exigem dos alunos alguma autonomia na construção do conhecimento. Há também recursos avaliativos que mostram robustez como portfólios e autoavaliações. Os alunos são convidados a avaliar a si e às suas etapas de trabalho, sem a subjetividade escancarada de quem ‘dá uma nota para si mesmo’ com pitadas e nacos de narcisismo. Isso se configura como um avanço considerável.

Há instituições que dispõem de recurso financeiro para investir em plataformas que formulam, como avaliadores externos, simulados interessantes voltados para o Enem e para universidades públicas e privadas concorridas. Esses exames somados aos aplicados pelas escolas oferecem dados suficientes para que se avaliem em que estágio de aprendizagem os estudantes se encontram. Comparados a si mesmos, à classe, aos outros postulantes às vagas disputadas e às escolas concorrentes.

São ações muito louváveis e levadas, na maior parte das vezes, com seriedade pelas instituições de ensino. É possível afirmar que nunca se coletou tantos dados sobre o desempenho dos alunos nas avaliações propostas. No entanto, nesse emaranhado de dados nem sempre há protocolos claros de análise de observação. Como tempo de apuro e de depuração das informações e dos resultados coletados, ainda que haja, nos colégios, muitas reuniões pedagógicas, de pais, por séries e conselhos de classe.

Revista Educação 72
DIÁLOGOS

Paradoxalmente, avalia-se e se trabalha muito para que dados e informações sejam coletados e para que se discutam os resultados obtidos. Mas trabalha-se pouco para reverter processos que não caminham bem e para avançar os satisfatórios e os excelentes. E o mais estranho é que alguns colégios oferecem plantões de dúvidas, recuperações paralelas, ‘aulões’ e aulas avançadas. Porém, tudo muito pautado no achismo, nas impressões colhidas dos dados e na boa vontade.

Há muito o que melhorar nas devoluções de aprendizagem, mesmo quando são adotados critérios claros nas grades de correção. O empecilho está na apuração desses dados e no compartilhamento adequado das informações

Onde estão os problemas, nesse processo de coletas de dados e de informações, uma vez que boa parte das instituições lança mão de uma gama considerável e sortida de instrumentos e de verificação de processos? Veja o que propõe Regina Célia Cazaux no livro Curso de didática geral Haydt (1997). Ela sinaliza as distinções entre medir, testar e avaliar. Testar é “verificar um desempenho através de situações previamente organizadas, chamadas testes”. Medir é “descrever um fenômeno do ponto de vista quantitativo”. Avaliar é “interpretar dados quantitativos e qualitativos para obter um parecer ou julgamento de valor, tendo por base padrões ou critérios”.

As definições da educadora denunciam que muitas escolas ainda engatinham no processo zeloso de interpretação dos dados quantitativos e qualitativos para contribuir efetivamente para uma aprendizagem visível, transparente e transformadora. Coletam muita informação, mas as deixam espalhadas em reuniões e nas planilhas de notas ou sintetizadas em boletins. Há muito o que melhorar nas devoluções de aprendizagem, mesmo quando são adotados critérios claros nas grades de correção. O empecilho está na apuração desses dados e no compartilhamento adequado das informações.

Planejamentos de aula e de cursos, explicitação dos objetivos e dos processos, comandos progressivos e alinhados, rubricas pertinentes e devoluções claras das e nas aulas e das e nas atividades avaliativas garantem um bom caminho se houver tempo e disposição para trabalhar com as dificuldades e os avanços.

Por isso, a informação dos resultados deve ser com-

partilhada para que o corpo docente em conjunto busque estratégias uniformes e coesas para desenvolver os conteúdos e as habilidades propostas de forma sistematizada e intencional. Para que os professores de plantão e corretores informem a todos os envolvidos os ajustes feitos em busca de resolução rápida dos problemas observados. E para que coordenadores pedagógicos e de áreas, munidos dessas informações, possam discutir estratégias eficientes de correção de rota de curso e de acréscimo de processos se necessário. E, finalmente, para que os orientadores educacionais, em seus atendimentos, possam ser mais assertivos e seguros nas orientações de estudos adequadas para os estudantes.

Na família, para que os alunos encontrem sistemas de monitoramento da própria aprendizagem com base nas devoluções claras apresentadas. Para que os pais acompanhem com clareza as evoluções e possíveis estagnações dos filhos em suas aprendizagens. Para que a direção escolar saiba quais plataformas de avaliações externas possam ser contatadas para que todo o processo seja vigoroso e com resultados convincentes e duradouros. E, para que a unidade de trabalho se dê plenamente. Caso contrário, continuaremos a coletar dados sem consequência. E, pior, teremos ao longo de todo o processo resultados ilusórios de aprendizagens das crianças e jovens.

Ocorrerá sucesso acadêmico, com aprovações externas em diversos concursos públicos e privados por conta de suas próprias aptidões cognitivas e de seus bons procedimentos de estudos, independentemente dos colégios e dos cursos. E uma massa grande com aprendizagens pouco assimiladas e esquecidas um tempo depois das aplicações dos instrumentos. O que pode ser, no passar dos anos, o que de mais transparente observamos.

Revista Educação 73
João Jonas Veiga Sobral Escritor, professor de língua portuguesa e orientador educacional

ENTRE MARGENS

Vamos juntos

Entre vidas plastificadas e apressadas, se faz necessária uma nova construção social de educação

| Por José Pacheco

Rio do Ouro, 2 de agosto de 2043

Entre agosto e setembro de 23, muitas mensagens, manifestações de cansaço chegaram à minha caixa do correio. Não as guardei no baú das velharias, mas num velho computador. Dele extraio estes apelos.

“Meu nome é Liria. Sou de Teresópolis e trabalho num espaço criativo. Me sinto só, buscando parcerias. Criar um grupo de conversas e convidar pessoas seria um bom caminho?”

“Sou a Mariana. Faço minha pesquisa de doutorado na Escola Municipal Polo de Educação Integrada, o POEINT, que o senhor conhece e ajudou a construir com as bases pedagógicas alicerçadas na Escola da Ponte. Trabalho em outras duas escolas públicas, há 15 anos, estou sozinha, buscando novos caminhos. Confesso que estou um pouco cansada, pois o Sistema insiste num modelo falido há anos.

Preciso de ajuda para realizar uma transformação de fato. Ou sou eu que preciso sair do sistema, para que eu possa sobreviver? Não sei se foi bem uma pergunta, mas talvez um grito de socorro.”

Fui a Portugal, correspondendo a convites de amigos. Encontrei uma sociedade exausta de reformismos. Deparei com vidas plastificadas e apressadas, com escolas possuídas por uma angústia pandêmica. Reencontrei professores doentes da mesma solidão de antanho. A norte, revisitei uma Ponte sobre águas turbulentas e agarrei a ‘segunda oportunidade’ da Daniela. No Minho, ajudei dedicadas mães exigindo para os seus filhos uma escola do século 21.

Onde suspeitava encontrar só desalento, uma nova geração de educadores despontava, uma utopia se concretizava, uma nova educação surgia. O afã de diretores de agrupamento e de professores marcava um auspicioso recomeço. Não resisti a tão tentador convite. Reuni energias dispersas. E num derradeiro fôlego, me deixei atrair por novos e retomados projetos.

Voltando ao Brasil, nos encontros de Instagram, em catadupa, surgiam perguntas de sempre.

“Somos um espaço pedagógico e recreativo que atua, também, com Acompanhamento Escolar (Reforço). Entendo que tanto o termo quanto o sentido de ‘Reforço’ é inapropriado (para não dizer outra palavra). O fato é que noto que a comunidade tem muito essa necessidade de que alguém ajude os filhos com as inúmeras ‘tarefas de casa’ passadas pela escola.

Como atender esse anseio das famílias em ajudar nas tarefas de casa, estudo para prova, trabalhos escolares e, ao mesmo tempo, trabalhar novas construções de aprendizagem com as crianças e adolescentes?”

“Faço serviço voluntário, há muitos anos. Realizo trabalho junto a pessoas em situação de rua e em comunidades terapêuticas para recuperação da dependência química. Fala-se muito em insegurança alimentar, mas como não tê-la presente em lares onde muitas vezes está presente o abuso de drogas e por consequência a violência?

Como fazer a ‘educação’ chegar a estes locais?”

A resposta sempre foi uma só: pela educação. Não aquela que, com aspas, era praticada na família, na sociedade e na escola, mas uma nova educação para um novo tempo, uma nova construção social de educação.

Ao longo de meio século, tinham sido muitos os ciclos de euforia a que se sucederam ciclos de frustração. Por isso, recomendava a pais conscientes dos seus direitos que fossem à escola mais próxima e procurassem professores que ainda não tivessem morrido. – Muitos resistentes ainda havia! – E que lhes estendessem uma mão amiga.

Revista Educação 74
José Pacheco Educador e escritor, ex-diretor da Escola da Ponte, em Vila das Aves (Portugal) josepacheco@editorasegmento.com.br

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Revista Educação 76
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